Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BERTOCHI, Aparecido Francisco. A Crítica de Bukhárin À Economia Política Do Rentista
BERTOCHI, Aparecido Francisco. A Crítica de Bukhárin À Economia Política Do Rentista
RESUMO
Este artigo busca analisar a crítica formulada pelo teórico bolchevique Nikolai Bukhárin à
economia marginalista e ao parasitismo dos estratos rentistas das burguesias capitalistas
européias no início do século XX. Tentaremos entender quais os fatores que contribuíram
em sua refutação metodológica às escolas histórica alemã e a-histórica austríaca de
economia. Examinamos assim alguns dos elementos constitutivos de seu pensamento em
economia política. Dentre eles destacam-se o surgimento desses estratos rentistas e do
capital financeiro, enquanto agentes do processo de internacionalização do capital, por
meio do capital financeiro imperialista.
Palavras-chave: marginalista, rentista, produção, economia, capitalismo.
ABSTRACT:
This article looks for to analyze the critic formulated by Bolshevik theoretical Nikolai
Bukhárin to the economy marginalista and the parasitism of the strata rentistas of the
European capitalist bourgeoisies in the beginning of the century XX. We will try to
understand which the factors that contributed in his/her methodological refutation to the
schools historical German and to-historical economy Austrian. We examined like this some
of the constituent elements of his/her thought in political economy. Among them they stand
out the appearance of those strata rentistas and of the financial capital, while agents of the
process of internationalization of the capital, through the imperialistic financial capital.
KEY-WORDS: marginalista, rentista, production, economy, capitalism.
theoretical Nikolai Bukhárin to the economy marginalista and the parasitism of the ata r
factors that contributed in his/her methodological refutation to the schools historical
Foi no exílio em Viena, na Áustria, que Bukhárin se propôs a um objetivo teórico
de fôlego: estudar toda a economia política desenvolvida depois da morte de Karl Marx, em
1883. Após compulsar a literatura econômica moderna, inclusive a das correntes marxistas,
decidiu escrever entre 1912-1913, uma de suas mais consistentes obras, que ainda mantém
atualidade, A economia política do rentista: crítica da economia marginalista, publicada
em 1919. Nela, Bukhárin fundamentava a sua crítica à economia burguesa marginalista e à
teoria da utilidade marginal, por meio da análise psíco-sociológica e marxista do indivíduo
em relação à produção e ao papel improdutivo exercido na economia pelo burguês rentista,
que ao viver somente de juros e de aplicações financeiras não contribui com a produção
material da sociedade.
∗
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista - UNESP - Campus de Marília – SP.
Docente da Universidade Estadual do Sudoeste do Paraná - UNIOESTE - Campus de Francisco Beltrão - PR
O que motivou Bukhárin a escrever este livro foi dar continuidade à refutação de
um artigo de Eugen Böhm-Bawerk, de 1904, no qual criticava O Capital de Karl Marx,
atacando os fundamentos da análise marxista da economia capitalista em seu ponto mais
vulnerável, a teoria do valor-trabalho, e afirmava a sua própria teoria da utilidade
marginal, cujo valor não é determinado pelo trabalho investido no produto, mas pela
utilidade que o produto tem para seus compradores. Marx, todavia, partia do valor-trabalho
para compreender o lucro e a acumulação capitalistas, visando demonstrar cientificamente a
natureza exploradora do capitalismo. Na época este artigo fora respondido pelo economista
Rudolf Hilferding, mas, a sua resposta manteve-se no necessário à defesa da doutrina
econômica marxista, o que fez Bukhárin entender que era necessário tecer uma crítica
interna profunda ao sistema lógico e teórico que sustentava a teoria marginalista.
Na economia política burguesa da época Bukhárin distinguiu duas correntes
principais, a escola histórica alemã de Roscher, Hildebrandt, Knies, Karl Bucher, Gustav
Schmoller e List, baseada no protecionismo da burguesia alemã diante da concorrência da
indústria inglesa no mercado mundial; e a escola marginalista austríaca abstrata de Karl
Menger, Frederick von Wiser e Eugen Böhm-Bawerk, voltada à elaboração de abstrações
teóricas descoladas da realidade concreta. Ele explicava que a escola histórica por basear-
se no protecionismo rejeitava as abstrações e formulações de leis universais, opondo-se aos
economistas clássicos, como David Ricardo e Adam Smith, e só tendo por legítimas
monografias de caráter empírico. Mas, a escola marginalista austríaca se situava num nível
mais alto de abstração teórica, pela utilização de formulações matemáticas. Resultando
disto, seu caráter a-histórico e a sua preferência por elaborar leis universais sem basear-se
na realidade concreta das diferentes épocas históricas.
Segundo Bukhárin (1974), esta escola histórica alemã surge enquanto reação à
perpetuação e ao cosmopolitismo dos clássicos, porque a Economia Política clássica,
especialmente a inglesa, formulou leis gerais, de validade universal, com forte caráter
teórico-abstrato dedutivo. Ele buscava demonstrar também, que a diferença metodológica,
entre os clássicos ingleses e a moderna escola histórica alemã, possuía profundas raízes
econômicas e sociais. O que se ocultava nessa discussão era o fato de que os economistas
clássicos, como David Ricardo, formularam leis gerias abstratas de caráter universal
baseadas no processo de desenvolvimento teórico da economia, fomentado pela indústria
inglesa. Este cosmopolitismo refletia o desenvolvimento industrial da Inglaterra, a partir de
1750, e sua superioridade tecnológica e teórica em relação ao desenvolvimento capitalista
industrial na França e Holanda, que apenas décadas depois se iniciou. Mas, a importação
deste modelo industrial para Alemanha e Itália só tardiamente ocorreria com o processo de
unificação territorial e a formação de seus Estados nacionais, após 1861-1873.
Neste cenário de desenvolvimento capitalista tardio no continente europeu, no
início do século XX, a Alemanha possuía um caráter agrário e atrasado diante da Inglaterra.
A indústria metalúrgica alemã, por exemplo, enfrentava a concorrência inglesa nos
mercados interno e mundial. Foi essa diferença econômico-industrial que propiciou o
surgimento da escola histórica alemã, devido à necessidade prática e teórica da burguesia
alemã proteger sua nascente indústria com a adoção de políticas tarifárias e aduaneiras
protecionistas pelo Estado Imperial. No campo teórico, por meio da escola histórica, esta
necessidade de proteção da indústria alemã ganha outros matizes. Os seus estudos deveriam
refletir as circunstâncias e condições materiais concretas da realidade e apontar as reais
perspectivas de crescimento da indústria em meio às salvaguardas protecionistas do Estado.
Por isso, a refutação desta escola da validade universal das teorias econômicas e de suas
leis de caráter geral, desenvolvidas pelos clássicos ingleses.
Se a burguesia inglesa estava dispensada de enfatizar as particularidades nacionais, a burguesia
alemã, pelo contrário, devia se mostrar atenta à originalidade e autonomia da evolução alemã e
servir-se delas a fim de demonstrar teoricamente a necessidade de um protecionismo para o
desenvolvimento. O interesse teórico se concentrava, com efeito, no historicamente concreto e
nacionalmente limitado. A teoria servia exclusivamente para pôr em evidência estes aspectos
específicos da vida econômica. De um ponto de vista sociológico, a escola histórica foi a expressão
ideológica deste processo de crescimento da burguesia alemã que, temerosa da concorrência
inglesa, buscou apoio para a indústria nacional e, por isso, salientou as particularidades nacionais e
históricas da Alemanha e outrossim, generalizando o procedimento, as de outros países (Bukhárin,
1974:46).
Porém, nunca será demais reafirmar a atualidade desta obra bukhariniana, nem que
consiste numa das críticas mais profundas aos equívocos metodológicos das escolas
histórica alemã e a-histórica austríaca e, também, da teoria marginalista, que embasam o
pensamento econômico e anti-científico pós-moderno capitalista atual. Escolas estas cujas
raízes teóricas e metodológicas fundamentam as teorias econômicas que intentam legitimar
o projeto de dominação mundial capitalista de globalização econômica, baseado no ideário
neoliberal do FMI e do Consenso de Washington, imposto às nações do mundo visando o
saqueio de suas riquezas naturais e a superexploração de sua força de trabalho. Sobretudo,
em relação ao emprego do capital financeiro de natureza especulativa desse estrato rentista
da sociedade capitalista mundial que Bukhárin, ainda em 1914, desvendou a existência
parasitária.
Referências bibliográficas