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OS TRABALHOS DE HÉRCULES

Alice A. Bailey

(MATERIAL DA FUNDAÇÃO AVATAR VER LINK NA ÚLTIMA PÁGINA)


por Alice A. Bailey

English Chapter Title: Labours of Hercules Documento


BookPage Título do Capítulo: Os Trabalhos de Hércules Página
The Zodiac
1 2
O Zodíaco
Foreward: the Purpose of this Study
3 4
Prefácio: O Propósito deste Estudo
Hercules the Disciple—the Myth
14 10
O Discípulo Hércules - O Mito
Labour I: Capture of the Man-Eating Mares
27 17
1º Trabalho: A Captura das Éguas Antropófagas
Labour II: Capture the Cretan Bull
19 24
2º Trabalho: A Captura do Touro de Creta
Labour III: Golden Apples of the Hesperides Part 1
54 33
3º Trabalho: Colheita dos Pomos de Ouro de Hespérides - Parte I
Labour III: Golden Apples of the Hesperides Part 2
64 39
3º Trabalho: Colheita dos Pomos de Ouro de Hespérides - Parte II
Labour IV: Capture of the Doe or Hind Part 1 46
77
4º Trabalho: A Captura da Corça - Parte I
Labour IV: Capture of the Doe or Hind Part 2 51
85
4º Trabalho: A Captura da Corça - Parte II
Labour V: Slaying of the Nemean Lion 57
95
5º Trabalho: A Morte do Leão de Nemeia
Labour VI: Seizing the Girdle of Hippolyte 66
112
6º Trabalho: A Tomada do Cinturão de Hipólita
Labour VII: Capture of the Erymanthian Boar 73
125
7º Trabalho: A Captura do Javali de Erimanto
Labour VIII: Destroying the Lerneaean Hydra 82
140
8º Trabalho: A Destruição da Hidra de Lerna
Labour IX: Killing the Stymphalian Birds 91
155
9º Trabalho: A Morte dos Pássaros do Estinfalo
Labour X: Slaying of Cerberus, Guardian of Hades 100
169
10º Trabalho: A Morte de Cérbero, o Guardião do Hades
Labour XI: Cleansing the Augean Stables 107
180
11º Trabalho: Limpeza dos Estábulos de Augias
Labour XII: Capture of the Red Cattle of Geryon 116
195
12º Trabalho: A Captura do Gado Vermelho de Gerião
The Purpose of the Study of the Hercules Myth 122
205
O Propósito do Estudo do Mito de Hércules
Summary of Lessons Learned in Each Zodiacal Sign 126
211
Sumário das Lições Aprendidas em Cada Signo Zodiacal
The Path of the Soul through the Zodiac 130
215
O Caminho da Alma Através do Zodíaco
Journey through the Signs 136
225
Viagem Através dos Signos

1
O Zodíaco

Aquele Que Presidia lançou Seu olhar sobre os filhos dos homens, que são os Filhos de
Deus. Viu suas luzes e o lugar que eles ocupavam no Caminho que conduz de volta ao
Coração de Deus. O Caminhodescreve um círculo através dos doze grandes Portões, e,
ciclo após ciclo, ora os Portões são abertos ora os Portões são fechados. Os Filhos de
Deus, que são os filhos dos homens, prosseguem em sua marcha.

A princípio, a luz é tênue. Egoísta a tendência da aspiração humana, e sombrios os atos


daí resultantes. Lentamente, os homens aprendem e, nele, cruzam inúmeras vezes os
pilares dos Portões. Custam a compreender, mas nas Câmaras da Disciplina, que
existem em cada seção da curva que o ciclo cósmico descreve, a verdade vai sendo aos
poucos apreendida; a lição necessária é aprendida; a natureza é purificada e ensinada
até que a Cruz é vista - a Cruz fixa e expectante, que crucifica os filhos dos homens,
estendida sobre as Cruzes daqueles que servem e salvam.

Em época muito remota, um homem destacou-se dos demais e atraiu a atenção do


grande Ancião, Aquele que eternamente preside na Câmara do Conselho do Senhor.
Voltando-se para aquele que estava próximo, perguntou: “Quem é aquela alma
no Caminho da vida, cuja luz pode agora ser tenuemente vista?”

Prontamente veio a resposta: “Aquela é a alma que, no Caminho da vida, aprende


através da experiência e busca a luz clara que brilha do Alto Lugar.”

“Deixa-a prosseguir em seu caminho, mas observa seus passos.”

Passaram-se muitos eons. A grande roda girou e, ao girar, trouxe para


o Caminho aquela alma que buscava a luz. Chegou o dia em que Aquele Que Preside,
dentro da Câmara do Conselho do Senhor, novamente conduziu para o circulo de sua
vida radiante a alma que buscava.

“De quem é aquela alma no Caminho do grande esforço cuja radiação brilha
tenuemente?” Responderam-lhe: “uma alma à procura da luz da compreensão, uma
alma que luta.”

“Diz-lhe, em meu nome, para voltar ao outro caminho e então viajar ao redor do
círculo. Então ele encontrará o objeto de sua busca. Observa seus passos e, quando ele
tiver um coração compreensivo, a mente alerta e mãos habilidosas, traze-o a mim.”

Séculos novamente se passaram. A grande roda girou e, ao girar, levava todos os filhos
dos homens, que são os Filhos de Deus, por seus caminhos. E, à medida que os séculos
se passavam, um grupo de homens emergiu que, lentamente, tomou o outro caminho.
Encontraram o Caminho. Cruzaram os Portões e esforçaram-se por atingir o topo da
montanha, até o lugar da morte e sacrifício. O Mestre que observava, viu um homem
destacar-se entre a multidão, subir na Cruz fixa, exigindo feitos a realizar, serviço a ser
prestado a Deus e aos homens, e disposição para percorrer o Caminho para Deus.

Ele postou-se diante do grande Ser Que Reside e trabalha na Câmara do Conselho do
Senhor e ouviu uma voz dizer:

“Obedece ao Mestre no Caminho. Prepara-te para as últimas provas. Passa através


de cada um dos Portões e, na esfera que eles revelam e guardam, realiza o trabalho
adequado a cada esfera. Aprende, assim, a lição e começa, com amor, a servir aos
homens da terra.”

2
Então ao Mestre foi dirigida a palavra final: “Prepara o candidato. Dá-lhe os trabalhos
a executar e inscreve o seu nome nas placas do Caminho vivente.”

(O Tibetano - Djwhal Khul)

3
Prefácio: O Propósito deste Estudo
O grande interesse que hoje se observa pela vida espiritual é, por si mesmo,
justificativa para o estudo a que esta série de artigos se propõe. Em que pese o fato da
religião acadêmica e teológica ter perdido a sua antiga atração, e apesar da revolta
contra a religião organizada, o impulso para as realidades espirituais jamais foi tão
intenso quanto agora. Chegou o tempo da experiência empírica em larga escala, e
homens e mulheres por toda parte recusam-se a acreditar e aceitar cegamente, porque
agora estão determinados a saber. A aceitação de dogmas impostos está agora
cedendo lugar ao experimento; e a autodeterminação divina - baseada na compreensão
da unidade com a Vida na qual vivemos, nos movemos e temos o nosso ser - está
tomando o lugar da credulidade e da superstição.

O problema de todo instrutor, hoje, é descobrir novas maneiras pelas quais expressar
as velhas verdades e de tal modo apresentar as antigas fórmulas para o
desenvolvimento espiritual, que estas adquirirão nova e pulsante vida. Muitos livros
têm sido escritos, nos dois hemisférios, sobre o Caminhodo Discipulado, o Caminho da
Santidade e o Caminho da Iluminação. A reafirmação dos problemas
desse Caminho universal e das dificuldades que lhe são inerentes, não é justificável a
menos que a aplicação seja moderna e prática. Ela deve indicar a inclusividade da
meta, uma vez tenham sido superados esses problemas, e evitar a cansativa repetição
daquela regra básica da vida, que tem sido expressa nas duas palavras: “Sede bons.”
Repetidamente nos tem sido dito que precisamos vencer a tentação do mundo, da
carne, e do diabo. Foi desenvolvido na mente do aspirante ocidental o sentimento de
que o Caminho será, necessariamente, feito de angústia, autoabnegação e de infinito
sofrimento. A atitude do aspirante é caracterizada por uma ativa sujeição ao sofrimento
até quando ele, misteriosa e miraculosamente abre caminho para um mundo de paz e
abundância, onde todas as angústias têm fim, a carne deixa de incomodá-lo, e o diabo
encontra seu intempestivo fim. Tudo isso como recompensa pela dócil submissão à
vontade de um criador inescrutável.

Contudo, começando a despontar na consciência humana, existe uma crescente


conscientização da divindade inata e de que o homem é, verdadeiramente, feito à
imagem de Deus, e uno, em natureza, com seu Pai no Céu. A ideia do propósito e do
plano está sendo captada, e a atitude global do aspirante em relação à vida está
mudando rapidamente. Seguramente, deveria ser agora possível obter um quadro
sintético do progresso da alma, da ignorância até a sabedoria, do desejo material à
conquista espiritual, de tal modo que o fim possa ser visualizado a partir do início, e a
cooperação inteligente com o propósito da alma substitua o esforço feito às cegas?
Quando isto acontecer, o peregrino poderá avançar pelo caminho com a face voltada
para a luz, e irradiada de alegria.

Verificar-se-á que a história das dramáticas experiências desse grande e venerável


Filho de Deus, Hércules ou Herakles, servirá para nos dar, justamente, esse quadro
sintético. Sem deixar de focalizar qualquer uma das faces da vida do aspirante, ainda
assim, liga-o ao empreendimento cósmico. Verificamos que o tema é tão inclusivo que
todos nós, lutando em nossa atual vida moderna, podemos aplicar a nós mesmos os
testes e provas, os fracassos e as conquistas desta Figura heroica que, há séculos
passados, lutou valorosamente para atingir a mesma meta que nós almejamos. Através
da leitura desta história talvez possa ser despertado na mente do aspirante confuso um
novo interesse, e um tal quadro pintado do desenvolvimento e do destino sequencial do
universo, que ele queira prosseguir com redobrada coragem.

Acompanharemos a história de Hércules e do seu esforço, para mostrar como ele, nos
doze trabalhos, desempenhou o papel do aspirante no Caminho do Discipulado.
4
Neste Caminho, ele desincumbiu-se de certas tarefas, de natureza simbólica, e viveu
certos episódios e acontecimentos que retratam, em qualquer época, a natureza do
treinamento e realizações que caracterizam o homem que se aproxima da libertação.
Ele representa o Filho de Deus encarnado, mas ainda imperfeito, que definitivamente
toma em suas mãos a natureza inferior, e voluntariamente, submete-a à disciplina que
finalmente fará emergir o divino. É a partir do ser humano que falha, mas que é
sinceramente sério, inteligentemente consciente do trabalho a ser realizado, que se
forma um Salvador do Mundo.

Duas grandes e dramáticas histórias têm sido conservadas diante dos olhos dos
homens ao longo do tempo. Nos doze trabalhos de Hércules, aquele Caminho do
Discipulado é retratado e suas experiências, preparatórias do grande ciclo final da
Iniciação, encontram pronta resposta em cada homem que aspira. Na vida e obra de
Jesus, o Cristo, esse radiante e perfeito Filho de Deus, que “penetrou o véu por nós,
deixando-nos o exemplo para que seguíssemos seus passos”, temos retratadas as cinco
etapas do Caminho da Iniciação, que são os episódios culminantes para os quais os
doze trabalhos preparam o discípulo.

O oráculo falou e, através dos tempos, se tem ouvido a palavra: “Homem, conhece-te a
ti mesmo.” Este conhecimento é a mais importante realização no Caminho do
Discipulado, e a recompensa de todo o trabalho realizado por Hércules.

A Natureza do Discipulado

Neste ponto talvez, fosse útil analisarmos, sucintamente, a natureza do discipulado.


Esta é uma palavra de uso tão constante entre os aspirantes nos países cristãos quanto
nas religiões orientais. O discipulado poderia ser definido como a etapa final do
caminho da evolução, e como aquele período na experiência do homem no qual ele
chega a ser definitivamente autoconsciente. É a etapa na qual ele, intencionalmente, se
impõe, a vontade da alma - que é essencialmente a vontade de Deus - sobre a
natureza inferior. Neste caminho o homem submete-se a um processo forçado, para
que a flor da alma possa desabrochar mais rapidamente. A inevitabilidade da perfeição
humana sustenta sua disposição para tentar palmilhar o caminho. Esta perfeição pode
ser alcançada de duas maneiras. Pode ser o resultado do lento e contínuo crescimento
evolutivo, levado avante sob o efeito das leis da natureza, ciclo após ciclo, até que,
gradualmente, o Deus oculto possa ser visto, no homem e no universo. Ou, pode ser o
resultado de sistemática aplicação e disciplina por parte do aspirante, o que produz um
desabrochar mais rápido do poder e vida da alma.

Em uma das análises do discipulado, este foi definido como “um solvente psíquico que
consome toda a escória e deixa apenas o ouro puro.” E um processo de refinação, de
sublimação e de transmutação, continuamente levado adiante até finalmente se
alcançar o Monte da Transfiguração e da Iluminação. Os mistérios ocultos e as forças
latentes nos seres humanos precisam ser descobertos e têm que ser utilizados de
maneira divina e de acordo com o divino propósito, inteligentemente entendido.
Quando são utilizados desta maneira, o discípulo se vê em sintonia com energias e
poderes divinos similares, que sustentam as operações do mundo natural. Assim ele se
toma um trabalhador sob o plano da evolução e um cooperador com aquela grande
“nuvem de testemunhas” que, através do poder da sua supervisão, e resultado de sua
realização, constituem os Tronos, os Principados e os Poderes por meio dos quais a
Vida Una guia toda a criação para uma gloriosa consumação.

Essa é a meta do trabalho de Hércules, como essa é a meta da humanidade como um


todo, cuja conquista espiritual grupal última será alcançada pelas múltiplas perfeições
individuais.

5
Conotações Astrológicas

Um objetivo secundário deste estudo é apresentar um aspecto da astrologia que


deferirá do que geralmente é apresentado. Acompanharemos a história de Hércules à
proporção que ele percorre os doze signos do zodíaco. Ele expressou, uma a uma, as
características de cada signo, e em cada um, ele conquistou um novo conhecimento de
si mesmo, e através desse conhecimento, demonstrou o poder do signo e adquiriu os
dons que o signo conferia. Em cada signo, vamos encontrá-lo superando suas próprias
tendências naturais, controlando e governando seu próprio destino, e demonstrando o
fato de que os astros predispõem, mas não controlam.

A forma de astrologia que, creio eu, com o tempo substituirá o tipo comum, que trata
de horóscopos, é aquela apresentação sintética dos acontecimentos cósmicos que se
refletem na nossa vida planetária, na vida da humanidade como um todo, e na vida do
indivíduo, o qual é sempre o microcosmo do macrocosmo. Este tipo de astrologia limita
sua atenção, primordialmente, ao desenvolvimento do plano das idades; esta, no que
toca à humanidade, a História pouco revela, e um estudo mais abrangente das épocas
e estações pode trazer-nos maior compreensão dos propósitos de Deus. Por detrás da
humanidade, jaz um vastíssimo passado; eons e eons vieram e se foram; a roda da
existência gira continuamente, o pergaminho da vida desenrola-se, e nós somos
impelidos para frente e sob o impulso de uma força recorrente, em direção a um novo
aspecto da mente e a uma mais ampla visão e realização. A concentração sobre o
horóscopo pessoal e o grande interesse que o indivíduo demonstra pelos seus próprios
assuntos triviais podem ser naturais e normais, mas não deixam, contudo, de ser
tacanhos. Somente a consciência de que somos partes integrantes de um Todo maior e
o conhecimento da divina totalidade, pode revelar o propósito mais vasto. Estas são as
ideias que devem afinal superpor-se às nossas concentrações pessoais. As pequeninas
histórias de nossas vidas têm que desaparecer no quadro maior. Hércules representou
astrologicamente a história da vida de cada aspirante, e demonstrou o papel que a
unidade tem que desempenhar no Empreendimento eterno.

A respeito do zodíaco e da astrologia, um grande Mestre do oriente expressou-se por


este sugestivo pensamento:

“Que a astrologia é uma ciência, e uma ciência emergente, é verdade. Que a


astrologia, em seu mais elevado aspecto e verdadeira interpretação, finalmente
capacitará o homem a focalizar sua compreensão e a atuar corretamente, é
igualmente verdade. Que nas revelações que a astrologia fará, no devido tempo,
encontrar-se-á o segredo da verdadeira coordenação entre a alma e a forma, é
também correto. Mas este tipo de astrologia ainda não foi descoberto. Inúmeros
pontos são desprezados e muito pouco conhecido para fazer da astrologia uma
ciência exata, como muitos afirmam. Tal alegação será concretizada em alguma data
futura, mas ainda não chegou o tempo.
A astrologia como atualmente é praticada está fadada a desmoronar-se, dada a
rapidez com que as almas estão controlando as suas personalidades. O horóscopo da
alma não será feito com base no nosso conhecimento tridimensional, uma vez que as
leis de tempo e espaço não exercem influência alguma sobre a alma.” (Astrologia
Esotérica)

Por conseguinte, neste estudo, trataremos de uma astrologia não matemática, e que
não terá relação com o traçado dos horóscopos. Dirá respeito aos doze tipos de
energias por meio dos quais a consciência da Realidade divina é obtida, por intermédio
da forma. Hércules não chegou a esse conhecimento em algum céu distante, ou em
algum estado subjetivo. No corpo físico, embaraçado e limitado pelas tendências a ele
conferidas pelo signo no qual ele cumpria sua tarefa, ele alcançou a compreensão da
sua própria divindade essencial. Através da superação da forma e da subjugação da
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matéria, é-nos mostrado um quadro do desenrolar da autorrealização divina. Por esta
razão, no estudo de Hércules, o discípulo, e de Cristo, o Salvador do Mundo, vemos
retratadas por inteiro as etapas finais do desenvolvimento que está à espera de todos
nós. As cinco grandes Iniciações, como nos são descritas na história de Jesus, o Cristo,
não serão aqui abordadas, mas constituem o assunto de outro livro (De Belém ao
Calvário). ver este livro

Ao estudarmos a história de Hércules, acompanhando-o nos seus doze trabalhos, dando


a volta pelo grande zodíaco dos céus, nossa abordagem será feita sob dois ângulos: o
do aspirante individual e o da humanidade como um todo. É agora possível considerar
que a família humana chegou - praticamente “en masse” - ao estágio do aspirante, o
estágio do investigador inteligente; o estágio do homem que, tendo desenvolvido sua
mente e coordenado suas habilidades mentais, emocionais e físicas, exauriu os
interesses pelo mundo fenomênico, e está procurando uma saída para um reino mais
vasto de percepção, e para uma esfera de iniciativas mais segura. Este estágio foi
sempre expresso por indivíduos avançados em todos os tempos, mas nunca antes a
própria humanidade esteve nesta condição. Nisto reside a maravilha da conquista
passada, e nisto reside a hora da oportunidade presente.

O Discípulo do Mundo, Hoje

As provas a que Hércules voluntariamente se submeteu, e os trabalhos a que, às vezes


impensadamente, se atirou, são aquelas possíveis para muitos milhares de indivíduos
hoje. Será também evidente quão curiosamente aplicáveis às condições modernas são
os vários detalhes da dramática, e por vezes, divertida história dos seus esforços no
caminho da ascensão. Cada um de nós é um Hércules em embrião, e cada um de nós
se depara com idênticos trabalhos; cada um de nós tem a mesma meta a conquistar, e
o mesmo círculo do zodíaco a abranger. O trabalho a ser feito como objetivo primeiro é
a eliminação de todo o medo e o controle das forças naturais da natureza humana.
Estas, em todas as combinações possíveis, Hércules tem que enfrentar, antes de
escalar o monte da iniciação em Capricórnio, e tornar-se o servidor da humanidade.

Competição e objetivos egoístas têm que ser completamente mudados e eliminados, e


encontraremos Hércules aprendendo a lição de que agarrar-se a qualquer coisa para o
eu separado, não faz parte da missão de um filho de Deus. Ele tem que descobrir que é
um indivíduo, somente para descobrir que o individualismo deve ser inteligentemente
sacrificado pelo bem do grupo. Ele descobre, também, que a ambição pessoal não tem
lugar na vida do aspirante que está em busca de libertação dos recorrentes ciclos de
existência e da constante crucificação na cruz da matéria. As características do homem
imerso na vida da forma e sob o domínio da matéria, são o medo, o individualismo, a
competição e a cobiça. Estes têm que ceder lugar à confiança espiritual, à cooperação,
à consciência grupal e ao altruísmo. Esta é a lição que Hércules nos traz; esta é a
demonstração da vida de Deus que está sendo trazida à operação no processo criativo,
e que floresce, de maneira sempre mais bela, a cada volta que a vida de Deus faz em
toro do zodíaco, o que, dizem-nos os astrônomos, leva aproximadamente vinte e cinco
mil anos para completar-se.

Esta é a história do Cristo cósmico, crucificado na Cruz Fixa dos céus; esta é a história
do Cristo histórico, apresentada na história do evangelho e representada, na Palestina,
há dois mil anos; esta é a história do Cristo individual, crucificado na cruz da matéria, e
encarnado em cada ser humano, Deus, encarnado na matéria. Esta é a história do
nosso sistema solar, a história do nosso planeta, a história do ser humano. Assim, ao
admirarmos os estrelados céus acima de nós, temos eternamente representado para
nós este grande drama, o qual é detalhadamente explicado ao aspirante pela história
de Hércules.

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Pensamentos-Chave

Quatro pensamentos-chave podem ser aqui apresentados, que expressam o propósito


subjacente do processo criativo e o objetivo, tanto do Cristo Cósmico quanto do
aspirante individual. Estes pensamentos-chave nos dão a pista para a realização do
plano. Tomados em conjunto, eles demonstram toda a história da relação espírito e
matéria, vida e forma, e alma e corpo.

Primeiro: “A natureza expressa energias invisíveis através de formas visíveis”. Por trás
do mundo fenomênico objetivo, humano ou solar, pequeno ou grande, orgânico ou
inorgânico, estende-se um mundo subjetivo de forças, o qual é responsável pela forma
externa. Por trás da concha material externa encontra-se um vasto império da
EXISTÊNCIA, e é neste mundo de energias vivas que tanto a religião quanto a ciência
estão agora penetrando. Todas as coisas externas e tangíveis são símbolos de forças
criativas internas, e é esta ideia que serve de fundamento a toda simbologia. Um
símbolo é uma forma externa e visível de uma realidade espiritual interna.

É com esta inter-relação entre a forma externa e a vida interna que Hércules se debate.
Ele conhece-se como a forma, o símbolo, pois o domínio da natureza material inferior
fez sua presença sentir-se com a facilidade advinda de longas eras de expressão. Ao
mesmo tempo ele sabia que o seu problema era expressar o ser e a energia espirituais.
Ele tinha que aprender de fato e pela experiência que ele era Deus, imanente na
natureza; que ele era o “Self” em íntima relação com o Não-Eu; ele tinha que fazer
experimentos com a lei de causa e efeito, isto do ponto de vista do iniciador das
causas, a fim de produzir efeitos inteligentes. E assim ele percorreu os doze signos do
zodíaco, lutando para trabalhar subjetivamente, e esforçando-se para rejeitar o fascínio
e atração da forma tangível externa.

O segundo pensamento-chave pode ser expresso nas palavras seguintes: “A concepção


de uma Deidade oculta jaz no coração de todas as religiões.” Esta é a realização mística
e o objetivo da busca que a humanidade tem empreendido desde o início dos tempos.
Os expoentes das religiões mundiais personificam nos seus ensinamentos um aspecto
da busca, aceitando o fato de Deus como premissa básica, e pelo amor, devoção e
adoração de seus corações, provando a realidade de sua Existência. O testemunho dos
místicos de todas as épocas e raças é tão vasto que agora, por si mesmo, constitui um
corpo de fatos comprovados e não pode ser contestado.

Os investigadores cientistas têm procurado encontrar a verdade por meio de um


conhecimento da forma, e colocaram-nos numa posição de amplo conhecimento e, ao
mesmo tempo, nos dando conta de nossa profunda ignorância. Através da física,
química, biologia e outras ciências, muito aprendemos sobre a roupagem externa de
Deus, mas estamos agora às voltas com um reino em que tudo aparece como hipóteses
e inferências. Tudo que sabemos com certeza é que todas as formas são aspectos da
energia; que há uma interação e um impacto de energias sobre o nosso planeta; que o
planeta é, ele próprio, uma unidade de energia composta por inumeráveis unidades de
energia, e que o próprio homem é igualmente um feixe composto de forças e se move
num mundo de força. Este é o ponto a que a ciência tão maravilhosamente nos
conduziu, e é neste ponto que o astrólogo, o ocultista, o idealista e o místico também
se encontram e dão testemunho de uma Deidade oculta, de um Ser vivente, de uma
Mente Universal, e de uma Energia Central.

No drama que se desenrola nos céus, nas conclusões dos investigadores científicos, nos
cálculos matemáticos dos astrólogos, e no testemunho dos místicos, podemos observar,
emergindo com firmeza, a manifestação desta divindade oculta. Pouco a pouco, através
do estudo da história, da filosofia e das religiões comparadas, vemos o plano dessa
Deidade tornar-se significativamente aparente. Na passagem do sol pelos doze signos
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do zodíaco, podemos observar a maravilhosa organização do plano, a focalização das
energias, e o crescimento da tendência para a divindade. Agora, finalmente, neste
século, o objetivo e o subjetivo tornaram-se tão estreitamente misturados e fundidos
que é quase impossível dizer-se onde um começa e o outro acaba. O véu que esconde a
Deidade oculta adelgaça-se, e o trabalho daqueles que conquistaram o conhecimento, o
programa do Cristo e da sua Igreja, os planos do grupo dos trabalhadores do mundo,
dos Rishis e da Hierarquia oculta do nosso planeta, estão agora concentrados em
conduzir a humanidade pelo Caminho do Discipulado, e preparar muitos dos indivíduos
mais avançados para que eles se tornem os conhecedores e os iniciados da nova era.
Assim, os homens passarão da Câmara do Aprendizado para a Câmara da Sabedoria;
do reino irreal para o Real, e da escuridão exterior da existência fenomênica para a luz
que internamente brilha no reino do espírito.

O terceiro pensamento-chave dá-nos uma indicação do método. No transcurso dos


tempos têm soado as palavras: “Eu sou aquele... que desperta o observador
silencioso.” Tornou-se claro para os pesquisadores em todos os campos, que no interior
de todas as formas há um impulso para a expressão inteligente, e uma certa qualidade
de vivência a que chamamos consciência, e que, na família humana, toma a forma de
autoconsciência. Quando verdadeiramente desenvolvida, esta autoconsciência capacita
o homem a descobrir que a Deidade oculta no universo é de natureza idêntica - embora
muitíssimo superior em grau e consciência - à da Deidade oculta no seu interior. O
homem pode, então, conscientemente tomar-se o Espectador, o Observador e o
Percebedor. Ele não mais está identificado com o aspecto matéria, mas passa a ser
Aquele que a usa como um meio de expressão.

Quando este estágio é alcançado, iniciam-se os grandes trabalhos, e a batalha progride


conscientemente. O homem é arrastado para duas direções. O hábito chama-o,
sedutoramente, a identificar-se com a forma. A nova compreensão impele-o a
identificar-se com a alma. Tem lugar, então, uma reorientação, e um esforço novo e
autodirecionado se inicia, e que é descrito na história de Hércules, o Deus-Sol. No
momento em que a altitude intelectual foi alcançada, o “Observador silencioso”
desperta para a atividade. Hércules dá início aos seus trabalhos. O ser humano, até
então arrastado pelo impulso da onda evolucionária, e governado pelo desejo de
experiência e de posses materiais, passa a ser controlado pelo Morador interno divino.
Hércules emerge como o aspirante, inverte a direção e começa a trabalhar através dos
doze signos do zodíaco, só que agora trabalha partindo de Áries para Peixes, através de
Touro (no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio), em vez de trabalhar de modo
retroativo como a humanidade comum, ou seja, de Áries para Touro, via Peixes (no
sentido dos ponteiros do relógio).

Finalmente, a mudança do foro de sua vida e a firme dedicação aos doze trabalhos nos
doze signos habilita o discípulo a tornar-se o vencedor triunfante. Então, ele pode
compreender a significação do quarto pensamento-chave e, em uníssono, a Deidade
Cósmica, pode exclamar:

“Ouvi este grande segredo. Embora Eu esteja acima do nascimento e renascimento,


ou Lei, sendo o Senhor de tudo que existe, pois tudo de mim emana, ainda assim Eu
quero aparecer no meu próprio universo, e nasço, portanto, por meu Poder, e
Pensamento, e Vontade.” (Bhagavad Gita, compilado e adaptado pelo Iogue Ramacharaka)

9
O Discípulo Hércules - O Mito
Ele postou-se diante do Mestre. De modo obscuro compreendia que estava vivendo
uma crise que conduziria a uma mudança de discurso, de atitude e de plano. O Mestre
examinou-o com um olhar de aprovação.

“Teu nome?” perguntou; e aguardou a resposta.

“Herakles”, veio a resposta, “ou Hércules. Dizem que significa a rara glória de Hera, a
radiação e o esplendor da alma. Que é a alma, oh Mestre? Dizei-me em verdade.”

“A tua alma, tu a descobrirás enquanto executas tua tarefa, e encontrarás e usarás a


natureza que é a tua. Quem são teus pais? Responde, filho.”

“Meu pai é divino. Eu não o conheço, exceto que, no meu íntimo, eu sei que sou seu
filho. Minha mãe é terrena. Conheço-a bem, e ela fez de mim isto que vedes. Do
mesmo modo, oh Mestre da minha vida, eu sou também um dos gêmeos. Há um outro,
como eu. Conheço-o bem, e contudo, não sei quem ele é. Um é da terra, terreno
portanto; o outro é um filho de Deus”.

“Hércules, meu filho, que tipo de treinamento tiveste? Que sabes fazer, e como fostes
ensinado?”

“Sou competente em tudo; fui bem ensinado, bem treinado, bem guiado e sei fazer
qualquer coisa. Conheço todos os livros, todas as artes, e as ciências também; conheço
o labor dos campos abertos; além da perícia daqueles que podem viajar e conhecer os
homens. Reconheço-me como alguém que pensa, sente e vive.”

“Uma coisa devo dizer-vos, oh Mestre, para não vos enganar: é que, não há muito
tempo, eu matei todos aqueles que, no passado, me ensinaram. Matei meus
instrutores, e na minha busca pela liberdade, me sinto agora livre. Procuro conhecer-
me, dentro de mim e através de mim mesmo.”

Essa foi uma ação sábia, meu filho, e agora estás livre. Começa agora a trabalhar,
lembrando-te, ao fazê-lo, que na última volta da roda virá o mistério da morte. Não te
esqueças disto. Que idade tens, meu filho?”

“Acabara de fazer dezoito anos quando matei o leão, cuja pele uso desde então. Depois
aos vinte e um encontrei minha esposa. Hoje estou aqui diante de vós três vezes liberto
- livre dos meus antigos instrutores, livre de medo de ter medo, e realmente livre de
todo desejo.”

“Não te gabes, meu filho, mas sim, prova-me a natureza dessa liberdade que tu
pressentes. Novamente em Leo, tu encontrarás o leão. Que farás então? De novo em
Gêmeos, os instrutores que mataste cruzarão teu caminho. Tê-lo-ás realmente deixado
para trás? Que farás? Mais uma vez em Escorpião, lutarás com o desejo. Estarás livre,
ou com sua astúcia, a serpente te encontrará e te arrastará para a terra? Que farás?
Prepara-te para provar tuas palavras e liberdade. Não te gabes, meu filho, mas prova-
me tua liberdade e profundo desejo de servir.”

O Mestre sentou-se em silêncio e Hércules retirou-se e voltou-se para o primeiro


grande Portão. Então, Aquele Que Presidia, sentado na Câmara do Conselho do Senhor,
dirigiu-se ao Mestre e ordenou-lhe que chamasse os deuses para testemunharem o
empenho do novo discípulo, e pô-lo no Caminho. O Mestre chamou-os. Os deuses
responderam. Vieram, e ofereceram a Hércules seus presentes e muitas palavras de

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sábios conselhos, pois conheciam as tarefas que o esperavam e os perigos do Caminho.

Minerva deu-lhe um manto, que ela própria tecera, um fino manto de rara beleza, e
que lhe assentou perfeitamente. Hércules vestiu-o, com triunfo e orgulho, exultante em
sua juventude. Ele tinha que provar seu valor.

Um peitoral de ouro Vulcano forjara para Hércules, para proteger seu coração, fonte da
vida e da força. Envolvido por este presente de ouro, e assim escudado, o novo
discípulo sentiu-se seguro. Ele ainda teria que provar sua força.

Netuno chegou com uma parelha de cavalos e entregou as rédeas a Hércules. De rara
beleza e comprovado vigor vinham eles diretamente do lugar das águas. E Hércules
sentiu-se contente, pois ainda tinha que provar sua capacidade para aquela parelha de
cavalos.

Com uma fala graciosa e brilhante espirituosidade, chegou Mercúrio, trazendo, numa
bainha de prata, uma espada de raro modelo. Ele afivelou-a à coxa de Hércules,
ordenando-lhe que a mantivesse sempre polida e afiada. “Ela tem que dividir e cortar”,
disse Mercúrio, “e com precisão e conquistada habilidade, deve mover-se”. E Hércules,
com alegres palavras, agradeceu. Ele ainda teria que comprovar sua alardeada
habilidade.

Com o estridor de trombetas e tropel de cavalos, irrompeu a carruagem do Deus Sol.


Chegara Apoio, e com sua luz e encanto cumprimentou Hércules, dando-lhe um arco,
um arco de luz. Através das portas abertas de nove Portões terá que passar o discípulo,
antes de ter adquirido habilidade suficiente para retesar aquele arco. Consumiu-lhe
todo aquele tempo para provar que era um Arqueiro. Contudo, quando o presente lhe
foi ofertado, Hércules aceitou-o, confiante no seu poder, um poder até então não
provado.

E assim equipado, lá estava ele. Os deuses permaneceram ao redor do Mestre,


observando as alegres cabriolas de Hércules. Ele brincou diante dos deuses, e mostrou
suas proezas, jactando-se de sua força. Subitamente, parou e por longo tempo pôs-se
a refletir; passou as rédeas dos cavalos a um amigo, a outro entregou a espada, e a
um terceiro, o arco. Em seguida, correu para um bosque próximo e desapareceu.

Os deuses aguardavam sua volta, entre intrigados e curiosos diante desta estranha
conduta. Ao retomar do bosque, com o braço erguido acima da cabeça, empunhava
uma clava de madeira, que cortara de uma vigorosa árvore.

“Isto é meu mesmo”, gritou ele, “ninguém m’o deu. Isto eu posso usar com poder. Oh
deuses, observai meus grandes feitos.”

Então, e somente então, o Mestre disse: “Começai a trabalhar”. (O Tibetano)

Elaboração do Mito

Vamos agora tecer considerações sobre o próprio Hércules. É uma história


interessantíssima e que tem sido abordada por muitos escritores. Discutir os detalhes
de sua vida e debater a sequência dos acontecimentos, não é, de forma alguma, o
nosso objetivo. As várias narrativas diferem quanto aos detalhes, de acordo com os
preconceitos do historiador, e podem ser estudadas nas muitas histórias clássicas e em
dicionários. Trataremos aqui apenas dos famosos doze trabalhos, sobre os quais lemos
que:

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“Hércules, pela vontade de Júpiter, foi submetido ao poder de Euristeu, e forçado a
obedecer a todas as suas ordens. Ele consultou o oráculo de Apolo e foi-lhe dito que,
em obediência às ordens de Júpiter, ele teria que, por doze anos, submeter-se à
vontade de Euristeu; e que, depois de ter concluído os mais renomados trabalhos,
seria trasladado para os deuses.”

Assim, ele deu início à sua carreira e, como um discípulo sob o comando de sua alma,
empreendeu os doze trabalhos, executando cada um deles em um dos signos do
zodíaco. Ele, portanto, representa todo discípulo que busca trilhar o caminho e
demonstrar controle sobre as forças de sua natureza e, do mesmo modo, representa o
ponto em que a humanidade se encontra agora.

Seu nome era primitivamente Alkeides, mudado para Hércules depois dele ter passado
por uma estranha experiência, e antes de ter dado início aos seus trabalhos. O nome
Hércules era originalmente Herakles, que significa “a glória de Hera”. Hera representa
Psique, ou a alma, e assim seu nome personificava sua missão, que era manifestar, em
trabalho ativo no plano físico, a glória e o poder de sua divindade inata.

Uma das antigas escrituras da índia diz: “Pelo domínio da vida que cerceia, vem a
radiância”, e esse domínio sobre a forma que aprisiona, era a gloriosa consumação de
todas as iniciativas de Hércules. Dizem-nos que ele teve um pai divino e mãe terrena e
assim, tal como em todos os filhos de Deus, vemos emergir a mesma simbologia
básica. Eles tipificam em suas pessoas a dualidade essencial de Deus em manifestação,
da vida na forma, da alma no corpo, e do espírito e matéria. Esta dualidade é a glória
da humanidade e constitui também o problema que cada ser humano tem que
solucionar. Pai-Espírito e Mãe-Matéria juntam-se no homem, e o trabalho do discípulo é
desligar-se dos laços da mãe para assim responder ao amor do Pai.

Esta dualidade é também posta em relevo pelo fato de que ele era um de gêmeos.
Lemos que um dos gêmeos nasceu de pai terreno, e que o outro era o filho de Zeus.
Esta é a grande realização a que chega cada ser humano desenvolvido e
autoconsciente. Ele se vê consciente de dois aspectos que se encontram em sua
natureza. Existe a personalidade, bem desenvolvida e altamente organizada, por meio
da qual ele habitualmente se expressa (mental, emocional e física), com todas as três
partes coordenadas numa unidade integrada. Depois existe a natureza espiritual, com
seus impulsos e intuições, sua constante atração para as coisas vitais e divinas, e a
consequente guerra interna que resulta da percepção desta dualidade. Hércules era o
discípulo, vivendo num corpo físico, mas às vezes capaz, como São Paulo, de ser
“arrastado para o terceiro céu”, e relacionar-se com seres divinos. Nesta condição, ele
visualizou o Plano, soube o que tinha a fazer, e percebeu a realidade da vida espiritual.

Há também um pequeno e interessante fato na história da sua vida ligado a esta


mesma verdade. Contam-nos que, enquanto ainda infante, Hércules matou seu irmão
gêmeo. Deixou de ser uma entidade dividida, uma dualidade, mas alma e corpo
formaram uma unidade. Isto indica sempre o estágio do discípulo. Ele fez a unificação e
sabe que ele é alma no corpo, e não alma e corpo, e agora esta conscientização colore
todos os seus atos. Ainda no berço, conta a história, a vigorosa criança matou duas
serpentes, novamente dando ênfase à dualidade. Neste ato, ele previu o futuro, no qual
demonstrou que a natureza física não mais o controlava e sim, que ele podia
estrangular a serpente da matéria e que a grande ilusão não mais o aprisionava.
Matara a serpente da matéria e a serpente da ilusão. Se estudarmos a simbologia da
serpente, veremos que três serpentes são descritas: uma representa a serpente da
matéria, outra, a serpente da ilusão, e a terceira, a serpente da sabedoria. Somente se
descobre esta última serpente depois que as duas primeiras tenham sido mortas.

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Esta percepção da dualidade define o primeiro estágio da experiência espiritual e cobre
os pensamentos de todos os grandes aspirantes e místicos do mundo. Note-se como
São Paulo brada ao se debater com esse problema:

“Acho, então uma lei que, quando quero fazer o bem, o mal está presente, comigo.”

“Porque, seguindo o homem interior, eu me comprazo na lei de Deus. Mas sinto nos
meus membros outra lei, batalhando contra a lei de meu espírito, que me faz cativo
na lei do pecado, que está nos meus membros.”

“Dou graças a Deus, através de Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que, eu mesmo,
segundo o espírito, sirvo à lei de Deus, mas segundo a carne, à lei do
pecado”. (Romanos VII, 21-25)

Enquanto Hércules crescia, assim nos contam, foram dispensados grandes cuidados à
sua educação. Foi treinado em todas as atividades e cada faculdade de que era dotado
foi desenvolvida e organizada. Qual a lição que podemos extrair daí? E a necessidade
de entender que cada discípulo, realmente digno desse nome, tem de forçosamente ser
um membro altamente desenvolvido da família humana. As três partes de sua natureza
têm que estar desenvolvidas; a mente, bem provida e operante, e ele tem que saber
como usá-la; sua natureza sensível emocional tem que ser capaz de responder a todos
os tipos de contatos; o corpo físico tem que ser um meio de expressão apropriado à
alma que o habita, e equipado para assumir as tarefas a que o homem se propõe.

Por muitos séculos tem havido entre os estudantes uma tendência para depreciar e
subestimar a mente. Conseguem dizer levianamente que “a mente é a assassina do
real”, e através de uma despercebida preguiça e inércia mental, sentir que o importante
é ter desenvolvida a natureza do coração. Consideram a mente, com sua capacidade de
analisar e discriminar, como um engodo e uma ilusão. Mas certamente isto é um erro.
O conhecimento de Deus é tão necessário e tão importante quanto o amor de Deus; e
isto a nova era, com seu novo tipo de aspirante, certamente, provará. Santidade,
doçura e uma índole agradável e amorosa têm seu lugar no conjunto das características
do aspirante, mas quando são acompanhadas de estupidez e mentalidade tacanha,
deixam de ser tão úteis quanto poderiam ser, caso estivessem unidas à inteligência.
Quando ligadas a um intelecto de alto nível, e com poderes mentais orientados para o
conhecimento divino, produzem aquele conhecedor de Deus cuja influência se espalha
pelo mundo, e que pode não só amar o seu semelhante, mas também ensinar-lhe.

Assim, Hércules foi preparado para todas as tarefas e pode tomar lugar entre os
pensadores de seu tempo. Também nos dizem que ele tinha quatro cúbitos de altura,
modo simbólico de expressar o fato de ter ele alcançado o pleno desenvolvimento nos
quatro departamentos de sua quádrupla personalidade. O homem, dizem-nos, é o
cubo, “a cidade quadrangular”. Fisicamente, emocionalmente e mentalmente, ele
estava desenvolvido, e a estes três fatores junta-se um quarto, a alma na posse
consciente do seu mecanismo, a personalidade desenvolvida.

Tendo atingido seu crescimento e tendo sido treinado em tudo aquilo que o mundo lhe
podia dar, dizem-nos que, em seguida, ele matou seus instrutores. Matou-os todos e
livrou-se deles. Por quê? Porque alcançara o ponto em que podia firmar-se em seus
próprios pés, tirar suas próprias conclusões, guiar sua própria vida e tratar de seus
próprios assuntos. Era necessário, portanto, ver-se livre de todos aqueles que
procuravam supervisioná-lo; tinha que romper com toda autoridade e sair à procura de
seu próprio caminho e estabelecer seus próprios contatos com a vida. É neste ponto
que muitos aspirantes se encontram hoje. Possuem muita teoria, um relativamente
grande conhecimento técnico sobre a natureza do Caminho e sobre o que deveriam
fazer ao trilhá-lo, mas ainda não estão firmes nos pés para caminhar sozinhos, sem
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assistência. Precisam de escoras, e procuram quem lhes diga o que fazer e no que
devem acreditar. Veremos no terceiro trabalho que Hércules executou, no signo de
Gemini, que ele foi testado sobre este ponto e teve que provar que estava certo no
passo que dava. É então que ele faz a interessante descoberta de não ser tão livre nem
tão forte quanto, no seu entusiasmo juvenil, fantasiara ser.

Quando chegou aos dezoito anos, relatam-nos, ele matou um leão que estivera
devastando o campo, e que ele começou a realizar outros serviços públicos, de modo
que, pouco a pouco, seu nome tornou-se conhecido entre o povo. Dezoito é sempre um
número significativo.

Nele encontramos o número dez, que é o número da perfeição da personalidade, mais o


número oito, que, segundo alguns numerologistas, é o número da força do Cristo. É a
força do Cristo, no novo ciclo do discipulado, procurando expressar-se, que provoca a
confusão e as dificuldades que caracterizam esse estágio. Talvez valha à pena observar
o seguinte:

“O número oito é o círculo que já descobrimos ser o recipiente de todas as potências


a partir das quais a Luz trará a Perfeição, mas agora torcido ou dobrado sobre si
mesmo. A serpente não mais engole a sua cauda, completando assim o seu ciclo,
mas retorce-se e dá voltas no espaço e, com suas contorções, produz uma imagem
deturpada de si mesma... Porém, no número dezoito temos a visão do Caminho Reto
e Estreito: o Ponto desdobrou-se no um e tornou-se o eixo em tomo do qual nossa
vida gira. Nesta etapa o Iniciado defronta-se com esta verdade divina e terá sentido o
poderoso impulso da Vida Una. A partir de então, ele aspira a tomar a linha torcida
(8) uma serva da linha reta .” (A Chave do Destino, H. A. e F. H. Curtiss, pp. 246-247)

É também interessante observar o que nos é dito na Cabala:

“O décimo oitavo caminho é chamado a Casa da Influência... e do meio da


investigação são extraídos os arcanos e o sentido oculto que moram na sua sombra e
que a ela se agarram a partir da causa de todas as causas.” (Sepher Yetzirah, no. 30)

É isto que, aos dezoito anos, Hércules se prepara para fazer. Ele deverá trilhar o
Caminho em que todas as coisas ocultas podem ser trazidas à luz; ele atingira o ponto
em que pode alcançar o conhecimento de si mesmo e começar a investigar as forças da
natureza. Este é o problema de todos os discípulos.

O episódio seguinte na sua carreira é o do casamento e do nascimento de três filhos,


um modo simbólico de expressar a verdade de que ele fizera a unificação com Psique, a
alma. Desta união nasceram os três aspectos da alma, ou começaram a manifestar-se.
Ele começava a conhecer a natureza da vontade espiritual e a usá-la para direcionar
sua vida. Ele vivenciou os resultados da obra do amor espiritual e conscientizou-se da
necessidade de servir. A mente espiritual começou a revelar-lhe a verdade, e ele viu o
propósito subjacente. Estas são as correspondências superiores dos três aspectos da
personalidade: sua mente, sua natureza emocional e seu corpo físico.

Nós agora o surpreendemos atravessando um estágio bastante singular. Lemos, na


antiga história, que Hera (Psique, ou a alma) o fez enlouquecer. Ela levou-o à loucura
com o seu ciúme, e durante este curioso estado, lemos que ele matou seus filhos, seus
amigos e todos a ele relacionados. Não se poderia sugerir, em relação a isto, que ele
passara por aquele doentio estado, comum a todos os principiantes no Caminho do
Discipulado, no qual uma mórbida conscientização sacrifica tudo e todos pelo
desenvolvimento da alma individual? Esta é uma falha muito comum entre os
aspirantes. Seu senso de proporção é frequentemente falho e distorcida sua escala de

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valores. A vida sadia e equilibrada, que é a ideal para um filho de Deus, fica
subordinada à fanática determinação de progredir espiritualmente. A ambição espiritual
domina o aspirante, e ele se toma destrutivo, desequilibrado e habitualmente de
convívio extremamente difícil. Há um excelente conselho na injunção bíblica, “Não
sejais retos demais. Por que deveríeis morrer?” Este estágio nos é curiosamente
exemplificado em larga escala pelos fanáticos sacrifícios feitos no oriente, e sob a
Inquisição e os Reformistas Protestantes escoceses, impostos a todos aqueles que
interpretavam a verdade de modo diferente da convicção de um determinado grupo de
crentes.

Quando Hércules se recuperou dessa insanidade, como felizmente aconteceu, dizem-


nos que lhe foram dados um novo nome e uma nova moradia e que os doze trabalhos
lhe foram designados, para que os executasse. Dizem-nos que lhe foram dirigidas estas
palavras: “Deste dia em diante, teu nome não mais será Alkeides, mas Herakles. Em
Térjus farás tua morada, e lá, servindo, executarás teus trabalhos. Quando isto tiver
sido realizado então tornar-te-ás um entre os Imortais.” (Mitologia Grega e Romana, Vol.I,
Fox). Tendo recobrado a sanidade, o foro de sua vida mudou. Não mais vivia no lugar
onde antes vivera. O nome de sua alma tornara-se o seu nome, e isto constantemente
o fazia lembrar-se de que expressar a glória da alma era a sua missão. Os doze
grandes trabalhos que deveriam apor o selo da realização de sua vida, e que indicariam
seu direito de juntar-se ao grande grupo dos Imortais, foram-lhe esboçados e ele
entrou noCaminho.

Dizem-nos que em sua pessoa ele simbolizava a Cruz Fixa nos céus, formada pelas
quatro constelações: Touro, Leão, Escorpião e Aquário. Conta a tradição que ele era de
físico atarracado, assim como era psicologicamente teimoso e pronto para atacar
qualquer problema, e atirar-se cegamente em qualquer iniciativa. Nada conseguia
demovê-lo de seu propósito, e veremos ao estudarmos os seus trabalhos, que se
atirava a eles impetuosamente. Nada o detinha, nada o amedrontava, e
obstinadamente ele prosseguia. O antigo motto que tem governado os atos de todos os
discípulos ativos tornou-se o seu, e sua alma impôs-lhe como uma necessidade “o
poder de fazer, o poder de ousar, o poder de calar e o poder de saber”. O “poder de
fazer” é o motto de Touro e disto ele deu exemplo nos seus doze trabalhos. Ele
simbolizava Leão, porque usava sempre a pele do leão, como prova de sua coragem; e
sendo o motto desse signo “o poder de ousar”, nenhum perigo o amedrontava e
dificuldade alguma o fazia desistir.

Talvez seu feito mais extraordinário tenha sido realizado no signo de Escorpião; pois o
grande trabalho era vencer a ilusão. Isto foi consumado por completo no signo de
Escorpião. O motto deste signo é “silêncio”. Em Capricórnio, ele se torna o Iniciado, e
este estágio só é possível quando a ilusão foi vencida, e conquistado o poder do
silêncio. Portanto, quando ainda uma criança no berço, sem saber falar, ele simbolizou
o alto nível de sua conquista pelo estrangulamento das duas serpentes. Depois, na
maturidade, ele simbolizou em si próprio Aquário, o Homem, cujo motto é “saber”. Ele
possuía una mente e usou seu intelecto para o trabalho e serviço ativos.

Assim, fazendo, ousando, em silêncio e com conhecimento, ele venceu todos os


obstáculos e passou, sem impedimentos, de Áries a Peixes; começando em Áries como
o humilde aspirante, e terminando em Peixes como o conhecedor de tudo, vitorioso
Salvador do Mundo.

Um ponto poderia ser aqui assinalado. Na história de Hércules, nada do que ele disse
nos é relatado; contam-nos apenas o que ele fez. Através de seus feitos, ele conquistou
o direito de falar. Na história daquele Filho de Deus maior, Jesus, o Cristo, não só nos é
relatado o que ele fez, mas também o que disse. No silêncio de Hércules e em sua
firme realização, no aperfeiçoamento independente dos fracassos e dificuldades com
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que se defrontou, e em sua capacidade de resistir, são-nos mostrados as características
do discípulo. Na história de Jesus, o Cristo, através da demonstração de seus poderes e
pelas palavras que pronunciou, temos as provas do Iniciado.

E agora, tendo chegado à maturidade, tendo desenvolvido as características


necessárias à sua missão, lemos que os deuses e as deusas esmeraram-se em equipá-
lo para o trabalho que ele tinha a fazer. Ele havia recebido tudo que o mundo lhe
poderia ofertar; agora, os poderes da alma eram-lhe conferidos, e ele tinha que
aprender como usá-los. Lemos que Minerva lhe deu um belo manto mas, como jamais
houvesse referências de que ele o houvesse usado, podemos deduzir que havia alguma
intenção simbólica nisto. Há muitos casos na História em que um manto é dado: José
recebeu de seu pai, um, multicolorido; o manto de Elias passou para Elisha, e o manto
de Cristo foi disputado e dividido entre os soldados durante a crucificação. É voz geral
que o manto é o símbolo da vocação. A vocação de Elias tinha que passar para Elisha; a
vocação de Cristo, o Salvador do Mundo, terminara na crucificação quando ele encetou
um trabalho maior e mais importante.

A sabedoria que agora Hércules conquistara, porque realizara a unificação com a alma,
imprimiu nele o sentido da vocação. Ele estava comprometido com a vida espiritual, e
nada podia detê-lo. Vulcano dera-lhe um peitoral de ouro, magnético e protetor, o
símbolo da energia, emanando das altas fontes do poder espiritual, que o capacitará a
realizar os doze trabalhos e prosseguir intimorato. De Netuno, o deus das águas, ele
recebeu cavalos. A simbologia aqui subjacente é interessantíssima. Cavalos, assim
como Netuno, o deus das águas, e a deidade da natureza aquosa, emocional,
representam a capacidade de se deixar levar seja por uma linha de pensamento, seja
por uma reação emocional. Esta natureza emocional, fluídica, com sua sensitividade e
poder para sentir, quando corretamente usada e subordinada aos propósitos divinos, é
um dos maiores trunfos de que o discípulo dispõe. Com a ajuda de Netuno e dos
velozes corcéis, Hércules podia entrar em contato com a distante esfera na qual seus
trabalhos podiam ser lançados. Através da sensibilidade emocional e resposta também
nós podemos entrar em contato com o mundo no qual nossos trabalhos são lançados.
Assim equipado com vocação, energia espiritual e sensibilidade, o presente de uma
espada que veio de Mercúrio, o mensageiro dos deuses, reveste-se de profundo
significado, porque a espada é o símbolo da mente que divide, separa e elimina.
Através do seu uso, Mercúrio juntou aos outros presentes ofertados a Hércules, o da
análise mental e da discriminação. Contam-nos que Apolo, o próprio Deus Sol,
interessou-se por Hércules, e ponderou sobre o que lhe poderia dar que servisse a ele.
Finalmente deu-lhe um conjunto de arco e flecha, simbolizando a capacidade de ir
direto à meta; símbolo também, daquela penetrante iluminação, aquele facho de Luz
que podia iluminar a escuridão do caminho, quando necessário.

Assim equipado, está Hércules pronto para a grande tarefa. E quando todos os
presentes lhe haviam sido dados, e ele ali estava com seu equipamento divino, lemos
sobre um pequeno, mas intrigante detalhe: ele sai e volta com um bastão que cortara
para seu uso. Todos aqueles presentes divinos eram belos e maravilhosos, mas por
enquanto, ele não sabia como usá-los. Sentia sua vocação, acreditava na energia
espiritual, diziam-lhe que possuía os cavalos de contato, e que, se assim o desejasse, o
arco e flecha da iluminação eram seus; porém ele gostava daquele bastão que ele
mesmo fizera e que lhe era familiar. Ele preferia abrir seu caminho com o bastão que
ele sabia que poderia usar, a usar aquelas ferramentas estranhas que lhe haviam sido
dadas. Assim, tomou do seu bastão de madeira e deu início aos trabalhos.

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1º Trabalho: A Captura das Éguas Antropófagas
(Áries, 21 de Março - 20 de Abril)

O Mito

O primeiro grande Portal estava aberto. Através dele ouviu-se uma voz: “Hércules, meu
filho, vai. Atravessa o Portal e inicia o Caminho. Executa teu trabalho e retorna até
mim, relatando o feito.”

Com gritos de triunfo, Hércules arrancou, correndo por entre os pilares do Portal, pleno
de imaginação confiança e certeza do poder. E assim o Trabalho começou e o primeiro
grande ato de serviço teve início. A história que eles contam traz ensinamentos para os
filhos dos homens, que são os filhos de Deus.

O filho de Marte, o belicoso Diomedes, governava a terra que se estendia além do


Portal, onde, nos pântanos do seu território, criava os cavalos e éguas para a guerra.
Selvagens eram os cavalos e ferozes as éguas, diante dos quais todos os homens
tremiam, pois que eles assolavam todos os recantos da região, causando grandes
danos e matando todos os filhos dos homens que cruzassem seu caminho, e
procriavam sem cessar cavalos extremamente selvagens e perversos.

“Captura essas éguas, e põe fim a seus malignos atos,” foi a ordem que chegou aos
ouvidos de Hércules. “Vai e salva essa terra distante e aqueles que nela vivem”.

“Abderis, vem e ajuda-me nesta tarefa,” gritou ele para o amigo que tanto amava e
que sempre o seguia por onde fosse. E Abderis veio e postou-se ao lado do amigo e
com ele enfrentou a tarefa. Traçando os planos com cuidado, os dois seguiram os
cavalos soltos pelos prados e pântanos da região. Finalmente, ele encurralou as bravias
éguas num campo onde não havia espaço para elas se moverem, e lá agarrou-as e
acorrentou-as. Ele deu gritos de alegria pelo sucesso alcançado.

Tão grande era o seu deleite pela proeza feita que ele julgou indigno de si segurar as
éguas ou conduzi-las pelo Caminho até Diomedes. Ele chamou o amigo e disse:
“Abderis, vem cá e conduz estes cavalos pelo Portal”. Então, deu meia volta e
orgulhosamente seguiu em frente.

Mas Abderis era fraco e teve medo da tarefa. Ele não conseguiu conter as éguas, ou
arreá-las ou conduzi-las pelo Portal, nas pegadas de seu amigo. As éguas voltaram-se
contra ele; atacaram-no e o pisotearam; mataram-no, e fugiram para as inóspitas
terras de Diomedes.

Mais sábio, presa da dor, humilde e abatido, Hércules retomou à sua tarefa. Saiu à
procura dos cavalos por toda a parte, deixando o amigo morrendo no chão. Prendeu
novamente os cavalos, e conduziu-os ele mesmo através do Portal. Mas Abderis jazia
morto.

O Mestre o acompanhou cuidadosamente com o olhar e enviou os cavalos para o lugar


da paz, para serem domesticados e adestrados. O povo daquela região, livre do medo,
deu as boas-vindas ao libertador, aclamando Hércules como salvador de sua terra. Mas
Abderis jazia morto.

O Mestre voltou-se para Hércules e disse-lhe: “O trabalho primeiro está terminado; a


tarefa foi feita, porém mal feita. Aprende a verdadeira lição desta tarefa, e depois
prossegue para mais extenso serviço a teus semelhantes. Vai para a terra guardada
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pelo segundo Portal, encontra o Touro sagrado e leva-o para o Lugar Santo”. (O Tibetano
- Djwhal Khul) a 1°. Tarefa não é o Touro

O Significado do Mito

Ao combinar esta história astrológica e simbólica com a vida diária e com as provas do
moderno discipulado, contaremos a história da tarefa que Hércules empreendeu e a
prova a que o rei Euristeu o submeteu; e então estudaremos o significado do signo no
qual ela teve lugar, pois há uma estreita ligação entre ambos, e o trabalho só se tornou
possível devido às características concedidas a Hércules nesse signo em particular.
Cada signo sujeita o homem que nele está trabalhando às influências de certas forças
que o distinguem, e abastece-o com certas tendências. Estas têm que ser
compreendidas se desejamos ver esclarecido o significado da prova.

Relacionadas com cada signo do zodíaco, serão encontrados três outras constelações,
que simbolicamente (e às vezes de modo surpreendente) encarnam o problema do
discípulo e indicam a solução. Tudo isto tem que ser levado em consideração, pois o
trabalho, o signo e as constelações aliadas às forças desencadeadas pela sua
combinação, constituem a história completa, cheia de elementos instrutivos. Gostaria
de assinalar para maior clareza, portanto, que as constelações simbolizam os aspectos
tríplices do espírito; que o signo nos fornece o campo de atividade da alma, e que a
tarefa retrata o trabalho do discípulo, vivendo no plano físico e esforçando-se para
demonstrar no campo de batalha do mundo, sua divindade inata e poderes latentes.
Nestes três, encontramos espírito, alma e corpo sumariados. Vida, consciência e forma
reúnem-se em Hércules, o eu pessoal, que agindo sob a influência da alma, o Cristo
interno, leva a efeito os propósitos do Espírito, o Pai no Céu. Depois analisaremos a
relação do signo e com as constelações, e encerraremos cada capítulo com uma
aplicação definida da história da prova à vida do discípulo e à vida da humanidade
como um todo.

Ao estudar os doze trabalhos, acompanharemos a carreira de Hércules no decurso de


sua passagem ao redor do zodíaco, a partir do signo de Áries, que é o signo do começo,
passando por Touro, Gêmeos, etc. (em sentido oposto ao dos ponteiros do relógio), até
Peixes, o signo da morte e da consumação. Esta trajetória será na maneira inversa à do
caminho aparente do sol (que segue os ponteiros do relógio), que começando com
Áries, parece retroceder através dos signos, passando para Peixes, depois para Aquário
e assim através de todos os demais signos, de volta a Áries. O homem que está imerso
na forma e vivendo sob a influência do aspecto matéria, segue necessariamente o
caminho da ilusão e das aparências; porém Hércules, a alma, segue o verdadeiro
Caminho, reverte o procedimento usual e, falando em sentido figurado, rema contra a
maré. Hércules, a alma despertada, está realizando o dia da oportunidade. Ele recebeu
as instruções para empreender os doze trabalhos e demonstrar suas capacidades; e foi-
lhe prometido que, caso cumprisse as exigências, seria transportado para o reino dos
deuses. Ele fora provido de todos os poderes divinos, embora, por enquanto, ainda não
os soubesse usar, e talhara para si a clava de seu próprio esforço, e com eles
simbolicamente subira na cruz: a cruz fixa dos céus, na qual ele permanece em espírito
até haver completado seu último trabalho.

Assim, ele dá início ao seu primeiro trabalho, mal compreendendo a magnitude de sua
tarefa, e despreparado pelo o insucesso. A parte encantadora da história de Hércules é
sua impulsividade e o fato dele nem sempre ter sido bem sucedido. Ele fracassava às
vezes e tinha que refazer o trabalho até que o sucesso coroasse seus esforços.

Dizem-lhe que Diomedes, o filho de Marte, o deus da guerra, possui um grande número
de éguas reprodutoras. Que estas andavam a solta, devastando os campos, causando
grandes danos e alimentando-se da carne dos seres humanos. Ninguém estava a salvo
18
delas e o terror instalara-se pela vizinhança. Além disso, estas éguas estavam
procriando um vasto número de cavalos de batalha, e Diomedes estava muito
preocupado com as consequências dessa situação. Euristeu, o Rei ordenara a Hércules
que as capturasse. Muitas tentativas haviam sido feitas com esse propósito, mas as
éguas escapavam sempre depois de matar os cavalos e homens enviados contra elas.
Mas Hércules, tendo aprisionado os cavalos, dera-os a Abderis para que os contivesse,
enquanto ele, pavoneando-se, seguia adiante, sem se dar conta da força dos cavalos
ou de sua selvageria. Antes que pudesse tomar medidas para evitá-lo, as éguas
voltaram-se contra Abderis e o pisotearam até a morte, e mais uma vez escaparam, e
novamente devastaram os campos. Assim, ele teve que recomeçar seu trabalho, e
depois de denodados esforços, mais uma vez conseguiu capturar as éguas. Este
primeiro trabalho, portanto, começou com um fracasso parcial, como acontece tão
frequentemente ao aspirante inexperiente e impetuoso. Assim é a história: breve,
dramática e encorajadora. E o que dizer do signo onde ela transcorrera?

O Signo

O signo de Áries, que foi o campo desta primeira atividade, é sempre referido como o
primeiro signo do Zodíaco. Neste signo, a grande roda começa sua volta cíclica. E,
portanto, o signo do começo. Cosmicamente falando, é o signo da criação, pensamento
este que está subjacente nas palavras da Bíblia, “O Cordeiro morto desde a fundação
do mundo”, (Rev. XIII, 8) pois este signo é chamado de Áries, ou do Carneiro. Na vida
do ser humano, ele marca o início da primeira consciência da existência latente,
subjetiva e a partida do ser humano no círculo da experiência. Na vida do aspirante ao
discipulado, ele dá a conotação do período de reorientação e de renovado esforço
autoconsciente, e sua partida naquele estágio final do caminho evolutivo que o levará
para fora do reino humano e o capacitará para fazer a transição para o reino dos
deuses. É esta a promessa feita a Hércules, e esta é a recompensa oferecida a todos os
discípulos. O primeiro trabalho marca o primeiro passo no “caminho da translação”.

Áries é o signo do poder em expansão, da irradiação da energia divina a partir da


deidade central, Deus, ou do ser humano, um filho de Deus. Esta energia flui em duas
direções (assim, o ponto torna-se a linha; o Uno torna-se o primeiro): flui para o
mundo das formas e também para o mundo do ser ou do espírito. Uma corrente de
energia expressa o caminho do retomo, da volta para o íntimo, e as duas juntas
constituem os dois arcos do grande círculo da existência. Neste signo tem início o
caminho no qual se toma a forma e esta domina; também nele começa a vida do
desenvolvimento interior e do domínio da alma, ou do Ser subjetivo. Reorganização,
reorientação, repolarização e regeneração, são as características desta etapa, e todas
elas são expressões da mesma força da vida. Os dois usos desta força dependem da
atenção mental do ser, divino ou humano, que as está utilizando. E a mesma força,
porém usada de duas diferentes maneiras, dependendo se o divino usuário focalizou
sua atenção sobre a tomada da forma, ou sobre o trilhar do caminho da libertação da
forma.

Durante eons, esta força da vida tem sido aplicada para fins egoístas, para propósitos
de autogratificação e para a satisfação do desejo. Pouco a pouco, a vida da forma vai
perdendo sua atração até que, tendo percorrido inúmeras vezes a roda zodiacal, o
homem novamente se encontra em Áries, só que desta vez com um novo foco, um
novo interesse e uma visão diferente. Fora-lhe prometido que, tendo atingido certos
objetivos, ele poderia cessar de encarnar e alcançaria o reino dos deuses; ele
aprendera, pela experiência, algo sobre a sua própria dualidade essencial e anseia por
deixar de satisfazer o aspecto inferior dessa dualidade para satisfazer às necessidades
do aspecto superior, e ele está começando a responder aos impulsos vindos do mundo
das almas, e a visualizar as finalidades e objetivos grupais. Agora tem que aprender a

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usar a força da vida em intenções altruístas, e não para a satisfação de sua ambição
pessoal.

Os Três Impulsos Iniciais em Áries

Três impulsos destacados caracterizam este signo. Há, como já vimos, o impulso para
começar. Este pode expressar-se simplesmente como o impulso para tomar forma,
para envolver-se na matéria; ou pode reverter o processo e focalizar-se no impulso
para conquistar a libertação da forma, e a emergência da alma da prisão da natureza
da forma. Então, este impulso é seguido pelo consequente impulso para criar, essa
atividade da Deidade que resulta na formação dos mundos de expressão e satisfaz Seu
desejo de encarnar num sistema solar, e começar o grande ciclo de vida do universo.
Pode ser igualmente o impulso para a criação individual, da alma para tomar um corpo,
ou de um ser humano para criar algo que irá ser especialmente seu próprio. Nos
antigos dias da Acádia, o signo de Áries era chamado aquele “onde o sacrifício da
justiça era feito”, ou o signo dos “anjos caídos”. Os filhos de Deus, impelidos por este
impulso básico, caíram do seu elevado estado, tomaram forma, e iniciaram sua ronda
individual em tomo do Zodíaco.

Em terceiro lugar, temos o impulso para a ressurreição. Em Áries, que viu o começo da
vida da forma e que iniciou o trabalho criativo, começa a fazer-se sentir o impulso para
conquistar a liberdade da forma, para afastar a pedra que cerrava a porta do sepulcro
da alma, e postar-se na liberdade dos filhos de Deus. Em Áries encontra-se o impulso
que leva à construção da forma, que por longas eras constituirá a prisão da alma. A
forma da massa é alcançada em Câncer, e sua forma humana em Leão; o ponto mais
denso da ilusão na forma é atingido em Escorpião, e em Peixes, a forma morre, só para
ser novamente reconstruída, na fatigante ronda da experiência da forma. Mas, neste
signo, o Caminho da Libertação é pressentido pela primeira vez, e a construção do
corpo espiritual é iniciada. Este é o signo da atividade espiritual germinal, a qual, mais
tarde, leva ao nascimento do Cristo criança em Virgem, e ao Salvador do mundo, em
Capricórnio e em Peixes. O começo físico e o começo espiritual, a criação física e a
criação espiritual, a emergência física e a libertação espiritual: estes são os impulsos
iniciais percebidos em Áries.

É, pois, o signo de fortes, potentes impulsos, de violentas flutuações e exagerados


esforços; é, frequentemente, um signo de fracasso, mas sempre, de sucesso final. No
seu signo oposto, Balança, ou Libra, alcança sua consumação da estabilidade e
equilíbrio, pois a experiência interveniente e as lições aprendidas com os cinco
trabalhos intermediários, conduzem àquela atitude estável e equilibrada que notaremos
em Hércules quando ele captura o Javali, em Libra.

No zodíaco bramânico, Vishnu preside Áries, e Vishnu é a segunda pessoa da Trimurti


indiana, ou o Cristo cósmico em encarnação, quando ele inicia o processo de aquisição
da forma, e finalmente produz o episódio final da ressurreição. Assim, Vishnu, ou
Cristo, personifica os dois impulsos: o impulso para criar e construir a forma, e o
impulso para a libertação, ou ressurreição fora da forma. É sob este impulso para a
libertação que Hércules inicia seus trabalhos.

O Signo da Mente

Áries governa a cabeça. Consequentemente, é o signo do pensamento e, portanto, um


poderoso signo mental. Todos os começos se originam no plano mental e na mente do
criador, quer esse criador seja Deus ou a alma do homem. Este universo teve sua
origem no pensamento de Deus, o Pensador cósmico. A alma iniciou sua carreira na
matéria através do mesmo processo de pensamento. A família humana, o quarto reino

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da natureza, nasceu quando a mente emergiu e diferenciou o homem dos animais. O
aspirante começa seus trabalhos quando ele realmente se toma o pensador, em plena
consciência, passa a funcionar como árbitro de seu próprio destino...

Consequentemente, torna-se evidente que em Áries começam a correta direção e a


correta orientação, e Hércules, o discípulo que acaba de começar a pensar, inicia seu
trabalho. A chave para este trabalho e para o significado do signo deve ser encontrada
nas palavras de uma antiga escritura indiana: “O homem não conhece corretamente o
caminho para o mundo celestial, mas o cavalo conhece-o perfeitamente.” Em longínquo
passado na índia, o sacrifício do cavalo era associado ao deus sol e os vedas arianos
acreditavam - como assim nos contam - que, anualmente, o deus sol, como o cavalo
zodiacal, morria para salvar toda carne. A carruagem do sol de Apolo é descrita como
sendo puxada por cavalos, e o “principesco signo do Carneiro” está estreitamente
relacionado com a simbologia do cavalo, um fato de que o primeiro trabalho dá
testemunho.

Referências nos livros de simbologia nos dão conta de que o cavalo representa a
atividade intelectual. O cavalo branco simboliza a mente iluminada do homem
espiritual; por isso encontramos no Livro das Revelações que o Cristo aparece montado
num cavalo branco. Cavalos negros representam a mente inferior, com suas ideias
falsas e errôneos conceitos humanos. As éguas reprodutoras, como encontradas no
primeiro trabalho, indicam o aspecto feminino da mente dando nascimento a ideias,
teorias e conceitos. O pensamento-forma fazendo a tendência da mente é aqui
simbolizado, manifestando as ideias concebidas e que são deixadas à solta sobre o
mundo, devastando e destruindo quando emanadas da mente inferior, mas construindo
e salvando quando vindo da alma.

O dirigente esotérico deste signo é Marte, o deus da guerra, e por isso Hércules, agindo
sob a correta direção do pensamento e começando seu trabalho no plano mental,
assume a posição como guerreiro. Sua característica destacada neste signo é a do
espírito pioneiro e militante. As éguas eram possessão de Diomedes, o filho de Marte.
(Mas o dirigente esotérico é Mercúrio, que “ilumina a mente e serve de mediador entre
a alma e a personalidade.”)

Constelações em Áries

Como de costume, há três constelações relacionadas com Áries. Primeiro há Cassiopeia,


a Rainha Entronizada, sempre o símbolo da matéria. É muito interessante notar como
no círculo do zodíaco nos deparamos com três mulheres. Em relação a Áries, o signo do
começo, encontramos Cassiopeia, a Mulher Dominadora. Mulher e Criança e, como
veremos mais tarde, a mãe-matéria é a nutriz do Cristo-criança, a Virgem Maria dá
nascimento a Jesus. Em Peixes, no final da grande ronda, encontramos Andrômeda, a
Mulher Acorrentada.

Primeiro, a mulher entronizada e dominante; a seguir, a mulher que cuida da criança, o


Cristo; e depois, a mulher, representando a matéria que foi dominada e controlada.
Encontraremos Cassiopeia sentada no Círculo Ártico, junto a Cepheus, o Rei, ou o
Dispensador da Lei, o qual será encontrado mais tarde como uma das três constelações
em Peixes. No princípio, a Lei; no fim, a Lei; pois Cepheus tem estreita relação com o
primeiro e último signos do Zodíaco. É interessante notar que Maomé, o fundador da
mais combativa religião, nasceu neste signo, e segundo a lenda, também Moisés.
Moisés, o legislador, e Maomé, o guerreiro.

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O problema de Hércules ao iniciar seus trabalhos, é demonstrar seu poder sobre a
matéria e a forma; por isso ele precisa, antes de mais nada, reconhecer Cassiopeia, a
até então rainha entronizada.

A segunda constelação é Cetus, o Monstro Marinho, o Inimigo dos Pequenos Peixes...


Um dos grandes símbolos da alma é o peixe nadando no oceano de matéria e Cetus, o
monstro marinho, é o símbolo daquilo que nós chamamos o mal, que procura destruir a
alma encarnada. O monstro marinho no oceano da existência, e a rainha entronizada,
falaram a Hércules da magnitude de seu problema, mas a terceira constelação falou-lhe
de vitória. Perseu é a terceira das três constelações, chamado, no zodíaco de Dendera,
no Egito, “aquele que subjuga”; às vezes chamado “o domador”, aquele que pode
acorrentar a mulher entronizada, e aquele que pode vencer o monstro. Dizem-nos que
Perseu possuía o elmo da invisibilidade, as sandálias da velocidade, o escudo da
sabedoria, e a espada do espírito. Deste modo Hércules viu-se refletido nos céus, e ao
partir para a captura das éguas antropófagas, ele descobriu em si mesmo a garantia de
sua conquista final, embora naquele momento as dificuldades à sua frente parecessem
insuperáveis.

A Cruz da Prova

A subjugação da matéria e a superação da ilusão agigantavam-se diante de Hércules e


indicavam desde o início dos doze trabalhos a natureza da sua conquista final. Tem sido
dito que a nota-chave do signo de Áries é a esperança e, ao fazer face aos doze
trabalhos, a esperança era a única garantia que Hércules tinha, então, de que
conseguiria realizá-los. Esperança, seu equipamento divino ainda não testado, seu
próprio tacape, e muito entusiasmo: assim começam todos os discípulos.

O significado da prova está agora evidente. Hércules tinha que começar no mundo do
pensamento para obter o controle mental. Há muito tempo as éguas do pensamento
vinham produzindo cavalos guerreiros e, através do pensamento errado, da palavra
errada e de ideias errôneas, devastavam os campos. Uma das primeiras lições que todo
o principiante tem que aprender é o tremendo poder que ele exerce mentalmente, e a
extensão do mal que ele pode causar no meio que o circunda através das éguas
reprodutoras de sua mente. Ele tem, pois, que aprender o correto uso de sua mente e a
primeira coisa a fazer é capturar o aspecto feminino da mente e providenciar para que
não mais cavalos guerreiros sejam gerados. Qualquer um com pretensões a tornar- se
um Hércules pode facilmente provar ser possuidor destas devastadoras éguas
reprodutoras: basta que dedique um dia inteiro a prestar cuidadosa atenção aos seus
pensamentos e às palavras que profere, as quais são sempre o resultado do
pensamento. Rapidamente descobrirá que o egoísmo, a maldade, o amor ao falatório e
à crítica constituem grande parte do seu pensamento e que as éguas de sua mente
estão constantemente sendo fertilizadas pelo egoísmo e ilusão. Em lugar destas éguas
darem nascimento a ideias e conceitos originados no reino da alma, e em lugar de
serem fertilizadas a partir do reino espiritual, tornam-se eles os geradores do erro, da
falsidade e da crueldade, que têm sua origem nos aspectos inferiores da natureza do
homem.

Hércules compreendeu o mal que as éguas estavam causando. Galantemente correu


em socorro de sua vizinhança. Estava determinado a capturar as éguas reprodutoras,
mas superestimou-se. Ele realmente conseguiu cercá-las e capturá-las, mas não
percebeu a potência e a força que elas possuíam, tanto que as entregou a Abderis, o
símbolo de eu inferior pessoal, para guardar. Porém, Hércules, a alma, e Abderis, a
personalidade, em uníssono eram necessárias para guardar esses devastadores
cavalos. Sozinho, Abderis não tinha força suficiente, e o que vinha acontecendo às
pessoas das redondezas, aconteceu a ele: foi morto. Este é um exemplo do
funcionamento da grande lei: pagamos em nossas próprias naturezas o preço pelas
22
palavras incorretamente proferidas e pelas ações mal julgadas. Novamente a alma, na
pessoa de Hércules, teve que lidar com o problema do pensamento errôneo, e somente
quando ele se torna um aspirante uni direcionado no signo de Sagitário e nesse signo
mata os Pássaros Devoradores de Homens, é que consegue realmente atingir o controle
total dos processos de pensamento de sua natureza.

O significado prático do poder do pensamento nos é muito bem transmitido pelas


palavras de Thackeray: “Semeai um pensamento e colhereis uma ação. Semeai uma
ação e colhereis um hábito. Semeai um hábito e colhereis o caráter. Semeai o caráter e
colhereis o destino.”

As duas palavras-chave do signo de Áries são: (*)

1. “E disse o Verbo: Que a forma seja novamente procurada.” - O Homem

2. “Eu surjo, e do plano da mente, eu governo.” - O Iniciado

____________

(*) Psicologia Esotérica, Vol III de Um Tratado sobre os Sete Raios, p. 108. Recebido três anos após estas
conferências sobre Hércules terem sido realizados em Nova York por A.A.B.

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2º Trabalho: A Captura do Touro de Creta
(Touro, 21 de Abril - 20 de Maio)

O Mito

Aquele Que Presidia falou ao Mestre do homem cuja luz brilhava entre os filhos dos
homens, que são filhos de Deus.

“Onde está o homem que com poder se apresentou diante dos Deuses, recebeu deles
dons e atravessou o primeiro Portal aberto para labutar na sua tarefa?”

“Ele descansa, oh grande Ser que preside, e medita sobre seu fracasso, pranteia a
morte de Abderis e procura ajuda no seu próprio íntimo”.

“Isso é bom. Os dons do fracasso garantem o sucesso, quando este é corretamente


compreendido. Que ele comece novamente a trabalhar e entre no segundo Portal,
retomando com presteza.”

O segundo Portal estava aberto de par em par e da luz que velava a cena distante, uma
voz emergiu e disse: “Cruza o Portal. Continua no teu caminho. Executa teu trabalho e
retorna a mim para relatar o feito.”

Triste e só, ciente da necessidade e consumido pela dor, Hércules vagarosamente


passou por entre os pilares do Portal para a luz que brilhava onde ficava o touro
sagrado. No horizonte erguia-se a ilha onde vivia o touro, e onde homens audazes
podiam arriscar-se no vasto labirinto que os atraía até desnorteá-los, o labirinto de
Minos, Rei de Creta, o guardião do touro.

Cruzando o oceano até a ilha ensolarada (embora não nos seja dito como), Hércules
iniciou sua tarefa de procurar e encontrar o touro, e conduzi-lo ao Lugar Sagrado onde
habitam os homens de um só olho. De um lugar para outro ele caçava o touro, guiado
pela estrela cintilante que brilhava na testa do touro: uma lâmpada viva num lugar
escuro. Esta luz, acompanhando os movimentos do touro, levava-o de um lado para
outro. Sozinho, ele procurava o touro; sozinho, ele o perseguiu até o seu covil; sozinho,
ele o capturou e nele montou. Ao seu redor postaram-se as Irmãs, sete, animando-o no
caminho, e ao brilho da luz, ele cavalgou o touro, atravessando as águas cintilantes,
para a ilha de Creta e em direção à terra onde habitavam os três Ciclopes.

Estes três grandes filhos de Deus aguardavam sua volta, observando o seu avanço
através das ondas. Ele montava o touro como se este fora um cavalo, e com as Irmãs
acompanhando-o a cantar, aproximou-se da terra.

“Ele vem com fortaleza”, disse Brontes, e foi ao seu encontro na praia.

“Ele cavalga na luz”, disse Esterope. “Sua luz interior mais brilhante será”, e então
abanou a luz que subitamente se transformou em chama.

“Ele vem com velocidade”, disse Arges. “Ele está atravessando as ondas”.

Hércules mais se aproximava, instigando o touro sagrado pelo Caminho, jogando a luz
na trilha que conduzia de Creta ao Templo do Senhor, no interior da cidade dos homens
de um só olho. Em terra firme, à beira da água, estavam os três homens. Agarraram o
touro e o levaram para longe de Hércules.

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“Que tens aqui?” perguntou Brontes, detendo Hércules no Caminho.

“O touro sagrado, oh Santidade.”

“Quem és? Dize-nos agora teu nome”, disse Esterope.

“Sou o filho de Hera, um filho do homem e contudo, um filho de Deus. Executei minha
tarefa. Agora levai o touro para o Lugar Sagrado e salvai-o da morte que o espera.
Minos deseja sacrificá-lo.”

“Quem te mandou sair à procura do touro e salvá-lo? perguntou Arges, encaminhando-


se para o Lugar Sagrado.

“Do meu íntimo veio o impulso e procurei o meu Mestre. Por ordem do grande Ser Que
Preside, meu Instrutor me enviou ao Caminho. Após longa busca e muita dor, encontrei
o touro. Auxiliado por sua luz sagrada, cavalguei-o através do mar que separa até este
Lugar Sagrado.”

“Parte em paz, meu filho. Tua tarefa está cumprida.”

O Instrutor viu-o chegar e se dirigiu para encontrá-lo no Caminho. Vindo do outro lado
das águas chegavam as vozes das sete Irmãs, cantando ao redor do touro, e ainda
mais próximo, o canto dos homens de um olho só dentro do Templo do Senhor, no alto
do Lugar Sagrado.

“Viestes de mãos vazias, oh Hércules”, disse o Instrutor.

“Tenho as mãos vazias porque cumpri a tarefa que me foi designada. O touro sagrado
está livre, a salvo com os Três. Que faço agora?”

“Na luz, tu verás a luz; caminha naquela luz e nela vê a luz. Tua luz precisa brilhar
mais. O touro está no Lugar Sagrado.”

E Hércules repousou sobre a relva e descansou de seu trabalho. Mais tarde, o Instrutor
voltou-se para ele e disse: “O segundo trabalho está feito, e foi fácil a tarefa. Desta
tarefa aprende a lição da proporção. A fortaleza para executar a tarefa árdua;
disposição para executar a tarefa que não esteja além de teus poderes; estas são duas
lições que aprendestes. Levanta-te logo e procura a terra, guardada pelo terceiro
Portão, e encontra as maçãs de ouro. Traze-as aqui.” (O Tibetano)

O Significado do Trabalho

Apesar de um parcial fracasso inicial, Hércules havia dado o seu primeiro passo. De
acordo com a lei universal ele dava início ao seu trabalho no plano mental.

No desenrolar do plano criativo, o impulso-pensamento é seguido pelo desejo. Ao


estado de consciência a que chamamos mental, sucede-se o estado de sensibilidade, e
este segundo trabalho trata do mundo do desejo e da potência do desejo. É um dos
trabalhos mais interessantes, e que nos é contado nos mínimos detalhes. Alguns dos
relatos das várias provas a que Hércules foi submetido são extremamente sucintos e de
descrição sumária, porém, as provas realizadas em Touro e Gêmeos, em Escorpião e
Peixes, são detalhadamente narradas. Elas eram drásticas na sua aplicação e testavam
cada uma das partes da natureza do aspirante.

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A chave para o trabalho em Touro é a correta compreensão da lei de Atração. Esta é a
lei que governa aquela força magnética e aquele princípio de coesão que constrói as
formas através das quais Deus, ou a alma, se manifesta. Produz a estabilidade
demonstrada pela persistência da forma por todo o seu ciclo de existência, e diz
respeito à inter-relação entre aquilo que constrói a forma e a forma propriamente dita;
entre os dois polos, positivo e negativo; entre espírito e matéria; entre o Eu e o não-
Eu; entre macho e fêmea, e portanto, entre os opostos.

Quatro Palavras Simbólicas

Percebemos que esta prova se relaciona predominantemente com o problema do sexo.


Há quatro palavras na língua inglesa que são ideográficas e simbólicas. Cada uma é
formada por três letras: God, Sex, Law e Sin (Deus, Sexo, Lei e Pecado). Encontramos
nestas quatro palavras a totalidade de tudo que é.

God (Deus), a totalidade de todas as formas, a soma de todos os estados de


consciência, e a Vida energizante. Sex(Sexo), aquela Vida em operação, atraindo
espírito e matéria e instituindo a interação entre o objetivo e o subjetivo e entre o
exotérico e o esotérico. Sexo, desejo, atração, o impulso instintivo para criar, a atração
da alma, o impulso para a divindade, o desejo do macho pela fêmea, o fascínio da
matéria pelo espírito: todas estas expressões podem ser empilhadas para expressar
algumas das atividades do Sexo em suas várias relações. Law (Lei), a resposta induzida
pelo pensamento de Deus à forma; os hábitos instituídos pela infinita interação entre os
polos opostos, que a humanidade sempre reconheceu como inevitáveis leis da
natureza; a imposição da vontade de Deus e a impressão daquela vontade sobre a
forma e o reconhecimento disto pelo homem. Sin (Pecado), segundo sua conotação,
significa “aquele que é”, a sublevação da unidade contra o todo, da individualidade
contra o grupo; o egoísmo em vez do interesse universal.

Assim a história do universo nos é escrita nestas quatro palavras: Deus, o Todo; Sexo,
a atração entre as partes dentro desse Todo; Lei, o hábito do Todo; e Pecado, a revolta
da unidade no Todo.

A História do Trabalho

Minos, Rei de Creta, possuía um touro sagrado que ele mantinha na ilha de Creta.
Euristeu mandou chamar Hércules e disse-lhe que era necessário capturar o touro e
trazê-lo da ilha para o continente. Nenhuma instrução lhe foi dada de como tal coisa
deveria ser feita; tudo que Hércules sabia era que o touro era sagrado, que nascera do
mar, e que seu destino era ser oferecido em sacrifício a Minos. Hércules, pois, viajou
para Creta, e buscou o touro por toda ilha, perseguindo-o até finalmente conseguir
encurralá-lo. Então, assim nos é narrado, ele cavalgou o touro como se este fora um
cavalo, através da ilha e das águas que a separavam do continente, conduzindo-o até a
cidade dos Ciclopes. Estes Ciclopes eram seres peculiares que, dizia-se, possuíam
apenas um olho no centro da fronte. Eram governados por três destacadas figuras,
cujos nomes eram Brontes, significando trovão; Steropes, significando relâmpago; e
Arges, significando atividade turbilhonante. Quando Hércules chegou às portas da
cidade, foi recebido pelos três Ciclopes, aos cuidados dos quais entregou o touro. E
assim terminou o segundo trabalho.

O Tema da Iluminação

O touro é uma das mais interessantes constelações zodiacais, principalmente nesta


época. É a Cruz Fixa nos céus, a Cruz do Discípulo, e sob este aspecto, é interessante
ler o extrato seguinte:

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“Em linguagem mística, fala-se do céu como o Templo, e a eterna consciência de
Deus. Seu altar é o sol, cujos quatro braços ou raios tipificam os quatro pontos
cardeais da cruz do universo”, que se tornaram os quatro signos fixos do zodíaco, e
uma vez que os quatro poderosos animais sagrados são ao mesmo tempo signos
cósmicos e espirituais, eles representam os elementos básicos semelhantes aos
princípios humanos. O signo do Leão representa o fogo ou espírito; Touro a terra ou
corpo; Aquário, ar ou a mente; e Escorpião representa a água assemelhada à alma.
Leo, como o leão, é a força da natureza inferior, e é a serpente de força que - se
direcionada para cima, vence. Taurus, o touro, é sempre o símbolo da força criativa.
Aquário, o homem, é o que carrega ou traz a luz. Scorpio, o escorpião, é
frequentemente transmutado com Aquila, a águia... que se ergue ao mesmo tempo
com Escorpião; ambos estão intimamente ligados em simbolismo. Escorpião é “o
monstro das trevas” cuja picada leva à morte, e contudo preserva e reproduz,
simbolizando não apenas a geração, mas também a regeneração. Neste último caso
ele é Aquila, a águia, o pássaro do sol que conquistou o lado escuro de Escorpião
(aquele adversário que pode arrastar o homem mais baixo do que os animais), mas
quando transmutado, é a águia de luz, que pode alçar-se exultante acima dos
deuses.” (O Navio Celestial do Norte, Vol.1. E.V. Straiton)

O “olho do touro” em Taurus - a magnificente estrela fixa, Aldebaran - é uma das


razões porque esta constelação é considerada como aquela que concede a iluminação.
Em tempos remotos era chamada a estrela guia dos céus, e Touro esteve sempre
relacionada com a luz e, portanto, com o Cristo, que proclamou a si mesmo como a Luz
do Mundo. Luz, iluminação e som, como uma expressão da força criativa: estas são as
três ideias básicas relacionadas com esta constelação. A “intérprete da voz divina”,
como Touro era chamada, no antigo Egito, pode ser parafraseada na terminologia cristã
como “o Verbo se fez carne”. E uma interessante informação adicional sobre o poder
das influências zodiacais, lembrar que a lanterna olho-de-boi remonta ao olho do touro
em Taurus, e a bula papal (pontifical bull), ou pronunciamentos papais que eram vistos
como intérpretes da voz de Deus, é um termo de uso corrente hoje.

Poder-se-ia perguntar agora: de que modo Taurus, o touro, se tornou aquele que traz a
iluminação? Dizem-nos que neste signo a lua é exaltada e Vênus é a regente. Do ponto
de vista do esoterista, e entre os povos agrícolas primitivos, a lua sempre foi
considerada como o aspecto construtor da forma. A lua, portanto, é o símbolo da
matéria e é vista em muitas de nossas igrejas, em estreita relação com a Virgem Maria.

A consumação do trabalho que é realizado em Touro, e o resultado da influência desse


signo, é a glorificação da matéria e a subsequente iluminação por seu intermédio.

Tudo que atualmente impede a glória, que é a alma, e o esplendor que emana de Deus
dentro da forma, de brilhar em sua plenitude, é a matéria ou aspecto-forma. Quando
esta houver sido consagrada, purificada e espiritualizada, então a glória e a luz poderão
realmente brilhar através dela e o aspecto-lua pode, portanto, ser exaltado em Touro.
Isto é feito através da influência de Vênus, o símbolo do amor terreno e celestial, tanto
da aspiração espiritual como do desejo carnal, e é pois, apropriadamente, a regente
deste signo. Ela é, acima de qualquer outra coisa, amor, o criador da beleza, ritmo e
unidade. O touro e a vaca juntos representam a criação, e assim Touro e Vênus estão
estreitamente ligados. É interessante ler o seguinte:

“O touro ou vaca é o símbolo deste signo, e na carta celeste observa-se que o


pequeno grupo de estrelas chamadas Plêiades é representado justamente à altura do
ombro de touro. Agora, na escultura ou pintura egípcias, às vezes as Plêiades são
representadas pela figura de um pombo de asas abertas acima da sela do touro. O
pombo, como sabemos, é o pássaro consagrado a Vênus, e como as Plêiades são
parte da constelação do Touro e, como veremos, mais taurinas em natureza, se
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possível, do que o próprio Touro, o pombo torna-se um símbolo especialmente
apropriado para este pequeno grupo estelar.” (The Zodiac: A Life Epitome. W.H.Sampson,
p.24)

O Tema do Sexo

A partir do extrato acima e de muitos outros que poderiam ser acrescentados, é


evidente quão estreitamente ligada ao sexo - nos seus aspectos inferior e superior -
esta importante constelação está. E esta a razão por que em certos livros tem sido
chamada “o signo da geração”, tanto terrena como celestial. Vimos que o poder do
signo de Touro é o da atração, ou de juntar. Ele exerce uma consistente e contínua
pressão e quer no sentido simbólico, quer no astronômico, Touro atrai. Vimos que neste
signo encontram-se as Plêiades, e entre elas está Alcione, chamada o sol central do
nosso universo, ao redor do qual circula o nosso sol, seguido por seus planetas. As
palavras de Jó, “Não podeis unir as doces influências das Plêiades ou desatar os laços
de Orion?” tornam-se assim claras. As Plêiades são o símbolo da alma ao redor da qual
gira a roda da vida.

É interessante descobrir novamente em Touro, a triplicidade tão constantemente


encontrada no conhecimento astronômico e na mitologia: Touro, representando a forma
e a força atrativa da matéria; as Plêiades, representando a alma e o recorrente grande
ciclo da experiência; e entre as sete Plêiades (Notar as "sete Irmãs cantando ao redor
de Hércules, segundo nos conta o Mito) a Plêiade Perdida (pois apenas seis são
visíveis), um símbolo do obscurecimento do espírito enquanto a alma, através do
desejo, toma um corpo. Assim, a ideia da relação do Eu e do não-Eu, com a finalidade
de produzir a revelação última do espírito, subjaz a todo ensinamento mitológico e às
escrituras e símbolos de todos os tempos e assim também temos a emergência da ideia
da grande ilusão e da miragem. O Espírito ou Deus está “perdido”, ou velado, e
desaparece na atração da forma exterior e na miragem que a alma atrai ao seu redor.

Deve ser lembrado aqui que o signo oposto a Touro é Escorpião, e estes dois
constituem o campo de um estupendo esforço de Hércules; pois em um ele luta com o
problema de sexo, e no outro, ele supera a grande ilusão.

Significado das Constelações

As três constelações relacionadas com este signo são Orion, Erídano e Auriga; e a
natureza do trabalho em Touro está lindamente antecipada pelos três quadros nos céus
que elas nos apresentam. O nome antigo de Orion era “os Três Reis”, por causa das
três lindas estrelas encontradas no Cinturão de Orion. Os Três Reis representam os três
aspectos divinos: Vontade, Amor e Inteligência; e Orion, portanto, simboliza o espírito.
O nome Orion significa literalmente “o explodir da luz”.

Repetidamente, ao percorrermos o círculo do zodíaco, encontraremos o que poderíamos


chamar de “protótipo espiritual” de Hércules; Perseu, o Príncipe que Vem, que matou a
Medusa, símbolo da grande ilusão. Ele é encontrado em Carneiro; Orion, cujo nome
significa “luz”, é encontrado em Touro; em Escorpião, o próprio Hércules, triunfante e
vitorioso, aparece. A seguir temos Sagitário, o Arqueiro Montado, indo diretamente
para sua meta, e em Peixes, encontramos o Rei. Quanto mais cuidadosamente
estudamos este livro pictórico celeste, mais compreendemos que sempre diante de nós
ergue-se o símbolo da nossa divindade, o símbolo da alma em encarnação, e a história
da matéria, à medida que é purificada e glorificada através da laboriosa atuação da
alma.

A segunda constelação relacionada com este signo é um imenso rio de estrelas, que
corre sob os pés de Orion. Chama-se Erídano, ou o “Rio do Juiz”, e é um símbolo do rio
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da vida, que leva as almas à encarnação, onde elas aprendem o significado das
palavras, “tal como o homem semeia, assim colherá”, e onde elas empreendem a
estupenda tarefa de trabalhar por sua própria salvação. Da mesma maneira que Orion
simboliza o aspecto espírito, Erídano, está relacionado com o aspecto de apropriação da
forma e nos apresenta a ideia da encarnação; enquanto que a terceira constelação,
Auriga, é a condutora da carruagem que conduz a novas terras, simbolizando assim a
alma.

Natureza das Provas

A grande lição a ser aprendida neste signo é alcançar a correta compreensão da lei de
atração e o correto uso e controle da matéria. Assim, figurativamente falando, a
matéria é elevada ao céu, e pode iniciar sua correta função; que é tornar-se um meio
de expressão e um campo de esforço para o Cristo que o habita, ou alma. O aspirante,
portanto, é testado de duas maneiras: primeiro, quanto ao calibre de sua natureza
animal e aos motivos que subjazem à sua utilização; segundo, quanto à atração que a
grande ilusão pode exercer sobre ele. Maya, ou a grande ilusão, e o sexo, são apenas
dois aspectos da mesma força, a de atração; um, ao manifestar-se no plano físico, e o
outro, ao expressar-se no campo da natureza do desejo emocional.

O Discípulo e o Sexo

Um aspirante ao discipulado tem no sexo um problema real a enfrentar. A


autoindulgência e o controle do ser humano por qualquer parte do seu organismo são
sempre inevitavelmente errados. Quando a mente de um homem está totalmente
voltada para as mulheres, ou vice-versa; quando ele vive principalmente para
satisfazer um desejo animal; quando ele se vê impotente para resistir ao apelo do polo
oposto, então ele é vítima do aspecto mais inferior de sua natureza, o animal, e por ele
é controlado.

Mas quando o homem reconhece suas funções físicas como uma herança divina, e seu
equipamento como algo que lhe foi dado para o bem do grupo, e para ser corretamente
usado para o benefício da família humana, então veremos um novo impulso motivador
subjacente à conduta humana no que diz respeito ao sexo. Veremos a eliminação da
promiscuidade, e o mal que a acompanha: a doença. Veremos a solução para o número
excessivo de crianças, e, incidentalmente, um alívio para o problema econômico.
Através do uso correto da função sexual e relegando-a para o propósito para o qual ela
existe (a continuidade da família humana, e a provisão de corpos por meio dos quais as
almas possam obter experiência) então será o sexo corretamente utilizado. E então,
paixão, luxúria, autossatisfação, doença e superpopulação desaparecerão do mundo. A
matéria não mais será prostituída pelo desejo egoísta, e o relacionamento entre os
sexos será governado pela compreensão do propósito divino e pela habilidade em sua
utilização.

Há dois pontos de vista igualmente errôneos: num caso são ensinadas práticas que
levam eventualmente a orgias sexuais. Têm sido dignificadas com o nome de magia
sexual, e no orgasmo sexual, deliberadamente induzido, o homem é levado a crer que
o ato sexual físico é o mais elevado ponto da oportunidade espiritual e que nesse
momento, se ele quiser, poderá tocar o reino do Céu.

A outra atitude, que faz do casamento e toda expressão da vida sexual um pecado para
o discípulo, e que diz que um homem não pode ser puro no verdadeiro aspecto
espiritual se ele se casar e constituir uma família, é igualmente devastadoramente
perigosa. Não existe um único estado de consciência ou uma única condição da vida em
que seja impossível a um homem funcionar como um filho de Deus. Se não for possível

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a um homem viver a vida do discipulado e a vida da iniciação e, com o devido
autocontrole e compreensão, viver uma vida sexual normal e equilibrada, então existe
um departamento da expressão humana no qual a divindade é impotente, e isto eu me
recuso a admitir. Não há um só departamento da vida, um único campo de expressão,
nenhum embate de responsabilidade, nenhum uso do aspecto físico, em que a alma
não possa desempenhar o papel de fator dominante para todas as coisas serem feitas
verdadeiramente para a glória de Deus. Mas a alma tem que controlar, e não a
natureza inferior. As pessoas esquecem-se que alguns dos maiores iniciados do mundo
foram casados; que o Buda casou-se e teve um filho e devia ser já um iniciado de alto
grau quando se casou. Esquecem-se que Moisés, Davi, o Salmista, e muitas das figuras
mais destacadas no mundo do misticismo nos dois hemisférios, foram casados e
constituíram família.

Os discípulos vêm de todas as raças, tanto no ocidente, quanto no oriente, e a atitude


de diferentes raças a respeito do sexo é muito diversificada. Os padrões de conduta
diferem. A legalidade ou ilegalidade das relações varia. Diferentes épocas e civilizações
diferentes viram relacionamentos que eram legais em determinado momento e ilegais
em outro. Algumas raças são monógamas e outras raças são polígamas. Em certas
civilizações a mulher é vista como o fator dominante, e em outras, é o homem. Ao
longo das idades, pervertidos sexuais, homossexuais, autênticos ou espúrios, têm
estado entre nós, e provavelmente hoje não é pior do que foi há 5.000 anos atrás,
exceto que tudo está sendo trazido à luz, o que é bom. Todos falam sobre o problema;
e a nova geração pergunta incisivamente: “O que há realmente sobre o sexo? O que é
certo e o que é errado?” Como poderão as novas gerações lidar com uma questão que,
ao longo das eras, tem aparentemente sido discutida da maneira mais estéril?

É pertinente observar aqui que Minos, Rei de Creta, o dono do touro sagrado, possuía
também o labirinto no qual o Minotauro vivia, e o labirinto tem sido sempre símbolo da
grande ilusão. A palavra “labirinto” indica algo confuso, que desnorteia, desorienta,
embaraça. A ilha de Creta com seu labirinto e o touro é um destacado símbolo da
grande ilusão. Estava separada do continente, e ilusão e confusão são características do
eu-separado, mas não da alma em seu próprio plano, onde as realidades grupais e as
verdades universais constituem o seu reino. Para Hércules, o touro representava o
desejo animal, e os muitos aspectos do desejo no mundo da forma, a totalidade dos
quais constitui a grande ilusão. O discípulo, tal como Hércules, é uma unidade
separada, separada do continente, símbolo do grupo, pelo mundo da ilusão e pelo
labirinto em que vive. O touro do desejo tem que ser capturado, domado e perseguido
de um ponto a outro na vida do eu-separado, até o momento em que o aspirante possa
fazer o que Hércules conseguiu: montar o touro. Nos antigos mitos montar um animal
significa controlar. O Touro não é sacrificado, ele é montado e dirigido, sob o domínio
do homem.

Há potências e faculdades ocultas no ser humano que, quando desabrochadas e


desenvolvidas, podem trazer novos poderes para enfrentar este problema. Mas,
enquanto isso, o que fará o aspirante? Podemos fazer certas sugestões:

1 - Montar, controlar e dominar o touro.

Que o aspirante se lembre de que o touro tem que ser montado para atravessar as
águas até o continente. Isto significa que todo o problema do sexo será solucionado
quando o discípulo subordina seu “eu-pessoal-ilha-separada” ao propósito e esforço
do grupo, e começa a dirigir sua vida pela pergunta: “O que é melhor para o grupo
com o qual estou associado?” Este é o modo de cavalgar o touro até o continente.

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2- Usar o senso comum.

O antigo significado de “senso comum” era que havia um sentido (senso) que
sintetizava e unificava os cinco sentidos, e por isso constituía um “sentido comum”,
literalmente, a mente. Que o aspirante use sua mente, e por meio da percepção
inteligente, guie e controle o touro do desejo. Quando se usa senso comum, certos
perigos são evitados. Há um perigo no método de muitos aspirantes em inibir ou
eliminar toda a expressão sexual. Fisiologicamente podem consegui-lo, mas a
experiência de psicólogos e mestres revela que quando a inibição e drástica
supressão são impostas ao organismo, o resultado é uma ou outra forma de
complexo nervoso ou mental. Muitas pessoas fisicamente puras têm mentes impuras.
Muitos que escarnecem da prática de qualquer das perversões sexuais e que afirmam
que o casamento não é para o discípulo, possuem uma estrutura mental que não
resistiria à investigação. Sua mente e interpretação das ações alheias são tão
obscenas, e tão grande sua capacidade para pensar malignamente que, não obstante
o perigo de tal afirmação, melhor seria que continuassem a ser montados pelo touro
do desejo do que prosseguir na prática de substituir o pecado exterior pela
indulgência mental. Mente limpa e coração puro, corpo físico corretamente
organizado e usado, conformidade às lei do país no qual seu destino o colocou,
máxima consideração pelo bem-estar daqueles a quem está ligado, e uma vida de
serviço amoroso: estes constituem os ideais do aspirante.

3 - Correta compreensão do significado do celibato.

Celibato significa “solteiro”, mas o significado geralmente dado à palavra é de abster-


se da relação marital. Muitos jovens de ambos os sexos, movidos pelo desejo
espiritual e sob a influência do pensamento-forma da Igreja durante a Idade Média,
com seus mosteiros e conventos, acreditam que para eles o celibato é correto e
essencial, e ficam perplexos ao descobrir os complexos daí resultantes. Mas não terá
sido o verdadeiro celibato definido para nós nas palavras de Cristo quando disse: “Se
teu olho é um só (único), todo o teu corpo será luz”? Não será o verdadeiro celibato a
recusa da alma em continuar a identificar- se com a forma? O verdadeiro casamento
- do qual a relação no plano físico é apenas um símbolo - não será a união da alma e
da forma, do aspecto espírito, positivo, e do negativo, a mãe-matéria?

Que a alma seja só, solteira, e liberta da servidão da matéria; então, a ação correta e
um ponto de vista correto tornar-se-ão as características da vida no plano físico. Que a
alma cavalgue a forma, controlando-a e dominando-a, e então conhecerá suas corretas
obrigações. Reconhecerá a relação que deveria ter com outros seres humanos, quer
seu destino seja o de ser marido ou mulher, pai ou mãe, irmão ou irmã, amigo ou
companheiro. Por meio do correto uso da forma e correta compreensão do propósito,
por meio da correta orientação para a realidade e o uso correto da energia espiritual, a
alma agirá como o fator controlador e o corpo todo se encherá de luz. Através do
controle, do uso do senso comum, da correta compreensão do celibato, e da
identificação com o propósito grupal, o discípulo libertar-se-á do controle do sexo.
Conseguirá seguir o exemplo de Hércules e cavalgará o touro do desejo até o
continente onde, no Templo de Deus, o entregará aos cuidados dos Ciclopes que eram
antigos iniciados, possuidores do olho único sobre o qual estamos falando, o olho de
Shiva, o olho do Touro na constelação de Taurus. Pois o próprio Hércules era não
apenas o discípulo, mas sim, em sua natureza inferior, o touro, e na sua natureza
superior, os Ciclopes.

Quando o touro do desejo é entregue aos Ciclopes, ao iniciado com um único olho, que
é ele mesmo, a alma, os três aspectos divinos, começará a manifestar-se: Brontes,
Esterope e Arges serão os guardiães do touro sagrado, e Hércules, o discípulo, não terá
mais responsabilidade alguma. Brontes é o símbolo do primeiro aspecto de Deus, o Pai
31
que falou, é o som criativo. Esterope significa relâmpago, ou luz, e é o segundo
aspecto, a alma. Arges significa atividade turbilhonante, o terceiro aspecto da
divindade, que se expressa na intensa atividade da vida no plano físico. Estes aspectos
divinos constituem o fator controlador, e assim que eles tomam posse do touro
sagrado, o problema de Hércules está resolvido.

(Notas-chave de Touro: (*)

“Que a luta seja sem desfalecimento”. - O Aspecto Forma.

“Eu vejo, e quando o Olho está aberto, tudo é luz”. - O Aspecto Alma.

______

(*) Astrologia Esotérica, p. 403)

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3º Trabalho: Colheita dos Pomos de Ouro de Hespérides - Parte I
(Gêmeos, 21 de Maio - 20 de Junho)

O Mito

O Grande Ser Que Presidia, no interior da Câmara do Conselho do Senhor, havia


observado os trabalhos do filho do homem que é um filho de Deus. Ele e o Instrutor
viram abrir-se diante do homem o terceiro grande Portão, que revelava uma nova
oportunidade para seguir o Caminho. Observaram como o trabalhador se ergueu e se
preparou para iniciar a tarefa.

“Mandai que guardem a árvore sagrada. Deixai que Hércules desenvolva o poder de
buscar sem desfalecimentos, sem fraudes ou excessiva pressa. Que a perseverança
seja agora evocada. Até agora ele tem agido bem.” E assim a palavra de ordem foi
enviada.

Num longínquo país crescia a árvore sagrada, a árvore da sabedoria, que produzia as
maçãs de ouro de Hespérides. A fama destes doces frutos alcançara terras distantes, e
eram desejados por todos os filhos dos homens que se reconheciam igualmente como
filhos de Deus. Hércules também sabia sobre estes frutos e quando recebeu a palavra
de ordem para procurá-los, procurou seu Instrutor para perguntar-lhe qual o caminho a
seguir para encontrar a árvore sagrada e colher seus frutos.

“Mostrai-me o caminho, oh! Mestre da minha alma. Eu busco as maçãs e preciso delas
urgentemente para meu uso. Mostrai-me o caminho mais rápido e eu irei!”

“Não dessa maneira, meu filho, replicou o Instrutor,” o caminho é longo. Apenas duas
coisas te confiarei, e então caberá a ti provar a verdade do que digo. Lembra-te que a
árvore sagrada é muito bem guardada. Três belas donzelas cuidam dela
carinhosamente, protegendo muito bem os seus frutos. Um dragão de cem cabeças
protege as donzelas e a árvore. Guarda-te das forças grandes demais para ti; guarda-
te das astúcias demasiadamente sutis para a tua compreensão. Fica bem atento. A
segunda coisa que eu te diria é que tua busca te levará aonde cinco grandes provas te
encontrarão no Caminho. Cada uma delas te proporcionará um campo de ação para a
sabedoria, compreensão, habilidade e oportunidade. Observa bem. Temo, meu filho,
que falhes em reconhecer esses pontos no Caminho. Mas isso só o tempo o dirá; que
Deus acelere a tua busca”.

Cheio de confiança, pois que indiferente ao sucesso ou fracasso, Hércules pôs-se a


caminho, seguro de si, de sua sabedoria e de sua força. Passou pelo terceiro Portão,
em direção ao norte. Percorreu a terra à procura da árvore sagrada, mas não a
encontrou. Perguntava a todos os homens que encontrava, mas nenhum pode guiá-lo
no caminho; nenhum conhecia o lugar. O tempo passava e ele ainda procurava,
vagando de um lado para o outro, frequentemente retomando sobre os próprios passos
ao terceiro Portão. Triste e desencorajado, ainda assim procurava por toda a parte.

O Mestre, observando de longe, enviou Nereu para ver se ele podia auxiliar. Vezes sem
conta ele se aproximou, sob formas várias e diferentes palavras de verdade, mas
Hércules não reagia a elas nem sequer o reconheceu como o tipo de mensageiro que
era. Apesar de seu discurso habilidoso e dono da profunda sabedoria de um filho de
Deus, Nereu fracassou, pois Hércules estava cego. Não reconheceu a ajuda tão
sutilmente oferecida. Finalmente, retomando com tristeza ao Mestre, Nereu falou sobre
o fracasso.

33
“Terminou a primeira das cinco provas menores”, replicou o Instrutor, “e o fracasso é a
marca desta etapa. Que Hércules prossiga.”

Não encontrando a árvore sagrada no caminho do norte, Hércules retornou em direção


ao sul e, no lugar da escuridão, continuou sua busca. Primeiro sonhou com um rápido
sucesso, mas Anteu, a serpente, atravessou-se-lhe no caminho e lutou com ele,
vencendo-o a cada investida.

“Ela guarda a árvore”, disse Hércules, “isto me disseram, portanto a árvore deve estar
por perto. Preciso derrubar sua guarda e assim, destruindo-a, vencê-la e arrancar os
frutos.” Contudo, lutando com todas as forças, ele não a vencia.

“Onde está o meu erro?” dizia Hércules. Por que Anteu pode vencer-me? Mesmo
quando infante destruí uma serpente em meu berço. Com minhas próprias mãos a
estrangulei. Por que fracasso agora?” Lutando novamente com todo o seu poder, ele
agarrou a serpente em suas mãos e levantou-a ao ar, longe do chão. E viva! realizara o
feito: Anteu, vencida, falou: “Virei novamente com diferente disfarce à entrada do
oitavo Portão. Prepara-te para a nova luta”.

Olhando de longe, o Instrutor viu tudo o que acontecera, e relatando o feito ao Ser Que
Presidia dentro da Câmara do Conselho do Senhor, disse: “Terminou a segunda prova.
O perigo foi vencido. Neste ponto o sucesso marca seu caminho.” E o grande Ser Que
Presidia disse: “Que ele prossiga”.

Feliz, confiante, seguro de si e com renovada coragem, Hércules continuou em sua


busca. Agora voltou-se para o ocidente, e tomando essa direção, encontrou o fracasso.
Ele atirou-se ao terceiro grande teste sem pensar e por muito tempo o fracasso atrasou
seus passos.

Pois lá ele encontrou Busiris, o grande arquienganador, filho das águas, parente
próximo de Poseidon. Seu trabalho é trazer a ilusão aos filhos dos homens através de
palavras de aparente sabedoria. Ele afirma conhecer a verdade e rapidamente eles
acreditam. Ele diz belas palavras: “Eu sou o mestre. A mim é dado o conhecimento da
verdade e sacrifício por mim. Aceita o meu modo de vida. Só eu sei, ninguém mais.
Minha verdade é correta. Qualquer outra verdade é errônea e falsa. Atenta para minhas
palavras; fica comigo e salva-te.” E Hércules obedeceu; e a cada dia enfraquecia em
seu anterior caminho (a terceira prova), não mais procurando a árvore sagrada. Sua
força estava minada. Ele amava, adorava Busiris, e aceitava tudo que ele dizia. Tornou-
se cada vez mais fraco, até que chegou o dia que o seu amado mestre o amarrou a um
altar e lá o manteve um ano inteiro.

Repentinamente, um dia, quando lutava por se libertar, e lentamente começava a


perceber quem Busiris realmente era, as palavras proferidas por Nereu há muito tempo
vieram-lhe à mente: “A verdade está dentro de ti mesmo. No teu interior há um poder
mais elevado, força e sabedoria. Volta-te para o teu interior e evoca a força que existe,
o poder que é a herança de todos os homens que são filhos de Deus.” Silencioso, ele
permaneceu prisioneiro sobre o altar, acorrentado aos quatro cantos, um ano inteiro.
Então, com a força que é a força de todos os filhos de Deus, ele rompeu suas amarras,
agarrou o falso mestre (aquele que parecera tão sábio) e prendeu-o ao altar em seu
lugar. Não disse uma palavra, apenas deixou-o lá para que aprendesse.

O Instrutor que de longe observava, notou o momento da libertação, e voltando-se


para Nereu disse: “A terceira grande prova está encerrada. Tu lhe ensinaste a enfrentá-
la e no devido tempo ele aproveitou a lição. Deixa-o prosseguir no Caminho e aprende
o segredo do sucesso”.

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Mais contido, embora ainda cheio de indagação, Hércules percorreu longas distâncias
sem rumo certo, prosseguindo em sua busca. Aprendera muito durante o ano que
passara preso ao altar, e agora percorria o caminho com maior sabedoria.

Subitamente ele se deteve: um grito de profundo desespero atingira seus ouvidos.


Alguns abutres voando em tomo de uma rocha distante chamaram-lhe a atenção, e a
seguir novamente ouviu o grito. Deveria prosseguir seu caminho, ou procurar aquele
que parecia necessitar de ajuda e assim retardar seus passos? Ele refletiu sobre o
problema do atraso; um ano já havia sido perdido; sentia a necessidade de apressar-
se. Mais uma vez ouviu-se um grito, e Hércules, em passos rápidos, acorreu em socorro
de seu irmão. Encontrou Prometeu acorrentado à rocha, sofrendo terríveis agonias de
dor que os abutres que lhe comiam o fígado lhe causavam, e lentamente o matavam.
Ele quebrou as cadeias e libertou Prometeu, perseguiu os abutres até sua distante toca,
e cuidou do doente até ver curados seus ferimentos. Então, após longo tempo perdido,
novamente pôs-se a caminho.

O Mestre, que de longe observava, falou ao discípulo que se dedicava à busca, estas
claras palavras, as primeiras palavras a ele dirigidas desde que encetara sua busca: “A
quarta etapa no caminho para a árvore sagrada terminou. Não houve retardamento. A
regra que acelera todo o sucesso na Senda escolhida é, ‘Aprende a servir.”

Aquele Que Presidia, no interior da Câmara do Conselho do Senhor, comentou: “Ele se


saiu bem. Continuai com as provas”.

Por todos os caminhos a busca prosseguiu; de norte a sul, de leste a oeste foi
procurada a árvore, mas não encontrada. Até que um dia, esgotado pelo medo e pela
longa viagem, ele ouviu, de um peregrino que passava no caminho, rumores de que,
perto de uma montanha distante a árvore seria encontrada, a primeira afirmação
verdadeira que lhe fora feita até então. Assim, ele retrocedeu sobre seus passos em
direção às altas montanhas do leste, e num certo dia, brilhante e ensolarado, ele viu o
objeto de sua busca e então apressou o passo. “Agora tocarei a árvore sagrada,” gritou
em meio à sua alegria, “montarei o dragão que a guarda; e verei as belas e renomadas
virgens; e colherei as maçãs.”

Mas novamente foi detido por um sentimento de profunda tristeza. À sua frente lá
estava Atlas, cambaleante sob o peso dos mundos às suas costas. Sua face estava
vincada pelo sofrimento; seus membros vergados pela dor; seus olhos cerrados em
agonia; ele não pedia auxílio; ele não viu Hércules; apenas lá estava, curvado pela dor,
pelo peso dos mundos. Trêmulo, Hércules observava e avaliava o quanto havia de peso
e de dor. E esqueceu sua busca. A árvore sagrada e as maçãs desapareceram de sua
mente; ele só pensava em como ajudar o gigante e isso sem demora; correu para ele e
animadamente retirou a carga dos ombros de seu irmão, passou-a para suas próprias
costas, aguentando ele mesmo a carga dos mundos. Cerrou os olhos, enrijecendo os
músculos sob o esforço, e então eis que a carga se desprendeu e lá estava ele livre, tal
como Atlas.

Diante dele, as mãos estendidas num gesto de amor, o gigante ofereceu a Hércules as
maçãs de ouro. Era o fim da busca.

As três irmãs trouxeram mais maçãs de ouro e também as depositaram em suas mãos,
e Aegle, a bela virgem que é a glória do sol poente, disse-lhe ao pôr em suas mãos
uma maçã: “O Caminho que traz a nós é sempre marcado pelo serviço. Atos de amor
são sinalizações no Caminho.” Então, Eriteia, a guardiã do portão que todos devem
atravessar antes de se apresentarem sós diante do grande Ser Que Preside, deu-lhe
uma maçã na qual estava inscrita em luz a palavra de ouro SERVIÇO.

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“Lembra-te disto”, disse ela, “jamais te esqueças”.

Por último veio Héspero, a maravilha da estrela vespertina, que com clareza e amor
disse: “Vai e serve, e a partir de hoje e para sempre, palmilha o caminho de todos os
servidores do mundo”.

“Então eu devolvo estas maçãs para aqueles que virão,” disse Hércules, e retornou ao
lugar de onde viera.

Apresentou-se diante do Mestre e relatou tudo o que havia acontecido. Este dirigiu-lhe
uma palavra de aprovação e a seguir, apontando para o quarto Portão, disse-lhe:
“Atravessa aquele Portão. Captura o gamo e entra novamente no Lugar Sagrado.” (O
Tibetano)

A Natureza da Prova

Chegamos agora ao terceiro trabalho, no signo de Gêmeos, principalmente relacionado


com o trabalho ativo do aspirante no plano físico à proporção que ele chega a uma
compreensão de si mesmo. Antes que este trabalho ativo se tome possível, deve haver
um ciclo de pensamento interior e anseio místico; a aspiração à visão e um processo
subjetivo desenvolvido, talvez por longo tempo, antes que o homem, no plano físico,
comece realmente o trabalho de unificação de alma e corpo. Tal é o tema deste
trabalho. E neste plano físico de realização, e no trabalho de obter as maçãs de ouro da
sabedoria, que a prova real da sinceridade do aspirante tem lugar. Um anseio de ser
bom, um profundo desejo de averiguar os fatos da vida espiritual, esforços
espasmódicos para autodisciplina, oração e meditação, precedem quase que
inevitavelmente, este real e tenaz esforço.

O visionário precisa tornar-se um homem de ação; o desejo tem que ser trazido para o
mundo da concretização, e é nisto que consiste a prova em Gemini. O plano físico é o
lugar onde se obtém a experiência e onde as causas, que foram iniciadas no mundo do
esforço mental, têm que manifestar-se e alcançar objetividade. É também o lugar onde
o mecanismo de contato se desenvolve, onde, pouco a pouco, os cinco sentidos abrem
ao ser humano novos campos de percepção e lhe oferecem novas esferas de conquista
e realização. É o lugar, portanto, onde o conhecimento é obtido, e onde esse
conhecimento tem que ser transmutado em sabedoria. Conhecimento, nós o sabemos,
é a busca do sentido, enquanto que sabedoria é o onisciente e sintético conhecimento
da alma. Contudo, sem compreensão na aplicação do conhecimento, nós perecemos;
pois compreensão é a aplicação do conhecimento sob a luz da sabedoria aos problemas
da vida e à conquista da meta. Neste trabalho, Hércules defronta-se com a tremenda
tarefa de aproximar os dois polos de seu ser e de coordenar, ou unificar, alma e corpo,
de modo que a dualidade dê lugar à unidade e os pares de opostos se mesclem.

Os Símbolos

Euristeu, tendo observado Hércules alcançar o controle mental e depois montar o touro
do desejo e dirigi-lo até o interior do Templo da Alma, impõe-lhe agora a tarefa de
buscar as maçãs de ouro do jardim de Hespérides. A maçã há muito figura na mitologia
e na simbologia. No jardim do Éden, como sabemos, a serpente deu a Eva a maçã; e
ao ser dada a maçã, e ao ser ela aceita, veio o conhecimento do bem e do mal. Esta é
uma forma simbólica de relatar o aparecimento da mente, e de como a mente começou
a funcionar naquela criatura primitiva, que não era nem animal, nem estritamente
humana. Com a chegada da mente, veio também o conhecimento da dualidade, da
atração dos pares de opostos, da natureza da alma, que é boa, e da natureza da forma,
que é má, se esta aprisiona a alma e a impede de expressar-se plenamente. A forma,
per se, não é má.
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É preciso registrar que no jardim do Éden foi dada ao homem uma única maçã, símbolo
da separatividade, do isolamento. Hércules tinha que tentar obter as maçãs de ouro em
outro jardim, e no jardim de Hespérides as maçãs eram o símbolo da pluralidade, da
síntese, e dos muitos, nutridos pela árvore única da Vida.

Apenas três fatos foram revelados a Hércules: que havia um jardim contendo uma
árvore na qual cresciam as maçãs de ouro; que a árvore era guardada por uma
serpente de cem cabeças; que quando ele o encontrasse, veria lá três belas virgens.
Mas em que direção se encontrava o jardim, e como encontrá-lo, não lhe foi dito. Desta
vez ele não estava limitado a percorrer as terras selvagens que as éguas antropófagas
assolavam; nem estava limitado à pequena ilha de Creta. O planeta inteiro teve que ser
percorrido e ele vagou de um lado para o outro, de norte a sul, de leste a oeste, até
que finalmente encontrou Nereu, que era versado em todos os aspectos da sabedoria e
em todas as formas de discurso. Em alguns dos clássicos ele é chamado “o ancião do
mar”. Ele não era apenas sábio, mas muito esquivo, assumindo muitas formas, e
sempre recusando-se a dar a Hércules uma resposta direta. Finalmente, ele sugeriu
uma direção em que as maçãs deveriam ser procuradas, despachando-o para sua
jornada só e um tanto desencorajado, com apenas uma vaga ideia do que teria que
fazer e aonde teria que ir. Tudo que ele sabia era que tinha que voltar ao sul: um
símbolo do retornar ao mundo, o polo oposto do espírito.

Tão logo o fez, deparou com a serpente (Conhecida na mitologia como o gigante
Antaeus, o filho de Poseidon, deus das águas, e Gea, a terra. Por essa razão, quando
em contato com a terra, sua mãe, era invisível.) com a qual tinha que lutar. Em sua
busca pelas maçãs de ouro, no plano físico, Hércules, assim como qualquer outro
discípulo, tinha que vencer a miragem e a ilusão; pois, no processo de expandir sua
aspiração espiritual, o discípulo está fortemente sujeito a ser envolvido por este ou
aquele aspecto da fascinação e do psiquismo inferior. Ao lutar com a serpente, Hércules
viu que não poderia vencê-la, até que descobriu que ela era invencível apenas
enquanto em contato com a terra. Assim que Hércules ergueu no ar a serpente (Anteu)
esta perdeu toda a sua força e não conseguiu derrotá-lo.

Gêmeos é um símbolo do ar, um símbolo mutável ou comum. A miragem está sempre


mudando, tomando formas diferentes. Diz respeito à aparência e não à realidade, e a
terra representa as aparências.

Tendo vencido a serpente que interceptava o seu caminho, Hércules continuou em sua
busca. Seu encontro seguinte foi com uma outra forma de miragem. Busiris era um dos
filhos de Poseidon, o deus das águas, porém sua mãe era uma simples mortal. Ele se
dizia um grande mestre. Seu discurso era fluente e cativante. Atribuía a si mesmo
muitos talentos, induzindo Hércules a acreditar que poderia indicar-lhe o caminho, que
poderia guiá-lo para a luz, e que ele, Busiris, era o depositário da verdade. Hércules
deixou-se enganar completamente. Pouco a pouco tornou-se presa do poder e encanto
de Busiris; aos poucos abriu mão de sua própria vontade e mente, aceitando-o como
mestre e guia. Finalmente, quando Busiris tinha Hércules sob seu total controle,
acorrentou-o ao altar do sacrifício e obrigou-o a esquecer Nereu. O mito nos relata que
finalmente Hércules conseguiu libertar-se, acorrentando Busiris ao altar ao qual ele
próprio estivera preso. Mais uma vez vemos desencorajamento, retardo, fracasso e
logro caracterizando esta parte da prova.

Ainda procurando aqui e ali, encontrou Prometeu acorrentado à rocha enquanto os


abutres lhe comiam o fígado. A visão de tão grande sofrimento foi demais para
Hércules, e ele esqueceu sua busca para libertar Prometeu, o que lhe permitiu
afugentar os abutres.

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Chegamos agora ao ponto crucial do Trabalho e àquilo que constitui a verdadeira prova.
Hércules depara-se com Atlas suportando a carga do mundo sobre seus ombros,
vergado e cambaleante sob o peso da tarefa que aceitara. Hércules sentiu-se tão
profundamente tocado pelo estupendo empreendimento de Atlas, e tão preocupado
com o seu sofrimento ao procurar carregar o peso do mundo, que ele desiste de
procurar as maçãs de ouro. Esquece o que ele próprio decidira fazer e, cheio de
piedade, retira a carga dos ombros de Atlas e passa-a para os seus próprios. Então,
assim nos contam, na maravilhosa consumação da história, que Atlas, liberto do seu
fardo, vai ao jardim de Hespérides, arranca as maçãs de ouro sem permissão ou
obstáculo por parte da serpente de cem cabeças, com a entusiástica ajuda das três
belas virgens, e traz as maçãs para Hércules, que agora está livre, apesar de todos os
obstáculos e retardos, os desvios e afastamentos provocados pela miragem e ilusão.
Não obstante os fracassos e o longo período de tempo consumido para alcançar a
sabedoria, Hércules consegue as maçãs de ouro. Observemos que o signo da
consumação - signo oposto a Gêmeos - é o de Sagitário, o Arqueiro, que dispara sua
flecha em linha reta, enquanto cavalga desembaraçadamente em direção à meta: sem
desvios, sem fracassos! Há apenas um constante ir em frente.

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3º Trabalho: Colheita dos Pomos de Ouro de Hespérides - Parte II
(Gêmeos, 21 de Maio - 20 de Junho)

O Campo do Trabalho

Há em Gêmeos duas estrelas, chamadas pelos gregos, Castor e Pólux, ou os Gêmeos.


Elas personificam dois grupos principais de estrelas, as Sete Plêiades e as Sete Estrelas
da Ursa Maior, que são as duas constelações no norte, ao redor das quais nosso
universo parece girar. Castor representa uma dessas constelações e Pólux personifica a
outra. Do ponto de vista do esoterismo, o grande mistério de Deus encarnado na
matéria - a crucificação do Cristo cósmico na cruz de matéria - está ligado à relação
(que, desde tempos imemoriais, presume-se existir) entre as estrelas das Plêiades e as
da Ursa Maior. Estes dois grupos de estrelas representam Deus, o macrocosmo,
enquanto que, em Gêmeos, Castor e Pólux são considerados como o símbolo do
homem, o microcosmo. São também chamadas Apolo e Hércules: Apolo, significando o
Governante, o Deus Sol; e Hércules, “aquele que vem para trabalhar”. Representam,
portanto, os dois aspectos da natureza do homem, a alma e a personalidade, o homem
espiritual e o ser humano através do qual aquela entidade espiritual está atuando:
Cristo encarnado na matéria, Deus trabalhando através da forma.

Considerava-se Castor como mortal e Pólux como imortal. É interessante notar que a
astronomia registra o fato de que a estrela Castor está perdendo o brilho e não mais
apresenta a mesma luz de vários séculos atrás; enquanto que Pólux - o irmão imortal -
cresce em brilho, ofuscando seu irmão, fazendo-nos assim recordar das palavras
proferidas por João Batista ao olhar para o Cristo: “Convém que ele cresça e que eu
diminua”. (João, III, 30) Assim, temos aqui uma constelação extremamente
significativa, porque mantém eternamente diante dos olhos do homem o pensamento
da crescente potência da vida espiritual e do decrescente poder do eu-pessoal. A
história do crescimento do homem até a maturidade e a história do crescimento gradual
do controle pela alma nos são relatadas na constelação de Gêmeos.

No antigo zodíaco de Dendera, este signo é chamado “o lugar d’Aquele que vem”, e nos
é apresentado o pensamento de um Ser espiritual emergente. É representado por duas
figuras, uma masculina e uma feminina; uma, o polo positivo, o aspecto espírito; a
outra, o polo negativo, o aspecto matéria. Os nomes dessas estrelas significam
“unidos” no hebraico e no cóptico e este é o status de Hércules, o aspirante. Ele é alma
e corpo unificados. Este era o problema com que se tinha de lutar, no signo de
Gêmeos. A unificação do eu inferior com o eu superior, dos aspectos mortal e imortal, é
o objetivo. Foi este problema que criou a longa e tortuosa busca de Hércules, pois há
muito estava ele atento à voz de Nereu, o eu superior, embora às vezes sucumbisse à
ilusão e miragem do eu inferior.

A dualidade enfatizada no signo de Gêmeos percorre um grande número de histórias


mitológicas. Deparamos com os mesmos irmãos novamente em Rômulo e Remo, por
exemplo, e em Caim e Abel: um irmão morrendo e o outro vivendo. Vemos o símbolo
astrológico de Gêmeos nos dois pilares da Maçonaria e muitos acreditam que, se
tivéssemos poder para acompanhá-la, a tradição maçônica poderia ser rastreada até
aquele período anterior à era de Touro, quando o sol estava em Gêmeos, e até aquele
grande ciclo no qual a raça lemuriana - a primeira raça estritamente humana - veio à
existência onde o aspecto mente começou a emergir e a dualidade do homem tomou-se
um fato na natureza.

A raça humana foi a terceira raça; e este trabalho que simbolicamente Hércules
executou, é o terceiro. Era a alma o que ele buscava, e tem sido sempre a não
reconhecida busca do ser humano até que ele se reconheça como Hércules e comece a
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se concentrar na busca das maçãs de ouro da instrução e sabedoria. Assim, na tradição
maçônica, está exemplificada a busca da família humana: a busca da luz, a busca da
unidade, a busca da divindade. Os dois pilares - Boaz e Jachin - permanecem como
símbolo dessa dualidade.

Na China, Castor e Pólux, são conhecidos como os dois “deuses da porta”, indicando o
tremendo poder que o deus da matéria pode assumir, e também a potência da
divindade.

Gêmeos é, predominantemente, o signo do intelecto e tem sobre a nossa raça, a


ariana, peculiar efeito vital. Nesta raça a faculdade da mente e o intelecto se
desenvolveram continuamente. Gêmeos, portanto, influencia três departamentos que
dizem respeito às relações humanas. Primeiro, governa todos os aspectos da educação.
Lida com o conhecimento, as ciências e lança as bases para a sabedoria. Nas palavras
de um educador, “o fim último da educação é a aquisição do conhecimento com o fim
de obter a revelação superior. Os não inteligentes podem obtê-la, mas não podem
interpretá-la”. Com este trabalho, Hércules recebeu uma primordial revelação e, nas
cinco etapas de sua busca, sua educação foi desenvolvida.

O governante esotérico de Gêmeos e do primeiro decanato é Mercúrio, como nos diz


Alan Leo:

“No mundo exterior Mercúrio significa escolas, faculdades e todas as instituições


científicas e literárias, qualquer lugar onde o ensino e o aprendizado se processe...
Na consciência, significa pensamento, compreensão, razão, inteligência, intelecto; do
tipo abstrato, mais do que conhecimento concreto como um fim em si mesmo... Sua
mais alta aplicação parece ser o que chamamos “razão pura”... No corpo, governa o
cérebro e o sistema nervoso, a língua e os órgãos da palavra, as mãos como
instrumentos da inteligência.” (Alan Leo. Completo Dicionário de Astrologia, pag. 163)

Em segundo lugar, Gêmeos representa “a relação entre”. Governa, portanto, a inter-


relação ou intercomunicação e o comércio. É interessante observar que os Estados
Unidos e Londres são ambos governados por Gêmeos; que a língua inglesa se está
tomando predominantemente uma língua universal; que as maiores linhas de
comunicação marítima partem de Nova York ou de Londres, e que estas duas cidades
têm sido mercados mundiais e centros mundiais de distribuição. Mercúrio, o planeta
que rege este signo, é o intérprete, o mensageiro dos deuses. É também digno de nota
como Hércules é influenciado por dois professores: Nereu, o instrutor superior, e
Busiris, o instrutor inferior ou psíquico; e assim é novamente enfatizada a dualidade de
Gêmeos e a sua qualidade mental.

Quando este signo está em evidência, como agora, sendo ele um poderoso signo de
mutação, dá margem a muitas mudanças: novas ideias inundam o mundo; novos
impulsos se fazem presentes; novas e ainda não desenvolvidas linhas de abordagem à
verdade espiritual emergem, e muitos mestres surgirão por todos os lados para ajudar
a guiar a raça para um novo estado de percepção espiritual. Sendo um signo do ar,
vemos que a conquista do esforço aéreo prossegue velozmente, assim como um
constante esforço é feito para unificar e coordenar os muitos e variados aspectos do
esforço humano.

Vênus é o regente esotérico de Gêmeos e governa o segundo decanato; pois Vênus faz
a união, e através de sua influência a lei de atração e a aproximação das polaridades
opostas têm lugar. Mas todas estas mudanças e unificações naturalmente inauguram
um novo estado de percepção, um novo estado de ser, e produzem uma nova era e um
mundo novo. Em consequência, novas dificuldades e problemas surgem e encontramos

40
Saturno governando o último decanato, pois Saturno é o planeta do discipulado; o
planeta que faz surgirem as dificuldades, problemas e provas que oferecem ao discípulo
a imediata oportunidade. É Saturno que abre a porta à encarnação, e é Saturno que
abre a porta para o caminho da iniciação. Mercúrio - o intérprete, o intelecto que
ilumina; Vênus - o princípio da atração e unificação; e Saturno - o gerador da
oportunidade; estes três desempenham seus papéis na vida do aspirante enquanto ele
unifica o superior e o inferior, passa pelas cinco etapas da sua prova e visualiza a meta
que ele tem que atingir finalmente.

As Três Constelações Simbólicas

As três constelações que se encontram em conexão com o signo de Gêmeos são Lepus,
a Lebre; Canis Major, Cão Maior; e Canis Minor, Cão Menor. E em sua inter-relação e
em sua associação com Hércules, o aspirante, encontramos mais uma vez descrita de
forma notável toda a história do ser humano. Em Canis Major encontramos Sírio, a
Estrela do Cão, em muitos livros antigos chamada “a líder de todas as hostes
celestiais”, pois ela é dez ou doze vezes mais brilhante do que qualquer outra estrela de
primeira magnitude. Sírio esteve sempre associada a grande calor; daí a expressão
canícula (“dias de cão”) quando o calor atinge o máximo, no meio do verão. Do ponto
de vista ocultista, Sírio tem profundo significado. “Nosso Deus é um fogo consumidor”,
e Sírio é o símbolo da alma universal assim como da alma individual. Por isso é
considerada, esotericamente, a estrela da iniciação. Sabemos que, falando
simbolicamente, chega um momento em que a estrela brilha diante do iniciado,
significando a compreensão de sua identidade com a alma universal, e isto ele
vislumbra repentinamente por meio de sua própria alma, sua própria estrela.

Canis Major é o imortal Mastim dos Céus, aquele que eternamente caça o Cão menor, o
“pobre coitado”, o homem em encarnação física. Esta caçada foi imortalizada por
Francis Thompson em “O Mastim do Céu”.

“Fugi d’Ele, dias e noites;


Fugi d’Ele, ao longo das arcadas dos anos;
Fugi d’Ele, descendo o labirinto dos caminhos
De minha própria mente; em meio às lágrimas, e às risadas, escondi-me d’Ele.
Corri para as esperanças avistadas;
E desci velozmente, precipitando-me
Para as titânicas sombras de medos abissais,
Fugindo dos poderosos pés que me seguiam, seguiam”.

No zodíaco de Dendera, esta estrela é chamada Apes, a cabeça. Somos informados (no
apêndice, pag. 1518, da Bíblia do Companheiro) que a mais brilhante estrela em Canis
Major é Sírio, o Príncipe, chamado em persa o Líder, o Chefe. Há três outras estrelas
nessa mesma constelação: uma é chamada “a anunciadora”, outra, “a que brilha”, e a
terceira, “a gloriosa”, todas essas expressões enfatizando a magnificência de Canis
Major e, esotericamente, a maravilha e a glória do seu superior.

Em Canis Minor, o “pobre coitado”, a mesma obra nos diz que o nome da estrela mais
brilhante significa “redentora”, que a segunda em brilho é “a carregadora do fardo” ou
“a que carrega o fardo dos outros”. Temos, pois no significado destes dois nomes um
retrato de Hércules, ao trabalhar por sua própria salvação e ao carregar o pesado fardo
de Atlas e aprender o significado do serviço.

Lepus, a Lebre, associada a estas duas constelações, contém uma estrela de profunda
tonalidade escarlate, quase como uma gota de sangue. Vermelho é sempre o símbolo
do desejo por coisas materiais. No zodíaco de Dendera dão-lhe o nome de Bashtibeki,

41
que significa “caindo em confusão”. Aratus, escrevendo por volta de 250 A.C., fala de
Lepus como sendo “eternamente caçada”, e é interessante notar que os nomes
hebraicos de algumas das estrelas encontradas nesta constelação, significam “o inimigo
d”Aquele Que Vem”, que é o significado do nome da estrela mais brilhante, Arneb;
enquanto três outras estrelas têm nomes que significam “o louco”, “o confinado”, “o
enganador”. Todas estas palavras são características do eu inferior eternamente caçado
pelo eu superior; a alma humana perseguida pelo Mastim do Céu.

Ao olharmos à noite para o céu estrelado e localizamos Sírio, a Estrela do Cão, a


história do nosso passado, presente e futuro está ali dramaticamente retratada. Temos
a história de nosso passado em Lepus, a Lebre, de pés ligeiros, enganada,
enlouquecida, aprisionada à roda da vida, identificada com o aspecto matéria, eterna
inimiga do “Príncipe Que Vem”. Em Canis Minor, temos a história do aspirante, do
nosso quinhão atual. Habitando dentro de nós está o governante interno, a divindade
oculta, o redentor. Avançamos conquistando e para conquistar, mas temos que fazê-lo
como discípulos carregando o fardo dos demais e servindo. Em Canis Major está
retratado o nosso futuro e uma consumação gloriosa muito além de todas as
realizações presentes.

Supondo que perdêssemos todas as religiões e escrituras mundiais desaparecessem e


nada mais restasse a não ser os céus estrelados, a história do zodíaco e o significado
dos nomes das estrelas encontradas nas diferentes constelações nos permitiriam
reconstruir a história do homem, recuperar o conhecimento da nossa meta e aprender
o modo de alcançá-la.

A Lição do Trabalho

Toda esta história significa realmente a primeira lição que todos os aspirantes têm que
aprender a dominar, o que é impossível sem haverem passado pelas provas em
Carneiro e em Touro. Então, no plano físico, no campo do cérebro e em consciência
vigil, o discípulo tem que registrar o contato com a alma e reconhecer-lhe as
qualidades. Ele não mais pode ser o visionário místico, mas tem que somar à realização
mística o conhecimento oculto da realidade. Os aspirantes frequentemente esquecem-
se disto. Contentam-se com a aspiração e com a visão da meta celestial. Eles forjaram
no crisol da vida um equipamento que é caracterizado pela sinceridade, desejo bom,
caráter refinado e têm consciência da pureza do motivo, uma disposição para cumprir
as exigências, e a satisfação de terem alcançado um certo status de desenvolvimento
que lhes permite prosseguir. Mas falta ainda uma coisa: eles não possuem aquilo que
pode ser chamado “a técnica da presença”; eles não têm o privilégio e prerrogativa
para possuir. Eles acreditam no fato da alma, na possibilidade da perfeição, no caminho
que deve ser trilhado; porém esse “acreditar” ainda não foi transmutado em
conhecimento do reino espiritual e eles não sabem como chegar à noite! Assim, eles,
tal como Hércules, começam uma busca quíntupla.

A primeira etapa dessa busca estaria repleta de encorajamento para eles, fossem eles
capazes de reconhecê-lo. Tal como Hércules, eles encontram Nereu, o símbolo do eu
superior; e mais adiante na história do discípulo, Nereu é o Mestre instrutor. Quando
contatado, especialmente nas primeiras etapas da busca, o eu superior manifesta-se
como um lampejo de iluminação, e eis que desaparece! Ele se foi como um súbito
vislumbre da verdade, tão fugaz que, a princípio, o discípulo não consegue apreendê-
la; é como um indício sugestivo lançado na consciência em momentos de atenção
concentrada, quando se consegue estabilizar a mente e, temporariamente, as emoções
deixam de controlar.

No caso de um discípulo mais avançado que já estabeleceu contato com sua alma e
que, portanto, supõe-se esteja pronto para a instrução de um dos grandes Mestres da
42
Humanidade, ver-se-á que o Mestre age exatamente como Nereu. Ele não pode ser
sempre contatado, e apenas ocasionalmente poderá o discípulo entrar em contato com
ele. Quando o faz, ele não precisa esperar pelas congratulações por seu maravilhoso
progresso, nem encontrará uma elucidação cuidadosa de seu problema, nem uma
extensa descrição do trabalho a ser feito. O Mestre lhe dará um indício e desaparecerá.
Fará uma sugestão e nada mais dirá. Cabe ao discípulo seguir a pista da melhor
maneira que possa e seguir a sugestão que lhe parecer mais sábia.

Muitos ocultistas bem intencionados nos levariam a crer que os Mestres de Sabedoria
têm um interesse pessoal neles, que os sobrecarregados Guias da Humanidade nada
mais têm que fazer do que dizer-lhes como viver, como resolver seus problemas e
como, em detalhe, guiá-los em seus empreendimentos. Gostaria que aqui ficasse isto
registrado como um protesto por subestimar-se a tal ponto o trabalho dos Grandes
Seres. As razões pelas quais Nereu, o Mestre, é esquivo e dá apenas um lampejo de
pensamento ou de momentânea atenção ao aspirante, são duas:

Primeira: o aspirante individual não é de interesse para o Mestre enquanto não houver
alcançado em sua evolução o ponto em que está tão intimamente em contato com sua
alma que se torne um magnético servidor no mundo. Então, e somente então, haverá
proveito para o Mestre lançar-lhe um pensamento ou dar-lhe uma indicação. Então, à
medida que essas indicações sejam seguidas, Ele poderá dar-lhe outras mais, porém, e
este é o ponto que se deve enfatizar, somente em relação ao trabalho que ele tem que
realizar no campo do serviço mundial. Os aspirantes precisam lembrar-se que eles se
tornam mestres apenas pela mestria, e que somos ensinados a nos tornarmos mestres
e levados à posição de membros do grupo de servidores do mundo pelos esforços de
nossa própria alma. Essa alma é um filho divino de Deus, onisciente e onipotente. A
proporção que o gêmeo imortal cresce em poder, a do irmão mortal decresce.

Segundo: os corpos físicos dos aspirantes não estão em condições de suportar a


vibração aumentada de Quem conquista a Mestria. O corpo ficaria esmagado e o
cérebro sobrecarregado se um dos Mestres fizesse contatos constantes com um
discípulo antes que este houvesse aprendido a conhecer Nereu como o símbolo de seu
próprio eu superior. Quando por nossos próprios esforços começamos a viver como
almas, e quando por nosso esforço autoiniciado estamos aprendendo a servir e a ser
canais para a energia espiritual, então conheceremos Nereu mais intimamente; e
então, quase que inevitavelmente, nosso conhecimento do trabalho que os Grandes
Seres têm que fazer será tão vital e tão real que nós esqueceremos nosso próprio
desejo de contato e procuraremos somente aliviar o fardo que Eles carregam.

Ao iniciar sua busca, Hércules encontrou Nereu; porém não se sentiu impressionado e
por isso vagou por outros caminhos procurando furiosamente satisfazer sua aspiração.
Próximo ao fim de sua busca, encontra Atlas, carregando o fardo do mundo, e tão
impressionado fica com o peso daquela responsabilidade e a carga que Atlas, o grande
Mestre, está carregando, que ele esquece totalmente o seu objetivo e sua busca pelas
maçãs de ouro e esforça-se para retirar o fardo dos ombros de Atlas. Quando os
aspirantes no campo religioso e na Igreja, no campo teosófico, no campo rosacruciano,
e nos muitos grupos em tomo dos quais gravita, tiverem aprendido a esquecerem-se de
si mesmos no serviço e deixarem para trás o seu egoísmo espiritual e passarem a
ajudar a humanidade, haverá uma muito mais rápida reunião de iniciados atravessando
o portão do Caminho que conduz das trevas à Luz, e da irrealidade à Realidade. Um dos
Grandes Seres disse “há pessoas que, sem jamais terem exibido qualquer sinal externo
de egoísmo, são intensamente egoístas em sua aspiração espiritual interior”
(pag.360, Cartas dos Mahatmas a A.P.Sinnett). E mais adiante o autor apresenta-nos
um estupendo ideal que elimina de vez a raiz do egoísmo espiritual: “No nosso modo de
ver, as mais elevadas aspirações pelo bem-estar da humanidade se tornam manchadas

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pelo egoísmo se na mente do filantropo se esconde a sombra do desejo de
autobenefício...”

Hércules, o discípulo, conheceu o toque do eu superior, mas não o suficiente para


permanecer com Nereu. Assim, volta-se para o sul, isto é, volta-se para o mundo. Teve
seu grande momento quando transcendeu a consciência cerebral e conversou com sua
alma. Mas isso não dura muito, e ele cai de volta em sua consciência cerebral e inicia
uma nova experiência. Ele tem que lutar com Anteu, a serpente (ou gigante). Porém,
desta vez é a serpente da miragem astral e não primariamente a serpente do desejo. É
com as miragens do psiquismo inferior que ele tem que lutar, e estas, nas primeiras
etapas, parecem inevitavelmente atrair o interesse dos aspirantes. Qualquer instrutor
que tenha trabalhado com aqueles que estão procurando o Caminho, conhece a
miragem da qual eles tão facilmente se podem tornar presas. De acordo com o
temperamento do aspirante assim será a miragem. Alguns são desviados pelos
fenômenos espíritas. No afã de atravessar o véu, deixam-se envolver pelo lado inferior
do espiritualismo e perdem muito tempo nas salas de sessões estudando repetidamente
o mesmo velho fenômeno da materialização, comunicações e manifestações. Não me
refiro aqui às verdadeiras investigações científicas daqueles que se aprofundam nesta
pesquisa, e que estão equipados para tal. Refiro-me à participação ignorante em certos
tipos de sessões. Isto intriga o comum das pessoas e deixam-nas à mercê do médium
igualmente ignorante, ou do charlatão, pois que um e outro não estão equipados para
verificar de modo algum o que vêm e ouvem.

A serpente pode tomar a forma do aspecto mais comum dos fenômenos psíquicos. O
aspirante interessa-se pela escrita automática, ou aprende a sentar-se e ouvir “vozes”;
torna-se astralmente clarividente ou clariaudiente, e soma à confusão do plano físico e
de seu próprio meio ambiente, a confusão ainda maior do plano psíquico, e cai assim
nas armadilhas e engodos da miragem. Ele se toma negativo, porque está o tempo
todo tentando ver ou ouvir aquilo que não é físico. Pelo fato de que compartilhamos
com gatos e cães a capacidade da clarividência e clariaudiência, no devido tempo
seguramente poderemos ver e ouvir, se não de fato, pelo menos pelo poder daquela
faculdade criativa que todos nós possuímos, a imaginação criativa. Porém, de uma
forma ou de outra, o aspirante que se afastou de Nereu encontrará a serpente e com
ela terá que lutar. Como diz o mito, durante muito tempo Hércules não conseguiu
vencê-la, porém quando a ergueu no ar, teve sucesso.

Há uma grande verdade por trás deste simbolismo. O ar foi sempre considerado o
símbolo ou o elemento relacionado ao plano do Cristo, chamado na terminologia
teosófica e no oriente, o plano búdico.

O plano astral é o reflexo distorcido do plano búdico, e somente quando trazemos a


miragem para a clara luz da alma crística é que vemos a verdade tal como é, e nos
tornamos invencíveis. Da maneira mais solene eu conclamo os aspirantes a abandonar
qualquer interesse nos fenômenos psíquicos e a fechar a porta ao plano astral com
tanta firmeza quanto possam, até que tenham desenvolvido o poder da intuição e
possam interpretar suas intuições por meio de uma bem desenvolvida, bem equipada e
bem treinada mente.

A etapa seguinte da busca de Hércules é igualmente aplicável à humanidade como um


todo. Ele caiu nas garras de Busiris, que se dizia um grande mestre. Por um longo
período de tempo foi Hércules mantido em escravidão. O mundo hoje está cheio de
mestres, e como Busiris, eles baseiam seus ensinamentos em portentosas alegações;
alegam ser iniciados, ser os guardiães da verdade, e possuir um modo certo e seguro
de desenvolvimento que inevitavelmente permitirá ao estudante alcançar a meta. Eles
sustentam sua posição com promessas; eles estabelecem uma forte relação pessoal, e
utilizando-se da sinceridade e aspiração daquele que busca a verdade, reúnem ao seu
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redor grupos de homens e mulheres que inocente e sinceramente acreditam na verdade
de suas alegações, e os prendem ao altar do sacrifício por um período mais ou menos
longo de tempo. O verdadeiro iniciado é conhecido por sua vida e seus atos; está por
demais ocupado em servir à humanidade para encontrar tempo para fazer com que as
pessoas se interessem nele; e não pode fazer promessas, apenas pode dizer a cada
aspirante: “Estas são as antigas regras, este é o caminho que todos os santos e
Mestres de Sabedoria trilharam, esta é a disciplina a que cada um tem que submeter-
se; e se cada um tentar e persistir e for paciente, seguramente alcançará a meta”.

Mas Hércules libertou-se, como o fazem todos os que buscam com sinceridade; e tendo
escapado do mundo da miragem psíquica e pseudoespiritual, começou a servir.
Primeiro libertou-se sob o símbolo de Prometeu, que significa Deus encarnado,
livrando-o da tortura dos abutres do passado. O plexo solar, o estômago e o fígado são
as exteriorizações, se assim o posso expressar, da natureza do desejo, e Hércules
libertou-se dos abutres do desejo que por tanto tempo o torturavam. Deixou de ser
egoísta, deixou de satisfazer a si mesmo. Recebera duas amargas lições neste signo e
para este ciclo em particular estava relativamente livre. Prometeu, o Deus interno,
podia agora seguir para o serviço mundial e para aliviar Atlas de seu fardo.

Depois do sacrifício vem a recompensa, e Hércules teve a sua grande surpresa depois
que libertou Prometeu e Atlas. Tendo abandonado sua busca no afã de ajudar o mundo,
em troca, Atlas foi ao jardim e lhe trouxe as maçãs de ouro, pondo-o em contato com
as três belas virgens, os três aspectos da alma.

Ao dar início ao seu trabalho ele faz contato com sua alma, simbolizada como Nereu;
ao término do trabalho, tendo vencido muitas miragens, ele conquista uma visão muito
ampliada de sua alma, vendo-a em seus três aspectos, cada um contendo em si a
potência dos três princípios da divindade. Aegle simboliza a glória da vida e o esplendor
do sol poente; a magnificência da manifestação no plano físico. Ela oferece uma maçã a
Hércules e diz-lhe: “O caminho até nós é sempre através de atos de amor”. Eriteia
guarda o portão, a alma, que é sempre aberto pelo Amor-Sabedoria, e dá a Hércules
uma maçã na qual está inscrita em ouro a palavra SERVIÇO. Héspero, a estrela
vespertina, a estrela da iniciação, personifica a Vontade. Ela diz a Hércules: “palmilha
o Caminho". Corpo, alma e espírito; Inteligência, Amor e Vontade, visualizados e
contatados pelo aspirante desprendido por meio do SERVIÇO.

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4º Trabalho: A Captura da Corça - Parte I
(Câncer, 21 de Junho - 21 de Julho)

O Mito

O grande Ser Que Presidia, que se sentava na Câmara do Conselho do Senhor, dirigiu-
se ao Mestre em pé ao seu lado: “Onde está o filho do homem que é o filho de Deus?
Como se está saindo? Como tem sido testado e com que serviço se ocupa ele agora?”

Volvendo os olhos para o filho do homem que é um filho de Deus, respondeu o Mestre:
“Neste momento, nenhum, oh Grande Ser. A terceira grande prova forneceu vasto
material para alimentar um estudante como ele. Ele medita e reflete”.

“Submetei-o a uma prova que exija dele a mais sábia escolha. Enviai-o a trabalhar num
campo onde ele precise decidir qual a voz, entre todas as muitas vozes, que despertará
a obediência de seu coração. Submetei-o a uma prova que também seja de grande
simplicidade no plano exterior, e ainda assim uma prova que desperte, no lado interno
da vida, a plenitude de sua sabedoria e a correção de seu poder de escolha. Que ele dê
início à quarta prova.”

Hércules postou-se diante do quarto grande Portão; um filho do homem e contudo um


filho de Deus. A princípio havia profundo silêncio. Ele não pronunciou qualquer palavra
nem emitiu qualquer som. Para além do Portão descortinava-se a bela paisagem e, no
horizonte distante, erguia-se o templo do Senhor, o santuário do Deus-Sol, as
cintilantes ameias. No cimo de uma colina próxima viu um esguio cervo. E Hércules,
que é um filho do homem e contudo um filho de Deus, a tudo observava, olhos e
ouvidos atentos, e então ouviu uma voz, a voz partia daquele círculo brilhante da lua
que é a morada de Ártemis. E a bela Ártemis dirigiu, ao filho do homem, palavras de
advertência:

“A corça é minha, portanto não toque nela. Por longos anos eu a alimentei e cuidei dela
quando jovem. O cervo é meu e meu deve permanecer.”

Então, de um salto surgiu Diana, a caçadora dos céus, a filha do sol. Pés calçados de
sandálias, em passos largos movendo-se em direção ao cervo, também ela reclamou a
sua posse.

“Não, Ártemis, belíssima donzela, não; o cervo é meu e meu deve permanecer”, disse
ela. “Até hoje ele era jovem demais, mas agora ele pode ser útil. A corça de galhada de
ouro é minha, e minha permanecerá.”

Hércules, de pé entre os pilares do Portão, observava e ouvia a disputa e perguntava-


se por que as donzelas lutavam pela posse da corça.

Uma outra voz atingiu-lhe os ouvidos, uma voz de comando que dizia: “A corça não
pertence a nenhuma das duas donzelas, oh Hércules, mas sim ao Deus cujo santuário
podes ver sobre aquele monte distante. Salva-a, e leva-a para a segurança do
santuário, e deixa-a lá. Coisa simples de se fazer, oh filho do homem, contudo (e
reflete bem sobre minhas palavras) sendo tu um filho de Deus, deves ir à sua procura e
agarrar a corça. Vai.”

De um salto atravessou Hércules o quarto Portão, deixando para trás todos os


presentes recebidos para que não o embaraçassem durante a rápida caçada que o
esperava. À distância, as donzelas em disputa tudo observavam. Ártemis, a bela,
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apoiada na lua e Diana, a bela caçadora dos bosques de Deus, seguia os movimentos
da corça e, quando surgia uma oportunidade, ambas iludiam Hércules, procurando
anular seus esforços. Ele perseguiu a corça de um ponto a outro e cada uma delas
sutilmente o enganava. E assim o fizeram muitas e muitas vezes.

Durante um ano inteiro, o filho do homem que é um filho de Deus, seguiu a corça por
toda a parte, captando rápidos vislumbres de sua forma, apenas para descobrir que ela
desaparecera na segurança dos densos bosques. Correndo de uma colina para outra, de
bosque em bosque, Hércules a perseguiu até que à margem de uma tranquila lagoa,
estendido sobre a relva ainda não pisada, ele viu-a a dormir, exausta pela fuga. Com
passos silenciosos, mão estendida e olhar firme, ele lançou uma flecha, ferindo-a no pé.
Reunindo toda a vontade de que estava possuído, aproximou-se da corça, e ainda
assim, ela não se moveu. Assim ele foi até ela, tomou-a nos braços, e enlaçou-a junto
ao seu coração, enquanto Artemis e a bela Diana o observavam.

“Terminou a busca”, bradou ele. “Para a escuridão do norte fui levado e não encontrei a
corça. Lutei para abrir meu caminho através de cerradas, profundas matas, mas não
encontrei a corça; e por lúgubres planícies e áridas regiões e selvagens desertos eu
persegui a corça, e ainda assim não a encontrei. A cada ponto alcançado, as donzelas
desviavam meus passos, porém eu persisti, e agora a corça é minha! A corça é minha!

“Não, não é, oh Hércules,” disse a voz daquele que permanece próximo ao grande Ser
Que Preside no interior da Câmara do Conselho do Senhor. A corça não pertence a um
filho do homem, mesmo embora sendo um filho de Deus. Carrega a corça para aquele
distante santuário onde habitam os filhos de Deus e deixa-a lá com eles.

“Por que tem que ser assim, oh sábio Mestre? A corça é minha; minha, porque muito
peregrinei à sua procura, e mais uma vez minha, porque a carrego junto ao coração.”

“E não és tu um filho de Deus, embora um filho do homem? E não é o santuário


também a tua morada? E não compartilhas tu da vida de todos aqueles que lá habitam?
Leva para o santuário de Deus a corça sagrada, e deixa-a lá, oh filho de Deus.”

Então, para o santuário sagrado de Micenas, levou Hércules a corça; carregou-a para o
centro do lugar santo e lá a depositou. E ao deitá-la lá diante do Senhor, notou o
ferimento em seu pé, a ferida causada pela flecha do arco que ele possuíra e usara. A
corça era sua por direito de caça. A corça era sua por direito de habilidade e destreza
de seu braço. “Portanto a corça é duplamente minha,” disse ele.

Porém Ártemis, que se achava no pátio externo do sacratíssimo lugar ouviu seu brado
de vitória e disse:

“Não, não é. A corça é minha, e sempre foi minha. Eu vi sua forma, refletida na água;
eu ouvi seus passos pelos caminhos da terra; eu sei que a corça é minha, pois todas as
formas são minhas.”

Do lugar sagrado, falou o Deus-Sol. “A corça é minha, não tua, oh Ártemis! Seu espírito
está comigo por toda a eternidade, aqui no centro deste santuário sagrado. Tu,
Ártemis, não podes entrar aqui, mas sabes que eu digo a verdade. Diana, a bela
caçadora do Senhor, pode entrar por um momento e contar-te o que vê.

A caçadora do Senhor entrou por um breve momento no santuário e viu a forma


daquilo que fora a corça, jazendo diante do altar, parecendo morta. E com tristeza ela
disse: “Mas se seu espírito permanece contigo, oh grande Apoio, nobre filho de Deus,
então sabes que a corça está morta. A corça está morta pelo homem que é um filho do
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homem, embora seja um filho de Deus. Por que pode ele passar para dentro do
santuário enquanto nós esperamos pela corça lá fora?”

“Porque ele carregou a corça em seus braços, junto ao coração, e a corça encontra
repouso no lugar sagrado, e também o homem. Todos os homens são meus. A corça é
igualmente minha; não vossa, nem do homem, mas minha.”

E Hércules, retornando da prova, atravessou novamente o Portão, e encontrou o


caminho, de volta ao mestre de sua vida.

“Cumpri a tarefa indicada pelo grande Ser Que Presidia. Foi simples, a não ser pelo
longo tempo gasto e o cansaço da busca. Não dei ouvidos àqueles que faziam
exigências, nem vacilei no Caminho. A corça está no lugar sagrado, junto ao coração de
Deus, da mesma forma que, na hora da necessidade, está também junto ao meu
coração.”

“Vai olhar de novo, oh Hércules, meu filho, entre os pilares do Portão.” E Hércules
obedeceu. Além do Portão descortinavam-se os belos contornos da região e no
horizonte distante erguia-se o templo do Senhor, o santuário do Deus-Sol, de ameias
cintilantes. E numa colina próxima via-se uma esguia corça.

“Realizei a prova, oh sábio Mestre? A corça está de volta sobre a colina onde eu a vi
anteriormente.”

E, partindo da Câmara do Conselho do Senhor, onde se sentava o grande Ser Que


Presidia, ouviu-se uma voz: “Muitas e muitas vezes precisam todos os filhos dos
homens, que são os filhos de Deus, sair em busca da corça de cornos de ouro e
carregá-la para o lugar sagrado; muitas, muitas vezes.”

Então, disse o Mestre, ao filho do homem que é um filho de Deus: “O quarto trabalho
está terminado, e devido à natureza da prova e devido à natureza da corça, a busca
tem que ser frequente. Não te esqueças disto; medita sobre a lição aprendida.” (O
Tibetano)

Síntese dos Signos

Caranguejo é o último do que poderíamos chamar dos quatro signos preparatórios, seja
quando estamos considerando a involução, a descida da alma para a matéria, ou seja a
evolução do aspirante, à medida que ele se esforça para subir do reino humano para o
reino espiritual. Sendo equipado com a faculdade da mente, em Carneiro, e com o
desejo, em Touro, e tendo chegado à compreensão de sua dualidade essencial, em
Gêmeos, o ser humano encarnado entra, através do nascimento, em Caranguejo, no
reino humano.

Câncer é um signo da massa, e as influências que dele fluem são consideradas por
muitos esoteristas como causadoras da formação da família humana da raça, da nação
e da unidade familiar. No que diz respeito ao aspirante, a história é um pouco diferente,
uma vez que nestes quatro signos ele prepara seu equipamento e aprende a utilizá-lo.
Em Carneiro ele se apossa de sua mente e procura submetê-la às suas necessidades,
aprendendo o controle mental. Em Touro, “a mãe da iluminação”, ele recebe o primeiro
lampejo daquela luz espiritual cujo brilho aumentará progressivamente à medida que
ele se aproxima de sua meta. Em Gêmeos, ele não só se apercebe dos dois aspectos de
sua natureza, como o aspecto imortal começa a crescer às custas do mortal.

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Agora, em Caranguejo, ele tem seu primeiro contato com aquele sentido mais universal
que é o aspecto superior da consciência da massa. Equipado, pois, com uma mente
controlada, com uma capacidade para registrar a iluminação, habilidade para
estabelecer contato com seu aspecto imortal e reconhecer intuitivamente o reino do
espírito, ele está agora pronto para o trabalho maior.

Nos quatro signos seguintes, que poderíamos considerar como os signos da luta, no
plano físico, para alcançar a conquista espiritual, está retratada a tremenda batalha por
meio da qual o indivíduo autoconsciente, emergindo da massa em Câncer, reconhece-
se como um indivíduo em Leão, o Cristo em potencial em Virgem, o aspirante
esforçando-se para equilibrar os pares de opostos em Balança, e aquele que vence a
ilusão, em Escorpião. Estes são os quatro signos de crise e de imenso esforço. Neles
todos, a iluminação, a intuição e o poder da alma de que Hércules, o aspirante, é
capaz, são utilizados ao máximo. Tudo isto tem seu reflexo, também, no arco
involucionário, e podemos acompanhar uma sequencia semelhante de desdobramento.
A alma alcança a individualidade em Leão, torna-se a nutriz de ideias e de capacidades
em potencial em Virgem, oscila violentamente de um extremo a outro em Balança, e é
submetida ao efeito disciplinador do mundo da ilusão e da forma em Escorpião.

Nos quatro últimos signos, temos os signos da conquista espiritual. O aspirante


conseguiu, com seu esforço, sair do mundo da miragem e da forma, e em sua
conscientização está livre destas limitações. Agora ele pode ser o arqueiro em
Sagitário, avançando direto para a meta; agora ele pode ser o bode em Capricórnio,
escalando o monte da iniciação; agora ele pode ser trabalhador do mundo em Aquário,
e o salvador do mundo em Peixes. Assim ele pode reunir em si mesmo todos os ganhos
do período preparatório e das batalhas duramente travadas nos quatro signos de
penosa atividade; e nos quatro signos finais demonstrar os ganhos conseguidos e os
poderes desenvolvidos.

Este breve resumo dos signos, no que eles afetam Hércules, servirá para dar uma ideia
da maravilhosa síntese do quadro, e da firme progressão e do desdobramento
controlado das várias forças que sutilmente desempenham a sua parte para produzir as
mudanças na vida do homem.

Três palavras resumem a autopercepção objetiva ou do aspecto consciente do ser


humano em evolução: instinto, intelecto e intuição. O signo que estamos agora
estudando é o signo do instinto; mas a sublimação do instinto é a intuição. Assim como
a matéria tem que ser elevada ao céu, o instinto igualmente tem que ser elevado, e
quando foi assim transcendido e transmutado, ele se manifesta como intuição
(simbolizado pela corça). O estágio intermediário é o do intelecto. A grande
necessidade de Hércules agora é desenvolver a intuição e familiarizar-se com aquele
reconhecimento instantâneo da verdade e realidade que é a alta prerrogativa e o
potente fator na vida de um liberto filho de Deus.

Significado da História

Vemos, pois, que Euristeu mandou que Hércules capturasse a corça de galhada de
ouro. A palavra “hind” origina-se de um antigo termo gótico que significa “aquilo que
tem de ser agarrado”, isto é, algo que é esquivo e difícil de ser preso e guardado. Para
Artemis, a deusa da lua, este gamo (*) era sagrado; mas Diana, a caçadora dos céus, a
filha do sol, também o queria e ambas disputavam a sua posse. Hércules aceitou o
encargo que Euristeu lhe dera e partiu para a captura da delicada corça. Perseguiu-a
durante um ano inteiro, vagando de uma floresta a outra, vislumbrando-a num rápido
relance para em seguida perdê-la novamente de vista. Os meses se passavam e ele
não conseguia agarrá-la. Finalmente seus esforços foram coroados de êxito, ele
capturou o gamo, atirou-o sobre o ombro e “manteve-o aninhado junto ao coração”,
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carregando-o para o templo sagrado em Micenas, onde o colocou diante do altar, no
lugar sagrado. Então afastou-se, contente com o sucesso de sua missão.

Entre as histórias esta é uma das mais curtas, mas embora poucas coisas sejam ditas,
este trabalho, quando refletimos sobre ele, é de profundo interesse e da maior
importância a lição que ele encerra. O aspirante não obtém sucesso até que tenha
transmutado instinto em intuição, nem há uso correto do intelecto enquanto a intuição
não está presente para interpretar e ampliar o intelecto e produzir a realização. Então,
o instinto estará subordinado a ambos.

______

(*) Hind ou doe - corça ou cervo ou gamo, no original em inglês.

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4º Trabalho: A Captura da Corça - Parte II
(Câncer, 21 de Junho - 21 de Julho)

Qualidades do Signo

Câncer é chamado o Caranguejo e, segundo os gregos, foi o caranguejo que Hera


enviou para morder o pé de Hércules. (Este símbolo é novamente encontrado no
vulnerável “calcanhar de Aquiles”.) Este é um modo interessante de expressar as
dúvidas no processo de encarnação e de ilustrar os obstáculos que perturbam a alma
enquanto ela percorre o caminho da evolução. Simboliza as limitações de toda
encarnação física, pois Caranguejo é um dos dois grandes portões do zodíaco. É o
portão para o mundo das formas, para a encarnação física, e o signo onde a dualidade
da forma e da alma é unificada no corpo físico.

O signo oposto a Caranguejo é Capricórnio, e esses dois constituem os dois portões,


sendo um, o portão para a vida da forma e o outro, o portão para a vida espiritual; um
abrindo a porta para a forma da massa da família humana, e o outro para o estado de
consciência universal, que é o reino do espírito. Um marca o começo da experiência
humana no plano físico, o outro marca o seu clímax. Um significa potencialidade, e o
outro, consumação.

Sabemos que Cristo deu a Pedro as chaves do céu e da terra; deu-lhe, portanto, as
chaves destes dois portões. Lemos:

“Jesus dá a Pedro... as chaves dos dois principais portões do zodíaco, que são os dois
pontos solsticiais, os signos zodiacais de Caranguejo e Capricórnio, chamados os
portões do sol. Através de Caranguejo, ou o portão do homem, a alma desce à terra
(para unir-se ao corpo), o que constitui a sua morte espiritual. Através de
Capricórnio, o “portão dos deuses”, ela reascende ao céu.” (E. Valentia Straiton, A Nave
Celestial do Norte, Vol.ll, pag. 206)

No zodíaco de Dendera, o signo de Câncer é representado por um escaravelho,


chamado no Egito, scarab. A palavra “scarab” significa “apenas gerado, originado”;
representa, pois, o nascimento em encarnação, ou, em relação ao aspirante, o novo
nascimento. No antigo Egito o mês de junho era chamado “meore”, que novamente
significa “renascimento”, e assim, tanto o signo quanto o nome do mês enfatizam a
ideia da tomada de forma e da entrada em encarnação física. Em um antigo zodíaco
hindu, que data de cerca de 400 a.C., mais uma vez o signo é representado por um
escaravelho.

Por sua vez os chineses chamam este signo de “pássaro vermelho”; pois vermelho é o
símbolo do desejo e o pássaro é o símbolo daquele atirar-se para a encarnação e tomar
aparência no tempo e espaço. O pássaro aparece frequentemente no zodíaco e em
antigas histórias mitológicas, Hamsa, o pássaro da tradição hindu, “o pássaro fora do
tempo e do espaço”, representa igualmente a manifestação de Deus e do homem.
Partindo da escuridão, lança-se o pássaro e, voando, cruza o horizonte à luz do dia,
desaparecendo novamente na escuridão. A palavra inglesa “goose” (ganso) tem a
mesma raiz sânscrita e chegou à língua inglesa através do islandês; quando um inglês
diz que alguém é um “goose”. (“What a goose you are” - “Como você é tolo”) está
realmente fazendo uma afirmação bastante esotérica; está dizendo a outro ser
humano, “você é o pássaro fora do tempo e espaço, você é a alma tomando forma;
você é Deus em encarnação!”

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O caranguejo vive parcialmente na terra e na água. É, por isso, o símbolo da alma
habitando o corpo físico, mas vivendo predominantemente na água, que é o símbolo da
natureza emocional, das sensações.

Esotericamente, Caranguejo é regido pela lua, que é sempre a mãe da forma, e que
controla as águas e as marés. Portanto, neste signo, a forma é dominante e constitui
um empecilho. O caranguejo constrói sua casa ou carapaça e carrega-a às costas, e as
pessoas nascidas neste signo são sempre conscientes de tudo que construíram;
geralmente são exageradamente sensíveis e emocionais, sempre procurando esconder-
se. O nativo de Câncer é tão sensível que é difícil lidar-se com ele, e às vezes, tão
indefinido, que é quase impossível compreendê-lo ou classificá-lo.

A Cruz Cardinal

Caranguejo é um dos braços da cruz cardinal. Um dos braços é Áries, o símbolo do


começo, do início, da vida subjetiva, do estágio pré-natal, ou involução, e do primeiro
passo, seja para tomar forma, seja para a libertação espiritual. Um terceiro braço da
cruz é Libra, a balança, a escolha entre, o começo da caminhada sobre o “o estreito
caminho do fio da navalha”, a que Buda frequentemente se refere. Capricórnio, o
quarto braço, novamente é nascimento, o nascimento do salvador do mundo,
nascimento para o reino espiritual, nascimento que leva para fora do mundo da
matéria, para o mundo do ser. Involução, encarnação, expressão, inspiração são as
quatro palavras que expressam a história da cruz cardinal nos céus. (A cruz do
iniciado).

As Estrelas

Não há estrelas brilhantes em Caranguejo, nenhuma que se destaque por seu brilho,
porque Caranguejo é o signo daquele que se esconde, que se retira para trás daquilo
que foi construído. Não é uma constelação que se destaque. É interessante observar
que não existe uma palavra hebraica para “caranguejo”; este é considerado impuro e
não é mencionado. Assim é vista a forma material do ângulo do espírito, e os
esoteristas dizem que o corpo físico denso não é um princípio. (A substituição do
escaravelho sagrado dos egípcios pelo caranguejo aparece como um reconhecimento da
qualidade do Caranguejo nos seus aspectos mais elevados quando o nativo é um
aspirante ou discípulo, pois nós damos a volta ao zodíaco muitas vezes.)

Há oitenta e três estrelas neste signo, sendo que a mais brilhante é de terceira
magnitude, e exatamente no centro da constelação há um aglomerado de estrelas:
Presépio, a manjedoura, que os modernos astrônomos chamam “a colmeia”. Esta
última designação é um maravilhoso símbolo da organização coletiva da família
humana, e uma das razões porque é sempre considerado como um signo de massa. E o
instinto que rege a massa; por essa razão Caranguejo é o signo do instinto, da vida da
manada, da reação da massa. Representa a mente subconsciente, o instinto
hereditário, e a imaginação coletiva. Representa, individualmente, a totalidade da vida
e a consciência das células no corpo, e aquela vida instintiva e coletiva, que é
grandemente subconsciente no homem, mas que sempre exerce influência sobre seu
físico e, subjetivamente, sobre sua mente inferior e sua natureza emocional.

O nativo não desenvolvido de Caranguejo está imerso na massa; é uma parte


inconsciente do grande todo, e é aqui que reside o problema, uma vez que o homem
comum de Caranguejo - assim como o aspirante que está executando o trabalho deste
signo - está sujeito ao impulso para destacar-se da massa à qual está preso pelo
instinto, e a desenvolver a intuição que lhe permitirá erguer-se acima dela. Este signo é
às vezes chamado “o ataúde” pelos hebreus, porque marca a perda da identidade,

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enquanto que os primitivos cristãos chamavam-no “o túmulo de Lázaro”, aquele que foi
erguido de entre os mortos. Nestas palavras, “ataúde”, “túmulo”, “caranguejo” e
“útero” que também às vezes é usada em referência ao Caranguejo, está indicada a
ideia da vida oculta, da forma que vela, da potencialidade e da luta contra as
circunstâncias que eventualmente produzirá, em Leão, a emergência do indivíduo e, em
Capricórnio, o nascimento de um salvador do mundo. Definitivamente, portanto, retrata
a luta que se desenrola na vida do aspirante para que o instinto possa dar, finalmente,
lugar à intuição.

Unificação com Capricórnio

E interessante fazer um contraste entre os dois signos, Caranguejo e Capricórnio, pois


aquilo que é indicado em Caranguejo é consumado em Capricórnio. Caranguejo
representa o lar, a mãe. É pessoal e emocional, enquanto que Capricórnio representa o
grupo no qual a unidade entra conscientemente, e também “o pai de tudo que é”. O
portão de Caranguejo é atravessado pelo processo de transferência do estado animal
de consciência para o humano, ao passo que o portão de Capricórnio é atravessado
através da iniciação. Um processo é inevitável, subconsciente e potencial; o outro é
autoiniciado, autoconsciente, e potente. Caranguejo representa a forma da massa, a
alma coletiva animal; Capricórnio representa o grupo, a alma universal.

O Câncer foi originalmente chamado o mês de nascimento de Jesus; Capricórnio, como


sabemos é o mês de nascimento de Cristo e, ao longo dos séculos, no dia vinte e cinco
de dezembro, é celebrado o nascimento do salvador do mundo; porém, em tempos
muito remotos, o nascimento dos infantes deuses do sol acontecia em Câncer.

“O nascimento do menino Jesus, tendo sido arbitrariamente estabelecido pelos


sacerdotes, criou uma séria discrepância, pois que sabemos que ele nasceu numa
manjedoura. A manjedoura é encontrada no signo do solstício do verão, a
constelação do Caranguejo, que era chamada o portão do sol, através do qual se
dizia que as almas desciam do seu lar celestial para a terra, assim como no solstício
do inverno em dezembro, dizia-se que elas retornavam ao seu lar celestial, a
constelação de Capricórnio, o outro portão do sol. Capricórnio era considerado o
signo do qual os filhos do sol nasciam no solstício do inverno e tornados sagrados aos
filhos da luz.” (E. Valentia Straiton,A Nave Celestial do Norte, Vol. II, p.205)

Símbolos

O símbolo astrológico do signo de Câncer não tem a menor relação com o caranguejo. E
formado por duas caudas de “asnos”, o que novamente liga a história bíblica com a
manjedoura. Ligados à história do nascimento de Jesus aparecem dois asnos; um, que
levou a Virgem até Belém, antes do nascimento, e outro que a levou ao Egito, depois
do nascimento. Próximo à constelação do Caranguejo há duas brilhantes estrelas: uma
é chamada Asellus Borealis, o asno do norte, e a outra, Asellus Australis, ou o asno do
sul. Há ainda uma terceira vez, quando Cristo entrou em Jerusalém durante o seu
breve momento de triunfo, no Domingo de Ramos, sentado sobre um asno, um símbolo
de paciência e humildade, as joias da coroa da grandeza. Por essa razão não
depreciemos este símbolo.

Alguém usou as seguintes palavras para descrever a cadência do caranguejo quando


nele se entra pela primeira vez: “Uma pequena lamentosa voz subterrânea, uma
melodia em surdina, ora entreouvida, ora fugidia.”

O trabalho ainda não foi consumado. Tudo que se pode ouvir é a nota da possível
realização. Tudo que se pode encontrar é uma profunda ânsia interior e um

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descontentamento que se toma tão intenso que acaba por trazer o indivíduo oculto e
em luta para fora do âmbito de seu mundo estabilizado e faz dele um aspirante sincero
que não conhece repouso até que tenha emergido da água e escalado continuamente
até encontrar-se no alto do monte em Capricórnio, o nascimento e não a consumação
do salvador mundial. Cristo nasceu em Capricórnio, cumpriu a lei em Saturno, iniciou a
era da fraternidade inteligente em Venus, e é o perfeito iniciado em Capricórnio, que se
torna um servidor do mundo em Aquário; e o salvador do mundo em Peixes. O
Caranguejo introduz a alma no centro mundial a que chamamos humanidade.
Capricórnio introduz a alma na participação consciente na vida daquele centro mundial
a que chamamos a Hierarquia. (Astrologia Esotérica, p. 168)

As Três Constelações Simbólicas

Jesus é frequentemente chamado o Bom Pastor, e tem sido retratado muitas vezes
como o pastor conduzindo suas ovelhas. O pensamento do aprisco tem sido
intimamente associado, na mente do povo, com o Cristo. Em conexão com o signo do
Caranguejo há três constelações: Ursa Maior, Ursa Menor e Argos. Os nomes comuns,
no ocidente, para as duas primeiras são a Grande e a Pequena Ursa, mas um dos
mistérios da astronomia é como o termo “ursa” veio a ser associado a qualquer um
destes grupos de estrelas, uma vez que nos zodíacos da Caldeia, Pérsia, Índia e Egito
ele não é mencionado. Os nomes mais comumente usados são “o aprisco ou o rebanho
de ovelhas, e se analisarmos os termos que hebreus e árabes usam para as estrelas
dessas constelações encontraremos prova de que os nomes antigos significam “o
rebanho menor” (isto é “inferior”), “o aprisco”, “os carneiros”, e “o navio”. No capítulo
34 de Ezequiel e no capítulo 10 de São João, há muita coisa referente a estas
constelações.

Ursa Maior é famosa porque sua mais brilhante estrela é a estrela polar, a estrela do
norte. O simbolismo destas duas constelações traz- nos à mente a ideia da massa ou
grupo, que é a influência marcante do trabalho levado a efeito no signo de Câncer, e no
simbolismo da estrela do norte temos a ideia de uma estrela-guia, de uma atração
magnética que guia o peregrino de volta ao lar. Muitos esoteristas sustentam que a
família humana, o quarto reino da natureza, gradualmente surgiu durante os dois mil
anos, aproximadamente, em que o nosso sol estava em Câncer.

A ideia da massa de animais, de área limitada onde as ovelhas ou animais eram


confinados, e a ideia de um centro magnético de atração, estão simbolicamente
retratadas também na tradição maçônica. No planisfério egípcio de Kircher, Argos é
representada por duas galeras (assim como nós temos dois apriscos), cujas proas são
encimadas por cabeças de carneiros, e a popa de uma delas termina num rabo de
peixe. Observemos, portanto, como está pictoricamente apresentada a consumação em
Capricórnio, onde o bode escala o topo da montanha. Temos também a representação
daquele ciclo maior que inclui a progressão da alma, de Câncer para Capricórnio, mas
que começa em Áries, o carneiro, e termina em Pisces, os peixes. Uma análise
cuidadosa do simbolismo dos signos do zodíaco reafirma a forte convicção da eterna
representação da verdade e a constante exposição que põe diante de nossos olhos a
história da evolução da matéria na forma, da consciência, do espírito e da vida.

Argos estende-se de Caranguejo a Capricórnio e é uma das maiores constelações. Tem


sessenta e quatro estrelas, sendo Canopus a mais brilhante. Seu simbolismo, portanto,
cobre a vida do aspirante desde o momento em que ele encarna até alcançar sua meta.
Nós frequentemente usamos a palavra “barco” em sentido figurado quando falamos no
“barco do estado”, o “barco da salvação”, exprimindo sempre a ideia de segurança, de
progresso, de conseguir uma saída, de fazer uma viagem, e de levar uma multidão de
peregrinos que estão à procura de um tesouro ou de um lar novo e mais livre.

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Os peregrinos estão equipados com o instinto, e ao atravessar as várias constelações
compreendidas neste imenso signo, esse instinto manifesta-se como intelecto no ser
humano quando ele desenvolve a autoconsciência e emerge do estágio puramente
animal, até que chega o momento quando, tendo percorrido várias vezes o zodíaco, o
aspirante acha-se novamente em Câncer, enfrentando o problema de encontrar aquela
fugaz, sensível e profundamente oculta, ou escondida, intuição espiritual que o guiará
na sua nova, e desta vez, solitária viagem; o aspirante não está mais identificado com
a massa e perdido nela; ele não é mais um dos carneiros, protegido, em segurança no
aprisco; ele não mais pertence à grande manada de emigrantes: ele destacou-se da
massa e começou o solitário caminho de todos os discípulos. Então ele toma o caminho
da tribulação, da prova, lutando sozinho como um indivíduo, de Leão a Capricórnio, até
que chega o momento em que, ajudado pelo instinto, intelecto e intuição e movido pelo
impulso da vida do Cristo, ele novamente se funde com a massa e se identifica com o
grupo. Torna-se então, o servidor do mundo em Aquário e perde o sentido da
separatividade.

A Lição do Trabalho

Vimos que o gamo que Hércules procurava era sagrado para Ártemis, a lua, e também
disputado por Diana, a caçadora dos céus, e por Apolo, o deus-sol. Uma das coisas
frequentemente esquecidas pelos estudantes de psicologia e por aqueles que
investigam o desabrochar da consciência do homem, é o fato de que não existem
distinções nítidas entre os vários aspectos da natureza do homem, mas que todas são
fases de uma única realidade. As palavras instinto, intelecto e intuição, são apenas
aspectos variados da consciência e da resposta ao meio e ao mundo no qual o homem
se encontra. O homem é um animal, e como qualquer outro animal, ele possui a
qualidade do instinto e da resposta instintiva ao seu meio ambiente. O instinto é a
consciência da forma e da vida celular, o modo da forma estar consciente, alerta, e
portanto, Ártemis, a lua, a regente da forma, disputa o gamo sagrado. Em seu próprio
lugar, o instinto animal é tão divino quanto aquelas outras qualidades que
consideramos como mais estritamente espirituais.

O homem, porém, é também um ser humano; ele é racional; ele pode analisar, criticar,
e ele possui aquilo a que nós chamamos a mente e aquela faculdade de percepção e
resposta intelectuais, que o distingue do animal, que lhe abre um novo campo de
consciência, de percepção, mas que, ainda assim, é simplesmente uma extensão do
seu aparelho de resposta e o desenvolvimento do instinto em intelecto. Por intermédio
de um, ele toma consciência do mundo dos contatos físicos e das condições
emocionais; através do outro ele percebe o mundo do pensamento e das ideias, e por
isso é um ser humano. Quando ele alcança aquele estágio de percepção instintiva e
inteligente, então “Euristeu” indica- lhe que há outro mundo do qual ele pode
igualmente tornar-se consciente, mas que tem seu próprio método de contato e seu
próprio aparelho de resposta.

Diana, a caçadora, reclama a corça porque para ela é o intelecto e o homem é o grande
buscador, o grande caçador diante do Senhor. Porém, o gamo possuía uma outra
forma, esta mais esquiva, e era esta a que Hércules, o aspirante, buscava. Durante um
ciclo de vida, ele caçou. Não era a corça, o instinto, que ele procurava; não era o gamo,
o intelecto, o objetivo de sua busca. Era algo mais, e por este algo mais ele passou um
ciclo de vida caçando. Finalmente capturou-o e levou-o para o templo, onde ele foi
reclamado pelo deus-sol, que reconheceu na corça a intuição espiritual, essa extensão
da consciência, esse altamente desenvolvido sentido de viva percepção que dá ao
discípulo a visão de novos campos de contato e lhe revela um novo mundo de ser. É-
nos dito que a batalha continua ainda entre Apolo, o deus-sol, que reconhece na corça
a intuição, Diana, a caçadora dos céus, que nele via o intelecto, e Ártemis, a lua, que
julgava que ele fosse apenas o instinto. As duas deusas reclamantes têm razão, e o
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problema de todos os discípulos é usar o instinto corretamente, no seu devido lugar e
de modo adequado. Ele tem que aprender a usar o intelecto sob a influência de Diana,
a caçadora, a filha do sol, e por meio dele entrar em sintonia com o mundo das ideias e
da pesquisa humanas. Ele tem que aprender a levar essa capacidade que possui para o
templo do Senhor e lá vê-la transmutada em intuição, e por meio da intuição tomar
consciência das coisas do espírito e daquelas realidades espirituais que nem o instinto,
nem o intelecto lhe podem revelar. (E muitas e muitas vezes os filhos dos homens, que
são também filhos de Deus, têm que recapturar essas realidades espirituais, ao longo
do Caminho infinito.)

56
5º Trabalho: A Morte do Leão de Nemeia
(Leão, 22 de Julho - 21 de Agosto)

O Mito

O grande Ser Que Presidia estava sentado no interior da Câmara do Conselho do


Senhor e lá discutia o plano de Deus para todos os filhos dos homens, que são os filhos
de Deus. O Mestre permanecia à direita e ouvia-lhe as palavras. E Hércules descansava
de seus trabalhos.

E o grande Ser Que Presidia, no interior da Câmara do Conselho do Senhor, observava


o descanso do cansado guerreiro e observava seus pensamentos. Voltou-se então para
o Mestre que permanecia ao alcance de sua mão, na Câmara do Conselho do Senhor e
disse: “Aproxima-se agora o momento para um terrível trabalho. Este homem, que é
um filho do homem e ainda assim, um filho de Deus, precisa estar preparado. Que ele
verifique bem as armas que possui, que ele dê um polimento em seu escudo, e
mergulhe suas lanças numa infusão letal, pois que terrível é o trabalho à sua espera.
Que ele se prepare.

Mas Hércules, descansando de seus trabalhos, desconhecia a prova à sua espera. Ele
sentia-se forte em sua coragem. Descansava de seus trabalhos, e inúmeras vezes
passava pelo quarto Portão perseguindo o gamo sagrado até o templo do Senhor.
Chegou um momento em que a tímida corça conheceu bem o caçador que o perseguia,
e mansamente submeteu-se ao seu comando. Assim, muitas e muitas vezes, ele
carregava o gamo junto ao coração e dirigia-se ao templo do Senhor. Assim
descansava ele.

Lá estava Hércules diante do quinto grande Portão, armado até aos dentes com todos
os troféus da guerra e de guerreiros, enquanto os deuses observavam-lhe os passos
firmes, o olhar decidido, a mão firme. Porém, no âmago de seu coração havia dúvidas.

“Que estou fazendo aqui?” disse ele. “Qual é a prova, e por que razão procurei passar
por este Portão?” e esperou esforçando-se por ouvir uma voz. “Que faço eu aqui, oh
Mestre de minha vida, armado, como vedes, com completa panóplia de guerra? Que
faço eu aqui?”

“Soou um chamado, oh Hércules, um chamado de profunda angústia. Teus ouvidos


externos não responderam a esse chamado, e, contudo, o ouvido interno conhece bem
a necessidade, pois ouviu uma voz, sim, muitas vezes, falando-te da necessidade e
incitando-te a ousar mais. O povo de Nemeia procura tua ajuda. Eles estão sofrendo
muito. Notícias de tuas proezas se espalharam. Eles te procuram para que mates o leão
que devasta sua terra e vitima seus homens.”

“É dele este som selvagem que eu escuto? É o rugido de um leão atravessando o ar o


que estou ouvindo? perguntou Hércules, e o Mestre disse: “Vai. Procura o leão que
devasta as terras que se estendem para além do quinto Portão. O povo desta pobre
terra vive silenciosamente a portas fechadas. Não ousam sair para suas tarefas; não
cultivam a terra, não semeiam. De norte a sul, de leste a oeste ronda o leão, e nessa
ronda furtiva apodera-se de todos que cruzam o seu caminho. Seu temível rugido é
ouvido durante a noite e todos tremem por trás das portas trancadas. Que farás tu, oh
Hércules? Que farás?”

E Hércules, o ouvido atento, respondeu à necessidade. Sobre o lado mais próximo do


grande Portão que firmemente guardava a terra de Nemeia, ele depositou a panóplia de

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guerra, retendo para seu uso o tacape que cortara com suas próprias mãos de uma
tenra e verdejante árvore.

“Que estás fazendo agora, oh, filho do homem, igualmente um filho de Deus? Onde
estão tuas armas, onde estão tuas fortes defesas?” “Este belo conjunto de armas
tornam-me pesado, retardam meus passos e dificultam minha partida no Caminho. Não
precisarei de nada mais a não ser o meu forte tacape; e com ele e meu coração
destemido, caminharei à procura do leão. Avisai ao povo de Nemeia que eu estou a
Caminho, e dizei-lhes que expulsem de si o medo.”

De lugar a lugar andou Hércules à procura do leão. Encontrou os habitantes de Nemeia


escondidos atrás de portas fechadas, à exceção de uns poucos que se aventuravam a
sair premidos pela necessidade ou pelo desespero. Eles andavam pela estrada à luz do
dia, ainda que cheios de temor. Aclamavam Hércules com júbilo, a princípio, depois,
com dúvida, ao ver que ele viajava desarmado, com pouco conhecimento sobre os
hábitos do leão, portando apenas um frágil tacape de madeira. “Onde estão tuas
armas, oh, Hércules? Não tens medo? Por que procuras o leão desarmado? Vai procurar
tuas armas e teu escudo. O leão é forte e feroz e já devorou muitos homens. Por que te
arriscas? Vai procurar tuas armas e a panóplia da força.” Silenciosamente, sem dar
resposta, o filho do homem que era o filho de Deus, prosseguia no Caminho,
observando o rastro do leão e acompanhando o som de seu rugido.

“Onde está o leão?” perguntava Hércules. “Está aqui”, respondiam-lhe. “Não, está lá”,
dizia outro. “De forma alguma”, dizia um terceiro, “ouvi-o urrar, selvagemente, na
montanha esta semana.” “Eu também, mas aqui, no vale onde estamos”, acrescentava
outro; e mais outro: “Eu vi seu rastro numa trilha por onde passei, por isso, Hércules,
ouve minha voz e segue-o até a sua toca”.

E assim Hércules prosseguia em seu caminho, com medo, mas contudo,


destemidamente; sozinho, contudo não solitário, pois pelo caminho havia outros que
acompanhavam seus passos num mito de esperança e temor. Durante longos dias e
noites ele vasculhou o Caminho, ouvido atento, procurando o rugir do leão enquanto o
povo de Nemeia permanecia encolhido por trás de portas fechadas.

Repentinamente, ele viu o leão. Na extremidade de uma espessa moita, lá estava ele.
Vendo que um inimigo se aproximava, e um inimigo que não demonstrava medo, o leão
urrou e ao seu rugido as árvores tremeram, os habitantes de Nemeia fugiram e
Hércules permaneceu imóvel. Ele agarrou seu arco e as flechas e com mão firme e
olhar treinado mirou a espádua do leão. Disparou direto ao alvo. A flecha caiu ao chão
sem perfurar a espádua do leão. Lançou flecha após flecha até não lhe restar nenhuma
mais. Então, incólume, ileso, rugindo furiosa e destemidamente, o leão caminhou em
sua direção. Lançando o arco ao chão, o filho do homem que é um filho de Deus,
gritando loucamente, correu para o leão, que estacou, bloqueando o Caminho,
estupefato diante de uma proeza que ele jamais vira, pois Hércules continuava
avançando. De súbito, o leão deu meia volta e correu, à frente de Hércules, para uma
moita nas rochosas escarpas do caminho na montanha. E assim os dois continuaram,
até que subitamente, estando Hércules percorrendo o Caminho, o leão desapareceu e
não mais foi visto ou ouvido.

Hércules estacou no Caminho, em silêncio. Vasculhou todos os lados, firme em sua mão
o fiel tacape, o presente que dera a si mesmo em dia já bem distante. Procurou por
todos os lados, de um ponto a outro do estreito caminho que cortava obliquamente a
encosta da montanha.

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De súbito, deparou com uma caverna de onde partiu um vigoroso rugido, um som
trovejante, selvagem, que parecia preveni-lo que se entrasse, perderia a vida. Hércules
gritou para o povo da terra: “Encontrei o leão. Aguardai o que farei”. E Hércules, que é
um filho do homem, e contudo um filho de Deus, penetrou na escura caverna e saiu do
outro lado, para a luz do dia, sem encontrar o leão, só aquela abertura. Ali parado
ouviu o leão às suas costas, não à sua frente.

“Que farei?” pensou, “esta caverna tem duas entradas e enquanto eu entro por uma, o
leão sai pela outra e entra por aquela por onde acabei de passar. Que farei? Não tenho
armas: Como matar este leão para salvar o povo de suas garras? Que farei?”

Enquanto olhava ao redor procurando uma solução e ouvia o rugido do leão, viu
algumas pilhas de toras e gravetos em profusão. Puxando-os para ele, arrastando-os
com toda a sua força, bloqueou ambas as saídas, encerrando-se a si próprio e ao leão
dentro da caverna.

Com as mãos nuas agarrou o leão, prendendo-o ao seu próprio corpo, apertando-lhe o
pescoço. O hálito do leão queimava-lhe o rosto, mas sem afrouxar suas mãos, ele o
mantinha preso. Os rugidos, um misto de ódio e terror, tornaram-se cada vez mais
débeis; seu corpo amolecia e escorregava, mas Hércules não cedia. E assim, sem
armas, com suas próprias mãos e sua própria imensa força, ele matou o leão.

Ele matou o leão, retirou-lhe a pele e mostrou-a ao povo do lado de fora da caverna.
Gritaram eles: “O leão está morto! Está morto o leão! Podemos agora viver e arar
nossas terras e plantar as necessárias sementes e caminhar juntos em paz. O leão está
morto e grande é o nosso libertador, o filho do homem, que é um filho de Deus, que se
chama Hércules”.

E assim, em triunfo, Hércules retornou ao Ser Que o enviara para provar sua força,
para servir e ir de encontro às necessidades dos que estavam em profundo sofrimento.
Ele depositou a pele do leão aos pés daquele que era o Mestre da sua vida, e teve
permissão para usá-la em substituição à velha e gasta pele que usava.

“O feito foi cumprido. O povo está agora livre. Não há mais medo. O leão está morto.
Com minhas próprias mãos eu o estrangulei e o matei.”

“Mais uma vez, oh, Hércules, mataste um leão. Mais uma vez o estrangulaste. O leão e
as serpentes têm que ser mortos uma vez e mais uma vez. Bom trabalho, meu filho.
Vai e descansa em paz entre aqueles que libertaste do medo. Terminado está o quinto
trabalho e eu vou dizê-lo ao grande Ser Que Preside, aquele que se senta e espera na
Câmara do Conselho do Senhor. Descansa em paz.”

E partindo da Câmara do Conselho soou uma voz: “Eu SEI” (O Tibetano)

O Número Cinco

No quinto signo, Leão, Hércules executa aquele que, de seus trabalhos, é


historicamente o mais conhecido, pois a morte do leão de Nemeia sempre foi associada
a Hércules, embora seja interessante notar que este famoso trabalho não tem relação
alguma com a pele de leão que ele sempre usou. Esta era a pele do leão que ele
matara antes de incumbir-se dos trabalhos e que fora o seu primeiro ato de serviço. Por
aquele gesto ele demonstrara estar pronto para as provas e treinamento.

Numericamente, este é um dos mais interessantes trabalhos, e para bem compreendê-


lo completamente e alcançar seu verdadeiro significado, precisamos examinar o
59
número cinco que o distingue. Do ponto de vista do esoterista, cinco é o número do
homem, porque o homem é um divino filho de Deus, mais o quaternário que consiste
na sua natureza quádrupla inferior: o corpo mental, o corpo emocional, o corpo vital e
o invólucro físico. Na linguagem dos psicólogos, o homem é um eu, uma continuação de
estados mentais e emocionais, vitalidade, e o aparelho de resposta do corpo físico.
Vimos estes quatro serem trazidos a um relacionamento com a alma envolvente, nos
quatro signos precedentes.

Em Carneiro, a alma tomou para si o tipo de matéria que lhe permitiria entrar em
relação com o mundo das ideias. Revestiu-se de um invólucro mental. Juntou à
individualidade aquelas combinações de substância mental através das quais se
pudesse melhor expressar. E o homem tornou-se uma alma pensante. Em Touro, fez
contato com o mundo do desejo e seguiu-se um processo idêntico. Foram
desenvolvidos os meios de contato sensível com o mundo do sentimento e da emoção,
e o homem tornou-se uma alma que sente. Em Gêmeos, foi construído um novo corpo
de energia vital através da reunião das energias da alma e da matéria, e o homem
tornou-se uma alma vivente, pois os dois polos estavam em relação, nascendo assim o
corpo vital, ou etérico. Em Caranguejo, que é o signo do nascimento físico e da
identificação da unidade com a massa, o trabalho da encarnação foi completado e a
natureza quádrupla manifestada. O homem tornou-se um agente vivo, no plano físico.
Mas, é em Leão que o homem se toma o que em termos ocultistas se chama “a estrela
de cinco pontas”, pois essa estrela é o símbolo da individualização, da sua humanidade,
do ser humano que sabe que é um indivíduo e toma consciência de si mesmo como Eu.
É neste signo que começamos a usar as palavras “eu” e “meu”.

A Sabedoria Eterna do oriente diz-nos que o número cinco é, entre todos os números, o
mais oculto e o de mais profundo significado. Ela sustenta que o grupo de seres
celestiais e espirituais que encarnaram na Terra manifestaram-se através do
quaternário, e deste modo trouxeram à existência a família humana, formando o quinto
grupo de vidas divinas e que, portanto, reuniam dentro de si mesmos os atributos duais
do universo: o físico e o espiritual. Eles unificaram em si mesmos os dois polos. Eram, a
um tempo, exotéricos e esotéricos; objetivos e subjetivos. Assim, temos o número dez,
considerado o número da perfeição, da completação humana, o número do ser humano
perfeito e completamente desenvolvido, que alcançou o equilíbrio entre espírito e
matéria. Porém, é o número em que o espírito NÃO domina a matéria; é o número do
aspirante cujo objetivo é subordinar a matéria ao espírito e, por conseguinte,
desestabilizar o número dez.

As antigas escrituras orientais usam interessantes meios para expressar a natureza


destes seres celestiais que são os homens da nossa época, nós mesmos, que somos os
filhos de Deus encarnados. Chamam-nos os Senhores do Conhecimento e da Sabedoria,
os Senhores da Vontade e do Sacrifício, os Senhores da Ilimitada Devoção - e estas
designações, caracterizando a entidade espiritual que habita cada forma humana,
merece a mais profunda consideração por parte daqueles que procuram trilhar a roda
do zodíaco como indivíduos conscientes com uma meta espiritual. É por nossa própria
vontade e com pleno conhecimento que estamos aqui. Com o propósito de elevar a
matéria ao céu é que viemos à existência manifestada. Na sua essência e realidade, o
homem não é o que parece ser. Ele é essencialmente o que ele demonstrará em
Aquário, o signo oposto ao de Leão. Ele será, então, o homem com uma consciência
universal em oposição à autoafirmativa individualidade típica de Leão. O indivíduo em
Leão torna-se o iniciado em Capricórnio, e mostra-se como o homem completo em
Aquário, o que se tornou possível devido unicamente à ilimitada devoção a um objetivo
vagamente pressentido que o tem levado a percorrer vezes sem conta o zodíaco até
conquistar a autoconsciência.

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A propriedade e a relação do Quinto Mandamento com o quinto trabalho e o quinto
signo tornam-se assim claras - “Honra teu pai e tua mãe para que teus dias se tornem
longos na terra que o Senhor, teu Deus, te deu” - pois em Leão, Pai-Espírito e a Mãe-
Matéria se unem no indivíduo e dessa união resulta aquela entidade consciente a que
chamamos de alma ou o “Self’. Contudo, assim como este é o signo onde o homem se
reconhece como o indivíduo e começa o ciclo de experiência no qual adquire
conhecimento, este é também o signo no qual o homem autoconsciente começa seu
treinamento para a iniciação. É neste signo que encontramos as últimas provas do
caminho probatório. Quando o trabalho deste signo termina, começa o treinamento
específico da iniciação, em Capricórnio. Uma certa medida de controle do pensamento
foi conseguida em Carneiro, e um certo poder de transmutar o desejo foi alcançado em
Touro. As maçãs da sabedoria foram colhidas em Gêmeos e a distinção entre sabedoria
e conhecimento foi, até certo ponto, aprendida, enquanto a necessidade de transmutar
instinto e intelecto em intuição e levar ambos para o Templo do Senhor foi
compreendida em Caranguejo.

A História do Mito

Depois de um trabalho relativamente simples em Caranguejo, um trabalho bastante


livre de riscos e perigos, Euristeu impõe a Hércules a tremenda tarefa de matar o leão
de Nemeia, que devastava o país. For muito tempo o leão se mostrava uma força
destrutiva contra a qual o povo se sentia impotente. Hércules achou que o único modo
de atingir o seu objetivo era perseguir o leão por círculos cada vez mais fechados até
que o tivesse encurralado numa caverna. Assim fez até que encontrou o rastro para o
seu covil.

Vitorioso nesta etapa preliminar fez a desagradável descoberta de que a caverna tinha
duas saídas e que enquanto ele entrava por uma atrás do leão, este desaparecia pela
outra. Nada mais restava a fazer, portanto, a não ser interromper a peregrinação e
bloquear uma das saídas da caverna, o que Hércules fez. A seguir forçou o leão a entrar
pela agora única abertura, e deixando para trás todas as armas, incluindo a clava que
ele próprio fizera, entrou na caverna e com as próprias mãos nuas estrangulou o leão,
num encontro que ninguém presenciou; apenas Hércules e o leão na desolada
escuridão da caverna, ambos empenhados numa luta que só poderia terminar na
morte.

O Campo de Trabalho

O signo de Leão é um dos quatro braços da cruz fixa nos céus, a cruz na qual o Cristo
Cósmico e o Cristo individual são sempre crucificados. Talvez a palavra “crucificado”
adquirisse um significado verdadeiro, se a substituíssemos pela palavra “sacrificado”,
uma vez que no desabrochar da consciência do Cristo na forma, etapa por etapa,
vemos sendo sacrificados vários aspectos da natureza divina.

Em Touro, o símbolo da força criativa expressando-se através do desejo, vemos o


aspecto inferior da força criativa divina, o desejo sexual, transmutado no aspecto
superior ou sacrificado ao mesmo. Ele tinha que ser elevado ao céu.

Em Leão, vemos a mente cósmica expressando-se no indivíduo como a mente racional


inferior, e este aspecto inferior igualmente tem que ser sacrificado e a pequena mente
do homem deve ser subordinada à mente universal. Em Escorpião, que é o terceiro
braço da cruz fixa, encontramos o amor cósmico ou atração cósmica. Aí ele se mostra
seu aspecto inferior, e a isto chamamos a Grande Ilusão; e em Escorpião, vemos o
aspirante na cruz, sacrificando a ilusão à realidade. Em Aquário, temos a luz da
consciência universal irradiando o ser humano e produzindo o sacrifício da vida

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individual ao fundir-se com o todo universal. Esta é a verdadeira crucificação: o
sacrifício do reflexo à realidade, do aspecto inferior ao superior, e da unidade individual
à grande totalidade. Foram estas características que o Cristo tão maravilhosamente
demonstrou. Ele mostrou-Se como o criador. Ele mostrou-Se atuando sob a influência
da mente iluminada; personificou em Si mesmo o amor de Deus, e anunciou-Se como a
Luz do Mundo. O problema diante de Hércules era, portanto, o problema do signo; a
crucificação do eu inferior e a conquista da autoafirmação individual.

Originariamente, o zodíaco consistia em apenas dez constelações e, em data


desconhecida, as constelações de Leão e Virgem formaram um único símbolo. Talvez o
mistério da esfinge esteja relacionado a isto, pois nela encontramos o leão com uma
cabeça de mulher, Leão e Virgem, o símbolo do leão ou realeza da alma, e sua relação
com a matéria ou aspecto-Mãe. Pode, portanto, significar as duas polaridades, o
masculino e o feminino, o positivo e o negativo.

Nesta constelação encontra-se uma estrela de brilho excepcional, uma das quatro
estrelas reais dos céus. Chama-se Regulus, o Governante, o Dispensador da Lei, o que
expressa a ideia de que o homem pode agora exercer a lei sobre si mesmo, pois que
tem dentro de si mesmo aquilo que o torna o rei ou governante. Escondidas na
constelação há também um vívido grupo de estrelas, “a foice”. Para os antigos
iniciados, que consideravam todas as constelações exteriores como personificações de
forças e como símbolos do desenrolar de um drama mais vasto do que até eles mesmos
podiam compreender, a constelação transmitia três grandes pensamentos: primeiro,
que o homem que era o governante, o rei, Deus encarnado, um filho de Deus;
segundo, o homem era governado pela lei, a lei da natureza, a lei que ele fizera para si
mesmo, e a lei espiritual à qual finalmente se subordinará; terceiro, que o trabalho de
um indivíduo é usar a foice para eliminar tudo aquilo que impedir a aplicação da lei
espiritual e, portanto, impede o desabrochar da alma.

Leão tem noventa e cinco estrelas, sendo duas de primeira grandeza. O nome egípcio
significa, “jorro”, o Nilo dando sua máxima irrigação naquela estação do ano. Isto tem,
também, um interessante significado esotérico, pois, de acordo com o ensinamento da
Sabedoria Eterna, a família humana veio à existência através daquilo que é
tecnicamente chamado “a terceira emanação” ou “terceira onda de Vida”, termo dado à
entrada da primeira grande onda de almas em corpos animais, e portanto, a formação
da família humana composta de unidades individuais. Outro termo técnico para esta
terceira onda de Vida é “individualização”, tornando-se um indivíduo com
autoconsciência, e assim ligando isto aos grandes acontecimentos no signo de Leão.

As noventa e cinco estrelas nesta constelação têm também um significado numérico:


9x10 + 5. Nove é o número da iniciação, dez é o número da perfeição humana, cinco é
o número do homem; e assim, neste grupo de estrelas temos a história do homem, da
personalidade, do iniciado e da sua conquista espiritual final.

As Três Constelações Simbólicas

Há uma imensa constelação chamada Hidra, a serpente, que está associada ao signo de
Leão. Há também Crater, a taça, e Corvus, o corvo. As três sintetizam, em seu
significado, o problema do homem que busca a iniciação. Mostram-lhe distinta e
claramente o trabalho que ele tem a executar. À proporção que Leão, o rei, a alma,
inicia seu trabalho, o homem descobre que ele tem que beber da taça do sofrimento e
experiência, tem que vencer a serpente da ilusão, e a ave de rapina tem que
eliminar Hidra, a serpente, nas gravuras antigas representada como serpente fêmea.
Ela se estende por mais de cem graus, abaixo das três constelações: Caranguejo, Leão
e Virgem.

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Em escorpião, esta serpente da matéria ou da ilusão, com a qual a alma se identifica
por tão longo tempo, é finalmente vencida. Hidra tem sessenta estrelas, e mais uma
vez nos deparamos com um número significativo, pois seis é o número da mente, do
trabalho criativo da Mente universal, e dos seis dias da criação. No sexto signo, Virgem,
temos a forma completa. Está dito no Livro das Revelações que a marca da Besta é
666, e Hidra, a serpente, estende-se sob três constelações e o seu número 6 é,
portanto, três vezes potente. Dez é o número da completação. Portanto, o seis
expressa as limitações da natureza do corpo trabalhando através da forma e utilizando
a personalidade; simboliza Deus na natureza, seja cósmica ou individualmente. Hidra, a
serpente, representa o aspecto matéria, velando e escondendo a alma.

Crater, a taça, possui treze estrelas de média grandeza, e cerca de noventa pequenas
estrelas, embora alguns livros de astronomia se refiram a três estrelas brilhantes e
noventa pequenas estrelas. Novamente temos o número da matéria, ou da tomada de
forma, e o número daquilo que é chamado “apostasia”, e “dar as costas” à alma ou
aspecto Crístico, como fez Judas Iscariote. Esta taça realmente faz parte do corpo
de Hidra, pois as estrelas na parte inferior da taça formam parte do corpo
da Serpente e ambas as constelações as consideram suas. É a taça da qual todo o ser
humano tem que beber, e que está cheia do que foi destilado da sua experiência na
matéria. É a taça da obrigação em certos antigos rituais maçônicos, e simboliza o beber
aquilo que nós mesmos preparamos. Em outras palavras, a mesma verdade está
expressa na Bíblia cristã: “Tal como o homem semeia, assim colherá.”

Então temos em terceiro lugar Corvus, o corvo, que fica sobre a Hidra, a serpente, e a
bica. Ela tem nove estrelas - outra vez o número da iniciação. O Velho Testamento
começou com um corvo, o Novo Testamento começa com um pombo. A experiência
começa com o pássaro da matéria e termina com o pássaro do espírito. É interessante
registrar que em Aquário, o signo da consumação para Leão, encontramos Cygnus, o
cisne, o símbolo do pássaro do espírito. Em A Voz do Silêncio, lemos: “E então não
podes repousar entre as asas do grande pássaro. Sim, doce descansar entre as asas
daquele que não é nascido, nem morre, mas é o Aum através de toda a eternidade.” E
em um rodapé, H.P.B., referindo-se ao pássaro ou cisne, cita: “Diz o Rig-Veda... A
sílaba A é considerada como sendo a asa direita do pássaro Hamsa, U a esquerda,
e M sua cauda...” (Os Chakras, por C. W. Leadbeater)

No zodíaco de Dendera, Leão e as três constelações que a acompanham são descritas


como formando um grande signo, pois o leão é visto pisando sobre a serpente. Corvus,
o corvo, está pousado sobre o ombro do leão, enquanto que em baixo está uma figura
feminina emplumada (novamente, o símbolo da matéria) sustentando duas taças, pois
sempre há a taça que simboliza a taça da experiência, a taça da penalidade. A taça é a
que é oferecida ao iniciado, à qual o Cristo se referiu no Horto de Gethsemane, quando
ele pretendeu que a taça lhe fosse retirada, mas que ele acabou bebendo.

Assim Hércules, o aspirante, expressando-se em Leão, visualiza a grande batalha que o


aguarda, sabe que seu passado deve influir para que seu futuro venha a ser cumprido,
sabe que antes que ele possa subir a montanha em Capricórnio deve matar a Hidra e
sabe que ele não pode mais ser o corvo, mas deve manifestar-se como a Áquila, a asa
do Escorpião, e como o Cygnus, o cisne, em Aquário. Isto ele deve começar a fazer em
Leão demonstrando o poder de ousar, enfrentando a terrível luta que o espera nos três
signos seguintes e matando o leão de sua própria natureza (o rei dos animais) sozinho
e sem ajuda, para assim ganhar o poder de sobrepujar a Hidra, em Escorpião.

A Lição do Trabalho

Dois pensamentos, colhidos na Bíblia, resumem a lição deste trabalho. Na Epístola de


São Pedro encontramos estas palavras: “Seu adversário, o diabo, como um leão
63
rugindo, se movimenta, procurando a quem possa devorar”, e em Revelações 5:5,
encontramos as palavras, “Eis que o Leão da tribo de Judah, a Raiz de Davi, venceu
para abrir o livro e os seus sete selos.”

Hércules, o aspirante, a alma, simbolizou o leão, o príncipe, o rei, o regente e por isso
ele simbolicamente revestiu-se da pele do leão. O leão de Nemeia representa
essencialmente a personalidade coordenada, dominante, pois o aspirante sempre tem
de ser um indivíduo altamente desenvolvido.

Com os tríplices aspectos do eu pessoal inferior fundidos e, portanto, potentes além da


média, o aspirante muitas vezes se torna uma pessoa até certo ponto cansativa e
difícil. Ele tem uma mente e dela faz uso. Suas emoções são controladas ou, pelo
menos estão a tal ponto fundidas com suas reações mentais que se apresentam
excepcionalmente poderosas; daí ele ser excessivamente individual, muitas vezes
bastante agressivo, autoconfiante e autossatisfeito, e sua personalidade ser, portanto,
uma força devastadora no grupo familiar, na sociedade ou organização à qual possa
estar ligado. Portanto, o aspirante, o leão de Judá, tem de matar o leão de sua
personalidade. Tendo emergido da massa, e desenvolvido a individualidade, ele tem
então de matar aquilo que ele criou; ele tem de tornar inútil aquilo que fora o grande
agente protetor até o tempo atual. O egoísmo, o instinto de autoproteção, tem de dar
lugar ao altruísmo, que é literalmente a subordinação do ego ao todo.

Por isso, o leão de Nemeia simboliza a poderosa personalidade, correndo de maneira


selvagem e ameaçando a paz dos campos. Qual é a lição a ser aprendida pelo fato de
Hércules haver cercado o leão em uma caverna que tinha duas aberturas? Por que ele
fechou uma das saídas e entrou pela outra? E qual é o ensinamento espiritual
subjazendo à tradição de que ali ele matou o leão com suas próprias mãos?

Muitas dessas velhas histórias conservaram a verdadeira interpretação do seu


significado impenetrável por milhares de anos, e é somente nesta geração e nos dias
atuais que o verdadeiro significado esotérico pode possivelmente emergir. O fato
interessante sobre o período no qual agora vivemos é que ele assinala um
desenvolvimento único na raça humana. Sempre houve manifestações dos deuses
solares, e este trabalho de Hércules volta e meia foi representado por uns aqui, outros
lá. Toda nação produziu aspirantes altamente desenvolvidos que seguem o rastro do
leão da personalidade até a caverna e lá o dominam. Mas, relativamente, em relação
com as miríades de unidades humanas, constituíram-se numa pequena minoria. Agora
temos um mundo cheio de aspirantes; a próxima geração, em todas as nações,
produzirá seus milhares de discípulos e já dezenas de milhares estão em busca do
Caminho. As pessoas não são muito individuais, o mundo está cheio
de personalidades e o tempo virá quando o leão da tribo de Judá prevalecerá sobre o
leão do eu pessoal. Nós não estamos sozinhos nesta luta, como Hércules estava, mas
formamos parte de um grande grupo de deuses-solares, que estamos lutando com as
provas preparatórias da iniciação, e com os problemas que trarão à luz os plenos
poderes da alma.

Em Capricórnio escalaremos o topo da montanha, e entrando agora, como estamos, no


ciclo de Aquário, os aspirantes da humanidade estão na posição de começarem a lição
do serviço e da consciência universal. Quando, no tempo dos anos 2000, começarmos a
entrar em Capricórnio, haverá então, lá, uma imensa reunião de iniciados, e a escalada
do monte da iniciação e do monte da transfiguração por muitas centenas de discípulos.
Enquanto isso tem-se que lidar com o leão da personalidade e entrar na cova.

No simbolismo das escrituras mundiais, os acontecimentos mais importantes são


representados em um de dois lugares: na caverna ou na montanha. O Cristo nasceu na
caverna; a personalidade é dominada na caverna; a voz do Senhor é ouvida na
64
caverna, a consciência do Cristo é nutrida na caverna do coração, mas depois das
experiências da caverna é escalado o monte da transfiguração, o monte da crucificação
é conquistado, para finalmente ser seguido pelo monte da ascensão.

Gostaria de dar aqui a interpretação técnica, talvez mais científica, desta caverna em
que Hércules penetrou. A raça Ariana, à qual pertencemos, é de agudo
desenvolvimento mental, e a consciência das pessoas em toda parte se está elevando
rapidamente, partindo da natureza emocional, e assim do centro do plexo solar para o
corpo mental e, daí, até a cabeça. Na cabeça há uma pequena cavidade, uma pequena
estrutura óssea, que abriga e guarda uma das mais importantes glândulas do corpo, a
hipófise. Quando esta glândula se acha em plena e apropriada atividade, temos uma
personalidade ativa e equilibrada, integrada, ajustada, autocontrolada, com
pronunciada atividade mental e persistência.

Esta hipófise é de configuração dual: em um de seus lobos, o frontal, se encontra a


sede da mente racional, a intelectualidade; no outro, o posterior, se acha a sede da
natureza emocional, imaginativa. Também se diz que esta glândula coordena todas as
demais, controla o crescimento e é essencial à vida. E interessante que Berwan define a
intelectualidade como a “capacidade da mente para controlar seu meio ambiente por
conceitos e ideias abstratas”. Onde há falta de desenvolvimento desta glândula pode-se
encontrar uma deficiência, tanto emocional como mental. Muitos endocrinologistas e
psicólogos assim se têm posicionado. (*) É nessa caverna que o leão da personalidade
desenvolvida ou individualidade tem sua toca e é aqui que o Deus-Sol, Hércules, tem
de vencer.

Por muitos séculos os egípcios, e especialmente os indus, sabiam dos chakras, ou


centros de força no corpo etérico. A descoberta do sistema endócrino mostra glândulas
físicas correspondentes, nas mesmas localizações. Uma dessas, a hipófise, com seus
dois lobos, simboliza a caverna com duas aberturas, uma das quais Hércules teve de
fechar antes que pudesse controlar a personalidade pela mente superior. Pois só depois
de haver bloqueado a abertura das emoções pessoais (o lobo posterior), depois de
haver jogado fora até sua confiável clava, depois de haver simbolicamente recusado
continuar a levar uma vida pessoal e egoísta, foi que, entrando pela abertura
representada pelo lobo anterior ele pode subjugar o leão da personalidade na caverna.
Essas correlações são tão exatas que apresentam, no pequeno e no grande, um
tremendo testemunho da perfeita integridade do Plano. “Assim em cima como em
baixo.” Uma surpreendente correlação entre as verdades biológicas e espirituais.

_______

(*) A alma e seu mecanismo, por A.A.Bailey.

65
6º Trabalho: A Tomada do Cinturão de Hipólita
(Virgem, 22 de Agosto - 21 de Setembro)

O Mito

O grande Ser Que Presidia, convocou o Mestre que acompanhava Hércules. “O tempo
está próximo”, ele disse, “Como vai indo o filho do homem que é um filho de Deus?
Estará ele preparado para novamente aventurar-se e tentar enfrentar com ânimo um
inimigo de uma espécie diferente das demais? Conseguirá ele ultrapassar agora o sexto
grande Portão?”

E o Mestre respondeu: “Sim”. Ele se assegurou inteiramente de que quando a palavra


fosse emitida o discípulo iniciaria seu novo trabalho, e isso ele disse ao Grande Ser Que
Presidia na Câmara do Conselho do Senhor.

E então a palavra foi emitida. “Levanta-te, oh Hércules, e atravessa o sexto grande


Portão”. Outra palavra semelhante foi emitida embora não para Hércules, mas sim,
para aqueles que habitavam as costas do grande mar. Eles escutaram e eles ouviram.

Naquelas praias vivia a grande rainha, que reinava sobre todas as mulheres do mundo
então conhecido. Elas eram suas vassalas e guerreiras ousadas. Em seu reino não se
encontrava nenhum homem. Só as mulheres, reunidas em tomo da sua rainha. No
templo da lua elas adoravam diariamente e lá sacrificavam a Marte, o deus da guerra.

De volta de sua anual visita aos abrigos dos homens elas chegavam. Nos arredores do
templo elas aguardavam a palavra de Hipólita, sua rainha, que estava nos degraus do
elevado altar, envergando o cinturão que lhe fora dado por Vênus, a rainha do amor.
Este cinturão era um símbolo, um símbolo da unidade conquistada através da luta, do
conflito, da aspiração, um símbolo da maternidade e da sagrada Criança para quem
toda a vida humana está verdadeiramente voltada.

“Ouvi dizer”, disse ela, “que está a caminho um guerreiro cujo nome é Hércules, um
filho do homem e no entanto um filho de Deus; a ele eu devo entregar este cinturão
que eu uso. Deverei obedecer a ordem, Oh Amazonas, ou deveremos combater a
palavra de Deus?

E enquanto ouviam suas palavras e refletiam sobre o problema, novamente foi passada
uma informação, dizendo que ele se havia adiantado e estava lá, esperando fora, para
tomar o sagrado cinturão da rainha guerreira.

Hipólita, a rainha guerreira, dirigiu-se ao encontro do filho de Deus que era igualmente
um filho do homem. Ele lutou com ela, combateu-a, e não ouviu as palavras sensatas
que ela procurava dizer. Ele arrancou o cinturão dela, somente para deparar-se com as
mãos dela estendidas e lhe oferecendo a dádiva, oferecendo o símbolo da unidade e
amor, de sacrifício e fé. Entretanto, tomando-o, ele a feriu, matando quem lhe dera o
dote que ele exigira. E enquanto ele estava ao lado da rainha agonizante, consternado
pelo que fizera, ele ouviu seu Mestre dizer:

“Meu filho, por que matar aquilo que é necessário, próximo e caro? Por que matar a
quem você ama, a doadora das boas dádivas, guardiã do que é possível? Por que matar
a mãe da Criança sagrada? Novamente registramos um fracasso. Novamente você não
compreendeu. Ou redimirá esse momento, ou não verá mais a minha face”.

66
O silêncio caiu e Hércules, trazendo o cinturão calado ao seu peito, buscou o caminho
de casa, deixando as mulheres se lamentando, privadas da liderança e do amor.

Hércules chegou de volta às costas do grande mar. Perto da praia rochosa ele viu um
monstro das profundezas, trazendo presa em suas mandíbulas a pobre Hesione. Seus
gritos e suspiros elevavam-se aos céus e feriram os ouvidos de Hércules, perdido em
remorsos e sem saber que caminho seguir. Dirigiu-se prontamente em sua ajuda, mas
muito tarde. Ela desapareceu nas cavernosas fauces da serpente marinha, aquele
monstro de má fama. Mas esquecendo-se de si mesmo, esse filho do homem que era
um filho de Deus, nadou até o monstro, o qual, voltando-se para o homem em rápido
ataque e rugindo alto, abriu sua boca. Descendo até o fundo do túnel vermelho de sua
garganta Hércules buscou Hesione, encontrando-a no fundo do estômago do monstro.
Com sua mão esquerda ele a agarrou e a sustentou junto a si, enquanto com sua fiel
espada ele esforçou-se para abrir caminho para fora do ventre da serpente até a luz do
dia. E assim ele a salvou, equilibrando pois seu anterior feito de morte. Pois assim é a
vida: um ato de morte, um ato de vida, e assim os filhos dos homens, que são filhos de
Deus, aprendem a sabedoria, o equilíbrio e o caminho para andar com Deus.

Da Câmara do Conselho do Senhor, Aquele que Presidia observava. E de seu posto ao


lado, o Mestre também observava. Através do sexto Portão passou Hércules de volta e
vendo isto, e tanto o cinturão como a donzela, o Instrutor falou e disse: “O Sexto
Trabalho está completo. Você matou aquela que o admirava e todo o desconhecido e
todo o não reconhecido lhe deu o necessário amor e poder. Você salvou aquela que
precisava de você, e assim novamente os dois são um, Medite novamente sobre os
caminhos da vida, refletindo sobre os caminhos da morte. Vá e descanse, meu filho.”
(O Tibetano)

[Daqui em diante, os capítulos serão baseados em palestras informais dadas por A.A.B., tendo-se esgotado o material que
ela havia já reunido para este livro. Portanto, uma revisão será oferecida, do material recolhido de Astrologia Esotérica e
de Gifts of the Spirit (Dons do Espírito) por Dane Rudhyar, nenhum dos quais havia sido publicado até a ocasião das
palestras dadas em 1937.]

Introdução

Diz-se que, sob certos aspectos, Virgem é o mais antigo dos signos zodiacais. Através
dos tempos, seja ele Lilith ou Isis, Eva ou a Virgem Maria, todos retratam a mãe do
mundo, mas é Maria quem, por fim, leva a Criança em seus braços. E é neste signo que
a consciência do Cristo é concebida e nutrida através do período da gestação até que
por fim em Peixes, o signo oposto, o salvador mundial nasce.

Como em Leão, esta é uma experiência, na caverna, “no útero do tempo”, e deveria ser
caracterizada por calor, quietude, experiências profundas e “lentas, contudo poderosas
crises”. É um signo sintético. Neste ponto diz o Tibetano: “a simbologia de Virgem
concerne ao inteiro objetivo do processo evolutivo, o qual é proteger, nutrir e
finalmente revelar a oculta realidade espiritual. Esta, toda forma encobre, mas a forma
humana está equipada e ajustada para manifestá-la de maneira diferente de qualquer
outra expressão da divindade e assim tornar tangível e objetivo aquilo para quê todo o
processo criativo foi destinado”. (Astrologia Esotérica, pp. 257-2)

Esta qualidade sintética é ainda mais enfatizada pelo fato de que oito outros signos
(todos exceto Leão, Libra e Capricórnio) através de seus planetas regentes derramam
suas energias através de Virgem, e o Tibetano chama a atenção para o fato de que
estamos agora entrando no oitavo signo de Virgem, em outras palavras, o próximo
signo diante do qual a Criança é dada à luz, o signo que verá muitos recebendo a
iniciação. Deve-se lembrar que todos os homens e mulheres passam através de todos
os signos, e para aqueles nascidos em Virgem, ou tendo aquele signo no ascendente (o
ponto oriental da carta, indicando o propósito da alma do discípulo) essas qualidades ou
67
energias são distribuídas de várias maneiras, pois as organizações, artes, ciências,
todos exigem longos períodos de gestação mental e a luta para trazer à manifestação
novas ideias.

Um outro fator único de Virgem é que ele tem um símbolo tríplice, o que só um outro
signo, Escorpião, tem também. Isso é significativo, implicando que esses dois signos
“estão conectados com o crescimento da consciência do Cristo. Eles marcam pontos
críticos na experiência da alma, pontos de integração nos quais a alma está
conscientemente unificando-se com a forma e ao mesmo tempo com o espírito”.
(Astrologia Esotérica, pg.481). Essa afirmação serve de fundamento à teoria espiritual
dos Triângulos, que são muitos e o Tibetano acrescenta essas augustas e
impressionantes palavras: “Sob a vontade de Divindade e a inalterável energia no
coração do Zodíaco manifestado, elas produzem as mudanças na consciência que
tornam o homem divino no fecho do ciclo mundial”. E, mais adiante: “É pela fusão das
três energias planetárias, pela atuação do pensamento humano, reagindo às energias
do Zodíaco, que nossa terra será transformada num planeta sagrado (o grifo é do
Editor)

Certamente essas palavras expandem nossa visão, aprofundam nossa compreensão, e


dão-nos fé no futuro da humanidade, força para cooperar pacientemente com o
presente.

Interpretação sobre o Mito

A história do mito relatava que o Grande Ser Que Presidia reconhecia ser este trabalho,
de fato, “de uma espécie diferente”. E interessante que os dois trabalhos em que
Hércules, embora finalmente vencedor, se havia saído mal, fossem com seus opostos
polares, femininos. Em Áries a conquista das éguas antropófagas de tal maneira influiu
em seu ego que ele se adiantou cheio de orgulho e deixou as éguas por conta de
Abderis, sua personalidade, com o resultado que elas fugiram e o trabalho teve de ser
repetido. “Mas Abderis jazia morto”. E no trabalho em Virgem, ele matou a rainha das
Amazonas, embora ela lhe oferecesse o cinturão, e então ele teve de salvar outra
donzela, Hesione, do ventre da baleia, para compensar a vida que ele havia
desnecessariamente roubado.

Assim a guerra entre os sexos é de antiga origem; na verdade, está inerente na


dualidade da humanidade e do sistema solar. A este fato nossas cortes de divórcio dão
alto testemunho; e a competição surge tanto nos negócios quanto no lar. Há pequenos,
mas importantes pontos na história, que não devem ser desprezados. Em que Hipólita
contribuiu para o erro? Talvez nisso: ela ofereceu a Hércules o cinturão da unidade, que
lhe fora dada por Vênus, porque ela ouvira que o Ser Que Presidia lhe houvera assim
ordenado, e não porque ela sentisse a unidade. Teria ela agido assim sob compulsão
mas não por amor? E assim ela morreu. Ainda assim, dizem-nos que o mal deve vir,
mas ai daqueles através de quem ele vem, e assim Hércules não conseguiu
compreender sua missão espiritual, embora houvesse obtido o que buscava.

Novamente, cabe perguntar, por que as Amazonas faziam uma sortida anual no mundo
dos homens? Seria para guerreá-los, ou seria para buscar a unidade, na qual não havia
coração? Seria para procurar novos membros para seu mundo privado de homens? Mas
diz-se que Deus olha para o coração. Será como um choque para muitos que sustentam
posições rígidas, legalmente morais, refletir sobre o fato de uma prostituta assumida
poder ser superior a uma mulher que chegou a blasfemar contra a prostituição, ao
tomar seus votos na igreja sem amor e sem intenção de servir, mas só para obter
dinheiro, segurança ou posição. Raramente se ouve um sermão sobre a mulher
apanhada em adultério, de quem o Cristo disse, “Nem Eu te condeno. Vai em paz e não
peques mais”. Tudo isso parece sutilmente envolvido no mito do trabalho da Virgem.
68
Sua aplicação prática, assim como seus significados cósmico e espiritual, são
surpreendentes. Dizem-nos que a “guerra com propósito entre os sexos está agora em
seu clímax”.

Desta vez o Instrutor não se limitou a dizer que o trabalho havia sido malfeito. Ele disse
sem hesitação, “Por que matar a mãe da Criança sagrada? Novamente assinalamos um
fracasso. Novamente você não compreendeu. Redime-se deste momento, ou você não
voltará a ver minha face”. Essas foram palavras severas e deveríamos atentar para a
nota-chave. “Novamente você não compreendeu”. E o silêncio caiu, e Hércules,
trazendo o cinturão para o seu peito, buscou o caminho de casa, deixando as mulheres
se lamentando e privadas de liderança e de amor.

O ato da morte; depois, um feito de amor quando, arriscando a própria vida, Hércules
salvou Hesione e ganhou do Instrutor as palavras: “Medita sobre os caminhos da vida,
refletindo sobre os caminhos da morte. Vai e repousa, meu filho”. Não oferecemos
desculpas por repetirmos as palavras do mito, tais como relatadas pelo Tibetano; elas
são superlativamente belas e sua força mântrica parece ser destruída se as
parafrasearmos.

Deve-se notar também que o trabalho não foi descrito para Hércules como nos demais
casos. A palavra só foi levada ao país onde a rainha das Amazonas governava seu
mundo feminino, todos os homens excluídos. Ficou para Hércules compreender a
natureza do trabalho, e ele não o conseguiu. Também as Amazonas adoravam a lua (a
forma) e Marte, o deus da guerra; elas também não compreenderam sua verdadeira
função, pois Maria é descrita com a lua sob seus pés, e em seus braços aquele
conhecido como o Príncipe da Paz.

Os Dois Caminhos

Como sempre há uma escolha para o bem ou para o mal diante do nativo de um signo,
dependendo do seu estágio de evolução e do grau de sensibilidade. Virgem é chamada
a deusa da virtude ou do vício. Mas quê está na raiz da palavra “vício”? “Tornar
ineficaz”, e isso para Virgem é negar todo o propósito do signo, pois se diz que “o
Cristo é para ela o propósito de existência”; A raiz de “virtude” é a palavra latina Vir
que significa “força”, “homem”, como em “virilidade”. O significado de vício como uma
ineficiência da vida espiritual, nos faz recordar novamente a explicação do dito em uma
das Regras do Caminho: “Pois cada um deve conhecer a vilania de cada um e ainda
assim continuar a amá-lo”. Pois parece que um vilão neste sentido é meramente um
indivíduo com a mente tacanha, um tanto desagradável, um morador de um vilarejo,
que nada conhece para além do seu pequeno círculo-não-se-passa.

Quão óbvios, e que criadores de verdadeira tolerância, são os significados destas


raízes. Por muito tempo temos ridicularizado o corpo, do físico, como a raiz de todo
mal, quando são realmente nossas mentes tacanhas, nossos duros, pequenos corações,
a causa das atitudes e hábitos errados; o corpo sendo apenas um equipamento de
resposta automática, sujeito ao controle do homem interior. Outra ideia se apresenta
nesta conexão, isto é, que “pecado” significa literalmente “qualquer coisa que tenha
sido feita impropriamente”. Precisamente ao não atingir o “olho do touro”, o “olho da
iluminação” de que se fala em Taurus, isso foi um pecado para o filho do homem que é
também um filho de Deus. Quão perfeitamente essas ideias fundamentais se
intercambiam e se confirmam, umas às outras, quando abandonamos as complexidades
da mente inferior! Virgem é também chamada a “deusa dos dois caminhos”, porque
como o princípio da Mãe Sagrada ela simboliza a matéria e também é a guardiã da vida
do Cristo.

69
É significativo que este sexto signo, o número da atividade do plano físico, seja
chamado o número da Besta. Essa ideia parece exercer um terrível fascínio sobre
muitos, mas o que ele realmente significa é que Virgem é um símbolo da triplicidade, 6
no plano físico, 6 no plano emocional e 6 no plano mental e absolutamente nunca 666.

Deve-se lembrar que o leão é o rei dos animais. O nativo atingiu, finalmente, neste
signo, a personalidade integrada. Mas em Virgem, é dado o primeiro passo para a
espiritualidade, a alma é chamada de filho da mente, e Virgem é regida por Mercúrio,
que leva a energia da mente.

Nesta conferência sobre o signo da Virgem, Alice A. Bailey deu uma sequência muito
interessante de referências proféticas quanto à Virgem. Vejamos:

“Olha, trarei meu servo, o Renovo”. (Zacarias, 3:8). Um símbolo da Virgem é a mulher
com a espiga de milho ou o feixe de trigo, ou o galho de frutas em seus braços.
Lembrem também a profecia de Isaías na qual está baseado nosso Novo Testamento:
“E uma virgem conceberá e dará á luz um filho”, e ligado com esse verso temos aquele
verso em Efésios quando São Paulo disse que algum dia nós atingiríamos a medida da
estatura da plenitude do Cristo. Convém lembrar que o Cristo repetidas vezes pôs
ênfase no novo nascimento, mais do que no sacrifício sangrento. O significado esotérico
é “o sangue é a vida”. Nós somos sempre muito literais. Assim como a velha prática da
oferenda da morte dos animais no altar foi abandonada, também deve passar a ideia da
unificação pelo sangue do Cristo. Ela nasceu do complexo de culpa medieval e da
tortura do instrumento físico como um meio para produzir o domínio do espírito;
quando a verdade é que o corpo deveria estar afinado com a alma para trazer à
manifestação sua beleza, redimindo-a. Tudo isso está implícito no signo da Virgem e no
seu trabalho. Na Doutrina Secreta há uma clara afirmação de toda a mensagem deste
signo: “A matéria é o veículo para a manifestação da alma nesta volta da espiral; e a
alma é o veículo em uma volta superior de espiral para a manifestação do espírito, e
esses três são uma trindade sintetizada pela vida que os satura a todos”.

As Constelações e as Estrelas

As três constelações muito próximas à Virgem são: Coma Berenice, a mãe da forma
somente; o Centauro, o homem montando um cavalo ou um cavalo com cabeça e
tronco humanos, representando o ser humano, pois o homem é um animal mais um
deus. Esta é a mais baixa das constelações e é notável que Hércules, embora tivesse
passado pelos cinco Portões, viesse a fracassar no sexto Portão, e tivesse de começar
de baixo, para reparar sua falta de amor e compreensão. Isso muitas vezes acontece
aos discípulos avançados. A terceira constelação, contendo a promessa do futuro, é
Bootes, “aquele que vem”, o salvador em Peixes que liberta a humanidade da
subserviência à forma.

A própria Virgem tem a forma de uma taça com três principais estrelas delineando-a, a
taça da comunhão da qual disse o Cristo, “Bebei toda ela”; em seu significado mais
elevado, o Santo Graal. A estrela mais brilhante é Spica, que significa “a espiga de
milho”. Cristo nasceu em Belém, que significa “a casa do pão”. Dizemos “o pão nosso
de cada dia dai-nos hoje”, maná, pão dos céus, ou o pão e o vinho da comunhão. Esta
simbologia do pão percorre o Velho e o Novo Testamentos, e hoje nosso grande
problema econômico ainda consiste em fornecer pão, um símbolo do alimento, a um
mundo faminto; pão para o corpo e pão para aqueles que têm fome e sede da justiça.
Tudo isso como parte da função nutriente da mãe do mundo, que nutre a forma e
também a consciência latente na forma.

70
A Cruz Móvel e os Regentes Planetários

Virgem é um dos braços da cruz móvel, com seu signo em oposição a Peixes, e o aéreo
Gêmeos e o ígneo Sagitário completando os quatro braços. E a cruz comum daqueles
que têm o status de probacionário. Sua descrição é a seguinte: “A cruz móvel é a cruz
do Espírito Santo, da terceira pessoa da trindade cristã, ao organizar a substância e
evocar resposta sensível da própria substância (observe-se a bela correlação desta
afirmação com o fato de que o Espírito Santo encobria Maria). Nessa cruz o homem
alcança o estágio da aquiescência e aspiração, e assim prepara-se para a cruz fixa do
discipulado. É notável que “a cruz mutável da personalidade dedique o homem que é
assim crucificado para fins materiais, para que ele possa finalmente aprender seu uso
divino”. “O pecado contra o Espírito Santo” tem sido o assunto de muita divagação
mórbida. O Tibetano diz: “o mau uso da substância e a prostituição da matéria para
maus fins é um pecado contra o Espírito Santo”. Foi este pecado, o maior de toda a sua
peregrinação, que Hércules cometeu em Virgem, quando ele não compreendeu que a
rainha das Amazonas devia ser redimida pela unidade, não morta. O Tibetano
seguidamente dá ênfase ao fato de que é “através da humanidade que uma
consumação de luz efetivamente ocorrerá que tornará possível a expressão do todo”.
Ainda cometemos o erro de Hércules, quando esquecemos que o triângulo da Trindade
é um triângulo equilátero com todos os ângulos sendo de igual importância, para a
consumação do Plano (Astrologia Esotérica, pp 558 e seguinte). É em Virgem, após
completa individualização em Leão, que o primeiro passo para a missão do espírito e a
matéria é dado, “a subordinação da vida da forma à vontade do Cristo que nela habita”.

Os três regentes do signo de Virgem definitivamente o relacionam a oito outros signos,


como foi registrado, tornando-o o principal signo da síntese. Incluindo a própria
Virgem, nós temos nove signos em que a energia é intercambiada, o número de meses
de gestação do embrião humano. Novamente, “como em cima, é embaixo”.

O regente ortodoxo do signo é Mercúrio, “a versátil energia do filho da mente, a alma”,


intermediária entre o Pai e a Mãe. O regente esotérico é a lua, encobrindo Vulcano. A
lua rege a forma e novamente nos vem à lembrança de que é a vontade de Deus
manifestar-Se através da forma. Vulcano é uma expressão da energia do primeiro raio,
enquanto que a lua exerce a energia do quarto raio. Júpiter é o regente hierárquico
representando a segunda Hierarquia criativa (os construtores criativos da manifestação
planetária da terra), e introduz a energia do segundo raio.

O Tibetano assinala que Mercúrio, Saturno e Vênus regem os três decanatos e nos
relembra que quando um homem estiver na roda reversa do discípulo (contra o sentido
dos ponteiros do relógio) ele entrará no signo através da influência de Vênus, enquanto
o homem comum entrará sob a regência de Mercúrio. Este é um exemplo de como
podemos interpretar erradamente um horóscopo, se não conhecermos o “status” do ser
que é examinado. A astrologia mundana, sem a síntese, pode ser muito enganadora e
superficial. Alice Bailey se viu obrigada a dizer, com um piscar de olhos, a um novato
que afirmava entusiasmado como sua carta era exata: “Isso é muito mau, se você
estivesse vivendo acima do plexo solar, o mapa de sua personalidade não seria tão
exato assim”. O mapa da alma será usado na astrologia do futuro; não o mapa da
personalidade. Esta advertência é coberta com uma afirmação positiva do Tibetano: “A
base das ciências astrológicas é a encarnação, a transmissão e a recepção das energias
e sua transmutação nas forças pela entidade receptora”. Isto define claramente qual
deve ser nossa atitude na meditação da lua cheia e nosso uso dos horóscopos
individuais. “O ponto que procuro indicar aqui”, diz o Tibetano, “é que é tudo uma
questão de recepção e sensibilidade desenvolvidas”.

71
Significados do Signo e de seu Oposto Polar

Na sereia, a deusa peixe, nós temos o símbolo da unificação da Virgem com seu signo
oposto, Peixes. Há sempre a dualidade, inerente em nós e no sistema solar; o segundo
raio do próprio sol sendo uma dualidade, Amor-Sabedoria. A lição para o nascido em
Virgem, como descrita por Dane Rudhyar em “Dons do Espírito”, é ter “uma clara
conscientização de que nenhuma verdade é completa ou mesmo real, que não inclui
seu oposto, e que tudo ocorre entre ambos”. Relembrando outra vez que oito energias
atuam através de Virgem, que é um signo de síntese, Rudhyar afirma que aquela
transfiguração é mais necessária do que a transformação.

As três virtudes exigidas são a tolerância, a compaixão e a caridade; quanto mais


inclusivo, mais se cresce. Uma das mais úteis interpretações dadas é o comentário
sobre a tolerância, a verdadeira natureza da tolerância, a qual, na maioria das vezes, é
praticada com um toque de superioridade e condescendência. Rudhyar diz: “A
verdadeira tolerância vai muito mais fundo do que uma atitude tal como “viver e deixar
viver”, o que muitas vezes encobre uma nódoa de presunção e autocentrada
indiferença a tudo que não seja a verdade de si mesmo... Ela significa
etimologicamente, “suportar”. Suportar o quê? A carga da necessidade de mudar e
crescer... A preocupação típica de Virgo com os detalhes do trabalho, da técnica, da
saúde e da higiene, com a vivisseção analítica de si próprio e dos demais, é
verdadeiramente uma focalização nos valores negativos da crise. Se a crise em Virgem
é positivamente enfrentada, então, “a substância da própria consciência é renovada e
com esta renovação, modulando-a, vai necessariamente uma rearrumação do
propósito.

Para Peixes, o polo oposto, a nota-chave dada é a coragem, e o temperamento de


quem nasce em Peixes é chamado o campo de batalha, pois sua mensagem é a
“libertação”, e a liberdade deve ser conquistada com luta e ganha pelo esforço, não
pode ser um presente. O clímax diz: “Todos os conflitos são absolvidos, todas as
transições são resolvidas nos nascimentos do Cristo”, o que é o clímax do nascimento
da consciência crística latente em Virgem.

Notas-Chave

As alturas e profundidades deste sexto trabalho estão claramente indicadas nas notas-
chave deste signo: Na roda comum o comando é emitido nas seguintes palavras, que
constituem a atividade de Virgem: “E a palavra disse, que a matéria reine”. Mais tarde,
na roda do discípulo, a voz emerge da própria Virgem, e ela diz: “Eu sou a mãe e o
filho, Eu, Deus, Eu, matéria sou”. O Tibetano acrescenta: “Reflitam sobre a beleza
desta síntese e ensinamento, e saibam que vocês mesmos disseram a primeira palavra
como a alma, descendo ao útero do tempo e do espaço, num tempo distante. O tempo
é chegado agora, em que vocês podem, se assim o escolherem, proclamar sua
identidade com ambos os aspectos divinos, matéria e espírito, a mãe e o filho”
(Astrologia Esotérica, pp. 284-5). A primeira nota-chave sintetizadora é: “O Cristo em
vós, a esperança é de glória”.

72
7º Trabalho: A Captura do Javali de Erimanto
(Balança 22 de Setembro - 21 de Outubro)

O Mito

O Grande Ser Que Presidia, na Câmara do Conselho do Senhor, meditava sobre a


natureza do filho do homem que é igualmente um filho de Deus. Ele pensava sobre que
seria necessário para torná-lo ainda mais semelhante ao Seu Pai. “Outro trabalho deve
ser feito. De equilíbrio ele precisa e do julgamento justo, e de uma preparação para um
teste importante e um futuro serviço à humanidade. Que ele se prepare para isso com
cuidado”. E o Instrutor, anotando em suas tábuas o propósito da prova seguinte,
dirigiu-se a Hércules e lhe disse. “Vai, meu filho, e captura o javali selvagem; salva
uma terra assolada, contudo, guarda um tempo para que te alimentes”. E Hércules
partiu.

E Hércules que é um filho do homem e entretanto um filho de Deus, cruzou o sétimo


Portão. O poder do sétimo portão passou através dele. Ele não sabia que ele estava
sendo submetido a uma prova dual, a prova da amizade rara e da coragem destemida.
O Instrutor lhe havia recomendado que procurasse um javali e Apolo lhe dera um arco
novo em folha para usar. Disse Hércules: “Eu não o levarei comigo neste trabalho, pois
temo matar. Em meu último trabalho nas praias do grande mar, eu matei. Desta vez
não farei isso. Deixo aqui o arco”.

E assim desarmado, a não ser com sua fiel clava, ele escalou a montanha, procurando
pelo javali e encontrando um espetáculo de medo e terror por toda parte. Mais e mais
ele subia. E então encontrou um amigo. Ele se encontrou com Pholos, que fazia parte
de um grupo de centauros, conhecidos dos deuses. Eles pararam e conversaram e por
algum tempo Hércules esqueceu-se do objetivo de sua busca. E Pholos convidou
Hércules para furar um barril de vinho, que não era dele nem pertencia a Pholos. Ao
grupo de Centauros pertencia o grande barril, e dos deuses que o haviam aquinhoado
com o barril viera a palavra de que eles jamais deviam furar o barril, a não ser quando
os centauros se reunissem, estando todos presentes. Ele pertencia ao grupo.

Mas Hércules e Pholos o abriram na ausência de seus irmãos, convidando Cherion,


outro sábio centauro, para se juntar a ambos. Assim ele fez, e todos os três beberam, e
festejaram e se embebedaram e fizeram muito ruído. Este ruído os outros centauros
ouviram, de pontos distantes.

Enraivecidos eles vieram, e uma feroz batalha então se feriu e apesar das sábias
resoluções, novamente o filho do homem, que também era um filho de Deus, tornou-se
o mensageiro da morte e matou seus amigos, a dupla de centauros com quem ele
antes havia bebido. E, enquanto os demais centauros com altos lamentos choravam
suas perdas, Hércules escapou novamente para as altas montanhas e reencetou sua
busca.

Até os limites das neves ele avançou, seguindo as pegadas do feroz javali; até as
alturas e o amargo frio ele seguiu-o, e contudo não o encontrava. E a noite se
aproximava, e uma a uma as estrelas surgiam, e ainda o javali se distanciava dele.
Hércules meditava sobre sua tarefa e buscava dentro de si mesmo uma habilidade sutil.
Ele colocou uma armadilha com habilidade, cuidadosamente oculta, e então esperou
numa sombra escura pela chegada do javali. As horas se passavam, e ainda ele
esperava, até surgir a aurora. De sua toca o javali emergiu, procurando alimento,
levado por fome antiga. E nas sombras próximo da armadilha esperava o filho do
homem. O javali caiu na armadilha e no devido tempo Hércules libertou a fera

73
selvagem, tornando-a prisioneira de sua habilidade. Ele lutou com o javali e o
domesticou, e fê-lo fazer o que lhe determinava e seguir para onde Hércules desejava.

Do pico nevado da alta montanha Hércules desceu, regozijando- se no caminho,


levando adiante de si, montanha abaixo, o feroz, contudo domesticado javali. Pelas
duas pernas traseiras ele conduziu o javali, e todos na montanha se riam ao ver o
espetáculo. E todos os que encontravam o filho do homem, que é o filho de Deus,
cantando e dançando pelo caminho, também riam ao ver sua caminhada. E todos na
cidade riam ao ver idêntico espetáculo, o exausto javali e o homem cantando, rindo.

Assim Hércules cumpriu seu sétimo trabalho e voltou para o Instrutor de sua vida.

E o Grande Ser Que Presidia na Câmara do Conselho do Senhor comentou: “A lição do


verdadeiro equilíbrio foi aprendida. Falta ainda uma lição. No nono Portão, o centauro
deve ser novamente encontrado, e conhecido e corretamente compreendido”.

E o Instrutor disse: “O sétimo trabalho foi completado, o sétimo Portão ultrapassado.


Medita sobre as lições do passado; reflete sobre as provas, meu filho. Por duas vezes
mataste a quem amavas. Aprende por que”. E Hércules permaneceu no centro dos
portões da cidade e lá se preparou para aquilo que mais tarde iria ocorrer, a prova
suprema. (O Tibetano)

Prólogo

“O Mito é o pensamento não revelado da alma”.(Isis Desvelada)

Balança se apresenta a nós com muitos paradoxos e marcantes extremos, dependendo


de se o discípulo que se voltou conscientemente para o caminho de volta ao lar segue o
zodíaco segundo os ponteiros do relógio, ou o caminho inverso. Ele é considerado o
signo mais difícil de compreender. E o primeiro signo que não tem um símbolo humano
ou animal, exceto que, sustentando a balança, está a figura da Justiça - uma mulher
com os olhos vendados, vendados talvez para a visão externa objetiva, que a visão
intuitiva interna pode adivinhar onde está a justiça.

É um interlúdio, diz-se, comparável com a silenciosa escuta na meditação; um tempo


de cobranças do passado. Novamente, e de maneira estranha, o homem comum se
aproxima da Balança através da drástica prova de Escorpião, enquanto que o homem
mais evoluído entra na prova de Balança a partir do signo de Virgem, com a consciência
do Cristo excitando seu coração e mente. Pensem em como serão diferentes as
experiências desses dois homens em Balança. Em um caso a balança oscilará
violentamente para cima e para baixo; no outro o equilíbrio será alcançado, ou
conquistado, entre a matéria e o espírito, e todos os pares de opostos menores.

Neste ponto começamos a ver por que, neste silencioso signo, nós nos deparamos com
os problemas do sexo e do dinheiro, ambos bons servos e maus amos de acordo com o
uso que deles se faça. O sexo é um sacramento, unificação do macho e da fêmea, para
a produção das formas, para o prosseguimento da vida em evolução. O dinheiro é um
meio de troca, de partilhar à distância, se não amado e conservado somente para si
próprio; o ouro do avarento ou o ouro do coração amoroso, doador.

O equilíbrio dos pares de opostos (Astrologia Esotérica, pg.250) é agudamente definido.


A balança pode oscilar do preconceito até a justiça ou julgamento; da dura estupidez à
sabedoria entusiástica. Que combinação tão não usual e agradável de palavras, essa.
No linguajar comum nós simbolizamos a sabedoria pela coruja, um tanto retardada,
amaldiçoada, e aqueles que se consideram sábios são muitas vezes cheios de
74
solenidade e um tanto cacetes, mas sabedoria deveria significar “entusiástico”. Algo
sobre que meditar, isso. E pode haver intriga, os caminhos sinuosos das leis humanas
convidam a isso; ou há conduta reta, e o indivíduo nascido em Balança pode ser
caracterizado pelas atitudes materialistas ou espirituais. Repetidamente, nesta ronda da
viagem, as constelações são todas harmoniosas, boas e com um propósito; é nossa
receptividade e o seu uso que determinam o que manifestamos. Correlaciona com
dolorosa precisão as impressões adquiridas pelo turista casual, e as do homem que vai
viver por algum tempo em um país e realmente conhece o povo. Algumas vezes se
pensa que o visto num passaporte deveria ser precedido por um teste de inteligência.
Ideias tão selvagens, por exemplo, são trazidas por pessoas que, tendo passado alguns
dias em Paris, pensam que já conhecem a França.

E nesse majestoso signo de equilíbrio e justiça e a lei nós verificamos que a prova
termina numa explosão de riso, o único trabalho em que isso acontece. Descendo a
montanha lá veio Hércules, empurrando o javali como um carrinho de mão, cantando e
rindo, e todos os que o observava riam com ele prazerosamente; e isto apesar do fato
que novamente Hércules cometera um grave erro. O Instrutor lhe recomendara que
“guardasse tempo para comer”, mas Hércules gastou tempo numa orgia, em
bebedeiras com dois velhos sábios centauros amigos. E registra-se que eles furaram o
barril de vinho que somente deveria ser aberto por e para o grupo. Um sermão inteiro
poderia ser pregado a respeito e também pelo fato de que, enquanto Hércules tomara
todas as precauções para não matar o javali, acabou matando os dois amigos. Assim a
tentação nos persegue quando pensamos que conseguimos já haver limpo (removido)
as ciladas do caminho. Mas quando o sábio Instrutor, ao avaliar o trabalho, passou
levemente pela rixa, para a qual todos haviam contribuído, meramente dizendo,
“Medita sobre as lições do passado” (avaliação de Balança). “Por duas vezes mataste a
quem amavas. Aprende por que”. Isso é tudo; e somos lembrados que a personalidade
permanece fora do ashram (nossos instrutores veem somente que luz nós trazemos).
Não há louvor especial, Hércules apenas passou, não cum laude; mas o sétimo trabalho
foi declarado completo e o sétimo Portão ultrapassado. Justiça com misericórdia. “Se Tu
ó Deus, fordes extremo para marcar o que é feito de maneira imprópria, oh Senhor,
quem poderá habitá-lo?”

Reflexões de alguém de Balança

Antes que Hércules capturasse o javali de Erimanto, ele se sentou à mesa de Pholos e
bebeu até que o vinho lhe subisse à cabeça. Nessa ocasião ele era a alma da
jovialidade, buscando e encontrando o prazer. Para Hércules, como para todos os que
assumem o trabalho que deve ser realizado em Balança, a fumaça do prazer deve ser
dissipada antes que a tarefa maior do autodomínio, por exemplo, a captura do javali,
possa ser cumprida.

Deve-se notar que o tragar do vinho por Hércules leva a uma tragédia, a morte de
Pholos. Esta súbita interjeição da catástrofe na existência do nascido em Libra, que vive
em busca do prazer, por mais severa que a experiência possa ser, é uma necessidade
para o crescimento da alma. Sem tais tragédias, as potencialidades de Libra
permanecem adormecidas. Quem é de Balança, começa sua jornada no inverno, um
tempo de desolação, quando a vida da personalidade perdeu seu encantamento.

Hércules não usa a força bruta ao capturar o javali. Ele arma uma armadilha, espera e
aguarda até a fera cair nela por si mesma. Quando o javali se debate nas massas de
neve, Hércules se vale dessa oportunidade. É curiosamente característico de alguém de
Balança evitar um encontro direto, e não gastar mais força do que o necessário. Ele
procura conquistar seus objetivos gentilmente, não sob coação.

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Contam-nos que Hércules agarra as patas traseiras do javali e o compele a descer a
montanha em suas patas dianteiras, e que este espetáculo excita o riso de todos que o
testemunham. Neste incidente nós observamos a habilidade de Libra para encontrar
soluções incomuns e perceber o valor do incongruente.

Temas de grande consequência na história da humanidade são determinados por


abordagens não usuais de problemas comuns. Por exemplo, um capitão tártaro
provocou um grande incêndio na retaguarda de suas próprias tropas, assim forçando-as
a avançar com tal desesperado vigor que nenhum inimigo pode contê-los. Também,
quando Aníbal arremeteu seus elefantes contra Scipião, este último ordenou aos seus
soldados que soprassem as trombetas nos ouvidos dos animais; confusos e assustados
pelo barulho, os elefantes esmagaram e mataram muitos dos homens de Aníbal.

A percepção das incongruências é uma das maiores armas dadas à humanidade em sua
perpétua luta contra a miragem. É a fonte do riso que explode a pretensão e destrói
instituições obsoletas.

Este é o único trabalho que termina numa explosão de riso. Não só Hércules cumpre
com a tarefa que lhe fora atribuída; ele faz do feroz javali um objeto de ridículo. Por
uma perspectiva levemente alterada, muitas das terríveis experiências da vida podem
ser transformadas em um benéfico senso de humor. Muitas coisas que as pessoas
encaram com grave seriedade têm decididamente ridículos aspectos.

A descrição gráfica de Hércules conduzindo o javali por suas patas traseiras é uma
representação simbólica da alma dirigindo o desajeitado corpo. Esta relação na qual
cada aspecto conquista a devida importância é característica do mais altamente
organizado nascido de Libra. Assim é o princípio de equilíbrio observado.

Quem nasce em Balança caminha pesando e equilibrando todas as coisas. Essa atitude
frequentemente o torna hesitante e indeciso. Sabendo que há inúmeras graduações
entre o branco e o preto, ele raramente estará inclinado a ser um extremista. Ele sabe
que aqueles que são considerados como pilares da sociedade podem ser fariseus, e os
humildes e obscuros, o sal da terra; que aqueles que protestam sua própria excelência
da maneira mais veemente, podem ser os de menor mérito; que os sábios do mundo
podem agir como tolos, e os tolos tropeçam sobre os tesouros; que os julgamentos do
mundo podem ser invertidos por uma mais alta corte; que a verdade pode caminhar
pelo mundo da maneira mais enganosa.

A busca da verdade, então, se transforma no desenvolvimento da discriminação. Em


um sentido, a verdade não existe para os seres humanos, porque todas as verdades
são apenas frações de outras maiores. A busca desses conceitos mais inclusivos é de
importância maior do que a insistência em um fragmento isolado de um segmento
estreito, separatista.

Como uma laboriosa aranha, o nascido em Libra está perpetuamente tecendo fios de
relacionamento, criando uma rede sensível de significados. O resultado de tal atividade
é a síntese. Entre o concreto e o abstrato ele permanece, tentando relacionar um com o
outro. Sempre há uma discrepância, sempre o espaço vazio entre o fim visado e o
objetivo conquistado; e, contudo, a teia brilha e assume um desenho de intricada
beleza.

A meio caminho entre o céu e a terra esse nascido em Balança aguarda. Olhando para
cima, ele vê a visão, a brilhante aurora dourando um cume nevado; olhando para
baixo, ele aprecia os pantanais e atoleiros, por onde os filhos dos homens passam. De
um lado, ele se identifica com elevados ideais; do outro, ele os vê repudiados. Nesse

76
ponto do meio do caminho ele deve permanecer e trabalhar. Se ele se eleva em direção
ao mundo ideal, ele perde o contato com as coisas comuns; se descer ao nível da
atividade materialista, ele perde as preciosas percepções que são a razão de ser de sua
existência. Entre esses dois mundos ele se posiciona para que ele possa novamente
ganhar compreensão; uma compreensão que inclui o mais elevado e o mais baixo, o
bom e o mau, o valioso e o insignificante. Isto é compaixão.

O conhecimento ganho traz desilusão. Perscrutando os corações humanos, ele percebe


as obscuras sombras, e o sedimento, neles, de estranhas paixões. Ele descobre os
métodos básicos pelos quais as pessoas de importância estabelecem seu sucesso, os
pontos escuros nas vidas dos homens de reputação, os inteligentes caminhos pelos
quais eles se furtam aos de suas consciências. Ele observa as ideias em botão que são
queimadas pelo gelo ante a primeira tentação. Ele contempla a longa progressão da
raça humana, com suas esporádicas conquistas e seus mais variados fracassos.

Em que resultam tais reflexões? Antes de tudo, as miragens que tantas vezes
encadeiam um homem à terra ficam substancialmente enfraquecidas. Ele ganha
consciência de que o homem vive em uma turbilhonante névoa de ilusão, prendendo-o
à vida como um fim em si mesmo, muitas vezes fugindo da verdade como se de uma
catástrofe. Esta descrição dos defeitos não significa que a bondade humana seja
desprezada; sem uma suficiente medida desta, o mundo não resistiria.

Quem é de Balança não tem certeza se lhe importa participar da agressiva luta pela
vida, e abrir seu caminho beligerantemente até um lugar de força e prestígio no
mundo. Se ele se preocupasse consigo mesmo, ele provavelmente se refugiaria em
uma biblioteca, passando dias, ali. Contudo, outros seres humanos também existem e o
requisitam. O motivo do serviço assim se enraíza em sua vida, um senso de serviço
baseado numa realística avaliação da natureza humana. Na verdade, é muito difícil
servir a essa incrível espécie chamada homem. Informe a um homem de uma verdade
que, se aceita, poderia alterar sua maneira estereotipada de viver, e ele provavelmente
condenará você como um radical e insistirá teimosamente no primado dos seus
instintos; de outro lado, demonstre indiferença a este compromisso, e ele o denunciará
por ser indiferente aos seus sofrimentos. Todo aquele que pretender servir à
humanidade deve estar preparado para a incompreensão, a má interpretação e a
perversidade que sustenta o oposto do que é dito.

Quem é nascido em Libra não tem inclinação para ser fanático ou um tirano.
Procurando persuadir, em vez de compelir, compreende a arte do compromisso
espiritual; isto envolve uma decisão de não se prender aos pontos não essenciais, e
uma compreensão de que o céu é alcançado por uma série de passos separados, e não
por um único salto selvagem. Servir aos demais requer uma avaliação justa de suas
capacidades; esperar destes o que eles são incapazes de dar é tanto frustrante quanto
imprudente. A ajuda dada a uma pessoa deve encontrar expressão no contexto de suas
limitações. Se isto não for feito, a ajuda pode transformar-se em impedimento. Uma
cuidadosa distinção deve ser feita entre uma grande ajuda e uma muito pequena; se
for dada muita, o indivíduo não se sentirá encorajado a usar seus próprios recursos,
enquanto que uma ajuda demasiado pequena poderá levá-lo a se afundar em um mar
de desespero. Em outras palavras, a ajuda deve ser ajustada cuidadosamente às
necessidades do indivíduo envolvido. Em muitos casos, a ajuda poderia ser apenas um
estorvo; portanto, é muitas vezes melhor deixar uma pessoa modelar suas certezas
espirituais a partir de seus próprios amargos conflitos.

O constante dimensionamento tão característico de Balança tem um fim; o


estabelecimento do ponto de equilíbrio. O mundo é sustentado por esse ponto de
equilíbrio, e isso o nascido em Balança compreende. Na verdade, as leis do carma
podem ser consideradas como atividades equilibradoras que impedem a continuidade
77
de uma condição desequilibrada. As catástrofes que se abatem sobre um homem são
destinadas, não a punir, mas a restaurar o ponto de equilíbrio em sua natureza. Quem
estabelecer esse ponto de equilíbrio em sua própria vida não será obrigado a tê-lo
imposto sobre si por uma circunstância severa, ameaçadora. Os pratos da balança de
Libra são facilmente osciláveis para cada lado, mas o ponto do meio no qual o equilíbrio
repousa permanece inalterado. Este é o ponto de apoio, o retiro secreto que as
sombras flutuantes das sublevações e catástrofes terrenas jamais podem ameaçar.

Dever-se-ia assinalar que o ponto de equilíbrio, como aqui concebido, é uma condição
dinâmica, não estática. Um sistema balanceado de energias poderia ser uma definição
mais adequada; se quiséssemos enunciá-la de maneira diferente, poderia ser chamada
de um arranjo ordenado de energias dirigidas e controladas por uma abrangente
vontade-para-o-bem. O homem plenamente desenvolvido, ou iniciado, poderia talvez
ser descrito em tais termos, também.

Em meio à dissonância, esse nascido em Libra acalenta o sonho de harmonia; no país


distante, lembra-se da casa do Pai. Em memória disso, procura ser um ponto de paz
num mundo de forças que se chocam. Esta é a meta, mas nem sempre a conquista.
Contudo, este anseio pela harmonia fortalece nele o desejo de promover a paz. Ele
pode habitualmente compreender ambos os lados de uma questão, e sua habilidade o
torna um bom mediador e árbitro.

As energias que ele emprega são a persuasão, a cortesia e a cooperação; quando estas
falham, ele desdenha métodos mais grosseiros. Ele é naturalmente inclinado ao
trabalho grupal, e é atraído por todos os programas de ação que promovem a
fraternidade e a unidade.

Há um elemento fortemente feminino nessas pessoas, e isso é natural, uma vez que
Vênus governa o signo zodiacal. O duro ímpeto da vida moderna é muito
agressivamente feminino; a graça mais leve e a beleza artística do componente
feminino deveriam agir como uma influência complementar. Isso é intuitivamente
compreendido. Ele sabe que a assertiva deve ser modificada pelo aroma mais sutil da
doçura feminina; que a maleável água sobreviverá à implacável pedra e ao rígido aço.

Tendo assimilado as suaves harmonias de Vênus, ele começa a responder a uma outra
vibração, a de Urano. A afirmação bíblica que descreve este impulso está expressa nas
palavras, “Vede, eu faço novas todas as coisas”. As velhas formas são compreendidas
como cadeias e grilhões. É necessário descartar-se delas. A vassoura de Deus deve
varrer o lixo dos tempos para que os altos ideais de fraternidade e unidade possam ser
incorporados à própria estrutura de nossas instituições, para que as vidas que os
homens levam possam refletir a divina imagem que está indelevelmente impressa em
seu ser essencial. Contudo, esta mudança revolucionária não será realizada por uma
rearrumação de formas exteriores, ou de instituições; ela deve originar-se na mente
humana, no silêncio do coração do homem, quando ele se voltar para a luz que brilha
sobre ele, do resíduo de imortalidade que nele habita. Quem nasce em Libra parte para
refazer a si próprio, sabendo que este é o seu primeiro passo para refazer o mundo.

Os Regentes de Balança e o Signo em Oposição a Ela

O signo que está em oposição a Balança, com o qual é preciso fazer a unificação, é
Áries, cujo regente esotérico é Marte, enquanto que o regente de Balança é Vênus.
Esotericamente, portanto, deve haver uma unificação entre a Vontade e a mente
superior, expressando-se através do desejo ou amor, de acordo com o estágio de
evolução. O regente esotérico de Balança é Urano, e Saturno neste signo é o regente
daquela “estupenda Hierarquia criadora” que faz parte do terceiro aspecto da

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divindade. É por esta razão que Balança está tão intimamente conectada com o terceiro
aspecto da Divindade, o qual explica, e daí ser um signo governante e um fator
determinante capital quando se trata da lei, do sexo e do dinheiro. O Tibetano mais
adiante diz: “Se os estudantes fizerem um cuidadoso estudo desses três: a lei, o
primeiro aspecto; a relação entre os pares de opostos (sexo), o segundo aspecto; e a
energia concretizada chamada dinheiro, o terceiro aspecto, na maneira pela qual eles
se expressam hoje e como se poderão expressar no futuro, eles terão uma
representação da conquista física humana e da futura expressão espiritual. Este quadro
será instrutivo e muito oportuno. O processo inteiro corre por conta desses três
regentes de Balança “Vênus, Urano e Saturno”. (Condensação, Astrologia Esotérica, pg. 243 e
seguinte)

Particular beleza emerge ao se considerarem as notas-chave de Áries e Balança tais


como dados por Dane Rudhyar em Dons do Espírito. A nota para Balança é “bem-
estar”, mas isso está longe da comodidade do conforto da luxúria. O autor o define
como “uma expressão de total relação aceita, seja com um objeto, uma situação ou
uma pessoa... Os homens só podem ficar livres da natureza expressando-a por
completo; realizando-a com naturalidade, com elegância.

“Por elegância queremos dizer aquela qualidade que o matemático tem em mente
quando fala da “solução elegante de um problema matemático”, uma solução que se
alcança com extrema comodidade, com extrema simplicidade de meios, com um
mínimo de passos, com lógica inerente. Uma sequoia é como a elegante solução do
problema contido na semente; um desenvolvimento lógico das possibilidades inerentes
nesta semente”.

“Crescimento natural das potencialidades inerentes, bem-estar e lógica de


desenvolvimento, elegância de crescimento; essas são joias da arte de viver; essas são
as provas da maestria”.

Deixe sua mente contemplar essas belas palavras. É difícil imaginar um conceito mais
agradável de crescimento, um crescimento que desabrocha de dentro tal como uma flor
que se abre, em vez de através de uma tensão ansiosa e sob “stress”. Aqui poderíamos
assinalar que Balança representa o reino vegetal, o sexo e a afinidade natural. Diz-se
que naquele reino três raios vibram em uníssono. Isso resulta em serviço, beleza, cor e
fragrância. As palavras de Rudhyar não são poesia mística; elas estão sustentadas no
fato biológico, onde também a energia criativa, Deus imanente, opera.

Voltamos a Áries, encontramos que a nota-chave é a “adaptabilidade”, que indica um


método pelo qual a comodidade de Balança pode ser obtida. Todos nós sabemos de
homens e mulheres, na história e à nossa volta, que se movimentam com equilíbrio e
poder em meio a trágicos acontecimentos. E isso com uma visão inspiradora, terrível.
Encontramos a adaptabilidade também na camuflagem do reino animal, no colorido dos
pássaros e dos animais, a qual ajuda a proteger suas vidas. O homem, em
circunstâncias perigosas tem igual necessidade de camuflagem, em seu caso, por uma
adaptabilidade aumentada. Isso imediatamente levanta uma indagação quanto aos
perigos do compromisso, da deserção do princípio da segurança. Mas assim como o
Tibetano nos disse que o “compromisso espiritual” pode ser um reconhecimento de
tempo e evolução, não envolvendo qualquer traição ao objetivo, também lemos o
seguinte, escrito por Rudhyar:

“Este tipo de adaptação social não deveria ser tal que enlameasse ou desviasse o
fluxo da libertação da força. Ele não deveria alterar a qualidade das imagens
projetadas, nem turvar a visão que transmitam... Esta é uma tarefa difícil, de
discriminação. Ser adaptável, contudo reter a pureza e total integridade da visão e do
ideal que se tem; aceitar desvios, sem, entretanto, perder a direção à meta; ser
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compreensível, ter capacidade de aceitação em relação aos que necessitam do
despertar espiritual, sem contudo distorcer ou rebaixar o caráter da mensagem; usar
os valores nascidos do passado, sem, no entanto, sacrificar o futuro ao presente
incerto; ser bom para com os homens, mas incondicionalmente verdadeiro para com
o espírito - tais são os problemas com que, sob uma outra forma, as pessoas de Áries
frequentemente se depararão.

Aquele que é consagrado e verdadeiro para com o espírito age como o espírito em
termos das necessidades espirituais”. (Bem-estar e adaptabilidade; Balança em
unidade com seu signo em oposição, Áries).

As Constelações e as Estrelas

Há três constelações em Balança, todas de especial interesse. Primeiro, há a cruz do sul


que nunca foi vista no ocidente desde o tempo da crucificação, quando foi vista em
Jerusalém.

Agora a cruz está retrocedendo. Vamos tentar alcançar a dramática apresentação neste
grande símbolo. Quatro estrelas brilhantes compõem esta cruz; quatro, o número do
aspecto matéria do homem, o quaternário. A cruz do sul, o quaternário, está
retrocedendo. O mesmo simbolismo é visto em Gêmeos, com Castor e Pollux. Castor,
simbolizando a imortalidade, está ficando mais brilhante e Pollux, a mortalidade, está
ficando mais embaçada. A cruz está retrocedendo, e esta promessa está em Balança,
chamada a porta de abertura para Shambala, o signo no qual se encontra “o caminho
estreito, do fio da navalha” que leva o homem para o reino da alma.

A segunda constelação é a de Lupus, o lobo. Através dos tempos, a cabeça do lobo tem
sido o símbolo do iniciado. Mas é um lobo que está morrendo, e a natureza do lobo que
devorou a natureza da alma até agora é simbolizada como agonizante, pois à proporção
que o homem conquista o equilíbrio a atividade do lobo morre.

A terceira é a Corona, a coroa que é mantida diante do homem trabalhando em


Balança. O símbolo é baseado na história de Ariadne, o aspecto materno, que recebera
de Baco uma coroa de sete estrelas, símbolo do segundo aspecto da divindade que
glorifica a matéria, ao torná-la a expressão da mente divina (A. A. Bailey).

Tal como tudo em Balança, as interpretações e a compreensão das constelações são


difíceis, mas provocativas de pensamento. Se os dados parecem escassos e vagos
talvez sejam mais uma vez representativos do interlúdio de Balança, que foi chamada
por um dos Mestres da Sabedoria, “o mestre-da-terra-de-ninguém”. Assim podemos
apenas refletir, lembrando como o lobo aparece como o animal que amamentou
Rômulo e Remo; e foi o animal feroz que São Francisco de Assis domesticou pelo amor
e pelo senso de unidade para com ele.

Alguns Pontos Destacados da Conferência de Alice A. Bailey

Em Balança nós temos o homem que não fala, simbólico do interlúdio do silêncio na
vida de Jesus. Entre as idades de 12 a 30, nada ouvimos dele. Aqueles foram anos de
silêncio, quer os passados entre os Essênios no Egito, quer na oficina de carpinteiro, na
qual aquele grande filho de Deus equilibrou espírito e matéria e se preparou para seu
ministério como um filho do homem que também era um filho de Deus - de maneira
que pudesse ser demonstrada. A grande revelação para a minha mente não é que
sejamos espírito, mas que tudo seja Deus em manifestação; tudo é energia em
diferentes categorias. Cristo foi a perfeita expressão da divindade na forma. Ele

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equilibrou com perfeição espírito e matéria. Este é o trabalho que todos nós temos que
fazer...

Os dois bons centauros que Hércules matou são conhecidos como Cherion (bom
pensamento) e Pholos (força física). Esse teste foi para demonstrar o controle da
natureza astral, emocional, do desejo, seja qual for a forma assumida; e é a mais
poderosa e mais avançada que um ser humano alcança. Não se consegue controlar ou
guiar a natureza do desejo somente pela força física ou pelo pensamento. Pode-se ter
êxito durante certo tempo, mas depois ele ressurge dominante outra vez.

A única resposta é levar o javali do desejo para as altas montanhas. É nos cumes das
montanhas que todas as revelações ocorrem, onde as névoas do vale desaparecem e a
iluminação chega...

Balança é um signo do ar e está na cruz cardinal que governará o próximo sistema


solar e neste sistema governa o caminho da iniciação, que é trilhado pela fina flor da
raça (Astrologia Esotérica, pg. 279). Novamente o mistério o encobre de modo que
achamos difícil compreender o signo. Mas as notas-chave do signo são claras; elas
falam diretamente ao coração e sua obscuridade. Para o homem comum, sem
desenvolvimento de consciência, a palavra ecoa repetidas vezes através dos eons: “E a
Palavra disse: que a escolha seja feita”. A resposta finalmente vem como um resultado
do processo evolutivo e da alma. “Eu escolho o caminho que conduz entre as duas
grandes linhas de força.” (Ibid. pp.251,261).

81
8º Trabalho: A Destruição da Hidra de Lerna
(Escorpião, 22 de Outubro - 21 de Novembro)

O Mito

[“Começando com Escorpião a definição do mito será escrita pelo Dr. Francis Merchant, uma vez que entre os papéis de
A.A.B. não foram encontradas cópias dos trabalhos escritos pelo Tibetano. Ele usou o que havia de melhor para os
detalhes da história, dispondo-a na cadência jâmbica do Velho Comentário. Outro material deixado por A.A.B. é usado
como antes, com algumas necessárias condensações e nova redação.]

O Grande Ser Que Presidia, envolto em radiante calma, disse uma palavra. O Instrutor
ouviu o comando dourado, e convocou Hércules, o filho de Deus que era também o filho
do homem,

“A luz agora brilha no Portão de número oito”, disse o Instrutor. Na antiga Argos
ocorreu uma seca. Amímona procurou a ajuda de Ne- tuno. Ele recomendou que ela
batesse numa rocha, e quando ele o fez, começaram a correr três correntes cristalinas;
mas logo uma hidra fez ali sua morada.
“Para além do Rio Amímona, fica o fétido pântano de Lerna. Neste pestilento lamaçal
está a hidra, uma praga para as redondezas. Nove cabeças tem esta criatura, e uma
delas é imortal. Prepara-te para lutar com esta asquerosa fera. Não penses que os
meios comuns serão de valia; se uma cabeça for destruída, duas aparecerão em seu
lugar”. Ansiosamente Hércules aguardava.
“Uma palavra de aconselhamento só, posso dar”, disse o Instrutor. “Nós nos elevamos,
nos ajoelhando; conquistamos, nos rendendo; ganhamos, dando. Vai, oh! filho de Deus
e filho do homem, e conquista”. Pelo Portão oito, então, Hércules passou.

O estagnado pântano de Lerna era um charco que desanimava quem dele se


aproximasse. Seu mau cheiro poluía toda a atmosfera em um raio de sete milhas.
Quando Hércules se aproximou, ele teve de fazer uma pausa, pois o simples odor por
pouco o derrotava. As areias movediças eram uma ameaça e mais de uma vez Hércules
rapidamente retirou seu pé para não ser sugado para dentro da terra que cedia.

Finalmente ele descobriu a cova onde vivia a monstruosa fera. Numa caverna de noite
perpétua, jazia oculta a hidra. Dia e noite Hércules vagou pelo traiçoeiro pântano,
aguardando um momento propício quando a fera se mostrasse. Em vão ele vigiava. O
monstro permanecia dentro de sua fétida cova.

Recorrendo a um estratagema, Hércules embebeu suas setas em piche ardente e as


despejou diretamente para o interior da caverna onde habitava a horrenda fera. Uma
agitação e uma comoção então se seguiram.

A hidra, suas nove zangadas cabeças com uma respiração fumegante, emergiu. Sua
cauda escamosa chicoteou furiosamente a água e a lama, salpicando Hércules. Com
três braças de altura, o monstro ali estava, uma coisa de feiura tal que parecia como se
tivesse sido feita de todos os piores pensamentos concebidos desde o começo dos
tempos.

A hidra atacou Hércules e procurou envolver seus pés. Ele pulou para o lado e deu-lhe
um golpe tão severo que logo decepou uma das cabeças. Mal esta horrorosa cabeça
havia tocado o solo, quando duas cresceram em seu lugar. Repetidamente Hércules
atacou o enraivecido monstro, mas ele ficava cada vez mais forte, não mais fraco, a
cada assalto.

82
Então Hércules se lembrou do que lhe dissera o Instrutor, “nós nos levantamos, nos
ajoelhando”. Pondo de lado sua clava, Hércules se ajoelhou, agarrou a hidra com suas
mãos nuas e a ergueu. Suspensa no ar, sua força diminuiu. De joelhos, então, ele
sustentou a hidra no alto, acima dele, para que o ar purificado e a luz pudesse fazer
seu devido efeito. O monstro, forte na escuridão e no lodo, logo perdeu sua força
quando os raios do sol e o toque do vento o atingiram.

Convulsivamente ele se debateu, um estremecimento passando por sua asquerosa


estrutura. Seus esforços foram enfraquecendo pouco a pouco, até a vitória surgir. As
nove cabeças caíram, depois, com as bocas escancaradas e olhos esbugalhados
tombaram ao chão. Mas somente quando elas jaziam sem vida Hércules percebeu a
cabeça mística que era imortal.

Então Hércules decepou a cabeça imortal da hidra e a sepultou, ainda ferozmente


sibilando sob uma rocha.

Voltando, Hércules se apresentou ao Instrutor, “Conseguiste a vitória”, disse o


Instrutor. “A luz que brilha no Portão oitavo está agora misturada com a tua própria
luz”. Francis Merchant

Introdução

Mais uma vez encontramos variações nas versões do mito e não temos mais os
elementos sobre o mito pelo Tibetano, para guiar-nos. A história de que a nona cabeça
era a cabeça imortal parece derivada da clara afirmação do Tibetano de que havia três
vezes três, ou nove testes. A versão usada por Francis Merchant no mito parece mais
aceitável, ou seja, que as nove cabeças foram destruídas e então, a cabeça mística,
imortal, apareceu. Mais tarde, a afirmação de que essa grande cabeça foi “sepultada
sob uma rocha” dá campo para muitas reflexões. Talvez o uso da frase, “oculta sob a
rocha da vontade”, seja revelador. Todas as versões afirmam que ela foi assim
sepultada.

Alguns relatos dizem que Hércules queimou as cabeças, e que o fogo divino seria de
fato necessário para essa destruição. Todavia, é impossível negar a poderosa
representação do discípulo mundial neste supremo teste, mergulhado até os joelhos na
humildade e erguendo o monstro (todos os males acumulados, erros, fracassos de seu
longo passado) no ar do espírito, onde, por sua própria natureza, a hidra não podia
viver, e assim foi abatida e morreu. O uso do fogo, no esforço preliminar, ainda
conserva no quadro aquele símbolo.

Enquanto o sexo, sob a prova da unificação dos opostos e da dupla regência de Marte,
tem seu lugar especial, a ênfase desta faceta única não é suficientemente inclusiva.
Todos os pares de opostos têm de ser unificados neste grande signo, um signo
avançado do discípulo integrado, consciente; não um signo sórdido do homem não
evoluído, como muitas vezes se pensa. Mais uma vez, é preciso ler cuidadosamente e
distinguir entre as pessoas na roda comum e os discípulos na roda reversa. Tudo isso
submetido à avaliação e reflexão do leitor, não pela autoridade imposta.

Análise Psicológica do Mito

Foi dito a Hércules que encontrasse a hidra de nove cabeças que vivia num fétido e
úmido pântano.

Este monstro tem sua contraparte subjetiva. Ele habita nas cavernas da mente. Na
escuridão e lama dos recessos obscuros da mente, ele floresce.
83
Profundamente alojada nas regiões subterrâneas do subconsciente, ora calma, ora
explodindo em tumultuado frenesi, a fera estabelece morada permanente. Não é fácil
descobrir sua existência. Muito tempo se passa antes que o indivíduo se dê conta de
que ele está nutrindo e sustentando uma criatura tão feroz. Os dardos ardentes da
aspiração flamejante devem ser disparados antes que sua presença se revele.

Lutar contra um inimigo tão formidável é de fato uma tarefa heroica para um filho do
homem, mesmo que ele seja também um filho de Deus. Uma cabeça decepada, e eis
que outra cresce em seu lugar. Toda vez que um desejo ou pensamento baixo é
eliminado, outros tomam o seu lugar.

Hércules faz três coisas: ele reconhece a existência da hidra, procura pacientemente
por ela, e finalmente a destrói. E necessário ter discriminação para reconhecer sua
existência; paciência para descobrir sua toca; humildade para trazer lodosos
fragmentos do subconsciente à superfície, e expô-los à luz da sabedoria.

Enquanto Hércules lutou no pântano, em meio à lama e às areias movediças, ele foi
incapaz de dominar a hidra. Ele teve de erguer o monstro no ar; isto é, deslocar seu
problema para outra dimensão, para poder resolvê-lo. Com toda humildade,
ajoelhando-se na lama, ele teve de examinar seu dilema à luz da sabedoria e na
elevada atmosfera do pensamento que buscava. Dessas considerações, podemos
deduzir que as respostas para muitos de nossos problemas somente vêm quando um
novo foco de atenção é alcançado, uma nova perspectiva estabelecida.

É-nos dito que uma das cabeças da hidra é imortal. Isto implicaria que toda dificuldade,
por mais terrível que possa parecer, contém uma joia de grande valor. Nenhuma
tentativa para dominar a natureza inferior e descobrir aquela joia, jamais será fútil.

A cabeça imortal, separada do corpo da hidra, é sepultada sob uma rocha. Isto implica
que a energia concentrada que cria um problema ainda permanece, purificada,
redirecionada, e aumentada após a vitória ter sido conquistada. Tal poder deve então
ser corretamente canalizado e controlado. Sob a rocha da vontade persistente, a
cabeça imortal se toma uma fonte de poder.

As Nove Cabeças da Hidra

A tarefa atribuída a Hércules tinha nove facetas. Cada cabeça da hidra representa um
dos problemas que assaltam a pessoa corajosa que busca conquistar o domínio de si
mesmo. Três dessas cabeças simbolizam os apetites associados com o sexo, conforto e
dinheiro. A trinca seguinte diz respeito às paixões do medo, ódio e desejo de poder. As
últimas três cabeças representam os vícios da mente não iluminada: orgulho,
separatividade e crueldade. (ver Astrologia Esotérica, pg. 205 e seguinte)

As dimensões da tarefa que Hércules empreendeu são assim claramente aparentes. Ele
teve de aprender a arte de transmutar as energias que tão frequentemente precipitam
os seres humanos em tragédias catastróficas. As nove forças que desde o princípio dos
tempos trouxeram indizível destruição entre os filhos dos homens, tiveram de ser
redirecionadas e transmutadas.

Os homens ainda aspiram à conquista espiritual que Hércules teve êxito em alcançar.
Os problemas que surgem do mau uso da energia conhecida como sexual ocupam
nossa atenção a cada instante. O amor ao conforto, à luxúria e às posses externas
ainda cresce. A luta pelo dinheiro como um fim em vez de um meio reduz as vidas de
incontáveis homens e mulheres. Assim, a tarefa de destruir as primeiras três cabeças

84
continua a desafiar as forças da humanidade, milhares de anos depois de Hércules
haver realizado seu extraordinário feito.

As três qualidades do caráter que Hércules tinha de expressar eram a humildade, a


coragem e a discriminação: humildade, para ver seu compromisso objetivamente e
reconhecer suas falhas; coragem, para atacar o monstro que jazia enroscado nas raízes
de sua natureza; discriminação, para descobrir uma técnica para enfrentar seu inimigo
mortal.

Desvelar a cloaca dos desejos inferiores e impulsos egoístas que apodrecem na


natureza subconsciente tem sido o trabalho da moderna psicanálise. A técnica desta
última traz os dados insípidos dos impulsos reprimidos à superfície, é verdade, mas
muitas vezes para neste ponto. O indivíduo se conscientiza de que um monstro jaz
oculto nas áreas subterrâneas da consciência; entretanto, sente-se frustrado e confuso
ao tentar lidar com esse formidável inimigo.

Hércules invoca uma luz mais brilhante do que a da mente que analisa. Ele procura
elevar seu problema a uma dimensão maior, em vez de agitar-se infinitamente no
pantanal do subconsciente. Tentando ver seu dilema à luz daquela sabedoria a que
chamamos de alma, ele a enfrenta a partir de um novo ângulo de visão. Assim o
fazendo, ele quebra o poder da hidra, e finalmente subjuga a fera.

O Combate à Hidra: Versão Moderna

Uma consideração dos nove problemas com que se defronta a pessoa nos dias atuais
ao procurar matar a hidra poderia lançar luz nas estranhas forças em atuação nesse
barril de explosivos, a mente humana.

1. Sexo. A afetação vitoriana e a lascívia psicanalítica são ambas indesejáveis. Sexo é


uma energia. Ele pode ser inibido sem restrições ou sublimado. A repressão ou
inibição não são soluções verdadeiras; a promiscuidade amaldiçoa a vida e torna um
homem escravo de uma paixão que o domina. A sublimação envolve o uso da energia
sexual numa tentativa criativa.

A transmutação das energias humanas abre um campo de especulação e


experimentação. Na ciência física, a energia do movimento pode ser transformada
em eletricidade, e a do calor em movimento. Até que ponto, então, podem ser
redirecionadas as energias humanas? Antes de tudo, a energia da matéria,
representada pelo alimento, é obviamente usada para produzir a energia do
movimento. Poderá a impulsionadora energia das emoções ser, por analogia,
recanalizada para a atividade do pensamento? Poderá a energia das agitadas paixões
encontrar expressão como uma aspiração? Poderão os impulsos e compulsões da
natureza humana ser de tal maneira transmutados que se possam transformar em
forças benéficas? Poderá a energia que produz o pensamento ser utilizada como o
poder de síntese que resulte em um senso de identificação com todas as coisas
vivas?

A experiência de Hércules indica que tais possibilidades existem, e que aquele que
subjugar a hidra das paixões e a mente separativa deverá resolver problemas dessa
natureza.

2. Conforto. Um eterno senso de insatisfação impulsiona o homem para níveis cada


vez mais altos da conquista espiritual. O conforto é muitas vezes um freio a tal
conquista. Obstruído e inativado pelo enganoso senso de conforto, o espírito fenece.

O prisioneiro do conforto afunda-se de volta na apatia, esquecendo-se das lutas e


85
tentativas que temperam a aguçada lâmina da aspiração espiritual. A vontade de
buscar, o impulso que conduz à solução do mistério da vida, é oposto à inclinação
narcisista de fazer do conforto um motivo central na vida.

3. Dinheiro. A acumulação do dinheiro é uma paixão fundamental que jaz por trás
das atividades dos povos e das nações. Os valores éticos e humanos são desprezados
na louca tentativa de juntar o ouro que confere poder. Inevitavelmente, as escolhas
são determinadas pelas considerações do dinheiro em vez de pelas convicções
espirituais ou princípios éticos. O impulso para acumular a riqueza é insaciável. Não
importa quanto uma pessoa possa ter, ainda avidamente necessita mais.

Um efeito paralisante desta fome de distorção mental é a egocentralização. O


indivíduo sofrendo desta aflição muitas vezes deseja receber e não dar nada. O
estado do universo é determinado por ele pelo que consegue adquirir. Ele se
considera como um ponto terminal, e não admite qualquer responsabilidade em
conferir a outros os benefícios que ele próprio recebeu.

Não seria para a riqueza intelectual e o tesouro espiritual que deveríamos dirigir
nossos esforços? Eles podem ser partilhados com todos, e aquele que dá tudo o que
tem, se sente mais rico do que era antes. O impulso para adquirir bens materiais
pode algum dia ser transmutado no desejo de acumular conhecimento e a vontade de
adquirir as joias do espírito.

4. Medo. Os fantasmas do medo atormentam os filhos dos homens de inúmeras


maneiras. Essas formas ilusórias tornam o homem perplexo e o assustam, agindo
como grilhões em seus pés e uma pedra de moinho em seus pescoços. Muitas
pessoas encolhem-se covardemente quando assombradas pelos angustiantes medos
do ridículo, do desconhecido, do fracasso, da velhice, do ocaso e da morte.

Podem os medos ser eliminados? A experiência de Hércules sugere que podem ser
superados pela elevação da consciência a um ponto de integração superior. Quando a
vida de uma pessoa é refocalizada na direção de um propósito mais elevado, as
sombras ameaçadoras do medo são pressionadas de volta para a periferia do
pensamento. Enquanto os indefinidos monstros do medo espreitam no crepúsculo do
subconsciente, elas terão o poder de fazer empalidecer a face e congelar o coração.
Um soldado, ao tentar derrotar o inimigo, arrisca a própria vida. A mãe, arrebatando
seu filho do perigo, esquece seus próprios medos. O motorista, descendo uma
estrada em alta velocidade, põe em perigo a vida e corre atrás da aventura. Essas
pessoas focalizaram sua atenção acima do ponto onde o medo é encontrado. O
indivíduo que se orienta espiritualmente centraliza seu pensamento em um nível
muito rarefeito para se deparar com o medo.

5. Ódio. O ódio está enraizado na negação. É o oposto do desejo de união. Elevado a


uma dimensão superior, o ódio se transmuta em repúdio a tudo o que é irreal.
Quando o ódio é despido de todo conteúdo emocional, ele pode tornar-se uma
energia que leva um homem a rejeitar a forma, em favor da vida que a anima. No
arco inferior, ele é seguramente destruidor; no superior, quando totalmente
purificado, ele pode ser visto como o lado anverso do amor.

6. Desejo de poder. Durante os últimos séculos o homem libertou a energia do poder


muito mais do que a do amor. O resultado foi o desequilíbrio. O poder, quando
dissociado do amor, é uma força corruptora. Muitas tragédias nas relações humanas
resultam do descontrolado desejo de dominar as vidas dos outros, de prescrever e
regular sua conduta. Aquele que substitui as considerações do poder pelos princípios
éticos engenha uma aspiração perpétua. Os altos ideais que têm servido como faróis
ao longo do século, a fraternidade, a cooperação, o idealismo, brilham tenuemente
86
enquanto o poder é o fator determinante na sociedade.

7. Orgulho. As paredes construídas pelo orgulho encarceram o homem com mais


segurança do que as barras de uma prisão. Aprisionado pelas pesadas correntes dos
pensamentos da exaltação em si mesmo, ele olha para os outros seres humanos com
condescendência. Assim ele enfraquece os laços que unem todos os homens em
indissolúvel fraternidade. Pondo-se à parte, ele avança mais e mais para além do
círculo das afinidades humanas.

Hércules cai de joelhos ao lutar com a hidra, simbolizando nesta atitude o espírito de
humildade que deve ser alcançado. A exaltação das inclinações da personalidade
deve ser substituída pela expressão das tendências ao autossacrifício.

8. Separatividade. A mente analítica divide e subdivide, premiando a parte sobre o


todo. Uma ênfase maior é posta nas indicações da diversidade em vez de no fato
dominante da unidade. Tal pensamento fragmentado milita contra o impulso para a
síntese.

A atitude separatista é mais consciente das diferenças entre os homens do que das
similaridades; ela concebe a religião como uma série de unidades antagônicas em vez
de uma expressão única do impulso espiritual; para ela, a oposição de classes na
sociedade é mais importante do que a humanidade comum que faz dos homens,
irmãos; ele encara a terra como uma série de nações díspares, em vez de como um
mundo só.

Hércules tinha de ver a hidra como um monstro, não como uma fera com nove
diferentes cabeças. Enquanto ele procurou decepá-las uma a uma, ele continuou a
lutar sem êxito. Quando, finalmente, ele lidou com o monstro como uma unidade,
conquistou a vitória.

9. Crueldade. A satisfação que os homens experimentam ao ferir outros homens é


um testemunho da existência das más tendências que corroem a mente. O prazer em
causar o sofrimento em nossos semelhantes é uma doença. Esta feia cabeça da hidra
deve ser destruída de uma vez por todas antes que um homem se possa declarar
como um ser humanizado. A vida moderna oferece muitos exemplos de brutalidade e
atrevida crueldade. Em muitas famílias, crianças sensíveis são escarnecidas,
ridicularizadas e depreciadas pelos que se recusam a se darem ao trabalho de
compreendê-las; maridos e esposas estão diariamente proclamando-se em divórcio
apelando para o argumento de que são vítimas de crueldade mental; as cortes e
hospitais produzem evidência cumulativa do prazer em se atormentar
reciprocamente. “Nós o fazemos pela excitação”, disse recentemente um adolescente,
“não pelo dinheiro”.

Quando esse monstro da crueldade é sustentado no alto, no ar, à luz da razão e da


compaixão, ele perde sua força. A tarefa de traduzir a energia da crueldade por
compaixão ativa ainda permanece. Em dois testes Hércules “matou” quando ele
deveria ter amado, mas em Escorpião ele alcançou sua transformação arrancando de
sua própria natureza as raízes da tendência que o poderia ter inutilizado para as
demais empresas.

Esta é a conquista espiritual de Hércules, psicologicamente falando, neste trabalho. Ele


a admitiu luz no sombrio recesso do subconsciente, atracou-se com as monstruosas
forças que chafurdam no subliminar lodo e venceu os inimigos de sua própria casa. Um
processo de limpeza teve lugar, e Hércules agora está pronto para encetar a nova
tarefa na qual terá de demonstrar sua habilidade para controlar os poderes e potências
da mente.
87
Aplicação à Vida
(Condensação de uma conferência de A. A. B.)

Escorpião é o trabalho que de certos ângulos nos tem absorvido e nos absorverão por
longo tempo porque, diferentemente de Hércules, ainda não vencemos a hidra. Na
maioria, estamos ainda ocupados com os métodos fúteis com que ele fez as primeiras
tentativas neste teste.

Este é primariamente o problema da humanidade, mas individualmente estamos tão


profundamente ocupados com a nossa própria evolução que nos esquecemos de uma
visão mais abrangente. Se pretendermos escalar até o topo da montanha em
Capricórnio, precisamos perder de vista a personalidade e começar a atuar como
almas.

Em meus momentos mais elevados eu teoricamente sei quais deveriam ser minhas
atitudes e ações, mas continuo a me confundir. Por que? Por uma lei fundamental, que
tudo na natureza evolui sequencialmente, passo a passo, linha após linha, preceito
após preceito. Poderia ser uma experiência devastadora, se eu corrigisse minha
personalidade de maneira tão rápida que a força toda de minha alma pudesse atuar. Eu
seria derrubada pela força e pela luz, pela onisciência e onipotência de minha alma, Eu
não saberia quê fazer com o que eu iria dispor. Isso não quer dizer que tudo o que eu
teria a fazer seria sentar-me e deixar a lei agir, repousar sobre meus remos e a
evolução me conduzindo, até que em algum momento eu alcançasse a conquista
espiritual. Significa que atualmente eu me encontro no campo de batalha, Kurukshetra,
e que irei enfrentar esta hidra em Escorpião, pois é com este trabalho que a
humanidade hoje está absorvida.

O verdadeiro teste de Escorpião nunca tem lugar antes que o estudante fique
coordenado, antes que a mente, a natureza emocional e a natureza física esteja
funcionando como uma unidade. Então o homem entra em Escorpião onde seu
equilíbrio é subvertido e o desejo parece exagerado, quando ele pensava que se havia
livrado dele. Ele é fluídico, e ele pensava que estava equilibrado. A mente, que ele
estava certo de estar começando a controlar a sua personalidade não parece agir. Ao
estudarmos Hércules, nós nos vemos. Lembrem-se de que há três coisas que o
estudante tem de fazer em Escorpião. Ele tem de demonstrar, não para a Hierarquia,
não para o observador, mas para si próprio, que ele tem de superar a grande ilusão;
que a matéria, a forma, não mais pode detê-lo. Hércules tinha de demonstrar para ele
que a forma era simplesmente um canal de expressão pelo qual ele contataria um
grande campo de manifestação divina. Lendo alguns livros sobre a religião poder-se-ia
chegar à conclusão de que a forma, a emoção e a mente são coisas más, indesejáveis,
das quais nos deveríamos livrar. Para minha mente, é fundamental reter o pensamento
que se eu me livrar da forma física, fico sem meios de contato com a expressão divina,
porque Deus está em meu próximo, no mundo físico, tangível, no qual eu vivo, e se eu
não tiver forma, nenhum dos meus cinco sentidos, eu me isolo de Deus em uma forma.
A personalidade não é para ser morta, nem pisoteada; ela deve ser reconhecida como
um triplo canal de expressão para três aspectos divinos. Tudo depende de se nós
usamos a tríplice personalidade para fins egoístas ou divinos. A grande ilusão é a
utilização daquela personalidade para fins egoístas. Para resumir a história inteira, no
signo de Escorpião, o Ego está determinado a matar o pequenino ego para ensinar-lhe
o significado da ressurreição.

Que é a Morte?

Há três signos de morte no zodíaco; três grandes mortes ocorrem à medida que
avançamos a volta do campo da vida. Em Câncer nós temos a morte do ser elemental

88
(especificamente, o homem) para que o ser humano possa vir à existência. Através do
Zodíaco sempre podemos dizer “Aqui está a morte para que...”

Sempre, a morte é uma entrada em uma vida mais plena, uma realização e um
enfoque mais amplos. É a morte da personalidade para que a alma possa assumir a
personalidade e expressar a vida por seu intermédio. Em Peixes nós temos a
crucificação, a morte de um salvador mundial porque ele cumpriu com perfeição sua
função.

Na astrologia a morte pode significar muitas coisas. Talvez possa significar que iremos
morrer. Esta é uma interpretação. Talvez que iremos morrer devido a uma velha
emoção. Ela partiu - “morte”. Algumas ideias cristalizadas, por muito tempo
conservadas, dogmas que governaram nossas atividades até agora simplesmente
acabaram e nos perguntamos de que maneira um dia pudéramos ter pensado assim.
Aquela linha de pensamento morreu. É válido lançar mão do retrato grande e aprender
a interpretá-lo nos vários aspectos da personalidade.

Escorpião, o Signo da Magia

Magia não significa fazer coisas curiosas; a verdadeira magia é a expressão da alma
através da forma: A magia negra é o uso da forma para alcançarmos o que quisermos
para a forma. A magia negra é o egoísmo sem adulteração. A magia branca é o uso da
alma para fins de elevação da humanidade, utilizando a personalidade. Por que é
Escorpião o signo da magia? Um antigo livro diz: “Virgem é a feiticeira, ela prepara os
ingredientes que são pesados nos pratos da Balança, e em Escorpião o trabalho mágico
é desenvolvido”. Em termos dos aspirantes isso significa que em Virgem eu terei
descoberto o Cristo em mim mesmo, que no passar do tempo minha natureza forma
alimentou um Cristo; na Balança eu flutuo entre os pares de opostos, a forma e a
natureza crística, até que conquisto o equilíbrio e o Cristo e a matéria se acham num
estado de equilíbrio. Em Escorpião eu sou testado para ver quem vai triunfar, a forma
ou o Cristo, o Eu Superior ou o eu inferior o real ou o irreal, a verdade ou a ilusão. Isto
é o que está embutido na história de Escorpião.

As Constelações e as Estrelas

Touro, que é o oposto de Escorpião, é o signo do desejo expresso predominantemente


no plano físico como sexo. No coração de Escorpião encontramos Antares, uma das
quatro estrelas reais, uma estrela vermelha. Vermelho é a cor do desejo e esta é a
mais rubra estrela nos céus; simboliza aquele vermelho do desejo que subjaz a toda
manifestação da vida divina.

Em Gêmeos, ao colher as maçãs douradas, Hércules também lutou com Antares. Aqui
novamente em Escorpião estamos diante da estrela vermelha. Por que? Porque o
problema da humanidade neste nosso grande sistema solar é o da atração entre os
opostos (significando desejo). Aquila, a águia, é intercambiável com Escorpião. A águia
tem muito a ver com os Estados Unidos e a seta de Sagitário, o signo seguinte, é
também dominante no selo dos Estados Unidos. Aquila, a águia, é o pássaro fora do
tempo e do espaço e ao lutar com a hidra, Hércules olha para o alto, vê a águia e se
lembra de que ele veio à encarnação e que voará de volta para onde veio.

Há três constelações conectadas com este signo que são extraordinariamente


interessantes. Primeiro, há Serpens, a serpente da ilusão, a serpente que encontramos
no Genesis, que iludiu Eva. A segunda é Ophiucus, o homem que luta com a serpente.
O antigo zodíaco exibe a serpente nas mãos desse homem. Ele a agarra com ambas as
mãos e pisa em seu coração, que é a estrela vermelha do desejo. Ao fazer isso, ele

89
olha na direção da constelação que vimos em Balança, coroa. Assim nós vemos a
personalidade, simbolizada por Ophiucus, lutando com a serpente da ilusão, a coroa à
qual ele aspira, conservada diante dele.

A terceira constelação é chamada Hércules e representa o aspirante olhando, não para


a coroa, mas para a águia, Aquila. A personalidade olha para a coroa, mas diz, “Estou
enfrentando um tempo tão difícil, mas algum dia terei minha coroa”, Hércules, o
discípulo, não está preocupado com a coroa, ele olha para a águia, o aspecto espiritual.
Ele se ocupa com aquele maravilhoso símbolo da luz emergindo, que torna toda vitória
possível.

Mantenha seu olhar na águia; atraia o fogo; não olhe para o chão; centre-se na
divindade. Alice A. Bailey

90
9º Trabalho: A Morte dos Pássaros do Estinfalo
(Sagitário, 22/Novembro - 21/Dezembro)

O Mito

Do lugar da paz o Instrutor dirigiu-se a Hércules “oh filho de Deus que és também um
filho do homem”, disse o Instrutor, “é chegado o tempo de trilhar um outro caminho.
Tu estás diante do Portão nono. Cruza-o e busca o pântano de Estinfalo onde habitam
os pássaros destruidores. Descobre, então, o caminho para espantá-los de sua morada
tão segura”.

Ele fez uma breve pausa. “A chama que brilha além da mente revela a direção certa”,
ele acrescentou. “A tarefa te espera. Através do Portão nono deves agora ir”.

Adiante, então, seguiu Hércules, o filho do homem que também era o Filho de Deus.

Longamente ele procurou, até chegar a Estinfalo. Diante dele estendia-se fétido
pantanal. Uma multidão de pássaros gralhava roucamente, num coro ameaçador e
dissonante, quando ele se aproximou.

Aproximando-se, ele viu os pássaros - grandes ferozes e horrendos. Cada um tinha um


bico de ferro, afiado como uma espada. As penas, também, se assemelhavam a dardos
de aço e, caindo, podiam cortar em dois as cabeças de cansados viajantes. Suas garras
competiam com seus bicos em capacidade de corte e força.

Três pássaros, percebendo Hércules, arremeteram sobre ele. Ele permaneceu onde
estava, e revidou aos ataques com a pesada clava que portava. Um dos pássaros foi
atingido ruidosamente no dorso; duas penas foram arrojadas ao chão. Por fim, os
pássaros se retiraram.

Diante do pântano Hércules permanecia, e pensava em como poderia cumprir com sua
tarefa, como livrar o local daqueles pássaros predatórios.

Ele procurou encontrar o caminho de várias maneiras. Primeiro, tentou matá-los com
uma chuva de setas. Os poucos que ele matou eram apenas uma fração dos muitos que
permaneciam. Eles levantavam voo em nuvens tão espessas que ocultavam o sol.

Ele pensou em pôr armadilhas no pântano. Nenhum pássaro ou pé humano podia


atravessar o lodaçal.

Hércules fez uma pausa. Lembrou-se das palavras do conselho que recebera. “A chama
que brilha além da mente revela a direção”. Refletindo longamente, um método lhe
veio à mente.

Dois grandes pratos de bronze ele possuía, que emitiam um som estridente, não
terreno; um som tão áspero e tão penetrante que seria capaz de amedrontar os
mortos. Para o próprio Hércules o som era tão intolerável que ele cobria ambos os seus
ouvidos para protegê-los.

Ao anoitecer, quando o pantanal estava recoberto com incontáveis pássaros, Hércules


voltou. Ele então tocou os pratos aguda e repetidamente. Um tinido tão estridente
então soou que ele mal pode suportar o som. Tal dissonância, tão agressiva ao ouvido,
jamais fora ouvida naquelas paragens.

91
Assustados e perturbados por um ruído tão monstruoso, os pássaros predatórios
levantaram voo batendo as asas selvagemente, guinchando em rouco espanto.
Grandemente confusa, a vasta nuvem de pássaros fugiu em grande debandada, para
nunca mais voltar. Seguiu- se um grande silêncio em todo o pântano. Os horrendos
pássaros haviam desaparecido. Os suaves raios de sol poente eram vistos enquanto ele
se punha na paisagem que escurecia.

Quando Hércules retomou, o Instrutor o saudou: “os pássaros assassinos foram


expulsos. O trabalho está feito”. Francis Merchant

Interpretação do Trabalho
(Conferência editada por A.A.B., 1937)

Sagitário me parece muito interessante, porque ele tem uma aplicação tão especial
para cada um de nós, que respondemos pelo nome de “aspirante”.

Há duas palavras que gostaria de ver excluídas do vocabulário do ocultista, “iniciado” e


“mestre”. “Iniciado” é deliciosamente separatista, é uma palavra de pedestal. “Mestre”
fez crescer na consciência das pessoas o sentimento de que existem homens que são
super-homens e que assumem a atitude de diretores ou mestres sobre seus discípulos;
que lhes diz quê e como fazer. Nenhum adepto jamais soube fazer isso.

Gosto das palavras “aspirante” e “discípulo”. Aspirante é uma palavra geral que nos
cobre em cada estágio de nosso desenvolvimento. Se quiserem uma palavra mais
técnica, usem discípulo; é uma palavra que esconde, porque um aspirante do mais
baixo nível é um discípulo. O próprio Cristo também é um discípulo. Ela acaba com
graus e classes e com os variados estágios de evolução.

Onde estamos, em nosso estágio de evolução, é assunto pessoal. O mundo saberá o


que somos, quando tivermos feito o trabalho que nos tiver sido destinado nesta tarefa
de Sagitário.

Já lidamos com o estupendo signo de Escorpião, no qual Hércules demonstrou a si


mesmo o fato de que ele não poderia ser dominado por mais tempo pela serpente da
ilusão. Ele livrou-se do medo e da miragem, de tudo que poderia enganá-lo. A visão
podia ser vista.

Por ser Sagitário um signo de tão grande importância, quero dar-lhes um breve resumo
do que aconteceu até a atualidade. Estou assumindo que cada um de nós seja o
aspirante unidirecionado, o arqueiro em seu cavalo, caminhando reto como uma seta
em direção à sua meta.

É interessante que o símbolo dos Estados Unidos mostre as setas de Sagitário nas
garras de uma águia porque Aquila é astrologicamente intercambiável com Sagitário e
é o símbolo do espírito se manifestando através da alma, que o aspirante no plano
físico está buscando sem desvios. Há uma profecia no símbolo dos Estados Unidos, do
objetivo desta raça, quando ela se tornar adulta, pois é desta raça que emergirá aquele
grupo de aspirantes, fundindo-se por sua vez em um grupo de discípulos, que
demonstrarão ao planeta o fato do mundo subjetivo. Esse é o destino da raça. Será a
conquista espiritual de todas as raças que se acham reunidas nos Estados Unidos.

Vamos levar a história até Hércules, o aspirante, o que ele fez em cada signo.

Em Áries, Hércules começa no plano da mente, em sua tentativa para capturar as


éguas antropófagas e fracassou ao lidar com elas ao nível de sua personalidade. Ele

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tratou o pensamento a partir do ângulo de personalidade; ele não trabalhou com seu
problema a partir da alma. Em Sagitário ele matou os pássaros antropófagos. Ele teve
de voltar ao mesmo problema no plano da mente, onde ele demonstrou completo
controle daquilo que é a primeira coisa que o aspirante à iniciação tem que fazer. Nós
controlamos nossos pensamentos e consequentemente controlamos nossas palavras.
Não haverá iniciação para nós enquanto isso não acontecer. Em Áries ele começa a
controlar o pensamento.

Em Touro ele desceu para trabalhar o plano astral e se deparou com o problema do
sexo, a demonstração da grande lei da atração no universo em seu aspecto mais baixo.
Ele teve um êxito razoável. Ele efetivamente controlou o touro e o conduziu para a
cidade dos Ciclopes.

Em Gêmeos começou a despertar em si que ele era dual; ele ocupou-se com o
problema da alma e do corpo e como coordená-los. Eis porque Gêmeos flutua naqueles
primeiros estágios.

Em Câncer ele chega à consciência da massa até certo ponto; ele ganhou forma.
Aquele é um estágio da encarnação humana. Para muitos, o fato de que são seres
humanos que se relacionam com outros seres humanos, não consegue de modo algum
entrar em sua consciência. Hércules começou a alcançar aquele ponto de vista. No
momento em que se chega lá, captura-se a tímida corça da intuição, e se começa a ser
intuitivo, não psíquico.

Depois Hércules passou ao difícil signo de Leão, onde tantos de nós estamos agora, e
se tornou um indivíduo muito vigoroso. Ele estava certo de que podia fazer de tudo, ele
permaneceu sozinho; um estágio de poder. Nesse estágio você vai dirigir os homens, e
começa governando-os erradamente. Você se afirma de maneira muito forçada - e
pensa que é mais importante que na verdade é. Você tem de se livrar do senso de “Eu
sou”. Essa é a história toda da vida do aspirante. Você tem de se tornar tão identificado
com a verdadeira entidade espiritual que está por trás de todas as formas, que você
não se ocupa com sua própria forma, nem com suas reações mentais ou emocionais,
nem com sua própria utilidade.

Em Virgem, Hércules se tornou consciente, não da alma e do corpo colocados em


justaposição recíproca, mas do fato de que, latente dentro de si, estava o Cristo
infinito; que a personalidade, o lado forma, estava nutrindo algo belo e oculto, de olhos
abertos.

Em Balança ele atravessou um estágio difícil para a conquista do equilíbrio, um signo


muito complicado por vários motivos, porque o homem não é nem a alma nem o corpo.
Balança é o equilíbrio dos pares de opostos no plano físico. Ele os equilibrou tanto que
ele não sente que está avançando para algum lugar.

Em Escorpião, no plano astral, ele retoma o trabalho começado em Touro, completa-o e


afasta a grande miragem, a grande ilusão e fica livre com o objetivo claro à sua frente.

Gêmeos é o oposto de Sagitário; Gemini é a dualidade; a unidade de Sagitário, a


unidirecionalidade indo adiante, a personalidade unificada, consciente da alma,
determinada a entrar no signo de Capricórnio onde a grande transição é feita à custa de
passagem do quarto para o quinto reino espiritual.

Sagitário é o arqueiro montado no cavalo branco, algumas vezes representado como o


centauro com arco e flechas. Nesses dois modos de representação - o centauro metade
humano e metade animal, o arqueiro no cavalo branco, metade humano e metade

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divino - vocês têm a história inteira. Um cavalo branco é sempre o símbolo da
divindade. Cristo veio montado em um cavalo branco. Lá têm vocês Sagitário no Livro
da Revelação. É um signo duplo, e sempre que vocês têm um signo duplo vocês têm
um problema.

Em Sagitário, tal como em Escorpião, Hércules assumiu e completou o trabalho iniciado


em Áries. Em Áries ele lidava com o pensamento em sua fonte. Neste signo ele
demonstra completo controle do pensamento e da palavra.

Sagitário algumas vezes foi chamado o “O signo do efeito de Escorpião”. No momento


em que nos libertamos da ilusão, nesse momento entramos em Sagitário e vemos o
objetivo. Nós nunca o víramos antes, porque entre nós e o objetivo sempre se encontra
aquela nuvem de pensamentos-forma que nos impede de vê-la.

Falamos sobre amor espiritual, devoção ao Cristo, devoção aos irmãos mais velhos da
raça, à alma; e como estamos ocupados com três pensamentos, nós construímos
nuvens de pensamentos-forma porque estamos pensando, e ao pensarmos, nós
construímos. Portanto, construímos à nossa volta uma tal nuvem de pensamentos-
forma sobre nossas aspirações, que não vemos nossas metas. Não estou removendo o
chão debaixo de nossos pés, mas parem de pensar tanto sobre que fazer e aprendam
mais simplesmente a ‘‘ser’’.

Silêncio

Sagitário é o signo preparatório para Capricórnio e em alguns livros antigos é chamado


“o signo do silêncio”. Nos antigos mistérios o irmão recém-admitido tinha de se sentar
em silêncio, não era autorizado a caminhar nem a falar; ele tinha de ser, trabalhar e
observar, porque não se pode entrar no quinto reino da natureza, o reino espiritual,
nem escalar a montanha de Capricórnio enquanto houver restrição da fala e do controle
do pensamento.Esta é a lição de Sagitário: restrição da fala através do controle do
pensamento. Isso nos manterá ocupados, porque depois de abandonar o uso das
formas comuns da fala, tais como o falar da vida alheia, então será preciso aprender a
silenciar sobre as coisas espirituais. Você terá de aprender sobre quê não dizer sobre a
vida da alma, muita conversa sobre coisas para as quais pessoas podem não estar
preparadas.

O reto uso do pensamento, o calar-se, e a consequente inofensividade no plano físico,


resultam na libertação; pois nós somos conservados na unidade humana, estamos
aprisionados ao planeta, não por alguma força externa que nos mantenha ali, mas pelo
que nós mesmos teremos dito e feito. No momento em que não mantivermos mais
relações erradas com as pessoas pelas coisas que dissermos quando deveríamos ter
ficado calados, no momento em que paramos de pensar sobre as pessoas, coisas que
não deveríamos pensar, pouco a pouco aqueles laços que nos prendem à existência
planetária são rompidos, ficamos livres e escalamos a montanha como o bode em
Capricórnio.

Perguntou-se: “Será que nunca deveremos criar carma para nós mesmos, ou fazer
qualquer coisa que nos prenda a qualquer ser humano, porque na medida em que nos
ligamos a qualquer ser humano, teremos de continuar a nos reencamarmos?” Bem, eu
vou me ligar à humanidade pelo serviço, pelo amor, pelo pensamento desinteressado.
Isso tem alguma significação. Mas não me vou prender pelo pensamento crítico, pelos
pensamentos de autopiedade, pelo falatório, pelas palavras que não deveria dizer. Não
vou ter como motivo minha própria libertação. Uma precaução: não sejam bons, não
sejam inofensivos, não sirvam apenas para se afastar de tudo, que é o que muitos
fazem. Fiquem com a humanidade como o Cristo faz, ou como aquela grande Vida Que,

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segundo nos é dito, ficará em Seu lugar indicado até que o último peregrino encontre
seu caminho de casa.

Dois Portões, Três Constelações

Sagitário é o pequeno portão para Capricórnio. Há dois portões cósmicos: Câncer, o


portão para a encarnação; Capricórnio, o portão para o reino espiritual. Antes de
Capricórnio está Sagitário, do qual se fala como “um portão menor”. Gosto de pensar
nele como o pequeno portão ao pé da montanha através do qual passamos antes de
escalar a montanha e, em o fazendo, demonstramos nossa habilidade no uso correto
das flechas do pensamento. Esse é o grande teste.

Há dois pássaros vistos nos céus próximo a Sagitário. Um, Aquilla, a águia voando
diretamente para a face do sol, o pássaro fora do tempo e do espaço, o símbolo da
imortalidade, o símbolo daquela coisa secreta oculta que jaz por trás do nível de nossas
almas; pois nos é dito que a matéria ou forma é o veículo para a manifestação da alma,
e a alma em uma volta superior da espiral é o veículo para a manifestação do espírito,
e essas três são uma trindade unificada pela vida que os permeia a todos.

A outra constelação é Cygnus, símbolo da alma. Sagitário, o aspirante, olhando para a


esquerda e para a direita; à direita, vendo Aquila e dizendo para si mesmo, “Eu sou o
espírito voando diretamente para meu lar”; olhando para o outro lado e vendo Cygnus,
o ganso, com suas quatro estrelas em forma de uma cruz e dizendo, “Eu sou a alma
crucificada na matéria da qual me libertarei”.

Lembrem-se, está chegando o dia em que falaremos da alma como agora falamos
sobre a personalidade, como algo do que finalmente nós teremos libertado. Esse é o
problema, se posso usar tal palavra, do homem que alcançou a terceira iniciação,
libertar-se de sua alma.

Vamos tomar como seus símbolos essas três constelações: Cygnus, Aquila e Sagitarius
Aquila, a águia no símbolo dos Estados Unidos; as flechas de Sagitário. E já terão
pensado que para onde vão, logo veem a cruz de Cygnus, a Cruz Vermelha? É isso que
os Estados Unidos representam. Vocês o têm bem lá nos céus.

Sagitário é o nono signo. Pensem a respeito desta sequencia de pensamento. Em


Virgem, o sexto signo, temos a indicação da vida; em Sagitário, o nono signo, a
completação do período pré-natal, antes do nascimento do Cristo em Capricórnio, em
dezembro. É interessante como suas correspondências, suas analogias operam. É por
isso que nos dizem para estudarmos o ser humano. É através do simbolismo do ser
humano que chegamos à compreensão da grande Vida que nos inclui a todos em sua
existência.

O Símbolo da Crisálida

Curiosamente, Sagitário foi chamado o estágio da Crisálida; o homem não é uma coisa
nem outra. Na crisálida temos a estranha triplicidade da lagarta, da crisálida e da
borboleta. A lagarta, segundo se diz, reencarna cinco vezes; ela muda de pele cinco
vezes, cinco é o número do homem. Depois vem aquele curioso acontecimento na vida
da lagarta em que há uma mudança completa, e de uma coisa que esteja, impelida
pelo desejo, comendo o tempo todo, vem o estágio da crisálida. Que coisa ocorre
naquele estágio da crisálida, é um acontecimento misterioso. Dizem-nos que dentro da
dura concha da crisálida, construída pela lagarta, nada mais há que um fluido. Cada
simples coisa foi abandonada e naquele fluído estão o que são chamados os três
centros da vida, e devido ao intercâmbio entre aqueles três pontos focais de energia,

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uma mudança tem lugar numa construção, até emergir do período de silêncio, uma
maravilhosa borboleta. É quase como se na crisálida houvesse três aspectos da
divindade simbolizada e trabalhando para um padrão, o padrão do Cristo.

Considere o que se passa na vida do aspirante individual em Sagitário. Houve uma


completa ruptura com tudo em Escorpião; tudo foi reduzido a fluido, pois Escorpião é
um signo astral e a água é o símbolo. Na vida do aspirante de hoje, não preciso
alongar-me a respeito, houve uma completa demolição de tudo.

Como me disse alguém, não restou coisa alguma pela qual viver, nada há de
suficientemente interessante capaz de manter o interesse pela vida. Por que? Porque
você é um aspirante, um discípulo; é a melhor indicação que você pode ter de seu
status na escada da evolução. Tudo veio abaixo e você sabe disso. Mas os três aspectos
da divindade ainda estão lá no fluido; e eles atuarão e o modelo está lá. O estágio da
Crisálida em Sagitário. E interessante acompanhar a sequencia do pensamento ou
conquista de Escorpião até o poder e o êxito desenvolvidos em Sagitário, pois ele é um
signo de poder.

O verdadeiro Sagitariano é uma pessoa muito potente; potente porque é o signo do


silêncio; potente porque é o signo da direção definida e a meta é vista pela primeira
vez com a devida clareza; potente porque é o período que precede imediatamente o
nascimento do Cristo.

O Espírito da Verdade

Dizem-nos que Sagitário é o espírito de verdade; soma de toda Verdade brotando da


revelação individual.

Agora, quando há uma revelação individual, o que geralmente ocorre é o sectarismo;


uma ilustração do mal uso de Sagitário. Eu tive uma revelação; Deus revelou isso,
aquilo e algo mais para mim. Eu imediatamente me imponho aos meus semelhantes
com minha interpretação da verdade. Eu não vejo a verdade, mas a minha verdade. Eu
sou uma aspirante, mas todos os aspirantes devem interpretar a verdade a meu modo;
vocês deverão crer nos Mestres de Sabedoria porque eu existo; vocês devem crer
nisso, naquilo e naquilo crer.

Unidirecionado, sim. Mas um pouquinho de verdade. Apenas tanto de verdade quanto


seu pobre pequeno cérebro pode conter, e contudo uma revelação tão tremenda para
você que já pensa que ela é toda a verdade.

Em Sagitário, o primeiro dos grandes signos universais, vemos a verdade como o todo
quando usamos as flechas do pensamento corretamente. Eu direi, isto é para mim,
minha formulação de verdade, porque ela me ajuda a viver. Outros grupos usam outras
terminologias e somente me é possível ver a visão na medida em que posso alcançar a
maneira pela qual meu irmão encara a verdade.

Todas as várias verdades formam uma Verdade; é disso que se dá conta em Sagitário e
você não poderá cruzar o portão no sopé antes de ver onde a sua pequenina porção da
verdade forme parte do mosaico grupal. Isso é tudo.

O Espírito do Direito

Sagitário foi chamado o signo do espírito de direito evoluído dos combates dos signos
anteriores. Quando eu estiver realmente atuando em Sagitário, terei aprendido a
discriminar entre o certo e o errado. Saberei o que é certo para mim mesma, mas
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também terei aprendido essa lição; que o certo para mim poderá ser o errado para meu
irmão, e vice-versa; que é impossível para mim dizer o que é certo para vocês, porque
nós todos somos dotados de faculdades diferentes, de diferente herança, diferentes
tradição e antecedentes, diferentes tendências raciais. Somos todos tão diversos, e
levando adiante esse pensamento, nós todos caminhamos segundo diferentes raios.
Temos diferentes raios egoicos e diferentes raios de personalidade, e quanto mais
sabemos sobre tais assuntos, menos sobre eles podemos falar.

Eu sei o que é certo para mim e tentarei viver por meu direito, minha concepção de
direito. Eu não sei o que é certo para vocês, mas lhes darei o crédito de que farão da
melhor maneira possível. Se pudéssemos assumir tal atitude reciprocamente, o espírito
da inofensividade, o controle do pensamento e o silêncio emergiriam no mundo e
escaparíamos dos nossos problemas mundiais. O mundo jamais se corrigirá pela luta, e
sim, pelo pensamento reto, e isso será um processo de alma. Alguém disse que em
Escorpião temos a convicção do pecado; em Sagitário temos a convicção do direito.

Três Dons

Alguns livros de astrologia dizem que há três signos beneficentes se derramando sobre
o Zodíaco. Um é Áries, do qual há sobre nós um derramamento do dom da existência.
Uma citação de uma escritura nos conta que há três coisas que nós temos pela graça
de Deus: o dom de sermos um ser humano, o anseio da libertação e chegar a viver sob
a orientação de um sábio perfeito, no próprio coração.

O dom da existência em Áries é a maravilha de sermos um ser humano. Se você puder


pensar de si mesmo como um mineral, de tais limitações você chegará à maravilha de
ser, porque ela significa a liberdade, do ponto de vista do mineral. Completa liberdade.

Em Leão o dom da oportunidade, eu sou um indivíduo. Usarei a vida para mim mesma,
se eu for um pequenino Leão; ou usarei da oportunidade para abrir os portões para
outros.

Em Sagitário, o dom do poder. Você se sente capaz de ter o poder? Uma definição de
ocultista é a de um ser humano que trabalha no mundo das forças e poderes. Não
conheço ninguém que possa ser confiável ao manipular o poder. Por que? Porque
Sagitário não fez seu trabalho. O calar-se não foi ainda aprendido. O controle do
pensamento não foi conseguido e a alma ainda não é suficientemente potente. Quando
amamos bastante, podemos ter o poder. Quando amamos bastante e somos bastante
inofensivos, então os portões do paraíso e do inferno serão postos em nossas mãos,
mas não antes.

Vamos começar a amar, não sentimentalmente, mas por começar realmente a


compreender os seres humanos, a nos identificarmos com eles e a amá-los. Vocês
podem saber o que um ser humano é, com suas faltas, e vocês podem amá-lo; não de
uma posição de superioridade, pela qual se diz, “pobrezinho, algum dia ele estará onde
eu estou”, mas a partir de “eu já fui assim”, ou “também sou assim”.

O dom da existência; o dom da oportunidade; e o dom do poder; os três grandes dons


do zodíaco.

Três Constelações

Há três constelações relacionadas com este signo, as três mais belas.

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Lira, a harpa de sete cordas. O aspirante aprende a tocar a harpa e faz música com sua
vida.

Ara, o altar, porque o aspirante coloca tudo sobre o altar, com o espírito da triste
renúncia, como sendo perfeitamente miserável, mas com o espírito de “não há outra
coisa a fazer. Estou-me desapegando dessas coisas para que possa servir de maneira
mais perfeita e mais plena”.

Draco, a serpente. Encontramos a hidra, a serpente em Gêmeos; agora encontramos


Draco, a serpente da sabedoria.

A música na vida de harmonia sacrifica, na personalidade, reações, desejos e


sabedoria.

E pairando acima, duas outras constelações: Aquila, espírito; e Cygnus, a alma.

Compreendem porque fico tão entusiasmada com Sagitário? É um signo tão belo e há
tanto a dizer a respeito. Fica muito para ser dito. Por minha omissão.

Detalhes da História

Lemos que os pantanais da Acádia estavam repletos de pássaros como ferozes


cegonhas, os pássaros de Estinfalo. Eles eram em número de três; três pássaros
principais, mas havia inúmeros menores. Eles estavam estragando a terra, mas não se
conseguia vê-los; estavam ocultos nos ramos dos arbustos, danificando tudo, sem que
se pudesse localizá-los.

Como de costume, Hércules se apressa na direção do país de Acádia e determina-se a


livrá-lo daqueles pássaros antropófagos. Contam-nos que ele foi muito inteligente ao
fazê-lo. Ele se tinha livrado da ilusão e Athena lhe havia dado alguns pratos que ele
agitou de maneira tão ruidosa que os pássaros levantaram voo do pantanal e tentaram
fugir; então ele cavalgou seu cavalo alado e matou-os com suas flechas. É uma história
maravilhosa.

Os pântanos simbolizam a mente com a emoção. Hércules descobriu que embora ele
possa ser um aspirante e possa ter triunfado em Escorpião, ele ainda possui uma
natureza emocional, e ele verifica que os pássaros de Estinfalo, especialmente três
deles, são de uma espécie antropófaga e que ele tem de fazer algo a respeito.

Tentem visualizar esta reação, o conquistador descobrindo que possui uma força
devastadora; que por suas palavras e pensamentos, ele está fazendo mal. Lembrem-se
disso, quanto mais vocês avançam no caminho de volta, e quanto mais atuarem como
uma entidade espiritual, mais potentes se tornarão e maior mal poderão fazer. Vocês
são esforçados, vocês manipulam o poder. Vocês serão provavelmente o centro de seu
grupo. Se forem um aspirante, um discípulo, o pensamento e a atividade da palavra
serão sua principal empresa. Vocês pesarão seus pensamentos porque há poder por
trás de seu pensamento, e quando pensarem de maneira errada, o mal que vocês
fazem é muito mais potente do que o mal feito por uma pessoa menos evoluída.

Precisamos remover os pássaros dos pântanos para o ambiente claro, onde possamos
vê-los e derrotá-los.

Os piores pássaros eram em número de três. Em um livro eles são enumerados: a cruel
maledicência; falar de si mesmo, falar egoisticamente; e jogar pérolas aos porcos. Que
significa isso?
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Foi dito que a maledicência é “assassínio espiritual”. Preciso discutir a maledicência
cruel, como vidas foram arruinadas por ela? Há uma lei inquebrantável, se vocês
usarem da maledicência, serão também vítimas da maledicência. Recebemos o que
damos. Se derem serviço, receberão serviço; bondade, bondade; amor, amor. Se a
humanidade os estiver tratando mal, busquem dentro de si mesmos e descobrirão onde
estará sua falta. Uma antiga escritura diz, para aquele que é inofensivo, toda inimizade
cessa. Sei que ao alcançar a inofensividade no pensamento, palavra e ação, então não
terei problemas. O fato de que temos problemas pressupõe nossa ofensividade.

Falando a respeito de alguém, estamos sempre ocupados com nossos problemas,


nossos próprios assuntos. Jogar pérolas aos porcos: falar sobre assunto do ocultismo
para os quais os ouvintes não estão prontos. Se você é um discípulo, saberá a que me
refiro.

O problema é claro: eu sou uma Sagitariana tanto quanto você é. Estamos vivendo com
o emblema de Sagitário à nossa frente, o tempo todo. Estamos tentando trazer
harmonia às nossas vidas, tentando conduzir a vida do “altar”, procurando contatar a
serpente da sabedoria. Comecem com o pensamento e a palavra, e comecem hoje.

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10º Trabalho: A Morte de Cérbero, o Guardião do Hades
(Capricórnio, 22/Dezembro - 20/Janeiro)

O Mito

“A luz da vida deve agora brilhar num mundo de trevas”, declarou o Grande Ser Que
Presidia. O Instrutor compreendeu.

“O filho do homem que é também o filho de Deus deve passar pelo décimo Portão”, ele
disse. “Dentro desta hora Hércules deve aventurar-se”.

Quando, Hércules ficou face a face com aquele que o guiava, este falou:

“Enfrentaste com êxito mil perigos, oh Hércules”, disse o Instrutor, “e muitas


conquistas foram feitas. A sabedoria e a força te pertencem. Farás uso delas para
salvar alguém em angústia, uma presa de imenso e infindável sofrimento?”

O Instrutor gentilmente tocou a fronte de Hércules. Diante do seu olho interno, surgiu
uma visão. Um homem jazia sobre uma rocha e gemia como se seu coração fosse
partir-se. Suas mãos e pés estavam acorrentados; as fortes correntes que o prendiam
estavam ligadas a anéis de ferro. Um abutre, feroz e audacioso, mantinha-se bicando o
fígado da vítima; em consequência, uma corrente de sangue jorrava do seu flanco. O
homem elevava suas mãos acorrentadas e clamava por socorro; mas suas palavras
ecoavam em vão na desolação e eram engolidas pelo vento. A visão desapareceu.
Hércules estava, como antes, ao lado de seu guia.

“Aquele que viste acorrentado se chama Prometeu”, disse o Instrutor. “Ele sofre assim
há muito tempo, e contudo, sendo imortal, não pode morrer. Do céu ele roubou o fogo;
por isso foi punido. O lugar de sua morada é conhecido como Inferno, o reino de Hades.
Pede-se que sejas o salvador de Prometeu, oh Hércules. Desce até as profundezas, e
de lá liberta-o do sofrimento”.

Tendo ouvido e compreendido, o filho do homem que era também filho de Deus, partiu
para aquele novo desafio e passou pelo Portão décimo.

Ele encetou sua viagem descendo, descendo sempre através das ligações dos mundos
da forma. A atmosfera se tornava cada vez mais pesada, a escuridão crescia sempre. E
contudo sua vontade estava firme. Essa íngreme descida continuou por longo tempo.
Sozinho, e contudo não absolutamente só, ele vagueava, pois quando ele procurava em
seu íntimo ele ouviu a voz prateada da deusa da sabedoria, Athena, e as palavras
encorajadoras de Hermes.

Por fim ele chegou a um rio escuro, envenenado, um rio que as almas dos mortos
tinham de cruzar. Um óbolo ou moeda tinha de ser pago a Charonte, o barqueiro, para
que ele as levasse ao outro lado. O sombrio visitante da terra assustou Charonte e,
esquecendo-se de cobrar, ele levou o estrangeiro para o outro lado. Hércules
finalmente penetrou o Hades, uma nevoenta e escura região onde as sombras, ou
melhor dizendo, as conchas dos que haviam partido, esvoaçavam.

Quando Hércules percebeu Medusa, seu cabelo encaracolado com serpentes sibilantes,
ele tomou de espada e a procurou atingir, mas não bateu senão no ar vazio.

Através de caminhos labirínticos ele prosseguiu em sua caminhada até chegar à corte
do rei que governava o mundo subterrâneo, Hades. Este último, inflexível e severo,
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com semblante ameaçador, sentava-se rigidamente em seu negro trono quando
Hércules se aproximou.

“Que procuras, um mortal vivo, em meus reinos?” Hades o interpelou. Hércules disse,
“procuro libertar Prometeu”.

“O caminho está guardado pelo monstro Cérbero, um cão com três grandes cabeças,
cada uma com serpentes enroladas em tomo”, replicou Hades. “Se puderes derrotá-lo
com tuas mãos vazias, um feito que ninguém jamais realizou, poderás libertar o
sofredor Prometeu”.

Satisfeito com esta resposta, Hércules prosseguiu. Logo viu o cão de três cabeças e
ouviu seu feroz latido. Rosnando, ele avançou sobre Hércules. Agarrando a primeira
garganta de Cérbero, Hércules reteve-a em seu abraço. Enfurecido, o monstro debatia-
se. Finalmente, sua força cedeu.

Isso feito, Hércules continuou e encontrou Prometeu. Em uma laje de pedra ele jazia,
em dores agonizantes. Rapidamente Hércules partiu as cadeias e libertou o sofredor.

Voltando sobre seus passos, Hércules voltou por onde viera. Quando mais uma vez
alcançou o mundo dos vivos, lá encontrou seu Instrutor.

“A luz agora brilha no mundo das trevas”, disse o Instrutor. “O trabalho está feito.
Agora descansa, meu filho”.

Prólogo

O signo de Capricórnio, diz o Tibetano, é um dos mais difíceis signos sobre os quais
escrever e é o mais misterioso de todos os doze. Vimos que assim era. Mesmo o
símbolo do signo jamais foi corretamente desenhado, porque seu correto contorno
produziria um influxo de força que seria indesejável; também este símbolo é algumas
vezes chamado a “assinatura de Deus”.

No sopé da montanha, o bode, o materialista, procura nutrir-se em lugares áridos. O


bode expiatório no caminho para o alto encontra as flores do desejo realizado, cada
uma com seu próprio espinho de saciedade e desilusão. No topo da montanha o bode
sagrado vê a visão e o iniciado aparece. Em outros escritos os símbolos são o bode, o
crocodilo e o unicórnio.

Um mito põe a ênfase na descida aos infernos para libertar a humanidade (na figura do
torturado Prometeu). Outro lista mais a Cérbero, alguns matando-o, outros trazendo-o
à terra. Nós submetemos essas variações à consideração do seu significado espiritual
pelo leitor.

Lembramos que, de acordo com o Credo, Jesus Cristo “desceu ao inferno”. Por que?
Certamente porque seu amor todo-inclusivo cobria as assim chamadas “almas
perdidas”, uma vez que se diz que o Cristo preocupa-se com toda a humanidade até
que o último dos “pequeninos” tenha retomado ao lar.

E quem somos nós para interpretarmos a “assinatura de Deus”? Humildemente nós


submetemos esses pontos à reflexão. Dizem que é em seus joelhos que os
Capricornianos oferecem o coração e a vida à alma e só então, quando autoiniciado,
pode-se confiar-lhes os segredos da vida e dos poderes superiores.

101
Interpretação do Trabalho em Capricórnio

Há dois portões de importância dominante: Câncer, no que erroneamente chamamos


vida, e Capricórnio, o portão para o reino espiritual. Capricórnio, o portão através do
qual nós finalmente passamos quando não mais nos identificamos com o lado forma da
existência, mas nos tornamos identificados com o espírito. É isto que significa ser
iniciado.

Um iniciado é uma pessoa que não põe mais sua consciência em sua mente, ou
desejos, ou corpo físico. Ele pode usá-los, se quiser; e o faz para ajudar toda a
humanidade, mas não é neles que focaliza sua consciência. Ele está focalizado no que
chamamos a alma, que é aquele aspecto de nós mesmos que está livre da forma. É na
consciência da alma que finalmente funcionamos em Capricórnio, conhecendo-nos
como iniciados e entramos nos dois grandes signos universais de serviço à
humanidade. Pois é interessante que, em Aquário, estamos lidando simbolicamente
com animais em massa, pois naquele signo Hércules teve a tarefa de limpar as
estrebarias de Augias, seu primeiro trabalho como um discípulo mundial. Mas em
Peixes ele captura, não o touro, mas todos os bois, introduzindo em nossa consciência
a ideia da universalidade do trabalho mundial, da consciência grupal, da consciência
universal e do serviço universal.

Se você nasceu no signo de Capricórnio, por favor não fique com a ideia de que seja
um iniciado. Os aspirantes sofrem de um complexo de inferioridade que os faz sentir
que não são capazes de fazer coisa alguma, ou têm uma ideia exagerada de sua
importância; eles têm um toque de consciência da alma, mas só um leve toque, que
eles pensam ser a coisa toda e eles ficam inflados. Isto não mostra nenhum senso de
proporção.

Este signo simboliza a terceira iniciação, a primeira das iniciações principais. Em Mateus
17 nós lemos que o Cristo levou três discípulos, Pedro, Jaime e João, até o alto da
montanha e se transfigurou diante deles. Eles caíram com as faces no chão e Pedro
disse, “vamos construir três cabanas”. Na filosofia hindu isto se chama “a iniciação do
homem que constrói sua cabana”. Pedro, uma rocha ou fundação, é o símbolo do corpo
físico. Jaime, o enganador, simboliza a natureza emocional, a fonte de toda miragem.
João simboliza a mente, o nome significando “O Senhor falou”. Ali vocês têm o
simbolismo dos três aspectos da personalidade, em suas faces diante do Cristo
glorificado, em Capricórnio durante sua transfiguração.

Significados do Signo

Este é o signo do bode; é um signo supra-humano, um signo universal e impessoal.


Todos os trabalhos de Hércules até aqui estiveram relacionados com a sua própria
libertação. Agora entramos nos três signos que não têm relação com suas conquistas
pessoais. Ele está livre. Ele é um iniciado, um discípulo mundial. Ele passou pelo
Zodíaco várias vezes, aprendeu todas as lições dos signos e escalou a montanha da
iniciação; ele se transfigura; ele está perfeitamente livre e assim pode ocupar-se
universalmente nos trabalhos que já não têm qualquer relação consigo mesmo. Ele
trabalha como um ser supra-humano em um corpo humano. Os grandes estágios do
desenvolvimento no caminho da expansão, que nós chamamos de iniciações, são
registrados no cérebro e não serão relatados a vocês por ninguém mais. Nunca
encontrei um verdadeiro iniciado que admitisse sê-lo, jamais. O sinete do iniciado é o
silêncio. Capricórnio é um signo triste, é o signo do sofrimento intenso e da solidão,
pois estas também são as características do iniciado.

102
A impessoalidade está baseada numa conquista fundamental da personalidade. Isso é
um paradoxo, mas não há conquista em ser impessoal, se não houver a tentação de ser
pessoal. A impessoalidade que devemos desenvolver é uma expansão do amor pessoal
que nós temos por um indivíduo, por nossa família, nosso círculo de amigos, até
exatamente a mesma atitude pela humanidade, mas nada tem a ver com o
sentimentalismo. Podemos amar toda a humanidade porque conhecemos o significado
do amor pessoal e devemos oferecer a todos este mesmo amor, que déramos aos que
nos eram próximos. A impessoalidade não é nos fecharmos em nós próprios; é amar a
todos porque nos tornamos capazes de ver as pessoas como elas realmente são, com
suas faltas, seus fracassos, suas conquistas, tudo que irá fazê-los ser o que eles são e,
vendo-os com clareza, amá-los da mesma maneira. Nas Regras do Caminho está
escrito: “Cada um vê e conhece a vilania de cada qual. E contudo não há, com essa
grande revelação, caminho de volta, rejeição recíproca”. Essa é a condição a ser
alcançada em Capricórnio. Aquilo que temos de desenvolver não vem pelo
endurecimento do coração, nem pelo tremendo desapego, nem por escalar um
pedestal.

O discípulo mundial faz não só o que Hércules fez, descer ao inferno para vencer
Cérbero, mas ele trabalha entre os homens o tempo todo, interessado em seus
semelhantes. Ele é impessoal. Pergunto-me se essa impessoalidade não se refere a nós
mesmos em vez de a outras pessoas. Falamos em sermos impessoais em nosso
procedimento. Se fôssemos bem impessoais ao lidar conosco mesmos, nossas reações
para com nossos semelhantes seriam perfeitamente corretas.

Constelações

Há três constelações ligadas com o signo de Capricórnio. Uma é Sagitta, a flecha. Não
tem qualquer relação com Sagitário. Naquele signo, tivemos o arqueiro com a flecha
com a qual o aspirante buscando a conquista, atingia a personalidade. Aqui, temos a
flecha que vem de uma fonte cósmica, penetrando o coração do filho de Deus,
chamado Cristo, o mais próximo a nós dos grandes salvadores mundiais, “um homem
de dores e acostumado com o sofrimento”. Ele foi atingido pela flecha Sagitta, a flecha
cósmica.

O nome hebraico para esta flecha significa “o desolado” e o caminho que todo discípulo
trilha é necessariamente solitário. O caminho do iniciado é mais solitário ainda. O
caminho do um salvador mundial é o mais solitário de todos. Penso que esta condição
será aliviada. No decorrer das idades tivemos esses tremendos resultados, um aqui
outro ali. Vocês já consideraram a solidão deles? Ninguém os compreende. Talvez
fossem canonizados centenas de anos depois de terem morrido. Mas agora há tantos,
tantos aspirantes, tantos no caminho do discipulado, que talvez a consciência grupal
que está começando a se demonstrar nos assuntos mundiais resulte em uma solidão
grupal em vez uma solidão individual.

Aquila, a águia, é considerada como sendo tão intimamente relacionada com


Capricórnio como com Sagitário. Temos o pássaro da luz (símbolo do mais elevado
aspecto do homem) se manifestando como alma (o segundo aspecto) que conquistou.
Em Delphinus temos uma constelação muito interessante que contém um interessante
simbolismo. Ela é representada em um antigo zodíaco com um peixe cheio de vida
saltando da água para o ar e brincando. Aquele é o símbolo do filho (Deus que,
trabalhando sob a lei, toma forma e vive na água e no ar; uma vez que ele não é mais
mantido pela lei física, pode jogar com as forças da natureza. Estamos começando a
aprender sobre essas força, mas levará algum tempo até que Delphinus, o golfinho,
tenha muito significado pessoal para nós.

103
A Escalada da Montanha

Capricórnio relata a história da escalada da montanha e da descida ao inferno. Há três


grandes ascensões de cada alma. A Maçonaria, ao longo da história, tem sido uma
guardiã desta tradição. Primeiro, há elevação da matéria ao paraíso. Encontramos isso
em Virgem. Depois, há a elevação da natureza psíquica que está sob o diafragma. Você
já não é emocional nem egocêntrico, vivendo no plexo solar, mas sim focalizado no
coração e consciente do grupo; seus sentimentos desejos estão relacionados com o
grupo.

Você não vive mais na natureza animal, interessado na criação do plano físico, mas
você se torna uma criatura espiritual trabalhando na matéria mental. Você já não fica
preso à forma, mas a terá de tal maneira manipulado que a terá elevado à consciência
da cabeça e da cabeça é possível controlar sua garganta, seu coração, seu plexo solar e
qualquer parte do seu corpo. Você faz isso, não centralizando-se neles, não pensando
neles, mas vivendo como um consciente filho de Deus sentado no “trono entre as
sobrancelhas”, o centro ajna (ou hipófise) como os hindus o chamam. Essa é a segunda
grande ascensão.

A ascensão final é a que marca a emancipação do iniciado de muito alto grau que se
torna conscientemente um salvador mundial. Mas é a segunda iniciação, a elevação da
natureza psíquica inferior, na qual temos de trabalhar de modo que cada desejo, cada
estado de ânimo e toda emoção sejam elevados aos “Céus”.

Preparação para a Descida ao Hades

Havia três coisas que Hércules tinha de fazer antes de começar a descida ao inferno. A
ordem em que elas vieram é interessante. Primeiro, ele teve de purificar-se. Hércules,
o filho de Deus que havia triunfado, que se havia transfigurado, estava descendo ao
inferno para trabalhar e a palavra veio para purificar-se. Ele pensava que era muito
puro. Como ele se submeteu ao processo de purificação, não ficou relatado, mas tenho
a ideia de que ele tinha de demonstrar a libertação da irritabilidade e do egoísmo
naquele interessante círculo onde ele estava vivendo como um ser humano. É uma
regra no ocultismo que, na escada da iniciação, se você não puder viver puramente em
seu próprio círculo familiar, você de nada serve no céu ou no inferno. Que quero dizer
com “puro”? Usamos a palavra particularmente em seu sentido físico, mas “puro”
realmente é libertação das limitações da matéria. Mas se eu de alguma maneira estiver
aprisionado mesmo que por minha mente, que é uma forma de matéria sutil, eu não
sou puro. Se eu tiver quaisquer emoções egoístas, não sou puro. Hércules teve de se
purificar.

Então lemos que ele teve de ser iniciado nos mistérios. Na medida em que posso
entendê-lo, (e posso estar errado), isto significa que você atravessa o seu próprio
inferno antes que possa atravessar o inferno universal. Você tem um momento terrível
em sua própria vida e você é iniciado ao se dirigir para o seu próprio inferno. Você
aprende a natureza do universal pela experiência individual; somente isso é a
realização. Não se pode aprender por ouvir dizer.

Como tem acontecido antes nos mitos, Hércules teve então de fazer pausa e praticar
um ato de serviço antes de poder avançar sobre Cérbero. Ele viu duas pessoas
amarradas e sendo atacadas indefesas. Ele teve de resgatá-las antes que pudesse
tratar de seu próprio problema. Sempre para o iniciado o serviço vem primeiro; o
abandono do que ele se dispôs a fazer, se há necessidade de ajudar. Essa é a história
do iniciado sempre, porque está baseada na consciência grupal.

104
O Símbolo de Cérbero

Cérbero, o cão de três cabeças, com um tremendo latido, com serpentes crescendo em
todo o seu corpo e uma outra como rabo, era o guardião do Hades. As três cabeças
simbolizam a sensação, o desejo e as boas intenções. E o amor às sensações que leva a
humanidade de um lado para outro para satisfazer à fome no mundo econômico ou
para satisfazer o desejo de felicidade em um mundo de prazer. Os violentos impactos
da sensação são buscados para manter a mente ocupada.

Hércules buscou atingir em primeiro lugar a cabeça central porque ela era a mais
importante, uma vez que o desejo subjaz a todas as sensações; é o que o desejo
procura expressar e assim ganhar satisfação no mundo exterior. A terceira cabeça é a
das boas intenções que não passam da intenção. Assim, tem-se no centro o desejo, em
um lado a sensação exemplificando todos os impactos, e do outro lado a terceira
cabeça, das boas intenções jamais concretizadas, pelo que, desde há muito se diz que:
“O inferno está cheio de boas intenções”.

O rabo feito de serpentes representa todas as ilusões que impedem o progresso da vida
espiritual; o materialismo que nos detêm no nível inferior da existência; a natureza
psíquica inferior, que causa tanta destruição; o medo, sob qualquer manifestação; o
medo do fracasso, que impede tantos de agirem, criando somente a inércia, a grande
falta, dizem-nos, de aspirantes e discípulos.

Hércules agarrou Cérbero pela cabeça central e o dominou, porque todos os deuses-sol
estão ocupados com os problemas da humanidade e porque, desolados, eles descem ao
inferno para salvar a humanidade; por isso todos os deuses-sol são nascidos em
Capricórnio. (Conferência de A.A.B. condensada e publicada)

Epílogo

A grande oscilação em Capricórnio é resumida pelas palavras-chave. Na roda ordinária


estas são, “E a palavra disse: que a ambição governe e que a porta fique toda aberta”.
Esta é a chave para o impulso evolutivo e o segredo do renascimento (O Tibetano).
Quando um verdadeiro senso de realidade se superpõe tanto à ambição espiritual
quanto à material, o homem pode dizer com autenticidade, “perdido estou na luz
divina, contudo, àquela luz eu volto minhas costas”. Assim segue o discípulo mundial,
iniciado em Capricórnio, em seu caminho para servir a humanidade em Aquário.
Naquele signo ele limpa os estábulos de Augias (do carma de toda a ignorância e erros
do passado, o Morador do Umbral) e assim se torna em Peixes um salvador mundial.
Lembramos que o último ato do Cristo em seu caminho para o Gethsemane e o Calvário
foi lavar os pés de seus discípulos.

Foi dito: “O Cristianismo não falhou: nunca se tentou pô-lo em prática”. Estaremos
agora, depois de dois mil anos, realmente tentando experimentá-lo, individualmente e
na formação do grupo? Este é o trabalho que torna possível ao Cristo reaparecer, e
também que prepara a humanidade para reconhecê-lo e ser capaz de suportar a
qualidade das emanações que aguardam sua vinda. (Ampliação da Astrologia Esotérica, p. 153-
174)

Que todo homem se lembre de que o destino da humanidade é incomparável e que ele
depende grandemente de sua vontade de colaborar na tarefa transcendental. Que ele
se lembre de que a lei é, e sempre foi, lutar; e que a luta não perdeu nada de sua
violência por ser transposta do plano material para o espiritual. Que ele se lembre de
que sua própria dignidade, sua nobreza como um ser humano, deve emergir de seus
esforços para se libertar de sua servidão e para obedecer a suas aspirações mais
profundas. E que ele, acima de tudo, jamais se esqueça de que a centelha divina está
105
nele, só nele, e que ele está livre para desconsiderá-la, matá-la, ou se aproximar de
Deus mostrando seu entusiasmo para trabalhar com Ele, e para Ele. Le Comte du Noüy

106
11º Trabalho: Limpeza dos Estábulos de Augias
(Aquário, 21/Janeiro - 19/Fevereiro)

O Mito

No Lugar de Paz do Grande Ser Que Presidia jorrou a irradiação do seu pensamento
exaltado. O Instrutor se aproximou.

“A chama singular deve acender as demais quarenta e nove”, afirmou o Grande Ser
Que Presidia.

“Que assim seja”, respondeu o Instrutor. “Tendo acendido sua própria lâmpada,
Hércules devia agora trazer a Luz aos demais”. Não muito depois o Instrutor convocou
Hércules.

“Onze vezes a roda girou, e agora estás diante de outro Portão. Por muito tempo
perseguiste a luz que tremeluzia, primeiro de maneira incerta, depois aumentando até
tornar-se um firme farol, e agora brilha para ti como um sol brilhante. Agora volta tuas
costas para o brilho; inverte teus passos; volta para aqueles para quem a luz é apenas
um ponto de transição e ajuda-os a fazê-la crescer. Dirige teus passos para Augias,
cujo reino deve ser limpo do antigo mal. Eu falei”.

Hércules dirigiu-se para o décimo primeiro Portão e o cruzou, em busca de Augias, o


rei.

Quando Hércules se aproximou do reino onde Augias governava, um terrível mau cheiro
que o fez quase desmaiar, feriu suas narinas. Durante anos, ele ficou sabendo, o Rei
Augias jamais fizera limpar o excremento que seu gado deixava nos estábulos reais.
Então, os pastos também estavam tão adubados que nenhuma colheita crescia. Em
consequência, a pestilência varria o país, devastando vidas humanas.

Para o palácio, então, dirigiu-se Hércules e procurou pelo próprio Augias. Informado de
que Hércules vinha limpar os fétidos estábulos, Augias confessou sua dúvida e
descrença.

“Dizes que farás esta imensa tarefa sem recompensa?” Declarou o Rei
suspeitosamente. “Não confio naqueles que anunciam tais bazófias. Hás de ter algum
plano astucioso que arquitetaste, oh Hércules, para me roubar o trono. Jamais ouvi de
homens que procuram servir ao mundo sem recompensa. Nunca ouvi. A esta altura,
contudo, eu de bom grado acolheria qualquer tolo que procurasse ajudar. Mas deve ser
feito um trato, para que não zombem de mim como sendo um rei bobo. Se tu, em um
único dia, fizeres o que prometeste, um décimo de todo o meu rebanho será teu; mas
se fracassares, tua vida e teus bens estarão em minhas mãos. Não penso que possas
cumprir tuas bazofias, mas podes tentar”.

Hércules então deixou o Rei. Ele vagou pela pestilenta área, e viu uma carroça passar
empilhada com cadáveres, as vítimas da pestilência.

Dois rios, ele observou, o Alfeu e o Peneu, fluíam mansamente pela vizinhança.
Sentado à beira de um deles, a resposta a este problema lhe veio à mente como um
relâmpago.

Com determinação e força ele trabalhou. Com enorme esforço ele conseguiu desviar
ambas as correntes dos cursos seguidos por décadas. Ele fez com que o Alfeu e o
107
Peneu derivassem suas águas através dos estábulos cheios de esterco do Rei Augias.
As torrentes assim aumentadas e aceleradas limparam a imundície por tanto tempo
acumulada. O reino foi limpo de toda a sua fétida treva. Em um único dia foi cumprida
a tarefa impossível.

Quando Hércules, bastante satisfeito com seu resultado, voltou a Augias, este último
franziu a testa.

“Conseguiste êxito com um truque”, berrou de raiva o Rei Augia. “Os rios fizeram o
trabalho, não tu. Foi uma manobra para me tirar meu gado, uma conspiração contra
meu trono. Não terás uma recompensa. Vai, sai daqui ou mandarei decapitar tua
cabeça!”

O enraivecido rei assim baniu Hércules e o proibiu de jamais voltar ao seu reino, sob
pena de morte imediata.

Hércules cumpriu a tarefa que lhe fora acometida, o filho do homem que também era o
Filho de Deus voltou para seu ponto de partida.

“Tu te tornaste um servidor mundial” disse o Instrutor quando Hércules se aproximou.


“Avançaste ao recuares; vieste à Casa da Luz por outro caminho; gastaste a tua luz
para que a luz dos outros pudesse brilhar. A joia que o décimo primeiro Trabalho dá é
tua para sempre”. Francis Merchant

As Energias de Aquário
(Conferência de A.A.B. em 1937)

Há uma expressão no Novo Testamento, “O fim do mundo”. Está começando a


despertar em muitos de nós que o que isso realmente significava era que o signo de
Peixes, no qual o Cristo, o Grande Salvador Mundial, veio, terminaria em uma ocasião
especial, e que estamos exatamente neste tempo, agora. Estamos agora enfrentando
um dia do julgamento no qual os carneiros e os bodes serão divididos e alguns irão
para o céu e outros para o inferno. Muitas ridículas interpretações foram aplicadas ao
simbolismo da Bíblia.

Pensou-se que os carneiros iam para o céu e os bodes para o inferno. É precisamente o
inverso.

O bode em Capricórnio é o iniciado e de certo ângulo esotérico os bodes efetivamente


vão para o céu porque eles atuam no reino espiritual que é o paraíso; os carneiros
permanecem na terra (que afinal de contas é o único inferno que se pode
possivelmente predicar) até não haver mais carneiros, até que aprendam a ter um
pensamento individualizado, tornarem-se bodes, escalarem a montanha e mudar a
posição, de seguidores para a de buscadores independentes.

A entrada no paraíso é a entrada na Era de Aquário, iniciada durante os últimos 200


anos. Diz-se que em torno do ano 2000 nossa estrela polar e outra estrela (Vega) nos
céus estarão em conjunção recíproca e que a era de Aquário estará plenamente
conosco, mas só plenamente conosco no sentido de que estaremos entrando nela e as
forças de Peixes estarão recuando rapidamente. Tudo que transpira na expressão física
do plano é devido às forças subjetivas.

Existe uma escola de pensamento que rastreia todos os mistérios, todos os


ensinamentos que nós agora estamos chamando de Sabedoria Eterna, até uma forma
de adoração animal e mistérios do templo de uma maneira sórdida e sexual. Não

108
entrarei em detalhes, mas quero dizer-lhes que é de interesse vital entender o que
penso, porque é algo na Era de Aquário que estará emergindo em sua plenitude agora.
É uma coisa estar sujeito a uma força cega, outra é fazer uma avaliação inteligente
sobre o que está acontecendo e compreender certas ocorrências. Talvez pela primeira
vez na história da humanidade haja um número suficiente de homens e mulheres
inteligentes para antecipar acontecimentos com uma compreensão baseada no que
transpirou no passado, assim capacitando-os para antecipar o que irá acontecer no
futuro.

Quê causou a adoração do boi em Touro? Não a natureza bestial da humanidade - que
tomou o boi como um símbolo da natureza animal e a deificou - como afirma o ser
humano comum que investiga os mistérios. É porque havia forças subjetivas atuando
sobre nosso planeta quando o nosso sol passava pelo signo de Touro. A lição para o
homem é que sob o símbolo do boi ele teve de lutar com o animal nele mesmo.

Depois nosso sol passou para Áries, o Carneiro, e nós tivemos o sacrifício deste animal,
mostrando que o sacrifício da natureza animal estava começando a tornar bem
sucedido o conceito de lutar com a natureza animal.

Depois, o sol passou para Peixes. As forças que atuaram em nosso planeta naquele
tempo trouxeram à consciência do homem sua dualidade essencial e o elo entre as
duas partes dele próprio, dois peixes ligados por uma banda. Essa consciência começou
a fazer seu impacto em larga escala sobre o ser humano, i. e., a noção de que ele é
alma e corpo. O Cristo veio em Peixes para nos demonstrar perfeitamente qual seria
nossa conquista última ao ligarmos aqueles dois, o peixe, o símbolo da segunda
pessoa, o peixe Avatar e o peixe nadando na matéria, o símbolo do ser humano
encarnado. Eis a história.

Tendo acompanhado aquele maravilhoso, idealista e evolucionário ensinamento ao


longo dos últimos cinco a seis mil anos como o resultado das forças subjetivas atuando
sobre a humanidade, estando agora passando para o signo de Aquário onde, através do
simbolismo da água e da purificação, aprenderemos como ser alma e não ser humano.
É isso o que vai acontecer em Aquário.

No fim da era de Aquário, daqui há aproximadamente 2500 anos poderão vocês avaliar
como será a humanidade? A natureza animal, natureza emocional e a mentalidade
serão secundários e a alma, o aspecto consciência, aquele impulso universal em cada
um de nós que nos põe em relação com Deus, terá passado à frente. Colocando a cois
de outra maneira, teremos deixado para trás o reino humano e embora possamos estar
habitando corpos, nossa consciência estará focalizada no quinto reino da natureza, o
reino espiritual. Essa é a profecia, o que espera a humanidade dentro de 2500 anos.

O signo em oposição a Aquário é Leão, o signo do indivíduo, o homem que se descobriu


como sendo um ser humano. Ele se pôs de pé ele era o centro do seu universo; as
estrelas giravam à sua volta, tudo aconteceu relacionado com ele. Assim ele aprendeu
certas grande; lições: que talvez ele não fosse tão importante quanto ele julgava, e
que, sujeitando-se a certo treinamento, ele poderia encontrar um ego maior; e assim
ele passou por Escorpião, onde foi testado para ver o grau de sua persistência. A
característica predominante do aspirante é a paciência e o signo que faz principal apelo
à paciência é escorpião. Ele triunfa em Escorpião, e em Sagitário ele se torna o
discípulo uni-direcionado que, tendo posto a mão ao arado, não pode recuar; ele pode
querer, mas não consegue. Ele avança, e porque prossegue, ele escala até o topo a
montanha em Capricórnio e se transfigura.

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Em Aquário o discípulo se toma um mestre servidor. Abordaremos o tema dos
salvadores mundiais em Peixes. Em Aquário o homem é um mestre servidor. Esta é a
nota-chave que desejo que conservem em suas mentes. Ele pode ser um mestre
porque aprendeu a servir, e ele pode servir porque é um mestre. As duas coisas
seguem juntas.

As Marcas do Iniciado

Hércules sendo o iniciado deveria fazer três coisas, que podem ser resumidas como as
características principais de todos os verdadeiros iniciados. Se não estiverem presentes
em alguma medida, o homem não é um iniciado.

1. Serviço impessoal. Este não é o serviço que prestamos porque nos dizem que o
serviço é um caminho de libertação, mas o serviço prestado porque nossa consciência
não é mais centrada em nós mesmos. Não estamos mais interessados em nós mesmos
e sim, nossa consciência, sendo universal, nada há a fazer, senão, assimilar os
problemas de nossos semelhantes e ajudá-los. Para o verdadeiro Mestre de Aquário
isso não representa esforço.

2. Trabalho grupal. Isto é alguma coisa sobre a qual ainda pouco sabemos. O mundo
está cheio de organizações e sociedades, fraternidades que ficam felizes em dar
oportunidade de treinamento a pessoas ambiciosas. Não quero dizer para não serem
bondosos, mas minha experiência com o grupo comum é que ele é um canteiro de
ciúmes, de pessoas tentando impressionar as outras com a quantidade de
conhecimento e a maravilha de suas vidas de autossacrifício. Isto não é trabalho
grupal.

O trabalho grupal é permanecer sozinho espiritualmente na manipulação dos assuntos


pessoais, esquecendo completamente de si mesmo no bem-estar do particular
segmento da humanidade ao qual está associado. Ele nega a ambição; ele nega o
progresso vertical em qualquer loja ou organização; ele nega qualquer pretensão a
assumir prerrogativas oficiais. Não penso que os novos grupos terão quaisquer
administradores burocratizados, mas trabalharão automaticamente devido ao
intercâmbio espiritual institucional entre as mentes das unidades nos grupos. Nada
sabemos a respeito, por enquanto.

Vocês serão capazes de pensar de um grupo tão unido em níveis espirituais que cartas,
panfletos, livros, etc., possam ser eliminados; que a intercomunicação entre as mentes
dos membros do grupo seja perfeita? Esse é o grupo Aquariano, e ele não está conosco
por enquanto.

3. Autossacrifício. O significado do autossacrifício é tornar o ego sagrado. Isto lida com


o ego do grupo e o ego do indivíduo; esse é o trabalho do iniciado.

Do topo da montanha em Capricórnio, Hércules tem de descer, literalmente até a


sujeira da matéria e limpar as estrebarias de Augias. Quero dar-lhes uma ideia de sua
psicologia. Ele havia escalado até o cume da montanha. Ele havia passado todos os
grandes testes, passando de Capricórnio para o reino espiritual e conheceu algo do
significado do êxtase místico, e naquele elevado estado espiritual ele recebeu a palavra
para descer e limpar os estábulos. Que anticlímax! Nenhum grande trabalho mundial,
mas limpar estábulo!

O objeto do teste pode ser resumido desta maneira: Hércules tinha de ajudar na
limpeza do mundo pela direção certa das forças da vida através desse mundo. Vocês
avaliam que estamos entrando na era de Aquário onde o materialismo, tal como o

110
conhecemos, terá completamente desaparecido ao seu final e quando a vida toda será
interpretada em termos de energias. Estamos lidando inteiramente com forças.
Teremos provavelmente uma nova linguagem, a linguagem simbólica da própria
energia. Nós seremos todos ocultistas práticos, o ocultista que vive e trabalha num
mundo de forças e que começa com as forças dentro de si mesmo. Você terá uma
pequena compreensão do que significa lidar com as forças se você observar sua fala.
Por que você eleva sua voz ao se emocionar? Porque a energia que percorre você tem
efeito sobre seu aparelho vocal. Você lida com energias e as está usando mal. Observe-
se e comece a trabalhar no mundo das forças dentro de si mesmo.

Este signo inaugura a escola dos salvadores mundiais. É quase um signo de “João
Batista”, um signo de preparação para o que a era de Peixes seguinte irá introduzir.

Aquário é descrito como um homem sustendo um vaso invertido. O homem vira o vaso
e verte duas correntes de água, o rio da vida e o rio do amor, e essas duas palavras,
vida e amor, são as duas palavras que encarnam a técnica da era de Aquário; não a
forma, não a mente, mas vida e amor. Duas palavras que nós usamos constantemente,
mas que, de volta, não sustentam qualquer conceito adequado.

Decanatos, Regentes e Constelações

Aquário, como outros signos, está dividido em três decanatos. Estamos agora entrando
no primeiro decanato governado por Saturno, daí nossas atuais dificuldades, nossa
perturbação política, a divisão do estágio mundial em grandes grupos, com pessoas que
são nacionalistas, patriotas e aqueles que estão começando a visualizar o espírito
internacional. Nas igrejas, no campo religioso, novamente a divisão, entre aqueles que
estão obtendo um quadro da universalidade do amor de Deus e aqueles que se curvam
à autoridade e ao dogma.

No campo da economia, um tremendo turbilhão é provocado por Saturno, entre aqueles


que se curvam às coisas materiais e aqueles que as estão deixando ir para obter as
coisas melhores; entre aqueles que avançam nas posses para si próprios, aqueles que
acumulam e mantêm, e aqueles que deixam ir para adquirir o que o Cristo chama de
“tesouros nos céus”. Em quase todos os campos do pensamento nós encontramos
aquelas duas forças compulsivas devido ao impacto das energias de Peixes e Aquário.
Há dois grupos diversos: os que estão amarrados ao passado e ao aspecto material, e
os que estão alcançando a visão e vendo a vida, a consciência, o propósito e o plano
emergindo por intermédio deles todos.

Se vocês estudarem o mundo intuitivamente, se se mantiverem em dia com o que está


acontecendo nesta e em outras partes da humanidade, a coisa maravilhosa é que vocês
verão que, em que pesem os distúrbios superficiais e acontecimentos diários, o espírito
do homem é saudável e puro, está-se elevando para a ocasião e nós estamos
progredindo, mas não pensem que será em uma semana ou em um ano! Poderemos
conseguir melhores condições, melhoramentos aqui, acolá e em toda parte. Depende
de nós com que velocidade aprenderemos a lição de como não atrapalhar, para que a
era de materialismo e de autoritarismo de Peixes, da possessão e mentalismo possa ser
ultrapassada pela era da espiritualidade, da intuição e da consciência universal.

O segundo decanato de Aquário é governado por Mercúrio, e do presente tempo virá a


iluminação. A iluminação que veio em Leão, o oposto de Aquário era “Eu sou o ego”, a
iluminação a que chamamos de consciência do ego. A iluminação vindo em Aquário é
“Eu sou Aquilo”, eu sou a consciência grupal. Minha consciência pessoal foi deixada
para trás, minha individualidade não tem importância, minha personalidade é somente
um mecanismo, e minha consciência se toma una com tudo que existe.

111
No terceiro decanato, governado por Vênus, temos a emergência do amor inclusivo.
Dentro de 2000 anos poderemos realmente expressar o amor fraternal. Será, terá de
ser, um fato manifesto, até que a humanidade como um todopossa passar para
Capricórnio.

Eles entrarão naquele signo com um espírito amoroso. O aspirante individual não pode
ser iniciado antes que ele tenha aprendido a amar desinteressadamente, a amar não só
aqueles que pensam como ele e agem como ele deseja.

Os Legisladores

Há dois legisladores no Zodíaco, Regulus e Kefus. Em Leão temos só uma das quatro
estrelas reais, Regulus o legislador, a lei para o indivíduo, a lei do egoísmo, se
quiserem, a lei da competição, a lei que lança todo homem contra seu semelhante, a lei
que o faz buscar e apoderar-se das coisas, a lei sob a qual nós vivemos, a lei da
competição.

Regulus, a lei do indivíduo, tem de dar lugar a Kefus, a lei de Aquário, onde teremos
uma nova lei baseada no sofrimento, na iluminação e no amor. Seria interessante ver
até onde você mesmo pode abarcar o que serão aqueles tipos de lei, baseadas no
sofrimento do indivíduo que o levou a perder interesse em si próprio. Quando você
sofreu bastante você não se importa mais consigo mesmo. Você descobre que o único
caminho para a felicidade é não estar livre do sofrimento, mas perder-se em algo fora
de você mesmo.

A lei Aquariana é baseada na iluminação espiritual, na percepção intuitiva e no amor


fraternal que é a identificação com toda forma em cada reino na natureza. Um imenso
futuro jaz à frente: dois mil e quinhentos anos terão sido consumados. Estamos a
caminho.

Lembrem-se, quanto mais rarefeitas as formas pelas quais a vida atue, tanto mais
rápida a reação. É por isso que temos essa tremenda velocidade em cada aspecto da
vida, por que estamos todos tão amarrados. Nós temos corpos de Peixes e estamos
tentando vibrar na era de Aquário. Nós ainda não somos Aquarianos; não há
aquarianos verdadeiros; ainda não estamos equipados. Para essa era, algumas das
crianças que estão chegando têm o sinal, mas mesmo essas são poucas e distantes,
umas das outras.

A era de Aquário vai manifestar-se em todo o mundo; haverá aquarianos nascendo em


toda parte porque há a elaboração do espírito subjetivo em toda parte do planeta. E
possível que na América, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul haja pontos
focais de energia, mas o que realmente acontecerá é a encarnação, em todo o mundo,
em todo reino da natureza, daqueles seres humanos e de outras formas de vida, todos
emergindo sob a nova influência de Aquário. Algo maravilhoso está ocorrendo;
aprontemos o mundo para que nossos filhos, e os filhos dos filhos de nossos filhos,
possam vê-lo acontecer.

Cristo emitiu a nota “para o final do tempo”, quando ele disse, “Um novo mandamento
eu vos dou, que vos ameis uns aos outros”. O décimo primeiro Mandamento, o décimo
primeiro signo. Somente agora é que vocês estão descobrindo que maravilhoso
astrólogo era Cristo. Ele sabia que o ciclo que ele estava inaugurando acabaria, que um
novo método de trabalho teria de emergir pelo qual os Mestres empregariam um novo
modo de alcançar a humanidade, mas ele preparou o caminho para seu próprio
trabalho posterior.

112
Há três constelações em Aquário. O Peixe Meridional, Pisces Australis, representando
em conexão com Aquário, a vinda de salvadores mundiais. Notem que aqui, na
culminação de Peixes, temos um peixe, um avatar, não os dois peixes ligados um ao
outro. A segunda constelação é Pégaso, o cavalo alado, sempre o símbolo inspirador da
mente superior, do amor, desdenhando a terra, à vontade em casa, no ar. Em um nível
inferior somos lembrados dos pés alados de Mercúrio, sempre as asas da mente,
lembrando-nos também que uma das definições de amor e “a fria, a clara luz da
razão”. A terceira constelação leva ainda a um voo adiante, pois nós temos Cygnus, o
cisne, voando no meio do céu. O cisne da eternidade, voando no tempo e no espaço, é
o símbolo da própria Vida, as limpadoras, purificadoras “águas vivas” de
Aquário. (Interpolação)

Interpretação do Teste

Augias, o filho de Netuno, o rei das águas e do sol, mantinha rebanhos de animais e
por trinta anos os estábulos não haviam sido limpos de modo que a sujeira se
acumulara. Hércules recebeu a recomendação de fazer algo a respeito; muitas pessoas
haviam tentado limpá-los e haviam fracassado; estava sempre além de suas forças.

Hércules, sendo um iniciado e tendo muito bom senso, o que os verdadeiros iniciados
sempre têm, desceu do alto da montanha e contemplou o problema; ele estudou os
estábulos.

Primeiro, ele derrubou a parede que cercava os estábulos, depois ele fez dois grandes
buracos em seus lados opostos e fez com que dois rios corressem através deles. Ele
não tentou varrer e limpar, como outros haviam feito, mas rompeu as barreiras usando
dois rios. Sem esforço de sua parte, os estábulos foram limpos.

Satisfeito consigo mesmo, Hércules correu a Augias e gritou, “limpei os estábulos. Eles
estão perfeitamente limpos”. E lemos que Augias lhe deu as costas recusou-se a
reconhecer o que havia feito, e disse que aquilo havia sido um engodo.

Poder-se-ia dizer que a natureza emocional do desejo daquela grande Vida em Quem
nos vivemos, nos movemos e temos nosso ser, também conserva rebanhos de animais
que respondem pelo nome de seres humanos!

Para a minha mente, a palavra Deus, quatro letrinhas, é apenas um símbolo. Não quero
fingir saber o que simboliza, mas eu sei que ela representa para mim um símbolo de
uma vida que é imanente em todas as formas e também transcendente. Eu sou um dos
animais do rebanho que foi conservado por Augias, e os estábulos nos quais os animais
viviam não foram limpos por trinta anos, três multiplicado por dez, e três é o número
da personalidade e dez é o número da completação.

E se eu lhes dissesse que agora, em nossos dias, pela primeira vez a humanidade é
uma unidade completa coordenada, com a mente, a natureza emocional e o corpo físico
atuando como uma unidade, e que os estábulos não haviam sido limpos por trinta
anos?

Quais foram as duas coisas que Hércules fez? Ele rompeu todas as barreiras. Essa é a
primeira coisa que tem de acontecer na era de Aquário. Estamos apenas começando a
fazê-lo. Estamos apenas começando a pensar em termos amplos, a deixar de sermos
exclusivos. Emergindo no mundo estão grupos de homens e mulheres, em toda parte,
que estão se empenhando para serem inclusivos em seus pensamentos, porque na era
de Aquário as nações, tal como as conhecemos, terão de desaparecer; nações lutando
umas contra as outras e pelo que elas querem, nações lutando só para si próprias, o

113
cultivo do patriotismo que é frequentemente o cultivo do ódio. Temos de ensinar às
pessoas que elas são seres humanos com certas responsabilidades, sim, mas podemos
começar a obter um quadro maior, a desenvolver a consciência da humanidade como
um todo. Como diz Browning:

“Humanidade composta de todos os homens simples


Em tal unidade o quadro termina.”

Isso é o que vai acontecer em Aquário, é isso que está adiante, é por isso que estão
trabalhando as Nações Unidas, os movimentos internacionais pela paz e outros grupos
nos campos religioso, político e econômico; a derrubada do preconceito e a
aprendizagem do pensar em termos gerais, em globalidades. A derrubada das barreiras
em grande escala tem de ser conseguida pela opinião pública, e isto é de lento
crescimento e grandemente emocional; esse é o problema.

Na era de Aquário, especialmente no segundo decanato, quando Mercúrio, o


mensageiro da alma para o cérebro por intermédio da mente estiver regendo, teremos
a opinião pública modelada pelo pensamento e não pela emoção, e teremos o mundo
cheio de pensadores. A função daqueles que escrevem e pensam segundo essas linhas
- e há milhares por toda parte no mundo - é começar a pensar construtivamente
segundo linhas certas, de modo que as bases serão bem postas para a força poder
penetrar; nós construímos para o futuro.

Uma consciência inclusiva não significa humanidade consciente; é mais, vocês deverão
tornar-se conscientes do tempo. Está chegando a época em Aquário, na qual o
passado, o presente e o futuro passarão todos juntos, e vocês terão o eternamente
presente que incluirá toda esfera e aspecto da consciência a que chamamos de
estritamente humana. Tal é a posição do humanista, como eu a interpreto; ele assume
a posição “Sejamos verdadeiramente humanos” antes de tentarmos ser super-
humanos. Somos agora somente criaturas emocionais, aquosas, fluidas, que por
enquanto são não iluminadas, lutando com a separatividade. Não somos capazes de ser
mundialmente conscientes, de estar em relação com cada fase do pensamento
humano. Sê-lo-emos, algum dia.

Gostaria de fazer uma pergunta: Serão vocês capazes de penetrar inteligentemente,


solidariamente e com compreensão na consciência dos membros mais próximos de sua
família, e saber porque eles pensam como o fazem, compreender porque agem de uma
particular maneira sob uma particular condição? Cultivem o espírito de Aquário de
deixar as pessoas livres, cultivem a capacidade da confiança. Eliminem a desconfiança
de todos a quem se ligarem, creiam neles e eles não os decepcionarão. Imputem
motivos errados e eles os trairão e essa falta será de vocês mesmos. Sejamos tão leais
quanto pudermos com a luz que temos.

Cultivemos o espírito de Aquário da não separatividade, do amor, da compreensão, da


inteligência, livres da autoridade, buscando tirar de cada ser humano com quem nos
deparamos, o melhor que neles existir. E se não souberem fazê-lo, não os culpem e sim
a si próprio. Essa é a verdade. Se alguém interpretar vocês erradamente, é porque
vocês não terão sido claros. A referência a si próprios é sempre necessária em Aquário,
mas não a consciência pessoal que agora conhecemos.

Quando tivermos rompido as barreiras da separatividade, então deixaremos entrar os


dois rios, a água da vida e o rio do amor. Não posso falar sobre esses dois rios porque
não sei o que eles são. Muitos falam sobre a vida e o amor; eles usam palavras. Eu não
sei quê é a vida e nós certamente ignoramos o que seja o amor.

114
E interessante tentar expressar para si mesmos o que vocês compreendem pelo rio da
vida e o rio do amor que, rompendo as paredes, fluem através da família humana.
Estamos progressivamente entrando na era da energia, entrando na era do amor.
Vocês avaliam que grande rombo foi feito nas paredes durante a guerra, e que desde a
guerra, a vida e a energia significam muito mais do que o faziam antes do conflito
mundial?

Quando você tiver feito todo o possível para romper as paredes e expressar a vida e o
amor, ajudado pela própria alma cuja natureza é amor-sabedoria, não espere por
reconhecimento; não os receberá. A dura tarefa do pioneiro em qualquer campo do
pensamento, de qualquer pessoa que está tentando expressar os novos ideais, é
sempre o não reconhecimento e às vezes pior. Você não será louvado, não merecerá
consideração, enfrentará tempos difíceis, mas lembre-se, você está desbastando o
caminho para que no futuro, o ódio e a separação possam acabar.

Gosto de pensar em Aquário como o “signo de João Batista” em termos do iniciado.


Estamos deixando Peixes em um aspecto e somos conduzidos para uma era de Peixes
em um sentido diferente quando o Salvador Mundial vier. E ao considerarmos a era de
Aquário como um signo de João Batista, poderemos olhar para nós mesmos nos
próprios campos em que possamos estar. Em vista da representação cósmica, fazendo
tudo que pudermos neste particular tempo, estaremos cumprindo a função de João
Batista e preparando o caminho para aquele extraordinário acontecimento que terá
lugar individualmente quando o Salvador Mundial novamente emergir e a humanidade
aprender a própria grande verdade e der um passo para frente e para o alto. Alice Bailey

115
12º Trabalho: A Captura do Gado Vermelho de Gerião
(Peixes, 20 de Fevereiro - 20 de Março)

O Mito

Na sagrada Câmara do Conselho, o grande Presidente revelou ao Instrutor a Vontade


do Que Deveria Ser.

“Perdido ele está, e encontrou; morto, contudo vibrante com a Vida. O servidor se
torna o salvador, e se dirige de volta ao lar”.

O Instrutor refletiu; e depois convocou Hércules: “Tu agora estás diante do último
portão”, disse-lhe o Instrutor. “Falta ainda um trabalho para que o ciclo seja completo,
e a liberação conquistada. Vai até aquele lugar sombrio chamado Eriteia onde a Grande
Ilusão está entronizada; onde Gerião, o monstro de três cabeças, três corpos e seis
mãos, é rei e senhor. À margem da lei ele mantém um rebanho de gado vermelho
escuro. De Eriteia deves trazer até nossa Sagrada Cidade, este rebanho. Cuidado com
Euritião, o pastor, e seu cão de duas cabeças, Ortrus”. Ele fez uma pausa. “Mais um
aviso posso dar” acrescentou lentamente, “invoca a ajuda de Hélio”.

Pelo Portão número doze o filho do homem que era também o Filho de Deus partiu. Em
busca de Gerião ele foi.

No templo, Hércules fez oferendas a Hélio, o deus do fogo e do sol. Por sete dias
Hércules meditou, e depois mereceu dele um favor. Um cálice dourado caiu no chão aos
seus pés. Ele sentiu no seu íntimo que esse objeto brilhante o capacitaria a cruzar os
mares para alcançar o país de Eriteia.

E assim foi. Sob a segura proteção do cálice dourado, ele velejou pelos mares agitados
até chegar a Eriteia. Numa praia naquele país distante, Hércules desembarcou.

Não muito longe dali ele chegou a um posto onde o gado vermelho escuro pastava. Era
guardado pelo pastor Euritião e o cão de duas cabeças, Ortrus.

Quando Hércules se aproximou, o cão lançou-se como uma flecha para seu alvo. Sobre
o visitante o animal arremessou-se rosnando ferozmente suas presas tentando alcançá-
lo com violência.

Com um golpe decisivo Hércules derrubou o monstro.

Então Euritião, amedrontado pelo bravo guerreiro que estava diante dele, suplicou que
sua vida fosse poupada. Hércules concedeu- lhe o pedido. Conduzindo o gado
vermelho-sangue adiante dele, Hércules voltou sua face para a Cidade Sagrada.

Ainda não estava muito longe daquelas pastagens quando ele percebeu uma distante
nuvem de poeira que rapidamente crescia. Adivinhando que o monstro Gerião teria
vindo em louca perseguição, ele voltou sua face para o inimigo. Logo Gerião e Hércules
se puseram face a face. Exalando fogo e chamas de todas as três cabeças
simultaneamente, o monstro avançou sobre ele.

Gerião brandia uma lança que quase atingiu Hércules. Saltando agilmente, ele evitou o
mortal ataque.

116
Esticando bem o seu arco, Hércules lançou uma flecha que parecia queimar o ar ao ser
disparada, e atingiu o monstro em seu flanco. Tamanho foi o ímpeto com que fora
lançada, que todos os três corpos de Gerião foram perfurados. Com um guincho
desesperado, o monstro oscilou, depois caiu, para nunca mais se levantar.

Para a Cidade Sagrada, então, Hércules conduziu o lustroso gado vermelho. Difícil foi a
tarefa. Volta e meia alguns bois se desgarravam, e Hércules deixava o rebanho para
procurar aquelas cabeças que se perdiam.

Através dos Alpes ele conduziu o seu rebanho, até a Itália. Onde quer que o mal
houvesse triunfado, ele golpeava as forças do mal com golpes mortais, e corrigia a
balança em favor da justiça. Quando Eryx, o lutador, o desafiou, Hércules o derrubou
tão vigorosamente que ele ali assim permaneceu. Novamente, quando o gigante
Alcioneu lançou sobre Hércules uma rocha que pesava uma tonelada, este último a
deteve com sua clava e a mandou de volta, matando seu agressor.

Às vezes ele perdia o seu rumo, mas sempre se voltava, refazia seus passos, e
prosseguia. Embora exausto por este cansativo trabalho, Hércules por fim voltou. O
Instrutor aguardava sua vinda.

“Benvindo, oh Filho de Deus que é também um filho do homem”, ele saudou o


guerreiro que voltava. “A joia da imortalidade te pertence. Por esses doze trabalhos tu
superaste o humano e te revestiste do divino. De volta ao lar viestes, para não mais
partires. No firmamento estrelado o teu nome será inscrito, um símbolo, para os
batalhadores filhos dos homens, de seu imortal destino. Os trabalhos humanos estão
encerrados, tua tarefa Cósmica começa.”

Da Câmara do Conselho veio uma voz que disse, “bem feito, oh Filho de Deus”. Francis
Merchant

Interpretação da História

Há diversas variações do mito relativas ao trabalho de Hércules no signo de Peixes. É-


nos dito que havia uma ilha onde vivia um monstro humano chamado Gerião, com um
corpo de três homens unidos. Ele tinha um rebanho de vacas vermelhas, guardado por
um pastor e um cão de duas cabeças. Hércules recebeu ordens (Peixes é o signo da
obediência) para trazer aquele rebanho da ilha, através das terras e dos mares, para a
sagrada cidade.

Hércules viajou, velejando até a ilha numa taça dourada e quando lá chegou, ele subiu
até o topo da uma montanha onde passou a noite em oração. Depois matou o cão de
duas cabeças, mas não o pastor. Ele também matou o dono daquelas pastagens. Aqui
está a parte bela da história: Hércules colocou o rebanho inteiro na taça dourada da
qual se utilizara para a vinda, levou-o para a Cidade Sagrada e o ofereceu em sacrifício
a Athena, a Deusa da Sabedoria. Esta cidade sagrada consiste de duas cidades ligadas
por um belo muro e um portão chamado o Portal do Leão. Depois que o gado foi
entregue, acabou-se o trabalho de Hércules. Não ouvimos mais nada a seu respeito,
mas ele pode ter prosseguido para um trabalho cósmico maior.

Pensemos em Hércules como um salvador mundial. Ele tem uma visão de algo que ele
tinha por fazer. Ele vê a humanidade possuída por um monstro, um homem de três
cabeças, o símbolo de um ser humano com os corpos físico, emocional e mental unidos.
Penso que este trabalho ainda não foi completado; esta realização está à frente. Houve
outro filho dos homens selecionado da família humana de tempos em tempos, um aqui,
outro acolá, um grupo aqui, outro ali, como quando o Buda estava na Terra e se diz

117
que ele salvou novecentos. Agora a humanidade, o monstro humano, está pronto para
a salvação e o verdadeiro trabalho do Salvador Mundial pode começar como um todo
com o conceito grupal subjazendo o trabalho, mais do que a alma individual sendo
salva.

O simbolismo do gado vermelho é claramente o dos desejos inferiores, o desejo sendo


sempre uma destacada característica da humanidade. Eles são guardados por um
pastor, que é a mente, o cão de duas cabeças representando os aspectos matéria e
psiquismo. Vê-se porque Hércules poupou o pastor. A mente ainda pode ser o pastor do
gado, mas o cão de duas cabeças, a natureza psíquico-emocional e o aspecto matéria,
Hércules matou, o que significa que foram privados de qualquer poder. O pastor ainda
tinha poder e eu não posso conceber o tempo em que um ser humano em encarnação
não necessite da mente como o intérprete da energia espiritual.

Se Jesus, como um ser humano, ligado à alma, se torna um transmissor da luz para os
filhos dos homens, assim podemos estender o conceito e pensar na humanidade como
um todo com todas as mentes mantidas firmes na luz, transmitindo para os reinos
inferiores da natureza aquela energia espiritual que os levará até o paraíso. Esse é o
trabalho da humanidade. Estamos tão ocupados com nossos próprios problemas que
nos esquecemos do quadro maior. Deve-se anotar, mais uma vez, que o conservador
do rebanho, o aspecto forma, também foi morto, mas o pastor e o gado foram elevados
em uma taça dourada. Aqui temos o Santo Graal e assim o trabalho foi realizado. O
Salvador Mundial havia cumprido suas funções; ele havia elevado a humanidade. Isso é
o que todos os Salvadores Mundiais têm feito. Todos eles fizeram o que, num ponto
maior, o Cristo fez.

Ouvimos sobre o fracasso do Cristianismo. Não vejo fracasso em lugar algum no


Grande Plano. Talvez lentidão, mas vocês sabem quão desastroso seria se a evolução
fosse muito rápida, quão perigoso seria se as pessoas fossem superestimuladas antes
de estarem prontas? Todos os instrutores conhecem os perigos da superestimulação, os
desastres que ocorrem quando se fazem certos contatos antes que o mecanismo esteja
devidamente sintonizado. Os salvadores mundiais têm de trabalhar lentamente, mas o
tempo nada significa para eles.

O termo salvador mundial esteve até agora associado com o pensamento da


emergência de um grande filho de Deus oriundo da casa do Pai, chamado pela
necessidade da humanidade de fazer um grande trabalho. Eles sempre vieram através
dos tempos, habitaram corpos humanos, agiram através de uma natureza emocional e
se mostraram extraordinariamente inteligentes. Por suas vidas, deram um exemplo a
fim de que pudéssemos seguir seus passos; por suas palavras, entoaram a nota, a
mensagem que a humanidade necessitava para dar o passo imediatamente seguinte.
Em suas ações, deram uma demonstração de serviço, andaram pelo mundo fazendo o
bem, e seus nomes ficaram conosco através dos séculos. É preciso ser uma figura
muito dominante para permanecer nas mentes dos homens por milhares de anos. A
maior parte de nós todos é esquecida em vinte anos.

Aspectos Significativos do Signo

O signo de Peixes marca um lugar triangular nos céus, um símbolo da realidade. Este
signo rege os pés e daí a ideia de trilhar o Caminho e alcançar a meta ter sido a
revelação espiritual subjacente à era de Peixes.

Peixes é também o signo da morte sob vários aspectos. A morte do corpo, algumas
vezes, ou talvez alguma velha tolice tenha chegado ao fim, uma indesejável amizade
cessará, a devoção a alguma forma religiosa de pensamento que reteve o aspirante

118
agora talvez acabe e este emergirá, pondo os pés em um novo caminho. É o signo da
morte da personalidade. Se pudéssemos abandonar a ideia dos véus da personalidade,
estaríamos desejosos de deixar a personalidade ir. Também significa a morte de um
salvador mundial pois é o signo da crucificação e marca o fim de um ciclo zodiacal.

Há três signos de salvação no Zodíaco. Primeiro, Leão, de onde a palavra é emitida


para o ser humano, “trabalha por tua própria salvação”. Assim temos em Leão o
homem determinado a ficar sobre suas próprias pernas, ele se torna contundente e
afirmativo, mas isso é necessário para a salvação porque só experimentando seu
equipamento ele chegará ao ponto onde uma visão mais ampla aparecerá. O segundo
signo da salvação é Sagitário, o signo do serviço e do silêncio, onde o homem
afirmativo, cansado de falar de si mesmo e de se impulsionar para diante, perde de
vista a si mesmo no objetivo e silenciosamente serve. Então chegamos ao terceiro
signo de Peixes, o dos salvadores mundiais.

A primeira constelação em Peixes é aquele curioso aglomerado de estrelas chamada “A


Banda” ligando os dois peixes, um deles com a cabeça erguida para o norte e o outro
nadando na linha do horizonte. O peixe com a cabeça voltada para o norte é o símbolo
de quem aspira aos mistérios enquanto que o peixe na linha do horizonte representa o
homem comum.

A segunda constelação é Andrômeda, a mulher encadeada. Temos três mulheres entre


as constelações, Cassiopeia em Áries representando a matéria sentada em sua cadeira,
dominante; Coma Berenice em Virgo, que sacrificou seu cabelo para permanecer no
serviço, representando a alma assim começando a afirmar-se. Andrômeda, a mulher
encadeada em Peixes, representa a matéria com a armadura.

A terceira constelação em Peixes é o Rei chamado Cepheus, o marido de Cassiopeia e o


pai de Andrômeda. Isto sugere que “O Rei” representa o Espírito ou aspecto Pai.

Há na natureza o reino humano e acima dele há outros reinos, espirituais e cósmicos, e


abaixo dele os reinos animal, vegetal e mineral. O trabalho dos inteligentes filhos de
Deus é agir como transmissores, através da mente, da energia espiritual, que salvará e
vitalizará todos os reinos inferiores da natureza.

A Segunda Vinda do Cristo

Como pode vir o Salvador Mundial? Ele poderia vir como já veio antes, em forma física,
com suas eventuais desvantagens. Há, emergindo no mundo de hoje, novas faculdades
que não se demonstravam quando ele veio antes. Somos muito mais sensíveis do que
jamais antes; estamos muito mais abertos, uns aos pensamentos dos outros, por uma
coisa, e se um pensador potente, como o Cristo, seja lá o que queiramos dizer por esse
palavra, está em relação com os assuntos mundiais, quer-me parecer que ele poderia
tentar outro método. Ele pode agir por si mesmo em cada lugar, encobrindo seus
discípulos onde quer que eles se encontrem, e porque sua alma e as almas deles estão
em unidade, comunica-lhes o Plano, indica-lhes as tendências, lhes dá a mensagem, a
se repetir em cada país. Isso já está ocorrendo hoje.

Em cada país encontram-se aqueles que sabem; não disse aqueles que dizem saber.
Mas há um grupo de seres humanos, integrando-se agora, que não fazem ruído, que
não se ocupam consigo mesmos, mas com quem está recebendo a carga de dirigir a
humanidade. Estão iniciando movimentos que contêm a nova vibração, estão dizendo
coisas que são universais, estão enunciando princípios que são cósmicos, inclusivos e
não exclusivos, que não se importam com a terminologia que se use; insistem em que
um homem manterá sua própria estrutura interna da verdade para si próprio e não a

119
imporá sobre ninguém mais; eles se reconhecerão onde quer que se encontrem, falam
uma língua universal, demonstram a luz universal, são servidores e não alimentam
interesses egoístas.

Estou convencida de que nenhum Salvador Mundial, usando um corpo físico, virá até
nós.

Creio naquele Salvador Mundial individual, mas creio que ele virá salvar o mundo
através do grupo. Creio que ele trabalhará por si mesmo; que ele está preparando as
pessoas agora para que no dia em que ele venha, esse grupo estará tão potente
através de sua meditação e a força do seu serviço mundial, que ele será reconhecido
como o Salvador; mas não em nosso dia.

Nota do Editor: (feita em 1958)

Quando A.A.B. se manifestou dessa maneira em 1936, parecia ser o ponto de vista ashrâmico que o
status da humanidade não permitiria mais do que uma cobertura pelo Cristo. Quando em 1948 surgiu O
Reaparecimento do Cristo, ditado pelo Tibetano, a disciplina da guerra, a destruição dos valores
materiais, o sofrimento e o crescimento mental da humanidade haviam produzido um efeito que, segundo
nos foi dito, ultrapassou a expectativa da Hierarquia. No livro sobre o reaparecimento encontramos as
seguintes afirmativas: “O ponto de decisão, como foi chamado em todos os círculos hierárquicos, foi
alcançado durante o período entre a Lua Cheia de junho de 1936 e a Lua Cheia de junho de 1945. O
ponto de decisão cobriu, portanto, nove anos, um tempo relativamente curto; resultou na decisão de que
o Cristo deveria reaparecer ou voltar à presença visível na Terra logo que possível e consideravelmente
mais cedo do que havia sido planejado.”

É de fato algo portentoso nos conscientizarmos de que a humanidade pudesse tão notavelmente afetar a
época e a maneira do Cristo reaparecer por uma mudança em sua receptividade. Repetidas vezes nos foi
dito que somente a humanidade poderia condicionar esses pontos. Eis aí um dramático exemplo do
potencial e da responsabilidade da humanidade em acelerar o processo evolutivo.

O Novo Grupo de Servidores do Mundo

Tal grupo, como acaba de ser descrito, já existe. Temos duas coisas a fazer. Primeiro,
aprender a reconhecer a nova nota à medida que ela venha dos discípulos onde quer
que se encontrem; e segundo, ajustarmo-nos para fazer parte daquele grupo. A marca
desse grupo é a não afirmação pessoal; estão muito ocupados, fazendo trabalho
pioneiro, para terem tempo de falar de si mesmos. Eles trabalham através de
meditações, que os mantêm em contato com a espiritualidade que são eles próprios, e,
portanto estão em contato com a grande vida, o Salvador Mundial, que derrama sua
força e energia através deles e para o mundo. Eles orientam suas mentes nessa
direção, servem inteligentemente e não têm pressa.

A mensagem que deles vem do lado interno se apoia nas palavras simbólicas, “o que
vos digo na sombra, aquilo falai na luz”. A cada um será dito algo diferente, de acordo
com as necessidades das pessoas à sua volta, e mergulharão deliberadamente na treva
para enviar uma mensagem na luz. Portanto, não estão presos a dogmas nem á
doutrinas porque eles têm a palavra que lhes veio na treva, que eles lavravam por si
mesmos na aspiração e empenho de suas próprias almas. Eles vão ao encontro das
necessidades de seus semelhantes e sua é a mensagem do Cristo, “Um novo
mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros”. Isto não é sentimento. Sejamos
amorosos e bondosos. Este é apenas um comportamento decente; mas o amor
enunciado pelo Cristo é uma inteligente compreensão e apreciação da necessidade do
indivíduo quando nos encontramos com ele. Quando nos deparamos com a
desesperada necessidade das pessoas, não há tempo para pensarmos em “sermos
amorosos” no sentido comum. Talvez você possa criar tal atmosfera à sua volta que
você pense em sua própria solução. Essa é a verdadeira maneira de trabalhar.
Enquanto você se preocupar em ser amoroso, estará ocupado com sua própria
personalidade.
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“Um novo mandamento vos dou” pode ser resumido na “inclusividade”, marca da Nova
Era, o espírito universal, a identificação, a unidade com todos os nossos semelhantes.
Isso é amor e o manterá ocupado; não haverá tempo para falar sobre o amor, cada um
estará ocupado agindo, fazendo coisas, grandes e pequenas, importantes e sem
importância.

Como nos ajustaremos para atender a tais requisitos, para conseguirmos chegar a tais
características que automaticamente nos incluem no grupo dos servidores do mundo?
Ninguém chegará lá falando a respeito dele, nem pela apreciação teórica do problema.
Chega-se lá fazendo corretamente a coisa que vem a seguir. Isso parece muito
interessante, mas qualquer que seja seu dever, cumpram-no. Cultivem a atitude
interior correta, e estejam inteiramente abertos aos seus semelhantes. Aprendam a
meditar e realmente aprendam a meditar. Não estou me referindo a entrar em silêncio,
a ficarem sentados para gozar de um pouco de tempo emocionalmente em paz e bem
aventurança, esperando que se sintam melhor.

A meditação, quando corretamente conduzida, é um árduo trabalho mental, pois


significa orientar a mente para a alma, e você não pode fazê-lo. Significa que quando
tiver aprendido a focalizar sua mente na alma, é preciso conservá-la firmemente, o que
não pode fazer; e quando tiver aprendido a fazê-lo, que você tem de aprender a ouvir
em sua mente o que a alma lhe diz, e isso você não pode fazer. Então você tem de
aprender a tomar do que a alma lhe disse e pô-lo em palavras e frases e lançá-las no
seu cérebro, que está à espera. Isso é meditar, e é seguindo esse processo que você se
tornará um servidor mundial porque você será então a força do que você realiza. Você
automaticamente sentir-se-á coberto por aquele grande ser cuja missão é elevar a
humanidade da treva para a luz, do irreal para o real. (Conferência por A.A.B. - 1936 Editado e
condensado)

121
O Propósito do Estudo do Mito de Hércules
(O material seguinte foi preparado por Dorothea Cochran a pedido da Sra. Bailey e foi encontrado entre seus papeis. Este
material parece proporcionar uma nota conclusiva apropriada para a série Hércules.)

As primeiras escrituras para a humanidade foram escritas por Deus na Terra e nos
Céus. A leitura dessas Escrituras é a Ciência. A familiaridade com a grama e as
árvores, os insetos e os infusórios, nos ensinam lições mais profundas de amor e fé
do que pode respingar dos escritos de Fenelon e Agostinho. A Grande Bíblia de Deus
está sempre aberta diante da humanidade. (Albert Pike)

Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas


mãos. (Salmo 19:1.)

O progresso de um discípulo mundial é ilustrado nos céus pelos Trabalhos de Hércules


através dos signos zodiacais. É como se Deus houvesse representado no espaço Seu
Plano para o processamento da evolução do espírito humano de volta à sua fonte.

O intenso interesse atualmente evidenciado na época atual pela vida espiritual é, em si


mesmo, a garantia de um estudo como os Trabalhos de Hércules. A religião acadêmica,
dogmática e teológica não atrai mais como antigamente, mas, apesar de uma ampla
revolta contra a religião organizada, ou eclesiástica, a busca pelas realidades espirituais
nunca foi tão aguda como agora. O período de experiência empírica em larga escala
está conosco. Homens e mulheres em toda parte estão se recusando a continuar a crer
nos pronunciamentos autoritários das igrejas ou a aceitar cegamente o que qualquer
teologia procura impor.

Eles estão determinados a conhecer por si próprios os fatos da experiência mística


interna, se tais fatos podem ser apurados, e a abarcar por si próprios a natureza dessa
identidade a que chamamos alma.

O posicionamento mundial está maduro para uma renovação de uma fé e religião vivas
que serão baseadas no conhecimento pessoal e não nos pronunciamentos e
interpretações de mentes limitadas. O Dr. Rufus Jones, o grande líder dos Puritanos,
chama a atenção para este fato em palavras que merecem registro:

“Uma eclosão do misticismo é sempre um sinal de que a alma do homem está


emitindo um vigoroso protesto contra a usurpação de algum organizado sistema de
vida que ameaça deixar limitado espaço e área para sua própria iniciativa e sua
espontânea atividade criativa. E uma proclamação de que a alma tem certos direitos
e capacidades inerentes, um domínio de si mesmo, que deve ser respeitado e
mantido sagrado. Algumas vezes o misticismo tem sido o protesto do espírito do
homem contra a crosta enriquecedora do dogma, outras vezes uma revolta contra o
eclesiasticismo”. (As Bases Filosóficas do Misticismo por T.H.Hughes, pg.46)

Em dias de trevas e aparente morte espiritual, este reavivamento do interesse nas


realidades superiores inevitavelmente aparece, garantindo que o espírito do homem
está em seu caminho, e que a realidade permanece imutável por trás da superfície em
mutação, dos acontecimentos materiais. A própria necessidade da hora pede a emissão
de uma nota clara e ao novo místico emergente e conhecedor é dada a tarefa da
emissão dessa nota. “O que encontramos no místico é um órgão intensificado para a
afirmação da realidade de Deus e para a mais rica interpretação de Seu caráter.” Com
essas claras palavras, o Dr. Jones chama nossa atenção para o trabalho eternamente
feito no campo espiritual pelo buscador despertado.

122
A verdade está, como uma fênix, emergindo de novo no campo da experiência humana,
mas ela será a verdade que é sentida e conhecida e não a verdade forçada através do
autoritarismo e da tradição antiga; pois a verdade, como nos diz Bemard Shaw, é “o
que você conhece pela sua experiência como sendo real e você sente em sua alma
como sendo verdadeiro”. Tais renovações na vida espiritual da humanidade são
recorrentes e cíclicas; elas podem ser de uma natureza emocional ou intelectual, mas
elas servem para levar a vida subjetiva da humanidade para uma nova fase mais rica
de experiência, e compensar, e algumas vezes interpretar, as tendências mais
materiais e científicas paralelas que podem ser vistas.

O problema de todo escritor e instrutor hoje é descobrir novos caminhos pelos quais
expressar as mesmas verdades fundamentais, e assim apresentar as antigas fórmulas e
regras do caminho que levarão o homem ao estágio seguinte em seu desenvolvimento
espiritual. As velhas verdades então adquirirão novos significados e vibrarão com vida
fresca. Muitos livros foram escritos sobre o assunto do Caminho do Discipulado. Uma
reapresentação dos problemas a serem encontrados no Caminho Universal, e a análise
das dificuldades a serem enfrentadas enquanto ele é trilhado não é assegurada, a não
ser que a aplicação seja geral, prática e apoiada em tais termos que ela vá ao encontro
das necessidades do estudante moderno. Um estudo dos Doze Trabalhos de Hércules,
cobrindo como eles fazem, cada aspecto da vida do discípulo, pode nos capacitar a
conquistar uma diferente atitude e nos dar alegria no Caminho e aquela liberdade no
serviço que é mais do que uma adequada compensação para as perdas temporárias e
dificuldades momentâneas que podem tentar a natureza inferior.

Uma das grandes revelações que chegaram de maneira quase sem ser notadas à
humanidade durante o século passado foi o lento despertar em nossa consciência, do
fato de nossa inerente essencial divindade. Os homens estão reconhecendo que eles
são na verdade “feitos à imagem de Deus” e são unos, em natureza, com seu Pai no
Céu. Hoje também, os propósitos e planos subjacentes ao trabalho criativo de Deus
estão sendo amplamente estudados tanto do ângulo científico quanto religioso,
trazendo mudanças claras na atitude do homem diante da vida como um todo. E esta
revelação do plano para o homem, individual e racial, que é revelada na história desse
antigo Filho de Deus. Um quadro completo e sintético do progresso da alma, da
ignorância para a sabedoria, do desejo material à aspiração espiritual, e da cegueira da
infante humanidade para a pura visão daqueles que veem Deus. Um ponto é alcançado
na história onde a inteligente cooperação com o propósito da alma toma o lugar da
cega tentativa e luta, e Hércules que é um Filho de Deus assim como um filho do
homem, pode prosseguir no Caminho com sua face voltada para a luz, irradiada pela
alegria daqueles que sabem.

Esta velha história não deixa sem tocar qualquer das fases na vida do aspirante e
contudo o liga incessantemente à iniciativa cósmica. Ver-se-á que seu tema é tão
inclusivo que todos nós, imersos nos problemas da vida, podemos aplicar a nós
mesmos as provas e tentativas, os fracassos e conquistas dessa figura heroica que
aspirou, séculos atrás, aos mesmos objetivos em que nos estamos empenhando. Pela
leitura desta história, um renovado interesse na vida espiritual pode ser evocado na
mente do confundido aspirante, e ele prosseguirá com nova coragem à medida que
ganha um quadro sequencial do desenvolvimento e do destino universais.

Ao estudarmos este antigo mito, descobrimos que Hércules assumiu certas tarefas,
simbólicas em sua natureza, mas universais em seu caráter, e que ele passou por
certos episódios e acontecimentos que retratam, por todos os tempos, a natureza da
preparação e as conquistas que deveriam caracterizar um filho de Deus, caminhando
para a perfeição. Ele representa o filho de Deus encarnado, mas não ainda perfeito; o
qual, num particular estágio no ciclo evolutivo, toma em suas mãos sua natureza
inferior e voluntariamente se submete à disciplina que finalmente ensejará a
123
emergência de sua divindade inata. A partir de um ser humano, errando, mas sincero e
sério, inteligentemente cônscio da obra a ser feita, um Servidor Mundial é criado, e nós
vemos nos últimos dois trabalhos como foi aquele trabalho de salvação.

Três grandes e dramáticas histórias foram constantemente contadas à humanidade


através dos tempos: as de Hércules, do Buda e do Cristo, cada um deles retratando um
dos estágios no Caminho da Divindade. Na história de Hércules nos são descritas as
experiências do Caminho do Discipulado e as primeiras etapas do Caminho da Iniciação.
No caso do Buda, a história começa mais tarde do que a de Hércules, e nós vemos o
Buda alcançar a iniciação final, passando pelas iniciações a respeito das quais Hércules
conhecia. Depois veio o Cristo histórico, encarnando em Si mesmo algo tão inefável que
nós O consideramos, de uma maneira especial, como o representante de Deus. Essas
três histórias progressivamente revelam o plano de Deus para o desenvolvimento do
homem, e nos chamam para prosseguir nos passos de Hércules, que trilhou o Caminho
do Discipulado e alcançou sua meta.

O oráculo falou e a exclamação ecoou através dos séculos: “Conhece-te a ti mesmo”.


Este conhecimento é a principal conquista no Caminho do Discipulado, e se vê como em
sequência e inteligentemente Hércules atingiu este conhecimento. Nós o vemos
passando pelo grande caminho dos céus e em cada signo realizando um de seus doze
trabalhos, a que todos os discípulos estão chamados a realizar também.

Nós o vemos de dois pontos de vista: o do discípulo individual e o da humanidade como


um todo, o Grande discípulo mundial do qual ele é o protótipo. É possível considerar a
humanidade como tendo alcançado, em massa, o estágio do aspirante, e considerar a
raça humana como estando no caminho probatório, o caminho da purificação. Se o
sofrimento é o grande purificador, então a afirmação acima é inteiramente verdadeira.
Os homens hoje são inteligentes, seriamente buscando uma saída do presente impasse
material e aprendendo a coordenar suas habilidades e capacidades mentais, emocionais
e físicas, em um esforço para elevar tudo que até então os tenha mantido presos à
terra. Esse estágio tem sido sempre expresso pelos mais avançados tipos de homens,
mas nunca antes a família humana inteira esteve nessa condição. Aqui está a maravilha
da conquista espiritual do passado, e aqui está a hora de nossa maravilhosa
oportunidade.

Vemos Hércules partindo deste ponto e passando pelas sucessivas experiências, até
chegar à porta aberta em Leão, através da qual ele pode passar para o Caminho do
Discipulado. Nós o vemos aprendendo as lições do equilíbrio, do altruísmo e da vitória
sobre a natureza do desejo, até tornar-se o discípulo uni-direcionado em Sagitário,
antes de passar pelo portão que conduz ao norte da iniciação. Lenta e dolorosamente,
ele aprende a lição de que a competição e a posse egoísta devem desaparecer e que a
conquista de qualquer coisa para o eu inferior separado não faz parte de missão de um
filho de Deus. Ele se descobre como um indivíduo apenas por descobrir que o
individualismo deve ser inteligentemente sacrificado pelo bem do grupo; ele aprende
que a ambição pessoal não tem lugar na vida do aspirante que procura a libertação do
ciclo sempre recorrente da existência e a constante crucificação na cruz da matéria e da
forma. As características do homem imerso na vida da forma e sob a regra da matéria
são o medo, a competição individual e a ambição. Esses devem ceder lugar à confiança
espiritual, à cooperação, à consciência grupal e ao altruísmo. Essas são as lições que
Hércules nos traz.

Essa é também a história do Cristo cósmico, crucificado desde o início da criação na


cruz fixa dos céus. Essa é a história do Cristo histórico, dada a nós na história dos
evangelhos, e representada para nós há dois mil anos na Palestina, quando nosso sol
entrou no signo do Salvador Mundial, o signo de Peixes. Essa é a história de cada
homem individualmente, crucificado na cruz da matéria e da existência, e descobrindo
124
que ele é na verdade um filho de Deus encarnado em cada ser humano. Deus,
encarnado na matéria. Tal é a história do sistema solar, a história de nosso planeta, a
história de cada homem. Ao olharmos para o céu estrelado acima de nós, temos esse
grande drama, eternamente representado para nós.

125
Sumário das Lições Aprendidas em Cada Signo Zodiacal
O seguinte extrato das notas sobre os signos do Zodíaco é oferecido como uma base
para posterior estudo e pronta referência.

Áries, o Carneiro

Elemento Signo do Fogo (como também são Leão e Sagitário).


Começos. Vontade ou Poder que se expressa através dos grandes processos
Qualidade criativos. Nos primeiros estágios, as atividades são dirigidas para o lado
material da vida; mais tarde, para o espiritual.
Oposto
Libra. Um signo do ar (balança).
Polar
Regentes Exotérico, Marte; Esotérico, Mercúrio.
Palavras- Do ângulo da forma, “Que a forma seja novamente procurada”.
chave Do ângulo da alma, “Eu venho, e do plano da mente, governo”.

Taurus, o Touro

Elemento Signo da Terra (como também são Virgem e Capricórnio).


Desejo, para a massa dos homens; vontade ou propósito dirigido para o
Qualidade
discípulo.
Escorpião, signo da água (completo da dualidade, desejo superado;
Oposto Polar
discipulado triunfante).
Regentes Exotérico, Vênus; Esotérico, Vulcano.
Palavras- Do ângulo da forma, “Que a luta seja seu desânimo”.
chave Do ângulo da alma, “Eu vejo e quando o Olho se abre, tudo se ilumina”.

Gemini, os Gêmeos

Elemento Signo do Ar (como são também Libra e Aquário)


Qualidade. Amor-Sabedoria. Fluidez. Controle de cada par de opostos. O
Qualidade
subjacente amor divino alcança nosso sistema solar através de Gêmeos.
Oposto Sagitário. Um signo do fogo (unidirecionalidade; preparação para a
Polar iniciação).
Regentes Exotérico, Mercúrio; Esotérico, Vênus.
Do ângulo da forma, “Que a instabilidade faça seu trabalho”.
Palavras-
Do ângulo da alma, “Eu reconheço meu outro ego e no declínio daquele ego
chave
eu cresço e brilho”.

126
Câncer, o Caranguejo

Elemento Signo da Água (como também são Escorpião e Peixes)


Sensibilidade da massa; para o homem comum, identificação da massa com
Qualidade
a forma; para o discípulo, serviço à massa.
Capricórnio, um signo da terra (conscientização espiritual após a luta);
Oposto Polar
lugar de nascimento do Cristo.
Regentes Exotérico, a Lua; Esotérico, Netuno.
Do ângulo da forma, “Que o isolamento seja a regra, e contudo a multidão
Palavras-
existe”.
chave
Do ângulo da alma, “Eu construo uma casa iluminada e nela habito”.

Leo, o Leão

Elemento Signo do Fogo (como são também Áries e Sagitário).


Sensibilidade levando à consciência individual. Saída do rebanho.
Qualidade
Autoconsciência. Autoafirmação.
Oposto Polar Aquário. Um signo do Ar (consciência grupal, serviço mundial).
Regentes O Sol é tanto o regente Exotérico como Esotérico.
Palavras- Do ângulo da forma, “Que outras formas existam, Eu sou porque Eu sou”.
chave Do ângulo da alma, “Eu sou Aquele e Aquele sou Eu”.

Virgo, a Virgem

Elemento Signo da Terra (como são também Touro e Capricórnio).


O serviço ímpar em Virgem é que tanto a forma como o espírito são
Qualidade
nutridos, escudando o “Cristo em vós, esperança é de glória”.
Peixes. Um signo da água (A consciência do Cristo revelada como um
Oposto Polar
Salvador Mundial).
Regentes Exotérico, Mercúrio; Esotérico, a Lua.
Palavras- Do ângulo da forma, “Que a matéria reine”.
chave Do ângulo da alma, “Eu sou a Mãe e o Filho. Eu, Deus, Eu matéria sou”.

Libra, a Balança

Elemento Signo do Ar (como também Gêmeos e Aquário).


Equilíbrio. Um interlúdio onde a dualidade é conhecida e a vida da alma e
Qualidade
da forma é balanceada (Lei, Sexo, Dinheiro).
Áries, um signo do fogo (subjetivo, consciência latente, vontade de
Oposto Polar
encarnar).
Regentes Exotérico, Vênus; Esotérico, Urano.
Do ângulo da forma, “Que a escolha seja feita”.
Palavras-
Do ângulo da alma, “Eu escolho o caminho que conduz entre as duas
chave
grandes linhas de força”.

127
Scorpio, o Escorpião

Elemento Signo da Água (como são também Câncer e Peixes)


Conflito. Prova. Tentativa. Triunfo. Pontos de crise. Momentos de
Qualidade reorientação. Ponto de viragem na vida da humanidade e do indivíduo.
Hércules tornou-se o discípulo triunfante em Escorpião.
Oposto
Touro. Um signo da Terra (desejo e crescimento da luz da alma).
Polar
Regentes Exotérico e Esotericamente, o mesmo: Marte.
Palavras- Do ângulo da forma, “Que Maia floresça e que a desilusão a governe”.
chave Do ângulo da alma, “Guerreiro eu sou e da batalha emirjo triunfante”.

Sagitário, o Arqueiro

Elemento Signo do Fogo (como são também Áries e Leão)


Direção focalizada. Atividade unidirecionada. Nos estágios iniciais, satisfação
Qualidade
do desejo; nos estágios ulteriores, aspiração à meta da iniciação.
Oposto Gêmeos. Um signo do Ar (eventual controle da fluidez e dos pares de
Polar opostos; fusão, síntese, unificação).
Regentes Exotérico, Júpiter; Esotérico, a Terra.
Do ângulo da forma, “Que o alimento seja buscado”.
Palavras-
Do ângulo da alma, “Eu vejo a meta. Alcanço aquela meta e então vejo uma
chave
outra”.

Capricórnio, o Bode

Elemento Signo da Terra (como são Touro e Virgem).


Características extremas do melhor e do pior tipos. Ambição. Cristalização.
Qualidade Luta superada. Transfiguração. Consciência do Iniciado. “O unicórnio de
Deus”.
Oposto
Câncer. Um signo da água (primeira porta para a encarnação).
Polar
Regentes Exotérico e Esotérico o mesmo, Saturno.
Do ângulo da forma, “Que a ambição reine e que a porta permaneça
Palavras- amplamente aberta”.
chave Do ângulo da alma,“Perdido estou na luz divina, contudo naquela luz volto
minhas costas”.

Aquário, o Carregador da Água

Elemento Signo do Ar (como são também Gêmeos e Libra).


Vontade de servir, primeiro como o eu inferior, depois, o Eu Superior.
Qualidade
Serviço mundial. Consciência individual transmutada na consciência grupal.
Leão. Um signo do Fogo (consciência individual; impulso para o
Oposto
autoconhecimento; autodomínio final, preparatório para o serviço
Polar
impessoal).
Regentes Exotérico, Urano; Esotérico, Júpiter.
Do ângulo da forma, “Que o desejo na forma seja a regra”.
Palavras-
Do ângulo da alma, “Água da Vida eu sou, derramada para os homens
chave
sedentos”.

128
Pisces, os Peixes

Elemento Signo da água (como são também Câncer e Escorpião)


Dualidade. Fluidez dotada com a consciência intuitiva. Mediúnico. Mente
Qualidade polarizada não despertada. Intuição adormecida. Morte da personalidade.
Libertação da alma, de seu cativeiro. Cristo, o Salvador Mundial.
Oposto
Virgem. Um signo da Terra (matéria; o Cristo na caverna do coração).
Polar
Regentes Exotérico, Júpiter; Esotérico, Plutão.
Palavras- Do ângulo da forma, “Penetra na matéria”.
chave Do ângulo da alma, “Eu deixo o lar do meu Pai e dando as costas eu Salvo”.

“A ajuda tem de vir de uma fonte que não a desta existência limitada, mas essa fonte
não deve ser algo inteiramente exterior a nós, no sentido de que ela não tenha
compreensão de nossas limitações e daí não nos ser absolutamente simpática. A fonte
da ajuda deve ter o mesmo coração que o nosso de modo a que haja uma corrente de
compaixão correndo entre as duas. O poder da fonte deve estar dentro, e contudo, fora
de nós. Se não dentro, não nos poderia compreender; se não fora de nós, estaria
sujeita às mesmas condições. Este é um eterno problema, ser e não ser, estar dentro e
no entanto estar fora, ser finito e, contudo, pronto para servir ao infinito”.(D. T. Suzuki)

129
O Caminho da Alma Através do Zodíaco
“O caminho que leva à ascensão das almas jaz através dos doze signos do Zodíaco ...
o caminho descendente é o mesmo”. (Clemente de Alexandria)

Nota do Editor: A menos que estejamos perdidos nos coloridos trabalhos de Hércules,
e as maravilhas desta alegria sobre os trabalhos de todos os discípulos em seu
caminho evolutivo, ou sejamos confinados à correlação pessoal com nosso próprio
signo solar nesta encarnação, parece prudente dirigir nossos pensamentos para o
significado mais profundo das energias desses signos que se derramam sobre nosso
pequeno planeta, e para o uso que fazemos delas. O quadro maior do efeito no
mundo e na evolução racial deveria merecer nosso pensamento. O Tibetano nos diz
que tudo depende de nosso grau de receptividade e resposta, que é determinado pelo
nosso “status” de evolução.

Na vida de Hércules, a alma em encarnação, e seu progresso em torno do Zodíaco de


Áries a Peixes no sentido contrário de seu giro, o caminho do discípulo, seria bom
definir brevemente o Zodíaco de modo a podermos acompanhar seus trabalhos
inteligentemente. Poderia também ser útil assegurar-se se, em nossa tradição cristã
ocidental, há indicação da influência da antiga ciência da astrologia.

Tem havido muitas definições da palavra “Zodíaco”. A mais usual é como segue:

“...a palavra é derivada do grego Zodion, um pequeno animal, a plena expressão


sendo o círculo Zodiacal, ou círculo de animais. Este era um cinturão imaginário no
céu, formado por dois círculos equidistantes da eclíptica e com cerca de 18 graus de
distância, que marcava o caminho do sol, quer em sua revolução anual quando as
doze divisões indicam a sucessão dos meses no ano, ou em seu curso diurno, quando
as divisões marcavam as horas do dia e da noite”. (Astrologia, o Elo entre Dois Mundospor S.
Elizabeth Hall, M.A.)

Valentina Stratton poderia também ser citada aqui:

“...na astronomia, diz a ciência, o Zodíaco é um cinto imaginário nos céus, com 16 ou
18 graus de largura, por cujo meio passa o caminho do sol (a eclíptica). Ele contém
as doze constelações que constituem os doze signos do Zodíaco, e em função dos
quais foi denominado... o Zodíaco astrológico propriamente dito, contudo, é um
círculo imaginário passando em torno da Terra no plano da eclíptica, seu primeiro
ponto sendo chamado Áries, zero grau. Ele é dividido em doze partes iguais
chamadas “os signos do zodíaco”, cada um contendo 30 graus de espaço, e nele é
medida a ascensão correta dos corpos celestiais. O Zodíaco móvel ou natural é uma
sucessão de constelações formando um cinturão de 47 graus de largura, que fica ao
norte e ao sul da eclíptica”. (Glossário do Navio Celestial do Norte.)

Walter H. Sampson nos dá uma explicação muito simples do cinto imaginário. Ele diz:

“O Zodíaco, propriamente falando, é aquele cinturão nos céus através do qual passa
o aparente caminho do sol; seu ponto inicial é o Equinócio Vernal que, como
sabemos, está em movimento retrógrado contínuo através de um círculo de
constelações que ficam perto da eclíptica. O zodíaco está dividido em doze porções
iguais de 30 graus cada, quase que correspondendo às doze constelações de Áries,
Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio,
Aquário e Peixes.(O Zodíaco: Uma Síntese da Vida.)

Alan Leo nos diz também:


130
“...as constelações são grupos de estrelas fixas, os doze grupos centrais sendo
chamados pelos mesmos nomes que os doze signos, embora eles não cubram a
mesma área dos céus. A precessão dos equinócios, causada pelo “movimento” do sol
através do espaço, faz parecer que as constelações se estão deslocando para diante
contra a ordem dos signos cerca de 50 1/3 segundos por ano”. (Dicionário de Astrologia,
p.204)

Outro ponto a ser lembrado é o que Alan Leo aponta:

“As doze constelações do Zodíaco do sistema solar inteiro... assim como a rotação da
Terra faz os signos se elevarem e se porem, um novo signo estando no ascendente
cada duas horas em média; assim, como resultado da precessão, o círculo muito
maior das constelações atravessa o ascendente da Terra, o ponto equinocial, o
começo do Zodíaco. Dessa maneira, o grande dia da precessão, compreendendo mais
de 25.000 de nossos anos, corresponde a um de nossos dias, porque durante aquele
período todas as doze constelações se elevam e se põem uma vez”. (Ibid, p. 167)

A segunda coisa, pois, a lembrar, é que há dois Zodíacos, o maior e o menor. O


primeiro compreende as doze constelações através das quais o sol e o sistema
planetário parecem passar num grande ciclo de mais de 25.000 anos. O outro é o
mesmo círculo de constelações através das quais a Terra parece passar em sua
revolução anual em torno do sol, e é nesse que os astrólogos apoiam suas predições e
traçam o horóscopo. Assim nós temos nesses dois Zodíacos o símbolo do progresso da
Vida formando um sistema solar, um planeta e um homem.

“A medida que a Terra em sua viagem anual em tomo do sol passa por um signo do
Zodíaco a cada mês, assim também nosso sistema solar durante sua grande jornada
em tomo do sol central do universo (Alcione) passa através de cada signo do
Zodíaco; mas nesse ciclo maior, em vez de um mês, nosso sistema solar requer
aproximadamente 2.060 anos para atravessar cada signo”. (A Mensagem de Aquária,
p.23,por Homer Curtiss)

Uma definição mais interessante e mais provável da palavra “Zodíaco” é dada pelo Dr.
Ethelbert Bullinger em seu livro “A Testemunha das Estrelas”. Diz ele:

“A palavra Zodíaco vem do grego “Zodiakon” que não vem de “Zoon”, “viver”, mas de
uma raiz primitiva, através do hebraico “sodi”. que em sânscrito significa “um
caminho”. Sua etimologia não tem conexão com as criaturas vivas, mas denota um
caminho, ou passos, e é usada para o caminho que o sol parece seguir entre as
estrelas no curso de um ano”.

O Zodíaco, portanto, é o Caminho ou a Via. Quando o Cristo falou a seus discípulos


como o Cristo Cósmico, Ele lhes disse, “Eu sou o Caminho”, e a isto é possível dar um
significado astrológico, pois todos os três tipos de vidas trilham este Caminho Cósmico,
o Cristo Cósmico, o Espírito Planetário e o ser humano.

É interessante notar que se fala do Zodíaco como de uma ilusão e de um caminho


imaginário, uma aparência. O Dicionário Webster, por exemplo, define o Zodíaco como
o “caminho imaginário do sol através dos céus”, e em todos os livros de referência solar
o assunto se enfatiza o fato de que tudo é aparência, a grande ilusão. Um escritor nos
diz que:

“...para o astrônomo o Zodíaco é meramente o caminho do sol, da lua e dos


planetas, não possuindo maior realidade que o traçado mostrado num atlas para
informação dos que pretendem viajar”. (O Zodíaco e a Alma, p.l por C.E.O. Carter)

131
Ao estudarmos esse caminho imaginário surgem dois pensamentos. Somos colocados
face a face com o conceito de uma progressão firme e incessante em torno desse vasto
cinturão de constelações. A ideia da eterna recorrência e da constante atividade,
trazendo com ele, esperamos e cremos, um constante desenvolvimento, nos dá um
alcance da magnitude da Vida, uma visão de um plano e propósito sempre emergentes,
que materializam a elaboração inteligente do pensamento divino.

A segunda ideia, que encontrou tão forte resposta na mente humana que constitui o
que se chama a “ciência da astrologia” e forma sua premissa básica, é que cada um
desses signos, através dos quais o sol e a Terra parecem passar, são materializações
de energias que têm um potente efeito sobre todas as formas de vida em nosso
planeta, e sobre o mundo das ideias. A humanidade tem sido afetada pelas energias
contatadas pelo nosso sistema solar à medida que ele passa por dentro e por fora das
várias constelações. Se assim for, e se pudermos obter um retrospecto suficientemente
amplo, certamente seria possível demonstrar a verdade desta afirmação.

Como podem atuar essas energias? Diz-se que é através do pensamento-forma que
elas são transmitidas. Nós superficialmente usamos a expressão “a energia segue o
pensamento”. Aqui a realidade dessa crença é posta à prova, cosmicamente. Também
se diz que a morte é “uma invenção de nossa imaginação”.

Testemunho quanto à Eficácia das Energias Zodiacais na Vida da Terra:

No quadro maior certos fatos interessantes emergem. Podemos dizer, por exemplo, que
entre quatro e cinco mil anos atrás o sol estava em algum lugar no signo do Touro.
Então tivemos a adoração do boi no Egito e na índia, e o sacrifício do boi sagrado como
nos Mistérios de Mitras.

Aproximadamente dois mil anos antes do nascimento do Cristo, dizem-nos os


astrônomos, o sol entrou no signo de Áries, o Carneiro e a dispensação judaica teve
início. Naquele tempo, pois, tivemos a inauguração da Páscoa judaica e o sacrifício do
carneiro.

É interessante registrar nesta conexão o verdadeiro significado do pecado dos Filhos de


Israel no deserto. Lemos que eles fizeram um carneiro de ouro e se curvaram e o
adoravam, revertendo, nesse ato, a antigas formas e sacrifícios. Seu pecado consistiu
em uma atitude reacionária e não alcançaram o significado da nova era que estava à
sua frente.

Mais uma vez os astrônomos nos dizem que, quando o Cristo nasceu na Palestina, a
data que marca o início de nossa dispensação cristã, o sol entrou no signo de Peixes.
Temos, por conseguinte, a ênfase posta, na história dos Evangelhos, sobre a simbologia
do peixe. O Cristo escolheu pescadores para estarem entre seus discípulos; ele realizou
milagres com os peixes; Ele enviou Seus discípulos para o mundo para serem
pescadores de homens; por quase dois mil anos tem sido o hábito comer-se peixe na
Semana Santa e nos dias de jejum. Assim nós encontramos o sacrifício do carneiro
sucedendo ao sacrifício do boi, e o símbolo do peixe seguindo ao do carneiro, e isso
enquanto o sol aparentemente passava de Touro para Áries e de Áries para Peixes.

Agora estamos entrando no signo de Aquário, o carregador de água, embora ainda não
tenhamos penetrado plenamente nesse signo, um processo que levará
aproximadamente mais de 200 anos. Somos informados pelos astrônomos que
começamos a transitar entrando naquele signo desde há 200 anos, e é discernível
como, desde então, Aquário, o carregador de água, começou a fazer sentir sua
presença no desenvolvimento dos cuidados sanitários e na utilização abundante da

132
água. Mas Aquário é um signo do ar e os céus estão cheios de aeronaves. Mesmo,
portanto, em suas formas exotéricas, a influência dos signos é seguramente
substanciada e há um real fundamento para a afirmação do esoterista de que cada
novo signo traz à terra energias definidas, novos conceitos e novas oportunidades.

Pode-se também mostrar que esses fatores astrológicos deixaram sua marca na
tradição cristã e nos usos da Igreja. É interessante notar a esse respeito que na
véspera de Natal, Sírio, a mais brilhante das estrelas fixas, é vista à esquerda da linha
do meridiano, um pouco para o sul. Dois mil anos atrás, devido à precessão dos
equinócios, ela estava na linha do meridiano. Essa é a Estrela do Oriente. Ao mesmo
tempo, a constelação da Virgem, Virgo, se tornava visível no oriente, e é interessante
notar a coincidência que Spica, a mais brilhante estrela naquela constelação, significa
“uma espiga de trigo”, e Belém, a cidade na qual o Cristo nasceu, significa “a casa do
pão”. Quando esse arranjo ocorre ciclicamente nos céus, os grandes Filhos de Deus
históricos fazem seu aparecimento para a elevação da humanidade e a salvação do
mundo. Também se diz que a conjunção de Saturno e Júpiter criava uma aparência
brilhante, impressionante.

Outro exemplo do efeito das constelações sobre nossa fé cristã poderia ser dado. Dois
festivais são conservados nas Igrejas Católicas Romana e Anglicana, chamados a
Ascensão da Virgem, celebrada em 15 de agosto, e o Nascimento da Virgem, no dia 8
de setembro. Cada ano o sol entra no signo de Virgem perto de 15 de agosto e as
estrelas das quais ele é composto se perdem de vista na glória dos raios do sol. Ao
tempo da antiga descrição do Zodíaco, 15 de agosto seria o verdadeiro
desaparecimento aglomerado da Virgem, mas agora o tempo não é exato, embora na
Igreja perpetue a data original. Em 8 de setembro, ou cerca disso, a constelação pode
ser vista de nosso planeta lentamente emergindo dos raios do sol e reaparecendo. A
propósito disso falamos como do nascimento da Virgem.

Duas outras indicações podem ser dadas para mostrar quão ampla e profundamente o
Zodíaco afetou nossas crenças religiosas. Uma será vista ao estudarmos o significado
dos Doze Filhos de Jacob e os pronunciamentos feitos por seu pai, e outro se evidencia
ao estudarmos a origem da Cruz.

As Cruzes:

O assunto da Cruz é muito vasto para ser elucidado aqui. A cruz num círculo é um dos
símbolos mundiais mais antigos; antedatando de milhares de anos a era cristã. A cruz é
originariamente formada pelo intercâmbio entre os doze signos do Zodíaco. No Zodíaco
há trinta e seis cruzes, pois cada signo está dividido no que são chamados três
decanatos, que eram conhecidos como “as trinta e seis estrelas que se cruzam”. O
Zodíaco fica completo com 360 graus, o quadrado de 90 graus é 1/4 do círculo, criando
os quatro cantos que são a cruz dentro do círculo.

Há, todavia, três cruzes principais que, em sua simbologia, representam os três
aspectos divinos, Espírito, Alma e Corpo. São assim:

1. A Cruz Cardinal, consistindo de quatro constelações:


a) Áries Criação, começo.
b) Câncer 1ª porta para a existência.
c) Balança O equilíbrio entre a vida e a forma.
d) Capricórnio A porta para a vida espiritual.

133
Esta é a cruz do Espírito ou do iniciado e é interessante notar que a palavra “cardinal”
vem do latim “a dobradiça de uma porta”. A palavra “porta” entra muito no conceito do
discipulado, e implica o período preparatório para cruzar a porta da iniciação. Aqui nós
temos a ideia da porta pela qual o Cristo Cósmico passa no final da era, quando os céus
e a terra são dissolvidos e os planos de Deus consumados.

2. A Cruz Fixa, consistindo das quatro constelações:


a) Touro Iluminação. Mente.
b) Leão Individualidade. Autoconsciência.
c) Escorpião A libertação final da ilusão.
d) Aquário Servidor da humanidade, derramando a água viva da purificação.

Esta é eminentemente a cruz da alma e de real interesse porque é a cruz do discípulo


Hércules. Ele personifica esses quatro signos, e foi crucificado nesta Cruz Fixa. Esses
quatro signos são considerados em nossa crença cristã como os quatro sagrados e nós
os vemos sendo-nos apresentados nas quatro criaturas viventes do profeta Ezequiel.
Esses quatro tinham a face de um homem, Aquário; a face do leão, Leão; a face de um
boi, Touro; e a face de uma águia, Escorpião. Aquila, a Águia, é astrologicamente
intercambiável com Escorpião. São novamente simbolizados nos quatro evangelistas, e
nas quatro bestas das Revelações. Esta cruz é a cruz de todos os salvadores mundiais,
e a cruz Cardinal é a da Divindade, crucificada na água do espaço.

3. A Cruz Comum ou Mutável, consistindo das quatro constelações:


a) Gêmeos O intercâmbio entre o superior e o inferior.
b) Virgem A forma que nutre o Cristo criança.
c) Sagitário O aspirante, apressando-se para a meta.
d) Peixes Morte. Consumação. O salvador Mundial.

Esta é a cruz da vida de cada dia, à qual estão sujeitos todos os filhos dos homens. É a
cruz da crucificação diária e da dificuldade e simboliza o período de encarnação de
crescimento e desenvolvimento por intermédio da forma e de seu uso. Nessas três
cruzes está sintetizada a história do Cristo Cósmico, Deus crucificado na matéria, de
Hércules e todos os seus discípulos, e do ser humano comum. Elas constituem a
totalidade dos doze signos.

134
Filho de
O Signo Observações
Jacob
Naphtali é um jogo com a palavra hebraica “taleh”, o
Áries, O Carneiro. Significa o carneiro retorcido e lutador.
Naphtali
Carneiro Observem a história de Abraham e o carneiro
apanhado no mato.
“Ele curvou seus ombros para suportar!” Isto se refere
Taurus, O Touro Issachar à canga e ao trabalho do boi na produção das
colheitas.
Gemini, Os Simão e
“Simão e Levi são irmãos”.
Gêmeos Levi
Ele “desejava para habitação, morar no porto do mar”.
Câncer, O
Zebulon O caranguejo carrega sua casa nas costas, e habita à
Caranguejo
beira mar.
Judá é um filhote. O Leão do leão. “Ele se agachava
Leo, O Leão Judá
como um leão.”
Este nome vem de Ishtar. Ashera é a deusa da fartura.
Virgo, A Virgem Asher Ela é descrita como uma virgem, carregando um feixe
de trigo. Ver Gen. 49,20.
Libra, a Balança Dan “Dan julgará seu povo”.
Mencionado duas vezes uma vez que dois filhos são
Escorpião, a
Dan atribuídos a Gêmeos. Dan será uma serpente... que
Serpente
morde as patas dos cavalos.
“Seu arco cresceu em força”. Seu cavalo é o que
Sagitário José
Escorpião corre atrás.
Nos mistérios egípcios Capricórnio é representado
Capricórnio, O
Benjamim como um Deus com uma cabeça de lobo. “Benjamim
Bode
como um lobo”.
Aquarius, O
Carregador Rubem Significa “o derramamento de água” A água viva.
d’água
Pisces, Os
God Um jogo com “Dag”, o peixe.
Peixes

135
Viagem Através dos Signos
(Como um fundo de cena para o drama representado em cada signo este breve
sumário parece integrar a Série Hércules)

O progresso de Hércules a partir do plano mental, através do plano emocional ou do


desejo, e até a manifestação física, e depois sua jornada através dos doze signos, e por
meio dos doze trabalhos, até o ponto em que ele se torna um inspirado Iniciado, pode
ser descrita para nós brevemente na seguinte afirmação:

Em Áries (21 de março - 20 de abril, o Carneiro), através da captura das Éguas


antropófagas, nós o vemos dar sua partida, reagir ao impulso do pensamento, e
aprender algo sobre o controle da mente. Como o discípulo inteligente, ele inicia sua
carreira, começando com um impulso espiritual indefinido à correção e terminando
como um salvador mundial.

Em Taurus (21 de abril - 20 de maio, o Touro), ele tem de aprender a natureza do


desejo, transmutá-lo em aspiração, dominar o sexo, e usá-lo corretamente, e assim
capturar o Touro de Creta. Este forte impulso, e a potência da atração é, como
veremos, o que produz a grande ilusão, mas que pode, afinal, tornar-se a causa da
iluminação.

Passando para o signo de Gemini (21 de maio - 20 de junho, os Gêmeos), o


progresso do discípulo, até então subjetivo e caracterizado pelo pensamento e pelo
desejo, consegue expressar-se no plano físico. Neste signo ele chega ao
conhecimento de si próprio como uma personalidade e colhe as maçãs douradas do
conhecimento, subordinando à sua iniciativa os três aspectos do eu pessoal inferior, o
corpo físico, a natureza que sente o desejo, e a mente.

Em Câncer (21 de junho - 21 de julho, o Caranguejo), a faculdade superior da


intuição é desenvolvida e isso é simbolizado para nós pela captura de esquiva corça,
ou veado. Sensível e difícil de se encontrar. Em seus anteriores ciclos de experiência
de vida, ele transmutou o instinto em intelecto, mas agora, como o discípulo, ele
deve transmutar o intelecto em intuição. As correspondências superiores a todos os
poderes inferiores têm de ser desenvolvidas e utilizadas.

Assim equipado, em Leo (22 de julho - 21 de agosto, o Leão), ele assume a mais
conhecida de suas tarefas, a morte do Leão de Nemeia. Ele demonstra nesse teste o
poder de fazer duas coisas e prova ao seu mestre que o observa, Euristeu, que sua
personalidade refocalizada e coordenada é caracterizada por aquela coragem
determinada que é o dom das pessoas nascidas nesse signo, e ele dá testemunho
através desse trabalho, também, que o inferior pode ficar subordinado ao superior.
Através do serviço prestado e da sanidade de seu procedimento ele dá uma garantia
da força do seu propósito.

Poderíamos considerar esses cinco labores em Áries, Touro, Gêmeos, Câncer e Leão,
como cobrindo todo o período do Caminho Probatório, e a morte do Leão de Nemeia é o
clímax dessa parte da luta. Agora ele está pronto para trilhar o Caminho do discipulado,
no qual o Cristo interno gradualmente se revela, a matéria está firmemente
subordinada aos usos da alma, e o aspecto-forma vem a ser considerado simplesmente
como a mãe do Cristo criança. Esse progressivo conhecimento começa em Virgem, o
sexto signo, o signo da manjedoura, e é consumado em Capricórnio, o décimo signo, o
signo de nascimento de todos os deuses solares. No Caminho do discipulado, ele tem,
em segundo lugar, que demonstrar ter superado a ilusão, que a miragem mágica que a
matéria impõe sobre o espírito não mais engana. Isto é dramaticamente demonstrado
136
no trabalho realizado em Escorpião, a morte da Hidra de Nove Cabeças. Após
Capricórnio, ele se torna um servidor da humanidade, consagrado ao trabalho da
Hierarquia, e essa dedicação espiritual ao serviço encontra sua expressão nos últimos
dois signos da ronda do Zodíaco, as de Aquário e Peixes.

Em Virgo (22 de agosto - 21 de setembro, a Virgem), portanto, o primeiro dos signos


do discípulo, ele realiza seu sexto trabalho, e arrebata o cinturão de Hipólita, a
Rainha das Amazonas. É interessante notar que o primeiro trabalho no Caminho
probatório havia sido iniciado com um fracasso parcial, em Áries, e o primeiro
trabalho no Caminho do Discipulado em Virgem, “também” é “feito, mas mal feito”. O
discípulo nunca deve estar fora de guarda, pois há sempre o perigo do erro e do
engano. Suas próprias virtudes podem tornar-se seu problema e nos é dito que isso é
possível, mesmo a um alto iniciado filho de Deus, sair do caminho da conquista. Seu
fracasso, todavia, é somente temporário. Novas oportunidades surgem. A
consequência do seu erro pode retardar, mas o dia da restauração e da inevitável
renovação chegará. Em Virgo descrevemos a preparação para a primeira iniciação, o
nascimento do Cristo chamado na cristandade de nascimento do Cristo no coração.
Esse é um acontecimento tanto no plano físico quanto no transcendental, como
constatamos ao estudarmos os signos da Virgem e do Capricórnio.

Em Libra (22 de setembro - 21 de outubro, a Balança), Hércules captura o javali e,


pela performance neste trabalho, demonstra sua aptidão para receber a segunda
iniciação que diz respeito ao corpo emocional. Ele equilibra os pares de opostos e o
demonstra de uma maneira divertida. Ele prova que o porte e o equilíbrio são agora
características adquiridas e que ele está preparado para se entregar à tremenda
tarefa que lhe estava destinada no signo seguinte.

Em Scorpio (23 de outubro - 22 de novembro, o Escorpião), ele enfrenta o teste


supremo, que é também a prova máxima da humanidade e que, se estudarmos os
tempos e as estações, parece que a ela a humanidade está sendo submetida no
tempo atual. O problema diante de Hércules era sua emancipação da ilusão e a
libertação da percepção dos nevoeiros e miasmas, a miragem e as aparências, atrás
das quais a Realidade se esconde. Neste signo ele passa com êxito pela sua maior
prova e a partir de então o seu problema muda. Ele controlou e demonstrou sua
capacidade de superar o desejo; ele tem porte e é equilibrado em seu ponto de vista;
agora, porque ele não é mais dominado pelas aparências e porque ele pode caminhar
diretamente na Luz, ele se torna um trabalhador mundial.

Essa unidirecionalidade é demonstrada para nós em Sagitário (23 de novembro - 22


de dezembro, o Arqueiro), onde vemos a consumação da tarefa iniciada em Áries que
era o uso correto e o controle do pensamento. Em Áries ele capturou as Éguas
antropófagas e as curvou ao seu comando. Agora ele mata os Pássaros Antropófagos
de Estinfalo e acaba com todas as tendências a usar o pensamento destrutivamente.

Em Capricórnio (23 de dezembro - 20 de janeiro, o Bode), ele se torna um iniciado e


aparece diante do mundo como um salvador, um liberado filho de Deus, capaz de
trabalhar no Inferno, na Terra ou no Céu. Ele tira Cérbero do Hades, e através do
simbolismo do cão de três cabeças retrata a elevação da personalidade, o aspecto
tríplice da matéria, até o Céu. Assim ele demonstra que sofreu o necessário
desenvolvimento e experimentou as provas fortalecedoras que o iriam capacitar a
enfrentar com êxito a experiência da terceira iniciação, a da Transfiguração.

Os dois signos seguintes, Aquário e Peixes, nos mostram o Hércules liberado em seu
trabalho, a salvação do mundo. Suas provas não são mais pessoais e individuais, mas
são universais em sua aplicação e demonstram-nos a inclusividade da consciência e a

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vastidão dos métodos empregados pelo discípulo que subiu a montanha em Capricórnio
e não tem mais quaisquer problemas pessoais.

Em Aquário (21 de janeiro - 19 de fevereiro, O Carregador de Água), Hércules limpou


os Estábulos de Augias desviando um rio para lá. Eles não haviam sido limpos desde
há muitos anos. Assim ele simbolicamente derramou as águas limpadoras no serviço
ao homem. Este é o importante signo no qual estamos entrando agora; o mais
significativo de todos os trabalhos cai neste, em seguida ao trabalho culminante
dentre todos. Pode-se pensar com reverência, de Jesus Cristo lavando os pés de seus
discípulos depois de haver seguido o homem com o jarro d’água em seu ombro, até o
aposento superior.

Em Pisces (20 de fevereiro - 20 de março, os Peixes), encontramos por contraste o


símbolo mais exaltado. Pois aqui Hércules capturou o Gado Vermelho, colocou-o (os)
numa taça dourada (a Taça Sagrada) e voou com eles para o Templo. Tal é a beleza
que coroa do signo no qual o homem se torna um salvador mundial, tudo o que
sendo a animalidade tendo sido redimido e transcendido. Interpolado.

Esta curta análise dos doze trabalhos nos deu um quadro um tanto sintético do trabalho
feito por cada discípulo que é verdadeiramente sério, ao avançar de Áries até Peixes. É
um trabalho árduo, lento e levado adiante sob grandes dificuldades, e muitas vezes em
cega ignorância das forças libertadas e dos resultados a serem alcançados. Mas passo a
passo o aspirante é levado ao longo do caminho do autoconhecimento. Seu caráter e
natureza foram testados e postos à prova até que as qualidades que caracterizam a
forma tenham sido transmutadas naquelas que revelam a alma.

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