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MANUAL DE

MERGULHO
APRESENTAÇÃO

INDICE
ASSUNTOS PÁGINA
TEORIA I

1. HISTÓRIA DO MERGULHO - O MERGULHO NA ANTIGUIDADE

O homem sempre deparou-se com o mar. Todas as vezes que alguma


civilização estendeu seu domínios até onde fosse territorialmente possível,
esbarrou no mar. Rios e outros cursos de água jamais representaram hiatos
significativos na seqüência da expansão. O oceano, entretanto, interrompeu
migrações e expansões por períodos seculares. Até que a necessidade
aumentasse, obrigando o homem a solucionar novos problemas de
sobrevivência, ele permaneceu em terra.

A prova está, que os povos que possuíam grandes extensões territoriais não
fizeram fama como navegadores. Já, ao contrário, os "ilhados" ou moradores
de penínsulas, com o aumento da população, foram obrigados a descobrir
novas terras, e essas terras sempre estiveram além dos limites do horizonte
marítimo.

Mas, quanto a mergulhar, parece que sempre existiram pessoas ou pequenos


grupos que, apesar de todos os mistérios, atreviam-se a submergir, com água
nos olhos e no nariz, indo direto "ao fundo do mar", de onde traziam ou faziam
alguma coisa, para espanto e admiração de seus parentes e amigos.

"Esses mergulhadores primitivos eram, ao mesmo tempo, práticos e místicos."


Conta-se que um sumeriano chamado Gilgamés (herói e mergulhador),
encontrou e perdeu uma alga marinha que proporcionava vida eterna... Em
portos do Mediterrâneo, nas águas quentes do Golfo Pérsico e em diversas
ilhas espalhadas pela antiga Oceania o homem mergulhava. Há indícios
seguros disso. De experimento em experimento, "aperfeiçoaram o mergulho
nu, alcançando profundidades de 50 a 60 metros".

Embora as referencias sobre Gilgamés datem de mais de 4000 anos, a


atividade de mergulho antiga e mais bem registrada parece ser (na opinião de
Cousteau) a dos gregos, como recolhedores de esponjas. Esta atividade teria
sido descrita, inclusive, por Aristóteles, onde enaltecia a qualidade das
esponjas para serem colocadas sob as pesadas armaduras dos soldados de
então.

Ornamentos em paredes, compostos de madrepérola, datados de mais de


4500 anos, são um testemunho da atividade de mergulho, de alguma forma.

Outras referências citando atividades militares de Alexandre, com o emprego


de mergulhadores, constam da história antiga. Embora não saibamos até que
profundidade alcançaram, o historiador grego Tucídides nos relata que os
espartanos também usaram mergulhadores para enviar suprimentos, passando
pelo bloqueio que os navios atenienses impuseram a ilha de Sfaktiria.

No Japão, a atividade das mulheres pescadoras de ostras data de mais de


1500 anos. Começam aos onze anos de idade e algumas mergulham até os
sessenta anos.
De qualquer maneira, durante milênios, o ato de mergulhar não sofreu
modificações importantes (novas técnicas). No começo do século XX,
entretanto, com o advento da tecnologia e dos experimentos de fisiologia
hiperbárica, a atividade de mergulho apresentou um desenvolvimento
vertiginoso, se constituindo, hoje, numa prática das mais seguras e
interessantes para o homem moderno.

Não obstante o nível de sofisticação que o mergulho atingiu hoje em dia, povos
mergulhadores ainda o praticam tal qual o faziam nos primórdios de sua
história. Os pescadores de pérolas do arquipélago de Tuamoto, no Pacífico
Sul, são um exemplo disso. "O ritual do mergulho" iniciado com uma oração em
que pedem proteção contra tubarões e moréias. Depois, tratam de se
hiperoxigenar, em geral assobiando baixo e com respirações rápidas e
profundas.

Depois o mergulhador prende no dedão do pé uma corda com um peso na


extremidade. O peso é jogado no mar, puxando o mergulhador, os pés na
frente, com pouco ou nenhum esforço de sua parte. Suas únicas ferramentas
são uma luva grossa, que protege a mão contra cortes e arranhões, e um cesto
para coleta. O mergulhador faz em média quarenta mergulhos por dia, variando
de trinta a quarenta metros, para recolher de 150 a 200 ostras.

Essa prática antiga, continuada nos dias de hoje, nos confirma a idéia de que
foi a necessidade econômica, a sobrevivência, o estimulo para que o homem
mergulhasse. Hoje a atividade mais difundida é o mergulho de lazer e é
possível a qualquer pessoa com condições normais de saúde. Mas quando o
homem nele iniciou-se, era para poucos e por questão de sobrevivência.

2. OS POLINÉSIOS E O MERGULHO EM APNÉIA

O ciclo da navegações e descobertas traz muitas referências interessantes em


seus diários de bordo e em suas cartas. Uma delas diz respeito ao encontro
dos portugueses com os povos da polinésia, os quais causam admiração aos
descobridores pelo fato de ser um povo de mergulhadores.

Habitantes de ilhas vulcânicas, com solo pouco produtivo, a pesca era a maior
fonte de alimentação deste povo. Por questão de sobrevivência, o polinésio foi
"flagrado" mergulhando em seu cotidiano. Ora, isso causou grande admiração
aos europeus, gente de muita roupa e com muitas lendas sobre os mistérios do
mar. Fazendo uso de dois pedaços de bambu unidos entre si e ajustados
contra a face do mergulhador, o polinésio mergulhava de pé. A água invadia o
bambu até uma certa altura e ali estacionava, permitindo que fosse mantido um
pequeno intervalo com ar, onde o ajuste da visão se fazia com bastante nitidez
embora com outras restrições de área. E mergulhava em respiração suspensa,
em apnéia.

Mais tarde os nativos adaptaram escamas de tartaruga (extremamente polidas)


as extremidades da "mascara", tornando possível o mergulho com a cabeça
para baixo. Nesta prática atingiram tanta maestria que chegavam, não
raramente, aos 40 metros de profundidade. Os mergulhadores que realizavam
apnéias de mais de 2 minutos eram a maioria. Obviamente, devem ter
acontecido acidentes, mas seu percentual não deveria ser de tal monta, posto
que o mergulho se expandiu cada vez mais entre os polinésios e os demais
povos da Oceania.

Portanto podemos afirmar que os polinésios desenvolveram e são os


precursores da arte de mergulhar com assiduidade e no cotidiano. Foram e
são, até hoje, um povo mergulhador.

3. O CORPO HUMANO E O MERGULHO EM APNÉIA

Certamente, quando os polinésios começaram a mergulhar em apnéia (apnéia


= suspensão voluntária da respiração) desconheciam quase tudo que hoje
sabemos sobre as leis que regem a fisiologia humana em ambiente
hiperbárico. E no entanto mergulharam. Por que? Como conseguiram?

A resposta é simples: foi devido ao fato do corpo humano ter sido feito com
amplas possibilidades para o mergulho, isto é: até certa intensidade de
ambiente hiperbárico (aumento de pressão) a máquina fisiológica se ajusta
automaticamente.

Na verdade, o espectro de possibilidades oferecido pela Natureza ao ser


humano vai além dos limites da terra seca, sendo o mergulho uma prática de
coisas normais no universo de ambientes em que o organismo ainda tem bom
funcionamento.

Não fosse isso verdade, o homem não mergulharia a menos que já tivesse
dominado grande tecnologia que viesse a compensar sua incapacidade
orgânica. Saltar de pára-quedas ou voar são um exemplo desta afirmação. No
entanto, povos totalmente desconhecedores de qualquer ciência tecnológica
atingiram profundidades de mais de 30 metros (4 atm). Foi porque o corpo
humano estava "calculado" para também funcionar ali.

Portanto, ao mergulharmos, ao ministrarmos um curso de mergulho devemos


estar cientes de que não estamos fazendo nada de excepcional e a habilidade
que estamos propiciando é possível a qualquer pessoa com condições normais
de saúde. A seguir veremos o porque desta afirmação.

3.1. A PRESSÃO E SEU EFEITOS

Ora, como sabemos, vivemos sob o peso de uma camada de ar. O peso deste
ar se distribui sobre nosso corpo com o valor de 1 quilograma força por cada
centímetro quadrado da área que apresentamos. (Este valor é um valor de
pressão, que tem como fórmula, sempre, força/área.)

Ao valor numérico acima apresentado como sendo a pressão do ar sobre


nosso corpo, chamamos de "uma Atmosfera de pressão". Portanto, todo o ar
existente no mundo exerce sobre nós a pressão de 1 atm = 14,7 psi (libra) = 1
bar.
Embora haja uma pequena diferença, para efeito de entendimento podemos
dizer que cada 10 metros de água salgada (do mar) propicia um aumento de
pressão de mais 1 Atm. Isto é, a cada 10 metros a pressão aumenta de mais 1
Atm. Aos 10 metros de profundidade o mergulhador estará sob a pressão
hidrostática (só a pressão da água) de 1 atm e, ao mesmo tempo, sob a
pressão absoluta de 2 atm (a pressão da água + a pressão do ar que existe
sobre a água).

a) LEI DE BOYLE E MARIOTTE

Esta é uma das leis mais importantes do mergulho e vem nos explicar a
relação de variação entre pressão e volume. De uma maneira simples ela nos
diz que: o volume de um gás varia de maneira inversa a variação da pressão a
qual está submetido. (Conforme animação mostrada na página anterior)

nível do mar, Prof. = 0 metro

5 lit
------------ pressão = 1 atm

10 metros de profundidade

2,5 lit
------------ pressão = 2 atm
O exemplo anterior nos ilustra como isso acontece. Imaginemos uma bola de ar
com um volume de 5 litros teve seu volume reduzido pela metade, quando a
pressão a qual estava exposta duplicou de valor. Atenção: não houve perda de
ar. O que ocorreu foi que as moléculas desse gás se agruparam por força da
pressão, dando, como conseqüência, uma diminuição do volume ocupado.

Naturalmente, o gás aumentou de densidade (maior número de moléculas por


centímetro cúbico). Esta é outra conclusão da Lei de Boyle e Mariotte, que nos
diz também que a densidade varia diretamente proporcional a variação da
pressão.

No exemplo anterior, quando a bola retornar ao nível zero ela assumirá


novamente o mesmo volume que possuía (5 litros).

Este trabalho de reduzir-se e voltar ao volume normal após o mergulho, os


pulmões realizam silenciosamente, sem que sintamos, quando submergimos
em apnéia. Foi por isso que ser humano conseguiu mergulhar. Este era o
segredo que o polinésio usufruía, sem saber. Todos nós possuímos esta
adaptação automática e imperceptível da caixa pulmonar.

b) PASCAL

A pressão exercida sobre um ponto qualquer de um fluído, se transmite em


todas as direções com igual intensidade.

c) LIMITES DO MERGULHO EM APNÉIA PARA AS PESSOAS, EM GERAL


Para que possamos bem entender este conceito, precisamos saber, primeiro,
que nós jamais conseguimos esvaziar totalmente os pulmões. Quando
exalamos tudo, sempre ficamos com um "volume residual" que, didaticamente,
vamos considerar como sendo de 1 litro. Esse ar residual é o responsável pela
manutenção da menor pressão interna possível nos pulmões.

Considerando que a nossa capacidade pulmonar seja de 5 litros (para efeito de


segurança de cálculo).

Profun- pressão Volume


didade (em atm) Pulmonar
(em l)
------------------------------------------
0m 1 5

10 m 2 2,5

20 m 3 1,66

30 m 4 1,25

40 m 5 1

Ao atingirmos a profundidade de 40 metros, num mergulho em apnéia, nosso


volume pulmonar estar igual ao valor do volume do ar residual. Como dissemos
anteriormente, este valor de 1 litros é o que oferece a menor pressão interna
para que as paredes pulmonares não venham a se fechar contra si mesmas.
Um valor menor que esse ocasionaria um grave acidente que chamamos de
barotrauma pulmonar total. E se ultrapassarmos os quarenta metros, em
apnéia, isso pode ocorrer.

Portanto, podemos dizer que, para o ser humano, de uma maneira geral, o
limite de profundidade/segurança recomendada para essa modalidade seria na
faixa dos 35 metros.
(bar, baro = pressão, trauma = lesão, machucado, barotrauma = lesão por
efeito da pressão)

d) SISTEMA DE IMERSÃO PROFUNDA DOS MAMÍFEROS

Você já deve ter ouvido falar ou lido sobre o fato do homem ter atingido, em
apnéia, profundidades maiores do que os 40 metros. Realmente, o recorde,
hoje, está na faixa dos 120 metros. Ocorre que estes mergulhadores possuem
funcionando em seus organismo um processo que se encontra latente,
hibernado, nas demais pessoas. O chamado sistema de imersão profunda dos
mamíferos.

Para simplificar, diríamos que esse processo funciona da seguinte maneira: ao


ser atingida a profundidade dos 40 metros (portanto, na faixa onde se daria o
barotrauma pulmonar total), por algumas razões de diferença de pressão entre
o interior do pulmão e a pleura começa a haver um fluxo de sangue para o
interior dos alvéolos. O sangue é um liquido, e os líquidos são incompressíveis.
Esta incompressibilidade sustenta o esmagamento que se daria na caixa
pulmonar e o mergulhador, então, ultrapassa a profundidade crítica e vai em
busca do recorde.

Muitas pessoa que jamais mergulharam podem ter, ativos em seus


organismos, este processo; muitas que mergulham a vida toda não o tem.
Mas todos nós o temos, pelo menos em estado latente.

e) BAROTRAUMA PULMONAR TOTAL EM APNÉIA RASA.

Tudo que falamos até agora, diz respeito a apnéia inspiratória, isto é, aquela
onde o mergulhador inicia com os pulmões cheios. Nesse caso o volume
mínimo só seria atingido por volta dos 40 metros de profundidade. Entretanto,
caso já se iniciasse o mergulho com os pulmões em volume reduzido (apnéia
expiratória = exalou o ar e mergulhou), o volume mínimo (1 litro) seria atingido
bem antes dos 40 metros. Num mergulho a partir do pulmão vazio, podem
ocorrer graves problemas já aos 5 metros de profundidade (barotrauma
pulmonar total, de acordo com a lei de Boyle). Soltar o ar durante o mergulho
em apnéia, dependendo da profundidade onde se está, pode criar um quadro
semelhante ao que ocorreria numa profundidade de 40 metros. Portanto, não é
recomendado soltar-se o ar num mergulho em apnéia. O correto é tomar o ar
normalmente, mergulhar, permanecer e voltar sem soltar o ar.

Obs.: Temos conhecimento de caso em que um pescador subaquático (em


apnéia) foi vitima do acidente acima comentado. Estava a 15 metros de
profundidade e soltou um pouco de ar para aliviar a pressão do CO2.
Imediatamente o volume restante reduziu-se a menos de 1 litro. Foi fatal.

3.2. O AR QUE RESPIRAMOS E O CICLO RESPIRATÓRIO

Inicialmente, para efeito de mergulhos, devemos saber que o ar que


respiramos (quer seja quando inspiramos antes de uma apnéia, quer seja
quando o respiramos comprimido no equipamento autônomo) se compõe de
80% de nitrogênio e 20% de oxigênio. Isto é, o ar natural.

Na verdade existem também alguns pequenos traços de gazes raros nessa


mistura, mas de proporções desprezíveis. Portanto podemos considerar o ar
conforme a composição citada acima.
Sob a pressão de 1 atm, portanto ao nível do mar, o nitrogênio não é
assimilado com relevância (exceção para os que moram e/ou vem de locais
elevados para o nível do mar). Neste caso ele tem apenas a função
carregadora. Transporta o oxigênio e traz de volta o Dióxido de Carbono
produzido pelo metabolismo orgânico (CO2).
Nossa respiração é regulada, em intensidade e velocidade, pelas variações das
pressões parciais desses dois gazes em nosso organismo (pressão parcial de
oxigênio ppO2; pressão parcial de dióxido de carbono = ppCO2). Para uma
compreensão mais rápida do fenômeno, sensores nervosos do corpo levam ao
controle do cérebro os níveis da duas pressões parciais as quais nos referimos
acima. O oxigênio "viaja" no sangue, transportado pela hemoglobina, sendo
que apenas uma quantidade muito pequena deste gás se dissolve no plasma.
Já o CO2 tem no plasma o seu meio de transporte.

É ideal que o corpo humano funcione com doses muito pequenas de CO2, uma
vez que esse gás é um produto residual do organismo. Quando a ppCO2
aumenta e a ppO2 diminui, a velocidade da respiração se acelera para
compensar este desequilíbrio. Entretanto a diminuição do nível de oxigênio, se
bem que tenha participação no acionamento deste "estimulo" respiratório, não
se compara a influencia que o aumento da ppCO2 exerce na "necessidade" de
respirar. Embora o mecanismo da respiração seja um processo complexo e
ainda não esclarecido de todo, sabe-se que o grande estimulo da continuidade
respiratória não é o decréscimo da ppO2, e sim a elevação da ppCO2.

a) VOLUMES PULMONARES

Volume Corrente = é a quantidade de ar que participa de um ciclo respiratório


completo (inspiração e expiração). Varia de 0,5 a 1 litro de ar.

Reserva Inspiratória = é o máximo da quantidade de ar que podemos inspirar


a mais. Pode ultrapassar a marca dos 3 litros.

Reserva Expiratória = é o máximo de ar que podemos expirar a mais.


Capacidade Vital = é a quantidade máxima de ar que podemos movimentar
por nossa vontade. Vai desde uma inspiração máxima a uma expiração
máxima. Sendo aproximadamente da ordem de 5 litros e de 4 litros, no homem
e na mulher, respectivamente.

Ar Residual = é aquele volume de ar que sempre permanece no pulmão e do


qual não dispomos possibilidades de exalar. É da ordem de 1 litro de ar.

Capacidade Pulmonar Total = é a soma do volume da capacidade vital + o


volume do ar residual.

Obs.: como você já percebeu, o volume da capacidade pulmonar total será da


ordem de 6 litros. Entretanto, para efeito de segurança do mergulho em apnéia,
é interessante considerá-lo como sendo de 5 litros, limitando-se a 40 metros a
máxima profundidade desta modalidade para o corpo humano em fisiologia não
excepcional, conforme explanado em 3.1.b e 3.1.c.

b) O PROCESSO DA RESPIRAÇÃO

As entradas naturais do ar no corpo são a boca e o nariz. Passando pela


válvula da garganta (glote, que está aberta) vai, via traquéia, direto aos
pulmões. A traquéia é composta por anéis circulares cartilaginosos que se
abrem para esta passagem e que se fecham quando existe material estranho.
Neste percurso, o ar é filtrado, ajustado à temperatura e recebe a umidade
necessária. Prosseguindo, passa pelos brônquios, que são as ramificações da
via respiratória em direção a cada pulmão. Essas ramificações se dividem
ainda mais, até que o ar passe por tubos extremamente finos (bronquíolos) que
terminam em pequenas bolsas membranosas (alvéolos).

É ao nível dos alvéolos que se faz a troca gasosa entre o sangue e os


componentes do ar.

A superfície alveolar, em sua extensão plana, pode ultrapassar a área de 70


metros quadrados, apresentando mais de 600 milhões de alvéolos que
absorvem mais de 250 ml de oxigênio e liberam 200 ml de dióxido de carbono.
Para que o ar entre nos pulmões é necessário uma pressão interna menor do
que a atmosférica. Isso se obtém pela ação do diafragma e dos músculos
abdominais que, atuando, modificam a forma do pulmão, criando esse
gradiente de pressão. Ocorre então a inspiração. Quando esses músculos se
relaxam, no processo inverso, temos a expiração.
c) A COMPOSIÇÃO DO AR ALVEOLAR

Ao entrar nos pulmões, o ar inspirado entra em contato com o ar residual que


se alojava nos alvéolos. O ar inspirado, tomado da natureza, possui uma
composição percentual de gases diferente da que compõe o ar residual, uma
vez que esse último está "adulterado" pela influencia que o metabolismo
pulmonar exerce sobre ele.
É de grande importância a existência desse ar, uma vez que ele recebe o ar
puro e o adapta às condições reinantes no pulmão naquele momento.
Para se ter uma idéia disso, se a ppO2 no ar atmosférico é da ordem de 20%,
no interior dos alvéolos cai para 15%. Com a ppCO2 ocorre o contrário, uma
vez que sendo praticamente insignificante no ar atmosférico, no interior do
alvéolo pode chegar a valores em torno de 5%.
Esta diferença para menos e para mais no percentual existente no alvéolo, em
relação ao oxigênio e ao dióxido de carbono, respectivamente, deve-se a dois
motivos que assim resumiríamos:

1) Menor pressão parcial de oxigênio: é devida ao constante fornecimento


deste gás para o sangue.

2) Maior pressão parcial de dióxido de carbono: recebimento constante deste


gás, proveniente do metabolismo do organismo.

d) VENTILAÇÃO PULMONAR E A IMPORTÂNCIA DO CO2

A este processo como um todo, conforme o que acima foi descrito, chamamos
de ventilação. Ventilação, portanto, é o mecanismo de troca entre o ar que
entra nos pulmões e o ar que dele sai.
A velocidade com que esse processo se repete é regulada pelos teores de
mais ou menos oxigênio ou gás carbônico no sangue arterial. Entretanto, o
aumento da pressão parcial de CO2 é o estimulo preponderante.

Além da importante participação que este gás exerce na ventilação, outras


manifestações também lhe são atribuídas, quando em excesso ou em carência.
Ao acúmulo demasiado de CO2 no organismo, chamamos de hipercapnia.
Neste caso a respiração torna-se curta e a sensação de fadiga é marcante.
Pode haver sonolência, náuseas, espasmos musculares e até inconsciência.

A falta de CO2, por sua vez, chama-se hipocapnia e pode apresentar tremores
musculares, contrações, tonturas e inconsciência.

e) CO2 E OS "ESPAÇOS MORTOS" DO CORPO E DO EQUIPAMENTO

Nem todo o ar que passa pelas vias aéreas participa logo da ventilação. A área
da boca, nariz, garganta e mesmo dentro dos brônquios, que ficaram cheias
pela expiração anterior, isto é, o ar já usado, é quem primeiro voltará aos
pulmões. Obviamente este ar possui maior concentração de CO2. Estas áreas
de ar "repetido" são chamadas de espaços mortos.

Respirando rapidamente, se respira o ar que está nos espaços mortos e,


portanto, se realiza uma ventilação insuficiente, o que aumenta o nível de
dióxido de carbono no sangue. Em conseqüência, o indicado (quer seja no
snorkel, quer seja com o equipamento autônomo) é uma respiração funda e
tranqüila. Assim se obtém uma boa ventilação.

A válvula reguladora e o snorkel são acréscimos do espaço morto e contém ar


da expiração anterior. Devem ser usados conforme recomendado, pois de
maneira errada podem provocar (no caso do snorkel) uma intoxicação por
CO2. Quanto ao equipamento autônomo, em virtude da maior densidade da
água (resistência ao exalar) e da maior densidade do ar que, comprimido passa
pela mangueira (resistência ao inspirar), existe sempre "ar usado". Portanto,
tornamos a recomendar: respire lenta e profundamente.

3.3. BAROTRAUMAS E OUTROS EFEITOS DA PRESSÃO

De acordo com a Lei de Boyle e Mariotte, todo espaço em que existir algum
tipo de gás no corpo ou equipamento do mergulhador, sofre sempre uma
variação de volume em razão inversa a variação que houver ocorrido na
pressão circundante (no caso, provocada pelo aumento ou pela diminuição da
profundidade).

Quanto ao que ocorre nos pulmões, no mergulho em apnéia, já descrevemos


em 3.1.a. Vejamos agora o que acontece em outros compartimentos com ar.

a) BAROTRAUMA FACIAL OU DE MÁSCARA

Já nos referimos anteriormente ao significado da palavra barotrauma como


sendo uma lesão causada pela pressão em sua variações. Dentro de uma
máscara de mergulho também existe ar que sofre variações durante o aumento
da profundidade, reduzindo-se em volume. Esta redução tende a provocar uma
sucção na pele da face do mergulhador, ao mesmo tempo em que a mascara
se achata.
A figura ao lado representa o que ocorreria com a mascara de quem descesse
indefinidamente. Com a diminuição constante do volume do ar interior, a
sucção, em alguma profundidade, chegaria a retirar os olhos das orbitas, caso
não fosse realizada a compensação. O fato de alagar e desalagar a máscara
durante o mergulho já propicia esta compensação. Mesmo sem reparar, a
maioria dos mergulhadores em equipamento autônomo exala um pouco de ar
pelo nariz durante o mergulho, o que por si mesmo já é uma compensação.

Em termos práticos o que se verifica em relação a este barotrauma, é o


mergulhador voltar com a testa bastante marcada pelo movimento da máscara,
mas sem nem ao menos ter sentido qualquer coisa. Por vezes pode ocorrer
algum pequeno sangramento no nariz, devido ao rompimento de algum vaso,
ocasionado pela sucção da máscara. Geralmente, ao tirar a máscara após o
mergulho, alertado pelos companheiros o novato se assusta pensando ter sido
vitima de alguma coisa séria. Cabe ao instrutor tranqüiliza-lo, explicando que o
esquecimento da compensação da máscara teria sido a causa disso, mas que
logo em seguida o efeito cessará.

A referencia relativa ao deslocamento das órbitas oculares é mais um dado


para compreensão do fenômeno. Isso seria o barotrauma no grau máximo e
importaria, até que ocorresse, numa verdadeira prova de resistência a dor.

Óculos de natação não permitem que se faça a compensação. Não são feitos
para o mergulho.

A figura abaixo representa o que ocorreria com a máscara de quem descesse


indefinidamente. Com a diminuição constante do volume do ar interior, a
sucção, em alguma profundidade, chegaria a retirar os olhos das órbitas, caso
não fosse realizada a compensação. O fato de alagar e desalagar a máscara
durante o mergulho já propicia esta compensação. Mesmo sem reparar, a
maioria dos mergulhadores em equipamento autônomo exala um pouco de ar
pelo nariz durante o mergulho, o que por si mesmo já é uma compensação.
Em termos práticos o que se verifica em relação a este barotrauma, é o
mergulhador voltar com a testa bastante marcada pelo movimento da máscara,
mas sem nem ao menos ter sentido qualquer coisa. Por vezes pode ocorrer
algum pequeno sangramento no nariz, devido ao rompimento de algum vaso,
ocasionado pela sucção da máscara. Geralmente, ao tirar a máscara após o
mergulho, alertado pelos companheiros o novato se assusta pensando ter sido
vítima de alguma coisa séria. Cabe ao instrutor tranqüiliza-lo, explicando que o
esquecimento da compensação da máscara teria sido a causa disso, mas que
logo em seguida o efeito cessará.
A referência relativa ao deslocamento das órbitas oculares é mais um dado
para compreensão do fenômeno. Isso seria o barotrauma no grau máximo e
importaria, até que ocorresse, numa verdadeira prova de resistência a dor.
Óculos de natação não permitem que se faça a compensação. Não são feitos
para o mergulho.
b) OS OUVIDOS E A PRESSÃO HIDROSTÁTICA

O esquema a cima representa uma situação em que o tímpano está em


posição de equilíbrio, uma vez que as pressões internas e externas, sobre ele,
estão equalizadas. A figura 5 demonstra, de uma forma esquemática e
simplificada a equiparação de pressões no ouvido médio e no ouvido externo.
No ouvido, a pressão hidrostática da profundidade exerce uma compressão em
uma pequena membrana (porta de entrada) situada entre o ouvido externo (em
contato direto com a água) e o ouvido médio (no interior do crânio). O ouvido
externo traz a pressão do ambiente, que deve ser igualada a pressão interna
do ouvido médio, sob pena do tímpano passar a ser projetado cada vez mais
para dentro, até atingir seu rompimento.

Trompa de Eustáquio (atualmente é chamada de Tuba Auditiva):

Se nos não tivéssemos uma comunicação entre as vias aéreas que vem da
boca e o ouvido médio, o mergulho seria algo impossível para a espécie
humano devido a total impossibilidade de equalizarmos as pressões externas e
internas do ouvido. Ao conduto que permite esta equalização por parte do
mergulhador, chamamos de Trompa de Eustáquio.

As finalidades da Trompa de Eustáquio, em nosso organismo, são basicamente


três:
a) Drenagem: é o esvaziamento permanente do ouvido médio (secreções etc.)
via faringe.
b) Equipressiva: mantém uma ventilação constante.
c) Abertura: durante o dia, em situação normal, permite abertura na freqüência
de uma por minuto. Durante o sono, na freqüência de cinco por minuto.

Na verdade essas aberturas são pequenas compensações de pressão, que


mantém o tímpano na sua posição de equilíbrio.
Participando deste contexto de obtenção da "boa posição" do tímpano, existe
também um fluido no ouvido médio que poder a ser acionado, conforme mais
abaixo falaremos.

Ao iniciar-se um mergulho, inicia-se imediatamente a diferença de pressões


entre o ouvido externo e o médio. Se isto não for compensado, o tímpano
realizará uma introflexão em direção ao interior do ouvido médio. Este
movimento será cada vez mais doloroso e chegaria, caso o mergulhador
estivesse realizando um "desafio a dor", ao ponto do rompimento do tímpano.

Devemos esclarecer bem um conceito: não existe o caso do mergulhador


"estar mergulhando e furar o tímpano". Uma vez equalizado em determinada
profundidade, não há necessidade de mais compensações na mesma
profundidade. Os leigos costumam sempre relatar a estória". Isso é folclórico.

Além do mais, para que chegasse ao ponto de um rompimento, a dor anterior


seria tanta que apenas um louco continuaria a descer sob tamanho sofrimento.
A verdade é que, sem a equalização dos tímpanos o mergulhador não passa
de 1,80 metros de água em condições confortáveis. A pressão incomoda e logo
pode aparecer a primeira sensação de desconforto, generalizada por toda a
cabeça e uma crescente compressão em um ou nos dois ouvidos.
Lembre-se: barotraumas não acontecem como acontece o estouro do
pneu de algum automóvel que num segundo de minuto, antes do furo,
está em perfeitas condições; um segundo depois está totalmente perdido.
O barotrauma geralmente avisa que está querendo acontecer.

c) BAROTRAUMA TIMPÂNICO

A figura esquematiza uma hipótese de barotrauma do ouvido médio, desta vez


ocasionado por uma obstrução na Trompa de Eustáquio. Geralmente alguma
secreção é a causadora. Pode se dar em um ou nos dois ouvidos. Num
mergulho em apnéia, onde se cai rapidamente e não se dispõe de tempo para
perder, a compensação perfeita e instantânea é fundamental. Não sendo
conseguida, o mergulho é interrompido.

Com ar comprimido, quando então dispomos de tempo, a não compensação


pode ser resolvida diminuindo-se a profundidade e tentando-se novamente
realizá-la.

d) COMPENSAÇÃO DO TÍMPANO E A MANOBRA DE VALSALVA

Para se compensar os tímpanos temos que equalizar os espaços aéreos que


existem no sistema auditivo. Isso se consegue pela abertura da Trompa de
Eustáquio e a conseqüente passagem de ar, da garganta ao ouvido médio.

O método mais conhecido de realizar-se isso, no mergulho, é a chamada


Manobra de Valsalva (o nome é em homenagem ao um cientista que, no
século XVII, a demonstrou). Tal manobra consiste em forçar, levemente, o ar
da garganta para o ouvido médio, depois que as trompas estiverem abertas.
Para abri-las o mergulhador comprime o nariz e força o ar para sair por ele.
Como as vias aéreas do nariz Estão fechadas pela Pressão dos dedos do
mergulhador e não sendo permitido que fuja pela boca, o ar não tem outro
caminho que não seja subir, abrindo a trompa e indo para o ouvido médio,
onde o tímpano passa a ser "compensado". Isso deve ser feito suavemente,
sem super-pressão. Desde que as trompas estejam liberadas, a compensação
será uma conseqüência natural.

Como as trompas são fechadas na garganta, a deglutição tem a propriedade


de abri-las.
Portanto engolir em seco durante a descida também pode propiciar a
compensação timpânica. Mas nem todos mergulhadores a obtém desta
maneira, embora hajam pessoas com extraordinária facilidade de equalizar
nestas condições.
Experiências vividas no ano de 1989 conduzimos a um teste de câmara um
grupo de mergulhadores que ia resgatar um alvo militar, com probabilidades de
terem que realizar mergulhos em torno dos 40 metros. Como a operação seria
com ar comprimido, foram submetidos a teste de tolerância a narcose. Nesta
ocasião a câmara "aprofundou" tão rápido que nem tive tempo de intercalar
compensações. Fomos direto ao fundo sem que eu pudesse ao menos aliviar a
manobra de Valsalva. Um dos mergulhadores da equipe não levou o dedo ao
nariz nem uma vez sequer. Desceu engolindo em seco, direto, não obstante a
velocidade com que fomos "submergindo". Foi um belo exemplo de liberação
das Trompas de Eustáquio, pelo processo da deglutição, dando, como
conseqüência, a permanente compensação timpânica.
Num outro prolongamento do ouvido médio, interiorizando-se para dentro do
crânio, temos o ouvido interno, do qual aqui nos interessa saber que:

- possui um fluido que nivelado nos dá as referencias de equilíbrio (no labirinto


e canais).
- quando o tímpano não é compensado e com a finalidade de diminuir o volume
do ouvido médio, é liberado fluido para dentro da cavidade deste último, como
uma tentativa do organismo para equalizar a pressão. Quando isso ocorre, o
mergulhador, interrompendo o mergulho ou mesmo tendo conseguido
compensar a posteriori, sente como se houvesse água no ouvido, podendo
permanecer com uma sensação dolorosa por algum tempo. Obviamente, deve
suspender toda a atividade sub, até que consulte um médico e realize o
tratamento indicado.

Se este processo (de liberação do fluido) não tiver tempo de ser executado
pelo organismo, como atenuação de um problema de não equalização
(geralmente proveniente de uma descida muito rápida, como o salto de uma
ponte realizado por um leigo), a tendência será o rompimento do tímpano.

Rompimento do Tímpano: é caracterizado por dor muito forte, acompanhada de


sangramento. Quando a água tem acesso ao interior do ouvido, o mergulhador
perde a noção de referência, podendo ter dificuldades em achar o caminho da
superfície. Se não for socorrido, existem possibilidades de ficar vagando a meia
água. Em tese, esta desorientação espacial permaneceria até que a água fria
fosse aquecida no interior do ouvido. Se consideramos porém que essa
"espera" só seria realizada por um excepcional mergulhador, devemos também
considerar que um mergulhador deste nível não seria vítima de um acidente
desta natureza, típico do desconhecimento da fisiologia do mergulho.

e) QUADRO CLÍNICO DE BAROTRAUMA TIMPÂNICO

Sinais e Sintomas:
· Dor ostomastóide presente, aliviando pela interrupção do mergulho ou ruptura
do tímpano.
· Presença de zumbido sangramento pelo ouvido ou fossas nasais.

Forma leve:
· irritação no conduto auditivo e membrana timpânica.
· Evolução em menos de uma semana.

Forma moderada:
· inflamação, bolhas e sufasões hemorrágicas (vermelho no conduto auditivo).

Forma grave:
· Ruptura da membrana do tímpano e / ou sangramento no conduto auditivo.

f) VERTIGEM ALTERNOBÁRICA

É a dificuldade de equilibrar as pressões em um ou ambos ou ouvidos e,


mesmo com o tímpano íntegro, haver tonteiras, vertigens e náuseas.
É uma desorientação duradoura, que pode ter suas mais graves
conseqüências quando em mergulho livre, ocasionando o afogamento.

g) BAROTRAUMA DO OUVIDO EXTERNO


"Se o mergulhador usa um gorro de neoprene muito justo ou quando existe
uma rolha de cerume obstruindo por completo o conduto auditivo, forma-se, na
descida, uma câmara aérea isolada no conduto auditivo. A pressão dos tecidos
circunjacentes e do ar na rinofaringe certamente acompanha a pressão
ambiente. Se a Trompa de Eustáquio está permeável, essa pressão se
transmite para o Ouvido Médio e, consequentemente, a pressão no Ouvido
Externo vai se tornando relativamente mais baixa que a dos tecidos
circunjacentes e Ouvido Médio, como se adaptássemos uma bomba de sucção
no Ouvido Externo. Ocorre o abaulamento da membrana timpânica para fora e
surgem edemas e sufusões hemorrágicas no conduto auditivo, podendo evoluir
para exudação capilar e hemorragia franca. Quanto a membrana do tímpano,
ultrapassando seu limite de distensibilidade, poder romper-se. Esse quadro é
denominado Barotrauma do Ouvido Externo. (DEns-300 Manual de Medicina
Sub - Ministério da Marinha / 1976).

Atenção: Jamais use tampões de plástico ou de outro material qualquer para


proteger os ouvidos da penetração da água, durante mergulhos. Dependendo
da profundidade, os tampões podem adentrar no conduto auditivo, chegando
até a furar o tímpano.

h) TIPOS DE TROMPA DE EUSTÁQUIO

Conforme já verificamos, a trompa de eustáquio é fundamental no equilíbrio de


pressões. Ao se realizar uma compensação alguns mergulhadores encontram
mais ou menos facilidades para equalizar. Entre outras causas, o tipo da forma
da Trompa pode ser a variável decisiva.

TIPO I - RETILÍNEO: é o mais comum. 48% dos mergulhadores possuem este


tipo. É o ideal para o mergulho.
TIPO II - ANGULAR: encontrado em 30% dos mergulhadores. É considerado
regular em relação a facilidade de equalizar pressões (Manobra de Valsalva).

TIPO III - SINUOSO: felizmente sua ocorrência é mínima, pertencendo a


apenas 2% dos mergulhadores pesquisados. É um tipo muito desfavorável
para se conseguir a compensação.

Obs.: Num curso de 1o. grau, para evitar que algum aluno já se considere
possuidor do último tipo mencionado e fique temeroso, este assunto não deve
ser abordado. Entretanto o instrutor deve estar sempre atento a esta
possibilidade de ocorrência (é assunto obrigatório num curso de 2o. grau).

i) BAROTRAUMA SINUSAL
Os "sinus" da face (espaços aéreos rígidos e "ocos") se comunicam com a
faringe por condutos pequenos. Isto permite o equilíbrio da pressão no interior
da face. O ideal é que o ar flua normalmente por este caminho, como acontece
quase sempre. A Manobra de Valsalva também realiza isto. No caso de haver
qualquer obstrução, a compensação não ser possível nos "sinus" e a dor e o
desconforto logo se instalarão interrompendo o mergulho. É um barotrauma
característico de descida, podendo algumas vezes ocorrer na subida, devido ao
ar comprimido expandido. Naturalmente, desde que os sinus estejam
desobstruídos, nada disso acontecerá. Há estreita relação entre a obstrução da
fossas nasais e o fechamento dos condutos para os sinus.

Fazer uso de descongestionante pode produzir um efeito imediato que,


desbloqueando o caminho do ar, permita o mergulho. Entretanto a
possibilidade do efeito do remédio ser interrompido durante o mergulho pode
se concretizar e consumar-se numa subida meio dolorosa.
Este é um caso que também propicia algum sangramento após o mergulho,
aparecendo nas fossas nasais. Diferentemente do pequeno sangramento que
ocorre por compressão da máscara (quando esta não é compensada), este
sangramento vem acompanhado de sensação dolorosa. Tendo o problema
ocorrido na subida, é provável que haja ar expandido no sinus. Um
descongestionante é recomendado para permitir que este ar seja aliviado.

Atenção: sob qualquer indício de barotrauma sinusal, o mergulhador deve


retornar logo a superfície. Não deverá voltar a mergulhar até estar
restabelecido, sob pena de se instalar um processo crônico de difícil
tratamento.

j) BAROTRAUMA DENTAL
É um barotrauma de rara incidência, não tendo suas causas seguramente
definidas. Presume-se que isso ocorra devido a pequenas bolhas gasosas que
estariam no "interior da polpa dentária ou em tecidos moles adjacente". Esta
região, não tendo comunicação com o exterior, já possuiria uma pressão
levemente negativa que se agravaria durante a descida.

Este barotrauma, quando ocorre, se faz predominantemente em dentes


recentemente tratados ou em tratamento. Num mergulhador desavisado, pode
ter, como conseqüência da forte dor que apresenta, uma subida precipitada de
graves resultados.

l) BAROTRAUMA CUTÂNEO OU DA ROUPA

É certamente o mais benigno dos barotraumas. A roupa mal ajustada propicia a


formação de dobras entre o neoprene e a pele, que funcionam como espaços
mortos que não podem ser equalizados. Ao retornar do mergulho nada se
sente, entretanto a pele poderá apresentar pequenas manchas vermelhas
nessas regiões. Logo em seguida desaparecem.

3.4. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE BAROTRAUMAS

BAROTRAUMA %
Timpânico 71,62 %
Dental 1,35 %
Sinusal 19,60 %
Facial 4,06 %
Toráxico 3,37 %
FONTE: casuística da BACS (Marinha do Brasil)

3.5 FLUTUABILIDADE E COTA DE EQUILÍBRIO

a) ARQUIMEDES E A LEI DO EMPUXO

Como todos nós sabemos, alguns objetos, alguns materiais flutuam e outros
não. Isso se deve a uma lei física que foi postulada por Arquimedes, filósofo
grego que teria percebido a razão deste fenômeno quando tomava um banho
de banheira, há mais de 2000 anos. De uma maneira mais simplificada,
diríamos que descobriu e formulou a lei do empuxo. Esta Lei nos diz que:

Todo corpo submerso em um liquido recebe, deste liquido (de baixo para cima)
uma força igual ao peso do volume de liquido que o corpo teria deslocado para
aí entrar.
A capacidade de flutuar mais ou menos e a diferença entre afundar e
permanecer a tona, é um resultado da relação entre o peso do corpo e o peso
do volume do liquido deslocado. Um tijolo de madeira flutua e um tijolo de
barro, das mesmas dimensões, afunda. Ambos deslocam a mesma quantidade
de água, portanto recebem o mesmo valor de sustentação no sentido contrário.
Ocorre que, no caso do tijolo de madeira, o peso do corpo é menor do que este
valor. Isto é, o empuxo é superior ao peso real do tijolo.
No caso do tijolo de barro, o empuxo é inferior ao peso real do tijolo.

No primeiro caso temos uma flutuabilidade positiva. O corpo retorna à


superfície. No segundo caso temos uma flutuabilidade negativa. O corpo
afunda. No caso de haver igualdade entre estes dois valores (o empuxo e o
peso) o corpo fica em equilíbrio e temos o caso de flutuabilidade nula.

b) PESO APARENTE

É exatamente o peso que o objeto "aparenta" ter, depois de ter seu peso real
"atenuado" pelo empuxo. Resumiríamos que:

1) Peso real maior que o empuxo = flutuabilidade negativa.

2) Peso real menor que o empuxo = flutuabilidade positiva.

3) Peso real igual ao empuxo = flutuabilidade nula, equilíbrio.

c) APLICAÇÕES NO MERGULHO LIVRE

Observação: no exemplo que se segue, ilustrado pela figura, estamos


considerando o mergulhador com o lastro suficiente para compensar a
flutuabilidade de peças do equipamento, tais como o neoprene.

Desta forma, estamos considerando o mergulho como se o corpo estivesse


totalmente livre de qualquer acréscimo de lastro que não fosse seu próprio
peso.
Ao iniciar a descida, o mergulhador recebe o empuxo no sentido contrário do
seu movimento. A tendência é leva-lo para cima; portanto tem o movimento de
descida dificultado. Tudo isso porque o volume de água que ele desloca pesa
mais do que o peso do corpo.

Na medida em que vai aprofundando, devido a compressão e redução de


volume deslocado (o neoprene torna-se mais fino, o pulmão e o abdomen se
retraem etc.), o empuxo vai diminuindo mas o peso continua o mesmo. Cada
vez há menos resistência à descida.

Nas imediações dos 9 a 10 metros o empuxo torna-se igual ao peso real.


Então, toda resistência cessa e o corpo fica em equilíbrio. A partir daí, a
tendência será, cada vez mais, a facilidade de afundar, como se fosse uma
queda.

Ao voltar de um mergulho mais profundo, o mergulhador tem que se esforçar


para subir até atingir a profundidade de sua "cota de equilíbrio" (de 9 a 10
metros). Depois dela o empuxo facilitar a subida.

d) CINTO DE LASTRO E COTA DE EQUILÍBRIO

Esta profundidade que convencionamos chamar de cota de equilíbrio sofre


pequenas variações em profundidade, devido a constituição orgânica de cada
pessoa (quantidade de adiposidade, peso dos ossos etc.). Mesmo assim fica
na faixa dos 9 metros, mais ou menos. Entretanto, se o mergulhador colocar
peso adicional que venha a alterar sua flutuabilidade natural, a cota de
equilíbrio poder subir muito. No mergulho livre o acréscimo de dois Kg de lastro
poder trazer a cota para menos de 3 metros de profundidade. Isto é perigoso,
pois quer dizer que, a partir daí, a tendência do mergulhador ser sempre a de
cair para o fundo.

Para retornar de um mergulho de 10 metros ele tem que usar sua impulsão,
continuadamente até os três metros. Se parar, volta novamente para baixo.
Subirá esta extensão de água, sem descanso, acumulando cada vez mais
dióxido de carbono pelo esforço em se deslocar com flutuabilidade negativa. Se
obteve vantagens para descer, paga esta facilidade com um risco maior na
hora da subida.

3.6. "APAGAMENTO" E OUTRAS SÍNCOPES DO MERGULHO LIVRE

Atenção: observe, nos tipos de acidente explanados neste tópico, a


importância da cota de equilíbrio como fator de segurança.

a) HIPERVENTILAÇÃO E COTA DE EQUILÍBRIO

Uma hiperventilação exagerada e uma cota de equilíbrio adulterada tem sido a


causa de diversos acidentes no mergulho livre e, particularmente, na pesca
subaquática.

Consiste, a hiperventilação, numa série de rápidas inspirações e expirações


que teriam como resultado a elevação da pressão parcial de oxigênio no
sangue. Em conseqüência propiciaria um maior tempo de apnéia para o
mergulho a seguir. Realmente, se consegue esta elevação do teor de oxigênio.
Mas se produz, em conseqüência, outro fenômeno: a queda da pressão parcial
do dióxido de carbono. Como a cada inspiração (na técnica de hiperventilação)
obriga também a uma expiração, se perde mais CO 2 do que a quantidade que
se ganha em oxigênio.

Iniciando-se o mergulho com um percentual baixo de dióxido de carbono, vai


demorar mais para que o sistema que aciona a necessidade de respirar (vide
3.2. deste Compêndio) entre em funcionamento. O mergulhador desavisado,
vendo que seu tempo de apnéia melhora, considera ser devido ao acréscimo
de oxigênio que, hiperventilando, obteve. Na verdade é muito mais devido ao
baixo nível de dióxido de carbono.

Embora o CO2 ainda não tenha subido o suficiente para desencadear a


necessidade de respirar e o coerente fim daquela apnéia, pode acontecer que
o O2 tenha chegado a níveis munimos. Então, o mergulhador "apaga" sem ter
tido falta de ar.

A partir daí, duas hipóteses podem ocorrer:


1) O Apagamento se deu acima da cota de equilíbrio.

Neste caso a glote se fecha e o mergulhador não bebe água. A flutuabilidade


positiva leva o corpo, com velocidade crescente, para a superfície. Ao receber
a primeira ventilada de ar fresco, são grandes as probabilidades do
mergulhador acordar, tossindo, engasgado, porém vivo e tendo adquirido um
ensinamento do qual jamais se esquecerá.

2) O Apagamento se deu abaixo da cota de equilíbrio.

Neste caso a glote também se fecha e o mergulhador não bebe água. A


flutuabilidade, agora negativa, levar o corpo para o fundo. Embora
inconsciente, a taxa de CO2 continua subindo no sangue. Em dado momento
desta descida ou mesmo já tendo chegado ao fundo, o estímulo para respirar
torna-se compulsivo, devido as altas taxas de CO2 existentes no organismo
(apesar de estar inconsciente, o mergulhador continua em apnéia). Então,
movimentos espasmódicos e característicos da ânsia de respirar forçam a
abertura da glote e o corpo começa a "respirar água". É o inicio do afogamento.

Por estar abaixo da cota de equilíbrio, a tendência ser cada vez ir mais para o
fundo. A menos que seja resgatado por um companheiro nesse primeiros
minutos, as probabilidades de jamais ser encontrado são quase totais.

b) SÍNCOPE POR FALTA DE OXIGÊNIO

Acidente típico de pesca subaquática, tendo já vitimado diversos


mergulhadores, em sua maioria possuindo formação incompleta, sem maiores
esclarecimentos como os que devem ser propiciados num curso de mergulho.
Nesta modalidade de acidente podemos diferir duas particularidades:

1) O ACIDENTE OCORRE DURANTE A SUBIDA:

O mergulhador inspira e inicia-se o mergulho. No momento em que toma o ar e


entra em apnéia (posição 1) a Pressão atmosférica é, naturalmente, de 1 atm e
a Pressão parcial de oxigênio no sangue é de 20%.

Na medida em que vai afundando a Pressão total aumenta e a parcial também,


embora percentualmente o oxigênio esteja sendo consumido (posição 2).

Na posição 3, aos 10 metros, a Pressão total é de 2 atm e a parcial pode estar


em torno de 0,36 atm, mas o percentual de oxigênio no sangue é de 18%.

Tomando posição, um pouco mais abaixo dos 10 m, o mergulhador prepara-se


para o tiro. Sente-se bem. Capricha na pontaria e espera. Sente-se com fôlego
e julga ser isso devido as corridas que tem executado diariamente. Na verdade
o que está ocorrendo é que seu sistema de irrigação sangüínea está
pressionado pela profundidade (Dalton). Então, apesar do oxigênio estar
baixando, a difusão do gás continua, como uma fraca intensidade de água
circulando fortemente numa mangueira de fino diâmetro. Então, apesar do
percentual de oxigênio estar baixando, o "estreitamento da mangueira" por
onde o sangue circula fornece uma "compressão" para que o oxigênio seja
distribuído ao cérebro.

Na posição 5, já subindo e passando pelos 10 metros, a Pressão parcial do


oxigênio pode ser de 0,2 atm, mas percentualmente já pode ser de 10% e o
cérebro continua irrigado.

Na posição 6, diminuindo ainda mais a profundidade, passando por uma cota


em que a Pressão total seja de 1,2 atm, os condutos do sangue oxigenado
retornam ao seus diâmetros normais e, agora, não possuem mais compressão
para fazer circular uma percentagem de, digamos, 8% de oxigênio. Então, o
mergulhador "apaga" por falta de oxigênio.

Se o percentual de oxigênio descer ao nível de 8%, ocorre o desmaio.

É devido a este processo que os mergulhadores se sentem bem na


profundidade, mesmo consumindo oxigênio. O problema é na volta.

Este acidente, conforme descrito e ilustrado, tem afinidade com os dias de


águas muito claras. Nessas ocasiões o apneísta sente-se mais a vontade para
aprofundar. As águas claras iludem a noção de profundidade e apenas na
subida é que o mergulhador percebe que "ainda falta chegar onde já devia ter
chegado".

Uma boa técnica para se livrar deste acidente é respeitar seu tempo de apnéia,
em qualquer profundidade. Se for necessário um mergulho mais fundo, tenha
certeza de que esteja sendo observado por alguém capaz de intervir a seu
favor. É devido a freqüência deste acidente nas águas claras, que a água muito
azul é chamada, na gíria da pesca sub, de "água azul-caixão".

Experiências Vividas:

No tempo em que praticávamos pesca sub, passamos, juntamente com nosso


companheiro, um dia inteiro de mergulhos além dos 15 metros, em águas
excepcionais. Era um mergulho cada um, sempre sob as vistas do outro, que
também tinha condições de aquacidade para intervir. Chegando no cais, ao
entardecer, soubemos de acidente fatal que se dera numa ilha próxima: um
mergulhador ensinava a um iniciante. Demostrou um mergulho e... apagou. E o
jovem não tinha condições de intervir...
2) O ACIDENTE OCORRE AINDA NO FUNDO:

É um Apagamento que ocorre após o mergulhador ter sido fartamente


advertido pelo seu organismo de que era hora de ventilar. Geralmente se dá
momentos antes de um tiro ou mesmo logo após ele. (este é o motivo por que
sempre se conta de alguém que morreu e foi encontrado com um peixe fisgado
no arpão). A causa parece ser a emoção; parece ser adrenalina que
"disfarçaria" a verdadeira situação do nível de oxigênio no sangue. Na verdade
a causa é a imprudência, a superavaliação ou a dificuldade de abrir mão de um
peixe quase capturado... em suma, a imaturidade.

Isso ocorre da seguinte maneira:

O pescador tem um peixe quase em posição de tiro, o qual, segundos antes, se


movimenta e passa a oferecer uma área menor para a visada. Aos poucos,
lentamente, começa a oferecer, novamente, uma melhor posição. Então, o
pescador espera que o peixe se coloque em situação favorável...

Nesse espaço de tempo, o mergulhador já sentiu vontade de respirar... mas


procura se conter, uma vez que basta mais um pouco apenas para atirar. A
emoção é grande. O peixe, uma "peça" respeitável. O homem não quer perdê-
la. Se subir para respirar, provavelmente não o encontrar de novo. Então, usa
de tudo que sabe para poder "agüentar", permanecendo até o tiro e, com esta
finalidade, o mergulhador chega mesmo a soltar um pouco de ar para se aliviar
da pressão que o CO2 faz no comando de "respirar". E sente melhoras. E
permanece. O nível de oxigênio já é mínimo. A taxa de dióxido de carbono é
compulsivamente alta. Mas a emoção e o desejo são ainda maiores. Então,
finalmente, atira. Vê que acertou e corre ao arpão para garantir a ferrada.
Apaga, mas sentiu muita falta de ar antes disso.
c) INTOXICAÇÃO POR GÁS CARBÔNICO

Causada pelo ventilação insuficiente.

Retornando de um mergulho onde permaneceu o máximo que poderia ficar, o


mergulhador tem pressa de voltar ao fundo. Algo ocorre que, de acordo com
seu julgamento de prioridades, lhe parece fundamental mergulhar
imediatamente. Desalaga o snorkel, respira e mergulha. Geralmente é um
peixe já arpoado e entocado no qual o pescador "trabalha".

Após uma série de mergulhos desta natureza, onde a ventilação foi deficiente,
pode ocorrer um início de intoxicação por CO2, provocando tonteiras e até
algum desmaio.

ATENÇÃO: ao retornar de um mergulho em apnéia, apenas execute o próximo


quando seu coração já estiver normalizado em freqüências cardíacas. Isto é
propiciado o tempo de respirações suficientes para o esvaziamento da taxa de
dióxido de carbono acumulado em razão do mergulho realizado.

Duas ou três respirações, calmas e profundas, terão sido uma boa ventilação
antes do mergulho.

4. PRÁTICA DE SNORKEL NO CURSO DE MERGULHO AUTÔNOMO

Toda experiência dos instrutores, juntamente com o cabedal de possibilidades


e facilidades que o equipamento de mergulho autônomo oferece, visam,
basicamente, dois objetivos:

· a realização de uma aprendizagem gradual, confortável e direcionada.

· a segurança indispensável à pratica da atividade.


Nas considerações que este tópico desenvolve, vamos nos ater à segurança.
4.1. A PEÇA MAIS IMPORTANTE DO EQUIPAMENTO

Numa época em que as coisas rapidamente ficam ultrapassadas, bem como


alternativas técnicas (que até bem pouco não eram cogitadas) são
acrescentadas ao equipamento do mergulhador e catalogadas como
primordiais, o snorkel parece ter sido a peça que menos aperfeiçoamentos teria
apresentado.
Realmente, tudo que se venha acrescentar a este pequeno conduto de ar, logo
se transforma em mais uma seção a oferecer possibilidades de vazamentos e
panes. Há que se admitir que, se existe alguma coisa definitivamente perfeita
em meio a parafernália de acessórios que, atualmente, transformam o
mergulhador "consumista" numa verdadeira árvore de Natal sub, esta "coisa" é
o snorkel.

É muito importante a prática do snorkel nos curso de 1° grau. Não se pode


considerar que o snorkel só faça parte de um curso de mergulho livre.
Acreditamos ainda mais; estamos convencidos ser esta a peça mais importante
do equipamento. O domínio desta técnica garantirá a vida em situações
inúmeras. Ao término de um mergulho já assistimos muitas coisas
acontecerem, dificultando o retorno à embarcação. Até mesmo um colete
equilibrador, no qual o mergulhador moderno deposita ilimitada confiança, pode
furar ou apresentar pane, entretanto um snorkel sempre oferecer lealmente
seus serviços.

A prática tem demonstrado que, no mergulho com ar comprimido, uma vez que
o aluno passe a acreditar no equipamento de respiração, raríssimas vezes
ocorre qualquer problema sob a água. Primeiramente, porque o aluno se
descontrai e, então, realiza as técnicas de deslocamento e respiração de
maneira calma e correta, normalizando totalmente sua ventilação; por fim,
devido ao alto grau de confiabilidade que o material hiperbárico atingiu,
raramente se apresenta alguma pane de funcionamento.

As probabilidades da ocorrência de qualquer problema incidirão na área de


superfície, após o mergulho, no retorno à embarcação. Quaisquer que forem as
características do incidente, (pane de equipamento ou pane emocional) a
utilização correta do snorkel será de grande auxílio para superar o problema ou
mesmo para esperar, na superfície, à vista dos demais, o socorro necessário.

A prática do snorkel (geralmente chamada "pratica de apnéia") é de caráter


obrigatório nos cursos de formação 1° grau (ar comprimido), segundo
orientação da CBPDS para todas as Escolas do Sistema Oficial de Mergulho.

EXPERIÊNCIA REALIZADA
Com a finalidade de corroborar as afirmações evidenciadas no tópico anterior,
esta Direção Técnica realizou, dentro de todas as normas de segurança
previsíveis, a seguinte experiência:
TESE: estar sob a água é uma atividade extremamente fácil, desde que o
mergulhador tenha adquirido confiança no suprimento de ar. Mesmo uma
pessoa que não saiba nadar, mas estando informada e sendo capacitada a
executar as compensações necessárias, pode permanecer em profundidade
considerável, com estabilidade emocional apreciável.
Consegue, no fundo, a sobrevivência que não conseguiria na superfície.

Local do evento: Ilha Rasa, aproximadamente 8,5 milhas da barra da Baia da


Guanabara, RJ.

Participantes: Este Diretor Técnico e mais dois instrutores da CBPDS/CMAS


(na água). Grupo de apoio (a bordo).

Participante Principal: Sra. Rosilene Barbosa Shimomura (36 anos).

· profissão: professora.

· Nível de natação: nenhum (nunca aprendeu a nadar)

Ano: 1993

DESENVOLVIMENTO: após dominar as técnicas mínimas de compensação


timpânica e sendo considerada como estabilizada emocionalmente é foi levada
até os 22 metros de profundidade, onde demonstrou confiança e pediu para ter
as mãos liberadas do apoio que os instrutores lhe forneciam. Posteriormente foi
conduzida ao nível dos dez metros onde, fascinada pelas condições de
visibilidade das águas e da vida marinha, permaneceu até o final do mergulho.

Sendo considerado o tempo como encerrado, subiu à superfície imitando o


movimento de nadadeiras dos instrutores. Subiu por conta própria, pelo seus
próprios movimentos, ladeada pela nossa equipe que controlava a velocidade
de subida.

Tão bem saiu-se no mergulho que custávamos a crer tratar-se de alguém que,
absolutamente, não nadava.

Chegando à superfície e sendo solicitada a trocar a reguladora pelo snorkel,


não teve (como era já esperado) condições de se manter à tona, bem como
perdeu toda a coordenação de movimentos. Amparada pelo grupo, foi
conduzida para embarcação em perfeitas condições de saúde e a experiência
foi dada como encerrada.

4.2. AQUACIDADE

A facilidade com que o mergulhador domina o seu centro de gravidade nos


diversos movimentos, sob e sobre a água, é denominada aquacidade. Disto, o
mínimo que pode obter (se por ventura nada ainda conseguiu neste sentido),
num curso de 1° Grau, a manter-se na tona respirando pelo snorkel. A
conquista desta possibilidade será garantia de sua segurança em todos os
aspectos das diferentes modalidades de mergulho.
A caça subaquática e a prática da apnéia foram sempre a grande escola deste
atributo básico de um mergulhador confiável.

Não pretendemos que isso seja alcançado num curso de mergulho. Exigimos,
sim, que isso seja iniciado; que seja evidenciada esta necessidade; que seja
incutido na mentalidade dos alunos a urgência em se conseguir níveis cada vez
maiores de aquacidade, mesmo depois do curso realizado. É necessário
incentiva-los a prática das mais diversas atividades com o snorkel, para, a
qualquer momento, estarem em condições de realizar mergulhos autônomos
com segurança.

Lembre-se: por mais confiável que seja um colete equilibrador, o


mergulhador só estará acima dos níveis mínimos de segurança se puder,
equipado completamente, permanecer tranqüilo na superfície, apenas
"dependurado" no snorkel.

5. OUTROS EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NO CURSO DE MERGULHO


LIVRE

5.1. A MÁSCARA DE MERGULHO E A VISÃO SUBAQUÁTICA.

O presente trabalho, como no início foi evidenciado, destina-se aos instrutores.

Portanto não vamos aqui explicar quais são as características de uma boa
máscara de mergulho. Apenas vamos relembrar determinados conceitos, posto
que as perguntas dos alunos são sempre as mesmas, não importando em qual
Estado do Brasil estejamos.

Quando olhamos para alguma coisa, fora da água, a luz passa pelo ar e
penetra no nosso olho. Na vista, temos um liquido de densidade muito
semelhante a da água do mar. A diferença de densidade entre o ar e o liquido
que mencionamos, faz com que a luz seja refratada ao entrar no olho. E essa
luz refratada cai então na retina e nós enxergamos o objeto com perfeição.

De olhos abertos, debaixo d'água, esta diferença de densidade deixa de existir.


A refração torna-se mínima e, em conseqüência, tudo parece desfocado. Ora,
então precisamos do ar para podermos focalizar. E inventamos um "colchão de
ar" que vem a ser a máscara de mergulho.

Ocorre que, ao inventarmos a máscara de mergulho, para mantermos o ar na


frente dos olhos, fomos obrigados a separar as duas densidades (da água e do
ar) com um pedaço de vidro. Logicamente, a separação de densidades não
ficou perfeita como aquela existente entre o ar e o liquido que possuímos na
vista. O "corpo estranho" adicionado entre as duas superfícies provoca, pela
separação ar/água, uma refração da luz. Está ao atravessar ambientes
fisicamente diferentes, passa a ampliar tudo, em torno dos 30%.

Entre outras distorções ocasionadas pelo indispensável vidro, resta-nos saber


que só teremos uma visão não distorcida numa pequena faixa perpendicular ao
plano da máscara. A visão lateral não posiciona as coisas onde realmente se
encontram. Para enxergá-las deve-se movimentar a cabeça, procurando
colocar o objeto do nosso interesse bem a frente da máscara.

Como um todo, a visão periférica proporcionada por uma máscara de mergulho


é inferior a 80 graus.

5.2. NADADEIRAS

Sobre este equipamento julgamos ser importante fazer a observação de que


todo iniciante deveria tê-las do tamanho menor. A suspensão provocada pelo
movimento desordenado das nadadeiras é muito prejudicial às formas de vida
que permanecem rente ao fundo. Os corais são as maiores vítimas, tendo em
vista que toda areia levantada acaba por se depositar sobre eles. Esta prática
imperita, na mesma região, termina por intoxicá-los. É muito importante que o
mergulhador seja capaz de dominar seus movimentos de impulsão com
suavidade, tocando no fundo apenas por opção e com consciência.

Este trabalho não é uma propaganda comercial de qualquer fabricante.


Estamos portanto liberados para afirmar que, embora quase todas as ofertas
do mercado sejam de nadadeiras com comprimento avantajado, as melhores
para um aluno de mergulho serão sempre as de tamanho normal. Desde a
facilidade de manejo até a preservação ecológica.

6. A LUZ E O MAR

6.1. A VIDA E A LUZ

"O mar compreende camadas de água, transparente ou turvas, de temperatura


e salinidade diferente, em que partículas mortas podem permanecer em
suspensão, em que criaturas planctônicas podem lutar por suas minúsculas
vidas.

As camadas sobem e descem constantemente, sob a influência do sol. Por


toda parte, no oceano aberto, ao amanhecer, trilhões de toneladas de criaturas
afundam da superfície para a zona de crepúsculo, centenas de metros abaixo,
como se estivessem assustadas com a luz.

Depois do por do sol, toda essa incontável multidão retorna à superfície. Essa
gigantesca migração vertical, a pulsação do oceano, é desencadeada somente
pela luz, a luz que é mãe da vida através da fotossíntese, a luz que é a
fabricante do nosso oxigênio, a luz arquiteta da beleza." (J. YVES
COUSTEAU).

a) FATORES PRINCIPAIS DE VARIAÇÃO DA VISIBILIDADE

A luz que penetra no mar possui todas as cores conhecidas, reunidas sob a
forma que costumamos chamar de espectro luminoso. Quando essa luz, como
um todo, penetra na superfície, encontra, como campo de propagação, um
meio oitocentas vezes mais denso. Isto é, a água do mar. Nesse momento,
além de diminuir sua velocidade (de 300.000 para 225.000 km/s) os raios de
luz são absorvidos e refratados pelas moléculas da água, bem como pelas
partículas de areia, sal e outras suspensões. Ricocheteando em cada uma
desses "empecilhos" a luz prossegue em sua penetração até que toda sua
energia seja absorvida.

Esse processo de absorção e dispersão é que determina o alcance e a


intensidade da visibilidade. Obviamente, no mar aberto, desde que a água
possua menos suspensões, a luz só será absorvida em maiores profundidades.
Daí as excelentes visibilidades que se pode obter.

b) POR QUE O AZUL PERMANECE?

Cada cor do espectro luminoso possui um comprimento de onda diferente.


Quanto menor o comprimento de onda de uma cor, mais rápida ela ser
absorvida pelos componentes da massa d'água. O azul é a cor de maior
comprimento de onda, portanto é a que mais se demora para ser absorvida.
Aos 8 metros prof., quase toda luz vermelha (que poderia ser captada pelo olho
humano) já foi absorvida. Então, alguma coisa que conhecíamos como
vermelho passa a ter, para nossa percepção, outra coloração.

Entre as cores que se destacam no mar, o amarelo seria a última a permanecer


chamando a nossa atenção. Até os 20 metros, ainda é "amarelo". Depois é
absorvido.

Em tese e no mar aberto, abaixo dos 30 metros a coloração geral ser o azul,
uma vez que as demais cores, por possuírem menor comprimento de onda, já
terão sido absorvidas.

Quando isso não ocorre no mar largo ou quando nos referimos a águas mais
próximas do litoral, a causa da presença de uma outra tonalidade dominante
(verde, azul esverdeado, cinza etc.) é a presença de determinadas partículas,
água doce (barrenta), proliferação e morte de diatomáceas (componentes do
plancton) ou mesmo a poluição.
7. A ESCOLA DE MERGULHO E A PESCA SUBAQUÁTICA.

Embora o mergulho de lazer, comumente chamado de turismo subaquático,


possua uma finalidade totalmente diversa daquela que motiva o pescador
subaquático, é nosso desejo que um instrutor de mergulho autônomo
CBPDS/CMAS considere alguns tópicos que podem interessar de perto à sua
Escola.

a) É notório que, nos estados onde a praia é de fácil acesso, grande número
dos alunos que se matriculam em cursos de mergulho com equipamento
autônomo, praticavam pesca sub. O fator mais forte que teria motivado o
ingresso do aluno na escola do ar comprimido, bem provavelmente, foi a
descoberta do mar através da pesca submarina.
b) É considerável o número de alunos que, após o curso de mergulho, também
pretendem obter iniciação em pesca sub.
c) Durante um curso de mergulho, quando o assunto permite ou mesmo após
as aulas, é comum que alunos façam perguntas que envolvam a pesca sub.
Algumas dessas perguntas se revestem de um questionamento ético em
relação a um procedimento ecológico. Outras já são mais direcionadas a
pescaria propriamente dita.
d) Acaba de ser lançado pela CMAS a carteira de pescador subaquático
formado por Escola Oficial do Sistema. Brevemente a CBPDS passa a emitir
este certificado, juntamente com o envio de programas de curso para as
Escolas interessadas. Trata-se, pois, de mais uma opção de mercado
destinado às Escolas de Mergulho.

7.1. A PESCA SUB É ANTI ECOLÓGICA?


O fato do homem capturar peixes e deles se alimentar é tão antigo quanto o
mundo e sempre se constituiu num ato de sobrevivência. Diríamos que o que
caracterizaria um comportamento anti-ecológico ou depredador não é o fato de
capturar peixes, mas sim a forma como se realiza esta captura.

A pesca de cerco ou de arrasto é responsável por quase 70% da pescaria do


mundo. O restante, praticamente 30%, vem da pesca de linha de fundo.
Repare que estas percentagens se revestem de uma conotação de pesca
profissional. Portanto estamos falando de milhares e de milhões de toneladas
de pescado.

Para que se tenha uma idéia mais exata, com a finalidade de formação de
opinião, saiba que uma traineira pode vir com mais de 30 toneladas de peixe
por dia. E se possível, ela pesca todos os dias a e quantos barcos destes ou
maiores existem sobre as águas dos oceanos?

Ocorre entretanto, que a rede e o anzol não tem a aparência de armas, mas o
são. A rede e o anzol tem se prestado a muitas melodias e inspirado vários
poetas... que cantam o mar e os pescadores...

Ocorre que quando um dos pescadores é um praticante de pesca sub, ele não
carrega rede nem anzol. Seu equipamento de captura tem a aparência de uma
arma. Então, ele pode ser estereotipado como um "destruidor". Mas é o
pescador que menos pesca. Se consegue pescar um dia, talvez só pesque
novamente no próximo mês. Se capturar, após estafante dia de mergulhos, 10
Kg de peixe, sente-se feliz. E tem mais: come seus peixes.

Como o mergulho em apnéia é cansativo e como a arma só tem um tiro, é o


pescador mais consciente que existe. Escolhe muito. É o único que pode
escolher...

Num lance de rede tudo pode vir: peixes adultos, filhotes e o mais grave: ovos
aos milhares que estavam nas águas e se fixam nas escamas do cardume
capturado. Isso é o que compromete a geração futura. Isto jamais ocorre na
Pesca Sub. Pelo contrário, quando um excelente mergulhador vai fundo e
captura um peixe maior, tem a certeza de que capturou apenas um peixe e, se
o tamanho for avantajado, tem também mais uma certeza: a de que aquele
peixe já reproduziu muito no mar.

Então, pelas diversas condicionantes que limitam as condições de


permissibilidade para um dia de pesca (temperatura e visibilidade das águas,
condições do mar etc.) pelo exercício descontínuo desta atividade, pelo baixo
rendimento obtido quando comparado a qualquer outro esforço de pesca, pela
possibilidade de seleção visual do peixe... certamente seria a pescaria que
menos se prestaria a ser cogitada como anti-ecológica... Mas como este tipo de
pescador (amante do mar, certamente) carrega consigo, para baixo d'água, um
equipamento de captura de pescado que, realmente, tem a aparência daquilo
que verdadeiramente é, parece ser o destruidor dos oceanos... o perturbador
de toda a vida subaquática, o dizimador das espécies. Certamente um juízo
precipitado.
7.2. EM HARMONIA COM O MAR

Em qualquer tipo de atividade subaquática o praticante deve entender o meio


no qual a exercita. Deve saber respeitar de forma sincera, não interferindo
naquilo que não é sua finalidade. Em desequilíbrio, prejudicando o meio no
qual vivenciam a experiência, estão, no nosso entender:

1) o mergulhador em ar comprimido que em tudo toca, retira do lugar, examina


e prossegue.
2) o mergulhador em ar comprimido prejudicado em aquacidade ou mal
lastrado, que se desgoverna e bate com garrafa em pedras ou corais.
3) o mergulhador em ar comprimido que levanta areia e lama com o movimento
desordenado ou acelerado das nadadeiras.
4) o pescador sub, em apnéia, incapaz de uma identificação seletiva de fauna,
tentando capturar tudo que parecer ser peixe.
5) o pescador sub, em ar comprimido, desportivamente pescando, com ou sem
conhecimento seletivo de fauna.

Aqui nos referimos à desarmonia, enfocando apenas a situação do


mergulhador. Se fossemos nos reportar a outras práticas nocivas, unicamente
relativas a tipos de pescaria, longa seria a nossa lista. A exploração comercial
do pescado, juntamente com o despejo sistemático de toda ordem de resíduos
e detritos produzidos pela nossa própria forma de vida é que são os grandes
vilões desta história.

A conscientização a nível intimo é tarefa difícil, tantos são os interesses a


justificarem procedimento anti-ecológico. À Escola de Mergulho interessa um
mar saudável: interessam peixes de várias espécies para a visualização, para o
deslumbramento daquelas pessoas que levamos para baixo d'água.

Como Escola de Mergulho não podemos reduzir a matança das baleias ainda
praticada por algumas nações. O uso indiscriminado da rede, de cerco ou
arrasto, praticado em algum local do mar, fora de nossas vistas, também é fato
sem controle. A propaganda veiculada pela mídia, em favor da ecologia e da
mudança de alguns hábitos, atinge, no nosso entender, justamente aqueles
que não se constituem em agentes causadores do malefício. Quanto ao
pescador inculto, se não lhe é dada outra alternativa de sobrevivência, a
necessidade sempre fala mais alto do que a ética. Quanto aos capitais
investidos na área de captura, estes não tem outra lógica que não a da
remuneração. Naturalmente algumas providências governamentais tem
atenuado, até onde isto é possível, esse estado da coisas. Mas ainda é pouco
e, com o tempo, todos pagarão a imprudência cometida: os que pescam e os
que não pescam.

Na verdade é numeroso o grupo de ecologistas que se alimentam do pescado.


Provavelmente pescam de forma correta e consciente, ou então esperam que
alguém faça isso por eles.
a) COERÊNCIA E INCOERÊNCIA

Temos assistido, inúmeras vezes, participantes de passeios de mergulho e


excursões diversas apresentarem extremos cuidados em sua intervenção na
vida subaquática. Na volta, no restaurante do clube, é comum pedirem algum
tipo de peixe como refeição. É lógico: estão à beira mar (ou de um rio ou lago),
e se presume que o pescado, ali, seja saudável.

Mas fica a pergunta: de que forma imaginam que aquele peixe veio parar no
seu prato? obviamente alguém o pescou. Mas parece que na hora da fome não
se questiona a forma como isso ocorreu. Já que são grandes os cuidados em
relação a preservação, melhor seria que até nesses detalhes permanecessem
os procedimentos de zelo para com a natureza.
Nos parece, também incoerente, o instrutor de mergulho que tece
considerações desairosas em relação a Pesca Subaquática, quando ele
mesmo faz uso do pescado como meio de alimentação. Talvez também se
esqueça que o carro chefe do mergulho no Brasil (que em conseqüência
acabou por propiciar todo o esquema atual da qual sua Escola faz parte) foi a
Pesca Subaquática.

Nos pareceria mais coerente que, caso a Escola pudesse, ao contrário de


denegrir esta atividade (o que não vai impedir nenhum dos que estão
interessados em permanecer no interesse), tomasse, ela própria, a iniciativa de
ensinar e disciplinar consciências quanto a forma correta desta modalidade de
apnéia.

A experiência nos mostra que o jovem, quando interessado nisso, busca por
todos os meios a oportunidade de praticar. Se a prática é inevitável, em
benefício dele e em benefício dos peixes não temos dúvidas que melhor seria
se contasse com uma filosofia de ensino neste sentido, corrigindo deturpações
de conceitos, podando necessidades exibicionistas e, principalmente
conscientizando o pescador sobre a grande responsabilidade que adquire, em
relação a escolha que fará antes do tiro, bem como quanto ao destino que dar
ao rendimento de sua pescaria.

Isto traria ainda mais algum benefício: a diminuição dos acidentes por arma de
pesca sub ou por diversos tipos de Apagamento. Para os peixes que tem seu
habitat sobre os bancos de coral, a certeza de sobrevivência para frades,
labros, baiacus, salemas, pequenos budiões, barbeiros, sargentos, tartarugas
etc., que jamais seriam alvejados por um pescador bem formado.

b) UMA QUESTÃO DE OPÇÃO

Com a introdução de mais este curso, dentre outros regulados pela


CBPDS/CMAS, amplia-se o espectro de alternativas que podem ser oferecidas
por Escolas de Mergulho. Ministrar ou não um curso desta natureza‚ uma
opção interna da Escola. Caso decida-se por isso, há que saber não ser
possível a improvisação. Não se contando com pessoal experiente e com
considerável maturidade didática, um curso dessa natureza pode apenas ser
uma oferta de risco. Tal prática evidenciaria a irresponsabilidade da pretensão
não fundamentada, em momento de tardia autocrítica.

Entretanto, possuindo a Escola, pessoal capacitado a este ensino, o mesmo


pode ser ministrado.

Dependendo da dinâmica como for desenvolvido, um curso desta


especialização pode ser muito mais preservador da vida marinha do que se
possa imaginar.

Indubitavelmente o mais grave desse serviço que se pode prestar ao litoral


brasileiro é abandoná-lo à inexperiência e impetuosidade de jovens que, sem a
mínima disciplina ecológica, lançam-se "às aventuras da pesca subaquática".
Propor-se qualquer tipo de proibição generalizada seria, no mínimo
ingenuidade; no máximo, demagogia. Tal medida além de iníqua, se revestiria
de um caráter discriminatório, que não resistiria à primeira contestação: por que
proibir-se a pesca sub, de rendimento insignificante no seu todo, e permitir-se a
pesca de milhares de toneladas diárias?

A Escola de Mergulho não pode controlar a traineira "galhuda" que, com sua
rede de arrasto a reboque, fora das vistas de quem de direito, passa o pente
fino no leito da plataforma. E depois despeja a mistura no convés, seleciona e
joga morto no mar o que não lhe convém. Mas pode ensinar a um pescador
sub que "aquela tartaruga grande" lutou muito para chegar a tal tamanho no
oceano e, portanto, deve ser respeitada e seguir. Pode ensina-lo a não se
apoiar nos corais, antes de atirar, buscando outros tipos de sustentação e pode
orienta-lo a pescar em seu proveito aquilo que seria o mais lógico,
preservando, de maneira inegociável, a vida marinha das regiões do coral,
constituída de peixes mais lento, em transição para bentônicos, que são as
verdadeiras "aves coloridas" do mar (que até, por coincidência, os piores para
alimentação).

c) UMA NORMA DE CONDUTA A BORDO

Caso a Escola opte ou já tenha optado por entrar neste segmento do ensino de
atividades subaquáticas, certas normas de conduta tem que ser
imperiosamente cumpridas, quando das saídas para o mar A saber:

1) No local onde se realiza excursões de mergulho de lazer (ar comprimido ou


apnéia), não se pratica pesca sub. Nem antes, nem depois.
2) Embarcação que notoriamente viaja levando excursionistas para mergulho
com ar comprimido, não deve ostentar armamento da pesca sub.
3) É vedada, dentro da filosofia CBPDS e sob a orientação da comissão
Nacional de Instrutores de Mergulho, a prática de pesca sub com ar
comprimido, quer seja em equipamento autônomo ou semi autônomo. Toda e
qualquer atividade desta natureza, se caracterizada como programada ou
supervisionada por Escola do Sistema Nacional de Ensino, torna seus
responsáveis passíveis de descredenciamento perante a CBPDS/CMAS.
4) Durante um curso desta natureza, toda prática relativa ao ajuste do tiro de
caça ser sempre realizada contra alvos artificiais, na piscina ou no mar. Apenas
por ocasião do encerramento do curso ser programada (respeitada toda a
legislação concernente a este aspecto) uma saída visando a pescaria
propriamente dita.

8. A ORGANIZAÇÃO DO MERGULHO AMADOR NO BRASIL E NO MUNDO

Antes mesmo das atividades subaquáticas, sob o aspecto profissional-militar,


desenvolverem-se em nosso país, o mergulho já havia sido introduzido no
Brasil em 1947 (logo após a Segunda Guerra Mundial) quando os pilotos
comerciais João José Bracony e Paulo Lefevre, juntamente com outros
interessados como André Semamá e Jean Manzon, adquiriram excedentes de
guerra na Europa e os introduziram no país, dando início a Pesca Subaquática,
praticada em apnéia.

Após esta fase inicial em que o mergulho era praticado utilizando-se material
excedente de guerra, o esporte começou a difundir-se, já contando com um
pequeno número de adeptos.

Todo o material era estrangeiro e seu custo bastante elevado, o que veio
retardar o desenvolvimento do esporte da Pesca Subaquática, ainda recém-
nascida, trazendo-lhe também a fama de "esporte de rico".

Apesar de tudo, com os meios de difusão, rádio, cinema, televisão e jornais


dando ampla cobertura, sua popularidade crescia dia a dia, despertando o
interesse de todos brasileiros, oficializando-se a atividade em 1958 como
esporte de competição no mundo, com a fundação, em Mônaco, da CMAS, da
qual participou também o Cmte. Jacques Yves Cousteau.

Com o desenvolvimento do mergulho, impulsionado pelo segmento amador-


desportivo no mundo, a partir de 1973 começaram a surgir no Brasil as "
Escolas de Formação de Mergulhadores ", primeiramente ensinando mergulho
livre e Pesca subaquática: seguidamente evoluindo para o mergulho com ar
comprimido.

A primeira Escola de Mergulho a funcionar regularmente, inclusive com licença


de interdição de área marítima para essa finalidade, concedida pela Marinha,
foi no Rio de Janeiro, no bairro da Urca, com o nome de "CCS". Este nome
mais tarde foi modificado para "CBD", (Clube Barracuda de Desportos), o qual
ministrou aulas para civis e muitos aspirantes da Escola Naval e CEFAN, tendo
como instrutor mais destacado o Dr. Eduardo Paim Bracony, filho de um dos
pioneiros do mergulho em nosso país. É também interessante ressaltar ser ele
o portador do brevet CMAS n.º M3-OOOO1, ou seja: o primeiro Instrutor no
grau máximo internacional a ser expedido oficialmente para um mergulhador
brasileiro, o que ocorreu em 1980.

Com a fundação da CBPDS (Confederação Brasileira de Pesca e Desportos


Subaquáticos), única Entidade brasileira a poder ser filiada a CMAS segundo
norma internacional, a Escola de Mergulho acima citada obteve a matrícula
internacional n.º 001 por nosso país. Em seguida a CBPDS passou a estruturar
o chamado "Sistema Brasileiro de Ensino de Mergulho", o qual é obrigado a
seguir os programas internacionalmente estabelecidos pela CMAS, com os
quais são compatíveis os adotados pela Marinha Brasileira.

O Certificado Militar tem validade em todo o território nacional brasileiro;


entretanto, sendo a atividade de mergulho no meio civil internacional regida por
normas próprias emanadas da Entidade de direção Mundial do Mergulho
(CMAS), assim reconhecida pela UNESCO, COMITÉ INTERNACIONAL
OLIMPICO, IUCN, GAIFS, OWG e outras entidades oficiais, é hoje exigido em
todo o mundo que o mergulhador em atividade de lazer (que não seja ação
militar ou trabalho profissional) seja habilitado com um brevet. Seja aqui
ressaltado, entretanto, que o único brevet a ter validade internacional e a ser
considerado oficial é o conhecido como "Double-Face" (por ter um lado relativo
à matrícula mundial e outro alusivo à Confederação do país de origem). No
caso do Brasil é a CBPDS que se constitui em Entidade Federal de Direção
dos Desportos da Pesca e Subaquáticos em geral, abrangendo segmentos
técnicos, científicos e desportivos.

Assim, para que um certificado emitido no Brasil seja considerado valido,


necessariamente tem de ser conhecido como "Double-Face CBPDS/CMAS",
tanto para Mergulhadores quanto para Instrutores.

Existem várias firmas comerciais, notadamente estrangeiras, que para não


revelarem sua verdadeira natureza jurídica - FIRMA COMERCIAL - mascaram-
se, iludindo o grande público civil, ao auto-intitularem-se de "certificadoras".
Sob essa alegação ministram cursos particulares sem nenhum valor, dando,
aos incautos que atraem, vistosas carteirinhas que intitulam "brevet" (como se
realmente o fossem), afirmando terem reconhecimento internacional. Na
realidade não possuem esse status. O que ocorre é que, sendo firmas
comerciais que concedem franquias, firmas comerciais franquiadas existentes
em alguns países aceitam esses cartões como se validade tivessem, o que já
não pode ocorrer por parte de instituições oficiais.

O crescente mercado do mergulho amador que vem se impondo como um dos


mais atraentes do turismo náutico em nosso país, origina diversas
oportunidades laborais para aqueles que, antes, somente encontravam campo
na exaustiva faina do mergulho profissional, principalmente afeto à prospecção
petrolífera e as áreas ligadas a serviços de recuperação subaquática e obras.

Os Mergulhadores que logram atingir a instrutoria, para tal cumprem a escala


seguinte: Mergulhador 01 estrela, Mergulhador 02 estrelas, Mergulhador 03
estrelas, Instrutor 1,2 e 3 estrelas, consoante os critérios internacionais
CBPDS/CMAS. Atingida a instrutoria, tais mergulhadores passam a ter aberto
um leque de opções para a atividade civil subaquática, onde podem trabalhar,
no Brasil, sempre através de Escolas Oficiais CBPDS/CMAS, cuja rede, que
inclui as chamadas "Operadoras de Turismo Subaquático", já é de longe a
maior do continente americano. Nosso país, por levantamento oficial de 1994,
esta colocado como o sexto do mundo (entre mais de 100 países) na formação
de verdadeiros mergulhadores, que são aqueles que portam o brevet Double-
Face.
Indubitavelmente a CMAS foi a pioneira do ensino civil do mergulho e, hoje,
possui a maior rede de Escolas e Operadoras do mundo. Qualquer informação
em contrário não passa de propaganda enganosa, promovida por firmas
comerciais estrangeiras, uma vez que, já em 1989, a CMAS possuía mais de
10.000.000 (dez milhões) de mergulhadores ativos, portadores de seu brevet,
disseminados pelos quatro cantos do mundo.
TEORIA II

1. O MERGULHO COM AR COMPRIMIDO

1.1 Histórico do Mergulho com Ar Comprimido

Permanecer embaixo d'água por um tempo indeterminado parece ter sido o


sonho de todos aqueles que se compraziam na apnéia. Podemos imaginar,
numa época de tecnologia praticamente nula, tal qual era na antigüidade, a
falta completa de conhecimentos que fossem capazes de materializar este
ideal.

Os objetivos que despertavam este interesse certamente não se dirigiam para


o lazer. Somos inclinados a pensar que reis e governantes, caso pudessem e
soubessem permanecer respirando sob as águas, tratariam imediatamente de
procurar todos os tesouros e valores que, muitas vezes, a vista dos próprios
olhos, submergiam em naufrágios comerciais ou guerreiros.

Nas antigas épocas, sendo por todos sabido que tal proposta era impossível ao
ser humano, a imaginação e a fantasia tomavam o lugar da tecnologia e
sempre se conseguia alguma razão mágica para se iniciar contos ou odisséias
em que o herói dispunha de possibilidades de praticar suas façanhas sob o
mar.

Importa nisso descobrirmos que, por baixo de todo "pensamento mágico" de


então, ficava evidenciada esta aspiração da humanidade.

1.1.a) DA FANTASIA À TECNOLOGIA

A partir do período conhecido como Renascença (onde o gênio de diversos


notáveis estudiosos e artistas evidenciou-se) que vamos observar os primeiros
rudimentos do domínio tecnológico de então ser empregado em função do
mergulho. Não obstante a Lei de Boyle ter sido enunciada, pela primeira vez,
no ano de 1660, a maioria dos projetos antigos era fantasiosa demais. Uma vez
postos à comprovação, geralmente não funcionavam, encerrando-se com
frustrações e até acidentes letais para o "mergulhador de prova".

Em 1669, partindo do já conhecido (desde a antigüidade mais remota) "sino de


mergulho", Denis Papin descobriu um sistema que era capaz de fornecer ar
fresco para o interior deste, em fluxo contínuo. Isso prolongava
consideravelmente a permanência de um mergulhador no interior do sino e, por
conseguinte, sob a água.

Tal fato se constituiu num grande salto e revolucionou as técnicas de mergulho,


tendo sido adotado com freqüência, até recentemente, sob a forma de
escafandria, que nada mais era do que o sino de mergulho colocado em volta
da cabeça do mergulhador e com fluxo contínuo de ar, fornecido a partir da
superfície.

A seqüência de inventos, desde 1669, foi vasta e ingênua muitas vezes. Na


tentativa de obterem notoriedade, alguns inventores apresentavam resultados
que, hoje sabemos, jamais poderiam ter sido obtidos.

Em 1715, um inglês chamado John Lethbridge projetou um "tanque" de couro,


onde o mergulhador se deitava mas tinha a possibilidade de deixar os braços
para fora. O dispositivo era baixado por um cabo. O inventor dizia já ter descido
nesse tanque lacrado profundidades superiores a 10 braças (próximo dos 20
metros), por mais de 100 vezes. Não havia suprimento de ar... Provavelmente
o inventor também deve ter se confundido ao relatar os resultados.

Em 1865, Benoit Rouquayrol e Auguste Denayrouze, idealizaram e construíram


um engenho que permitia ao mergulhador levar uma pequena quantidade de ar
comprimido, nas costas. Este pequeno reservatório estava conectado à
superfície por meio de uma mangueira de ar que partia de um compressor. Isso
tinha por finalidade manter o pequeno tanque cheio, enquanto durasse o
mergulho.
Como tal equipamento permitia que o mergulhador se desligasse da mangueira
de ar que o mantinha conectado à superfície (e que também servia para o
constante recompletamento do seu tanque), datam desta época os primeiros
movimentos do homem se deslocando livre e solto pelo fundo do mar.
Naturalmente o equipamento era bastante rude, quando comparado a qualquer
similar atual, mas já possuía um regulador que ajudava a controlar o fluxo de
ar, do mini reservatório de mergulho até a boca do mergulhador. A
permanência, "livre" e respirando ar sob o mar era bastante curta, mas
acontecia.

Em 1878, Henri Fleuss inventou um equipamento de respiração que fornecia


oxigênio puro ao mergulhador, cujas exalações eram filtradas por um agente
químico, para evitar o dióxido de carbono.

Em 1888, George Comheines inventou um regulador semi-automático, fixado


num reservatório de ar comprimido. Já era alguma coisa com funcionamento
bem mais semelhante ao que hoje se usa. Infelizmente, naquele tempo de
pioneirismo, o inventor morreu num dos primeiros mergulhos realizados.

1.1.b) RESUMO CONTEMPORÂNEO

No verão de 1938 um grupo de marinheiros fundeia um escaler proveniente do


cruzador Suffren, da marinha francesa, em frente da praia de Porquerolles, na
Riviera Francesa. Um jovem oficial chamado Jacques-Yves Cousteau lança-se
mar a baixo, testando um equipamento de respiração à oxigênio, praticamente
de sua autoria. Vai até os 14 metros de profundidade e, a partir daí, sente os
lábios e as pálpebras tremerem.
Percebendo que vai perder os sentidos, descarta o cinto de lastro e aflora,
inconsciente na superfície. Os marinheiros recolhem o oficial a bordo do
escaler...

No verão de 1939 o persistente oficial repete a experiência, trazendo uma


válvula reguladora mais aperfeiçoada. O equipamento ainda utiliza oxigênio.
Aos 14 metros de profundidade o mergulhador é acometido por contrações e
convulsões, chegando novamente inconsciente à superfície.. E assim Cousteau
descobre e aprende que o oxigênio puro é extremamente perigoso a partir já
dos 7 metros de profundidade. O oficial abandona o uso do
oxigênio em suas experiências...
Em 1942, durante a guerra, Cousteau conhece, casualmente, em Paris, um
engenheiro perito em equipamentos de gás. Chamava-se Émile Gagnan e tinha
construído uma válvula reguladora para alimentar com gás os motores de
automóveis, uma vez que a gasolina era escassa. Poucas semanas depois,
Cousteau e Gagnan realizam a primeira experiência no
Marne, mergulhando com um equipamento pôr eles construído. Tal
equipamento consistia numa garrafa com ar comprimido, feita de aço. Dela saia
uma válvula de respiração que controlava automaticamente o fluxo do volume
de ar fornecido ao mergulhador, de acordo com o princípio distribuidor de gás
de Gagnan.

Entretanto tal equipamento só funcionou satisfatoriamente quando o


mergulhador ficou na posição horizontal. Descoberta a modificação que
precisava ser feita, o equipamento foi ajustado e funcionou perfeitamente,
conforme nova experiência realizada em Paris, em tanque de água doce.
Em junho de 1943, Cousteau realizou o primeiro passeio submarino em seu
equipamento de mergulho autônomo, recebendo ar comprimido em condições
satisfatórias e, a partir daí, marcou o início de uma outra modalidade de
submersão que permitia ao mergulhador usufruir, finalmente, de um estado de
liberdade.

1.1.c) CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES

Conforme podemos constatar, o desenvolvimento da arte de submergir


permaneceu quase que estacionário pelos três últimos séculos, vindo a receber
o impulso decisivo só muito recentemente. O problema técnico que obteve
solução significativa foi a formulação do princípio de funcionamento da válvula
reguladora do suprimento de ar à fluxo regulado. A partir de um protótipo
aceitável, diversas variações e aperfeiçoamentos não cessaram de ocorrer até
os dias de hoje. Interessante é ressaltar que, até bem pouco tempo o processo
era muito empírico. Problemas como narcose ou intoxicação por oxigênio,
antes de serem equacionados produziram muitas vítimas. A Doença
Descompressiva espalhou seus efeitos durante muitos anos, de maneira
desordenada, desafiando mergulhadores e pesquisadores... Barotraumas os
mais diversos ainda ocorriam com freqüência na década de 60 e o mergulho
possuía, aos olhos de muitos espectadores, uma mística de atividade de
considerável risco. Quanto ao mergulhador, era um desbravador ou um
insensato...
O panorama atual do mergulho se reveste de conotações bastante
diferenciadas, quando em comparação à década acima citada. O grande
segmento do mergulho de lazer, hoje, é uma realidade permitida a qualquer
pessoa que queira experimenta-lo. Regulado e conhecido, é atividade segura,
benéfica e desmistificada. Sobre esta conquista estruturou-se o mercado do
turismo subaquático, propiciando o desfrute do visual subaquático à gerações
de jovens e idosos, ao mesmo tempo que cria e assegura empregos a uma
faixa considerável, direta ou indiretamente, da população. No Brasil, as Escolas
do Sistema Oficial CBPDS/CMAS são uma realidade sedimentada e o
segmento interessado é cada vez maior.

Entretanto, por mais que se evidencie as conquistas e facilidades tecnológicas


que a indústria de equipamentos do ramo oferece, alguma coisa de fantástico
ainda deverá ocorrer. Se foi um grande passo conseguirmos levar o ar
respirável para baixo d'água (e distribuí-lo a fluxo regulado), passo maior será
aquele que libertar o mergulhador da obrigatoriedade transportar o recipiente
de ar, permitindo que, então verdadeiramente livre, obtenha o ar respirável
diretamente do seio da massa d'água.

2. MEDIDAS E EQUIVALÊNCIAS USUAIS

2.1. PRESSÃO (Torricelli)

1 atmosfera (1 atm) = 1,033 kgf / cm² (quilograma-força / centímetro quadrado)


= 14,7 psi libra = 1,03 bar = 760 mmHg (milímetros de mercúrio)

2.2. COMPRIMENTO, DISTÂNCIA E PROFUNDIDADE

1 metro (m) = 100 cm = 3,3 pés (ft)


1 ft (pé) = 30,49 cm
1 quilômetro (Km) = 1000 m
1 ft (pé) = 12 polegadas (in)
1 milha terrestre (mi) = 1,609 km
1 milha marítima (nm) = 1,852 km

2.3. VOLUME

1 metro cúbico (m³) = 1000 litros (l)


1 pé cúbico (ft³) = 28,317 litros
1 decímetro cúbico (dm³) = 1 litro
1 polegada cúbica (In³) = 16,38 cm
1 galão (gal) = 4,55 litros

2.4. TEMPERATURA

°C = K - 273

ou seja,

Graus Celsius (°C) = Graus Kelvin (K) - 273


°C = 5,9 x (°F - 32)

ou seja,

Graus Celsius (°C) = 5,9 x [Graus Fahrenheit (°F) - 32]

2.5. VELOCIDADE

1 nó = 1 milha por hora (mph) = 1,85 km por hora (km/h)

2.6. PRESSÕES MAIS USUAIS DE CARREGAMENTO (CILINDROS)

2250 libras = 150 atm

3000 libras = 200 atm


2.7. PRODUÇÃO DE AR - NARGUILÊ (MERGULHO SEMI-AUTÔNOMO)

Unidade básica de referência é o pé cúbico por minuto = 1 pcm = 25 litros de ar


por minuto.
Os compressores variarão na sua capacidade de fornecimento de ar, em
função da quantidade de pcm que podem oferecer.
Por sua vez, ainda existe uma dependência da utilização da fórmula correta
para o casamento entre as duas retificações de polias.

3. APNÉIA X AR COMPRIMIDO (diferenças fundamentais)

A partir do advento e do emprego do ar comprimido em equipamento de


mergulho, uma série de conceitos que se tinham confirmado quanto a fisiologia
e à técnica de mergulho tiveram que ser revistos. Alguns, que se pensavam
serem verdades absolutas, passaram a se constituir como válidos apenas na
apnéia.

Acreditamos que (resumindo) a diferença fundamental entre uma e outra


modalidade de mergulho seja o fato de que, no mergulho com ar comprimido,
em qualquer profundidade que realizarmos uma inspiração, o pulmão cheio
estará com seu volume completo.

Todas as demais particularidades e cuidados que definirão o que vem a ser um


mergulho em ar comprimido, serão conseqüências desta diferença em relação
a apnéia: é um mergulho a pleno volume pulmonar.

De uma forma nem tão cientificamente exata mas bastante próxima da


realidade que desejamos evidenciar, poderíamos dizer que, mergulhando em
ar comprimido (ou com qualquer outro gás respirável, sob pressão) em cada
profundidade que inspirarmos será como se tivéssemos tomado ar ao nível
zero (para efeito de expansão pulmonar).
Um instrutor de mergulho não pode ter a realidade do fenômeno desvirtuada,
confundindo a diferença entre as duas modalidades pelo uso de equipamentos
diversos.

Embora o mergulho em ar comprimido esteja virtualmente atrelado (nos dias de


hoje) à figura do cilindro de alta pressão, não é este equipamento que o
caracteriza.

Num compressor de baixa pressão, operando como narguilê, o mergulhador se


encontra igualmente sob as leis físicas e fisiológicas que regem toda a
dinâmica do mergulho em ar comprimido.

3.1. EQUIPAMENTO AUTÔNOMO DE CIRCUITO ABERTO


(SCUBA - Self contained underwater breathing apparatus)

Vem a ser, basicamente, o equipamento em que o ar comprimido é fornecido a


partir de um cilindro (garrafa) que o armazena em alta pressão.

3.1.a) CARACTERÍSTICAS DO EQUIPAMENTO

- portátil.
- rapidez em equipar.
- pouco afetado pela natureza do fundo.
- suprimento limitado de ar.
- requer estrutura de apoio simples e mínima para a utilização.
- correntada máxima recomendada = 1 nó.
- profundidade máxima recomendada (utilizando ar comprimido) = 35 m
- utilizado em atividades de lazer e trabalhos diversos.

3.1.b) CILINDROS DE ALTA PRESSÃO (GARRAFA DE MERGULHO)

Durante as décadas de 60 e 70 as garrafas de mergulho era tratadas pelo


nome usual de "langs". Designar este equipamento como "aqualung" era a
terminologia mais compreendida entre os mergulhadores. Entretanto tal
denominação, na verdade, representava o nome de uma fábrica ou marca de
materiais relativos ao mergulho. Esse tempo passou.

A terminologia mais utilizada, atualmente, é a palavra "garrafa". "Cilindros de


alta" é outra designação bastante em uso, também. Outras aparecem,
empregadas por pessoas que, por utilizarem-nas, declaram logo sua condição
de leigas no assunto. Um bom exemplo disso é a denominação de "bala" para
a garrafa de mergulho.
Quanto a aparência exterior, foi o equipamento que menos modificações
apresentou.

Quanto a tecnologia empregada na fabricação, avanços houve em resistência e


utilização de materiais diversos. Uma vez que a vida de um cilindros destes é
longa, encontramos, no Brasil, equipamentos de diversas procedências e
especificações. Garrafas de ferro (que eram chamadas de aço) e garrafas de
cromomolibdênio (um dos primeiros tipos), freqüentam as oficinas de recarga
juntamente com os tipos mais modernos de cilindros de alumínio ou aço inox.

O interessante deste material é que não se presta a configurar-se como item de


consumo ou reposição. Devido às exigências técnicas de fabricação, desde
que mantido e inspecionado regularmente, tem que apresentar vida longa. Em
média geral (entre os diferentes tipos de materiais de fabricação), a vida de
uma garrafa é prevista para 50 anos, sendo carregada todos os dias.

Para que tal acompanhamento da vida de um cilindro de alta pressão possa ser
realizado, é necessário a interpretação dos caracteres que toda garrafa trás,
gravados, no corpo do material. Tem havido variações ao longo dos anos em
relação a esta simbologia. Entretanto nenhuma delas é tão misteriosa que não
possa ser interpretada por um mergulhador, principalmente se for o caso de um
instrutor de mergulho.

3.1.c) INSCRIÇÕES E MARCAÇÕES DIVERSAS

O esquema ao lado pertence as garrafas de alumínio que atualmente tem


chegado ao Brasil. Em sua grande maioria são garrafas Luxfer, com um volume
interno variando, conforme o tipo, de 10 a 13 litros (isso quer dizer: se
enchermos a garrafa com água, caberá esta quantidade em litros de água).
Quanto ao número de série da garrafa, a letra "P" diz respeito à capacidade do
cilindro. Entretanto, neste caso, ela se refere a quantidade de ar quando
carregada. Assim teríamos os seguintes valores em relação as letras
apresentadas:

P = 80 pés cúbicos;
Y = 71,2 pés cúbicos;
R = 50 pés cúbicos...

Não confunda jamais essas duas grandezas, embora ambas tratem de


volumes, a saber:

Existe o volume da garrafa como espaço interno e existe o volume de ar que a


garrafa pode armazenar quando carregada.

Obs.: sobre este assunto falaremos mais adiante, quando tratarmos do cálculo
de ar em uma garrafa de mergulho.

Por vezes encontramos mais de um valor de pressão de carregamento numa


mesma garrafa. Neste caso devemos interpretar o menor como sendo a
pressão de trabalho e o maior como sendo a pressão na qual a garrafa foi
submetida durante o teste.

3.1.d) CUIDADOS COM CILINDROS DE AÇO

Garrafas de aço que não sejam inox (quase absoluta maioria) podem se tornar
perigosas em pouco tempo, devido a corrosão interna. Este processo
degenerativo do material é aquilo que comumente chamamos de ferrugem ou
oxidação. Como conseqüência, esta ação química acarreta a perda de material
das paredes do cilindro, diminuindo sua espessura e alterando sua capacidade
de suportar pressões.

Para evitar este inconveniente, algumas medidas podem ser tomadas, visando
a obtenção de longa vida útil para as garrafas:

- se a garrafa for esvaziada totalmente quando submergida (no mergulho ou na


lavagem), retire o registro e veja se existe água dentro. Em caso positivo, lave
com água doce e ventile até secar.

- guarde os cilindros em posição vertical. Se houver alguma água, naturalmente


irá para a parte inferior que é, justamente, a mais resistente. No fundo da
garrafa é maior a espessura e a corrosão interna causa menores males.

- não guarde garrafas cheias por muito tempo. Quanto maior a pressão, mais
moléculas de oxigênio. Em conseqüência, maior chance de corrosão.

- se alguma pressão tem que permanecer, a recomendada é de 50 a 100 psi


para guardar cilindros por muito tempo.

3.1.e) TESTE HIDROSTÁTICO (aço)

A finalidade de um teste hidrostático não é a procura de pontos de corrosão.


Ele apenas identifica cilindros que já perderam sua elasticidade e elimina-os.
Entretanto, desde que tenham sido notados sinais acentuados de corrosão
externa ou alguns riscos profundos, é recomendado que o cilindro seja
submetido ao teste hidrostático.

ATENÇÃO: cilindros de aço que sejam criteriosamente submetidos a uma


inspeção visual interna anual, podem fazer teste hidrostático de cinco em
cinco anos.
Caso essas inspeções não sejam realizadas, os cilindros devem ser
submetidos ao teste hidrostático de três em três anos.

Acostume-se a verificar se existe água dentro dos seus cilindros. Abrir um


pouco o registro e virar o cilindro para baixo é um processo de verificação.
Outro método é o de sacudi-los e escutar se apresentam barulho de líquido.
Em caso positivo, devem ser levados para a inspeção visual interna.

3.1.f) CUIDADOS COM CILINDROS DE ALUMÍNIO

Os cuidados com esse tipo de cilindro são basicamente os mesmos que se


deve tomar em relação aos cilindros de aço. Uma diferença a ser notada é que
a melhor posição de armazenamento para o alumínio, é com o cilindro deitado.

Outro detalhe seria a recomendação de, uma vez pôr ano, retirar-se o registro
do cilindro e passar lubrificante apropriado nas roscas do registro e da garrafa.
Esperar umas três horas para que o cheiro se desfaça e recolocar novamente a
torneira.

Atualmente as ligas de alumínio utilizadas na fabricação de cilindros são de


excelente qualidade, conferindo ao produto uma vida útil de duração superior a
60.000 cargas.

3.1.g) OXIDAÇÃO EM CILINDROS DE MATERIAIS DIVERSOS

Quando falamos em oxidação estamos nos preocupando, na verdade, com a


corrosão do material e suas conseqüências na vida útil do cilindro. As garrafas
de aço inoxidável seriam o tipo mais seguro contra este processo químico
degenerativo. Tais garrafas, entretanto, são extremamente caras e a tentativa
de colocá-las no mercado não tem dado resultados, uma vez que se pode
comprar mais de três garrafas de alumínio com o preço pago por uma garrafa
de aço inox.

Nos cilindros de aço comumente usados, a oxidação nada mais é do que a


ferrugem, o óxido de ferro resultante da combinação do material da garrafa e
do oxigênio do ar de carregamento. A água salgada, então, quando depositada
no interior do cilindro, transforma-se em poderoso catalisador dessa reação
química (a oxidação), inutilizando rapidamente a garrafa, por perda de material
das paredes.

Atualmente, o revestimento interno de níquel, utilizado na confecção dos


cilindros de aço, tem minimizado bastante este problema. O melhor tratamento,
porém, continua sendo a prática dos cuidados recomendados nos tópicos
anteriores.
Nos cilindros de alumínio, oxidação não é sinônimo de corrosão. Nelas, a
oxidação (no caso a formação de óxido de alumínio) adere ao material,
isolando-o do contato com o ar e interrompendo o processo degenerativo.

3.1.h) TORNEIRAS OU REGISTROS

Como todos nós sabemos, as torneiras (ou registros) usadas nas garrafas
atuais, não costumam mais apresentar o dispositivo que funcionava como
"reserva" de ar. A adoção generalizada do manômetros de imersão, para a
verificação da pressão do cilindro durante o mergulho, praticamente aboliu o
registro com reserva. Não se pode reagir a uma mudança já consagrada,
conforme esta característica do mergulho na atualidade. Obviamente tudo se
aperfeiçoa e torna-se mais confortável para o usuário.

Entretanto um instrutor de mergulho (que se pretende seja um mergulhador


experiente e com grande capacidade de apresentar argumentos quando
perguntado) não pode passar aos seus alunos a idéia de que o manômetro de
imersão torna as coisas mais seguras, como se o registro com reserva fosse
algo de risco. Ambos são muito bons e se a reserva pode apresentar
problemas, o manômetro também pode. Com uma diferença: a reserva de um
registro, quando em pane, consertamos. O manômetro... compra-se outro.

O instrutor de mergulho tem que compreender que muitas das modificações e


modas lançadas, fazem parte de um marketing que vive e sustenta o mergulho
de lazer. Não há nada de mal nisso, a não ser o perigo de tornar o mergulho
uma atividade de consumo, onde o mergulhador terá que fazer sempre novas
aquisições para permanecer atualizado em equipamentos. Criando um perfil de
aluno que se materializa numa classe de maior poder aquisitivo, só quem perde
é o instrutor de mergulho; é todo profissional ligado ao mergulho de lazer, posto
que o universo do seu público será reduzido.

Pretender impressionar negativamente a alguém, devido a tal pessoa ser


possuidora de uma garrafa cujo registro possui dispositivo com reserva, é má
fé. Os registros com reserva são bastante confiáveis e, até onde o autor deste
Compêndio pode observar, durante anos, cumprem sua finalidade. Claro está
que o manômetro oferece serviço mais completo. Sua adoção, entretanto, nada
tem a ver com parâmetros de mais ou menos segurança, como apregoam
alguns cujo interesse não é apenas o de fornecer a verdadeira informação, mas
sim o de fornecer cada vez mais material.

E para que o conhecimento do material permaneça, vejamos o funcionamento


conforme figura ao lado:

QUANDO A PRESSÃO INTERNA DO CILINDRO ATINGE VALORES DA


ORDEM DE 500 lb (34 atm), A PRESSÃO DA MOLA "A" TORNA-SE
SUPERIOR E A PASSAGEM DO AR É INTERROMPIDA. AO GIRARMOS O
BRAÇO DA RESERVA, A HASTE DO IMPULSIONADOR (ASSIM
ACIONADA) FORÇA O BATENTE DA MOLA "A", DANDO SAÍDA AO
RESTO DO AR. (AR RESERVA).

Ao darmos o destaque a este tipo de registro, não estamos fazendo nenhum


tipo de contra apologia ao uso do manômetro de imersão (equipamento já
consagrado, que veio para enriquecer o leque de possibilidades do
mergulhador, do qual todos fazemos uso com hábito confirmado). Desejamos,
sim, cortar de vez a distorção de conceito quanto as causas que levaram à
adesão de todos os mergulhadores ao uso do manômetro. Usamo-lo devido a
ser um instrumento mais completo para o fim ao qual se destina. Isso nada tem
a ver com níveis de segurança maiores entre um tipo e outro de equipamentos.

Portanto, quem possui registros com reserva em seus cilindros e neles confia,
desde que os mantenha, está muito bem servido.
3.1.i) VÁLVULAS REGULADORAS DE PRIMEIRO E SEGUNDO ESTÁGIOS

Um dos equipamentos que mais aprimoramentos adquiriu, desde sua utilização


no mergulho, foi certamente o de respiração, composto pelas reguladoras de
primeiro e segundo estágio. O funcionamento básico conservou seu principio
de distribuidor de demanda, bastante semelhante aos mais antigos. Foi
enriquecido com peças e materiais novos, alguns até descobertos em função
da pesquisa espacial. Foi tornado ainda mais sensível, pela introdução de
subsistemas e aperfeiçoamentos, visando diminuir ou anular a resistência
respiratória, tornando-os cada vez mais confortáveis para o usuário, em
profundidades diversas.

Quanto a discrição de funcionamentos, praticamente cada fabricante apresenta


alguma novidade ou melhoria. Melhor então será apresentarmos o princípio
geral, por muito tempo confirmado e, após, adicionarmos alguns comentários
de atualização.

A finalidade de um primeiro estágio, como todos sabemos, é a de reduzir a alta


pressão fornecida pelo cilindro, entregando-a ao segundo estágio já bastante
reduzida e respirável.

A norma geral é que esta redução seja para 140 psi, além da pressão normal.
Um parafuso de regulagem (em diferentes posições em produtos de marcas
diversas) é um dos principais responsáveis pôr esse ajuste. Muito abaixo disso
o ar torna-se pesado no segundo estágio; um pouco mais acima dessa marca e
passamos a ter vazamentos no segundo estágio.

Quando o ar é inspirado pelo mergulhador, a pressão intermediária se reduz e


a primeira mola empurra o diafragma para dentro, liberando, em conseqüência,
a passagem de alta pressão para a câmara intermediária. Com a chegada
deste acréscimo as pressões são novamente equiparadas (esta mola deve
exercer uma pressão de 140 atm). Com o aumento da profundidade, a pressão
da água sobre o diafragma ajuda a propiciar uma pressão intermediária
constante.

Um equipamento deste tipo não tem tempo de utilização definido, isto é: sua
vida útil é indeterminada, desde que corretamente mantido. É mais provável
que caia em desuso pelo aparecimento de outros tipos mais modernos, como
foi o caso de muitos dos usados nas décadas de 60 e 70, que possuíam
apenas uma saída para o 2° estágio e uma para a alta pressão. Pôr esta
época, surgiram segundos estágios com mais uma saída que seria para a
adaptação de uma válvula reserva (em baixa pressão), mantendo a terceira
saída em alta pressão. Posteriormente, com o advento generalizado dos
coletes equilibradores, praticamente tornou-se obrigatório exigir-se um
equipamento com uma saída a mais na baixa pressão. Embora já muito nos
tenhamos distanciado daquele tipo de uma só saída, o princípio básico de
funcionamento dos mais modernos ainda é neles apoiado.

Experiências vividas:

Mergulhando com alguns americanos, há tempos atrás, chamou-me a tenção a


tendência que certos mergulhadores possuem para se transformarem numa
verdadeira "árvore de natal submarina", tamanha é a quantidade de tralhas e
complementos que ornamentam seus equipamentos. Um deles carregava
consigo um dispositivo para a ingestão de sucos, a partir do primeiro estágio.
Na ocasião parece que não funcionou como deveria, posto que o rapaz
engasgou-se seriamente, precisando interromper o mergulho.

Alguma coisa totalmente desnecessária... Enfim, existem pessoas que amam


mais o equipamento do que o mergulho em si mesmo. Provavelmente se fosse
colocado ao alcance de todos uma simples guelra artificial que viesse a
dispensar tudo o mais que hoje é utilizado, desinteressariam-se do mergulho
por não terem mais o que comprar ou carregar...

Válvula reguladora de segundo estágio

Quanto aos reguladores de segundo estágio, em relação aos quais podemos


dizer que praticamente acompanharam a evolução no mesmo ritmo
contagiante, não se alteraram quanto ao princípio básico de funcionamento.
Atualmente, reguladores de última geração chegam a apresentar dimensões
mínimas, inimagináveis na década de 80. Como é uma peça que realiza
contato estreito com a sensibilidade dos lábios, as modificações anatômicas
repercutem grandemente no conforto imediato daquele que mergulha. Mas o
mais importante tem sido as modificações que visam obter um esforço
respiratório cada vez menor em qualquer profundidade. Reguladores de alta
sensibilidade praticamente anulam o esforço em respirar e se encontram, já
atualmente, bastante difundidos pelo ramo de fornecimento de material.

O esquema básico de funcionamento acima apresentado vem a ser a estrutura


matriz de todas as modificações ou aperfeiçoamentos encontrados atualmente.
Alguns existem (e já bastante difundidos) que permitem o ajuste do fluxo e do
peso do ar pelo próprio mergulhador, durante o mergulho. Mas sejam como
forem, respeitam o esquema básico de funcionamento original.

Regulador octopus

Já tornou-se uma prática generalizada o uso de uma segunda válvula


conectada ao primeiro estágio, como válvula reserva. Este conjunto assim
montado recebe a denominação genérica de "octopus". O uso deste
equipamento facilita em muito o suprimento de ar entre dois mergulhadores, no
caso de um deles vir a precisar se servir do ar do outro, numa emergência.
Bem mais facilmente se materializa esta possibilidade alternativa, do que
quando os dois fazem uso de uma mesma válvula, em revezamento de ar. O
ideal é que a mangueira da válvula reserva seja mais comprida que o normal,
justamente para facilitar esta eventualidade.

Outros acessórios acoplados ao primeiro estágio (observações aos


alunos):

Em relação a estes equipamento, com fonte supridora de ar a partir do primeiro


estágio, duas especial recomendações devem ser enfatizada aos alunos. A
primeira diz respeito a conexão do manômetro, que tem de estar na saída de
alta pressão. A segunda diz respeito ao colete equilibrador, em função do qual
queremos fazer algumas advertências.

Embora se constitua em equipamento fundamental (de uso quase que


obrigatório) nos dias de hoje, não raras vezes o botão que comanda o
inflamento do colete, com ar proveniente do cilindro, costuma agarrar,
produzindo um fluxo contínuo. Claro está que isso não é um defeito de
fabricação, sendo na maioria das vezes proveniente da cristalização de sais,
com reflexos no funcionamento geral. O colete se auto-defende, trazendo
consigo um dispositivo que todos conhecemos como válvula de segurança
destinada a permitir a saída do excesso de ar. Até aí tudo bem, principalmente
se o colete for do tipo "colar", que não aperta a caixa toráxica do mergulhador.
Mas este tipo de colete cedeu seu lugar ao de estilo "jacket" que é bem mais
confortável mas também mais perigoso no caso específico desta pane,
embora os interesses comerciais não gostem de declarar esta verdade.

Quando essa eventualidade ocorre, neste tipo de colete, o mergulhador


desavisado recebe uma compressão considerável no tórax que, caso
permaneça, pode desorganizar sua capacidade de tomar providências. É o
susto do inesperado, acrescido de súbita compressão...
É fundamental que os alunos sejam alertados para esta possibilidade e sejam
antecipadamente preparados para lidar com isso, recebendo orientação de
purgar o ar pelo botão de esvaziamento, enquanto puxam para trás aquele que
ficou agarrado.

3.1.j) CÁLCULO DO CONSUMO DE AR EM PROFUNDIDADES DIVERSAS

O consumo normal de ar, ao nível do mar, considerando a pessoa em atividade


não estafante, conforme o indivíduo varia de 16 a 20 litros de ar por minuto. Um
mergulhador experimentado, para efeito de seus cálculos pessoais de
consumo, pode começar considerando que sua necessidade ao nível zero seja
de 20 l ar /min.

Entretanto, quando calculamos para mergulhadores novatos ou ainda sem a


suficiente calma, é de bom alvitre considerar-se, como base para cálculos, 25
litros de ar/min.

Nesse valor considerado a maior, estão incluídos o excesso respiratório ou o


esforço desnecessário que a falta de aquacidade perfeita ocasiona.

Dentro dessa idéia (indispensável margem de segurança) o consumo de ar


seria, então:

Aos 10 m... 25 x 2=50 l/min


Aos 20 m... 25 x 3=75 l/min

sempre 25 x pressão da profundidade.

O que aparentemente é um exagero, tem se mostrado, na prática, bastante


condizente. Lembre-se sempre que estamos considerando mergulhadores
recém formados ou com aquacidade deficiente. De uma maneira geral, esse
será o aspecto predominante do universo de mergulhadores.

Quanto a influencia da temperatura da água, desde que não seja atípica, pouca
interferência produzirá nos valores que estamos considerando. No mergulho de
lazer não é muito usual que uma pessoa suporte água fria por tempo que se
estenda até a duração normal de um mergulho. O frio, considerado como um
dos agentes responsáveis pelo aumento do consumo de ar, é variável de maior
relevância quando dos mergulhos em que a água fria "tem que ser suportada",
como nas atividades de serviço. Para nossas considerações basta levar em
conta a variação de profundidade e a constante dos 25 litros de ar/min.

Assim, reduzindo os fatores acima citados, podemos concluir com segurança


que a autonomia de um cilindro será sempre o quociente entre a quantidade de
ar ali contido e o consumo do mergulhador. Teremos então:

T = Q/C onde....

T= tempo de duração do cilindro, em minutos


Q = quantidade de ar contido no cilindro
C = consumo de ar do mergulhador

Ora, sabemos que a quantidade de gás que pode caber em um recipiente será
sempre função do volume deste recipiente e da pressão com a qual o gás é ali
conservado. Para nós, enquanto interessados na quantidade de ar contida num
cilindro, é o que basta. Portanto:

Q = V x P onde....

V = volume da garrafa (considerar em litros é melhor)


P = pressão da garrafa naquele momento (considerar em atm é melhor)

Exemplo:
Para um cilindro de 13 litros de ar (volume do casco), carregada a 200 Atm de
pressão, que será utilizada a 20 metros prof....

Q = V x P = 13 x 200 = 2600 litros de ar.


C = 25 x pressão da profundidade = 25x3 = 75

então... T = Q / C = 26000 / 75 = 34,6 minutos

Obs.: no caso de mergulhadores que tenham desembaraço e aquacidade,


tranqüilamente podemos considerar um consumo de 60 litros de ar/minuto, aos
20 metros.

Não se pode realizar esses cálculos efetuando litros com libras ou atm com pés
cúbicos. Efetuar sempre litros por atm.

4. BAROTRAUMAS E DOENÇAS DO MERGULHO

4.1. EMBOLIA TRAUMÁTICA PELO AR (ETA)

Conseqüência inevitável do desprezo aos postulados da lei de Boyle e


Mariotte, a ETA, sério barotrauma do mergulho em ar comprimido, é mal de
difícil reparação, mas de muito fácil prevenção, a partir de ensinamentos e
conceitos que devem ser repetidos, repetidos e... repetidos aos nossos alunos.

Caso real (fonte: DEnsM-300 / Marinha do Brasil)

...em mergulho de 18 metros foi surpreendido por problemas no equipamento


de mergulho, dando início a subida, acompanhado por seu dupla. Instantes
depois este aparecia na superfície dando sinal de emergência. Alguns minutos
após o corpo é encontrado.

É constatada cianose, parada respiratória e cardíaca. Foi iniciada a respiração


boca a boca e massagem cardíaca externa. Em quarenta minutos chegou ao
Corpo Marítimo de Salvamento, sendo logo entubado e
prosseguindo-se a respiração por Cânula e pressão positiva com bolsa,
concomitantemente a bronco aspiração.
Aplicamos soro glicosado isotônico com Manitol, Decadron e Novocaína
venosa, sem resultado. Prosseguiu-se com a atendimento durante uma hora.
após o que considerou-se morto o paciente. À apalpação notava-se crepitação
no trajeto dos grandes vasos.

Diagnóstico: Embolia Traumática pelo Ar.

Independente do embolizado em questão ter sido ou não ter sido transportado


na posição recomendada (cabeça mais baixa que os pés e deitado sobre o
lado esquerdo do corpo) dificilmente as conseqüências seriam diferentes.
Teórica e verdadeiramente, a recomendação é a recompressão imediata.
Verdadeira, por ser a providencia mais correta. Teórica, porque todos sabemos
como é difícil materializar o "imediata", no mar.

O que ocorre é devido a ETA ser uma lesão instantânea. É um acidente


traumático, que fere naquele exato momento. É de difícil reparação... Muitos
são os casos de embolizados por DD que recebem tratamento descompressivo
e se salvam. Já, com a ETA, o quadro é totalmente diferente.

A não ser que este barotrauma tenha acometido o mergulhador de uma forma
muito branda, cujos sintomas podem cessar antes de qualquer tratamento, o
normal é o agravamento durante o transporte, em rápida progressão,
caminhando para a inconsciência ou estado de choque.

Sintomas Brandos:

Tonteiras e mal-estar após uma subida brusca (cessa em pouco tempo).


Desorientação, náuseas, dor no peito, tosse e distúrbios neurológicos discretos
que podem cessar antes de qualquer tratamento.

No caso de sintomas brandos, em sua generalidade, a expansão pulmonar não


teria provocado o rompimento declarado de alvéolos pulmonares. O pulmão
certamente foi forçado e em mais um pouco se romperia de forma irremediável
para o momento.

Sintomas de Acidente Grave (ETA)

Inconsciência, estado de choque, falta de ar acentuada, cianose, contrações,


midríase (pupilas dilatadas). estrabismo, ausência de reflexos, paralisia e por
vezes, convulsões. Espuma sanguinolenta pela boca. Às vezes, problemas
cardíacos devido a bolhas nas coronárias.
Podem ainda ocorrer pneumotórax, pneumomediastino, enfisema subcutâneo,
sem que ocorram bolhas na circulação.

Tendo acontecido um acidente desta natureza, enquanto se transporta o


embolizado pode se aplicar oxigênio puro e ressucitação, se necessário.
Estimulantes cardio-respiratórios podem ser utilizados e deverão ser tomadas
providências para evitar o estado de choque.
TÃO DIFÍCIL DE AGIR DEPOIS DO ACONTECIDO E MUITO MAIS FÁCIL DE
EVITAR, ANTES DE OCORRIDO.

4.1.a) O INSTRUTOR COMO AGENTE PREVENTIVO DA ETA

É fundamental, além do necessário esclarecimento quanto as causas deste


barotrauma, relembrar, durante todos os dias em que os alunos estiverem sob
sua orientação, a diferença básica entre os procedimentos de um mergulho em
apnéia e um com ar comprimido.
Pode parecer desnecessário tal insistência, porém, devido a gravidade de uma
ocorrência dessa natureza, melhor ser enfadonho do que responder por
responsabilidade.
A bem da verdade, no desenvolvimento de um curso de mergulho, este é o
risco mais grave que pode ocorrer em qualquer fase do trabalho em piscina e
mesmo na prova de mar.

O descontrole repentino de um aluno, por motivos inesperados, de desprezível


importância, pode surpreender a um instrutor (principalmente se este aluno
jamais deu a entender que apresentaria um procedimento deste). Desgarrando-
se do grupo ou do instrutor, dirigindo-se para a superfície em velocidade, sem
que possa ser alcançado, se por si mesmo não lhe vier a mente a massificada
recomendação de jamais subir com o ar preso, certamente uma ou duas
recomendações que lhe tiverem sido feitas neste sentido não terão efeito
algum.

Considere esta constatação...

A quase totalidade dos barotraumas possíveis, num curso de mergulho,


ocorreriam de cima para baixo. O fato de estarem as condições criadas para a
sua ocorrência (barotrauma timpânico, por exemplo) por si só já impediriam a
sua materialização, devido a uma dor crescente que impediria o aluno de
continuar a aprofundar. Ele imediatamente sinalizaria a impossibilidade da
compensação e o instrutor tomaria alguma providencia cabível como
alternativa.

No entanto, a ETA é de baixo para cima. A única forma do instrutor se precaver


desta ocorrência é, seguramente, a insistência antes do mergulho.
Durante a verificação de subida livre (uma das tarefas exigidas pelo padrão
CBPDS/CMAS), deve ser enfatizado que tal subida não é subida de
"desespero". Mesmo sendo tal verificação desencadeada a partir dos cinco
metros apenas, o instrutor deve certificar-se de que o aluno esteja consciente e
calmo para o que vai realizar. Ao iniciar-se a subida o instrutor deverá logo
constatar que o aluno solta o ar com desembaraço. Caso este não o faça, a
providência é segura-lo e recolocar-lhe a válvula na boca, para recomeçar em
outra ocasião, mesmo que tenham que voltar à superfície para relembrar todos
os procedimentos.

Experiência Vivida
(da importância de se ter certeza de que foi bem feito...)

Cabo Frio, final de um curso de mergulho, ano de 1989. O aluno tendo


realizado o curso normalmente, em muito boas condições e com atestado
médico sem restrições, dá início a sua prova de mar. É combinado que o
mergulho será de 12 metros, sendo que as duas primeiras verificações (alagar
e desalagar a máscara e revezamento de ar) serão feitas primeiramente aos
três metros (como prévia) e repetidas aos 12 metros (como confirmação de
habilidade adquirida).

Na ocasião é também acertado que após o passeio sobre o fundo coralíneo


(com duração de uns 40 minutos), em final de mergulho será pedido uma
subida livre a partir dos 5 metros, orientada pelo cabo de subida.
O aluno em questão realiza todas a primeira fase em excelentes condições.
Desloca-se no passeio com admirável aquacidade e com calma suficiente para
gratificar a qualquer instrutor.

Final de mergulho, subindo pelo cabo, ao atingirmos a profundidade de cinco


metros, sinalizo "subida livre". Verifico que ele solta o ar com desembaraço e
sobe calmamente. Sigo com ele, acompanhando sua subida, a qual se dá
conforme o ensinamento ministrado.

Ao verificar que o mesmo já vai atingir a superfície corretamente e, tendo aí


colocado outro instrutor, como segurança, resolvo-me por uma parada aos três
metros, conforme tinha previsto para mim, devido a quantidade de mergulhos já
realizados naquele dia.

Paro no cabo o tempo de consultar o profundímetro e olho para cima. Vejo


sangue na água, logo acima de mim, coisa de uns 2 metros, na linha do casco.
Vejo o aluno boiando de costas e sendo apoiado pelo outro instrutor, que
mantém sua cabeça fora da água.

Subo os quase dois metros num lance, pergunto o que houve e ninguém sabe.
Me informam coisas confusas que não entendo. Embarcamos o rapaz. Está
inconsciente e espuma sanguinolentamente pela boca.

A embarcação estava fundiada com dois cabos: um na proa e outro na popa.


Suspendemos um e mando cortar o outro. Os alunos estão nervosos. Acelero a
máquina e, pelo rádio, participo o acontecimento e peço uma ambulância no
cais.

Na popa, Edson, meu auxiliar, aplica respiração boca a boca e demais


providencias. Pergunto-lhe como está o rapaz. Me informa que já respira e a
pulsação é fraca. Deixo o leme e vou verificar. Geme. Ainda sangra um pouco
pela boca. Consegue falar. Diz baixo que tem muita dor no peito e falta de ar.
Mesmo tendo certeza de que não pode ter havido ETA, o conduzimos na
posição recomendada.

Os alunos fazem o diagnóstico de ETA, mas eu (e somente eu) sei que não
pode ter havido... Eu subi com ele, mas só eu vi.

Hospital. Médicos. É mergulhador. Foi problema pulmonar... O médico me


explica o que aconteceu, me "ensinando" a lei de Boyle. Escuto pacientemente.

Minhas afirmações, de que não pode ter havido nada nesta intensidade, devido
a subida ter sido realizada corretamente nem ao menos são consideradas.
Compreendo.

Chega um helicóptero com a esposa do acidentado que, segundo me disse, já


lhe advertira para que "não fizesse esta loucura de mergulhar". O médico lhe
explica sua versão do ocorrido. Sei que existem casos (raros) em que mesmo o
indivíduo tendo soltado o ar, pode ocorrer de um alvéolo reter o gás.
Entretanto os casos que se deram com esta característica partem de uma
subida mais rápida e de maior profundidade, em tudo diferente da subida
"didática" que o aluno fizera; da subida que eu mesmo assisti e orientei. Nisso
residia minha certeza, ante a pressão existente de médicos e família,
(principalmente esta última que, compreensivelmente, nesta hora atribui sua
infelicidade à incompetência do instrutor).

O médico recomenda que a família providencie contatos para leva-lo a uma


câmara de recompressão. Aproximo-me da esposa para esclarecer-lhe algo e
nem resposta me dá.

O rapaz já vai ser submetido a uma série de radiografias, quando uma senhora,
que observava há algum tempo minha solitária e discriminada posição,
apresenta-se como médica; como neurocirurgiã. Em seguida afirma que tem
fortes motivos para suspeitar que o caso foi um ataque brando de epilepsia.

Daí para diante o caso começou a ser desvendado. Logo em seguida o rapaz
consegue falar e, com dificuldade, me chama e (sic) pede desculpas. Pergunto
o porque e me confessa que sua vontade de mergulhar era tanta que me
ocultara (bem como ao médico que lhe fornecera o atestado) que possuía esta
restrição. Como tomasse uma medicação muito branda e como há décadas
nada lhe acontecia, julgou-se seguro para o mergulho.

Depois chorou muito e não parava de me pedir "perdão". Afirmei compreender


e, no fundo do meu ser, lhe agradecia a notícia que me tirava de tão difícil
situação.
À noite, a bordo, eu e meu companheiro avaliávamos o perigo que tínhamos
passado. Ocorreu que o rapaz fizera todo o curso se controlando, se policiando
contra qualquer sintoma do mal que, sabia, possuía. Quando verificou que,
finalmente, tinha concluído todo o curso (e isso se dera por volta dos dois
últimos metros da subida), relaxou...

Neste momento a crise eclodiu: branda, mas que poderia ter sido mortal se
tivesse ocorrido aos 12 metros, onde estivéramos poucos minutos antes.

Mas isso é outro assunto. A finalidade deste caso é lembrar ao instrutor que
nunca abandone o aluno na subida livre, por mais desembaraçado que esteja.
Tenha sempre alguém para recebê-lo na superfície e, principalmente, muita
certeza do que você fez.

Na hora de um incidente desagradável, poucos lhe darão crédito, julgando que


suas alegações sejam uma tentativa de fugir à responsabilidade.

Hipóteses Explicativas:

Todas as variações de uma disritmia cerebral, desde as quase imperceptíveis


até as manifestamente convulsivas, podem ter, entre seus agentes
desencadeadores, um estado de hipoxia: isto é, um baixo nível de oxigenação.
Fisiologicamente poderíamos atribuir ao fato acima descrito a esta causa.
Subindo livre, soltando o ar, o aluno teria diminuído sua pressão parcial de
oxigênio e, com isso, sendo propenso à disritmia, teria apresentado o surto.

Embora esta relação de causalidade entre o nível de oxigênio e o surto sejam


uma verdade já confirmada, por intuição nossa versão (não científica mas
profunda) ainda é aquela de que no momento no qual o aluno se "desarmou"
foi quando o surto se evidenciou.

4.1.b) OUTRAS POSSIBILIDADES DE OCORRÊNCIA DE E.T.A.

Num curso ministrado em água rasa e controlada, como é a maior parte de um


curso de primeiro grau, a profundidade de uma piscina de 2 metros não pode
ser desprezada.

A pressão de ruptura de um alvéolo pulmonar é da ordem de 180 mm Hg, o


que corresponde a uns 2,5 metros d'água. Existem registros de ocorrência de
ETA em piscina.

Outra possibilidade real, embora rara, diz respeito ao mergulho entrando ou


saindo pela praia ou região de relativa oscilação do nível do mar.

Submerso à uns 3 metros, caso o mergulhador inspire no momento em que


passe sobre ele uma vaga de mar de 2 metros, assim que ela passar o ar
pulmonar sofrerá súbita expansão, como se a profundidade tivesse sido
reduzida quase à metade.

Façam suas conclusões e planejamentos... pois alguns casos de ETA já


ocorreram.

4.1.c) Diagnóstico Diferencial (DEnsM - 300 / Marinha do Brasil)

Após mergulho com equipamento, quando surge nos primeiros dez minutos um
quadro com manifestações neurológicas e respiratórias, faça o diagnóstico de
embolia traumática pelo ar e tome todas as providências nesse sentido.

Quadros que vem a se manifestar tardiamente são, mais provavelmente, de


doença descompressiva, para cujo diagnóstico diferencial podemos usar o
seguinte quadro:

VEJA A FIGURA:
4.1.d) CASUÍSTICA DE STANLEY MILLES (em relação a ETA)

Revendo sua casuística, Stanley encontrou, em trinta casos de embolia, as


seguintes manifestações:

Perda da consciência (16 casos)


Dor torácica (13 casos)
Desorientação (9 casos)
Fraqueza e paralisia (13 casos)
Tosse (9 casos)
Distúrbios Visuais (4 casos)
Convulsões (3 casos)
Respiração difícil (2 casos)
Cianose (2 casos)

4.2. NARCOSE (embriaguez das profundidades)

No desenvolvimento de atividades relacionadas ao mergulho de lazer, o


mergulhador desavisado ou "descrente", corre o risco de ser vitimado por este
mal indolor (e por isso mesmo bastante insidioso durante sua instalação).
Contrariamente a todos os tipos de males, a narcose se instala oferecendo ao
portador sensações prazerosas...

Diversos locais interessantes para o mergulho de lazer estão na faixa dos trinta
metros de profundidade. É exatamente a partir dessa marca que, num
mergulho com ar comprimido, as pessoas mais predispostas (cerca de 30%
dos mergulhadores) começam a sentir os primeiros sintomas desta
"embriaguez".
4.2.a) DEFINIÇÃO CLÁSSICA

Por costume, tradição e facilidades de entendimento, é normal atribuirmos a


narcose ao nitrogênio. Em nossas Escolas assim é ensinado nos cursos de
primeiro grau e, provavelmente, é o mais acertado. Entretanto este Compêndio
(conforme já explicitado) é destinado ao quadro de instrutores e comporta mais
alguns esclarecimentos.

Na verdade as causas da narcose ainda são discutidas em nível acadêmico e


lhe são atribuídas origens diferentes, conforme as Escolas Americana e
Francesa. Portanto a definição mais isenta das causas desse mal vem a ser a
que encontramos no Manual de Medicina Submarina editado pela Marinha do
Brasil. Vamos a ela:

"A embriaguez das profundidades é um quadro provocado pela impregnação


difusa do sistema nervoso central, por elementos de uma mistura gasosa
respirada além certa profundidade, com manifestações psíquicas, sensitivas e
motoras."

4.2.b) CONCEPÇÃO SEGUNDO A ESCOLA AMERICANA (coeficiente de


partição)

Baseada na teoria de Meyer Overton, esta escola postula que qualquer gás
inerte (praticamente gases carreadores) podem agir como narcóticos,
dependendo, para isso, da maior ou menor facilidade de penetração nas
células do sistema nervoso central e se combinarem com as substâncias
lipóides ali presentes.

Assim, o que determinaria a maior ou menor facilidade desta combinação seria


uma relação chamada coeficiente de partição (c), cujo valor numérico, quanto
mais alto, indicaria a maior facilidade de uma gás produzir este efeito
anestésico.

solubilidade do gás
no azeite de oliva
(representando os
lipóides do sistema
nervoso)
____________________ = c
solubilidade
do gás na água
(representando as
condições do sangue)

Dentro desta idéia, teríamos os seguintes coeficientes de partição para os


gases que se seguem, relacionados em ordem decrescente:

NOME DO GÁS COEFICIENTE DE PARTIÇÃO


Ciclopropano e Clorofórmio 35
Xenônio 20
Nitrogênio 5,32
Hélio 1,7

Isto nos informa que o Xenônio já seria narcótico ainda que a pressão fosse
apenas de 1 Atm, durante o processo respiratório. Em contra partida, o baixo
coeficiente de partição do Hélio dificultaria sua combinação com os lipóides do
sistema nervoso mesmo quando o processo respiratório estivesse submetido a
pressões muito elevadas.

4.2.c) CONCEPÇÃO SEGUNDO A ESCOLA EUROPÉIA

De maneiras surpreendente para muitos, esta Escola tem negado (e com


fundamentos consistentes) que o responsável pela narcose seja o nitrogênio
como agente isolado.

Segundo seu conceito, a Embriaguez das Profundidades é causada pelo gás


carbônico acumulado, devido a uma ventilação insuficiente que seria, por sua
vez, provocada pelo aumento do trabalho respiratório. Este acúmulo, atingindo
o cérebro, seria o responsável pelo mal.

Quanto ao hélio, devido a possuir menor peso molecular e densidade,


ofereceria menor resistência ao processo respiratório e, por sua vez, resultaria
num baixo acúmulo de CO2.

Como um dos argumentos apresentados por esta Escola, trazemos a sua


reflexão a seguinte pergunta que oferecem:

"Se a intoxicação ocorre em função da quantidade de nitrogênio acumulado e


dissolvido no sistema nervoso e se o processo de absorção e liberação desse
gás demora alguma horas, como se explica que os sintomas desapareçam logo
que o mergulhador diminui sua profundidade e, em conseqüência passa a obter
uma melhor ventilação?"

Disso tudo e muito mais, o certo é que, se ainda não se conseguiu constatar
aumentos significativos de gás carbônico na circulação cerebral, quando de
manifestações inconfundíveis de narcose. Por outro lado, é indiscutível que o
gás carbônico seja um agente agravante do processo da narcose.
4.2.d) A CONCEPÇÃO DIDÁTICA DO ENSINAMENTO A SER MINISTRADO

Num curso onde o aluno faz sua iniciação no mergulho, qual seja um curso de
primeiro grau, qualquer aprofundamento no tema não atende aos objetivos
propostos.

Importa sim, que o aluno tenha conhecimento de que sua garrafa de ar


comprimido não deve ultrapassar os 35 metros de profundidade, devido as
possibilidades do aparecimento do processo narcótico. Importa que ele
considere o nitrogênio como agente causador deste mal e saiba que a simples
diminuição da profundidade faz com que os efeitos cessem.

E, naturalmente, importa, sobre tudo, que ele tenha conhecimento dos


sintomas que caracterizam a instalação deste processo.

Num curso de nível terceiro grau, onde se admite que o aluno já é um


mergulhador bastante estável e busca conhecimentos mais profundos, torna-se
didaticamente proveitoso enriquecer-lhe o acervo cultural, desenvolvendo mais
o tema neste sentido. Provavelmente ele mesmo já possua alguma coisa a
acrescentar, proveniente de sua experiência adquirida.

O que não é o caso de um aluno em formação básica de mergulhador.

4.2.e) FATORES PREDISPONENTES DA NARCOSE

a) Fadiga: mergulhadores mal dormidos, tão comuns entre a clientela das


embarcações que operam em mergulho de lazer, devido ao "aproveitamento"
da noite anterior em comemorações ou passeios turísticos.

b) Álcool: é fato comprovado que o mergulhador sob efeito de bebida alcoólica


está mais sujeito a apresentar os sintomas da narcose.

c) Ansiedade: o estado de tensão aumenta a predisposição.

4.2.f) OS PIONEIROS E OS PRIMEIROS CASOS DE NARCOSE

"Em outubro de 1943, Cousteau, Frederic Dumas e outros, reuniram-se numa


pequena povoação pesqueira do Mediterrâneo, a fim de tentar estabelecer uma
marca de profundidade com equipamento autônomo em ar comprimido.

Dumas, excelente mergulhador, submergiu, descendo ao longo de um cabo.


Quando voltou à superfície, depois de ter atingido 64 metros, relatou:
...experimentei uma estranha sensação de beatitude. Estava como que
embriagado e completamente livre de preocupações... Quase ia adormecendo,
mas não pude fazê-lo em tal estado de aturdimento.

Cousteau e seus amigos denominaram intoxicação das grandes profundidades


a esta curiosa narcose que geralmente atinge os mergulhadores aos 60 metros
de profundidade, embora algumas vezes possa ocorrer a partir dos 30 metros.

Cousteau descreve assim esta sensação: ...destrói o instinto de conservação.


O entendimento fica obnubilado e todos os sentidos são afetados... A princípio,
esta intoxicação manifesta-se sob a forma de uma ligeira anestesia que leva o
mergulhador a sentir-se um deus. Se, casualmente, um peixe passa ao seu
lado, imaginará que ele precisa de ar e, num gesto sublime, tirará a válvula da
boca para oferece-la ao peixe."

Entretanto, no prosseguimento da intoxicação, as sensações evoluirão para


"viagens" internas próprias da psique de cada mergulhador. Em comum, no
entanto, todos eles, enquanto realizam suas "viagens" abandonam a
consciência de estarem mergulhando e passam a viver aquela realidade
relativa. No mundo exterior o corpo entra em processo de afogamento...

Como ilustração, prestemos atenção a esta experiência toda particular ocorrida


com Cousteau, por ocasião de uma narcose no tempo do pioneirismo do
equipamento autônomo:

"... pesadelos infantis apoderavam-se do meu espírito. Imaginava encontrar-me


doente na minha cama, aterrorizado ao representar mentalmente um mundo
deformado. Os meus dedos eram salsichas e a minha língua uma bola de tênis.
Quando mordia os lábios eles inchavam grotescamente. O ar era espesso
como xarope, a água era como geleia e eu sentia-me afundar numa gelatina
viscosa. Agarrei-me ao cabo, quase desfalecido. Mas a meu lado estava um
homem sorridente e seguro de si mesmo, o meu segundo eu, que observava,
com expressão travessa e irônica, o infeliz mergulhador que eu era. A medida
que os segundos passavam, o homem sorridente fez-se dono da minha
vontade e ordenou-me que largasse o cabo e continuasse a descer..."

4.3. INTOXICAÇÃO PELO GÁS SULFÍDRICO

Este gás, quando em baixa concentração é logo percebido devido ao seu odor
característico. Em alta concentração, entretanto, não tem cheiro e pode
provocar, em tempo extremamente curto, a inconsciência e a morte. Quando
não mata deixa seqüelas definitivas, uma vez que provoca a morte de
neurônios.
Sua forma de ação é reagir com a hemoglobina, impedindo que ela cumpra sua
função normal de carregar oxigênio para os tecidos.

4.3.a) ONDE ENCONTRÁ-LO, OPERANDO MERGULHOS DIVERSOS?

Para simplificar e generalizar, diríamos que pode haver gás sulfídrico em todos
os lugares que o cinema apresenta como bolsões de ar. Cavernas,
compartimento de naufrágios etc., que se prestam a um enredo
cinematográfico, podem, na verdade conter o gás. Não sempre, mas alguma
vez.

A morte e fermentação de organismos marinhos pode vir a encher de gás


sulfídrico um local no qual, em outro momento, encontramos ar submerso.

Caso o mergulhador venha a encontrar ar em algum local, antes de precipitar-


se e tentar respirá-lo, deverá verificar se existem animais vivos por ali. Isso já
seria um bom sinal...

O procedimento padrão, no entanto, é continuar respirando o ar do seu


equipamento.

Entendemos que caso sinta muito prazer em retirar a válvula da boca e inflar os
pulmões com ar fresco, melhor faria subindo e retornando ao convés da
embarcação. Lá obteria o melhor ar possível - o ar marinho. Embaixo d'água o
melhor ar deve estar exatamente no interior do cilindro.

Pode parecer que exageramos ao falarmos desta maneira. Ocorre que as


conseqüência de uma intoxicação por gás sulfídrico são de tal maneira graves,
que não vale a pena correr risco em troca dos fugazes minutos de uma
emoção...

As normas de conduta ditadas por gente que, por dever de profissão, tem a
obrigação de entrar em locais onde pode haver ar ou gás sulfídrico nos
recomendam que...

"...em operações de salvamento, ventilar o compartimento antes de entrar. Em


caso de dúvidas, usar fonte de ar independente."

Sintomas: tonteiras, dor de cabeça.


Tratamento: ventilar a vítima. Transfusão de sangue em casos extremos.

4.4. INTOXICAÇÃO PELO OXIGÊNIO

No mergulho amador, cujas profundidades superiores aos 35 metros não são


recomendadas, o percentual de oxigênio contido no ar comprimido não
oferecerá os efeitos que conhecemos como intoxicação.

Todavia qualquer mergulhador pode vir a precisar de submeter-se a tratamento


hiperbárico com oxigênio. O desejável é que todo mergulhador soubesse suas
margem de tolerância ao oxigênio puro, não por causa do mergulho, uma vez
que na nossa área de atuação não se fará uso de misturas de gases nem altas
profundidades; mas devido as possibilidades de algum tratamento.

Ao mesmo tempo que assim consideramos, reconhecemos também que essas


possibilidades são mínimas. Tal exigência dificultaria muito a realização de
cursos de mergulho amador, cujo público seria solicitado a atender parâmetros
para os quais não pretende e nem imagina atingir.
Mesmo sendo um assunto cujas influencias, no nível de nossas operações de
mergulho, não se farão notar, o instrutor deve saber informar a respeito quando
perguntado.

4.4.a) GENERALIDADES SÔBRE O OXIGÊNIO

Uma pessoa pode respirar oxigênio puro, sob pressão atmosférica normal, por
longo tempo, sem que apresente sintomas da toxicidade aguda em relação ao
sistema nervoso.

Entretanto, com 12 horas desta respiração, apresentará congestão das vias


aérea pulmonares e edemas pulmonares. Em resumo, apresentará diversas
lesões no revestimento de brônquios e alvéolos. A este efeito tóxico sobre o
aparelho respiratório denominamos de efeito de Lorain Smith, o qual possui um
longo estudo. Ao efeito tóxico do oxigênio hiperbárico, agindo sobre o sistema
nervoso, denominamos efeito de Paul Bert, que se constitui também num
complexo estudo.

O oxigênio puro torna-se tóxico já a partir dos 9 metros de profundidade.

Sintoma clássico: o surgimento súbito de uma redução progressiva do campo


visual, (como se fossemos observando a tela de uma televisão que desligamos
naquele momento) é um dos indicativos mais comuns do início de uma
intoxicação por oxigênio.

4.5. INTOXICAÇÃO PELO GÁS CARBÔNICO

É um tipo de intoxicação possível, dentro do espectro das atividades de


mergulho que desenvolvemos nos segmentos de ensino e de lazer.

Na verdade esta intoxicação é o resultado de uma ventilação insuficiente, seja


por altos teores relativos de carbono na fonte supridora, seja por impedimentos
apresentados no processo de eliminação do gás carbônico produzido pelo
organismo.

Este perigo será tanto maior, quanto mais fundo for o mergulho, uma vez que
seus efeitos serão proporcionais a pressão parcial do gás (Lei de Dalton).

4.5.a) CAUSAS DA INTOXICAÇÃO POR CO2 (HIPERCAPNIA)

Alto teor de gás carbônico na fonte supridora (cilindro, narguilê etc.).

Considerações: atualmente, no padrão atingido pelo sistema de recarga das


diversas operadoras, esta é uma causa das menos prováveis quando
relacionadas ao mergulho com cilindros.

A bem da verdade, pelo menos no eixo das principais capitais brasileiras, há


muito tempo não se tem notícia de nenhum acidente desta natureza, embora
se mergulho intensamente durante todo o ano.
Excesso de exercício físico:

Considerações: um mergulho agitado, onde se faz muita força, seja nadando


contra forte correnteza ou puxando alguém (conforme às vezes se é obrigado a
fazer na situação de guia de mergulho), pode criar um acúmulo deste gás.

Expressiva resistência respiratória:

Considerações: uma válvula mal balanceada, contra a qual o mergulhador tem


que se esforçar para respirar, ou mesmo o fato de permanecer respirando um
ar muito pesado, podem criar a situação de acúmulo de gás carbônico por má
ventilação pulmonar.

Apnéia em mergulho com ar comprimido:

Considerações: com a finalidade de poupar o ar do cilindro, para poder


permanecer mais tempo mergulhando, o mergulhador desavisado pode incorrer
na prática de apnéias, respirando apenas quando sente que já "lhe falta o ar ".
Isso cria rapidamente uma deficiência de ventilação que evolui para uma
intoxicação por gás carbônico.

4.5.b) SINTOMAS EM TEMPO HÁBIL

Quando em grande concentração, esse gás provoca perda rápida da


consciência, espasmos musculares, rigidez e morte. Nesses casos, a não ser
que o mergulhador seja socorrido por outro, não saíra d'água por seus próprios
meios.

Entretanto, quando a intoxicação se dá mais lentamente o sintoma que pode


ser percebido pelo mergulhador é o chamado de "sede de ar". É como se o ar,
ainda que fluindo com boa pressão e estando a válvula em boas condições,
não satisfizesse.

Quando o caso é de contaminação na fonte supridora, 5% de CO2 criam esta


sensação de "sede de ar".

Tanto num caso como no outro, por si mesmo ou sendo socorrido por alguém,
ventilar é a solução. Exposto ao ar fresco, os sintomas regridem rapidamente,
podendo permanecer ainda alguma dor de cabeça e um certo mal estar que
acabam por desaparecer.

Alertem sempre aos alunos: jamais tentar economizar o ar de um cilindro,


realizando suspensões prolongadas da respiração durante o mergulho.
4.6. DOENÇA DESCOMPRESSIVA

Os primeiros casos desse mal foram estudados e descritos cientificamente em


1854, por Paul e Valete. De lá para cá houve grandes avanços no
entendimento, nas formas de controle e na ciência de evitá-lo.

As tabelas descompressivas (de conhecimento de todos mergulhadores


corretamente formados) são um instrumento comprovadamente eficaz e
eficiente.

Na faixa de mergulho em que atuamos, dificilmente um cilindro, dado ao


aumento considerável do consumo de ar em maiores profundidades, ultrapassa
o limite sem descompressão para os parâmetros do mergulho.

Os raros casos havidos de incidência deste mal, nas operações de turismo


subaquático foram ocasionados por:

a) subida muito rápida (velocidade superior a 18 m/min), após mergulho em


que esteve próximo de estourar o tempo limite para não descompressão.

b) repetição de mergulhos, sem ter levado em conta o cálculo de nitrogênio


Residual.

Relembrando: todos os tipos de manifestação dessa doença explicam-se pela


Lei de Henry, onde está postulado que a quantidade de um gás que pode se
dissolver num líquido, depende de dois fatores: a pressão total a qual o gás
está submetido e o tempo em que fica exposto a esta pressão.

(Veja figura acima)

Submetido a condições hiperbáricas, o sangue do mergulhador transforma-se


em transportador dessa sobrecarga gasosa e, em conseqüência, todos os
tecidos vão se saturando.
No caso do mergulho com ar comprimido o gás saturador é o nitrogênio, que
em condições atmosféricas normais não é assimilado pelo organismo.
Esta saturação não segue indefinidamente. Atingindo um nível máximo de
saturação, o organismo para de assimilar o gás, como um balde cheio de areia
que, encharcado, não mais absorve a água que lhe depositam.
Tal como a areia que não se deteriora após ter sido seca, o organismo, após
despressurizado lenta e controladamente, retorna às condições normais. Mas
se essa despressurização for brusca, provocará a supersaturação dos tecidos.
Serão formadas bolhas de nitrogênio, obstrutivas da circulação sangüínea e
geradoras das mais diversas configurações patológicas, caracterizando-se a
doença descompressiva (DD).
DOENÇA DESCOMPRESSIVA
4.6.a) ORIGEM DAS BOLHAS DE NITROGÊNIO

Antes de entrarmos nesse assunto convém deixar bem claro que não há
unanimidade quanto a origem da formação dessas bolhas.

Algumas correntes científicas postulam que essas bolhas são preexistentes no


organismo em estado potencial, sob a forma de micronúcleos que, em
conseqüência da despressurização, seriam ativadas.

Outras correntes do pensamento científico admitem que a formação dessas


bolhas se dá apenas a partir da despressurização, sem que haja um ponto de
formação anterior.

Qualquer que seja a razão da origem, entendem, todas as correntes de


pensamento especializado, que a doença descompressiva (DD) é causada por
bolhas de nitrogênio.
4.6.b) PATOGENIA DA DOR CARACTERÍSTICA

É consenso quase que genérico que o aparecimento das bolhas nas estruturas
articulares seria a causa das dores nessas regiões, por pressão (ou
compressão) direta no tecido do local.

Uma outra hipótese também admitida é de que as sensações dolorosas


localizadas seriam causadas pelo surgimento das bolhas nas áreas cerebrais
relacionadas à sensibilidade das regiões do corpo que foram afetadas
(aparentemente).

Acreditamos que as duas hipóteses são viáveis, podendo, conforme o caso,


existirem separadamente ou mesmo simultaneamente. De qualquer forma, esta
doença teve seu estudo de tal maneira aprofundado que, muito poucas vezes,
na história da medicina, o índice de mortalidade de uma doença sofreu tão
brusca redução como foi o caso da evolução relacionada ao histórico desse
mal.

4.6.c) LOCALIZAÇÃO DAS BOLHAS DE NITROGÊNIO

a) Intravascular:

Localização dentro dos vasos do sistema circulatório. São bolhas resistentes e


o seu crescimento provoca a obstrução da circulação sangüínea, causando
êxtases, edemas, hemorragias e até necroses nas áreas atingidas. Podem
unir-se, tomando a forma de "mangueiras gasosa".

b) Extravascular:

Localizadas fora dos vasos e fora das células, podem, eventualmente,


comprimir vasos sangüíneos, ocasionando os mesmos sintomas da localização
anterior.
c) Intracelular:

São as de mais difícil constatação, localizando-se, de preferencia, nas células


do figado e da medula espinhal. Provocam o rompimento da célula e se
liberam, podendo alcançar a corrente sanguínea e agravando o fenômeno de
localização intravascular.

4.6.d) FORMAS DE MANIFESTAÇÃO

Neste presente tópico não entraremos em estudos complexos, haja visto tal
interesse ser mais da alçada médica e, mais especificamente, da medicina
hiperbárica.

Entretanto em nosso campo de atividade necessário se faz que o instrutor


possua considerável bagagem de indícios, a fim de imaginar hipóteses e tomar
as primeiras providências.

Portanto o assunto a seguir, entendemos assim, está totalmente inserido nas


probabilidades de ocorrência de um dia qualquer de mergulhos.

a) Dor Osteomusculoarticular:

É a mais freqüente das manifestações dolorosas, nos casos de DD. É uma dor
que se instala lentamente e, gradativamente, aumenta até se tornar
insuportável. As articulações do ombro, do cotovelo, do joelho e do quadril
registram a maior incidência, nos casos dessa manifestação.

Estudando um universo de 935 mergulhadores que tinham sido acometidos por esse
mal, Rivera encontrou a manifestação acima citada em 858 casos e dentro da seguinte
distribuição.
Localização da Dor %
Membros superiores 53,3
Membros inferiores 27,1
Lombar 6,4
Cefálica e Cervical 4,7
Torácica 4,3
Abdominal 3,4

Obs.: a presente distribuição inclui também casos de manifestações em mais


de uma localização, num mesmo mergulhador.

b) Manifestações cutâneas

Sensação de comichão, picadas, que podem evoluir para queimação. Podem


aparecer também manchas castanhas ou avermelhadas, mais freqüentemente
na região peitoral, ombros e parte superior do abdome.
c) Manifestação neurológica (alta):

Distúrbios da consciência, vômitos, dores de cabeça, vertigens.

d) Manifestação neurológica baixa ou medular:


Dormência, paralisias, distúrbios do esfíncter etc.

e) Manifestação pulmonar:

Mal estar e sensação de queimação no peito, agravadas quando o


mergulhador inspira profundamente ou quando fuma. Pode produzir acessos
incontroláveis de tosse e agitação, evoluindo para o estado de choque.

4.6.e) MEDIDAS TERAPÊUTICAS DE URGÊNCIA, DURANTE O


TRANSPORTE

Uma vez identificado que o caso é DD, o único caminho é conduzir o


embolizado para uma câmara de, onde pessoal especializado deverá assumir o
tratamento.

---- Durante este deslocamento a aplicação de oxigênio ajudará a obtenção de


uma melhor oxigenação dos tecidos, bem como eliminará algum nitrogênio
alveolar, baixando a pressão parcial desse gás.

---- A utilização de aspirina, na dose inicial de 1 grama de 8 em 8 horas, reduz


a formação de grumos e empilhamento de hemácias.

Outras medidas existem mas, devido a sua maior complexidade (plasma,


corticóides etc.) são da alçada de um médico ou pessoal bastante capacitado
para esta aplicação.

Estamos aqui considerando sempre a situação do instrutor no mar, e é dentro


da realidade (do que podemos obter à bordo de uma embarcação engajada em
operação de mergulho) que oferecemos estas alternativas.

4.6.f) FATORES FAVORÁVEIS AO APARECIMENTO DA DD

a) Obesidade: os tecidos adiposos tem facilidade em reter o nitrogênio.

b) Desidratação: na gênese desse acidente um mergulhador mal hidratado é


um forte candidato...

c) Traumatismo: Num mergulho em que se esteve próximo do limite sem


descompressão, o fato de chocar-se contra alguma coisa (a bordo), tipo uma
pancada, pode ter o mesmo efeito de um catalisador que ative o processo da
DD.

4.6.g) PADRONIZAÇÃO DE TERMINOLOGIA DIDÁTICA PARA ESTUDO DE


TABELAS
Para efeito de correto entendimento e uniformização de conceitos, ficam aqui
estabelecidas as seguintes definições a serem utilizadas pelo Quadro de
Instrutores CBPDS/CMAS, em todos os cursos do Sistema Oficial de Ensino:

PROFUNDIDADE: para efeito do uso de tabelas, será a máxima que se


pretende alcançar no mergulho, ainda que seja por apenas pequena parte do
tempo.

TEMPO DE FUNDO: tempo computado desde o momento em que o


mergulhador deixa a superfície, até o momento em que encerra o mergulho no
fundo. A partir deste momento só são possíveis dois procedimento:
a) Mergulho é sem descompressão: subir a 18 m/s (menores bolhas de ar)
até a superfície.
b) Mergulho é com descompressão: iniciar os procedimentos
descompressivos previsto para o mergulho em questão.

O simples fato de retornar para apanhar alguma coisa que tenha caído,
enquanto subia, já implica em outro tempo de fundo.

MERGULHO SIMPLES: qualquer mergulho realizado após um período de


intervalo de superfície maior do que 12 horas.

Não importa se o mergulho anterior tenha sido com descompressão.

MERGULHO DE REPETIÇÃO OU SUCESSIVO: qualquer mergulho realizado


após um intervalo de superfície menor do que 12 horas e maior do que 10
minutos.

NITROGÊNIO RESIDUAL: é o nitrogênio ainda dissolvido nos tecidos do


mergulhador após a chegada â superfície, o qual leva algum tempo para ser
eliminado.

TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL (NR): é a quantidade de nitrogênio


residual (NR)
convertida em minutos, que deve ser adicionada ao tempo real de fundo de um
mergulho de repetição, de modo a evidenciar o tempo que, neste mergulho, já
se tem a mais de fundo (NR trazido do mergulho anterior).

ESQUEMA DE DESCOMPRESSÃO: procedimento que consta de paradas


específicas de descompressão, para uma combinação de tempo de fundo e
profundidade.

PARADAS DE DESCOMPRESSÃO: profundidades específicas na qual o


mergulhador deverá ficar por determinado período de tempo, para eliminar os
gases dissolvidos no organismo.

GRUPO DE REPETIÇÃO: é indicado por uma letra na tabela e relaciona-se ao


cálculo desenvolvido para a obtenção do NR.
À primeira vista, bem sabemos, pode parecer desnecessária uma relação de
conceitos que já deve ser do conhecimento daqueles que trabalham no nível de
instrutor de mergulho.

Entretanto, em visitas de avaliação, a Diretoria Técnica da CBPDS constatou a


existência de definições que, embora corretas, expressavam o conceito de
forma mais complexa, produzindo dúvidas logo em seguida. Portanto, visando
o aprimoramento da metodologia de ensino, recomendamos o uso e adoção
definitiva (tanto da terminologia acima apresentada, como da definição lhe é
correspondente) dos conceitos conforme explicitados.

4.6.h) CONSIDERAÇÕES SOBRE A DESCOMPRESSÃO MOLHADA

Em nossas operações de mergulho a descompressão que contamos se realiza


na água.
O ideal de um processo desses seria a realização em ambiente protegido, qual
seja uma câmara hiperbárica, seguindo até outras tabelas de melhor
rendimento e menor tempo de aplicação.

Na água o mergulhador (que já perdeu calorias durante o mergulho)tende a


sentir mais frio durante o tempo de parada. Ante um imprevisto qualquer que
aconselhasse sair d'água imediatamente, a pessoa ficaria entre o seguinte
dilema de "se fugir o bicho pega, se ficar o bicho come".

Dado, portanto, a uma série de fatores, não é aconselhável o planejamento de


mergulhos que venham a requerer longos tempos de descompressão: situação
em que o mergulhador é obrigado a permanecer "prisioneiro da profundidade",
aguardando seu tempo de "alforria", enquanto permanece a ameaça de uma
DD.

Em todo o caso, tenha na mente a certeza de que planejar uma


descompressão é coisa bastante séria e os cálculos devem ser confirmados
também por outro companheiro, visando eliminar qualquer margem de erro.

4.7. MERGULHO DE LAZER: COM OU SEM DESCOMPRESSÃO?

Num curso de mergulho, desde o primeiro grau, deve ser recomendado que o
mergulhador jamais planeje mergulhos que venham a necessitar de
descompressão no seu retorno.

Da mesma forma, o aluno deve sair do curso alertado sobre as implicações do


nitrogênio residual, no caso dos mergulho de repetição. Mesmo que ele não se
torne um especialista no planejamento e utilização de tabelas, estas,
obrigatoriamente, tem que lhe serem apresentadas.

Em nossa metodologia de ensino não consideramos seguro que, por ser um


curso de primeiro grau, por exemplo, o aluno não saia compreendendo as
implicações de um NR.
Certamente em cursos mais avançados ele deverá sedimentar essas noções
até a intimidade. Mas há de tomar contato com isso já a partir do seu primeiro
curso.

O aluno deve ser orientado a planejar seus mergulhos de formas a jamais


incidir numa surpresa tão desagradável, qual seja uma DD. No caso de dúvidas
para um segundo mergulho, a orientação é que o realize entre os 12 e 10
metros.

Qualquer que seja o NR trazido do mergulho anterior, mesmo somado ao


tempo do segundo mergulho (nestas profundidades recomendadas) não irá
ultrapassar o limite sem descompressão. Qualquer coisa diferente disso (tipo
dois mergulhos de 18 metros), se não for estudado antes, pode criar
problemas, conforme casos registrados em nossas estatísticas.
Afinal, quem é o mergulhador (no turismo sub) com maiores probabilidades de
utilizar-se das tabelas de descompressão?

R: O instrutor, o Guia de Mergulho e o mergulhador 3 Estrelas que estagia


como monitor, auxiliando a operação de lazer ou prova de mar em final de
curso.
Antes de suas operações, verifique o número de mergulhos e as características
(tempo e profundidade) dos que serão realizados por você e seu pessoal de
apoio. A descompressão pode ser necessária a vocês... e novamente atenção:
um mergulho onde se sobe diversas vezes durante o mesmo (para verificar a
posição, por exemplo) pode se caracterizar como mergulho de repetição
(desde que o intervalo de superfície seja superior a 10 minutos).

4.8. O FRIO, COMO CAUSADOR DE ACIDENTES NO MERGULHO

Devido ao fato da água ter uma condutividade térmica 25 maior do que o ar, o
mergulhador perde calor com mais facilidade do que uma pessoa que esteja na
superfície.

No caso específico das mulheres, devido a possuírem menos glândulas


sudoríparas e contarem com mais gordura subcutânea, retém calor com mais
facilidade que o sexo oposto.

Entretanto, quando se trata de mulheres magras, sendo a massa do corpo


menor que a massa normal do corpo de um homem, apresentam um maior
coeficiente na proporção superfície / massa do corpo e, geralmente, ficam com
frio mais depressa.

Num mergulho onde se realiza esforço, perde-se calor mais rapidamente.


Nesses casos, devido ao sangue circular com maior velocidade, o calor é
dispersado de forma mais acelerada.

D. Ens M - 300 - 1976


Ostensivo
Marinha do Brasil
"...o náufrago, o mergulhador que aguarda socorro, deverão permanecer tão
quietos quanto possível, adotando uma posição próxima da fetal, com o que
protegerão as áreas responsáveis pela maior dispersão de calor."

Numa operação de mergulho como as que realizamos, onde os indivíduos não


são necessariamente atletas, pertencem a ambos os sexos e com idades que
podem ultrapassar mais de trinta anos entre o mais novo e o mais velho, o
instrutor deverá estar atento para a maior sensibilidade ao frio que um ou outro
mergulhador apresente.

A tremedeira característica é sinal que o mergulho começa a deixar de ser uma


atividade de lazer. A mergulhadores que apresentem esse sintoma, melhor
sugerir-lhes que retornem à embarcação. Melhor assim, enquanto a pessoa
pode por si mesma se recompor termicamente ao sair da água, do que vir a
precisar socorros por ter sido vitimada de hipotermia.

4.8.a) FASES DE UMA HIPOTERMIA

1- Excitação: calafrios e vasoconstrição periférica. A temperatura do corpo já é


próxima dos 34 graus C.

2- Adinamia: respiração acelerada (taquipnéia) e aumento do débito cardíaco


até 5 vezes os valores em repouso. A temperatura do corpo, nesses casos,
está entre 34 e 30 graus C.

3- Fase de paralisia: situação já bastante grave, com tendências a evoluir para


o coma. Os músculos e as articulações ficam rígidos e a pele apresenta-se
muito fria, em tudo aparentando uma rigidez cadavérica. A respiração é quase
imperceptível e não se sente o pulso.

O reaquecimento lento é o melhor remédio. Alguma bebida doce e quente


(café) pode ser de utilidade. O aquecimento ao sol, em local seco da
embarcação (de preferência abrigado do vento), agasalhado em qualquer coisa
seca, é a providencia mais imediata.

Quanto ao neoprene, se por vezes, antes do mergulho, pode provocar excesso


de calor, após o esfriamento conserva umidade. Melhor é retira-lo, por diversos
motivos.

Não se deve ingerir ou fornecer bebida alcóolica para "aquecer". Até algum
tempo atrás acreditava-se que a bebida fosse importante auxiliar no processo
de aquecimento.

Hoje o conceito é outro: tomado sem alimentação ou duas horas depois de


exercício físico pesado (o mergulhador nadou muito?) causa uma queda de
glicemia, alterando para pior o processo normal de manutenção da
temperatura.
Num processo de esfriamento, as funções mentais são as que mais sofrem. O
frio cria distúrbios de memória, dificuldade de concentração e um estado de
vago torpor (entorpecimento)

Obs.: quando acima, na segunda fase da hipotermia, dissemos que ocorre um


"débito cardíaco" 5 vezes maior que o valor em repouso, assim citamos como
ilustração a registrar quão profundas são as alterações. Obviamente, numa
operação de mergulho, não se espera que o instrutor tenha condições de medir
tal variável.

5. PROCEDIMENTOS DE MERGULHO

Sob este titulo abrangente abordaremos padrões de procedimentos antes,


durante e depois de um mergulho. É importante que essa orientação não seja
subestimada, haja visto que não foi elaborada ao acaso ou ao bel-prazer do
autor deste trabalho.

Algumas delas, lamentavelmente, são extraídas de ocorrências que resultaram


em acidentes fatais e que chegaram ao nosso conhecimento, no Brasil e no
exterior.

Trabalhando com o mar e exercendo orientação sobre pessoas que se


propõem a mergulhar, nenhum instrutor está isento de ser surpreendido por
uma fatalidade.

Neste caso, entendemos que ela deve ser mesmo imprevisível. Entretanto,
temos que nos cercar de todas as normas de segurança já elaboradas e que,
por mais banais que sejam, não podem ser desprezadas sob pena de, entre
outros problemas, trazerem ao profissional amargas lembranças.

Exemplo de caso ocorrido.

Aluno, após finalizar sua prova de mar, desequipa-se do cilindro e do colete, na


água. O fato se dá fora das vistas do Instrutor que tinha permanecido no fundo,
com outro aluno, após ter mandado que o primeiro subisse.

Ao desequipar-se do colete e do cilindro, o aluno em questão adquiriu


flutuabilidade muito negativa e afundou (não retirou o cinto). Os demais alunos
estavam na outra borda da embarcação e nada presenciaram.

Retornando do mergulho com o segundo aluno, o Instrutor (somente quando já


estava à bordo) se deu conta da falta do primeiro aluno. Começa o alvoroço
geral e, lamentavelmente, o aluno do qual falamos é encontrado no fundo, a
dez metros, sob a embarcação. Não havia mais nada a fazer...

Obs.: as conseqüências deste fato (jurídicas e emocionais) não são o objetivo


nesse momento. Portanto vamos ficar por aqui, posto que aquilo que
desejávamos exemplificar está muito bem contido no episódio acima.
No acidente acima tratado, em poucos minutos houve o desrespeito a mais de
três normas elementares de segurança, naquilo que compete aos
procedimentos de mergulho.

5.1. PROCEDIMENTOS A SEREM ENSINADOS, NO CASO DE ALUNOS

5.1.a) EQUIPANDO

1) colete, faca e instrumentos (no caso de colete tipo colar).

2) cinto de lastro (nenhum tirante pode ficar por fora do cinto).

3) colocar o cilindro com auxílio do dupla (o sistema de ar deve ter sido aberto
antes, para evitar o incômodo de desequipar-se a fim de corrigir algum
vazamento).

4) calçar a nadadeira e colocar a máscara (caso já esteja se equipando no


mesmo ponto onde vai mergulhar, sem que para isso precise se locomover, é
preferível colocar a nadadeira antes do cilindro).

5.1.b) NA ÁGUA

1) verificar a si e ao dupla.

2) verificar a flutuabilidade (positiva? negativa? neutra?) e realizar as


correções, retirando ou colocando lastro se for o caso.

3) nadar para o local de mergulho, junto com o instrutor, respirando pelo


snorkel. Caso a distancia seja grande, não hesitar em inflar o colete.
5.1.c) MERGULHANDO

1) sempre que possível, descer por um cabo guia. É totalmente


desaconselhável descer a partir de um mergulho tipo "esquadro" (essa forma
de mergulhar, além de desajustar o equipamento, obriga a uma compensação
mais rápida).

2) Não encher o pulmão para submergir. O mais aconselhável é exalar um


pouco para facilitar a submersão e inspirar apenas quando já submergido.

3) compensar o tímpano lentamente, metro a metro, para que não aconteça de


"pesar".

4) descer lentamente (no caso de estar acompanhando um instrutor, não


ultrapassá-lo), não excedendo a 22 m/min. Não largar o cabo, durante a
descida.
5.1.d) NO FUNDO

1) limitar seu esforço físico.

2) respirar calmamente, mas sem reduzir seu volume médio de respiração. Não
prender o ar para poupá-lo, pois isso irá aumentar muito a taxa de CO2 no
sangue.

3) uma vez identificada a correnteza, a primeira parte do mergulho deve ser


feita contra ela.

4) jamais perder o contato visual com o dupla. Em caso de perda deste contato,
ambos devem retornar à superfície imediatamente.

5) conhecer os sinais convencionais. Ter combinado outros com o dupla, se


necessário.

5.1.e) SUBINDO

1) preparar-se para subir é o ideal, mentalizando tudo que poderá ocorrer


(dilatação do ar do colete, aumento espontâneo da velocidade após
determinada profundidade etc.). Subir lentamente, acompanhando as menores
bolhas de ar (18 m/min).

2) chegando à superfície, utilizar-se do snorkel, deixando o resto do ar para


alguma emergência. Nadar lentamente (sem esforço) para a embarcação ou
para o ponto de saída. Se necessário, inflar o colete.

5.1.f) DESEQUIPANDO NA BORDA DE UMA EMBARCAÇÃO

No caso de uma embarcação que oferece condições do mergulhador sair


diretamente da água, para bordo, por intermédio de alguma escada larga e
confortável, bastará retirar a nadadeira para subir. À bordo se desequipará.

Quando se faz necessário desequipar-se antes de embarcar, a seqüência mais


segura é a recomendada a seguir:

1) Retirar primeiro o cinto de lastro, segurando-o pela ponta (não é pela fivela)
e entregá-lo a alguém de bordo.

2) Retirar o cilindro (ou cilindro juntamente com BC) e passá-lo para bordo.

3) retirar a nadadeira e embarcar.

Obs.: é preferível permanecer com a máscara até embarcar. Além de proteger


a testa contra qualquer movimento imprevisto do casco da embarcação,
auxiliará a visualizar, por exemplo, alguma coisa que tenha se desprendido do
equipamento e esteja afundando.
O cinto deve ser seguro pela ponta para evitar que algum lastro se solte e
venha a se perder ou atinja outro mergulhador que esteja mais abaixo.

5.2) PROCEDIMENTOS A SEREM TOMADOS PELO INSTRUTOR


(orientação para planejamento e condução de mergulhos)

5.2.a) ANTES DO MERGULHO

1) ter planejado como fará o mergulho (itinerário e tempo, de fácil e possível


controle).

2) ter imaginado quais seriam as reações desfavoráveis mais prováveis (ar,


natação e sustentação. Mentalizar o ato de tirar o cinto).

3) não se superestimar: considere que auxiliar apenas um mergulhador que se


tenha desorganizado já é tarefa bem difícil.

4) formar as equipes (caso haja alguém muito fraco, acompanhe-o você


mesmo ou escolha alguém que lhe pareça mais seguro e se prontifique a tal).

5.2.b) NO LOCAL DO MERGULHO

1) verificar se as condições do mar permitem realizar o planejado (não vacile


em modificar ou mesmo suspender o mergulho).

2) lembre-se de que se você tiver planejado o impossível e tentar realizá-lo, a


hora desta constatação será certamente aflitiva para você.

3) caso decida por suspender o mergulho e não possa evitar que algum
mergulhador caia na água por conta própria, desconsiderando sua
recomendação, manifeste perante todos e educadamente a sua desaprovação.
Após isso só entre na água para prestar socorro, se for o caso.

5.2.c) NA BORDA

1) certifique-se de que todos estão cientes de como vão realizar o mergulho.

2) certifique-se de que existe alguém em condições de controlar a saída dos


mergulhadores, evitando acidentes desnecessários.
3) caia na água primeiro do que os demais e espere precisar intervir.

5.2.d) NA ÁGUA

1) observe a entrada na água de cada um. Esteja pronto para intervir desde já.
Verifique se são capazes de nadar com o snorkel ou se estão muito lastrados.

2) reuna a equipe num ponto de descida. Desça um pouco e espere que o


pessoal se organize para continuar a descida.

3) não tenha pressa na descida.


4) antecipe-se na compensação do tímpano. Não espere que alguém venha a
sentir pressão nos ouvidos. Estimule-os a compensar.

5.2.e) NO FUNDO

1) inicie o deslocamento.

2) ande lentamente para que o pessoal tenha tempo de se acomodar melhor.

3) logo que possível, em algum recanto favorável, pare e mostre alguma coisa
interessante. Isso provoca um início de descontração.

4) observe as bolhas para saber qual dos mergulhadores já começa gastando


mais ar.

5) retorne ao ponto de início com boa reserva de ar.

6) consuma o restante do tempo de mergulho nas proximidades do local de


início. Durante essa fase, mentalize o panorama que deve estar em cima de
você, qual sejam a posição da embarcação ou a distância do costão.

7) esteja preparado para, ao chegar na superfície, vir a ter problemas com


alguém que não consiga nadar para a embarcação.

8) tenha a mão o seu plug de inflar o colete.

Só retorne a embarcação submerso se tiver plena certeza do percurso.

6. PROCESSOS DE BUSCA E RESGATE DE MATERIAL

O mar pode ser vasto e profundo. Comparado com as dimensões para as quais
os sentidos naturais do homem se referenciam, as probabilidades de locação
de algum objeto submerso podem ser estimadas como tendendo ao infinito.

A tecnologia de ponta deste fim de século, embora extremamente apurada e


contando com recursos que chegam a parecer ficção, ainda não foi potente
para identificar a posição de todos os interesses submersos da civilização
atual.

Outra grande dificuldade quando se trata de descobrir material naufragado é


aquela de que o alvo procurado, com o passar do tempo, muda de lugar e
também se deteriora.

Portanto, qualquer coisa no mar, quanto mais o tempo passa, mais


desreferenciada fica.

Enquanto os movimento normais da crosta terrestre e o tempo geológico levam


milhares de anos para encobrir um evento, um indício, uma caverna, no mar,
dependendo da natureza do fundo onde a perda se deu, aquilo que afundou
pode ficar totalmente encoberto em poucos dias.

No nosso caso, o objeto de nosso interesse é evidenciar processos simples, de


rápido acionamento, voltados para o imediatismo de nossas necessidades
operacionais, quais sejam as de resgatar nosso próprio material de trabalho.
Tal princípio não impede que venhamos a nos valer destas técnicas simples,
em proveito de outros trabalhos mais complexos.

Fica porém registrado que, sobre tudo, os processos de busca são sempre um
exercício de paciência e persistência, devendo continuar enquanto sua relação
custo/benefício ainda for interessante.

Finalmente, devemos também saber abdicar, deixando a descoberta para um


outro dia ou para outro alguém, se esta for a vontade do mar.

6.1. VARREDURA LINEAR

Conforme o próprio esquema demonstra a seguir, é um tipo de procura


exercida em linhas retas.

Tanto se presta a trabalhar na superfície, com snorkel, como no fundo com ar


comprimido. Esta escolha dependerá da profundidade e da visibilidade do local,
bem como das dimensões daquilo que se procura.

Quando a busca é feita da superfície, a distancia entre os mergulhadores deve


ser de 1,5 metros. Quando no fundo, a distancia será em função da visibilidade
da água, de formas que os campos de visão se permitam a coberturas entre si.
Deve se olhar para frente (ou para baixo), variando-se o angulo em, no
máximo, 45 graus.
Para aumentar as possibilidades de sucesso, dependendo da situação, mais
mergulhadores do podem ser utilizados. Três importantes variáveis decidirão a
forma como a operação será realizada:

- profundidade da busca
- visibilidade das águas
- tamanho do objeto procurado

6.2. VARREDURA CIRCULAR

É um outro tipo de busca, cujo processo é mais indicado quando a área de


operação está mais definida, mais delimitada.

Basicamente se constitui de voltas, a partir de um ponto fixo e determinado,


que se ampliam em diâmetro ou se reduzem, conforme desejarmos realizar o
sentido da busca.

É importante que ao começarmos cada volta, este ponto de saída seja


marcado para que não venhamos a perder a referência.

Qte. de cabo entre uma volta e outra = 1,5 x Visibilidade.

O centro do circulo também pode ser sustentado por um mergulhador.

Obviamente, a utilização deste processo, no fundo, fica limitada a natureza


deste mesmo fundo.

Quando o relevo do solo é plano (areia ou cascalho), é um bom processo.

Quando se procura algo como um pequeno mastro, também é bom, posto que
quando o cabo tocar no objetivo, o mergulhador será alertado mesmo que não
o tenha visto.
6.3. VARREDURA PENDULAR

Na verdade é uma variação do processo acima, utilizado em situações em que


não compensa ou é contraproducente completar todo o circulo. É o caso de
canais, rios, valões submarinos, carreiras d'água ou correntada forte.

Nesses tipos de local, a correnteza impediria um bom desempenho do percurso


de busca, vindo a fechar o círculo no lado em que fosse o sentido da força
d'água.

Então usa-se apenas meio circulo, pendulando para um lado e para outro, a
favor da correnteza, cuja força esticará o cabo.

7. PROCEDIMENTOS ECOLÓGICOS COM A FAUNA

Grandes manifestações de cuidados ecológicos tem sido observadas em todas


as regiões do mundo onde funcionam operações de mergulho. Não se toca,
não se aproxima, não se levanta areia perto dos corais etc.

Locais existem em que, para a sabia e necessária preservação do fundo, é


interditado o fundeio com ferro, havendo já boiais de amarração previamente
estabelecidas.

Noticias nos chegam de situações em que a própria fotografia com flash não é
recomendada, para não perturbar determinados vegetais que se prejudicariam
pelo excesso da luminosidade.

Grande mérito reconhecemos nessas iniciativas, se bem que algumas primem


pelo exagero.

Em relação aos animais, entretanto, a própria mídia divulga atitudes das mais
condenáveis, realizada por mergulhadores que presumem ostentar dessa
maneira uma grande intimidade com o mar.

É o caso de alimentar ou agarrar-se aos animais.

Fotografias espalhadas por todo o mundo apresentam mergulhadores


(instrutores e guias de mergulho) alimentando moreias, tubarões e outros
peixes. Se tais fotos realmente são sensacionais, a prática deste hábito trás
prejuízos e desequilibra o ambiente.

Entre outras coisas, o peixe "sovado" (acostumado a receber alimento) pode


apresentar reações agressivas ante um mergulhador que com ele venha a se
encontrar e não saiba deste hábito.

O cientista russo chamado Pavlov demonstrou, em experiências com


cachorros, que era possível despertar certos desejos ou necessidades, a partir
do condicionamento a um estímulo que os antecedia. É o chamado reflexo de
Pavlov. Resumindo, ele alimentava cães depois de um sinal determinado (um
som, por exemplo), condicionando desta forma o despertar do apetite dos
animais a partir deste estímulo sonoro.

Quando o estímulo era acionado e a comida não vinha, mesmo assim os


animais se impacientavam como se a tivessem visto, salivando
caracteristicamente e agitando-se.

Aqueles que alimentam peixes, acabam por condicionar o animal a esperar


comida a partir da figura de um mergulhador.

Com este procedimento, além de interferir no plano da natureza (a qual dotou o


animal dos meios necessários a captura do que necessita), põe em risco um
segundo mergulhador que venha a se encontrar com o "peixinho de estimação"
que o primeiro mergulhador alimenta.

No caso de uma moreia, ela se aproximará, insistirá, assustará o mergulhador


que por acaso deparou-se com ela e, não sendo "servida" (uma vez que agora
tem fome), poderá mesmo morder. Qualquer peixe pode fazer isso. Quanto
maior, pior.

EXPERIÊNCIA VIVIDA (acredite se quiser)

Em determinada temporada, para efeito de uma série de fotos que tirávamos,


alimentamos continuamente peixes borboletas com miolo de ouriço. Com o
passar dos dias a intimidade chegou a tanto que, durante a alimentação, os
peixes até nos permitiam acaricia-los bastante. Era realmente uma sensação
interessante aquela de, no mar, agarrar os peixes com a mão, examina-los e
solta-los sem que eles oferecessem reações.

Mas a surpresa maior ocorreu quando, ao levarmos pessoas que seriam o


objeto da foto em meio aos diversos borboletas que enxameavam, como o
alimento não foi fornecido, depois de certo tempo os borboleta começaram a
morder...

Eram, realmente, mordidas leves. Logo compreendi a causa, o que não


impediu que alguns mergulhadores mais novos, com razão, levassem um susto
considerável. (eu idem)

Isso, entre o pacatos cangulos e piruás, teria conseqüências bem mais sérias.
É necessário entender-se que os peixes não precisam de mergulhadores. Para
nada.

Milênios antes que o homem pensasse em mergulhar eles já não precisavam.


Cada vez que se agarra um animal (tartaruga, baiacú etc), creia, ele é tomado
por grande terror.

No seu código de vida, ser retido é a véspera da morte. É um grande stress.


Ele não participa dos valores da nossa cultura.

O comportamento ecologicamente correto, no mar, é o mesmo que a sua boa


educação recomenda na casa dos outros. Não pegue as coisas, não abuse de
intimidades com o anfitreão. Não tente mudar a rotina da casa. A sua visita já
foi uma modificação.

Se, entretanto, por algum bom motivo, tiver que pegar qualquer coisa, coloque
no mesmo lugar e com todo cuidado.

Havia uma pequena aranha do mar que, a duras penas, escondendo-se aqui e
ali, conseguiu se criar entre as frestas das pedras. Num dia de águas claras um
mergulhador a apanhou entre duas pedras. Agarrou-a com todo o carinho,
compadecido da fragilidade daquele animal. Passou-a levemente às mãos da
namorada que, entre curiosa e temerosa, pousou para uma foto. Em seguida
abandonaram o animal, deixando que ele caisse levemente para o fundo e
continuaram o mergulho sem terem lhe feito qualquer mal.

Caindo levemente para o fundo a aranha se sentia totalmente desprotegida, no


meio daquela massa de água repleta de seres perigosos. Finalmente tocou na
areia e tentou alguma pedra, mas foi tarde: só viu a boca se aproximando e
nunca mais soube que pertencia a um badejo saltão de 1 kg e 300 gramas.
8. TABELAS DE DESCOMPRESSÃO

Nesta página e nas páginas seguintes, apresentamos segmento de tabelas de


descompressão que propiciam os cálculos tanto para mergulhos simples como
para obtenção de nitrogênio residual.
TABELA DOS LIMITES SEM DESCOMPRESSÃO

A segunda coluna da esquerda fornece (para as profundidades relacionadas na


primeira coluna da esquerda) o máximo tempo de fundo sem descompressão
(retorno à superfície com Vel = 18 m/min).

As letras designativas do grupo de repetição encabeçam as colunas de tempos


de fundo considerado para as profundidades em questão.

Forma de leitura:

letra do grupo
de repetição
Î
Prof => tempo de fundo __|

Obs.: quando o primeiro mergulho tiver sido além do tempo limite sem
descompressão, obtemos as letras para a repetição na tabela da página
anterior. Quando tiver sido de um tempo de fundo menor do que o limite sem
descompressão, as letras para a repetição são obtidas na tabela acima.
TABELA DE TEMPO DE NITROGÊNIO RESIDUAL

Primeira Etapa

GRUPOS PARA MERGULHOS SUCESSIVOS NO FIM DO INTERVALO (IS)

O intervalo de superfície deve ser, no mínimo, de dez minutos.

O tempo de intervalo de superfície está expresso em horas e minutos (ex.: 2:04


= duas horas e quatro minutos).

A letra do grupo de repetição, obtida do mergulho anterior, consta da coluna


diagonal.

A letra designativa no fim do intervalo de superfície (IS), é apresentada na


coluna horizontal.

Leitura:
Letra
|
|
Letra --------- IS

TABELA DO MERGULHO SUCESSIVO (em metros)

A coluna da esquerda apresenta as letras que obtivemos na tabela anterior.

A primeira fileira horizontal apresenta profundidades do segundo mergulho.

O cruzamento entre dois dados (um da coluna da esquerda e outro da primeira


fileira), resulta num número que vem a expressar o NR (minutos) para o
segundo mergulho.
9. SINAIS DE MERGULHO

9.1 SINAIS DE MERGULHO FACULTATIVOS


9.2 SINAIS DE MERGULHO OBRIGATÓRIOS
PREVENÇÃO
ESTES GESTOS PODEM SALVAR

-AÇÂO IMEDIATA

-AFOGAMENTO

1. Parada Respiratória sem Parada Cardíaca

. Desobstrução das vias respiratórias.

. Boca a Boca (ou Boca a Nariz).

15 / minuto
(verificando a eficácia da insuflação).

2.Parada Respiratória com Parada Cardíaca

(Ausência de pulsações)
Boca a Boca (BAB)

Massagem Cardíaca externa (MCE)

Continuamente até ser substituído por uma equipe médica.

Só: 3 BAB 15 MCE


A Dois: 1 BAB 5 MCE

ALERTA:

PREVINA O CENTRO DE SOCORRO MAIS PRÓXIMO!


DESCOMPRESSÃO

SINAIS

* Mal estar intenso

* Dores

* Náuseas

* Vertigens

* Formigamentos (Dormência)

* Paralisia
* Impossibilidade de Urinar

* Perda de Sentidos

AÇÃO

EVACUAÇÃO PARA UM CENTRO DE RECOMPRESSÃO

Durante o transporte médico

* Oxigênio puro e contínuo se o transporte é INFERIOR A 3 HORAS. (Oxigênio


puro 25mn / Ar 5mn além disso).

* Fazer absorver (ou injetar) 1 grama no máximo de ácido acetilsalicílico (água


não gasosa se bebendo).

* 1 grama de hemisucinato D'hidrocortisona intravenosa.

* 500 ml de DEXTRAN 40.000 em aplicação lenta.

SOBREPRESSÃO

SINAIS

1. AMEAÇADORES

* Dor Toráxica

* Dificuldade Respiratória

* Cuspe Sangrento
AÇÃO

EVACUAR UM ACIDENTADO SOCORIDO, AQUECIDO E EM POSIÇÃO DE


REPOUSO, PARA UM HOSPITAL

2. GRAVES

* Síncope na Imersão

* Perda de Consciência
evoluído para coma

* Convulsões e/ou Paralisia

* Estado de Choque
AÇÃO

EVACUAÇÂO DENTRO DAS CONDIÇÕES RECOMENDADAS PARA A


DESCOMPRESSÃO, PARA UM HOSPITAL.

EVACUAÇÂO IMPERATIVA PARA CENTRO ESPECIALIZADO EM TERAPIA


HIPERBÁRICA.

BAROTRAUMATISMOS

SINAIS

* Dores

* Zumbidos

* Vertigens

* Surdez Súbita

AÇÃO

* Não mergulhar

* Consultar urgente um especialista ORL (ORL: Otorrinolaringologista)

ANIMAIS PERIGOSOS

NÃO VENENOSOS
* Lavagem da ferida

* Não suturar as pequenas feridas

* Proteção antitetânica rapidamente

VENENOSOS

* Não coloque garrote

* Refrescar a periferia e lavar a ferida com água quente e salgada.

* Analgésicos

* Tratamento do choque

PREVENÇÕES GERAIS

VERIFICAR, ANTES DE TODO PRIMEIRO MERGULHO NUM LOCAL


DESCONHECIDO, AS POSSIBILIDADES DE UMA EVENTUAL EVACUAÇÃO.

NÃO TORNE A MERGULHAR SE:

* NÃO SENTIR VONTADE

* FADIGA ANORMAL

* PROBLEMAS O.R.L. (VER BAROTRAUMATISMOS)

* FORMIGAMENTOS / COCEIRAS

* DORES ARTICULARES E / OU TORÁXICAS

* MAL INFECCIOSO EM CURSO

* EXCESSO DE ÁLCOOL OU DROGA RECENTE

* VIAGEM DE AVIÃO PREVISTA PARA AS 12 HORAS IMEDIATAS


TEORIA III

1. MERGULHO EM ALTITUDES

O mergulho, devido às origens de sua divulgação como atividade, esteve até


pouco tempo (na cabeça das pessoas) caracterizado como uma prática
notoriamente marinha.

Atualmente, com a expansão e diversas especializações que o mergulho de


lazer atingiu, foram descobertos os rios e lagos (situados em grande número
pelo interior dos países) que apresentam condições excepcionais para a prática
desta modalidade.

Quanto a localização esses pontos de mergulho diferem uns dos outros pelas
altitudes em que estão situados. E praticamente todos apresentam altitudes
superiores ao nível dos
mares.

Falando em altitude, falamos em diferença de pressão... Ocorre que o


conhecimento de mergulho que vinha sendo ministrado à maioria das pessoas
tinha como referencia as atividades exercidas a partir do nível do mar (pressão
de 1 atm).
Incidências barotraumáticas e processos descompressivos, com uso de
tabelas, tinham seus parâmetros orientados a partir do conceito que o nível de
retorno (superfície) situava-se sob esta pressão.

Ora, num mergulho em cota de nível superior ao do mar, a pressão atmosférica


será tanto menor quanto mais alto se situar o local do mergulho.

A partir desta constatação era de se esperar que as causas e conseqüências


dos diversos barotraumas e doenças do mergulho também passassem a ser
influenciadas por esta modificação de pressão.

1.1. CONCEITO DE ALTITUDE, NO MERGULHO

Embora a partir de 100 metros já exista um diferença de pressão, é norma


geral considerar como mergulho em altitude aquele realizado sob uma lâmina
d'água situada a mais de 300 metros de altitude. Simplificando, é o mergulho
em locais situados a mais de 300 acima do nível dos mares.

Um exemplo de grande altitude encontramos no Monte Licancabur, situado na


fronteira do Chile com a Bolívia, em cota de 5.930 metros. Os mergulhos aí
realizados foram considerados como marco para o recorde de mergulho em
altitude. Mas se um mergulho nessas condições exige preparação e adaptação
de alguns meses, outros pontos de altitude não tem um perfil tão exigente,
podendo serem abordados na véspera ou mesmo no dia do mergulho.
Entretanto, nessa modalidade de mergulho devemos ter nossa atenção voltada
para alguns aspectos como os que vamos desenvolver abaixo.

1.2. ALTITUDE E EMBOLIA TRAUMÁTICA PELO AR

Os processos barotraumáticos e o funcionamento fisiológico em ambiente


hiperbárico de altitude, baseiam-se em duas constatações iniciais:
1) A diferença de densidades entre a água doce e a água do mar.
2) A diferença do valor da pressão atmosférica para mergulhos ao nível do mar
e mergulhos em altitude.

Quanto a água doce, devido a sua menor densidade, para atingirmos uma
pressão hidrostática de mesmo valor que determinada pressão hidrostática de
água salgada, teremos que mergulhar mais fundo do que no mar. Isto em
conseqüência da coluna de água doce ser mais leve do que a coluna de
mesma profundidade de água salgada.
Ainda mais relevante que esta diferença seria a variação das pressões
atmosféricas de altitude, quando comparadas a pressão atmosférica ao nível
do mar. Por exemplo, para um mergulho em local situado a 5400 metros de
altitude, estaríamos sob a pressão de 0,5 Atm.

A partir desta constatação e considerando apenas a pressão atmosférica


(tomando como desprezível a diferença de densidade das águas doce e
salgada), verificamos que:
- para dobrarmos a pressão absoluta, num mergulho ao nível do mar,
precisamos mergulhar 10 metros (passando de 1 para 2 atm).
- para dobrarmos o valor da pressão absoluta, num mergulho a 5400 metros de
altitude, basta-nos mergulhar apenas 5 metros (passando de 0,5 para 1 atm).

Como os postulados da Lei de Boyle e Mariotte continuam valendo (desde que


as temperaturas estejam equiparadas), concluímos que:
- as possibilidades de ocorrências barotraumáticas de descida
(hiperbaropatias), num mergulho de 5 metros, em local situado a 5400 metros
de altitude, são as mesmas que num mergulho de 10 metros no mar.
- as possibilidades de ocorrências barotraumáticas de subida (hipobaropatias),
num mergulho de 5 metros, em local situado a 5400 metros de altitude, são as
mesmas que num mergulho de 10 metros no mar.

Em conseqüência desta constatação, compreendemos facilmente que podem


haver casos graves de ETA em subidas bem menores do que no mar.

1.3. DOENÇA DESCOMPRESSIVA E ALTITUDE

As tabelas de descompressão em uso geral na atividade de mergulho de lazer,


consideram que o mergulhador, para o primeiro mergulho, não traz nenhum
residual. Está "limpo".

Consideram também que o mergulhador retornará para um nível (na superfície)


cuja pressão é de 1 atm. Entretanto, quando falamos em altitude, essas duas
premissas, inerentes às tabelas usuais, não mais se verificam.

1.3.a) NITROGÊNIO RESIDUAL DE CHEGADA NA ALTITUDE

Ao subir para uma altitude mais elevada, o organismo do mergulhador passa a


apresentar um processo de descompressão.
Isto porque o nitrogênio, nele estabilizado em virtude de uma maior pressão
que havia na altitude anterior (veio do mar, por exemplo), agora passa a ser
liberado pela diminuição de pressão da altitude alcançada.
Então, qualquer mergulho em altitude, realizado antes de 24 horas após a
chegada no local, deve ser considerado como um mergulho repetitivo.

1.3.b) MERGULHO COM RETORNO A NÍVEL INFERIOR A 1 ATM DE


PRESSÃO
Em virtude desta diferença, a consulta à uma tabela (para saber-se o limite
sem descompressão para determinada profundidade em altitude) não poderá
ser feita diretamente, uma vez que a tabela está considerando o nível de
retorno igual a 1 atm.
São necessários alguns ajustamentos ou correções.

Manuais de mergulho da Marinha dos Estados Unidos afirmam que as tabelas


de descompressão podem ser utilizadas, normalmente, para mergulhos em
água doce, situados até a altitude de 700 metros.
Ultrapassando esta altitude consideram que não existe nada cientificamente
provado para permitir o mergulho com respaldo daquela Instituição, de maneira
geral.

Impõe, como condição para que o mergulho seja realizado (acima de 700
metros de altitude), a aprovação de um especialista responsável.

Entretanto, se ainda não aprovados de forma oficial ou científica, alguns


métodos tem sido utilizados e difundidos, como indicados para corrigir as
tabelas de descompressão em função da altitude.
Um dos mais conhecidos é o método de Cross.

1.3.c) MÉTODO DE CROSS

Este método parte da consideração que, até 3000 metros de altitude, a pressão
barométrica diminui em torno de 8,3 mm de Hg a cada 100 que se sobe.
Em função disso, o método nos apresenta a seguinte fórmula para correção
das profundidades reais de mergulho.

PR x 760
PE = ---------------------------
760-(Alt x 0,083)

Onde:
PE = profundidade equivalente
PR = profundidade real do mergulho
Alt = altitude

Assim, para calcular o limite sem descompressão de um mergulho de 15


metros, realizado num local situado a 3000 metros de altitude, começaríamos
verificando qual seria a profundidade equivalente numa tabela que para uso no
mar. Teríamos então:
15 x 760
PE = ----------------------------- =
760-(3000 x 0,083)

11. 400
= -------------
511

= 22,3 metros
Consultando a tabela para 22,3 metros, achamos em 24 metros um limite sem
descompressão de 40 minutos. Observe como o tempo foi reduzido,
considerando que um mergulho de 15 metros, no mar, apresentaria um limite
sem descompressão de 100 minutos.

Quando o mergulho exige paradas de descompressão, o método apresenta


correções das profundidades das paradas, por meio da seguinte fórmula:

PPT x [760-(Alt x 0,083)]


PPE = ----------------------------------
760

Onde:
PPE = profundidade da parada equivalente
PPT = profundidade da parada da tabela

Assim, para um mergulho no qual a tabela normal indica uma parada aos três
metros, quando realizado aos 3000 metros de altitude receberá a seguinte
correção:

3 x [760-(3000 x 0,083)]
PPE = ----------------------------------
760

1533
= --------
760

= 2,017 metros.

Isso significa que, para retornar do mergulho em questão, é necessário realizar


uma parada aos 2 metros, pelo tempo indicado na tabela normal.

ATENÇÃO: embora muito utilizado, este não é um método cientificamente


validado.

Entre suas deficiências registraríamos que não leva em consideração uma


correção para a velocidade de subida (lembre-se que existe diferença de
densidade entre águas doce e salgada).

Não obstante tal método apresentar limites sem descompressão pertinentes,


alguns autores consideram que existem probabilidades de que suas correções
aumentem o risco de doença descompressiva, quando comparado ao risco que
pode ser oferecidos pela tabela convencional US Navy, ao nível do mar.
Mesmo assim e visando uma maior facilidade de aplicação que venha a evitar
a realização de cálculos para cada situação, já existem tabelas inteiras,
totalmente convertidas pelo método de Cross, destinadas ao mergulho em
altitude.

1.3.d) OUTRAS ALTERNATIVAS DE AJUSTE

Uma outra alternativa de rápido emprego se constitui naquela em que, para


determinados parâmetros de altitude, existe uma constante multiplicadora
chamado de "fator de correção".
Uma vez efetuado o produto desta constante pela profundidade real do
mergulho, o resultado será a profundidade equivalente a ser buscada na tabela
comum.

Exemplo de tabela com fator de correção:

Altitude (em metros) Fator de correção


0 a 100 1,00
100 a 300 1,25
300 a 2000 1,33
2000 a 3000 1,50

1.4. ALTITUDE E EQUIPAMENTOS

Devido às implicações que as diferenças de pressão e de densidade de água


(conforme já abordado anteriormente) apresentam, determinados cuidados e
adaptações são também imprescindíveis em relação ao material.

Vejamos alguns:

CINTO DE LASTROS

Como a densidade da água doce possui um valor em torno de 2,5% a menos


que a densidade da água salgada, é recomendável que o mergulhador (para
continuar com flutuabilidade neutra) retire de 20 a 25% do lastro existente no
seu cinto utilizado no mar.

COLETE EQUILIBRADOR

Devido as variações de volume se processarem bem mais rápido na altitude, o


colete equilibrador deve ser usado com muita cautela e ainda maior perícia. Os
riscos de um "balão" (subida rápida por perda do controle da flutuabilidade) são
maiores do que no mar.
O ideal é que, nos mergulhos em água doce e altitude, tal equipamento seja
usado apenas por mergulhadores que dominem totalmente as manobras
necessárias (e com rapidez).

PROFUNDÍMETROS
Eis aí um equipamento que merece toda nossa atenção, nas condições de
altitude. Caso sejam a óleo, indicam a pressão ambiente e, de fábrica, são
zerados a 1 atm.
No aumento da altitude sua tendência será a de apresentar valores inferiores a
zero para a profundidade. O ideal é que tenham dispositivo de regulagem para
a agulha, permitindo zerá-los no local de mergulho.
Caso não possuam este dispositivo e sejam submetidos a um mergulho na
altitude de 5400 metros (onde a pressão atmosférica é de 0,5 atm), somente a
partir dos 5 metros é que começarão a funcionar, devido a terem atingido a
pressão de fábrica (1 atm) para a profundidade zero... e continuarão
apresentando sempre uma diferença de 5 metros.
Profundímetros de coluna d'água também apresentarão grande diferenças,
devido a serem baseados na dinâmica da variação volumétrica inversamente
proporcional à variação barométrica.
A 5400 metros de altitude indicarão 10 metros de profundidade quando
tivermos mergulhado apenas 5 metros. Em compensação, estarão sempre
apresentando a profundidade equivalente para uso de uma tabela no mar.
Entretanto não são recomendados, uma vez que apresentam considerável
imprecisão em maiores profundidades.
No caso de dúvidas, o melhor é realizar sondagem antes do mergulho e, se for
o caso, com cabos e pesos, marcar também as paradas de descompressão.

COMPUTADORES E DESCOMPRESSÍMETROS DIVERSOS

Consulte o manual de operações do seu equipamento, antes de realizar


mergulhos em altitudes, para saber se esta função está incluída nas
possibilidades do programa.
Verifique também quais seriam as limitações (ajustes, períodos de adaptação
recomendados e altitude máxima de uso).

1.5. ALTITUDE E PREVENÇÃO

Em virtude da redução da pressão parcial do oxigênio, altitudes acima de 1500


metros podem surpreender o mergulhador, recém chegado, com fraquezas e
dores de cabeça.
Algumas tarefas que a si próprio atribuiu (condução e transporte de
equipamentos) podem se tornar bem mais difíceis do que ao nível do mar.
A 3000 metros de altitude podem mesmo ser impossíveis. Entretanto, abaixo
dos 5 metros de profundidade, a pressão parcial do oxigênio torna-se
satisfatória.

Outras recomendações relativas a altitude, seriam:

a) Para mergulhadores que realizaram apenas um mergulho por dia, é


necessário um intervalo de superfície de 12 horas antes de viajarem de avião
ou se deslocarem para altitudes maiores.
b) Para aqueles que realizaram mais de um mergulho por dia ou foram
obrigados a realizar descompressão, é necessário aguardar por mais de 12
horas (e quanto mais tempo melhor) na superfície.
c) Mesmo essas providências não afastarão totalmente a probabilidade de
ocorrência de uma DD, para qualquer tipo físico de mergulhador.

2. MERGULHO NOTURNO

As pessoas mergulham à noite por curiosidade, desafio ou verdadeiro


interesse.
Quanto aos primeiros, logo que percebem que durante o dia há mais coisa a
ser observada é natural que abandonem este hábito, após algumas
experiências.
Acrescente-se a isso a falta de sol para o necessário aquecimento.

Quanto aos desafiantes, para os quais o mergulho noturno representa algum


tipo de afirmação pessoal, uma vez conseguido seu intento dão-se por
satisfeitos e não mais mergulham à noite.

Resta-nos um grupo de pessoas que possuem um interesse específico por


algum tipo de observação que só pode ser realizada a noite.
Essas pessoas sempre mergulharão noturno e tenderão, cada vez mais, a se
sofisticarem em equipamentos e técnicas, tornando-se verdadeiros experts no
assunto.

O instrutor de mergulho será o primeiro contato que qualquer um desses três


grandes grupos de classificação fará em direção ao mergulho noturno.
Portanto, certos procedimentos (visando o usufruto do mergulho e a segurança
daqueles que se iniciam no escuro através de nossos instrutores) serão aqui
recomendados.

Dentro deste objetivo, tudo o mais que a experiência de um instrutor vier a


acrescentar será de extrema valia.

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Durante o mergulho noturno, a primeira diferença a ser constatada é a redução


do campo de visão. Se durante o dia podem ser localizadas, facilmente,
regiões particulares e agrupamentos gerais de pedras, a noite serão
percebidos apenas pequenos segmentos disto. Isto é: a parte destas
referencias que forem abrangidas pelo foco da lanterna. Em torno haverá
sombras vagas e escuridão.

Caso se tenha sorte, entretanto, a parte enfocada poderá apresentar aspectos


ainda não observados durante um mergulho diurno (peixes ou moluscos em
típica atividade noturna). Mas talvez o mais interessante a ser observado se
constitua, justamente, no efeito das águas na escuridão.
Dependendo da qualidade das águas, nesta noite, todos verão que ela brilha
fosforescentemente.

Com as lanternas apagadas todo o contorno do mergulhador se torna como


que irradiante, bem como os movimentos realizados desprendem pequenas
fagulhas de luz que lentamente se apagam.
Isto se deve ao fato da existência de um micro organismo pertencente ao
zooplancton, cujo nome é "Nocte lucca" (um tipo de vaga-lume microscópico do
mar, espalhado por toda a massa d'água).
Quanto menos luz, mais se nota a presença deste fenômeno, durante os
movimentos realizados.

Naturalmente, em águas poluídas, a presença desses micro organismos é


quase nenhuma. De qualquer modo, a noite sempre oferecerá a oportunidade
de observação de alguns animais que, durante o dia, permanecem escondidos
em suas tocas. São seres de hábitos noturno e caçam após o pôr do sol.
Durante este período muitos peixes de atividades diurnas encontram-se como
que dormindo, permitindo mesmo que sejam tocados. É o caso dos bodiões
(também chamados de peixe-papagaio) que segregam um muco protetor e
nele se envolvem para adormecer.
Moréias costumem abandonar suas tocas para a caçada noturna.
Em razão disso podem apresentar um procedimento mais agressivo à noite.
Outros animais que são observados em pouca quantidade durante o dia
(caranguejos) aparecem em atividade durante a noite.

Procure não tocar nos animais que se encontram "adormecidos". Tanto você
como eles podem se machucar. Aprecie e respeite, não intervindo naquilo que
não foi você quem organizou.

2.2. PROCEDIMENTOS PARA MERGULHOS NOTURNOS

a) O ideal é que já se tenha mergulhado, durante o dia, no mesmo local que se


vai mergulhar à noite.

b) Aproveitando-se a luz do dia, é interessante elegermos áreas específicas


para a observação noturna, balizando o itinerário para atingi-las, seja por meio
de bússola, seja por meio de cabo guia.

Um mergulho prévio no local (no mesmo dia ou em dia anterior) proporciona


excelente descontração para o noturno. É durante este mergulho que
recomendamos eleger os "points" a serem observados durante a noite.

c) Aguardar de 2 a 3 horas após o pôr do sol para iniciar o mergulho.


Este é o tempo para que os animais comecem a desempenhar seus hábitos
noturnos.

d) O ideal é a formação de equipes pequenas e que todos os mergulhadores


respeitam o que foi convencionado em relação a disciplina de luzes (prática de
lanternas).

e) Deslocar-se lentamente e parar muito, para poder observar um pouco.

f) Convencionar sinais de lanternas do tipo: subir, retornar, socorro etc.


g) As possibilidades de auxílio mútuo se reduzem bastante durante a noite,
embora a luz da lanterna propicie menos possibilidades de separação das
duplas.
A redução da visibilidade impede a observação de vários detalhes do
equipamento próprio e do equipamento do companheiro (vazamentos, fivelas
mal ajustadas etc.). Portanto, antes de iniciar o mergulho, cheque
minuciosamente o equipamento. Se você possui algum material com leitura
fosforescente para ser consultado na obscuridade, exponha-o a uma luz forte
antes do mergulho.

h) É importante contar-se com um elemento, a bordo, que seja bom nadador e


esteja em condições de, na superfície, prestar socorro a um mergulhador que
tenha se desgarrado do grupo sem ter sido notado.

i) Evite impactos no equipamento e entre na água com suavidade.

j) Ilumine o local de entrada na água, para evitar uma desorientação espacial


causada pela escuridão. Nade para o local do mergulho lentamente, com a
lanterna acesa e prestando atenção para não se chocar com os demais
companheiros.

l) Na subida mantenha o facho da lanterna voltado para cima, visando liberar o


seu caminho, bem como permitir que o pessoal de bordo o identifique.

m) Não aponte a lanterna para os olhos do companheiro. Aponte-o da cintura


para baixo, deixando seu rosto na obscuridade.

n) Não procure chamar o companheiro com movimentos desordenados de


lanterna. Use o som.
O ideal é que você realize todo o mergulho ao alcance do braço do dupla.

o) Possuindo uma segunda lanterna reserva, leve-a também ao mergulho.


Outros sinais adicionais (tintas químicas) podem ser colocados em parte do
equipamento.

p) Mesmo que a temperatura da água esteja excelente, use roupa completa.


Você não terá visão para desviar-se a tempo de medusas e outros seres
urticantes.

Escolha locais abrigados, sem relevantes movimentos de água ou tráfego de


embarcações.

2.3. AQUACIDADE NOTURNA E SUA IMPORTÂNCIA

Os seres marinhos são verdadeiros sensores vivos. A forma como a vida e a


sobrevivência se estabeleceram neste ambiente obrigou-os a desenvolverem
dispositivos de permanente identificação, uns sobre os outros.
Estes dispositivos serão tão mais eficientes quanto de mais longe puderem ser
utilizados.
Para tal mister, usam a vista, o olfato, as vibrações sonoras e as mecânicas.
Lembre-se de que os peixes podem sentir a forma das coisas à distância
(tato) pelas vibrações captadas em sua linha lateral (linha de escamas que
percorre longitudinalmente o animal).

O homem, neste ambiente, quase nada ouve; enxerga num angulo e numa
profundidade muito pequena e tem seu olfato reduzido a zero.
Se, além de todas essas limitações, ainda lhe falta luz, torna-se um total
incompetente para a percepção do que lhe está próximo. Mas nem por isso é
menos percebido pelos formidáveis sensores que são a vida marinha.

Se acaso se movimenta desordenadamente, os seres marinhos lhe captam


como você perceberia a chegada de um caminhão com o silencioso furado e
com a buzina em curto, tocando. Você sumiria da frente de tal aberração,
correndo...
É assim que os peixes fazem. Por isso há gente que vê muitas coisas em seu
mergulhos e outras nada vêem.

Lembre-se de que é preciso parar para poder observar. Um mergulhador mal


lastrado terá sempre dificuldades neste intento.

Finalmente, considere que mesmo que você nada tenha visto, certamente você
terá sido notado por todos que lá estavam, como se o mais claro dos dias
fosse.

Portanto, mergulhe como se fosse você mesmo um peixe, em harmonia com a


água, sem pressa e sem desorganização.

3. ORIENTAÇÃO SUBAQUÁTICA

Quando falamos em orientação subaquática, imediatamente nos vem à mente


a idéia de bússola. Realmente, é um pensamento acertado. Na orientação
terrestre podemos contar com diversos auxílios, tais como sol, lua, posição de
determinadas estrelas, radiogonometria e todos os demais recursos utilizados
na navegação de superfície.

Navegar é o termo certo. Quando viajamos ou nos deslocamos em constante


processo de orientação, seja no mar, no ar ou na terra, é normal dizer que
estamos realizando uma navegação. Esta navegação pode ser visual ou por
instrumentos. A bússola seria um dos diversos equipamentos a poderem ser
utilizados... mas, sob a água, é praticamente o único.

Portanto o instrumento fundamental na navegação subaquática realizada pelo


mergulhador é a bússola.
3.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS

Bússola: é um instrumento destinado a medir ângulos horizontais (em graus


ou milésimos), contados a partir do Norte da agulha.

Carta náutica ou terrestre: vem a ser a representação gráfica de uma


determinada região, parte do litoral ou superfície de mar aberto, desenhada em
escala, a partir de diversas medições e projeções, utilizando-se processos que
minoram ao máximo qualquer imperfeição.

Orientar uma carta: é obter a coincidência entre o Norte da carta e o Norte


Verdadeiro (Geográfico).

Escala de uma carta: é a proporção entre uma determinada dimensão gráfica


e a dimensão verdadeira.

Norte Verdadeiro ou Geográfico: é o ponto, acima da linha do equador, onde


se dá o encontro de todos os meridianos terrestres. Nas cartas sua direção é
representadas pelas linhas verticais.

Norte Magnético: é a direção indicada pela ponta Norte da agulha de uma


bússola. Na verdade este local não é fixo e varia de posição continuadamente,
ao longo dos anos.

Polo Norte Verdadeiro: é o polo geométrico ou geográfico da Terra.

Polo Norte Magnético: é o ponto para onde as agulhas imantadas (das


bússolas) apontam.

Como você já percebeu, o Norte Verdadeiro não é obrigatoriamente


coincidente com o Norte Magnético. O Norte Magnético tanto pode estar a
Leste quanto a Oeste do Verdadeiro, dependendo de cada lugar.
Você já pode perceber que existe um angulo entre o NMag e o NV. Este angulo
chama-se Declinação Magnética.

Declinação Magnética: é o angulo essencialmente variável, formado pelas


direções no norte magnético e do norte verdadeiro. É medido em graus ou
milésimos. Dizemos que a declinação é Leste se o NM estiver a direita do NV.
Estando a esquerda do NV, dizemos que a declinação é a oeste (W).
Este ângulo (declinação) é importante para os nossos cálculos, sempre que
tivermos que tomar uma leitura na carta e transportá-la para nossa bússola e
vice e versa.

3.2. AZIMUTE, RUMO E MARCAÇÃO

Alguns dos termos que vamos abordar na continuação deste trabalho, recebem
conotação diferente em diferentes lugares onde se trabalha com ângulos
tomados a partir de instrumentos de orientação ou locação de posição.

Com a finalidade de esclarecer a todos aqueles que fazem deste Compendio


sua fonte de estudos para a preparação à verificação de conhecimentos à qual
são submetidos os candidatos ao grau de Instrutor CBPDS/CMAS,
esclarecemos que adotamos as terminologias listadas nas páginas seguintes.

3.2.a) AZIMUTE (definição clássica)

"Distancia angular medida sobre o horizonte, a partir de um ponto origem, no


sentido dos ponteiros de um relógio ou, no sentido inverso, até o circulo vertical
que passa por um astro."

Este é um conceito que, na navegação astronômica, é amplamente conhecido.


É normal também aí se tomar como referencia o sul.

No nosso caso, o único instrumento que utilizaremos (nesta especialidade de


orientação sub), trabalhando com medição de ângulos horizontais, será a
bússola. Sua direção base de contagem de ângulos é o norte de agulha.

As diferenças, porventura existentes, entre o norte de agulha e o norte


magnético não influirão de maneira alguma num percurso subaquático.

A pequena extensão deste deslocamento e as características desta


modalidade (como mais a frente veremos) não são valores passíveis de
oferecerem modificações (erros) provenientes da declinação de agulha.

Portanto, em orientação sub, considerando a definição clássica de azimute e


tomando como direção base o norte magnético, teremos:

Azimute Magnético: é o angulo horizontal, medido no sentido dos ponteiros


de um relógio, tendo como início da direção base o N Magnético e contado
até a reta que indica uma direção desejada.
Em nosso trabalho de bússola, será com esse ângulo que iremos operar na
maior parte das vezes.
Quando a direção base for o N V, estaremos trabalhando com um Azimute
Verdadeiro.

Azimute Verdadeiro: é o ângulo horizontal formado por uma direção qualquer e


a direção base do NV.

Considerando o que já firmamos como sendo a declinação magnética,


podemos constatar que:

Az V =
Az Mg + declinação mg L

Az V =
Az Mg - declinação mg W

OBS: na consideração de diferenças existentes entre outras direções básicas,


podemos afirmar que, com exceção da declinação magnética, não se revestem
de maior significação quando a atividade de orientação for nitidamente voltada
para o percurso subaquático.
Entre elas citaríamos, apenas, para que não fiquem no esquecimento, as
seguintes:

Convergência de meridianos: diferença entre os meridianos de uma carta e o


NV.
Lançamento: vem a ser o ângulo horizontal a partir de um meridiano (trabalho
na carta).
Desvio de agulha: é produzida pelo conjunto de pontos magnetizados
existentes a bordo, chamados de "ferros de bordo", capazes de desviarem a
agulha da bússola. É um valor conhecido para cada embarcação.
Em nosso caso específico utilizamos bússolas individuais
É uma situação que não se enquadra nas mesmas influências as quais ficam
sujeitas as bússolas de bordo que, por possuírem posição fixa no conjunto de
interferências que uma embarcação produz, podem ter suas declinações de
agulha (diferença entre o norte magnético e o norte de agulha) conhecidas e
computadas.
Na ilustração acima, ficam bem caracterizadas algumas das referencias
básicas utilizáveis num percurso de navegação sub.

Lembre-se que azimutes são ângulos contados a partir de uma direção de


referência, sempre seguindo o mesmo sentido dos ponteiros de um relógio.

3.2.b) RUMOS

Chamaremos de rumo ao angulo que a direção de deslocamento do


mergulhador faz, a partir de uma direção de referência. No caso prático, do
mergulhador estar se orientando por uma bússola, a direção de referencia é o
norte de agulha que, para nós, será considerado como coincidente com o norte
magnético.

Portanto, após anotar em sua bússola determinado azimute magnético, quando


é iniciado o deslocamento esse movimento passa a ser um rumo magnético.
Diz-se que o mergulhador segue um rumo magnético cujo valor é o do azimute
magnético.

Então podemos dizer que azimute é o angulo (enquanto valor trigonométrico).


Quando utilizado para uma direção e seguido, é o rumo.

Na navegação de longo curso é comum adotar outra conotação para a


utilização e determinação de azimutes, uma vez que são quase sempre
referenciados pôr verticais de astros. Mas continuam sendo ângulos
horizontais.
Nos percursos de orientação por bússola, quer sejam em terra, quer sejam
subaquáticos, o azimute referenciado a partir do N Mag já é prática
consagrada.

Numa navegação de centenas de milhas, a diferença entre aquilo que a


bússola (com suas interferências) indica como sendo o norte magnético e a
direção real do norte magnético (ângulo de erro chamado "desvio ou
declinação de agulha") ocasionará um afastamento grosseiro da posição onde
se pretende chegar.

Claro está portanto que, para uma navegação costeira (estimada) ou de longo
curso, é imprescindível computar nos cálculos do navegador esta variável
(declinação de agulha).

O deslocamento sub é de pequena extensão.

As posições procuradas tem que oferecer uma frente considerável, uma vez
que o fato de se chegar nas proximidades do objetivo visado não permitirá a
correção visual do rumo, conforme veremos adiante.

Portanto é plenamente concernente considerar a coincidência do norte de


agulha com o norte magnético, em nossas bússolas.

Contra-azimmute = azimute do rumo inverso


3.2.b) RUMOS (continuação)

Aquele que vai, deve retornar. Algumas vezes nossa necessidade de utilizar
uma bússola se fará apenas no percurso de ida ao objetivo visado. Neste caso
seremos orientados por um rumo magnético apenas numa direção. Quando do
retorno (particularidades da situação) a bússola torna-se dispensável.

Entretanto existem ocasiões em que o uso do instrumento é importante na ida


e na volta. Uma vez realizado aquilo que o mergulhador planejou fazer no
ponto onde escolheu, poderá subir e, dali, tomar um novo angulo para a
embarcação, por exemplo.

Mas pode haver o caso em que não seja possível (por diversos motivos) ir à
superfície fazer uma visada de retorno (a profundidade do mergulho não
recomendaria ou a própria condição severa do mar sobre as lajes, por
exemplo).

Nestas situações, após ter encerrado o motivo do seu interesse no local e não
podendo ir à superfície para realizar nova visada de rumo, é usual que o
mergulhador faça uso do rumo contrário para retornar, à partir do ponto de
chegada no primeiro percurso (ida).

Diz-se então, que o azimute magnético de bússola que orienta o rumo de


retorno é o contra-azimute do rumo magnético que foi seguido durante o
percurso de ida.

Simplificando, dizemos que todo rumo de ida tem um retorno sobre ele mesmo,
orientado pelo contra-azimute magnético do ângulo inicial.
Quando se faz necessário esta providência, na mesma hora em que marcamos
na bússola a direção de ida, já memorizamos o contra-azimute da volta.

De acordo com o estabelecido, teremos:

Contra-azimute mag de um rumo de


135º = 180º + 135º = 315º

Contra-azimute mag de um rumo de


225º = 225º - 180º = 45º

3.2.c) MARCAÇÃO

No presente estudo vamos nos ater ao que chamaremos de marcação


magnética.

Na navegação são utilizadas esta e outras referências de marcação.


No caso prático de nossa especialização (orientação sub) apenas a marcação
magnética tem grande emprego.

Ao realizarmos uma visada com a bússola, a partir de bordo, focalizando uma


região, costão ou laje que desejamos atingir, estaremos fazendo uma
marcação magnética, cujo valor será o do azimute magnético que a bússola
nos der como leitura.

Então, por questão de terminologia, entendamos a coisa da seguinte


maneira:

a) Se, com a bússola na mão, faço uma visada para um determinado local,
estarei fazendo a marcação magnética daquele local.

b) Se, com a bússola apontada para o local, leio o ângulo que ela me fornece,
estarei lendo o azimute magnético, que será a marcação magnética daquele
local, a partir do ponto onde me encontro.

c) Se, após isso, mergulho e sigo este ângulo (com a finalidade de atingir o
local), estarei se guindo um rumo magnético.
3.2.d) OUTRAS CONSIDERAÇÕES

De posse de uma bússola e trabalhando com as direções de referência


abordadas acima, podem ser realizadas diversas outras operações de locação
de posição e balizamento de rumos.

Determinações a partir de direções auxiliares de referência existem em grande


número na navegação.

No nosso caso específico, visto que utilizamos o instrumento por extensões de


percurso que não podem ser comparadas às distancias empregadas na
navegação costeira ou de alto mar, basta-nos ter bem entendido o que está
explicitado acima para que possamos nos utilizar plenamente da bússola num
percurso subaquático.

3.3. LIMITAÇÕES DE EMPREGO DE BÚSSOLA (utilização subaquática)

Não basta estar seguindo corretamente um rumo para poder chegar ao


objetivo. É preciso também que tenhamos ar respirável.

Esta consideração já, por si mesma, evidencia que os percursos subaquáticos


não podem ter extensão longa.

Não basta ter chegado nas proximidades do objetivo com um pequeno erro que
possa vir a ser corrigido visualmente, como acontece numa orientação sob a
luz direta do sol.
Numa navegação estimada, é normal a correção visual.

Um afastamento de 100, 200 ou mesmo 500 metros do final do percurso pode


ser corrigido visualmente para que tomemos outra leitura que dependia da
primeira chegada naquele ponto.

Sob a água, provavelmente não veremos (e não poderemos corrigir) um


afastamento de 5 metros, dependendo da visibilidade.

É preciso incidir diretamente no objetivo.

Daí concluímos que o primeiro ponto deve ser alguma coisa grande.
Um emprego comum e prático de bússola, que configura bem a idéia de
utilização deste instrumento, é relatado abaixo.

EXPERIÊNCIA VIVIDA

Em determinada ocasião, ao nos aproximarmos do ponto de mergulho, foi


constatada enorme concentração de medusas, de tal maneira densa, que,
na enseada onde a embarcação fundiária o espelho d'água estava totalmente
tomado por elas.

A embarcação afastou-se uns 150 metros e, com a bússola, fiz a leitura para o
costão. Ida e volta.

Descemos por um cabo, passando rapidamente pela profundidade de 2 metros


onde presenciamos um verdadeiro bloco desses seres e fomos até o fundo (15
metros) onde já nenhum havia.

Na areia tomamos o rumo conforme a leitura do azimute feita na superfície e


navegamos.

Dentro em pouco atingimos a base da pedraria, onde, há uns 8 metros,


permanecemos observando o visual do lugar.
Por vezes subíamos até quase tocar nos filamentos mais compridos.
Olhando de baixo tínhamos a impressão de que aquilo era o teto do mar...

De retorno identificamos o ponto onde tínhamos atingido a ilha e voltamos no


rumo contrário (contra-azimute do rumo de ida)
Como não encontráramos correnteza na ida, navegamos de volta pelo mesmo
tempo da ida e subimos.
A embarcação surgiu fundiada, bem na nossa frente, não mais longe que 10
metros.

Várias outras composições podem ser feitas com a bússola, desde lances
diretos até intercalando objetivos intermediários.
Esta prática deve ser bem demonstrada nos cursos desta natureza.

Qualquer que seja o emprego, devemos considerar (para que tenhamos


sucesso) estas duas variáveis que diferenciam a utilização do instrumento
quando voltado para um percurso subaquático:
a) Tempo de utilização condicionado ao suprimento de ar.
b) Precisão condicionada ao tamanho do objetivo (limitação da visibilidade).

4. SALVAMENTO

(Extraído do D Ens - 300 - Ostensivo - Manual de Medicina Submarina -


Diretoria de Ensino da Marinha - MB)

4.1. INTRODUÇÃO

Desde a mais remota antigüidade o homem tratou de transpor a imensa


barreira líquida que o cercava, enfrentando-a a princípio apenas com o próprio
corpo e, a seguir, com os meios flutuantes que passou a construir.

Desde essa época constatou que, diferentemente dos outros mamíferos


terrestres, era difícil para ele se manter na superfície, ou melhor, manter fora
d'água a cabeça e as vias respiratórias por onde deve penetrar o ar
indispensável a sua respiração.
Graças a uma série de movimentos desenvolvidos pelo treinamento, o homem
é capaz de nadar, deslocando-se em velocidade reduzida.

Quando não sabe executar esses movimentos ou por problemas de um mal


súbito, ou de exaustão em águas revoltas ou longas travessias, o homem não
mais se mantém na superfície, sendo vitimado pelo acidente que ora
estudamos.
O afogamento apresenta uma elevada incidência nas estatísticas mundiais e é
a primeira causa de morte, na faixa etária de 1 a 25 anos, depois dos desastres
de automóvel.

A média anual de afogamentos é de 140.000 casos por ano. O fato de essas


mortes aparecerem como eventos isolados e em condições rotineiras, faz com
que os órgãos de divulgação as releguem ao plano secundário, deixando que
passe desapercebido esse grave acidente.

Países como a Inglaterra, o Japão, a Austrália e os Estados Unidos pagam um


tributo bastante elevado neste contexto, devido as dimensões do seu litoral.

No Brasil, com 8500 Km de litoral, é grande o número de afogamentos.

4.2. AFOGAMENTO

É um acidente de asfixia por imersão prolongada em um meio líquido, com


inundação e encharcamento alveolar e graves distúrbios hidroeletrolíticos.

O termo asfixia indica a concomitância de um baixo nível de oxigênio e um


excesso de gás carbônico no organismo, ambos de conseqüência danosa para
os processos metabólicos celulares.

Como sabemos, o oxigênio é indispensável à vida e os centros nervosos


superiores não podem permanecer por mais de três minutos em anoxia.

O afogamento é uma forma especial de asfixia, pela inundação líquida da


árvore respiratória. Animais foram submetidos a asfixia mecânica e outros ao
afogamento em meio líquido, sendo que a morte destes últimos se deu em
tempo menor.

Vemos a importância indiscutível da penetração do líquido nos pulmões e


principalmente no sangue, provocando distúrbios hidrossalinos importantes na
compreensão da etiopatogenia e na escolha da conduta terapêutica.

4.2.a) MECANISMOS DE AFOGAMENTO (classificação)

AFOGAMENTO PRIMÁRIO

É a forma mais freqüente.


Ocorre primeiramente asfixia, parada respiratória e posteriormente síncope
circulatória. Por não saber nadar, por exaustão ou qualquer outro motivo de
incapacidade, não podendo se manter na superfície, a vítima debate-se
(conseguindo por algumas vezes voltar à superfície) antes de desaparecer
definitivamente, caso não seja socorrida. Seu aspecto é cianótico,
correspondendo ao afogado azul da "escola francesa".

AFOGAMENTO SECUNDÁRIO

Nessa forma, ocorre inicialmente a síncope cardíaca e posteriormente a parada


respiratória.
O nadador desaparece da superfície silenciosamente, sem se debater. O
acidente passa despercebido aos circundantes, retardando o socorro mesmo
em piscinas e locais rasos.
Quando encontrado, o corpo apresenta uma coloração brancocérea,
correspondendo ao afogado branco da "escola francesa".
HIDROCUSSÃO

Conhecida também como síndrome termodiferencial ou "water shock", é um


caso especial de afogamento secundário.
Um mecanismo reflexo seria a causa da parada cardíaca.
A diferença de temperatura entre a água e a superfície cutânea do nadador, a
dor provocada por certos mergulhos desajeitados (atingindo o epigástrio ou a
genitália do homem) e a entrada de água na região retrofaríngéia, são algumas
das possíveis causas.

Indivíduos tresnoitados, embriagados ou em tratamento com certos


medicamentos, estariam mais propensos a esse acidente.
O mergulho desprotegido, em águas com temperatura inferior a 15 graus
centígrados é também desaconselhável.

4.2.b) NATUREZA DO LÍQUIDO NO AFOGAMENTO (classificação)

AFOGADO SECO

Um dos fenômenos iniciais no contato com o meio líquido é um espasmo da


glote, visando evitar a penetração da água nas vias respiratórias.
Em alguns indivíduos esse espasmo não é vencido por outros fatores que
surgem posteriormente, perecendo a vítima em asfixia a seco, sem líquido nos
alvéolos pulmonares.

AFOGADO DE ÁGUA DOCE

No afogamento por água doce, os alvéolos pulmonares são invadidos por um


líquido hipotônico (menos concentrado) em relação ao plasma, provocando
(processo osmótico) a passagem de um considerável volume hídrico dos
pulmões para a corrente sangüínea, podendo atingir um montante de 3 a 4
litros em poucos minutos.
Daí surgem vários distúrbios hidrossalinos: inicialmente há uma baixa de todos
os eletrólitos por hemodiluição.
Posteriormente, com a rotura das hemácias, elementos como o potássio caem
na corrente sangüínea, contribuindo para a intoxicação do músculo cardíaco, já
bastante enfraquecido pela hipoxia. Ocorre parada cardíaca.

AFOGADO DE ÁGUA SALGADA

O afogamento em água salgada leva aos alvéolos pulmonares uma solução


hipertônica (mais concentrada) em relação ao plasma, que atrai líquido da
corrente sangüínea (processo osmótico).
Os alvéolos são invadidos por um líquido albuminoso, responsável pela
espuma expelida por esses afogados.
A hipovolemia resultante provoca uma concentração maior dos eletrólitos no
sangue, subindo com especialidade a taxa de magnésio.
O músculo cardíaco para por esgotamento e anoxia proveniente das
dificuldades no transporte do pouco oxigênio ainda existente.
4.2.c) QUANTO À GRAVIDADE DO AFOGAMENTO (classificação)

GRAU I - LEVE

É o grau de menor gravidade.


Trata-se de um indivíduo retirado do meio líquido aos primeiros minutos de
asfixia.
Agitado, assustado, tossindo bastante, ele terá engolido apenas alguma água,
sem maiores complicações.
Pode apresentar cefaléia, náuseas e vômitos.

GRAU II - MODERADO

É o paciente que, retirado mais tardiamente, aspirou algum líquido,


manifestando um quadro incipiente de afogamento que, atendido regredirá
prontamente.
Apresenta pouca quantidade de secreção espumosa, estando consciente.

GRAU III - GRAVE

Por ter aspirado quantidade considerável de líquido, este paciente apresenta


um quadro nítido de afogamento, com acentuados distúrbios circulatórios,
respiratórios e hidroeletrolíticos.
Sua recuperação é trabalhosa e dependerá da precocidade e eficiência do
atendimento.

GRAU IV - GRAVÍSSIMO

Retirada d'água tardiamente, a vítima jaz inanimada, já em parada


cardiorrespiratória.
Sua recuperação é difícil e o prognóstico é reservado.
4.2.d) PRIMEIROS ATENDIMENTOS (casos classificados como
gravíssimos)

O fator tempo é primordial no socorro ao afogado.


Assim, durante o resgate do corpo, logo que possível deve-se começar a
respiração boca a boca.
As possibilidades de recuperação vão caindo percentualmente à medida que
tarda o socorro.
Assim, se este é prestado nos primeiros 3 minutos, a percentagem de
recuperação é de 75%, caindo para 50% se o tempo decorrido é de 4 minutos
e para 25% se o tempo é de 5 minutos.

Logo que o paciente chega a terra firme (ou é recolhido a bordo), faz-se uma
limpeza sumária de suas vias aéreas, visando retirar restos alimentares, outros
resíduos e peças de prótese dentária.
A seguir coloca-se o paciente com a cabeça mais baixa do que o plano do
corpo (voltada para o mar, se o local do atendimento for uma praia).
Não deve haver preocupação em retirar água dos alvéolos, pois o volume de
água retirado com as melhores manobras é desprezível, não justificando
nenhum retardo no socorro.
A seguir deverá ser aplicado o método boca a boca que dá ao paciente a
melhor oxigenação possível, movimentando para dentro dos seus pulmões
um maior volume de ar em comparação com outros métodos de reanimação.

MÉTODO BOCA A BOCA

È de fundamental importância a posição da cabeça da vítima.


A cabeça fletida permite que a língua flácida obstrua as vias aéreas do
paciente, dificultando ou mesmo impedindo a entrada de ar.
Muitas vezes, apenas corrigindo-se a posição da cabeça pela hiperextensão, a
respiração se restabelece.
Caso isso não aconteça, o socorrista, mantendo a cabeça da vítima em
hiperextensão e tapando com uma das mãos as narinas do paciente, deverá
coaptar os seus lábios aos do paciente até conseguir um selo completo sem
escapamento de ar.
A seguir, deve exalar o seu ar para os pulmões da vítima, observando
atentamente o resultado pela expansão do tórax.
Se este permanecer imóvel, deverá ser revista a posição da cabeça e tentadas
novas exalações.
O número de exalações deve ser, aproximadamente, de 12 por minuto e o
volume exalado igual ao de uma expiração normal.
Em crianças, esse volume deverá ser controlado com observação da expansão
do tórax para evitar a rotura dos alvéolos pulmonares por uma hiperdistensão.
Após algumas exalações do boca a boca (4 ou 5) o socorrista deve procurar
sinais de reanimação do paciente.
Se este não reage, levanta-se a suspeita de parada cardíaca: se os batimentos
carotídeos estiverem ausentes, inspeciona-se as pupilas.
Se houver midríase esta confirmada a parada cardíaca, devendo-se iniciar
imediatamente a massagem cardíaca externa.
MASSAGEM CARDÍACA EXTERNA

O paciente deverá estar deitado em decúbito dorsal sobre uma superfície


bastante dura. O socorrista procurará o terço inferior do externo, aplicando as
duas mãos justapostas com cuidado.
A seguir, com golpes secos e seguros, (cerca de sessenta por minuto)
procurará massagear o coração na área em que o mesmo está mais exposto
ao contato externo.

Os dois socorristas deverão trabalhar coordenadamente. Ao ser aplicada uma


massagem cardíaca não deverá ser realizada uma exalação do boca a boca,
pois seria inútil.
O ideal é que se aplique uma exalação do boca a boca para cada cinco
massagens cardíacas.
Eventualmente um único socorrista poderá ter que aplicar os dois métodos
simultaneamente, devendo então deslocar-se rapidamente, alternando duas
exalações com quinze massagens cardíacas.

Para um bom resultado, a aplicação deste método de reanimação


cardiorrespiratória deverá ser:

IMEDIATA -- Iniciar a aplicação tão rapidamente quanto possível, para


restabelecer nos centros nervosos superiores, em um mínimo de tempo, o
suprimento de oxigênio indispensável à sobrevivência.

CONTÍNUA -- Uma vez iniciado o método, não deve ser interrompido sob
nenhum pretexto. A mudança da equipe deverá se fazer gradativamente, sem
solução de continuidade.

RITMADA -- De nada adianta um início frenético, levando rapidamente à estafa


e, a seguir, um, período lento e intermitente. É indispensável a regularidade na
aplicação do método.

PROLONGADA -- Uma vez iniciado, o método só deverá ser interrompido pela


chegada a um hospital ou pela constatação indiscutível da morte.

Muitos casos considerados perdidos tem sido recuperados após horas de


reanimação.

O paciente só devera ser aquecido após restabelecida a circulação sangüínea.


A remoção deverá ser feita sem interrupção da reanimação, sendo prestado na
ambulância um socorro melhor, com assistência ventilatória com balão de
Ambu.
No hospital o paciente será entregue a uma equipe especializada que disporá
de muitos mais recursos.

A primeira medida na redução dos casos de afogamento são as campanhas


comunitárias, visando ensinar precocemente a natação.
Natação em águas frias, abaixo de 15 graus centígrados é desaconselhada,
principalmente depois de exposição demorada ao sol. Evitar nadar após
libações alcoólicas, exaustão etc.

O método de reanimação cardiorrespiratória deve ser de tal maneira divulgado,


que qualquer circunstante eventualmente transformado em socorrista seja
capaz de aplicar ao afogado as medidas que lhe salvarão a vida.

TABELA DE MERGULHO

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