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CRESCENDO NA GRAÇA - Jonas 4:1-5

INTRODUÇÃO
Robert Murray McCheyne diz que até as nossas lá grimas de arrependimento estã o
manchadas pelo pecado. O capítulo 4 de Jonas encerra o relato bíblico desse
profeta fascinante com sua reaçã o ao grande arrependimento pú blico dos ninivitas.
Enquanto nos preparamos para nos despedir das nossas exposiçõ es do livro de
Jonas, fazemos bem lembrando-nos de sua progressã o na escola da graça do
Senhor. Anteriormente, Jonas havia sido usado pelo Senhor para transmitir uma
mensagem ao rei Jeroboã o II, informando a este rei perverso a misericó rdia que
Deus oferecia a ele sem ser merecida (2Rs 14.25-27). Ao invés de enviar seu
julgamento Deus envia suas grandes bênçã os misericordiosas.
O livro de Jonas começa com Deus dando outra missã o a Jonas que ampliaria ainda
mais sua compreensã o da graça, convocando-o para pregar na perversa capital
assíria de Nínive. Diante disso, o profeta desabou. Entregando-se à amargura, fugiu
“…da presença do Senhor” (Jn 1.3), embarcando num navio a caminho do porto
distante de Tá rsis. Em reaçã o a isso, “… o Senhor lançou sobre o mar um forte vento,
e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar”
(Jn 1.4). Com um espírito amargurado, Jonas aconselhou os marinheiros pagã os
que o jogassem no mar. O capítulo 1 poderia ter terminado como conto clá ssico de
pecado e julgamento. Mas Jonas aprendeu que, assim como ele nã o podia fugir da
presença de Deus, também nã o podia fugir da mira da graça de Deus: “Preparou o
Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas” (Jn 1.17).
Na barriga do peixe, Jonas encontrou a graça para se arrepender. Seu
arrependimento e sua fé renovada se expressam nas palavras clá ssicas: “Ao Senhor
pertence a salvação!” (Jn 2.9). O arrependimento e a fé inspiraram também uma
FIDELIDADE RENOVADA, pois o capítulo 3 documenta a obediência de Jonas à
ordem de Deus de pregar na Nínive ímpia. Numa manifestaçã o incrível de poder
divino, a pregaçã o de Jonas provocou uma das maiores expressõ es de
arrependimento: “Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, e
vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor” (Jn 3.5). Diante de tudo
isso, esperaríamos que a histó ria de Jonas terminasse em triunfo. Mas o capítulo 4
conta outra coisa.
A histó ria de Jonas nos lembra de que poucos cristã os seguem uma ascensã o em
linha reta da descrença para a fé gloriosa e vitoriosa. Em vez disso, tendemos a
progredir com passos e paradas, avanços e tropeços. Mostra também como muitos
dos nossos arrependimentos nã o sã o tã o profundos como parecem ser. Mostra o
perigo de pregar aos outros e nã o usufruir o poder da mensagem que
pregou.Mostra que podemos ser canal de bênçã os para os outros e nó s mesmos
nã o desfrutarmos dessas bênçã os.
Jonas teve uma experiência e uma compreensã o tã o maravilhosa da graça e da
misericó rdia de Deus que, em termos humanos, esperaríamos que ele jamais
voltasse a ter algum outro problema sério. Pois, apó s ver Deus de forma tã o
extraordiná ria em sua pró pria vida, ele deveria estar preparado para a viver uma
vida abundante. No entanto, Jonas nos mostra que, quando se trata de crescer na
graça de Deus, nenhum de nó s está preparado para o restante da vida. Todos nó s
precisamos de um crescimento contínuo e perpétuo na graça de Deus. Assim, o
ú ltimo capítulo de Jonas começa com o relato mais perturbador: “Com isso,
desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado” (Jn 4.1).
I. A IRA DE JONAS
Parecia que Jonas havia chegado longe em sua jornada espiritual, mas aqui o
vemos de volta ao mesmo ponto em que estivera no início. Deus havia salvado
Jonas e usado o profeta para o bem de sua graça. Mas em vez de alegrar sobre a
decisã o de Deus de recuar do julgamento de Nínive, Jonas ardia de raiva.  A base
para a queixa de Jonas é informada em Jonas 4.2: “Ah! Senhor! Não foi isso o que eu
disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois
sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em
benignidade, e que te arrependes do mal”. Isso mostra que o arrependimento
anterior de Jonas nã o havia sido tã o profundo quanto aparentara ser. Ele justifica
sua antiga conduta pecaminosa, baseando-se num argumento amargurado e
equivocado dos atributos divinos. Em vez de reconhecer que ele pecou ao
desobedecer a Deus, agora ele justifica seus erros mostrando que ele tinha razã o o
tempo todo: “Eu sabia que tu perdoarias a esses ninivitas perversos!”.
Diferentemente da maioria das pessoas que peca por desconhecer aquilo que Deus
realmente é, o coraçã o de Jonas se rebela justamente porque ele conhece a verdade
sobre Deus e porque essa verdade conflita com os desejos de seu pró prio coraçã o.
Podemos abordar a raiva de Jonas sob três perspectivas.
1. O ressentimento hipócrita de Jonas.
A primeira e mais ó bvia é seu ressentimento por causa da misericó rdia de Deus
para com os pecadores. Jonas se dedicara ao julgamento dos ímpios; é isso que
parecia ser correto aos seus olhos. Quando a ira de Deus em relaçã o a Nínive acaba,
a raiva de Jonas continua a arder. Jonas se irrita porque acredita que Deus está
“DANDO MOLE” ao pecado. O Senhor Deus estava se regozijando na presença dos
anjos enquanto pecadores se arrependiam, mas Jonas estava ardendo em sua
insatisfação e em sua repulsa amargurada. É tentador pensar que Jonas se esqueceu
de que ele também era pecador. Mas seu caso exige uma resposta mais complexa.
É mais prová vel que Jonas simplesmente tenha acreditado que existiam pecadores
e pecadores. Ele fazia parte da primeira categoria: Ele era uma pessoa basicamente
boa e religiosa, embora com algumas questões a serem resolvidas. Enquanto os
ninivitas pertenciam à segunda categoria de pecadores perversos da pior espécie e
que merecem o julgamento e a destruiçã o. Muitas pessoas pensam assim.
Enquanto reconhecem questõ es pecaminosas em sua vida, elas acham que nã o
merecem ser mandadas para o inferno. Quando você menciona um pecador
realmente grande — alguém como Adolf Hitler ou Osama bin Laden —, elas
concordam prontamente que esse pecador merece a ira de Deus.
Mais uma vez, Jonas nos mostra que o ú nico caminho para a graça de Deus é que
todos reconheçam sua necessidade dela para o perdã o de suas pró prias
transgressõ es da santa lei de Deus. Talvez o melhor comentá rio sobre a atitude de
Jonas tenha sido feito por Jesus em uma de suas pará bolas mais famosas, a
pará bola do filho pró digo. Enquanto muitas pessoas amam essa histó ria, a maioria
nã o entende sua essência. Jesus contou a histó ria de um filho que exigiu sua parte
da herança com antecedência. Quando a recebeu, viajou para longe, gastando o
dinheiro de forma pecaminosa. Em consequência disso, tornou-se pobre, caindo
tã o fundo a ponto de invejar os porcos pela comida que recebiam. Nessa condiçã o,
o filho recuperou seu bom senso e resolveu voltar para casa. Ele já nã o queria mais
ser filho, mas se satisfaria com a posiçã o de servo. No entanto, quando ele se
aproximou, seu pai o viu. Correndo ao encontro do seu filho, o pai “… o abraçou, e
beijou” (Lc 15.20).Chamando seus servos, colocou um manto rico sobre os ombros
do filho, um anel em seu dedo e sapatos em seus pés. Entã o, a comunidade inteira
celebrou o retorno do filho pró digo com uma grande festa. O pai exclamou: “… este
meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lc 15.24).
A maioria das pessoas gosta dessa pará bola como imagem do amor misericordioso
pelos pecadores perdidos que voltam para casa. E estã o certas. Mas essa nã o era a
mensagem primá ria da pará bola de Jesus. Para entende-la, precisamos continuar a
nossa leitura, onde encontramos o irmã o mais velho que cheio de
RESSENTIMENTO com a misericó rdia demonstrada ao caçula. Ele nunca havia
fugido com o dinheiro do pai. Ele nunca havia desonrado o nome de seu pai.
“Nunca”, ele se queixa, “me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus
amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu
mandaste matar para ele o novilho cevado” (Lc 15.29-30). Você reconhece a postura
de Jonas nas palavras do irmã o mais velho? Jonas quer morrer porque Deus
demonstrou sua misericó rdia para com os ninivitas desprezíveis e o Senhor usou o
Jonas amargurado para fazer isso!
Jesus conclui sua pará bola dizendo: “Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no
céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não
necessitam de arrependimento” (Lc 15.7). A alegria da salvação! A maravilha da
graça de Deus! Se quisermos compreender o coração de Deus, precisamos entender
seu regozijo diante da redenção. Não existe glória no céu ou na terra que se compare
com a glória do perdão do pecado. Mas, assim como o irmã o mais velho na pará bola
de Jesus, Jonas acreditava que os pecados dos ninivitas deveriam ser condenados e
julgados. Ele nã o percebeu que, para Deus, era mais glorioso providenciar seu
perdã o por meio do arrependimento e da fé.
2. Hostilidade ciumenta de Jonas
Uma segunda perspectiva sobre a ira de Jonas resulta de sua hostilidade diante da
salvaçã o dos gentios. Vemos isso em sua ênfase em “minha terra” (Jn 4.2). Jonas
podia aceitar a graça de Deus para seus conterrâ neos, mas nã o para pagã os
estrangeiros como os ninivitas. Ele sabia, diz ele, que Deus é gracioso e
misericordioso, tardio em irar-se e grande em benignidade. No entanto, acreditava
que era errado que essas bênçã os fossem concedidas aos gentios — especialmente
a gentios que haviam demonstrado tanta violência contra o povo da aliança de
Deus, contra a naçã o de Israel. Na mente de Jonas, esse conhecimento de Deus era
propriedade exclusiva de Israel. Jonas pensava: “Por que os gentios deveriam
usufruir das bênçã os da aliança que pertencem exclusivamente a Israel?”.
Podemos criticar essa visã o com a ajuda de outra pará bola de Jesus — a pará bola
dos trabalhadores no vinhedo. Alguns homens haviam trabalhado o dia inteiro no
vinhedo, e cada um recebeu um dená rio como pagamento. Mas souberam que
outros trabalhadores, que haviam trabalhado apenas durante a ú ltima hora,
também receberam um dená rio como salá rio. Entã o resmungaram: “Estes últimos
trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga
e o calor do dia” (Mt 20.12). Mas o proprietá rio respondeu: “Amigo, não te faço
injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero
dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não me é lícito fazer o que quero do
que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?” (Mt 20.13-15). Jonas
ficou ressentido com a GENEROSIDADE DE DEUS concedida a Nínive, e por se
tornou hostil e ciumento.  Pensando que Deus estava enganando seu antigo povo
de Israel.
3. O desgosto soberbo de Jonas.
Isso nos leva à ú ltima perspectiva sobre a raiva de Jonas: seu desgosto em relaçã o à
vontade de Deus. O Senhor o desafiou: “É razoável essa tua ira?” (Jn 4.4). Por meio
de seus atos, Jonas respondeu: “Sim, ela é!”. Para Jonas, faltava justiça ao propó sito
salvífico de Deus. E isso parece ter sido a causa da birra dele: “Peço-te, pois, ó
Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver” (Jn 4.3). Se Jonas
fosse Deus, como as coisas seriam diferentes! O plano da graça de Deus é tão ofensivo
que Jonas não quer mais viver: “Apenas sobre o meu cadáver” é que isso vai
acontecer, veja a reação violenta dele à graça de Deus”.
A reaçã o de Jonas revela um coraçã o muito soberbo. Pois, como Jonas poderia crer
que sua avaliaçã o das coisas era melhor do que a de Deus? O apostolo Paulo, lida
com esta mesma questã o em Romanos 9:1-33. Os judeus continuavam com a
mesma objeçã o à doutrina da graça. Paulo inicia o capítulo mostrando que ele
poderia ter o mesmo sentimento de Jonas, e assim desejar ser aná tema de Cristo,
por amor aos Judeus de quem sã o todas as promessas e alianças. Ele indaga: “Há
injustiça da parte de Deus?” (Rm 9.14); em oferecer os privilégios dos judeus para
os gentios para a salvaçã o. Eles podem questionar:  “Isso nã o é injusto?”. Paulo
respondeu: “De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me
aprouver ter misericórdia” (Rm 9.14-15).
Quando o assunto é a salvaçã o dos pecadores, a categoria adequada é a
misericó rdia de Deus e nã o a sua justiça. Alegar injustiça como Jonas fez, seria
confundir as categorias: ninguém merece ser salvo; se alguém é salvo, isso ocorre
apenas por causa da misericó rdia de Deus. Paulo continua: E se Deus, querendo
mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os
vasos de sua ira (gentios), preparados para destruição? Que dizer, se ele fez isto para
tornar conhecidas as riquezas de sua glória aos vasos de sua misericórdia, que
preparou de antemão para glória, (Rm 9:22,23)
Essa é uma objeçã o comum a graça. Mas veja a resposta de Paulo: “Quem és tu, ó
homem, para discutires com Deus?” (Rm 9.20). Paulo está respondendo a todas as
indagaçõ es de Jonas. O profeta está acusando Deus a partir da tolice de sua
perspectiva egoísta e pecaminosa. Observe que Deus nem responde a Jonas. Este
quer morrer por causa da graça de Deus; a ideia de justiça do profeta se chocou
contra a realidade da misericó rdia divina. Mas quã o melhor é para Jonas e para nó s
simplesmente deixar que Deus nos fale de sua salvaçã o.
Um exemplo melhor a seguir é o de Jó , que expressou queixas sobre os caminhos
de Deus até encontrar o Senhor face a face. Entã o, mudou de opiniã o e também
toda a sua abordagem à verdade de Deus: “Sou indigno; que te responderia eu?
Ponho a mão na minha boca” (Jó 40.4). Jó nos oferece um bom exemplo de se sentar
humildemente sob a Palavra revelada de Deus e de ser instruído por Deus em vez
de confiar em nossas ideias sobre ele. O pedido de morte de Jonas, por sua vez, nos
adverte contra a tolice suicida de colocar a sabedoria humana contra a mente e o
coraçã o de Deus.
3. JONAS CAI DA GRAÇA.
Em sua epístola aos gá latas, o apó stolo Paulo denuncia seus adversá rios, dizendo:
“Vocês caíram da graça“. Eles haviam começado bem, mas agora tomaram um
caminho diferente. Eles estavam mudando os fundamentos da justificaçã o pela fé.
Entã o Paulo argumenta com seus adversá rios: Vocês se afastaram da doutrina da
graça: “… vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gl 5.4). O
mesmo argumento poderia ser levantado contra Jonas. Ele concordou com a graça
de Deus para Israel; mas rejeitou a graça de Deus para todos os outros! Isso suscita
uma pergunta sobre a validade do arrependimento anterior de Jonas, já que ele
efetivamente o renuncia aqui. Mas nã o deveríamos duvidar da autenticidade do
arrependimento de Jonas. Afinal de contas, nã o só se voltara para o Senhor em
busca de salvaçã o, mas também seguiu ao chamado do Senhor. Como, entã o,
podemos explicar essa mudança no coraçã o de Jonas?
1. O orgulho espiritual de Jonas.
Há um erro fatal no pensamento de Jonas sobre a salvaçã o. Ele nã o rejeita a
salvaçã o pela graça, ele a recebeu dentro da barriga do peixe. Mas ele nã o entende
a extensã o dessa graça. Por trá s disso se esconde o seu orgulho espiritual, que
imagina que apenas Israel merece ser salvo pela graça. Ele está com raiva de Deus
porque Deus nã o está fazendo o que Jonas quer que ele faça. O que Jonas quer é
que Deus recompense apenas Israel com compaixã o e graça e nã o os seus
desafetos. Como essa síndrome é comum! Alguns cristã os pensam assim em
termos de etnia. Se Deus é por nós, ele precisa ser contra eles. É justo Deus
demonstrar sua graça para a nossa etnia — nã o importa se somos brancos, negros
ou morenos —, mas nã o aos membros do outro grupo. Pensamos assim também
em termos nacionalistas, especialmente em tempos de guerra. Se Deus deve
abençoar nossa naçã o, ele precisa julgar nossos inimigos.
Mas estamos preparados para que Deus demonstre sua misericórdia àqueles que nos
odeiam? Pensamos dessa forma principalmente em relaçã o à s divisõ es dentro da
igreja. Se Deus abençoa o nosso grupinho santo, ele precisa castigar aqueles que se
opõ em nossas ideias. Olhamos em volta e vemos igrejas que aparentam nã o estar
seguindo a Palavra de Deus. “Elas nã o merecem experimentar a graça de Deus”,
dizemos. Se um reavivamento pelo Espírito de Deus ocorrer nessas igrejas,
podemos ficar DECEPCIONADOS ou até mesmo com raiva de Deus. Jesus pergunta:
“… são maus os teus olhos porque eu sou bom?” (Mt 20.15). Se Paulo pô de regozijar-
se quando Cristo era pregado, “POR MOTIVOS BONS OU RUINS”, podemos fazer o
mesmo quando vemos Cristo sendo pregado hoje e vidas sã o transformadas por
sua graça!
2. Amargura arraigada de Jonas.
Mais significativo do que o erro no pensamento de Jonas é o problema do seu
coraçã o. E o coraçã o de todo o problema é o problema do coraçã o. Jonas revela
uma AMARGURA profundamente arraigada contra os ninivitas. Essa amargura foi
alimentada pelos pecados de Nínive contra seu povo. O caso de Jonas era um caso
avançado do tipo de RESSENTIMENTO que estraga tantos coraçõ es. Uma mulher é
traída por seu marido, por isso alimenta uma AMARGURA contra homens. Um
membro de igreja é engando pelo seu Pastor, entã o alimenta amargura, e se opõ e
contra todo tipo de liderança pastoral.
Essa amargura pode envolver também ó dio contra outras naçõ es, contra igrejas,
contra denominaçõ es. Esse ó dio amargurado pode ser contra famílias ou
diferentes lugares. Observe o que essa doença no coraçã o causa na vida espiritual
de Jonas, pois uma recusa de amar outras pessoas sempre envenena nosso
relacionamento com Deus. “Eu sabia que perdoarias a Nínive!”, ele reclama. Por
causa de seu ó dio contra Nínive, ele fugiu da presença de Deus, quase arruinando
sua alma eterna. Agora, apó s testemunhar em Nínive uma demonstraçã o grandiosa
da gló ria da graça de Deus, Jonas arde em raiva. Se os assírios estã o incluídos no
amor de Deus, entã o Jonas nã o quer fazer parte disso. Se Deus demonstrar seu
amor a Nínive, Jonas nã o irá querer o amor de Deus. Se os assírios podem ir para o
céu, entã o ele prefere o inferno.
3. O Perdão gracioso.
Nesse contexto, entendemos por que o Novo Testamento dá tanto destaque ao
espírito do perdã o. Nosso coraçã o nã o pode estar bem com Deus se nã o estiver
bem com os homens. Jesus disse: “Se, (…), ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua
oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, traze a tua
oferta” (Mt 5.23-24). Paulo afirma que, se tivermos uma queixa contra um irmã o,
devemos “[perdoar-nos] mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra
outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3.13).
Observe que Paulo nã o diz que devemos perdoar uns aos outros quando eles
merecerem, nem mesmo quando eles tiverem se arrependido. Perdoamos em
gratidã o pelo fato de Deus ter nos perdoado.
Perdoamos aos outros porque estamos cientes de que recebemos um perdã o muito
maior, muito mais caro, por meio do sangue de Jesus. O perdã o é tã o essencial à
nossa salvaçã o que Jesus disse: “… se perdoardes aos homens as suas ofensas,
também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as
suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6.14-15). Ele
nã o quis dizer que merecemos perdã o porque perdoamos os outros, mas que um
espírito que nã o perdoa é alheio à graça de Deus, de forma que é
fundamentalmente inconsistente receber o perdã o de Deus e nã o estendê-lo ao
outro.
Em nossa avaliaçã o do estado espiritual de Jonas, recorremos aos conselhos das
pará bolas de Jesus, e aqui outra pará bola pode nos ajudar a reconhecer a
importâ ncia de uma postura misericordiosa diante de outros pecadores.
Determinado servo devia ao seu rei uma grande quantia de dinheiro. O homem nã o
podia pagá -la, por isso sua família deveria ser vendida para a escravidã o. Mas o
homem se aproximou do rei e implorou por misericó rdia. “… o senhor daquele
servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida” (Mt 18.27).
Pouco tempo depois, o servo encontrou um servo colega seu que lhe devia uma
quantia muito menor. Mas, quando este homem implorou pelo seu perdã o, ele se
recusou e mandou prender o homem. O rei ficou sabendo disso. Entã o, chamou seu
servo e o repreendeu por sua falta de misericó rdia, jogando-o na prisã o. Jesus
concluiu: “Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada
um a seu irmão” (Mt 18.35).
III. O CRESCIMENTO DE JONAS NA GRAÇA
Essa pará bola nos mostra como era pouco firme o solo sobre o qual Jonas se
colocara. Na verdade, isso nos permite reconhecer exatamente sua atitude
espiritual: “Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez
uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à
cidade” (Jn 4.5). Alimentando sua malícia contra Nínive, Jonas se separa da cidade e
a observa. Sem dú vida alguma, ele está alimentando sua ira e esperando que seu
arrependimento nã o dure. Ao concluirmos nossa avaliaçã o de Jonas, a despeito de
todos os sinais desencorajadores que reconhecemos em sua atitude perante o
arrependimento de Nínive, existe, mesmo assim, alguma evidência de seu
crescimento na graça.
1. Jonas ora mesmo com raiva.
Devemos observar uma diferença enorme entre o Jonas do capítulo 4 e o Jonas do
capítulo 1. Quando ele foi chamado pela primeira vez para pregar em Nínive,
respondeu fugindo da presença do Senhor. Mas agora, apesar de toda sua
amargura em relaçã o ao arrependimento de Nínive, Jonas reage voltando-se para o
Senhor: ele “… orou ao Senhor” (Jn 4.2). Não há como exagerarmos a importância da
oração. Principalmente quando estamos com, dúvidas, amargurados ou
desapontados a oração sempre será o melhor remédio. Jonas quando estava agitado
e alarmado, ele fugiu do Senhor. E agora, novamente agitado e alarmado, ele foge
para o Senhor. Ele nã o procura se refugiar de Deus. Ele faz de Deus o seu refú gio.
O sentimento que leva Jonas a orar, nã o é para se deleitar ou ter comunhã o com
Deus. Ele está orando para reclamar da bondade de Deus. Ele está irado porque
Deus é tardio em irar-se. Ele ora mesmo com raiva de Deus. Ele ora para reclamar
de Deus.  Sua oraçã o é um pretexto para lançar no rosto de Deus, a ideia de que ele
estava certo desde o início e Deus errado. Ele quer morrer porque os outros
querem viver. Ele está tã o irritado com Deus que ele pede a morte. Deus nã o se
ressente das críticas e responde sua oraçã o perguntando: Está certo o motivo pelo
qual você está irado? Essa ira te faz bem?
2. Jonas demora aprender.
Jonas lembra a experiência de Asafe no salmo 73. Asafe confessa que ele invejava a
“prosperidade dos perversos” (Sl 73.3). Em decorrência disso, diz ele, “… quase me
resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos” (v. 2); ‘…o
coração se me amargou” (v. 21). Como, entã o, ele impediu a queda definitiva? “Em
só refletir para compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei
no santuário de Deus” (v. 16-17). Asafe se voltou para Deus. E na casa de Deus ele se
lembrou do sério perigo dos perversos. “Tu certamente os pões em lugares
escorregadios e os fazes cair na destruição”, ele entendeu. “Como ficam de súbito
assolados, totalmente aniquilados de terror!” (v. 18-19). Em vez de ficar ressentido
com o adiamento do julgamento de Deus, Asafe encontrou a gratidã o pela sua
pró pria salvaçã o: “Quanto a mim”, ele conclui, “bom é estar junto a Deus; no Senhor
Deus ponho o meu refúgio” (v. 28).
Tanto Jonas, como Asafe, demoraram a se regozijarem com a misericó rdia de Deus,
mas, ao voltarem para o Senhor, eles estavam tomando os passos para o caminho
do crescimento e da recuperaçã o espiritual. Esse é o tipo de crescimento que a
maioria de nó s também precisa. Precisamos entender que a graça de Deus nã o é
uma ofensa ao nosso senso de justiça, mas a ú nica esperança para a nossa pró pria
salvaçã o. Sempre devemos celebrar a graça e a misericó rdia, pois por meio delas
recebemos nosso pró prio perdã o. Em vez de recuarmos perplexos diante de Deus,
devemos aprender a nos aproximarmos de Deus como nosso refú gio em oraçã o.
Jonas aprendeu isso e, por isso, estava avançando na direçã o certa. O crescimento
cristã o é um caminho, uma direçã o, para qual avançamos.
CONCLUSÃO
O que, entã o, acontece com Jonas no final? O encerramento do livro nã o nos dá
uma resposta definitiva. Mas creio que temos boas razõ es para sermos
esperançosos. Jonas está nas mã os do Deus gracioso, e o capítulo encerra com Deus
guiando Jonas pacientemente em direçã o à graça. O fato de que o pró prio Jonas
deve ser o autor desse livro sugere que ele quer que aprendamos com sua
experiência e cresçamos na graça com ele. Na verdade, essa é a abordagem correta
à histó ria de Jonas. Como nos sentimos em relaçã o à misericó rdia de Deus para
aqueles que nos fizeram mal? Ressentimos a graça de Deus por outros? Ou nos
regozijamos com cada demonstraçã o de favor e misericó rdia divina, lembrando-
nos da benignidade que Deus demonstrou conosco? Como reagimos quando
ficamos perplexos com as respostas das oraçõ es? O que fazemos quando Deus
parece nã o responder à s nossas oraçõ es como esperamos? Nó s nos afastamos de
Deus em raiva? Ou nos aproximamos de Deus, mesmo perplexos? O exemplo de
Jonas sugere que Deus nunca é o problema, mas sempre a resposta. Ele nos ensina,
sobretudo, que a graça dele deve sempre ser nossa gló ria e nosso prazer maior. Se
começarmos a entender essas verdades poderosas, estamos crescendo na graça.

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