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Lodi-Correa Samantha D PDF
Lodi-Correa Samantha D PDF
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPINAS
2016
SAMANTHA LODI-CORRÊA
CAMPINAS
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
COMISSÃO JULGADORA:
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
2016
À Louise Michel, à Nadehzda Krupskaia,
À professora Drª Patrícia Pederiva, que muito admiro por sua competência
profissional e por derramar humanidade por onde passa, deixando um rastro de
coragem e carinho.
Aos professores que de alguma forma fizeram parte desse processo: Dr. Michael
Löwy, Drª Lívia Diana Rocha, Dr. Dermeval Saviani, Dr. José Claudinei Lombardi,
Dr. Sérgio Castanho e Dr. Lalo Minto.
Aos colegas que foram ou são do HISTEDBR pelos anos de convivência, pelos
debates, pelos cafés, por dividirem o desejo de um mundo melhor e mais justo.
A todos das Faculdades Integradas Maria Imaculada: Dr. Rubens, Roberto, Romildo,
Sueli, Meire, Rubiara, Rosi, Camila, Marcelo, Andréia, Ana Marisa, Paula, Suzett,
Nádia, Danyelle, Renata, Rodrigo, Marcela, Mário, Taciane, Adriana, Débora,
Marilda, Cláudio, Daniel, Kátia, Afonço, Anélio, Geraldo, Waldomiro, Edson,
Anderson, Nazaré, Claudinéia, Zilda, Silene, Elaine.
Aos membros do Geppe da UnB pela fraternal acolhida: Maria Aparecida, Daniella,
Saulo, Sheyla, Augusto, Tatiane, Ana Paula, Andréia.
Aos meus amigos que foram parceiros em momentos fundamentais: Adilson Franzin,
Alessandra Cintra, Alex Barreiro, Ana Cecília Melo, Camila Godoy, Carol Florido,
Clara Domingues, Cristiele Carias, Dora Incontri, Elisabeth Eglem, Eric Lodi,
Federica Lino, Fernanda Rua, Fernando Giroto, Geovana Lino, Gláuber Biazo, Jair
Dias, Joana Climaco, Jorge Inzunza, Karla Almeida, Larissa Bernardi, Lidiany
Oliveira, Liliane Bordignon, Luciane Urbano, Marcelo Rocha e família, Maria Amélia
Lodi, Maria Ignez Pereira, Marquinhos, Ricardo Andrade, Roberto Nini e família,
Rodrigo Mamede, Odair José Luz.
This thesis had as object two historical-biographical studies: the French Louise
Michel (1830-1905) and Russian Nadezhda Krupskaya (1869-1939). The proposal
advocates that studying the revolutionary life and from life to highlight educational
activity elements of these women allow to analyze the contradictions of their actions
and emphasize educational aspects that can support a current discussion. Although
inside two specific contexts, both have in common the participation in important
moments of struggle of the workers. Stood out in their biographies, moments in the
history about the Commune of Paris of 1871 and the Russian Revolution of 1917, the
two proletarian revolutions coming from the discontent of the poorest, starving and
exploited population, of which both revolutionary women took part. The two
revolutions started the need to build a just society free of capitalist trial. It is believed
that there is, in the thinking of these two women, educational elements linked to
awareness and emancipation of the working class who consent subsidize a
contemporary debate about Education and Revolution, insofar as is known and
discloses the life and work of the revolutionary-educators. This debate is not intended
to transpose the thought of these women as it were in their times, but considering the
of work of awareness they developed, during their struggles,emphasizing awareness
and emancipation that is necessary nowadays in our society that still suffers from
social injustice. The two biographies are presented in distinctive chapters, placing his
revolutionary performances contextualized each in its juncture. They present
themselves independent, with its biographical peculiarities and access to sources,
and after, interlink the considerations.
Maiakovski
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.......................................................................................xiv
PREÂMBULO.........................................................................................................xvii
INTRODUÇÃO...........................................................................................................19
1 PONTO DE PARTIDA............................................................................................29
1.1 OS OBJETOS DE ESTUDO E A PERSPECTIVA TEÓRICA
..................................................................................................................................29
1.2 NOTAS SOBRE A MULHER NA HISTÓRIA....................................................41
1.3 O RECORTE HISTÓRICO.................................................................................48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................239
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................249
ANEXOS..................................................................................................................257
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO
1
O nome em russo da biografada é Наде́жда Константи́новна Кру́пская, buscou-se fazer uma
correlação com o alfabeto cirílico para usar uma tradução mais próxima da original e ao mesmo tempo
adequada à língua portuguesa, por isso usa-se na tese Nadezhda Konstantínovna Krupskaia, mesmo
que eu outras traduções o nome apareça com “y”. Toda a grafia do nome e sobrenome em outras
traduções ou textos será apresentada da forma que foi utilizado pelos autores consultados.
2
As duas revoluções são explicadas no decorrer deste trabalho.
20
3
Neste artigo de março de 2012 nosso trabalho apresentado na X Jornada do Histedbr (2011)
“Krupskaia: revolucionária e educadora” foi citado pelo autor.
22
assinados por ela compõem parte das fontes primárias: em Dez dias que abalaram o
mundo, de John Reed, e Escola-Comuna, de Pistrak, ambos em língua portuguesa.
Através dessas fontes, teve-se um contato direito com o pensamento de Krupskaia.
Ainda para se redigir o capítulo sobre Krupskaia, fontes secundárias foram
selecionadas. Nesse caso, uma biografia sobre a educadora publicada na década de
1930, que contém os dados que costumam ser divulgados por diversos sites que
falam da educadora russa. Outros textos, principalmente sobre a Revolução Russa de
1917 permitiram a reconstrução história do período que viveu a educadora.
A quantidade de obras produzidas sobre a revolucionária francesa, na
França, é admirável. Vai de romances a trabalhos acadêmicos, de suposições a
trabalhos fundamentados em fontes primárias. Esses trabalhos abordam ou toda a
vida de Michel ou fases específicas como deportações, militância anarquista ou,
principalmente, sua ação durante a Comuna de Paris. Todos os livros e artigos que se
teve acesso na França serão abordados ao longo da tese.
Assim, sobre Louise Michel, o número de fontes primárias foi bem maior:
correspondências, contos, romances, artigo de jornal, dicursos políticos, memórias e
poesias compõem os acervos pesquisados. Essas fontes estavam algumas vezes em
manuscritos, outras impressas por tipografias da época e muitas já organizadas em
livros com publicações contemporâneas. Uma fonte primária que se destacou durante
a pesquisa foi organizada por Xávière Gauthier e apresenta a transcrição de toda a
correspondência de Louise Michel, intitulada Je vous écris de ma nuit (Eu vos escrevo
de minha noite). As correspondências gerais, que datam de 1850 a 1904, são
constituidas por diversas cartas, desde as oficiais para o conselho de guerra até
bilhetes endereçados aos amigos, o que permite uma aproximação com o objeto de
pesquisa.
Como importantes fontes primárias incluem-se suas mémorias sobre a
Comuna de Paris, memórias e recordações de sua vida que aborda outros momentos
além da Comuna e suas lembranças do cárcere como: Mémoires (Memórias), La
Commune: Histoire & souvenirs (A Comuna: histórias e lembranças), Le livre du
bagne (O livro do cárcere) os livros citados tem um tom memorialista e estão
vinculados diretamente às impressões de Louise Michel sobre a vivência da Comuna
de Paris, o período que esteve encarcerada e reflexões sobre sua vida. Ainda
utilizam-se livros de contos como: Le Livre du jour de l’an : historiettes, contes et
26
légendes pour les enfants4 (O livro do ano novo: histórias, contos e lendas para
crianças); La vieille Chéchette (A velha Chéchette) e vinculam-se à produções
literatas com finalidade educativa e forma importantes para detectar o pensamento
educacional de Louise Michel; Légendes et chansons de gestes canaques (Lendas e
canções de gesta5 kanak) é um registro do povo que conheceu durante seu exílio em
Nova Caledônia, com o qual estreitou relações e defendeu pontos de vista; o
romance: La Misère (A miséria) que sensibilizava para o fato cotidiano que muito
conviviam com a miséria naturalizando-a; os ensaios: Lueurs dans l’ombre (Luzes nas
sombras), Plus d’idiots, plus de fous (Mais idiotas, mais tolos); L’âme intelligente (A
alma inteligente); L’idée libre (A idéia livre); L’esprit lucide de la terre à Dieu (A mente
lúcida da terra à Deus) que demonstram os mais variados interesses de Louise
Michel. Seus discursos, como sua autodefesa pelos atos relacionados ao período da
Comuna, Louise Michel devant le 6e conseil de guerre : son arrestation par elle-même
(Louise Michel diante do 6º conselho de guerra:sua prisão por ela mesma) que
evidencia sua entrega à causa communarde; Prise de possession (Tomada de
posse).
Como fontes secundárias empregam-se textos que auxilam no contexto
geral, assim como biografias sobre Louise Michel como: La vierge rouge (A virgem
vermelha) de Irma Boyer; La vierge rouge (A virgem vermelha) de Xávière Gauthier,
uma biografia romanceada que anteriormente foi publicada como L’insoumise (A
insubmissa); Louise Michel en Algérie (Louise Michel na Argéria) de Clotilde Chauvin;
Louise Michel: une femme libre (Louise Michel: uma mulher livre) de Lucile Castre;
Louise Michel: Une anarchiste hétérogène (Louise Michel: uma anarquista
heterogênea) de Claire Auzias; Louise Michel: une femme debout (Louise Michel: uma
mulher de pé) escrito em uma parceria por Denise Oberlin e Nicole Foussat; La
déportation de Louise Michel (A deportação de Louise Michel) de Joël Dauphiné.
Dicionários temáticos que incluiam a revolucionária foram consultados, como Le
Maitron, Dictionnaire biographique: mouvement ouvrier, mouviment social (O Maitron,
Dicionário biográfico: movimento operário, movimento social). Textos que abordam o
contexto vivido por Louise Michel também fazem parte das fontes secundárias, assim
como textos sobre a Comuna de Paris.
4
Os títulos aqui traduzidos são de livre tradução nossa e não corresponde a qualquer tradução oficial.
5
Canção de gesta é expressão usada para poemas épicos no período medieval.
27
1 O PONTO DE PARTIDA
que pregavam igualdade. No século XVIII o termo comunista foi empregado muitas
vezes às comunidades do alto feudalismo ou aos moradores de algumas cidades
rurais da península itálica e da França. Porém, entre 1839 e 1840 o termo comunista
começa a ser relacionado aos trabalhadores igualitários internacionais, como
acontece com a “Liga dos Justos”.
E, sobre os comunistas, continua Marx:
Mas para enganar o proletariado e distrair sua atenção de uma guerra civil
contra a burguesia, tanto de seu "próprio" país como dos "alheios" para essa
finalidade elevada, a burguesia de cada país esforça, com frases mentirosas
sobre patriotismo, para exaltar o significado de "sua" guerra nacional e para
garantir que procura vencer o adversário não para saqueá-lo ou para
conquista territorial, mas sim fará em nome da "emancipação" de todos os
7
outros demais povos, assim como o seu próprio . (LENIN, 1961, p.363,
tradução nossa.).
6
Em um texto anterior, “A guerra e o socialismo na Rússia” de 1914, Lenin já havia criticado
principalmente alguns socialdemocratas alemães, maioria na II Internacional Socialista (1889-1914), e
a imprensa socialista que substituiram o socialismo pelo nacionalismo, adotando um ponto de vista
chauvinista e liberal (faz uma comparação dessa traição ao comunismo com a traição dos franceses
communards que aceitaram cargos ministeriais da burguesia que se aliou à Bismarck contra a
Comuna). Enquanto isso, o Partido Operário Social-democrata da Rússia havia abandonado as salas
da Duma como forma de protesto contra a Guerra. (Lenin, 1961, p.364)
7
Mas para embaucar al proletariado y distraer su atención del a única guerra civil contra la burguesía,
tanto de su “próprio” país como de los “ajenos”, para este fin elevado, la burguesía de cada país se
esfurza, con frases mendaces acerca del patriotismo, por enaltecer el signifido de “su” guerra nacional
y por asegurar que aspira a vencer al adversaio no en aras del saqueo y las conquistas territoriales,
sino en aras de la “emancipación” de todos los demás pueblos, salva el suyo próprio. (LENIN, 1961,
p.363).
34
8
Ce fait historique premier, c’est la production de moyens d’existence, qui procède de la condition
fundamentale de toute histoire : l’existence d’êtres humains vivants. C’est dire toute l’importance pour
Marx de l’économie politique et de sa critique. La prodution des moyens d’existence et, par là, de la vie
matérielle elle-même dans son ensemble et des rapports sociaux impliqués par cette production
constituent donc la base même du processus historique d’autoproduction de l’homme par l’homme à
partir de la nature. Dès lors, l’objet de l’économie politique n’est rien d’autre que le présupposé matérial
de toute histoire, à savoir la producion, qui, tout en conditionnant matériellement les hommes et leurs
rapports, est conditionnée matériellement elle-même. (TOUATI, DUCANGE, p.38-39)
37
9
La diversité des angles d'approche montre que la biographie est tributaire d'un certain nombre
d'options préalables. Jusqu'à quel point éclairera-t-on la vie du militant par ses enracinements
politiques, culturels ou sociaux ? Quel parti tirera-t-on des discours qu'il propose sur lui même? Quels
liens établira-t-on entre l'organisation, l'individu, les enjeux du moment ? Quelle part accorder aux
facteurs d'évolution, aux reclassements ou aux ruptures ? Quelle cohérence espérer dans le résultat ?
(p.24)
41
Acabava de surgir, no entanto, uma sociedade que, por força das condições
econômicas gerais de sua existência, tivera que se dividir em homens livres e
escravos, em exploradores ricos e explorados pobres; uma sociedade em que
os referidos antagonismos não só não podiam ser conciliados como ainda
tinham que ser levados a seus limites extremos. Uma sociedade desse
gênero não podia subsistir senão em meio a uma luta aberta e incessante das
classes entre si. ou sob o domínio de um terceiro poder que, situado
aparentemente por cima das classes em luta, suprimisse os conflitos abertos
destas e só permitisse a luta de classes no campo econômico, numa forma
dita legal. O regime gentílico já estava caduco. Foi destruído pela divisão do
trabalho que dividiu a sociedade em classes, e substituído pelo Estado.
(ENGELS, 2006, p.212)
com o fato de que os pais escolhiam para os filhos suas consortes. Isso seria um
pouco mais ameno na sociedade protestante que permitia ao noivo escolher sua
companheira. Com o proletário, esses acordos não eram realizados, pois sequer há
qualquer herança a se dividir, além de se separarem caso desejarem. No contexto
burguês, o homem coloca-se como provedor da mulher e a domina por isso. Já o
proletário divide com a mulher as responsabilidades de sobrevivência, o que dá a
mulher uma liberdade pouco maior, embora exista uma reprodução da “moral”
burguesa pelos proletários. Por trás de todas essas relações maritais, existe a
necessidade de assegurar a propriedade privada do grupo, que divide o mundo entre
possuidores e não possuidores. E, mais forte do que nunca, no aspecto de
legitimação da propriedade particular temos o Estado.
Para apresentar sinteticamente a função do Estado, aponta Engels (2006,
pp.215-216):
Pensar o Estado atual envolve saber que ele foi construído com um
objetivo e que continua com o desígnio que lhe é próprio:
valor e seu poder de decisão, mesmo que alguns preconceituosos encarassem isso
como anti-feminino. Até sobre as vestimentas femininas, que impediam o movimento
da mulher foram alvo de seu ataque, se bem que com menor destaque se comparado
a infelicidade conjugal a que a mulher estava submetida.
Michel e Krupskaia escreveram diretamente sobre as condições das
mulheres em suas sociedades e tempos, exigindo sempre a igualdade de ensino, de
direitos e de liberdades. Reconheciam que essa diferença era uma forma de opressão
instaurada por uma sociedade patriarcal conservadora, por isso se engajaram na luta
para romper esses laços de aprisionamento que envolviam as meninas desde a mais
tenra idade. Fizeram, sem dúvidas, parte de pequenos grupos de homens e mulheres
que usam a liberdade como premissa e agiram para sua concretização.
Bebel (1977) fez essa discussão contrapondo-se a algumas teorias que
desejavam afirmar a inferioridade intelectual da mulher ou, ainda, que as mulheres
teriam, por sua concepção biológica, trabalhos específicos ao seu gênero, ou como
era dito na época, uma “profissão natural” vinculada aos trabalhos domésticos e
cuidados com os filhos. Apontou estudos que consideravam a parte biológica
insuficiente para qualquer diferença intelectual e que, se havia diferença, isso ocorria
por falta de oportunidade e de estudos, que eram negados à mulheres.
A luta que Michel e Krupskaia travaram no campo educacional era uma luta
cansativa e complicada ainda no início do século XX. Havia concepções de senso
comum que precisavam ser quebradas urgentemente.
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a
fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de
todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos.
(MARX, 2000, p.6)
(...) Em outras partes Marx sempre usou a palavra "classe" em dois sentidos
diferentes segundo o contexto.
Em primeiro lugar, ela pode representar os grandes nucleos de pessoas que
podem ser classificadas com um critério objetivo - por estar em relação com
os meios de produção - e de modo mais particular os grupos de exploradores
e explorados que por razões puramente econômicas são encontrados em
todas as sociedades humanas após a comunidade primitiva e, como diria
Marx, até o triunfo da revolução proletária. Neste sentido é empregado
"classe" no célebre parágrafo inicial do Manifesto Comunista ("A história de
todas as sociedades existente até agora é a história da luta de classes"), e
para fins gerais do que poderíamos chamar de macroteoria de Marx.
Não pretendo dizer que esta simples formulação pode esgotar o significado
de "classe" no primeiro sentido do seu emprego por Marx, mas pelo menos
servirá para distingui-lo do segundo sentido, que introduz um elemento
subjetivo no conceito de classe: a consciência de classe . (Hobsbawm, 1983,
10
p. 62, tradução nossa)
10
(...) En las demás partes siempre utilizó Marx la palabra “clase” en dos sentidos harto diferentes,
cegún el contexto.En primer lugar, puede representar a aquellos grandes núcleos de gente que pueden
clasificarse con un criterio objetivo -por estar en relación semejante respecto a los medios de
producción—, y de un modo más especial las agrupaciones de explotadores y explotados que por
razones puramente económicas se hallan en todas las sociedades humanas después de la comunal
primitiva y, como diría Marx, hasta el triunfo de la revolución proletaria. En este sentido está empleado
“clase” en el celebrado párrafo inicial del Manifiesto comunista (“La historia de todas las sociedades
existentes hasta ahora es la historia de la lucha de clase”), y para los fines generales de lo que
podríamos llamar la macroteoría de Marx. No pretendo decir que esta simple formulación agota el
significado de “clase” en el primer sentido de su empleo por Marx, pero por lo menos servirá para
distinguirlo del segundo sentido, que introduce un elemento subjetivo en el concepto de clase: la
conciencia de clase. (HOBSBAWM, 1983, p. 62)
51
12
Por otra parte, la conciencia de la clase trabajadora en ambos niveles implica una organización
formal; y una organización que sea en sí sustentadora de la ideología de clase, que sin ella sería poco
más que un complejo de hábitos y prácticas informales. La organización (la “unión” o sindicato, el
“partido”, el “movimiento”) se convierte así en prolongación de la personalidad individual del trabajador,
que completa y su- plementa. (HOBSBAWM, 1983, p.74)
53
maioria dos países do mundo, com exceção, é claro, da França. Pois, afinal,
1917 tornou-se o protótipo da grande revolução do século XX, aquela com a
qual a política do século foi obrigada a se entender. A escala ascendente e as
repercussões internacionais da Revolução Russa tornaram pequenas aquelas
de 1789, e não havia precedente para a sua inovação maior, um regime
revolucionário social que deliberadamente foi além da fase democrática
burguesa, mantendo-se permanentemente e provando-se capaz de gerar
outros. O jacobinismo do ano II, qualquer que tenha sido seu caráter social,
foi um episódio temporário. A Comuna de Paris em 1871, embora fosse
claramente um fenômeno operário, não chegou a ser um regime e mal durou
algumas semanas. Seu potencial para a transformação socialista ou pós-
burguesa repousa inteiramente no eloquente obituário que Marx lhe dedicou,
o qual se transformou um texto tão importante para Lenin quanto para Mao.
Até 1917, nem mesmo Lenin, como também a maioria dos marxistas,
esperara ou antecipara uma transição direta e imediata para o “poder
proletário” como uma consequência da queda do czarismo. (HOBSBAWM,
1996a, p.69-70)
Sem dúvida, os aspectos sociais do ser humano não podem ser separados
de outros aspectos seus, com o baixo risco de cair em tautologias ou
hipersimplificações. Não podem isolar-se as formas em que os homens
ganham a vida e constroem seu meio ambiente material.Também não podem
ser isoladas suas idéias, já que as relações entre eles estão expressas e
formuladas numa linguagem que implica o manejo de conceitos. Por sua
conta e risco, os historiadores do pensamento poderão se esquecer do
econômico e os historiadores econômicos de Shakespeare, mas pouco
alcançará o historiador social que se esquece de um deles. Uma monografia
sobre a poesia provençal dificilmente pode ser história econômica, como uma
sobre a inflação no século XVI não será história intelectual, mas as duas
podem ser estudadas de tal modo que sejam história social. (HOBSBAWM,
13
1983, p.26, tradução nossa)
(...) diferentemente dos animais, que não mais fazem do que se adaptar à
natureza, os homens é que a ajustavam e a transformavam adequando-a às
suas necessidades. O ato de agir sobre a natureza transformando-a em
13
Sin embargo los aspectos sociales del ser humano no pueden ser separados de otros aspectos
suyos, bajo riesgo de caer en tautologías o hispersimplificaciones. No pueden aislarse de las formas en
que los hombres se ganan la vida y construyen su medio ambiente material. Tampoco pueden ser
aislados de sus ideas, ya que las relaciones entre ellos están expresadas y formuladas en un lenguaje
que implica el manejo de conceptos. Bajo su cuenta y riesgo, los historiadores del pensamiento podrán
olvidarse de lo económico y los historiadores económicos de Shakespieare, pero poco alcanzará el
historiador social que se olvide de alguno de los dos. Una monografía sobre la poesía provenzal
difícilmente puede ser historia económica, de igual forma que una sobre inflación en el siglo XVI no
será historia intelectual, pero las dos pueden ser estudiadas en tal forma que sean historia social.
(HOBSBAWM, 1983, p.26)
55
14
Les belles figures du prolétariat.
59
Figura 5: Assinatura de Louise Michel com o sobrenome Demahis em carta enviada a Victor Hugo.
15
Com o final de Era Napoleônica em 1815, quem assumiu o poder foi Luis XVIII que governou até
1824. Com a morte do monarca, Carlos X assumiu o governo francês e se empenhou na restauração
do regime absolutista, que já estava em decadência em quase toda a Europa. A Revolução de 1830
não se restringiu à França, também ocorre na Bélgica e na Polônia, e suas consequências foram
sentidas em quase toda a Europa.
16
François-Marie Arout, conhecido como Voltaire, nasceu em Paris em 1694 onde morreu em 1778.
Filósofo e escritor que marcou o século XVIII como filósofo iluminista. Em seus escritos combateu o
formato do antigo regime e seus privilégios, assim como os privilégios clericais. Foi um humanista que
lutou pela liberdade de pensamento e de expressão, pela justiça, pela laicidade. Nos atuais atentados
ocorridos na França em 2015, foi lembrando como um símbolo da liberdade francesa.
17
Jean-Jaques Rousseau: nasceu em Genebra na Suíça em 1712 e morreu em Ermenonville na
França em 1778. Considerado ao lado de Voltaire um dos pais do iluminismo francês, dedicou-se a
escrever sobre a Arte, trabalhou como compositor, e sobre a Educação, com o importante tratado
Emílio ou da Educação, entre outros variados temas. Por sua defesa da natureza se colocou em
polêmica com outros iluministas de época, mas integrou o grupo das luzes. Debateu a sociedade em
que vivia e se opôs aos privilégios da monarquia, pregando a liberdade.
62
A revolução social do século XIX não pode tirar sua poesia do passado, e sim
do futuro. Não pode iniciar sua tarefa enquanto não se despojar de toda
veneração supersticiosa do passado. As revoluções anteriores tiveram que
lançar mão de recordações da história antiga para se iludirem quanto ao
próprio conteúdo. A fim de alcançar seu próprio conteúdo, a revolução do
século XIX deve deixar que os mortos enterrem seus mortos. Antes a frase ia
além do conteúdo; agora é o conteúdo que vai além da frase. (MARX, 2000,
p.11)
18
As obras mencionadas são: - MICHEL, Louise. Cartas a Victor Hugo. Vinhedo, SP: Horizonte, 2005.
- MICHEL, L. Lettres à Victor Hugo (1850-1879) Paris:Mercure de France, 2005. (Le petit Mercure).
63
Um dia, meu pai veio a casa com um tabelião; era para casar-se com outra
que não minha mãe. Eu sempre me lembrarei da impressão que senti e do
quanto chorava, de joelhos, naquele quartinho de janela com grade, no qual
eu viera ao mundo. Eu pedia a Deus que lhe dêsse filhos que o amassem
tanto quanto eu o teria amado. (MICHEL, 2005b, p.32)
19
O “Comitê Republicano de vigilância dos cidadãos do XVIIIéme” foi uma organização popular que
funcionou em Paris de 4 de setembro de 1870 a 18 de março de 1871 e tinha como objetivo a
organização comunal, mas colocava-se como defensor da República – governo provisório – enquanto
se opunha a medidas autoritárias do Império. A cidade de Paris é dividida em vinte Arrondissement, ou
seja, o território é subdividio em vinte regiões, cada região tem sua sub-prefeitura (Mairei) e seu sub-
prefeito, divisão que permanece como marca da admisntração francesa. No caso de Michel, foi
presidente do Comitê do XVIIIéme. (Anexo 4)
20
Fazendo referência à sua avó.
64
depois a jovem que eu também tanto amava. Parecia-me que eu trazia desgraça a
todos (MICHEL, 2005b, p.34). Uma das cartas enviadas por Louise fala da doença de
sua avó e de seu desespero diante de uma perda, seu avô faleceu em 1845. Para
entender melhor o início dessa amizade entre Michel e Hugo, transcreve-se as
palavras da jovem:
Senhor,
Não sei o que irei vos dizer, mas estou desesperada e preciso escrever para
sofrer menos. Não me preocupo se minha carta irá lhe parecer estranha,
posto que não me conheceis, e tudo o que me atormenta não pode vos tocar,
mas é preciso que eu vos diga para acalmar-me por um instante.
A sra. Demahis, minha avó, que jamais deixei, está perigosamente doente e
estou sem forças e sem ânimo contra essa terrível preocupação. Estou como
louca, não sei o que faço nem o que digo. A ideia de perda é horrível para
mim e não tenho outra. Vejo que não há mais esperança e que tudo o que me
dizem de tranquilizador é para consolar-me e, entretanto, apesar de sua
idade, não posso imaginar que me seja possível viver sem ela. Quase me
esqueço de que me restaria minha mãe a consolar. Desde que estou no
mundo, nunca deixei minha avó. Ela foi, minha única professora. Vivíamos
somente uma para outra e agora tudo isso irá acabar. Não sei o que estou
dizendo. Minhas ideias misturam-se, mas vós me perdoareis e me
escrevereis algumas linhas para dar-me um pouco de coragem, pois eu não a
tenho mais. Dizem que sou piedosa; pois bem, se eu a perdesse, acho que
não acreditaria em mais nada. Deus seria cruel demais. Encontro sob minha
mão não sei que rascunhos; estou-os enviando. Talvez sejam os últimos que
receberei de mim. Se eu a perdesse, não faria nada mais ou isso me faria
morrer. Então, irmão, faríeis alguns versos sobre meu túmulo. Adeus, perdão
por esta carta, estou louca de dor, não sei o que devir, tudo me parece morto,
escrevei-me. (MICHEL, 2005b, p.20-21)
como relatou à Hugo. Com essas mortes, a esposa de Laurent e seus filhos tornaram-
se herdeiros do castelo e Louise e Marianne tiveram que sair de lá, já que ela não era
uma herdeira legítima.
Em 1848, o imperador Luís Felipe I não consegue mais governar. A
população cansada das longas jornadas de trabalho, da miséria, das poucas
condições de higiene, da epidemia de cólera, resolve se organizar e vai literalmente à
luta por mudanças. O imperador abdica em favor de seu neto em 24 de fevereiro e, no
mesmo dia, é proclamada a Segunda República Francesa, tendo como presidente
Louis-Napoleão. As lutas foram de 22 a 25 de fevereiro21.
Marx (2000) afirma que três períodos se destacam: o de fevereiro com a
disputa; de 6 de maio de 1848 a 28 de maio de 1849 com formação da Constituição
da República (ou Assembleia Nacional Constituinte) e o de 28 de maio a 2 de
dezembro de 1851 com a República Constitucional ou Assembleia Nacional
Legislativa. Nesse período, reivindicações operárias francesas se dissolveram,
reconciliações foram realizadas formando grupos políticos como a Montanha. A
formação da Montanha contra o governo, reunindo vários grupos, desestabiliza a luta
de classes, uma vez que socialistas também entram nesse grupo. Tinham como
bandeira os direitos do homem e a República, porém esses não constituíam seu
objetivo principal.
O governo viu na Montanha um inimigo e nesse embate, buscou tirá-la de
dentro da sua casa, a Assembleia, e a levou para rua para justificar sua “luta” contra
esse grupo. Dentro a Assembleia defendeu o uso de armas para depor Louis-
Napoleão, considerando inconstitucional a ação do príncipe-presidente na invasão a
Roma22. Porém, a medida tomada pela Montanha não teve a participação da
Assembleia, foi arbitrária. Percebendo isso, Louis-Napoleão levou o grupo para a rua
a fim de combatê-lo.
De acordo com Marx (2000, p.60), A Montanha precipitou-se de corpo e
alma na armadilha. Em junho 1851, ao defenderem o uso de armas no parlamento e
21
Em 1848 revoluções aconteceram pela Europa, organizadas por trabalhadores descontentes que
buscavam seus direitos. Essas revoluções ficaram conhecidas como “primavera dos povos” e
aconteceram principalmente nos seguintes países: França, Austria, Alemanha, Itália, Hungria, Polônia,
Suíça e Romênia, mas seus efeitos também chegaram a outros países.
22
Nesse período a Itália havia começado seu processo de unificação, ou Risorgimento. Roma, capital
dos estudos pontifícios, ainda não tinha aderido à unificação. Nesse contexto, a esquerda romana
aproveitou para proclamar a República de Roma. O papa Pio IX, que abandonou a cidade temendo por
vida, solicitou auxílio e a França, Aústria e Espanha, países católicos, ficaram incumbidos de acabar
com a República Romana.
66
tentar agir como parlamentares na rua (idem,p.61) foi a queda da pequena burguesia
no parlamento. A perda da Montanha em relação ao impeachment de Bonaparte,
também foi uma vitória de Napoleão, que se fortaleceu nos meses seguintes e deu
um golpe de Estado em 2 de dezembro.
Bonaparte nomeou um ministério, dito de transição, somente com pessoas
desconhecidas do cenário político da época. Não havia um membro do Parlamento,
seu ministério era composto por homens que repetiam suas ordens por escrito.
Assim, reorganizou o sufrágio e a legislação para deixar de ser o príncipe-presidente
e torna-se Napoleão III, Imperador dos franceses.
É no magistério que Louise Michel busca seu trabalho. Em setembro de
1851, faz o exame de capacidade para ser professora e não é aprovada, mas é
admitida no ano seguinte em Versalhes, estava apta ao trabalho docente.
Michel não foi para o ensino público, pois recusou-se a prestar juramento
ao imperador Napoleão III, o que era pré-requisito para entrar no funcionalismo
público francês da época. Em 1852, com o diploma em mãos, ela abre uma escola
livre em Audeloncourt (Haute-Marne), nas proximidades de Vroncourt.
Enquanto professora, produzia textos para L’Echo de Haute Marne e, em
seus poemas, assinava ou Louise Demahis ou Louis Michel23 em suas primeiras
publicações. De acordo com Maitron (1970) seus primeiros escritos demonstravam
uma Louise Michel fervorosa, ainda com forte compaixão cristã e já com traços de sua
insubmissão.
Após sua primeira e breve estadia parisiense no ano de 1853, Louise volta
para o Haute-Marne para abrir escolas na cidade de Clefmont, em 1854, e Milières,
em 1855, contando com a parceria com sua amiga Julie Longchamp.
Para conseguir retomar seu trabalho com instituições educacionais contou
com o apoio do reitor de Haute-Marne que escreveu ao prefeito, em 9 de novembro
de 1854, em seu favor. Afirmou o reitor que Louise era uma senhorita mais ‘de
imaginação que julgamento’ e, além disso, era uma pessoa honesta e ele acreditava
não haver motivos para impedir a reabertura de sua escola, fechada por algum tempo
para trabalhar como auxiliar de professora em um colégio interno em Paris.
23
A ideia de substituir seu nome por uma versão masculina era comum na época, ao buscar um
pseudônimo masculino poderia-se conseguir uma abrangência maior nas publicações, uma vez que a
sociedade via com preconceito publicações de mulheres. Um clássico exemplo é o caso da romancista
Amandine-Aurore-Lucile Dupin que assinava George Sand, como ficou conhecida.
67
Essa carta de recomendação pelo reitor pode tanto ser usual para a
recomendação de abertura de escolas, como também pode indicar que alguns atos
educacionais de Louise estivessem sob os olhares atentos das autoridades locais,
como o fato dela ter se recusado a prestar juramento ao imperador.
De acordo com Boyer (1946, p. 57), quando, no domingo, o padre
começava a entoar o Domine salvum Napoleonem os alunos de Louise começavam a
bater os pés no chão, pois haviam aprendido com ela que orar para Napoleão era um
sacrilégio.
Nessas escolas, Louise organizava passeios pedagógicos com seus alunos
para estudar a natureza e também ensinava os alunos a cantar a Marseillaise. Esses
métodos não agradavam todos os pais de seus alunos: assim ela fazia visitas
constantes ao gabinete do prefeito para justificar seus posicionamentos.
Louise Michel estava inserida em um contexto imperial com o predomínio
do poder por parte do sexo masculino, no qual a religião ainda tinha forte presença na
vida social. Sua ação como professora estava vinculada a propostas de vanguarda e
liberdade, questionando a legitimidade do governo imperial, formando crianças para
terem posicionamentos próprios e fazendo valer os princípios de igualdade, sua ação
não era muito bem vista na região que nasceu.
Em 1856 Louise Michel mudou-se para Paris, que sempre a atraiu por seu
desenvolvimento científico e pelas ideias republicanas mais disseminadas. Ao chegar
instalou-se em uma pensão e trabalhou como assistente em uma instituição
localizada na rua Château d’Eau. Nesse mesmo ano associou-se a União dos Poetas
e deu início a novos trabalhos com educação, lecionando em uma escola tipo
internato.
A capital francesa, sede do governo imperial, era comandada por Napoleão
III, também era o centro de todas as manifestações políticas, sociais e econômicas,
68
24
Jules Vallés: jornalista francês que viveu de 1832 até 1885. Político de extrema esquerda,
fundadordo jornal Le cri Du Peuple. Conhecido por sua participação na Comuna, que lhe rendeu a
condenação à morte, e lhe forçou um exílio em Londres de 1871 a 1880. (Cf. Noël, 1978)
Eugéne Varlin: militante francês socialista e libertário que nasceu em 1839. Membro de Primeira
Internacional, participou ativamente de Comuna de Paris, por isso foi condenado e morto em 1871. (Cf.
Noël, 1978)
Raoul Rigault: viveu entre 1846 e 1871, foi jornalista e militante blanquista. Participou da Comuna de
Paris e foi morto no início da semana sangrenta por um oficial de Varsalhes. (Cf. Noël, 1978)
Émile Eudes: militante blanquista, viveu de 1843 a 1888. Eleito delegado do Comitê do XIéme e
delegado de guerra da Guarda Nacional durante a Comuna, condenado à morte, exila-se em Londres,
onde tem a oportunidade de se tornar amigo de Karl Marx. (Cf. Noël, 1978)
Théophile Charles Ferré, nasceu em Gilles em 6/5/1846, não se casou, foi militante blanquista, membro
da Comuna de Paris e um dos signatários de l’Affiche Rouge de 6 de janvier 1871, proclamation au
peuple de Paris. Major da guarda nacional em 18 de março dirigiu, com Louise Michel, o comitê de
Vigilância do 18e. arr., primeiro substituto do Procurador da Comuna. Acusado de participar de morte
do general Lecomte e de incendiar o Palácio da Justiça, foi fuzilado em 28 de novembro de 1871, com
Rossel e Bourgeois. (Cf. MAIRON, 1970)
Marie Ferré: participante da Comuna de Paris, amiga de Louise e morreu em 1882. (Cf. MAIRON,
1970)
69
25
Jules Favre: nasceu em 1809 na cidade de Lyon e morreu em 1880 em Versalhes. Foi advogado,
político e diplomata. Defendeu a República, na França, por anos, mas diante dos acontecimentos da
Communa de Paris, se opôs fortemente aos communards.
26
Pierre Clément Eugène Pelletan foi um político da terceira República francesa, que viveu entre 1813
e 1884. Também foi escritor e jornalista
27
François-Jules Suisse, conhecido como Jules Simon, foi um filósofo francês que viveu entre 1814 e
1896. Defensor da república, também publicou diversas obras. Com o governo provisório de 1870,
assumiu o cargo de Ministro da Instrução Pública.
28
August Blanqui nasceu em 8 de fevereiro de 1805, em Puget Théniers (AlpesMaritimes), e morreu
em 1º de janeiro de 1881 em Paris; revolucionário de sensibilidade comunista foi fiel a sua causa até
70
sua morte. Aos 17 anos vê a execução de quatro generais na Praça de Greve e jura vingar os mártires
da liberdade, a partir disso começou uma militância pela liberdade, trabalhou como professor e
enquanto aluno de direito influenciou jovens na luta pela liberdade, até perder seu status de estudante.
Foi preso diversas vezes e considerado perigoso pela polícia. Em 1848, junto a um grupo, conspira
contra o governo provisório e começa uma manifestação pacífica que logo se transforma em uma
“rebelião”. Por esse feito, foi condenado à morte, mas escapou. Passou por um exílio (voluntário) e
retornou a Paris em agosto de 1870. Candidatou-se a um cargo na República instaurada, mas não foi
bem votado. Blanqui uniu em si a ação e a teoria. Ao contrário de sua reputação de violento, tinha
como proposta educar o povo para uma sociedade futura, dentro dos princípios de liberdade. Dedicou
sua vida à classe trabalhadora. Percebe-se nele, em 1870, um chauvinismo exacerbado. (Cf. Maitron,
1970)
29
“Victor Noir era um jovem alto e forte, de uns vinte e um anos, de gênio muito alegre e muito
expansivo, que nos proporcionava com bastante frequência informações e notícias para nosso jornal.
Além disso, estava sempre disposto a nos acompanhar em situações perigosas, enfim, era um
verdadeiro amigo da casa. Seu fim trágico, ao qual não parecia destinado, nos transtornou até o ponto
de nos sufocar a todos com furor.” (Michel, 1973, 49, tradução nossa) Victor Noir era un joven alto y
fuerte, de unos veintiún años, de genio muy alegre, muy espontáneo y muy expansivo, que nos
proporcionaba con bastante frecuencia informaciones y noticias para nuestro periódico. Por lo demás,
siempre estava dispueto a acompañar-nos en las circuntancias peligrosas. En fin, era um verdadero
amigo de la casa. Su fin trágico, al cual parecía tan poco destinado, nos trastornó hasta el punto de
sofocarnos a todos de furor. (Michel, 1973, 49)
30
Assim como a utilização de pseudônimos masculinos eram comuns, sair nas ruas em trajes
masculinos também foi uma tática de algumas mulheres na segunda metade do século XIX. Era a
forma que tinha para poder circular com mais liberdade pelas ruas.
71
Louise Michel foi uma das apoiadoras da República, desde sua infância,
graças às leituras direcionadas por seus avós, que focavam os pensadores
iluministas. Ela foi uma das que acreditou, junto com seus companheiros e suas
companheiras, que a República traria mudanças significativas para a França daquele
momento, e seria uma forma de sair da obscuridade monárquica para entrar na
participação democrática. Esse apoio depois foi extremamente lamentado pela
educadora em suas memórias.
Da proclamação da Terceira República até 18 de setembro ainda se
esperava soluções para a guerra Franco-prussiana, que ainda assolava algumas
cidades francesas enquanto os prussianos dirigiam-se para Paris. E não havia
notícias recentes sobre a cidade de Estrasburgo, que estava cercada, segundo sabia,
desde 13 de agosto por tropas prussianas.
Louise compunha, em 18 de setembro, um pequeno grupo que, indignado
com o abondano de Estrasburgo, resolve se manifestar e unir voluntários para
socorrer a cidade francesa. Em pouco tempo de manisfetação, já contavam com um
grupo considerável para um alistamento voluntário. Com esse grupo, marcharam até
a Praça do Hôtel de Ville para se apresentarem como defensores de Estrasburgo. O
grupo escolheu Louise e a estudante Andrée Léo como delegados para irem até os
representantes da nova República francesa apresentar a proposta de auxílio à cidade.
Ao chegarem à porta de entrada do Hotel de Ville, Louise estranhou ser
facilmente recebida com sua colega, mas logo perceberam que elas estavam presas
dentro de uma sala do prédio com outras duas pessoas: um manifestante e uma
senhora assustada que segurava um vidro de azeite e que visivelmente não
participava da manifestação. Depois de algumas horas um coronel foi interrogá-los e
trocaram seus depoimentos pela saída de senhora. Durante o interrogatório
apresentaram suas intenções de defender a cidade, socilitaram armas e ajuda.
74
31
“Comité républicain de vigilance des citoyennes du XVIIIéme”A cidade de Paris é dividida em vinte
Arrondissement , ou seja, o território é subdividio em vinte regiões, cada região tem sua sub-prefeitura
(Mairie) e seu sub-prefeito, divisão que permanece como marca da admisntração francesa, nessa caso,
Louise estava diretamente ao XVIIIéme, pois habitava a região de Montmartre. Ainda hoje Comitês de
Vigilâncias são criados na França, normalmente com o objetivo de assegurar direitos conquistados
historicamente ou garantir novos direitos necessários para a contemporaneidade. (Anexo 4: Mapa de
Paris)
75
32
En Montmartre, alcadía, comités de vigilancia, clubes y vecinos eran, con Belleville, el espanto de la
gente de orden. Se acostumbraba en los barrios populares no inquietarse demasiado en cuento a los
gobernantes, el patron era la libertad, y no capitularía. En los comités de vigilancia se reunían los
hombres absolutamente adictos a la revolucion, que estavan de antemano condenados a la muerte. Allí
se templaban los valientes. (...) En le comité de vigilancia de Montmartre y en la Patria en Peligro he
passado mis horas más hermosas de asedio. Vivíase allí um poco en el futuro, con la alegria de
sentirse en el próprio elemento en medio de la lucha intensa por la libertad. Varios clubes estaban
presididos por miembros del comité de vigilancia. El de la Reine-Blanche lo estaba por Burlot, outro por
Avronsart, el de la sala Perot por Ferré y el de la justicia de paz por mí. A estos dos últimos los
llamaban clubes de la Revolución (...) (Michel, 1973, pp.109- 110)
76
Parece que Srta. Louise Michel será presa. Farei o que for necessário para
colocá-la imediatamente em liberdade. A Sra. Meurice ocupa-se disso. /
Estou escrevendo ao chefe de polícia para colocar a Srta. Louise Michel em
liberdade. / 2 de dezembro. Srta. Louise Michel está em liberdade. Ela veio
me agradecer. (MICHEL, 2005, p.57e 58 – notas)
33
Não fica claro, mas sugere-se a formação de uma espécie de irmandade, como um sistema de
proteção mútua.
77
Figura 8: Carta original de Louise Michel a Victor Hugo (composta por três páginas)
78
Caro Mestre,
Tendes tempo para me dar um conselho? Recebo inúmeras cartas como
esta. Se não sou traidora da pátria respondendo como faço, se não sacrifico
os momentos presentes da República a emoções do comitê, dizei-me.
Não é melhor que o povo seja ele próprio, ao invés de lhe darem ídolos
ridículos, depois de terem despedaçado um infame?
79
34
Gustave Courbet (1819-1877), pintor e escultor francês, uns dos líderes da corrente realista na
França da segunda metade do século XIX. Suas obras foram criticadas por retratar cenas triviais e
causaram polêmica. Porém, sua participação na Comuna de Paris ainda superara essas críticas. Por
outro lado, ele se destacou à frente à Federação dos Artistas, que propagava a cultura e a arte durante
os dias de Comuna. Amigo pessoal de Proudhon, foi julgado como responsável pela queda da Coluna
de Vêndome e condenado a pagar 10 mil francos durante 33 anos para ressarcir a reconstrução da
Coluna. Ele adoeceu e morreu antes de começar a pagar.
83
35
Para mais informações: BOITO JR., Armando (org.). A Comuna de Paris na História. São Paulo:
Xamã, 2001. A terceira parte, intitulada A Comuna de Paris, o Brasil e o pensamento conservador
apresenta os seguintes artigos: “Delito de lesa-humanidade”: os parlementares do Império Brasileiro
frente à Comuna de Paris, de Eduardo Lourenço; Incêndios sublimes: figurações da Comuna de Paris
no Brasil, de Francisco Foot Hardman; e O pensamento político conservador após a Comuna de Paris,
de Maria Stella Bresciani.
84
36
No caso, refere-se aos vinte delegados dos vinte Comitês de Vigilância de Paris.
85
manifestação, vestida das roupas da guarda nacional (Figura 9), disparou um tiro
contra o Hôtel de Ville, como um símbolo de repúdio à III República. Nesse momento,
todas as discussões dos trabalhadores estavam voltadas para as dificuldades de
sobrevivência que, mesmo diante da mudança de governo, não haviam se resolvido e
ainda se agravava com o passar do tempo.
38
Francês de Thoinville nasceu em 1817. Era general de brigada e participou da tentativa de tirar os
canhões da população em Montmartre. Ferré e outros companheiros desejavam um julgamento para o
militar, porém, a população rapidamente acabou por bater em Lecomte, depois matá-lo com um tiro.
39
Francês de Giround nasceu em 1809. Passou por um exílio na Inglaterra e com a República de 4 de
setembro foi nomeado comandante chefe da Guarda Nacional. Ficou em exercício até 14 de fevereiro,
quando se demitiu. Nos acontecimentos do dia 18 março, passando com trajes civis, ele foi
reconhecido pela população, parado e assassinado.
90
responsável para situação que passavam. Ferré e Rigault, com os quais ela se abre,
tentam fazê-la esquecer de seu projeto, afirmando que as mortes de Lecomte e
Clément Thomas que haviam criado oposição em relação à Comuna. Para mostrar
que seu projeto é possível, ela se veste de forma que nem ela própria se reconhece e
vai até Versalhes. Lá faz propaganda pela Revolução de 18 de março e compra
jornais em uma grande livraria, depois retorna à Paris, portando os jornais como
troféus. (Cf. Thómas, 1963, p.168)
As eleições aconteceram e 92 membros da Comuna foram escolhidos
através do sufrágio universal. Dois dias após é proclamada, “em nome do povo”
Comuna de Paris, em meio à festa da população, mas também o início da guerra civil.
A estrutura formada possibilitou uma organização popular centrada no poder do povo
e tomou seu lugar no Hôtel de Ville.
REPÚBLICA FRANCESA
Nº 44 LIBERDADE- IGUALDADE - FRATERNIDADE Nº44
COMUNA DE PARIS
Cidadãos,
Vossa Comuna foi constituída.
O voto de 26 de março sancionou a Revolução vitoriosa.
Um poder covardemente agressor os pegou pela garganta. Vocês devem, em vossa
legítima defesa, repelir os muros deste governo que queria desonrar-vos, impondo-vos um
rei.
Hoje, os criminosos que vocês mesmos não quiseram perseguir, abusam de sua
magnanimidade, para organizar às portas desta mesma cidade um ninho de conspiradores
monarquistas. Eles convocam a guerra civil; eles acionam todas as corrupções; eles
aceitam todas as cumplicidades; eles ousam até mendigar apoio estrangeiro.
Nós entregamos essas condutas execráveis ao julgamento da França e do mundo.
Cidadãos,
Vocês vos dão as instituições que desafiam todas as tentativas.
Vocês são mestres de vossos destinos. Fortes pelo vosso apoio, a representação que
vocês vêm estabelecer vai reparar os desastres causados pelo poder destrutivo: a
indústria compormetida, o trabalho suspenso, as transações comerciais paralisadas
receberão um impulso vigoroso.
A partir de hoje, a decisão esperada sobre os alugueis;
Amanhã, os prazos;
Todos os serviços públicos restabelecidos e simplificados;
A Guarda Nacional, agora é a única força armada da cidade, organizada sem demora.
Tais serão nossos primeiros atos.
Os eleitos do povo somente pedem, para assegurar o triunfo da República, que os
sustentem com a sua confiança.
Quanto a eles, eles farão seu dever.
Hôtel de Ville de Paris, 29 de março de 1871.
A Comuna de Paris. (Tradução nossa)
93
Figura 10: Cartaz com a proclamação oficial da Comuna de Paris, de 29 de março de 1871.
(...) Nunca uma ocasião mais favorável foi oferecida por um governo à classe
dos trabalhadores. Não participar será trair a causa de emacipação do
trabalho (...). (Câmara Sindical dos Alfaiates)
(...) Para nós, trabalhadores essa é uma das grandes oportunidades de nos
constituir definitivamente e, enfim, colocar em prática nossos perseverantes e
trabalhosos estudos dos últimos anos (...). (Câmara dos Mecânicos)
“No momento que o socialismo se firma com um vigor desconhecido até
agora, é impossível para nós, operários de uma profissão que sofreu em mais
alto grau o peso da exploração e do capital, permaneçamos impassíveis ao
movimento da emancipação (...)”. (Câmara dos Joalheiros) (in Boito Jr, 2001,
p. 65)
40
Conferir conceito em Marx na obra “Sobre a questão judaíca”
99
Figura 11: Desenho que representava a laicização escolar pela Comuna de Paris.
Figura 12: Cartaz feito pela subprefeitura da Comuna de Paris em defesa das escolas laicas.
Fonte: http://www.commune1871.org/?L-enseignement-sous-la-Commune
41
Não se identificou esse sujeito.
102
42
Partout les cours étaient ouverts, répondant à l’ardeur de la jeunesse. On y voulait tout à la fois, art,
sciences, littérature, découvertes, la vie flamboyaint. On avait hâte de s’echapper du vieux monde”.
Michel, in Les amis (...), s.d., p.14-15
43
Jacques Élisée Reclus, assim como Louise Michel, nasceu em 1830 e faleceu em 1905 e participou
da Comuna de Paris. Teórico anarquista, também foi um teórico da educação e pedagogo, membro da
Primeira Internacional trabalhou com Kropotkin no jornal Le Révolte. (Cf. Noël, 1978).
44
Escritor e jornalista francês, que viveu entre 1823 e 1903. Por suas ações anarquistas, foi exilado
duas vezes na Algéria e depois, por sua participação na Comuna, exilado em Nova Caledônia. (Cf.
Noël, 1978)
103
45
A la Commune de Paris, Unis dans une fraternelle solidarité pour la revendication des franchises du
peuple et le triomphe de la Révolution, les membres de la Fédération rouennaise [de l’AIT] et du Comité
104
Mesmo diante das ameaças por parte de Versalhes que invadiria Paris já
sitiada pelos prussianos, alguns grupos como esses membros da Internacional,
acreditavam na vitória da Comuna e, inclusive, no reconhecimento histórico da luta
que traria a emancipação popular e a constituição da República. A luta foi perdida no
campo de batalha, mas o reconhecimento aos communards aconteceu, graças à
coragem com que colocaram em prática e defenderam seus ideais. Alguns grupos
mais à direita, continuam vendo a Comuna como um acontecimento ruim, mas a
importância dessa experiência é reconhecida atualmente não só pela esquerda.
No dia 25 de abril, algumas mulheres da Comuna participantes do Comitê
Central da União das Mulheres, publicaram um chamado considerado muito violento
por Thómas (1963). O chamado, redigido por Louise Michel foi assinado por outras
mulheres também.
a adesão das tropas de Versalhes ao embate da Comuna aconteceu por conta das
mulheres.
Do ponto de vista organizacional a Comuna de Paris estabeleceu o poder
administrativo com supressão do exército e sua substituição por milícias cidadãs. Os
próprios moradores da Comuna teriam condições de fazer a sua defesa, sem precisar
de órgão especializado. A ideia era não ter mais setores militarizados, que por vezes
agiam como repressores da população local.
A elegibilidade e a revogabilidade permanente foram princípios para todos
os mandatos. A Comuna deu elegibilidade a estrangeiros, vários participantes ativos
não eram franceses. Inspirada pelo internacionalismo, os estrangeiros podiam ter voz,
votavam e poderiam ser eleitos.
Um dos pontos principais colocados em prática pela Comuna foi a
reformulação de leis trabalhistas. Em relação ao trabalho noturno criou novas formas
de organização, pensando primeiro nas necessidades do ser humano e em sua
qualidade de vida. É o caso da regulamentação do trabalho de padeiro, que ficou livre
do trabalho noturno e por boa parte da madrugada e a proibição de trabalho aos
menores.
A relação entre empregado e empregador também passou por
reformulações dando alguns direitos aos empregados. Deve-se lembrar de que, em
1871, praticamente não havia direitos aos trabalhadores. Os empregadores
normalmente podiam praticar quaisquer desmandos e injustiças, sem que isso
acarretasse qualquer problema.
Uma das ideias defendidas por de Louise Michel era dar oportunidades
para as prostitutas. Ela acreditava que essas mulheres eram vítimas da miséria e da
sociedade injusta, por isso teriam o direito a um novo lugar no mundo49. Também
reconhecia Michel o trabalho que esas mulheres tinham ao se dedicar à luta da
Comuna para a construção de um novo mundo. Quem então teve tanto direito como
elas, as mais tristes vítimas do velho mundo, a dar a vida pelo novo? (Michel, in
Thómas, 1963, p.123)50
49
Arrisca-se dizer que a visão de Louise sobre as prostitutas tinha influência do retrato apresentado por
Victor Hugo em os Miseráveis, através da personagem Fantine. Fantine era uma moça que, segundo
Hugo, tinha dote de ouro e pérolas, mas ouro estava em sua cabeça e as pérolas em sua boca.
Fantine engravida de seu namorado e é abandonada, passa por dificuldades para criar a criança e por
isso acaba se prostituindo, seu fim é de abandono e tristeza ao ficar doente.
50
Qui donc avait autant de droit qu’elles, les plus tristes victimes du vieux monde, de donner leur vie
pour le nouveau?” (Michel, in Thómas, 1963, p.123)
107
Figura 13: Caricatura de Louise Michel como “incendiária” e abandonada, sentada sobre as dinamites,
ao lado do petróleo e de um gato, animal que era uma de suas paixões.
Mesmo sitiada, Paris era livre em seu interior. Merriman (2015) afirma que
as pessoas comuns dos bairros populares podiam passear pelos bairros mais
elegantes, muitas nem ao menos conheciam esses bairros e muitas que conheciam
estiveram lá para trabalhar como empregadas ou diaristas. A cidade era de todos,
com direito a ocupar os parques, os jardins, o museu do Louvre, a Biblioteca
Nacional.
Fonte: http://www.wdl.org/pt/item/1287/http://www.wdl.org/pt/item/1286/
Acesso em 17/07/2013.
No dia 27, os Versalheses tomam quase toda Paris com a permissão dos
prussianos, após as quedas das Portas de Bagnolet e de Montreuil. Os combates
aconteceram em Belleville, no cemitério Père-Lachaise e no parque Buttes-Chaumont.
No dia seguinte, dentro do cemitério Père-Lachaise, foram fuzilados os sobreviventes
que haviam se entregado ao vencedor. No local da execussão, o “muro dos
federados” é um local de homenagem aos assassinados pelo exército de Versalhes.
No dia 28 de maio, os versalheses ocuparam da prefeitura do XXº,
derrubaram as últimas barricadas nas ruas Ramponneau e de la Fontaine aux Rois.
No dia 29 aconteceu a tomada do Forte de Vincennes acabou com a última fortaleza
dos federados, que tiveram todos os seus oficiais fuzilados sumariamente.
Os mortos pela Comuna somaram mais de 20 mil pessoas, 17 mil dessas
pessoas foram executados após se renderem em várias batalhas pela cidade. Pelas
ruas de Paris, os communards foram impiedosamente massacrados. Durante a
semana sangrenta, Louise Michel combateu no cemitério de Monmartre e também
nas barricadas de Chaussée Clignacourt e não foi vencida nas batalhas que
participou.
Louise Michel entregou-se aos versalheses em troca da liberdade de sua
mãe, que havia sido feita de refém. Ficou presa, primeiro em Satory, depois em
Chantiers, em Versalhes.
Figura 16: Hotel de Ville depois do incêndio de 1871, retratado em 1871 pelo pintor Frans Moormans.
]
51
Fonte: Museu Carnavelet,
rnavelet, História de Paris –França
Figura 17: Muro dos Federados, no cemitério Pére-Lachaise no XXº arrondisement de Paris,
atualmente com sua homenagem aos mortos pela Comuna.
51
Disponível em: http://www.carnavalet.paris.fr/fr/collections/l-hotel-de-ville-apres
http://www.carnavalet.paris.fr/fr/collections/l apres-l-incendie-de-1871
Acesso em 25 de outubro de 2015.
112
Figura 18: Louise Michel em fotografia com escrito que a classifica como chefe de insurreição.
A Paris operária com a sua Comuna será sempre celebrada como o arauto
glorioso de uma nova sociedade. Os seus mártires estão guardados como
relíquia no grande coração da classe operária. E os seus exterminadores, já a
história os amarrou àquele pelourinho eterno donde todas as orações dos
seus padres não conseguirão redimir.
256, High Holborn, London,
Western Central, 30 de maio de 1871. (MARX, 1984, p.89)
Louise Michel trocou sua liberdade pela liberdade de sua mãe, como era
esperado pelo exército de Varsalhes. Presa, passou por dois interrogatórios e um
julgamento, como já mencionado. Primeiro foi detida no Campo de Satory e em
seguida transferida para a prisão de Chantiers, em Versalhes. No dia 15 de junho de
1871, foi encarcerada na Casa de Correção de Versalhes, enquanto aguardava seu
julgamento. Presa, não desiste de sua luta, coloca-se como uma guardiã da
revolução vencida. Todos seus atos são pautados pela lembrança da Comuna de
Paris, mas também pela necessidade de transformação social.
A prisão de Louise junto a outros communards foi acompanhada pelos
militares de Versalhes e também por grupos de populares. Muitos queriam ver quem
era a mulher que tão bravamente lutou pela Comuna, outros queriam ver de perto a
terrível incendiária de Paris. O pintor Jules Girardet, especialista em cenas históricas,
retratou a prisão de Louise (Figura 19) e também a imortalizou em uma cena no
Campo de Satory (Figura 20) como quem discursava ou ordenava algo para os outros
prisioneiros.
116
Figura 19:: A prisão de Louise Michel em Figura 20:: Louise Michel em Satory. Título
1871. Título original: L’arrestation de Louise original: Louise Michel a Satory por Jules
53 54
Michel por Jules Girardet. Girardet.
52
Nas biografias francesas de Louise Michel, Ferré sempre aparece como a sua paixão.
53
Jules Girardet
L'arrestation de Louise Michel
Huile sur bois (45 x 37 cm) Non daté (fin XIXème siècle).
musée d’art et d’histoire – Saint-Denis
Saint © I. Andréani
54
Jules Girardet
Louise Michel harangue les communards
Huile sur bois (40 x 31,7 cm) Non daté (fin XIXème siècle).
musée d’art et d’histoire – Saint-Denis
Saint © I. Andréani
117
A notícia da condenação de Ferré não foi bem recebida por Louise Michel
que começou a se organizar através de cartas para impedir o cumprimento da
sentença. No dia 19 de setembro passou por seu segundo interrogatório.
Seu pertencimento à revolução foi total enquanto aguardava seu
julgamento nas prisões de Versalhes. Escrevia para amigos relatando as condições
às quais as presas estavam submetidas, abordava as lutas que ainda estavam por vir,
assim como recebia notícias de amigos e de outros communards, era urgente
permanecer como revolucionária. Através de algumas cartas, buscou clemência para
os condenados à morte, mas foi em vão. Louise teve momentos meio depressivos
pelo confinamento e pelas injúrias e perseguições sofridas. Os depoimentos, as
trocas de prisões e espera pela condenação também deixava tudo incerto.
Enquanto Louise estava na prisão, Hugo desejou visita-la. Consta nos
arquivos da Maison Victor Hugo um bilhete de Louise, com carimbo dos Correios em
14 de outubro de 1871, dizendo que poderia sim visitá-la e que ela tinha algo
importante a dizer. (Anexo 9) O bilhete não foi endereçado diretamente à Hugo e sim
à Madame Paul Maurice, que deve ter sido a portadora da seguinte mensagem:
Louise Michel
20 avenida de Paris, Versalhes. (Michel, 2005, p.66)
Não foi encontrada menção à suposta visita de Hugo à Louise e talvez, não
tenha ocorrido de fato, porque no dia 19 de outubro uma nova carta é enderaçada ao
poeta, dessa vez portada pela irmã de Ferré. O assunto tão importante era justamente
o pedido de intervenção na pena de morte de Ferré e o conteúdo da carta era:
L.M.
19 de outubro de 1871, Casa de detenção de Versalhes. (Michel, 2005, p.67)
Louise Michel.
56
Prisão, 20 avenue de Paris (Michel, 1999, p.86. Trdução nossa)
55
Um exemplo dos detalhes buscados por Murie é que em 1876 Victorine Michel se casou com Paul
Sauvage e em 17 de fevereiro de 1877 sua filha Jeanne Marie Désirée nasceu, duas semanas depois
Paul morre e a pequena em 3 de abril, em menos de 11 meses Victornese casou, tem filha e perde os
dois. Em doze de maio do mesmo ano, Victor Hugo publicou “L’art d’être grand-père”. (Murie, 1999,
p.79 e 80) Victorine casou-se novamente em 29 de novembro de 1884 com Jean Louis Mauger. Em 17
de julho de 1887, nasceu Marguerite Victorine Louise Mauger e em 28 de dezembro de 1889 Marie
Désirée, netas de Louise que teriam ainda “pés chatos” como os pés da avó. A autora na verdade
coloca-se como descendente do poeta e da revolucionária.
56
Versailles, 4 septembro 1871 / À Ms les présidents des 3e. et 4e. conseils de guerre / Puisque la
mesure n’est pas comble encore, puisqu’à l’anniversaire de la republique on jette sur la terre arrosée de
119
Figura 21: Carta de Louise Michel pedindo sua morte aos presidentes do Conselho de Guerra.
sang la tête des plus fiers républicains, c’est justice que ceux qui se souviendraient de leurs l frères
viennent au même échafaud. /Qu’on /Qu’on ouvre les prisions à ceux qui n’y sont que par hasard (le nombre
en est grand), et qu’on prenne, avec la tête du délégué de Montmarte, la vie de tous ceux qui ne
veulent plus rien voir. / J’ai été plutôt soldat qu’ambulancière, j’ai droit à la mort e je viens la réclamer. /
Vive la république, / Louise Michel. / Maison d’arrêt, 20 avenue de Paris
120
Esta não foi a única correspondência enviada por Louise Michel com o
mesmo intuito. Outra carta foi direcionada aos membros da Comissão de graças no
dia 20 de setembro do mesmo ano e ela mais uma vez pediu para morrer. (Anexo 10)
Ainda em Versalhes, Louise Michel indignada com a condenação de Ferré,
dedica a ele o poema traduzido como “Os cravos rubros” – Les oeillets rouges.
Figura 22: Versão impressa do poema Les oeillets rouges dedicado à Ferré, impresso porteriormente
na Revue Anarchiste.
Apresenta-se
se aqui uma tradução
t do poema:
Os cravos rubros
Quando ao negro cemitério eu for,
Irmão, coloque sobre sua irmã,
Como uma última esperança,
Alguns 'cravos' rubros em flor.
Do Império nos últimos dias
122
57
Tradução disponível em http://www.vermelho.org.br/noticia/149801-11 Acesso em 29.09.15
58
Théroigne de Mericourt foi uma revolucionária e política francesa que participou da Tomada da
Bastilha. Participou do cortejo que levou os monarcas Louis XVI e Maria Antonieta de Versalhes para
Paris. Foi a responsável por ler as reivindicações do povo para Maria Antonieta. Passou os últimos 23
anos de vida internada como louca, depois de ser chicoteada nua nas Tulleris por um grupo de
mulheres.
123
Louise não recebeu a sentença de morte que pediu, mas foi condenada à
deportação perpétua. Nos primeiros dez anos, condenada à deportação fortificada e
depois deportação simples. A maior parte dos Communards teve sua deportação para
Nova Caledônia, alguns poucos foram deportados para Guiana Francesa.
Diferente de algumas colegas, Louise não foi condenada como professora
e sim como combatente. Outras mulheres, como Marguerite Tinayre, foram pelo
exercício do magistério. Os crimes de Tinayre: assumir como inspetora das escolas
do XIIéme e promover a laicização dessas escolas; e difundir opniões revolucionárias,
e por se colocar como filiada à Internacional. (Thomas, 1963, p.235)
Entre 1871 e 1873, Louise Michel esteve nas prisões de Sartory, e de
Auberive em Versalhes. De dentro da prisão, conseguia manter contato com amigos
através de cartas. Algumas estão guardadas em arquivos e podem ser acessadas.
Na fotografia, Louise Michel foi retratada em 1871 (Figura 25), no campo
de Sartory, com outras mulheres enquanto aguardavam julgamentos e deportação.
59
Je ne veux pas me défendre, je ne veux pas être défendue. J'appartiens tout entière à la révolution
sociale, et je déclare accepter la responsabilité de mes actes. Je l'accepte tout entière et sans
restriction. (...) (Original completo no Anexo 11)
125
Ela aparece de braços cruzados na foto, da direita para esquerda é a terceira pessoa.
Muitas dessas mulheres foram companheiras nas barricadas.
Figura 25: Mulheres participantes da Comuna de Paris no Campo de Sartory em 1871. Pétroleuses
chantantes 1873, gravure. Cotation: BG A33/45
emprisonnées et femmes chantantes,
constante: alguns homens eram chamados pelo nome, recebiam uma pá e deveriam
cavar sua própria cova, pois logo mais seriam excutados. (Cf. Thomas, 1963, 185)
Em 13 de abril de 1872, Louise coloca em uma carta endereçada à Hugo
que sofria perseguição e insulto nas prisões e que suas cartas estavam sendo
extraviadas, pede também que ele não interfira em sua condenação; ela cumpriria seu
fardo assim como os outros communards.
Não quero que nada seja mudado em minha condenação e tenho o direito de
exigir que ela continue tal como foi pronunciada.
Se vos fala de mim é porque sou e continuarei sendo daqueles que carregam
tanto mais alto sua bandeira quanto mais ela é despedaçada; enquanto me
restar um sopro de vida, ele pertencerá à revolução vencida e acredito que se
ela nunca mais se levantar eu despertaria do túmulo. (...) Meu único dever
neste momento é continuar digna daqueles que estão mortos e daquilo que
queríamos.
O futuro nos julgará. (MICHEL, 2005, p. 68 – 69)
À Comissão de Graças
60
A la Commission des Grâces. / Centrale d'Auberive, 28 novembre 1872, 7 heures du matin./
Assassins, Entendez-vous l'heure qui sonne ?/ Eh bien, je me félicite de ce qui s'est passé. / Nous
avons souffert mais la cause est sauvée. / Tant de crimes cyniquement entassés, froidement accomplis
; tant / de lâchetés et d'incapacités vous démasquent largement./ Bravo, Messieurs ! l'orgie blanche est
complète !/ Otez maintenant vos noms de là ! impossible… ! / Vous serez à jamais pour l'histoire de la
commission du coup de grâce, les valets du bourreau ! / Souvenez-vous bien Messieurs, on aura
horreur et on rira, car vous êtes horribles et vous êtes grotesques./ Louise Michel
Cette transcription respecte l'orthographe originale du texte. Cependant, la ponctuation ainsi que
certains accents ont pu être ajoutés.
127
Figura 26: Copia datilografada de um poema de Louise Michel endereçado à Comissão de Graça em
28 de novembro de 1872. (Inventaire Louise Michel, no. 1122)
Essa cópia foi feita por Lucien Descasves, um historiador que tinha um projeto de escrever uma
biografia de Louise Michel.
ela recebesse, pediu informações de sua nova instalação na carta de domingo que
ela enviaria. Era o início da deportação.
Figura 27: Carta de Marie Ferré com seu nome de casada “Laurent” para Louise Michel enquanto ela
estava na prisão. (Lettre
Lettre de Marie Laurent, alias Marie Ferré selon Xavière Gauthier, à Louise
Michel, 8 août 1873. Inventaire Louise Michel, no. 345.
345 Fonte: Institut International d’Histoire Sociale -
Amsterdan)
61
Francês que viveu entre 1843 e 1935 trabalhou em tipografias foi sindicalista, político e grande
combatente communards. Denunciado no final de semana sangrenta foi condenado a trabalhos
forçados perpétuos por sua ação durante a Comuna e esteve exilado em Nova Caledônia. Tomou parte
da revolta canaque e escreveu sobre o assunto, assim como Louise Michel. Com a anistia voltou para
França em 1880 e continuou seu trabalho em favor do socialismo. Em 1901 fundou o PSF – Partido
Socialista Francês com Jean Jaurès, e foi representante da Seção francesa da Internacional dos
Trabalhadores.
133
Figura 28: Louise Michel por volta de cinquenta anos, quando voltou para Paris.
Louise Michel vers cinquante ans, s.d., photographe Boissonas. Cotation: BG A9/779. Cette
photographie provient du fonds Emma Goldman.
Figura 31: Caricatura “Pão ou morte”. Du pain ou la mort, pendant la Commune de Paris. 1883,
caricature de Demare H., 31.5x24 cm. Cotation: BG C2/234.
65
Publicado em 1885, o livro tem como temática a greve de mineiros na França. Para escrever o livro,
Zola conviveu durante dois meses como mineros do sul da França.
141
66
Kropotkin nasceu em 1842 na cidade de Moscou e morreu em 1921 em Dmitrov – Rússia. Geógrafo,
geólogo, antropólogo, se destacou por teorizar sobre o pensamento libertário. Viveu em alguns países
europeus e por causa de seu ativismo anarquista foi preso algumas vezes. Depois de três anos de
prisão na França seguiu para Londes, onde criou jornais libertários e recusou uma cadeira na
Sociedade Real Britânica de geografia porque ela tinha a rainha Vitória como patronesse. A conquista
do pão, uma de suas obras mais conhecidas foi escrita enquanto estava em Londres e publicada lá em
1892.
142
Figura 32: Carta de Sr. Cornelissen para Louise Michel indicando locais e dias de suas palestras pela
Holanda, provavelmente escrita em 1896. Lettre de M. Cornelissen à Louise Michel s.d., probablement
écrite en 1896, Inventaire Louise Michel, no. 167.
Viro Major
(Maior que um herói)
Victor Hugo.
(Poema escrito em dezembro de 1871
em homenagem à Louise Michel).67
67
Poema traduzido por Juliana Bratfisch exclusivamente para esta tese.
146
« sob os olhos de Deus » e a partir da frase da própria Louise reafirma isso: « Isso é
um trabalho de ciência (...) mas sobretudo uma devoção sem limites.68 » (idem, p.14)
A ideia de devoção no texto, pode também se entendida no sentido de dedicação ao
trabalho de entender, conviver e ensinar essas pessoas, não simplesmente uma
convicção religiosa.
Louise Michel teve uma formação religiosa, a qual vai abandonando no
decorrer dos anos, mas sua religiosidade nunca a cegou, uma vez que dirigiu críticas
às defesas realizadas por instituições religiosas. A reprovação à oração dominical
para Napoleão III nas igrejas francesas é uma evidência disso.
No Livro de Hermann, Louise dá voz aos loucos, faz com que os
compreendam, disserta sobre a origem da loucura e aborda algumas teorias de
inclusão dos loucos e idiotas na sociedade. Interroga, ainda, sobre a necessidade de
um local especializado para essas pessoas incompreendidas. O livro tem marcações
que indicam publicação em partes, como uma novela de folhetim.
Quando chegou à Paris, ainda jovem, Louise Michel se inscreveu em um
curso de instrução popular, na rue Hautefeuille e frequentou assiduamente. O curso,
dirigido pelos republicanos Jules Favre e Eugéne Pelletan, permitiu direcionar seus
interesses pelos mais diversos assuntos: medicina, mitologia, eletricidade, vapor,
poesia, ciências sociais, filosofia e ainda teorias matemáticas. Ela escreveu o Livro de
Hermann no período que frequentava esse curso em 1861 e deixou claro seu
interesse também pela loucura. Mal sabia que alguns anos depois, tentariam
classificá-la como louca, durante sua militância anarquista.
A partir de 1883, logo depois de seu retorno do exílio, aparecem alguns
relatos de que a saúde mental da revolucionária estaria abalada. De acordo com Fau-
Vicenti (2002, p.23-27) publicações em Le Figaro e em relatórios da polícia
apontavam o adoecimento de Louise, com a indicação é que ela teria alucionações e
poderia ser violenta. No ano de 1890, nas preparações para o primeiro de maio, foi
diagnosticada em Vienna como louca que precisava de internação, um segundo
relatório confirmava o primeiro e a ideia de sua suposta loucara se alastrou. No
entanto, o ministro do Interior solicitou sua saída do hospital sem internação, e ao
68
“sous le regard de Dieu , » elle propose également une pédagogie liée à sa pratique d’institutrice.
Éveiller des bribes d’intelligence chez l’idiot te de lucidité chez le fou est possibili selon elle. Il faut pour
cela s’adresser à eux comme on le ferait avec des enfants. Patience et dévouement sont
indispensables, quitte à s’aider de « la phrénologie ou do magnétisme ». Elle, qui espérera tant dans la
science, préfere en 1861, compter sur la foi. L’attitude qu’elle adopte envers les idiots e les fous, « c’est
un travail de science (...) mais surtout de dévouement sans bornes » (FAU-VINCENTI, 2001, P.14)
149
chegar a Paris ofereceu uma entrevista coletiva aos jornais franceses para que Louise
pudesse explicar sua versão do fato.
O posiciosamento de Louise junto às suas convicções políticas anarquistas
poderia ser interpretado como loucura para alguns, principalmente em um momento
no qual qualquer desvio nas normas estabelecidas pela religião, polícia ou que fosse
contra a moral burguesa, poderia ser visto como loucura. Era comum que
homossexuais, por exemplo, fossem considerados como loucos nesse período. (opus
cit.)
Le livre do bagne69 por sua vez fala das prisões por onde Louise passou,
não foi escrito de uma só vez. Sua redação começou em 1872 e terminou em 1885,
exclusivamente redigido em momentos que esteve encarcerada, o que deixou a obra
inacabada. Nesses momentos, dedicou-se a observar os condenados, suas histórias
de vida e as relações com a sociedade, vendo nisso os reflexos da velha sociedade
que deveriam ser superados, através da educação.
Viver em prisões permitiu que Louise olhasse de outra perspectiva a
realidade carcerária, o tratamento dispensado a esses presos. Via também que
alguns doentes mentais – no texto Louise usa a expressão da época: louco - eram
encarcerados como se fossem criminosos, o que os deixava em uma situação ainda
mais complicada. Relata vivências e reforça sempre que somente a educação pode
oferecer esclarecimento e construir uma nova sociedade, mais justa, uma vez que
Louise considera a própria sociedade culpada pelos crimes que são cometidos.
Sujeitos educados podem construir essa nova sociedade.
Com base nos temas trabalhados, seu posicionamento pode ser
interpretado como o de alguém que sempre olha para os grupos excluídos da
sociedade na qual estava imersa. Pensar o doente mental, o prisioneiro, o
abandonado, o nativo expulso de suas terras, a mulher, o trabalhador sem direitos,
por exemplo, era importar-se principalmente com o que hoje se coloca como
“minorias”, era voltar o olhar para os marginalizados da sociedade. Esses
marginalizados eram a primeira preocupação de Louise Michel em termos
educacionais em dois sentidos: educá-los para participação social autônoma e fazer
com a população, em geral, fosse educacda para compreender esses grupos sociais.
69
Ao pé da letra O livro do banho. Banho é local de condenados a trabalhos forçados.
150
70
La vieille Chéchette ganhou uma nova publicação com capa dura, ilustrada por Stéphane Blanquet
pela editora Albin Michel Jeunesse.
152
A anarquia comunista que está em toda a parte que é o horizonte, ela nos
leva cada vez mais longe, ao atravessá-la, o progresso não pode parar de
nos atrair, as multidões não podem se acostumar a viver sem pão, à dormir
sem abrigo, fazendo de todos e de seus pequenos mais abandonados que
cachorros errantes.
As massas profundas fazem um imenso reboliço, elas vão demolir o velho
71
mundo. (Michel, 2010, p.21. Tradução nossa)
71
C’est l’anarchie communiste qui toutes parts est à horizon, il faut la traverser pour aller pour loin; on
la traversara, le progrès ne pouvant cesser de nous attirer, les multitudes ne pouvant s’haituer à vivre
sans pain, à dormir sans abri, eux et leurs petits plus abandennés que les chiens errants. / Les masses
profondes font un imense remous, elles vont battre en brèche tout le vieux monde. (Michel, 2010, p.21)
154
homem, a natureza será bela. (Michel, 2010, p.24). Para isso, o homem deve
estabelecer sua emancipação, sua autonomia e tomar as rédeas de sua vida. As
promessas falaciosas, cintilante aos olhos dos mortos de fome, não podem durar
eternamente. (opus cit. p.25)
Outros tópicos são abordados no discurso : como seu posicionamento
contra propriedade, aos bancos, à igreja e qualquer forma de manipulação social. De
modo geral, uma oposição ao mundo capitalista. É nesse sentido, que a militante
anarquista Louise Michel encara a necessidade de uma nova forma de educação.
Destacam-se alguns elementos fundamentais na educação para Louise
Michel : a solidariedade, a autonomia, a verdade e a profissionalização.
155
74
Para mais informações da experiência educacional de Tolstói consultar: TOLSTOÏ, Léon. L’école de
Yasnaïa Poliana. Paris: Albert Savine éditeur, 1888.
158
nenhum daqueles modelos lhe serviria, pois neles havia uma disputa constante entre
professores e alunos. Os alunos sempre se sentiam oprimidos. Assim, criou sua
escola fora de todos esses padrões. A escola de Tolstoi durou pouco tempo, porque o
tzar mandou fechar aquela escola que dava voz aos camponeses. Sua primeira
inspiração educacional refletia sobre os esquecidos pela sociedade e isso abriu
espaço para sua aproximação com os trabalhadores de São Petersburgo.
Com aulas particulares provisórias, Krupskaia não tinha nenhuma
segurança financeira. Somente uma de suas aulas era fixa, a do Liceu no período
noturno, o que era significativo para a sua sobrevivência. Porém, o espírito
revolucionário já fazia parte da jovem que escolheu abrir mão de suas aulas, inclusive
a única aula fixa que tinha, para trabalhar, sem remuneração, em uma escola para
operários. Ela já tinha contato com esses operários através da escola dominical, onde
lecionava como voluntária e agora investia na educação desses sujeitos dedicando
um tempo maior.
Recorda posteriormente Krupskaia: Quando comecei a compreender o
papel que tinha que desempanhar o trabalhador na liberação de todos os
trabalhadores, senti um desejo irresistível de estar entre os trabalhadores, de
trabalhar com eles75. (Krupskaia In: Bobrovskaia, 1940, p. 8)
Do contato com os trabalhadores é que conheceu a obra de Karl Marx. Sua
afinidade com a obra marxista foi rápida e Krupskaia considerou que o pensador
alemão superava as ideias de Tolstói o qual havia abraçado como mentor de suas
convicções. Via em Marx maior capacidade de análise social do mundo real ao
considerar os mais diversos aspectos da sociedade para a compreensão do
exploratório sistema capitalista. Embora a Rússia tivesse suas particularidades no
sistema econômico, os russos mais pobres já sentiam que o capitalismo agravava as
diferenças sociais, assim como compreendiam bem que eram aqueles que pagavam
por tudo isso.
Alguns grupos de oposição começam a se organizar contra o governo
tzarista e, em 1878, surgiu a Sociedade Secreta “Terra e Liberdade”. Inspirados pelas
necessidades campesinas da Rússia, alguns jovens da aristocracia, da burguesia e
da pequena burguesia abandonam suas vidas, carreiras e oportunidades por uma
75
En cuanto comencé a comprender el papel que habia de desempeñar el obrero em la liberación de
todos lós trabajadores senti un deseo irresistible de estar entre lós obreros, de trabajar entre ellos.
(KRUPSKAIA In: BOBROVSKAIA, 1940, p. 8)
159
79
el recién llegado la contemplaba desde el punto de vista del interés de las masas, hablaba en
nombre del marxismo vivo, examinaba objetivamente los hechos em si y em sus consecuencias. Quise
conocer mejor al redactor de estas notas y de estas ideas. (KRUPSKAIA, 1937, p.14)
80
Sobre Klasson não encontramos referências diretas à sua vida ou obra, somente duas cartas de
Lenin direcionadas ao “camarada Klasson” traduzidas para o inglês.
81
Nota de Serge: Iuri Ossipovith Martov (Zeberbaum), teórico e polemista de grande talento, seria por
toda a vida adversário de Lenin e dirigente do menchevismo. Internacionalista durante a guerra, tentou,
164
Vladimir Ilich Ulianov – que mais tarde, assinaria seus escritos como N. Ilich
e, depois N. Lenin – tem 25 anos. Filho de um diretor de escola de Simbirsk,
ele é, como a maioria dos intelectuias revolucionários e fundadores do
movimento socialista russo, de origem pequeno-burguesa. Seu irmão
Alexandre, envolvido em um dos últimos complôs da Vontade do Povo, foi
enforcado em 1887. O adolescente Lenin amadureceu a sombra deste
patíbulo para seu irmão mais velho. Por suas opiniões subversivas, foi
expulso da universidade de Kazan, onde cursava a faculdade de Direito.
(SERGE, 1993, pp.32-33)
num determinado momento (1919-1921) adotar uma atitude de oposição leal aos bolcheviques. Morreu
no exílio em 1923.
165
vez com o grupo “Liberdade de Trabalho” fundado em 1883 por Plekanov, Axelrod82 e
Vera Zassulich. As trocas de experiência serviram para fortalecer os laços com a
esquerda russa.
82
Pavel Borisovitch Akselrod, russo que viveu entre 1850 e 1928, foi um dos principais ideólogos
mencheviques. Participou do governo de Kerenski depois de revolução de fevereiro.
166
Figura 36: Ficha policial de Krupskaia referente ao processo que resultou em seu exílio
83
Fonte: Museu do Estadual da História política da Rússia
83
Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:%D0%A1%D0%BF%D1%80%D0%B0
%D0%B2%D0%BA%D0%B0_%D0%9A%D1%80%D1%83%D0%BF%D1%81%D0%BA%D0%BE%D0
%B9.jpg Acesso em 02/04/2015.
167
Fonte: http://www.dreweatts.com/cms/pages/lot/19200/116
divergência, a atividade política de Lenin e Krupskaia ampliava cada vez mais, assim
como o contato com os mais diversos adeptos da esquerda mundial.
As ideias de Lenin circulavam entre a esquerda e inspiravam a formação
de grupos, como aconteceu, em 1900, com a formação da União do Norte, na Rússia,
que durou até 1902 quando o tzar a perseguiu e acabou com sua existência. Desde
outubro de 1901, Lenin e outros russos haviam formado a Liga da Social-democracia
Russa no Estrangeiro, com objetivo de estabelecer um combate social-democrata no
exterior, que estava diretamente ligado à Iskra, em sua parte exterior.
Em abril de 1902, o casal se instalou em Londres. Recordou Krupskaia,
autodidata na leitura do inglês, que Lenin estranhou sua pronúncia, alegando que em
nada parecia com as aulas de inglês que ouvia sua irmã fazer na Rússia. Como
estudou sozinha, nunca havia falado inglês com outra pessoa, mas Lenin também não
se comunicava em inglês. O resultado foi que eles não entendiam ninguém e ninguém
os entendia.
Krupskaia e Lenin alugaram dois cômodos e resolveram “viver em família”
como brincavam entre eles. Na verdade isso significava para eles fazer as refeições
juntos em casa. Moravam perto do túmulo de Marx, que constantemente visitavam. O
local preferido de trabalho deles era o Museu Britânico.
Em outubro, conheceram Trotski que tinha terminado seu exílio na Sibéria
e saído da Rússia. Conta Krupskaia que Lenin o colocou em observação para saber
notícias da Rússia, já que muitos camaradas pediam para Lenin voltar, mas Trotski
ficou pouco tempo e logo se mudou para Paris. (Cf. Krupskaia, s.d.)
Em dezembro de 1902, um Comitê de organização foi formado com
objetivo de fazer contato com todos os pequenos grupos russos de oposição. O
objetivo era colocar todos da esquerda em contato, sem chamar a atenção da polícia
e uní-los para que tivessem mais força no combate aos desmandos do tzar.
Em 1903, deixaram Londres para se instalarem em Genebra, onde
alugaram uma casa sem móveis. Para preencher o vazio dos móveis, usavam caixas
espalhadas que tinhas as mais diversas serventias. A Iskra causava problemas todos
os dias, pois estava dividia em duas vertentes: de um lado Plekanov, Axerold e Vera
Ivanovna Zasulich, posteriormente com adesão de Krassikov e de outro Lenin, Martov
e Potressov. (Krupskaia, 1937, p.51)
Entre julho e agosto, aconteceu o II Congresso da Social-democracia
Russa. Reuniram-se cerca 70 militantes russos para discutir a propostas e os
172
Repelida ligeiramente por casa salva, como por uma rajada de vento, em
parte pisoteada, sufocada, esmagada, essa multidão imensa se reagrupava
imediatamente depois sobre os cadáveres, os moribundos, os feridos,
174
Os corpos foram para valas comuns, transportados de trem para que não
houvesse uma contagem das vidas massacradas no “Domingo Sangrento”. A greve
geral continuou por algum tempo e, após essa ação tzarista, pelas fábricas da cidade
surgiu a ideia de formar um comitê representativo dos operários que seria eleito pelos
próprios operários: foi formado o primeiro soviet – conselho. O soviet tornou-se um
símbolo de resistência, mas logo passou por uma repressão governamental.
A ação repressora do czar levou a mais greves, dessa vez também em
outras cidades como em Ivanovo-Voznesensk, próximo a Moscou que se destacava
por sua industrialização na época. Lá também se formou um soviet, que foi
considerado o primeiro soviet da história injustamente, de acordo com Achcar (2009),
que não contesta que foi o primeiro a ser fotografado e apresentou um número de
mulheres maior do que existia na Comuna de Paris.
Krupskaia contou, em suas recordações, que ficou sabendo dos
acontecimentos de 9 de janeiro através de Lunacharski e de sua mulher, que também
estavam exilados e receberam rapidamente as notícias russas. Havia uma
necessidade eminente de um terceiro congresso da social-democracia russa que foi
convocado para acontecer outra vez em Londres. No terceiro congresso os
mencheviques não foram, reunindo-se em uma conferência à parte em Genebra.
(Krupskaia, 1937, p.74-75)
Na Rússia, os ânimos continuavam exaltados. A sublevação dos
marinheiros do encouraçado Potemkim, que se recusavam a comer carne estragada,
fui um dos marcos ainda da revolução de 1905. Os marinheiros jogaram os seus
opressores oficiais no mar, aportaram em Odessa que já estava em greve
generalizada e completamente tumultuada, fazendo do navio suas exigências. A
repressão mais uma vez chegou e calcula-se que o massacre foi maior que o de
janeiro84.
Krupskaia voltou para a Rússia no final de 1905, com outro nome e em um
momento diferente de Lenin, que já havia anunciado seu retorno aos camaradas, para
84
Sobre o episódio, o cineasta russo Serguei Eisenstein, também conhecido como cineasta da
revolução, fez o filme O encouraçado Potemkin. Filmado em 1925, vinte anos após a Revolução de
1905, o filme imortalizou a insurreição e foi um marco na produção cinematográfica soviética.
175
não levantar suspeitas. A entrada na Rússia foi feita via Estocolmo. Primeiro ele foi e,
dez dias depois, Krupskaia seguiu pelo mesmo caminho com a ajuda de finlandeses.
A Finlândia também passava por uma revolução naquele momento, mas sua bandeira
era a independência do Império Russo.
Ao embarcar no trem que ia da Finlândia até São Petersburgo, ou Pieter,
como escrevia Krupskaia, percebeu que era seguida por um agente à paisana. Em
meio à revolução finlandesa do “sufrágio nacional”, os agentes de perseguição política
haviam sido detidos e eram considerados em extinção pelo povo finlandes. A
Finlândia era um grão-ducado vinculado ao Império Russo que desejava
independência, mesmo com uma determinada autonomia que era permitida pelo tzar.
No vagão que Krupskaia estava, surgiu a conversa sobre as mudanças
políticas e a independência do país, e ela aproveitou para falar sobre os agentes de
perseguição. Todos afirmaram que eles estavam detidos e que não havia mais
nenhum em ação. Krupskaia encarou seu perseguidor e afirmou que novos poderiam
surgir. E o ativista finlandês que lá estava afirmou com convicção que se alguém
identificasse algum, o mesmo seria rapidamente detido. O agente desembarcou na
parada seguinte. (Krupskaia, 1937, p.80)
Assim que chegou, Krupskaia iniciou, em São Petersburgo, uma atividade
revolucionária nos subúrbios. Lá encontrou, também, antigos alunos que agora eram
convictos revolucionários bolcheviques e assumiu o cargo de secretária do Comitê
Central do Partido “Socialista-Revolucionário”, que representava os bolcheviques.
Em outubro, ocorreram várias manifestações generalizadas por cidades
importantes da Rússia. Os bolcheviques tomam parte das manifestações, que
simbolicamente tem seu auge no funeral Bauman, um militante bolchevique
assassinado. Em dezembro, os operários de Moscou rebelam-se e tudo indicava o
início de uma revolução. A revolução de dezembro não aconteceu, mesmo com os
trabalhadores se organizando fortemente desde o ano anterior. As condições de
trabalho haviam piorado muito, os patrões atrasavam os salários de seus funcionários
sem maiores explicações. O povo sentia fome, enquanto via o luxo e a ostentação da
família imperial.
O tzar incentivou os progroms – grupos de criminosos que promoviam
ataques violentos contra minorias enquanto se consideravam defensores da pátria. O
destaque foi para progroms antissemitas. O resultado da repressão por parte do tzar,
176
85
Jean Jaurès: político francês que viveu entre 1859 e 1914, quando foi assassinado. Primeiro
presidente do Partido Socialista francês, destacou-se por sua luta contra a desigualdade e em favor do
pacifismo.
86
Édouard Vaillant: já citado nesta tese como communard responsável pela educação durante a
Comuna de Paris. Fez um poema em homanagem à Louise Michel.
179
87
Inessa nasceu em Paris, em 1874, mas ainda jovem mudou-se com seus pais para Rússia. Lá
trabalharam com a família Armand e Inessa casou-se, em 1893, com Alexandre Armand, filho de seus
180
chegada de Bruxelas com seus três filhos, duas meninas e um menino, Inessa que
desde a Revolução de 1905 era uma bolchevique convicta reuniu em torno de si a
esquerda russa em Paris, ou um número considerável de camaradas, nas palavras de
Krupskaia.
Figura 38: Inessa e Alexandre Armand, em 1895 Figura 39: Inessa Armand por volta de 40 anos
patrões, com que teve quatro filhos. Assim que casou teve oportunidade de aprender quatro línguas,
piano e estudar muito. Depois, Inessa acabou se apaixonando por seu cunhado Vladmir, nove anos
mais novo, com quem saiu de casa para viver um romance em 1900. Alexandre sabia do caso, mas
mesmo assim não se separou de Inessa a quem amava profundamente. Desse relacionamento, Inessa
teve um filho em 1903. Em 1905, tomou parte da revolução e tornou-se uma bolchevique convicta
seguindo sempre na luta. Vladmir teve problemas com o exército, acusado de conspiração e foi
exilado, Inessa foi ao seu encontro na Finlândia, onde estava internado no hospital. Após a morte de
Vladmir, em 1908, dedicou-se à luta comunista e foi assim em um curto tempo conheceu Lenin, com
quem teve um longo caso amoroso.
181
formula nestes termos sua filosofia política e social: a ordem "será mantida a
qualquer custo; se for preciso disparar, dispararemos, e não tiros de festim ou
acima das cabeças das pessoas"; "agrada-me ver as tropas ou a brava
Guarda Nacional malhar a multidão, sem excessivos escrúpulos pelo
derramamento de sangue"; "como foi suprimida a Comuna de Paris, assim se
podem suprimir os sentimentos que animam agora uma grande parte do
nosso povo, tomando dez de seus líderes, colocando-os contra um muro e
fuzilando-os. Penso que se chegará a isto". (LOSURDO, 1997,p.72)
182
A primeira Guerra Mundial, para Losurdo (1997) foi encarada, entre outras
coisas, como uma forma de destruir o comunismo, jogá-lo para trás e transformar a
ideia de operários de todo o mundo: uni-vos em operários de todo o mundo:
assassinai-vos. Nesse contexto, um funcionário do Ministério do Interior do governo
tzarista, Sergei Vasilievich Zubatov, teve uma idéia: promover uma espécie de
sindicato amarelo sob o olho vigilante da polícia, com o objetivo de arrancar do
movimento tendencialmente socialista a sua base social.
No início da guerra, um sentimento patriótico surgiu, mas com o passar dos
anos a crise interna russa se agravou, assim como a fome, inflação e desemprego.
Milhões de soldados foram mortos e vários outros estavam mutilados. À custa da
exploração das classes mais pobres a burguesia e nobreza insistiam na guerra
pensando nas possíveis anexações territoriais.
Nos anos anteriores à guerra, o cenário se delineava com a separação
entre a esquerda e a direita. Em 1911, dois periódicos começaram a circular
oficialmente na Rússia, “A Estrela” em Pieter e “O Pensamento” em Moscou, os dois
aceitavam abertamente a participação de bolcheviques. Dessa forma, Lenin escreveu
para ambos. No ano seguinte, “O Pensamento” foi proibido em abril e “A Estrela” em
junho.
Assim como os capitalistas fortaleciam sua linha de luta, os grupos de
esquerda, mesmo com todas as divergências internas também se fortaleciam no
cenário internacional e incomodavam por isso. Lenin e Krupskaia acompanhavam os
discursos bélicos europeus e preconceitos dirigidos a vários grupos e minorias étnicas
do período que estavam por toda Europa, mas também ampliavam suas redes de
colaboração com os exilados russos e com outros socialistas. Vários artigos leninistas
apareceram no jornal Pravda, como forma de organizar a política revoluciolnária na
Rússia. (Cf. Krupskaia, 1937)
Em 1911, Lenin, Inessa, Krupskaia fundaram em Longjumeau, nos
arredores de Paris, uma escola livre para trabalhadores. Krupskaia lecionava na
escola, assim como Inessa que ainda abrigava em sua casa alguns alunos que para
lá se dirigiam. Sergo, um georgiano que depois participou da Revolução Russa, foi um
desses alunos. Na verdade, professores e alunos viviam praticamente no mesmo
espaço da escola, com habitações separadas, mas convivendo em áreas comuns,
como acontecia com o refeitório local.
183
própria casa, instalaram-se na casa de Zinoviev, que Krupskaia recordava ser uma
casa extremamente suja. Instalados na Cracóvia, aprenderam com camaradas
poloneses como agir para não serem localizados. (Cf. Krupskaia, 1937)
Um cuidado se dava com a correspondência: nunca postavam cartas da
Polônia para a Rússia. Para enviar as correspondências, pagavam russos que iam
comercializar na cidade para que postassem as cartas de dentro do território russo,
assim não chamavam a atenção da polícia russa. Outra estratégia para permanecer
no anonimato era comprar os “semipassaportes”, que custavam pouco e permitia a
entrada no território russo sem serem reconhecidos. Stálin foi um dos exilados que
usou o “semipassaporte” para entrar na Rússia. (Cf. KRUPSKAIA, 1937, p.170)
Lenin e Krupskaia, em menor intensidade, passaram a contribuir para o
Pravda – “Verdade”-, fundado em abril de 1912 pela ala bolchevique do Partido, que
começou legalmente a ser publicado em São Petersburgo, mas circulava em outras
cidades russas.
No Partido, Krupskaia continuava como auxiliar de Lenin e desenvolveu o
trabalho de organização, ligando-o à Rússia mais diretamente. Krupskaia, nos anos
seguintes, assumiu a criação, na Rússia, de uma publicação diária legalizada para
mulheres operárias. A luta se fortaleceu, mas o cotidiano era um pouco mais duro que
o de Paris pelas comodidades que existia na capital francesa, como aquecimento a
gás.
Inessa também saiu de Paris acompanhada do camarada Safarov com
destino a São Petersburgo, no caminho pararam por dois dias na Cracóvia.
Mantiveram contato constante com Lenin, fornecendo informações de tudo que
acontecia na Rússia e fortalecendo lá a luta comunista e organizando a campanha
eleitoral dos bolcheviques.
Esse também foi o ano de eleições na Duma e havia uma mobilização
bolchevique para eleger representantes, mas somente seis cidades puderam escolher
seus próprios representantes com seus votos, todas as outras recebiam por indicação
os membros da Duma. Em cada cidade que poderia escolher seus membros, ao
menos um representante bolchevique conseguiu ser eleito.
Em 1913, o Império Russo viu a comemoração de três séculos de poder da
dinastia Romanov, que promoveu uma festa em comemoração ao seu império. Os
desmandos da família também foram lembrados pela população que continuava
afligida pela miséria e não havia esquecido as duras repressões praticadas pelos
185
teve uma recaída em seu quadro de saúde, ela era portadora de Basedow88. Por
recomendação médica teve que ficar um tempo nas montanhas para repousar. Lenin
foi com ela e se hospedaram em uma pensão barata, em Sorenberg, e lá passaram o
verão.
Conseguiam acesso aos livros em qualquer lugar que estivessem na Suíça,
bastava enviar uma carta solicitando o livro que as bibiotecas de Berna ou Zurique
enviavam até onde estavam e tudo isso gratuitamente. Depois da leitura, bastava
enviar novamente o livro à biblioteca, o que era fácil com o serviço de Correios que
eles possuiam. Krupskaia em suas memórias aproveita para comparar as facilidades
Suíças com a burocracia francesa que tanto a incomodava. (Krupskaia, 1937, p. 237)
Ainda nesse verão, Inessa foi hospedar-se com o casal e mais uma vez as
recordações de Krupskaia sobre a convivência dos três são agradáveis, lembrando
que ela tocava piano pela manhã inspirando o trabalho que cada um escolhia fazer,
sentados no jardim. Depois da comida saiam para caminhar e tinha belas vistas dos
Alpes, mesmo sem conseguirem chegar ao topo.
Do idílico verão de 1915, em meio da guerra, acompanhavam todos os
pormenores do que acontecia com a esquerda mundial. Era da Alemanha que
chagava a maior parte das notícias pela força da social-democracia alemã, com os
folhetos de Rosa Luxemburgo, mas também pela forte repressão que sofriam, mas
que não faziam desistir da luta. Lenin também redigiu com a colaboração de Zinoviev,
o folheto O socialismo e a guerra, esclarecendo alguns pontos impotantes do
socialismo, da teoria de Marx e Engels e dos tipos de guerra que podem ser travadas,
reforçando o caráter imperialista da guerra que naquele momento já durava um ano.
Pontuou os equívocos de alguns camaradas ao defender a guerra e o chauvinismo,
sentimento que foi amplamente trabalhado na população europeia. Depois de uma
ideia geral sobre os conceitos, na Europa, abordou singularidades da Rússia e a
necessidade de uma reconstrução da II Internacional, que tomava caminhos
reformistas e nacionalistas através de alguns membros.
Entre 1915 e 1916, Lenin retomou os estudos de Marx para escrever o livro
Imperialismo, fase superior do Capitalismo. Em 1916, mudaram-se para Zurique e
Krupskaia envolvida com os direitos das mulheres teve acesso ao livro de John Reed
88
Sua disfunção da tireóide provocou uma doença auto-imune, também conhecida como Basedow-
Grave. Nessa disfunção alguns efeitos colaterais podem acontecer como a formação do bocio (ou
papo), olhos saltados, e uma série de complicações na saúde.
190
A filha da Revolução que falava sobre prostitutas. Na segunda metade desse ano,
Lenin se interessou pela Ditadura do Proletariado e foi buscar respostas mais uma
vez em Marx e Engels. Nesse período também se envolveu em divergência com
outros membros da social-democracia como Rosa Luxemburgo.
89
O termo maximalista era empregado aos bolcheviques por causa de suas máximas exigências de
mudanças.
191
Para Lenin, o principal presente oferecido por Nicolau II para revolução foi
justamente a entrada da Rússia na Primeira Grande Guerra. O ódio do povo russo
contra o tzarismo só aumentou no desenrolar da Guerra e, assim, derrubar esse
império passou a ser um dever sagrado para a defesa da pátria. (FERRO, 2004, p.15)
Durante a guerra, os partidos de oposição fragmentaram-se nas mais
diversas posições e divergências, alguns até apoiaram a defesa do território como um
ato necessário e patriótico, outros iam completamente contra entrar nessa disputa.
Independentemente dos posicionamentos, a Rússia entrou na guerra e as
consequências foram sentidas pela a população mais pobre.
O acordo foi firmando e trinta adultos e mais uma criança de quatro anos
seguiram da Suíça para a Rússia nessas condições, que foram respeitadas pelos
alemães exatamente como propunha o acordo. Um mês depois, um grupo maior com
cerca de duzentas pessoas tentou repetir o caminho e foi detido na Alemanha, entre
eles estava Martov.
No dia 31 de março passaram pela fronteira da Suécia e em Estocolmo
foram acolhidos por deputados social-democratas em uma sala cheia de bandeiras
vermelhas. Da Suécia foram para Finlândia e de lá, enfim para São Petersburgo que,
desde 1914, com o início da guerra era chamda de Petrogrado.
Enquanto estavam no último trajeto do trem, Lenin conversou com um
oficial da Guerra que viajava próximo a eles e defendeu seu ponto de vista. A
conversa chamou a atenção e algumas pessoas se aproximaram para ouvir. Lenin
defendeu o final da guerra, alegando suas implicações para a população mais pobre
que sofria com o conflito, diferentemente das classes mais altas.
A chegada de Lenin à estação Finlândia, principal estação de Petersburgo,
era esperada. Por isso trabalhadores, soldados e marinheiros estavam na estação,
assim como outros camaradas, até um aluno da escola de Longjumeau Krupskaia
pode reconher. O governo provisório permitiu a volta de todos os exilados políticos,
mas não estava interessado em acabar com a guerra. Ao contrário continua
massacrando vidas russas nas batalhas. Lenin, Krupskaia e outros importantes
bolcheviques estão de volta a São Petersburgo e com perspectivas de mudança para
seu país que havia começado uma revolução, mas que ainda precisava vencer
algumas fases para consolidar esse processo.
90
1- Los emigrados de todo carácter pueden partir sin que se tomem encuenta sus opiniones sobre la
guerra. 2- Nadie tiene derecho de entrar en el vagón reservado a los emigrados, sin una autorización
expresa de Platten. Ni los passaportes ni los bagajes estarán sometidos a control. 3- Los emigrados
que parten se comprometen a trabajar en Russia en favor de la vuelta a Alemania de los alemanes y
austríacos internados, en número equivalente al de los emigrados que se há dejado pasar.
(KRUPSKAIA, 1937, p.266)
195
Fonte: https://whyevolutionistrue.wordpress.com/2011/08/07/st-petersburg-to-the-finland-station/
Abril” (Anexo 17), declaradas logo na chegada do líder bolchevique. Essas teses, a
princípio, não foram consideradas sérias, no entanto, eram suas metas.
91
Retomaremos elementos desses dois artigos do próximo tópico.
198
de incentivar ideias que precisavam ser colocadas em prática. Além dos artigos, ela
encontrava-se pessoalmente com jovens trabalhadores das mais diferentes
tendências, bolcheviques, mencheviques, socialista-revolucionários e anarquistas.
Krupskaia se dedicou tanto ao trabalho que afirmou em suas memórias que
nos dias de junho, Lenin e ela praticamente não se viam, cada qual empenhado em
suas tarefas. Na jornada de 18 de junho, cerca de 400 mil trabalhadores e soldados
manifestam sua simpatia aos bolcheviques e à Lenin, mas também foi quando o
exército russo, depois de três meses de hesitação e pressão dos Aliados, avança no
front. Dez dias depois a tropa russa começa a declinar, pois os soldados não tinham
condições de continuar.
No dia 20 de junho de 1917, mais um artigo de Krupskaia nas páginas do
Pravda, dessa vez intitulado Como deve se organizar a juventude trabalhadora,
conclamando os jovens a criarem seu próprio programa de ação, independente do
programa do partido. Mais como um guia de ação apresenta os “Estatutos da União
da Juventude Trabalhadora da Russia” com seis parágrafos pautando as
possibilidades de ação da juventude.
No parágrafo 1, insistiu na livre participação de todos os jovens, homens e
mulheres, independente de religião ou nacionalidade. Reforçando que qualquer
discriminação ou impedimento nesse sentido prejudicaria a unidade e infrigiria o
princípio da fraternidade de todos os trabalhadores. (Krupskaia, s.d., p.108)
No parágrafo 2, apontou a necessidade de que todos os filiados da União
de Juventude Trabalhadora sejam livres e conscientes, para serem dignos de lutar
contra a exploração e opressão do capitalismo. No parágrafo 3, retoma o significado
do “Proletário de todo o mundo: uni-vos” a partir do contexto da guerra, como
destruidora da fraternidade universal, que joga para morrer nos campos de batalha o
próprio trabalhador.
No parágrafo 4, fala de necessidade de jovens fortes e sadios para lutar
para causa operária, assim propõe a proteção contra ao trabalho infantil, jornadas de
6 horas no máximo para adolescentes92 que devem ter condições salubres de
trabalho, assitencia médica e proibição de desenvolver trabalho noturno. Brigar por
melhores salários também estava na pauta, o que permitiria acesso a alimentos
saudáveis, casas limpas, quentes e secas para todos. Como os adolescentes
92
Que deve ser pensado no contexto russo de 1917 como um progresso. Essa defesa também se
vincula à ideia de conjugar trabalho e estudo.
199
precisam da aprovação dos adultos, deveriam criar uma comissão específica com
delegados para participar das reuniões e conselhos de trabalhadores, sindicatos e
lutar ao lado desses adultos.
93
§ Las obreras y los obreros jóvenes deben adquirir la mayor cantidad posibile de conocimientos para
ser combatientes conscientes de um futuro mejor, por eso: a) La Unión de la Juventude Obrera de
Russia exige la enseñanza general gratuita y obligatoria hasta los 16 años, b) la organización de
bibliotecas, salas de lectura, cursos, la proyeccíon de películas científicas, etc, c) la juventude obrera
se pondrá a organizar inmediatamente círculos de autocapacitación, bibliotecas circulantes, clubs,
excursiones, etc. (Krupskaia, s.d., p.109)
200
94
Como se apresentou anteriormente, vincula-se à aplicação de Marx à realidade russa proposta por
Lenin.
210
Não pensando a escola como uma panaceia a todos os males sociais mas,
sim, como o meio mais eficaz de se construir novos conceitos que depois refletiriam
em todos os campos da sociedade, auxiliando na transformação das consciências e,
consequentemente, das ações desses indivíduos.
95
(...) pues considera que el trabajo en común y las condiciones iguales del desarrollo ayudarám a llear
a lá compreensión mutua y al acercamiento espiritual de los jóvenes de ambos sexos, y servirám así de
garantia de las relaciones normales entre el hombre y la mujer. (KRÚPSKAYA, 1986, p.142)
211
96
Não encontramos em Krupskaia a expressão de “abolir a família”, mas o tempo todo ela demonstra a
proposta de abolir os moldes familiares preestabelecidos. Isso pode ser percebido em sua vida íntima
com Lenin diante do envolvimento que seu esposo teve com Inessa Armand.
212
97
El régime burgués que se apoya en los princípios de la libre concurrencia convierte la vida en lucha
por la existencia, en la que los intereses de una persona se contrapoenen a los intereses de las demás
y se hallan en contradiccíon con los entereses del todo. Ese modo de vida social opone al desarrollo de
los instintos sociales. En este mismo sentido influye la familia. Esta se contrapone a la sociedad. (...)
Las condiciones de vida y de lucha unen a los miembros de la clase obrera nun todo. Al trabajar en la
fábrica, el obrero observa cada instante que su labor se coordina con la de los demás, que la pequeña
función que cumple es un eslabón imprescindible de la cadena de acciones necesarias para obtener el
producto elaborado. (...) El éxito de la lucha de clases depende de la serenidade, la unión y la disciplina
de los obreros.(KRUPSKAIA, s.d., p.154 e 155)
213
ponto de vista prático e uma escola do trabalho. Em 1937, essas escolas foram
fechadas por Stalin e integradas ao sistema de ensino. Krupskaya via essas escolas
como uma experiência coletiva do magistério que daria as bases para a nova escola
socialista. O NarKomPros criou uma Comissão Estatal Científica, subdividida em três
seções, para elaborar novos programas para as novas escolas. A Seção Científico-
Pedagógica, que era a principal na criação de programas escolares para o 1º e 2º
graus, foi presidida por Krupskaia. (Cf. Freitas, 2009, pp.12-14)
Freitas (opus cit, p.83-85) ainda debate com Snyders, que sugere em seu
livro que a primeira geração de educadores comunistas teria sido superada por seus
sucessores, ressaltando que boa parte dos que integraram o NarKomPros foram
perseguidos por Stalin, presos em campos de trabalhos, isolados da sociedade e
outros fuzilados. Nada houve de natural nesse processo e, o que aconteceu foi uma
mudança de rumo do governo soviético como a condução stalinista. (Idem, p. 83-85)
Preocupada em por fim à exploração infantil, fazia referência a ideia
apresentada por Marx de criar uma legislação que protegesse os filhos da exploração
dos pais e assegurasse a educação para todos. Reforçou três características que
devem ser conjugadas: educação mental, educação física e educação para o
trabalho98.
Em todos os textos redigidos por Krupskaia, o trabalho e sua conjugação
com a educação são primordiais para a formação do novo sujeito de uma sociedade
mais justa, por mais que o trabalho de crianças/adolescentes soe estranho na
sociedade contemporânea. Colocou Marx na Crítica ao Programa de Gotha:
98
As características reforçadas por Krupskaia estão, mais uma vez, de acordo com a proposta de Marx
para a educação. A educadora adota a definição e remete-se à Marx quando faz essa opção.
214
governo soviético, Krupskaia faz uma aguda análise sobre o discurso de ensino
tecnológico dos países capitalistas e da proposta de educação politécnica –
profissional universal – destacando aspectos que muitos não percebiam. Além disso,
havia uma preocupação constante em saber se, na prática, a teoria estava
funcionando.
Como deve ser a escola para estar em condições de formar tais indivíduos?
Em primeiro lugar, a escola deve fazer todo o possível para robustecer a
saúde e as forças da jovem geração: deve garantir às crianças uma
alimentação adequada um sono tranquilo, uma roupa cômoda e acolhedora, a
higiene do corpo, o ar puro e fresco, suficiente quantidade de movimentos. As
classes dominantes lhes asseguram tudo isso aos seus filhos, mas faz falta
que o mesmo lhe seja garantido a todos as crianças, sem distinção da
condição patrimonial de seus pais. No verão a escola deve transportar-se ao
216
99
Nota de Krupskaia (NK): Fröbel, Friedrich (1782-1852): pedagogo alemão, seguidor de Pestalozzi;
criador de um sistema original de educação pré-escolar, que teve grande difusão na segunda metade
do século XIX. Seu sistema pedagógico tem vários aspectos negativos, em particular propunha uma
regulamentação excessiva da atividade da criança, reprimindo assim, sua iniciativa.
100
NK: Montessori, Maria (1870-1952): médica e pedagoga italiana. Consagrou muita atenção à
criação de um sistema de desenvolvimento dos órgãos do sentido e dos movimentos coordenados nas
crianças de idade pré-escolar e escolares de graus primários. Os critérios pedagógicos são uma
variedade das ideias sobre a educação livre, as quais em sua época exerceram certa influência na luta
contra o adestramento e dogmatismo na prática da educação.
101
Cómo debe ser la esculea para estar en condiciones de formar tales indivíduos?
En primier lugar, la esculea debe hacer todo lo posible para robustecer la salud y las fuerzas de la
joven generación: debe garantir a los niños una alimentación adecuada, un sueño sano, una ropa
cômoda y abrigadora, la higiene Del cuerpo, El aire puro y fresco, suficiente cantidad de movimentos.
Las clases dominantes lês aseguran todo esto a SUS niños, pero hace falta que lo mismo lês sea
ngarantizado a todos los niños, sin distinción de la condición patrimonial de sus padres. En verano la
escuela debe trasladarse al campo. La escuela debe fortalecer y desarrollar desde la infância más
temprana los sentidos externos: la vista, el oído, etc. posto que son órganos mediante los cuales el
hombre conoce el mundo exterior. De su agudeza, perfección y desarrollo dependen la fuerza y
diversidad de las percepciones. Los pedagogos, especialmente Fröbel vienen señalando ya hace
mucho que es necesario desde la edad más temprana ofrecer a los niños una cantidade suficiente de
impresiones auditivas, visuales, musculares, etc. sistematizarlas, dar al niño la oportunidad de ejercitar
constantemente sus sentidos externos. El niño tiende muy temprano a observar. Se Le debe enseñae a
hacerlo. El sistema de juguetes de Montessori está orietado precisamente a acostumbrar – no con
palabras, sino con un surtido de juguetes – a los niños más pequeños a observar y a ejercitar sus
sentidos externos. También desde muy temprano tiende el niño a exteriorizar de los modos más
variados las impresiones percebidas; com movimentos, palabras y mímica. Hay de darle la
217
oportunidad que se le forman. Hay que entregarle material - arcilla para modelado, lápices y papel, todo
tipo de material para construcciones, etc -, enseñarle a manejar estos materiales. La expresión material
de las imágenes formadas sirve de médio perfecto para comprobar y enriquecerlas. Es indispensable
estimular por todos los médios la creatividad infantil, cualquiera que sea su forma de expresión. El arte
y lengua constitueyn un potente instrumento de acercamiento entre los indivíduos, un médio de
entenderse a si mismo y a los demás.
La mayoría de la población tiene en casa un ambiente que non contribuye a desarrollar los sentidos
externos del niño y la creatividad infantil. Por eso hace falta una cantidad de jardines de la infância que
den cabida a todos los niños. Dichos jardines deben organizarse de modo que dejen espacio para la
individualidad de cada niño, no pueden ser cuarteles para bebés, a quienes obligan a desfilar al tocar el
timbre, a moverse por indicación de la maestra, a ‘hacer monadas”, como lo expresara uma obrera
francesa respondiendo a la pergunta de qué estaban enseñando a los niños en la guardería. Bajo el
regimen burgués, los jardins infantiles para hijos de obreros degeneran a menudo en semejantes
cuarteles, los cuales no corresponden en el régimen socialista. (KRUPSKAYA, 1986, p. 52 e 53)
218
Levar em conta suas forças e habilidades, saber fazer um trabalho junto com
os outros: tem aí a tarefa de frente para as crianças. Em tal caso deve dar-
lhes a oportunidade de resolver as questões por conta própria, não importa se
elas se equivoquem e ajudá-los com seus erros. Alí é onde um professor
entrega às crianças tarefas sociais para uma semana e, depois, comprova
seu cumprimento, se o trabalho está resolvido de maneira incorreta. O
professor deve recorrer à iniciativa, ajudar com um conselho, mas não deve
ser o protagonista. As crianças, por si, devem buscar soluções para as
tarefas e devem aprender a contabilizar os resultados. (KRUPSKAYA, 1986,
102
p.145 tradução nossa)
102
Tomar en cuenta sus fuerzas y habilidades, saber hacer un trabajo junto com otros: há ahí la tarea
que afrontan los muchachos. En tal caso hay que darles la oportunidad de atender dichas cuestiones
por cuenta própria, no importa que se equivoquen, y ayudarlos a aprender de los errores. Allí donde un
maestro y luego compruebe su complimiento, el trabajo está planteado de manera incorrecta. El
maestro debe promover la iniciativa, ayudar com un consejo, pero no debe ser el protagonista. Los
muchachos mismos deben plantearse las tareas y deben aprender a contabilizar los resultados.
(KRUPSKAYA, 1986, p. 145)
219
103
Faz-se referência aqui à discussão de V.N. Shulgin e Pistrak. Shulgin e outros pedagogos se
levaram tanto por preceitos burgueses do fazer que subordinaram a educação ao trabalho de fábrica, o
que levaria a destruição da escola, eliminando disciplinas, o programa escolar, as turmas, sem horários
fixos e colocando o professor como se fosse simplesmente um ajudante. (FREITAS, 2009) Krupskaia
nunca se filiou à esse grupo, nem faz qualquer defesa no sentido de eliminar escolas, pois via nas
escolas instituições importantes para a construção do sujeito socialista.
220
Por sua parte, o objetivo da escola condiciona toda a sua organização, todo
seu modo de vida escolar, todo o conteúdo da instrução e a educação
escolar.
Se partirmos dos interesses da burguesia, o objetivo da escola variará
segundo a camada da população à qual se destina.
Destina-se às crianças da classe dominante, tem por objetivo preparar
indivíduos capazes de desfrutar da vida e de governar. (KRUPSKAIA, 1986,
104
p.49, tradução nossa)
104
En el Esatado burgués - sea monarquia o república -, la esculea es instrumento de sojuzgamiento
espiritual de las grandes masas populares. El objetivo de la escuela en tal Estado no se atiene a los
intereses de los alumnos, sino a los de la clase dominante, es decir, a la burguesia, y los intereses de
unos y de laotra divergen a menudo de modo asaz sustancial. Por su parte, el objetivo de la escuela
condiciona toda su organización, todo el modo de vida escolar, todo el contenido de la instrucción y
educación escolar. Si partimos de los intereses de la burguesia, el objetivo de la escuela se variará
según la capa de la población de la cual se destina. Si se destina a los niños de la clase domnante,
tiene por objeto preparar indivíduos capaces de disfrutas de la vida y de gobernar. (KRUPSKAIA, 1986,
p.49)
105
Por lo que respecta a la escuela popular, la burguesia tiende a tomar por completo en sus manos la
tarea de educar a los hijos de los proletários, reservarse la influencia exclusiva sobre la joven
221
generación. La burguesia hace obligatoria esta escuela. La escuela popular há sido hasta tiempos
recientes esculea de estúdio. Proporcionaba a sus alumnos algunos conocimentos elementales: es
más fácil gibernar a las masas cultas que a quienes no saben leer el reglamento interno o uma
disposición gubernamental, a quienes no saben firmar su apellido ni hacer el calculo más sencillo. Y
cuanto más desarollo industrialmente sea el país tanto mayor volumen de conocimientos se requiere de
un obrero, mas no es sino un regalo griego, lo hace bajo la condición de que los alumnos asimilen la
ideologia burguesa. (...) En la esculea cada dia, cada hora y cada minuto el alumno practica la
obediência, el respecto a los mayores. La reverencia ante la fuerza, ante la riqueza, ente la instrucción
burguesa se inculca al alumno desde su más tierna infância. (...) En resumen, la tarea de la escuela
popular es saturar al alumnado de la moral burguesa, enervar en ellos la conciencia de clase, hacerlos
un rebaño manso, fácil de gobernar. (KRUPSKAYA, 1986, p.50-51)
222
106
A menudo ocurre así: dicen que la escuela há realizado un trabajo socialmente útil. Cuando
investigas cómo se realizó, resulta que el director de la escuela dio a los muchachos una tarea que
debían cumplir, pero no les explicó por qué y para qué. Ustedes mismos dirán si esto ocurre a menudo
o no en sus escuelas. Se da la tarea de hacer tal o cual cosa. Y lo importante y que manifesten su
propria iniciativa. (KRUPSKAIA, 1986, p. 157)
223
(...) A prática comecou a fluir bem na vida escolar, razão pela qual surge o
problema de unir a teoria com a prática era insignificante, servindo somente
como ilustração, hoje surge outro perigo: do enfoque demasiado utilitarista da
teoria. Aceitaria-se da teoria somente o que faz falta para a prática de hoje e
na escola de hoje. Por essa linha avança a escola norteamericana.
108
(KRÚPSKAIA, 1986, p. 115. Tradução nossa)
108
(...) La práctica comenzó a fluir a caudales en la vida de la escuela, razón por la cual surge el
problema de conjugar la teoría com la práctica tenia una incidência insignificante, sirviendo solo para
fines lustrativos, hoy surge outro peligro: él de un enfoque demasiado utilitário de la teoria. Se tomaría
de la teoria solo lo que hace falta para la práctica de hoy y em escala de hoy. Por esa línea avanza la
escuela norteamericana. (KRÚPSKAIA, 1986, p. 115)
225
longo do processo histórico. O homem que era visto puramente como biológico
transforma-se em sujeito histórico.
Essa relação que ocorre entre o sujeito e o mundo é mediada por
elementos simbólicos que permitem a compreensão desse mundo, como ocorre
principalmente pela linguagem. Uma das principais obras de Vigotski é justamente
Pensamento e linguagem, uma síntese feita para debater com seus críticos e explicar
o desenvolvimento do pensamento humano.
Para a educadora, a interação com o meio também é fundamental para o
processo educacional, mais do que as questões biológicas, o que envolvia também
toda a preocupação já abordada entre a teoria e a prática. Não com a mesma
elaboração e sistematização de Vigotski – que cria uma pedologia - Krupskaia já
colocava importância da linguagem e da arte com instrumento de desenvolvimento da
inteligência:
109
La expresión material de las imágenes formadas sirve de medio perfecto para comprobar y
enriquecerlas. Es indispensable estimular por todos los medios la creatividad infantil, cualquiera que
sea su forma de expresión El arte y la lengua constituyen un potente instrumento de acercamiento
entre los individuos, un medio de entenderse a sí mismo y a los demás. (...) Cuando el niño aprende
exteriorizar sus pensamientos o sentimientos, comienza a interesarse por la manifestación de los
pensamientos y sentimientos de otros. En esta fase de desarollo (de 7 a 12 años de edad,
aproximadamente, aun cuando puedan ser grandes la variaciones individuales), lo más interesante
para el niño es outra persona. En dicho período es fuerte en especial la imitación, que a menudo no es
sino una forma singular de reación: matamorfosis de pensamientos y sentimientos ajenos. Es un
período en que en el comienzan a desarollarse com singular fuerza los intintos sociales y su atención
se centra en la vida y las relaciones humanas. La escuela esta llamada a fijar y profundizar los instintos
sociales despertados en el niño, a ensenãrles que la convivência humana se asienta en el trabajo, a
demonstrarle la alegria de un trabajo productivo creador, a hacerle sentirse parte de la comunidad,
miembro útil de la misma. . (KRUPSKAIA, 1986, p.53 e 54)
227
110
Besacenot; Löwy. Affinités revolutionnaires: nos étoiles rouges et noires: pour une solidarité entre
marxistes et libertaires. Clamecy, France: Mille et une nuits, 2014. (Afinidades revolucionárias: nossas
estrelas vermelhas e negras: por uma solidariedade entre marxistas e libertários)
231
Hay cuentos enjundiosos, que reflejan em bellos ejemplos el carácter de la gente, las relaciones
111
humanas, y hay cuentos que oscurecen la conciencia e impiden que se comprenda acertadamente a
los hombres y La realidad. (KRUKSPAIA, 19--, p.93)
232
Este é o lugar onde nós estamos! Os seres, as raças e, dentro das raças,
duas partes da humanidade: o homem e a mulher, que deveriam andar de
mãos dadas e de quem o antagonismo durará tanto que o mais forte
comandará ou acreditará comandar ao outro reduzido ao truque, à dominação
oculta que são as armas dos escravos. Em todos os lugares a luta já
começou.
Se a igualdade entre os dois sexos foi reconhecida, isso será uma famosa
lacuna dentro da estupidez humana. (MICHEL, 1886, p.103. tradução
112
nossa)
112
C’est là que nous sommes! Les êtres, lês races et, dan lês races, ces deux parties de l’humanité:
l’homme e la femme, qui devraient marcher La main dans la main et dont l’antogonisme durera tant que
la plus forte commandera ou croira commande à l’autre réduite aux ruses, à la domination occulte qui
sont lês armes dês esclaves. Partout la lutte est engagée.
Si l’égalité entre les deux sexes était reconnue, ce serait une fameuse brèche dans la bêtise humaine.
(MICHEL, 1886, p.103)
233
113
Quien haya observado a los niños sabe que en la tierna infancia los chicos están dispuestos igual
que las niñas a ayudar a su madre a cocinar, fregar la vajilla y atender cualquier otro quehacer
dómestico. Todo esto les parece tan interesante! Pero las familias se suele implantar una diferencia
entre chicos y niñas desde la edad temprana. A las niñas se las manda a lavar tazas, poner la mesa
mientras que al chico le dicen: "Para qué te metes en la cocina? Acaso es cosa de hombres? A las
ninãs les regalan muñecas y vajillas; a los chicos, locomotoras y soldaditos. Cuando llegan a la edad
escolar, en los muchachos ya está inculcado el suficiente desdén hacia las "chicas" y sus quehaceres.
Cierto, es un desdén superficial. Y basta que la escuela insista en otra linea para que desaparezca
rápidamente este desprecio por las "cosas de mujeres". (Krupskaia, 1986, p.142-3)
114
Les filles, élevées dans la niaiserie, sont désarmées tout exprès pour être mieux trompées: c'est cela
qu'on veut. C'est absolument comme si on vous jetait à l'eau après vous avoir défendu d'apprendre à
nager, ou même lié les membres.
234
Sous prétexte de conserver l'innocence d'une jeune fille, on la laisse rêver, dans une ignorance
profonde, à des choses qui ne lui feraient nulle impression, si elles lui étaient connues par de simples
questions de botanique ou d'histoire naturelle.
Mille fois plus innocente elle serait alors, car elle passerait calme à travers mille choses qui la troublent:
tout ce qui est une question de science ou de nature ne trouble pas les sens.
Est-ce qu'un cadavre émeut ceux qui ont l'habitude de l'amphithéâtre ?
Que la nature apparaisse vivante ou morte, elle ne fait pas rougir. Le mystère est détruit, le cadavre est
offert au scalpel.
La nature et la science sont propres, les voiles qu'on leur jette ne le sont pas. Ces feuilles de vigne
tombées des pampres du vieux Silène ne font que souligner tout ce qui passerait inaperçu (MICHEL,
1886, p. 107-108)
115
Nosotros procuramos hacer de nuestros hijos personas multifacéticamente desarrolladas,
conscientes y sanas de cuerpo, que no sean individualistas, sino colectivistas, que no se contrapongan
a la colectividad, sino que constituyan su fuerza y acrecienten su importancia. La educación comunista
emplea otros métodos. Estimamos que la personalidad del niño sólo puede desarrollarse plena y
multifacéticamente en la colectividade. La colectividade no absorve la personalidade del niño, pero
influye en la calidad y el contenido de la educación. (Krúpskaya, 19--, pp.89-90)
235
116
1er décembre. Hier a eu lieu, salle Graffard, une conférence privée au profit des amnistiés. « Le
citoyen Gérard remercie Louise Michel du concours qu'elle veut bien prêter pour organiser cette
réunion; il salue en elle « le principe de la haine qui seul fait les grands révolutionnaires et les grandes
choses ». “Il lui présente deux bouquets. Louise Michel répond qu'elle les accepte au nom de la
Révolution ociale et au nom des femmes qui ont combattu pour leur émancipation”. (Michel, 1886, p.
218)
236
acontece na reprodução que ela faz de um Manifesto Anarquista que assinou e que
também mencionou:
117
Pas de liberté sans égalité! Pas de liberté dans une société ou le capital est monopolisé entre les
mains d'une minorité qui va se réduisant tous les jours et où rien n'est également réparti, pas même
l'éducation (Michel, 1886, p. 401)
118
El autogobierno debe proporcionar hábitos de saber cumplir de consuno, en común, las tareas que
plantee la vida. Se ha hablado mucho ya de que hay que organizar el autogobierno de modo que todos
los muchachos, sin excepción, se incorporen a las tareas social siendo responsable por ella ante el
colectivo. (Krupskaya, 1869, p.144)
237
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
ainda estupra e justifica tal ato por uma roupa, uma atitude ou passado de vida,
mesmo com a claridade de que é um ato injustificável.
Excluir da escola a discussão sobre sexualidade é propagar preconceitos
que hora ou outra no país eclode em violência, em morte, em tristes casos que às
vezes são largamente veiculados pela mídia sensacionalista, mas na maioria das
vezes estão silenciados, assim como a classe mais pobre. Reforçar a igualdade de
sujeitos é fundamental para que a sociedade aproxime-se, ao menos, do que já está
previsto por lei.
O sistema educacional, desde a Comuna de Paris e a Revolução Russa
até o ano corrente passou por mudanças, que dizem respeito ao acesso à educação.
O número de vagas aumentou o que apresenta um salto quantitativo de vagas na
educação básica. É mais fácil hoje se ter acesso à escola, seguindo as leis,
impressas em papéis que tudo aceitam, e que garantem os direitos do cidadão. No
Brasil, especificamente, estar na escola tornou-se um dever, com punições aos que
não estão enfileirados nas salas de aula.
Diante do imperativo de criação de vagas, que de alguma forma
privilegiaria as classes populares, a qualidade tornou-se duvidosa em muitas das
escolas da chamada rede pública de ensino. Surge o questionamento: o que ensinam
essas escolas obrigatórias? Estariam preocupadas com uma ampla formação para o
sujeito? Estariam atentas à criticidade? Proporcionam compreensão do mundo? As
respostas são simples e podem ser dadas por qualquer leigo observador atento.
As escolas continuam caminhando lado a lado com o capitalismo, em
uma tentativa de manutenção das diferenças socais, com raras exceções. O conteúdo
ensinado está cada vez mais reduzido, restrigindo o acesso ao filho do trabalhar aos
conhecimentos acumulados pela sociedade. No Brasil, alunos terminam o Ensino
Médio sem o domínio de leitura, escrita, sem fazerem uma simples interpretação de
texto.
119
De autoria do pastor e senador Magno Malta, do PS, a PLS 193/2016 pode ser visualizada na
íntegra no portal e-cidadania: https://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaomateria?id=125666
242
na prática, mesmo alunos que cursam escolas brasileiras, conseguem ser diplomados
na educação básica, sem de fato terem capacidade de interpretação de textos.
O Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional) aponta que: É considerada
analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever algo simples, não
tem as competências necessárias para satisfazer as demandas do seu dia a dia e
viabilizar o seu desenvolvimento pessoal e profissional. (Inaf, Relatórios, 2012)120
Um dado grave que não pode ser ignorado e sim pensado junto com
medidas para permitir acesso pleno à compreensão de textos longos, variação de
estilos etc. O fato é que diante da propagação educação básica, não se primou pela
qualidade, somente por números.
120
Disponível em: http://www.ipm.org.br/pt-br/programas/inaf/relatoriosinafbrasil/Paginas/default.aspx)
243
Voltadas para a construção de uma sociedade mais justa, não excludente, romperam
as barreiras dos preconceitos comuns que mulheres enfrentavam, inseriram-se no
mundo político e competentemente se destacaram.
Por trajetórias distintas inseriram-se nas revoluções sem abandonarem em
si o significado de serem educadoras e, após os agitados momentos revolucionários,
continuaram educadoras com seus princípios de transformação social. Essa busca
por uma transformação social que passa pela educação é o ponto que possibilitou
trabalhar em uma mesma tese Louise Michel e Nadezhda Krupskaia, juntas pela
primeira vez.
Em relação ao pensamento educacional, outra pergunta que motivou a
tese, afirma-se que defenderam a educação plena e igual para todos os sujeitos como
direto fundamental de qualquer cidadão. O ensino que propagaram era mais que
progressista, era definitivamente revolucionário, tanto durante suas vidas, como ainda
hoje. Conceitos fundamentais que defenderam na educação ainda na atualidade não
foram contemplados e perpassam por trabalhos que buscam a educação integral de
todos. Por isso, pôde ser revisitado com uma discussão contemporânea.
Assim, crê-se que a tese inicial foi corroborada: conhecer a vida de Michel
e Krupskaia, analisar suas ações revolucionárias, destacando propostas educacionais
permitiu um registro histórico das revolucionárias e da importante participação em
revoluções que pretendiam transformar a sociedade ao lado de trabalhadores. Isso
em todas as suas ações, não restritas à Comuna de Paris e à Revolução Russa, que
foram momentos emblemáticos, mas durante toda a vida.
A princípio a tese poderia trilhar os mais diversos caminhos, por envolver
temas que levam às mais diferentes estradas bifurcadas que acabam por se cruzar
em certos momentos. Para evitar as múltiplas possibilidades, o método de trabalho foi
fundamental para escolher o trajeto e delimitar as bases fundamentais da pesquisa,
principalmente no trato com as fontes. Não há dúvidas que se pode buscar outras
estradas e criar novas direções.
A Louise Michel figura como sujeito mítico na cultura francesa por sua
garra e completa dedicação à necessidade de transformação da sociedade. Ela é
muito conhecida em seu país de origem, recebendo inclusive, os diversos
qualificativos já mencionados. Seu nome está em praças, ruas, escolas, estações de
metrô. Suas memórias guardadas em arquivos e museus são constantemente
reproduzidas em livros e nas mais diversas pesquisas. Seu trabalho como militante é
245
o que mais se destaca e a educação permeia seu ativismo, embora ela não faça
trabalhos teóricos exclusivamente educacionais.
Alguns elementos educacionais puderam ser destacados na obra de Louise
Micchel. No perído da Comuna foi ardente defensora do ensino profissionalizante, não
no sentido de servir à indústria pura e simplesmente como fazia a burguesia da
época, mas no sentido de qualificação do sujeito para o trabalho produtivo, com o
qual o próprio sujeito poderia se beneficiar diretamente, se autorrealizando.
Como educadoras as duas tiveram suas ações mediadas por suas
circunstâncias históricas importantes. Louise Michel detaca-se menos como
educadora e mais como militante porque viveu em um contexto que clamou por uma
urgência na batalha. Nadezhda Krupskaia, por sua vez, aparece mais como
educadora porque, depois de sua militância para Revolução Russa, participou da
consolidação do regime soviético por mais de vinte anos, ocupando-se de questões
educacionais.
Na memória russa, que foi possível ter acesso por publicações da antiga
URSS que se espalhavam em diversas línguas pelo mundo, Krupskaia é a primeira
educadora marxista. Ela pensa em métodos educacionais, estabelece diálogo com
outros educadores que foram seus contemporâneos e busca aplicá-los em uma
experiência inovadora de construir uma educação dentro da organização de uma
sociedade pautada no socialismo.
A dedicação de Krupskaia à educação não minimiza sua importância
enquanto militante. Sua conexão com os trabalhadores, seu trabalho em periódicos,
seu ativismo na tentativa de construção de uma sociedade justa precisa ser
ressaltado.
Michel dedicou-se à divulgação do anarquismo por anos afinco e Krupskaia
à propagação do comunismo. Com posicionamentos diferenciados do ponto de vista
teórico trabalharam em uma direção comum do ponto de vista educacional: formação
do sujeito emancipado, que pense por si mesmo e que busque uma sociedade
coletivista e solidária.
A pesquisa em torno de Louise Michel, principalmente pela oportunidade
de estar na França por quase um ano, contou com um grande número de fontes. Na
França, o acesso às fontes primárias, inclusive manuscritos de Louise Mihcel, foi fácil
em diversos arquivos, com destaque para Maison Victor Hugo e Museu de História
Viva de Montreuil. Em outras bibliotecas a leitura de obras desenvolvidas por outros
246
pesquisadores que envolveram tanto textos de Louise em sua versão original, mas
em edições atualizadas, como livros sobre a vida da revolucionária. Os textos em sua
versão original também fizeram parte das fontes primárias, as biografias, por sua vez,
fontes secundárias que enriqueceram o trabalho com outras visões. Uma produção de
biografia romanceada, destinada aos adultos ou ao público infanto-juvenil, também foi
consultada, sem ser considerada fonte fiel.
Se por um lado a quantidade de fontes auxilia em um debate mais
completo em torno de Louise Michel, também aumentam a responsabilidade no trato
dessas fontes, ao construir uma nova biografia, sob outro olhar e em outro contexto.
A pesquisa sobre Nadezhda Krupskaia aconteceu de forma diferente,
principalmente, pelo acesso às fontes que foi mais restrito. Como fonte primária
encontra-se textos produzidos por Krupskaia, principalmente textos educacionais,
além de dois livros que ela produziu sobre suas lembranças da vida que teve com
Lenin.
Em suas lembranças da vida com Lenin, ela coloca-se como coadjuvante,
enfocando os posicionamentos de seu companheiro e raramente citando seus
próprios posicionamentos e pensamentos. Uma única biografia da revolucionária foi
usada como fonte secundária, na França tomou-se ciência de outra biografia, que
infelizmente não pode ser utilizada, pois estava em alemão. Citações sobre ações de
Krupskaia foram encontradas em outros livros vinculados aos revolucionários russos,
além de figurar em biografias sobre Lenin ou breves indicações em livros que tratam
da Revolução Russa. Na maior parte é tratada como figura sem expressão e é
comum encontrar seu nome seguido de “esposa de Lenin”.
Buscou-se contato com arquivos na Rússia, para uma pesquisa
iconográfica sobre Krupskaia, porque mais uma vez o idioma restringia o acesso aos
documentos. Os e-mails direcionados aos arquivos não foram respondidos, mesmo
reenviados de tempos em tempos. Na Rússia não se permitiu qualquer acesso sem
prévia autorização.
As fontes primárias vinculadas aos escritos sobre educação, por sua vez,
consentiram uma análise mais detalhada de sua postura educacional, de sua luta pela
educação, abordando aspectos direcionados nas mudanças necessárias no ensino. A
ação militante de Krupskaia não deve ser ignorada, pois trabalhou com afinco para a
construção do movimento revolucionário que desembocou na Revolução de Outubro.
247
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www.marxist.org
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hAUTEmARNE
256
257
ANEXOS
258
259
Anexo 1: Entrevista com Mme. Xavière Gauthier, principal biógrafa de Louise Michel.
Tradução da entrevista:
1) Qual foi sua motivação para realizar trabalhos de pesquisa sobre Louise Michel?
Xavière Gautier: Esta é uma das raras figuras femininas que é tão rica dentro da
história da França e de outros países
4) A senhora acredita que Louise Michel é reconhecida em seu justo valor na cultura
histórica francesa? O lugar que ela ocupa na França é suficiente? E no mundo?
XG: Não, ela ainda não é reconhecida tanto quanto deveria. Eu tive que lutar, junto
com outros, de modo que, finalmente, ela tivesse um lugar que levasse seu nome em
Paris. E depois, ela não é suficientemente reconhecida como escritora.
5) Na sua opinião, uma pessoa pode fazer a diferença durante um período histórico?
XG: Eu não compreendo bem a sua pergunta.
Eu vos agradeço.
1) Quelle a été votre motivation à effectuer des travaux de recherche sur Louise
Michel ?
260
Xavière Gauthier: C'est une des rares figures de femme qui soit aussi riche dans
l'Histoire de France et d'ailleurs
4) Croyez-vous que Louise Michel soit reconnue à sa juste valeur dans la culture
historique française ? La place qui lui revient en France et-elle suffisante? Et dans le
monde ?
XG: Non elle n'est pas encore reconnue autant qu'il le faudrait. J'ai du me battre, avec
d'autres, pour qu'enfin elle est ait une place qui porte son nom à Paris. Et puis, elle
n'est pas suffisemment reconnue comme écrivaine
5) Selon vous, une seule personne peut-elle faire la différence pendant une période
historique ?
XG: Je ne comprends pas bien votre question
Je vous en remercie.
Anexo 2: Carta enviada a Victor Hugo assinada Louise Michel Demahis, sabe-se pela
carta que ela ainda morava no Castelo e foi datada de 20 de novembro, porém, o ano
não foi inserido. (Provavelmente de 1851)
262
Outra carta envia por Michel para Hugo também indica que ela usava o sobrenome
dos castelãos. Esta carta, assinada por “L. Michel Demahis” data de 23 de março de
1851.
Anexo 5: Neste anexo temos a transcrição das atas de reunião do Comitê Central dos
vinte arrondissements que demonstra o objetivo do Comitê Central e de suas
subdivisões na capital parisiense. Essas transcrições serviram de base para
afirmações apresentadas na tese.
(...)
II. — Du 31 octobre 1870 à la fin de janvier 1871
Comblant une importante lacune dans les papiers de Constant Martin, les documents
inédits abondent pour cette période, qu'ils éclairent, je crois, d'un jour assez nouveau.
De cette période, je ne parle que pour mémoire, n'ayant à mentionner que deux textes
nouveaux. Le premier est le compte-rendu extrêmement mutilé d'une séance du
Comité qui se situe probablement le 28 février 1871. On y voit les membres du Comité
aux prises avec le grave problème que leur pose l'apparition d'un concurrent
redoutable : le Comité central de la Garde nationale. Nous sommes à la veille de
l'entrée des Prussiens dans la capitale, autorisée par une clause de l'armistice : faut-il
s'y opposer par la force, comme le veut la Garde nationale ? L'avis du Comité des
vingt arrondissements, qui est de ne pas risquer un dangereux coup de force,
prévaudra (48) :
« ...ces facteurs. Dit qu'une confusion s'est établie dans l'esprit de la majorité des
citoyens : la corderie ne seconde pas le mouv. du comité central de la garde nationale.
Catelain. Anonce à l'assemblée qu'au boulevard Ornano on dresse des batteries de
mitrailleuses et de pièces de 7 Le citoyen a cru devoir déconseiller le mouvement La
mobile de Paris demande ce qu'elle doit faire dans le mouvement qui se prépare.
Piau dit qu'il croit qu'il y a un piège ; Vrignault de la Liberté lui semble
Humbert — Ce n'est pas seulement parce que la réaction se montre dans ce
mouvement, mais il s'agit de se mettre en travers pour éviter une défaite du parti révol.
Quelque soit d'ailleurs la pensée des chefs du mouvement mais parce que son
résultat est fatalement désastreux pour la révol. C'est une saignée du parti qu'on
cherche de nouv. jour, de Juin
Debock Dit que la Mobile de la Seine est prête à seconder le mouvement rév. s'il est
jugé opportun
Cit Champy Parle de la délivrance des cit. Piazza et Brunel (49) il parle de l'affiche de
Thiers qui vient d'être apposée. II envisage le résultat de l'entrée des Prussiens dans
Paris : tout en désirant éviter l'effusion du sang il conclut à la
Viard
Avrial observe que l'assemblée ayant décidé la rédaction d'un M(anifeste)
Verlet arrive du Comité Central où il y a beaucoup de réac. et beaucoup aussi de
républicains il a combattu la résistance, a été approuvé et a remarqué que les
quartiers réaction, sont les plus acharnés
Vallès la révolution connaît sa voie : elle ne veut pas s'engager dans l'impasse ouverte
devant elle
Minet — rend compte de sa mission au Comité de la G N II a combattu la résistance.
269
C'est avec peine que des citoyens ont abandonné leurs résolutions Mais enfin ils se
sont rendus à la raison. Il développe ses idées quant au mouvement n'y voit pas la
révolution mais un piège de Thiers qui veut écraser le parti Républicain de concert
avec les prussiens et la réaction.
Baus Dit que dans une précédente réunion
Thomelin vient annoncer qu'à la Bastille, sur la propos, d'un marin la mobile est allée
délivrer les marins enfermés à la Pépinière et à l'Ecole militaire
' Minet. — Croit que la réunion de la garde nationale est sincèrement républ. Il y a
des éléments socialistes. Vrignault a pris l'initiative mais on l'a éliminé.
Ant Arnaud Dit que l'on ne doit pas aller à demander au Général Vinoy son
approbation pour établir un cordon militaire autour du quartier des prussiens
Minet rectifie, non seulement il ne veut pas l'approbation de Vinoy, mais encore il a
demandé que dans le manifeste qui sera rédigé on spécifie bien qu'on n'abandonne
pas la lutte à cause de ses menaces. Si Vinoy voulait frapper le comité il est assez
puissant pour arrêter ce générai
Vallès demande que, puisque le comité de la Garde nationale est dans ces sentiments
si patriotiques on tente une fusion (50)...
Le second texte est le compte rendu d'une séance du Comité central, pendant la
Commune, qui a paru dans le n° 18 du journal Paris-Libre, le 10 floréal an 79 (29 avril
1871) et que Dautry et Scheler ont oublié de relever. A ce moment, le Comité n'a plus
qu'un rôle effacé, celui d'un conseiller bien peu écouté :
« Le Comité central des vingt arrondissements, dans sa séance du mercredi 26 avril, a
voté à l'unanimité le projet de décret ci-après et a décidé qu'il serait envoyé à la
Commune de Paris.
Projet de décret
Considérant que chacun doit être responsable de ses actes et réparer le mal?qui en
resulte, la Commune décide :
1° Les parents des citoyens- nés dans le département de la Seine et morts dans les
rangs de l'armée de Versailles et les blessés survivants auront droit à des indemnité
dans le chiffre sera fixé ultérieurement. Seront exceptés tous les combattants
volontaires.
Les députés du département de la Seine qui n'ont pas donné leur démission le jour
de la proclamation de la Commune à l'Hôtel de Ville seront rendus responsables sur
leur propriété. Chaque département de la France sera invité a prendre la même
résolution en ce qui le concerne.
2° Tous les citoyens blessés et les parents des citoyens morts dans les rangs? de
l’armée de Paris pendant la lutte ont droit des indemnités dont le chiffre a? été fixe par
un décret de la Commune. Les dégâts matériels donneront lieu plus?tard a des
dommages intérêts. p
- Tous les députés de Versailles, tous les membres du gouvernement, tous les chefs
militaires sans exception, jusqu'au grade de capitaine inclusivement seront rendus
responsables sur leurs propriétés des sommes nécessaires au paiement de ces
indemnités. Cette dernière décision sera, après la guerre, soumise à l'approbation de
la France entière.
Le secrétaire : E. Châtelain
Le précédent projet de décret a été approuvé par la réunion publique des républicains
des départements, qui a eu lieu le jeudi 27 avril, tenue à l'amphithéâtre de l'Assistance
publique. »
Il existe encore, aux Archives de la Guerre, quelques textes émanant du Comité des
vingt arrondissements. Ce sont surtout des communications au Comité de salut public
sur la situation militaire, qui n'ont pas grand intérêt historique. Es prouvent seulement
que jusqu'aux derniers jours de la Commune (19 mai), le Comité central a continué de
fonctionner. Mais il n'est plus alors que le fantôme de lui-même, puisque dépeuplé de
ses meilleurs militants, qu'il a fait élire en majorité à l'assemblée communale. C'est là
son premier et son seul succès, sa revanche aussi sur le comité concurrent de la
Garde nationale. Car si c'est ce dernier qui a réussi l'insurrection tant de fois manquée
par le Comité central, c'est finalement celui-ci qui, le 26 mars, a donné ses chefs à la
Commune.
271
2°) à ne porter les armes que contre les ennemis de la République universelle
démocratique et sociale
3°) à la défendre résolument au prix de leur vie contre quiconque oserait s'opposer à
son avènement
À l'aube de la Commune, l'action politique de la rive gauche reste marquée par la forte
personnalité d'Émile Duval, militant de la Chambre syndicale des mécaniciens.
Internationaliste et blanquiste, il est l'animateur du Club républicain, démocratique et
socialiste du XIIIe arrondissement (190 avenue de Choisy). Devenu chef de la 13e
Légion, il sera fusillé, sans jugement, lors de la malheureuse sortie du 3 avril 1871. Sa
disparition fut une perte considérable pour le mouvement ouvrier en général, et pour la
Commune en particulier.
Au peuple de Paris,
Les délégués de vingt arrondissements de Paris. Le gouvernement qui, le 4
septembre, s’est chargé de la défense nationale a-t-il rempli sa mission ? – Non !
Nous sommes 500 000 combattants et 200 000 Prussiens nous étreignent ! À qui la
responsabilité, sinon à ceux qui nous gouvernent ? Ils n’ont pensé qu’à négocier au
lieu de fondre des canons et de fabriquer des armes.
La direction militaire est déplorable : sorties sans but ; luttes meurtrières sans
résultats ; insuccès répétés, qui pouvaient décourager les plus braves (…).
Si les hommes de l’Hôtel de Ville ont encore quelque patriotisme, leur devoir est de se
retirer, de laisser le peuple de Paris prendre lui-même le soin de sa délivrance. La
municipalité ou la Commune est l’unique salut du peuple, son seul recours contre la
mort. La capitulation ce n’est pas seulement encore et toujours la famine, mais la ruine
et la honte, voilà ce que nous prépare l’impéritie ou la trahison.
La population de Paris ne voudra jamais accepter ces misères et cette honte. Elle sait
qu’il en est temps encore, que des mesures décisives permettront aux travailleurs de
vivre, à tous de combattre.
Réquisitionnement général
Rationnement gratuit
Attaque en masse(…) »
Disponível em http://www.commune1871.org/?LA-COMMUNE-LA-GUERRE-LA-PAIX
Anexo 10: Carta de Louise Michel aos Membros da Comissão de Graças. Aqui ela
pede sentença de morte como seus companheiros de Comuna receberam.
278
http://chipluvrio.free.fr/gdes%20femmes/gdes-femmesp3/louise-proces.html
En conséquence, notre avis est qu'il y a lieu de mettre Louise Michel en jugement pour
:
- Je ne veux pas me défendre, je ne veux pas être défendue. J'appartiens tout entière
à la révolution sociale, et je déclare accepter la responsabilité de mes actes. Je
l'accepte tout entière et sans restriction. Vous me reprochez d'avoir participé à
l'assassinat des généraux ? A cela, je répondrais oui si je m'étais trouvée à
Montmartre quand ils ont voulu faire tirer sur le peuple. Je n'aurais pas hésité à faire
280
tirer moi-même sur ceux qui donnaient des ordres semblables. Mais, lorsqu'ils ont été
faits prisonniers, je ne comprends pas qu'on les ait fusillés, et je regarde cet acte
comme une insigne lâcheté.
Quant à l'incendie de Paris, oui j'y ai participé. Je voulais opposer une barrière de
flammes aux envahisseurs de Versailles. Je n'ai pas eu de complices pour ce fait. J'ai
agi d'après mon propre mouvement.
- Dans une proclamation, vous avez dit qu'on devait, toutes les 24 heures, fusiller un
otage ?
- Non, j'ai seulement voulu menacer. Mais pourquoi me défendrais-je ? Je vous l'ai
déjà déclaré, je me refuse à le faire. Vous êtes des hommes, vous allez me juger.
Vous êtes devant moi à visage découvert. Vous êtes des hommes et moi je ne suis
qu'une femme, et pourtant je vous regarde en face. Je sais bien que tout ce que je
pourrais vous dire ne changera rien à votre sentence. Donc, un seul et dernier mot
avant de m'asseoir. Nous n'avons jamais voulu que le triomphe de la Révolution. Je le
jure par nos martyrs tombés sur le champ de Satory, par nos martyrs que j'acclame
encore ici hautement, et qui un jour trouveront bien un vengeur
Encore une fois, je vous appartiens. Faites de moi ce qu'il vous plaira. Prenez ma
vie, si vous la voulez ; je ne suis pas femme à vous la disputer un seul instant.
- Oui, j'ai dit cela, je l'avoue. Je me rappelle même que c'était en présence des
citoyens Le Moussu et Ferré.
- Permettez ! Cela n'en est pas une preuve. Les paroles que j'ai prononcées avaient
pour but de ne pas arrêter l'élan révolutionnaire.
- Vous écriviez aussi dans les journaux, dans Le Cri du Peuple, par exemple ?
281
- Ces journaux demandaient chaque jour la confiscation des biens du clergé et autres
mesures révolutionnaires semblables. Telles étaient donc vos opinions?
- En effet ! Mais remarquez que nous n'avons jamais voulu prendre ces biens pour
nous. Nous ne songions qu'à les donner au peuple pour le bien-être.
- C'est que j'avais devant les yeux les exemples de ses erreurs. Je me rappelais
l'affaire Lesurques et tant d'autres.
- J'étais vêtue comme d'habitude. Je n'ajoutais qu'une ceinture rouge sur mes
vêtements.
- Une seule fois, c'était le 18 mars : je m'habillais en garde national, pour ne pas attirer
les regards.
Peu de témoins ont été assignés, les faits reprochés à Louise Michel n'étant pas
discutés par elle.
Le Président : Vous connaissiez l'accusée ? Vous savez qu'elles étaient ses idées
politiques ?
Louise Michel : Mais j'ai avoué le fait ! C'est inutile que des témoins viennent le
certifier.
Le Président : Louise Michel n'a-t-elle pas dénoncé un de vos frères pour le forcer
à servir dans la garde nationale ?
Louise Michel : Le témoin avait un frère, je le croyais brave et je voulais qu'il serve la
Commune.
Le Président (au témoin) : Vous avez vu l'accusée, un jour dans une voiture, se
promenant au milieu des gardes et leur faisant des saluts de reine, selon votre
expression ?
Louise Michel : Mais cela ne peut être vrai, car je ne pouvais vouloir imiter ces
reines dont on parle et que je voudrais toutes voir décapitées comme Marie-
Antoinette. La vérité est que j'étais tout simplement montée en voiture parce que je
souffrais d'une entorse qui était la suite d'une chute faite à Issy.
Le président : Vous avez aussi déjà dit que vous pensiez qu'elle s'était trouvée au
premier rang quand on avait assassiné les généraux Clément, Thomas et Lecomte ?
Me Haussman, à qui la parole est ensuite donnée, déclare que devant la volonté
formelle de l'accusée de ne pas être défendue, il s'en rapporte simplement à la
sagesse du conseil.
Louise Michel : Ce que je réclame de vous, qui vous affirmez conseil de guerre, qui
vous donnez comme mes juges, qui ne vous cachez pas comme la commission des
grâces, de vous qui êtes des militaires et qui jugez à la face de tous, c'est le champ de
Satory où sont déjà tombés nos frères ! Il faut me retrancher de la société. On vous
dit de le faire. Eh bien, le commissaire de la république a raison. Puisqu'il semble que
tout cœur qui bat pour la liberté n'a droit qu'à un peu de plomb, j'en réclame une part,
moi ! Si vous me laissez vivre, je ne cesserai de crier vengeance, et je dénoncerai à la
vengeance de mes frères les assassins de la commission des grâces...
Louise Michel : J'ai fini ! Si vous n'êtes pas des lâches, tuez-moi !
Après ces paroles qui ont causé une profonde émotion dans l'auditoire, le conseil se
retire pour délibérer. Au bout de quelques instants, il rentre en séance et, aux termes
du verdict, Louise Michel est à l'unanimité condamnée à la déportation dans une
enceinte fortifiée. On ramène l'accusée et on lui donne connaissance du jugement.
Quand le greffier lui dit qu'elle a 24 heures pour se pouvoir en révision :
Anexo 12: Carta da srª Chantraine a Louise Michel, 15 de outubro de 1883, seguida
da transcrição em francês.
285
Transcription
Le 15 octobre 83
Louise Michel, n°d'écrou 1317, cellule
Ma chère Louise,
Je vous prie de ne plus envoyer de lettres aussi inqualifiables à votre pauvre mère
pour votre chatte. C'est moi, je vous le répète, qui ai fait tout le mal et le docteur.
Quand vous serez libre vous pourrez, comme vous me l'avez déjà promis, m'écraser
comme une mouche.
Je les connais toutes vos colères. Ce que vous ne pouvez pas mettre en doute, c'est
l'affection que je vous ai donnée, ce n'est donc pas pour le plaisir de vous tourmenter
que je l'ai fait.
Je n'ai pas voulu que vous puissiez vous reprocher d'avoir rendu votre mère malade. Il
faut si peu de choses à son âge, mais vous voulez sans doute par toutes vos lettres
insensées la tourmenter pour la faire tomber malade. Voulez-vous me dire le nombre
286
de lettres que vous avez écrites à ce sujet ? Vous ne l'oserez pas. Vous auriez
beaucoup mieux fait de donner l'argent des timbres à quelques malheureux. Mais
vous mettez vos chattes au-dessus de votre bonté pour les malheureux.
Je vous dis comme le père Lustucru : Mme Michel, votre chatte n'est pas perdue, elle
est à l'hôpital.
Henriette est une honnête femme qui soignait bien votre mère. Elle m'a promis de
reprendre sa place quand elle aurait vu son enfant. Elle est [?] avec ses côtelettes.
C'était pour vous prouver son dévouement. Ne croyez pas trouver dans une bonne
toutes les qualités.
Je suis sûre que vous avez oublié la promesse, que vous m'aviez faite, d'écrire à M.
Clemenceau, pour savoir si le code accordait de faire une rente aux nourrices qui
avaient le mieux et le plus soigné d'enfants.
Quand vous m'aurez bien maudite, j'espère que vous me répondrez à ce sujet.
F. Chantraine
287
Lettre de Mme. Michel à sa fille. s.d., Xavière Gauthier, dans son ouvrage
intitulé Je vous écris de ma nuit, la situe en 1883. Cette lettre n'est pas de la main de
Marianne Michel, qui est analphabète, mais de celle de Louise Biras, une de ses
garde-malade. Inventaire Louise Michel, no. 978. (Fonte: Institut International
d’Histoire Sociale - Amsterdan)
Transcription
290
Samedi soir
Ma chère fille,
Anexo 16: Balada em homenagem à Louise Michel pelo poeta Paul Varlaine
BALLADE
Gouvernements de maltalent,
Mégathérium ou bacille,
.
ENVOI
TESES
1. Na nossa atitude perante a guerra, que por parte da Rússia continua a ser
indiscutivelmente uma guerra imperialista, de rapina, também sob o novo governo
de Lvov e C.a, em virtude do carácter capitalista deste governo, é intolerável a menor
concessão ao «defensismo revolucionário».
O proletariado consciente só pode dar o seu assentimento a uma guerra
revolucionária que justifique verdadeiramente o defensismo revolucionário nas
seguintes condições:
a) passagem do poder para as mãos do proletariado e dos sectores pobres do
campesinato que a ele aderem;
b) renúncia de facto, e não em palavras, a todas as anexações;
c) ruptura completa de facto com todos os interesses do capital.
Dada a indubitável boa-fé de grandes sectores de representantes de massas do
defensismo revolucionário, que admitem a guerra só como uma necessidade e não
para fins de conquista, e dado o seu engano pela burguesia, é preciso esclarecê-los
sobre o seu erro de modo particularmente minucioso, perseverante, paciente,
explicar-lhes a ligação indissolúvel do capital com a guerra imperialista e demonstrar-
lhes que sem derrubar o capital é impossível pôr fim à guerra com uma paz
verdadeiramente democrática e não imposta pela violência.
Organização da mais ampla propaganda deste ponto de vista no exército em
operações.
Confraternização.
2. A peculiaridade do momento actual na Rússia consiste na transição da
primeira etapa da revolução, que deu o poder à burguesia por faltar ao proletariado o
grau necessário de consciência e organização, para a sua segunda etapa, que deve
colocar o poder nas mãos do proletariado e das camadas pobres do campesinato.
Esta transição caracteriza-se, por um lado, pelo máximo de legalidade (a
Rússia é agora o país mais livre do mundo entre todos os países beligerantes); por
outro lado, pela ausência de violência contra as massas e, finalmente, pelas relações
de confiança inconsciente destas com o governo dos capitalistas, os piores inimigos
da paz e do socialismo.
Esta peculiaridade exige de nós habilidade para nos adaptarmos às
condições especiais do trabalho do partido entre as amplas massas do proletariado
duma amplitude sem precedentes que acabam de despertar para a vida política.
3. Nenhum apoio ao Governo Provisório, explicar a completa falsidade de todas
as suas promessas, sobretudo a da renúncia às anexações. Desmascaramento, em
vez da «exigência» inadmissível e semeadora de ilusões de que este governo,
governo de capitalistas, deixe de ser imperialista.
4. Reconhecer o facto de que, na maior parte dos Sovietes de deputados
operários, o nosso partido está em minoria, e, de momento, numa minoria reduzida,
diante do bloco de todos os elementos oportunistas pequeno-burgueses, sujeitos à
influência da burguesia e que levam a sua influência para o seio do proletariado,
desde os socialistas-populares[N14] e os socialistas-revolucionários[N15] até ao
CO[N16] (Tchkheídze, Tseretéli, etc), Steklov, etc.
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Fonte: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1917/04/04_teses.htm