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Tradução
Johannes Kretschmer. São Paulo: Editora 34, 1996.
O efeito estético deve ser analisado na sua relação dialética entre texto, leitor e
sua interação. Efeito é estético porque requer do leitor atividades imaginativas
e perceptivas, a fim de obrigá-lo a diferenciar suas próprias atitudes. Teoria do
efeito e não uma teoria da recepção.
1. Situação do problema
B) Preliminares para uma teoria da estética do efeito
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Efeito estético: o que advém ao mundo por ele, então ele é o não idêntico ao
de antemão existente no mundo. Busca-se a relacionar o não idêntico a algo
familiar e compreensível. Quando isso acontece, o efeito desaparece, pois
esse efeito só é efeito, enquanto o que é significado se funda em nada senão
nele mesmo.
Efeito: o que sucede com o leitor quando sua leitura dá vida aos textos
ficcionais. A significação teria a estrutura de um evento – ela mesma é um
acontecimento que não pode ser relacionado a denotações de realidades,
sejam elas empíricas ou inferidas.
Duas questões:
a) Se uma significação apreendida alcança sua significabilidade através da
sua relação com um padrão de referências extratextuais, então essa
significação não pode ter mais um caráter estético, pois ela é referencial,
ou seja, tem um caráter discursivo;
b) Ao invés disso, o acontecimento do texto se apresenta em face de seus
resultados, como uma fonte da qual estes se originam. Esse evento tem
um sentido constituído e esse sentido tem em princípio um caráter
estético, porque significa a si mesmo; pois por ele advém algo ao mundo
que antes nele não existia. Não precisa recorrer a nenhuma referência
para se justificar, pois seu reconhecimento se dá através da experiência
que ele estimulou no leitor.
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“Se os elementos de indeterminação se revelam como condições de
comunicação, que ativam a interação em que o texto pode ser experimentado,
então essa experiência ainda não pode ser classificada como privada. Ao
contrário, sua privatização possível só se realiza quando o leitor individual a
incorpora às suas próprias experiências. Isso é um procedimento adequado e
evidencia que, em uma teoria fundada na leitura, a privatização dos textos se
desloca para um outro lugar de processo de apreensão [...] aquele lugar em
que a experiência estética se transforma em realização prática” (p.58).
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competência literária. Dessa forma, o leitor estrutura o texto graças ás
suas competências.
Leitor implícito: não tem referência real; pois ele materializa o conjunto
de pré-orientações que um texto ficcional oferece, como condições de
recepção, a seus leitores possíveis. Ele se funda na estrutura do texto.
“Se daí inferimos que os textos só adquirem sua realidade ao serem
lidos, isso significa que as condições de atualização do texto se
inscrevem na própria construção do texto, que permitem constituir o
sentido do texto na consciência receptiva do leitor. A concepção do leitor
implícito designa, então, uma estrutura do texto que antecipa a presença
do receptor” (p.73).
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Estrutura do texto – cada texto literário representa uma perspectiva de
mundo criada por seu autor. Não é mera cópia do mundo, mas constitui
um mundo do material que lhe é dado. É no modo de constituição que
se manifesta a perspectiva do autor.
“O romance [...] tem uma estrutura perspectivista que compõe-se de algumas
perspectivas principais que podem ser claramente diferenciadas e são
constituídas pelo narrador, pelos personagens, pelo enredo (plot) e pela ficção
do leitor. [...] elas marcam em princípio diferentes centros de orientação no
texto, que devem ser relacionados, para que se concretize o quadro comum de
referências. A tal ponto uma certa estrutura textual é estabelecida para o leitor
que ele é obrigado a assumir um ponto de vista que permita produzir a
integração das perspectivas textuais” (p.74).
“É justamente por esse motivo que o leitor ganha a oportunidade de assumir o
ponto de vista que é proporcionado pelo texto, para que se constitua o quadro
de referências das perspectivas textuais” (p.74).
O leitor tem que assumir o ponto de vista previamente dado para conseguir
captar as perspectivas divergentes no texto e juntá-las no sistema.
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conta uma regra elementar da nossa percepção que diz que nosso acesso ao
mundo sempre é de natureza perspectivística” (p.78).