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Reportagem especial [Cotochés, 55 anos]

ARQUIVO COTOCHÉS
Artesanal

Uma saga familiar


O queijo provoleto, típico da região
de Vico Equenze, Nápoles, Itália, terra
natal da família, foi o primeiro produto
a ser fabricado

Uma das mais importantes empresas do setor de laticínios


de Minas chega aos 55 anos, em uma trajetória vitoriosa
de tradição e qualidade
Por Adenilson Fonseca
ARQUIVO COTOCHÉS

“É
uma indústria de leite
onde não se vê leite”.
Esta foi a observação
do fotógrafo de GÔNDOLA, Igná-
cio Costa, ao visitar as instalações
da Cotochés, no distrito de Rave-
na, município de Sabará, na
Região Metropolitana de Belo
Horizonte. Mas ele não quis dizer
que não existia leite na indústria.
O que lhe chamou a atenção foi a
qualidade do aparelhamento
industrial. Equipamentos, fruto de
aportes financeiros superiores a
R$ 10 milhões. Na verdade, são
600 mil litros entre leite e soro de “Trata-se de um fornecedor pelo qual temos uma admiração muito
leite processados diariamente, um O início
mix de 36 produtos, que deve che- Primeira unidade fabril da Cotochés, em Abre Campo (MG) grande. Torcemos sempre pelo sucesso dessa empresa que é mineira
gar a 60 em 2006, além de propor-
– e chega ao Brasil iniciando desde Russo o “Laticínios Flor da Serra
como a DMA. Já que somos a terra do leite, precisamos de uma
cionar 580 empregos diretos e 2
mil indiretos. O resultado de tudo esta época a atividade de fabrica- Ltda.” com sede e foro na cidade indústria de laticínios como a Cotochés”.
isso é um faturamento estimado de ção de queijos. No começo da pri- de Abre Campo (MG) que detinha Levy Nogueira, diretor-administrativo do grupo DMA
R$ 200 milhões para 2005. meira metade do século XX as a marca “Cotochés”. Em 1964 os
O beneficiamento de leite flui- famílias Maroca e Russo se fixam sócios Waldevino Maroca e João
do está concentrado na produção na região de Rio Casca (MG) e ini- Russo Sobrinho constituem uma
da unidade de Ravena. A de quei- ciam uma modesta produção arte- sociedade comercial sob a denomi-
jos e requeijão em Rio Casca, cida- sanal de queijo provolone e mussa- nação social de “Maroca e Russo
de da Zona da Mata Mineira, rela. Permanecem na condição de Ltda.” com sede e foro nas cidade
região berço da empresa. sociedade de fato, ou seja, sem o de Rio Casca (MG). Em 1968
devido registro até sua constituição constitui-se a Maroca e Russo Ind.
Origem na tradição familiar formal em 1959/64. e Com. Ltda. com a fusão do acer-
Em 1897, a família Russo jun- Em 1959, os sócios Waldevino vo patrimonial da empresa “Laticí-
tamente com outros imigrantes ita- Maroca, José Russo e João Russo nios Flor da Serra Ltda.” tornando
lianos deixa a terra natal – Nápoles Sobrinho adquirem de Jacomo a fábrica em Abre Campo a primei-

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ra filial da empresa e o nome 1997 a empresa abre diversas filiais Lúcia Helena e Terezinha Dalva,
FOTOS IGNÁCIO COSTA

“Cotochés”, adotado como fanta- por todo estado de Minas Gerais. surgindo a gestão por Conselho de
Linha de produção sia. Nessa época são admitidos Em 1982 a filial de Ravena, em Administração.
Esteiras automáticas levam a
novos sócios José Russo, Eduardo Sabará à margem da BR 262, km Já em 1998 com a incorporação
produção ao armazenamento sem
o contato manual Russo, José Mário Russo Maroca e 28, uma das atuais unidades fabris da Cotochés Comercial e Agrope-
Antônio Russo Maroca. foi constituída como escritório cuária Ltda., empresa do grupo,
Em 1973 a sociedade admite o comercial. criou-se a filial Provaca, em Rio
senhor Waldevino Maroca Russo Com a morte de um dos seus Casca. No ano de 2000 abre-se a
como sócio e abre duas filiais: fundadores, Waldevino Maroca, filial de Recife (PE).
Fazenda Barra Mansa, em Rio Cas- em 1993, ingressam na sociedade O estágio avançado do projeto
ca e filial Barra Longa. De 1976 a Maria Zélia, Edith, Ana Maria, de granelização, desativa inúmeras

“Falar da Cotochés é um orgulho muito grande, porque é


uma empresa familiar e que te trata como tal. Tenho um
orgulho muito grande de fazer parte dessa família”.
Jaci Joaquim Senra, supervisor de produção

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pasteurizado. Foi com a grande


crise que instalou-se nesta época,
que conseguimos transformá-la
em oportunidade”, lembra Maro-
ca. Esse período marca também a
transferência da unidade de produ-
ção de leite para as atuais instala-
ções de Ravena.
Os anos 80 marcam uma grande
evolução no mercado brasileiro de
leite com o advento do leite longa
vida e a demanda de novos produ-
tos. A Cotochés não fica para trás e
expande seu mix atendendo a todas
as demandas. “Nunca passamos por
grandes crises, porém as dificulda-
des que enfrentamos, conseguimos
transpô-las, orgulha-se João Maro-
filiais (postos de captação), tornan- ca. “Todas as vezes que saíamos
do-os ativos não operacionais, pro- desses períodos, saíamos fortaleci-
vocando uma cisão e a criação de dos”, completa.
uma nova empresa – CACEL –
Cotochés Armazéns Comércio e
Empreendimentos Ltda. Nessa
mesma época deu-se a transferên-
cia da área administrativa de Rio
Casca para Ravena que passa a ser
a sede da empresa.

Sem crises
Com 100% de capital nacional, o
Grupo Cotochés é formado por três
empresas: o Grupo Cotochés Maro-
ca & Russo Indústria e Comércio
Ltda, a Transportadora Vênus Ltda.
e a Cotochés Armazéns, Comércio e
Empreendimentos Ltda.
A partir de 1977 com os acor-
dos bilaterais realizados pelo Bra-
sil aconteceu um fato importante
para o setor leiteiro no País: a
entrada da produção láctea Argen-
tina. O que levou muitos produto-
res pequenos à falência. “Nesse
período houve uma grande escas-
sez de produtos no mercado. Tive-
mos a visão empresarial de vir
para Belo Horizonte com o leite

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mente. “A Cotochés é uma empre-


sa tradicional, trabalhamos com
uma visão tradicionalista, sabemos
que a natureza não dá saltos e pro-
curamos nos manter nessa linha,
temos de ser prudentes, como bons
mineiros”, diz João Maroca.

Por que Cotochés?


Quando se fala em Maroca &
Russo Indústria e Comércio Ltda.
o mercado conhece bem, respeita e
tem credibilidade, embora de
maneira geral todos conhecem
pelo nome fantasia: Cotochés. Esta
marca é muito reconhecida pelos
consumidores e representa cerca
de 20% de toda a linha láctea que o
consumidor leva para casa nos
mercados onde a empresa atua.
O que poucas pessoas sabem é
que a marca Cotochés é uma
homenagem a elementos da cultura
indígena da região onde nasceu a
empresa. “Mas o certo é que Coto-
chés significa o nome de uma tribo
indígena da região ou o nome “-
abre-campo”, na língua deles”,
revela João Maroca.

Interestadual
Os anos 90 também foram de Qualidade e confiabilidade
Puxada pelo seu carro-chefe, o
“A família Maroca & Russo ofereceu ao Brasil, crescimento para a Cotochés. Com
a abertura das fronteiras do merca-
leite longa vida, a empresa tem
Análises são efetuadas em todo o
leite recebido na empresa
cerca de 20% de participação do
o seu espírito empreendedor e visionário do nacional daquela época veio
mercado de Minas Gerais, Rio de
também a modernização do parque
que hoje posiciona a Cotochés em lugar de industrial do País. “E nós nos
destaque no segmento lácteo. A Tetra Pak se incluímos no meio desta transfor-
mação”, ressalta Maroca. Segundo
orgulha por participar da permanente evolução ele, a indústria brasileira de laticí-
nios está colhendo os frutos dessas
da Cotochés, parabenizando-a pela ações do Governo Federal que
comemoração dos 55 anos de fundação e tiveram início na década de 90. A
tecnologia permitiu às empresas
desejando seu contínuo sucesso.” produzirem mais e melhor, se
Direção regional da Tetra Pak em BH, enquadrando nas normas interna-
cionais de mercado. Onde, aliás, a
um dos principais fornecedores da Cotochés Cotochés deverá participar breve-

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ÇÃO
ODU
REPR

Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Bahia e Pernam-


buco, atendendo a cerca de 8 mil pontos de vendas.
“Nossa distribuição é bastante pulverizada. Nosso
volume está divido em 75% no pequeno e cerca de
25% no grande varejo que são as grandes redes de
supermercados”, estima o gerente de Marketing da
Cotochés, Rubens Alves Leite Júnior.
Evolução da marca
Nos últimos três anos a empresa cresceu cerca de
Primeiro catálogo de produtos e design atual da marca
15% ao ano. O mix responsável por esse crescimento
é composto de queijos variados, manteigas, cremes de
leite, requeijões, bebidas lácteas, leite longa vida, lei-
te em pó, iogurtes e sucos. Hoje a Maroca & Russo é
detentora das marcas Moon Lait, Pettilé, e da marca
top de linha Cotochés.
Dentre os produtos líderes de venda destacam-se
o leite longa vida integral e desnatado Cotochés; o
leite longa vida vitaminado desnatado Cotochés; o
Moon Lait - composto alimentar a base de leite; leite
em pó; manteiga; e requeijão cremoso tradicional e
light; queijos prato, mussarela, bebidas lácteas UAT
nos sabores chocolate e frutas; iogurte com polpa de
fruta Pettilé. A Cotochés foi pioneira ao lançar novos
conceitos no mercado de Minas Gerais, como o leite
longa vida em caixinha e em saquinho, este último,
uma exclusividade da Cotochés no Brasil.

Qualidade
Com cerca de 80% de volume de vendas con-
centrados no mercado mineiro, a Cotochés desen-
volve programas junto ao produtor para incentivo
e continuidade de fornecimento que garanta o
Rubens Leite, Gerente de Marketing abastecimento. “Temos vários programas de acom-
É muito gratificante fazer parte desta grande família
que é a Cotochés
panhamento para assegurar a qualidade do produ-
to”, informa Rubens. O recebimento do leite pela

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ARQUIVO COTOCHÉS

SÍLVIO COUTINHO
Cotochés é 100% granelizado de
acordo com as exigências do
mercado e normas técnicas.
Acompanhar cada fase do pro-
cesso de fabricação até o produto
final. Essa é função de Carlos
Mariano de Souza, gerente de qua-
lidade da empresa. “O nosso traba-
lho é importante na qualidade des-
de a captação da matéria-prima,
controle dos processos de padroni-
zação até o vencimento nos super-
mercados”, diz ele. Esse trabalho
é a garantia de que o produto che-
Cuidado com a natureza gue com 100% de qualidade ao
A Cotochés mantém uma estação de tratamento de rejeitos consumidor final.
O acompanhamento da quali-

Distribuição e logística
Frota composta por 82 caminhões entre próprios e terceirizados

dade começa junto ao produtor na fazenda. Todos


os produtos são analisados através de amostras que
passam pela certificação do laboratório de Contro-
le de Qualidade da empresa, bem como de labora-
tórios credenciados para este fim, onde são realiza-
das análises físico-químicas e microbiológicas
para assegurar o padrão de higiene e qualidade.
Além disso, passam pelo Serviço de Inspeção
Federal (SIF), que opera permanentemente dentro
da indústria. O processo é feito em dois tipos: o
longa vida, Tetra Pak (em caixinhas) e Dupont (em
saquinhos), que garantem um leite puro e sem
microorganismos, já que não há nenhum tipo de
contato com o ambiente externo.
O programa de Melhoria da Qualidade do Leite,
implantado há dois anos, consiste em palestras reali-
zadas periodicamente em diversas regiões de capta-
ção do produto em Minas, com a presença do consul-
tor Jorge Rubinick, ex-professor da UFMG e do che-
fe do Departamento de Captação, além de sindicalis-
tas, associações e políticos da localidade.
A Cotochés mantém ainda um canal direto com o
público, com o Serviço de Atendimento ao Consumi-
dor (SAC ), para receber sugestões, críticas e solicita-
ções de informações sobre produtos e receitas.
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[Cotochés, 55 anos]

“O que mais me impressiona na Cotochés

SÍLVIO COUTINHO
é a índole de seus fundadores”
Dalva Pereira Silva Soares, gerente financeira e funcionária há 30 anos

Higiene
Ordenha totalmente mecanizada

Social Adultos na Empresa”, em parceria fábrica, a empresa promove a apro-


Ao longo de seus 55 anos, a com o Sesi/Fiemg e a prefeitura de ximação com escolas, universida-
Cotochés também incorporou Rio Casca. Também mantém o des e com a comunidade, mostran-
ações de responsabilidade social, programa de “Menor Aprendiz” do o processo produtivo e a impor-
desenvolvendo projetos voltados direcionado a filhos de funcioná- tância do leite na alimentação
para as comunidades em que atua, rios que futuramente farão parte do humana. “Acho que deveríamos
além do apoio às instituições, cre- quadro da empresa. Como incenti- desenvolver campanhas de consu-
ches, hospitais e escolas. Conta vo à cultura investe ainda em pro- mo e valorização do leite e estimu-
com um projeto destinado aos fun- jetos ligados à gastronomia e arte. lar o consumo do produto”, sugere
cionários “Educação para Jovens e Com o programa de visita à o diretor João Maroca.

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ARQUIVO COTOCHÉS

Com relação ao meio ambiente,


SÍLVIO COUTINHO

faz parte também dos cuidados da


empresa, o tratamento de todos os
rejeitos gerados pela indústria na
produção. Para isso, uma estação
“Acho que a cada
de tratamento recebe todo o mate- momento criamos mais meios
rial. A água que resulta do trata-
mento dos rejeitos e devolvida à de trazer benefícios e
natureza, sem ocasionar qualquer
dano ambiental.
cada vez mais conseguimos
Integração
buscar a satisfação
Recursos humanos
No olhar de cada funcionário da
Festa junina dos funcionários: muita alegria e descontração do empregado.”
Cotochés está uma mensagem har- Mara Lúcia de Moura Ribeiro,
moniosa de quem faz parte de uma pretende cumprir a sua missão original galgada nos
seguintes valores: manter a unidade familiar, disponibili- estagiária de RH
família que trabalha satisfeita. A
empresa agradou tanto a Jair Oli- zar produtos de qualidade com atualização tecnológica,
veira Maia, funcionário de 56 anos valorizar e desenvolver o potencial de seus colaborado-
de idade, que foi o único emprego res, melhorar a condição de vida e trabalho da região e
que ele teve até se aposentar. E perpetuar o ideal de seus fundadores “honestidade, justi-
mesmo aposentado, continua à ça e respeito ao próximo”.
frente do serviço de manutenção
da empresa como encarregado do Um sonho - Memorial Abre Campo
setor. Um dos mais antigos funcio- É por essa trajetória de sucesso que um de seus funda-
nários da empresa, chegou para dores, João Russo, hoje aos 80 anos, está iniciando um
trabalhar na Cotochés em 1971, na novo empreendimento no local de origem da Cotochés,
unidade de Rio Casca. Passou por na cidade de Abre Campo. Trata-se do Memorial Abre
várias funções e, garante, está mui- Campo que terá o registro da história e desenvolvimento
to satisfeito. “Acho que tudo me da empresa, deixando para seus sucessores uma lição de
agrada, gosto da empresa, das pes- vida, trabalho e determinação. ■
soas e estou satisfeito com o salá- ARQUIVO COTOCHÉS

rio. É como se estivesse em casa”,


constata.
A Cotochés desenvolve festas
recreativas, qualificação profissio-
nal e programas de saúde para
seus colaboradores, como clínica
odontológica para funcionários e
seus dependentes diretos, além de
auxílio farmácia e parcerias com
clubes, academias e a promoção
de campanhas internas. Essas
ações ficam a cargo da Associação
dos Funcionários da Cotochés
Jair Oliveira Maia (Asfunco).
34 anos dedicados
à Cotochés Memorial Abre Campo
Sua missão
Maquete do futuro empreendimento em desenvolvimento
É desta forma que a Cotochés

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