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COMUNICAÇÃO
Marina Costa
Revisão técnica:
IISBN 978-85-9502-236-2
CDU 007
Introdução
A comunicação faz parte da vida do ser humano desde o surgimento
da própria humanidade. O ser humano é um ser social. Ele não vive de
forma isolada e se comunica desde o passado mais remoto para ter as
suas necessidades básicas atendidas. Hoje, as pessoas se comunicam
para trocar informações, para se entreter, se integrar ao grupo, satisfazer
as suas necessidades econômicas e afetivas.
Neste texto, você vai saber mais sobre a origem etimológica do termo
comunicação. Também vai conhecer os fundamentos científicos da co-
municação e aprender sobre a história dos processos comunicativos.
O termo communicatio é formado por três elementos. Munis significa “estar encarregado
de” e, junto ao prefixo co, indicativo de simultaneidade, dá origem à ideia de “atividade
realizada conjuntamente”. A terminação tio reforça a ideia de atividade. Esse foi o
primeiro significado do termo, quando utilizado pela primeira vez, no vocabulário
religioso (MARTINO, 2013).
Comunicação e história
A respeito do início da comunicação humana, ainda há muitas dúvidas e um
território fértil para investigações. Não se sabe, de fato, se na Pré-história os
seres humanos se comunicavam por gritos e grunhidos, assim como os animais,
ou por gestos, ou ainda por uma mistura de tudo isso (DÍAZ BORDENAVE,
1982). Sobre a origem da fala humana, se cogita que teve início com a imitação
dos sons da natureza, como os das cachoeiras, rios e animais. Outra hipótese
seria a de que os sons humanos começaram com as exclamações espontâneas,
por exemplo, “ai” devido a uma dor, ou “ah” por admiração a algo. Além disso,
especula-se que, nessa época, a comunicação também ocorria por sons emitidos
por batidas das mãos e dos pés, bem como pelo uso de pedras e troncos ocos
(DÍAZ BORDENAVE, 1982).
O fato é que o ser humano passou a considerar alguns elementos como
representantes dos significados de outros elementos, e assim surgiram os sig-
nos. Ou seja, as pessoas da Pré-história associaram sons e gestos a objetos ou
ações. Os sons e gestos, nesse contexto, seriam então os signos, compartilhados
socialmente, e o repertório dos signos, bem como as regras de combinações entre
eles, necessárias para haver o entendimento do grupo social, deram origem à
linguagem. Graças a essas regras de combinações, que você conhece como gra-
mática, as intenções dos interlocutores ficam mais claras (DÍAZ BORDENAVE,
1982). Já imaginou se o seu amigo dissesse “o doce comeu ela” em vez de “ela
comeu o doce”? A ordenação dos signos permite a eficiência da comunicação.
Mais tarde, para manifestar as mais diferentes intenções dos interlocutores,
os seres humanos passaram a usar a linguagem de diversos modos: indicativo,
interrogativo, imperativo ou declarativo. Também se percebeu que na lingua-
gem algumas palavras manifestavam uma ação ou o nome de algo, etc. Mas
claro que ainda não havia as designações “verbo” ou “substantivo” (DÍAZ
BORDENAVE, 1982).
A linguagem oral, apesar de sua eficiência, tinha duas grandes limitações:
não era permanente e não tinha grande alcance. Diante desses desafios, os seres
Figura 1. Réplica exposta no Museu Nacional de Altamira de uma pintura rupestre pré-
-histórica da caverna de Altamira, na Espanha.
Fonte: EQRoy/Shutterstock.com.
https://youtu.be/Rft3s0bGi78
Por meio do exemplo do Mito da Caverna, você pode perceber que Platão
refletiu com profundidade sobre a comunicação, mas dentro de uma perspectiva
negativa. Platão acreditava que havia um Mundo das Ideias, das essências, que
antecedia a materialidade. Para ele, quando o ser humano recebia um corpo,
guardava apenas um fragmento desse outro mundo. A caverna seria então
uma referência ao corpo, e as sombras na parede seriam metáforas dos objetos
materiais. De acordo com essa perspectiva, o acesso ao conhecimento seria
dificílimo para a maioria das pessoas, com exceção dos filósofos (estes, devido
à sapiência extraordinária, deveriam inclusive administrar a sociedade). A partir
daí, Platão pode levar você a refletir sobre a impossibilidade da comunicação.
Já para Aristóteles (384 – 322 a.C.), que foi discípulo de Platão, a comu-
nicação é, sim, possível. Em Retórica, ele aborda os discursos – aquilo que
diz respeito a alguma coisa. Segundo Aristóteles, o ser humano é um animal
social, um ser coletivo, e não uma individualidade. Vivendo socialmente, o
ser humano usa a razão, traduzida em linguagem. Além disso, para viver bem
e feliz no grupo, ele precisa da retórica. Esta é o conhecimento dos meios e
estratégias para alcançar a persuasão.
Na situação da retórica, três elementos estão presentes: o que fala, aquilo
de que fala e aquele a quem fala. Assim, Aristóteles foi o primeiro a formular a
situação comunicativa. Ele também aborda três gêneros de discursos oratórios:
deliberativo, judiciário e demonstrativo. No primeiro caso, que trata sobre o
futuro, se aconselha ou se desaconselha algo. No segundo caso, voltado para
o passado, uma ação judiciária comporta a acusação e a defesa. E o terceiro
caso, referente ao presente, comporta duas partes, o elogio e a censura.
O modelo pioneiro na contemporaneidade da Teoria da Comunicação, de
Harold D. Lasswell, tem muito do trabalho de Aristóteles (HOHLFELDT,
2013). Observe:
Aristóteles – a pessoa que fala → o assunto → a pessoa a quem fala
H.D. Lasswell – emissor (fonte) → mensagem → receptor
A diferença entre as duas teorias é que Lasswell acrescentou “em que
canal e com que efeitos” ao processo comunicacional. Por outro lado, Aris-
tóteles tratou da questão dialógica do processo ao refletir sobre os gêneros
citados. Nesse sentido, a pessoa que fala espera uma resposta do outro ou
quer convencê-lo de algo.
Partindo para o contexto de Roma, do século I a.C. ao século I d.C., o que
havia eram medidas no âmbito da comunicação para controle social e garantia
de poder. Os governos romanos se mantinham bem informados, se antecipavam
às crises, garantiam informação e opinião consensual. O primeiro dos 12
imperadores romanos, Caio Júlio César (102 – 44 a.C.), costumava escrever
Júlio César instituiu a acta diurna. O Senado era obrigado a registrar em papiros os
conteúdos dos debates da Casa, que depois eram afixados nos muros da instituição.
Mais tarde, esses registros passaram a ser copiados e distribuídos nas diversas regiões
do Império, uma prática que antecipou as folhas noticiosas do século XVI (HOHLFELDT,
2013). Posteriormente, o sobrinho-neto e herdeiro de Júlio César, César Augusto (63
a.C. – 14 d.C.), estabeleceu um serviço de correios. Para isso, construiu também es-
tradas, tudo para manter um governo centralizado e conectado com as sedes das
administrações das províncias (HOHLFELDT, 2013).
Algumas das questões que marcaram o início das pesquisas sobre comunicação foram
a urbanização crescente, a consolidação do capitalismo industrial, a sociedade de
consumo, a expansão do imperialismo (especificamente o norte-americano), a divisão
política do mundo entre capitalismo e comunismo, além do papel central da ciência,
que passou a responder cada vez mais pelo progresso da vida social (FRANÇA, 2013).
1. O que quer dizer a raiz latina coisas nem temas, mas sim como
da palavra comunicação um certo tipo de processos
– communicatione? caracterizados por uma
a) “Ação comum”. Communicatione perspectiva comunicacional.
deriva de commune, que quer b) o objeto da comunicação é
dizer “comum”. Portanto, muito amplo e quase tudo
ao tornar algo comum, pode ser comunicação:
seja uma informação, uma política, sociologia, arte.
emoção ou uma experiência, c) o objeto da comunicação
ocorre a comunicação. é restrito, se trata do que é
b) “Lugar comum”. Communicatione apresentado nos meios de
significa “estar num mesmo lugar, comunicação de massa.
partilhando as mesmas ideias”. d) o objeto da comunicação se
c) “Padrão comum”. restringe ao que é produzido
Communicatione se refere a pela televisão e pelo rádio.
comportamento. Portanto, e) o objeto da comunicação se
quando há comportamentos refere aos processos identificados
semelhantes, há comunicação. dentro das produções dos
d) “Pensamento comum”. meios de comunicação social.
Communicatione tem a 3. Sobre o campo da teoria e o campo
ver com transmissão de da prática nos estudos relacionados
pensamento e entendimento à comunicação, pode-se dizer que:
entre interlocutores. a) a comunicação está no dia a dia
e) “Comungar”. Communicatione das pessoas, por isso os estudos
deriva de commune, que quer sobre essa área do conhecimento
dizer “comum”. Portanto, a são necessariamente voltados
palavra surgiu no contexto para o empirismo.
religioso dos mosteiros. b) a comunicação é um
2. José Luiz Braga (2011), sobre a tema filosófico, por isso o
caracterização de qual é o objeto enfoque dos estudos sobre
de conhecimento que define a comunicação é teórico.
comunicação, afirma que: c) devido à necessidade de
a) o objeto da comunicação não formação técnica de jornalistas,
pode ser apreendido enquanto os estudos da comunicação são
Leituras recomendadas
BEZERRA, E. D. Fundamentos sociológicos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Fun-
damentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.
BRASIL, J. P. Fundamentos antropológicos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Fun-
damentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.
PEREIRA, J. M. Fundamentos psicológicos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Funda-
mentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.
SÁ, A. Fundamentos filosóficos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Fundamentos
científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.
SOUZA, M. R. Fundamentos linguísticos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Funda-
mentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.
TELES, E. Fundamentos biológicos da comunicação. In: SÁ, A. (Coord.). Fundamentos
científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.