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O momento em que Jonas orou

Temeram, pois, estes homens em extremo ao SENHOR; e ofereceram sacrifícios ao SENHOR e fizeram
votos. Deparou o SENHOR um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três
noites no ventre do peixe. Jonas 1:16-17
O capítulo 1 do livro de Jonas encerra dizendo que Jonas ficou três dias e três noites dentro do peixe. E isso
é algo que com certeza deixa todos nós impressionados e curiosos, como quem diz: “como deve ter sido
isso?”
A palavra básica associada a Deus nessa história é “grande”. O texto começa com Deus dizendo a Jonas:
“Vá depressa à grande cidade de Nínive”, pois o Senhor tem um grande coração e se sensibiliza pela
grande cidade. Depois, Jonas corre na direção oposta, e então a Bíblia diz que Deus fez soprar um grande
vento, que provocou uma grande tempestade. Em seguida, os marinheiros pagãos são convertidos por
meio de um grande medo. E quando a tempestade passe, eles ficam com grande temor de Deus. E então,
Deus manda um grande peixe socorrer Jonas.
Jonas, em contrapartida, confunde tudo. Se a palavra principal para Deus nesse relato é “grande”, a
palavra principal para Jonas é “descer”.
Deus diz: “Vá para Nínive”, e Jonas desce à cidade de Jope. Depois, o navio desceu para Társis. Em seguida,
no navio, Jonas desce ao porão, onde cai no sono. E agora, ele desce para o fundo das águas em meio à
tempestade. Depois, desce pela goela do peixe. Jonas chega ao fundo. Um lugar de morte.
Um grande peixe não é exatamente o meio de transporte que Jonas tinha em mente quando saiu de Jope.
Mas ele tem a oportunidade de aprender alguma coisa sobre a estranha, desconcertante, e até certo
ponto, engraçada graça de Deus.
Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao SENHOR, seu Deus, e disse: Na minha angústia, clamei ao
SENHOR, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz. Jonas 2:1-2
Ele não orou quando foi chamado para Nínive, quando fugiu para Társis, nem quando a tempestade veio
sobre o barco. Ele só falou com Deus quando se viu dentro de um peixe.
Por que Jonas orou dentro do peixe? Deve ser porque não tinha mais nada para fazer.
Deus faz Jonas descer, descer, descer, descer para um lugar de desespero, dentro de um peixe, no fundo
do mar. A verdade pura e simples é que Jonas recorre a Deus porque não tem ninguém mais a quem
recorrer.
Todo o primeiro capítulo da história de Jonas mostra a ação humana. Jonas faz planos. Jonas tem
recursos. Jonas viaja para um lugar diferente, e tudo é um desastre. Então, vem a tempestade, e a história
de Jonas é subitamente interrompida.
No segundo capítulo de Jonas, não há ação nenhuma. Somente oração. Depois, coisas boas começam a
acontecer.
Não deixe a oração como último plano
Quando os apóstolos da igreja primitiva queriam ver portas abertas, eles sempre começavam pela oração.
Portas abertas são interações entre o céu e a terra, e é por isso que elas se formam na oração.
Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de
Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo. 2 E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o
Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. 3 Então,
jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram. Atos 13:1-3
Se você realmente quer andar pelos caminhos de Deus para você, e quer que Ele abra portas diante de
você, você precisa começar pela oração. “Senhor, abra portas de encorajamento, portas de oportunidade,
portas de possibilidade, portas de prosperidade diante de mim”. Não espere atingir o fundo.
Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do SENHOR; e subiu a ti a minha
oração, no teu santo templo. Jonas 2:7
Em Atos 27 a Bíblia apresenta outro relato de naufrágio. Agora com Paulo. Mas o interessante é que é
quase exatamente o oposto da história de Jonas.
Jonas foge do chamado para pregar à perigosa capital da Assíria; Paulo, exatamente por conta do seu chamado,
entra “sem escolha” no barco que o leva para pregar à perigosa capital de Roma. A presença de Jonas no barco
põe em risco a vida dos marinheiros; a presença de Paulo no barco é a salvação dos marinheiros. Paulo clama a
Deus pedindo portas abertas quando ainda estava em segurança; Jonas clama a Deus pedindo segurança quando
atinge o fundo.
Com muita frequência, clamamos a Deus apenas quando atingimos o fundo.
Na história de Jonas, o ponto da virada acontece quando ele se dirige a Deus em oração. Ele se volta a
Deus porque não tem ninguém mais a quem se voltar. Mas Deus não é orgulhoso. Ele acolhe até mesmo
aqueles que vêm a ele como quem busca o último recurso. “Batam, e a porta lhes será aberta” (Mt 7.7).
Deus responde orações
Jonas ora, Deus ouve; Deus abre uma porta, Jonas é libertado. Mas o que acontece em seguida é tão
esquisito, que certamente nós não iriamos falar que Deus faria isso se não estivesse na Bíblia. O que
houve?
Importante dizer primeiro que Jonas foi libertado no terceiro dia. O “terceiro dia” é uma figura bíblica da
redenção. Foi no terceiro dia que Jesus ressuscitou dos mortos, apontando assim para o resgate divino da
morte.,
Mas o curioso na história de Jonas é que Deus não fez o que talvez nós esperaríamos que ele fizesse. Por
exemplo, que Jonas fosse viver um dramático evento de resgate, com uma visitação do anjo Gabriel, ou
uma viagem para casa em uma carruagem de fogo ou mesmo algum tipo de teletransporte instantâneo
como aconteceu com Felipe. Não aconteceu nada disso com Jonas.
Falou, pois, o SENHOR ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra. Jonas 2:10
Se você se perguntar por que os tradutores da Bíblia não escolheram um termo mais dignificante, mais
“igreja”, do que o verbo “vomitar”, a resposta é que a palavra hebraica correspondente é ainda mais vívida
do que a nossa.
O autor quer se certificar de que o leitor capte isso. Jonas não foi trazido por um anjo. O peixe literalmente
lançou seu alimento para fora.
Jonas acaba na praia. Não uma figura trágica, envolta em sofrimento. Não uma figura heroica, com glória.
Uma figura patética, talvez coberto de camarão e patê de atum.
Jonas vai afundando, mas coisas inusitadas vão acontecendo.
Talvez você um dia desceu também, foi afundando e afundando. Mas diante dos planos e propósitos do
Senhor, Ele sempre pensa o melhor e prepara alguma coisa grande. Da perspectiva divina, a morte e a
sepultura não são nenhum problema. A sua teimosia e erro não paralisam a mão de Deus.
Deus se ri disso tudo. Deus se ri da morte e da sepultura. Jonas acaba vomitado em terra firme. Um dia
entenderemos que a alegria vence.
Jonas, ficamos sabendo, é de uma cidade chamada Gete-Héfer, situada a alguns quilômetros de Nazaré.
Outro profeta viria de Nazaré, cairia no sono no barco enquanto os demais passageiros entrariam em
pânico, e acalmaria a tempestade com apenas um gesto.
O nome Jonas significa “pomba”, que, por sua vez, quer dizer “ofertado a um bem-amado”. Outro profeta
entraria na água, sairia dela, veria uma pomba descer do céu e ouviria uma voz chamando-o de bem-
amado.
Já perto do fim de sua vida, Jesus afirmou ter um sinal para dar a este mundo sofrido, algo como um “sinal
de Jonas”.
Então, alguns escribas e fariseus replicaram: Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal. 39 Ele,
porém, respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o
do profeta Jonas. 40 Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe,
assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra. Mateus 12:38-40
A igreja primitiva costumava reunir-se em lugares chamados catacumbas, ou seja, túmulos, locais
subterrâneos para sepultamento. Os historiadores contam que a primeira arte inspirada por Jesus não
apareceu em grandes catedrais, foi desenhada em túmulos, nas ocultas catacumbas. A figura do Antigo
Testamento mais frequentemente referenciada não é Abraão ou Moisés ou Davi. É Jonas.
Por quê? Talvez porque a igreja primitiva entendeu os planos de Deus não podem ser frustrados. Nosso
Deus é poderoso e ao mesmo tempo, muito gracioso. E sua graça também tem senso de criatividade e
alegria.
Ore com a visão correta de Deus
E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por
isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em
irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Jonas 4:2
Jonas está citando aqui a mais famosa confissão da identidade de Deus na história de Israel, quando o
Senhor se revelou a Moisés no monte Sinai.
E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e
longânimo e grande em misericórdia e fidelidade Êxodo 34:6
Qual a diferença? Jonas omite a fidelidade. Jonas está contestando a natureza de Deus. Ele acredita que
Deus não é confiável. Guarde essa chave: você nunca irá confiar em Deus para transpor portas abertas se
pensar que Ele não é fiel.
Tudo o que Deus diz é: “E disse o SENHOR: É razoável essa tua ira?” Jonas 4:4
Jonas não responde. Ele dispensa a Deus um tratamento silencioso. Jonas foge de novo, para o leste, e
alimenta a esperança de ver a cidade destruída.
Então o SENHOR Deus fez crescer uma planta sobre Jonas, para dar sombra à sua cabeça e livrá-lo do calor,
o que deu grande alegria a Jonas. Mas na madrugada do dia seguinte, Deus mandou uma lagarta atacar a
planta e ela secou-se. Ao nascer do sol, Deus trouxe um vento oriental muito quente, e o sol bateu na
cabeça de Jonas, ao ponto de ele quase desmaiar.
Com isso ele desejou morrer, e disse: “Melhor me é morrer do que viver!” Mas Deus disse a Jonas: “É
razoável essa tua ira por causa da planta?” Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte.” Jonas 4:6-9
Isso se refere a algo mais profundo do que sofrer uma insolação. Os profetas, em sua época, eram atores.
Considerando que, comumente, as pessoas ignoram as palavras, Deus mandava os profetas encenar sua
mensagem de maneiras chocantes. O profeta sempre era o ator, e Israel, a plateia. Mas aqui não.
Nessa pequena peça, Deus é o ator. Deus envia uma planta, Deus envia uma lagarta, e Deus envia o
vento. Jonas é a plateia. O que está acontecendo aqui é que Deus quer salvar Jonas.
Sim, pois Jonas foi para o leste. O “leste” era a direção dos inimigos de Israel (o leste do Éden depois da
Queda, o leste para onde foi o assassino Caim).
Deus envia uma sombra. Em Salmos 17.8-9, lemos: “Guarda-me como a menina dos olhos, esconde-me à
sombra das tuas asas, dos perversos que me oprimem, inimigos que me assediam de morte”.
Estar na sombra significa estar sob a proteção de Deus. Literalmente, o texto diz que a sombra servia de
livramento do mal.
As Escrituras revelam que, quando a planta cresceu sobre Jonas, isso lhe deu grande alegria. Para Jonas,
não se trata simplesmente de proteção física: significa a ruína de Nínive. Deus vai proteger seu povo. Deus
vai destruir seus inimigos. É por isso que a planta “deu grande alegria a Jonas”. Jonas exulta com a
destruição do povo a quem odeia. Nínive está ruindo.
Deus não enxerga categorias, diferentemente de mim: “Pessoas desta categoria, essas são do meu tipo.
Gosto desse tipo de pessoas. Mas posso me afastar de gente daquela estirpe sem sofrer quase nada”. As
pessoas são importantes para Deus. Qualquer pessoa! Ele não faz acepção de pessoas.
Tornou o SENHOR: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que
numa noite nasceu e numa noite pereceu; 11 e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive,
em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão
esquerda, e também muitos animais? Jonas 4:10-11
A história simplesmente termina com Jonas lá sentado. Isso não deixa você meio indignado? Esse não é um
jeito realmente estranho de terminar uma história? Por que um autor faria isso?
Na verdade, outro contador de histórias vai fazer a mesma coisa. Jesus termina a história do filho
pródigo exatamente como se faz no livro de Jonas: com um rebelde salvo pela graça e um pai amoroso
fazendo um apelo para um inconformado presunçoso.
Isso não significa que o contador da história não saiba imaginar uma conclusão. Significa que a história não
diz respeito a Jonas. Diz respeito a nós e à nossa resposta a Deus.
Um grande artista sabe que, quando se deixa uma história mal resolvida, as pessoas não podem
simplesmente ir embora e descartá-la. Elas têm de continuar elaborando o enredo.
Há uma porta lá fora, e seu nome está escrito nela. Ela está aberta. Neste exato momento. O que você vai
fazer? Deus tem um propósito em sua vida!

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