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Contos
GRUPO I
A.1
− Ah! – grita de repente o Batola. – Se o Rata ouvisse estas coisas não se matava!
Mas ninguém o compreende, de absorvidos que estão.
E os dias passam agora rápidos para António Barrasquinho, o Batola. Até começou a
levantar-se cedo e a aviar os fregueses de todas as manhãzinhas. Assim, pode continuar as
conversas da véspera. Que o Batola é, de todos, o que mais vaticínios faz sobre as coisas da
guerra. Muito antes do meio-dia já ele começa a consultar o velho relógio, preso por um fio de
ouro ao colete. […]
E os dias custaram tão pouco a passar que o fim do mês caiu de surpresa em cima da
aldeia da Alcaria. Era já no dia seguinte que a telefonia deixaria de ouvir-se. Iam todos, de novo,
recuar para muito longe, lá para o fim do mundo, onde sempre tinham vivido.
Foi a primeira noite em que os homens saíram da venda mudos e taciturnos. Fora
esperava-os o negrume fechado. E eles voltavam para a escuridão, iam ser, outra vez, o
rebanho que se levanta com o dia, lavra, cava a terra, ceifa e recolhe vergado pelo cansaço e
pela noite.
Manuel da Fonseca, O fogo e as cinzas, Lisboa, Editorial Caminho, 2011, pp. 158-159.
3. Comente o significado da expressão “Iam todos, de novo, recuar para muito longe, lá para
o fim do mundo” (ll. 9 e10), no contexto em que surge.
A.2
Este Dr. Paulo era muito explicativo. Ouvia as queixas dos doentes, com impaciência, e
depois impunha silêncio e começava: “As doenças são provocadas por vírus ou por bactérias.
No primeiro caso, chamam-se viróticas, no segundo, bacterianas.” E estava horas nisto, até o
doente adormecer. Colegas maliciosos sustentavam que ele praticava a terapia do sono. Mas a
maioria dos doentes gostava de ouvir explicar. Alguns até faziam perguntas. Após a consulta,
muito à puridade, o Dr. Paulo pedia aos clientes que passassem pelo homem do semáforo e lhe
dissessem: “Arrenego de ti, galego!” Isto foi assim com Asdrubal e, mais recentemente, com
Paco.
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.1
Contos
Há dias, vinha do almoço o Dr. Paulo com uma trouxa de ovos na mão, e já trazia
entredentes o “arrenego!” com que insultaria o semaforeiro, quando aconteceu o acidente. Ao
proceder a um roubo por esticão, um jovem que vinha de mota teve uns instantes de
desequilíbrio, raspou por Paco e deixou-o estendido no asfalto. Era grave. O Dr. Paulo largou
ódios velhos, não quis saber de mais nada e dobrou-se para o sinistrado: “Isto, em matéria de
lesões, elas podem ser provocadas por três espécies de instrumentos: contundentes, cortantes,
ou perfurantes.”
Uma ambulância levou o Paco antes que o doutor tivesse entrado no capítulo das
“manchas de sangue”.
Enganar-se-ia quem dissesse que o semáforo ficou abandonado. Uma figura de bata
branca está todos os dias naquela rua, do nascer ao por do sol, a acionar o dispositivo,
pedalando, pedalando, até à exaustão. É o Dr. Paulo cheio de remorsos, que quer penitenciar-
-se, ser útil, enquanto o Paco não regressa.
Mário de Carvalho, Contos vagabundos, Lisboa, Editorial Caminho, 2000, pp. 77-78.
2. Identifique o recurso presente na expressão “Este Dr. Paulo era muito explicativo.” (l. 1) e
comente o seu valor expressivo.
Pobre senhora! a nostalgia do país, da parentela, das igrejas, ia-a minando. Verdadeira
lisboeta, pequenina e trigueira, sem se queixar e sorrindo palidamente, tinha vivido desde que
chegara num ódio surdo àquela terra de hereges e ao seu idioma bárbaro: sempre arrepiada,
abafada em peles, olhando com pavor os céus fuscos ou a neve nas árvores, o seu coração não
estivera nunca ali, mas longe, em Lisboa, nos adros, nos bairros batidos do sol. A sua devoção (a
devoção dos Runas!) sempre grande, exaltara-se, exacerbara-se àquela hostilidade ambiente
que ela sentia em redor contra os “papistas”. E só se satisfazia à noite, indo refugiar-se no sótão
com as criadas portuguesas, para rezar o terço agachada numa esteira − gozando ali, nesse
murmúrio de ave-marias em país protestante, o encanto de uma conjuração católica!
Odiando tudo o que era inglês, não consentira que seu filho, o Pedrinho, fosse estudar
ao colégio de Richmond. [...] A alma do seu Pedrinho não abandonaria ela à heresia; − e para o
educar mandou vir de Lisboa o padre Vasques, capelão do Conde de Runa. […]
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.1
Contos
Eça de Queirós, Os Maias, Lisboa, Edição Livros do Brasil, 28.a edição, p. 17.
Grupo II
Responda às questões. Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione, no seu
caderno, a opção correta.
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.1
Contos
certamente funções nobres e necessárias, mas estão longe de esgotar o papel que os cientistas
podem desempenhar nas sociedades de hoje.
Apesar de MS ter tido, ao longo dos anos, intervenções de grande importância na
definição de políticas científicas e na promoção da ciência em Portugal, colocou-se também no
espaço público numa posição muito própria. Isto é, preferiu muitas vezes, através dos seus
textos e intervenções, transmitir ao público não tanto uma explicação da ciência atual – os
resultados, os métodos, ou os progressos da mais recente investigação – mas, mais
essencialmente, procurou dar a conhecer quais as convicções básicas, as disposições interiores
mais íntimas e as atitudes mentais do cientista criativo.
Henrique Leitão, Jornal de Letras, Artes e Ideias, ano XXXVI, n.˚ 1193,
22 de junho a 5 de julho de 2016, p. 27.
3. Maria de Sousa é uma cientista que tem realizado ao longo dos tempos
[A] vantajosas.
[B] notáveis.
[C] benéficas.
[D] benignas.
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.1
Contos
[A] descritivo.
[B] explicativo.
[C] narrativo.
[D] argumentativo.
6. O processo de formação dos termos “ad intra” (l. 15) e “ad extra” (l. 17) é
[A] siglação.
[B] acronímia.
[C] empréstimo.
[D] derivação não afixal.
7. No contexto em que surge, o conector “mas” (l. 29) tem um valor lógico de
[A] oposição.
[B] consequência.
[C] causa.
[D] condição.
8. Classifique a oração “que os cientistas podem desempenhar nas sociedades de hoje”. (ll. 22-
23).
10. Refira o valor aspetual configurado na frase “Quando os cientistas se envolvem com a
sociedade e com o público é habitualmente numa de duas funções: ou como consultores para
decisões económicas e políticas, ou como divulgadores”. (ll. 18-20).
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Ficha de Avaliação – Módulo 9.1
Contos
GRUPO III