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D ções d e
no
Sumário
Apresentação.................................... 1 Entrevista - antes, durante e depois.. 13
Antes..................................................... 13
As mídias da USP.............................. 2 Durante................................................. 14
Jornal da USP....................................... 2 Depois................................................... 15
Ciências, Tecnologia, Universidade,
Cultura, Educação, Atualidades, Press release..................................... 17
Institucional, Artigos............................. 2
Faça parte da rede............................. 18
Rádio USP............................................. 2 Youtubers............................................. 19
Canal do pirula....................................... 19
YouTube................................................ 3 Colecionadores de ossos...................... 19
Canal USP.............................................. 3 Space Today........................................... 19
TV USP................................................... 3 Nerdologia.............................................. 20
Matemaníaca......................................... 20
Revista USP.......................................... 3
Créditos............................................. 21
Mídias Sociais...................................... 3
Referências bibliográficas................. 22
Assessorias de imprensa.................. 5
Falando com o jornalista..................... 6 Anexo - cases de sucesso................. 23
O que é (e o que não é) notícia Gente que faz - e fala!............................... 23
na mídia interna e externa................... 6
Público e linguagem............................ 9

Formatos.............................................. 10
Jornalismo audiovisual......................... 10
Jornalismo escrito................................. 12
Apresentação
Imagine que você é um jornalista e quer fazer meios de comunicação conquistam bons resulta- impedi-lo de buscar uma relação mais harmonio-
uma matéria sobre um tema científico ou preci- dos para eles próprios, para seus projetos e para sa com a mídia. Do mesmo modo como a mídia
sa de uma análise especializada sobre determi- suas organizações. Esta é também uma estraté- deveria abrir mão dos preconceitos em relação à
nado assunto para compor uma reportagem. Se gia, ainda que nem sempre garantida, de chegar Universidade conhecendo o trabalho de ponta que
considerarmos que aproximadamente 22% da até financiadores de pesquisa, administradores aqui é realizado, da nossa parte também podería-
produção científica brasileira vem da USP, e tam- públicos e também outros acadêmicos - lembran- mos olhar para os bons exemplos. Tanto do que já
bém a boa reputação acadêmica desta Universi- do que os cientistas também acompanham a mí- é feito no jornalismo nacional quanto do que acon-
dade, é grande a possibilidade que você procure dia. Trata-se menos de se comunicar com a mídia tece em alguns países, que possuem tradição de
como fonte… a USP! do que de utilizá-la para se comunicar com vários apoiar a divulgação científica.
A verdade é que isso nem sempre acontece - ou, tipos de públicos. Em última análise, ações de difusão da ciência
pelo menos, não na intensidade com que poderia Agências financiadoras já têm cobrado de seus também ajudam a população a tomar decisões
acontecer. A Universidade tem aparecido com me- pesquisadores que invistam em popularizar a ci- na sua vida diária de maneira mais bem informa-
nor frequência do que deveria por suas realizações ência que produzem. Muitos editais já trazem for- da, melhorando sua qualidade de vida - o que é
e como fonte de conhecimento. malmente esta obrigatoriedade. Além disso, um ainda mais crucial em um contexto em que boa-
A culpa é da mídia, que só se interessa por gre- trabalho gradual e constante neste sentido vai tos e fake news fazem um uso tão eficiente das
ves, acusações, crises e contendas? Se em parte contribuir para uma boa visibilidade da instituição, novas tecnologias para se disseminar. Além dis-
a resposta é sim, também não podemos usar este e uma ideia menos distorcida do que realmente so, boas histórias podem inspirar o público jovem
argumento como deixa para nos acomodar. Muitos a USP faz. Uma imagem positiva ajuda a formar a seguir a carreira científica, compartilhando da
de nossos pesquisadores não têm a cultura de cola- uma opinião defensiva à instituição, algo que pode sua paixão pelo conhecimento.
borar sistematicamente com a imprensa, ainda que ser útil em momentos de crise. Divulgar a ciência é também valorizar a pró-
existam aqueles que façam isso de forma individual. Pela questão ética, faz parte da missão da Uni- pria ciência. Esperamos que este pequeno guia
A ideia deste material, primeiro, é mostrar que versidade tornar acessível a um público mais am- possa ser útil na tarefa.
existe uma estrutura de comunicação na USP e ca- plo o conhecimento e a inovação que produz. A
nais de contato com a mídia que estão à disposição. democratização do saber deve ser uma das prio- Luiza Caires - Jornalista da USP,
Segundo, ser um breve guia prático para fazer isso, ridades da Universidade, dá visibilidade à institui- junho/2018
contando como a mídia funciona, sua linguagem, ção e é também uma forma de prestação de con-
como fazer um tema virar pauta, a rotina dos jorna- tas à sociedade que a mantém, orientando-se pelo
listas e como lidar de maneira eficiente com eles. princípio da transparência.
E por que um cientista ou acadêmico deveria se É certo que a desconfiança do pesquisador
interessar por isso? em relação ao comunicador não é infundada, se
Pelo lado prático, sabemos que os cientistas olharmos para casos em que a imprensa erra ou
que usam bem a mídia e estão presentes nos distorce a fala do entrevistado. Mas isso não deve

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As mídias da USP
Há profissionais de comunicação atuando um em sua área de conhecimento. Conteúdo
em unidades, centros de pesquisa e órgãos da CIÊNCIAS veiculado tanto na Rádio USP quanto no site do
Universidade. A comunicação da USP também Divulga principalmente resultados de pesquisas Jornal da USP.
é feita pelos canais da Superintendência de Co- feitas na USP nas diversas áreas do conhecimento
municação Social (SCS). e em todos os formatos: texto, áudio, vídeo, foto- INSTITUCIONAL
grafia. Produz o conteúdo que é veiculado nas mí- Canal de comunicação da Reitoria com o pú-
Jornal da USP dias sociais sob o selo “Ciência USP”. blico. Conteúdo produzido pela assessoria de
imprensa da Reitoria.
<https://jornal.usp.br/> TECNOLOGIA
Traz resultados de pesquisas e projetos da área ARTIGOS
O Jornal da USP traz notícias diárias sobre a Uni- de tecnologia, bem como inovações e patentes Textos com temática diversa e autoria de diri-
versidade de São Paulo. Ele é dividido nas seguin- produzidas na Universidade. gentes, docentes, pesquisadores, funcionários e
tes editorias: colaboradores da USP.
UNIVERSIDADE
Notícias de interesse da comunidade USP, vida Rádio USP
universitária e também divulgação de ações de ex-
tensão de todos os campi. Inclui o Acontece na Junto à programação musical e cultural, a Rádio
USP, agenda de eventos da/na Universidade. USP mantém uma cobertura jornalística voltada à
divulgação das atividades da Universidade e dis-
CULTURA cussões sobre temas de interesse geral.
Reportagens sobre a produção cultural, artística
e intelectual da USP, em todos os formatos.

EDUCAÇÃO
Expõe as iniciativas da USP na educação básica
e também suas contribuições nos debates sobre
ensino e práticas pedagógicas.

ATUALIDADES
Os especialistas da USP ajudam a “explicar”
a atualidade, através de entrevistas e repercus-
sões de assuntos em pauta no momento, cada

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Além do Jornal da USP no Ar, noticiário matutino TV USP Mídias sociais
ao vivo, onde se destacam as entrevistas com pro- A TV USP é o canal de vídeos de todas as edito-
fessores da Universidade, e o debate aprofundado rias do Jornal da USP. Seu conteúdo está tanto no Destacam o conteúdo produzido nos diferentes
no semanal Diálogos na USP, a difusão da ciência portal do jornal quanto no YouTube. veículos da USP, buscando adaptá-lo para a lingua-
percorre a programação em boletins, programas e gem própria de cada canal.
com a participação dos colunistas, todos especia-
listas da USP em áreas variadas do conhecimento. FACEBOOK
No rádio em 93,7 FM e na internet: jornal.usp.br/ Página da USP: /usponline
radiousp-sp-aovivo

YouTube

CANAL USP
O Canal USP reúne todo tipo de conteúdo for-
malmente produzido pela USP em vídeo, trazendo
tanto a produção da TV USP quanto de órgãos e
unidades, como reportagens, eventos, e-aulas, cur-
sos, entrevistas e vídeos institucionais.

Revista USP
Página do Ciência USP: /cienciausp
Impressa e on-line, a Revista USP tem por fina-
lidade publicar artigos sobre Ciências e Humani-
dades, divulgando, de modo geral, a Cultura. Não
se enquadra em seus objetivos a publicação de
artigos científicos.

3
TWITTER INSTAGRAM

Página da USP: @usponline Ciência USP: @cienciausp

Ciência USP: @cienciausp LINKEDIN


Página da USP

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Assessorias de imprensa
Além dos veículos da SCS, a USP conta com tas suficientemente interessantes para o público
uma assessoria de imprensa que centraliza sua em geral. Elas podem ser sugeridas diretamente
comunicação institucional. Entre suas ações es- por eles à imprensa ou dispostas em canais pró-
tão o envio de press releases e comunicados ofi- prios, como boletins impressos e nas páginas da
ciais, realização de entrevistas, indicação de fon- unidade ou órgão na internet.
tes e atendimento geral à imprensa. Mas é preciso deixar claro que, por melhor que
Parte das unidades e órgãos da USP também seja o trabalho por eles realizado, os comunica-
dispõe de assessorias de comunicação, próprias dores da USP não têm controle sobre o conteúdo
ou contratadas. Os assessores atendem diaria- editorial dos veículos externos. Além disso, uma
mente jornalistas de diferentes veículos que estão busca centrada somente nessa visibilidade pode-
em busca de fontes de informação. Eles identifi- ria comprometer outras ações importantes, como
cam a fonte ideal para cada solicitação e buscam focar na divulgação da USP para a própria USP.
adequar o interesse e a disponibilidade da fonte
com a mídia. Por isso, é essencial a colaboração Para o editor é muito difícil falar com cada
de pesquisadores e docentes. professor de cada departamento para saber o que
ele está fazendo. Por isso, insistimos que o material
deve chegar até a redação.
Para que o trabalho seja eficaz, o assessor precisa
alimentar constantemente um banco de especialistas Cinderela Caldeira, jornalista da SCS
da unidade com as informações passadas pelos porta-
vozes a respeito dos temas de seu interesse. Sem o
feedback dos especialistas, não é possível manter um
banco de fontes adequado. Não se deve pensar que os grandes jornais e emissoras
são os mais importantes e devem ser priorizados. Os
Cacilda Luna, Assessoria de Comunicação e sites das unidades, os veículos da SCS, a mídia regional
Desenvolvimento da Faculdade de Economia, e as mídias sociais atingem com mais facilidade
Administração e Contabilidade - FEA boa parte do público que a Universidade quer atrair.
Somos quase 100 mil pessoas entre funcionários
Na via ativa, as assessorias de comunicação fa- técnicos, estudantes, docentes. A própria Universidade
zem também o trabalho de garimpar a informação desconhece o que faz. Antes de buscar o externo, é
junto aos docentes e pesquisadores - de trabalhos preciso fortalecer a comunicação aqui dentro.
científicos que já estão publicados aos que ainda Hérika Dias, jornalista da SCS
estão em curso nos laboratórios. Diante dessas
pesquisas, os assessores realizam a função de de-
codificação, transformando a informação em pau-

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Falando com o jornalista
Acho que é mais fácil os cientistas aprenderem ca, acabou de ter financiamento aprovado, ou já Obteve algum índice recorde?
jornalismo do que os jornalistas aprenderem ciência. apresentar alguns resultados promissores, ele po- Trata de algum aspecto da ciência que fre-
David Braun, jornalista da revista derá se tornar uma notícia. quentemente cativa o interesse do público?
National Geographic Mas nem sempre a imprensa saberá identificar Tem relação com algum tema em destaque
isso apenas lendo um abstract ou uma descrição no noticiário nacional ou internacional?
do Lattes. Então a questão mais importante de
O que é (e o que não é) notícia na seu trabalho - o que a pesquisa traz de especial -
deve estar claramente acessível ao jornalista.
Se a sua resposta para alguma destas per-
guntas for “sim” ou mesmo “talvez”, considere
mídia interna e externa sugerir a pauta para a assessoria de imprensa,
Praticamente todo projeto ou pesquisa tem al- Qualquer pauta pode atrair a imprensa, desde que tenha para as mídias da USP ou diretamente para a
gum aspecto que pode fazê-lo virar notícia nas mí- dois elementos importantes: inovação e interesse mídia externa.
dias internas da USP. Mas é claro que alguns são público. É importante também sugerir a pauta certa
para o veículo certo, caso contrário, será perda de
naturalmente mais atrativos e adaptáveis ao que a
tempo. Para isso, é preciso procurar a assessoria de
mídia costuma noticiar do que outros. imprensa da unidade e manter seus contatos sempre Os jornalistas das assessorias e veículos da Uni-
Nas mídias externas, porém, a questão é mais atualizados, além de informar sobre quais assuntos fala versidade podem ter mais boa vontade em inves-
complicada - colocar uma reportagem de ciência nos e sobre quais não fala. tigar o que há de relevante para levar ao público
meios de comunicação de massa não é tarefa fácil. Verônica Cristo, Assessoria de Comunicação da mesmo tendo em mãos apenas material especia-
Escola de Comunicações e Artes - ECA lizado e difícil de ler - afinal eles estão aqui para
Em muitos países, os editores frequentemente isso. Mas o editor e o jornalista externos, na cor-
acreditam que os itens jornalisticamente valiosos só reria da redação e com centenas de sugestões de
podem ser desastres, política ou esportes. Diante de Algumas questões podem ajudar a identificar pautas, provavelmente não poderão se debruçar
tais obstáculos, em geral a única maneira de conseguir
se algo tem boas chances de virar uma notícia: muito tempo sobre algo que não aparenta render
a cobertura da sua pesquisa é ‘dar um trato nela’,
destacando um ângulo de relevância. A pesquisa/projeto/resultado contribui signi- um fato jornalístico.
ficativamente para o entendimento de um tema
Marina Joubert, gerente do Programa de
controverso da sua área de conhecimento? Confrontado com o título de um paper: “Is MR
Divulgação Científica em Biotecnologia, África do Sul
Tem impactos na saúde ou na segurança das Spectropy really the best MR-based method for the
pessoas ou do meio ambiente? evaluation of fatty liver in diabetic patients in clinical
pratice?”, que em princípio não deveria dar pauta,
Ninguém conhece melhor seu projeto/pesquisa Contribui ou tem potencial para contribuir na
conversei com o autor e consegui decodificar que o
que você mesmo, então você é a pessoa mais in- melhoria da qualidade de vida das pessoas em estudo verte sobre o fato de que, na prática clínica, as
dicada para dizer por que ele deve ser notícia. Se o geral ou de algum grupo? imagens de ressonância magnética poderão substituir
seu projeto/pesquisa for o primeiro, novo, o mais Diminui o custo de algum processo ou otimi- as sempre sofridas biópsias em doentes do fígado,
antigo, o maior, exclusivo em alguma característi- za tecnologias atuais? especialmente diabéticos. É claro que esta pauta se

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mais fácil eles falarem de um biossensor capaz de
tornou extraordinariamente apelativa para qualquer a este tipo de prática, você pode avisar os jorna- diagnosticar a dengue do que de uma nova técnica para
órgão de comunicação. listas antes mesmo de sua publicação acontecer, diminuir o ponto de fusão da cerâmica.
Rui Sintra, Assessoria de Comunicação do Instituto informando a data de embargo. Tatiana Gladcheff Zanon Spina, jornalista,
de Física de São Carlos - IFSC Para uma pauta ter mais aceitação em TV, Assessoria de Comunicação do IFSC
precisa ser viável retratá-la com imagens. Bons
Assim, enfatizamos que uma sugestão de pauta exemplos são trabalhos envolvendo doenças co- Outro caminho é buscar transferir ao público o
deve mostrar logo de cara por que seria interes- nhecidas; pesquisas que geram imagens lindas e seu entusiasmo de trabalhar com aquele conhe-
sante ler/ouvir/assistir uma matéria a respeito. E, intrigantes, como as dos nanomateriais; pesqui- cimento e por que aquele campo científico é tão
claro, honrar essa promessa. sas comportamentais em que animais são “filma- instigante. Nem todo mundo está interessado em
dos”; trabalhos como o novo Guia Alimentar para ciência, mas pessoas sempre são interessadas
Cientistas falam sobre ciência, mas o que jornalistas e a População Brasileira; pesquisas sobre compor- em pessoas. Ainda que a maior parte dos cientis-
o resto do mundo querem saber é “qual a história?”(...) tamento humano em geral. tas prefira se esconder atrás do discurso indire-
Jornalistas são contadores de história profissionais. As mídias externas não costumam divulgar tan- to (“os dados foram analisados”, “as conclusões
Nancy Baron to pesquisa básica, com exceção para algumas apontaram”), o jornalista muitas vezes vai querer
áreas “queridinhas” como física de partículas, as- apresentar quem é o homem ou a mulher por trás
Boas histórias, no caso do jornalismo de ciên- tronomia e genética. daquele trabalho. Jornalistas adoram falar sobre
cia, envolvem as que trazem fatos inesperados, cientistas e sua paixão pelo trabalho. É verdade
contraintuitivos; revelações que contradizem o O conhecimento desinteressado é da essência da que o cientista não tem nenhuma obrigação de re-
que se sabia até agora de um determinado tema Universidade – e do espírito humano. Assim, uma velar seu lado humano. Mas isso ajuda o repórter
(conflitos, mesmo que de ideias, vendem); pesqui- pesquisa sobre a estrutura íntima da matéria, o a fazer uma matéria com muito mais chances de
comportamento de um inseto ou as influências sobre
sas que explicam algum fenômeno concreto que ser apreciada pelo leitor ou audiência.
um grande escritor também despertam interesse
todos vivenciam, mas que ainda não tinha sido do público e são objeto de matéria dos veículos de Por último, é preciso entender que, por mais im-
explicado; o que há de novo - lembrando que algu- comunicação da USP portantes que certos acontecimentos sejam para
mas histórias podem não ser uma grande novida- nós da USP ou para o meio acadêmico em geral,
Roberto Castro, jornalista da SCS
de para seus colegas, mas serão para o público. nem sempre eles serão atrativos para o público.
Entre os principais valores que norteiam o jor- Fora das mídias acadêmicas, porém, a maioria
nalismo estão a atualidade e o ineditismo. Se dos temas complexos pode ser simplesmente ig- Eventos destinados a públicos específicos dificilmente
você acabou de publicar um artigo, quanto mais norada se não guardar uma conexão direta com são de interesse da grande imprensa e muitos não
rápido a imprensa souber dele e do que trata, o dia a dia das pessoas. Elas querem saber como entendem. Já chegamos a receber correspondências
de emissoras de TV explicando qual tipo de evento
mais chances ele tem de ser divulgado também o que você faz impactará diretamente no cotidia-
é de interesse e pedindo para os pesquisadores não
para o público geral. Assim, avise a assessoria no delas, e se interessam muito mais por notícias encherem a caixa de correio deles com o que não é.
de imprensa da sua unidade, quando houver uma, que cumpram esse requisito, como na área de
Rosemeire Talamone, jornalista da SCS Polo
contate as mídias internas da USP e/ou, se já tiver saúde, por exemplo. Ribeirão Preto
esse canal aberto, divulgue a novidade também
para a mídia externa. Caso o artigo já tenha sido Sabemos que é isso [pesquisa aplicada] que “enche Por vezes, pode haver uma preocupação ex-
aceito, e o periódico em questão não se oponha os olhos” dos jornalistas. Por exemplo, será muito cessiva em emplacar notícias institucionais, cen-

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tradas mais em fazer elogios diretos à USP e aos
seus pesquisadores do que em mostrar a qualida-
de do trabalho acadêmico desenvolvido aqui.

Se por um lado este conteúdo é estrategicamente im-


portante do ponto de vista político, não é o melhor cami-
nho para construir uma imagem positiva da Universida-
de na mídia externa.
Flávia Dourado, jornalista, ex-integrante da
Assessoria de Comunicação do Instituto de Estudos
Avançados - IEA USP

Prêmios, nomeações para cargos, ingresso em


uma nova associação ou sociedade de pesquisa,
titulações etc., salvo exceções, interessam mais
à comunidade acadêmica e dizem muito pouco
para o público geral.

Além de falar sobre suas pesquisas, o cien-


tista também pode ser um personagem de in-
teresse da mídia a partir de outros recortes.
Um bom exemplo são projetos que muitos de
nossos especialistas tocam voltados à comu-
nidade. Até mesmo a própria trajetória do pes-
quisador pode virar notícia. Tudo depende do
veículo e do potencial interesse público gera-
do a partir daquele assunto.

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Público e linguagem
Não existem muitos dados sobre o perfil do pú- Os pesquisadores científicos têm muita resistência um resumo da conclusão a que levaram, por exem-
blico de ciência nas mídias brasileiras, mas certa- ao uso de metáforas, pois acreditam que não refletem plo. Além disso, o excesso de números aumenta a
mente ele é variado. a realidade. Mas é por meio delas que podemos probabilidade de que suas informações sejam ci-
apresentar aos leitores as ideias extravagantes da
Em todo caso, o ideal é que a notícia consiga ser tadas incorretamente, ou que conclusões que não
ciência. Um exemplo é a natureza dupla da luz, que
suficientemente interessante e compreensível para pode se comportar como onda e como partícula. Você fazem parte da pesquisa sejam tiradas.
diferentes públicos: o jovem, o adulto, o estudante pode imaginar uma pessoa magra, alta e cabeluda que Por último, não se esqueça que às vezes o pú-
do ensino médio, o estudante universitário, outro pode ser também uma pessoa baixa, gorda e careca. blico final pode não interpretar direito os dados,
cientista, outro jornalista - o cidadão, em resumo. Você dá um atalho mental para que as pessoas se mesmo que o jornalista os tenha entendido. Não
Busca-se, na produção da matéria, um meio -ter- deem conta do estranhamento das coisas. tenha receio de simplificar, dizendo “uma em cada
mo que não caia na superficialidade excessivamen- Ulisses Capozzoli, editor chefe da quatro pessoas” em vez de “25% da população”,
te didática e nem tampouco nos detalhes indecifrá- Scientific American Brasil ou mesmo “a maioria” do que “87,4%”. Compara-
veis ou que não tenham relevância para um leigo. ções também são bem-vindas para dar uma noção
Alguns jornalistas podem pedir para que você Caso tenha dificuldade em saber se um termo é de escala a quem ouve/lê. Muitas vezes, um mero
finja que está falando com uma criança brilhante ou não específico demais para o grande público, número não transmite ao público a ideia do quanto
de nove anos; outros, que você imagine que está prefira não usá-lo, ou então utilize, mas acompa- algo é raro, grande, pequeno e/ou relevante.
explicando o seu trabalho para seu avô. O mais nhado de uma pequena explicação. Em todo caso, Com um pouco de treino e paciência, os resul-
importante, porém, é estar sempre disposto a ex- confie no jornalista quando ele indicar o que ne- tados aparecem. Conceder uma entrevista, além
plicar, explicar, explicar. cessita ser mais bem processado e o que pode ser de tudo, é também uma grande chance de mostrar
facilmente entendido por seu público. ao público em geral como a ciência pode ser fasci-
Se ele conseguir dar um passo atrás e tentar pensar nante - e que vale a pena investir nela.
com a cabeça de quem não é especialista na área, Tratamos de estar todo o tempo do lado do leitor,
facilita muito. O pesquisador precisa perder o medo de perguntando-nos que pontos deste artigo poderiam
falar de um jeito simples. lhes parecer difíceis ou monótonos.
A língua do entendimento
Ricardo Zorzetto, editor especial da Estrella Burgos Ruiz, editora da revista A linguagem jornalística é direcionada para
revista Pesquisa Fapesp ¿Cómo ves? o público em geral. Se eu “escrever difícil”,
Tente considerar quais conceitos são familiares poucos vão entender, então quase sempre é
ao público leigo. Todo aquele que não for precisa O jornalismo voltado à divulgação científica tem necessário utilizar exemplos e analogias. Veja
ser explicado. Há grandes chances, por exemplo, um grande apreço pelas estatísticas. Nele, porém, um exemplo:
que eles saibam o que é uma célula, mas não o elas são tratadas de forma diversa das publica-
DNA recombinante; ou que conheçam algo sobre ções científicas. Os números devem ser usados Um fragmento de proteína pode ser uma
estrelas e galáxias, mas não sobre quasares ou com parcimônia, e índices muito complicados de importante arma contra o câncer. É o que foi
anãs brancas. entender devem ser eliminados, substituídos por descoberto numa pesquisa da USP. O trabalho

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do biomédico Antônio Carlos Borges demonstra Abaixo estão algumas dicas de como transfor- ajuda a transmitir as informações, mas ela não
que um pedaço da miosina — proteína motora mar a linguagem em sua aliada - e não inimiga - deve chamar excessiva atenção, de modo que a
responsável pelo transporte de algumas para fazer você se conectar com o público, seja de fala fique em segundo plano.
organelas —, quando expresso individualmente, rádio, TV, impresso ou internet.
inibe o crescimento de tumores. (...) “Tentando •• Mantenha contato visual com o repórter durante
fazer uma analogia, a miosina seria como um Jornalismo audiovisual - rádio, TV, web rádio, toda a entrevista. Se outros fizerem uma pergun-
trem de carga com seus vagões, deslocando- webTV, YouTube ta, ou houver outros entrevistados falando, olhe
se sobre trilhos. Nestes vagões poderiam ser também para eles. Não olhe para cima, nem para
transportadas diversas cargas, como moléculas, •• Imagens que impressionam garantem uma boa baixo. Olhar de lado pode dar a impressão de
vesículas e organelas, inclusive ‘cargas perigosas’, cobertura em televisão. Não se esqueça que a que você está sendo evasivo.
como os fatores pró-apoptóticos. Se esses linguagem do vídeo é a da ação, do movimento,
fatores pró-apoptóticos ‘caíssem dos vagões’, dos sons. Não se espante ao assistir uma re- •• Por questões técnicas, não vá ao estúdio ou a
seriam capazes de induzir a morte da própria portagem e perceber que apenas de 10 a 15% uma entrevista marcada com roupa branca, mui-
célula”, explica. da sua fala foi aproveitada na íntegra - e o res- to clara, de cores berrantes, nem com listras ou
Publicado na Agência USP de tante, editada. O jornalista está fazendo seu xadrez. Cores escuras e lisas são mais adequa-
Notícias em 13/09/12 trabalho - às vezes bem, às vezes nem tanto. das. Maquiagem e acessórios devem ser discre-
Mas cortar excessos, editar e preparar as infor- tos e leves. Tudo no vídeo ganha uma dimensão
Conheço uma pessoa que trabalha como mações para serem consumidas pelo público, maior do que ao vivo. A orientação para que o
auditor do Tribunal de Contas do Estado de SP adequando-as ao meio de comunicação em que você está falando chame mais atenção do
que teve que ir à escola do filho para no “Dia que elas serão transmitidas - tudo isso faz par- espectador do que os aspectos visuais também
das Profissões”, falar qual é a ocupação dele, te do processo. é válida aqui. A roupa não deve ser motivo de
o que ele faz exatamente, como faz, etc. Mas distração, assim como a postura e os gestos.
de modo divertido e lúdico, conseguiu manter •• Pensar sempre em para quem aquele material
a atenção e o interesse das crianças por 30 foi produzido - certamente não para uma banca •• Para entrevistas em rádio ou podcasts, “falar em
minutos. E se fosse o pesquisador? O que faria? avaliadora ou seu colega mais destacado - ajuda imagens” ajuda o ouvinte a entender o que você
Valéria Dias, jornalista da SCS a não sair com a sensação de que seu trabalho está descrevendo. Pode parecer difícil a princí-
foi reduzido na reportagem. pio, mas se você dedicar algum tempo preparan-
do-se para “contar a história” da sua pesquisa/
Formatos •• No vídeo, um bom número para referência do projeto/assunto em pauta levando isso em con-
tempo de resposta a cada pergunta são 30 se- sideração, a entrevista certamente fluirá melhor.
Os públicos dos diferentes meios guardam gundos, exceto em entrevistas que sabidamente
diferenças entre si - mas uma boa pauta pode serão mais longas, com mais tempo no ar. •• Não é recomendado o uso de frases como “como
acabar virando matéria em diversos suportes, do eu disse antes” ou que indiquem tempo (“ontem”,
impresso ao rádio. As maiores variações serão •• Gestos diante das câmeras devem ser suaves e “hoje”, “quarta passada”), já que você não sabe
notadas na produção da notícia e na linguagem a postura, alinhada. Se estiver sentado, coloque quando a matéria irá ao ar ou será reprisada.
que aparecerá no produto final. seus braços sobre o colo. A linguagem corporal

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•• Não fale muito alto ou perto do microfone ou •• Procure também não corrigir o entrevistador no Particularidades da TV
muito baixo e longe dele. Baseie-se na distância ar, por maior que seja a “besteira” que ele tenha
que o jornalista lhe sugere manter dele. Antes de dito. Encare-o como seu parceiro, evitando ser Enquanto no jornal impresso provavelmente
começar a gravar, é comum que a produção dê interpretado como agressivo ou irônico. Você apenas um jornalista vai procurar a fonte, na
orientações precisas sobre postura diante das pode reelaborar educadamente a informação. televisão estão envolvidos pelo menos três
câmeras e microfone. profissionais: o produtor, o repórter e o editor.
•• As mídias escritas dão mais margem para o jor- O cientista precisa saber que provavelmente
•• Ao vivo, cumprimente o ouvinte/espectador antes nalista trabalhar sobre o que você falou e fazer terá que repetir pelo menos duas vezes cada
de começar a falar. No rádio, se precisar tossir ou ajustes. Em áudio ou vídeo, no entanto, termos informação. E que, para que uma determinada
espirrar, afaste-se do microfone. Evite forçar a voz de difícil compreensão e jargões podem fazer fala sua entre na matéria, ela tem que ter sido dita
e deixe um copo d’água sempre por perto. com que uma entrevista seja até mesmo des- ao repórter durante a gravação. Parece óbvio, mas
cartada, quando esta se mostrar impossível de já vi muitos entrevistados questionarem por que
•• Evite segurar o microfone que está na mão do ser editada. Então, vale ainda mais a regra de, determinada fala não entrou, quando tinham dito
repórter. Se ele não fornecer um microfone de ao usar um termo científico, explicá-lo imediata- aquilo com as câmeras desligadas.
lapela ou algo parecido, deixe que o jornalista mente com o máximo de simplicidade. Além disso, o pesquisador deve entender que
conduza a entrevista. quem escolhe o que vai ao ar é o editor. Por mais
•• Utilizar o discurso direto, marcar bem a pontu- que o cientista e o repórter achem que a melhor
•• Se possível, treine com o repórter as perguntas ação da fala e adotar frases curtas ajudam a informação é aquela X, o editor pode escolher a Y.
que serão feitas antes de falar. É recomendado aproximar o tema da audiência de rádio e TV, Apenas uma pequena parte da entrevista
manter o foco no que lhe foi perguntado. Isso que pode se dispersar com facilidade. Sempre será exibida. Tudo depende do formato e tempo
diminui as chances de que você se perca duran- que possível, abra mão de palavras e expressões da edição. Não adianta ficar frustrado por dar
te a resposta. Se mesmo assim isso acontecer, estrangeiras - ou traduza seu significado. meia hora de entrevista e entrarem apenas 20
não se preocupe pois o jornalista está acostu- segundos. Em um vídeo, isso é muito comum.
mado a contornar. E o que não for ao vivo sem- Também é muito útil o cientista saber o
pre pode ser repetido ou editado. formato da entrevista. Cada tipo exige uma
abordagem diferente e o pesquisador pode
pedir orientações ao repórter ou ao assessor de
imprensa, se for o caso.
Se tudo for conversado antes, todos ficam
mais tranquilos na hora de falar e a performance
no vídeo será bem melhor. Alguns repórteres até
ensaiam com o entrevistado as perguntas e as
respostas.
Ana Paula Chinelli, jornalista da SCS

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Jornalismo escrito - on-line e
impresso
•• No impresso e no on-line, uma fotografia colori- Apesar de algumas vezes enviarmos a matéria
da com uma boa legenda conquistará mais lei- produzida a partir da entrevista para o pesquisador
tores do que apenas textos, por mais relevantes revisar, esse texto é jornalístico, de autoria do jornalista.
Não se pode fazer alterações em estilo, formato,
que sejam. As revistas são ainda mais depen-
escolha das palavras. O envio é para a conferência de
dentes de boas imagens - e elas precisam estar
possíveis erros técnicos ou conceituais apenas.
em boa resolução. Então, se você tiver imagens,
não deixe de oferecê-las ao jornalista. Hérika Dias, jornalista, SCS

•• Um artigo de divulgação científica não deve ser


confundido com um artigo científico. Veículos •• Em uma entrevista, não adianta falar ou escrever
noticiosos não usam citações bibliográficas, demais (no caso do e-mail). Mas respostas la-
agradecimentos ou notas de rodapé. cônicas podem gerar dificuldade de transformar
a entrevista numa matéria. Pergunte o tamanho
As redações possuem normas de redação e estilo que terá a reportagem para se nortear sobre
pelas quais certas expressões e palavras são quão detalhadas devem ser as respostas.
vetadas. Por exemplo, não se usa mesóclise, chavões
ou mesmo palavras como “esposo/a” e “falecido”;
•• Reportagens on-line também precisam ser conci-
ninguém é tratado num texto como “o professor
doutor (ou professor titular) Fulano de Tal”, mas sim sas, caso contrário o usuário não vai até o final do
como “o bioquímico Fulano”, “o professor Fulano”, “o texto. O primeiro aprendizado de um bom jornalis-
pesquisador Fulano” ta é perder a “dó” de reduzir a própria matéria. Não
Mauro Bellesa, Assessoria de Comunicação do IEA adianta querer impor conteúdo para o público.

12
Entrevista - antes, durante, depois
Antes •• Com a internet, a mídia trabalha com rapidez e quilo que você faz para diferentes entrevistas.
atualiza constantemente suas páginas. Assim, a Mas qualquer entrevista precisa ser curta e ter
Antes de sugerir uma pauta, dar informação a um urgência em entrevistar os especialistas se in- um foco bem delimitado.
jornalista ou retornar seu contato, pense com cui- tensificou. Boa parte das vezes não dá para mar-
dado na história que você quer contar e como você car para outro dia ou horário. •• Se for entrevistado para falar de temas atuais,
pode torná-la atraente. Desenvolva comparações e como a aprovação de uma lei, as últimas enchen-
metáforas que ajudarão a explicar o seu trabalho. Uma das principais dificuldades dos docentes é tes ou o surto de uma doença, dedique algum
entender a questão do timing da notícia. Quem vem tempo para se informar sobre a abordagem que a
•• Mostre-se disponível para o jornalista. A agenda procurar a gente, normalmente está no timing de própria imprensa vem dando a eles. Isso pode au-
alguma outra coisa que está acontecendo, ou que vai
dele na maioria das vezes é tão apertada quan- xiliar você a saber quais as dúvidas mais comuns
acontecer. No caso do IME, a final da Copa, ou o sorteio
to a sua. Não o deixe tomando “chá de cadeira”, da Mega-sena, por exemplo. Todos os pesquisadores do público, e até imprecisões que vêm sendo di-
nem desmarque entrevistas sem um motivo for- deveriam estar preparados para isso, ou dizer que não vulgadas a serem corrigidas na entrevista.
te. Isso pode comprometer todo o trabalho de estão, ou mesmo que não têm interesse em participar.
uma equipe que se planejou para estar ali e já É extremamente ruim para a imagem da instituição Às vezes o jornalista precisa de informações básicas
contava com sua entrevista para fechar o jornal dizer que vai participar e depois desistir. Ou enrolar. que até um aluno poderia responder, mas o professor
no fim do dia. Roberto Hirata Jr, docente e se recusa a falar se aquela não é a sua área de
pesquisa. Eles se inibem em falar mesmo sobre
colaborador da área de Comunicação do Instituto de
coisas elementares, para não invadir a área do outro.
No nosso caso, os fechamentos são diários. Isso Matemática e Estatística - IME
É até compreensível, mas isso também dificulta
significa que até as 18 horas precisamos ter o texto muito o atendimento à imprensa.
pronto, editado pelo editor do veículo, com fotos •• Os jornalistas tendem a coletar as informações
e legendas. Isso também vale para veículos de Ivete Fortunato, jornalista,
de manhã e escrevê-las à tarde, então esse Assessoria de Imprensa da Faculdade de Medicina
comunicação da mídia externa - e é por isso que eles
sempre querem tudo “para ontem”. pode ser um bom horário para marcar uma en- Veterinária e Zootecnia - FMVZ
trevista individual ou convocar uma coletiva.
Valéria Dias, jornalista da SCS
Mas isso não é uma regra.
•• Caso vá falar do seu projeto ou pesquisa, são
Tem casos de docentes que insistiram para que •• Ao se preparar para a entrevista, escolha até bem-vindos, antes do encontro, materiais de
fosse dada ampla divulgação às suas pesquisas quatro pontos principais que gostaria de trans- referência, desde que estes sejam resumidos,
e, quando enviamos o release e os jornalistas mitir. Não é necessário - nem possível - explicar minimamente compreensíveis para leigos e, de
nos procuraram, eles se recusaram a atendê-los,
toda a extensão e pormenores do trabalho. preferência, em português.
alegando falta de tempo.
Marcellus Janes, jornalista, Assessoria de Comunica- •• Um mesmo trabalho pode render diferentes re-
ção Institucional da Faculdade de Saúde Pública - FSP
portagens - a dica é usar diferentes ângulos da-

13
•• Não espere, porém, que um repórter tenha dispo- desligar celular e telefone. Nas entrevistas por por exemplo, inseri-lo ao terminar de respon-
nibilidade de ler integralmente uma tese ou seu celular, certifique-se de que tem bateria suficien- der uma outra pergunta dizendo: “Também é
último - e volumoso - livro antes da entrevista, te e de que há um bom sinal no local escolhido. importante dizer que…”.
mesmo que a reportagem trate dele. O jornalista
não é um cientista e, com raras exceções, tam- •• Responda às perguntas de maneira clara e pau- •• Caso esteja sendo fotografado, procure facilitar
pouco é um intelectual. O papel dele é ser o me- sadamente, lembrando-se, quando possível, de o trabalho do fotógrafo, deixando-o à vontade
diador entre o público, de um lado, e o cientista e fazer comparações didáticas e usar exemplos do para explorar os ângulos que julgar necessários.
o que ele faz, do outro. cotidiano. Não se irrite se perceber que o jorna- Não é preciso olhar para a câmera, a não ser que
lista não se preparou tão bem para falar sobre o ele peça isso, para uma fotografia posada.
O jornalista precisa ser apenas um jornalista, com assunto. Muitas vezes ele acabou de receber a
questões que sejam aquelas que o público faria ao pauta e a incumbência de entrevistá-lo. Se não •• Ainda mais do que pessoalmente, no telefone é
pesquisador. Não é de espantar que um jornalista que entender a pergunta, peça para que seja repetida. importante repetir cuidadosamente as informa-
não saiba nada do assunto, mas seja extremamente
ções mais complexas. Fale devagar também para
cuidadoso e inquisidor (mesmo sobre coisas triviais),
produza uma matéria melhor do que um especializado. É preciso ter paciência para explicar, pois são raros dar tempo para que o repórter faça as anotações.
os jornalistas ultraespecializados (e quando o são,
Mauro Bellesa, Assessoria de Comunicação do IEA às vezes isso pode até atrapalhar, pois acabam não •• Embora esta situação ocorra pouco em repor-
fazendo as perguntas mais básicas). O jornalista não
tagens de divulgação científica, que não costu-
tem a obrigação de ser especializado no assunto.
•• Em última análise, conceder ou não uma entre- mam envolver “segredos de Estado” ou grandes
vista é uma escolha sua. Mas se decidiu não Ricardo Zorzetto, editor de Ciência da revista polêmicas, o jornalista sabe respeitar quando
Pesquisa Fapesp
dar a entrevista sobre um determinado assunto você diz que uma declaração é “confidencial” ou
para um veículo, não a dê para outros. Isso cria em off record. Ele não quer ficar com má reputa-
uma situação delicada inclusive para a institui- •• Muito mais do que os métodos, coloque em foco ção perante alguém que pode voltar a ser sua
ção, que parecerá estar desvalorizando deter- os resultados do seu trabalho. Ao explicar “como” fonte. Mas sempre diga isto antes, e não depois
minado órgão de imprensa. aquilo foi alcançado, continue se orientando pe- de dar a declaração, e espere ouvir o jornalista
los valores da simplicidade e objetividade. E te- confirmar que aceitou o acordo.
•• Pelo mesmo motivo, não é recomendável ofere- nha à mão materiais ilustrativos didáticos.
cer “entrevistas exclusivas” - até pelo fato de, em •• Você deve saber, porém, que há sempre laranjas
alguns casos, se tratar de informação pública, já •• É recomendável citar, sempre que possível, a podres entre as boas, então alguns jornalistas
que é produzida em uma instituição pública. “marca” USP nas respostas, particularmente em da mídia externa podem não honrar esse acor-
gravações ou entrevistas ao vivo de rádio e TV. do. Se por algum motivo não sentir confiança no
Durante Isso garante que o crédito institucional do traba- repórter, não deixe de conceder a entrevista, mas
lho seja dado à Universidade. faça isso lembrando-se sempre que tudo que for
•• Escolha um lugar silencioso para conceder a en- dito vai ser considerado oficial. Fuja de colocar a
trevista. Principalmente no caso de gravações •• Se notar que alguma informação relevante não si mesmo numa situação desconfortável.
de rádio e vídeo. Mesmo o barulho do ar-condi- foi questionada pelo repórter, dê um jeito de
cionado pode atrapalhar. Lembre-se também de mencionar o assunto na entrevista. Você pode,

14
Por vezes, os jornalistas tentam estender os temas para •• Ao final, dê ao jornalista seu cartão para ter cer-
áreas incômodas, como a da política partidária: cabe teza de que ele pegou o seu nome, instituição
ao entrevistado, com elegância e diplomacia, manter o e departamento corretamente. No caso de não
foco sobre o tema da entrevista, podendo falar sobre
ter um disponível, ou de estar ao telefone, sole-
a política nacional do setor no qual se insere a sua
pesquisa ou estudo. Mas só isso. tre seu nome, dizendo também sua profissão e
função e/ou cargo. Apesar de ser obrigação do
Rui Sintra, Assessoria de Comunicação do IFSC
repórter se certificar destas informações, é pru-
dente não dar margem ao erro.
•• Caso trabalhe com pesquisa aplicada, certifi-
que-se de não estar fornecendo informações Depois
que, se divulgadas na mídia, inviabilizarão um
eventual pedido de patente para aquela ideia ou
produto. Isso não o impede de falar sobre seu •• Caso não tenha feito isso antes da entrevista,
trabalho - é preciso apenas estudar quais pon- envie material de referência, imagens dos labo-
tos podem ser abordados. ratórios, da equipe, do protótipo, do trabalho de
campo, da pesquisa em si acontecendo.
•• Evite fazer críticas improdutivas a outros jornalis-
tas ou mesmo à mídia em geral. É constrangedor •• Não há problema em perguntar ao jornalista se
aos jornalistas que realizam seu trabalho de for- existe previsão da publicação da reportagem.
ma responsável ter que ouvir generalizações de- Mas muitas vezes essa previsão poderá não ser
negrindo o trabalho da imprensa. Imagine como cumprida. As chamadas matérias quentes, que
seria ruim você marcar uma reunião com alguém envolvem datas e acontecimentos, são veicula-
de quem necessita para fazer seu trabalho e essa das no dia seguinte ou no mesmo dia. Em ou-
pessoa gastasse metade do tempo reclaman- tros casos as matérias podem ser aproveitadas
do da postura dos cientistas ou das mazelas do em data posterior.
meio acadêmico. Procure extrair o que há de bom
na relação com a mídia e colocá-la a favor do seu •• É absolutamente normal que um tema denso e
trabalho, da instituição de que faz parte e, princi- que rendeu uma extensa conversa seja tratado
palmente, do público que será atingido. em poucas linhas ou segundos. Espaço vale
muito, seja em linhas ou em tempo no vídeo/
•• Pedir para o jornalista ler o que ele anotou ou “di- rádio. E, afinal, é isso que o consumidor de no-
tar” uma resposta para que ele anote pode soar tícias espera do jornalista: que resuma os pon-
arrogante e até mesmo ofensivo. tos mais importantes.

15
Recentemente uma professora que entrevistei ficou •• O pedido para revisar o texto, no entanto, é alta- •• O título não costuma ser elaborado pelo repór-
brava porque apenas uma fala dela foi publicada na mente improvável de ser aceito na mídia externa ter, e sim pelo editor, que também escolhe as
matéria. Disse que perdeu o tempo dela e aquela - e algumas vezes difícil de ser atendido mesmo imagens que estarão na matéria.
frase nem era a mais relevante. Mas a relevância na mídia interna. Mas se o repórter por si mes-
vai de acordo com o que interessa ao público do mo sentir essa necessidade e enviar a você o •• Caso você tenha notado alguma incorreção rele-
jornalista. Ela está sendo ouvida, mas precisa
texto ou trechos dele, procure se ater à revisão vante após a divulgação, entre em contato com
entender que é um subsídio à matéria.
técnica, conceitual. Mais nas ideias, e menos o jornalista para uma possível errata ou correção
Claudia Collucci, repórter especial e colunista da na forma. Se, por um lado, é verdade que cons- (no caso de material on-line).
Folha, especializada em saúde trução de uma matéria científica é um trabalho
conjunto de repórter e entrevistado, por outro, é Alguns jornalistas odeiam quando lhes pedem
•• Em certas situações a pauta pode inclusive não bastante desagradável ao jornalista ver seu ma- que enviem um artigo para uma pessoa que foi
ser publicada (“cair”) ou a entrevista que você terial alterado em questões puramente de estilo, entrevistada antes da publicação, porque sabem
por experiência que os cientistas (e outros) muitas
deu ser cortada, por critérios do editor do veícu- ou sofrer interferências nas suas escolhas ao
vezes querem mudar mais que os fatos. (...) Em vez
lo. Não se sinta ressentido com o repórter, pois, formular o texto. Há também um problema éti- disto, peça-lhes que leiam para você informações e
na maioria das vezes, não é ele o responsável co em enviar o texto inteiro antes da publicação números para que possa verificar a precisão.
por esta decisão. pois, em geral, a matéria envolve outras fontes. Marina Joubert, gerente do Programa de Divulgação
Se o pesquisador insistir, por vezes o jornalista Científica em Biotecnologia, África do Sul
Boas fontes tendem a ser bastante desprendidas. procurará outra fonte.
Elas entendem que eu entrevisto mais pessoas do que
eu poderei citar em uma notícia. Muitas entrevistas •• Não se atenha a erros de digitação e gramática. •• Por último, tenha sempre em mente que uma
realmente úteis não conseguem, no final, ir para o
Lembre-se que até mesmo o texto ou trechos matéria jornalística - inclusive aquela realizada
papel. Mas elas me ajudam a entender o contexto.
revisados pelo entrevistado passarão por uma pelas mídias internas da USP - tem um formato
Erik Stokstad, redator da revista Science edição final do editor do veículo, e isto não está próprio, muito diferente de um texto acadêmico.
no controle do repórter. Mas fique tranquilo pois E isso, como dissemos, inviabiliza inclusão de
•• O jornalista que trabalha com ciência sabe que o editor deve ter bom senso e não interferir na citações, referências, listagem por extenso do
ele é leigo naquele assunto, e entrará em contato parte técnica ou conceitual do que foi dito na nome de todos os profissionais envolvidos num
se surgirem dúvidas na elaboração da matéria entrevista. Nem irá alterar o conteúdo das suas determinado projeto (e que não tenham falado
ou se se sentir inseguro com o resultado final. falas diretamente transcritas entre aspas. na matéria), agradecimentos aos financiadores,
Deixe espaço aberto para isso. entre outras coisas.

16
Press Release
Também chamado de aviso ou sugestão de conclusões devem vir antes de tudo, ou seja, de
pauta, o press release é uma ferramenta útil para histórico, metodologia, informações institucio-
sugerir uma pauta para um ou mais veículos nais, etc. Acostume-se a redigir o press release
jornalísticos. Nada mais é do que um pequeno na ordem inversa do que você faria num artigo
texto resumindo um assunto que você ou o as- para um periódico científico.
sessor de imprensa considera relevante para se
tornar uma reportagem. •• Dê ao texto e ao assunto da mensagem um títu-
Mais do que nunca, nele vale a regra de ir dire- lo curto, que tente informar (ao máximo que uma
to ao ponto, lembrando que jornalistas e editores sentença curta permitir) do que se trata a pauta.
costumam receber centenas de releases todos os
dias - e ignorar a maioria, ou por que o assunto •• As perguntas ensinadas ao estudantes de jornalis-
sugerido não combina com a linha editorial do ve- mo que aprendem a escrever uma notícia também
ículo, ou porque não traz nada de interessante, ou podem ser aplicadas, logo na abertura do texto.
quem sabe até trouxesse, mas o texto não soube ˚˚ Quem (está envolvido ou fez a pesquisa)?
“vender” isso ao destinatário. ˚˚ O quê (é novo ou relevante)?
Um texto claro com informações fáceis de en- ˚˚ Por quê (é novo ou relevante)?
contrar faz toda diferença. Como na maioria das ˚˚ Onde (foi feita a pesquisa ou será publicada)?
vezes o jornalista não tem tempo (ou por comodis- ˚˚ Quando (será publicada ou haverá algum
mo), ele acaba pegando o release mais fácil para evento importante relacionado)?
finalizar o texto a ser publicado. ˚˚ Quem o jornalista deve entrevistar a respei-
Assessorias de imprensa normalmente enviam to, além de você? (fornecer os seus conta-
press releases diariamente para uma lista de veícu- tos completos e de outras possíveis fontes,
los. Mas se não houver um assessor de imprensa quando houver)
disponível na sua unidade para fazer isso, é possí-
vel ao próprio cientista adaptar-se à “fórmula” deste •• E, por fim, disponibilize:
tipo de comunicação, para enviá-la a jornalistas. ˚˚ Uma minibiografia, com algumas informações
sobre você e/ou a pessoa responsável pela
•• Apresentar as coisas mais interessantes no iní- pesquisa/projeto (biografia e currículo resumi-
cio do texto, escrever na voz ativa, usar lingua- do) e sobre as instituições em que ocorre.
gem simples, evitar (ou explicar) termos técni- ˚˚ Anexos. Se dispuser de fotos ou pequenos
cos e siglas são algumas regras. Mas talvez a vídeos, eles já podem ser enviados junto
mais importante delas é que os resultados e com o press release.

17
Faça parte da rede
Alguns cientistas utilizam pouco o potencial da Estudos indicam que o uso do Twitter, por exemplo, Se possível, obtenha um URL (endereço)
rede para a divulgação e popularização da ciên- pode impactar positivamente o número de vezes informativo. <www.fisicadovacuo.br> diz mais que
cia. Acontece que uma proporção cada vez maior que um artigo científico é citado. Artigos que são <http://ifv~content/index> por exemplo.
das pautas são levantadas pelos jornalistas sem muito “tuitados” têm 11 vezes mais chance de Mantenha o mesmo nome de usuário nas
sair da cadeira, apenas “fuçando” na web. serem altamente citados do que aqueles sobre os diversas plataformas.
quais poucas pessoas tuitaram
Assim, para ter visibilidade, o mínimo recomen- Divulgue/conecte os perfis/páginas/contas uns
dável ao pesquisador é ter na rede uma página de Eysenbach, 2011 aos outros.
apresentação dos seus trabalhos e do seu grupo Mantenha a informação atualizada. Isso
de pesquisa. Pode ser um blog ou uma página Existem ainda redes sociais criadas especial- não significa fazer posts todos os dias, ou
pessoal dentro do website da sua unidade ou nú- mente para a troca de informação científica (ex.: várias vezes por dia. Basta manter uma certa
cleo - o Currículo Lattes não vale aqui. Google Scholar, ResearchGate, Academia.edu), periodicidade, habituando seus leitores a ela e
que são também uma forma de contribuir para a não os desiludindo quando visitam sua página e
Manter a reputação na Web significa, principalmente, visibilidade das pesquisas e publicações. Ao pro- não encontram nenhuma atualização.
controlar a informação pessoal espalhada pela internet, curar informações sobre cientistas em buscado- Assuma que nada é privado, então preste muita
criando alguma coerência na sua apresentação. res, costuma-se utilizar o nome profissional da atenção ao que escreve.
Ana Sanchez pessoa, acrescido do nome da instituição ou área Postagens com fotos ou vídeos têm
de conhecimento. Assim, a primeira informação normalmente mais interações.
A página deve conter seus contatos atualiza- com que as pessoas se deparam são os dados As postagens, salvo as limitações de cada
dos, os assuntos que você estuda e realizações acadêmicos e as redes sociais profissionais em suporte, podem ser grandes ou pequenas, mas
recentes. Também é útil disponibilizar uma foto que o pesquisador está inscrito. precisam ser interessantes e bem escritas.
sua atual em boa resolução e fotos da pesquisa Apesar de serem necessários meios técnicos Colocar conteúdo demais on-line, especialmente
em execução e/ou relacionadas ao tema pesqui- e uma equipe especializada para produção de se for repetitivo, pode espantar os seguidores,
sado (desde que você tenha os direitos de uso conteúdos com mais qualidade, é possível fazer Interagir com os que nos leem é essencial para
dessas imagens). Tudo isso pode constar tam- até mesmo sozinho vídeos simples de divulga- manter o interesse no que dizemos.
bém em um perfil público seu ou do seu grupo de ção. Os vídeos constituem o conteúdo mais par- Em páginas, blogs e perfis profissionais, fique
trabalho nas mídias sociais (ex: Facebook, Twitter, tilhado nas redes sociais, por isso é interessante longe de discussões sobre política e temas
LinkedIn, Instagram, YouTube, Google Plus). manter um canal no YouTube. Por mais curto e controversos quando isso não fizer parte do
singelo que seja um vídeo, sua visibilidade será contexto da sua área de pesquisa.
muito maior do que um conteúdo escrito, mesmo Adaptado de Redes Sociais para Cientistas
que de grande apelo.
Conheça alguns exemplos na seção de cases

18
A incursão nas mídias sociais deve ser uma Mas o essencial sobre divulgação e populariza- COLECIONADORES DE OSSOS
escolha refletida pelo pesquisador, que deve ção da ciência tem a ver com valores e visão de
considerar em quais vale a pena investir ou não. mundo - e isso não muda a todo momento. O cien-
Seja qual for o meio on-line ou a rede social em tista que aderiu a essa causa sempre vai encontrar
questão, porém, manter na internet dados e um um modo de colocá-la em prática, seja de maneira
perfil atualizado possibilita que o pesquisador independente, seja com a ajuda de especialistas
tenha controle sobre a informação que os ou- em comunicação. E é para isso que os comunica-
tros recebem sobre ele. dores da Universidade estão aqui. Conte conosco!
Além de facilitar a sua presença nos meios de
comunicação e aproximar pessoas com interes-
ses comuns, isso ajuda a garantir que Youtubers
Aline Ghilardi é paleontóloga com formação em
...nos conhecem pelas áreas científicas em que nos biologia, mestrado em ecologia e doutorado em ge-
interessa investir no momento e não por outros temas CANAL DO PIRULA ologia. Produz o Colecionadores de Ossos com o
em que já possamos ter trabalhado. Podemos também marido Tito Aureliano, também paleontólogo. Como
sublinhar as instituições com as quais temos mais
conta reportagem da BBC Brasil, recentemente, re-
afinidade. Podemos ainda manter atualizada a lista de
materiais que se produzem, desde artigos científicos cebeu ajuda de fãs do canal para localizar ossadas
até documentos de rascunho ou apresentações. Tudo mesozoicas no interior de Pernambuco.
isto aumenta as probabilidades de a nossa produção
científica ser identificada, lida e citada. Aumenta SPACE TODAY
também a quantidade de pessoas com interesses
semelhantes que podemos localizar, bem como com
grupos de trabalho de interesse noutros locais do
mundo.
Ana Sanchez
Paulo Miranda Nascimento, o Pirula, é paleon-
Por fim, alguma palavras tranquilizadoras para tólogo, com formação em Biologia e mestrado e
quem se sente perdido neste mar de novas pla- doutorado em Zoologia. O Canal do Pirula trata de
taformas, tecnologias, redes sociais. Sabemos ciências, meio ambiente, religião e política. Com
que elas parecem mudar tão rápido que, quan- mais de 670 mil inscritos e 66 milhões de visu-
do finalmente aprendemos sobre uma, já surgiu alizações, foi premiado como influenciador em
outra, e aquela primeira perdeu importância. Os Educação no Shorty Awards 2014. Pirula é tam- O geofísico e doutor em geociências Sérgio
jornalistas também sofrem um pouco com essa bém um dos criadores do ScienceVlogs Brasil, que Sacani é quem está por trás do canal dedicado à
insegurança, especialmente num momento de reúne canais de divulgação científica para “juntar astronomia. Na descrição ele informa que o tema
“crise existencial” da profissão - onde o nosso pa- forças para reduzir essa ‘onda’ anticiência na inter- será debatido sempre com base nas últimas pes-
pel como intermediários tem sua relevância cada net”, conforme ele afirma em vídeo. quisas científicas. “Não nos curvaremos ao sen-
vez mais questionada. sacionalismo barato que só degrada a imagem

19
da astronomia e das ciências em geral no nosso MATEMANÍACA
país. Não entraremos em confusões, discussões
não embasadas e tretas para fazer o canal cres-
cer.” A abordagem tem encontrado um público fiel:
o Space Today tem quase 250 mil inscritos e 18
milhões de visualizações.

NERDOLOGIA

Os cabelos rosa-choque de uma jovem recém-formada


pela USP dão o tom da matemática irreverente, e bela,
que Júlia Jaccoud quer levar ao público através da sua
câmera. Como relata matéria do Jornal da USP sobre o
canal e sua produtora, o que começou como ‘um canal
de aulas diferentes’, para falar que matemática é legal,
virou uma plataforma de divulgação científica. “(...) o
objetivo de Júlia é apresentar a beleza da ‘inutilidade’ da
Desenvolvido por Atila Iamarino, doutor em Mi- matemática, isto é, mostrar que a matemática vai muito
crobiologia, o canal Nerdologia comenta de forma além de sua aplicabilidade e que é, também, uma forma
de arte. Ao que tudo indica, ela conseguiu alcançar seu
embasada em ciência assuntos que aparecem em
objetivo e está contribuindo para despertar o encanto
filmes e séries. Entre outros vídeos, o canal explica pela matemática e esclarecer dúvidas”.
como era a ciência soviética no século 20, como
Denise Casatti, Assessoria de
ocorrem epidemias e qual é a lógica por trás da
Comunicação do ICMC
armadura do homem de ferro.

20
Créditos

Universidade de São Paulo Profissionais que colaboraram para a redação deste guia

Reitor USP Mídia externa


Prof. Dr. Vahan Agopyan Adriana Cruz Marcelo Gimenez Cláudia Colucci - Folha de S. Paulo
Ana Paula Chinelli Maria Eugênia Gouvêia Ricardo Zorzetto - Pesquisa Fapesp
Vice-reitor Antonio Quinto Mauro Bellesa Ulisses Capozzoli - Scientific American Brasil
Prof. Dr. Antonio Carlos Hernandes Cacilda Luna Natália Dourado
Aparecido Tavares Neylor Fabiano
Superintendência de Comunicação Social Cinderela Caldeira Paulo Andrade
Denis Pacheco Roberto Castro
Superintendente Denise Casatti Roberto Hirata Jr
Luiz Roberto Serrano Dorival Pegoraro Rosemeire Talamone
Eduardo Vidal Rui Sintra
Superintendente Adjunta Flávia Maia Simone Lopes
Marcia Blasques Gabriel Almeida Sushila Claro
Gabriela Bidin Tatiana Zanon
Redação Hérika Dias Thaís Cardoso
Aline Naoe e Luiza Caires Ivete Fortunato Valéria Dias
Luciana Silveira Verônica Cristo
Edição de texto Marcela Baggini
Luiza Caires

Projeto gráfico e diagramação


Caio Vinícius Bonifácio

21
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so em 02/02/2016. brasil-42072188. Acesso em 03/06/2018.
CANAL DO PIRULA (YOUTUBE) - Pela união dos
seus poderes... #SVBR #sciencevlogsbrasil REVISTA GALILEU - Vlogueiros se unem para criar UNB - Universidade de Brasília. Guia Prático de Re-
#Pirula 134 canal de divulgação científica de qualidade. lacionamento com a Mídia. Brasília: Editora
Disponível em https://revistagalileu.globo. da Universidade de Brasília, 2012. Disponí-
Disponível em: https://www.youtube.com/ com/Ciencia/noticia/2016/03/vlogueiros- vel em: http://www.secom.unb.br/imagens/
watch?v=S-gMy0i5350. Acesso em -se-unem-para-criar-canal-de-divulgacao- guia_pratico.pdf. Acesso em 18/01/2015.
08/03/2018. -cientifica-de-qualidade-1.html. Acesso em
WIKIPÉDIA - Verbete: Pirula. Disponível em: https://
EYSENBACH, Gunther. Can Tweets Predict Cita- 04/06/2018.
pt.wikipedia.org/wiki/Pirula. Acesso em
tions? Metrics of Social Impact Based on 03/06/2018.
Twitter and Correlation with Traditional Me-

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Anexo - cases de sucesso
Gente que faz - e fala! A fala é de Marcelo Zuffo, líder do Centro Inter- “Divulgação científica não é um bicho de sete cabeças,
mas a gente tem que saber traduzir. E selecionar. Nem
disciplinar em Tecnologias Interativas da Escola
Os cientistas citados abaixo (apenas alguns Politécnica (Poli) da USP, que já há anos colabora tudo pode ser traduzido para uma linguagem palatável.
A área de saúde desperta interesse, mas se eu começar
entre diversos exemplos!) são referência na sua com a comunicação da USP para divulgação dos
a falar de aspectos muito técnicos de genes, por
área de pesquisa e têm sempre contado com a trabalho do seu grupo. Ele conta que pesquisas exemplo, mesmo que seja uma descoberta importante,
parceria dos comunicadores da USP e fora dela divulgadas primeiro pela equipe de comunicação não terá apelo.”
para levar os resultados de seu trabalho para da USP ganharam repercussão nacional e inter-
além do meio acadêmico. Mas atenção: não é nacional. Na imagem, da esquerda para a direita,
só desses nomes conhecidos que se faz popu- Marcelo Zuffo (Poli-USP), Maria Luiza Tucci Car-
larização da ciência. Jovens cientistas e pesqui- neiro (FFLCH-USP), Antônio Carlos Quinto (Jornal
sadores um pouco mais tímidos podem e devem da USP) e Ernane Xavier da Costa (FZEA-USP) - os
começar a expor mais seu trabalho, divulgando dois professores ao lado do jornalista também
os progressos conquistados. É bom para a USP, mantém uma parceria de sucesso com o time de
é bom para o cientista, é bom para a ciência. E é comunicação da USP.
bom para as pessoas de uma maneira geral.
“Ao divulgar os frutos de nosso trabalho, conferimos
“Quando o [jornalista Antonio Carlos] Quinto me liga a ele transparência e ao mesmo tempo damos
perguntando se tem alguma novidade, tenho pensado uma satisfação à sociedade de forma informativa A geneticista Mayana Zatz é coordenadora do
muito bem antes de responder que sim. Porque a e reveladora. Sempre que fui exposto à mídia pelo
Centro do Genoma Humano da USP. Para ela, é
repercussão da divulgação científica às vezes é tão jornalismo científico da USP me vi: importante,
fiscalizado e realizado”. fundamental mostrar a importância da ciência e
grande que é preciso pensar bem antes de querer esse
tipo de exposição. É preciso coragem”. do desenvolvimento tecnológico para o Brasil, para
Assim conta o professor Ernane Xavier, e defen- que não precisemos importar ciência dos outros
de que, para além das publicações dos artigos em países - e nem perdermos cérebros. “As pessoas
revistas científicas especializadas, há que se levar precisam saber que estamos fazendo ciência de
em conta a divulgação dos resultados também qualidade e não deixar os jovens cientistas irem
para aqueles que, em tese, financiam a pesquisa embora.” Ela ressalta, no entanto, que a mídia deve
e que em sua maioria são leigos no assunto. Ele evitar sensacionalismo ou distorções que podem
diz que quando dá uma entrevista, sabe que “os gerar confusão. “A pergunta que sempre nos fa-
profissionais vão tornar público de forma eficiente zem é ‘quanto tempo leva para virar tratamento?’ e
o resultado do que faço na USP”. na maioria das vezes a gente não pode dizer isso,
mas que estamos fazendo todos os esforços para
que seja o mais rápido possível”.

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“Muito do trabalho de divulgação científica que faço é A historiadora Maria Aparecido de Aquino, pro-
por meus contatos diretos com jornalistas e meios de fessora titular aposentada da FFLCH, é uma figura
comunicação”. conhecida nos meios de comunicação. Ela conta
que, desde que deu uma entrevista sobre o ataque
de 11 de setembro de 2001, não parou mais de ser
procurada. Ela se sente à vontade para falar na TV,
facilidade que atribui, em parte, à sua experiência
no ensino médio e fundamental, “que todos os pro-
fessores da Universidade deveriam ter”. “É lá que a
gente aprende a dar aula”, defende. Seja na TV ou
Especializada em esporte olímpico, a professora fora dela, “todos os cientistas podem e devem mos-
Katia Rubio ressalta que o assunto precisa ser dis- trar seu trabalho para o público”, completa.
cutido não só nas proximidades dos Jogos, até por-
“Estou convencido de que nós precisamos ter uma
O físico Paulo Artaxo está na lista dos pesquisa- que há muitos desdobramentos e impactos sociais
atuação mais proativa na divulgação científica. Diminuir
dores mais influentes do mundo, concentrando-se do esporte. “Em alguma medida, o cientista sem- o analfabetismo científico, que causa muitos problemas
especialmente em entender aspectos climáticos pre olha para a sociedade para fazer seu trabalho, para a sociedade. E não é uma coisa de um indivíduo: a
do bioma amazônico. Mesmo com sua pesquisa buscando uma solução para um problema que ela gente precisa organizar isso institucionalmente. Nisso,
intensiva, Artaxo sempre encontra lugar na agenda coloca. Falar com o público é devolver isso para as as nossas instituições ainda são muito deficientes.”
para falar com a imprensa. Para ele, “a USP deve pessoas”, resume.
fazer um forte esforço para que o conhecimen-
to científico gerado atinja a população, especial- “Toda boa pesquisa nos leva a algo inédito. O que
mente aquela sem acesso à Universidade”. Não você está produzindo em termos de pesquisa é
basta somente publicar artigos relevantes - fazer absolutamente único, e é isso que deve ser transmitido
- se não, pode acabar ficando entre as quatro paredes
este conhecimento chegar à população em geral é
da sala onde você defendeu sua tese, por exemplo.”
mais importante ainda, de uma maneira mais am-
pla, clara e eficiente.

“Nunca me recuso a falar com um profissional da Diagnosticar essas deficiências não desmotiva o
imprensa. Muitas vezes quando falei para o Jornal da astrofísico João Steiner, professor titular do Instituto
USP fui procurada por outros veículos em seguida. de Astronomia e Geociências. Ao contrário, ele acre-
Divulgação científica não é somente uma oportunidade
dita ser preciso aproveitar o ânimo que a divulgação
para mostrar o que se está fazendo, como um modo de
pautar a sociedade sobre temas importantes.” científica vem ganhando nas últimas duas décadas.
Suas ações neste sentido incluem participação em
eventos abertos ao público, como o TEDxUSP, pales-
tras em escolas, e uma coluna na Rádio USP, Enten-
der Estrelas, de divulgação da astronomia.

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