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OS PRIMEIROS

ENSAIOS

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Estes são alguns dos primeiros ensaios de Woody Allen. Deixamos de
transcrever os últimos, porque, vendo-se sem assunto, o Autor não chegou a
escrevê-los. E possível que, à medida que envelhecer e compreender melhor a
vida, Allen os escreva e depois retire-se para o seu quarto, lá permanecendo
indefinidamente. Como os de Bacon, os ensaios de Allen são breves e cheios
de sabedoria. Infelizmente, a falta de espaço não nos permite incluir a sua
tese mais profunda: “O Lado Bom da Vida”.

2
Sobre uma árvore no Verão

De todas as maravilhas da natureza, a mais fantástica é uma árvore no


verão — com a possível exceção de um alce de polainas cantando Embraceable
You. O verão é quando as folhas estão mais verdes e folhudas do que nunca (se
não, alguma coisa deve estar errada). Os galhos estendem-se em direção ao céu,
como que tentando dizer: “Embora eu seja apenas um galho, também tenho
direito a aposentadoria bem remunerada”

E as variedades? Tal árvore assim-assim será um abeto ou um choupo?


Ou uma sequóia gigante? Não, desconfio que não passa de uma mísera
bananeira, e mais uma vez você sifu. E claro que até você poderia aprender a
distinguir qualquer árvore em questão de segundos, desde que fosse um pica-
pau — mas, nesse caso, como mandar cartões postais aos que resolveram passar
o inverno no deserto?

Por que qualquer árvore será muito mais interessante do que uma fonte
que faça chuá-chuá? Ou do que qualquer coisa que faça chuá-chuá? Porque sua
simples e gloriosa existência é um testemunho silente de uma inteligência maior
que qualquer outra na Terra, principalmente na atual gestão presidencial. Como
disse o poeta: “Só Deus consegue fazer uma árvore” —talvez porque seja tão
difícil fazer com que cada macaco fique quieto no seu galho.

Certa vez, um lenhador preparava-se para atacar uma árvore com seu
machado, quando notou gravado nela um coração flechado e dois nomes. Pondo
de lado o machado, ele preferiu usar a serra, mais indolor. A moral da história

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me escapa neste momento, mas, seis meses depois, o lenhador foi processado
por ensinar algarismos romanos a um anão.

Sobre juventude e Velhice

O verdadeiro problema da maturidade não é saber a idade certa da


pessoa, mas a sua reação ao acordar de repente em pleno centro da cidade,
usando apenas bermudas. E de que importam os anos, afinal, principalmente
com os aluguéis congelados? O que devemos ter em mente é que qualquer
época da vida tem suas vantagens, embora seja difícil encontrar o interruptor de
luz quando se está morto. O principal problema da morte, aliás, é o medo de que
não haja vida depois dela — o que pode ser um pensamento pavoroso,
principalmente para quem se deu ao trabalho de se barbear. Além disso, há o
medo de que, embora possa haver vida depois da morte, ninguém saiba onde ela
está se realizando. Mas há também o lado positivo: morrer é uma das poucas
coisas que se pode fazer deitado

Vamos pensar bem: será a velhice tão terrível? Não, se você tiver
escovado os dentes quatro vezes por dia. E por que não há pára-choques que nos
protejam dos acidentes da vida? Ou um bom hotel à beira de certas estradas?

Em suma, o melhor que podemos fazer é nos comportarmos de acordo


com nossa idade. Por exemplo: se você tem 16 anos ou menos, tente não ficar
careca. Por outro lado, se você tiver mais de 80 anos, é de extremo bom-tom
sair pelas ruas com uma espada de pau e um capacete de papel, gritando:
“Estamos sendo invadidos pelo Paraguai!” Lembre-se, tudo é relativo —ou
devia ser, porque, se não for, vamos ter de começar tudo de novo.

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Sobre a Frugalidade

À medida que envelhecemos, é importantíssimo conservar nossas


economias, evitando gastar dinheiro em coisas inúteis, tais como geleia de pêra
ou chapéus de ouro maciço. O dinheiro não é tudo, mas é melhor do que ter
saúde. Afinal, não se pode entrar num açougue, pedir um quilo de alcatra e dizer
ao açougueiro: “Olhe como estou bronzeado. Vendendo saúde! Nunca fico
gripado!” — e esperar que ele lhe entregue a carne. (A não ser, é claro, que seja
um perfeito idiota.) E melhor ser rico do que ser pobre, quando nada por
questões financeiras. Não que o dinheiro compre a felicidade. Vejam o caso da
cigarra e da formiga. A cigarra cantou durante todo o verão, enquanto a formiga
trabalhava e economizava. Quando chegou o inverno, a cigarra estava falida,
mas a formiga estava sofrendo do peito. A vida é dura para os insetos. E não
pensem que os ratos passam muito melhor. O fato é que todos precisamos de
um ombro para nos encostarmos, embora isso costume amarrotar nosso terno
novo.

Finalmente, nunca nos esqueçamos de que é mais fácil gastar dois


dólares do que economizar um. E, pelo amor de Deus, nunca invistam dinheiro
em firmas de corretagem cujos sócios já tenham puxado trenós no Alasca.

5
Sobre o Amor

E melhor amar ou ser amado? Nenhum dos dois, se a sua taxa de


colesterol estiver acima de 600. Pelo amor, naturalmente, refiro-me ao amor
romântico — por exemplo, entre homem e mulher, e não àquele entre mãe e
filho, uma criança e seu cão ou entre dois garçons.

O maravilhoso da coisa é que, quando se ama, tem-se um impulso de


cantar. Deve-se resistir a isto a todo custo, tomando cuidado também para que o
ardente apaixonado não “diga” as letras das músicas. E evidente que ser amado
é diferente de ser admirado, já que sempre se pode ser admirado a distância —
enquanto que, para se amar de verdade uma pessoa, é preciso estar no mesmo
quarto com ela e, de preferência, enrolado atrás das cortinas.

Para ser um grande amante, deve-se ser forte e, ao mesmo tempo, terno.
Mas, forte até que ponto? Acho que basta conseguir levantar 30 quilos. E
preciso também ter em mente que, para quem ama, a mulher amada é sempre a
coisa mais linda do mundo, mesmo que, para um estranho, ela seja
indistinguível de um prato de mexilhões. A beleza está em quem vê Se quem vê
for míope ou estrábico deve perguntar á pessoa ao lado qual é a garota mais
bonita. (Na realidade, as mais bonitas são geralmente as mais burras, e esta é
uma das razões pelas quais muita gente não acredita em Deus.)

“As alegrias do amor duram apenas um instante”, cantou o bardo, “mas


suas dores duram uma eternidade”. Esta canção tinha tudo para fazer sucesso,
mas a melodia era muito parecida com a de l’m a ‘r’ankee Doodle Dandy.

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A Respeito de Colher Violetas no Bosque

Isto não tem a menor graça, e eu recomendaria qualquer outra atividade.


Visitar um amigo doente, por exemplo. Se não tiver nenhum (mesmo que são),
vá ao teatro ou entre numa banheira quente com um livro. Qualquer coisa é
melhor do que ser apanhado num bosque com um sorriso idiota e uma cesta de
flores na mão. A próxima coisa que lhe poderá acontecer será sentir-se
ligeiramente perdido: O que fazer com as violetas? “Ora, ponha-as num vaso”,
dirá você. Que resposta estúpida! Hoje basta ligar para o florista e encomendar
as flores Deixe que ele perca tempo no bosque, já que está sendo pago para isto.
Assim, se cair uma tempestade ou se for atacado por um enxame de abelhas, o
azar será dele, e não seu.

Não pensem por isto que eu seja insensível às alegrias da natureza,


embora já tenha concluído que, como diversão, é difícil haver coisa melhor do
que passar 48 horas jogando peteca com um maneta. Mas isto é outra história.

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