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(2006) ASRS-18 Paulo Mattos PDF
(2006) ASRS-18 Paulo Mattos PDF
Mattos, P.; Segenreich, D.; Saboya, E.; Louzã, M.; Dias, G.; Romano, M. Rev. Psiq. Clín. 33 (4); 188-194, 2006
Mattos, P.; Segenreich, D.; Saboya, E.; Louzã, M.; Dias, G.; Romano, M. Rev. Psiq. Clín. 33 (4); 188-194, 2006
é considerado “suspeito” o indivíduo com pelo menos pas consecutivas: 1) tradução do instrumento original;
quatro itens positivos. No caso de utilização da versão de 2) retrotradução; 3) apreciação formal de equivalência;
18 itens (partes A + B), segue-se o mesmo ponto de corte 4) debriefing com amostra de conveniência; e 5) crítica
estabelecido no DSM-IV: são considerados como tendo final por especialistas na área.
diagnóstico possível aqueles indivíduos que apresentam,
no mínimo, seis sintomas em pelo menos um dos domínios A etapa 1 consistiu em duas traduções do instru-
(desatenção – itens 1 a 9 da parte A – e hiperatividade-im- mento original em inglês para o português realizadas
pulsividade – itens 1 a 9 da parte B) ou em ambos. A versão de forma independente: a primeira delas (T1) por um
de rastreio em português foi disponibilizada somente após profissional formado em letras e com especialização
ter sido iniciado o presente estudo, em 2004. Nenhum dos em inglês, e a segunda (T2) por um psiquiatra com
autores deste estudo participou do processo de tradução da experiência na área e fluente no idioma inglês, capaz de
versão de rastreio, para a qual não há dados publicados. identificar o conceito que sustenta cada um dos itens no
Cumpre ressaltar que a ASRS serve para identificar instrumento original. Nesta etapa, respeitou-se a equiva-
sintomas do critério A, porém, para o diagnóstico de lência operacional, que objetiva manter características
TDAH em adultos, é necessário que outros critérios sejam originais, auferindo maior confiabilidade e validade
atendidos: idade precoce de início, antes dos 7 anos de do instrumento, mantendo o mesmo número de itens
idade (critério B), universalidade dos sintomas, isto é, (18), o mesmo enunciado e as mesmas cinco opções de
manifestação em pelo menos dois ambientes diferentes respostas de freqüência.
(critério C), comprometimento funcional clinicamente sig- A etapa 2 consistiu nas retrotraduções de T1 e T2
nificativo (critério D) e decisão clínica de os sintomas não para o inglês, respectivamente, por outro profissional
serem mais bem atribuídos a outros transtornos (critério formado em letras e com especialização em inglês (R1)
E), em especial transtornos do humor e ansiedade. e um psiquiatra com experiência na área e fluente no
Estudos comparando o auto-relato de adultos com idioma inglês (R2). As retrotraduções ocorreram de
o relato de informantes tendem a mostrar o mesmo modo independente, além de cegas com relação ao perfil
grau de discrepância observado quando se comparam o dos profissionais da primeira etapa.
auto-relato de crianças e o relato de pais, com tendência A etapa 3 consistiu na apreciação formal de
a menor número de sintomas nos relatos dos próprios
equivalência semântica com profissionais com o
indivíduos (Jensen et al., 1999; Zucker et al., 2002). Um
mesmo perfil das etapas 1 e 2. Para o julgamento da
estudo com amostra não-clínica, entretanto, demonstrou
equivalência semântica, avaliaram-se os significados
concordância quanto ao número e à gravidade dos sinto-
geral e referencial dos termos e das expressões de
mas (Murphy e Schachar, 2000). A entrevista clínica não
pode ser substituída pelo auto-relato, mesmo com o uso cada um dos 18 itens que compõem a escala (Herdman
da ASRS (Spencer e Adler, 2004; Kessler et al., 2005b). et al., 1998; Reichenheim et al., 2000). Os significados
Em várias áreas da medicina em nosso meio, in- referenciais dizem respeito à correspondência literal
cluindo a psiquiatria (Jorge, 1998), tem-se optado pela entre as palavras no instrumento original e as retrotra-
tradução e adaptação transcultural de questionários e duções. Os significados gerais representam as idéias
escalas já existentes, uma vez que tal procedimento (conceitos) a que uma única palavra ou um conjunto
é mais prático e operacional que a concepção de um de palavras aludem, levando em conta aspectos mais
instrumento novo, além de permitir a comparação entre sutis que a correspondência literal. Assim, na equiva-
países distintos (Massoubre e Lang, 2002; Hunt et al., lência semântica, leva-se em consideração não apenas o
1991). Entretanto, confusões terminológicas freqüentes significado das palavras entre dois idiomas diferentes,
e pobreza de sistematização das adaptações transcultu- como também se procura atingir o mesmo efeito que
rais têm sido apontadas na literatura como deficiências os itens (perguntas) têm em culturas distintas. Para
que podem comprometer a qualidade das informações cada item, foi utilizado um formulário no qual os pares
colhidas, em especial nos estudos epidemiológicos de traduções e retrotraduções (T1-R1) e (T2-R2) eram
(Herdman et al., 1998; Reichenheim et al., 2000). apresentados e os profissionais julgavam a equivalência
entre pares em quatro níveis: inalterado, pouco altera-
Objetivo do, muito alterado e completamente alterado. Após a
avaliação e a discussão em conjunto, procedeu-se a uma
Realização da adaptação transcultural da escala ASRS-18 versão-síntese com base no julgamento de cada um
(v.1.1) pela avaliação do instrumento original e de suas dos itens. Dois dos autores que não participaram das
versões para o português, propondo uma versão final em etapas anteriores (MR e ML), de duas instituições uni-
língua portuguesa para uso corrente no Brasil. versitárias distintas, com ampla experiência na avaliação
de TDAH em adultos, receberam esta versão-síntese
Método e forneceram comentários e críticas com base em sua
experiência. Uma nova versão-síntese foi então prepa-
Utilizaram-se as diretrizes gerais do método proposto rada contemplando essas contribuições após discussão
por Herdman et al. (1998). Foram realizadas cinco eta- com todos os envolvidos.
Mattos, P.; Segenreich, D.; Saboya, E.; Louzã, M.; Dias, G.; Romano, M. Rev. Psiq. Clín. 33 (4); 188-194, 2006
Tabela 1. Exemplos de itens da ASRS e resultados nas etapas de tradução (T1 e T2), retrotradução (R1 e R2) e versão-síntese.
Original T1 R1 T2 R2 Síntese
How often do you Com que How frequently do Com que How often do you Com que
make careless freqüência você you make mistakes freqüência você make slips because freqüência você
mistakes when you comete erros por due to lack of comete erros of lack of attention faz erros por falta
have to work on a descuido, quando attention when you por desatenção when you have to de atenção quando
boring or difficult você tem que work on a dull or quando você tem work on a boring or está trabalhando
project? trabalhar num difficult project? de trabalhar em um difficult project? num projeto chato
projeto difícil ou projeto chato ou ou difícil?
enfadonho? difícil?
How often do you Com que How frequently do Com que How often do you Com que
have difficulty freqüência você you find it difficult freqüência você find it difficult to freqüência você
concentrating on tem dificuldade to concentrate on tem dificuldade concentrate on tem dificuldade
what people say to em se concentrar what people tell em se concentrar what people are para se concentrar
you, no que as pessoas you, even when no que as pessoas saying to you, even no que as pessoas
even when they estão lhe dizendo, they are speaking lhe dizem, mesmo when they are dizem, mesmo
are speaking to you mesmo quando elas directly to you? quando elas speaking directly quando elas
directly? estão se dirigindo estão falando to you? estão falando
diretamente a diretamente com diretamente com
você? você? você?
How often are Com que How frequently are Com que How often do you Com que
you distracted by freqüência você you distracted by freqüência você get distracted by freqüência você
activity or noise se distrai devido activity or noises se distrai com activities or noise se distrai com
around you? a atividades ou around you? atividades ou going on around atividades ou
ruídos ao seu barulhos a sua you? barulhos a sua
redor? volta? volta?
How often do you Com que How frequently do Com que How often do Com que
have difficulty freqüência você you find it difficult freqüência você you have trouble freqüência você
unwinding and tem dificuldade to calm down and tem dificuldades winding down and tem dificuldade
relaxing when em relaxar quando relax when you em ficar sossegado relaxing when you para sossegar e
you have time to você tem um tempo have free time for e relaxado quando have some time to relaxar quando
yourself? para si mesmo? yourself? você tem tempo pra yourself? você tem tempo
você? livre para você?
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não foram orientados inicialmente). Assim, as palavras o significado de “falar além da conta”, e, embora diga
“compelido”, “cometer” e “enfadonha” foram substituí- respeito a um aspecto do TDAH (impulsividade), não
das pelos seus equivalentes considerados de maior uso é o sentido pretendido no instrumento original (“falar
na comunicação oral coloquial. Além disso, foi procurada em excesso”, item constante do módulo de hiperativi-
uma correspondência entre de percepção e de impacto dade); entretanto, mesmo no original em inglês, essas
dos diferentes vocábulos (Herdman et al., 1998). possibilidades de entendimento existem, e a opção “falar
Um único item foi considerado como “muito alte- muito” foi descartada devido à discrepância do original
rado” quanto à equivalência geral, aquele que incluía a em língua inglesa (“too much”).
palavra “tarefa”. Embora seja a tradução correta de “task”, A expressão “dificuldade para finalizar os últimos
ela não é regularmente empregada em nosso meio e detalhes de um projeto depois de já ter feito as partes
apresenta grande potencial de não ser compreendida. De mais desafiadoras” não era compreendida por um nu-
fato, o termo “trabalho”, opção discutida e selecionada mero significativo de indivíduos entrevistados, aspecto
pelos profissionais na etapa 3, foi utilizado com boa com- identificado pelos exemplos que forneciam após suas
preensão pelos indivíduos entrevistados na etapa 5. respostas aos entrevistadores. Optou-se por transformá-
As etapas 4 e 5 trouxeram contribuições para a lo em “deixar um projeto pela metade depois de ter feito
melhor percepção das dificuldades de aplicação da as partes mais difíceis”, sendo esta a única alteração
escala, mas apenas em um item as alterações foram in- proposta pela etapa 4 (debriefing com pacientes adultos
corporadas na versão final, conforme indicado a seguir. e controles). A versão final da ASRS é apresentada na
Identificou-se que a expressão “falar demais” pode ter tabela 2.
Por favor, responda as perguntas abaixo se avaliando de acordo com os critérios do lado direito da página. Após
Freqüentemente
freqüentemente
Algumas vezes
Raramente
responder cada uma das perguntas, circule o número que corresponde a como você se sentiu e se comportou
Nunca
Muito
nos últimos seis meses. Por favor, dê este questionário completo ao profissional de saúde para que vocês
possam discutir na consulta de hoje.
1. Com que freqüência você comete erros por falta de atenção quando tem de trabalhar num projeto chato ou difícil? 0 1 2 3 4
2. Com que freqüência você tem dificuldade para manter a atenção quando está fazendo um trabalho chato ou
0 1 2 3 4
repetitivo?
3. Com que freqüência você tem dificuldade para se concentrar no que as pessoas dizem, mesmo quando elas
0 1 2 3 4
estão falando diretamente com você?
4. Com que freqüência você deixa um projeto pela metade depois de já ter feito as partes mais difíceis? 0 1 2 3 4
5. Com que freqüência você tem dificuldade para fazer um trabalho que exige organização? 0 1 2 3 4
6. Quando você precisa fazer algo que exige muita concentração, com que freqüência você evita ou adia o início? 0 1 2 3 4
7. Com que freqüência você coloca as coisas fora do lugar ou tem de dificuldade de encontrar as coisas em
0 1 2 3 4
casa ou no trabalho?
8. Com que freqüência você se distrai com atividades ou barulho a sua volta? 0 1 2 3 4
9. Com que freqüência você tem dificuldade para lembrar de compromissos ou obrigações? 0 1 2 3 4
PARTE A – TOTAL
1. Com que freqüência você fica se mexendo na cadeira ou balançando as mãos ou os pés quando precisa ficar
0 1 2 3 4
sentado (a) por muito tempo?
2. Com que freqüência você se levanta da cadeira em reuniões ou em outras situações onde deveria ficar
0 1 2 3 4
sentado (a)?
3. Com que freqüência você se sente inquieto (a) ou agitado (a)? 0 1 2 3 4
4. Com que freqüência você tem dificuldade para sossegar e relaxar quando tem tempo livre para você? 0 1 2 3 4
5. Com que freqüência você se sente ativo (a) demais e necessitando fazer coisas, como se estivesse “com um
0 1 2 3 4
motor ligado”?
6. Com que freqüência você se pega falando demais em situações sociais? 0 1 2 3 4
7. Quando você está conversando, com que freqüência você se pega terminando as frases das pessoas antes delas? 0 1 2 3 4
8. Com que freqüência você tem dificuldade para esperar nas situações onde cada um tem a sua vez? 0 1 2 3 4
9. Com que freqüência você interrompe os outros quando eles estão ocupados? 0 1 2 3 4
PARTE B – TOTAL
Mattos, P.; Segenreich, D.; Saboya, E.; Louzã, M.; Dias, G.; Romano, M. Rev. Psiq. Clín. 33 (4); 188-194, 2006
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