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O que é ansiedade (fisiologicamente)

Do ponto de vista fisiológico, a ansiedade seria a tradução da reação à ameaça percebida,


ativando o sub-sistema simpático do sistema nervoso autônomo, responsável pela
configuração dos órgãos internos (coração, pulmões, glândulas supra-renais, baço, pâncreas...)
de modo a preparar o organismo para a ação. (Luta, fuga).

Quando o eu houver sido constituído (via aquisição de linguagem, que se dá durante o
segundo ano de vida), as manifestações de ansiedade, agora desencadeadas pela
interpretação da criança (em relação ao que considera ameaçador) serão acompanhadas das
mesmas reações fisiológicas (isto é, a ativação do sub- sistema simpático).

- A crítica frente a adaptabilidade da ansiedade

“Refletindo melhor, o juízo acerca da angústia real necessita rigorosa revisão. O único
comportamento adequado ante a ameaça de um perigo seria avaliar calmamente as próprias
forças em comparação com a ameaça e, decidir que alternativa oferece maior vantagem: fuga,
defesa ou ataque.

Tudo o que ocorre sucederia, provavelmente de melhor maneira, se a angústia não se


desenvolvesse.

Os senhores veem que, em intensidade demasiada, a angústia se revela extremamente


inadequada, pois paralisa toda a ação. A reação ao perigo então consiste em uma mescla de
afeto de angústia e ação defensiva. O animal assustado se angustia e foge, mas o
adequado nisso é a “fuga”, não o “angustiar-se”.

Sentimo-nos tentados a afirmar que o desenvolvimento da angpústia jamais é adequado.

“Um único ponto desvinculado, uma lacuna em nossa concepção: o fato de que a angústia
realista deve ser vista como instintos de autoconservação do Eu.”
Ansiedade psiquicamente:

Gostaríamos de acreditar que ambas angústias (real e neurótica) são díspares, no entanto, não
temos meios de distingui-las, no quesito das sensações que provocam.

“ A angústia psíquica é a transformação da libido reprimida. Descarga de


libido em forma inutilizável. “

(...) como sabemos, o que mais facilita o surgimento de uma neurose é a


incapacidade de tolerar um considerável represamento de libido por um
longo tempo”

Cabe perguntar então: "O que as pessoas temem na ansiedade neurótica?".

- Primeira teoria

O conceito de libido se torna mais compreensível se for definido como interesse (positivo ou
negativo[3]) que o sujeito investe (em pessoas, objetos, situações). No caso, a
impossibilidade de encontrar o que é procurado (para obtenção do prazer) transformaria
a libido em ansiedade. (retenção de libido, ou seja, à falta de "descarga adequada"
("satisfação") de libido)

- Conferências

“Em geral somos capazes de dizer que curso normal de eventos psíquicos deixou de ocorrer e
foi substituído pela angústia. Nós construímos o processo ics como ele seria, se não tivesse
sofrido repressão. Também esse processo será acompanhado por determinado afeto, e
descobrimos então, que o afeto que acompanha o curso normal dos eventos é substituído pela
angústia após a repressão, independente de sua qualidade.”

Repressão: ideia + afeto reprimidos. “O que se passa com o afeto vinculado à ideia reprimida, é
ser transformado em angústia. Uma ideia permanece a mesma, exceto por estar cs ou ics, mas
um afeto é um processo de descarga, algo a ser avaliado diferente da idéia. É de longe a parte
mais importante no processo repressivo.”

“Quando submetemos à analise a situação que se origina a angústia ou os sintomas, nós


construímos o processo inconsciente como ele seria, se não tivesse sofrido repressão, e sim
prosseguido sem qualquer impedimento seu caminho rumo à consicência. Também seria,
neste caso, acompanhado por determinado afeto [que foi subst. pela angustia]. “

“ A angústia é portanto, a moeda universal corrente, pela qual são ou podem ser
trocados todos os impulsos afetivos, quando o conteúdo ideativo a eles ligados foi
submetido a repressão”.

Gostaríamos de acreditar que ambas angústias (real e neurótica) são díspares, no entanto, não
temos meios de distingui-las, no quesito das sensações que provocam.

Assim como na angústia real, o Eu se vê ante um perigo, o desenvolvimento da angústia


psíquica é reação do Eu ao perigo diante da demanda de sua libido - mas trata esse perigo
interior como se fosse exterior. Assim como a tentativa de fuga ante o perigo exterior dá lugar
ao enfrentamento e medidas de defesa (na angustia real), também o desenvolvimento da
angústia psíquica cede lugar à formação do sintoma.

- Ansiedade na criança

“A ansiedade é muito comum em crianças, mas é difícil determinar se se trata de angústia


neurótica ou realista. (...) Da verdadeira angústia realista, a criança tem muito pouco. Seria
desejável que tivesse herdado mais destes instintos protetores da vida; facilitaria muito a tarefa
de vigiá-la, que impede a criança de se expor a um perigo atrás do outro.”

Quando por fim desperta nela a angústia realista, é obra unicamente da educação. A angústia
infantil muito tem a ver com a neurótica dos asultos: nasce da libido não empregada e substitui
o objeto amoroso faltante por um objeto exterior ou situação.
- Segunda teoria [Sintoma, inibição..]

A segunda teoria da ansiedade inverte a ordem dos fatores, propondo que a ansiedade
constitua a causa do recalque [6], ao contrário da primeira (em que a repressão -- não o
recalque -- constituiria a origem da ansiedade).

As evidências em favor dessa mudança provêm da experiência clínica. Freud constata a


relação antagônica entre ansiedade e sintoma. O sintoma parece absorver a ansiedade, que
o antecede. Quando a ansiedade ultrapassa certo limiar, dá lugar ao sintoma.
Reciprocamente, se a estabilidade do sintoma é ameaçada a ansiedade relativa ao
sintoma em questão volta a manifestar-se.

“como se os sintomas fosse criados a fim de evitar a irrupção do estado de ansiedade"

- A ansiedade na psicose

O confronto entre os discursos (as lógicas) representadas pelos conceitos "id' e "superego"
acontece de forma inconsciente. O seu resultado é o recalque (recalque secundário)[9],
agenciado pelos mecanismos de defesa do ego.

A forma de ansiedade derivada do conflito entre id e superego corresponderia ao temor


suscitado pelas exigências libidinais associadas ao id, ou seja, ao medo da perda de
identidade (característica da loucura, ou psicose). A loucura, caracterizada pelo
comprometimento da identidade[11], representa a predominância do desejo de não desejar
(recusa da posição de sujeito, recusa da falta)

A ansiedade decorrente do temor à psicose retrata o medo à desestruturação da


identidade (rejeição do desejo, da falta).

- As neuroses de defesa

O modelo da segunda teoria da ansiedade é constituído pela neurose de defesa. A


neurose de defesa se caracteriza pela fuga do objeto de desejo. Na medida em que o
conflito do sujeito se expressa pela neurose, nesse grau a relação com o objeto de
desejo será obstaculizada.
a ansiedade é suscitada pela aproximação em relação ao objeto de
desejo

Os motivos do distanciamento são:


● temor à dependência (I);
● culpa (expressa pela obsessão) (II) e
● medo (representado pela histeria) (III).

- A defesa na perversão

A perversão se caracteriza pela relação de dependência e de disputa de poder em relação ao


objeto de desejo (posições de dominador e/ou dominado). O conflito na relação perversa se
expressa pelo:

● temor à perda; tanto a perda da individualidade, ameaçada pela dependência em


relação ao outro
● a perda do outro, ou seja, a ruptura da relação.

- Resumo
Tanto na neurose como na perversão o conflito é suscitado pela
escala de valores (ideal de ego) predominante no superego.

A possibilidade da relação não conflitante decorre da sublimação (ou


seja, criatividade), que consiste na aceitação do risco de perda
inerente a todo investimento libidinal, isto é, a todo interesse dirigido a
tal ou qual representação do desejo.

Os conflitos neuróticos e perversos assinalam a dificuldade de aceitar


a posição de sujeito (condição desejante, falta), o que impele a fugir
da relação (neurose) ou a buscar uma relação em que cada parte
procura impor suas expectativas em relação ao outro (perversão)

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