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Inflamação e Reparo
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
Inflamação e Reparo
• Inflamação e Reparo;
• Alterações Hemodinâmicas da Inflamação Aguda ou Eventos Vasculares;
• Eventos Leucocitários da Inflamação ou Eventos Celulares;
• Mediadores Químicos da Inflamação;
• Destinos da Inflamação Aguda;
• Inflamação Crônica;
• Reparo.
OBJETIVO
DE APRENDIZADO
• Conhecer os conceitos fundamentais sobre a inflamação e o processo de reparo.
UNIDADE Inflamação e Reparo
Inflamação e Reparo
Começaremos a estudar os importantes conceitos de inflamação e reparo, os
quais estão presentes em uma grande variedade de doenças. Os principais tópicos
que serão abordados correspondem aos eventos vasculares e celulares que permeiam
a resposta inflamatória, os mediadores químicos envolvidos no processo e como eles
se integram na tentativa de reparar o tecido lesado.
Para você ter uma melhor compreensão da evolução histórica dos conceitos
ligados à resposta inflamatória, é importante lembrar que a primeira descrição
da inflamação data do primeiro século da era cristã, pelo médico romano Aulus
Cornelius Celsus (26-50 d.C.), que a identificou em quatro sinais cardinais – rubor
(eritema), calor (aumento de temperatura), tumor (edema) e dor (algia). Tais sinais
ainda hoje são utilizados para descrever a resposta inflamatória aguda, no entanto,
no século XIX, um quinto sinal foi incluído por Rudolf Virchow (1821-1902) – a
perda de função do tecido ou órgão afetado.
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estereotipado (padronizado) da reação inflamatória, independentemente da natureza
do agente agressor.
Incialmente, ocorre (1) vasoconstrição transitória das arteríolas, seguida pela (2)
vasodilatação das quais, com enchimento de sangue na rede capilar do tecido (daí, o
rubor e o calor verificados).
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Dessa forma, percebe-se que o sistema de mediadores químicos responsáveis
pelo caráter estereotipado da resposta inflamatória apresenta ainda elevado grau de
redundância, ou seja, múltiplos mediadores acabam executando ações em comum.
Eventos Leucocitários da
Inflamação ou Eventos Celulares
Com a lentidão do fluxo sanguíneo (estase sanguínea), ocorrerão os seguintes
eventos relacionados aos leucócitos:
• Aproximação leucocitária ao endotélio vascular (marginação);
• Rolagem (adesão frouxa);
• Adesão firme, mediante expressão de moléculas de adesão complementares na
superfície leucocitária e endotelial;
• Transmigração dos leucócitos através do endotélio (ou diapedese) em direção ao
espaço extravascular e orientada por agentes quimiotáticos;
• Quimiotaxia;
• Ativação leucocitária;
• Fagocitose.
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Muitas variações podem ser encontradas neste padrão básico de migração leuco-
citária. Por exemplo, nas infecções virais e reações imunomediadas, predominará o
infiltrado linfocitário (Figura 1), enquanto nas reações alérgicas tendem a se acumular
os eosinófilos.
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Figura 1 – Hepatite viral com presença de
infiltrado linfocitário. HE. Aumento 40x
Fonte: Getty Images
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• Constituintes lisossômicos, neuropeptídios, fatores de crescimento, como fator de
crescimento de fibroblastos (ou Fibroblast Growth Factor – FGF), fator de cresci-
mento epidérmico (ou Epidermal Growth Factor – EGF), dentre muitos outros.
A seguir, você terá um breve resumo dos principais mediadores pró-inflamatórios.
As aminas vasoativas representam os primeiros mediadores liberados no foco
inflamatório. Estão presentes em grânulos de mastócitos, basófilos e plaquetas, no caso
da histamina, e em grânulos de plaquetas no caso da serotonina, como substâncias
pré-formadas que serão liberadas mediante degranulação celular. Promovem dilatação
arteriolar e aumento da permeabilidade vascular, principalmente nas vênulas.
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Uma vez liberado, o ácido aracdônico pode ser alvo da ação de duas dis-
tintas enzimas:
• Cicloxigenases (COX), resultando na formação de TxA2 e de prostaglandinas,
como PGD2, PGE2, PGI2 (ou prostaciclina);
• Lipoxigenases (LOX), que levam ao aparecimento de ácido hidroxieicosate-
traenoico (5–HETE), de leucotrienos (LB 4, LBC4, LD4, LE4) e de lipoxinas
(LXA4 e LXB 4).
Importante!
Anti-inflamatórios não-esteroidais (Aines) são capazes de inibir a ação da enzima COX,
diminuindo, assim, a formação de prostaglandinas. Por sua vez, os corticosteroides,
além de inibirem a COX, induzem a formação de lipocortina 1, a qual inibe a atividade
da fosfolipase A2.
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permeabilidade vascular, estimulação plaquetária, adesão leucocitária, quimiotaxia e
geração de espécies reativas de oxigênio (surto oxidativo ou oxidative burst).
As citocinas representam uma ampla categoria de pequenos peptídeos com
funções autócrinas, parácrinas e endócrinas, além de funcionarem como agentes
imunomoduladores. Incluem interleucinas, interferons (com importante atividade
antiviral), fatores de necrose tumoral, monocinas e linfocinas (respectivamente, produ-
zidas por monócitos e linfócitos), quimiocinas (indutoras de quimiotaxia) e fatores es-
timulantes de colônias, sendo produzidas por diversos tipos celulares, como macró-
fagos, linfócitos B e T, mastócitos, células endoteliais e fibroblastos.
A IL–1, o TNF–α e o TNF–β (linfotoxina), por exemplo, apresentam numerosas
ações comuns, como, por exemplo, ativação endotelial (com aumento de expressão
de moléculas de adesão e indução da formação de mediadores químicos pelas células
endoteliais, inclusive citocinas como IL–1, IL–6 e IL–8), além de ativação leucocitária
e ativação dos fibroblastos (com proliferação dos mesmos, síntese de colágeno e de-
senvolvimento de fibrose). Ainda, induzem as respostas sistêmicas agudas associadas
à lesão ou infecção, incluindo perda do apetite, febre, alterações hemodinâmicas do
choque séptico e liberação do hormônio adeno-hipofisário ACTH (ou adrenocor-
ticotrofina), que irá estimular o córtex adrenal a secretar cortisol, com seus efeitos
anti-inflamatórios e imunossupressores, como forma de feedback negativo (ou de
regulação negativa) sobre a resposta inflamatória.
O óxido nítrico (NO) é um gás solúvel produzido por macrófagos, células endo-
teliais e neurônios, respectivamente por ação das enzimas sintases do óxido nítrico
(NOS) induzível por citocinas (iNOS), endotelial (eNOS) e neuronal (nNOS). Suas ações
pró-inflamatórias e anti-inflamatórias abrangem a vasodilatação, a diminuição do recru-
tamento leucocitário e a formação de metabólitos antimicrobianos.
Por fim, são incluídos como mediadores inflamatórios os constituintes lisossô-
micos de neutrófilos e monócitos, que compreendem múltiplas enzimas, como
colagenases, elastases, fosfolipases, proteases ácidas e neutras, além de substâncias
antimicrobianas como lisozima e lactoferrina. Muitas das enzimas lisossômicas são
capazes de digerir colágeno, elastina, fibrina, membrana basal e cartilagem, amplifi-
cando a destruição tecidual e a própria resposta inflamatória.
A lista de mediadores químicos é complementada pelas espécies reativas de
oxigênio, como o ânion superóxido (O2–), o peróxido de hidrogênio (H2O2) e o radi-
cal hidroxila (OH), que apresentam efeitos lesivos sobre outros tipos celulares (como
células endoteliais, tumorais e parenquimatosas) e inativação de antiproteases, dessa
forma ampliando a destruição da matriz extracelular e do próprio tecido.
Neuropeptídeos, como substância P e neurocinina, pertencem à família das
taquicininas. Estão presentes no sistema nervoso central e periférico e colaboram
na reação inflamatória, participando da neurotransmissão da dor e do aumento de
permeabilidade dos vasos.
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Inflamação Crônica
A inflamação crônica ocorre em situações de:
• Persistência de agentes infecciosos (como Mycobacterium tuberculosis na tuber-
culose, Mycobacterium leprae na hanseníase, Treponema pallidum na sífilis e
Candida albicans na candidíase, dentre muitíssimos outros);
• Exposição prolongada a agentes tóxicos exógenos ou endógenos, como partí-
culas de carbono na antracose e gotículas lipídicas numa placa de ateroma;
• Autoimunidade, como ocorre em doenças inflamatórias como artrite reuma-
toide e lúpus eritematoso sistêmico.
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Assista ao vídeo intitulado “Inflamação Crônica – Aspectos Gerais”.
Disponível em: https://youtu.be/9sGEK02YGKo
Assista também “Inflamação Crônica – Células Envolvidas”.
Disponível em: https://youtu.be/5gY1gxCWnSQ
Os granulomas, por sua vez, são classificados em dois tipos conforme seu meca-
nismo etiopatogênico: os granulomas de corpos estranhos, os quais impedem a fago-
citose por macrófagos individuais e não suscitam resposta inflamatória ou imune
(por exemplo, fios de sutura) e os granulomas imunes (Figura 3), estes induzidos por
partículas insolúveis capazes de induzir resposta imune celular, desencadeada por
linfócitos T e suas citocinas (por exemplo, o bacilo da tuberculose).
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Em Síntese
Desta forma, pode-se considerar a resposta inflamatória como parte do sistema imune
inato (que nasce com o indivíduo, sem necessidade de introdução de substâncias
ou estruturas exteriores ao organismo), sendo capaz de deflagrar uma resposta
não-específica contra agentes agressores e permitir o reparo do tecido lesado.
Reparo
As tentativas do corpo de restaurar a funcionalidade do tecido diante de uma
agressão local começam cedo na resposta inflamatória e têm por objetivo final o
reparo do tecido agredido. Nesse sentido, o processo de reparo constitui a etapa
final da reação inflamatória e pode envolver duas formas distintas – o reparo por
regeneração e/ou reparo por cicatrização.
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qual constitui de forma permanente a cicatriz (Figura 4). Ocorre em tecidos formados
por células permanentes (as que não fazem divisão mitótica na vida pós-natal, como
os neurônios, as fibras musculares esqueléticas e as cardíacas) ou quando há dano
significativo sobre a membrana basal, mesmo num tecido com lábeis ou estáveis.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Anti-Inflamatórios: Uma Compreensão Total
https://bit.ly/3cOygIJ
Dor: Aspectos Atuais da Sensibilização Periférica e Central
https://bit.ly/2ZjKPYQ
Anti-Inflamatórios não Esteroides: Efeitos Cardiovasculares, Cerebrovasculares e Renais
https://bit.ly/36ekoFg
Aspectos Celulares da Cicatrização
https://bit.ly/3bPOJuW
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Referências
BRASILEIRO FILHO, G. B. Patologia geral. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2018.
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