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Uma fábrica desconhecida: a S.

A Cotonifício Gávea (São Félix)

Raianne Isaque, ex-bolsista PET

Tamires Gonçalves, bolsista PET

No final do século XIX, o bairro da Gávea passou por intensas transformações, a região
que até então era rural e com poucos habitantes, se viu diante de um processo de
industrialização. Algumas fábricas foram instaladas na região, uma delas foi a Companhia de
Fiação e Tecidos São Félix, localizada na Rua Marquês de São Vicente, número 83. A São
Félix fabricava fios de algodão e meias, mais tarde, essa fábrica se transformou na Cotonifício
Gávea.

As fábricas instaladas na Gávea foram responsáveis por atraírem para a região muitos
operários, que começaram a estabelecer moradia no entorno delas, algumas fábricas criaram
vilas operárias com a finalidade de oferecer acomodação familiar para os seus trabalhadores.
Se por um lado, as vilas ofereciam um benefício aos seus empregados, por outro, era uma forma
de discipliná-los.

A Companhia de Fiação e Tecidos São Félix foi fundada no ano de 1891, por Affonso
de Lamare. Por ocupar um quarteirão, a fábrica possuía muitos terrenos baldios. Assim, foram
surgindo favelas nesses espaços. Quase não são encontradas informações sobre essa fábrica,
mas o que se sabe é que em 20 de março de 1920, foi decretada a falência da fábrica por
decorrência de uma greve de seus funcionários, que estavam reivindicando melhores salários e
a redução da jornada de trabalho.

Em 1912 foi fundada a S.A Cotonifício Gávea, que pertencia a família Ferreira Chaves,
essa fábrica ficava localizada no mesmo endereço da Companhia de Fiação e Tecidos São
Félix. As informações sobre a Cotonifício Gávea também são escassas. A Cotonifício Gávea
era responsável por contratar muitos operários, apesar de não ser considerada uma empresa de
grande porte no ramo têxtil. A indústria desse setor deu o ponta pé inicial para o processo de
industrialização do Rio de Janeiro, as primeiras fábricas deste ramo se instalaram na cidade na
primeira metade do século XIX.
Os operários que trabalhavam nas indústrias têxteis enfrentavam precárias condições
de trabalho, eles ganhavam péssimos salários e as jornadas de trabalho eram longas e
exaustivas. Esses trabalhadores começaram a se organizar para lutarem por seus direitos, como
podemos observar, no dia 14 de outubro de 1926, foi convocada uma assembleia trabalhista,
conforme noticiado no jornal A Noite.

Embora houvesse demonstrações de descontentamento entre os operários da fábrica,


havia também declarações que sugeriam o oposto. Na coluna “Como Vive e Como Pensa o
Povo” do jornal A Noite, de 1928, o ex-operário da S.A Cotonifício Gávea, Henrique Porto,
deu uma declaração de como era trabalhar na fábrica. Segundo ele, todos os operários eram
tratados com respeito e humanidade, no seu ponto de vista a família Ferreira Chaves,
proprietários da fábrica, tratavam os parentes e os funcionários igualmente não havendo
nenhuma distinção. A matéria destacou que no Cotonifício Gávea existia creche para os filhos
dos operários e uma enfermaria para os atender caso houvesse algum acidente. Possivelmente
o jornal destacou o depoimento deste trabalhador com o intuito de convencer a opinião pública
de que as reclamações dos trabalhadores eram injustificadas.

A S.A Cotonifício Gávea foi vendida em 1956, para o grupo norte americano United
Merchants Manufactures e seu nome foi mudado para Fábrica Sudantex. A partir dos anos
1960, começou um processo de valorização imobiliária na Gávea, algumas indústrias, que
estavam instaladas no bairro desde o final do século XIX, foram saindo. A Sudantex se retirou
da Marquês de São Vicente em 1980. No terreno onde ficava a fábrica foi construída a rua
Professor Manuel Ferreira.

Referência bibliográfica:

Como Vive e Como Pensa o Povo. A Noite, Rio de Janeiro, 2 de out. de 1928. Edição 6.061,
página 1. Arquivo FBN. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/348970_02/23894

Classes Trabalhadoras. A Rua, Rio de Janeiro, 14 de out. de 1926. Edição 37, página 5.
Arquivo FBN. Disponível em: http:
http://memoria.bn.br/docreader/DocReader.aspx?bib=236403&pagfis=13156.
DUARTE, Mateus Sanches. Mapeamento sócio técnico e cultural da Gávea: o álbum de
fotografia da S.A Cotonifício Gávea. Departamento de Ciências Sociais. Disponível em:
http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2019/download/relatorios/CCS/CSOC/CSOC-
Mateus%20Sanches%20Duarte.pdf.

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