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Análise de Segurança elétrica em Monitor Multparâmetro

Antonio Jonathan de Sousa Torres*

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo analisar o procedimento de conformidade


elétrica em equipamentos médico-hospitalares baseada nos requisitos da NBR IEC
60601. O princípio deste trabalho baseia-se na contextualização da importância do
funcionamento seguro dos equipamentos para uso hospitalar destacando o monitor
multiparâmetro, seguida da apresentação do equipamento a ser analisado, dos
requisitos exigidos pela norma em questão e do equipamento analisador a ser
utilizado. A partir do exposto, a análise é feito e podem-se obter os resultados de
conformidade elétrica. Para ajudar na análise é demostrado por figuras como o
analisador é conectado ao equipamento e seus acessórios, assim como todas as
ligações internas do analisador e como o mesmo executa os testes. O objetivo
principal deste trabalho é fazer a análise teste equipamento que é tão importante na
monitorização de pacientes, e leberando-o para uso em total segurança para os
mesmos.

Palavras-chave: Monitor multiparâmetro. Segurança elétrica. NBR IEC


60601.

* Pós-Graduação em Engenharia Biomédica com Ênfase em Engenharia clínica da Universidade


Estácio de Sá. E-mail: jonathantorresengenharia@gmail.com.
1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O CHOQUE ELÉTRICO

Choque elétrico é, por definição, a passagem de corrente elétrica pelo


corpo humano, estando esse funcionando como meio condutor. O efeito do
choque pode causar desde apenas a sensação de choque, queimaduras, fibrilação
cardíaca e até a morte.
De acordo com a NBR IEC 60601/2010 – tensões menores que 25 V em
corrente alternada (CA) e 60 V em corrente contínua (CC) não costumam causar
danos a pessoas que se submetem a esses níveis de tensões. Entretanto, acima
desses valores, os efeitos já começam a aparecer, e os cuidados são
indispensáveis.
As relações da corrente e do tempo são de direta proporcionalidade, ou
seja, quanto maiores seus valores piores serão os efeitos ocasionados pelo
choque. Quanto à parte do corpo atingida, o dano dependerá dos órgãos que
estão no caminho da corrente. Por exemplo, um choque de uma corrente que entra
por uma mão e sai por outra, por ter o coração e o sistema respiratório do meio, é
bem mais perigoso do que um, em que a corrente entra pelo dedo polegar e sai
pelo indicador. Notamos que grande parte dos EMH’s (equipamento médico
hospitalar) trabalha com alimentação elétrica na faixa de 100 a 240 V em CA, logo,
uma falha do tipo Fuga de Corrente para a carcaça pode submeter um paciente ou
operador a níveis críticos de tensão.
Outro fator importante para caracterização do choque elétrico é a frequência
da corrente aplicada no meio condutor, no caso, o corpo humano. Correntes com
frequências da ordem de 500 kHz são aplicadas pelos bisturis elétricos para
produzir corte e coagulação sem dano ao paciente. Logo, correntes em frequências
da ordem de 60 Hz, usadas para alimentação de equipamentos eletroeletrônicos,
entre eles os EMH’s, podem causar diversos efeitos de acordo com a intensidade de
corrente, conforme tabela 1.
Nota-se que os valores da tabela 1 são aproximados e seus efeitos podem
variar ainda de acordo com fatores como sexo, idade, peso e tempo de exposição à
corrente elétrica.
Tabela 1 - Relação entre o nível de corrente elétrica e o efeito que ela provoca.

Corrente Efeito
elétrica
0 a 1mA Não perceptível
1 a 10mA Choque perceptível,
sem perda de controle
muscular
10 a Contração muscular
16mA
16 a Parada respiratória
20mA
20 a Fibrilação ventricular
100mA
100mA a Parada Cardíaca
2A
> 2A Morte
Fonte: Ministério da Saúde (2002).

1.1.1 DEFINIÇÕES DE EMH’S

Sabendo que o foco deste trabalho é avaliar a proteção elétrica em EMH’s,


nada mais coerente do que iniciar apresentando um conceito formal sobre o
equipamento que será alvo do estudo.
A ANVISA, por intermédio da portaria nº. 2.043/94, que, por sua vez,
regulamenta a Lei nº. 5.991/73, define como equipamento médico-hospitalar
qualquer equipamento de diagnóstico, terapia e de apoio médico-hospitalar. A Lei
trata do controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos
farmacêuticos e correlatos, onde entre os correlatos estão enquadrados os EMH’s.
Complementando o conceito citado, a portaria define ainda:

Equipamento de diagnóstico: Equipamento, aparelho ou instrumento de uso


médico, odontológico ou laboratorial, destinado à detecção de informações
do organismo humano para auxílio a procedimento clínico. (ANVISA,
portaria nº. 2.043/94)
Equipamento de terapia: equipamento, aparelho ou instrumento de uso
médico ou odontológico, destinado a tratamento de patologias, incluindo a
substituição ou modificação da anatomia ou processo fisiológico do
organismo humano. (ANVISA, portaria nº 2.043/94)
Equipamento de apoio médico-hospitalar: equipamento, aparelho ou
instrumento de uso médico, odontológico ou laboratorial, destinado a
fornecer suporte a procedimentos diagnósticos, terapêuticos ou cirúrgicos.
(ANVISA, portaria nº. 2.043/94)

Avaliando a definição apresentada pela ANVISA, percebe-se que vários


artigos podem se enquadrar na classe de EMH’s, como: mobiliário, instrumental
cirúrgico e equipamentos eletromédicos. Contudo, por tratar de proteção, esse
estudo focará no equipamento eletromédico, monitor multiparâmetro.
A NBR IEC 60601 define como equipamento eletromédico:

Equipamento elétrico dotado de não mais que um recurso de conexão a


uma determinada rede de alimentação elétrica e destinado a diagnóstico,
tratamento ou monitoração do paciente, sob supervisão médica, que
estabelece contato físico ou elétrico com o paciente e/ou fornece energia
para o paciente, ou recebe a que dele provém, e/ou detecta esta
transferência de energia. (NBR IEC 60601/1994)

A variedade e a quantidade de EMH’s que um hospital possui dependem de


fatores como tipo de assistência que ele presta, quantidade de leitos, quantidade de
salas cirúrgicas e preocupação com a qualidade da assistência, sendo o primeiro
fator relacionado com a variedade e os demais com a quantidade.
Hospitais com foco em baixa complexidade tendem a ter mais equipamentos
relacionados a suporte ambulatorial, como medidores de pressão arterial,
dispositivos de infusão de medicamentos, focos de procedimento, vídeo
colposcópios (aparelho utilizado para examinar o trato vaginal inferior,
principalmente utilizado para detectar precocemente o câncer no colo do útero) além
de cardioversores para eventuais intercorrências.
Já unidades com predominância de alta complexidade terão mais
equipamentos relacionados a tratamento intensivo e cirúrgico, como ventiladores
pulmonares, monitores cardíacos, dispositivos de infusão de drogas vasoativas e
sedativas, cardioversores, bisturis elétricos, aparelhos de anestesia.
1.1.2 MONITOR CARDÍACO

O monitor cardíaco é um equipamento usado principalmente em UTI’s


(Unidade de Terapia Intensiva) e centros cirúrgicos, que tem a finalidade de
monitorar continuamente a frequência cardíaca do paciente. Normalmente, esse
EMH está associado também a monitorização de outros parâmetros vitais, como:
 Saturação de oxigênio;
 Pressão arterial não invasiva;
 Temperatura;
 Frequência respiratória;
 Pressão intracraniana.
Alguns monitores vêm ainda com conexões que podem conectar-se a
diferentes módulos paramétricos, possibilitando assim uma variedade na
configuração desejada.
A composição de um monitor cardíaco básico apresenta:
 Unidade de controle, configuração e visualização de parâmetros;
 Eletrodo de ECG com três ou cinco derivações.
O monitor cardíaco deve ser capaz de detectar a atividade elétrica do coração
na superfície da pela do paciente, que é da ordem de 10 milivolts. Devido sua
grande sensibilidade e precisão, os monitores cardíacos são os EMH’s que estão
mais suscetíveis a interferência de outros equipamentos ou mesmo da rede elétrica.
É o monitor cardíaco que detecta possíveis alterações no batimento
cardíaco de pacientes com monitorização contínua, sendo de extrema importância
para a vida de pacientes com risco, por exemplo, de paradas cardíacas, em
especial, aos que estão internados em estado grave nas UTI’s ou
submetendo a procedimentos cirúrgicos.
1.1.2.1 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO

Observamos no diagrama abaixo o princípio de funcionamento de um monitor


cardíaco, que contém alguns estágios.

1.1.2.2 DIAGRAMA DE BLOCOS

O diagrama de blocos apresentado na figura 1 corresponde às etapas de


captura de sinal, amplificação do sinal e tratamento de sinal. Os eletrodos, também
conhecidos como cabos de ECG, são os cabos que fazem a captação do sinal
elétrico do paciente. Normalmente são de prata para proporcionar uma boa
condução elétrica.

Figura 1 - Diagrama de blocos. EMH e o gerenciamento da manutenção.

Fonte: Ministério da Saúde (2002).


O circuito de isolação estabelece proteção contra corrente de fuga. Uma das
técnicas usadas para promover essa isolação é a barreira óptica, conforme circuito
mostrado na figura 2. A barreira óptica é um acoplamento feito por luz, fica entre o
estágio de alta e baixa. O led envia à luz, se existir a luz acoplou. As características
mais importantes de uma barreira óptica:

Suportar tensão do desfibrilador (≈ 5kV);

Fuga de corrente capacitiva menor possível pela barreira de isolação;

Mínima distorção do sinal e imunidade a ruídos.

Figura 2 - Circuito de isolação.

Fonte: Equipamentos médico-hospitalares e o gerenciamento da manutenção. Ministério da


Saúde (2002).

2 NORMAS DE SEGURANÇA

Equipamentos biomédicos têm se tornado cada vez mais necessário no


tratamento de doenças no meio hospitalar. À medida que o tempo passa, mais
tecnologia de alta complexidade vem sendo embarcada nesses dispositivos, o que
os tornam cada vez mais eficazes em seus diagnósticos. Por outro lado, a indústria
de equipamentos médicos tem como desafio estar sempre adequada às normas de
regulamentação, tanto no seu processo de fabricação, quanto a eventuais
manutenções. Está de acordo com as normas garante maior competitividade no
mercado, visto que seus produtos serão ofertados com mais qualidade, eficiência e
segurança (LOPES, 2018).
Em meados de 1995 o Ministério da Saúde regulamentou e adotou a norma
técnica brasileira NBR IEC 601-1 Equipamento Eletromédicos – Parte 1 Prescrições
Gerais para Segurança e normas técnicas particulares da série IEC 601-2, logo os
fornecedores de equipamentos eletromédicos registrados ou que solicitassem o
registro, deveriam apresentar os certificados de conformidade, mais ainda não havia
a estrutura necessária, organismos de certificação, nem laboratórios para avaliação
da conformidade (EVANGELISTA, 2018).
Diante a todas essas problemáticas o Ministério da Saúde através do decreto
Lei 9782/1999 criou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com o
papel de publicação do regulamento técnico sobre qualidade de equipamento
eletromédicos e exigir a certificação de conformidade de produtos sob regime de
vigilância sanitária. Coube a ANVISA fazer a transição também entre a antiga edição
da norma NBR IEC 60601:1997 e a nova edição NBR IEC 60601:2010, onde na
nova edição se fazia necessário o uso de normas particulares (EVANGELISTA,
2018).
Para todo processo de comercialização e fabricação de equipamentos
eletromédicos, se faz necessário seguir o conjunto de normas e regulamentos
técnicos específicos para determinados modelos de produtos, visando garantir a
segurança do usuário na utilização e processos os quais devem ser projetados,
seguir esses requisitos regulatórios é a garantia de amenizar esses riscos (BRUNO
et al., 2010).
Os testes e ensaios laboratoriais determinam quais procedimentos o
equipamento será submetido e seguir os padrões apontados nas normas garante
assim o melhor funcionamento nas partes mecânicas e elétricas, obtendo assim a
conformidade e confiabilidade em todo o processo (BRUNO et al., 2010).
Para equipamentos médico-hospitalares utiliza-se como norma geral e
principal de segurança a IEC 60601, a mesma é constituída em duas partes: IEC
60601-1-X (onde o X é composta de normas colaterais) e a IEC 60601-2-X (X
representa o conjunto de normas específicas) (BRUNO et al., 2010). O Comitê
Brasileiro Odonto- Médico-Hospitalar é o órgão responsável por adaptar, formatar e
traduzir as normas internacionais para o padrão ABNT, visando dessa forma possuir
equivalência nacional(EVANGELISTA,2018).
2.1 Classificações dos equipamentos

Os principais critérios utilizados para classificação dos equipamentos


eletromédicos são o tipo e o grau de proteção contra choques elétricos. Quanto ao
tipo, os equipamentos podem ser classe I e classe II, e quanto ao grau podem ser B,
BF ou CF.
 Equipamento classe I: Equipamento em que a proteção contra
choque elétrico não está relacionado apenas com a isolação básica, pois apresenta
também um sistema que permite a conexão do equipamento com o condutor de
aterramento da instalação elétrica, impossibilitando assim que partes metálicas
acessíveis possam ficar energizado em caso de uma falha na isolação básica.
 Equipamento classe II: Equipamento em que a proteção contra
choque elétrico não está relacionando apenas com a isolação básica, pois apresenta
também um sistema com isolação dupla ou reforçada, sendo independente das
condições de aterramento da instalação.
 Equipamento tipo B: Equipamento que apresenta um grau de
proteção especial quanto à corrente de fuga admissível e à confiabilidade da
conexão de aterramento.
 Equipamento tipo BF: Equipamento tipo B que possui uma parte
aplicada tipo F. São normalmente equipamentos que não possuem aplicações
cardíacas.
 Equipamento tipo CF: Equipamento que apresenta um grau de
proteção superior ao tipo B contra choque elétrico quanto à corrente de fuga
admissível, e que possui uma parte aplicada tipo F. Equipamentos do tipo CF são
os mais recomendados em casos cardíacos.
2.2 CLASSIFICAÇÕES DAS ISOLAÇÕES

A norma em questão classifica os tipos de isolações elétricas encontradas


nos equipamentos eletromédicos como:
 Isolação Básica: Isolação aplicada às partes energizadas que
proporciona proteção básica contra choque elétrico.
 Isolação Dupla: Isolação que abrange tanto isolação básica como
isolação suplementar.
 Isolação Reforçada: Sistema de isolação único aplicado às partes
energizado que proporciona proteção contra choque elétrico equivalente à isolação
dupla.
 Isolação suplementar: Sistema de isolação independente aplicado
como suplemento à isolação básica que proporciona proteção contra choque elétrico
em caso de falha da isolação básica.

2.3 CLASSIFICAÇÕES DAS TENSÕES

Algumas questões relacionadas à tensão elétrica, principalmente aos seus


níveis, são destacadas abaixo:
 Tensão da rede: Tensão de uma rede de alimentação elétrica,
podendo ser entre dois condutores de fases diferentes, em um sistema polifásico, ou
entre os condutores fase e neutro, em um sistema monofásico.
 Alta tensão: Tensão superior a 1000 V em corrente alternada, a
1500 V em corrente contínua, ou valores de pico.
 Extra baixa tensão de segurança: Tensão menor que 25 V em
corrente alternada ou 60 V em corrente contínua.

2.4 CLASSIFICAÇÕES DAS CORRENTES

A corrente elétrica é parâmetro primordial quando falamos em proteção


elétrica, pois seus níveis são fortemente impactantes nos resultados observados,
conforme tabela 1. Visto isso, a norma estudada faz as seguintes definições:
 Corrente de fuga: Corrente não funcional, podendo circular pelo
terra, pelo gabinete ou pelo paciente.
 Corrente de fuga para o terra: Corrente que, ao atravessar ou
contornar o isolante, circula da parte a ser ligada na rede para o condutor de
aterramento para proteção.
 Corrente de fuga através do gabinete: Corrente que circula através
do gabinete ou por suas partes, com exceção das partes aplicadas, acessíveis, do
operador ou do paciente, em condições normais de operação, passando para
proteção por meio de uma ligação externa condutora, a menos do condutor de
aterramento, e por meio do terra ou para outra parte do gabinete.
 Corrente de fuga através do paciente: Corrente acidental que
circula por meio de uma parte aplicada tipo F, através do paciente para a terra ou
através do paciente para o terra, surgida de uma fonte de tensão externa sobre o
paciente.
 Corrente auxiliar através do paciente: Corrente normal que circula
através do paciente, por meio de uma parte aplicada, com intenção de produzir um
efeito fisiológico.

3 ANALISADOR UTILIZADO

Dentre os instrumentos e ferramentas utilizados durante todo processo de


reparo e manutenção de equipamentos médicos, o analisador de segurança elétrica
apresenta-se como um dos principais e mais importantes de todo o processo, visto
que o mesmo atestará se os limites de segurança definido pelas normas estão de
acordo ou não, assegurando dessa forma que o equipamento venha desempenhar o
seu pleno funcionamento, garantindo a segurança de operadores e pacientes.
O dispositivo de segurança elétrica utilizado neste trabalho será o analisador
ES601 Plus do fabricante Datrend Systems Inc, como mostra a figura 3. É um
equipamento robusto e portátil, é um dispositivo de fonte de medição de sinais
eletrônicos utilizado em laboratórios e fábricas para a verificação da segurança
elétrica de dispositivos eletrônicos. O analisador em questão, está de acordo com as
normas de segurança IEC 60601 e executa os testes de tensão de linha, resistência
de aterramento de proteção, corrente de fuga para o terra, corrente de fuga para o
chassi, corrente de fuga e resistência ponto a ponto.

Figura 3 - Analisador Datrend ES601 Plus, vista frontal.

Fonte: https://www.medicalexpo.com/pt/prod/datrend-systems/product-70916-
646565.html acesso em: 01/11/2020.

3.1 CARACTERÍSTICAS DO EQUIPAMENTO

Segue abaixo as especificações técnicas do equipamento, tais


como:
● Temperatura de operação: 15 ºC a 40 ºC;
● Umidade relativa de operação: 10% a 90% sem condensação;
● Tensão de alimentação: 110 V;
● Precisão de medição de corrente de fuga: ± 1% em frequências até
200kHz; ±
4% em frequências na faixa de 200kHz a 1MHz;
● Faixa de medição de corrente de alimentação: 0.0 A rms a 20.0 A rms
● Precisão da medição de resistência: ± 2%
● Faixa de medição de corrente de fuga: 0.0µA a 14000 µA RMS ou
0.0µA a 14000 µA DC.
Constata-se desta forma que nos procedimentos de manutenção, reparo e
testes de segurança elétrica, a utilização de instrumentos calibrados e certificados,
garantem uma maior confiabilidade metrológica e parâmetros cada vez mais
fidedignos.

4 MONITOR USADO NOS TESTES

O monitor multiparâmetro de modelo omni 610 é fabricado pela GE (General


Eletric) e fornece monitorização de diversos parâmetros em ambientes de cuidados
médicos críticos, posde ser utilizado em pacientes neonatais, pediátricos e adultos.
O seu manuseio em ambiente hospitalar deverá ser feito apenas por profissionais
treinados e sob a orinetenção de um médico.

Figura 4 – Vista forntal do monitor omnimed 610

Fonte: O autor.

O monitor atua de forma segura por meio de dois diferentes tipos de


alimentação elétrica, dessa forma pode garantir seu funcionamento mesmo que uma
de suas fontes falhe. Fonte de energia externa do tipo CA (corrente alternada) ou
fonte de alimentação interna (bateria) do tipo CC (corrente contínua).

5 ENSAIO
Ao início do processo de testes de segurança, o equipamento deverá estar
desconectado do paciente e fora do leito para que o profissional possa realizar a
manutenção e executar todos os procedimentos de forma mais segura, evitando
assim a ocorrência de acidentes.

5.1 RESISTÊNCIA AO ATERRAMENTO DE PROTEÇÃO


Aterramento é um método utilizado para proteger e evitar a ocorrência de
choque elétrico oriundo de correntes geradas por falhas internas que causam danos
a pessoas, animais e dispositivos eletrônicos, utilizando um caminho com baixa
impedância, colocando a instalação no mesmo ou menor potencial possível entre a
terra e seus equipamentos (PINHEIRO, 2013).

Figura 5 - Equipamento com Aterramento

Fonte: Segurança Elétrica

Na situação mostrada na figura 5, a corrente gerada pela falha é desviada


pela malha de aterramento, evitando que a mesma passe pelo usuário, caso venha
a tocar no equipamento.
Figura 6 - Equipamento sem Aterramento
Fonte: Segurança Elétrica
Na figura 6, a corrente gerada pela falha elétrica será desviada pelo usuário
na ausência do circuito de aterramento, pelo fato do mesmo se tornar o caminho
mais fácil à passagem da corrente, quando o mesmo tocar no equipamento.

A resistência entre o conector de terra de proteção do cabo de rede e as


peças condutoras não deve exceder 300 mΩ, ou 0,3 Ω.

Figura 7 - Medida de resistência de Aterramento

Fonte: O autor (2020)

No Teste em questão, o analisador determina a resistência do ponto do pino


terra do cabo de força a um ponto do chassi devidamente aterrado. O equipamento
de medição deverá estar ligado à rede elétrica, com suas pontas de prova
devidamente fixadas nas partes anteriormente especificadas, como mostra a figura
7.
● Painel Traseiro:
Figura 8 - Medida de resistência de aterramento, painel traseiro

Fonte: O autor (2020)


Como especifica a norma, as pontas de teste do equipamento colocadas no
pino terra do cabo de força e no painel traseiro metálico, dessa forma será
mensurado a resistência de um ponto ao outro.

Tabela 2 - Resultados dos ensaios de Resistência ao Aterramento de Proteção

Análise de
Limite Valor medido
Pontos de teste conformidade

Painel Traseiro 0,200 Ω 0,007 Ω Conforme

Fonte: O autor (2020)

O valor obtido no teste de resistência de terra de proteção foi comparado


com o valor permitido pela norma IEC 60601, costatando assim que o valor
encontrase dentro da faixa permitida.

5.2 CORRENTES DE VAZAMENTO

Corrente de vazamento ou fuga é uma corrente indesejada ou não funcional


que surge em decorrência de alguma falha no isolamento, e flui geralmente para a
malha de aterramento de segurança ou para o gabinete do equipamento. Na
ocorrência da corrente escoar para uma parte não aterrada ou com isolamento
inapropriado, pode ocasionar um choque elétrico caso o operador ou paciente venha
a tocar no equipamento.
O teste de corrente de vazamento é bastante importante, pois aponta o total
da corrente não funcional no sistema. A IEC 60601-1 indica os procedimentos a
serem adotados em condições normais, em condição de falha e por inversão de
polaridade, desenvolveu regras para evitar a exposição de usuários de
equipamentos médicos à corrente de fuga (BRUNO et al., 2010).
Corrente de fuga para o terra: Corrente indesejada que circula no circuito e
escoa pelo condutor de aterramento de proteção, como mostra a figura 9.
Figura 9 - Circuito de medição de corrente de fuga através do terra.

Fonte: NBR IEC 60601 (2010).

A figura 10 tem a representação dos testes de fuga de corrente de vazamento pelo


terra, podendo simular em condição normal, com inversão das fases e simular também com
a fonte aberta.

Tabela 3 - Valores admissíveis de corrente de fuga para o terra.

EMH Tipo B EMH tipo EMH Tipo


BF CF
Norma Sob Norma Sob Norma Sob
CORRENTE l Falha l Falha l Falha
CORRENTE
DE FUGA PARA O
0 0
TERRA 1 1 0,5 1
,5 ,5
GERAL (mA)
Fonte: NBR IEC 60601 (2010).

Como podem ser observados na figura 10 os valorres de corrente de


vazamento para o terra (earth leakage) estão bem abaixo dos valores limites, dessa
forma o teste está conforme.
Figura 10 – Teste de corrente de vazamento para o terra.

Fonte: O autor (2020)

5.3 ENSAIOS DE CORRENTE DE FUGA PELO GABINETE

O ensaio de corrente de fuga para o gabinete representa a corrente que deve


fluir caso uma pessoa entre em contato com a carcaça do EMH ou com qualquer
parte acessível não destinada para tratamento, ou seja, com uma parte que não
seja parte aplicada, sendo válido para equipamentos classe I e classe II.
Para esse ensaio de corrente de fuga, a IEC 60601 apresenta como requisitos
medições em condições normais de operação, com inversão de fonte de
alimentação e situação de uma só falha, podendo ser com fase ou com terra aberto.

Figura 11 - Circuito de medição da corrente de fuga através do gabinete.


Fonte: NBR IEC 60601 (2010).
Esses valores em, miliampères, são mostrados na tabela 4 para os
equipamentos tipo B, BF e CF.

Tabela 4 - Valores admissíveis para corrente de fuga através do gabinete.

EMH Tipo EMH tipo EMH Tipo CF


B BF

Norma Sob Norma SobFalh Norma


CORRENT Sob Falha
l Falha l a l
E
CORRENT
E DE FUGA
0,
ATRAVÉS DO 0,1 0,1 0,5 0,1 0,5
5
GABINETE (mA)
Fonte: NBR IEC 60601 (2010).

A figura 12 tem a representação dos testes de fuga de corrente de vazamento


pelo gabinete em condição normal.

Figura 12 – Teste de corrente de vazamento para o gabinete.

Fonte: O autor (2020)


5.4 ENSAIOS DE CORRENTE DE FUGA PELO PACIENTE EM EQUIPAMENTOS
TIPO BF E CF

Esse ensaio mostra o mesmo resultado do teste aplicado no item anterior,


entretanto, como é aplicado somente para equipamentos com parte aplicada tipo F,
ou seja, os equipamentos tipo BF e CF, sejam eles classe I ou classe II, o teste
apresenta algumas particularidades. Os requisitos desses testes são obtidos em
condição normal ou de falha, com a tensão normal e polaridade invertida.
A IEC 60601 requisita que a corrente de fuga por partes aplicadas de
equipamentos CF seja medida a partir de cada conexão com o paciente de forma
individual. Já para equipamentos tipo BF, a corrente de fuga pode ser medida com
todas as partes aplicadas conectadas entre si.
O circuito esquemático usado para medição de corrente de fuga através do
paciente, para equipamentos tipo BF e CF, incluindo os sistemas de inversão de
tensão é mostrado na figura 13.

Figura 13 - Circuito de medição corrente de fuga pelo paciente em EMH’s tipos BF e CF

Fonte: NBR IEC 60601 (2010).

Os valores, em miliampères, são mostrados na tabela 5 para os


equipamentos tipo BF e CF.
Tabela 5 - Valores admissíveis corrente de fuga pelo paciente em EMH’s tipo BF e CF

EMH tipo BF EMH Tipo CF


Sob Norma
Normal Sob Falha
CORRENTE Falha l

CORRENTE DE FUGA
ATRAVÉS DO PACIENTE 0,
0,1 0,01 0,05
5
CORRENTE DE FUGA
ATRAVÉS DO
PACIENTE(TENSÃO DE REDE
- 5 - 0,05
sobre a PARTE APLICADA)
(mA)
Fonte: NBR IEC 60601 (2010).

A figura 14 mostra so testes realizados nas partes aplicadas / acessórios do


equipamento, mostrando que os valores estão abaixo do limite e equipamento está
conforme.

Figura 14 – Teste de corrente de fuga pelo paciente através dos acessórios


Fonte:Autor(2020).

6 CONCLUSÃO

A utilização de monitor de sinais vitais ou multiparâmetro, equipamento


médico de uso contínuo em unidades de assistência hospitalar, vai além da
monitorização e controle dos sinais vitais em pacientes. Existe uma grande
preocupação em relação ao plano de manutenção desses equipamentos assim
como a tentativa de prolongar a vida útil dos mesmos. Nesse contexto, manter as
manutenções corretivas, preventivas e eventuais calibrações, garante maior
confiabilidade no funcionamento do equipamento e controla parâmetros cada vez
mais fidedignos.
Este trabalho abordou a realização de testes de segurança elétrica no monitor
multipârametro omni610 do fabricante GE, todos os testes aplicados tiveram como
referência a norma geral para equipamentos eletromédicos, a IEC 60601 -
Requisitos gerais para segurança básica e desempenho essencial.
O equipamento ensaiado obteve êxito no sequenciamento de testes indicados
pela norma e os valores mensurados através de ferramentas e instrumentos
apropriados, confirmaram que o mesmo encontra-se dentro da faixa de valores
permitida pela norma.
Dessa forma o monitor multiparâmetro omni610 apresentou valores de
medição muito a baixo dos indicados nas normas, confirmando assim que na análise
da conformidade o mesmo encontra-se apto para uso, oferecendo baixo risco de
acidentes de choque elétrico e respeitando critérios de segurança.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Ministério da saúde.
Gerência de Tecnologia em Equipamentos Médicos – GQUIP. Manual para
regularização de equipamento médicos na ANVISA. Brasília: 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR IEC 60601-1


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BRUNO, A. C. et all. Manual de Utilização da Norma IEC 6060. Ribeirão


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EVANGELISTA, Jamilson Ramos. CONTROLE DO NÍVEL DE


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Dissertação
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PINHEIRO, Tiago Figueira Leão. Sistemas de aterramento em baixa


tensão: Projeto de Graduação, Departamento de Engenharia Elétrica. Rio de
Janeiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Elétrica) - UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, 2013.

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