Eu tenho uma dúvida:
QUAL A ORIGEM E O SIGNIFICADO
DO SACRAMENTO DA CRISMA?
O tema da instituição do sacramento por
parte de Cristo, dos apóstolos ou de
algum concílio sempre ocasionou uma
profunda disparidade de opiniões, e a
própria Igreja jamais se pronunciou de
forma explícita a este respeito. Os textos
de At 8,4-17, At 19,1-7 e Hb 6,1-3
frequentemente são utilizados nas
tentativa de se demonstrar a existência
já nos tempos apostólicos de um rito
particular, diferente do Batismo, que
mais tarde foi chamado de Confirmação,
no qual comunicava-se o Espírito Santo
pela imposição das mãos. Ora, toda a
antiga tradição atribui aos ritos pós-
batismais a prerrogativa da oferta do
dom do Espírito Santo aos neófitos. É no
contexto das cerimônias conclusivas do
Batismo, que se encontra a forma
primitiva daquilo que atualmente é
chamado de sacramento da Confirmação.
“Na Confirmação acontece uma comunicação da própria pessoa do Espírito
Santo, visto que ela desempenha o seu papel de sacramento que assimila e
incorpora os fiéis a Cristo, a fim de que sejam fortificados de modo especial
para ser testemunhas, propagadores e defensores da fé” .
O rito romano documentado mais antigo
é aquele apresentado pela Tradição
Apostólica de Hipólito, na primeira
metade do séc. III. Através deste
documento, pode ser deduzido, entre
outras coisas, o seguinte:
a) o rito de séc. III foi conservado
praticamente idêntico em seus
elementos até os nossos dias;
b) já desde a época pós-apostólica existia
uma segunda “unção” que, juntamente
com a “imposição das mãos e oração de
invocação do Espírito Santo”, constituía,
em relação ao Batismo, um rito à parte
com significado e valor próprios. Esta
constatação também pode ser
evidenciada pelo fato desse rito ser
atribuído como próprio e reservado ao
bispo;
(Beato Paulo VI, papa. Séc XX)
LUIS CARLOS PEREIRA
c) a “imposição das mãos e oração de
invocação do Espírito Santo” são os ritos
característicos da Confirmação,
enquanto sacramento que doa o Espírito
Santo;
d) para estabelecer o significado da
Confirmação deve ser evidenciada a
conclusão com a qual Tradição Apostólica
encerra a descrição do rito: “Em seguida,
rezarão com todo o povo, não podendo
rezar com os fiéis enquanto não atingirem
tudo isso”. Nesse sentido, estes ritos
têm, na sua especificidade, a qualidade
de concluir o processo de iniciação cristã
já na Igreja primitiva.
O antigo rito da Tradição Apostólica ficou
substancialmente conservado nos séculos
seguintes, mas, posteriormente, se
passou a dar maior ênfase ao gesto da
unção com crisma do que ao da imposição
das mãos. No séc. XII, por exemplo, a
fórmula que acompanhava a crismação –
“eu te assinalo com o sinal da cruz e te
confirmo com o crisma da salvação, em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”
– mesmo tendo a vantagem de sublinhar a
unção, na realidade não exprimia de
nenhum modo a relação desta com o dom
do Espírito Santo, objeto do sacramento.
Por isso, por ocasião da reforma do Rito
da Confirmação proposta pelo Concílio
Vaticano II, o papa Paulo VI promulgou,
no ano de 1971, a Constituição Apostólica
Divinae Consortium Naturae, com a qual
intervém para determinar aquilo que é
essencial ao se conferir o sacramento,
seja quanto ao rito, seja quanto à
formula. De qualquer forma, o Ritual da
Confirmação apresenta este como sendo
o rito com o qual se “confere” e se
“comunica” o Espírito Santo. Outro
questão importante é que, ainda hoje na
Igreja latina, o bispo é considerado o
ministro próprio e originário deste
sacramento. No Oriente, o poder de
conferir a Confirmação passa de forma
estável do bispo para o presbítero a partir
do séc. IV.
Continua na próxima semana...