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Avaliação do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em adultos


(TDAH): uma revisão de literatura

Article  in  Revista Avaliação Psicológica · June 2005

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Regina MARIA FERNANDES Lopes Denise Ruschel Bandeira


Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Avaliação Psicológica, 4(1), 2005, pp. 65-74 65

Avaliação do transtorno de déficit de atenção/


hiperatividade em adultos (TDAH): uma revisão de
literatura

Regina Maria Fernandes Lopes1 – Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Roberta Fernandes Lopes do Nascimento – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Denise Ruschel Bandeira – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo
Pesquisas mostram que, em média, 67% de crianças diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade
(TDAH) continuam tendo os sintomas quando adultos, interferindo na vida acadêmica, profissional, afetiva e
social. A avaliação precoce e o tratamento adequado podem reduzir os sintomas significativamente. Este artigo
mostra uma revisão da bibliografia recente sobre TDAH e avaliação psicológica do transtorno em adultos. O estudo
baseou-se em uma revisão da literatura a partir de levantamento de artigos no Medline/PubMed, PsycINFO e livros
nos últimos anos. O objetivo visa ressaltar os aspectos mais importantes da avaliação psicológica do TDAH,
consultando a bibliografia mais pertinente para avaliação deste transtorno. Os achados mostram componentes
indicados para uma avaliação de TDAH em adultos: revisão de preocupações atuais, avaliação do nível de funcio-
namento na infância e no adulto, história de vida detalhada, avaliação de história de adaptação psicossocial,
diagnóstico diferencial e avaliação intelectual, de comorbidades e das funções executivas.
Palavras-chave: TDAH, funções executivas, adultos.

Assessment of the attention deficit hyperactivity disorder (ADHD)


in adults: a literature revision

Abstract
Studies show that, in average, 67% of children with attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) maintain the
symptoms in adulthood, interfering in academic, professional, affective and social life. Early diagnosis and appropriate
treatment can significantly reduce symptoms. This article shows a review on the recent literature about ADHD and
psychological assessment of adults affected by this disorder. The study was based on a revision of articles from
Medline/PubMed, PsycINFO and from books published in the last years. The paper aims at pointing out the most
important aspects of ADHD psychological evaluation through the most pertinent bibliography for assessment of
this disorder. The findings show suitable components for an evaluation of ADHD in adults: revision of current
concerns, assessment of functioning level in childhood and adulthood, detailed life history, evaluation of psychosocial
adaptation history, differential diagnosis and evaluation of intellectual, comorbidities and executive functions.
Keywords: ADHD, executive functioning, adults.

Introdução atinge de 3% a 7% da população. Caracteriza-se


por diminuída capacidade de atenção, impulsividade
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hipera- e hiperatividade, de acordo com o DSM-IV-TR
tividade (TDAH) é uma condição neurobiológica que (American Psychological Association, APA, 2003),

1) Endereço para correspondência: Regina Maria Fernandes Lopes


Av. Assis Brasil 3532 Conj. 513 – Fones: 51-3350-5033 ou 9967-1595 – Jardim Lindóia – Porto Alegre/RS – CEP- 91010-003
66 Regina Maria Fernandes Lopes, Roberta Fernandes Lopes do Nascimento & Denise Ruschel Bandeira

afetando crianças, adolescentes e adultos. O TDAH 1. Critérios de Desatenção: a) freqüentemente


vem sendo tratado em crianças por quase um sécu- não presta atenção em detalhes e comete erros por
lo, mas somente há algumas décadas foi dada aten- omissão em atividades escolares, de trabalho ou ou-
ção ao fato de que esta patologia persiste na vida tras; b) com freqüência mostra dificuldade para sus-
adulta. Hoje, estima-se que 60% a 70% das pessoas tentar a atenção em tarefas; c) com freqüência pa-
que tiveram TDAH na infância mantêm o transtor- rece não escutar quando lhe dirigem a palavra; d)
no na vida adulta (Amaral, 2001; Barkley, 2002; freqüentemente não segue instruções e não termina
Risueño, 2001; Souza, Serra, Mattos & Franco, 2001; seus deveres escolares, tarefas domésticas ou de-
Travella, 2004). veres profissionais (não por causa de um comporta-
Pesquisas mostram que, em média, 67% de cri- mento de oposição ou por uma incapacidade de com-
anças diagnosticadas continuam tendo os sintomas preender as instruções); e) com freqüência tem difi-
quando adultos, interferindo na vida acadêmica, pro- culdade para organizar tarefas e atividades; f)
fissional, afetiva e social, de acordo com o DSM-IV freqüentemente evita, ojeriza ou reluta se envolver
(APA, 1994). Em homens a incidência é maior, apro- em tarefas que exijam um esforço mental constante
ximadamente nove homens para um caso de mulhe- (deveres de casa, escolares); g) freqüentemente
res, estas podendo demonstrar o tipo predominante- perde coisas necessárias para suas tarefas e ativi-
mente desatento com mais freqüência. Para este dades (brinquedos tarefas escolares, lápis, livros e
fenômeno ainda não há uma explicação definitiva outros materiais); h) facilmente é distraído por estí-
(Kuljis,1999; Petribú, Valença & Oliveira, 1999). mulos alheios à sua tarefa; e, i) com freqüência mostra
O TDAH em adultos muitas vezes tem sido esquecimento nas atividades diárias.
visto como uma doença camuflada, devido ao fato 2. Critérios de Hiperatividade: a)
dos sintomas serem mascarados, ocorrendo pro- freqüentemente agita as mãos e os pés e fica se re-
blemas de relacionamento afetivo e inter-pessoal, mexendo na cadeira; b) freqüentemente abandona
de organização, problemas de humor, abuso de sua cadeira em sala de aula ou em outras situações
substâncias, ou seja, caracterizados pela em que se espera que permaneça sentado; c)
comorbidade. Desta maneira, o diagnóstico se tor- freqüentemente escala em demasia, em situações
na difícil e os adultos e, principalmente as mulhe- impróprias (em adolescentes e adultos, pode se limi-
res, ficam sem diagnóstico e tratamento. Contu- tar a sensações subjetivas de inquietação): d) com
do, o diagnóstico precoce e tratamento adequado freqüência tem dificuldade de brincar ou se envolver
podem reduzir os sintomas significativamente silenciosamente em atividades de lazer e) está
(Barkley, 2002; Phelan, 2005). freqüentemente “a mil”, ou como se estivesse “a todo
Este artigo apresenta uma revisão da bibliogra- vapor”; e, f) freqüentemente fala em demasia.
fia mais recente sobre TDAH e sua avaliação psi- 3. Critérios de Impulsividade: a)
cológica em adultos. O estudo baseou-se em uma freqüentemente dá respostas precipitadas antes que
revisão da literatura a partir de levantamento de ar- tenham sido reformuladas completamente as pergun-
tigos no Medline/PubMed, PsycINFO e livros nos tas; b) com freqüência tem dificuldade de aguardar
últimos anos. Tem como objetivo ressaltar os aspec- sua vez; e, c) freqüentemente interrompe ou se in-
tos mais importantes da avaliação psicológica do tromete em assuntos alheios (por exemplo, em con-
TDAH consultando a bibliografia mais pertinente versas ou brincadeiras)
para este artigo. Critérios Gerais: a) alguns dos sintomas de
desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam
presentes antes dos sete anos de idade; b) presença
Critérios Diagnósticos para o TDAH de seis (ou mais) sintomas de desatenção e/ou seis
em adultos (ou mais) sintomas de hiperatividade-impulsividade,
que persistiram por pelo menos seis meses, em grau
O DSM-IV (APA, 1994) e o DSM-IV-TR mal adaptativo, e inconsistente com seu nível de de-
(APA, 2002, 2003) indicam uma série de critérios senvolvimento; c) algum comprometimento causado
para diagnóstico do TDAH, diferenciando os critéri- pelos sintomas está presente em dois ou mais con-
os de desatenção, hiperatividade, impulsividade e textos (por exemplo, na escola, no trabalho e em casa);
critérios gerais tal como descritos nos quadros abai- d) deve haver clara evidencia de prejuízo clini-
xo. Tais critérios foram baseados principalmente em camente significativo no funcionamento social, aca-
manifestações infantis de TDAH. dêmico ou ocupacional; e, e) os sintomas não ocor-
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rem exclusivamente durante o transcurso de outros excitabilidade); e) reação emocional excessiva (cri-
transtornos: Transtorno Global do Desenvolvimento; ses interferem em resolver os problemas apropria-
Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico, Trans- damente); e) desorganização (aproximação fortuita
torno do Humor, Transtorno Dissociativo, Transtor- para atividades); f) impulsividade (por exemplo, in-
no de Ansiedade, nem são mais bem explicados por terrompem os outros e mostram decisão apressada
esses outros transtornos mentais. que fazem); f) características associadas (por exem-
Como a incidência de manifestações de TDAH plo, história de TDAH no histórico familiar).
em adultos exige ainda maior estudo e atenção, mui- Contudo, essas escalas de avaliação recebem
tas vezes o diagnóstico vem com a nomenclatura: críticas. McGough e Barkley (2004) colocam que há
TDAH sem outra especificação (SOE). Os sinais dados insuficientes, devido ao fato de não haver dis-
residuais do transtorno incluem impulsividade e défi- tinção entre as fases do desenvolvimento do adulto.
cit de atenção, identificados em dificuldades para dar Menciona ainda que os critérios de Utah não identi-
curso e organização em um trabalho, fácil distração, ficam os casos predominantemente desatentos. Con-
incapacidade de concentrar-se, tomadas súbitas de clui que para o diagnóstico, os clínicos deveriam ser
decisões sem medir conseqüências, por exemplo. mais flexíveis na aplicação dos critérios do TDAH
Muitos adultos com o transtorno associam uma bai- atuais para adultos, e que uma pesquisa adicional
xa auto-estima relacionada ao desempenho compro- deveria ser exigida para validar os critérios diagnós-
metido que afetam funcionamentos sociais e ticos.
ocupacionais. Não raro sofrem de um transtorno
depressivo secundário. A terapia psicofarmacológica
pode precisar de cuidados contínuos indefinidamen- Sintomas do TDAH em adultos
te, e deve ser monitorada quanto à resposta à medi-
cação e à aderência ao tratamento. O propósito vem Os estudos atuais têm identificado vários sinto-
a ser uma diminuição da impulsividade e melhora no mas em adultos com diagnóstico de TDAH. Eles
humor (Kaplan & Sadock, 1993; Kaplan, Sadock, & podem apresentar dificuldades com relações afetivas
Grebb, 1997). instáveis (separações, divórcios); instabilidade pro-
Apesar de serem identificadas numerosas se- fissional que persiste ao longo da vida; rendimentos
melhanças entre as características de comportamento abaixo de suas reais capacidades no trabalho e na
de crianças e adultos com TDAH, foram feitas vári- profissão; falta de capacidade para manter a aten-
as distinções. Uma delas é a redução em níveis glo- ção por um período longo; falta de organização (ca-
bais de hiperatividade entre adultos. Tal diferença, rente de disciplina); insuficiente capacidade para
associada ao fato de que os critérios do DSM-IV cumprir o que se comprometem; incapacidade para
foram desenvolvidos principalmente para crianças, estabelecer cumprir uma rotina; esquecimentos, per-
estimulou os autores a pesquisar sobre o assunto das e descuidos importantes; depressão e baixa auto-
(Silva, 2003). estima; dificuldades para pensar e se expressar com
Para Utah (citado por Searight, Burke & clareza; tendência a atuar impulsivamente e inter-
Rootnek, 2000) deve haver uma adaptação desses romper os outros; dificuldades de escutar e esperar
critérios para a avaliação de TDAH em adultos. sua vez de falar; freqüentes acidentes automobilísti-
Segundo ele, os mais importantes são história de in- cos devido à distração; freqüente consumo de álcool
fância consistente com TDAH e, quando adulto, e abuso de substância (Roizblatt, Bustamente &
hiperatividade e concentração pobre, além de dois Bacigalupo, 2003).
dos seguintes: labilidade afetiva, temperamento quen- Além disso, existem ainda sintomas que permi-
te, inabilidade para completar tarefas e desorganiza- tem a identificação de TDAH, mas não são conside-
ção, acentuada intolerância e impulsividade. rados “oficiais”. É preciso lembrar, conforme Mattos
Já Marks (2004) operacionalizou oito domínios (2003), que estes devem aparecer de forma exacer-
para identificar os prejuízos com mais precisão nos bada: baixa auto-estima; sonolência diurna (dormir
adultos: a) hiperatividade motora (por exemplo, como uma pedra); “pavio curto” (mistura de
inquietude e uma inabilidade para persistir em ativi- impulsividade e irritabilidade); necessidade de ler mais
dades sedentárias); b) déficits de atenção (por exem- de uma vez para “fixar” o que leu; dificuldade de
plo, distrabilidade e esquecimento); c) labilidade levantar de manhã, de se “ativar” no início do dia;
afetiva (oscilações espontâneas em humor); d) tem- adiamento constante das coisas; mudança de inte-
peramento quente (episódios de irritabilidade e resse o tempo todo; intolerância a situações monóto-
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nas e repetitivas; busca constante por coisas estimu- Comorbidade e TDAH em adultos
lantes ou diferentes e variações freqüentes de hu-
mor. De uma forma geral, as pesquisas têm mostra-
do o TDAH associado a outros diagnósticos. Para
Rohde e colaboradores (2000), são altos os índices
Dificuldades específicas da função de atenção de comorbidade entre TDAH e abuso ou dependên-
cia química na adolescência e em adultos. Confor-
Adultos com TDAH apresentam uma tendên- me este mesmo autor, o TDAH na infância é um
cia pronunciada de distração, esquecimento, repeti- fator de risco para uso ou dependência de drogas na
ções de erros, além de perderem coisas, não recor- adolescência e idade adulta. Além disso, a presença
darem o que acabaram de ler, de necessitarem per- de comorbidades associadas ao TDAH, tais como,
guntar muitas vezes o mesmo e evitarem sistemati- transtorno do humor bipolar, depressão, transtornos
camente toda leitura que não seja do seu interesse de ansiedade, abuso de álcool e drogas, aumentam o
específico. Geralmente envolvem-se em atividades grau de comprometimento numa significativa parce-
de pouca atenção e concentração por apresentarem la de pessoas.
tais dificuldades. Isso não significa não prestar aten- Resultados preliminares de um estudo com uma
ção nunca, mas em muitas ocasiões, ou na maioria amostra considerada pequena, frente à prevalência
delas a pessoa está dispersa, “no mundo da lua” estimada do transtorno na população, indicam que
(Mattos, 2003). além do comprometimento associado aos sintomas
No trabalho, custam a se organizar, permane- básicos de desatenção, hiperatividade e impul-
cer atentas e terminar uma tarefa. O tempo que ne- sividade, crianças e adolescentes portadores de
cessitam geralmente é muito maior do que se espera TDAH com significativa freqüência podem apresen-
e rendem mais quando estão sozinhos. Mostram di- tar comorbidade com outros transtornos psiquiátri-
ficuldades também com a memória de trabalho, que cos, o que aumenta potencialmente o seu compro-
permite os processos de comparação, processamento metimento funcional (Souza, Serra, Mattos & Fran-
e emissão de uma resposta correta. co, 2001).
Adultos com TDAH não são críticos quanto a Tendo em vista que o Transtorno de Déficit de
suas dificuldades de atenção e poucos se dão conta Atenção/Hiperatividade é mais freqüente no sexo
do problema. Isto acontece porque sempre foram masculino e mais facilmente observado em crianças
dispersos e desatentos, erram repetidamente, per- em idade escolar, os sintomas de desatenção afetam
dem coisas, não recordam o que acabam de ler, ne- o trabalho em sala de aula e o desempenho acadê-
cessitam perguntar várias vezes a mesma coisa e mico. Os sintomas de impulsividade também podem
evitam leitura que não seja de seu interesse específi- levar ao rompimento de regras familiares, educacio-
co. E são capazes de dormir ou desligar diante de nais e interpessoais, especialmente na adolescência.
assuntos que não lhe interessam diretamente, indi- Ao final da infância, os sinais de excessiva atividade
cando que são pessoas que padecem de um proble- motora ampla passam a ser menos comum, podendo
ma de atenção. Muitas vezes se dedicam a traba- os sintomas de hiperatividade limitar-se à inquieta-
lhos que exijam pouca atenção e concentração, mos- ção ou uma sensação íntima de agitação ou nervo-
trando uma clara dificuldade para conseguir o míni- sismo.
mo de concentração suficiente para manter qualquer
atividade (Travella, 2004).
Ser detentor do diagnóstico de TDAH não sig- Diagnóstico Diferencial
nifica que não preste atenção nunca, e, sim, que
em muitas ocasiões, ou na maioria das vezes, o pa- As semelhanças dos sintomas do TDAH com
ciente está disperso. Em outros momentos, pode algumas das outras síndromes psicopatológicas difi-
permanecer concentrado e ser constante numa ta- cultam o diagnóstico. Além disso, os adultos diag-
refa. Mesmo que o problema seja crônico não quer nosticados com TDAH geralmente vêm de uma in-
dizer que esteja sempre presente. Isto remete ao fância marcada por dificuldades. Eles expressam um
que muitos autores colocam de que portadores de comportamento bastante desadaptativo e deveriam
TDAH mostram a atenção flutuante: em determi- ser reconhecidos como indivíduos que, por definição,
nados momentos são atentos e em outros não lutaram com dificuldades psicossociais duradouras.
(Travella, 2004). Conseqüentemente, os profissionais de saúde men-
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tal não só devem ter conhecimento das desordens afetivas, do trabalho e criativas), pensamento rápi-
de comportamento e psicopatologia do desenvolvi- do, diminuição da necessidade de sono, humor eufó-
mento, mas também devem possuir sensibilidade para rico ou irritável, manifestações de grandiosidade,
confrontar as dificuldades nos adultos e as comple- auto-estima elevada, comportamentos que envolvem
xidades associadas ao grau de desadaptação dos sin- riscos. Se pouco desses sintomas surgirem sem mo-
tomas de desatenção e hiperatividade e impulsividade tivo aparente por mais de um dia pode sugerir
relacionados aos níveis de idade apropriados (Marks, bipolaridade em vez de déficit de atenção.
2004; Searight, Burke & Rootnek, 2000). Por fim, afirma que a resposta à medicação é
diferente. No caso do TDAH, há significativa me-
lhora do quadro quando se utiliza remédio estimulan-
Transtornos psiquiátricos a serem considera- te, como o metilfenidato, semelhante à anfetamina.
dos no diagnóstico diferencial de TDAH em A mesma medicação em bipolares pode induzir sin-
Adultos (Searight, Burke & Rootnek, 2000) tomas de irritabilidade, mania e agitação, e, se o pa-
ciente apresentar melhora neste caso, é transitória.
a) Depressão Maior: tem como característi-
cas similares ao TDAH dificuldade de concentra-
ção, de atenção e de memória e dificuldade na con- Causas do TDAH
clusão das tarefas. Como características distintas do
TDAH, o humor disfórico constante ou anedonia, Barkley (1997) afirma que estudos diversos uti-
sonolência e perturbação do apetite. lizando técnicas de neuro-imagem revelam um com-
b) Transtorno do Humor Bipolar: as carac- prometimento do lobo frontal e de estruturas
terísticas similares do TDAH são a hiperatividade, subcorticais com ele relacionadas. Evidenciou-se em
dificuldades em manter atenção e foco; oscilações pacientes com TDAH uma simetria anormal do
de humor. As características distintas são a disforia córtex pré-frontal. Normalmente o córtex pré-fron-
ou humor eufórico, insônia e ilusões. tal direito é ligeiramente maior que o esquerdo e nos
c) Transtorno de Ansiedade: demonstra ca- pacientes em questão haveria uma redução do córtex
racterísticas similares à excitação e à dificuldade de pré-frontal direito.
concentração. Apresenta como características dis- Acredita-se que os lobos frontais possuam uma
tintas apreensão exagerada, preocupação e sintomas função executiva, compreendendo a capacidade de
somáticos de ansiedade. iniciar, manter, inibir e desviar a atenção. Gerenciar
d) Abuso de Substâncias ou Dependência as informações recebidas, integrar a experiência atual
Química: Mostram como características similares com a passada, monitorar o comportamento presen-
dificuldades com atenção, concentração, memória e te, inibir respostas inadequadas, organizar e planejar
oscilações de humor. Como características distintas a obtenção de metas futuras é tarefa dos lobos fron-
apresentam um padrão patológico de uso de subs- tais. Assim é possível compreender muitas das ma-
tâncias com conseqüências sociais, tolerância e de- nifestações de TDAH como resultado de uma defi-
pendência psicológica. ciência do desenvolvimento do processo inibitório
e) Transtornos de Personalidade principal- normal, o que exerce papel importante na função
mente Borderline e Anti-social: evidenciam como executiva do lobo frontal. Acredita-se também, que
características similares impulsividade e labilidade a ocorrência do TDAH é um distúrbio genético
afetiva e como características distintas, histórias ju- (Barkley,1997).
diciais (Anti-social), comportamento auto prejudicial Cabral (2003) refere que a maioria dos trabalhos
ou suicida (Borderline), falta de reconhecimento de recentes encontra evidências de que se trata de um
que o comportamento é auto-destrutivo. distúrbio neurobiológico. Os trabalhos podem ser reuni-
Dos quadros clínicos, o que mais causa confu- dos em dois grandes grupos, um que enfatiza o déficit
são com o TDAH é o transtorno de humor bipolar. funcional de certos neurotransmissores e outro grupo
Lara (2004) explica que vários sintomas do TDAH de estudos que enfatiza o déficit funcional do lobo fron-
podem estar presentes na bipolaridade, mas há dife- tal, o córtex cerebral, mais precisamente. Acredita-se
renciação, pois existem aqueles que não são do défi- que, dos neurotransmissores conhecidos, estariam en-
cit de atenção e da hiperatividade, mas aparecem na volvidas com o TDAH a dopamina e a noradrenalina.
direção da mania no paciente bipolar. São eles: in- A favor desta hipótese está o fato de que medicamen-
tenso envolvimento em atividades pontuais (sociais, tos capazes de atenuar os sintomas do TDAH são fei-
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tos das mesmas substâncias que aumentam as quanti- ção de dois ou mais elementos simultaneamente e
dades de dopamina e de noradrenalina disponíveis no para trazer do arquivo a informação armazenada.
cérebro. Em suma, acredita-se que o TDAH é como Em geral, conforme Sanchez-Carpintero &
uma disfunção executiva do lobo frontal, sendo que Narbona (2002), nesse contexto inclui-se a habilida-
Barkley (2002) refere a falta de controle inibitório das de vinculada à capacidade de organizar e planejar
condutas nestas pessoas. uma tarefa. Isso tem relação com a capacidade para
selecionar os objetivos, iniciar e sustentar um plano
de ação e executá-lo, inibir distrações, trocar estra-
Principais funções executivas do lobo frontal tégias de modo flexível de acordo com que o caso
cuja alteração está vinculada ao TDAH requer e auto-regular e controlar o curso da ação
para assegurar se a meta proposta está em vias de
O conceito de disfunção é fundamental quando ter sucesso.
se pensa em um diagnóstico. Não existe um sinal Com freqüência, as alterações das Funções
patognomônico de TDAH, já que as características Executivas fazem parte de vários quadros neuropsi-
mencionadas desse distúrbio são comuns a todas as cológicos e patológicos e entre eles está inserido o
pessoas em algum grau durante períodos variáveis TDAH. Em síntese, organização, antecipação, pla-
da vida. Para o diagnóstico, é importante lembrar nejamento, controle inibitório, memória de trabalho,
que o TDAH é uma condição que acompanha a pes- flexibilidade, auto-regulação e controle da conduta
soa desde sempre, portanto não é adquirida. Tam- constituem requisitos importantes para resolver pro-
bém cabe lembrar que existe a possibilidade de uma blemas de maneira eficaz e eficiente.
gama variável de intensidade do quadro clínico, indo Contudo, Souza e colaboradores (2001) refe-
desde casos leves ou discretos até casos graves com rem que os perfis neuropsicológicos de diferenciam
intenso comprometimento funcional (Barkley, 2002; quanto aos subtipos do TDAH. O subtipo “sem
Mattos, 2003). hiperatividade” (tipo desatento) associa-se com difi-
As principais funções executivas cuja alteração culdades envolvendo a atenção seletiva e a veloci-
se vincula ao TDAH, conforme Travella (2004), são: dade de processamento de informações. Já o subtipo
1. Organização, hierarquização e ativação da “com hiperatividade” associa-se à dificuldade na
informação: o sujeito requer pressão para começar sustentação da atenção durante um tempo longo, ten-
e cumprir a tarefa em tempo (desorganização e do maior vulnerabilidade de distração.
procastinação); tem dificuldade para estabelecer pri- Os TDAH tipo desatento demonstram piores
oridades na atividade; troca de tarefas continuamente, desempenhos nos testes de destreza viso-motora,
ou seja, tem necessidade de variar. velocidade de processamento que pode ser observa-
2. Focalização e sustentação da atenção: a pes- do no subtestes Dígitos da Escala Wechsler e na re-
soa apresenta distração fácil por estímulos internos cuperação mnêmica verbal. Os TDAH tipo hiperativo
e externos; é incapaz de filtrar estímulos; perde o não se diferenciam dos protocolos normais. Assim o
foco quando lê; necessita de lembretes para manter desempenho nos TDAH tipo desatento tendem a
em sua tarefa habitual; apresenta inconstância e aban- apresentar as maiores dificuldades (Souza & cola-
dono precoce no que se envolve. boradores, 2001).
3. Alerta e velocidade de processamento: o su- Em síntese, as funções executivas são proces-
jeito tem excessiva sonolência, falta de motivação e sos de controle que envolvem a capacidade inibitó-
cansaço constante; esgotamento fácil do esforço; ria, demora no tempo de resposta que possibilite o
pouca velocidade de processamento. indivíduo a iniciar, manter, deter e trocar seus pro-
4. Manejo da frustração e modulação do afeto: cessos mentais para o qual deve estabelecer priori-
o paciente apresenta baixa tolerância à frustração e dades, organizar-se e por em prática uma estratégia.
baixa auto-estima; hipersensibilidade a críticas; Devido à multiplicidade de variáveis envolvidas no
irritabilidade; preocupações excessivas e perfeccio- TDAH, o estudo do déficit das funções cognitivas
nismo. promove um ponto de unificação e de compreensão
5. Utilização e evocação da memória de traba- renovados. Por isso que os principais estudiosos do
lho: a pessoa apresenta esquecimento de responsa- TDAH atualmente tendem a ver o transtorno como
bilidades e objetivos pessoais; tem dificuldade nos um déficit de controle inibitório, mais que como um
seguintes aspectos: conservação (a informação não simples problema de atenção (Barkley, 2002; Mattos,
é incorporada), seguimento de seqüências, manuten- 2003, Saboya, Franco & Mattos, 2002).
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Processo de Avaliação de TDAH em Adultos fas no seu trabalho. E para concluir, avaliar a pre-
sença de outras desordens psiquiátricas e abuso de
Diante dessas considerações, Gallagher e Blader substância.
(citados por Marks, 2004) esboçaram nove compo- Como se pode ver, o processo de avaliação do
nentes para uma avaliação global de TDAH em adul- TDAH caracteriza-se, principalmente, por ser tipi-
tos: 1) revisão de preocupações atuais; 2) avaliação camente clínico. Baseia-se nos critérios diagnósti-
do nível de funcionamento na infância e no adulto; 3) cos do DSM-IV, que os estudiosos no assunto adap-
história psiquiátrica detalhada; 4) avaliação de histó- taram para a vida adulta. Contudo, os estudos mos-
ria de adaptação psicossocial; 5) diagnóstico dife- tram avanços que, espera-se, sejam considerados na
rencial e avaliação de comorbidades; 6) avaliação próxima edição deste manual. Trata-se de um pro-
das desordens físicas; 7) avaliação intelectual e das cesso complexo e trabalhoso visto que muitas
funções executivas; 8) avaliação neurológica e ava- comorbidades se apresentam com a mesma
liação psicoeducacional; e, 9) avaliação e planeja- sintomatologia do TDAH. É uma avaliação
mento do tratamento. multifatorial que visa coletar uma série de informa-
A avaliação adequada consiste no atendimento ções, analisar as mais pertinentes com o TDAH para
com psicólogo, neurologista ou psiquiatra. Uma ava- poder chegar num diagnóstico final. Os sintomas
liação mais abrangente como o uso de escalas de apresentados referentes às comorbidades não de-
sintomas e testes psicológicos para identificar defi- vem ser desconsiderados, pois um adulto com TDAH
ciência cognitiva pode colaborar no diagnóstico. pode ser tratado concomitantemente com outros
Dados de sua história de vida, no sentido de avaliar transtornos.
se as dificuldades persistem desde a infância, tam- Os adultos que são encaminhados para avalia-
bém contribuem de forma significativa nessa avalia- ção muitas vezes se apresentam com um quadro “flo-
ção. Ainda, é importante verificar a presença ou não rido”, isto é, demonstram uma série de sintomas que
de comorbidades (ansiedade, depressão, transtorno são pertinentes também a outros transtornos dificul-
do humor, dificuldades de aprendizagem) e fazer o tando a identificação e consequentemente o proces-
diagnóstico diferencial que justifique os sintomas so de avaliação. Para o psicólogo, então, é de gran-
apresentados. de valia o uso de testes psicológicos nessa avaliação
A história da pessoa deve ser investigada cui- clínica.
dadosamente, entrevistando um ou mais membros
da família, pois é bastante comum a falta de insight
desses pacientes para o próprio comportamento. A Instrumentos que podem auxiliar na
vida escolar deve ser bem examinada, embora não avaliação do TDAH em adultos
seja raro a pessoa bem dotada intelectualmente com-
pensar o déficit da atenção e ter bom rendimento O diagnóstico não pode ser firmado por uma
nos estudos. O transtorno não impede de forma ab- única via de investigação, sendo assim, os testes psi-
soluta a concentração, alguns indivíduos são capa- cológicos vem a ser elementos auxiliares, de utilida-
zes de um bom desempenho na área do trabalho, por de quando se investigam distúrbios de aprendizado
exemplo, até em função do alto grau de interesse, ou de deterioração mental para fins de diagnóstico
porém em todos os outros momentos a atenção pode diferencial ou comorbidade (Nadeau, 1995).
falhar de forma desastrosa. Tendo em vista que o TDAH é um transtorno
Nas entrevistas, o avaliador deve buscar o maior que mostra uma disfunção executiva, acredita-se que
número possível de dados sobre a história do desen- instrumentos neuropsicológicos que avaliem esta
volvimento, sendo importante confirmar informação disfunção possam auxiliar no diagnóstico dos adul-
com outras fontes, como os pais, cônjuge e boletins tos, mesmo que ainda não haja pesquisas relevantes
escolares. Os sintomas devem estar constantemen- neste sentido (é importante salientar que outros trans-
te presentes desde a infância. Ainda nas entrevistas, tornos também alteram as funções executivas). Se-
é necessário investigar o impacto dos sintomas do gue-se uma lista de instrumentos que avaliam as-
TDAH na vida profissional e escolar e nos relacio- pectos neuropsicológicos que possam auxiliar neste
namentos afetivos. Como muitas das dificuldades diagnóstico. Alguns destes instrumentos não estão
aparecem na área profissional, deve-se avaliar a aten- traduzidos ou mesmo validados para uso no Brasil,
ção, a concentração, a distrabilidade e a memória de conforme Resolução nº 02/2003 do Conselho Fede-
curto prazo analisando o paciente ao executar tare- ral de Psicologia. Aqueles que estão liberados para
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72 Regina Maria Fernandes Lopes, Roberta Fernandes Lopes do Nascimento & Denise Ruschel Bandeira

uso no Brasil estão marcados com um asterisco e pesquisa. Foi traduzida e adaptada por Amorim
aqueles que estão em processo de análise estão (2000). Pode ser aplicado na clínica como um exa-
marcados com dois asteriscos. As entrevistas, por me complementar, permitindo a coleta sistemática
sua vez, não necessitam submeter-se a este proces- de informações necessárias para o estabelecimento
so de avaliação. de hipóteses diagnósticas. Trata-se de um instrumen-
1. AHA (Assessment of Hyperactivity and to indicado para melhorar a precisão do diagnóstico
Attention): É uma escala breve de auto-avaliação, de diversos transtornos mentais, que no caso do
tipo entrevista semi-estruturada, baseada nos crité- TDAH auxilia na avaliação das comorbidades.
rios do DSM-IV (Mehringer, Downey, Schuh, 7. Torre de Londres, Torre de Hanói e Torre
Pomerleau, Snedecor & Schbiner, 2002). de Toronto: A Torre de Hanói é um instrumento
2. WCST- Wisconsin*: teste de classificação neuropsicológico no qual o sujeito determina a or-
de cartas de Wisconsin, com o objetivo de avaliar o dem de movimentos necessários para colocar qua-
raciocínio abstrato, e a habilidade para trocar estra- tro cilindros coloridos de acordo com a posição inici-
tégias cognitivas como resposta a eventuais modifi- al. As condições para a realização dos movimentos
cações ambientais. Pode ser considerada uma me- são de mover os cilindros um de cada vez, e não
dida da função executiva, que requer habilidade para pode ter um cilindro em cima do outro em tamanho
desenvolver e manter estratégias de solução de pro- menor. A Torre de Londres e de Toronto são simila-
blemas que implicam trocas de estímulos. O WCST res à Torre de Hanói (Saboya, Franco & Mattos,
freqüentemente é utilizado como teste do funciona- 2002).
mento frontal e pré-frontal. Desta maneira, qualquer 8. Teste Visomotor de Bender**: Técnica
irregularidade médica ou psicológica que desorgani- constituída por nove desenhos geométricos, utilizan-
ze as Funções Executivas total ou em parte se torna do pontos, linhas retas e curvas, ângulos, numa vari-
sensível a este instrumento de avaliação (Cunha, edade de relações. É uma medida de maturação
Trentini, Argimon, Oliveira, Werlang, Prieb, no pre- visomotora ou perceptual e investiga alterações do
lo; Soprano, 2003). desenvolvimento neurológico, problemas de ajusta-
3. D-2 Teste de Atenção Concentrada*: Tes- mento e triagem de comprometimento orgânico-ce-
te de cancelamento que tem como objetivo a medida rebral (Cunha & col., 1993).
de atenção concentrada, da capacidade de concen- 9. IMO- Índice de Memória de Operacional
tração e análise da flutuação da atenção. Examina, do WAIS III- Escala de Inteligência Wechsler
então, distúrbios da atenção (Brickenkamp, 2002; para Adultos Terceira Edição*: O Índice de Me-
Spreenh & Strauss 1998). mória de Trabalho é composto pelos dos subtestes
4. Teste Stroop de Cores e Palavras: Tem Aritmética, Dígitos e SNL – Seqüência de Números
como objetivo avaliar a presença de comprometimen- e Letras – do WAIS III. Este instrumento avalia a
tos pré-frontais, que aparecem sempre que o indiví- capacidade para atentar-se para a informação,
duo apresentar uma dificuldade para inibir respostas mantê-la e processá-la e em seguida dar uma res-
previamente aprendidas, o chamado “efeito Stroop”. posta (Primi, 2002).
A tarefa proposta pelo teste indica que o sujeito no- 10. Tavis 2-R*: Trata-se de um instrumento
meie as cores e não as palavras. Ou seja, diga quais computadorizado para avaliação da atenção desen-
são as cores das palavras (Rohde, Mattos & colabo- volvido e normatizado no Brasil, caracterizando-se
radores,2003). como um teste neuropsicológico (Cruz, Alchieri &
5. Figuras Complexas de Rey**: Teste de Sarda, 2002). O teste avalia aspectos diferentes da
cópia e reprodução de memória de figuras geométri- atenção (atenção seletiva, alternância e sustentação
cas complexas que visa avaliar a atividade perceptiva da atenção). A aplicação restringe-se atualmente a
e a memória visual, verificar o modo como as crian- crianças e adolescentes.
ças aprendem os dados perceptivos que lhe são apre- 11. Escalas Beck*: O Inventário de Depres-
sentados e o que foi conservado espontaneamente são de Beck e o Inventário de Ansiedade de Beck
pela memória (Rey, 1999). podem ser usados como medida de auto-avaliação
6. MINI International Neuropsychyatric de depressão e ansiedade (Cunha, 1993, 2001). As
Interview (M.I.N.I): é uma entrevista diagnóstica duas escalas podem ser úteis no sentido de auxiliar a
padronizada breve (15-30 minutos), elaborada de identificação das comorbidades.
acordo com os critérios do DSM-III/IV e da CID- Testes projetivos e de personalidade como HTP,
10, que se destina a utilização na prática clínica e na TAT, Rorschach, Zulliger, IFP, entre outros, podem
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Avaliação do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade em adultos (TDAH): uma revisão de literatura 73

ajudar no diagnóstico diferencial, identificando as mostra a quantidade de novos achados que não são
comorbidades, apesar de Cruz e colaboradores (2002) contemplados nos manuais de diagnóstico disponí-
afirmarem que não existem pesquisas que susten- veis atualmente.
tam o uso dos instrumentos projetivos para a avalia- De acordo com os achados apresentados du-
ção do transtorno. rante todo o texto, o processo de avaliação psicoló-
Exames de neuroimagem (tomografia, resso- gica do TDAH de adultos não se constitui por uma
nância magnética ou SPECT cerebral) podem ser tarefa fácil, devido à multiplicidade de variáveis que
pesquisados (Rohde, 2000). Contudo, o eletroen- são necessárias para um diagnóstico adequado. A
cefalograma dos portadores de TDAH não apresenta avaliação envolve a coleta de informações de vários
anormalidades típicas capazes de auxiliar o diagnós- aspectos, principalmente dos sintomas, sendo neces-
tico, embora se tenha conhecimento de que nesses sária a investigação desde a infância, assim como o
pacientes pode aparecer um traçado anormal, com uso de instrumentos padronizados para a nossa po-
alterações inespecíficas (Cabral, 2003). pulação. A carência de instrumentos específicos e
escalas de avaliação de TDAH são fatores que difi-
cultam o diagnóstico e tratamento das dificuldades
Considerações finais em adultos.
Concluindo, entende-se a premência de estu-
O Transtorno de Déficit de Atenção e dos nessa área, principalmente relacionando as fun-
Hiperatividade (TDAH), dentro do que foi pesqui- ções executivas, o TDAH e os instrumentos que
sado, distingue-se pela complexidade no estabeleci- possam auxiliar no diagnóstico. Por fim, por ser um
mento do seu diagnóstico. Torna-se imprescindível tema recente, entende-se que novas pesquisas pos-
que o profissional tenha experiência clínica e mante- sam auxiliar os profissionais na identificação do
nha-se atualizado no que se refere à literatura espe- transtorno e os portadores por uma melhor qualida-
cializada, caso venha a se interessar por este tipo de de de vida afetivo emocional, social, acadêmica e
avaliação e tratamento. A revisão aqui apresentada profissional.

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Sobre os autores:
Regina Maria Fernandes Lopes: psicóloga pela PUCRS, especialista em Avaliação
Psicológica pela UFRGS. E-mail: reginamlopes@uol.com.br

Denise Ruschel Bandeira: psicóloga, doutora em Psicologia do Desenvolvimento e Professora da UFRGS

Roberta Fernandes Lopes do Nascimento: psicóloga pela PUCRS, mestranda em Psicologia Clínica.
Avaliação Psicológica, 4(1), 2005, pp. 65-74

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