Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
Prefácio, 9
Maria Margarida M. J. de Carvalho (Magui)
Apresentação, 11
Os organizadores
Cuidar dos sobreviventes do câncer infantil e de todos Também se aborda, com muita propriedade, a histó-
os sobreviventes, que vivem com marcas e mudanças, cuidar ria da nossa Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, no
do estresse dos cuidadores, formais e informais; cuidar das seu pioneirismo e na sua coragem de existir.
questões legais e bioéticas; enfim, muitos são os tópicos Concluo com a certeza de que este é um excelente
abordados neste livro de imenso valor no trato com o pa- livro para todos os profissionais da área da saúde que quei-
ciente de câncer. ram conhecer a psico-oncologia. Parabéns aos organizado-
res e a todos os participantes!
P
sico-oncologia, psicooncologia, oncopsicologia, Em 2005, com a finalização de dois exercícios sub-
oncologia psicossocial... Designações diferentes e seqüentes na diretoria da Sociedade Brasileira de Psico-
grafias diversas para a mesma idéia: a do melhor Oncologia, nasceu entre seus integrantes esta idéia: a de
conhecimento teórico e técnico sobre o câncer, seus trata- reunir, em uma única obra, os diversos elementos que se
mentos, efeitos colaterais, seqüelas e, acima de tudo, sobre haviam acumulado com a experiência brasileira.
o cuidado com o paciente, seus familiares e seus cuidado- Buscamos, na nova diretoria de nossa Sociedade, o
res, sejam estes leigos ou profissionais. apoio ao que idealizáramos. E foi assim que ela assumiu a
Nas necessidades humanas presentes por todo o tra- publicação deste livro, estimulando-nos e acompanhando-
jeto do paciente oncológico se estabeleceu, desde o início, nos por todo o tempo.
a base dessa subespecialidade ainda jovem. Como coordenadores desse projeto instigante, ela-
Psico-oncologia, a designação oficializada entre nós,
boramos roteiros, buscamos colegas representantes de
nasceu na Argentina, na década de 1960. A seguir, nos Es-
especialidades afins, formulamos convites e assumimos a
tados Unidos, a área se instituiu e fortaleceu, assim como
autoria de alguns capítulos.
aconteceu na Europa e nos demais continentes.
Percalços não impediram que levássemos a caminha-
Entre nós, o interesse pela área surgiu no fim dos anos
da até o fim. Aqui estamos hoje, com a obra terminada.
1970. De lá para cá muitos passos foram dados. Encontros
No entanto, estamos cientes de que essa finalização suge-
e congressos, atividades isoladas de profissionais dedicados,
re um recomeço, em que lacunas que independeram da
formação de grupos que se constituíram em verdadeiras
equipes de trabalho e produção acadêmica de qualidade nossa vontade, mas resultaram de impedimentos objetivos
foram criando o que hoje podemos considerar o corpo de importantes, venham a ser preenchidas. Desde já convi-
conhecimento e prática da psico-oncologia brasileira. damos colegas autores e todos os leitores a permanecer
Nosso saber repousa sobre a experiência recolhida da conosco nos próximos passos.
prática clínica, do aprofundamento de estudos e reflexões Agradecemos aos autores convidados o empenho e a
que a singularidade de nossa realidade vem suscitando. Foi- generosidade com que, ao compartilharem seus saberes,
se construindo gradativamente e contou sempre com uma agregaram brilho e qualidade a este primeiro tratado de
interação de qualidade entre os profissionais envolvidos. psico-oncologia brasileira.
Os organizadores
PARTE I
PSICO-ONCOLOGIA: CONCEITUAÇÃO, DEFINIÇÕES,
ABRANGÊNCIA DO CAMPO
PSICO-ONCOLOGIA: DEFINIÇÕES E ÁREA DE ATUAÇÃO
M A R I A TE R E S A V E I T ; V I C E N T E A U G U S T O DE CAR VALHO
A
psico-oncologia constitui-se em uma área do co- O caminho cartesiano foi sendo reforçado pelos es-
nhecimento da psicologia da saúde, aplicada aos tudos médicos desenvolvidos posteriormente, como, por
cuidados com o paciente com câncer, sua família exemplo, os trabalhos de Koch (1843-1910) e Pasteur
e os profissionais envolvidos no seu tratamento. (1822-1895), cujas descobertas contribuíram para a for-
A origem da psico-oncologia está associada a fatos rela- mulação da Teoria da Etiologia Específica, segundo a qual
cionados ao desenvolvimento da oncologia e da psicologia. cada doença teria um agente etiológico próprio.
Do ponto de vista histórico vale lembrar que, desde a Outros eventos importantes foram o desenvolvi-
Antigüidade, o câncer tem sido associado a estados emocio- mento da vacina contra a tuberculose, em 1906, e o sur-
nais, embora apenas em nossos dias essa associação tenha gimento de vários medicamentos, como o salvarsan, para
adquirido mais clareza, bem como a necessidade de combi- a sífilis, em 1911; a insulina, na década de 1920; a sulfa,
nar o tratamento do câncer com cuidados psicológicos. na década de 1930; a penicilina, na década de 1940; e os
Já Hipócrates (460-370 a.C.), da Escola de Cós, afir- neurolépticos e quimioterápicos, na década de 1950.
mava que a saúde era uma evidência de que o indivíduo ha- Paradoxalmente, foi o grande desenvolvimento cien-
via atingido um estado de harmonia entre instâncias inter- tífico e tecnológico, fruto da dicotomia cartesiana, que
nas, assim como com o meio ambiente. Manter-se saudável aproximou mente e corpo, descobrindo inter-relações
era uma questão de reconhecer esse equilíbrio e respeitá- entre esses dois elementos e fazendo que gradualmente
lo, vivendo conforme as leis da natureza. Ele estabeleceu passássemos a ver o indivíduo como um todo, como o or-
a teoria dos humores, segundo a qual o equilíbrio entre ganismo que é.
esses humores (sangue, bile amarela, bile negra e fleuma) Trabalhos de vários autores, como Hans Selye, na
garantia a permanência da saúde. Alguns resquícios dessa década de 1920, na Universidade MacGill (Canadá), des-
teoria chegaram aos nossos dias, quer em nossa linguagem, crevendo o fenômeno do estresse; e Walter Cannon, na
quando se fala de um indivíduo sangüíneo, bilioso ou fleu- década de 1930, na Universidade de Harvard (Estados
mático, quer por sua concepção dinâmica que prefigura a Unidos), desenvolvendo experimentos em psiconeurofi-
abordagem psicossomática. siologia e descrevendo o fenômeno da homeostase, muito
Séculos mais tarde, Galeno (131-201 d.C.) estabe- contribuíram para o posterior desenvolvimento do que
leceu uma visão mais positivista e mecanicista da medi- mais tarde se chamou de medicina psicossomática.
cina, gerando uma inflexão da linha de desenvolvimento Ainda outras descobertas, como as que levaram ao
do pensamento médico. Em certo momento observou que detalhamento do funcionamento do sistema imunológico,
mulheres deprimidas tinham mais tendência ao câncer do acabaram por dar origem a uma nova especialidade médi-
que as mais animadas e bem-dispostas. ca, a imunologia. A descoberta da inter-relação do sistema
No século XVII Descartes (1596-1650) estabeleceu nervoso central com o funcionamento do sistema imunoló-
um sistema dicotômico de pensamento. Em sua concepção gico ampliou essa especialidade, que passou a ser chamada
de indivíduo, observa-se a divisão em duas instâncias: res de neuroimunologia. Com a percepção de que elementos de
cogitans e res extensa. Essa forma de ver o ser humano ordem psicológica influíam, por sua vez, no funcionamen-
exerceu grande influência no pensamento ocidental, sendo to desse complexo, a especialidade se tornou ainda mais
responsável pelo significativo desenvolvimento das ciên- abrangente, passando a ser conhecida como psiconeuroi-
cias do qual somos testemunhas. No entanto, dividir o ser munologia. Finalmente, a inclusão dos conhecimentos da
em duas instâncias dificulta a visão integrada dele. endocrinologia a transformou em psiconeuroendocrinoi-