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Ronaldo Pimentel
Licenciado e Bacharel em Filosofia – UFJF
Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência – UFMG
pimentelrp@yahoo.com.br
Data Trash é um livro de teoria crítica sobre a cultura digital que segue a
linha nietzschiana de pensamento. Aqui, Nietzsche tem um netbook e um modem.
Nietzsche pensava que o ideal ascético retirava o homem do mundo em que vive,
negando a vida em prol de algo que nem se sabe se existe como a vida eterna fora
do mundo. Na verdade, o ideal ascético é uma das utilidades da vontade de
potência. Se não podemos realizar os nossos desejos aqui nesse mundo trágico que
ao mesmo tempo nos dá prazer e dor, então projetamos a existência de um mundo
além através da vontade de potência, vivemos a ascese moral nesse mundo
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Ano I, Nº 03, Juiz de Fora, dezembro/2010 - março/2011
A frase da capa nos diz: “a cheirar as flores virtuais e a contar os mortos por
atropelamento da supervia digital”. Os mortos são aqueles que se matam em vida
para viver o ideal ascético proporcionado pela realidade virtual. A carne dos mortos,
o que tem de real, é aquilo que faz o asfalto do caminho que leva a todos para
dentro da realidade virtual, o paraíso do qual os histéricos partidários da experiência
telemática nunca querem sair. O mundo virtual é uma espécie de mundo
inexistente, produto de um emaranhado de fibra ótica e impulsos elétricos. O
mundo virtual está devidamente armazenado em bancos de dados espalhados pelo
mundo. O mundo digital progride no estado da arte de designers, computação e de
efeitos psicológicos feitos para nos determos cada vez mais dentro dessa realidade.
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desenvolvimento virtuais, etc. O que acontece aqui é que a pessoa pode ter várias
dessas experiências virtuais, mas pode ser que na realidade da pessoa seja
totalmente antissocial. Portanto, a tecnotopia vende a possibilidade de alguém ser
algo que não condiz com a sua realidade, e, portanto, não muda em nada a sua
realidade. A tecnotopia transforma as pessoas em esquizóides, vivem na borda de
um mundo irreal e de um mundo real que estão a negar a todo momento. E pagam
ao tecnocrata para isso.
Tudo que é real degrada-se perante a tecnotopia. Uma vez dentro das
experiências telemáticas proporcionadas pela realidade virtual, não há mais sentido
em realizar os desejos sexuais mais infantis no mundo real. Tudo está a um clique.
Tudo é infantilizado para sermos pegos pelos desejos mais infantis.
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Claro, isso é apenas um cenário filosófico, mas que nos chama a atenção
para lançarmos um olhar crítico para o que está acontecendo à nossa volta em
relação às barbaridades on-line que reverberam em nosso mundo real. Data Trash é
uma leitura obrigatória para filósofos, comunicadores e educadores ou para
qualquer um que lida com as tecnologias contemporâneas.
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