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N O VA S F O R M A S D E N O S

ORGANIZAR EM SOCIEDADE

C O N T E Ú D O E X T R A
Todo o conteúdo desse Ebook foi desenvolvido pela
Descola em parceria com os professores do curso.
1

OLÁ ALUNO,
Você já viu ou provavelmente está vendo o curso “Economia Colaborativa: Novas formas de nos or-
ganizar em sociedade”
Esperamos que você tenha gostado do conteúdo e aprendido mais sobre a importância da colabora-
ção e como juntos podemos fazer algo melhor.
Agora é hora de se aprofundar nos conceitos abordados nas vídeo-aulas e continuar aprendendo.
Por isso, montamos com todo o carinho esse report com informações complementares. Você poderá
ver em detalhes sobre metodologias e ter mais explicações sobre temas que abordamos no vídeo.
Também elaboramos um compilado com curiosidades, filmes e livros e links para você nunca parar de
aprender.

Aproveite!

Abraços,
Equipe Descola

APRENDA MAIS, APRENDA DIFERENTE, APRENDA AGORA!

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


ÍNDICE

1
1 Quem é a professora que ministra esse
curso e porque é a pessoa ideal para
ministrar esse conteúdo

2 O que é economia e como ela transita


no ambiente e na sociedade
2

3 O que é Desenvolvimento Sustentável,


seus conceitos e suas variações

4
Definição de Rede centralizada, descen-
tralizada e distribuída
5 O que é então Economia colaborativa

O que é consumo colaborativo


6

7 Um pouco sobre a teoria dos jogos e


Dilema do prisioneiro

8
Livros recomendados para continuar o
aprendizado de uma outra perspectiva
9
Filmes recomendados para continuar o
aprendizado de uma outra perspectiva

Links recomendados para continuar o


aprendizado de uma outra perspectiva
10
11 Entrevista com Camila Haddad
esclarecendo questionamentos sobre o
tema liderança
QUEM MINISTRA
O CURSO?
Descubra um pouco mais sobre quem é a
professora que ministraram o curso sobre
Economia Colaborativa e que compartilha o
conteúdo tão bacana com vocês. Nada me-
lhor que a própria professora compartilhar
um pouco sobre ela para que você possa en-
tender melhor:

“Demorei um bocado para enten-


der que aprendia mesmo era com
as pessoas. No Cinese, consegui
juntar dois grandes interesses: edu-
cação e colaboração.”
Camila Haddad
Camila Haddad
6
Sou formada em administração de empresas pela FGV, dropout de Publicidade e Propaganda na USP
e mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável pela University College London.

Precisei de um tempo para notar que os diplomas não diziam muito sobre mim. Trabalhei por quatro
anos com pesquisa aplicada nos temas consumo sustentável, no Centro de Estudos em Sustentabili-
dade (FGV), e economia verde, na Green Economy Coalition (IIED) e esses temas foram minha porta
de entrada para a colaboração. Dediquei minha pesquisa de mestrado ao movimento colaborativo,
especialmente à confiança como seu elemento central.

Desde então, tenho investigado e experimentado a colaboração, com cada vez mais certeza de que
ela é parte de uma transformação fundamental na sociedade. Em 2012, eu e a Anna juntamos duas
grandes paixões - colaboração e educação - e fundamos o Cinese, uma plataforma de aprendizagem
colaborativa. A ideia é que as pessoas percebam que educação está no encontro e coloquem seus
conehcimentos e habilidades para circular, ocupando espaços diversos da cidade a partir da aprendi-
zagem.

http://www.cinese.me

linkedin.com/pub/camila-haddad/42/985/b3a

ECONOMIA COLABORATIVA
CAPÍTULO 2
8
O QUE É ECONOMIA
A palavra “economia” deriva da junção dos termos gregos “oikos” (casa) e “nomos” (costume, lei). É
basicamente as regras de cuidado com a casa.

Pelo ponto de vista da ciência, a economia é o estudo de como uma sociedade administra seus recur-
sos escassos(1) . Ou seja, é uma visão de como usamos recursos finitos (em suma natureza e trabalho)
para produzir, distribuir, comercializar e consumir bens e serviços limitados.

(1)
Importante: só é bem econômico (ou seja, tem valor de troca) aquilo que é escasso. A economia não se preocupa com aquilo que é abun-
dante, como, por exemplo, o ar. Não investigamos o uso do ar, nem criamos processos econômicos em torno dele já que – ao menos
por enquanto – temos ar para todo mundo.

ECONOMIA COLABORATIVA
A ciência econômica é, portanto, uma observação do comportamento humano, partindo do pressu-
9
posto de que somos indivíduos auto-interessados, racionais e motivamos por incentivos.

Nesse sentido, ela se propõe justamente a investigar e propor soluções para tensão entre recursos
finitos e necessidades humanas infinitas e insaciáveis. Essa investigação, e as tomadas de decisão
decorrentes baseiam-se em quatro questões fundamentais sobre a produção: “O que produzir?”,
“Quando produzir?”, “Que quantidade produzir?”, “Para quem produzir?”.

MAS POR QUÊ FAZEMOS TUDO ISSO?

O físico Georgescu-Roegen diz que, se analisarmos a economia como um processo físico, com entra-
das e saídas, notamos com clareza que ela é muito eficiente em transformar energia e recursos natu-
rais valiosos em bens que, em última instância, viram lixo.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


Mas obviamente não é razoável concluir que o objetivo da economia é produzir lixo, já que os bens
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produzidos, antes de serem descartados são utilizados e valorizados pelas pessoas. Portanto, ainda de
acordo com Georgescu (1975, P353)

“o resultado real do proces-


so econômico (...) não é o flu-
xo material de resíduos, mas
o fluxo imaterial de gozo da
vida”.

Os economistas chamam isso de utilidade, o que poderia ser igualado ao nível de satisfação das ne-
cessidades e desejos de um indivíduo. De acordo com o ponto de vista utilitário, sociedades devem
buscar “a maior felicidade para o maior número de pessoas”.

Tendo isso em mente, pode-se supor que a economia é um meio para atingir um fim, que podemos
chamar de utilidade, felicidade ou o gozo da vida. Administramos a casa para vivermos bem nela. E
é aí que reside uma importante diferenciação entre os conceitos de crescimento e desenvolvimento
econômico. Embora vários estudiosos tenham definido o desenvolvimento de forma diferente - um
debate que vai ser mais detalhado no próximo capítulo - o que todos os conceitos têm em comum é
que abrangem uma melhoria qualitativa (e não quantitativa) na vida das pessoas.

ECONOMIA COLABORATIVA
Microeconomia e macroeconomia são os dois grande ramos da economia. A microeconomia estuda
11
as várias formas de comportamento nas escolhas individuais dos agentes econômicos, enquanto a
macroeconomia analisa os processos microeconômicos observando uma economia como um todo.

ECONOMIA DE MERCADO ECONOMIA DE SUBSISTÊNCIA


Economia de mercado é um sistema É um sistema econômico baseado na
econômico em que as organizações produção de bens exclusivamente
(bancos, empresas etc.) podem atuar necessários para o consumo básico,
com pouca interferência do estado. É imediato. Onde na produção não
o sistema próprio do capitalismo. existe excedentes, nem relação de
caráter econômico com outros merca-
dos produtores.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


12

CAPÍTULO 3

ECONOMIA COLABORATIVA
O QUE É DESENVOLVIMENTO 13

SUSTENTÁVEL
DEFINIÇÃO
A realidade que Georgescu aponta, já no início do século XX, sobre estarmos constantemente trans-
formando recursos naturais em lixo, faz emergir o debate sobre sustentabilidade. Se os recursos são
escassos e a capacidade de regeneração do planeta é finita, como podemos conceber a economia a
partir de uma necessidade de crescimento constante? É possível falarmos em geração de bem-estar
humano, sem esquecermos do equilíbrio com o meio ambiente?

Pensando nesses desafios, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU
realizou diversos estudos na década de 80, que culminaram com a publicação do documento “Nosso
Futuro Comum”, em 1987. Nele, desenvolvimento sustentável foi definido como “o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de su-
prir suas próprias necessidades.”

Se você achou essa definição um bocado genérica, você não é o único. Se já é um desafio entender o
que é sustentabilidade, primeiro temos que chegar a um entendimento comum sobre desenvolvimen-
to. Se igualarmos desenvolvimento ao crescimento das riquezas materiais, talvez a própria expressão
desenvolvimento sustentável seja um paradoxo. Por outro lado, se o qualificarmos a partir de um en-
tendimento mais amplo de equilíbrio e interdependência do homem com a natureza, talvez a gente
nem precise mais falar em sustentabilidade.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


CONCEITOS DE DESENVOLVIMENTO E SUAS VARIAÇÕES
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Há 4 abordagens principais no entendimento de desenvolvimento:

baseada em renda,
baseada em necessidades,
baseada em direitos
baseada na abordagem participativa.

A baseada em renda é a que mais conhecemos. Ela basicamente iguala desenvolvimento a aumento
de renda agregada em um determinado território. O pressuposto é de que com renda é possível
acessar bens e serviços e, portanto, satisfazer necessidades. Essa abordagem é problemática porque
ela iguala, por exemplo, um morador de rua em São Paulo com um ribeirinho no Vale do Jari, que tem
um roçado de subsistência. Apesar de estarem na mesma faixa de renda, não se pode dizer que esses
sujeitos desfrutam do mesmo bem-estar ou tem experiências similares de vida. Além disso, se olhar-
mos única exclusivamente para a renda, talvez a gente celebre quando esse mesmo ribeirinho migrar
para São Paulo, para se tornar trabalhador da construção civil, pois partirá de uma renda próxima de
zero, para uma renda de, digamos, um salário mínimo. Mas, neste caso, podemos dizer que sua vida
melhorou?

Entendendo a limitação, as abordagens baseadas em necessidades e em direitos, olham não para a


renda, mas para o que ela nos permite fazer. É considerado desenvolvido portanto aquele que tem
atendidas ao menos as suas necessidades (e/ou direitos) essenciais como alimentação, habitação, sa-
neamento, educação e lazer. Apesar de mais interessantes, essas abordagens também são um pouco
limitadas na medida em que não consideram as particularidades culturais e/ou os aspectos subjeti-
vos de cada um. Consideram iguais, por exemplo, uma pessoa passando fome por falta de acesso a
alimentos, e outra que escolheu uma situação de restrição/jejum por motivos políticos ou religiosos.

ECONOMIA COLABORATIVA
Já a abordagem participativa parte do entendimento de que desenvolvimento é totalmente subjetivo
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e, portanto, deve ser definido pelo sujeito que está sendo observado. Um dos autores mais impor-
tantes dentro desta abordagem é o economista indiano Amartya Sen. Ele define desenvolvimento
como a liberdade de um sujeito de se tornar aquilo que ele almeja se tornar. Essa liberdade tem dois
elementos centrais: a agência, que é minha capacidade de sonhar combinada a minha habilidade de
perseguir meus sonhos; e a oportunidade, que são os fatores externos que me possibilitam ou me
impedem de fazê-lo.

Para saber mais sobre esse conceito leia Desenvolvimento como Liberdade, do Amartya Sen.

O Nobel de Economia Amartya Sen nunca se contentou com os limites convencio-


nais da ciência econômica. A chamada ‘economia do desenvolvimento’, surgida nos
anos 1950 como um ramo de estudo em separado, preocupava-se com os meios
para promover o crescimento da renda per capita. Acreditava-se numa relação di-
retamente proporcional entre renda, consumo e satisfação. Sen tem contribuído
bastante para refutar as falsas hipóteses que sustentam essa crença aparentemente
inócua.
Sen construiu sua visão alternativa apoiado na convicção de que a promoção do
bem-estar (o que se quer afinal com o desenvolvimento) deve orientar-se por uma
resposta adequada à pergunta ética por excelência: onde está o valor próprio da
vida humana? Na vida de qualquer pessoa, certas coisas são valiosas por si mesmas,
como, por exemplo, estar livre de doenças evitáveis, escapar da morte prematura,
estar bem alimentado, ser capaz de agir como membro de uma comunidade, agir
livremente e não ser dominado pelas circunstâncias, ter oportunidade para desen-
volver suas potencialidades.
Há muitos males sociais que privam as pessoas de viverem minimamente bem: a
pobreza extrema, a fome coletiva, a subnutrição, a destituição e marginalização so-
ciais, a privação de direitos básicos, a carência de oportunidades, a opressão e a
insegurança econômica, política e social. Eles compartilham, diagnostica Sen, uma
mesma natureza: são variedades de privação de liberdade. ‘Desenvolvimento como
Liberdade’ é uma síntese - escrita com bastante clareza e para leitores não- espe-
cialistas - das vantagens teóricas e práticas de uma idéia radical: o desenvolvimento
é essencialmente um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas
desfrutam.
Trata-se de um livro fundamental para entender, sob ângulos não-convencionais,
a situação econômica e social de países pobres ou em desenvolvimento, como o
Brasil, bastante presente nas análises de Sen, que ilustra suas idéias com um grande
número de surpreendentes e esclarecedores dados comparativos entre os diversos
países.

http://www.saraiva.com.br/desenvolvimento-como-liberdade-443169.html

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


CAPÍTULO 4
O QUE É REDE? 17

Redes sociais são estruturas compostas por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários
tipos de relações, que compartilham valores e objetivos comuns. As redes podem se organizar de três
formas distintas : centralizadas, descentralizadas e distribuídas, conforme a figura a seguir.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


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Redes sociais centralizadas

Toda a informação passa por um dos nós (o centro) para, então, poder ser distribuída para os demais.
Esse é o modelo clássico de broadcasting, no qual o poder de controle e distribuição da informação
é concentrado na fonte emissora.

Redes descentralizadas ou multicentralizadas

Funcionam como várias redes centralizadas conectadas entre si, na qual vários nós centralizam e
distribuem a informação. Dessa forma, trata-se de uma rede com vários centros. A maior parte das
organizações hierárquicas que conhecemos (igreja, governo, empresas, etc.) funcionam nesse modelo
– departamentos, que são centros localizados na rede, conectando-se a outros departamentos e com
a informação controlada e disseminada por esses centrinhos.


Redes distribuídas

Não existem centros e qualquer nó da rede pode receber e disseminar a informação para qualquer
outro nó. Nesse tipo de organização, o poder e o controle são distribuídos, não há donos nem hierar-
quia instituída. A abundância de caminhos para a informação amplia exponencialmente o campo de
possibilidades.

ECONOMIA COLABORATIVA
Os três tipos de redes sociais co-existem e as mesmas pessoas que formam uma rede social podem
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se organizar dessas três formas, dependendo de como se conectam. Observe que os nós, nas três
configurações de rede, estão exatamente no mesmo lugar e são as mesmas pessoas. Deste modo, o
que determina se uma rede social ou organização é centralizada, descentralizada ou distribuída não
são os nós e suas posições e sim a dinâmica das conexões entre os nós e a estrutura que proporciona
essa dinâmicas. Em outras palavras, é o que acontece entre os nós da rede.

É possível perceber que as tecnologias digitais, em especial a Internet, foram as grandes catalisadoras
para a existência global de organizações distribuídas e vem modificando completamente o cenário
social, por nos mostrar que é possível nos conectarmos diretamente, para fazer qualquer coisa.

Um fator importante ao olharmos para tipos de organização é como eles influenciam no comporta-
mento das pessoas conectadas. Em organizações hierárquicas, mais centralizadas que distribuídas, o
único caminho é o topo, e nem todo mundo pode chegar lá. Dado esse pressuposto, é difícil esperar
outro tipo de comportamento que não o da competição e o auto-interesse. Cooperar com o outro
seria como escolher o bem alheio em detrimento do meu.

Em estruturas horizontais, por não haver a escassez de caminhos, colaborar com o outro é a única
forma de materializar uma dentre as infinitas possibilidades do campo. Nesses tipos de organização, o
melhor para o todo é também o melhor para mim. Vamos olhar para o exemplo da Wikipedia: quando
eu uso meu tempo livre para editar um artigo voluntariamente, estou adicionando o meu conheci-
mento a um corpo de conhecimento gratuito e disponível a todos, em tempo real, inclusive para mim
mesma. Eu sou, ao mesmo tempo, produtora e consumidora; contribuidora e beneficiária.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


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CAPÍTULO 5

ECONOMIA COLABORATIVA
O QUE É ECONOMIA COLABORATIVA 21

DEFINIÇÃO

A economia colaborativa é uma economia construída sobre redes distribuídas de pessoas e comuni-
dades conectadas, em oposição a instituições centralizadas.

A economia colaborativa traz um novo olhar para os processos de organização social, que estão dire-
tamente ligados às organizações distribuídas. É, de forma simples e direta, o processo de pessoas se
juntando para resolver problemas ou criar coisas novas.

DIFERENÇA DA ECONOMIA TRADICIONAL X COLABORATIVA

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


Como falamos no primeiro capítulo, só há valor econômico no que é escasso, por isso ninguém paga,
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por exemplo, pelo ar. Por isso, e talvez de modo meio invertido, o mercado tradicional passou a se
basear na criação de escassez: eu encontro algo que vocês não tem, empacoto e te vendo. Isso está
presente até no nosso léxico, o exclusivo é mais valorizado, mais caro, exatamente porque exclui.
Não tem para todo mundo. O papel do agente econômico, nesse cenário, é de porteiro: só entra, só
acessa, só tem, só usufrui aquele que paga.

Em oposição, os mercados colaborativos se valem abundância. Se há vários carros parados nas ga-
ragens, porque não compartilhar o seu uso? Se muitas pessoas tem um pouquinho de dinheiro guar-
dado, porque recorrer a um banco para financiar projetos? Se todo mundo tem algum conhecimento
interessante, porque manter a “educação” restrita às escolas e instituições de ensino. No mercado
colaborativo, os agentes econômicos tem um papel distinto: o de conectores. Eles criam ferramentas,
serviços, para conectar as pessoas e garantir o fluxo de recursos abundantes daqueles que tem para
aqueles que precisam.

Isso passa necessariamente pela conexão de pessoas em estruturas horizontais e não hierárquicas,
que estimulam confiança e colaboração.

ECONOMIA COLABORATIVA
CAPÍTULO 6
O QUE É CONSUMO
24

COLABORATIVO
DEFINIÇÃO

Práticas de consumo baseadas no compartilhamento, troca, venda ou aluguel de produtos e serviços


de forma a privilegiar o acesso em detrimento da posse. O foco do consumo colaborativo é menos
no “o que” você consome, mas no “como” você consome. A partir deste ponto de vista, as pessoas
deixam de estar restritas a escolhas estritamente econômicas (não comprar ou comprar A ao invés de
B), mas passam a ser incluídas em um espectro mais amplo de ação que perpassa decisões conside-
radas políticas.
Ao escolher, por exemplo, mobilizar a vizinhança para construir uma horta comunitária como forma de
me alimentar de forma mais saudável, eu estou me apropriando do espaço público e interferindo na
organização urbana do meu bairro.

As ações de consumo colaborativo, quase sempre saem da esfera privada, pois para colaborar é pre-
ciso me envolver com outras pessoas, e encontrar uma solução que sirva a um coletivo que transborda
o núcleo privado indivíduo-família.

ECONOMIA COLABORATIVA
NEGÓCIOS COLABORATIVOS
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Claro, é verdade que os termos “colaborativo” e “compartilhado” tem sido usados para di-
versos propósitos. Muitas das coisas que se encaixam na categoria “economia colaborativa”,
são serviços que antigamente costumávamos chamar por “aluguel”. Sem falar das compras
coletivas, que passaram a se vender também como “vendas colaborativas”.

Ok. Mas, como entro nessa onda colaborativa? Como isso influencia – e agiliza – minha vida?

A economia colaborativa se desdobra em 3 principais categorias, que possuem modelos de


distribuição e remuneração diferentes:

1. Sistemas de compartilhamento de produto/serviço

Simples, pense no AirBnb: bens que são privados podem ser compartilhados ou alugados via
plataformas “peer-to-peer”. Outro serviço menos conhecido, mas promissor, é o Muber, que
permite que qualquer pessoa seja um “transportador de mercadorias” (courrier), sendo que
a transação é direta entre quem tem a mercadoria e quem fará a viagem

2. Redistribuição de produtos

Esse é um modelo de consumo colaborativo baseado em produtos que são usados ou semi-
-novos, cujos donos querem repassar via vendas ou trocas para alguém.
Sim, você com certeza já usou algum serviço – mais ou menos – nesses moldes. Falamos aqui
do eBay ao MercadoLivre.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


Acontece que com a evolução da web e suas plataformas, esse modelo se expandiu para
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nichos específicos. No Brasil, temos o site Enjoei, onde pessoas podem vender roupas que
não utilizam mais. Essa é considerada por muitos uma alternativa à reciclagem de produtos.

3. Estilos de vida colaborativos

Essa é a sub-categoria mais ampla. Consiste no modelo de troca de bens mais intangíveis,
como tempo e habilidades. Para funcionar, é necessário conectar pessoas com interesses
similares que queiram trocar aprendizados. Vamos supor que você toque guitarra e queira
aprender espanhol.

Provavelmente na tua cidade há alguém que saiba espanhol e queira aprender guitarra. En-
tão, para quê pagar por aulas se vocês podem trocar essas habilidades? Via plataformas
como o Bliive, essa troca fica muito mais fácil de acontecer. Há muita gente que troca via
Skype e similares também.

ISSO É SÓ O COMEÇO

Como você pode notar, diversos produtos e serviços, novos e antigos, se encaixam nas ca-
tegorias da economia colaborativa. O tema é amplo, assim como é cada vez maior a predis-
posição da população em ser parte ativa desse movimento: uma pesquisa da Nielsen em 60
países mostrou que 2 em cada 3 pessoas querem compartilhar ou alugar seus produtos

Claro, onde há muita gente, há muito dinheiro. O mercado que engloba as categorias acima
tem um valor de mercado estimado em U$ 26 bilhões. Mais importante que isso: muitos dos
produtos e serviços da economia colaborativa empoderam cidadão comuns, seja permitindo
que suas habilidades sejam valorizadas ou garantindo renda extra.

ECONOMIA COLABORATIVA
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CAPÍTULO 7

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


TEORIA DOS JOGOS E
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DILEMA DO PRISIONEIRO
O QUE É TEORIA DOS JOGOS

Teoria dos jogos é um ramo da matemática aplicada que estuda a tomada de decisão. Ela
olha para situações diversas onde indivíduos (“jogadores”) tem de fazer escolhas para melho-
rar seu próprio resultado.

A Teoria dos Jogos foi inicialmente desenvolvida como ferramenta para compreender o com-
portamento econômico e, através dela, foi possível notar que em determinadas situações, ao
contrário da teoria de mercado diz, quando cada pessoa age de forma egoísta, o resultado
coletivo pode ser desastroso.

ECONOMIA COLABORATIVA
O DILEMA DO PRISIONEIRO
29

O Dilema do prisioneiro é uma dessas situações, ou jogos, onde a tentativa de maximizar o


resultado individual, resulta numa situação não-ótima para o coletivo. A situação descrita pelo
dilema do prisioneiro é a seguinte:

Dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insuficientes para os con-
denar, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um dos prisio-
neiros, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que
confessou sai livre enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos
ficarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos
traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro faz a sua decisão sem
saber que decisão o outro vai tomar, e nenhum tem certeza da decisão do outro. A questão
que o dilema propõe é: o que vai acontecer? Como cada prisioneiro vai reagir?

Olhando pelos óculos do indivíduo a estratégia dominante sempre será delatar e, se ambos
decidirem assim, o resultado será de suas condenações de 5 anos enquanto a alternativa me-
lhor para ambos seria a da negação, que resultaria numa condenação de 6 meses.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


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CAPÍTULO 8

ECONOMIA COLABORATIVA
LIVROS RECOMENDADOS
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Beber de novas referências é sempre uma fonte para se obter conhecimento. Para nossa sorte,
estudiosos e pessoas que são referências no assunto estudaram e disseminaram conteúdo em forma
de livros.

DICAS DA Pedimos para a professora do curso separar algumas leituras que podem ajudá-lo a
continuar o aprendizado e ir além, se aprofundar no tema quando achar necessário,
PROFESSORA confira a lista abaixo:

SACRED ECONOMICS
Sacred Economics traça a história do dinheiro de economias
da dádiva antigos ao capitalismo moderno , revelando a for-
ma como o sistema monetário contribuiu para a alienação ,
competição e escassez, comunidade destruída, e exigiu um
crescimento sem fim . Hoje , essas tendências tenham atin-
gido o seu extremo , mas na sequência do seu colapso , po-
demos encontrar uma grande oportunidade para a transição
para uma forma mais conectados , ecológica e sustentável de
ser.

Onde comprar: http://www.livrariacultura.com.br/p/sacred-eco-


nomics-30514700

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


32 A CULTURA DA PARTICIPAÇÃO
Criatividade e Generosidade No Mundo Conectado

Ao colocar milhões de pessoas conectadas, produzindo,


compartilhando e consumindo informações, as novas tecno-
logias e as redes sociais na internet criaram um revolucio-
nário recurso, o ‘excedente cognitivo’. É dessa forma que
o guru da internet Clay Shirky denomina a soma do tempo,
energia e talento livres que, usados colaborativamente, per-
mite que indivíduos antes isolados se unam para grandes
realizações. Algumas, como a Wikipédia, já estão disponí-
veis, e toda sociedade delas se beneficia, mas muitas outras
ainda virão. Com a experiência de quem trabalha na mídia
colaborativa desde o início da web, Shirky explica como par-
ticipar ativamente da criação de novas ferramentas digitais.
A cultura da participação mostra os meios que temos hoje
para fazer a diferença e melhorar o mundo.

Onde comprar: http://www.saraiva.com.br/a-cultura-da-participacao-criatividade-e-ge-


nerosidade-no-mundo-conectado-3424245.html

ECONOMIA COLABORATIVA
A SOCIEDADE DO CUSTO MARGINAL ZERO: A internet das 33

coisas, os comuns globais, e o eclipse do capitalismo.

Em Sociedade com custo marginal zero, Jeremy Rifkin argumenta


que a era do capitalismo está saindo lentamente do palco mundial.
O surgimento da Internet das Coisas tem levado à ascensão de
um novo sistema econômico – os bens comuns colaborativos – que
está transformando nosso modo de vida.

Neste livro, Rifkin explica como a Internet das Comunicações, da


Energia e dos Transportes está convergindo para criar uma rede
neural global, conectando tudo a todos na Internet das Coisas. Essa
estrutura inteligente e indissolúvel do século XXI tem acelerado a
produtividade e reduzido o custo marginal de produzir e distribuir
unidades adicionais de bens e serviços – descontados os custos
fixos – a praticamente zero, tornando-os essencialmente gratuitos.

Como resultado, o lucro corporativo começa a secar, os direitos


de propriedade perdem força e a noção convencional de escassez
econômica dá lugar à possibilidade de abundância à medida que
setores inteiros da economia ingressam na web com custo marginal
zero. O desafio é garantir a segurança dos dados e a proteção do
sigilo pessoal em um mundo aberto, transparente e conectado
globalmente.

Onde comprar: http://www.saraiva.com.br/sociedade-com-custo-marginal-ze-


ro-8994146.html

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


34 ABUNDANCE

Examinando a necessidade humana por categoria - água,


alimentos, energia, saúde , educação, liberdade - Diamandis
e Kotler visam apresentar dezenas de inovadores que fazem
grandes progressos em cada área - Larry Page , Steven Hawking
, Dean Kamen , Daniel Kahneman , Elon Musk , Bill alegria,
Stewart Brand, Jeff Skoll , Ray Kurzweil , Ratan Tata, Craig Venter,
entre muitos outros. Esta visão contrária , apoiada por pesquisa,
apresenta o futuro próximo .

Onde comprar: http://www.livrariacultura.com.br/p/abundance-22669727

ECONOMIA COLABORATIVA
O QUE É MEU É SEU: Como o consumo colaborativo 35

vai mudar o nosso mundo

Inspirado na filosofia do compartilhamento de sites como Wikipedia,


Twitter e Flickr e mercados de trocas já bem conhecidos como
eBay e Craigslist, o consumo colaborativo promove o surgimento
de redes de empréstimos, de compartilhamento de automóveis,
e até de aluguel de uma cama em um apartamento. Botsman e
Rogers mostram como estamos economizando dinheiro, tempo,
espaço, levando as pessoas a construir relações mais próximas
e a passar de consumidores passivos a colaboradores ativos. E
ganhando dinheiro com isso.

Onde comprar: http://www.saraiva.com.br/o-que-e-meu-e-seu-como-o-consumo-cola-


borativo-vai-mudar-o-nosso-mundo-3527286.html

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


CAPÍTULO 9
FILMES RECOMENDADOS
37

Separamos alguns filmes que agregam muito ao conteúdo do curso, todos ligados em uma forma
ampla com os temas abordados no curso.

1. TEDXSP DO AUGUSTO DE FRANCO SOBRE REDES SOCIAIS

LINK: https://www.youtube.com/watch?t=300&v=7ofxZHuWz9Q

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


38
2. TED RACHEL BOTSMAN SOBRE A NOVA ECONOMIA
Houve uma explosão de consumo colaborativo - carros, apartamentos , habilidades . Rachel Botsman
explora a moeda que faz com que sistemas como o trabalho Airbnb e TaskRabbit : confiança, influên-
cia , e que ela chama de “capital de reputação“.

LINK: https://www.ted.com/talks/rachel_botsman_the_currency_of_the_new_economy_is_trust

ECONOMIA COLABORATIVA
39

3. THE MACHINE IS US: VIDEO-PESQUISA SOBRE AS MUDANÇAS


TRAZIDAS PELA INTERNET

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=NLlGopyXT_g

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


40

4. SYSTEM OF SYSTEMS: VIDEO DA IBM SOBRE A INTERNET 3.0

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=h2br2_twHfw

ECONOMIA COLABORATIVA
41

5. THE GIFT ECONOMY AND THE COMMONS


Conversa-entrevista entre o autor e ativista Charles Eisenstein e o economista internacional James
Quilligan

LINK: https://www.youtube.com/watch?v=_JKOcb3UygA

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


CAPÍTULO 10
LINKS RECOMENDADOS
43

Elencamos opções de sites para você sempre ficar a par das novidades e não parar de aprender.

#1 - Edição da Revista P22 sobre Economia Colaborativa


http://www.pagina22.com.br/revistap22/96

#2 - Blog do autor Charles Eisentein:


https://newandancientstory.net/category/blog/

#3 - Revista Shareble, sobre compartilhamento e negócios co-


laborativos
http://www.shareable.net/

#4 - Repositório internacional de negócios colaborativos


http://www.collaborativeconsumption.com/directory/

#5 - Grupo no facebook com discussões sobre o tema


https://www.facebook.com/groups/868629623155533/?ref=ts&fref=ts

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


CAPÍTULO 11
ENTREVISTA COM CAMILA
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HADDAD
Depois de assistir ao curso e ler quase todo esse ebook ainda ficamos com algumas dúvidas na ca-
beça, e isso é ótimo, pois a ideia do curso é te dar uma pitada do conteúdo e te incentivar a buscar
esse conhecimento cada dia mais!
Pensando nisso fizemos 5 perguntinhas para a Camila nos responder seu ponto de vista, o que ela
acredita em certos pontos e compartilhamos aqui com vocês:

O quanto você acredita que a Economia Colaborativa vai influenciar no


nosso futuro? Como você enxerga a relação das empresas e pessoas
baseados nessa nova economia?

CAMILA HADDAD: Já vivemos em um mundo altamente conectado e em rede. E isso, cada


vez mais, vai nos fazer rever a forma como nos organizamos social e economicamente. Basta
pensarmos na produção de conteúdo. Até pouco tempo atrás, se eu quisesse tornar pública
alguma opinião minha, eu teria que acessar a mídia de massa, aparecer no jornal, publicar
um livro. Hoje, todos nós produzimos conteúdo, o tempo todo. Em texto, áudio e vídeo. A
produção jornalística, literária e artística é muito mais distribuída, acessível e democrática. E,
com tecnologias como as cortadoras a laser e impressoras 3D isso tende a se expandir inclu-
sive para produtos/serviços não digitais. Culturalmente, o distribuído passa a invadir também
o cotidiano, o espaço urbano e a política. Toda vez que experimentamos nos conectarmos

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


diretamente uns aos outros e, a partir disso, conseguimos realizar coisas, resolver problemas,
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mudar realidades locais, é muito difícil voltar atrás. Percebemos que não precisamos mais das
instituições e dos intermediários que não nos agregam valor, que podemos criar alternativas,
ocupar espaços, construir novas estruturas e modos de operar no mundo.

Essas novas empresas que surgem e ajudam a mudar o cenário mundial


podem realmente transformar a economia?

CAMILA HADDAD: Cada vez mais temos notícias de que o modelo econômico atual não res-
ponde às nossas necessidades. A economia colaborativa apresenta um caminho interessante
porque ela não me parece ser uma tendência nem ter caráter reformista.

O processo que temos assistido nas estruturas distribuídas e colaborativas tem um aspecto
muito transgressor e revolucionário porque desafia duas premissas básicas da economia: a
da escassez (não tem para todo mundo) e a de que as pessoas são inerentemente egoístas
e competitivas. Como falar de abundância em um cenário no qual os recursos estão se exau-
rindo? Somos tão consistentemente treinados na escassez- que é a base de todas as ciências
de “management” - que falar em abundância parece ingenuidade, utopia ou hippismo. Mas
basta uma mudança de ótica.

A matéria é escassa, mas a capacidade de transformação dela é infinita. A gente é a única


espécie que pensa de forma linear, mas a resposta está na capacidade contínua de trans-
formação. E esta só acontece quando a gente inova. E a gente só inova quando as pessoas
colaboram.

ECONOMIA COLABORATIVA
Com a ascensão de uma economia baseada em abundância e escassez, 47
o modelo baseado em escassez e egoísmo tende a acabar? Ou eles
convivem juntos?

CAMILA HADDAD: Hoje vivemos em uma fase um pouco esquizofrência, onde as duas coisas
convivem às vezes até dentro da mesma organização. Muitos negócios colaborativos ainda
mantém, da porta para dentro, estruturas hierárquicas e competitivas. Ou pior: consideram
que negócios similares e com o mesmo propósito são seus competidores. Mas acho que é ca-
racterística inerente de todo o processo de transição. De toda forma, escassez e abundância,
competição e colaboração não são mutuamente excludentes. Basta termos uma percepção
mais equilibrada. Estruturas centralizadas e escassas garantem a eficiência e a sobrevivência,
enquanto as colaborativas e abundantes garantem a eficácia e a evolução.

Como surgiu a ideia do Cinese e qual o papel que ele tem na economia
colaborativa?

CAMILA HADDAD: A história do Cinese se mistura com a minha história e da minha irmã, que
hoje é minha sócia, a Anna. Durante o meu mestrado conheci o fenômeno da colaboração
como um ingrediente importante para pensar novos modelos econômicos. Enquanto isso a
Anna, que estava saindo de um grande escritório de advocacia, repensava a carreira e quali-
dade de vida. Ela notou que o processo tradicional de educação era excludente, hierárquico
e homogeneizador, que propagava um único modelo de sucesso. O Cinese surgiu como uma
alternativa que combinava educação com colaboração, para estimular processos mais aber-
tos em termos de autonomia e liberdade, para formar pessoas críticas. Tentamos criar uma
ferramenta que facilitasse ao máximo o compartilhamento de conhecimentos, habilidades e
experiências.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE


O processo de propor um encontro é simples, rápido e aberto para qualquer um. E isso é, na
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nossa visão, empoderador. Ninguém precisa de uma legitimação institucional para ensinar o
que sabe. Todo mundo pode. Basta querer.

Quero começar a viver e praticar mais esse tipo de economia da abun-


dância no meu dia-a-dia. Por onde eu começo?

CAMILA HADDAD: Existem diferentes portas de entrada para a colaboração.

Um jeito interessante é listar tudo que você possui e não precisa/usa. Junte essas coi-
sas, participe de um bazar de trocas ou faça doações através de plataformas como o Freecy-
cle ou o Free your stuff. Também vale vender por plataformas como Enjoei.

Depois liste aquilo que tem e não usa com frequência, e que poderia ser compartilha-
do. Disponibilize essas coisas para uso de seus vizinhos e amigos. Tem muitas plataformas
que te ajudam nesse processo, como o Tem Açucar, mas em última instância você pode fazer
uma lista de e-mails, grupo no whatsapp ou até mesmo um álbum no facebook (com fotos das
coisas que estão disponíveis para empréstimo).

Convide seus vizinhos para um café, converse sobre seus sonhos para o prédio/a rua
e convide-os para pensarem em formas de realizar essa transformação. Coisas como ter um
parklet, fazer uma horta ou fechar a rua para lazer aos domingos são muito simples, mas só
podem ser realizadas em comunidade.

Divida suas habilidades e conhecimentos com os outros e se proponha a aprender com


eles também. Você pode usar plataformas como o Cinese ou o Nós.vc ou até mesmo bancos
de tempo como o Bliive.

Se tiver espaço sobrando em casa, receba turistas, cobrando ou não por isso. O Airbnb
e o Couchsurfing pode te ajudar nessa tarefa. Ao viajar também considere ficar na casa de
outras pessoas ou então encontrá-las para te mostrarem a versão delas da cidade.

ECONOMIA COLABORATIVA
Se for usuário de transporte individual, ofereça caronas ou compartilhe seu veículo
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com outras pessoas (Fleety e Pegcar são alternativas interessantes). Também é possível alugar
carros compartilhados por hora de uso. Em São Paulo existem empresas como o Zazcar.

Se puder, separe um valor por mês para financiar projetos e iniciativas em que você
acredita. O nosso dinheiro também pode trabalhar a serviço de um mundo mais colaborativo.
Você pode fazer isso através de plataformas de financiamento coletivo como Catarse, Benfei-
toria e o Unlock.

Ocupe os espaços públicos. Faça festas, plante hortas, leve as crianças para brincar.
Ocupar a cidade é receita para ter espaços mais seguros, mais bem cuidados e que se tor-
nem, de fato, bens comuns.

Também é possível participar da política local pressionando parlamentares ou suge-


rindo projetos de lei. Iniciativas como o Nossas Cidades e o Eu Voto foram desenhados para
ajudar os cidadãos nessas tarefas.

Se você presta algum serviço ou é empreendedor, pense em formas de tornar o seu


produto/serviço mais inclusivo e acessível. Sempre é possível conceber modelos de negócio
que não se baseiem na criação de escassez artificial.

NOVAS FORMAS DE NOS ORGANIZAR EM SOCIEDADE

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