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Morfologia Da Língua Portuguesa - Ufpb PDF
Morfologia Da Língua Portuguesa - Ufpb PDF
APRESENTAÇÃO
Caros alunos,
1 BREVE HISTÓRICO
Uma investigação mais ampla sobre esse assunto nos permite dizer que os
estudos morfológicos têm sua origem na tradição gramatical hindu. Na gramática de
Panini (séc VI a.C.), já se tratava da estrutura interna das palavras, identificando-se as
unidades mínimas significativas como raízes e afixos. Com a descoberta do Sânscrito
(séc. XVIII), pôde-se tomar conhecimento desses estudos que muito contribuíram para
a investigação lingüística moderna na área da morfologia.
Na tradição greco-latina, os aspectos morfológicos faziam parte dos estudos
gramaticais, que se subdividiam em três campos: o da flexão, o da derivação e o da
sintaxe. À flexão correspondiam os estudos morfológicos, em oposição à sintaxe.
Já a derivação era colocada em um plano secundário. O termo morfologia, surgido
inicialmente no campo da biologia, passou a ser usado na lingüística a partir do século
XIX, abrangendo os processos flexionais e derivacionais.
No âmbito da lingüística moderna, os estudos morfológicos tiveram grande
desenvolvimento no estruturalismo americano, cujo representante maior é L. Bloomfield.
Essa corrente voltou-se para o estudo e para a descrição das formas lingüísticas,
privilegiando a identificação dos morfemas e de suas regras de combinação. Segundo
essa perspectiva, é o conhecimento dos morfemas de uma língua que possibilita
entender o significado das palavras ainda não ditas e a criar novas palavras nessa
língua. No modelo estruturalista norte-americano, a análise lingüística se deteve no
estabelecimento de unidades irredutíveis, organizadas linearmente, e na definição de
padrões que regiam sua combinação. (ROSA, 2000, p. 38)
Com o desenvolvimento da teoria gerativa (N. Chomsky), que elegeu a sintaxe
como seu objeto de estudo, a morfologia começa a ser enfocada dentro do componente
fonológico. Morfologia e Fonologia passam, assim, a constituir a chamada Fonologia
Lexical, defendendo que a sintaxe deveria ser cega à morfologia. Essa tese, entretanto,
passou a ser desconsiderada, pelo menos no que diz respeito à morfologia flexional,
reconquistando, assim, a morfologia seu espaço no âmbito dos estudos lingüísticos.
Com isso foi retomada a oposição já estabelecida pelo gramático latino Varrão,
subdividindo-se a morfologia em dois ramos: morfologia derivacional e morfologia
flexional. Atualmente, essa subdivisão da morfologia vem sendo repensada por alguns
estudiosos, a exemplo de Gonçalves (2005), que prefere falar em um continuum, entre
a flexão e a derivação. 61
Considerando o objetivo do nosso trabalho, não discutiremos aqui a noção
de continuum, limitando-nos a apresentar os mecanismos lingüísticos (flexionais
e derivacionais) que se enquadram no campo da morfologia. Procuramos situar a
morfologia nos níveis de descrição lingüística. É o que veremos no próximo item.
2 SITUANDO A MORFOLOGIA
Situar a morfologia nos níveis de descrição da língua leva-nos a retomar uma das
características da linguagem humana, a sua capacidade de ser duplamente articulada.
Na primeira articulação, plano do conteúdo, articulam-se os elementos dotados de
significação. Nessa articulação, situa-se a morfologia, que trata da articulação do
vocábulo, e a sintaxe, que se volta para a articulação da proposição. Assim morfologia
e sintaxe (morfossintaxe) situam-se no campo da significação lingüística. À segunda
articulação pertencem os elementos do plano de expressão da língua, objeto de estudo
da fonética e da fonologia.
Veja o esquema a seguir:
1ª articulação 2ª articulação
MORFEMA SINTAGMA
UNIDADES OPERACIONAIS:
!
o morfema e a palavra, para cujo estudo faz-se necessário conhecer os dois
eixos da linguagem: o paradigmático e o sintagmático, assunto a que nos
dedicaremos no item seguinte.
4 EIXOS DA LINGUAGEM
QUADRO-RESUMO
EIXOS DA LINGUAGEM
PARADIGMÁTICO SINTAGMÁTICO
relações virtuais relações efetivas
relações “in absentia” relações “in praesentia”
SISTEMA MORFOLÓGICO SISTEMA SINTÁTICO
SIGNIFICANTE NÃO-EXTENSO SIGNIFICANTE EXTENSO
(morfema e palavra) (sintagma)
65
5 MORFOLOGIA DERIVACIONAL E MORFOLOGIA FLEXIONAL
MANDAR BELO
mandava belo
mandavas bela
mandava belos
mandávamos belas
mandáveis
a) Ca / der / nos
68 1 3 0
b) no / vos
3 0
c) cin / co
3 0
Faz-se necessário destacar que não existe coincidência absoluta entre o vocábulo
fonológico e o vocábulo formal. Nas chamadas palavras compostas por justaposição,
como por exemplo, em guarda-chuva, porco-espinho e passatempo, há dois vocábulos
fonológicos e um só vocábulo formal. Há dois acentos em cada palavra, um acento
de tonicidade 2 e outro de tonicidade 3, conforme podemos constatar na descrição
abaixo.
QUADRO-RESUMO
!
autonomia autonomia
formal fonológica
Forma livre + + = vocábulo fonológico
Forma dependente + - = não voc. fonológico
70 Forma presa - - = não voc. fonológico
Resta ainda observar que as formas livres, assim como as formas dependentes,
podem ser constituídas de um só elemento mórfico, sendo por isso indivisíveis (mar,
sol, fé) ou de mais de elemento mórfico (leal-dade, in-fiel, calm-a-ment-e), sendo,
portanto, passíveis de uma divisão em unidades significativas, ou seja, em morfemas.
Os vocábulos formais da língua (formas livres, formas presas e formas
dependentes) se distribuem em dois subsistemas: o sistema aberto e o sistema
fechado.
a) aditivo: diretor/diretor-a;
b) permutativo: alun-o/alun-a;
c) subtrativo: órfão/órfã;
d) alternativo: gostoso/gostosa – ô/ó;
e) morfema zero: cantas/canta-.
f) morfema supra-segmental: hóspede/hospede
ATIVIDADES
CAROS ALUNOS,
PONHAM EM PRÁTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NESTA
UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A SEGUIR.
Na feira–livre do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor
– O melhor divertimento para as crianças!
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 2. ed. José Olympio, 1970, p. 98)
5) Classifique as formas destacadas nos versos a seguir em formas livres, formas presas
e formas dependentes:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente 75
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
a) crianças
b) garotinhas
c) pobreza
d) mundo
e) belíssimo
a) aluno / aluna
b) diretor / diretora
c) avô / avó
d) irmão / irmã
e) mestre / mestra
77
78
UNIDADE II
ESTUDÁSSEMOS
estud– R (radical, morfema lexical)
–a– VT (vogal temática)
estuda – T (tema)
–sse– SMT (sufixo modo-temporal / desinência modo-temporal)
– mos SNP (sufixo número-pessoal / desinência número-pessoal)
CANTARIAS
cant– R
–a– VT
canta– T
–ria– SMT
–s SNP 81
Na análise de determinadas formas verbais, há, entretanto, a necessidade de se
levar em conta fenômenos como o da alomorfia, da neutralização e do morfema zero,
fato que veremos mais adiante ao tratarmos do mecanismo da flexão verbal.
ATIVIDADES
CAROS ALUNOS,
PONHAM EM PRÁTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NA
NESSA UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A
SEGUIR.
Na feira-livre do arrebaldizinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:
– O melhor divertimento para as crianças!
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,
Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.
(BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 2ed. São Paulo: J. Olympio, 1970, p.
98).
84
1. Faça a análise mórfica dos vocábulos abaixo:
a) crianças: __________________________________________________________
b) olhos: ____________________________________________________________
c) mulheres: _________________________________________________________
d) pobres: ___________________________________________________________
e) burburinhas________________________________________________________
f) ajuntamento: _______________________________________________________
h) balõezinhos: _______________________________________________________
i) redondos: _________________________________________________________
j) ricas: _____________________________________________________________
l) lavadeiras: ________________________________________________________
a) apregoa: ___________________________________________________________
b) fitando: ___________________________________________________________
c) criava: ____________________________________________________________
d) chegássemos: ______________________________________________________
e) divertiu: ___________________________________________________________
f) venderias: __________________________________________________________
85
86
UNIDADE III
CLASSIFICAÇÃO DE PALAVRAS:
DA TRADIÇÃO GRAMATICAL ÀS MODERNAS
PROPOSTAS DE CLASSIFICAÇÃO
1. POTTIER 2.VANDRYES
3. JESPERSEN
4. HJELMSLEV
QUADRO-RESUMO
CLASSES FUNÇÕES
NOME SUBSTANTIVO
ADJETIVO
PRONOME ADVÉRBIO
VERBO
VOCÁBULOS CONECTIVOS COORDENATIVOS SUBORDINATIVOS:
a) DE VOCÁBULOS: PREPOSIÇÕES
b) DE SENTENÇAS: CONJUNÇÕES E
PRONOMES RELATIVOS
a) povo / povos
b) osso / ossos
c) tijolo / tijolos
d) fogo / fogos
e) jogo / jogos
f) imposto / impostos
CASOS PARTICULARES:
1) Nomes que se usam normalmente no singular (substâncias contínuas ou
elementos incontáveis): ferro, prata, ouro, feijão, arroz petróleo, manteiga, sal
etc.
2) Nomes (pluralia tantum) – os que têm seu uso consagrado apenas no plural:
núpcias, anais, víveres, óculos, pêsames, parabéns, cócegas, apetrechos, afazeres 99
etc.
103
IdPr (Presente do Indicativo)
CI CII CIII
Rad + VT + SMT + SNP Rad + VT + SMT + SNP Rad + VT + SMT + SNP
P1: cant - - o vend - - o part - - o
P2: cant a - s vend e - s part e - s
P3: cant a - - vend e - - part e - -
P4: cant a - mos vend e - mos part i - mos
P5: cant a - is vend e - is part i - (i)s
P6: cant a - m vend e - m part e - m
CI
Rad + VT + SMT + SNP Rad + VT + SMT + SNP Rad + VT + SMT + SNP
P1: cant - e - vend - a - part - a -
P2: cant - e s vend - a s part - a s
P3: cant - e - vend - a - part - a -
P4: cant - e mos vend - a mos part - a mos
P5: cant - e is vend - a is part - a is
P6: cant - e m vend - a m part - a m
IdPr1
IdPt3
Rad + VT + SMT + SNP Rad +VT +SMT +SNP Rad + VT + SMT + SNP
P1: cant a ra - vend e ra part i ra -
P2: cant a ra s vend e ra s part i ra s
P3: cant a ra - vend e ra - part i ra -
P4: cant á ra mos vend ê ra mos part í ra mos
P5: cant á re is vend ê re is part í re is
P6: cant a ra m. vend e ra m part i ra m
SbFt
CI CII CIII
ATIVIDADES
CAROS ALUNOS,
PONHAM EM PRÁTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NESTE
CAPÍTULO, DESENVOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A
SEGUIR
RETRATO
a) NOMES: __________________________________________________________
b) PRONOMES: ______________________________________________________
c) VERBOS: _________________________________________________________
d) VOC. CONECTIVOS: _______________________________________________
2. Com base nos estudos de Camara Júnior, distinga a classe dos nomes da classe dos
pronomes, sob o ponto de vista semântico.
a) NOME: ___________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
b) PRONOME: _______________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
3. Considerando as diferenças formais entre nomes e verbos, distinga essas duas classes
de palavras.
108
a) NOME: ___________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
b) VERBO: __________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, Luiz Francisco. O estudo das classes de palavras. In: O livro didático de
português: múltiplos olhares. Orgs. Bezerra & Dionísio. Rio de Janeiro: Lucerna,
110 2001.
GOMES, José Maria Barbosa. O gênero gramatical. Texto aplicado em sala de aula.
João Pessoa, 1981.
GOMES, José Maria Barbosa. Classes de palavras. Texto aplicado em sala de aula.
João Pessoa: UFBB, 1981.
KOCK, Ingedore Villaça & SILVA, Maria Cecília P. de Souza e. Lingüística aplicada
ao português: morfologia. 15ed. São Paulo: Cortez , 2005.
RIBEIRO, Maria das Graças Carvalho. Nas trilhas do sentido: as estruturas nominais
em –mente numa perspectiva semântico-discursiva. João Pessoa: Idéia, 2005.
SAUSSURE Ferdinand de. Curso de lingüística geral. 7ed. São Paulo: Cultrix, s/d.
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