Você está na página 1de 62

sa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNBB

No momento favorável,
eu te ouvi,
e no dia da salvação,
eu te socorri

Roteiros Homiléticos
da Quaresma
Ano A

Projeto Nacional de Evangelização


Queremos Ver Jesus
j Caminho, Verdade e Vida

EB. PAULUS
14 edição — 2008

Capa: Ilustração de Dom Ruberval Monteiro, osb


(Mosteiro da Ressurreição — Ponta Grossa — PR)

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada
em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escnta do autor — CNBB,

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB


SES, Quadra 801, Conjunto “B”, Asa Sul
CEP 70401-900, Brasília — DF (Brasil)
Tel.: (61) 2103-8300
Site: www.cnbb.org.br/queremosverpesus — E-mail: queremosverpesus@cnbb.org.br

Paulinas Paulus
Rua Pedro de Toledo, 164 Rua Francisco Cruz, 229
04039-000 — São Paulo — SP (Brasil) 04117-091 — São Paulo — SP (Brasil)
Tel: (11) 2125-3549 — Fax: (11) 2125-3548 Tel: (11) 5084-3066 — Fax: (11) 5579-3627
http://www paulinas.org.br — editora(Dpaulinas.com.br http://www paulus.com.br — editoriakDpaulus.com.br
Telemarketing e SAC: 0800-/01008!|
O Pia Sociedade Filhas de São Paulo — São Paulo, 2008
Apresentação

Dando continuidade ao projeto “Queremos ver Jesus”, a


Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia preparou este sub-
sídio com os Roteiros Homiléticos para a Quaresma de 2008.
Nosso cordial agradecimento a Ir. Veronice Fernandes, pddm,
pela dedicação em preparar este material, fruto de sensibilida-
de pastoral e de experiência na animação da vida litúrgica nas
comunidades.
Iniciamos a Quaresma, a primeira depois da Conferência
de Aparecida. A Quaresma, tempo de caminhar com Jesus e com
a Igreja, vem confirmar-nos na nossa vocação de discípulos mis-
sionários daquele que, pela sua Páscoa, é fonte de vida para todos
os povos. Assim vivida, e à luz da Palavra de Deus proclamada
e celebrada nas assembléias dominicais, se reafirma o caminho
da Igreja na defesa da vida e da pessoa humana.
Esta é a proposta da Campanha da Fraternidade de
2008: tempo forte de conversão e mudança de vida, para que
a celebração do Mistério Pascal nos sustente no compromisso
pela valorização do dom da vida, contra todas as ameaças da
injustiça e do pecado, que matam os inocentes, interrompendo
arbitrariamente não só o direito de nascer, viver e morrer, mas
também a dignidade devida à pessoa. A ênfase quanto à defesa
da vida, sem empanar a riqueza da mensagem quaresmal, deve
nos interpelar profundamente. O tema Fraternidade e defesa da
vida, secundado pelo lema Escolhe, pois, a vida (Dt 30,19), tem
sua dimensão pascal.
A defesa da vida é urgente! O desrespeito a ela clama
por atitudes corajosas e proféticas, próprias dos discípulos mis-
sionários de Jesus Cristo. A VIDA que ressurge plena deve ser

o
PNE - QV] - CVV nº 43
mostrada com a mesma rapidez com que as estruturas de morte
avançam pelo mundo.
Que o banquete da Palavra desta Quaresma renove o enga-
jamento e a esperança de todos no Deus da Vida, confrontando
a nossa vida com a Páscoa do seu Filho Jesus. “Este é o tempo
favorável, este é o dia da salvação” (2Cor 6,2).

t Dom Fernando Panico, msc


Bispo de Crato, CE
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
A liturgia no Tempo da Quaresma
Considerações e sugestões gerais

Estamos iniciando um novo tempo. É um tempo que nos


direciona para a Páscoa. “A liturgia quaresmal prepara para a
celebração do mistério pascal tanto dos catecúmenos, fazendo-os
passar pelos diversos degraus da iniciação cristã, como os fiéis,
que recordam o próprio Batismo e fazem penitência.”
A Quaresma faz memória do Cristo, em seus quarenta dias
pelo deserto, revivendo, na própria experiência, os quarenta anos
do povo de Deus também no deserto. Com ele subimos à Jeru-
salém, percorremos o caminho da cruz, passamos pela morte até
chegarmos à nova vida, dom do Pai, pelo Espírito.
A Quaresma é o “tempo favorável” para a redescoberta e o
aprofundamento do autêntico discípulo de Cristo. É espaço para
um novo nascimento. Neste tempo, somos chamados a assumir a
penitência como método de conversão e unificação interior, como
caminho pessoal e comunitário de libertação pascal. É necessário
fazer da Quaresma um momento propício para a avaliação de
nossas opções de vida e linhas de trabalho, para corrigir os erros
e aprofundar a dimensão ética da fé, abrindo-nos aos outros e
realizando ações concretas de solidariedade. É tempo forte de
escuta da Palavra, pois através dela vamos conhecer os desejos
de Deus e praticar a sua vontade.
A Quaresma é tempo de renovação espiritual, uma espécie
de retiro pascal estruturado no trinômio: oração, jejum e esmola
(solidariedade, misericórdia). “O que a oração pede, o jejum al-
cança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três

|! Normas universais do Ano Litúrgico e do Calendário Romano Geral, n. 27.

PNE - QV) - CVV nº 43


coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente” (Pedro
Crisólogo, século IV).
O jejum, como disciplina que conduz à liberdade; a oração,
sinal do nosso desejo de Deus e da unificação do coração; a esmo-
la, traduzida em solidariedade. Este ano, num mutirão fraternal,
somos provocados a defender a vida. Uniremos não só nossas
vozes, mas também nossas forças, energias, ações e iniciativas,
na escolha da vida, transformando a nossa fé em caridade.
Trilharemos esse caminho, como discípulos(as) mis-
sionários(as) fiéis, seguindo os passos de Jesus. Este vence as
tentações do diabo, nos revela, mediante a transfiguração, que
pela paixão e cruz chegará à glória da ressurreição e nos ensina
a repensar o sim pessoal da fé, num encontro profundo com ele,
a exemplo da mulher samaritana, que recebe dele a salvação, do
cego de nascença, que começa a ver, e do amigo Lázaro, que é
ressuscitado.

Lembretes

Para celebrarmos profundamente a Quaresma — que se


estende da Quarta-feira de Cinzas até a manhã da Quinta-feira
Santa —, seguem alguns lembretes.
* A oração, o jejum e a solidariedade devem ser intensificados.
* A Campanha da Fraternidade, com o tema “Fraternidade e
defesa da vida” e com o lema “Escolhe, pois, a vida”, nos
conclama a “cuidar do grande jardim”, desenhado e plantado
por Deus. Cada comunidade deve procurar a forma de ligar a
Campanha da Fraternidade com as celebrações da Quaresma.
* Nos domingos e dias de semana, na celebração da Eucaristia,
da Palavra e no Ofício Divino, as orações e os textos bíblicos
e patrísticos vão orientar nosso caminho.
* O espaço litúrgico deve ser despojado e sóbrio. Os vazios e as
ausências nos ajudam a esvaziar o coração para preenchê-lo com
a Palavra, que é luz para nossos passos e que nos converte.

PNE - QV) - CVY n° 43


* Ás cinzas em nossas cabeças nos lembram a necessidade de
conversão e de fé no Evangelho. Recebendo-as, reconhecemos
que somos pó e pó voltaremos a ser. Consigamos, assim, pela
observância da Quaresma, celebrar de coração purificado o
mistério pascal do Filho Amado do Pai.
* Momentos de silêncio, principalmente entre as leituras e após
a homilia, são importantes.
* A cor litúrgica para a Quaresma é a roxa, que expressa a
dimensão maior de penitência e disposição à conversão. Um
sinal permanente no espaço litúrgico, como um tecido roxo
em forma de faixa na mesa da Palavra ou como detalhe na
mesa eucarística (sem “tampar” ou esconder o altar), ajudará
na experiência quaresmal.
* O 4° Domingo da Quaresma é conhecido, na tradição da
Igreja latina, como domingo da alegria ou /aetare (em latim,
“alegrar-se”). Neste dia, usa-se a cor rosa ou o róseo.
* À cruz, pela qual fomos marcados no Batismo, deve ser
destacada. Ela lembra que somos discípulos e discípulas de
Jesus, que superou o fracasso humano da cruz com um amor
que vence a morte. Nas celebrações do Ofício de vigília, aos
sábados, no momento do canto de abertura, pode ser feita a
iluminação da cruz. É preciso também valorizá-la nas cele-
brações dominicais.
* Os cantos e melodias expressam o sentido próprio do mistério
celebrado; por isso, cuide-se para que não apenas deixem de
ser cantados o Glória e o Aleluia, mas que, tanto no conteúdo
quanto no ritmo e no uso dos instrumentos, eles sejam uma
verdadeira expressão da Quaresma. O Hinário Litúrgico da
CNBB, fascículo 2, oferece um rico repertório.

? Todas as indicações de números de páginas se referem à 7º edição revista e ampliada.

9
PNE - QVJ - CVV n? 43
O Ofício Divino das Comunidades é uma referência para a
música e para os momentos de oração comunitária.
Alguns gestos e ações simbólicas podem ser mais valorizados
neste tempo, por exemplo, o ajoelhar-se, o rito de bênção e a
aspersão da água durante o ato penitencial.
A comunidade pode fazer maior experiência da misericórdia de
Deus através do sacramento da Reconciliação, de celebrações
penitenciais e também de retiros.
Os diversos ministérios devem ser lembrados como verdadei-
ros serviços e entrega à comunidade reunida.
Em cada domingo, o prefácio escolhido deverá assemelhar-se
aos textos bíblicos do dia. Ver os prefácios próprios para a
Quaresma batismal.
A comunidade pode ter um ou mais jovens ou adultos que,
tendo feito o pré-catecumenato e o catecumenato, realizem a
segunda etapa do Rito de Iniciação Cristã de Adultos.
No processo catecumenal, são realizados no 1º Domingo os
ritos de eleição e inscrição do nome. O 3º, o 4º e o 5º Domingos
são destinados aos escrutínios: oração sobre os eleitos, preces
e exorcismos, e também à entrega do Símbolo (o credo), do
Evangelho e da Oração do Senhor (Pai-nosso).

* Sugerimos o DVD Reconciliai-vos, produzido pela CNBB e Verbo Filmes, como


roteiro para estudo e aprofundamento do sacramento da Penitência e Reconciliação
e das celebrações penitenciais. Pedidos: verbofilmes(Dterra.com.br ou pelo telefone:
(11) 5182-5744,

10
PNE - QV) - CVV n° 43
Quarta-feira de Cinzas
6 de fevereiro de 2008

Leituras: Joel 2,12-18; Salmo 50(51),3-4.5-6a.12-14.17,


2 Corintios 5,20-6,2; Mateus 6,1-6.16-18

Teu Pai, que vé o que està oculto,


te darà a recompensa

1. Situando-nos brevemente

“Escutai, 6 Igreja de Deus: Eis que o tempo de graça


chegou, é o Senhor da justiça que passa, sua Páscoa entre nós
começou! Mudai de vida, mudai, convertei-vos de coração! Fazei
a vontade do Pai, amai e servi aos irmãos, fazei a vontade do Pai,
lutai por um mundo de irmãos; fazei a vontade do Pai, o chão é
de todos e o pão”.! Assim canta o profeta-poeta, assim cantamos,
celebramos e vivemos nós hoje.
Estamos iniciando um tempo de graça e salvação, é Qua-
resma, espaço para mudança de vida, para conversão profunda e
para retorno ao primeiro amor. Iniciamos este tempo colocando
cinza sobre nossa cabeça, como sinal de penitência, apelo à
conversão e crença no Evangelho.
Jesus Cristo, que se dirige para Jerusalém a fim de viver
seu mistério pascal, arrasta consigo toda a Igreja. Hoje, inician-
do o caminho quaresmal, ele nos pede três atitudes exigentes e
complementares: oração, Jejum e esmola (solidariedade).

! Música “João Batista clamou no deserto”, letra e música de Reginaldo Veloso.

11
PNE - QVJ - CVV n° 43
2. Recordando a Palavra

A palavra de Jesus, segundo Mateus, dirigida a nós neste


início de Quaresma, faz parte de um amplo discurso do Mestre,
denominado “sermão da montanha”. Este é o primeiro dos cinco
importantes discursos de Jesus encontrados em Mateus.
“O “sermão da montanha” é como a constituição do novo
povo de Deus, o protocolo da nova aliança, o manifesto do Mes-
sias Salvador. Deve ser lido com o Sinai e Moisés ao fundo, para
apreciar correspondências e contrastes. Jesus se dirige a todos os
que o escutam, à multidão (cf. 4,25). Dirige-se à nova comunidade
ou povo seu. Seu discurso é exigência Incondicional, convite a
uma constante superação de si mesmo, denúncia de mesquinhezas
e infidelidades, oferta da misericórdia de Deus. Através dessa
comunidade limitada, dirige-se à comunidade humana, fermento
para uma transformação da história.”?
O discurso divide-se em várias partes. Apresenta as bem-
aventuranças com o contraste entre a lei antiga e a nova (cf.
5,1-16.17-48); três obras de justiça ou fidelidade: esmola, oração
e jejum (cf. 6,1-4.5-15.16-18). Há o tema da confiança em Deus
e da misericórdia para com o próximo (cf. 6,19-7,12), e um es-
clarecimento sobre os dois caminhos e os falsos profetas. Jesus
encerra o discurso com a comparação das duas construções (cf.
7,24-29).
Na palavra proclamada hoje, Jesus instrui sobre a oração,
o jejum e a esmola, Ao falar de cada atitude, o Mestre refere-se a
um comportamento que deve ser evitado, a uma instrução sobre
a atitude apropriada e à promessa de uma recompensa vinda de
Deus.

? Biblia do Peregrino. São Paulo, Paulus, 2000. nota a Mt 5-7.

12
PNE - QV) - CVY nº 43
Jesus reinterpreta as práticas existentes, apontando o sen-
tido profundo de cada uma e ensinando que elas, por si só, não
são suficientes para nos colocar no caminho da vida. A prática
da oração, do jejum e da esmola tem sentido na intimidade e
na comunhão com o Pai, que nos ama gratuitamente e nos vê
além dos nossos limites, pois são grandes sua misericórdia e sua
complacência.
A primeira leitura é uma profecia de Joel que convoca o
povo da comunidade do templo para refletir sobre a catástrofe
da praga de gafanhotos. Essa praga acabou radicalmente com
a plantação e a lavoura. O profeta exorta toda a comunidade a
cuidar da terra devastada, a arrepender-se e a clamar a Deus por
ajuda.
Esse fato serviu de motivo para uma reflexão mais profun-
da. A praga é comparada ao Dia do Senhor. Mas para encontrar
graça e salvação neste “dia” é preciso converter-se e voltar ao
Senhor. Não bastam exterioridades; é preciso mudança de cora-
ção, com jejuns, lágrimas e gemidos. É um retorno sincero para
Deus, uma reorientação de pensamentos e decisões, segundo o
querer de Deus, que é benigno e compassivo, paciente e cheio
de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo (cf. v. 13). Todo o
povo é convocado para uma liturgia de lamentação, pois o Senhor
não pode deixar perecer a sua herança, para que também as outras
nações o reconheçam como único Deus verdadeiro.
O Salmo 50(51) é um grande lamento. É uma súplica pela
eliminação da desgraça pessoal e social que os pecados causa-
ram. Ao cantar esse salmo, reconheçamos que somos pecadores
e peçamos a Deus que crie em nós um coração novo e nos dê
seu Espírito de santidade.
A segunda leitura é uma palavra de Paulo à comunidade de
Corinto. Esse trecho está no contexto em que Paulo fala do seu
ministério, pois a comunidade, além de conflitos internos, está

13
PNE - QV) - CVV nº 43
com dificuldades de se relacionar com o próprio apóstolo. Paulo
defende o seu ministério da nova Aliança (cf. 3,1-18). Identifica a
origem e o poder divinos de seu ministério (cf. 4,1-15) e espera a
recompensa eterna por sua fidelidade (cf. 4,16-5,10). Continua a
descrever o ministério de reconciliação que não exclui ninguém,
mas inclui todos os que estão em Cristo (cf. 5,11-6,10).
A pregação de Paulo é exortação e súplica para que a co-
munidade de Corinto acolha, na própria vida, o dom divino da
reconciliação em Cristo, o qual, embora não tenha cometido pe-
cado algum, foi feito pecado por nós, para que nele nos tornemos
Justiça de Deus (cf. 5,21). Portanto, é agora o tempo favorável,
é agora o dia da salvação (cf. 6,2).

3. Atualizando a Palavra

Hoje iniciamos o grande retiro espiritual das comunidades


cristãs. Tempo de rasgar o coração e voltar para o Senhor, como
diz o profeta Joel. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à
graça do Senhor, que nos ouve e socorre.
Dia a dia, na escuta da Palavra, no diálogo amoroso com
o Senhor, através de gestos e ações simbólicas, vamos trilhando
o caminho de Jesus, que chegará à experiência da cruz, em que
ele, nossa esperança, dará a vida pelos seus e nos conduzirá a
uma manhã de luz. A Quaresma é tempo de conversão, mudança
e revisão. Nela, o Senhor nos conduzirá ao deserto para falar ao
nosso coração.

A Palavra de Deus, neste início de Quaresma, traça para


nós um programa de retomada. Ela pede sinceridade e profundi-
dade nas ações de nossos corações. Pede para nós transparência,
mudança, a partir de dentro. Eis um caminho privilegiado para
a conversão e a oração. A oração é um dom de Deus. Se quiser-
mos orar, a primeira atitude deve ser pedir esse presente gratuito

14
PNE - QV] - CVV nº 43
do Senhor. A oração é uma relação viva e pessoal com o Deus
verdadeiro. É mais que palavras, mais que fórmulas, mais que
gestos. É a própria relação que se estabelece entre Deus e seu
povo; é uma aliança; é, portanto, um ir e vir, escuta e resposta.
Esse diálogo é pessoal, pois se realiza com uma pessoa e a abrange
inteiramente. Deus é experimentado como aquele que está aqui
(cf. Gn 15,1ss; 18,16-33; Mt 27,46). O encontro com Deus é face
a face, de pessoa para pessoa.
O segundo aspecto importante do programa da Quaresma
é o jejum. Como Jesus aponta no evangelho, o jejum deve ser
praticado em segredo, na intimidade com o Pai. Jejuar nos ajuda
a exercitar a capacidade de autodomínio, para servirmos mais li-
vremente a Deus e ao próximo. “Sofrendo um pouco de privação,
saibamos unir-nos de algum modo às pessoas que habitualmente
são privadas de alimentos, de meios econômicos, de bens cultu-
rais e possibilidades concretas de desenvolvimento; o jejum se
torna um gesto simbólico, denúncia profética da injustiça que
nasce do egoísmo, solidariedade com os mais pobres.”
O terceiro aspecto da Quaresma é a esmola. É um gesto
gratuito de partilha, sinal de solidariedade e divisão das rique-
zas que se contrapõe a toda tendência de posse e concentração
de bens. A Quaresma nos convida a abrir nossos olhos, nossos
ouvidos e nosso coração para vermos os que estão à margem,
implorando por justiça e dignidade.
Oração, esmola e jejum são inseparáveis, como bem disse
são Pedro Crisólogo no século TV: “Quem pratica somente uma
delas ou não todas simultaneamente é como se nada fizesse. Por
conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua pratique a
misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações atenda
às súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus

3 Missal Dominical, p. 140.

15
PNE - QV) - CVV nº 43
ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas
próprias súplicas. Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja
sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível
à sua; seja misericordioso quem procura alcançar misericórdia;
quem pede compaixão também se compadega; quem quer ser
ajudado ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros
aquilo que pede para st”.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Iniciamos, neste dia de jejum, o tempo da Quaresma para
celebrarmos, de coração purificado, o mistério pascal de Jesus.
A palavra do Senhor, as orações, as ações simbólicas nos levam
a experimentar a bondade infinita do nosso Deus, como reza a
antífona de entrada: “O Deus, vós tendes compaixão de todos
e nada do que criastes desprezais; perdoai nossos pecados pela
penitência, porque sois o Senhor nosso Deus”.
Experimentamos o Deus que acolhe nossa penitência,
corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica
nosso espírito fraterno, nos dá a graça de nos aproximarmos de
seu jeito misericordioso de ser. “Vós acolheis nossa penitência
como oferenda à vossa glória. O jejum e a abstinência que pra-
ticamos, quebrando nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa
misericórdia, repartindo o pão com os necessitados.”
Na Quaresma, seguimos o Cristo, obediente ao Pai, que se
entrega, na cruz, pela salvação de todos. Hoje, nesta Eucaristia
nós nos oferecemos com Cristo ao Pai, pelo Espirito. Que o sa-
cramento pascal recebido na mesa da partilha e da entrega nos
ajude a fazermos da nossa vida uma oferta agradável a Deus.

4 Prefácio da Quaresma, III.

16
PNE - QVJ - CVV n° 43
5. Sugestões para a celebração
e A cor usada é O roxo.
* Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Senhor; eis aqui o
teu povo, Hinário 2º, CNBB, p. 296; João Batista clamou no
deserto, Hinário 2, CNBB, p. 284; Piedade, ó Senhor, Hiná-
rio 2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti, Senhor, Hinário 2,
CNBB, p. 109; Pecador, agora é tempo, Hinário 2, CNBB,
p. 277; O vosso coração de pedra, Hinário 2, CNBB, p. 275;
Reconciliai-vos com Deus, Hinário 2, CNBB, p. 290 (ver
CD Quaresma ano A [Liturgia XII] e Quaresma anos Be C
[Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
* As cinzas que serão abençoadas e colocadas sobre as cabeças
deverão ser preparadas com antecedência.
* O espaço da celebração permanece despojado, sem flores e
sem ornamentos.
* O silêncio deverá ser valorizado como convite à oração. Os can-
tores podem entoar um refrão meditativo: Misericordioso é Deus,
sempre, sempre o cantarei, Ofício Divino das Comunidades,
Apostolado Litúrgico, São Paulo, 1999, suplemento 1, p. 15.
* Na procissão de entrada, levar a cruz. Chegando à frente o
acólito segura a cruz por um tempo. Para destacá-la, ela poderá
ser iluminada com várias velas.
* QOato penitencial é omitido, pois é substituído pela imposição
das cinzas, após a homilia.
* O prefácio pode ser o III da Quaresma. A Oração Eucarística
pode ser a Il ou sobre a Reconciliação I.
* As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado. Sejam testemunhas da reconciliação.
Vivam em continua conversão. Vão em paz e que o Senhor
os acompanhe.

* Utilizamos aqui a 7º edição do 2º fascículo do Hinário 2, revista e ampliada, 2006.

17
PNE - QV) - CVV nº 43
|º Domingo da Quaresma
10 de fevereiro de 2008

Leituras: Gênesis 2,7-9; 3,1-7,


Salmo 50(51),3-4.5-6a.12-14.17; Romanos 5,12-19;
Mateus 4,1-1 (Tentações de Jesus)

Jejuando quarenta dias no deserto,


Jesus consagrou a observância quaresmal

1. Situando-nos brevemente

Hoje, 1º Domingo da Quaresma, estamos iniciando um


caminho batismal. Somos uma comunidade pascal, pois num
momento especial da nossa vida, mediante o Batismo, inicia-
mos um itinerário de continua conversão. Através do Batismo,
entramos no dinamismo da Páscoa, morrendo com Cristo para o
pecado e passando por meio dessa morte à vida divina de filhos
de Deus — corpos ressuscitados.
A Quaresma é tempo de experiência mais viva da partici-
pação no mistério pascal de Cristo. Vivemos essa experiência em
comunidade de fé. Unimo-nos aos catecúmenos que começam
hoje uma intensa preparação para receberem, na noite santa,
os sacramentos da iniciação. Neste domingo, conduzidos pelo
Espírito, vamos com Jesus ao deserto, lugar e tempo da união
profunda com Deus, tempo de decisão e orientação definitivas.

2. Recordando a Palavra

O evangelho de Mateus, depois de narrar o Batismo de


Jesus, conta que o Filho de Deus foi conduzido pelo Espírito ao

18
PNE - QV) - CVY nº 43
deserto para aí ser provado pelo diabo. As duas primeiras provas
começam com a frase “se és Filho de Deus”. Diante da prova,
Jesus mostra que tipo de Messias ele é. A filiação divina não se
manifesta por milagres e ostentação de poder, mas pela confiança
em Deus e pela obediência a seu plano.
O cenário é o deserto, e o tempo é de quarenta dias. O de-
serto e os quarenta dias de Jesus estão em relação direta com a
experiência do povo eleito, Israel, como observa expressamente
o evangelista, ao pôr nos lábios de Jesus as palavras daquelas
circunstâncias. Vejamos: primeira tentação (cf. Mt 4,4): Dt 8,3:
“Para te levar a reconhecer que nem só de pão vive o homem”;
segunda tentação (cf. Mt 4,7): Dt 6,16: “Não poreis o Senhor,
vosso Deus, à prova”; terceira tentação (cf. Mt 4,10): Dt 6,13:
“E ao Senhor, teu Deus, que temeràs; sò a ele servirás”.

Qual o sentido desses paralelos? O povo da primeira alian-


ca, ao ser tentado e provado, não conseguiu resistir perante os
próprios limites. Onde o primeiro povo fraquejou, agora Jesus
triunfa. O filho do Deus fiel recapitula, na sua pessoa, a história
de seu povo e traça o caminho da salvação para o povo da se-
gunda aliança.
Jesus, o Messias, Filho Amado, vencendo as provações
feitas por “aquele que divide (o diabo)”, deixa claro que ele
não busca satisfazer suas próprias necessidades materiais, nem
fazer uma exibição milagrosa de sua posição e de seu poder,
nem fazer parceria com o diabo por causa da autoridade politi-
ca. Ao contrário, é totalmente submisso à vontade do Pai, como
testemunha o apóstolo Paulo: “Ele tinha a condição divina e
não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar
ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição
de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura
de homem, humilhou-se e foi obediente até a morte e morte de
cruz” (Fl 2,6-8).

19
PNE - QVJ - CVV n° 43
A primeira leitura é o relato da criação do homem e da
mulher. O texto foi escrito novecentos anos antes de Jesus Cris-
to, com símbolos próprios da época, como a serpente. É o mais
antigo relato da criação (javista). Foi escrito no estilo de um
conto popular. O centro do relato não é a criação do mundo, e
sim o relacionamento do homem e da mulher, um com o outro
e com o mundo.
Deus formou a pessoa humana do pó da terra. O huma-
no torna-se um ser vivo porque o hálito do Senhor está nele.
Depois de formar a pessoa humana, o Senhor passa a criar um
lugar para a humanidade habitar. Esse lugar é um jardim, uma
espécie de parque com muitas árvores, inclusive com a árvore
da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. A pessoa
humana que habita nesse jardim recebe a tarefa de cultivá-lo e
guardá-lo, porém com uma restrição: não pode comer da árvore
do conhecimento do bem o do mal.
Após o relato da criação, lemos a história da queda do ho-
mem e da mulher. Aí aparece a serpente, que representa a força
hostil a Deus e a seu plano (em Canaã, a serpente era associada
aos cultos de fertilidade, fonte constante de tentação para Israel).
A mulher é tentada pela serpente da mesma maneira que todo
ser humano é tentado. O narrador bíblico, num estilo sapiencial,
procura explicar a origem do mal no mundo e a fragilidade hu-
mana.
O Salmo 50(51) é um grande reconhecimento da misericór-
dia de Deus, que acolhe com carinho o pecador arrependido.
A segunda leitura é uma palavra de Paulo aos romanos.
Parece que o grande interesse do apóstolo não é falar sobre o
pecado e a morte, mas expor a imagem contrastante de Adão e
Cristo. “O pecado entrou no mundo por Adão. Através do pecado,
entrou a morte. E a morte passou para todos os homens, porque
todos pecaram” (v. 12). Assim, a morte tem duas causas na exis-

20
PNE - QVJ - CVV n° 43
tência humana: o pecado de Adão e a ratificação pessoal desse
ato por indivíduos que pecam. O pecado de Adão afetou toda a
sua descendência. Em oposição, por meio da morte redentora de
Cristo, obediente até a morte e morte de cruz, a justiça e a vida
alcançam todas as pessoas que o aceitam.

3. Atualizando a Palavra

Como canta o hino da Campanha da Fraternidade, recebe-


mos de Deus um “jardim” desenhado e projetado por Deus, um
paraíso. Entretanto, onde havia ordem e harmonia, o pecado traz
a desordem, quebra a harmonia e destrói esse “jardim”.
Hoje, são tantos sinais do pecado: o egoísmo, a destruição
da vida das pessoas e do meio ambiente, o poder, a concentração
de riquezas, a fome, a miséria, as guerras... Não há, porém, razão
para desespero, pois, como diz Paulo, “onde se multiplicou o pe-
cado, aí superabundou a graça de Deus” (Rm 5,20). Jesus, em sua
incondicional obediência ao Pai, nos trouxe vida novamente.

Muitos homens e mulheres tiveram que conservar sua fi-


delidade ao Senhor, vencendo provações e contratempos. Jesus,
o Filho de Deus feito homem, também foi provado. Pautado na
Palavra de Deus, Jesus vence a provação e manifesta sua total
adesão e obediência ao Pai. Ele compreende que o caminho
da libertação, querido por Deus, não passa pelos caminhos do
poder, nem sagrado, nem político e muito menos miraculoso. O
caminho é o do Servo Sofredor, do justo que morre por causa
dos pecadores.
Se Jesus, o Filho de Deus, foi tentado, o que dizer de nós?
A Quaresma é o tempo de provação para nossa fidelidade ao
plano de Deus. Como e com Jesus, orientados pela Palavra viva
e eficaz, poderemos discernir, no meio de tantas vozes internas
e externas, sinais do Reino e tudo o que o ameaça.

21
PNE - QVJ - CVV n° 43
Estamos na Quaresma, tempo de “deserto”. Tempo de ver
a realidade profunda de nós mesmos, de enxergarmos a nossa
“nudez”, o nosso pecado, diante de Deus, a fim de nos redesco-
brirmos e de nos reorientarmos.

Fregientando a Palavra, escutando-a com o ouvido do


coração, todas as nossas opções estarão de acordo com o que-
rer de Deus e caminharemos na obediência ao projeto de vida
e salvação, vencendo todo tipo de provação, como Jesus, que
vence o diabo no deserto, aparece como “vencido” na cruz, mas
finalmente torna-se vencedor na Páscoa.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Jesus torna-se presente no meio de nós reunidos em seu
nome. Em comunidade de fé escutamos o próprio Cristo, que
nos fala ao coração e nos ensina a ouvir e praticar sua Palavra
de vida e salvação.

Numa só voz suplicamos ao Senhor, que atende a voz dos


que a ele clamam: que nos ajude a progredir no conhecimento de
Jesus Cristo e a corresponder ao seu amor vivendo em santidade
de vida (oração do dia).

Celebramos hoje o mistério pascal de Cristo. Ele foi sem-


pre obediente ao Pai. Servo fiel soube ouvir a voz do Pai, que o
livrou, na provação do deserto. Jejuando quarenta dias, desar-
mou as ciladas do inimigo e ensinou-nos a vencer o fermento da
maldade (prefácio).

A vitória de Jesus sobre o mal é o grande motivo do nosso


louvor e ação de graças. Por ele, com ele e nele participamos de
sua vitória e do seu oferecimento ao Pai.

22
PNE - QVJ - CVY n° 43
Na mesa da partilha, recebemos o corpo de Cristo, pão
vivo e verdadeiro, alimento que nutre a fé, incentiva a esperança
e fortalece a caridade (oração pós-comunhão).

5. Sugestões para a celebração


À cor usada é O roxo.
O espaço deverá ser sóbrio e despojado.
A cruz deverá ser valorizada. Ela pode ser iluminada com
várias velas,
Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Senhor; eis aqui o teu
povo, Hinário 2, CNBB, p. 296; Piedade, ó Senhor, Hinário
2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti, Hinário 2, CNBB, p.
109; O vosso coração de pedra, Hinário 2, CNBB, p. 275;
Quando invocar; eu atenderei, Hinário 2, CNBB, p. 54 (ver
CD Quaresma ano À [Liturgia XHI] e Quaresma anos Be C
[Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
A tradição da Igreja consagra o 1º Domingo da Quaresma
para o início do catecumenato daqueles(as) que irão receber
os sacramentos da iniciação na noite pascal. Sugere-se fazer
o rito de eleição dos catecúmenos.!
O ministério dos leitores e salmistas deverá ser valorizado,
para que, ao proclamarem a Palavra de Deus, sejam verdadei-
ros anunciadores da Boa Notícia. O método da leitura orante
pode ser um ótimo espaço de preparação espiritual.
Jesus, apoiando-se na Palavra de Deus, sai vitorioso da pro-
vação. A comunidade pode, neste dia, fazer um rito de adesão
à Palavra:
O(a) coordenador(a) toma o livro do evangelho e convida a comunidade
a um gesto de adesão à palavra:

| Cf. CARPANEDO, Penha & GuiMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor; guia para as celebra-
ções das comunidades, ciclo pascal ABC. São Paulo, Paulinas/Apostolado Litúrgico,
2002. pp. 68-70.

23
PNE - QV) - CVV n° 43
C: Irmãos e irmãs, diante do Cristo que venceu o Tentador e
permaneceu fiel ao plano do Pai, somos chamados a renovar
nossa disposição em escutar e praticar a Palavra como um
significativo exercício quaresmal. Por isso, pergunto: Vocês
querem, neste tempo de Quaresma, dedicar mais tempo à lei-
tura e à escuta da Sagrada Escritura e assim se alimentarem
da Palavra de Deus?
T: Sim, quero!
C: Vocês querem, neste tempo de Quaresma, fazer um esforço
decidido de permanecer firmes na obediência e na fidelidade
aos designios do Pai?
T: Sim, quero!
C: Deus, que inspirou este bom propósito, os conduza sempre
mais no caminho do Evangelho.
T: Amém!
A comunidade realiza um gesto de veneração do livro dos evangelhos
(Evangeliário) — beijo, toque, inclinação —, enquanto se canta um refrão
apropriado, como Não só de pão vive o homem.
O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado: Irmãos e irmãs, não só de pão vive a pes-
soa humana, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
Vão em paz, escolham a vida e que o Senhor os acompanhe.
No dia 11, lembramos Nossa Senhora de Lourdes e é também
o dia mundial dos enfermos. Dia 12, recordamos Ir. Dorothy
Stang, assassinada no Pará, defensora de projetos agrícolas
alternativos. Dia 14, memória de Cirilo, monge, e de Metódio,
bispo, missionários entre os povos da Polônia e Morávia. Dia
15, lembramos Camilo Torres, padre colombiano (1966).

2? Ibid., pp. 67-68.

24
PNE - QV) - CVV nº 43
2º Domingo da Quaresma
17 de fevereiro de 2008

Leituras: Gênesis 12,1-4a; Salmo 32(33),4-5.18-20.22;


2 Timóteo 1,6b-10; Mateus 17,1-9 (Transfiguração de Jesus)

Tendo predito aos discípulos a própria


morte, Jesus lhes mostra, na montanha
sagrada, todo o seu esplendor

1. Situando-nos brevemente

Celebramos o 2º Domingo da Quaresma, em nossa cami-


nhada pascal, rumo a Jerusalém, local onde Jesus vai ser entregue,
condenado, morto e ressuscitado. Nesse caminho, subimos a mon-
tanha com Jesus, Pedro, Tiago e João para fazermos a experiência
da intimidade com o próprio Jesus, participar de sua glorificação
e recebermos o mandamento de escutá-lo sempre.
A transfiguração-iluminação de Jesus nos faz enxergar
os rostos “desfigurados” de tantos irmãos e irmãs, pobres e so-
fredores, que clamam por justiça e paz. Faz-nos ver também a
“desfiguração” do planeta, projetado com tanto carinho e amor
e destruído por causa da ganância e do poder.
E necessário confiar e esperar sempre, pois o transfigurado
no Tabor, Filho predileto, aparece desfigurado na cruz, porém se
torna definitivamente o ressuscitado e transfigurado.

2. Recordando a Palavra

No Evangelho, proclamamos e ouvimos hoje o relato da


transfiguração, narrado por Mateus. A experiência de Jesus na

25
PNE - QV) - CVY nº 43
montanha situa-se entre dois anúncios da paixão, justificando o
projeto do Pai e o destino de Jesus. O texto foi escrito à luz da
Páscoa. A manifestação da glória de Cristo, o Filho amado do Pai,
é um momento culminante, uma antecipação da ressurreição.
A experiência da aliança no Sinai (cf. Ex 24,1-18) é o
pano de fundo do relato da transfiguração. Jesus transfigurado
apresenta-se, sobretudo, como o novo Moisés. Ele resplandece
e a nuvem cobre o monte, tal como antes envolvia a tenda da
reunião. A glória de Jesus atrai Moisés (o mediador da aliança)
e Elias (o primeiro dos profetas). Outrora representantes da Lei
e dos Profetas, agora são testemunhas e interlocutores de Jesus.
No final, Jesus fica só (cf. v. 8); como doutor da Lei perfeita e
definitiva, bastava unicamente a sua presença.
A transfiguração ilumina a subida de Jesus a Jerusalém (cf.
16,21). Aos discípulos, que têm dificuldade de compreender o
caminho do Mestre, Deus revela a glória misteriosa de seu Filho
e exige deles que escutem seu ensinamento (cf. 17,5). O Senhor
glorioso é também o servo que devia sofrer e morrer, antes de
entrar definitivamente na glória da ressurreição. Mesmo sendo
dificil compreender e, sobretudo, viver essa experiência, pois
causa espanto e medo, os discípulos são consolados e encorajados
por Jesus, sem abrir mão da radicalidade do seguimento. Jesus é
servo, e sua glória passa pela cruz. A palavra de ordem é seguir
e ouvir. Nesse caminho, há exigências radicais envolvendo a
entrega da própria vida.
A primeira leitura conta a vocação de Abraão. Até então, o
autor narrou a história da humanidade. Agora, concentra-se num
indivíduo que se tornará uma família e, por fim, uma nação.
Abraão é chamado para um destino desconhecido, aban-
donando a pátria. Deus exige dele o risco da fé. O Senhor lhe
promete prosperidade. Em troca da família que deixa, ele terá
como família um povo e um nome que será sinônimo de bênçãos

26
PNE - QV) - CVV nº 43
(cf. Is 51,1s; Gl 3,8). Na promessa que Deus faz ao patriarca
Abraão, predomina a ação de abençoar (aparece cinco vezes).
Abraão abandona-se totalmente a Deus, corta todas as li-
gações que o prendem. A resposta de Abraão é pura obediência
a Deus, na fé, como afirma a carta aos Hebreus: “Foi pela fé que
Abraão, respondendo ao chamado, obedeceu e partiu para uma
terra que devia receber como herança, partiu sem saber para onde
ta. Foi pela fé que residiu como estrangeiro na terra prometida,
morando em tendas com Isaac e Jacó, os co-herdeiros da mesma
promessa. Pois esperava a cidade que tem fundamentos, cujo
arquiteto e construtor é o próprio Deus” (Hb 11,8-10).
No Salmo 32(33), os justos são chamados para louvar a
Deus, que fez o mundo com uma simples palavra. É um salmo
de confiança no Senhor. Ele é auxílio, proteção e esperança para
todos os que o procuram.
A segunda leitura é uma palavra de Paulo a Timóteo. Na
segunda carta, o apóstolo, preso e prestes a enfrentar o martírio,
encoraja o bispo de Éfeso, abatido com a notícia de sua prisão.
Paulo recorda a Timóteo que, por vocação, todos são chamados
a seguir Cristo, obediente ao Pai. Jesus Cristo, o Filho amado,
associa ao seu destino de sofrimento e de glória todos os seus
seguidores que ouvem e praticam com fé sua palavra.

3. Atualizando a Palavra

Num caminho progressivo rumo à Páscoa, hoje a Palavra


do Senhor nos interpela para a escuta, a confiança e a entrega sem
reservas. As leituras nos apresentam modelos de fé e entrega
incondicional à Palavra de Deus. Abraão, ouvindo o chamado,
é capaz de deixar tudo; confiando na promessa, parte para o
desconhecido. Paulo, mesmo estando na prisão e às portas do
martírio, encoraja o amigo e companheiro no apostolado a seguir

27
PNE - QVJ - CVV n° 43
Jesus, o vencedor da morte. Este último, o Filho de Deus, que na
montanha faz a experiência de glória, desce para ir a Jerusalém
e sofrer por parte dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e dos
escribas, morrer e ressurgir ao terceiro dia (cf. Mt 16,21-22). Ele
é O servo que veio cumprir a vontade do Pai.
No dia-a-dia, nos agarramos a muitas “seguranças”. Ao
contrário de Abraão, dificilmente “trocamos o certo pelo duvi-
doso”. O “risco” nos causa medo, insegurança, incerteza. Mas o
caminho se faz caminhando. Nunca estamos prontos, acabados.
E preciso ir fazendo acontecer à luz da Palavra do Senhor.
O relato da transfiguração aponta para o nosso destino vi-
torioso e nos ensina a não ter medo e a não fugir dos sofrimentos
que a nossa missão exige. Escutar a Palavra de Jesus passa a ser a
forma suprema de adorá-lo e reverenciá-lo. O caminho cristão é
um caminho de seguimento e de identidade com Jesus, que passa
pela cruz. O discípulo, iluminado pela palavra do Cristo, torna-se
icone vivo e permanente do Senhor. Esse itinerário requer de nós
renúncia, ou seja, capacidade, que vem de Deus, de avançar sem
medo para a meta: Cristo transfigurado, vencedor da morte.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Em comunidade de fé, damos graças a Deus, por Jesus,
nosso Salvador, que destruiu a morte e fez brilhar a vida e a
imortalidade.
Com Jesus aprendemos a passar pela paixão e cruz para
chegarmos à glória da ressurreição (prefácio). Sozinhos, somos
incapazes de assumir esse caminho. Por isso, invocamos o Senhor,
cheio de misericórdia e de amor, para que venha em socorro de
nossas fraquezas e incertezas (antifona de entrada). Só ele é capaz
de transformar o nosso coração de pedra em coração de carne.
Ele alimenta o nosso espirito com a Palavra de vida e salvação,

28
PNE - QV) - CVV nº 43
e purifica o olhar da nossa fé, para que gozemos alegres de sua
glória (oração do dia).
Celebramos hoje o sacramento da sua Páscoa, anunciamos
a sua morte e proclamamos a sua ressurreição. Recebendo seu
corpo glorioso, esperamos sua vinda e a transfiguração de toda
criatura na imagem da sua glória.!

5. Sugestões para a celebração


A cor usada é O roxo.
A comunidade pode iniciar a celebração cantando a meia voz
o refrão: Misericordioso é Deus, sempre, sempre o cantarei!
(Ofício Divino das Comunidades, Apostolado Litúrgico, São
Paulo, 1999, suplemento 1, p. 15).
Na procissão de abertura, a cruz pode ser levada junto com
velas e incensada.
Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Senhor; eis aqui o
teu povo, Hinário 2, CNBB, p. 296; Sobre nós venha Senhor,
Hinário 2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti, Hinário 2,
CNBB, p. 109; O vosso coração de pedra, Hinário 2, CNBB,
p. 275; Então da nuvem luminosa, Hinário 2, CNBB, p. 41
(ver CD Quaresma ano À [Liturgia XII] e Quaresma anos B
e € [Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
Hoje recebemos um convite todo particular para “escutar”
profundamente o Filho amado. E bom fazer um instante de
silêncio antes da proclamação das leituras. Os leitores e salmis-
tas, imbuiídos da Palavra do Senhor, tornam-se anunciadores
da Boa Notícia, proclamando-a de todo o coração.

| Cf. Missal Dominical, p. 159.

29
PNE - QVJ - CVV n° 43
O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
Depois da comunhão, reservar um tempo para a assembléia
fazer um profundo silêncio.
As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado: Irmãos e irmãs, escutem sempre a voz
do Filho Amado de Deus. Vão em paz, escolham a vida e que
o Senhor os acompanhe.
Nesta semana, de forma particular, vamos dedicar alguns
momentos para a escuta do Senhor, lendo e meditando sua
Palavra de vida. O método da leitura orante pode ajudar.
Dia 22 é festa da Cátedra de Pedro. Dia 23 é memória de
Policarpo, bispo de Esmirna (século IN).
3º Domingo da Quaresma
24 de fevereiro de 2008

Leituras: Êxodo 17,3-7; Salmo 94(95),1-2.6-9;


Romanos 5,1-2.5-8; João 4,5-42 (Samaritana)

Ao pedir à Samaritana que lhe desse de


beber, Jesus lhe dava o dom de crer

1. Situando-nos brevemente

Prosseguindo no itinerário pascal, iniciamos hoje a es-


cuta da narrativa de três encontros de Jesus: o encontro com a
mulher samaritana, com o cego de nascença e com Lázaro. São
catequeses progressivas para os catecúmenos, que se preparam
para a iniciação cristã. Os três encontros contêm toda a força da
revelação e da salvação que brota do mistério de Cristo. São tam-
bém acontecimentos que orientam todos os batizados à revisão
e à retomada do caminho de discipulado.
Deixemo-nos conduzir pelo Espírito e, como a mulher sa-
maritana, façamos experiência de diálogo e de encontro íntimo
com o Senhor. Só ele possui a água que sacia para sempre.
Neste dia, recordamos particularmente nossos irmãos e
irmãs que se preparam para o Batismo €e invocamos sobre eles a
força purificadora da graça divina.

2. Recordando a Palavra

No Evangelho, João apresenta Jesus partindo da Judéia para


a Galiléia, Ele atravessa a Samaria (cf. 4,4) e, em Sicar, descansa,

31
PNE - QV) - CVY nº 43
ao meio-dia, ao lado do poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus
pede água a uma mulher samaritana. Ela estranha o pedido, pois
judeus e samaritanos não se davam.
O evangelista apresenta detalhes interessantes no relato.
No início, Jesus é descrito em termos bastante humanos (cf. v.
6). A mulher é também bastante humana. O ir buscar água por
volta do meio-dia, quando o costume era pegar água cedo, pode
indicar uma posição de isolamento da mulher. Ela foi deixada
de lado pelos cinco maridos e pela sociedade.
O diálogo de Jesus com a mulher é longo e apresenta
saltos temáticos: da água ao matrimônio, deste ao culto; muda
os personagens: a mulher sai de cena (no final João volta a falar
dela), entram os discípulos; surge o tema da colheita. Aliás, é
fascinante a construção do capítulo por João. No início, a par-
tida dos discípulos esvazia a cena para o diálogo de Jesus com
a mulher (cf. v. 8), e a partida da mulher deixa Jesus à vontade
para o diálogo com seus discípulos.
No colóquio de Jesus com a samaritana, há uma pedagogia
incomparável. Ele a conduz, pouco a pouco, a uma verdadeira re-
visão de vida, fazendo-a ir até o profundo de sua consciência.
Há também um caminho progressivo na experiência de
fé e de conhecimento de Jesus, tanto da mulher como de seus
conterrâneos. No início, Jesus é um simples judeu (cf. v. 9). De-
pois ele aparece sobre o pano de fundo patriarcal, doador de um
dom precioso para os patriarcas como a água (cf. vv. 10-15). Em
seguida, ele é um profeta (cf. v. 19) e depois reconhecido como
Messias — Cristo —, que também os samaritanos esperam (cf.
vv. 25-26.29). E, finalmente, o Salvador do mundo (cf. v. 42).
Concluindo, podemos dizer que o evangelista apresenta
uma pedagogia de fé. Aos poucos, a pessoa é levada a superar
o entendimento puramente material e exterior. Jesus revela-se
como aquele que responde às aspirações mais profundas da
pessoa humana.

32
PNE - QV) - CVV nº 43
A samaritana é símbolo do(a) catecúmeno(a) e do(a)
discípulo(a) de Jesus, que aceita o dom que o Senhor oferece e
que realiza em seu itinerário aquilo que o Senhor profetiza: aquele
que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede, e essa
água se tornará nele uma fonte que jorra para a vida eterna. O
discípulo torna-se o adorador em espírito e verdade; por isso, terá
um dinamismo missionário e evangelizador, tal como a mulher
samaritana, que dizia para todos: “Vinde ver um homem que me
disse tudo o que eu fiz: será que ele não é o Cristo?”.!
A primeira leitura é uma palavra do livro do Êxodo. Situa-
se nos capítulos que apresentam um resumo da experiência de
Israel no deserto. O autor apresenta o símbolo humano da cami-
nhada. Ele reflete a vida como busca de sentido, tanto individual
como comunitariamente.
Os versículos lidos hoje apresentam três conceitos impor-
tantes: reclamar, murmurar e tentar ou provar o Senhor. Depois de
livre da opressão do Faraó, o povo está no deserto passando pela
dureza do caminho em busca da liberdade e passa pela tentação
de voltar atrás: “Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos
fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado? [...] O
Senhor está no meio de nós ou não?” (vv. 3.7b).
Deus intervém, pois eterno é seu amor para com todos. Ele
se mostra como rochedo, força, defesa e apoio de Israel. O Senhor
mais uma vez satisfaz a necessidade do povo — neste caso, a
necessidade de água. É preciso vigilância para não colocar em
risco o valor do êxodo.
O Salmo 94(95) é um hino processional. Ao cantá-lo, pe-
çamos a Deus que nos faça atentos à sua voz, para vencermos a
tentação da acomodação e prosseguir na caminhada.

| CARPANEDO, Penha & GuiMAaRÃES, Marcelo. Dia do Senhor; guia para as celebrações
das comunidades, ciclo pascal ABC. São Paulo, Paulinas/Apostolado Litúrgico,
2002. p. 80.

33
PNE - QV] - CVY nº 43
A segunda leitura é uma palavra de Paulo aos cristãos
de Roma. A comunidade cristã romana era predominantemente
pagão-cristã. No capítulo cinco, onde estão os versículos lidos
hoje, Paulo descreve a experiência cristã de uma vida nova em
paz junto a Deus. O apóstolo nos lembra que o dom de Deus é o
seu amor que foi derramado em nós pelo Espírito, por meio das
águas do Batismo. Tudo isso é graça e dom! Não é merecimento
nosso. À maior prova do amor é que Cristo morreu por nós quan-
do éramos ainda pecadores. Ele é a nossa rocha, da qual brota o
Espírito como um rio de água viva.

3. Atualizando a Palavra

A Palavra do Senhor nos faz descer ao profundo de nós


mesmos. Ajuda-nos a rever nossas opções, projetos, enfim, toda
a nossa vida. Podemos perguntar: Qual é mesmo a nossa sede?
Para onde caminha a humanidade, o mundo? Quais são as nossas
aspirações mais profundas? Em que apoiamos nossa vida?
As experiências do povo de Israel no deserto, da mulher sa-
maritana, dos discípulos de Jesus e de Paulo nos ensinam em que
devemos centrar nossas energias. Precisamos educar nossos dese-
jos. O grande perigo é quem nos conduz e para onde. Corremos
o risco de percorrer caminhos superficiais e girar unicamente em
torno do círculo do poder, da ganância, do mau uso da liberdade...
Devemos então orientar nossos desejos para a meta verdadeira:
“a água viva”, Cristo, o dom de Deus. Quem ouviu a sua voz,
bebeu desta fonte que jorra eternamente, torna-se sinal vivo do
Senhor, no meio do mundo, como a mulher samaritana.
O tempo da Quaresma é um caminho que nos ajuda a
orientar os nossos desejos para o sentido sagrado e eterno da
vida. E nós o percorremos orientados por Cristo, que saciou a
sede da samaritana, aparece como sedento na cruz e é fonte de
vida nova. A Quaresma é tempo propício para escolher a vida

34
PNE - QVJ - CVV n° 43
verdadeira, que é Cristo, e nele, por ele e com ele, nos engajarmos
em projetos em defesa da vida, sobretudo dos marginalizados e
desprezados deste mundo.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Neste domingo, dia do Senhor, em comunidade de irmãos
e irmãs, com os olhos fitos no Pai, nos colocamos diante do dom
de Deus, Jesus, o Cristo. O Senhor nos reúne e derrama sobre
nós uma água viva, purifica-nos de todas as faltas e nos preenche
com um espírito novo (antifona de entrada).
Hoje, seguindo o itinerário batismal, com o sinal sensível
da água, tocando-a ou sendo aspergidos com ela, deixamos que
essa ação simbólica nos conduza para dentro do mistério do nos-
so Batismo. Somos banhados em Cristo, água viva, e nele nos
tornamos novas criaturas. Deixamos para trás as coisas antigas
e, renascidos, nos tornamos discípulos autênticos e anunciadores
da Boa Notícia: “Nós mesmos ouvimos e sabemos que este é
verdadeiramente o salvador do mundo” (v. 42).
Unimos a nossa voz a todos os que buscam a fonte da mi-
sericórdia e da bondade, damos graças por todas as maravilhas
do amor de Deus em nosso favor. Apesar de nossos pecados e
limites, ele sacia a nossa sede e nos torna justos e santos.
A Eucaristia nos coloca em comunhão com o Cristo ino-
cente, morto e ressuscitado por nós, pecadores. Comendo o seu
corpo e bebendo do seu sangue manifestamos ao mundo que a
vida vence a morte.

5. Sugestões para a celebração


* À cor usada é O roxo.
* A comunidade pode iniciar a celebração cantando a meia voz
o refrão: O teu amor em nós será manancial, de água boa a
jorrar, pra nossa sede estancar (Ofício Divino das Comuni-
dades, p. 279).

35
PNE - QVJ - CVV n° 43
Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Senhor; eis aqui
o teu povo, Hinário 2, CNBB, p. 296; Não fecheis, irmão o
vosso coração, Hinário 2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti,
Hinário 2, CNBB, p. 109; O vosso coração de pedra, Hinário
2, CNBB, p. 275; Se conhecesses o dom de Deus, Hinário 2,
CNBB, p. 295 (ver CD Quaresma ano Á [Liturgia XII] e
Quaresma anos B e C [Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
No lugar do ato penitencial, pode ser feito o rito de bênção e
aspersão da água.
Se a comunidade não fez o rito da bênção e da aspersão da
água, a profissão de fé pode ser realizada do seguinte modo:
São trazidos copos de água.
C: Irmãs e irmãos, como outrora com a samaritana, o Senhor
nos oferece uma água viva e nos anuncia a salvação.
Em silêncio, todos rezam e renovam sua fé.
C: Vocês crêem em Jesus Cristo, salvador do mundo?
T: Sim, creio!
C: O Senhor, água viva, acolha nossa profissão de fé e nos dê
sede de água viva e a alegria de celebrar a sua ressurreição.
À água é passada para que todos possam beber, enquanto se canta o refrão:
A minh'alma tem sede de Deus (Sl 42). Ao passar a água a pessoa diz:
— Que o Senhor aumente em ti a sede da água viva.
Este domingo é dia de oração especial sobre os eleitos para
os sacramentos de iniciação. Invocamos sobre eles a força
purificadora da graça de Deus. A comunidade pode fazer o
rito de fortalecimento dos catecúmenos:
Os escolhidos para o Batismo, junto com os padrinhos e madrinhas,
colocam-se diante do(a) coordenador(a).
A: Escolhidos de Deus, ajoelhem-se para a oração.
Os catecúmenos se ajoelham.

2 Cf ibid. p. 81.
36
PNE - QV] - CVY nº 43
C: Irmãs e irmãos, rezemos por estes(as) que foram
escolhidos(as) para receberem os sacramento de iniciação.
Todos rezam em silêncio.

Leitor(a): Para que meditem em seu coração a Palavra de


Deus, saboreando-a cada vez mais intensamente, rezemos
ao Senhor:
T: Senhor; escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que reconheçam o Cristo que veio salvar o
que estava perdido, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que rejeitem lealmente tudo o que em seus costu-
mes desagrada ao Cristo ou se opõe a ele, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que o Espirito Santo, que sonda os corações
de todos, fortifique com a força divina a sua fraqueza, rezemos
ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que o próprio Espirito Santo lhes ensine as
coisas que são de Deus e a ele agradam, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que suas famílias ponham sua esperança em
Cristo e nele encontrem paz e santidade, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que todos nós, preparando-nos para as festas
pascais, possamos corrigir nossos erros, elevar nossos cora-
ções e praticar a caridade, rezemos ao Senhor:
T: Senhor; escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que no mundo inteiro o que é fraco seja for-
talecido; o deprimido, encorajado; o perdido, encontrado e
salvo, rezemos ao Senhor.
37
PNE - QV) - CVV nº 43
T: Senhor; escutai a nossa prece.
C:0 Deus, que nos enviaste teu servo Jesus como salvador
da humanidade, concede a estes nossos irmãos e nossas ir-
mãs, sedentos de água viva, como a samaritana, a graça da
conversão, para que, transformados por tua palavra, sigam
firmes no caminho da salvação. Por Cristo, nosso Senhor:
T: Amem.
O(a) coordenador(a) impõe as mãos sobre os catecúmenos e faz a seguinte
oração:
C: Senhor Jesus, és a fonte que estes catecumenos desejam e
o mestre a quem procuram. No teu amor; liberta-os e concede-
lhes a tua força. Pelo poder de teu nome, que invocamos com
fé, vem e salva. Derruba o poder do mal, vencido por tua res-
surreição. No Espirito Santo, mostra a teus eleitos o caminho
para que, conduzidos ao Pai, possam adorá-lo em espirito e
verdade. Tu que és Deus, como Pai e o Espirito Santo.
T: Amem.
Se for oportuno pode-se cantar o Salmo 41(42).
* O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
* Aspalavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado. Irmãos e irmãs, Jesus é verdadeiramente
o salvador do mundo. Vão em paz, escolham a vida e que o
Senhor os acompanhe.
* Nesta semana, de forma particular, dediquemos alguns mo-
mentos para o diálogo com o Senhor, lendo e meditando sua
Palavra de vida. O método da leitura orante pode ajudar.
* No dia 25, lembramos, com carinho, os idosos. Dia 1º de
março é o dia internacional de luta por um mundo sem bomba
nuclear.

è Cf. ibid., pp. 81-83.


38
PNE - QVJ - CVV n° 43
4º Domingo da Quaresma
2 de março de 2008

Leituras: 1 Samuel 16,1b.6-7.10-13a;


Salmo 22(23),1-2.3b-4.5-6; Efésios 5,8-14;
João 9,1-41 (Cura do cego de nascença)

Pelo mistério da encarnação,


Jesus conduziu à luz da fé
a humanidade que caminhava nas trevas

1. Situando-nos brevemente

Neste domingo, damos mais um passo no seguimento de


Jesus durante esta Quaresma batismal. Celebramos o domingo
da alegria e do cego de nascença. No Batismo, de que a água da
fonte de Siloé é figura, recebemos a luz que nos faz filhos e filhas
de Deus e somos “iluminados”.
Hoje, juntamente com o cego de nascença, fazemos a
experiência de termos os olhos ungidos e sermos curados de
nossa cegueira, aprofundando sempre mais o sentido do nosso
seguimento de Jesus. Ele, que dá a luz ao cego e que na cruz
aparece “desfigurado”, nas trevas da morte, torna-se para sempre
o iluminador, a Luz do mundo.
Neste dia, continuamos a invocar, sobre nossos irmãos e
irmãs que se preparam para receber os sacramentos da iniciação,
a graça de Deus que tudo ilumina. Recordemos todos os grupos
que, através da vida e das ações, fazem brilhar a luz de Deus para
tantas pessoas e comunidades.

39
PIE - QVJ - CVV n° 43
2. Recordando a Palavra

No Evangelho João descreve um milagre de Jesus e suas


consequências. O evangelista apresenta Jesus como luz do mundo
que pode trazer a visão para os que antes eram cegos e/ou cegueira
para os que, confiantes em sua visão, afastam-se da luz.

O episódio da cura do cego é bastante dramático e desen-


volve-se com a atuação de várias pessoas e cenas consecutivas:
Jesus, o cego, os discípulos, os vizinhos, os fariseus, os pais e as
autoridades. O cego corajoso e inteligente desempenha o papel
principal até o ponto de quase roubar a cena de Jesus. Este último,
no entanto, vai guiando discretamente os fatos.
Encontramos no relato dois processos. Primeiro, a pro-
gressiva “iluminação” do cego, cada vez mais penetrante em
sua visão sobrenatural. Jesus manda o cego lavar-se em uma
piscina chamada Siloé, que significa “Enviado”. “Enviado”, se-
gundo o próprio evangelista, é o apelido legítimo de Jesus. Esse
fato aponta para um dos sentidos mais profundos da passagem:
quem mergulha no “Enviado” recupera a visão. Visão essa que é
não somente física, mas também espiritual. Quem mergulha em
Cristo, o “Enviado” do Pai, renasce para uma vida nova.
Como a samaritana, gradualmente o cego vai crescendo no
conhecimento de Jesus: de um “homem” chamado Jesus (cf. v.
11), progrediu para o discernimento mais profundo de seu caráter
como “profeta” (cf. v. 17), um “homem de Deus” (v. 33), como
o “Filho do Homem” que veio do céu (cf. v. 35), até culminar na
profissão de fé de que Jesus é o “Senhor”. Na experiência do cego,
essa evolução coincide com o processo de iniciação no caminho
de Jesus. São os passos do catecúmeno em direção à fé.
O segundo processo é a progressiva cegueira das autori-
dades, que insistem em não compreender e em não ver. Os que
têm a certeza de que enxergam são, na verdade, cegos, e o são

40
PNE - QVJ - CVV n° 43
por escolha própria (cf. vv. 40-41). Permanecem cegos também
os vizinhos (cf. vv. 8-12) e os fariseus (cf. vv. 13-17).
O que nasce cego arrisca-se diante da ação e da ordem de
Jesus e começa a ver. Ele passa da cegueira à visão e dela ao
discernimento. O processo da “iluminação” do cego e da “ce-
gueira” das autoridades reflete a polêmica histórica entre juda-
ismo e cristianismo. Os “judeus” haviam decidido expulsar da
sinagoga todos aqueles que confessassem que Jesus é o Cristo. O
evangelista Inclui este capítulo em seu evangelho para encorajar
os seguidores de Jesus.
Hoje, em outras circunstâncias históricas, o relato não perde
seu valor revelador. Na igreja primitiva, o Batismo era conhecido
como “iluminação”. A cura do cego tornou-se uma parábola da
Iluminação batismal. O(a) batizado(a) é um(a) iluminado(a) que
tem os olhos abertos por Cristo no banho em seu nome.
A primeira leitura, tirada do primeiro livro de Samuel,
conta a história da eleição e unção de Davi como rei. Na esco-
lha de Davi, é Deus quem toma a iniciativa. Embora, aos olhos
humanos, Davi fosse o menos indicado para a unção, o Senhor
o escolhe. Samuel unge Davi em um banquete. Tudo é feito sem
ostentação.

O Salmo 22(23) é um canto de confiança. O Senhor é o


pastor e cuida com carinho do seu povo. A confiança do salmista
é tão grande que confia até quando o caminho leva por um por
um vale de sombra e de morte. Que o Senhor restaure as nossas
forças, nos leve a descansar nos prados e campinas verdejantes,
derrame sobre nós o óleo do seu amor e faça de nós sinais de
salvação para todos.
Na segunda leitura, Paulo define os cristãos como os esco-
lhidos, os eleitos de Deus. A nova identidade dos cristãos como
“iluminados” ou filhos da luz exige coerência de vida. Os frutos

41
PIE - QVJ - CVV n° 43
são a bondade, a justiça e a verdade, discernindo o que é agradável
ao Senhor. É preciso desmascarar, primeiro com o testemunho,
as obras das trevas. Aquele que vive em Cristo torna-se luz, foge
do mal, pratica o bem e ainda denuncia as ações das trevas. Paulo
termina com uma passagem (cf. v. 14) que parece ser um frag-
mento de um hino batismal, exortando a quem dorme na morte
que acorde para contemplar a luz de Cristo ressuscitado.

3. Atualizando a Palavra

A imagem de Deus como luz sempre esteve presente na


vida do povo. No Primeiro Testamento, Deus sempre caminhou
à frente do grupo que escolhera. A coluna de fogo 1a iluminando
os passos dos hebreus no deserto. Os profetas sempre apontavam
um caminho cheio de luz para um povo que andava nas trevas.
No Segundo Testamento, Cristo, a luz, vem ao mundo
para que todos possam ver. São muitas as passagens que tratam
o tema da luz: “Este veio como testemunha, para dar testemunho
da luz” (Jo 1,7). “O verbo era a luz verdadeira que ilumina todo
homem” (Jo 1,9). “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não
andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).
Hoje recebemos muitos convites. Todos levam à mudan-
ça de vida e de atitude. A unção mudou a vida de Davi; a cura
mudou a vida do cego; o Batismo mudou e pode mudar a vida
dos cristãos.
A palavra apresenta dois caminhos: o da treva e o da luz.
Como diz o autor do Salmo 1, é preciso escolher um. Paulo
exorta para escolhermos o caminho da luz, pois somos filhos
dela e nossa vida não pode ser trevas. Uma vez “iluminados”,
porém, não significa que estamos prontos. A experiência do cego
de nascença nos ensina que é só um começo. Ao escolher a luz,
enfrentamos dificuldades; primeiro uma luta interior e depois

42
PNE - QVJ - CVV n° 43
uma contra as “ofertas de bem aparente” que a vida nos oferece.
Podemos nos perguntar quais são essas ofertas.
Ultimamente, ouvimos notícias de tentativas de “ofuscar”
ou quase “apagar” os sinais de vida, desmoralizando pessoas e
projetos que buscam a luz. Paulo fala que é até vergonhoso citar
as “obras das trevas”. De fato, são inúmeros os projetos que
destroem a vida.
Façamos a nossa profissão de fé em Cristo, Senhor da vida
e da luz. Como orienta a Campanha da Fraternidade: “Escolha-
mos a vida”, mesmo que tenhamos que passar por provações e
incompreensões.
Na celebração deste domingo, é toda a assembléia que se
coloca no caminho da passagem das trevas para a luz, fazendo-se
catecúmena, deixando-se iluminar pelo Cristo e por seu Espírito,
retomando o propósito da conversão e do amor concreto como
exigência batismal.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


Reunimo-nos para a celebração da Páscoa do Senhor e
nossa. E motivo de alegria, pois ele nos sacia com a abundância
de suas consolações (antifona de entrada).
Damos graças ao Senhor, que, pelo mistério da encarnação
de Jesus, conduz à luz da fé a humanidade que caminha nas trevas.
Ele eleva à dignidade de filhos e filhas os escravos do pecado,
fazendo-os renascer nas águas do Batismo (prefácio).
Pelo mistério pascal, plenitude da encarnação, que cele-
bramos nesta Eucaristia, nossos olhos enxergam mais longe. Em
Cristo, somos filhos e filhas da luz, participantes íntimos de sua
vida divina, comensais do seu Reino já aqui na terra, na mesa
eucarística.

43
PNE - QVJ - CVV n° 43
O Senhor ungiu os nossos olhos. Começamos a ver e a
acreditar. Ele quer que acordemos para a luz. Ele, a Luz verda-
deira, ilumina nossos corações com o esplendor da graça para
pensarmos e fazermos sempre tudo o que lhe agrada e o amarmos
de todo o coração (oração pós-comunhão).

5. Sugestões para a celebração


A cor usada é o róseo.
A comunidade pode iniciar a celebração cantando a meia voz
o refrão: Mesmo as trevas não são trevas, para ti, a noite é
luminosa como o dia (Ofício Divino das Comunidades, su-
plemento 1, p. 10. Apostolado Litúrgico, São Paulo, 1999).
Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Alegres vamos à
casa do Pai, Hinário 2, CNBB, p. 179; O Senhor é o pastor
que me conduz, Hinário 2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti,
Hinário 2, CNBB, p. 109; O vosso coração de pedra, Hinário
2, CNBB, p. 275; Dizei aos cativos: “Sai”, Hinário 2, CNBB,
p. 115 (ver CD Quaresma ano A [Liturgia XIII] e Quaresma
anos B e C [Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
No lugar do ato penitencial, pode ser feito o rito de bênção e
de aspersão da água.
O Evangeliário pode ser levado em procissão durante a acla-
mação, ladeado por várias velas acesas. Durante a proclamação
as pessoas permanecem, com as velas acesas, ao redor do
ambão.
A profissão de fé pode ser realizada da seguinte forma:

4 CARPANEDO, Penha & GuiMaRÃES, Marcelo. Dia do Senhor; guia para as celebrações
das comunidades, ciclo pascal ABC. São Paulo, Paulinas/Apostolado Litúrgico,
2002. pp. 89-90.

PNE- QVJ - CVV n° 43


A comunidade está de velas acesas.
C: Irmãs e irmãos, tendo aberto nossos olhos pela palavra
que escutamos, o próprio Senhor se coloca em nosso meio e
pede que façamos nossa profissão de fé.
Em silêncio, todos rezam e renovam sua fé.

C: Vocês crêem no Filho do Homem?


T: Sim, creio!
Todos se ajoelham em adoração. Quem coordena assim reza:
C: O Senhor, que abriu os olhos do cego, nos faça ver, acolha
a nossa profissão de fe e nos faça contemplar a luz de sua
ressurreição.
- Pode ser feito o Rito do fortalecimento dos catecumenos:”
Onde houver celebração dos sacramentos de iniciação cristã na noite pas-
cal, depois da homilia, os escolhidos, junto com os padrinhos e madrinhas,
colocam-se diante do(a) coordenador(a).

C: Escolhidos de Deus, ajoelhem-se para a oração.


Os catecùmenos se ajoelham.
C: Oremos por estes eleitos chamados por Deus, para que,
permanecendo nele, déem por uma vida santa testemunho
do Evangelho.
C: Irmãs e irmãos, rezemos por aqueles que foram escolhidos
para receberem o sacramento da iniciação.
Todos rezam em silêncio.

Leitor(a): Para que Deus dissipe as trevas, e sua luz brilhe


nos corações destes eleitos, rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que estes eleitos, abrindo o coração, pro-
clamem a sua fé em Deus, Senhor da luz e fonte da verdade,
rezemos ao Senhor.

5 Cf. ibid., pp. 90-91.


45
PNE - QVJ - CVV n° 43
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que, curados por Deus, sejam preservados
da incredulidade deste mundo, rezemos ao Senhor:
T: Senhor; escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que, salvos por aquele que tira o pecado do
mundo, sejam libertados do mal, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que, iluminados pelo Espírito Santo, sempre
proclamem e comuniquem aos outros o Evangelho da salva-
ção, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que suas famílias ponham sua esperança
em Cristo e nele encontrem paz e santidade, rezemos ao
Senhor.
T: Senhor; escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que todos nós, pelo exemplo de nossa vida,
sejamos em Cristo luz do mundo, rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que o mundo inteiro conheça o verdadeiro
Deus, criador do universo, que dá à humanidade o espírito e
a vida, rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
C: O Deus, que deste ao cego de nascença a graça de crer
em teu Filho e de participar pela fé no teu Reino de luz, ilu-
mina estes nossos irmãos e irmãs, para que, transformados
pela conversão, vivam sempre como filhos da luz. Por Cristo,
nosso Senhor:
T. Amém.
Impondo as mãos sobre eles.

46
PNE - QV) - CVV n° 43
C: Senhor Jesus, luz verdadeira que ilumina toda pessoa, li-
berta, pelo Espirito da verdade, os que se encontram oprimidos
pelo pai da mentira e desperta a boa vontade dos que chamaste
aos teus sacramentos, para que, na alegria da tua luz, tornem-
se, como o cego outrora iluminado, corajosas testemunhas da
fé. Tu que és Deus, com o Pai e o Espirito Santo.
T: Amem.
O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado. Irmãos e irmãs, Jesus é verdadeiramente
o Senhor da luz. Vão em paz, escolham a vida, sejam luz para
o mundo e que o Senhor os acompanhe.
Nesta semana, de forma particular, dediquemos alguns mo-
mentos para o diálogo com o Senhor, lendo e meditando sua
Palavra de vida. O método da leitura orante pode ajudar.
No dia 4, lembramos Casimiro, servidor dos pobres (Polô-
nia, século XV). Dia 7 é memória de Perpétua e Felicidade,
mártires, leigas (século IID. Dia 8 é o Dia Internacional das
Mulheres.
5º Domingo da Quaresma
9 de março de 2008

Leituras: Ezequiel 37,12-14; Salmo 129(130),1-2.3-4ab.5-6.7-8;


Romanos 6,6-11; João 11,1-45 (Ressurreição de Lázaro)

Verdadeiro homem,
Jesus chorou o amigo Lázaro.
Deus vivo e eterno, ele o ressuscitou,
tirando-o do túmulo

1. Situando-nos brevemente

Neste 5º Domingo, concluímos um ciclo batismal denso


de ensinamentos: Cristo água para nossa sede, Cristo luz para
nossas trevas, Cristo ressurreição para nossa vida. Hoje, com
Marta e Maria, professemos a nossa fé em Jesus, ressurreição e
vida. Deixemos ressoar em nosso coração as palavras de Jesus:
“Vem para fora”. Jesus nos tira do túmulo e nos conduz à vida:
“Desatai-o e deixai-o caminhar”.
Mergulhados em Cristo, participamos em seu mistério
pascal. Ele, que ressuscita Lázaro, aceita a morte e o sepulcro e
assim se converte em vida e ressurreição para todos.

Invocamos a graça libertadora de Deus sobre os irmãos e


irmãs que se preparam intensamente para receber o Batismo na
noite pascal. Neste tempo de “fraternidade e defesa da vida”,
escolhamos a vida.

48
PNE - QV) - CVV nº 43
2. Recordando a Palavra

O evangelho é um magnífico texto de João evangelista que


narra a ressurreição de Lázaro. É o sétimo sinal realizado por
Jesus, em que ele manifesta a glória de Deus e realiza sua missão
de dar a vida ao mundo.
São vários personagens que atuam no texto: Jesus, as 11-
mãs de Lázaro, o próprio Lázaro já morto, os discípulos (Tomé
em destaque) e os judeus. O acontecimento se dá em Betânia,
povoado de Marta e Maria, amigas de Jesus. Marta e Maria já
conhecidas através do relato de Lucas 10,38-42, aqui são apre-
sentadas com as mesmas características. Marta, a mulher ativa
e atarefada em Lc 10,40, perante a notícia da chegada de Jesus,
dirige-se rapidamente a seu encontro (cf. Jo 11,20). Maria, como
em Lucas 10,39 senta-se aos pés de Jesus para escutar suas pa-
lavras (cf. Jo 11,20.32).
As irmãs, diante da doença do irmão Lázaro, mandam
avisar Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente” (v. 3). Ao
saber da notícia, Jesus diz que “esta doença não levará à morte;
ela serve para a glória de Deus, para que o Filho do homem seja
glorificado por ela” (v. 4).
Jesus, chegando ao povoado, encontra-se primeiro com
Marta e depois com Maria. O diálogo de Jesus com Marta (cf. vv.
25-26) é o centro teológico do relato. Jesus é a ressurreição e a
vida para todos os que, como Marta, crêem que ele é o “Cristo, o
Filho de Deus”. No colóquio, Marta passa de uma crença comum
sobre a ressurreição dos mortos (cf. v. 24) para uma profissão de
fé autêntica e verdadeira: “Sim, Senhor, eu creio que és o Messias,
o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo” (v. 27).
Jesus revela à Marta uma nova dimensão de sua presença
salvífica. Ele apresenta-se como a ressurreição e a vida. Diante

49
PNE - QV) - CVV nº 43
da interpelação de Jesus (cf. v. 26), Marta responde professando
a fé na vida.
Jesus, comovido, ressuscita Lázaro para esta vida. A
ressurreição de Lázaro prefigura a de Jesus. Paradoxalmente
esse dom da vida vai provocar a morte de Jesus e, por ela, a sua
glorificação. Podemos dizer que o capítulo 11 é uma introdução
narrativa da paixão de Jesus.
O sinal do milagre revelou a glória de Deus e sua presença
na pessoa do Filho Amado (cf. vv. 4.40-41). O milagre foi uma
epifania. O Deus de amor que salva revela-se por meio das ações
de seu Filho dileto. Crendo e caminhando com ele, a ressurreição
e a vida, temos a certeza de que estamos no rumo certo.
A primeira leitura é uma palavra do profeta Ezequiel. O
texto lido hoje está inserido em um contexto maior: a visão de
Ezequiel de um vale cheio de ossadas (cf. 37,1-14). O relato
compõe-se de uma visão (cf. vv. 1-10) e sua interpretação (cf.
vv. 11-14). A visão é uma imagem desesperadora dos israelitas
exilados na Babilônia, após a destruição de Jerusalém, em 587
a.C. A interpretação (cf. vv. 11-14) explica o sentido dos ossos
ressequidos e contém a mensagem a ser anunciada pelo profeta
ao povo sem esperança: “Nossos ossos estão ressequidos, nossa
esperança se apagou; estamos perdidos” (v. 11).
O povo encontra-se em desespero por causa da ruína de
Jerusalém e do templo, da perda da autonomia política, do medo
de serem excluídos do grupo de eleitos e da terra prometida.
Nesse contexto, Ezequiel é chamado a anunciar aos deso-
lados a ressurreição nacional (cf. vv. 12-14). Deus mesmo vai
abrir os túmulos, tirar os israelitas que lá estão e reconduzi-los à
terra de Israel (cf. v. 12). O Senhor romperá as amarras do túmulo
e conduzirá o povo a uma nova existência política. É um novo

50
PNE - QVJ - CVV n° 43
começo para Israel como povo e ele saberá que Deus é o Senhor
que dá a vida e conduz para a salvação.
O Salmo 129(130) é um pedido de perdão. O suplicante
clama do fundo do poço, das profundezas. Em Deus encontra-se
o perdão, pois ele é a razão da esperança e está sempre pronto
para atender à súplica.
O capítulo 8 da carta aos Romanos (segunda leitura) é
uma das páginas mais ricas e belas de Paulo. Nesse capítulo, o
apóstolo menciona vinte e nove vezes o Espírito, que é a força
de Jesus ressuscitado presente no mundo. O fiel entra em contato
com essa força vivendo a união com Jesus Cristo, iniciada no
Batismo. A palavra de Paulo indica a realização da profecia de
Ezequiel: “Porei em vós o meu espírito e revivereis” (Ez 37,14).
O Espírito nos faz criaturas novas.

3. Atualizando a Palavra

A palavra do Senhor hoje conclama todas as pessoas a


terem fé na vida. Não à morte e sim à vida. Somos parte de uma
sociedade que possui muitos projetos em favor da vida, porém,
infelizmente, há ainda muitos sinais de morte.
Deus é o Senhor da vida. Tem a vida quem vive perto
dele, como diz Ezequiel. “Eu sou a ressurreição e a vida, insiste
Jesus”. Se Cristo está em vós, diz Paulo, o vosso espírito está
cheio de vida.
Coloquemo-nos no caminho da vida, como também nos
pede a Campanha da Fraternidade deste ano: “Escolhe, pois a
vida!”. A vida está onde Deus está; a vida está onde Cristo está;
a vida está onde está o Espírito de Deus.
Assim como Deus quer a vida, busquemos também nós,
por nosso trabalho, uma vida digna para todos. Essa atitude

51
PNE - QVJ - CVV n° 43
exige de nós ações abrangentes: “E preciso compreender que
não é apenas a espécie humana que tem direito à vida, mas que
o titular da vida é o planeta Terra, do qual a espécie humana
é parte — importantíssima, sem dúvida. Um planeta vivo não
pode ser reduzido a uma simples fonte de “recursos naturais —
como faz a Teoria Econômica do Mercado — e, menos ainda, ser
considerado uma possível fonte de riqueza para o ser humano.
Nessa perspectiva, a nova consciência planetária estimula ino-
vações como o sistema de economia solidária, bem como novos
padrões de produção (basicamente local, para evitar os custos
ecológicos do transporte) de consumo material (que pode ser
substituído por bens de consumo imateriais, como os bens cul-
turais) e as articulações mundiais em rede. Em última análise, é
toda a concepção ocidental de desenvolvimento e de progresso
que é colocada em questão ao se pensar um novo paradigma de
relação entre a humanidade e a Terra”.!
A ressurreição e a vida não são apenas esperanças que
portamos para o futuro, mas realidades que atuam em nós e em
nossas relações, das quais participamos desde agora.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística


O Senhor, socorro dos fracos, permite a todos trilharem com
alegria o caminho pascal. Esse caminho foi vivenciado por Jesus,
que se entregou à morte puramente por amor (oração do dia).
No centro da celebração eucarística, a comunidade reunida,
que já participa de seu mistério pascal pelo Batismo, anuncia
a morte do Senhor, proclama a sua ressurreição e espera a sua
vinda final.

| Texto extraído da Análise de Conjuntura realizada na 64º Reunião Ordinária do


Conselho Permanente, Brasília (DF), de 23 a 25 de outubro de 2007.

52
PNE - QVJ - CVV n° 43
Hoje, compadecendo-se da humanidade, que jaz na mor-
te do pecado, pelo mistério de sua Páscoa, Jesus nos eleva ao
Reino da vida nova, como fez com Lázaro, ressuscitando-o
(prefácio).
Ele sempre responde ao nosso clamor insistente. Não fica
parado em nossos erros, pois nele encontram-se o perdão, toda
a graça e copiosa redenção (salmo).
Damos graças ao Pai, por Jesus Cristo, ressurreição e vida
que se entrega a nós nos sinais do pão e do vinho. Ele se dá,
comunicando-nos sua própria vida eterna. Nele somos um só
corpo, participantes da vida divina. O mesmo Senhor, na mesa
eucarística, se faz comida e bebida para a vida do mundo. Somos
chamados com ele a passar da morte para a ressurreição. Com ele
e nele o nosso espírito está cheio de vida. No cotidiano da nossa
existência e na celebração, “Deus é perfeitamente glorificado e
os homens e mulheres são santificados”.?

5. Sugestões para a celebração


e A cor usada é O roxo.
* Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Senhor; eis aqui o teu
povo, Hinário 2, CNBB, p. 296; No Senhor é que se encontra
o perdão, Hinário 2, CNBB, p. 84; Louvor e glória a ti, Hi-
nário 2, CNBB, p. 109; O vosso coração de pedra, Hinário 2,
CNBB, p. 275; Eu vim para que todos tenham vida, Hinário
2, CNBB, p. 226 (ver CD Quaresma ano A [Liturgia XIII] e
Quaresma anos Be C [Liturgia XIV], gravado pela Paulus).
* No momento da homilia, a comunidade pode também pedir
para alguém colocar uma experiência ou um projeto em defesa
da vida.

? Sacrosanctum Concilium, n. 9.

53
PNE - QVJ - CVV n° 43
* À profissão de fé pode ser realizada da seguinte forma:”
C: Irmãs e irmãos, como outrora a Marta, o Senhor pede que
façamos nossa profissão de fé.
Em silêncio, todos rezam e renovam sua fé.
C: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda
que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá”.
Vocês acreditam nisso?
T: Creio, Senhor, mas aumentai minha fé!
C: O Senhor, penhor de vida plena, acolha nossa profissão de
fé e nos dê a alegria de celebrar sua ressurreição.
* Neste domingo se faz a última purificação daqueles que vão
receber os sacramentos da iniciação na Páscoa. Esse é um
sinal de que Jesus nos chama à vida.
- Pode ser feito o Rito do fortalecimento dos catecumenos:?
Onde houver celebração dos sacramentos de iniciação cristã na noite
pascal, depois da homilia, os escolhidos para o Batismo, junto com os
padrinhos e madrinhas, colocam-se diante do(a) coordenador(a).
C: Escolhidos de Deus, ajoelhem-se para a oração.
Os catecúmenos se ajoelham.
C: Irmãs e irmãos, rezemos por aqueles(as) que foram
escolhidos (as) para receberem o sacramento da iniciação.
Todos rezam em silêncio.

C: Oremos por estes escolhidos de Deus, para que, partici-


pando da morte e ressurreição de Cristo, possam superar,
pela graça do sacramento, o pecado e a morte.
Leitor(a): Para que, livres de seus pecados, dêem frutos de
santidade para a vida eterna, rezemos ao Senhor.

3 Cf. CARPANEDO, Penha & GuiMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor; guia para as celebra-
ções das comunidades, ciclo pascal ABC. São Paulo, Paulinas/Apostolado Litúrgico,
2002. p. 97.
4 Cf. ibid., pp. 98-99.

54
PNE - QVJ - CVV n° 43
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que estes eleitos, rompidos os laços do mal,
se tornem conformes a Cristo e, mortos para o pecado, vivam
sempre para Deus, rezemos ao Senhor:
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que, na esperança do Espírito vivificante,
se disponham corajosamente a renovar sua vida, rezemos
ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.

Leitor(a): Para que se unam ao próprio Autor da vida e da


ressurreição pelo alimento eucarístico que vão receber em
breve, rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que todos nós, vivendo uma nova vida,
manifestemos ao mundo o poder da ressurreição de Cristo,
rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
Leitor(a): Para que todos os habitantes da terra encontrem
o Cristo e saibam que só ele possui as promessas da vida
eterna, rezemos ao Senhor.
T: Senhor, escutai a nossa prece.
C: O Deus, Pai da eterna vida, que enviaste teu filho Jesus
para nos tirar da morte e nos conduzir à ressurreição, li-
berta estes nossos irmãos e irmãs de todo mal, para que,
transformados pela conversão, possam receber a vida nova
em Cristo ressuscitado e dar testemunho do seu nome. Por
Cristo, nosso Senhor.
T: Amém.
Impondo as mãos sobre eles:

DO
PNE - QVJ - CVV n? 43
C: Senhor Jesus, que, ressuscitando Lázaro, revelaste ter
vindo a este mundo para que todos recebessem a vida e mais
plenamente a possuissem, livra da morte os que buscam a vida
através de teus sacramentos, liberta-os do espírito do mal e
comunica-lhes, pelo teu Espirito vivificante, a fé, a esperança
e acaridade, a fum de viverem sempre contigo e participarem
um dia da glória da ressurreição. Tu que és Deus, como Pai
eo Espirito Santo.
T: Amen.
O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado. Irmãos e irmãs, Jesus é a ressurreição
e a vida. Vão em paz, escolham a vida e que o Senhor os
acompanhe.
Nesta semana, de forma particular, dediquemos alguns mo-
mentos para o diálogo com o Senhor, lendo e meditando sua
Palavra de vida. Dê seu apoio a projetos que promovem a
vida.
No dia 12, lembramos Albert Einstein, grande físico e defensor
da paz (1955). No dia 13, recordamos Ir. Dulce (1992). Dia
15 é solenidade de são José, esposo de Maria.

56
PNE - QVJ - CVV n? 43
Domingo de Ramos e da Paixão
16 de março de 2008

Leituras: Mateus 21,1-I (antes da procissão de Ramos);


Isaias 50,4-7; Salmo 21(22),8-9.174.18.19-20.23-24; Filipenses 2,6-11;
Mateus 26,14-27,66

Saudemos com hosanas o Filho de Davi!


Bendito o que nos vem em nome
do Senhor!

1. Situando-nos brevemente

No domingo anterior ao da ressurreição, as comunidades


cristãs do Ocidente tinham o costume de celebrar o Domingo da
Paixão. Ao contrário, as comunidades de Jerusalém celebravam
de maneira festiva a entrada de Jesus em Jerusalém. Mais tarde, a
liturgia romana juntou os dois costumes em uma só celebração.
Celebramos hoje a entrada de Cristo em Jerusalém para
celebrar a sua Páscoa (Ramos) e somos conduzidos ao mistério
de sua paixão. A monição inicial nos insere no sentido desta ce-
lebração: “Meus irmãos e minhas irmãs, durante cinco semanas
da Quaresma, preparamos os nossos corações pela oração, pela
penitência e pela caridade. Hoje aqui no reunimos e vamos iniciar,
com toda a Igreja, a celebração da Páscoa de nosso Senhor. Para
realizar o mistério de sua morte e ressurreição, Cristo entrou em
Jerusalém, sua cidade. Celebrando com fé e piedade a memória
desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador para que,
associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua
ressurreição e de sua vida”,

57
PNE - QVJ - CVV n° 43
Iniciamos hoje a “grande semana”, entrando com Jesus
Cristo em Jerusalém, onde ele será condenado, morto, sepultado
e ressuscitará ao terceiro dia, Que esse mistério tão grande se
realize em nossa vida e em nossa história.

2. Recordando a Palavra

Neste domingo, temos a proclamação de dois evangelhos:


o da entrada de Jesus em Jerusalém e o da narrativa da paixão.
Os quatro evangelistas narram a entrada de Jesus em Jerusalém.
Na narrativa, há elementos comuns como também particulari-
dades.
O evangelista Mateus, que lemos hoje, entende o aconteci-
mento como a concretização de Isaías 62,11 e Zacarias 9,9. Jesus
é recebido com entusiasmo, e a multidão o saúda como Filho
de Davi, o bendito que vem em nome do Senhor. Ele, porém,
entra humilde, montado num jumentinho. A entrada de Jesus é,
portanto, descrita em termos de vitória e, ao mesmo, tempo com
acentuado despojamento.
Está se aproximando a hora em que “será entregue aos
sumos sacerdotes e letrados, que o condenarão à morte” (Mt
20,18). Ele chega à cidade onde passará pela paixão e pela morte,
numa atitude de mansidão. Ele, o manso e humilde de coração,
enfrentará ofensas, receberá escarros e bofetadas. Manso como
um cordeiro, deixará pregar-se no madeiro da cruz. Ele, o mes-
sias despojado.
A Festa de Ramos, com hosanas e saudações, prefigura a
vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, mas a hora definitiva
ainda chegará, como escutaremos no segundo evangelho, que
conta o processo de condenação e morte de Jesus.
Jesus vai ao encontro da paixão com plena consciência e
aceitação livre. Tem o poder de solicitar legiões de anjos para

58
PNE - QVJ - CVV n° 43
que venham em seu auxílio (cf. 26,53), mas renuncia ao uso
deste poder (cf. 20,38). Ele veio trazer a paz ao mundo, escolhe
o caminho da humildade e vê, neste caminho, a vontade do Pai
se realizando (cf. 26,39.42).
Os relatos da paixão constituem o cerne do Evangelho. As
comunidades cristãs se perguntavam: Se Jesus era o bendito de
Deus, por que teve de passar pela cruz, escândalo e maldição?
Que sentido têm a sua paixão e morte? Respondendo a essas
perguntas, os relatos não são simplesmente narração de fatos
mas sim, sobretudo, anúncio da salvação contida neles. Esses
testemunhos possibilitam o acesso ao centro da fé cristã: “Esse
Jesus que vocês crucificaram, Deus o constituiu Senhor e Cristo”
(At 2,36).
A paixão do Senhor é bem ilustrada pela leitura do texto do
Servo Sofredor (primeira leitura). O texto é o terceiro Cântico
do Servo. O profeta, chamado de Deutero-Isaías (cf. Is 40-55),
exerceu sua missão, entre os exilados da Babilônia, em meados do
século VIa.C. O servo, um personagem anônimo, toma a palavra
e narra sua vocação de profeta, os sofrimentos da missão e a total
confiança em Deus, socorro e auxílio dos que sofrem.
O Salmo 21(22) é uma súplica que contém pedido de
auxílio nos sofrimentos e nas tribulações e promessa de louvor
comunitário pela libertação almejada. Essa súplica foi retomada
por Jesus no momento angustiante da cruz. Cantando esse salmo,
entreguemos a Deus-Pai a nossa vida e a de tantos irmãos e irmãs
que passam pelo vale da morte.
A segunda leitura é um hino cristológico antiquíssimo.
No início do capítulo (cf. 2,3-4), Paulo exorta os filipenses a
não fazerem nada por ambição ou vanglória. Com humildade,
o apóstolo acrescenta: “Ninguém procure o próprio interesse,
e sim o dos outros. Tende os mesmos sentimentos de Cristo
Jesus” (vv. 3-4). Em seguida, citando um hino, Paulo descreve o

59
PNE - QV) - CVV nº 43
aniquilamento de Jesus Cristo. O Filho de Deus não teve medo
e, como verdadeiro Servo Sofredor, viveu a condição de escra-
vo, tornando-se igual aos homens e obedecendo até a morte e
morte de cruz. Deus recompensou sua fidelidade glorificando-o
e fazendo-o Senhor.

3. Atualizando a Palavra

Estamos na grande semana. A “hora” de Jesus Cristo chegou.


O Filho do Homem será glorificado e Deus glorificado nele.
Jesus entra em Jerusalém depois de percorrer muitos ca-
minhos, onde foi encontrando pessoas e situações que pediam
dele uma resposta concreta, pois veio para que todos tivessem
vida e vida em plenitude.
Nos domingos da Quaresma percorridos até aqui, ele de-
volveu a vida e a dignidade à samaritana, ao cego de nascença, a
Lázaro e a tantas pessoas, muitas anônimas, mas confiantes nele,
o Salvador do mundo. Paradoxalmente, aquele que devolvia a
vida foi condenado à morte. Jesus Cristo, o cumpridor da aliança,
tinha sempre a convicção de que cumprir a vontade do Pai era
viver segundo a sua Palavra: “Vós vistes o que fiz aos egípcios,
eu vos levei em asas de águia e vos trouxe a mim; portanto,
se quereis obedecer-me e guardar minha aliança, sereis minha
propriedade entre todos os povos, porque toda a terra é minha.
Sereis um povo sagrado, um reino sacerdotal. Isso é o que de-
verás dizer aos israelitas” (Ex 19,4-6). Deus exige do povo que
ouça sua voz e guarde sua aliança. Viver na aliança é ser fiel à
Palavra de Deus. Assim viveram os patriarcas, profetas, sábios,
enfim, tantos homens e mulheres de Deus.

Cristo, o Filho Amado, veio fazer a vontade do Pai: “Eis-


me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade” (Hb 10,9).
Mesmo sendo exigente o caminho, Jesus cumpre a vontade do
Pai: “Não seja feita a minha vontade, mas a tua” (26,49). O que

60
PNE - QVJ - CVV n° 43
vem montado num pobre animal é aquele que obedece ao Pai, que
se coloca à sua disposição para a realização de seus desígnios,
escondidos desde antes da criação do mundo.
A lógica divina é outra: esvaziamento, humilhação, con-
dição de escravo, perseguição, calúnia, dor, coroa de espinho,
condenação, sofrimento, angústia até o sangue, cruz, morte... É
claro que é difícil compreender tal lógica, pois é preciso revi-
rar nossa cabeça, conceitos e práticas, ou seja, mudar a lógica
puramente humana. Os discípulos de Jesus também tiveram
dificuldades. Houve traição, negação e abandono da parte deles
no momento mais crucial da vida do Mestre. Jesus inaugura uma
nova ordem das coisas.
“Em um mundo onde somos educados a pagar o mal com
o mal, a indiferença com a indiferença, esta celebração é sinal e
sacramento que revela o profundo apelo de Deus a fazermos o
caminho da contramão, a acreditarmos no mundo novo que só
o amor é capaz de construir. A escuta atenta da paixão, mesmo
que longa, faz-nos mergulhar num processo de intensa vigilân-
cia sobre nós mesmos, sobre os nossos sentimentos em relação
a quem nos faz mal e sobretudo a agir concretamente, tomando
iniciativa no amor, conquistando dentro de nós a liberdade para
a qual Cristo nos libertou, de tal maneira que nem a derrota nem
o sucesso nos impeçam de amar e servir.”!
A entrega da vida — oferta agradável a Deus — é o que o
Senhor pede a nós. Todas as pessoas de boa vontade, que vivem
o amor e a solidariedade, que lutam pela justiça e a paz, que
escolhem a vida, estão fazendo a vontade de Deus.

! CARPANEDO, Penha & GuiMaRrÃES, Marcelo. Dia do Senhor; guia para as celebrações
das comunidades, ciclo pascal ABC. São Paulo, Paulinas/Apostolado Litúrgico,
2002.
p. 158.

61
PNE - QV] - CVV nº 43
4. Ligando a Palavra com a ação eucarística
As palmas que carregamos hoje nos ajudam a lembrar o
mártir Jesus, vitorioso sobre a morte. O Cristo morre condenado
para garantir a salvação a todos. As palmas em nossas mãos sig-
nificam que estamos prontos a fazer o mesmo caminho de Jesus,
assim como fez a imensa multidão de todas as raças, povos e
línguas que já estão de pé diante do trono e do Cordeiro, vestidos
com vestes brancas e com palmas na mão (cf. Ap 7,9).
Jesus realizou, primeiro em sua vida, o verdadeiro culto
a Deus, pois foi obediente até a morte e morte de cruz. O Pai
aceitou-o, ressuscitando-o e exaltando-o à sua direita (cf. Fl
2,6-11). É esse mesmo culto que Jesus celebrou ritualmente na
última ceia e que ele mandou celebrar em sua memória.
Nós, obedientes a seu mandato, celebrando a Eucaristia,
somos incorporados na experiência de Jesus Cristo. Ele, aclamado
pelo povo como Salvador e Messias, realizou sua missão através
da sua paixão e cruz.
Cada celebração é memorial vivo e verdadeiro do aconte-
cimento da salvação. Recordamos o mistério pascal de Cristo,
mas o lembramos na presença de Cristo e na força do Espírito.
Lembrando a pessoa e a obra de Cristo, nós nos abrimos para
ele e ele mesmo vem para cear conosco (cf. Ap 3,20). Ele vem
e nos reconcilia com o Pai, Senhor da misericórdia e do perdão
(oração sobre as oferendas).
Demos graças a Deus, que pelo abaixamento e pela morte
de Jesus Cristo, que, inocente, quis sofrer pelos pecadores, pelos
criminosos e foi condenado a morrer. Sua morte apagou nossos
pecados, e sua ressurreição nos trouxe vida (prefácio). Nele nos-
sos sofrimentos e nossa morte têm sentido, uma vez que a morte
não é a última palavra.

62
PNE - QV) - CVV nº 43
5. Sugestões para a celebração
* A cor usada é o vermelho.
- Os cantos e as músicas devem conduzir-nos ao coração do
mistério celebrado. Podem ser cantados: Hosana ao Filho de
Davi, Hinário 2, CNBB, p. 233; Hosana e viva, Hinário 2,
CNBB, p. 233; Os filhos dos hebreus, Hinário 2, CNBB, p.
28; Meu Deus e Pai por que me abandonastes?, Hinário 2,
CNBB, p. 84; Salve, ó Cristo obediente, Hinário 2, CNBB,
p. 293; Ó morte, estás vencida, Hinário 2, CNBB, p. 267; Eu
vim para que todos tenham vida, Hinário 2, CNBB, p. 226;
Pai, se este cálice, Hinário 2, CNBB, p. 74 (ver CD Quaresma
ano À [Liturgia XIII], gravado pela Paulus).
* Valorizar os ramos, a procissão de ramos e a proclamação do
evangelho da paixão, a qual poderá ser encenada.
- Proclamar bem as leituras. Cantar com unção o salmo.
* O prefácio é o próprio para este domingo, e a Oração Euca-
rística pode ser a III.
* As palavras do rito de envio podem estar em consonância com
o mistério celebrado. Irmãos e irmãs, vão em paz para ma-
nifestar, pela solidariedade a todos os pequenos e oprimidos
do mundo, o amor de Deus que se revelou a nós pela paixão
de Jesus Cristo.
* Nesta semana, de maneira mais intensa, dediquemos alguns
momentos para o diálogo com o Senhor, lendo e meditando
sua Palavra de vida. Vamos nos preparar bem para a celebração
da Páscoa.
* À comunidade pode se reunir, segunda-feira, terça-feira e
quarta-feira, para celebrar o Ofício Divino.
* Toda a comunidade é convidada a participar do Tríduo Pascal.

63
PNE - QVJ - CVV n° 43
Sumário

Apresentacdo................. ei 5

A liturgia no Tempo da Quaresma ........... n 7


Quarta-feira de Cinzas — 6 de fevereiro de 2008
(J1 2,12-18; SI 50[51]; 2Cor 5,20-6,2; Mt 6,1-6.16-18) ...........s
ss Il
1° Domingo da Quaresma — 10 de fevereiro de 2008
(Gn 2,7-9; 3,1-7; SI 50[51]; Rm 5,12-19; Mt 4,1-11 [Tentações de Jesus])....... 18

22 Domingo da Quaresma — 17 de fevereiro de 2008


(Gn 12,1-4a; S132[33]; 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9 [Transfiguração de Jesus])....25
3º Domingo da Quaresma — 24 de fevereiro de 2008
(Ex 17,3-7; S1 94[95]; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42 [Samaritana])........................... 31
4º Domingo da Quaresma — 2 de março de 2008
(ISm 16,1b.6-7.10-13a; SI 22/23]; Ef 5,8-14; Jo 9,1-41 [Cura do cego
de NASCENGCA])............. ie 39
5º Domingo da Quaresma — 9 de março de 2008
(Ez 37,12-14; SI 129[130]; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45 [Ressurreição de Lázaro|)..48

Domingo de Ramos e da Paixão — 16 de março de 2008


(Mt 21,1-11; Is 50,4-7; SI 21[22]; FI 2,6-11; Mt 26,14-27,66).......................... 57

Impresso na gráfica da
Pia Sociedade Filhas de São Paulo
Via Raposo Tavares, km 19,145
05577-300 - São Paulo, SP - Brasil - 2008

Você também pode gostar