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Fisiognomia o Que Diz Uma Face PDF
Fisiognomia o Que Diz Uma Face PDF
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ARTES, LETRAS E IDEIAS
FISIOGNOMONIA
Notas sobre a face, o carácter, a expressão das emoções e da sua aplicação nas ciências e nas artes
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nie; al. Physiognomik; it. Fisiognomicà). azão deve ter tido Momus que
de todos os deuses troçava e
não perdoou a Hefesto não ter
Arte de julgar o caráter do homem, colocado uma janela no peito
seu modo de sentir e de pensar, a partir dos humanos de modo a desvendar-se-
de sua aparência visível, especialmente a -lhes os segredos. E não faltou ao longo
partir dos traços fisionômicos. Aristóte- dos tempos quem procurasse por outras
vias essas manifestações mais escondi-
les (seguido por muitos escritores antigos das da alma. O corpo, principalmente
e medievais) já admitira a possibilida- a face, há-de mostrar essas marcas da
de de julgar a natureza de uma coisa com personalidade e do carácter humano –
base em sua forma corpórea (An. pr., II, a máscara sempre foi a persona, coube
27, 70 b 7). Cícero falava de um fisiog- aos fisionomistas a tarefa mágica ou
nomonista, Zopiro, que se vangloriava científica da decifração dessas marcas
impossíveis de esconder.
de conhecer a natureza e ocaráter dos A prática já era conhecida na Suméria e
homens pelo exame de seu corpo, ou seja, antigo Egipto. Na antiga Roma tornou-
de seus olhos, seu rosto e sua testa (De -se comum entre os grandes senhores
Fato, V, 10). Mas foi principalmente possuírem um metoposcopi com dons
no Renascimento que essa arte foi culti- para ler nas rugas da face o carácter dos
vada, a começar por Giambattista della que os rodeavam, numa antecipação da
psicologia política que mais tarde tam-
Porta, que, em 1580, publicou o livro bém será receita recomendada por um
Sulla fisiognomonia umana. Esse tipo de Castiglione ou Maquiavel.
estudo foi muito difundido no séc. XVIII O percurso da magia para a ciência vai
por Lavater (Fragmentos fisiognomonia, ter muitos elos e entrosamentos. Da
1775-78). O próprio Kant reconheceu busca esotérica dos sintomas da alma
o valor da fisiognomonia (Antr., 11, cap. cósmica aos estudos da psicologia mo-
derna, muitos entrosamentos houve
III). Hegel distingue-a das más artes e dos pelo caminho e à fisionomia tanto se
estudos inúteis porque ela afirma a uni- dedicaram médicos como filósofos, ma-
dade entre interior e exterior (Phänomen. gos e artistas. A adivinhação da alma e
des Geistes, I, parte 1, cap. V; trad. it., as bizarrias zoomórifcas da animalidade
p. 281). Nos tempos modernos a fisiog- escondida por baixo da pele necessita-
nomonia também tem defensores não só rão tanto do mistério como da arte da
revelação.
entre os psicólogos e caracterologistas, Em pleno século XVII ainda Lavater
mas também entre filósofos. Spengler dis- questionava a importância das mani-
se: “A morfologia do que é mecânico e festações físicas do psiquismo humano,
amplo, ciência que descobre e ordena re- interrogando-se sobre a sua natureza:
lações causais, é chamada de sistemática. “o que é a natureza universal senão fi-
A morfologia do que é orgânico, da his- sionomia. Não se reduz tudo a superfí-
cie e conteúdos? Corpo e alma? Efeito
tória e da vida, de tudo aquilo que traz em externo e faculdade interna? Princípio
si direção e destino, é chamada fisiogno- invisível e fim visível?”
monia” (Untergang des Abendlandes, I, Em pleno século XVII ainda Lavater Como pesquisas associadas à medicina
p. 134). R. Kassner afirmou a identida- as fisionomias têm em Hipócrates o ini-
de entre psicologia e fisiognomonia, ale- questionava a importância das manifestações ciador, usando pela primeira vez o ter-
mo no tratado acerca das epidemias, no
gando que a antiga distinção entre ser e
aparecer não tem valor: “A psicologia físicas do psiquismo humano, interrogando- sentido do julgamento de alguém pela
aparência física.
deve então ser fisiognomonia e qualquer
outra é tediosa e banal, pois, como tudo
se sobre a sua natureza: “o que é a natureza O desenvolvimento desta arte divina-
tória entre as formas animais e as fisio-
consiste na visão, nada há que precise ser universal senão fisionomia. Não se reduz tudo nomias humanas chega à Idade Média
através de outros tratados em que o
mais investigado ou descoberto, retiran-
do uma camada de aparência depois da a superfície e conteúdos? Corpo e alma? Efeito carácter hermético predomina. Tal é o
caso dos estudos do Pseudo Aristóteles,
outra” (Dasphysiognomische Weltbild,
Intr.; trad. it. em Os elementos da gran- externo e faculdade interna? Princípio invisível Adamantios, Polemon e o pseudo Apu-
leius que transitam do mundo clássico
deza humana, 1942, pp. 6l ss.). [Ab- e fim visível?” por via de traduções e tratados árabes
bagnano] do género, como o manual de medici-
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ROSTO DE MADEIRA
É comprido e fino. Todo o
contorno é rectangular, desde
a testa até o queixo. Também
costuma ter nariz recto, orelhas
compridas, sulcos profundos
e sobrancelhas longas e finas.
Este formato fica mais evidente
quando a pessoa é alta e magra.
É considerada amável, solidária
e preocupada com as questões
sociais, como uma árvore fron-
dosa que protege as pessoas do
sol quente.
Luís Bernatrdi
In O Holoscópio O EXCÊNTRICO CONSELHEIRO comendador não tem pés nem cabeça”.
Sobre a recepção que esta obra teve em
GAMA MACHADO
Portugal, o mesmo Alberto Pessoa escre-
veu o seguinte:
JOSÉ JOAQUIM Gama Machado A Academia de Sciências de Lisboa não
(1775-1861), fidalgo da Casa Real, co- só agradeceu por mais duma vez, em ter-
mendador da Ordem de Cristo, conse- mos elogiosos, a oferta dos volumes da
lheiro de Legação de Portugal em Paris Théorie des Ressemblances, mas chegou mes-
e sócio correspondente da Academia mo a eleger o seu autor, na sessão da As-
Real de Ciências de Lisboa foi uma ex- sembleia de Efectivos de 4 de Fevereiro
cêntrica figura portuguesa, que viveu de 1853, sócio correspondente […].
em Paris desde 1806 até à sua morte. A O cardeal Saraiva recebeu igualmente
excentricidade deste homem, celebra- uma cópia da Théorie, tendo agradecido
da na obra Les Excentriques de Cham- ao autor por carta e onde escreveu “há
pfleury, revelou-se na sua forma de vida, muito tempo não li huma Obra, que tan-
na obra que escreveu e publicou e no to me recreasse, instruisse e illustrasse”.
conteúdo do seu testamento. Este era um comentário inesperado já
Gama Machado dedicou-se com paixão que o clero francês tinha criticado com
violenta ao estudo da história natural, muita veemência as ideias materialistas
uma actividade que o absorveu total- expressas nesse livro.
mente nos últimos anos da sua vida, ao A biblioteca da Câmara dos Pares foi
ponto de se levantarem justas dúvidas igualmente contemplada com uma có-
sobre a integridade das suas capacidades pia da Théorie, que foi aparentemente
mentais. Com o objectivo de satisfazer muito apreciada. A Mesa da Câmara foi
a enorme curiosidade e de ter sempre à encarregada de endereçar ao distinto co-
mão os objectos dos seus estudos, este mendador uma carta de agradecimento a
ilustre português vivia rodeado de pás- qual muito o sensibilizou.
saros vivos das mais variadas espécies, Como se explica, então, que uma obra de
sendo alguns de grande raridade. Pos- tão má qualidade científica e com ideias
suía, além disso, “aves e outros animais tão contrárias à religião fosse tão elogia-
ampalhados, caixas com borboletas e da pela Academia de Ciências, pelo car-
outros insectos” provenientes de todas deal de Lisboa e pela Câmara dos Pares?
as partes do mundo. Alberto Pessoa apresenta uma justifi-
Segundo as suas próprias palavras, o fim cação possível, que parece igualmente
essencial do seu trabalho era: muito acertada:
Demonstrar duma maneira incontestá- O homem era rico, amável, bem rela-
vel, para as pessoas mesmo as menos cionado, tinha amigos e parentes em
familiarizadas com o estudo das sciên- altas situações. Ninguém o queria des-
cias naturais, que aí onde se encontrem gostar, a êle que se desfazia em amabi-
formas, robes [roupagens] e côres idên- lidades para tôda a gente. A obra tinha
ticas, na imensa série dos seres orga- aspecto considerável, grande formato,
nizados, aí se encontrarão também as óptimo papel, elegância tipográfica,
mesmas conformidades de instintos, de magníficas estampas. Tudo isto infun-
habitos e costumes. de respeito. Quem recebia um volume,
Noutras palavras, Gama Machado pro- oferecido pelo autor, folheava-o, ad-
punha-se estabelecer as leis gerais de mirava as figuras, lia bocado aqui, bo-
semelhanças comportamentais entre
animais e o próprio homem, com base
em semelhanças na morfologia exte-
rior desses seres animados. Expôs as sua
originais teorias na obra Théorie des
Ressemblances (1831-1858), constitu- O fim essencial do seu trabalho era:
ída por 4 grossos volumes e mandada
imprimir à sua custa. Nela cita obras de Demonstrar duma maneira
autores famosos como o frenologista
Franz Gall (1758-1828), o naturalista incontestável, para as pessoas mesmo
Charles Bonnet (1720-1793), e, prin-
cipalmente, o filósofo natural renas- as menos familiarizadas com o estudo
centista Giovanni Battista della Porta
(1535?-1615) – autor deDe Humana das sciências naturais, que aí onde se
Physiognomonia (1586), Phytognomo-
niae (1591) eCoelestis Physiognomo- encontrem formas, robes [roupagens]
niae (1601) – o qual parece ter sido seu
grande inspirador e mestre. e côres idênticas, na imensa série dos
Em 1926, o médico Alberto Pessoa
(1883-1942) escreveu um extenso ar- seres organizados, aí se encontrarão
tigo, na Revista da Universidade de
Coimbra, onde fez o relato da vida e também as mesmas conformidades de
obra de J. J. da Gama Machado e onde
afirma que “o grande livro do nosso José instintos, de habitos e costumes.
Joaquim da Gama Machado é, e sempre
foi, uma das mais extraordinárias colec-
ções de disparates que têm aparecido
à superfície da terra” e que “o livro do
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I D E I A S F O R T E S
NÉVOAS E BRUMAS EM
António Graça de Abreu
黄山 HUANG
ANTÓNIO GRAÇA DE ABREU
O PRIMEIRO dos doze notáveis textos
das Conversas do Chá e do Café1, -- da pena e
inteligência de António Conceição Júnior,
filho de Macau e homem de cultura --, fala
do encontro entre o narrador e Zhou Yun,
uma tocadora de pipa natural da província
de Anhui que lhe vai dedicar um trecho
musical intitulado 黄山云 Huangshan Yun,
ou seja, “Nuvens na Montanha Amarela”.
Terminados os acordes subtis e intensos, o
narrador perguntou a Zhou Yun:
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R Ó N I C A
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T E R C E I R O O U V I D O
PENSAMENTO
POSITIVO,
MEU AMIGO,
PENSAMENTO
POSITIVO
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À S U P E R F Í C I E
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L E T R A S S Í N I C A S
DO ESTADO trivial; diminuindo recompensas, aumentavam soberanos são muito exigentes, os seus súbditos Huai Nan Zi (淮南子), O Livro dos Mestres
E DA SOCIEDADE – 4 os castigos. Tentando assim governar, fizeram são contenciosos. Se não endireitares estas coisas de Huainan foi composto por um conjunto
de sábios taoistas na corte de Huainan (actu-
crescer a desordem. logo na raiz, mas te preocupares com os ramos,
al Província de Anhui), no século II a.C., no
Outrora, sob a liderança dos sábios, as leis eram tal é como levantar pó ao tentar limpar uma sala,
decorrer da Dinastia Han do Oeste (206 a.C.
liberais e leves os castigos. As prisões estavam *** ou transportar contigo lenha enquanto tentas a 9 d.C.).
vazias, todos partilhavam a mesma moralidade apagar um fogo. Conhecidos como “Os Oito Imortais”, estes
e ninguém era traiçoeiro. Grande número de intelectuais na sociedade se Assim, os assuntos dos sábios são limitados e sábios destilaram e refinaram o corpo de ensi-
Nos tempos que se seguiram, o governo não foi afastou da raiz da Via e do seu poder, dizendo fáceis de gerir; as suas exigências são diminutas namentos taoistas já existente (ou seja, o Tao Te
assim. Os que estavam acima tornaram-se incon- que a boa educação e o cumprimento de deveres e fáceis de satisfazer. São benévolos sem esfor- Qing e o Chuang Tzu) num só volume, sob o
trolavelmente rapaces, enquanto os que estavam bastam para governar o mundo. É impossível ço; neles se confia sem palavras; tudo obtêm patrocínio e coordenação do lendário Príncipe
em baixo se encheram de cobiça e desrespeito. falar com eles acerca das artes da liderança. sem nada procurarem; são bem sucedidos sem Liu An de Huainan. A versão portuguesa que aqui
O povo comum era pobre e miserável, lutando denodo. Atêm-se apenas à realidade, abraçam se apresenta segue uma selecção de extractos fun-
entre si. Apesar de trabalharem duramente, nada *** a virtude e fazem proliferar a sinceridade. Toda damentais, efectuada a partir do texto canónico
completo pelo Professor Thomas Cleary e por si
alcançavam. Surgiram os ardilosos e muitos a gente os segue, como ecos de um som, como
traduzida em Taoist Classics, Volume I, Shambha-
ladrões e assaltantes. Quando os soberanos são muito ardilosos, os reflexos de uma forma. Aquilo que cultivam é
la: Boston, 2003. Estes extractos encontram-se or-
Os superiores e os subordinados mantinham um seus súbditos são muito traiçoeiros. Quando fundamental. ganizados em quatro grupos: “Da Sociedade e do
ressentimento mútuo, as directivas não eram os soberanos mantêm muitos interesses e ob- Estado”; “Da Guerra”; “Da Paz” e “Da Sabedoria”.
postas em prática, e os oficiais do governo não sessões, os seus súbditos são muito afectados. O texto original chinês pode ser consultado na
se empenhavam em regressar ao Tao. Ignoran- Quando os soberanos sofrem de pouca confian- Tradução de Rui Cascais íntegra em www.ctext.org, na secção intitulada
do o fundamental, os oficiais dedicavam-se ao ça, os seus súbditos andam inquietos. Quando os Ilustração de Rui Rasquinho “Miscellaneous Schools”.
FERNANDA DIAS
Uma leitura do
YI JING
O SOL, A LUA
E A VIA DO FIO DE SEDA