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A ECOLOGIA COMO EXPRESSÃO DA “QUESTÃO SOCIAL”

VERONEZE, Renato Tadeu1

O mundo atual está repleto de grandes contradições. Embora o homem demonstre ter
alcançado um elevado padrão de desenvolvimento tecnológico, ignora, em grande medida, os
valores humanos e o meio a qual se insere, criando, desta forma, enormes divergências e
paradoxos que dificultam a vida em comunidade.
No campo social, as conseqüências das desigualdades são facilmente observadas. O
aumento da miséria, o desemprego, as condições precárias de trabalho, a falta de assistência à
saúde, o baixo nível educacional e cultural, o preconceito, a falta de moradia, enfim, estas e
muitas outras questões são expressões da “questão social” que assola a sociedade capitalista,
causadoras da condição de miserabilidade e pobreza do homem que vive em sociedade.
Entendemos por “questão social” a disputa de conflitos decorrentes da opressão entre
capital e trabalho, ou seja, com o aumento das riquezas centralizadas nas mãos de poucos, há
um número cada vez maior de indivíduos em situação de precariedade de vida. Isto gera grandes
conflitos, aumentando progressivamente as desigualdades sociais. Ela está diretamente
vinculada às expressões das desigualdades sociais que, tem uma raiz comum, ou seja, a
produção social cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a
apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.
Nesta concepção, o Serviço Social tem como premissa o conhecimento da realidade em
sua totalidade, das leis de movimento que regem a sociedade e em suas contradições e
negações. Porém, muitas vezes, o Assistente Social é vinculado à prestação de serviços a
população, alienando-se dos problemas de conscientização, reflexão, organização e
mobilizações populares politicamente significativos.
Portanto, na medida em que o Assistente Social participar ativamente na formulação de
estratégias coletivas para o processo de mudança social, terá condições de compreender a visão
histórica, as mudanças da realidade, a correlação de forças, as táticas a curto, médio e longo
prazo.
Deste modo, a assistência social configura-se como possibilidade de reconhecimento
público da legitimidade das demandas e das expressões da “questão social” e dos espaços de
ampliação de seu protagonismo. A proteção social deve garantir a segurança de sobrevivência

1
Assistente Social, docente do curso de Serviço Social do Centro Universitário da Fundação Educacional
Guaxupé – Unifeg.
(de rendimento e de autonomia); de acolhida e de convívio e/ou vivência em comunidade, mas,
sobre tudo, visa, ainda, a condição de sobrevivência do próprio homem em seu habitat, ou seja,
no planeta Terra.
A dimensão ecológica, vinculada à destruição deste habitat, está diretamente vinculada à
prática do Assistente Social, tendo como parâmetro que, a cada destruição deste mesmo habitat,
gera um arsenal de expressões da “questão social” que dificulta a vida em sociedade e,
consequentemente, da própria sobrevivência do homem.
Para Marx, o homem vive da natureza, ou seja, a natureza é o seu próprio corpo e, desta
forma, ele precisa manter um diálogo contínuo com ela se não quiser morrer. Podemos dizer
que a vida física e mental do homem está ligada diretamente à natureza. O homem é parte desta
natureza e ela é a extensão do corpo do homem e se este a destrói, destrói a si mesmo.
Para Foster, “os seres humanos produzem a própria história com a natureza em grande
parte produzindo os seus meios de subsistência” (2005, p. 107). Nesta concepção, a natureza
assume um significado primordial na sobrevivência do homem.
Quando o homem não se vê parte da natureza, ele entra num processo de alienação quanto
ao seu papel ativo como transformador da natureza e, ao alienar-se, somente consegue enxergar-
se fora de seu habitat e não parte dele. Nesse caminhar, ao alienar-se em sua concepção natural,
entra num processo de auto-alienação em relação a ele, aos outros homens e com a natureza.
Identificar as causas das dificuldades que afetam os setores da sociedade humana é
imprescindível para a inserção do trabalho do Assistente Social, assim como neutralizar as
concepções ingênuas, numa perspectiva cada vez mais científica e adequada às demandas e
necessidades dos grupos em vulnerabilidade. Para Alayon, “o Serviço Social deve acompanhar
e reforçar as demandas populares, na busca de uma ampliação de políticas sociais que dêem
respostas às suas necessidades”. (1992, p. 25-26).
Se acreditarmos, por exemplo, que a simples implantação de algumas atividades e/ou
serviços de bem-estar social a população usuária da Assistência Social, sem apontar para a
erradicação das causas profundas do atraso e da alienação da sociedade capitalista, é a
“fórmula” e a panacéia para solucionar os problemas sociais, estaremos, sem dúvida, imersos no
creticismo do assistencialismo. Se, pelo contrário, a atividade assistencial é assumida como
direito inalienável da população explorada, interpretada na perspectiva da igualdade e da justiça
social e, principalmente, tendo como premissa o direito a vida, articulando esta assistência as
lutas continuas em prol de reivindicações maiores, então obviamente não se poderá falar de
assistencialismo.
O Assistente Social deve estar atento às novas demandas da sociedade contemporânea.
No que se refere às questões ecológicas, a atuação/intervenção do Serviço Social, em parceria
com a Ecologia, a Biologia, ao Meio Ambiente, aos movimentos sociais ecológicos, enfim, aos
diretamente vinculados a esta questão é também lutar para minimizar, ou mesmo, erradicar as
expressões da “questão social” e, portanto, a defesa ecológica também é preocupação do
Serviço Social, pois, a destruição da natureza, é a própria destruição do homem pelo próprio
homem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ALAYÓN, Norberto. Assistência e assistencialismo: controle dos pobres ou erradicação


da pobreza?. Trad. Balkys Villalobos de Neto, São Paulo: Cortez, 1992.

FOSTER, John Bellany. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2005.

IAMAMOTO, Marilda V. e CARVALHO, Raul de. Relações sociais e Serviço Social no


Brasil. São Paulo: Cortez, 2004.

IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação


profissional. São Paulo: Cortez, 2003.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006.

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.

SPOSATI, Aldaiza de Oliveira... [et. al]. Assistência na trajetória das Políticas Sociais
Brasileiras: uma questão em análise. 8ª ed., São Paulo: Cortez, 2003.

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