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A minha vida é passada a correr de um lado para o outro. E faço-o porque tenho um
grande amor a isto tudo." Maria de Aires Pimenta apresenta-se a sorrir. Aliás, está
sempre sorridente. É expressiva, parece que quer estar em todo o lado rapidamente. Na
verdade quer mesmo.
Agente de viagens, diz adorar o que faz: "A minha vida resume-se essencialmente ao
turismo." E não esconde a admiração pelo país onde vive: "Tenho a sorte de viajar, e
quanto mais viajo mais adoro Portugal. É um país lindíssimo, com potencial."
Este amor ao turismo tem uma história com três décadas: "Tinha uns 12 ou 13 anos
quando fui ao Algarve, a Vilamoura. Fiquei apaixonada. Disse para os meus botões "vou
trabalhar nesta área"." Se o pensou melhor o fez, mesmo contra a vontade da mãe. "Na
minha família há professores e enfermeiras e a minha mãe queria que eu fosse
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professora. Só que na altura dos exames fui para Turismo. Quando entrei na faculdade e
disse em casa, quase me deserdava", recorda bem-disposta.
O entusiasmo com que fala sobre as potencialidades do país - tem ideias sobre roteiros
que gostaria de ver explorados, como uma rota dos patrimónios da humanidade nacionais
- é o mesmo que mostra para se referir a um projeto em que está envolvida, sendo uma
das principais dinamizadoras: uma associação no Barreiro que tem como objetivo apoiar
idosos e deficientes e retirar das ruas jovens violentos.
O nome diz tudo sobre quem a lidera: Amar a Vida. "O objetivo é mostrar o lado
positivo desta. Ter uma deficiência não impede que uma pessoa não dance, que não
viaje, que não participe em eventos. É mostrar, através de exemplos, às pessoas que
andam sempre a lamentar-se da vida que parem. E dizer-lhes: "Porque é que vocês não
conseguem?""
As idas ao lar onde esteve o avô despertaram esta ideia de fazer as pessoas
movimentarem-se. "Ia visitá-lo, e o que via? Todos sentados, literalmente, à espera da
morte. Para mim acho que devia ser obrigatório haver atividades num lar, num centro de
dia, seja lá o que for. Quando há atividades ganha-se vida. Devia ser uma, duas ou três
vezes por semana. Não pode ser só no Natal. E a custo zero porque nem toda a gente
pode pagar. O Estado devia pagar", acrescenta.
Esta proposta, que gostava de ver acolhida por quem tem responsabilidades, ganhou
força quando há "dois ou três anos" foi à gala da Federação Internacional de Cinema,
Desporto e Televisão. Aí assistiu a um filme, com casos verídicos, que "mexeram
comigo". "Foram duas histórias. Uma era sobre o dia-a-dia de um atleta paralímpico, as
suas dificuldades. Outra era passada numa aldeia na Noruega em que se viam os idosos
sentados, quietos. A determinada altura alguém diz "e se jogássemos vólei?". Todos
acharam a ideia de loucos, mas mais tarde estão no cabeleireiro ou a treinar. Isto dá vida
às pessoas."
E cá estamos no tema que tanto agrada a Maria de Aires: a alegria, a vida. Esquecer as
tristezas. "O português gosta de festas, apesar de andar tudo cabisbaixo. As pessoas
ganham vida numa festa", repete.
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Este é o retrato da agente de turismo nascida em Évora, que mora no Barreiro desde os 4
anos (tem 45) e que mesmo nos dias, em princípio, de folga tem momentos para
trabalhar: "Vou aos jogos de hóquei do meu filho [Afonso, de 14 anos] e antes de
começar fico no carro com o tablet a fazer alguma coisa. Mas depois quando começa
paro tudo. E a minha hora de almoço serve para fazer contactos."
Apesar desta forma de estar de que não vale a pena andar com tristezas e que se deve
aproveitar o que é bom da vida, Maria de Aires não vê só rosas. Os espinhos são a
"burocracia e o show off com o investimento. Para o Portugal 2020 [acesso aos fundos
comunitários] é preciso tanta coisa que as pessoas acabam por desistir".
Com uma vida tão cheia, o dia chega para tudo? "Vinte e quatro horas? Não. Mas se
tiveres um grande prazer na vida, um grande amor à vida, tudo o que fazes, chega e
sobra".
Diário de Notícias
https://www.dn.pt/sociedade/os-lares-de-idosos-deviam-ter-atividades-as-pessoas-ganham-vida-
8674335.html
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Formador/a: Letícia Loureiro