Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
método é a observação e a elaboração de teorias que depois são testadas, por vezes em
laboratórios.
A filosofia tem como objeto os conceitos mais básicos que usamos nas ciências, nas
artes, nas religiões e no dia a dia. A filosofia estuda conceitos como os seguintes: o bem
As definições deste tipo não são muito informativas. Para compreender o que é a
filosofia o melhor é ver alguns exemplos do que se faz em filosofia.
Será que Deus existe realmente, ou será que os ateus têm razão e os crentes estão
enganados?
religiões e as artes:
O que é realmente uma lei da física? E como podemos ter a certeza que essas leis são
verdadeiras?
essas convicções.
A filosofia é consequente;
O que significa dizer que a filosofia é uma atividade crítica? Significa que temos de
justificar as nossas conclusões. E justificar conclusões é apresentar argumentos.
Precisamos de argumentos para mostrar que os problemas que estamos a estudar não
são meras ilusões e confusões. Por exemplo, será que o problema do sentido da vida faz
sentido? Porquê?
damos aos problemas da filosofia. Por exemplo, será que a resposta que Platão dá ao
do seu tempo a apresentar argumentos a favor das suas ideias e contra as ideias que eles
acham que estão erradas. Por exemplo, será que o argumento de Santo Anselmo a favor
Em filosofia, o estudante tem a liberdade de defender o que quiser, mas tem de adotar
Ser crítico não é «dizer mal». Ser crítico é olhar com imparcialidade para todas as
Ser crítico não é ser extravagante. Ser crítico não é dizer «Não» só para marcar a
diferença. Ser crítico é dizer «Sim», «Não», ou até «Talvez», mas com base em bons
argumentos.
Somos livres para defender as posições que queremos; mas teremos de ser
sagrada e que isso quer dizer que nunca devemos matar um ser vivo, não podemos ao
mesmo tempo defender que se pode comer salada de alface. Se defendemos que tudo é
relativo e que não há verdades, não podemos defender que esta ideia é verdadeira.
Problemas
Teorias
Argumentos
Os filósofos, ao longo dos séculos, têm proposto teorias que tentam resolver os
problemas filosóficos. Essas teorias apoiam-se em argumentos.
experiências laboratoriais.
Exemplos: para saber se 7 é um número par basta dividi-lo por dois e ver se o resultado
é um número inteiro. Para saber se todos os objetos verdes têm cor basta pensar no
O estudo filosófico é a priori, mas temos de ter informações sobre tudo o que for
importante para a solução dos problemas que estamos a tratar.
quaisquer outras ideias, enquanto não mostrar que é realmente melhor do que as outras.
Estudar filosofia é como estudar música e estudar história da filosofia é como estudar
A filosofia serve para alargar a nossa compreensão das coisas, como as ciências, as
artes e as religiões.
religiões.
Exemplos:
John Stuart Mill, A Submissão das Mulheres (1869)
Peter Singer, Libertação Animal (1975).
Comparações de utilidade:
A religião é útil porque fornece orientação e conforto espiritual aos seus crentes. A
A ciência é útil porque nos ensina a curar a tuberculose, por exemplo. A filosofia
As artes são úteis porque produzem obras que nos inspiram e maravilham. A
filosofia produz ideias e argumentos que nos inspiram e maravilham, e põe a descoberto
problemas que nos convidam a dar o nosso melhor para tentar resolvê-los.
As razões pelas quais a filosofia serve para alguma coisa são a razões pelas quais as
artes, as ciências e as religiões servem para alguma coisa.
Muitos dos problemas, teorias e argumentos da filosofia não têm qualquer utilidade
prática.
Mas também a maior parte do que constitui as religiões, as artes e as ciências não tem
E as coisas sem utilidade prática podem ter valor porque o conhecimento é algo
Mesmo que só as coisas úteis tivessem valor, nunca poderíamos saber à partida quais
A filosofia é útil para a vida pública de um país porque nos ensina a pensar melhor
Quem sabe argumentar bem toma melhores decisões, porque as decisões que tomamos
são baseadas em argumentos. A filosofia ajuda a tomar melhores decisões.
Os argumentos
delas é a conclusão que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se chamam
as premissas.
2. Descobrir que razões ele dá para defender essa conclusão. Essas razões são as
premissas.
da ação humana.
apenas o que está na base da ação – crenças, desejos, intenções, motivos e causas.
O seu método consiste na análise das frases de ação, mediante as quais os agentes
Como compatibilizar a crença de que somos seres racionais com o facto de agirmos
frequentemente de forma irracional?
Para compreender o que está em causa quando perguntamos «O que é uma ação?»,
1. João deseja herdar uma fortuna e crê que o melhor a fazer para satisfazer o seu desejo
é matar o seu pai abastado. Mas este pensamento põe-no tão nervoso que, ao conduzir
desajeitadamente o seu carro, mata um peão que é, afinal, o seu pai! Cometeu ou não
um parricídio?
Temos, então, de procurar qual é o aspeto que nos permite dizer que um
pessoas, mas que claramente não são ações – por exemplo, escorregar.
corporal (estar imóvel a estudar) e há movimentos corporais que não são ações
(respirar).
Uma outra resposta a este problema afirmaria que a intenção é aquilo que distingue
Os desejos e as crenças, e o seu discutido papel causal nas ações, são exemplos de
parece que à custa deles João concretiza um acontecimento – a morte de seu pai. Tudo
2. Os membros de uma família estão sentados à mesa a comer uma feijoada. Estão
todos a fazer a mesma ação ou ações diferentes?
Por um lado, podemos dizer que todos os familiares estão a comer a mesma coisa,
Por outro lado, cada pessoa poderá possuir intenções diferentes ao comer (apenas
matar a fome, regozijar-se com o sabor dos feijões, etc.) e os seus movimentos físicos
1. Diremos «sim» se considerarmos a ação «comer uma feijoada» como sendo um ato
2. Diremos «não» se considerarmos a ação «comer uma feijoada» como algo realizado
concretamente por alguém, nalgum lugar, a alguma hora e com movimentos físicos
individualizados.
Cada uma destas respostas traduz duas conceções filosóficas diferentes da ação:
1. A ação como uma entidade genérica e abstrata; para os filósofos que, como
Jaegwon Kim, a concebem deste modo, uma ação é algo meramente ideal (tal como a
ideia de Triângulo) e que pode ser exemplificado cada vez que um agente a perfaz (tal
2. A ação como acontecimento concreto; para filósofos que, como Donald Davidson, a
(têm lugar num certo sítio e a uma dada hora) e são individualmente realizados
3. Uma pessoa afirma que prefere os Limp Bizkit a Norah Jones e esta cantora a Bach.
No entanto, diz preferir Bach aos Limp Bizkit. Como explicar esta irracionalidade das
suas preferências?
Dizemos que as suas preferências são irracionais porque são não transitivas.
uma certa relação com uma entidade Y e se esta entidade Y tem o mesmo tipo de
relação com uma entidade Z, então a entidade X está nesse tipo de relação com a
entidade Z. Exemplos:
1. O Zé é mais alto do que o Chico; o Chico é mais alto do que o Quim. Logo, o Zé é
mais alto do que o Quim. A relação ser mais alto do que é transitiva.
Chama-se «acrasia» a uma falta de força de vontade. Um agente tem falta de força
de vontade se tiver o desejo de produzir um certo efeito e tiver a crença de que uma
dada ação é a melhor forma de produzir esse efeito e, no entanto, não realizar esta ação.
Aristóteles refletiu sobre a acrasia e pensou que a explicação das ações acráticas só
com base nos seus desejos e crenças, com os quais as ações devem ser coerentes.
Numa ação acrática, isto não acontece. Vejamos o exemplo do fumar como
Assim concluímos que para falar de ação, implica falar de um agente, uma intenção e
uma motivação.
Nessa tradição, um agente é responsabilizável por uma ação apenas no caso de ter
sido livre para agir como agiu. Por exemplo, um indivíduo é culpado aos olhos de Deus
se tiver pecado quando podia não o ter feito; um criminoso é imputável aos olhos da
Mas se alguém é forçado a agir de uma certa forma, será legítimo responsabilizá-lo
condicionantes da ação:
empreendemos;
essencial – a de causalidade.
Uma cadeia causal é uma sucessão de acontecimentos na qual cada um deles é causa
antecede:
Uma conceção determinista da ação salienta que as ações são acontecimentos que
têm lugar no mundo e que, portanto, estão integradas em cadeias causais: ora são
acontecimentos posteriores.
Por outro lado, pensamos que devemos responder por muitos dos nossos atos, de que
determinista da ação.
the will", são enganosas, pois nem o juízo nem a vontade são os fatores preponderantes.
escolha" ou, melhor ainda (posto que mais abrangente), "liberdade de ação".
para todo evento deve haver uma causa. A proposição 2 também parece verdadeira:
quando nos observamos a nós mesmos, parece óbvio que as nossas decisões e ações são
formam um conjunto inconsistente, ou seja: não é possível que todas elas sejam
verdadeiras! Se admitimos que todo evento é causado e que a ação livre não é
livres, posto que as nossas ações são eventos (a proposição 2 é falsa). Se admitimos que
as nossas ações são livres e que como tais elas não são causalmente determinadas (que 2
e 3 são proposições verdadeiras), então não é verdade que todo o evento seja causado (a
proposição 1 é fa1sa). E se admitimos que todo o evento é causado e que somos livres
(que as proposições 1 e 2 são verdadeiras), então deve haver a1go de errado com a ideia
proposição 2, ou seja, que somos realmente livres. Ela foi mantida por filósofos como
ela não tem problemas em admitir que o mundo ao nosso redor é causalmente
determinado, mas abre uma exceção para muitas de nossas decisões e ações, que sendo
livres escapam à determinação causal. Com isso o libertismo rejeita a validade universal
1. Determinismo
encontrar causas para os eventos físicos que nos cercam, podemos sempre encontrar
causas para as nossas ações, sejam elas quais forem. Com efeito, sendo como somos
não fossem causadas do mesmo modo que o são outros eventos biológicos, tais como a
causalidade não seja garantido e que no mundo da microfísica ele tenha sido inclusive
admitimos que as decisões ou ações humanas são causadas. Alguns poderão dizer que
Napoleão invadiu a Rússia por livre decisão da sua vontade. Mas os historiadores
nossas ações, as causas imediatas podem ser externas (alguém decide parar o carro
geralmente múltiplas e por vezes muito difíceis de serem rastreadas. No entanto, teorias
são sempre causadas; "Fiz isso sem nenhuma razão" raramente é aceite como desculpa.
que o livre-arbítrio na verdade não existe, posto que se a ação fosse realmente livre ela
não seria determinada por outros fatores independentes dela mesma. A liberdade que
parecemos ter ao tomarmos as nossas decisões é pura ilusão, produzida por uma
insuficiente consciência das suas causas. Mesmo quando pensamos que poderíamos ter
agido de outro modo, o que queremos dizer não é que éramos realmente livres para agir
de outro modo, mas simplesmente que teríamos agido de outro modo se o sentimento
mais forte tivesse sido outro, se soubéssemos aquilo que agora sabemos etc. O
remorso parece perder o sentido, pois como se justifica que nós possamos arrepender-
nos das nossas ações, se não fomos livres para escolhê-las? Também a responsabilidade
moral perde a validade. Se nas nossas ações somos tão determinados como uma pedra
que cai ao ser solta no ar, faz tão pouco sentido responsabilizar uma pessoa pelos seus
atos quanto faz sentido responsabilizar a pedra por ter caído. Tais dificuldades levam-
2. Libertismo
causalidade, enunciável como "Todo o evento tem uma causa", não parece ter a sua
em geral para o mundo que nos circunda e mesmo para muitas de nossas ações. Mas
nada nele garante que a sua validade seja universal. Não podemos pensar que A = ~A
sem nenhuma causa. A isso o libertarista poderá adicionar que nós simplesmente
sabemos que somos livres. Há uma grande diferença entre um comportamento reflexo e
Para justificar essa posição, o libertista costuma lançar mão de uma teoria da ação, tal
como foi defendida por Richard Taylor ou por Roderick Chisholm. Segundo essa teoria
às vezes, ao menos, o agente causa os seus atos sem qualquer mudança essencial em si
justificar a ação. Isso acontece porque o eu é uma entidade peculiar, capaz de iniciar
uma ação sem ser causado por condições antecedentes suficientes! Você poderá
perguntar-se como isso é possível. A resposta geralmente oferecida é que não pode
haver explicação. Para responder a uma pergunta como essa teríamos de interrogar o
objetivamente o eu só pode ser aqui o próprio eu, isso é impossível. Tentar interrogar o
próprio eu é tentar, como o barão de Münchausen, alçar-se sobre si mesmo pondo os pés
autodeterminador, capaz de iniciar ações sem ser causado. Somos, quando agimos,
Embora essa solução preserve a noção de livre agência, ela tem o inconveniente de
explicar o obscuro pelo que é mais obscuro ainda, que é um mistério a ser aceite sem
A solução que veremos a seguir, o compatibilismo, é hoje a mais aceite, sendo uma
desvantagens.
3. Compatibilismo: definições
forma:
para quem nós confundimos o significado da noção de liberdade na sua conexão com o
mesmo que a capacidade de produzir ações sem que elas sejam determinadas por causas.
Mas isso é falso. Se assim fosse, uma pessoa que se comportasse arbitrariamente,
mesmo que contra a sua própria vontade, seria um exemplo de pessoa livre. Mas o
a vontade livre e a vontade não-livre não deve residir, pois, no facto de a segunda ser
causalmente determinada e a primeira não. Além disso, tanto no caso de ações livres
1. Gandi passa fome porque quer libertar Um homem passa fome num deserto
a Índia. porque não há comida.
2. Uma pessoa rouba um pão porque está Uma pessoa rouba porque o seu patrão a
com fome. obrigou.
3. Uma pessoa assina uma confissão Uma pessoa assina uma confissão porque
porque quer dizer a verdade. foi submetida a tortura.
4. Uma pessoa decide abrir uma garrafa Uma pessoa toma uma dose de aguardente,
de champanhe porque quer brindar ao mesmo contra a sua vontade, porque é
Ano Novo. alcoólica.
colunas. Assim, a coluna A não difere da coluna B pelo facto de não podermos
encontrar causas das ações, decisões e volições dos agentes. E às causas apresentadas
costume de brindar ao Ano Novo abrindo uma garrafa de champanhe etc. Mesmo nos
casos de decisões arbitrárias (como quando alguém decide lançar uma moeda no ar para
que a sorte decida o que deve fazer), a decisão de escolher arbitrariamente também
coluna B é que as primeiras são voluntárias, enquanto as segundas não. Daí que ele
defina a diferença entre a vontade livre e não-livre como residindo no facto de que as
serem independentes dela. Se Gandi passa fome para libertar a Índia, se alguém rouba
um pão por estar com fome, essas são ações livres, posto que voluntárias; mas se uma
pessoa assina uma confissão sob tortura ou toma uma dose de aguardente contra a sua
vontade, essas são ações que se opõem à vontade dos agentes, por isso mesmo não são
livres.
5. Uma pessoa abre a janela porque faz Uma pessoa abre a janela por efeito de
calor. sugestão pós-hipnótica.
No exemplo B-5 a pessoa abre a janela porque o hipnotizador lhe disse que meia hora
após ser acordada da hipnose deveria abrir a janela, sem se lembrar de que faz isso por
experiência costuma fornecer uma razão qualquer, como a de que está sentindo calor).
Nesse caso a pessoa realiza a ação voluntariamente, pensando que o faz por livre e
valores e padrões de conduta excessivamente rígidos, que sofrem por isso limitações na
aproximar-se de um ideal de racionalidade plena, o que aqui está longe de ser o caso.
colunas A e B é que em B, em que a ação não é livre, o agente age sob restrição,
enquanto nos casos da coluna A, em que a ação é livre, o agente age motivado por
razões de quem age por sugestão pós-hipnótica, por força de um delírio psicótico ou de
uma crença fanática; mesmo não-admiradores de Gandi admitiriam que as suas razões
Stace:
contradição entre duas ideias plausíveis. A primeira é a ideia de que os seres humanos
têm liberdade para fazer ou não fazer o que queiram (obviamente, dentro de certos
limites ― ninguém acredita que possamos voar apenas por querermos fazê-lo). Esta é a
ideia (...) de que tudo o que acontece neste universo é causado, ou determinado, por
aqueles que negam esta segunda ideia diz-se que são indeterministas.)
Pensa-se frequentemente que estas duas ideias conflituam porque parece que não
podemos ter livre-arbítrio ― as nossas escolhas não podem ser livres ― se são
Os valores são qualidades que se atribuem aos objetos. Estes orientam a nossa ação, isto
Os valores não existem efetivamente nos objetos, ou seja, não são características dos
objetos. Orientam as nossas ações; agimos em função daquilo que gostamos e achamos
correto.
Os valores são:
podem ter opiniões diferentes acerca do mesmo. (Ex.: uma pessoa pode achar o objeto
São hierarquizáveis – não têm todos a mesma importância, cada sujeito tem a sua
própria hierarquia.
beleza ≠ fealdade).
Valor-fim e valores-meio:
hierarquia);
Valores éticos/morais
Valores estéticos
São relativos – variam de época para época; de cultura para cultura, não quer dizer
São perenes – não morrem, apesar da sua subjetividade e da sua relatividade estes
Facto é o aspeto da realidade, aspeto esse que pode ser descrito de uma forma
facto.
realidade (factos). Descrevem a realidade tal como ela é, fornecendo assim informação
sobre o mundo. São objetivos pois não dependem da perspetiva do sujeito que os
Pelo facto de eles serem objetivos possuem valor de verdade. Quando o conteúdo do
juízo corresponde verdadeiramente aos factos, é verdadeiro; quando, pelo contrário, não
corresponde, é falso.
Os juízos de facto são os únicos que aparecem nas ciências (Ex.: leis científicas)
Contrariamente aos juízos de facto que são objetivos, os juízos de valor são subjetivos,
normativos.
Assim temos:
Exemplos:
de quaisquer sujeitos?
Subjetivismo
Subjetivismo: Os juízos morais têm valor de verdade, mas o seu valor de verdade
Existem factos morais, mas estes são subjetivos, pois só dizem respeito às atitudes de
Se as distinções entre o certo e o errado não forem fruto dos sentimentos de cada
pessoa, então serão imposições exteriores que limitam as possibilidades de ação de cada
sentimentos de cada pessoa e que os sentimentos de uma não são melhores nem piores
preferências.
Objeções ao subjetivismo:
Por exemplo, se uma pessoa pensa que devemos torturar inocentes, então para essa
O subjetivismo tira todo o sentido ao debate moral. Torna absurdo qualquer esforço
outros.
Para aprofundar esta última objeção, vejamos como o subjetivista entende os casos de
desacordo moral:
entre o João e a Maria. Mas há um desacordo genuíno entre o João e a Maria. Logo, a
Emotivismo
Proporciona um modelo mais aceitável da educação moral: esta pode ser vista como
Não implica que não há desacordos genuínos e, portanto, não exclui totalmente a
aprovação ou reprovação.
Relativismo moral
Relativismo moral: Os juízos morais têm valor de verdade, ou seja, são verdadeiros
sociedade.
cada sociedade.
Podemos chamar «relativismo cultural» à ideia de que muitos costumes e práticas que
variam de sociedade para sociedade, como os hábitos alimentares, as cerimónias de
casamento ou o estilo de vestuário, são relativos à cultura: não há uma maneira de
comer, casar ou vestir que seja universalmente melhor do que todas as outras.
O relativista moral estende esta ideia quase trivial à ética. Aplicada à ética, no entanto, a
ideia deixa de ser trivial.
Leva-nos a não ter qualquer impulso violento e destrutivo em relação aos outros povos e
culturas.
Teoria dos mandamentos divinos: Os juízos morais têm valor de verdade, ou seja,
Deus.
O certo e o errado, o bem e o mal morais, são convenções estabelecidas por Deus.
O dilema de Êutifron
variam as qualidades que têm de possuir para poderem ser consideradas bens. De facto,
o mal um valor negativo ou contra valor. Porem, o conceito de bem e de mal é definido
classes sociais, da cultura, etc.); por outro lado, a par dos valores universais como o
dependendo dos gostos e das preferências pessoais como é o caso dos valores estéticos,
por exemplo.
significa que não deva haver valores universais a preservar para além desse relativismo
como é o caso do valor da vida e da dignidade da pessoa, qualquer que seja a sua
condição (cultura que adotou, classe social, sexo, religião, cor da pele, etnia, etc.). A
todos os seres humanos, pelo facto de seres humanos, é devida igualdade de direitos e
de deveres, por isso, não podemos tolerar praticas culturais atentatórias da dignidade
humana e devemos usar todos os meios para garantir o respeito pelos direitos humanos
Cultura: em sentido amplo, pode ser definida como os aspetos de ordem material e de
ordem espiritual que, em relação com uma sociedade ou grupo, foram adquiridos com
base em formas de vida ancestrais comuns. Pode-se afirmar “Sem homem não há
cultura. Mas sem cultura não há homem.”
vida.
costumes, aquilo que permite ao ser humano construir uma segunda natureza, referindo-
Assim a Ética, mantendo o significado mais próximo daquele que o próprio conceito
grego de ethos, remete mais para uma reflexão acerca dos princípios que devem orientar
a ação humana, para uma fundamentação das normas do agir, e também para a definição
prossecução duma vida boa e feliz. Interroga-se sobre o que dá sentido ou valor à
existência humana. A Ética remete, portanto, para uma sabedoria de vida, algo que
A moral utiliza-se hoje para designar o âmbito da formação das normas obrigatórias,
humana.
geram as leis ou códigos que definem o que é desejável e o que é permitido ou proibido,
distinguindo o bem do mal. Apresenta-se, portanto, com uma função normativa, isto é,
Apesar desta distinção, quer a Ética quer a Moral são importantes guias da ação
humana, no sentido em que relacionam com uma vida com projetos e ideais a alcançar.
orientação e o interesse pela vida ou pelos seus objetivos. E a Moral e a Ética apelam
A responsabilidade exige que se assuma esta autoria dos atos praticados; assumir esta
autoria implica uma reflexão prévia que pode e deve conduzir a uma opção livre de
os outros ou, dito de outro modo, o ser humano é um ser eminentemente social. Como
nos diz F. Savater «ninguém chega a tornar-se humano se está só: tornamo-nos
louco», sendo por isso que a pena mais cruel infligida a um indivíduo era a condenação
dos outros.
ponto de vista no qual considerem igualmente os interesses de todos os que são afetados
pelas nossas ações, isto é, implica que nos coloquemos numa perspetiva de
universalidade do agir. A ação ética exige que ultrapassemos o nosso ponto de vista
outro todos os seres com quem nos relacionamos). Em vez do egoísmo a Ética valoriza
evidenciando que a realização de cada um supõe também a realização dos outros, numa
Esta convivência com os outros não deve ser determinada por uma força instintiva ou
valores e opções livremente definidos por cada sociedade. É esta convergência de ideais
costumamos compará-la a uma espécie de «juiz interior» que julga o que fazemos,
Um sentido apelativo, para valores e normas ideais a que não devemos renunciar
Um sentido imperativo (obrigação), que nos ordena uma ação compatível com os
Um sentido judicativo, pois assume-se como instância julgadora dos nossos atos e das
próprias intenções do agente, conforme estão ou não de acordo com os valores e ideais
CONSCIÊNCIA MORAL
Por um lado, cresce à medida que o Por outro, amadurece e assume-se como
indivíduo interioriza as regras e padrões uma dimensão pessoal no sentido em
do grupo (heteronomia). que cada um se autodetermina por
princípios racionalmente justificados
(autonomia).
social, uma articulação do querer individual com os padrões sociais, que conduz à
Noção de pessoa
Tem consciência do caráter inter-relacional da sua autonomia, uma vez que autonomia
Podemos dizer então que ser pessoa exige viver em sociedade, reconhecer e respeitar
Neste sentido foram fundadas, ao longo dos tempos, instituições políticas e sociais que
primeiro lugar a dignidade do Homem, e defende que o fim das nossas ações deve ser
O utilitarismo não funciona na prática, pois exige que estejamos sempre a calcular as
O utilitarismo é primariamente uma teoria sobre o que torna as ações certas ou erradas.
O utilitarismo não é uma teoria sobre como devemos tomar as nossas decisões.
atos.
2. Temos de ser indiferentes às normas morais comuns quando decidimos o que fazer.
Nível crítico: Aplicamos o princípio utilitarista para (1) tomar decisões em situações
em que as regras morais comuns não nos permitem saber o que fazer, (2) avaliar
1) O utilitarismo obriga-nos a realizar certos atos que não são moralmente obrigatórios.
2) O utilitarismo permite ou consente certos atos que não são moralmente permissíveis.
Integridade
Respeito e direitos
Dois egoísmos
pessoal.
Egoísmo ético: As pessoas devem agir sempre apenas em função do seu interesse
pessoal.
1. Quando agimos voluntariamente, fazemos sempre aquilo que mais desejamos. Por
2. Sempre que fazemos bem aos outros, isso dá-nos prazer. Por isso, só fazemos bem
aos outros para sentirmos prazer. Ora, isso é o mesmo que dizer que somos todos
egoístas.
Mesmo que seja verdade que em todos os atos voluntários as pessoas se limitam a
fazer aquilo que mais desejam, daí não se segue que todos esses atos sejam egoístas.
Mesmo que sintamos prazer a fazer bem aos outros, isso não quer dizer que a
O egoísmo ético tira todo o sentido a uma parte importante da ética, que consiste na
O egoísmo ético derrota-se a si próprio: se uma pessoa optar por agir de forma
egoísta, terá uma vida pior do que teria se não fosse egoísta.
Utilitarismo
J. S. Mill defendeu o princípio utilitarista da maior felicidade: «As ações estão certas
na medida em que tendem a promover a felicidade, erradas na medida em que tendem a
produzir o reverso da felicidade.»
bons resultados.
O egoísta defende que o agente deve produzir bons resultados apenas para si próprio.
O utilitarista defende que o agente deve produzir bons resultados para todos aqueles
Muitos utilitaristas defendem que o melhor curso de ação é aquele que apresentada a
Para determinar a utilidade esperada de um curso de ação, temos de pensar nas suas
verificarem.
Hedonismo
vida das pessoas tem um certo valor, que em última análise é determinado apenas pela
duração e intensidade.
natureza, intrinsecamente superiores a outros. Para vivermos melhor devemos dar uma
forte preferência aos prazeres superiores, recusando-nos a trocá-los por uma quantidade
de experiências. Mas é melhor não nos ligarmos e continuarmos a ter uma vida real.
Satisfação de preferências
Célebre filósofo alemão, um dos mais importantes filósofos da época moderna europeia.
As mais notáveis das suas obras são a Crítica da Razão Pura (sobre gnoseologia), a
estética).
Teorias deontológicas
imparcialmente o bem-estar.
Muitas ações são intrinsecamente erradas, ou seja, erradas independentemente das suas
consequências. Podemos dizer, aliás, que todos temos de respeitar certos deveres que
quando promove tanto quanto possível o bem-estar. Qualquer ação que não maximize o
bem-estar é errada.
algum dos nossos deveres. Qualquer ação que não seja contrária a esses deveres não tem
nada de errado.
Reparação: Compensa os outros por qualquer mal que lhes tenhas feito.
mérito.
Deontologia
estabelecer uma filosofia moral pura, isto é, estabelecida a partir da análise da própria
experiência. A razão é a autoridade final para a moralidade e esta não pode ter
fundamento, isto é, não pode ser estabelecida e justificada, na observação dos costumes
ou modos habituais e culturais de agir com os humanos. Todas as ações precisam ser
determinadas por um sentido de dever ditado pela razão, e nenhuma ação realizada por
interesse ou somente por obediência a uma lei exterior ou costume pode ser considerada
como moral. A ação moralmente boa é a que obedece exclusivamente à lei moral em si
e tendências naturais ou sensíveis e está centrada sobre a noção de dever e não na noção
Kant faz distinção entre o bem e o agradável. O bem é função da lei moral, não deve,
pois, ser determinado antes da lei moral, mas só depois dela e mediante ela.
Além disso, para classificar uma ação como moralmente boa não basta observar o que
o Homem faz efetivamente mas aquilo que ele quer fazer. Por isso, se diz que a moral
Kantiana é uma moral de intenção. Assim, nada é bom ou mau em si mesmo; Kant
afirma que a única coisa que verdadeiramente pode ser boa em si mesmo é a vontade
humana.
isso, a vida moral é uma luta continua e o agir bem apresenta-se-lhe como uma
obrigação, como uma certa coação, que a sua parte racional terá de exercer sobre a sua
parte sensível. O dever obriga, força-nos a fazer o que talvez não quiséssemos ou que
pelo menos não nos agradaria, porque o homem não é perfeito e sim dual. Assim, a
moralidade aparece na forma de uma lei que exige ser obedecida por si mesma, uma lei
cuja autoridade não está fora do Homem mas representa a voz da razão, a que o sujeito
moral deve obedecer. Então, para que cumpra integralmente a lei moral, é preciso que o
domínio da vontade livre (vontade não submetida a nenhuma lei a não ser a sua própria)
sobre a vontade psicológica seja cada vez mais íntegro e completo. Kant chama vontade
santa à vontade que dominou por completo toda a influência e determinação oriunda
dos fenómenos concretos, físicos, fisiológicos e psicológicos, para sujeitá-la à lei moral.
Para uma vontade desse tipo não haveria distinção entre razão e inclinação. Um ser
possuído de uma vontade santa agiria sempre da forma que devia agir e não haveria
lugar para o conceito de dever e de obrigação moral, os quais somente têm sentido e
por isso que o dever nos surge sob a forma de uma ordem ou de um mandamento – um
modo que a máxima da tua vontade possa valer sempre ao mesmo tempo como
princípio de uma legislação universal”. – Kant reconhece que esta é apenas uma
moral.
Se queres agir moralmente, (isto é, para Kant, racionalmente) – o que aliás tu tens de
A condição necessária para que seja possível apenas a razão determinar a ação é a
liberdade. A vida moral somente é possível, para Kant, na medida em que a razão
estabeleça, por si só, aquilo a que se deve obedecer no terreno da conduta moral, o que
Poder realizar significa: causar por vontade própria um efeito no mundo, tal como as
legislador e membro de uma sociedade ética: é legislador porque é ele que determina o
que deve ser feito, e é membro ou súbdito porque obedece aos deveres que a sua própria
razão fórmula. Neste sentido, ele não tem um preço, mas uma dignidade, e é por isso
que a segunda fórmula do imperativo categórico diz para agirmos de modo a não tratar
jamais a humanidade, em nós ou nos outros, como um meio, mas sempre como um fim
em si. A ética Kantiana é uma ética do respeito à pessoa. A ética Kantiana é moderna
porque confia no homem, na sua razão e na sua liberdade, condena todas as situações
pessoas, etc.) e reconhece à sociedade civil o direito de estabelecer leis universais que
Kant também reflete sobre a felicidade e a virtude, mas subordina-as ao dever. Para
seres humanos mas que cada qual concebe a seu modo ou subjetivamente. Ora se a lei
ser humano não concebe sempre do mesmo modo aquilo que é ser feliz, alcançar a
felicidade não pode ser o fim supremo da moralidade nem a sua justificação. A
virtude são apenas as consequências do esforço humano para praticar atos moralmente
felizes. A única condição é que tudo o que fizermos possa ser universalizável. Não é a
Ser feliz é, assim, uma aspiração que o homem concretiza através do seu mérito, mas
mesmo que esse aspiração existisse ou a felicidade não fosse concretizável e atingível
através da moralidade, mesmo assim o ser humano ainda teria a obrigação moral ou o
Em conclusão de Kant:
Alguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres morais podem ser
inferidos de um princípio ético fundamental.
Outros deontologistas, como Ross, pensam que sabemos por simples intuição quais são
os nossos deveres.
Alguns deontologistas, como Kant, pensam que os nossos deveres são absolutos: nunca
podemos desrespeitá-los.
Outros deontologistas, como Ross, pensam que os nossos deveres são prima facie: por
vezes podemos desrespeitá-los.
Duas distinções
Atos e omissões: É pior provocar um mal que permitir que um mal ocorra. Por
Intenção e previsão: É pior dar origem a um mal intencionalmente que dar a origem
a um mal que não pretendemos produzir, ainda que saibamos que o mesmo resultará da
nossa conduta. Por exemplo, é pior torturar alguém que fazer algo que resulte em
Fundamentação da Moral
dignidade.
Uma das respostas mais antigas para este problema foi apresentada por Aristóteles
(384-322 a. C.) num livro intitulado Política. Neste livro, Aristóteles estuda os
tinham os seus próprios governos e exércitos, além de leis e tribunais próprios. Por isso
Aristóteles defende que a cidade-estado existe por natureza. Os seres humanos sempre
impensável. Viver numa sociedade governada pelo poder político faz parte da natureza
uma besta ou um deus», diz Aristóteles. Por isso se diz que a sua teoria da origem e
comunidade (cidade-estado).
torna-se claro, pensa Aristóteles, quando verificamos que os seres humanos não se
limitaram a formar pares de macho e fêmea para procriar, ao contrário dos outros
animais.
existe apenas para preservar a vida, mas sobretudo para assegurar a vida boa, que é o
desejo de todos os seres racionais. É por isso que a cidade-estado é a comunidade mais
tornarem estados.
Este argumento relaciona-se com uma ideia muito importante para Aristóteles: que a
natureza de uma coisa é a sua finalidade. Assim, a finalidade dos seres humanos é viver
natural dos seres humanos para passar da vida em família para a vida em pequenas
político».
Outra ideia importante para Aristóteles é que o todo é anterior à parte, no sentido em
que fora do todo orgânico a que pertence, a parte não seria o que é. O que o leva a dizer
que a cidade estado é por natureza anterior ao indivíduo, pois não há indivíduos auto-
-suficientes e, portanto, nem sequer existiriam fora dela. Tal como uma mão não
funciona separada do resto do corpo, também não há realmente seres humanos isolados
da comunidade.
Alguém que viva fora da sociedade sem estado não chega a ser um ser humano
tornamos adultos. Isto equivale a dizer que o estado se justifica por si. Daí que, para
Aristóteles, o mais importante seja saber que tipo de governo da cidade-estado é melhor
incoerente e enganadora. Aristóteles encara a natureza das coisas como uma espécie de
racionalidade.
Contudo, a finalidade da vida na cidade é permitir uma vida boa. Mas o desejo de ter
uma vida boa é um desejo racional, na medida em que é uma aspiração de seres
racionais como nós – até porque não se verifica nos outros animais. Assim, este desejo é
biológico ou natural.
Uma justificação do estado bastante mais influente do que a de Aristóteles é dada por
John Locke (1632-1704). Este filósofo defende que o estado tem origem numa espécie
um governo civil. Locke considera que esse contrato dá origem à transição do estado de
natureza para a sociedade civil. Por isso se diz que a teoria da justificação do estado de
Locke é contratualista.
Mas o que levou as pessoas a celebrar entre si esse contrato? Vejamos, em primeiro
lugar, como eram as coisas antes do contrato, isto é, como eram as coisas antes de haver
estado – quando ninguém detinha o poder político e não havia governo nem tribunais
nem polícias.
um era «senhor absoluto da sua pessoa e bens», não tendo de prestar contas nem
depender da vontade de seja quem for. As pessoas viviam também num estado de
completa igualdade, não havendo qualquer tipo de hierarquia social ou outra. Além
disso, viviam segundo a lei natural, a qual dispõe que ninguém infrinja os direitos de
Locke defendia que esta lei natural se descobre usando a razão natural, pelo que é
modo, Locke distinguia a lei natural das chamadas «leis positivas» da sociedade civil.
As leis positivas são leis que resultam das convenções humanas; são as leis que
Enquanto no estado de natureza as pessoas nada têm acima de si a não ser a lei natural,
única lei que vigora no estado de natureza é, pois, a lei natural. Locke distingue a lei
Locke não encara a lei natural como uma lei científica que
Dado que no estado de natureza as pessoas vivem de acordo com a lei natural, têm os
1. Todas as pessoas são iguais, pois têm exatamente o mesmo conjunto de direitos
naturais;
2. Todas as pessoas têm o direito de ajuizar por si que ações estão ou não de acordo com
a lei natural, pois ninguém tem acesso privilegiado à lei natural nem autoridade especial
necessário – daqueles que tentarem interferir nos seus direitos e violar a lei natural, pois
4. Todas as pessoas têm o direito de decidir a pena apropriada para aqueles que violam a
lei natural, assim como direito de aplicar essa pena, dado que num estado de perfeita
estado de guerra, pois neste não há lei que vigore e as pessoas não têm direitos.
em que cada pessoa é livre de se apropriar das terras e bens disponíveis, através do seu
trabalho e esforço. Sendo assim, que razões teriam as pessoas para abandonar o estado
submeter?
Locke pensa que qualquer poder exercido sobre as pessoas – excetuando os casos de
Nem outra coisa seria de esperar entre pessoas iguais e com os mesmos direitos
naturais.
Assim, a existência de um poder político só pode ter tido origem num acordo, ou
contrato, entre pessoas livres que decidem unir-se para constituir a sociedade civil. E
esse acordo só faz sentido se aqueles que o aceitam virem alguma vantagem nisso.
Apesar de parecer que Locke caracteriza o estado de natureza como um estado quase
perfeito, não deixa de reconhecer alguns inconvenientes que, mais cedo ou mais tarde,
iriam tornar a vida demasiado instável e insegura. Isto porque há sempre quem, movido
pelo interesse, pela ganância ou pela ignorância, se recuse a observar a lei natural,
nome genérico de «propriedade» não apenas aos bens materiais das pessoas, mas a tudo
estabilidade que só o governo pode garantir. Locke torna esta ideia mais precisa
indicando três coisas importantes que faltam no estado de natureza e que o poder
1. Falta uma lei estabelecida, conhecida e aceite por consentimento, que sirva de padrão
comum para decidir os desacordos sobre aspetos particulares de aplicação da lei natural.
Isto porque, apesar de a lei natural ser clara, as pessoas podem compreendê-la mal e
2. Falta um juiz imparcial com autoridade para decidir segundo a lei, evitando que haja
juízes em causa própria. Isto porque quando as pessoas julgam em causa própria têm
3. Falta um poder suficientemente forte para executar a lei e fazer cumprir as sentenças
justas, evitando que aqueles que são fisicamente mais fracos ou em menor número
É para fazer frente a estas dificuldades que as pessoas decidem abrir mão dos
privilégios do estado de natureza, cedendo o poder de executar a lei àqueles que forem
escolhidos segundo as regras da comunidade. E ainda que se possa dizer que ninguém
nos perguntou expressamente se aceitamos viver numa sociedade civil, Locke defende
que, a partir do momento em que usufruímos das suas vantagens, estamos a dar o nosso
Quando Locke fala do contrato social não está a pensar num procedimento formal,
benefícios do estado, dão implicitamente o seu consentimento para que este tenha
poderes sobre elas. Por exemplo, se alguém pede proteção à polícia quando se sente
ameaçado, está tacitamente a consentir que a polícia tenha poder sobre si também.
Mas há boas razões para pensar que não há efetivamente qualquer consentimento
tácito das pessoas. Mesmo que tivesse havido inicialmente um acordo original baseado
no consentimento tácito das pessoas dessa altura, isso não inclui as gerações atuais, as
quais não tiveram qualquer palavra a dizer sobre isso. Há até pessoas que, apesar de
estarem sujeitas a um dado governo, o combatem e o consideram ilegítimo, pelo que tal
Além disso, é incoerente pensar que podemos consentir em algo sem que o nosso
consentimento seja livre e intencional. Mas para que seja intencional, uma pessoa tem
de ter consciência daquilo a que está implicitamente a dar o seu acordo. Todavia, parece
claro que muitas pessoas não têm consciência de terem dado qualquer acordo. De modo
semelhante, há pessoas cujas condições de vida não lhes permitem optar entre aceitar a
autoridade do governo e mudar para um território onde essa autoridade não exista.
Outra crítica é que há contratos que não são justos, pelo que nem sempre devem ser
cumpridos. Assim, o facto de o estado ter resultado de um acordo entre pessoas livres
Imagine-se que uma mulher promete viver com o amante na condição de este matar o
seu marido e que o amante concorda com isso. Não é por ambos terem feito um contrato
contrato é, na melhor das hipóteses, condição necessária para a sua legitimidade, mas
não é suficiente. Analogamente, o facto de o estado ter tido origem num contrato
celebrado entre pessoas livres também não é suficiente para legitimar a sua autoridade.
O contrato é desnecessário
Locke pensa que, no estado de natureza, cada indivíduo tem o direito de fazer
cumprir a lei natural e até de usar a força para punir quem a violar.
Imagine-se então que há apenas duas pessoas que vivem no estado de natureza. Se, na
opinião de uma delas, a outra violar a lei natural, não precisa do consentimento do
prevaricador para, com todo o direito, o punir. Suponha-se agora que várias pessoas
decidem organizar-se para tornar a aplicação da lei natural mais efetiva e que é detetado
alguém exterior a esse grupo que, em sua opinião, está a violar a lei natural. Mesmo que
a pessoa que viola a lei não tenha dado o seu consentimento e nem sequer pertença ao
grupo, este pode recorrer à sua força coletiva para submeter e punir o prevaricador.
Locke defende precisamente que isso seria ilegítimo, a não ser que o prevaricador
natureza mas na sociedade civil. Mas por que razão é ilegítimo um grupo organizado de
pessoas impor a sua força sem o consentimento do visado e não é ilegítimo no caso de
Isto sugere que, além do poder coletivo das pessoas, não é necessário qualquer
consentimento contratual daqueles a quem se aplica a força. Nesse caso, o contrato não
Em conclusão:
comum ouvir expressões como «Isso é injusto» ou «Fazer isso não seria justo». De
algum modo, todos temos uma noção do que é justo e injusto, e todos queremos viver
Consideremos uma sociedade em que a grande maioria das pessoas é muito pobre,
mas em que existe um pequeno grupo de pessoas extremamente ricas. Será que uma
riqueza.
compreender o que é uma sociedade justa. Muitos filósofos entendem que isso implica
identificar os princípios da justiça corretos. Entre esses filósofos destaca-se John Rawls
(1921-2002), que desenvolveu a teoria da justiça como equidade. É essa teoria que
A posição original
Imagine-se que cada um dos membros de uma sociedade, sabendo perfeitamente qual
era o seu estatuto social e quais eram os seus talentos naturais, propunha determinados
princípios da justiça. Nesse caso, o mais certo seria não se chegar a qualquer acordo. Os
mais ricos, por exemplo, tenderiam a opor-se a princípios da justiça que os forçassem a
pagar impostos elevados para benefício dos mais pobres. E os mais talentosos
favoreceriam uma sociedade que premiasse os seus talentos, sem se preocuparem muito
com os que por natureza são menos talentosos. Nestas circunstâncias, como poderíamos
Rawls sugere que, para encontrar os princípios da justiça corretos, devemos fazer
uma experiência mental: temos de imaginar uma situação em que os membros de uma
Rawls designa essa situação imaginária por posição original e descreve-a na seguinte
passagem:
psicológicas especiais. […] Mais ainda, parto do princípio de que as partes não
conhecem as circunstâncias particulares da própria sociedade. […] É dado adquirido,
no entanto, que conhecem os factos gerais da sociedade humana.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, 1971,trad. de Carlos Pinto Correia, p. 121
As «partes» a que Rawls se refere são pessoas singulares, e não pessoas coletivas,
de estarem sob um véu de ignorância: sofreram uma espécie de amnésia que as faz
desconhecer quem são na sociedade e quais são as suas peculiaridades individuais. Por
isso, são forçadas a avaliar princípios da justiça com imparcialidade. Como quem está
na posição original não sabe, por exemplo, se é rico ou talentoso, não vai escolher
Na posição original, as partes não sabem sequer qual é o seu «projeto de vida». Não
sabem, portanto, o que querem fazer na vida para se sentirem realizadas. No entanto,
estão interessadas em escolher o que é melhor para si. Por isso, diz-nos Rawls, têm
interesse em obter bens primários, ou seja, coisas que sejam valiosas seja qual for o
Os princípios da justiça
original.
ignorância, ficam numa situação equitativa – daí que Rawls nos esteja a propor uma
teoria da justiça como equidade. A questão que se coloca agora é saber que princípios
da justiça seriam escolhidos na posição original. Rawls defende que esses princípios são
os seguintes:
Primeiro princípio: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais amplo sistema total
de liberdades básicas iguais que seja compatível com um sistema semelhante de
liberdade para todos.
Segundo princípio: as desigualdades económicas e sociais devem ser distribuídas de
forma que, simultaneamente:
A. Redundem nos maiores benefícios para os menos beneficiados […];
B. Sejam a consequência do exercício de cargos e funções abertos a todos em
circunstâncias de igualdade equitativa de oportunidades.
John Rawls, Uma Teoria da Justiça, 1971, trad. de Carlos Pinto Correia, p. 239
justiça de Rawls oferece-nos, na verdade, três princípios da justiça. Estes princípios não
têm a mesma importância, pois Rawls estabelece prioridades entre eles. Apresentando-
sociedade justa todos os indivíduos beneficiam das mesmas liberdades básicas. Entre
estas, Rawls inclui a liberdade política (que se traduz no direito de votar e de concorrer
O direito de possuir escravos, por exemplo, não se pode contar entre as liberdades
básicas, já que a escravatura é incompatível com uma igual liberdade para todos.
sociais.
Por exemplo, não se pode suprimir a liberdade de expressão com o objetivo de obter
absoluta.
Qualquer uma pode ser limitada para que assim se obtenha uma maior liberdade para
oportunidades.
os mais pobres não terem acesso à educação, então essa sociedade não é justa.
Para garantir uma efetiva igualdade de oportunidades, sustenta Rawls, o governo deve
providenciar, entre outras coisas, iguais oportunidades de educação e cultura para todos.
No entanto, este princípio não afirma que a riqueza deve estar distribuída tão
se.
todos têm a mesma riqueza, mas todos são muito pobres; na segunda, há desigualdades
na distribuição da riqueza, mas essas desigualdades acabam por beneficiar todos, de tal
forma que nem mesmo os mais desfavorecidos são muito pobres. O princípio da
Dado que o princípio da liberdade tem prioridade sobre os outros dois princípios da
distribuição da riqueza à custa de um sacrifício das liberdades básicas iguais para todos.
O princípio maximin
Por que razão pensa Rawls que, na posição original, as partes escolheriam os
princípios da justiça por si indicados? Afinal, por que razão não escolheriam antes, por
sociedade justa simplesmente como aquela em que há um maior total de bem-estar, sem
Segundo este princípio de escolha, se não sabemos quais serão os resultados que cada
uma das opções que se nos colocam terá efetivamente, é racional jogar pelo seguro,
fazendo a escolha como se o pior nos fosse acontecer. Assim, devemos identificar o pior
resultado possível de cada alternativa, e depois optar pela alternativa cujo pior resultado
possível seja melhor do que o pior resultado possível de cada uma das restantes
seguro optar por C, caso em que o pior que nos poderia acontecer seria a pobreza
moderada.
Cada alternativa tem vários resultados possíveis, sendo uns melhores do que outros.
Entre as alternativas disponíveis, deve-se escolher aquela que tenha o melhor pior
resultado possível.
posição original:
Se eu escolher o utilitarismo, estarei a optar por uma sociedade na qual poderei vir a ser
de tão mau poderá acontecer-me. Mesmo que acabe por ficar na pior situação possível,
projeto de vida, seja ele qual for. Além disso, dificilmente serei muito pobre, já que
Em conclusão:
Equidade: A equidade é uma forma de aplicar o direito, mas sendo o mais próximo
possível do justo, do razoável. O fim do Direito é a justiça, além de valores suplentes
como a liberdade e igualdade. Mas é difícil definir o "justo", pois pode existir na
conceção de quem ganhou a causa e não existir na de quem perdeu. É necessário um
ideal de justiça universal. Para isso existe a equidade. Ela consiste no estudo do caso em
suas peculiaridades, suas características próprias, consequentemente originando uma
decisão para aquele caso especificamente, aproximando-se ao máximo possível do justo
para as duas partes. É preciso salientar também, que a equidade é fonte do direito. Ela é
usada para no caso de existirem lacunas na lei. A partir dessa permissão, o juiz pode
utilizar a equidade em suas decisões para atingir a justiça. Algumas normas se ajustam
inteiramente ao caso prático, sem a necessidade de qualquer adaptação; outras se
revelam rigorosas para o caso específico. Nesse momento, surge o papel da equidade,
que é o de adaptar a norma jurídica geral e abstrata às condições do caso concreto.
Equidade é a justiça do caso particular.
Uma das primeiras e mais importantes tentativas para distinguir o que é do que não é
estético foi levada a cabo pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804) Este filósofo
começa por referir a experiência estética para caracterizar o juízo estético, sendo
impossível desligar uma noção da outra. Kant defende que um juízo só é estético se for
determinado por um prazer desinteressado. Quando fala de prazer, Kant está a referir
Assim, Kant pensa que o juízo estético assenta num determinado tipo de experiência,
Kant defende que os juízos cognitivos, como os expressos pelas frases «A relva é
verde» ou «Os metais dilatam quando são aquecidos», resultam da colaboração entre a
o entendimento são as nossas duas principais faculdades cognitivas. Kant defende que,
objetos que nos rodeiam; as impressões recolhidas são as sensações de cor, brilho,
textura, etc. Por outras palavras, a faculdade da sensibilidade é aquilo a que hoje
Assim, o conteúdo da nossa experiência só pode referir-se aos objetos por meio de
aplicado.
«Os metais dilatam ao ser aquecidos» depende dos dados que os nossos sentidos obtêm
do exterior quando tocamos o metal e o sentimos quente, e quando olhamos para ele e
vemos que dilatou. Mas depende também de algo que está fora do alcance dos nossos
Kant defende que os juízos de gosto, como o expresso pela frase «O pôr do sol é
belo», que são um dos tipos de juízos estéticos, não se referem à existência dos objetos.
conteúdo da experiência.
Kant pensa que o belo não é um objeto, pelo que não pode ser referido através de
conceitos.
Porém, pensa que as nossas faculdades cognitivas intervêm na mesma nos juízos
estéticos. A diferença é que essas faculdades estão agora livres de qualquer finalidade
cognitiva, dado que não é o conhecimento de objetos que está em causa. Referindo-se
completamente livre, sem qualquer propósito ulterior. Por isso, o entendimento nunca
repete continuamente. Kant pensa que é este livre jogo das faculdades, decorrente da
ausência de qualquer finalidade cognitiva ou outra, que nos coloca perante a simples
significa que:
sentimento de prazer que a acompanha. Assim, dizer que algo é belo é dar voz a um
determinado tipo de experiência ou sentimento de prazer. Ou seja, dizer que algo é belo
é só dar voz a uma certa experiência e nada mais. Essa experiência não se pode
do juízo expresso pela frase «Está um copo à minha frente». Não podemos descrever a
experiência estética dizendo «Está uma beleza à minha frente» porque o que está à
minha frente é o objeto que provoca em mim a experiência estética, e não a experiência
estética. Ao contrário do prazer do belo, Kant defende que os outros dois tipos de
prazeres que refere – o prazer do bom e o prazer do agradável – não são independentes
de qualquer interesse.
inclinação natural dos nossos sentidos, como o prazer que temos ao comer doces.
Portanto, ambos são determinados por algum tipo de interesse – Kant pensa que a
Em suma, Kant pensa que a experiência estética é desinteressada, mas não por não ser
Em conclusão:
O principal problema que os filósofos costumam discutir acerca deste tipo de juízos é
a sua justificação. Quando uma pessoa afirma que algo é belo, que tipo de razões
apresenta para justificar o que afirma? O que nos faz dizer que algo é belo? Na verdade,
este não é um problema que ocupe apenas os filósofos. Ouvimos muitas vezes uma
pessoa dizer que algo é belo (ou feio) e, surpreendidos, queremos saber porquê.
Por que razão algumas pessoas acham bonitas as canções do Tony Carreira e outras
não? Será que as pessoas estão todas a falar da mesma coisa quando usam a palavra
«belo»? Será que todas as opiniões acerca do que é ou não é belo são corretas? Será que
quando afirmamos que uma pintura é bela estamos a referir algo que está realmente na
estético.
Subjetivismo estético
justificação do juízo estético que defende basicamente que a beleza resulta do que
sentimos quando observamos as coisas; ou seja, a beleza está nos olhos de quem a vê.
Achar algo bonito ou feio é, segundo esta teoria, uma questão de gostos ou
desprazer que fazem surgir em nós. Os juízos estéticos não são, neste caso, objetivos.
Ou seja, o que está em causa não são as propriedades dos objetos, mas antes os
sentimentos que tais objetos despertam em nós. Por isso se diz que são juízos de gosto.
subjetivista que razões tem para dizer que O Guardador de Rebanhos é belo, ele dirá
que sente prazer ao lê-lo. Ou, mais simplesmente, que gosta desse poema.
Subjetivismo radical
Uma forma extrema de subjetivismo defende que, na medida em que traduzem aquilo
que cada um sente, os gostos não se discutem. Mas esta forma de subjetivismo levanta
pela mesma pessoa. Proferidas por pessoas diferentes – digamos, pela Rita e pelo
gosta de X»; assim, ambas podem ser verdadeiras, não havendo qualquer contradição.
acha, então quando utilizamos a palavra «belo» numa conversa não chegamos
subjetivista radical tiver razão, os juízos estéticos são autobiográficos: quando uma
pessoa diz «X é belo» não está, em rigor, a falar de X, mas de si própria e das suas
preferências.
grande parte das discussões estéticas, admitindo implicitamente que qualquer debate
sobre o valor estético das obras de arte é irracional. Mas tanto as conversas mais banais
Objetivismo estético
O objetivismo estético defende que os objetos são belos em virtude das suas
morangos não depende apenas dos morangos: depende também de quem os come.
Pessoas com palatos diferentes podem ter diferentes reações aos morangos, e há até
Os objetivistas não negam que temos certos sentimentos estéticos perante a arte; nem
afirmam que tais sentimentos estão nas próprias obras de arte, o que seria absurdo.
Mas defendem que os nossos sentimentos estéticos são causados por certas
Assim, o objetivista defende que quando dizemos que um objeto é belo, o que
sentimos não é determinante. Quer o objeto nos agrade quer não, as propriedades que
estão na base da beleza existem mesmo nele; nós é que podemos ou não ser sensíveis a
tais propriedades. A beleza não depende, portanto, dos gostos pessoais: um objeto não é
bonito ou feio consoante nos agrada ou não. Ainda que as coisas belas nos agradem, não
é por isso que são belas. Acontece apenas que há certas características intrínsecas a
esses objetos que provocam em nós uma sensação agradável. Em termos populares, isto
equivale a dizer que a beleza está nas coisas e não nos olhos de quem as vê.
gostos pessoais e não das características dos objetos, seria muito estranho e inexplicável
haver objetos que quase todas as pessoas acham bonitos (ou feios). Haverá alguém que
O objetivista admite que ajuizar um objeto como belo não implica que o objeto seja
considerado belo por todas as pessoas que o avaliem esteticamente; pode haver quem
não o considere belo. Mas isso, pensa o objetivista, apenas significa que essas pessoas
fazem juízos errados porque partem de uma deficiente perceção do objeto. Também
um daltónico faz juízos errados se disser que é azul aquilo que as outras pessoas dizem
ser verde; o problema está apenas nele e não nos outros, pois algo se passa que o impede
Além disso, o objetivista argumenta que é falacioso concluir que as coisas não são em
si belas só porque não há acordo entre as pessoas que as observam. É como dizer que no
acerca disso. Tem, pois, de haver critérios objetivos que permitam justificar a verdade
dos juízos estéticos. Afinal de contas, até mesmo entre os cientistas há desacordo. E não
estéticos torna-o atraente, pois permite resolver muitas das discussões aparentemente
insolúveis sobre a arte e a beleza. Pelo menos, permite colocar em termos mais racionais
algumas dessas discussões. Sem critérios objetivos tudo poderia ser afirmado e, nesse
Até ao séc. XVIII a maior parte dos filósofos identificavam-se naturalmente com o
objetivismo estético. Acreditavam que havia critérios ou regras gerais acerca das
características que os objetos tinham de possuir para terem valor estético. E até os
quando criavam as suas obras. Assim, era a própria arte a conformar-se aos princípios
do objetivismo estético.
Não admira, pois, que o desacordo entre os críticos de arte da altura fosse bastante
Continua ainda a ser defendido por filósofos contemporâneos, como Monroe Beardsley
(1915-1985).
Em conclusão:
O que é arte?
isto é arte?
Por que razão um urinol colocado num recinto de exposições pelo artista Marcel
Duchamp é arte e não são arte os urinóis das casas de banho da minha escola?
Este é um problema filosófico, dado que não existe qualquer característica empírica
que possa ser diretamente observada nos objetos de arte e que nos permita distingui-los
O que está em causa é o próprio conceito de arte. Conceito que deve poder aplicar-se
Uma dificuldade em definir arte: chamamos arte a coisas tão diferentes entre si como
fotografia, etc.
Algumas teorias procuram dar definições explícitas de arte. Uma definição explícita
Teoria da imitação
Teoria da expressão
Teoria formalista
Esta não é, em bom rigor, uma verdadeira definição explícita, dado que só apresenta
condições necessárias. Se fosse uma definição explícita, em vez da expressão «só se»
suficientes.
O que se quer dizer é, então, o seguinte: todas as obras de arte imitam algo, embora
Não vejo nada neste quadro a não ser riscos e manchas de tinta.
Mas, ao contrário do que a definição indica, a imitação nem sequer uma condição
necessária. Há inúmeros casos de obras que todos consideramos arte e não imitam nada.
Houve tempos em que os artistas procuravam sempre imitar algo com as suas obras,
pelo que esta teoria parecia plausível aos filósofos que apenas encontravam à sua volta
imitam nada que se reconheça. Algumas obras podem até evocar certas coisas ou ideias,
arte imita, afirmam que a arte representa. Assim, as pinturas abstratas podem não
Mas a definição pode ainda ser melhorada: pode-se dizer que algo representa desde
A ideia é a de que se uma obra pode ser interpretada, então é porque é acerca de algo
Esta reformulação parece finalmente ser capaz de se aplicar a todas as obras de arte.
Tudo indica que isso não é verdade: há obras de música repetitiva em que o que
interessa é o mero efeito sonoro, assim como pinturas em que nada mais conta a não ser
Conclusão: esta teoria parece deixar de fora obras que são consideradas arte, embora
seja verdade que muita da arte imita ou representa algo. Contudo, isso é ainda
insatisfatório.
Ao contrário da teoria da imitação, esta teoria não encara a arte como uma espécie de
(fortemente influenciada pelo romantismo) encara a arte como um veículo para exprimir
emoções.
O que conta não é tanto a realidade exterior, mas os sentimentos que se encontram no
interior do artista. Era isso que interessava aos artistas românticos. Daí que a ideia de
" Trata-se de uma obra sem chama, sem qualquer interesse artístico.
Há diferentes versões da teoria da expressão, Tolstoi defende uma delas. Para ele a
arte é uma forma de comunicação. Mas a diferença entre, por exemplo, uma notícia de
jornal e a arte é que esta expressa sentimentos e não outra coisa qualquer.
A arte é um meio de unir as pessoas através desses sentimentos. Por isso há três
1. o artista
2. o público
A teoria implica também a autenticidade das emoções do artista, pois se assim não
passem do artista para o público de forma intencional e que tais sentimentos não sejam
não ser arte. Exemplo: contas à tua mãe a tristeza que sentes por o teu namorado ter
cortado contigo, esperando que ela sinta a tua tristeza. Transmites intencionalmente um
sentimento individualizado, mas ao fazê-lo não estás a criar uma obra de arte.
adequada de os transmitir.
O artista não se limita a apresentar os sentimentos tal como surgem: o seu trabalho é
clarificar sentimentos. Por isso se diz que a arte nos ensina algo.
conhecer o mundo interior, descobrindo o mundo das emoções e das suas variações. Por
necessária (embora não suficiente) para a arte, então há obras que são consideradas arte
mesmos sentimentos. Mas quando um ator de cinema está prestes a ser morto e isso
o mesmo sentimento?
necessária para a arte. Mas há obras de arte que provocam sentimentos no espectador
que o artista não teve realmente. O cinema está cheio de exemplos desses.
Outra objeção: clarificar emoções é uma condição necessária para a arte, diz o
estado bruto. Exemplos: música punk, filmes como Feios, Porcos e Maus.
Será que a arte exprime, ao menos, sentimentos? Isso é muito duvidoso, por exemplo,
que são geralmente consideradas arte. Porém, muita arte exprime sentimentos.
supunham. A teoria formalista tem em vista dar uma definição de arte que não exclua as
O filósofo e crítico de arte Clive Bell defendeu que as obras de arte são aquelas que
2. Diferentes obras de arte podem provocar diferentes emoções, mas essas emoções têm
A emoção estética é o ponto de partida porque é uma emoção que só temos quando
Mas as obras de arte não provocariam emoções estéticas em nós se não houvesse
formalista:
perfeitamente as personagens.
Objeção: há objetos que têm forma e a sua forma é significante mas não são
algo e não exibir a sua forma, como acontece com as obras de arte. As obras de arte são
Para o formalista, mesmo que uma pintura represente algo, tal facto é esteticamente
irrelevante.
Uma das vantagens desta teoria é que pode incluir todo o tipo de obras de arte. Desde
que provoque emoções estéticas, qualquer objeto é arte. O caráter restritivo das teorias
anteriores é ultrapassado.
Resposta: qualquer pessoa sensível percebe quando uma obra tem forma significante,
Objeção: dizer que as pessoas que não têm emoções estéticas perante certas obras de
arte são insensíveis à forma significante é apenas uma maneira de evitar dificuldades.
Por exemplo, que diferença existe entre a Caixa de Brillo de Andy Warhol e as caixas
escultura, na literatura, no cinema, na música, no teatro, etc. Ora, isso faz com que a
forma significante seja formada por um conjunto de características tão vasto que acaba
O formalista pode ainda dizer que a forma significante é a propriedade que provoca
em nós emoções estéticas. Mas isso levanta o problema de saber o que são emoções
estéticas. Só que não se pode agora dizer que uma emoção estética é aquele tipo de
circular.
É um facto que as pessoas de todos os países e épocas dão valor à arte. O que tem a
identificar uma qualquer característica empírica nas obras de arte que lhes confira valor.
O problema do valor da arte não deve ser confundido com o problema da avaliação
Os filósofos divergem em relação àquilo que torna uma obra de arte valiosa. Há dois
Esteticismo (ou teoria da arte pela arte): a arte tem valor em si mesma,
independentemente de quaisquer critérios exteriores.
A arte é inútil e não tem qualquer finalidade ou função, o que, segundo Oscar Wilde,
É certo que muitas obras de arte foram criadas com alguma finalidade (finalidades
religiosas, políticas, etc.), mas não é isso que as torna valiosas. Razão pela qual até um
Objeção: é uma teoria elitista, pois encara a arte como uma espécie de luxo a que só
algumas pessoas se podem dedicar. Mas a arte é valorizada por quase todas as pessoas.
Mas não são muitas as pessoas a dar valor à arte se, por exemplo, ela for
manifestamente imoral.
A teoria de que a arte tem valor em si mesma parece insatisfatória, pois as pessoas
não dão valor algo sem que haja alguma razão para isso.
Há várias teorias que defendem que a arte tem valor porque tem uma função importante.
Arte e prazer: a arte tem valor porque é um meio de nos proporcionar prazer.
Hume considerava que era a sensação de agrado que as obras de arte nos dão que as
Objeção: mas o simples agrado não pode explicar por que razão dá-mos tanto valor à
arte. Há muitas outras coisas que nos agradam e a que não atribuímos a mesma
importância: podemos ficar deliciados com uma tablete de chocolate mas não a
Outra objeção: há muitas obras de arte que não proporcionam prazer; algumas
provocam até sensações contrárias às de prazer, como sucede com os filmes de terror.
Ainda que a arte não tenha valor por proporcionar prazer, é um facto que muitas
Arte e moral: a arte tem valor porque exprime sentimentos que contribuem para o
progresso moral da humanidade.
considerava benéficas.
moralmente reprováveis.
Aristóteles considera, pelo contrário, que a imitação de tais modelos nos oferece a
possibilidade de, por um lado, exaltar os bons sentimentos e de, por outro, libertar os
Mas uma coisa é dizer que muitas obras de arte têm implicações morais, outra
diferente é afirmar que o valor da arte em geral reside na sua função moral. É esta
Para Tolstoi a arte não tem valor em si mesma, nem tem valor porque proporciona
prazer. A arte tem valor porque o artista apela à união entre as pessoas, contagiando-as
Objeção: como já se viu antes, muitas obras de arte nem sequer procuram exprimir
qualquer sentimento, pelo que também não podem ter uma função moral.
Resposta: essas obras são, de acordo com Tolstoi, obras de arte falhadas.
Entre as obras de arte falhadas, Tolstoi inclui óperas de Wagner e até dois dos seus
de a arte contribuir para aumentar o nosso conhecimento pode explicar o valor que lhe
atribuímos, pois o conhecimento é algo que valorizamos muito (mais do que o prazer e
do que o eventual conteúdo moral das obras de arte, o qual nem todas as pessoas
partilham).
Objeção: mas como pode um poema ou uma melodia ensinar-nos algo, uma vez que
o conteúdo dos poemas e melodias não é verdadeiro nem falso, como o das teorias
científicas.
Resposta: o conteúdo das obras de arte não deve ser interpretado em sentido literal.
metafórico e não literal. É desse modo que a arte consegue ensinar-nos algo que de
Além disso, a arte pode alargar o nosso conhecimento, pois enriquece muitos aspetos
da experiência humana, os quais acabam, por sua vez, por influenciar a maneira como
O conhecimento proporcionado pelas obras de arte pode não ser de tipo proposicional
(como o das teorias científicas), mas não deixa de ser conhecimento. Em vez de
conhecimento.
dos seus possíveis conteúdos materiais. Dentro da lógica existe também a lógica formal,
que é uma ciência que estuda as leis que permitem estruturar corretamente o nosso
suposição inicial, que pode ser um pressentimento, uma ideia, uma hipótese, para uma
estudados e induz que o que se verificou nos casos analisados também se verificará em
(premissas) e relacionadas entre si, retira uma conclusão que deriva logicamente das
primeiras.
são abrangidos por ele, ou seja, são os elementos da classe lógica que é definida pelo
conceito.
Ex: o conceito “ovo” abrange e estende-se a vários seres, pardais, melros, pintainhos,
(compreensão).
Estes conceitos estão dispostos por ordem decrescente quanto á extensão e por ordem
Ser
Ser vivo
Extensão
Animal
Vertebrado
Compreensão Mamífero
Cão
Assim sendo:
Proposição
Uma proposição/ juízo é uma frase ou enunciado que relaciona conceitos entre si,
Ex: A Física é uma ciência (é proposição porque relaciona entre si dois conceitos e tem
Argumento:
que uma delas é a conclusão que defendemos com base na outra ou nas outras, a que se
chamam as premissas.
Validade e verdade:
inválidos.
O que é a argumentação?
De certo modo, a argumentação é como a gramática: está sempre presente no nosso dia
a dia, sempre que pensamos e conversamos, mas não nos damos conta, geralmente, da
sua existência. Só ao estudar lógica somos levados a pensar diretamente em algo que
Tanto as ideias que queremos defender nos nossos argumentos como as razões que
exprimem proposições porque não exprimem pensamentos que possam ter valor de
verdade.
Como é evidente, uma pergunta não pode ser verdadeira nem falsa. E uma exclamação
também não pode ser verdadeira nem falsa; nem uma promessa ou uma ordem. Uma
promessa, por exemplo, pode ser cumprida ou não, e pode ser feita com a intenção de a
cumprir ou não; mas não pode ser verdadeira nem falsa. Só as frases declarativas podem
exprimir proposições.
Não faz sentido dizer que a exclamação «Quem me dera ir a Marte!» é falsa ou
verdadeira, mas faz sentido perguntar se a frase declarativa «Há gelo em Marte» é
verdadeira ou falsa.
Uma frase é uma sequência de palavras que podemos usar para fazer uma asserção
Está a chover.
Se vieres comigo.
Ou te calas ou.
Para compreender o que é um argumento vamos começar por ver o seguinte exemplo:
podem ter apenas uma premissa, ou mais de duas; contudo, só podem ter uma
conclusão.
Uma premissa é uma proposição usada num argumento para defender uma
conclusão.
premissas.
necessário que essas proposições tenham uma certa estrutura: é necessário que uma
delas exprima a ideia que se quer defender (a conclusão), e que a outra ou outras sejam
Se nos limitarmos a apresentar ideias, sem as razões que as apoiam, não estamos a
outras pessoas não terão qualquer razão para aceitar as nossas ideias. Argumentar é
conclusões de premissas.
A distinção validade-verdade
Os argumentos podem ser válidos ou inválidos, mas não podem ser verdadeiros nem
falsos.
As proposições podem ser verdadeiras ou falsas, mas não podem ser válidas nem
inválidas.
Este é um uso especializado da palavra «validade». Este uso da palavra, que se faz em
lógica e filosofia, é diferente do uso popular, que se faz no dia a dia. No dia a dia diz-se
que uma proposição é válida querendo dizer que é interessante ou verdadeira. E diz-se
que um argumento é verdadeiro quando é correto. Mas este uso tem de ser abandonado
verdade.
ou falsas. Mas isto é diferente de dizer que o próprio argumento é verdadeiro ou falso.
Os argumentos não podem ser verdadeiros nem falsos porque não são proposições; e
Não é necessário definir a noção de verdade. A noção normal, que usamos no dia a dia,
é suficiente.
inocentes por prazer» só é verdadeira se é errado torturar crianças inocentes por prazer.
Mas temos de definir a validade, pois trata-se de uma noção central da lógica, e uma
dedutiva e a não dedutiva. Para já, vamos falar apenas da validade dedutiva. A
FALACIAS INFORMAIS)
Não é difícil ver que é impossível a premissa ser verdadeira e a conclusão falsa, ao
mesmo tempo. É isto que é a validade dedutiva.
Um argumento dedutivo é inválido quando é possível que as suas premissas sejam
e a conclusão falsa.
Este argumento também é dedutivamente válido. Não é difícil ver que é impossível a
Mas é óbvio que tanto a premissa como a conclusão deste argumento são falsas. Isto não
contraria a definição de validade dedutiva. Pois desde que seja impossível que as
dedutivamente válido — mesmo que todas as suas premissas sejam falsas e mesmo que
única coisa que não pode acontecer num argumento dedutivamente válido.
dedutiva correta; mas, só por si, esse elemento é insuficiente para a argumentação
dedutiva correta.
Eis uma comparação útil: o processo de fazer um bolo, o modo como se misturam os
ingredientes, é importante para a qualidade do bolo. Mas só por si não chega, pois por
mau. Mas se os ingredientes forem bons e os misturarmos mal, o bolo será também
mau. Por isso, precisamos das duas coisas: bons ingredientes e bons processos de
A validade de um argumento sem a verdade das suas premissas tem como resultado
um mau argumento.
A verdade das premissas de um argumento sem a sua validade tem como resultado
um mau argumento.
um argumento não deixa de ser válido por não ter premissas verdadeiras. Retomemos os
O segundo argumento conclui falsamente que Platão era lisboeta e o primeiro conclui a
verdade; mas ambos são válidos. O problema do segundo argumento não é faltar-lhe a
Quando um argumento não é sólido, ainda que seja válido, a sua conclusão tanto pode
ser verdadeira como falsa. Mas se um argumento for sólido, a sua conclusão é
verdadeira.
um argumento tiver uma dada estrutura, será impossível ter premissas verdadeiras e
conclusão falsa. Assim, a validade e a verdade são coisas diferentes, mas estão
Fala-se por vezes de dedução. Uma dedução é um argumento cuja validade pode ser
Em suma,
Forma lógica
aos dois argumentos. Na realidade, a única diferença é que o primeiro fala de gregos e o
Além disso, não é difícil ver que tanto faz falar de gregos, lisboetas, franceses ou
Por mais tolas que sejam a premissa e conclusão, o argumento é válido desde que tenha
É evidente que dizer «Platão e Sócrates eram gregos» é apenas uma forma abreviada e
— e __.
Logo, —.
(Também não é difícil ver que se a conclusão repetir o que vem depois do «e», o
P e Q,
Logo, P.
ocupados por proposições. Se P for a proposição expressa pela frase «Platão era grego»
e se Q for a proposição expressa pela frase «Sócrates era grego», obtemos o primeiro
apresentados são válidos porque todos têm a mesma forma lógica válida.
sua forma lógica; é por isso que se chama «formal». A lógica informal estuda
argumentos cuja validade não depende exclusivamente da sua forma lógica; é por isso
Logo
Então
Daí que
Assim
Portanto
Por isso
Segue-se que
Por consequência
Por conseguinte
Infere-se que
Consequentemente
É por essa razão que
Contudo
Indicadores típicos de premissa:
Porque
Pois
Ora
Se
Uma vez que
Posto que
Visto que
Tendo em conta que
Em virtude de
Devido a
Considerando que
Dado que
Por causa de
Como
A razão é que
Dedução e Indução
Dedução
A dedução é uma operação mental pela qual se conclui de uma ou mais premissas,
O valor da dedução esta em ser rigorosa, dado que para alem de obedecer a regras
formais, acaba por dizer na conclusão algo, cerca de alguns, que se encontrava já
de não ampliar conhecimentos visto que aquilo que se afirma na conclusão estava já
Indução
particulares, conclui uma lei geral, aplicável a todos os casos da mesma espécie.
Argumento e proposição
Todos estes conceitos foram
Forma e conteúdo abordados de forma geral ao
Validade e verdade longo deste tema, tendo sido
definidos
Dedução e indução
Idade Média. A parte da lógica aristotélica que vou abordar é a lógica silogística, que se
«silogismos».
formas lógicas:
1. Todos os A são B.
2. Nenhum A é B.
3. Alguns A são B.
4. Alguns A não são B.
Estas proposições são classificadas como se segue:
As proposições destes tipos incluem sempre dois termos. O termo sujeito é aquele que
ocupa o lugar de A. O termo predicado é aquele que ocupa o lugar de B. E diz-se que
Uma proposição é particular quando abrange apenas uma parte da extensão do termo
sujeito.
determinado termo sujeito. As proposições podem ser afirmativas (as de tipo A e de tipo
Nem sempre as proposições aparecem na sua forma canónica. Por exemplo, a frase
«Há homens mortais» exprime uma proposição de tipo I, mas não está na forma
são B»), teríamos de a exprimir através da frase «Alguns homens são mortais».
Teoria do silogismo
por três proposições categóricas (que afirmar ou negam algo de forma absoluta e
Além de terem duas premissas e unicamente proposições de uma das quatro formas
Assim,
médio é «portugueses».
apresentar as premissas pela ordem correta. A premissa maior deve estar sempre acima
silogística.
Os silogismos têm uma dada forma lógica. Para representar essa forma lógica, temos
1. 2.
Todos os anfíbios são vertebrados. Todos os portugueses são europeus.
Todas as rãs são anfíbios. Todos os vimaranenses são portugueses.
Logo, todas as rãs são vertebrados. Logo, todos vimaranenses são europeus.
Todos os A são B.
Todos os C são A.
Logo, todos os C são B.
examinar apenas a sua forma. Os argumentos 1 e 2 têm uma forma silogística válida,
dedutiva.
Um silogismo é válido se, e apenas se, satisfaz todas as regras da validade silogística.
As regras da validade silogística distribuem-se por dois grupos: as regras para termos
(três regras) e as regras para proposições (quatro regras). Comecemos com as regras
para termos:
Regra 1: Um silogismo tem de ter exatamente três termos: termo maior, menor e
médio.
Por vezes, um silogismo tem «disfarçadamente» mais de três termos, quando um dos
Neste caso, o termo «margaridas» é usado em dois sentidos diferentes (valendo por
Assim, o silogismo não é válido porque tem quatro e não três termos.
Regra 2: O termo médio tem de estar distribuído pelo menos uma vez.
Por exemplo, na afirmação «todos os cães são carnívoros», o termo «cães» está
distribuído pois estamos a referir-nos a todos os cães. Mas o termo «carnívoros» não
concluir que nas proposições de tipo A o termo sujeito está distribuído mas o termo
predicado não.
Para sabermos se, numa das proposições reconhecidas pela lógica aristotélica, o termo
Este silogismo é inválido, porque o termo médio «obras literárias», nunca está
distribuído, pois em ambas as premissas é predicado numa proposição de tipo A.
nas premissas.
negativa.
afirmativas.
Regra 7: A conclusão tem de seguir a parte ou premissa mais fraca. A parte mais
fraca é a negativa e/ou a particular. Se uma premissa for negativa, a conclusão tem
de ser negativa; se uma premissa for particular, a conclusão tem de ser particular.
negativa.
Este silogismo é inválido porque a conclusão é universal, mas uma das premissas é
particular.
Convém nunca esquecer que na lógica aristotélica não se pode usar classes vazias.
com mais de 10 metros de altura», «marcianos», etc., não podem ser analisados
recorrendo à lógica aristotélica. Nos casos em que não sabemos se uma classe é vazia ou
não (como a classe dos extraterrestres inteligentes) também não podemos usar a lógica
verdade da universal afirmativa «Todos os marcianos são portugueses» não nos obriga a
concluir que alguma vez tenham existido seres da classe dos marcianos. Deste modo,
Figuras do Silogismo
Silogismo da 1ª figura
Silogismo da 2ª figura
Silogismo da 3ª figura
Silogismo da 4ª figura
M M M M Maior
Algum norte-americano não é europeu.
M
Figuras segundo “SOFIA DANÇA COM ZE”
M Premissa
M M
Maior
S ] [ Z
Falácias silogísticas
1. Falácia dos quatro termos: falácia que ocorre quando um silogismo tem mais de
2. Falácia do médio não distribuído: esta falácia ocorre num silogismo cujo termo
3. Falácia da ilícita maior: ocorre num silogismo quando o termo maior está
4. Falácia da ilícita menor: ocorre num silogismo quando o termo menor está
2. Argumentação e retórica
Demonstração e argumentação
Logo, é H2O.
2) Se os animais não têm deveres, não têm direitos.
Os animais não têm deveres.
Logo, não têm direitos.
Contudo, as premissas dos dois argumentos são muito diferentes. No argumento 1, trata-
argumento 2 é muitíssimo disputável. Até pode ser verdadeira, mas não é uma verdade
Uma dedução é um argumento que, dadas certas coisas, algo além dessas coisas
necessariamente se segue delas. É uma demonstração quando as premissas das quais a
dedução parte são verdadeiras e primitivas, ou são tais que o nosso conhecimento delas
teve originalmente origem em premissas que são primitivas e verdadeiras; e é uma
dedução dialética se raciocina a partir de opiniões respeitáveis.
Aristóteles, Tópicos, p. 100a
estabelecidas e indisputáveis.
Quando temos uma demonstração, no sentido de Aristóteles, nada mais há para discutir:
a conclusão.
Claro que o ideal seria encontrar sempre premissas indisputáveis para os nossos
argumentos; mas isso nem sempre é possível. E quando não é possível, temos de nos
conseguirmos encontrar.
Isto, por sua vez, significa que esses argumentos não são conclusivos. É sempre possível
(com outros argumentos) que a primeira premissa é falsa. A esta troca de argumentos
chama-se argumentação.
Uma demonstração, neste sentido, é o ponto final da argumentação. Mas não podemos
esquecer que o que está demonstrado foi originalmente estabelecido por argumentação;
Em conclusão:
Argumentação
Utiliza a retórica e a dialética;
É pessoal, dirige-se a indivíduos para obter a sua adesão;
É necessariamente situada, já que o orador depende do auditório;
Persuadir outrem exige: reconhecê-lo como interlocutor, agir sobre ele
intelectualmente e não pela força, tem de ter em conta as reações para adaptar o
discurso;
Não é um monólogo mas um diálogo;
Pretende um efeito imediato ou, no mínimo, predispor a uma ação eventual;
O auditório e as premissas
Este é um argumento válido. Mas será sólido? Não sabemos, porque pelo menos a
Será o argumento nesse caso bom? Não. O argumento não é bom porque não tem em
O auditório são as pessoas com quem estamos a falar, ou para quem estamos a
escrever.
O argumento não tem em conta o estado cognitivo do auditório porque a sua conclusão
é mais evidente e menos disputável, para qualquer pessoa, do que as suas premissas.
argumento é mau porque as premissas não são mais plausíveis, seja para quem for, do
Diz-se, assim, que o argumento é fraco ou não é bom porque as suas premissas não são
menos plausível. Argumentar bem implica descobrir bons argumentos a favor de uma
ideia baseados em premissas que quem é contra essa ideia está disposto a aceitar.
Alguns argumentos são maus ou bons para quaisquer pessoas, como o argumento acima.
Mas outros argumentos poderão ser bons para certas pessoas e maus para outras.
Por exemplo:
Se o Papa defende que não devemos tomar a pílula, não devemos tomar a pílula.
O Papa defende que não devemos tomar a pílula.
Contudo, para um católico este argumento é bom, desde que ele aceite a primeira
premissa e a ache mais plausível do que a conclusão. Mas para uma pessoa que não
partilhe as suas crenças religiosas, o argumento é fraco, pois essa pessoa não aceita a
primeira premissa (apesar de ser possível que essa premissa seja verdadeira, sem que ela
o saiba).
irrelevante». Assim, uma inferência como «Está a chover; logo, está a chover», apesar
Em conclusão:
Lógica Formal/Dedutiva/Demonstrativa:
- Objetivo: estudo da validade dos argumentos segundo a sua forma;
- Distingue argumentos válidos de inválidos;
- Há uma relação de necessidade entre as premissas e conclusão. Se a forma do
argumento é válida e se as suas premissas são verdadeiras, a conclusão tem de ser
verdadeira;
- Um argumento sólido (válido com premissas verdadeiras) não pode ser refutado;
- O estudo da validade prescinde de referências ao conteúdo das proposições e ao
contexto da argumentação (na qual um orador tenta persuadir um auditório);
- Procura argumentos válidos, mas sobretudo sólidos (com premissas verdadeiras)
- As regras derivam de sistemas formais.
Lógica Informal/Indutiva/Argumentativa:
- Objetivo: estudo dos argumentos fortes (argumentos que, apesar de inválidos, dão
algum sustento à conclusão) e dos seus graus;
- Distingue graus de força dos argumentos;
- Um argumento forte com premissas verdadeiras justifica, mas não garante a verdade
da conclusão;
- A conclusão do argumento forte é apenas provável ou plausível. Está sempre aberta a
possibilidade de ser refutada;
- O estudo da força dos argumentos não prescinde de referências ao conteúdo das
proposições e ao contexto da argumentação (em que um orador tenta persuadir um
auditório);
- Procura a adesão do auditório, mas sobretudo no discurso argumentativo filosófico,
preocupa-se com a questão da verdade para lá da adesão;
- As regras não derivam de sistemas formais e pode haver argumentos com a mesma
forma e graus de força diferentes.
Ethos, pathos e logos
Responsável
Segundo Aristóteles, o orador necessita de dar a impressão de uma pessoa que integra
3 características essenciais:
Excelência e benevolência – estas devem associar-se à razão para mostrar que o orador
não deturpa os acontecimentos, não tem ideias reservadas ou segundas intenções, nem
auditório)
racional)
Refere-se àquilo que é dito, ao discurso argumentativo, aos argumentos que o orador
É o aspeto mais desenvolvido por Aristóteles (segundo ele, é o que deve prevalecer
num discurso).
2. Argumentação e retórica
que nos informais a sua validade não depende exclusivamente da sua forma lógica.
verdadeiras e a sua conclusão falsa. Mas nos argumentos não dedutivos válidos não é
impossíveis as suas premissas serem verdadeiras e a sua conclusão falsa; é apenas muito
improvável.
da sua conclusão. Mas um argumento não dedutivo válido com premissas verdadeiras
Alguns argumentos dedutivos são informais, mas outros são formais. Os argumentos
1. Induções;
3. Argumentos de autoridade.
seguinte género:
Para que uma generalização seja válida tem de obedecer a algumas regras. Por
exemplo, os casos em que se baseia têm de ser representativos e não pode haver
os meus amigos vão regularmente ao cinema viola estas duas regras: os meus amigos
não são representativos dos portugueses em geral e há portugueses que não gostam de
Num argumento por analogia pretende-se concluir que algo é de certo modo porque
esse algo é análogo a outra coisa que é desse modo. Por exemplo:
ditas. Uma analogia é apenas uma semelhança entre coisas; os argumentos por analogia
baseiam-se nesta desejada semelhança, mas não são, eles mesmos, analogias. Como se
pode ver, nos argumentos por analogia uma das premissas é uma analogia.
Este argumento é problemático, pois a analogia entre casas e o mundo não é mais
numa analogia mais plausível do que a hipótese de a conclusão ser verdadeira. Contesta-
se um argumento por analogia tentando mostrar que há diferenças entre as duas coisas
exemplo seguinte:
autoridade são quase sempre falaciosos, dado que os filósofos discordam quase sempre
Em conclusão:
Diferença fundamental entre os argumentos formais e informais:
- A razão oferece regras especiais para realizar uma dedução e, se tais regras não forem
respeitadas, a dedução será considerada inválida.
Indução:
- raciocínio lógica e formalmente inválido (sendo a sua fundamentação um problema
clássico da filosofia)
- partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e procuramos a lei geral, a
definição geral ou a teoria geral que explica e subordina todos esses casos particulares.
- a verdade das premissas não garante a verdade da conclusão, mas tão só esta pode ser
dita provável ou plausível
- a sua aceitação depende do grau de força do argumento
Generalização:
Consiste em atribuir a todos os casos possíveis de certo tipo aquilo que se verificou em
alguns casos desse tipo. A generalização justifica, portanto, uma conclusão universal a
partir de premissas menos gerais. As premissas são menos abrangentes que a conclusão.
Ex.:
Todos os corvos observados até hoje são pretos.
Logo, todos os corvos são pretos.
A generalização não garante a verdade da conclusão, pois a conclusão é mais geral do
que a premissa. Só podemos considerá-la muito provável.
Regras:
A amostra deve ser relevante.
A relação entre o conteúdo das premissas e o conteúdo da conclusão deve ser
representativa de toda a classe.
- a amostra deve representar toda a classe e não apenas algumas das suas espécies
- a conclusão não pode esquecer aspetos significativos e já conhecidos da classe
A amostra deve ser ampla.
- Quanto maior for a amostra observada, mais forte o argumento será
Não omitir informação relevante
- Um argumento, mesmo sendo baseado numa amostra grande e relevante, será mau
se omitir informação relevante.
Consequências:
Falácias:
Falácia da generalização precipitada ou amostra insuficiente:
Ocorre quando os casos em que nos apoiamos não são representativos, ou seja, baseia-
se num número muito limitado de casos.
É uma violação da regra: a amostra deve ser ampla
Previsão:
As premissas baseiam-se no passado e a conclusão é um caso particular.
Ex.:
Todos os corvos observados até hoje são pretos.
Logo, o próximo corvo que observarmos será preto.
Num argumento dedutivo válido é impossível que as suas premissas sejam verdadeiras e
a conclusão falsa. Num argumento não dedutivo válido não é impossível que as suas
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa; é apenas muito improvável. Assim, um
argumento dedutivo válido com premissas verdadeiras garante a verdade da sua
conclusão, enquanto que um argumento não dedutivo válido com premissas verdadeiras
torna provável, mas não garante, a verdade da sua conclusão. Todos os argumentos não
dedutivos são informais.
lógica. As falácias informais são erros de raciocínio que não resultam exclusivamente
Este argumento é dedutivamente válido, mas esconde uma falácia: a primeira premissa é
Como é evidente, do facto de nunca se ter provado que há extraterrestres nada se segue:
não se segue que há nem que não há extraterrestres. Uma forma menos óbvia de
Os filósofos nunca conseguiram provar que Deus existe nem que não existe.
Logo, não se pode provar que Deus existe nem que não existe.
Devia ser óbvio que se trata de uma falácia. Na véspera da descoberta da cura da
tuberculose as pessoas também poderiam ter dito que era impossível curar a
favor da ideia de que é impossível provar que Deus existe ou que não existe. Mas este é
falacioso.
A falácia da petição de princípio ocorre sempre que se admite nas premissas o que
Deus existe.
Logo, Deus existe.
Este tipo de argumento é sempre falacioso, apesar de dedutivamente válido, dado que a
Normalmente, esta falácia não é formulada de forma tão evidente. Em vez disso, a
A falácia de apelo à força, é o argumento que recorre a forças de ameaça como meio
habitualmente em tentar convencer alguém a fazer algo com base no estado lastimoso
argumento não tem qualquer relevância relativamente ao que está em causa. Por
exemplo:
Este argumento é um apelo ilegítimo à misericórdia porque as notas são atribuídas não
em função do esforço do estudante mas sim dos resultados, tal como numa prova
desportiva.
pretende mostrar que uma afirmação é falsa atacando e desacreditando a pessoa que a
emite.
O Roberto disse que amanhã não há aulas, mas de certeza que há porque ele é mal
criado e um grande preguiçoso.
A falácia Post hoc, consite em ver uma relação de sequencia causal (causa/efeito)
Francisco diz: - Acho que hoje me vai correr mal o teste de Filosofia.
Ana diz: - Porquê?
Francisco diz: - Porque fui ao futebol e o meu clube perder.
3. Argumentação e Filosofia
A Pólis grega
pública se encontravam nas mãos dos cidadãos. No entanto, o conceito de cidadão não
era tão vasto como hoje em dia, sendo que apenas um décimo da população era
considerado cidadão. Para se obter o estatuto de cidadão não se podia ser mulher,
Nessa sociedade fazer parte da vida política era uma espécie de obrigação para qualquer
cidadão. Todos os cidadãos reuniam-se em assembleia popular para decidirem por eles
resolver os problemas.
A democracia grega apresenta-se como uma base para as democracias atuais, embora
A argumentação racional, logos, era a chave da autoridade, sendo que quem exercia
o poder político necessitava sempre apresentar razões aceitáveis;
Existia uma relação intrínseca entre cidadania e participação,
Havia a submissão à lei e não a uma pessoa;
Dava-se grande importância à educação cívica e solidariedade.
Ao longo da história, a convivência entre retores e filósofos nem sempre foi fácil,
problemas da cidade.
A via da filosofia
Parménides segue a via abstrata da reflexão pura. Investe e confia no poder que a razão
A via da retórica
(antrophos = homem). Consideravam que a única via para a verdade era a investigação
Nesta altura a retórica é vista como uma prática ajustada às necessidades do tempo.
Os sofistas apareceram no final do séc. V a.C., numa época em que a vida democrática
enraizadas.
arte da política e as qualidades que os homens devem possuir para serem bons cidadãos.
Andam de cidade em cidade proporcionando aos jovens que desejam alargar os seus
vida política. Voltavam-se para a formação prática dos homens, tentando torná-los bons
retórica e filosofia.
expor, argumentar e convencer. A verdade torna-se assim subjetiva e relativa a cada um.
relativas, faz com que os sofistas comecem a ser expulsos do grupo dos filósofos.
Apesar de tudo, hoje em dia considera-se que o mérito dos sofistas reside na sua
tradição.
A retórica não é tida só como a arte de bem falar, mas também como a teoria dessa
mesma arte. Aristóteles classifica os saberes em t rês grupos, de acordo com a sua
finalidade:
meios de prova específicos. Nas ciências teoréticas utiliza-se a intuição para a dedução
lógica de afirmações, e nas ciências práticas usa-se a retórica. Sendo assim, o campo da
Retórica e oratória
Após a morte de Platão e Aristóteles dá-se na Grécia uma decadência política e social
pessoas.
Com a decadência política e social dos gregos e a sua anexação ao Império Romano,
a retórica passa a ser cultivada como oratória, a arte de bem orar e discursar, sendo
utilizada pela sua organização formal e recursos estilísticos que embelezam o discurso.
Uma vez que na democracia todos os homens devem tomar parte ativa na resolução
dos problemas postos pela vida em comum, a argumentação é t ida como o processo
Em conclusão:
Há uma ligação natural entre o nascimento da filosofia e um clima social e político que
favorecia a discussão pública de ideias. Contudo, ao longo da história, tanto a filosofia
como as ciências foram cultivadas em regimes contrários à liberdade de estudo e
pensamento.
3. Argumentação e Filosofia
O bom uso da retórica consiste em permitir ao auditório decidir por ele mesmo de um
O mau uso da retórica é quando o auditório não é deixado a decidir livremente, mas
Persuasão
Persuadir consiste em convencer alguém a aceitar ou a decidir-se por algo sem que
emocionais.
A aceitação de uma doutrina passa, por vezes, não só por aquilo que consideramos
verdadeiro mas também pelo que é do nosso agrado. Para isso, o orador serve-se do
logos, ethos e pathos. Apoia-se na força dos seus argumentos logos, na credibilidade da
O fenómeno da persuasão dá-se por 6 etapas, que no seu conjunto formam um todo
indivisível:
televisão,...
2. Atenção à mensagem: a atenção é seletiva. Não basta ser exposto à mensagem para
Aceitação da mensagem:
auditório.
o orador, munido de ideia que não apresenta a discussão, concentra os seus esforços no
desenvolvimento de técnicas adequadas à sua imposição. Faz dos seus pontos de vista
autênticos dogmas.
Erro: o erro é factual. Errar é dizer uma falsidade sem se ter consciência disso, é estar-
Mentira: a mentira é psicológica. Mentir consiste em dizer uma falsidade com intenção
Engano: o engano é psicológico e factual. Enganar pressupõe mentir e que essa mentira
seja aceite pelo auditório, ou seja, ele adire à falsidade apresentada. O engano já
pressupõe manipulação.
Para isso deve respeitar-se certos princípios que foram sendo enunciados por diversos
direção.
Princípio da coerência: os participantes devem manter-se fiéis aos pontos de vista que
dizer.
discussão.
Em conclusão:
Persuadir alguém é fazer essa pessoa mudar de ideias.
3. Argumentação e Filosofia
Platão afirma que há dois usos distintos da retórica, um bom e um mau uso e se o
bom uso consiste em usar a capacidade persuasiva do discurso para dizer o que é
O pressuposto de que Platão parte é que há de facto uma verdade e que ela é a
apenas um reflexo ou uma cópia. Para Platão existe uma verdade universal e absoluta a
respeito de cada assunto, quando o nosso discurso traduz adequadamente essa realidade
ideal. Neste contexto a retórica só será legítima quando o orador colocar a sua
verdade universal.
refere aos valores morais e políticos, não existe “verdade” segura e unívoca; existem
direito de quem está convencido da qualidade da sua perspetiva são usar uma
sofistas a “verdade filosófica” é múltipla pois, sendo humana nunca é certa senão para
conhecermos tal como ela é, tem interessado os filósofos desde os gregos e continua em
de todos nós.
Se qualquer filósofo:
Não pode impor as suas ideias aos outros nem pela força ou pela violência;
Então ele não pode pôr de lado a retórica, pois o que ele pode fazer é por
opiniões, procurando persuadir o seu auditório da verdade dessas teses ou, pelo
Claro que nada nos garante que a habilidade retórica não seja usada para manipular
apurado sentido crítico e de uma capacidade argumentativa que nos permita conhecer
Em conclusão:
Se o estudo for livre e as capacidades críticas das pessoas forem estimuladas e bem-
vindas, os argumentos falaciosos, por mais atraentes que sejam, acabarão por ser
denunciados, no processo de avaliação crítica de ideias.
Se o estudo for iniciático, se os estudantes e os professores forem encorajados a
seguir Gurus e Mestres, mas não a pensar por si, quaisquer ideias serão aceites como
Verdades Absolutas, dado que ninguém terá coragem de as criticar — por mais que os
argumentos que as sustentam sejam maus.
Tipos de conhecimento
Que tipos de conhecimento há? Saber tocar piano, por exemplo, não é como saber que
os pianos têm teclas. Nesta secção, vamos distinguir alguns tipos de conhecimento.
Saber andar de bicicleta é diferente de saber que andar de bicicleta é saudável. Mas
existe algo em comum entre estes tipos de conhecimento: nos dois casos há um sujeito
Por exemplo:
Ambas as frases exprimem uma relação de conhecimento entre o João e as coisas que
coincidem, pois o João também sabe que ele próprio existe, por exemplo, ou que se
chama «João».
chamam «saber-fazer».
Saber andar de bicicleta não é como conhecer Luís Figo. O objeto de conhecimento no
caso 2 é um objeto concreto (Luís Figo) e em 1 é uma atividade. Além disso, conhecer
Luís Figo é ter algum tipo de contacto direto com ele, conhecê-lo pessoalmente.
Podemos saber muitas coisas sobre Luís Figo, mas se não o conhecermos pessoalmente
cidade, por exemplo. Podemos saber muitas coisas sobre Paris, mas se nunca lá fomos,
não dizemos que conhecemos Paris. A este tipo de conhecimento que temos quando
conhecemos uma pessoa, uma cidade, etc., chama-se conhecimento por contacto.
Alguns filósofos, como Bertrand Russell, defendem que não conhecemos realmente
por contacto uma cidade ou uma pessoa, mas apenas as sensações que temos de uma
por contacto, o objeto é uma pessoa ou lugar (um objeto concreto). No caso do saber-
Quando dizemos que o João sabe que Londres é uma cidade, o que o João sabe é que a
proposição expressa pela frase que está depois da palavra «que» («Londres é uma
cidade») é verdadeira. Por outras palavras, saber que Londres é uma cidade ou que Luís
Figo é um jogador de futebol é saber que é verdade que Londres é uma cidade ou que
que.
Aprendemos que qualquer número multiplicado por zero dá zero, que D. Afonso
Henriques foi o primeiro rei de Portugal, que o Sol é uma estrela, que Portugal fica no
Não é portanto de estranhar que os filósofos tenham centrado a sua atenção nesta noção
de conhecimento. Por este motivo, iremos também centrar a nossa atenção neste tipo de
conhecimento.
A definição de conhecimento
Conhecimento e crença
coisas que conhecemos para identificarmos o que há de comum entre elas. A primeira
coisa que podemos constatar é que o conhecimento é uma relação entre o sujeito do
Uma crença (ou convicção ou opinião) é também uma relação entre o sujeito que tem a
crença e o objeto dessa crença. Por «crença» os filósofos não querem dizer unicamente
a fé religiosa, mas sim qualquer tipo de convicção que uma pessoa possa ter. Por
exemplo, podemos acreditar que Aristóteles foi um filósofo, ou podemos acreditar que a
Dado que tanto a crença como o conhecimento relacionam um agente cognitivo com
Por outras palavras, quando sabemos algo, acreditamos nesse algo. Uma razão para
dizer isto é que as afirmações do género das seguintes são contraditórias, num certo
sentido:
Estas afirmações são contraditórias num certo sentido porque não parece possível saber
algo sem acreditar no que se sabe. Assim, diz-se que a crença é uma condição
Por exemplo, viver em Portugal é uma condição necessária para viver em Lisboa porque
todas as pessoas que vivem em Lisboa vivem em Portugal. E viver em Portugal é uma
condição suficiente para viver na Europa porque todas as pessoas que vivem em
Eis então aquilo que descobrimos até agora acerca da natureza do conhecimento:
Por exemplo, se o João souber que a neve é branca, então acredita que a neve é branca.
Mas será a crença uma condição suficiente para o conhecimento? Evidentemente que
não, dado que as pessoas podem acreditar em coisas que não podem saber,
nomeadamente falsidades. Uma pessoa pode acreditar que existem fadas, por exemplo,
mas não pode saber que existem fadas porque não há fadas.
Como a crença é uma condição necessária mas não suficiente para o conhecimento, a
coisa. Se tivermos descoberto uma condição necessária mas não suficiente, continuamos
Por exemplo, uma condição necessária para ser um ser humano é ser um hominídeo.
Mas não é uma condição suficiente, dado que muitos hominídeos não são seres
humanos. Outra condição necessária para ser um ser humano é ser racional; mas
também não é suficiente, dado que poderão existir seres racionais extraterrestres, por
exemplo, e eles não serão seres humanos. Mas se juntarmos as duas condições
necessárias, obtemos uma condição suficiente, pois basta ser racional e um hominídeo
É isso que iremos fazer em relação à definição de conhecimento. Dado que ser uma
crença é uma condição necessária mas não suficiente de conhecimento, vamos ver se
haverá outras condições necessárias para o conhecimento que em conjunto sejam uma
condição suficiente.
Conhecimento e verdade
Alguns termos da linguagem são factivos. Por exemplo, o termo «ver» é factivo. Isto
quer dizer que se o João viu a Maria na praia, a Maria estava efetivamente na praia. Se a
Maria não estava na praia, o João não a viu lá — apenas pensou que a viu lá, mas
enganou-se.
O mesmo acontece com o conhecimento. Se o João sabe que a Maria está na praia, a
Maria está na praia. Se a Maria não está na praia, o João não pode saber que a Maria
está na praia — pode pensar, erradamente, que a Maria está na praia, mas isso será
apenas uma crença falsa. Como é óbvio, nenhuma crença falsa pode ser conhecimento,
mesmo que a pessoa que tem essa crença pense, erradamente, que é conhecimento.
Dizer que não se pode conhecer falsidades não é o mesmo que dizer que não se pode
saber que algo é falso. As duas coisas são distintas. Vejamos os seguintes exemplos:
afirmação 2 viola a factividade do conhecimento: a Mariana não pode saber que o céu é
Dizer que o conhecimento é factivo é apenas dizer que sem verdade não há
conhecimento.
Não se deve confundir as seguintes duas coisas: pensar que se sabe algo e saber
realmente algo. Se de facto soubermos algo, então temos a garantia de que isso que
sabemos é verdade. Mas podemos pensar que sabemos algo sem o sabermos de facto.
Por exemplo, no tempo de Ptolomeu pensava-se que a Terra estava imóvel no centro do
universo. E as pessoas estavam tão seguras disso que pensavam que sabiam que a Terra
Contudo, mais tarde descobriu-se que essas pessoas estavam enganadas: elas não
sabiam tal coisa, apenas pensavam que sabiam. Claro que quando hoje pensamos que
sabemos que essas pessoas estavam enganadas, podemos também estar enganados.
Será que basta que uma crença seja verdadeira para ser conhecimento?
Por outras palavras, será que uma crença verdadeira é suficiente para o conhecimento?
Catarina: Acabei de jogar no totoloto, e algo me diz que é desta que vou ganhar.
João: Espero que sim!
Alguns dias depois...
Catarina: João, ganhei o totoloto! Não te disse que sabia que ia ganhar o totoloto?
João: Parabéns Catarina! Mas como podias saber tal coisa? Não quererás antes dizer
que tinhas uma forte convicção de que ias ganhar?
Catarina: Bom, saber, saber, não sabia. Mas achava que sim, e a verdade é que isso
acabou por se verificar.
João: Mas isso só quer dizer que tinhas uma crença verdadeira. Mas será que tinhas de
facto conhecimento? Sabias mesmo que ias ganhar o totoloto? É que se soubesses, não
Do facto de a crença da Catarina se ter revelado verdadeira não se segue que ela
soubesse que ia ganhar o totoloto. Crenças que por acaso se revelam verdadeiras não
João lhe perguntava qual a raiz quadrada de quatro. Imagine-se que ele achava que era
dois, mas não tinha a certeza. Será que ele sabia qual é raiz quadrada de quatro, ou será
que ele apenas teve sorte ao acertar na resposta? Para haver conhecimento uma pessoa
não pode apenas ter sorte em acreditar no que é efetivamente verdade; tem de haver
algo mais que distinga o conhecimento da mera crença verdadeira. Para haver
conhecimento, aquilo em que acreditamos tem de ser verdade, mas podemos acreditar
Portanto, nem todas as crenças verdadeiras são conhecimento. Por outras palavras:
Conhecimento e justificação
um dos seus diálogos mais importantes. É nele que se encontra a definição clássica de
Sócrates: Diz-me, então, qual a melhor definição que poderíamos dar de conhecimento,
para não nos contradizermos?
[...]
Teeteto: A de que a crença verdadeira é conhecimento? Certamente que a crença
verdadeira é infalível e tudo o que dela resulta é belo e bom.
[...]
Sócrates: O problema não exige um estudo prolongado, pois há uma profissão que
mostra bem como a crença verdadeira não é conhecimento.
Teeteto: Como é possível? Que profissão é essa?
Sócrates: A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados.
Tais indivíduos, com a sua arte, produzem convicção, não ensinando mas fazendo as
pessoas acreditar no que quer que seja que eles queiram que elas acreditem. Ou julgas tu
que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concebido pela clepsidra sejam
capazes de ensinar devidamente a verdade acerca de um roubo ou qualquer outro crime
a ouvintes que não foram testemunhas do crime?
Teeteto: Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.
Sócrates: Mas para ti persuadir alguém não será levá-lo a acreditar em algo?
Teeteto: Sem dúvida.
Sócrates: Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de factos que
só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem
esses factos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma crença verdadeira,
pronunciam um juízo desprovido de conhecimento, embora tendo uma convicção justa,
se deram uma sentença correta?
Teeteto: Com certeza.
Sócrates: Mas, meu amigo, se a crença verdadeira e o conhecimento fossem a mesma
coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma crença verdadeira sem conhecimento. A
verdade, porém, é que se trata de duas coisas distintas.
Teeteto: Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido
dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a crença verdadeira acompanhada
de razão (logos) é conhecimento e que desprovida de razão (logos), a crença está fora do
conhecimento [...].
Platão, Teeteto, 201a-c.
Aquilo que Platão designa por «logos» é o que tradicionalmente se passou a designar
justificada, para que possa haver conhecimento. Mas o que significa isto?
Vimos que o facto de alguém ter uma crença verdadeira não significa que tenha
conhecimento. Por exemplo, do facto de a crença do António de que vai passar de ano
ser verdadeira não se segue que ele saiba realmente que vai passar de ano. Mas se, além
de possuir uma crença verdadeira, o António tiver razões que suportem a sua crença, ele
sabe-o. Por exemplo, se ele acreditar que vai passar de ano porque tem boas notas a
todas as disciplinas, então a sua crença verdadeira não é mero fruto do acaso, mas está
justificada por boas razões: a sua crença é conhecimento. Eis, portanto, a terceira
Ptolomeu, vemos que ter uma justificação para acreditar numa coisa não significa que se
tenha conhecimento dessa coisa. Ptolomeu tinha boas justificações para pensar que a
Terra estava parada no centro do universo. Mas não sabia que a Terra estava parada no
centro do universo.
cognitivo em que se encontrava Ptolomeu, havia justificação para pensar que a Terra
estava parada no centro do universo. Mas os estados cognitivos das pessoas não são
perfeitos e por isso as pessoas podem ter justificação para acreditar em falsidades.
Europa eram brancos. Os europeus tinham por isso uma justificação para pensar que
Mas depois descobriu-se cisnes negros na Austrália. Logo, podemos ter crenças
Note-se que para que a crença de alguém esteja justificada não é necessário que essa
pessoa saiba justificar a sua crença. Isso seria absurdo, dado que a justificação mais
profunda para pensar que está uma árvore à minha frente inclui complexos mecanismos
da visão que a maior parte das pessoas desconhece. E mesmo para justificar a crença de
que todos os corvos são negros muitas pessoas serão incapazes de articular
A crença de alguém pode estar justificada sem que essa pessoa a consiga justificar
explicitamente. O que importa é que a sua crença esteja justificada e não que ela saiba
criança de 7 anos e tem uma crença justificada de que o irmão está a beber leite com
chocolate. Mas o Pedro não consegue justificar explicitamente a sua crença. O que
Pedro está justificado a acreditar que o irmão está a beber leite com chocolate porque
está a vê-lo beber leite com chocolate e nada há de errado com a sua visão.
Vimos até agora três condições necessárias para algo ser conhecimento: ser uma crença,
ser verdadeira e ser justificada. E vimos também que, separadamente, nenhuma dessas
Apesar de, separadamente, nenhuma das condições ser suficiente para o conhecimento,
tomadas conjuntamente parecem suficientes. Se alguém tiver uma crença, se essa crença
for verdadeira e se além disso essa crença estiver justificada, parece impossível que essa
A definição tradicional de conhecimento foi aceite durante mais de dois mil anos tendo
sido disputada em 1963 pelo filósofo americano Edmund Gettier (n. 1927). Gettier
forneceu um conjunto de contraexemplos que mostram que podemos ter uma crença
verdadeira justificada sem que essa crença seja conhecimento. Vejamos então o tipo de
contraexemplos em causa.
Imaginemos também que a crença do João está justificada. Por exemplo, suponhamos
que a Ana lhe tinha dito que ia levar o manual para a festa porque a Rita lho tinha
pedido emprestado. Portanto, o João não só acredita que a Ana tem A Arte de Pensar na
2. A crença do João de que a Ana tem a A Arte de Pensar na mochila está justificada.
Imaginemos que a Rita tinha telefonado à Ana para lhe dizer que afinal já não precisava
que ela lhe emprestasse o manual. Suponhamos agora que o António tinha encontrado a
Ana antes da festa e lhe tinha pedido para levar o manual para a festa para tirar umas
dúvidas com ela. Portanto, a Ana tinha de facto A Arte de Pensar na mochila, mas não o
Isto significa que, dado 1, 2 e 3, o João tem uma crença verdadeira justificada. E, logo,
de acordo com a definição tradicional de conhecimento, o João sabe que a Ana tem A
Arte de Pensar na mochila. Mas será que o João sabe tal coisa?
Não! O João não pode saber tal coisa. Aquilo que justifica a crença do João não é o
levou Ana a levar A Arte de Pensar para a festa. É por mera sorte que a crença do João é
verdadeira. Por outras palavras, a razão pela qual o João acredita que a Ana tem A Arte
de Pensar na mochila não é a razão que levou a Ana a levar o manual para a festa.
Assim, temos um caso em que alguém tem uma crença verdadeira justificada mas em
que essa crença não constitui conhecimento. E isto contradiz a definição tradicional de
Em conclusão:
Que tipos de conhecimento há?
O que é o conhecimento?
A crença é uma condição necessária para o conhecimento.
O conhecimento é factivo, ou seja, não se pode conhecer falsidades.
A verdade é uma condição necessária para o conhecimento.
� � Objeções: Os contraexemplos de
Gettier. Estes mostram que podemos ter
branca. Para sabermos que 2 + 2 = 4 basta pensarmos sobre isso. Mas para sabermos
que a neve é branca temos de ver neve. Isto significa que a justificação do nosso
Um sujeito sabe que P a priori se, e só se, sabe que P pelo pensamento apenas.
Um sujeito sabe que P a posteriori se, e só se, sabe que P através da experiência.
filósofos, mas foi com Immanuel Kant (1724-1804) que se tornou mais clara:
[…] designaremos, doravante por juízos a priori, não aqueles que não dependem desta
ou daquela experiência, mas aqueles em que se verifica absoluta independência de toda
e qualquer experiência. A estes opõem-se o conhecimento empírico, o qual é
conhecimento apenas possível a posteriori, isto é, através da experiência.
Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura, 1787, B2-B3.
Não precisamos de recorrer à experiência para saber que 1 é verdade: basta pensar. Mas
o próprio conceito de azul, de vermelho e de cor teve de ser adquirido pela experiência,
vendo cores. Apesar de adquirirmos o conceito de azul e vermelho pela experiência, não
precisamos de recorrer à experiência para saber que um objeto todo azul não pode ser
sabemos que 1 é verdadeira. Possuir os conceitos necessários não é mais do que um pré-
conceitos de céu e de azul, não é possível saber que o céu é azul sem olhar para o céu.
Um argumento é a posteriori se, e só se, pelo menos uma das sua premissas é a
posteriori.
Em conclusão:
Um sujeito sabe que P a priori se, e só se, sabe que P pelo pensamento apenas.
Um sujeito sabe que P a posteriori se, e só se, sabe que P através da experiência.
“A perceção através dos sentidos não depende exclusivamente dos atributos fisiológicos
imediatos do olho ou do ouvido. Depende, sim, de um contexto muito mais vasto, que
envolve a disposição global do indivíduo. No caso da visão isso foi investigado segundo
numerosas e diferentes perspetivas, tendo os cientistas demonstrado que a visão requer
o movimento ativo tanto do corpo como da mente. A perceção visual é, portanto, um ato
intencional e não passivo.
Um exemplo claro de como a visão opera sempre num contexto vasto e geral é o da
pessoa que nasceu cega e, mediante uma operação, adquire subitamente a capacidade de
ver. Em tais circunstâncias, a visão clara não é um processo instantâneo, porque tanto o
paciente como o médico têm de realizar um árduo trabalho, até que a confusão de
impressões visuais desprovidas de significado possa ser integrada numa “visão”
verdadeira. Este trabalho implica, entre outras coisas, a exploração dos efeitos dos
movimentos do corpo nas experiências visuais ainda frescas e a aprendizagem do
relacionamento das impressões visuais de um objeto com as sensações tácteis que foram
previamente associadas a ele. Em particular, o que o paciente aprendeu por outras vias
afeta fortemente o que ele vê. A disposição global da mente para apreender objetos por
vias particulares desempenha um papel no ato de selecionar e de dar forma ao que é
visto.
Estas conclusões são confirmadas pela análise neurológica do sistema nervoso. Para se
ver algo em absoluto, o lho tem de se lançar em movimentos rápidos que o ajudam a
extrair da cena alguns elementos de informação. Sabe-se que o modo pelo qual estes
elementos se integram depois numa imagem global, conscientemente percebida,
depende em grande parte dos conhecimentos e hipóteses gerais, por parte de quem vê,
acerca da natureza da realidade. Diversas experiências incisivas revelaram que o fluxo
de informação proveniente dos níveis cerebrais elevados para as áreas de formação de
imagens excede, na realidade, a quantidade de informação que chega dos olhos. Isto é,
aquilo que se “vê” resulta tanto dos conhecimentos previamente adquiridos como dos
dados visuais acabados de receber.
A perceção dos sentidos é, portanto, fortemente determinada pela disposição total da
mente e do corpo. Mas, por sua vez, esta disposição relaciona-se, de maneira
significativa com a cultura geral e a estrutura social. Do mesmo modo, a perceção
através da mente é também governada por todos estes fatores. Por exemplo, um grupo
de pessoas a passear numa floresta vê e responde de maneira diversa ao ambiente. O
lenhador vê a floresta como uma fonte de madeira, o artista como algo digno de ser
pintado, o caçador como um esconderijo para a caça.
Em cada caso, o bosque e as suas árvores individuais são percebidos de modo muito
diferente, na dependência da formação e expectativas dos passeantes.”
David Bohm e David Peat
conhecer?
No texto encontramos tentativas de resposta para estas questões. Todos os seres vivos
são dotados de sentidos, isto é, de órgãos que lhes permitem captar, interpretar esses
No homem o processo de conhecer não é muito diferente dos outros animais mas atinge
realidade e manipulá-la.
O que é que nos diz o texto? (vejamos uma perspetiva a respeito do conhecimento,
fisiológica dos nossos sentidos – das sensações. Os nossos sentidos recebem e dão
2. As sensações, ou dados dos sentidos, são interpretado por cada indivíduo - o sujeito
do conhecimento. Esta interpretação implica uma organização das sensações num todo
4. O objeto construído pelo sujeito não é uma mera soma dos dados sensoriais
apreendidos num dado momento; como se diz no texto “aquilo que se vê resulta tanto
receber”. Quer isto dizer que o sujeito que conhece atribui um significado aos dados
5. São todos estes fatores (fatores de significação percetiva) que explicam que cada
percecionamos. Assim, construímos leis gerais e teorias acerca da realidade. Com base
interpretativos da realidade.
Para alguns autores, há uma estrutura invariante no sujeito que determina a construção,
a configuração e o sentido do objeto. Para outros autores, esta estrutura da mente que
características biológicas.
Para outros ainda, é o objeto que determina a sua própria representação, reservando para
conhece; aquilo que é conhecido é o objeto. Por objeto de conhecimento não se entende
(conhecimento racional).
Ao longo da história da filosofia houve várias tentativas para explicar o modo como o
constituído?
O racionalismo cartesiano
Da dúvida ao cogito
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, quis supor que nada há
que seja tal como eles o fazem imaginar. E, porque há homens que se enganam ao
raciocinar, até nos mais simples temas de geometria, e neles cometem paralogismos,
rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me como qualquer outro todas as
razoes de que até então me servia nas demonstrações. Finalmente, considerando que os
pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando
dormimos, se que neste caso nenhum seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até
então encontrara acolhimento no meu espírito não era mais verdadeiro que as ilusões
dos meus sonhos.
Mas, logo em seguida, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso, eu,
que assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E notando que esta verdade –
eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições
dos céticos seriam impotentes para a abalar, julguei que podia aceitar, sem escrúpulo,
para primeiro princípio da filosofia que procurava.
Depois, examinando atentamente que coisa eu era, e vendo que podia supor que não
tinha corpo e que não havia qualquer mundo ou qualquer lugar onde eu existisse; mas
que, apesar disso, não podia admitir que não existia; e que antes, pelo contrario, por isso
mesmo que pensava, ao duvidar da verdade das outras coisas, tinha de admitir como
muito evidente muito certo que existia; ao passo que bastava que tivesse deixado de
pensar para não ter já nenhuma razão para crer que existia, ainda que tudo o que tinha
imaginado fosse verdadeiro; por isso, compreendi que era uma substância, cuja essência
ou natureza é apenas o pensamento, que para existir não tem necessidade de nenhum
lugar nem depende de nenhuma coisa material. De maneira que esse eu, isto é, a alma
pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, mais fácil mesmo de conhecer
que este, o qual, embora não existisse, não impediria que ela fosse o que é.
Depois disso, considerei duma maneira geral o que é indispensável a uma proposição
para ser verdadeira e certa; porque, como acabava de encontrar uma com esses
requisitos, pensei que devia saber também em que consiste essa certeza. E tendo notado
que nada há no que eu penso, logo existo, que me garanta que digo a verdade, a não ser
que vejo muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei que podia admitir
como regra geral que é verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito claramente e
muito distintamente; havendo apenas alguma dificuldade em notar quais são as coisas
que concebemos distintamente.
René Descartes, Discurso do Método
O texto foi escrito por um filósofo francês do século XVII que se dedicou ao estudo
então numa época de crise e de incerteza que se refletia nas posições céticas adotadas
No texto, extraído do Discurso do Método, uma das suas obras mais divulgadas:
fundamentais:
2. Refere a decisão de não aceitar nada como verdadeiro ate encontrar uma verdade que
conhecimento capaz de resistir à dúvida mais exagerada. Por isso se considera que a
Esta primeira verdade vai ser aceite por Descartes que sobre ela assentará o seu
sistema filosófico.
sujeito que conhece em si mesmo, reduzindo-o a ser “uma coisa que pensa” (res
cogitans).
Duvida ainda da existência dos outros seres humanos e das coisas materiais, incluindo o
dúvida, no momento em que se rompe com o sensível e com o conhecimento até então
Contrariamente ao nosso conhecimento vulgar que nos leva a acreditar mais facilmente
como verdadeiras unicamente aquelas ideias que se apresentem à razão como sendo
ideias.
Como verificamos Descartes parte da dúvida e alcança uma primeira verdade por via
existe alguma coisa fora e para além do seu eu? Como vai conseguir sair para fora do
Descartes não pode basear-se nos sentidos uma vez que os excluíra como fonte fiável
de conhecimento.
provar a existência de algo para além do seu próprio pensamento. O que é que esta
Diferentes tipos de ideias: ideias que “nasceram comigo” (ideias inatas); outras que
vieram de fora (ideias adventícias); outras que foram feitas e inventadas por mim (ideias
factícias).
Ao examinar a natureza das ideias, Descartes valoriza as que são inatas e entre elas
descobre a ideia de Deus como ser perfeito e como o homem é um ser imperfeito, que
não pode por si só criar a ideia de perfeição, esta ideia é inata e só pode ter origem no
próprio Deus que a colocou na nossa mente. Esta ideia ao fazer-nos conceber Deus
como um ser perfeito, incapaz de nos enganar, passa a ser garantia de que o
O racionalismo
conhecimento das quais deduz todos os outros conhecimentos que devem ser
O empirismo
mais geral e abstrato, tem origem e deriva da experiência. A razão não contém nenhum
princípio ou ideia que não derive da experiência, ou seja, não há ideias inatas.
A origem do conhecimento
Podemos, pois, dividir todas as perceções da mente em duas classes ou tipos, que se
distinguem pelos seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos intensas e
vivas são comummente designadas pensamentos ou ideias. Ao outro tipo (…)
chamemos-lhe impressões (…). Pelo termo impressão significo todas as nossas
perceções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos
ou queremos. E as impressões distinguem-se das ideias, que são as impressões menos
intensas, das quais somos conscientes quando refletimos sobre qualquer das sensações
ou movimentos acima mencionados.
D. Hume, Investigação sobre o entendimento humano
Assim sendo todas as nossas ideias têm que encontrar uma impressão que lhes
ilusórios.
A indução é uma operação da mente que faz parte de factos observáveis e alcança um
conhecimento mais geral; esta é a única operação da razão que permite superar o
exemplo disto mesmo: “O homem que regularmente alimenta o frango acaba por um dia
lhe torcer o pescoço, mostrando quão útil seria ao frango lançar-se a teorias de maior
pág. 109)
que traduzem. Os juízos universais obtidos por indução não podem ser confrontados
com os factos, uma vez que a observação nunca permite verificar todos os casos, pelo
Os princípios que, para os racionalistas, estão contidos na razão humana não existem
nexo causal necessário entre dois fenómenos que acontecem um depois do outro.
Portanto, David Hume, para justificar o seu empirismo integral, depara-se com um
problema difícil. É-lhe necessário demonstrar que os próprios princípios da razão, por
exemplo, o princípio de causalidade, provêm da experiência.
À primeira vista, não se depreende como o princípio de causalidade pode ter origem na
experiência.
É certo que verificamos que o leite ferve, após ter sido levado ao fogo. Comprovamos
que ele aquece e depois ferve. Mas não podemos afirmar que ele ferve porque foi
aquecido. É verdade que diariamente podemos fazer a mesma comprovação. O
aquecimento é sempre seguido de ebulição. Mas o que verificamos é uma “conjunção
constante” e não uma “conexão necessária”, não vemos a ação causal, o “porquê”. (...)
E, no entanto, não nos limitamos a dizer que os acontecimentos se sucedem, mas
afirmamos que eles se produzem e se determinam uns aos outros, que existem causas e
efeitos. Qual será, então, a origem do princípio de causalidade?
Hume explica-o a partir do hábito e da associação de ideias. Porque esperamos ver a
água a ferver quando a aquecemos? É porque, responde Hume, aquecimento e ebulição
sempre estiveram associados na nossa experiência passada. Formou-se um hábito deste
modo. Quando levamos um líquido ao fogo aguardamos a ebulição porque a nossa
experiência passada habituou-nos a isto. Ao dizermos que o leite vai ferver, tiramos
“uma conclusão que excede, no futuro, os casos passados” de que já tivemos
experiência; é que a imaginação, irresistivelmente arrastada pela força do hábito, passa
de um acontecimento dado àquele de ordinário o acompanha. Assim, o passado
impulsiona a imaginação que, “como uma galera acionada pelos remos, desliza sem
necessidade de novo impulso”. A experiência passada orienta a imaginação e esta,
adestrada pelo hábito, projeta-a sobre o acontecimento que está para vir, quando em
face do aquecimento. O leite vai ferver. Ao afirmar isto, aparentamos ultrapassar a
experiência, mas o que fazemos na realidade é seguir uma tendência criada pelo hábito.
Somente o hábito nos faz imaginar uma ligação necessária entre o aquecimento e a
dilatação.
Tal explicação é puramente psicológica e não traz à ideia de causalidade qualquer
garantia objetiva; por outras palavras, Hume explica porque acreditamos na causalidade,
mas não mostra a razão pela qual acreditamos. Ele mostra porque esperamos
irresistivelmente que se produza a ebulição, quando assistimos ao aquecimento. Mas
não demonstra que temos razão em fazê-lo, não justifica logicamente a nossa
expectativa. Teoricamente, diz ele, poderia acontecer que o leite não fervesse. Pois nada
2. Na razão não existe nada que não tenha a sua origem nas impressões.
casos daquilo que foi observado apenas em parte, não temos garantia lógica de que
universal é apenas uma probabilidade não sendo impossível que se venha a revelar
impossível afirmar que exista uma relação necessária de causa efeito entre esses dois
fenómenos, isto é, nega a existência do princípio de causalidade por não haver uma
por exemplo.
Em conclusão:
O que conhecemos do mundo são as suas características racionais
O que é que garante a objetividade/validade deste conhecimento?
Deus é a primeira verdade metafísica, é a fonte, origem ou raiz do conhecimento. Ele
garante a objetividade, certeza e evidencia dos conhecimentos racionais, assim como a
sua validade universal.
Garante a correspondência permanente entre as nossas ideias e os objetos a que
correspondem, independentes de nós.
Garante a existência continuada do mundo, mesmo depois de não pensarmos nele
David Hume:
Origem do conhecimento experiência sensível imediata (é daqui que deriva todo o
nosso conhecimento)
(não há ideias inatas, porque tudo o que conhecemos no mundo é baseado no
contacto/experiência sensível)
Perceções:
Impressões sensações que temos ao observar um objeto; emoções; extraímos de
um contacto mais imediato são a base em que assenta todo o conhecimento (por
contacto)
Aparência
Perceções:
Ideias são imagens mais fracas das impressões, pois são resultados das impressões;
marcas deixadas pelas impressões, uma vez estas desaparecidas; representação/cópia
da impressão
As ideias são mais fracas que as impressões (a diferença entre impressões e
ideias é simplesmente de grau e não de natureza)
Corre o risco de ser errada qualquer proposição que enunciemos acerca do que a
experiência imediata nos leva realmente a conhecer
Impressões
simples
complexas
Ideias
simples
complexas
Proposições:
“Estou a ter uma sensação de castanho”
“A mesa é castanha” (supõe-se que a mesa tem uma existência independente de
nós)
Não quer dizer que a mesa seja castanha ou até mesmo que ela
exista
Porque pessoas diferentes e o mesmo sujeito têm perspetivas diferentes sobre o
suposto mesmo objeto sensações (cor, som,forma)
que não é garantido por elas não há razão para que uma das perspetivas seja mais
correta do que outra
Conhecimento proposicional (remete para as perceções):
Conhecimento de ideias:
Não é preciso recorrer à experiência sensível para saber se algo é verdade ou não;
basta recorrer à razão
Ex.: “O triângulo tem 3 lados” (proposição analítica predicado faz análise do sujeito)
Verdades de razão (a razão fundamenta a afirmação sendo uma
verdade de razão a sua contraditória é falsa (Ex.: “O triângulo não tem 3 lados”))
A razão opera naquilo que é baseado na experiência (só se adquirem ideias das
impressões)
Não há necessidade de recorrer à experiência para avaliar a verdade da proposição
Partimos da experiência sensível para ter as ideias; mas existem certos conceitos que,
quando falamos deles, não é preciso recorrer à experiência para avaliar a sua verdade
O conhecimento de ideias não diz nada de novo sobre o mundo
Conhecimento de factos:
São proposições cujo valor de verdade tem que ser analisado pela experiência
Ex.: “O martelo é pesado” (proposição sintética o predicado acrescenta algo ao
sujeito)
Só pelos conhecimentos de facto podemos acrescentar algum conhecimento do
mundo
permite ter algum conhecimento do mundo
A experiência não nos dá um conhecimento universal
Todo o conhecimento de factos (conhecimento empírico) é meramente provável, se
entendido que a experiência não fornece universalidade e que o contrário de uma
verdade de facto é sempre logicamente possível)
Hume o problema da causalidade:
Conhecimento (origem):
Impressão sensível Ideia Conhecimento
1- Tacada na bola A (impressão sensível)
2- Acompanhamento do trajeto da bola A (impressão sensível)
3- Bola A toca em B
4- Bola B desloca-se
Após a sucessão de impressões podemos concluir:
A causa B De que impressão sensível resulta a causa?
Não há impressão sensível de causa há uma sucessão de movimentos
Há uma relação necessária entre A e B, de modo a que, sempre que surge A,
esperamos que B lhe suceda
Causa:
Há uma causa quando um objeto sucede a outro e entendemos que isso acontece de
forma necessária
Sempre acontecerá o futuro assemelha-se ao passado
Como adquirimos a ideia de causa?
Há uma conexão necessária entre dois ou mais eventos
Problema:
Não há nenhuma impressão sensível da qual derive a ideia de causa
Contudo, observamos:
a) a contiguidade espacial (espaço onde a bola A toca na bola B)
ESPAÇO
b) sucessão temporal (A sempre anterior a B)
TEMPO
c) conjunção constante e regular entre A e B (quando surge A e B, A desloca-se
e toca em B, que se desloca)
Chamamos causa ai que precede e efeito ao que sucede
> Da observação desta constante conjunção como formamos a ideia de causa?
a) haverá algum poder concreto na causa que fez com que o efeito lhe suceda?
Talvez, mas não o podemos observar (pois só vemos a impressão sensível e não
conhecemos a verdadeira natureza das coisas)
Vemos só o movimento e não o que está por trás deste
b) a memória só nos dá informação sobre os acontecimentos particulares que
recordamos
Só a memória por si, não nos diz nada em relação ao futuro (só em relação ao
passado)
c) Não é contraditório, dedutivamente, que B não suceda a A
d) Indutivamente, não podemos afirmar que o futuro será como o passado
utilizando o raciocínio indutivo porque este assume que o futuro será como o passado.
Seria dizer que o futuro será como o passado, porque no passado o futuro era como o
passado.
A ideia de causa não deriva da observação de algo nos fenómenos, mas do
desenvolvimento de um costume ou de um hábito mental (desenvolvemos o hábito de
esperar que B aconteça mal vemos A acontecer)
1ª 2ª 3ª
n
= = =
=
Nada muda nos fenómenos; muda aquilo que nós pensamos que vemos (ao observar
repetidamente os fenómenos muda a nossa mente, que vai criando a ideia de
causalidade)
Surge um novo sentimento ou emoção que a mente cria por ela mesma imaginação
impressão interna
VALIDADE
ORIGEM/FUNDAMENTO POSSIBILIDADE
(ALCANCE/LIMITES)
“O que tenho a dizer sobre a ciência pode ser formulado, muito abreviadamente, do
seguinte modo: a ciência não é a digestão dos dados sensoriais que recebemos através
dos nossos olhos, ouvidos, etc., e que combinamos de um modo ou de outro, que
ligamos através de associações e depois transformamos em teorias. A ciência é
constituída por teorias, que são obra nossa. Nós fabricamos as teorias, saímos com elas
pelo mundo, analisamos o mundo ativamente e vemos qual a informação que podemos
extrair, arrancar do mundo. O universo não nos dá qualquer informação se não
partirmos para ele com esta atitude interrogativa: nós perguntamos ao universo se esta
ou aquela teoria é verdadeira ou falsa.”
Karl Popper
atenção para o facto de o cientista não poder partir da observação vulgar para elaborar
O Senso Comum
“O senso comum é um diabinho que tem mau aspeto. A tirania que exerce sobre o nosso
juízo é dissimulada, discreta e anónima. Regularmente diverte-se a enganar-nos. É
verdade que a nossa ingenuidade tem poucas desculpas. Numerosos filósofos puseram-
Quais são então as características do senso comum? Podemos defini-lo como o modo
Permite ao homem resolver os problemas com que se depara no dia a dia, adaptar-se o
sobreviver. Características:
criticado e, segundo outros, tem mesmo de operar uma rutura pois são duas formas de
compreender e explicar a realidade. Que características deve ter este conhecimento para
Características da Ciência
realidade, como se diz no texto, o “como” e o “porquê” dos factos através da construção
de leis, princípios e teorias que devem ser objetivas, isto é, capazes de dizer
adequadamente como as coisas que acontecem e serem válidas para todos; deve ainda
articulado.
Em conclusão:
Ciência atividade desenvolvida pela comunidade científica, num dado contexto
histórico, em laboratórios de universidades e outros centros de investigação.
Elabora teorias ou hipóteses para explicar de forma racional/justificada/provada
experimentalmente e objetiva os fenómenos que estuda. (a ciência deve eliminar tudo
aquilo que é subjetivo)
É uma construção do homem Resulta da sua imaginação para pensar respostas.
Objeto: encontrar respostas para questões sobre o ser humano e o mundo, através
do uso de métodos de prova e de justificação que sejam racionais, objetivos e
públicos.
Resultados: leis e teorias. Estas teorias ou leis podem sempre sofrer revisão uma
vez que não são incontestáveis, ou seja, dogmas. A ciência não cria verdades
absolutas ou teorias definitivas.
Leis científicas: hipóteses que não foram desmentidas por facto algum. São
proposições gerais (válidas para todos os casos do mesmo género) que descrevem e
explicam por que algo acontece. Elas apenas verificam a ocorrência dos factos,
analisando as causas e os efeitos relacionados com o evento. Se uma lei científica é
verdadeira, então nada no universo lhe desobedece. São, por isso, universais. As leis
científicas não são, contudo, verdadeiras; são sempre suscetíveis de revisão, pois a
ciência baseia-se no pensamento crítico. Por vezes, as leis científicas não são
verdadeiras, mas são as maias adequadas para o fenómeno.
Teorias científicas: conjuntos organizados e sistemáticos de leis que explicam um
determinado tipo de fenómenos. Na Ciência, uma teoria é o ponto máximo a que
pode chegar uma hipótese. Se uma proposição se tornou uma teoria, é explica
suficientemente um fenómeno e, nas tentativas de falseá-la, não foi possível refutá-
la.
O que torna científica uma teoria ou uma lei?
1.Uma teoria é científica se, não negada pelos factos, tem valor explicativo e preditivo,
isto é, permite predizer novos fenómenos e factos dando conta deles.
2.Tem de ser testável. Deve ser possível confirmá-la ou refutá-la. (se não for testável
será, por exemplo, metafísica)
Senso comum:
Conhecimento relativamente superficial e acentuadamente prático que é partilhado por
uma certa cultura e transmitido de forma acrítica, de geração em geração, ou seja, este
tipo de conhecimento está estreitamente ligado às atividades quotidianas, resultando de
generalizações que se baseiam na experiência e na prática.
Como se formam as crenças, técnicas e costumes característicos do senso
comum?
1. experiência pessoal
2. por meio de testemunho dos outros
Uma pessoa transmite-nos uma coisa confiando no seu testemunho, podemos
beneficiar das observações e generalizações empíricas por eles realizadas tradição
transmissão
3. popularização dos conhecimentos científicos
Através dos meios de comunicação muitos conhecimentos científicos podem
incorporar-se no conhecimento comum, formando-se assim, conhecimentos mais ou
menos vagos sobre genética, astronomia, etc.
Características do senso comum:
1. Caráter relativamente acrítico o senso comum tende a aceitar a correção dos
conhecimentos tal qual como foram transmitidos.
Na sua tentativa de explicar e prever alguns aspetos daquilo que acontece no mundo,
experiência — ou, como se costuma dizer para evitar confusões com a noção de
observação.
Método Cientifico
Indução
Diremos que sim, porque até agora o Sol sempre apareceu no horizonte
passado não quer dizer que irá nascer amanhã (nada nos garante que o futuro será como
o passado).
Porque acreditamos que o futuro será como o passado, isto é, que a natureza se
a natureza terá princípios uniformes (foi e sempre será) a natureza comporta-se sempre
da mesma maneira
Não é válido porque é baseado na indução
Não serve de justificação para o raciocínio indutivo (só tivemos experiência de casos
particulares)
Se a experiência não pode justificar a nossa crença na indução será que a nossa razão
o consegue?
Existe um princípio racional à priori que prove que os raciocínios
indutivos são válidos?
Não Conclusão: Não há nenhum princípio racional nem empírico
seguro que fundamente o conhecimento baseado na indução.
As observações empíricas são pensadas como se não houvesse nada por trás. Só havia
Método Hipotético-Dedutivo
Uma das primeiras perspetivas sobre o método foi a de Francis Bacon, no século XVII,
que teorizou o método científico partindo da ideia de que não haveria ciência sem
observação, uma vez que esta era o próprio ponto de partida tanto para a formulação das
teorias como para a sua verificação posterior. Assim se deu origem a uma perspetiva
sobre o método científico de inspiração empirista e que podemos resumir nas seguintes
regras:
1. Observação
quando a contradiz, isto é, põe em causa a sua capacidade explicativa vai contra o que
Ex.:
extraírem água de uma cisterna sucedeu que, enquanto se mantinha a cisterna a nível de
2. Lavoisier observa que o chumbo depois de queimado pesa mais do que o chumbo
inicial
combustão de um corpo metálico faz com que seja libertada uma substância chamada
“flogístico”.
Surge uma hipótese existência do oxigénio a combustão de um corpo implica a
prévia
2. Formulação de hipóteses;
Hipótese enunciado que se propõe como base para explicar por que motivo ou como
de fenómenos interligados
importante para clarificar o conhecimento científico é algo que não é assim tão claro e
nítido.
todas no teste
totalidade)
podemos dizer que é verdadeira porque ela pode vir a ser refutada
Verificabilidade ideia de que é possível tentar provar que uma teoria é verdadeira
Como é claro, neste tipo de método valoriza-se a indução como a operação da razão que
permite passar de um certo número de casos observado para uma lei universal.
necessidade da contribuição dos sentidos, defende poder deduzir das ideias todos os
outros conhecimentos.
Com o aparecimento da física de Galileu (um pouco antes de Descartes), surge uma
“As leis da física galilaica são, com efeito, leis “abstratas”, que sem mais não têm
validade para os corpos reais. Sem dúvida que respeitam a uma realidade; mas essa
realidade não é a experiência quotidiana; é uma realidade ideal e abstrata. Nós não
precisamos que nos lembrem isto; estamos demasiado habituados a essa abstração.
Precisamos até do contrário: de que nos recordem que o mundo ideal da física
matemática não é, para falar verdade, o mundo real.”
A. Koyré
deu origem a uma nova perspetiva sobre este tipo de conhecimento e sobre o método da
sua construção.
originariamente apresentada por Galileu, inclina-se mais para considerar que o método
indutivo não permite alcançar as finalidades que a ciência pretende atingir e propõe, em
alternativa, aquilo que se pode designar por método hipotético-dedutivo. Este, como
vimos no texto anterior, considera não se poder partir da observação empírica mas de
momentos:
1. Formulação de um problema;
4. Verificação da hipótese;
Em conclusão:
O modelo nomológico-dedutivo
Método falsificacionista o cientista deve tentar refutar a sua teoria e não tentar
confirmá-la porque por mais vezes que a teoria passe no teste não pode ser considerada
verdade.
Contra a verificabilidade
Partimos de hipóteses/teorias/conjeturas
comporta agora, no passado e no futuro (para sempre) mas como o confronto com a
experiência ou verificação é um caso particular, não nos diz que será válida para
sempre
Como não sabemos como o Mundo é, formulamos hipóteses para chegar à verdade, mas
Não podemos querer dizer que uma teoria é verdadeira (nem provavelmente verdadeira)
Verificabilidade
TC
verificabilidade é falacioso
Logo, T
TC
NC Modus Tolens
Logo, NT
Consequências da falsificabilidade
ou e falsa
ou é corroborada
O cientista já não deve procurar a verdade da teoria mas sim tentar falsificá-la. Só pode
dizer que uma teoria é falsa. Se uma teoria resiste aos testes, diz-se-á corroborada (ainda
ciência/não ciência)
refutações ou por ensaio/tentativa e erro quando mostramos que as nossas teorias não
Quanto mais as teorias resistirem, mais fortes são, mas não temos a certeza que seja
É aprender para evoluir, o que só é possível com uma atitude crítica (a atitude crítica é
objetividade
As teorias que não são falsificadas são corroboradas (não há diferentes níveis)
Ex.:
Teoria de Newton
Segundo Newton, a órbita de Mercúrio deveria comportar-se de certo modo, mas foi
verificado que a órbita era outra
Problema: Desvio na órbita do planeta Mercúrio
Teoria de Einstein
O problema é resolvido pela teoria de Einstein (que a teoria de Newton não explicava)
Ao ser resolvido o problema podemos dizer que a ciência avança numa crescente e
progressiva aproximação à verdade? É preciso que a teoria de Einstein resolva o
problema que a teoria de Newton não explicava e que explique tudo o que a teoria de
Newton já explicava
As novas teorias têm que dar conta dos erros que a outra dava e tem que explicar o que
a antiga já explicava
Não acrescenta por mera acumulação acrescenta através de uma perspetiva crítica
Junho 2007 -Hugo Araújo- Página 196 de 205
Apontamentos para o exame nacional 2007 Filosofia 10º/ 11º anos
Crítica à indução:
Não há indução porque não há observação pura toda a observação tem por trás sempre
uma expectativa/perspetiva/teoria/hipótese
Temos sempre alguma carga que nasce connosco que vai condicionar a maneira como
Acontece desde o plano mais básico (biológico) até à ciência. A ciência, como os
Há medida que se aproxima da verdade vai tendo uma visão mais objetiva do mundo (a
ciência)
Indução:
generalização
Método hipotético-dedutivo
confirmar/verificar
O que há de comum?
É a ideia de que a experiência é que dita a última palavra sobre a verdade ou validade
das hipóteses
Assim sendo:
Em conclusão:
Uma teoria do método científico procura responder às seguintes questões:
1) Qual é o ponto de partida das teorias científicas?
2) Como se chega à formulação das teorias científicas?
3) O que se faz às teorias científicas depois de terem sido formuladas?
Objeções ao indutivismo
Não é possível registar e classificar factos empíricos sem atender a qualquer
perspetiva teórica.
As leis científicas que dizem respeito ao inobservável não podem resultar de simples
generalizações indutivas baseadas na observação.
Objeções ao falsificacionismo
Muitas vezes os cientistas trabalham sobretudo com o objetivo de confirmar as teorias
e continuam a defendê-las mesmo quando as previsões empíricas delas deduzidas não
ocorreram.
Não é fácil refutar conclusivamente uma teoria. Dado que as previsões empíricas são
deduzidas de um vasto conjunto de hipóteses, se estas fracassarem podemos apenas
concluir que pelo menos uma dessas hipóteses (que pode nem pertencer à teoria) é falsa.
prolonga a anterior) ou descontínuo (em que a nova teoria não é comparável com a
anterior)
constrói?
paradigma
revolução científica
a teoria dominante
princípios filosóficos
conceção metodológica
Ciência normal:
Durante este período podem surgir anomalias começam a haver desvios no que a
crise/momentos críticos
Instabilidade na prática científica conflito/ausência de consenso
tipo de respostas
O paradigma utilizado começa a ser posto em causa, mas ainda não há um novo
Surgimento da descontinuidade (incomensurabilidade)
Consequências:
cai-se numa perspetiva relativista (as respostas que um paradigma dá são relativas a
aura e prestígio dos cientistas que inventam uma nova teoria e a defendem
O conceito de objetividade acaba por se diluir em parte porque alguns dos critérios são
subjetivos
Em conclusão
O modelo da evolução da ciência de Thomas Kuhn
No período da pré-ciência várias escolas rivais discutem incessantemente os
fundamentos da disciplina em questão.
Esse período termina quando uma teoria bem sucedida institui um paradigma.