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MANUAL TÉCNICO

ESPORTES DE AVENTURA II –
MERGULHO

2018
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

CAPÍTULO 1 - HISTÓRICO DO MERGULHO

1.1 - HISTÓRIA DO MERGULHO AUTÔNOMO

Desde a antiguidade o homem depende da água para alimentação, transporte e defesa contra
seus inimigos. O mergulho nasceu provavelmente a cerca de 30.000 anos, quando pela primeira vez
um homem nadando viu um objeto no fundo, prendeu a respiração e desceu para tentar vê-lo melhor,
sem utilizar nenhum tipo de equipamento. Embora se ache que o mergulho é uma atividade recente,
hoje já existem provas concretas de que o homem começou a criar acessórios que facilitassem suas
aventuras sob as águas 6.500 anos atrás. Alguns desenhos assírios do ano 900 a.C mostram homens
debaixo d´agua respirando através de um saco com ar, provavelmente para fins militares, enquanto
que cerâmicas gregas datadas de 600 a.C ilustram o trabalho de mergulhadores no cultivo de esponjas
no Mar Mediterrâneo.

Séc. X a.C - Assírios utilizavam sacos de couro para aumentar o tempo de fundo

A história antiga é recheada de narrações que mostram os feitos dos mergulhadores da época:
Heródoto narrou o trabalho de recuperação de tesouros de navios naufragado para o rei persa
Xerxes no século 5 a.C;

Alexandre “O Grande” mergulhava em uma câmara submersível para observar a vida marinha e
utilizava mergulhadores em suas ações militares;

Séc. IV a.C - Alexandre “O Grande” dentro do primeiro sino de mergulho da história

Gregos mergulharam no porto de Siracusa para remover obstruções e cortar cabos de âncoras de
navios inimigos durante a conquista da cidade;
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Marco Polo descreveu como Kublai Khan presenteava seus seguidores no Oriente distante com
pérolas coletadas por mergulhadores e;

As primeiras referências às Amas do Japão, que até hoje trabalham no cultivo de pérolas, data do
século I a.C.

Como os compressores de ar ainda não haviam sido inventados, os mergulhos desta época
eram feitos em apnéia ou utilizando sistemas primitivos para o fornecimento de ar através de sacos,
baldes e mangueiras. Pedras amarradas em uma corda serviam de lastro e podiam ser abandonadas no
fundo para facilitar a subida. Os melhores mergulhadores podiam permanecer por mais de um minuto
debaixo d´água e atingiam profundidades de até 30 m. O mergulho profissional nasceu no mesmo
período, quando os mergulhadores começaram a receber para trabalhar debaixo d´água. Existia até
mesmo uma tabela de remuneração: até 1 m de profundidade, os mergulhadores ganhavam 10% do
valor dos objetos resgatados; a 4 m eles ganhavam um terço e a 8 m ou mais eles chegavam a receber
50% do total.
Por mais de 1000 anos o mergulho evoluiu muito pouco, até que na era das grandes
navegações, o valor dos tesouros naufragados colocou muita gente para pensar em formas de se
aumentar o tempo de duração do mergulho e a profundidade de trabalho. Mesmo assim, foi somente
no século XVI que começaram a surgir as primeiras idéias práticas neste sentido.
Começava então uma nova fase na exploração submarina. Foi desenvolvido na época, um
equipamento que recebeu o nome de sino de mergulho. Os sinos ganharam este nome devido ao
formato utilizado na época. Eles eram em geral, construídos de madeira e abertos na parte inferior. Os
mergulhadores podiam realizar breves excursões em apnéia para executar suas tarefas e voltar para o
interior do sino para respirar. O ar era renovado através de barris invertidos enviados da superfície e
guiados através de cordas. Embora primitivo, este sistema permitiu a realização de tarefas até então
consideradas impossíveis:

Em 1663 mergulhadores recuperaram um canhão do navio Vasa, que havia naufragado a 33 m de


profundidade no porto de Estocolmo;

William Phips resgatou em 1687 praticamente toda a carga do naufrágio do Nuestra Señora de La
Concepcion;

Edmund Halley (o astrônomo que deu o nome ao mais famoso dos cometas) construiu em 1716 um
sino que permitia aos seus ocupantes permanecer por mais de 4 horas a 20 m de profundidade e
chegou a propor a instalação de capacetes ligados por mangueiras ao sino para facilitar o trabalho
dos mergulhadores, embora não existam provas de que ele tenha conseguido implementar esta idéia.

1716 - Sino de Mergulho de Edmund Halley


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Em 1715 John Lethbridge deu mais um passo na evolução do mergulho ao construir a primeira
roupa de pressão atmosférica. Construída em madeira no formato de um barril e dotada de vigias de
vidro e saídas para os braços confeccionadas em couro, a roupa de Lethbridge permitiu que ele
trabalhasse por mais de 20 anos resgatando cargas de navios em profundidades de até 20 m. Como o
mergulhador permanecia suspenso por um cabo ligado a um navio na superfície, a mobilidade era
bastante restrita, mas pela primeira vez ele estava livre das limitações do mergulho em apnéia.

1715 - Primeira roupa de pressão atmosférica

Nos próximos 100 anos muito pouco aconteceu. Havia surgido um problema aparentemente
intransponível: fornecer ar sob pressão para o mergulhador. Logo após a invenção do compressor de
ar, no início do século XIX, Charles Deane e seu irmão adaptaram um capacete utilizado em minas e
incêndio para o mergulho, criando o primeiro escafandro realmente funcional. Mas o capacete dos
irmãos Deane tinha uma grande limitação: como era simplesmente apoiado sobre os ombros do
mergulhador, ele não permitia que este se inclinasse – o ar escapava e o capacete era tomado pela
água, eventualmente afogando o mergulhador. Coube a Augustus Siebe dar o próximo passo ao
inventar em 1839 a primeira "roupa fechada". Para evitar o alagamento do capacete, Siebe criou uma
roupa impermeável na qual era fixada a parte inferior do capacete, o chamado corselete. Em poucos
meses seu equipamento era utilizado pela maioria dos mergulhadores e o desenho básico permaneceu
inalterado pelos próximos 100 anos. Durante este período, provavelmente dezenas de milhares de
conjuntos semelhantes foram fabricados e alguns continuam em uso até hoje.

Séc. XIX – Compressor de Ar para Mergulho e o Escafandro dos irmãos Deane

1839 – Roupa fechada de Augustus Siebe

Poucos anos depois surgia na França o primeiro equipamento de mergulho autônomo. Criado
por Rouquayrol e Denayrouze, este equipamento podia ser utilizado com ou sem uma máscara
metálica tipo "full-face". O ar podia ser fornecido através de uma mangueira vinda da superfície
(modo dependente) ou, em mergulhos mais curtos e rasos, transportado pelo próprio mergulhador em
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pequenos cilindros (modo autônomo). Embora o primeiro protótipo de Rouquayrol e Denayrouze


tenha sido construído em 1872, um museu francês tem em sua coleção um modelo de produção
fabricado pouco tempo depois e ainda em condições de uso.

1872 – Primeiro equipamento de mergulho autônomo

Foi na mesma época que surgiram os primeiros trabalhos científicos sobre a descompressão. O
fisiologista Paul Bert passou anos estudando os efeitos das altas e baixas pressões em animais e pode
ser considerado o pai da medicina hiperbárica. Seu livro A Pressão Barométrica – Pesquisas em
Fisiologia Experimental foi publicado em 1878 e é até hoje considerado um clássico, pois introduziu
as bases para criação da teoria da descompressão.

Séc. XIX – Primeiros estudos sobre descompressão feitos por Paul Bert

Com os novos equipamentos, contando com a ajuda de compressores de ar mais potentes e


começando a entender os efeitos da pressão no corpo humano, o homem estava pronto para realmente
começar a explorar o fundo do mar. Após a invenção do escafandro fechado por Augustus Siebe em
1839, a exploração do fundo do mar ganhou, literalmente, fôlego. Por mais de 100 anos o escafandro
tradicional sofreu pouquíssimas modificações e foi a principal ferramenta de trabalho dos
mergulhadores. O escafandro é provavelmente a imagem mais fácil de ser associada à exploração
submarina e pode ser encontrado em uso até hoje. Apesar do peso (um modelo Mk V pesava mais de
100 kg), da pouca mobilidade (devido ao umbilical que fornecia ar a partir da superfície) e da
visibilidade limitada, ele permitiu a realização de façanhas simplesmente inacreditáveis.

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O escafandro foi a principal ferramenta de trabalho subaquático do séc. XIX
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Em 1885 o mergulhador Alexander Lambert resgatou sozinho meio milhão de dólares em


moedas de ouro de uma sala forte do naufrágio do Alfonso XII a 50 m, embora isto tenha custado a
Lambert uma aposentadoria precoce graças a doença descompressiva.
Em 1905 arquitetos descobriram que a catedral de Winchester (Inglaterra) estava prestes a ruir
devido a infiltração de água em suas fundações. Construída no século VII, a catedral era um
monumento histórico e era inaceitável perdê-la. A única saída era utilizar mergulhadores para instalar
apoios nas fundações, um trabalho gigantesco para a época. O surpreendente é que a tarefa foi
realizada por um único homem, William Walker, entre 1906 e 1911. Durante 6 anos Walker
mergulhou com seu escafandro 6 horas por dia em visibilidade zero para escavar 235 poços e instalar
os reforços a 8 m de profundidade.
No início do século XX, acidentes com mergulhadores se tornavam cada vez mais graves e
frequentes devido a um mal que poucos compreendiam: a doença descompressiva. Em 1906 o
almirantado inglês decidiu criar um comitê para investigar o problema, nomeando o professor John
Scott Haldane como seu líder. Haldane atacou os problemas do mergulho de forma científica e
introduziu diversos novos equipamentos, como câmaras de descompressão e compressores mais
eficientes. Mas ele é lembrado até hoje por ter criado o conceito de descompressão em estágios e as
tabelas de descompressão. As tabelas sofreram diversas modificações durante o século, mas suas
teorias são utilizadas até hoje.

1906 – Introdução do conceito de descompressão em estágios por John Scott Haldane

Apesar do grande interesse do público, quando o transatlântico Laurentic afundou durante a


Primeira Guerra Mundial carregando mais de 25 milhões de dólares em barras de ouro, a marinha
inglesa foi obrigada a iniciar uma operação altamente secreta para não chamar a atenção dos alemães.
Entre 1917 e 1924 os mergulhadores da Royal Navy recuperaram praticamente toda carga do interior
do naufrágio a 36 m de profundidade. O homem utilizava o escafandro para executar trabalhos no
mar, em pontes, portos, rios, naufrágios e em qualquer outro lugar onde houvesse água mas apesar da
evolução, a profundidade máxima ainda era limitada. Alguns mergulhadores chegaram a descer a mais
de 100 m com este tipo de equipamento e respirando ar, mas a narcose pelo nitrogênio praticamente
impedia a execução de trabalhos mais complexos em profundidades além dos 30m. Várias idéias
surgiram nas primeiras décadas do século para romper esta barreira e uma das mais interessantes era a
roupa blindada. O princípio da idéia era simples: construir uma roupa que mantivesse o mergulhador à
pressão atmosférica (evitando a narcose e a descompressão) e permitisse sua movimentação através de
juntas flexíveis, algo como um micro-submarino com braços e pernas. Em 1913 já existia um modelo
operacional, a roupa de Neufeldt-Khunke, que chegou a ser utilizada com sucesso em alguns resgates.
No entanto, estas roupas apresentavam um problema: com o aumento da profundidade, a pressão
"travava" as juntas e impedia que o mergulhador se mexesse.
O impulso que faltava para o desenvolvimento do mergulho profundo veio da marinha dos
EUA após a perda do submarino S-4 e toda a sua tripulação a 31 m. A revolta da opinião pública ao
saber que a equipe de salvamento era capaz de se comunicar com os sobreviventes a bordo do
submarino mas não tinha como resgatá-los foi tanta que a marinha decidiu formar um grupo com o
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objetivo de aumentar a profundidade máxima de trabalho das equipes de resgate. Entre outros
projetos, o grupo começou a trabalhar na utilização de hélio nas misturas respiratórias para diminuir o
efeito da narcose. Praticamente ao mesmo tempo, o Dr. Edgar End investigava o mesmo assunto com
o auxílio de dois amigos, Max Gene Nohl e John D. Craig. Após diversos testes em câmara e o
cancelamento de uma expedição ao naufrágio do Lusitania (95 m) em 1937, eles se sentiam prontos
para tentar superar os recordes de profundidade da época. Utilizando um escafandro desenhado por ele
mesmo e que parecia mais um farol que um equipamento de mergulho, Nohl atingiu a marca de 128
m. O escafandro funcionava de modo autônomo com dois cilindros de mistura respiratória e só era
ligado à superfície por um cabo guia e pela linha de comunicação. Mas a prova final de que o hélio era
uma alternativa viável para o problema da narcose e só veio em 1939 com o afundamento de outro
submarino americano. O Squalus submergiu sem fechar uma válvula e, com a água invadindo o
submarino, os tripulantes não tiveram tempo de escapar e foram obrigados a refugiar-se nos
compartimentos não alagados. Dos 59 tripulantes, 33 sobreviveram e ficaram presos a 75 m de
profundidade.
O Squalus foi localizado rapidamente e em poucas horas um navio de resgate estava em
posição. A idéia era utilizar um novo sino de mergulho que podia se acoplar em uma das escotilhas do
submarino, funcionando como um elevador para trazer os tripulantes de volta à superfície. No entanto,
era preciso fixar um cabo guia ao submarino. Os mergulhadores tentaram fixar o cabo diversas vezes,
mas a narcose e o frio impediam que eles completassem a missão. Com o tempo se esgotando, a
equipe tomou uma decisão: enviar um homem ao fundo utilizando um equipamento experimental e
uma mistura à base de hélio. Em poucos minutos o mergulhador prendeu o cabo e após 12 viagens do
sino, os 33 sobreviventes foram resgatados. Nas semanas seguintes, a marinha realizou mais de 100
mergulhos utilizando hélio para trazer o Squalus de volta à tona na operação de salvatagem mais
profunda até então. A "embriaguez das profundezas" não era mais uma barreira para a exploração do
fundo do mar.
Durante a Segunda Guerra o escafandro clássico continuou a ser utilizado, mas a necessidade
de equipamentos mais simples e com mais mobilidade crescia a cada dia. Japoneses, italianos e
ingleses utilizavam rebreathers de oxigênio em missões de combate, mas os efeitos da toxidade pelo
oxigênio em profundidades maiores que 10 m limitava a aplicação deste tipo de equipamento.
Por mais de 60 anos diversos inventores tentaram descobrir uma forma simples e segura de
manter o homem debaixo d´água. Na maior parte dos casos os testes fracassavam ou o equipamento
era grande ou complexo demais para poder ser utilizado na prática.
Com as maravilhas do Mar Mediterrâneo por explorar praticamente no fundo de seus quintais,
os franceses não mediam esforços para achar uma solução para o problema do mergulho autônomo.
Em torno de 1925, a máscara, as nadadeiras e o snorkel já haviam sido inventados e o homem já podia
permanecer durante alguns segundos no fundo, mas ainda sem poder respirar. Neste ano, o
Comandante Yves Le Prieur combinou um cilindro de ar comprimido com uma válvula manual e,
utilizando também máscara e nadadeiras, o homem podia permanecer por diversos minutos submerso,
nadando como um peixe e não andando, como faziam os escafandristas. Confiante em seu invento, a
partir de 1934, Le Prieur começou a realizar diversas demonstrações ao redor da França, acabando por
fundar o primeiro clube de mergulho organizado. Algumas dezenas de conjuntos chegaram a ser
produzidos, mas a operação da válvula manual ainda era complexa demais para que o mergulho se
tornasse popular.

1925 – O mergulho começa a se popularizar com Yves Le Prieur 14


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A história retorna a Cap D´Antibes e Guy Gilpatric. Em 1936 um conhecido de Gilpatric


chamado Philippe Tailliez conheceu um certo francês chamado Jacques-Yves Cousteau, que havia
sofrido um grave acidente de carro. Tailliez sugeriu a Cousteau que nadasse para facilitar a sua
recuperação e em um domingo de sol, Cousteau colocou uma máscara pela primeira vez e mergulhou
no Mediterrâneo. Ficou fascinado com o que viu e começou sua própria busca por uma forma de
superar as limitações do mergulho livre. Em 1939 tentou utilizar um rebreather de oxigênio, mas após
dois acidentes em que teve convulsões graves a 13 m, desistiu e decidiu procurar outras alternativas.
Tentou o equipamento de Fernez, considerado simples e eficiente, mas não se conformou com o fato
de estar preso à superfície por um umbilical. Quando a mangueira de seu companheiro Frédéric
Dumas se rompeu durante um mergulho, Cousteau decidiu abandonar também este tipo de
equipamento.
Em 1937 Cousteau casou-se com Simone Melchoir, cujo pai era diretor da Air Liquide, o
principal fabricante de gases industriais da França. Com a ajuda do Sr. Melchoir, em 1942 Jacques foi
apresentado a um engenheiro chamado Emile Gagnan. Na época, Gagnan trabalhava em uma válvula
que permitia que os carros utilizassem gás como combustível ao invés de gasolina. Cousteau explicou
seu problema a Gagnan e juntos eles adaptaram a válvula para que funcionasse como um regulador de
ar. Em 1943, após diversos testes, Cousteau realizou no rio Marne, nas redondezas de Paris, um
mergulho histórico: estava inventado o Aqualung, o primeiro equipamento autônomo realmente
prático. Composto por três cilindros capazes de suportar uma pressão de 150 atm e um regulador de
traquéia dupla, o equipamento pesava cerca de 25 kg. O Aqualung era decepcionantemente simples,
tão simples que podia ser utilizado por qualquer pessoa com um mínimo de espírito de aventura e, em
poucos meses, estava sendo produzido em série e exportado para todo o mundo.

1943 - Primeiro regulador de ar para mergulho, inventado por Jacques Cousteau

1.2 - HISTÓRIA DO MERGULHO NO BRASIL E NO CBMERJ

No Brasil, as primeiras atividades de mergulho registradas foram, sem dúvida, a dos nossos
índios. Diversos cronistas como Gabriel Soares, Hans Staden, José de Anchieta, Jean de Leri e outros,
relataram fatos descrevendo os silvícolas como exímios mergulhadores “que nadam sob o mar com os
olhos muito abertos”. Sua destreza no combate aquático fica evidenciada em diversas narrativas como
a do assalto a naus francesas em Cabo Frio, onde o Governador Salvador Corrêa de Sá, foi salvo por 3
vezes pelos tupiminós, que “na água são como peixes” ou no episódio em que combatem a nado
“como baleias” com tal fúria que pasmam a multidão na praia, conforme descreve Anchieta. Conta a
lenda ainda que Araribóia, tendo atravessado a nado o braço de mar que separava a Ilha de
Villegagnon do continente, ateou fogo aos paióis franceses, em manobra típica dos atuais
mergulhadores de combate, assegurando a vitória e retomada da Baía de Guanabara em favor dos
portugueses, em 1556.
No final do século XIX e início do XX, começam a aparecer os mergulhadores de salvamento,
geralmente de nacionalidade grega, que exploram, com seus escafandros e bombas manuais, inúmeros
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naufrágios em nossas costas. A visão, hoje em dia, de alguns desses restos de navios, causa forte
impressão, tanto mais se considerarmos as limitações dos equipamentos usados, levando a crer que
tais mergulhadores chegaram a desenvolver habilidades surpreendentes.
Na Marinha, o mergulho desenvolveu-se e ramificou-se em várias especialidades, tais como,
mergulho autônomo, de combate ofensivo, de salvamento e escafandria na guerra ou na paz e o
mergulho profundo com misturas especiais, desenvolvido e aprimorado nas instalações do Centro
Hiperbárico localizado no CIAMA. Dentre essas atribuições, competia a Marinha a realização de
operações subaquáticas de busca e resgate de bens e vítimas em todo o território nacional.
A transição da atividade de mergulho de resgate da Marinha para o CBMERJ teve início em
1966, baseado em um caso específico. Neste ano houve uma forte chuva, culminando com enchentes e
deslizamentos de encostas. O túnel Rebouças, na capital fluminense, fora inundado, não sendo
possível determinar o que havia sido atingido em seu interior. O governador da época, Paulo
Francisco Torres, solicitou então, auxílio à Marinha de Guerra, que enviou um Sargento munido de
uma câmera sub, a fim de vistoriar o local. Durante a operação, o militar recebeu uma descarga
elétrica, vindo a falecer. Por conta disso, o Governo Federal determinou ao Estado da Guanabara que
tomasse providências de modo a transferir para o Corpo de Bombeiros a responsabilidade em realizar
operações de busca e resgate subaquáticos dentro de seu território. Então, em 1969, a Marinha do
Brasil disponibilizou para o então CBEG (Corpo de Bombeiros do Estado da Guanabara), 10 vagas
para que militares da Corporação realizassem o curso por ela ministrado. Em 25 de Junho de 1969,
dos 10 que iniciaram o curso, 7 o concluíram.

A partir de então, a atividade vinha sendo realizada por bombeiros detentores do curso da
Marinha, mas devido ao grande número de solicitações envolvendo essa atividade, em 1985 foi criado
o primeiro CMAut (Curso de Mergulho Autônomo) ministrado pelo Corpo de Bombeiros e a partir
dessa data, várias turmas foram formadas.
A atividade desenvolveu-se rapidamente, métodos e procedimentos foram elaborados para a
peculiaridade do serviço. A utilização de ferramentas hidráulicas para afastamento e corte, uso de
tirfor para tracionamento, reflutuação de cargas e, principalmente, mergulho em rios, fizeram com que
o CMAut/CBMERJ fosse reconhecido em todo o Brasil.
O mergulho no CBMERJ, como não poderia deixar de ser, é uma atividade de alto risco.
Nossos mergulhadores devem estar sempre em constante treinamento e principalmente, aptos
fisicamente para a atividade, com seus exames médicos em dia. A habilidade de ir a lugares onde
poucos conseguem, principalmente em se tratando de MERGULHOS EM RIOS, requer desses

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especialistas um completo controle sobre suas ações, devendo estar sempre preparados não apenas
física e tecnicamente, mas, principalmente, psicologicamente.

1.3 - REGISTROS DE OPERAÇÕES DE MERGULHO DO CBMERJ

1969 - Primeira guarnição de mergulho 1969 - Primeira missão de resgate

1972 - Acidente Ponte Rio-Niterói 1989 - Acidente Bateau Mouche

1992 - Acidente Ulysses Guimarães 2003 - Acidente Tona Galea

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CAPÍTULO 2 - FÍSICA DO MERGULHO

2.1 - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA FÍSICA DO MERGULHO


Para entender de mergulho e de seus efeitos sobre o corpo humano é necessário conhecer um
pouco da física aplicada a essa atividade.

2.1.1 - FÍSICA

É a ciência que estuda as propriedades dos corpos, os seus fenômenos e as leis que as regem,
sem lhes alterar a substância.

2.1.1.1- Matéria

É qualquer coisa que ocupa lugar no espaço e tem massa. A matéria existe em três estados:
sólidos, líquidos e gasosos. Qualquer matéria pode existir em mais de um destes estados, dependendo
das condições de temperatura e de pressão. No mergulho os mais importantes são os líquidos e os
gasosos:

 LÍQUIDOS - Os líquidos têm peso e volume definidos, mas tomam a forma de seus
recipientes. Comparados com os gases, os líquidos são considerados incompressíveis.
Para simplicidade de nosso estudo, admitimos que o volume de um líquido não se altera
com mudanças de pressão e de temperatura. A água é o líquido fundamental para o
mergulhador. A água pura é incolor, insípida e inodora. Quimicamente ela é composta de
duas partes de hidrogênio e uma parte de oxigênio (H 2O). O gosto e a cor,
freqüentemente encontrados na água, são devido à presença de outras substâncias nela
dissolvidas ou em suspensão.

 GASOSOS - Todos os gases têm peso e ocupam lugar no espaço. Comparados com os
líquidos, os gases são muito leves e compressíveis. Eles não possuem forma nem volume
definidos.

Para a melhor compreensão da medicina, como do mergulho propriamente dito, será necessário
o conhecimento de certas noções de física. Em primeiro lugar veremos as medidas, que variam de
unidade de país para país. Será, então, importante que o mergulhador saiba fazer as conversões entre
essas unidades.

2.2 - UNIDADES E EQUIVALÊNCIA PADRÃO


2.2.1 - SISTEMAS DE MEDIÇÃO
Dois sistemas de medição são largamente usados no mundo. Enquanto o Sistema Inglês é o
mais utilizado nos Estados Unidos da América, o sistema de medição mais utilizado no mundo, dentre
eles o Brasil, é o Sistema Internacional de Unidades, que é a forma moderna do sistema métrico e é
geralmente um sistema de unidades de medida concebido em torno de sete unidades básicas e da
conveniência do número dez. O SI é um conjunto sistematizado e padronizado de definições para
unidades de medida, utilizado em quase todo o mundo moderno, que visa uniformizar e facilitar as
medições e as relações internacionais daí decorrentes.
O antigo sistema métrico incluía vários grupos de unidades. O SI foi desenvolvido em 1960 do
antigo sistema metro-quilograma-segundo, ao invés do sistema centímetro-grama-segundo, que, por
sua vez, teve algumas variações. Visto que o SI não é estático, as unidades são criadas e as definições
são modificadas por meio de acordos internacionais entre as muitas nações conforme a tecnologia de
medição avança e a precisão das medições aumenta.
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O sistema tem sido quase universalmente adotado. As três principais exceções são a Myanmar,
a Libéria e os Estados Unidos, que utilizam o Sistema Inglês. O Reino Unido adotou oficialmente o
Sistema Internacional de Unidades, mas não com a intenção de substituir totalmente as medidas
habituais.
No mergulho, devido à grande variedade de equipamentos, principalmente americanos, cada
país utiliza seu sistema métrico de origem. Portanto, o bom mergulhador deve dominar essas variações
para que não venha a descobrir “surpresas” desagradáveis.
Como exemplos dessas variações, existem manômetros que possuem a escala em atmosfera
(atm), outros em Bar, libras por polegada quadrada (PSI), metros de água do mar, etc. Para fazermos a
conversão de um sistema para o outro, utilizamos a regra de três simples, sempre nos baseando em
uma equivalência padrão.
REGRA DE TRÊS SIMPLES

Equivalência A B
Padrão

Equivalência C X
a saber

A, B e C Valores fornecidos no problema; X Valor a descobrir

AxX=CxB

X = CxB

Obs:

A e C possuem a mesma unidade

B e X possuem a mesma unidade

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2.2.2 - COMPRIMENTO

Def.: Dimensão longitudinal de um objeto; extensão de linha.

01m = 100cm = 1.000mm = 3,28 pés = 39,37 polegadas


1 pé = 12 polegadas = 0,3048 m
01” (polegada) = 2,54 cm

Ex. 1: Se 1 m é igual a 3,28 pés, quantos pés terá 3m?


Utilizando a regra de três simples, temos:

1m = 3,28 pés (equivalência padrão)


3m = X pés (equivalência a saber)
X = 3m x 3,28 pés = 9,84 pés

1m

Ex.2: Se 01 pé = 0,303m, quantos metros terá 60 pés?

01 pé = 0,303 m (equivalência padrão)


60 pés = X (equivalência a saber)

X = 0,303 m x 60 pés = 18 m
1 pé

Obs.: Regra prática para converter pés em metros é multiplicar a medida em pés por 3 (três) e dividir
por 10 (dez). Para dar a cota exata, deveríamos multiplicar por 0,304. A diferença é insignificante
para fins práticos de mergulho.

2.2.3 - ÁREA

Def.: Medida de uma superfície.

1m2 = 10.000 cm2 = 10,76 pés2 = 1.550 pol2

Ex.1: Se 1 m2 é igual a 10,76 pés2 , quantos pés2 terá 8 m2 ?

1m2 = 10,76 pés2 (equivalência padrão)


8m2 = X (equivalência a saber )
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X = 10,76 pés2 x 8 m2 = 86,08 pés2

1m2

Abaixo, algumas fórmulas para cálculo de áreas ( S )

- Quadrado => S = L2 ( L = lado )

- Retângulo => S = comprimento x largura

- Círculo => S = π d2 = π R2 ( d = diâmetro; R = raio e π = 3,14 )

Ex. 1: Qual a área do quadrado com lado 2 m ?

S = L2 = (2 m) 2 = 4 m2

Ex. 2: Qual a área do retângulo com comprimento 3 m e largura 2 m?

S = comprimento x largura = 3 m x 2 m = 6 m2

Ex. 3: Qual a área do círculo com 2 m de diâmetro?

S = π d2 = ( 2m )2 x 3,14 = 4 x 3,14 = 3,14 m2

4 4 4

2.2.4 - VOLUME

Def.: Espaço ocupado por um corpo


Obs:
 1 galão inglês = 1,2 galões
americanos
1m3 = 1.000 dm3 = 1.000 L = 35,3 pés3  1 galão (USA) = 3,8 litros
 1 galão inglês = 4,55 litros

Ex.1: Se 1m3 = 1.000 L quantos litros terá uma câmara hiperbárica de 5 m3 ?

1m3 = 1.000 L (equivalência padrão)

5m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 5m3 = 5.000 l


1m³
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Ex.2: Se 1.000 l = 35,3 pés3, quantos pés3 terá um aqualung de 12 l ?

1000 l = 35,3 pés3 (equivalência padrão)

12 l = X pés3 (equivalência a saber)

X = 35,3 pés3 x 12 l = 0,4236 pés3

1000 l

Abaixo, algumas fórmulas para o cálculo de volumes, sendo que:

L => largura – Dimensão transversal de uma superfície retangular e horizontal

V => volume

S => superfície – Parte exterior dos corpos

d => diâmetro

h => altura – Dimensão vertical de um corpo, a partir da base para cima

R => raio – Segmento de reta que une o centro do círculo a um ponto qualquer da
circunferência

CUBO  V = (lado)3

PARALELEPÍPEDO  V = comprimento x largura x altura

PIRÂMIDE  V = S face x h

CILINDRO  V = d2 π h = π R2 h

ESFERA  V = 4 π R3 = 1 π d3

3 6

Ex.1: Qual o volume de um tambor com 0,3 m de raio e 2 m de comprimento (h)?

V = π R2 h = 3,14 x ( 0,3 ) 2 x 2 m = 0,5652 m3

1 m3 = 1000 l (equivalência padrão)

0,5652 m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 0,5652 m3 = 585,2 l

1 m3
22
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Ex.2: Qual o volume de uma poita com 1m de comprimento, 1m de largura e 0,5m de altura?

V = comprimento x largura x altura

1 m3 = 1000 l (equivalência padrão)

0,5 m3 = X (equivalência a saber )

X = 1000 l x 0,5 m3 = 500 l

1 m3

2.2.5 - PESO

Def.: Resultante da ação da gravidade sobre os corpos.

1 Kg = 1.000 g = 2,205 libras


1 libra = 0,45 Kg

Ex.1: Quantas libras tem 5 Kg?

1 Kg = 2,205 libras (equivalência padrão)

5 Kg = X (equivalência a saber )

X = 2,205 libras x 5 Kg = 11,025 libras

1 Kg

2.2.6 - TEMPERATURA

Def.: Quantidade de calor existente no ar, nos corpos.

Existem 05 escalas de temperatura.


As quatro mais usadas são:
Graus Centígrados ou Celsius ºC ( Anders Celsius )
Graus Fahrenheit ºF ( Daniel Gabriel Fahrenheit )
Graus Rankine ºR
Graus Kelvin K ( Lord Kelvin )
Zero Graus Celsius = 273 Kelvin
Zero Graus Fahrenheit = 460° Rankine
Zero Graus Kelvin = Zero Graus Rankine
Estes dois últimos são considerados temperaturas absolutas. As graduações de °C e K
são iguais bem como o °F e o °R, também o são.

23
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Para transformar então °C em K é só somar 273.


Para transformar K em °C é só diminuir 273.
Para transformar °F em °R é só somar 460.
Para transformar °R em °F é só diminuir 460.
Abaixo, temos a fórmula que sintetiza as escalas ºC, ºF e K:

C = F – 32 = K – 273
5 9 5

Ex.1: 40ºC é igual a quantos K ?

C = K - 273 => C = K - 273 => 40 = K - 273 => K = 313


5 5

Ex.2: 122ºF é igual a quantos ºC ?

C / 5 = F – 32 / 9
C / 5 = 122 – 32 / 9
C / 5 = 90 / 9
C = 50º

2.3 - PRESSÃO E O MERGULHO


2.3.1 - PRESSÃO

Def.: Força aplicada a uma superfície, por unidade de área.

Ao mergulhar, entramos em contato com um mundo completamente novo, em condições bem


diferentes das que encontramos normalmente.

Ao nível do mar, a camada gasosa que envolve a terra, exerce sobre o organismo do homem, a
pressão de uma atmosfera (aproximadamente 1 Kgf / cm²), mas por ser a densidade da água maior que
a do ar (quase 800 vezes), o mergulhador a cada 10 metros de profundidade, estará sofrendo um
acréscimo de mais uma pressão igual a atmosfera, sobre a pressão que suportava antes. Assim, a
10 (dez) metros, a pressão total será de 2 atmosferas, a 20 (vinte) metros, será de 3 (três)
atmosferas e assim por diante. Se compararmos essa situação com a de um aviador por exemplo,
veremos que para reduzir a pressão ambiente para meia atmosfera (0,5 Kgf / cm²), ele deverá subir a
uma altitude de 5.000 metros.

Há um conceito que precisa ficar bem assimilado: qualquer mergulhador, em qualquer


profundidade, necessita estar com sua pressão interna em equilíbrio com a externa. O corpo humano
somente funciona normalmente quando a diferença de pressão entre as forças que atuam dentro do
corpo do mergulhador e as forças externas, é muito pequena. Pressão, seja da atmosfera, água do mar
ou dos gases respiráveis pelo mergulhador, precisa ser pensada de modo a haver sempre a manutenção
do seu equilíbrio.
24
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Durante o mergulho, submetido a essa situação especial, o organismo reagirá seguindo


princípios e leis da física, cujo conhecimento será importante na formação do mergulhador.

PRESSÃO é, por definição, a força exercida por unidade de área.


FORÇA é toda ação que tende a produzir movimento e pode ser expressa em
libras força ( lbf ).

ÁREA, a superfície sobre a qual a força é exercida e pode ser medida em polegadas
quadradas.

Assim, a pressão pode ser medida em libras força por polegadas quadradas (PSI) quando no
sistema inglês.

Da mesma forma, se estivermos usando o sistema métrico, a pressão será expressa em gramas
ou quilogramas força por centímetro quadrado. Isto nada mais é do que outra expressão de força
sobre unidade de área.

O manômetro é o aparelho utilizado para aferir pressão.

A pressão pode ser expressa em várias unidades como:

1 atm = 14,7 PSI = 1,033 Kgf / cm2 = 1,01 Bar = 760 mmHg =

= 33,9 pés de água do mar = 10,3 m de água doce

Aproximadamente para efeitos práticos de cálculos, pode-se usar:

1 atm = 1 Kgf / cm2 = 1 Bar = 15 PSI = 760 mmHg =

= 33 pés de água do mar = 10 m de água doce

Ex.1: Quantos PSI temos em 7 atm?

1 atm = 15 PSI (equivalência padrão)

7 atm = X (equivalência a saber )

X = 7 atm x 15 PSI = 105 PSI

1 atm

25
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Ex.2: Quantos Bar temos em 150 PSI?

15 PSI = 1 Bar (equivalência padrão)

150 PSI = X (equivalência a saber )

X = 150 PSI x 1 Bar = 10 Bar

15 PSI

Ex.3: Quantos atm temos em 30 m de água do mar?

10 m de água = 1 atm (equivalência padrão)

30 m de água = X (equivalência a saber )

X = 30 m x 1 atm = 3 atm

10 m

Obs:. Neste último problema, estamos calculando equivalência de pressão e não a pressão absoluta a
30 m de profundidade, que será de 4 atm absolutas ou 4 ATAs.

2.3.2 - TIPOS DE PRESSÃO

2.3.2.1 - Pressão Atmosférica (P atm)

É o resultado do peso da atmosfera produzindo uma determinada força sobre a superfície da


Terra. Esta pressão atua em todas as direções e sentidos e em quase todas as estruturas, incluindo o
nosso próprio corpo. Este transmite pressão livremente e é exposto a mesma pressão em todas as
direções e sentidos, interna e externamente. Seus efeitos são assim, neutralizados e por isso,
geralmente, ignoramos a presença da pressão atmosférica.

2.3.2.2 - Pressão Relativa (P rel)

É toda pressão além da pressão atmosférica. Pode ser chamada de :

- Pressão Hidrostática (P hid) – Pressão relativa na água. Quanto maior a


profundidade, maior será a pressão hidrostática. A cada 10 m, teremos um aumento
de 1 atm.

- Pressão Manométrica (P man) – Pressão relativa em compartimentos fechados.


Quando dizemos que a pressão de um cilindro é de 200 atm, na verdade, a pressão é
de 200 atm acima da pressão atmosférica porque os manômetros medem a
diferença entre uma determinada pressão e a pressão atmosférica (que é a P man).

* Os manômetros são construídos de modo que seu zero indique a pressão atmosférica. Exceto
quando especificada, a leitura de uma pressão refere-se à pressão manométrica.

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2.3.2.3 - Pressão Absoluta (P abs)

É o somatório da pressão atmosférica com a pressão relativa.

P abs  Pressão Absoluta = Pressão Total

P atm  Pressão Atmosférica

P man – Pressão Manométrica

P rel  Pressão Relativa

P hid – Pressão Hidrostática

P abs  P atm + P rel

Obs:. Quando nos referimos a P abs, podemos fazer do seguinte modo:

10 atm absolutas = 10 ATAs

150 PSI absolutas = 150 PSIAs

PRESSÃO PRESSÃO
PROFUNDIDADE
HIDROSTÁTICA ABSOLUTA
(m)
(atm) (ATA)

Nível do mar 0 (zero) 1

0,5 0,05 1,05

1,0 0,10 1,10

5,0 0,50 1,50

5,5 0,55 1,55

10,0 1,00 2,00

20,0 2,00 3,00

25,0 2,50 3,50

30,0 3,00 4,00

40,0 4,00 5,00

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* Uma forma prática de encontrar a pressão absoluta ao nível do mar, para determinada profundidade,
é utilizando a seguinte fórmula:

P abs = Prof (m) + 1 ATA


10

P atm P abs

------------------------------------------------------------------------ Nível do mar

P hid

Curiosidade: Densidade da água do mar  1,03 Kg / l; 1,03 T / m3; 64,38 lb/ft3; 10,3 lb / gal

Densidade da água doce  1,0 Kg / l; 1,0 T / m3; 62,50 lb / ft3; 10,0 lb / gal

* Logo, temos mais facilidade em “boiar” na água salgada do que na água doce.

2.3.3 - CÁLCULO DE CONSUMO DE AR DO CILINDRO


O consumo normal de ar, ao nível do mar, considerando a pessoa em atividade não estafante,
conforme o indivíduo varia de 16 a 20 litros de ar por minuto. Um mergulhador experimentado, para
efeito de seus cálculos pessoais de consumo, pode começar considerando que sua necessidade ao nível
zero seja de 20 l ar /min.

Entretanto, quando calculamos para mergulhadores novatos ou ainda sem a suficiente calma, é
de bom alvitre considerar-se, como base para cálculos, 25 litros de ar / min.

Nesse valor, considerado a maior, estão incluídos o excesso respiratório ou o esforço


desnecessário que a falta de aquacidade perfeita ocasiona.

Dentro dessa idéia (indispensável margem de segurança) o consumo de ar seria, então:

Aos 10 metros 25 x 2 = 50 litros/min


Aos 20 metros 25 x 3 = 75.litros/min
.... sempre 25 x pressão da profundidade.

O que aparentemente é um exagero, tem se mostrado, na prática, bastante condizente. Lembre-


se sempre que estamos considerando mergulhadores recém formados ou com aquacidade deficiente.
De uma maneira geral, esse será o aspecto predominante do universo de mergulhadores que buscam
um instrutor.
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Quanto à influência da temperatura da água, desde que não seja atípica, pouca interferência
produzirá nos valores que estamos considerando. No mergulho de lazer não é muito usual que uma
pessoa suporte água fria por tempo que se estenda até a duração normal de um mergulho. O frio,
considerado como um dos agentes responsáveis pelo aumento do consumo de ar é variável de maior
relevância quando dos mergulhos em que a água fria “tem que ser suportada”, como nas atividades de
serviço. Para nossas considerações, basta levar em conta a variação de profundidade e a constante dos
25 litros de ar / min.
Assim, reduzindo os fatores acima citados, podemos concluir com segurança que a autonomia
de um cilindro será sempre o quociente entre a quantidade de ar ali contido e o consumo do
mergulhador. Teremos então :

T = Q/C onde.... T= tempo de duração do cilindro, em minutos;


Q = quantidade de ar contido no cilindro e
C = consumo de ar do mergulhador.

Ora, sabemos que a quantidade de gás que pode caber em um recipiente será sempre função do
volume deste recipiente e da pressão com a qual o gás é ali conservado. Para nós, enquanto
interessados na quantidade de ar contida num cilindro, é o que basta. Portanto :

Q=VxP onde.... V = volume da garrafa (considerar em litros é melhor) ;


P = pressão da garrafa naquele momento (considerar em atm é melhor).

Exemplo :
Para um cilindro de 13 litros de ar (volume do casco), carregada a 200 Atm de pressão,
que será utilizada a 20 metros prof....

Q= VxP = 13 x 200 = 2600 litros de ar.


C = 25 x pressão da profundidade =25x3= 75

então... T = Q/C = 26000 = 34,6 minutos.


75

Obs: no caso de mergulhadores que tenham desembaraço e aquacidade, tranqüilamente


podemos considerar um consumo de 60 litros de ar / minuto, aos 20 metros.

Não se pode realizar esses cálculos efetuando litros com libras ou atm com pés cúbicos. Efetuar
sempre litros por atm.

2.4 - COMPOSIÇÃO DO AR ATMOSFÉRICO


Ar é o nome da mistura de gases que compõem a atmosfera da Terra.

O ar é composto principalmente de nitrogênio, oxigênio e argônio, que juntos constituem a


maior parte dos gases da atmosfera. Os demais gases incluem gases de efeito estufa como vapor de
água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio. Ar filtrado contém traços de vários outros
compostos químicos. Muitas substâncias naturais devem estar presentes em pequenas quantidades em
uma amostra de ar não filtrada, incluindo poeira, pólen e esporos, cinzas vulcânicas, compostos de
flúor, mercúrio metálico e compostos de enxofre como dióxido de enxofre.

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Para efeito de cálculo, consideraremos a composição do ar atmosférico, como sendo de 79% de


N2 e 21% de O2, facilitando, portanto, o estudo.

21%
O2

79%
N2

2.5 - ENERGIA

Energia é a capacidade de exercer trabalho. Os seis tipos básicos de energia são: mecânica,
térmica, luminosa, química e eletromagnética, podendo aparecer em variedades de formas. A análise
de todas essas variações foge do escopo deste manual. Logo, serão estudados somente os aspectos da
energia luminosa, térmica e mecânica e seus efeitos incomuns sob a água, bem como seus impactos no
mergulho.
2.5.1 - ENERGIA LUMINOSA NO MERGULHO

Refração, turbidez da água, salinidade e poluição contribuem para a distância, tamanho, forma
e percepção de cores de objetos sob a água. Mergulhadores necessitam entender os fatores que afetam
a percepção visual subaquática, compreendendo assim que a percepção de distância provavelmente
será imprecisa.

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2.5.1.1 - Refração e Visão Subaquática

Refração é o fenômeno onde a luz passa de um meio para o outro, bem como passa pelo rosto
do mergulhador e o ar em sua máscara. Ela ocorre porque a luz viaja mais rápido no ar do que na
água.
A água possui um índice de refração similar aos das córneas dos olhos e maior que o ar. A luz
entra na córnea desde a água e é fortemente refratada, deixando somente as lentes cristalinas dos olhos
para focalizar a luz. Isto cria uma hipermetropia muito forte. Pessoas com miopia severa, entretanto,
podem ver melhor dentro de água sem a máscara que pessoas com visão normal.
Máscaras de mergulho, capacetes de mergulho e máscara de rosto, todos resolvem este
problema criando um espaço aéreo na frente dos olhos do mergulhador. O erro de refração criado pela
água é quase todo corrigido quando a luz atravessa da água para o ar através das lentes planas, exceto
que os objetos aparecem 34% maiores e 25% mais próximos na água salgada, do que eles
realmente são. A distâncias muito grandes, os efeitos da refração podem se inverter, fazendo parecer
os objetos mais distantes do que realmente são. Entretanto o campo de visão total é significativamente
reduzido e a coordenação olhos-mãos deve ser ajustada. Contraste e brilho reduzidos combinam-se
com a refração resultando na distorção de distância visual.

Ar

Água

Refração
Posição
Aparente

Posição Real

2.5.1.2 - Difusão

O espalhamento da luz é intensificado sob a água. Raios luminosos são difusos e espalhados
pelas moléculas de água e partículas de matéria. Por vezes, a difusão é benéfica, uma vez que há este
espalhamento da luz em ambientes que poderiam estar em áreas de sombra ou sem iluminação. A
perda de contraste é a causa maior da restrição de visibilidade sob a água, se comparado ao ar.

2.5.1.3 - Percepção de Cores

Tamanho e distância dos objetos não são as únicas características distorcidas sob a água. Uma
variedade de fatores combina-se, alterando a percepção de cores pelo mergulhador.

As cores são filtradas pela luz conforme entram na água e viajam para profundidades maiores.
O vermelho é a primeira cor a ser filtrada, logo em pequenas profundidades. A seguir vem o laranja,
31
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depois o amarelo, verde e por último o azul. A profundidade não é o único fator que afeta a filtragem
de cores. Salinidade, turbidez, tamanho de partículas de suspensão na água e poluição afetam as
propriedades de filtragem.

Absorção de cores sob a água


Luz do Sol

Profundidade em Metros

4,5

18

36

2.5.2 - ENERGIA MECÂNICA NO MERGULHO

A energia mecânica afeta os mergulhadores, na maior parte, em forma de som. Som é um


movimento periódico, transmitido pelo gás, líquido ou sólido. O fato de o líquido ser mais denso que
o gás, faz com que mais energia seja necessária para alterar seu equilíbrio. Uma vez que esta alteração
ocorre, o som viaja mais rápido em meios mais densos.

2.5.2.1 - Temperatura da água e o som

A temperatura superficial da água do oceano é influenciada principalmente pelos ventos,


ondas, incidência de raios solares, turbidez e temperatura atmosférica. Os raios solares penetram o
oceano e, em aproximadamente 50% de sua energia, é perdida em poucos centímetros de
profundidade, podendo o restante chegar a vários metros. A profundidade também varia conforme a
época do ano e hora do dia, sendo durante o verão e ao meio dia, o ápice. A influência externa na
temperatura da água pode variar de 10 metros em regiões com menos turbulência e em até 200 metros
em regiões mais agitadas.

Abaixo desta zona superficial, que usualmente é chamada de zona ou camada mista, a
temperatura cai muito rapidamente. O mergulhador consegue sentir claramente quando encontra esta
transição, pois a água apresenta uma queda de temperatura em apenas alguns centímetros e essa queda
de temperatura é contínua ao longo de vários metros, geralmente mais de 20ºC ao longo de toda a
zona da termoclina (duas ou mais camadas contíguas distintas de água em diferentes temperaturas).

Abaixo desta zona, é o que se chama de águas profundas, a temperatura continua caindo, porém
lentamente. As águas profundas correspondem a 90% da água dos oceanos, e a temperatura varia entre
3ºC e 0ºC, sendo caracterizada pela densidade da água e pouca mistura de águas.

A termoclina varia com a latitude e estação do ano, sendo permanente nos trópicos. Em regiões
temperadas durante o inverno é pouco comum, já no verão é uma presença constante. Nas regiões
polares é inexistente, a água ali é tão fria como no fundo do oceano.

32
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Quanto mais fria a camada de água, maior será sua densidade. Opostamente a este aumento de
densidade, a energia sonora transmitida entre as camadas, diminui. Isto explica, por exemplo, o
motivo pelo qual o mergulhador pode ouvir um som vindo de 50 metros de distância estando em uma
camada, tornando-se inaudível caso este mesmo som estivesse a poucos metros de distância, em uma
camada diferente.

Camada Mista

Pressão

Termoclina
Profundidade
Velocidade do Som

Camada Profunda Temperatura

Temperatura
Pressão
Velocidade do Som

2.5.2.2 - Profundidade e o Som

Em águas rasas, a reflexão do ar para a água produz anomalias no campo sonoro, como ecos,
pontos mortos, etc. O fato de o som viajar rapidamente sob a água (1500 m/s) ou 4 vezes mais rápido
que no ar, faz com que o ouvido humano não consiga detectar a diferença do tempo de chegada em
cada ouvido. Consequentemente, o mergulhador, por vezes, não consegue localizar a origem de um
som. Esta desvantagem pode trazer sérias consequências, caso o mergulhador esteja tentando localizar
um objeto ou a origem de um ponto de perigo, como uma lancha.

2.5.3 - ENERGIA CALORÍFICA NO MERGULHO

Calor é uma forma de energia associada com e proporcional ao movimento molecular de uma
substância. Está diretamente relacionada à temperatura, mas necessita ser distinguida desta, pois
diferentes substâncias não necessariamente contem a mesma energia calorífica, mesmo sendo suas
temperaturas iguais. O calor é transmitido de um ponto ao outro por condução, convecção ou reflexão.

2.5.3.1 - Temperatura Corporal do Mergulhador

O mergulhador começará a sentir frio quando a temperatura cair abaixo de aparentemente


confortáveis 23ºC. Abaixo disso, o mergulhador, usando somente uma roupa de natação, perde calor
para a água mais rápido do que seu corpo pode repor a mesma. A não ser que esteja provido de
proteção ou isolamento térmico, ele pode rapidamente experimentar dificuldades. O mergulhador com
frio não consegue trabalhar ou pensar eficientemente, além de estar mais suscetível a doença
descompressiva. Como consequência, o mergulhador deve analisar as condições da temperatura da
água antes de iniciar o mergulho, determinando a melhor roupa e gás respirável.

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2.6 - LEIS DOS GASES

Gases estão submetidos a três fatores inter-relacionados: temperatura, pressão e volume. Da


forma como reza a teoria cinética dos gases, uma mudança em um desses fatores pode resultar na
mudança dos outros. Além disso, a teoria indica que o comportamento cinético de qualquer desses
gases é o mesmo para os demais. Consequentemente, leis básicas foram estabelecidas para auxiliar a
solucionar as relações existentes entre estes fatores. O mergulhador precisa saber como a mudança de
pressão irá afetar o ar em seu equipamento e seu organismo, durante a descida ou subida na água.
Precisa estar apto a determinar o tipo de gás respirável a ser usado para determinada operação e ainda
interpretar a leitura de seu manômetro mediante as condições de temperatura e pressão do mergulho.
Estas leis são conhecidas como “leis dos gases ideais” e serão estudadas a seguir.
2.6.1 - LEI DE BOYLE/MARRIOTE

A Lei de Boyle/Marriote atesta que a uma temperatura constante, a pressão absoluta e o


volume de um gás são inversamente proporcionais. Quando a pressão aumenta, o volume do gás
diminui; quando a pressão diminui, o volume aumenta. Esta lei é importante para o mergulhador
porque relaciona a mudança do volume de um gás causada pela mudança de pressão, devido a
profundidade, que define a relação entre pressão e o fornecimento do gás respirável.

“O volume ocupado por um gás, é inversamente proporcional a pressão absoluta a que está
sujeito.”

P => Pressão Absoluta (ATA)


PV = P1 V1 = P2 V2 = K V => Volume
K => Temperatura

Os líquidos são praticamente incompressíveis, enquanto que os gases não. Por isso, uma bolha
de ar, em determinada profundidade, será comprimida pelo peso do líquido (pressão). À medida que a
bolha retorna para a superfície, a pressão do líquido irá diminuindo. Seu volume irá aumentando até
chegar a superfície, quando a pressão será de 1 atm (1 ATA).

34
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Ex.: Um balão com 6 litros de ar na superfície ocupará quantos litros a 20 metros de


profundidade?
Superfície  P = 1 ATA; V = 6 litros
P1V1 = P2 V2
P1 = 1 ATA
V1 = 6 litros
P2 = 20 m = 2 atm = 3 ATAs = (pressão absoluta a 20m de profundidade)
V2 = ?
1 x 6 = 3 x V2  V2 = 2 litros

2.6.2 - LEI DE CHARLES/GAY-LUSSAC

Quando se trabalha com a Lei de Boyle, a temperatura de um gás é um valor constante. No


entanto, a temperatura afeta significativamente a pressão e o volume de um gás. A Lei de
Charles/Gay-Lussac descreve a relação física da temperatura sobre a pressão e o volume. Atesta que a
uma pressão constante, o volume de um gás é diretamente proporcional a mudança da temperatura
absoluta. Se a pressão é mantida constante e a temperatura absoluta é dobrada, o volume dobrará. Se a
temperatura diminui, o volume também irá diminuir. Se o volume ao invés da pressão é mantido
constante, então a pressão absoluta irá mudar proporcionalmente à temperatura absoluta.
“A pressão absoluta e o volume de um gás variam, cada um, diretamente com a sua
temperatura absoluta”.
Matematicamente:

P1 = P2 = P3 = V constante V1 = V2 = V3 = P constante
T1 T2 T3 T1 T2 T3

P => Pressão Absoluta (ATA)


V => Volume
T => Temperatura Absoluta (K)

Temperatura
Temperatura

35
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Ex.1: Um sino aberto de mergulho, cujo volume interno é de 12 litros, é levado a


profundidade de 30 metros. A temperatura na superfície é de 25ºC e aos 30 metros é de 18ºC.
Calcule o volume do gás no sino a essa profundidade, quando afetado pela temperatura.

Solução
Primeiramente, deve-se encontrar o volume do sino na profundidade citada, levando-se em
conta a relação pressão/volume. Para tanto, utiliza-se a Lei de Boyle.
P1 = 1 ATA
P1V1 = P2V2 V2 = 1 ATA x 12 L
P2 = 30 metros = 4 ATAs 4 ATAs
V1 = 12 L V2 = P1V1
V2 = ? P2 V2 = 3 litros

Em seguida, utilizando a Lei de Charles, utiliza-se o volume encontrado para determinar o


novo volume, em função da temperatura.

T1 = 25ºC = 298 K V1 = V2 V2 = 3 L x 291 K


T2 = 18ºC = 291 K T1 T2 298 K
V1 = 3 L
V2 = ? V2 = V1T2
T1 V2 = 2,92 litros

Ex. 2: Após carregar um cilindro com 200 Bar, a sua temperatura é de 35ºC. Após
resfriado, a temperatura caiu para 28ºC. Qual a sua nova pressão?

Solução
P1 = 200 Bar = 201 ATAs P1 = P 2 P2 = 201 ATAs x 301 K
T1 = 35ºC T1 T2 308 K
T1 = 35ºC + 273 = 308 K
P2 = 196,43 ATAs
T2 = 5ºC P2 = P1T2
T2 = 28ºC + 273 = 301 K T1 P2 = 196,43 ATAs – 1 ATA
P2 = ?
P2 = 195,43 Bar

Ex. 3: Um mergulhador deixa a superfície com um cilindro com 200 Bar, a uma
temperatura de 30ºC. Ao atingir a profundidade de 35 metros, a temperatura caiu para 16ºC.
Qual a nova pressão do cilindro?

Solução
Neste caso, não há necessidade de se calcular o volume em função da pressão, pois ele é
inalterado por estar inserido dentro de um recipiente rígido. Logo, aplica-se direto a Lei de Charles.
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P1 = 200 Bar = 201 ATAs P1 = P 2 P2 = 201 ATAs x 289 K


T1 = 30ºC T1 T2 303 K
T1 = 30ºC + 273 = 303 K
P2 = 191,71 ATAs
T2 = 16ºC P2 = P1T2
T2 = 16ºC + 273 = 289 K T1 P2 = 191,71 ATAs – 1 ATA
P2 = ?
P2 = 190,71 Bar

2.6.3 - EQUAÇÃO GERAL DOS GASES

As leis de Boyle e Charles demonstram que para qualquer gás, os fatores temperatura, volume
e pressão, estão intimamente relacionados e que uma mudança em um deles, será compensada pela
alteração em um ou nos dois outros fatores.
A Equação Geral dos Gases é uma combinação dessas duas leis e prevê o comportamento de
determinada quantidade de gás, quando alterações são operadas em um ou em todas as variáveis
( P,V,T )

Matematicamente:

P1 x V1 = P2 x V2 = P3 x V3 = constante
T1 T2 T3

P  Pressão Absoluta
V  Volume
T  Temperatura

Ex.: Um cilindro de aço com 10 litros de volume foi carregado com uma pressão de
149 atm e a temperatura subiu para 127ºC. Que volume de ar será liberado para a atmosfera,
quando a temperatura for de 27ºC?
P1 x V1 = P 2 x V2 = P3 x V3 = constante
T1 T2 T3

P1 = 149 atm = 150 ATAs


P2 = 1 ATA
T1 = 127 º C  127 + 273 = 400 K
T2 = 27 º C  27 + 273 = 300 K
V1 = 10 litros
V2 = ?

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P1 x V1 = P 2 x V2
T1 T2

150 x 10 = 1 x V2
400 300
V2 = 1125 litros ( serão liberados 1125 litros de ar )

2.6.4 - LEI DE DALTON

“A pressão total exercida por uma mistura de gases é igual a soma das pressões parciais de
cada um dos diferentes gases componentes”
Chamamos de pressão parcial (PP), a pressão exercida pelo gás na mistura, que é proporcional
ao número de suas moléculas presentes no volume total. A pressão parcial de cada gás é igual a sua
porcentagem na mistura , multiplicada pela pressão absoluta no local.

Matematicamente,

PT = PPgás1 + PPgás 2 + PPgás3 + ... PPgás = PT x % gás

PT = PPgás1 + PPgás 2 + PPgás3 PPgás 1 PPgás 2 PPgás 3

Ex. 1: No ar que respiramos ao nível do mar - 1 ATA - a composição é 21% de oxigênio e 79%
de nitrogênio. Qual a PPO2 e PPN2 ao nível do mar?
PPgás = PT x % do gás

Composição do ar:
N2 = 79%
O2 = 21%

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Nível do mar - Pressão absoluta  1 ATA

PPN2 = 1 ATA x 79 % = 1 ATA x 79 = 0,79 ATA


100

PPO2 = 1 ATA x 21 % = 1 ATA x 21 = 0,21 ATA


100
Ex. 2: Qual será a pressão parcial respirada de O2 e N2 a 20 metros de profundidade, utilizando
ar comprimido?

Composição do ar:
N2 = 79%
O2 = 21%
PT à 20 metros = 2 atm = 3 ATAs

PPgás = PT x % do gás

PPN2 = 3 ATA x 79 % = 3 ATA x 79 = 2,37 ATAs


100

PPO2 = 3 ATA x 21 % = 3 ATA x 21 = 0,63 ATA


100

2.6.5 - LEI DE HENRY

“A quantidade de um certo gás que se dissolve em um líquido a determinada temperatura é


proporcional à pressão parcial do gás, mantida constante esta temperatura”.
Pelo fato de uma grande porcentagem do corpo humano ser composto por água, a Lei de Henry
simplesmente atesta que quanto mais fundo se for em um mergulho, mais gás irá dissolver-se nos
tecidos do corpo e que, durante a ascensão, este gás dissolvido será liberado. No caso do mergulho, o
gás mais importante com relação a esta lei é o nitrogênio.

Solubilidade de um Gás x Pressão

Aumento de pressão

Mais moléculas de gás tornam-se solúveis em


pressões maiores

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2.6.5.1 - Absorção e Eliminação de Nitrogênio:

Ao nível do mar, a pressão parcial do nitrogênio dissolvido nos tecidos humanos está em
equilíbrio com a pressão parcial do nitrogênio nos pulmões. À medida que ocorre o aumento de
altitude ou profundidade em um mergulho, a pressão parcial do nitrogênio nos pulmões se altera e os
tecidos passam a ganhar ou perder nitrogênio para alcançarem um novo equilíbrio com a pressão de
nitrogênio nos pulmões. A mistura de nitrogênio aos tecidos é chamada de Absorção. A liberação é
chamada de Eliminação.

No mergulho, a absorção ocorre quando o mergulhador é exposto a um aumento na pressão


parcial de nitrogênio. Quando essa pressão diminui, o nitrogênio é eliminado. Este fenômeno vale
para todos os gases inertes respiráveis.

A absorção consiste em uma série de fases, que inclui a transferência de um gás inerte dos
pulmões para o sangue e depois do sangue para os vários tecidos que fluem pelo corpo. O gradiente da
transferência de um gás é a diferença na pressão parcial do gás entre os pulmões e o sangue e entre o
sangue e os tecidos.

2.7 - PRINCÍPIO DE ARQUIMEDES

O matemático grego Arquimedes concluiu que “Qualquer objeto completa ou parcialmente


imerso em um fluido é impulsionado para cima por uma força igual ao peso do fluido deslocado pelo
objeto.” Esta força é denominada Empuxo.

2.7.1 - EMPUXO

Empuxo é a força que o líquido exerce em um determinado corpo para fazê-lo boiar. Ele é igual
ao peso do volume do líquido que ocupa. O empuxo pode ser calculado, multiplicando-se o volume do
líquido deslocado pela densidade do líquido.

Na figura acima, duas forças estarão atuando sobre o corpo: o seu peso e o empuxo provocado
pelo volume de água por ele deslocado. Se o peso for igual ao empuxo, o corpo não se moverá para
cima ou para baixo, estando portanto, neste caso, com flutuabilidade neutra.

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Se o peso for maior que o empuxo, o corpo estará com flutuabilidade negativa e irá
afundar. O corpo permanecerá no fundo com flutuabilidade negativa, até que tenha afundado o
suficiente, para que o volume de água por ele deslocado dê origem a um empuxo igual a seu peso,
atingindo assim a flutuabilidade neutra. Caso a flutuabilidade neutra não possa ser atingida, o corpo
descerá até ao fundo.
Se o peso for menor do que o empuxo, o corpo estará com flutuabilidade positiva, e
começará a subir, até que o volume de água deslocado por ele se reduza, suficiente, para atingir a
flutuabilidade neutra.
Matematicamente:

E = V x D ; onde E  Empuxo, V  Volume e D  Densidade do líquido

Ex.: Um objeto com 15m de comprimento, 4m de largura e 2m de altura, está flutuando com
1,5m de calado na água do mar. Qual o valor do seu empuxo?

E = V x D
V = 15m x 4m x 1,5m = 90 m3
D = 1,03 T / m³ ( densidade da água do mar )
E = 90m³ x 1,03 T/m³
E = 92,7 T
O empuxo do objeto é de 92,7 T

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CAPÍTULO 3 - FISIOLOGIA APLICADA AO MERGULHO

3.1 - INTRODUÇÃO
Este capítulo contém informações básicas acerca das mudanças anatômicas e fisiológicas no
corpo humano, que ocorrem quando se está em um ambiente subaquático. Retrata ainda o resultado
dessas mudanças quando o corpo humano excede os limites de adaptação.

Quando o corpo humano está trabalhando, este requer que todos os órgãos e sistemas
funcionem coordenadamente. O coração bombeia sangue para todas as partes do corpo, os fluidos dos
tecidos trocam materiais dissolvidos com o sangue e os pulmões mantêm o sangue fornecido com
oxigênio e limpos do excesso de dióxido de carbono. A maior parte desse processo é controlada
diretamente pelo cérebro, sistema nervoso e várias glândulas. O acontecimento dessas funções,
geralmente, é inconsciente ao ser humano.

Mesmo o corpo humano sendo eficiente da maneira como é, ele não tem maneiras efetivas de
compensar os muitos efeitos que o aumento de pressão em profundidades pode lhe proporcionar e
muito pouco pode fazer para impedir seu organismo de ser afetado. O conjunto desses efeitos externos
limita o que um mergulhador pode fazer e, se não entendido, pode dar origem a sérios problemas.

3.2 - FISIOLOGIA
Neste item teremos uma breve recordação de alguns conceitos de anatomia e de fisiologia do
organismo humano.

Definições:

a) Célula - é a unidade morfológica e fisiológica dos seres vivos;


b) Tecidos - conjunto de células que desempenham as mesmas funções;
c) Órgãos - formados por grupamentos de tecidos;
d) Sistema ou Aparelho - conjunto de órgãos que se complementam visando o
desempenho de determinada função. Ex.: Sistema locomotor (músculos, tendões, ossos, etc.);
e) Sangue - responsável pelo transporte de substâncias dentro do organismo, como
glicose e oxigênio as células;
 Parte líquida - Plasma - transporta, dentre outras substâncias, o Nitrogênio (N2).
 Parte sólida - Elementos figurados do sangue: Hemácia - transporta o oxigênio;

- Plaquetas - ajudam na coagulação;

- Leucócitos - participam da defesa orgânica.

3.2.1 - SISTEMA NERVOSO

O sistema nervoso coordena todas as funções e atividades do corpo humano. Compreende o


cérebro, medula espinhal e uma complexa rede de nervos que circulam pelo corpo. O cérebro e a
medula espinhal compõem o que se chama de Sistema Nervoso Central (SNC). Os nervos originam-se
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no cérebro e na espinha e viajam às partes periféricas do corpo pelo Sistema Nervoso Periférico
(SNP).

3.2.2 - SISTEMA CIRCULATÓRIO

O sistema circulatório é composto pelo coração, artérias, veias e capilares. Carrega oxigênio,
nutrientes e hormônios para todas as células do corpo e traz de volta dióxido de carbono, resíduos
químicos e calor. O sangue circula por um sistema fechado de tubos que incluem os pulmões e tecidos
capilares, coração, artérias e veias.

3.2.2.1 - O Coração

O coração, órgão central desse sistema, é uma verdadeira bomba aspirante e premente, que
impulsiona o sangue arterial para os tecidos, recebe-o de volta e manda-o aos pulmões para ser
reoxigenado e livrar-se do gás carbônico de que está carregado.

3.2.2.2 - Circuitos Pulmonar e Sistêmico

O sistema circulatório consiste em dois circuitos com a mesma corrente sanguínea fluindo pelo
corpo. O circuito pulmonar serve aos capilares pulmonares; o circuito sistêmico serve aos tecidos
capilares. Cada circuito tem suas próprias aterias e veias e sua própria metade do coração como
bomba. Na circulação completa, o sangue primeiro passa por um circuito e depois pelo outro,
passando pelo coração duas vezes em cada circuito completo.
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- Grande ou Circulação Geral (circulação sistêmica): distribui o sangue rico em oxigênio e


elementos nutritivos, a todo o organismo e traz de volta ao coração, o sangue carregado de
gás carbônico e elementos residuais das células.

- Pequena ou Circulação Pulmonar: continuam por intermédio das cavidades do coração,


cujo sangue carregado de gás carbônico e elementos residuais, é levado aos pulmões para
que, pela HEMATOSE, retorne oxigenado.

A circulação sanguínea ocorre da seguinte maneira: uma gota de sangue, localizada no alvéolo
pulmonar, livra-se do gás carbônico, carrega-se de oxigênio e dirige-se pela veia pulmonar para o
coração esquerdo. Daí é lançada pela artéria aorta para todos os tecidos do corpo onde, através dos
capilares tissulares, cede o seu oxigênio às células e recebe o gás carbônico proveniente das queimas
energéticas que se processam nessas células. É conduzida então pelas veias cavas para o coração
direito que a envia aos pulmões pelas artérias pulmonares, recomeçando o ciclo.

Os vasos sangüíneos, condutores do sangue, dividem-se em artérias que conduzem o sangue do


coração para os tecidos ou para os pulmões e veias, que conduzem o sangue para o coração. Ligando
as artérias às veias em ramificações tão finas que permitem ao sangue banhar diretamente os tecidos
ou espalhar-se pelas paredes alveolares, temos, respectivamente, os capilares tissulares e pulmonares.

3.2.3 - SISTEMA RESPIRATÓRIO

Toda célula do corpo precisa obter energia para manter-se viva, crescendo e funcionando.
Estas células obtêm sua energia pela oxidação, que requer combustível e oxigênio para ocorrer. A
respiração é o processo de troca de oxigênio e gás carbônico durante a oxidação, liberando energia e
água.
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3.2.3.1 - Componentes
Fossas nasais: são duas cavidades paralelas que começam nas narinas e terminam na faringe.
Elas são separadas uma da outra por uma parede cartilaginosa denominada septo nasal. No teto das
fossas nasais existem células sensoriais, responsáveis pelo sentido do olfato. Têm as funções de filtrar,
umedecer e aquecer o ar.
Faringe: é um canal comum aos sistemas digestório e respiratório e comunica-se com a boca e
com as fossas nasais. O ar inspirado pelas narinas ou pela boca passa necessariamente pela faringe,
antes de atingir a laringe.
Laringe: é um tubo sustentado por peças de cartilagem articuladas, situado na parte superior
do pescoço, em continuação à faringe. O pomo-de-adão, saliência que aparece no pescoço, faz parte
de uma das peças cartilaginosas da laringe.
A entrada da laringe chama-se glote. Acima dela existe uma espécie de “lingüeta” de
cartilagem denominada epiglote, que funciona como válvula. Quando nos alimentamos, a laringe sobe
e sua entrada é fechada pela epiglote. Isso impede que o alimento ingerido penetre nas vias
respiratórias.
O epitélio que reveste a laringe apresenta pregas, as cordas vocais, capazes de produzir sons
durante a passagem de ar.
Traquéia: é um tubo de aproximadamente 1,5 cm de diâmetro por 10-12 centímetros de
comprimento, cujas paredes são reforçadas por anéis cartilaginosos. Bifurca-se na sua região inferior,
originando os brônquios, que penetram nos pulmões. Seu epitélio de revestimento muco-ciliar adere
partículas de poeira e bactérias presentes em suspensão no ar inalado, que são posteriormente varridas
para fora (graças ao movimento dos cílios) e engolidas ou expelidas.
Pulmões: Os pulmões humanos são órgãos esponjosos, com aproximadamente 25 cm de
comprimento, sendo envolvidos por uma membrana serosa denominada pleura. Nos pulmões, os
brônquios ramificam-se profusamente, dando origem a tubos cada vez mais finos, os bronquíolos. O
conjunto altamente ramificado de bronquíolos é a árvore brônquica ou árvore respiratória.
Cada bronquíolo termina em pequenas bolsas formadas por células epiteliais achatadas (tecido
epitelial pavimentoso) recobertas por capilares sangüíneos, denominadas alvéolos pulmonares.
Diafragma: A base de cada pulmão apóia-se no diafragma, órgão músculo-membranoso que
separa o tórax do abdômen, presente apenas em mamíferos, promovendo, juntamente com os
músculos intercostais, os movimentos respiratórios. Localizado logo acima do estômago, o nervo
frênico controla os movimentos do diafragma.

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3.2.3.2 - Troca Gasosa

É a renovação do ar da via condutora de ar para os pulmões e do ar do espaço alveolar que


ocorre durante a inspiração e expiração pulmonar. A via condutora de ar e o espaço alveolar formam a
via condutora-alveolar.
A inspiração, que promove a entrada de ar nos pulmões, dá-se pela contração da musculatura
do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma abaixa e as costelas elevam-se, promovendo o
aumento da caixa torácica, com conseqüente redução da pressão interna (em relação à externa),
forçando o ar a entrar nos pulmões.
A expiração, que promove a saída de ar dos pulmões, dá-se pelo relaxamento da musculatura
do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma eleva-se e as costelas abaixam, o que diminui
o volume da caixa torácica, com consequente aumento da pressão interna, forçando o ar a sair dos
pulmões.

3.2.3.3 - Transporte de Gases Respiráveis


O transporte de gás oxigênio está a cargo da hemoglobina, proteína presente nas hemácias.
Cada molécula de hemoglobina combina-se com 4 moléculas de gás oxigênio, formando a
oxi-hemoglobina.

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Nos alvéolos pulmonares o gás oxigênio do ar difunde-se para os capilares sanguíneos e


penetra nas hemácias, onde se combina com a hemoglobina, enquanto o gás carbônico (CO 2) é
liberado para o ar (processo chamado Hematose).

Nos tecidos ocorre um processo inverso: o gás oxigênio dissocia-se da hemoglobina e difunde-
se pelo líquido tissular, atingindo as células. A maior parte do gás carbônico (cerca de 70%) liberado
pelas células no líquido tissular penetra nas hemácias e reage com a água, formando o ácido
carbônico, que logo se dissocia e dá origem a íons H+ e bicarbonato (HCO3-), difundindo-se para o
plasma sanguíneo, onde ajudam a manter o grau de acidez do sangue. Cerca de 23% do gás carbônico
liberado pelos tecidos associam-se à própria hemoglobina, formando a carboxihemoglobina. O
restante dissolve-se no plasma.
3.2.3.4 - Controle Respiratório

Em relativo repouso, a frequência respiratória é da ordem de 10 a 15 movimentos por minuto.


A respiração é controlada automaticamente por um centro nervoso localizado no bulbo. Desse
centro partem os nervos responsáveis pela contração dos músculos respiratórios (diafragma e
músculos intercostais). Os sinais nervosos são transmitidos desse centro através da coluna espinhal
para os músculos da respiração. O mais importante músculo da respiração, o diafragma, recebe os
sinais respiratórios através de um nervo especial, o nervo frênico, que deixa a medula espinhal na
metade superior do pescoço e dirige-se para baixo, através do tórax até o diafragma. Os sinais para os
músculos expiratórios, especialmente os músculos abdominais, são transmitidos para a porção baixa
da medula espinhal, para os nervos espinhais que inervam os músculos. Impulsos iniciados pela
estimulação psíquica ou sensorial do córtex cerebral podem afetar a respiração. Em condições
normais, o centro respiratório (CR) produz, a cada 5 segundos, um impulso nervoso que estimula a
contração da musculatura torácica e do diafragma, fazendo-nos inspirar. O CR é capaz de aumentar e
de diminuir tanto a frequência como a amplitude dos movimentos respiratórios, pois possui
quimiorreceptores que são bastante sensíveis ao pH do plasma. Essa capacidade permite que os
tecidos recebam a quantidade de oxigênio que necessitam, além de remover adequadamente o gás
carbônico. Quando o sangue torna-se mais ácido devido ao aumento do gás carbônico, o centro
respiratório induz a aceleração dos movimentos respiratórios. Dessa forma, tanto a freqüência quanto
a amplitude da respiração tornam-se aumentadas devido à excitação do CR.
Em situação contrária, com a depressão do CR, ocorre diminuição da frequência e amplitude
respiratórias.

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A respiração é ainda o principal mecanismo de controle do pH do sangue.

O aumento da concentração de CO2 desloca a reação para a direita, enquanto sua redução
desloca para a esquerda.
Dessa forma, o aumento da concentração de CO2 no sangue provoca aumento de íons H+ e o
plasma tende ao pH ácido. Se a concentração de CO2 diminui, o pH do plasma sanguíneo tende a se
tornar mais básico (ou alcalino).
Se o pH está abaixo do normal (acidose), o centro respiratório é excitado, aumentando a
frequência e a amplitude dos movimentos respiratórios. O aumento da ventilação pulmonar determina
eliminação de maior quantidade de CO2, o que eleva o pH do plasma ao seu valor normal.
Caso o pH do plasma esteja acima do normal (alcalose), o centro respiratório é deprimido,
diminuindo a frequência e a amplitude dos movimentos respiratórios. Com a diminuição na ventilação
pulmonar, há retenção de CO2 e maior produção de íons H+, o que determina queda no pH plasmático
até seus valores normais.
A ansiedade e os estados ansiosos promovem liberação de adrenalina que, frequentemente
levam também à hiperventilação, algumas vezes de tal intensidade que o indivíduo torna seus líquidos
orgânicos alcalóticos (básicos), eliminando grande quantidade de dióxido de carbono, precipitando,
assim, contrações dos músculos de todo o corpo.
Se a concentração de gás carbônico cair a valores muito baixos, outras consequências
extremamente danosas podem ocorrer, como o desenvolvimento de um quadro de alcalose que pode
levar a uma irritabilidade do sistema nervoso, resultando, algumas vezes, em tetania (contrações
musculares involuntárias por todo o corpo) ou mesmo convulsões epilépticas.

3.2.3.5 - Capacidade e Volume Respiratórios


O sistema respiratório humano comporta um volume total de aproximadamente 5 litros de ar –
a capacidade pulmonar total. Desse volume, apenas meio litro é renovado em cada respiração
tranquila, de repouso. Esse volume renovado é o volume corrente.

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Se no final de uma inspiração forçada, executarmos uma expiração forçada, conseguiremos


retirar dos pulmões uma quantidade de aproximadamente 4 litros de ar, o que corresponde à
capacidade vital, e é dentro de seus limites que a respiração pode acontecer.
Mesmo no final de uma expiração forçada, resta nas vias aéreas cerca de 1 litro de ar, o
volume residual.

1) Volume residual (VR) - é aquele que fica nos pulmões após uma expiração máxima.
(1 a 1,5 litros);

2) Capacidade vital (CV) - é o volume máximo de ar que pode ser expelido dos pulmões.
após uma inspiração máxima (4 a 5 litros);

3) Volume corrente (VC) - volume de ar que se movimenta no ciclo respiratório normal.


(0,5 a 0,6 litros)

4) Volume minuto (VM) - volume de ar que se movimenta nos pulmões em 1 minuto.


(VM = VC x frequência);

5) Capacidade total (CT) - maior volume de ar que pode ser contido nos pulmões após
uma inspiração máxima (5 a 6 litros).

3.2.4 - SEIOS DA FACE

São espaços com ar que existem dentro de alguns ossos da face. Todos eles possuem
comunicação com as fossas nasais e são revestidos por uma camada de células muito delicadas. Entre
esta camada de células e o tecido ósseo estão os vasos sangüíneos.

3.2.5 - APARELHO AUDITIVO

É constituído pelo ouvido externo, médio e interno. No mergulho, as partes mais importantes a
serem estudadas são o ouvido externo e médio.

Ouvido externo é a porção exterior do ouvido, que capta o som e o transmite por um canal ao
ouvido médio. É composto de duas partes: O pavilhão auditivo, também conhecido como orelha e o
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conduto auditivo externo. A função principal do pavilhão auditivo é coletar sons, agindo como um
funil e direcionando o som para o conduto auditivo. Outra função é a filtragem do som, processo este
que ajuda a localizar a origem dos sons que chegam ao indivíduo. Além disso, no caso dos humanos, o
processo de filtragem seleciona sons na faixa de frequência da voz humana facilitando o
entendimento. Já o conduto auditivo externo tem a função de transmitir os sons captados pela orelha
para o tímpano além de servir de câmara de ressonância ampliando algumas freqüências de sons.

Ouvido médio é composto pelos ossículos, martelo, bigorna e estribo, denominados dessa
forma por sua semelhança com esses objetos e pela tuba auditiva ou trompa de Eustáquio. Os
mamíferos são os únicos animais que possuem três ossos no ouvido, ligando o tímpano à orelha
interna. Individualmente, os ossos são menores que um grão de arroz. Os ossículos estão localizados
na cavidade em forma de ervilha do ouvido médio, conectados formando uma ponte entre a membrana
timpânica e a janela oval. Através de um sistema de membranas, eles conduzem as vibrações sonoras
a orelha interna. Os ossículos são os menores ossos do corpo humano e já estão em seu tamanho
completo ao nosso nascimento. Enquanto as ondas sonoras movem a membrana timpânica, esta move
os ossículos. Os três ossos na verdade formam um sistema de alavancas que transferem a energia das
ondas sonoras vindas da orelha externa, através da orelha média para a orelha interna. Outra parte do
ouvido médio é a Trompa de Eustáquio que conecta a cavidade do ouvido médio com a nasofaringe.
A extremidade superior é normalmente aberta, pois é rodeada de ossos, enquanto que a inferior é
normalmente fechada, pois é cercada por um tecido fino. A trompa de Eustáquio ajuda a manter o
equilíbrio da pressão do ar entre os dois lados da membrana timpânica. A trompa abre e fecha a
medida em que engolimos ou bocejamos, permitindo uma equalização entre a pressão do ouvido
externo e do ouvido médio.

3.2.5.1 - Equalização (Compensação) da Pressão no Ouvido Médio

Durante um mergulho, a variação da pressão por conta da profundidade, seja ela durante a
descida ou subida, afeta diretamente o tímpano do mergulhador. Por tratar-se de uma membrana, ela é
flexionada para dentro quando a pressão externa é maior que a interna e para fora quando a pressão
interna é maior que a externa.

Quando há o aumento da pressão externa, durante a descida, há um esmagamento de órgãos


como estômago, intestinos e do ouvido médio, provocando uma redução no seu volume. No estômago
e intestino, essa redução não implica qualquer problema, mas no ouvido causa o esmagamento da tuba
auditiva e a ligação com as vias aéreas é cortada causando a flexão do tímpano e consequentemente

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dor. Torna-se necessário a introdução de ar para trazer de volta o volume do ouvido médio para sua
dimensão original e o tímpano para sua posição natural.

Na subida, onde a pressão interna torna-se maior que a externa, o simples fato de expirar o ar,
já faz com que o mergulhador equilibre novamente as pressões. Importante observar que, para ambos
os casos, considera-se a trompa de Eustáquio do mergulhador em boas condições.

3.2.5.1.1 - Manobras de Equalização

Existem 9 diferentes técnicas de equalização, assim como várias dicas de como alcançar a
efetiva pressurização do ouvido médio. A tuba auditiva, até a pouco tempo chamada de Trompa de
Eustáquio, foi identificada, pela primeira vez, por Bartolomeo Eustachio, médico italiano, por volta de
1500. Com aproximadamente 3,8 centímetros de comprimento, ela se situa atrás da nasofaringe (a
parte superior da faringe, ou garganta, próxima das passagens nasais), ao nível das narinas. A trompa
normalmente é fechada, mas desobstruída. Fatores como seu ângulo e forma influenciam as
obstruções e a tolerância a mudanças de pressão. Alergias, traumas, infecções e outros fatores também
podem causar obstruções.
Parte da tuba está sob direta influência das alterações de pressão do sistema respiratório.
Quando se engole, os músculos do palato puxam e abrem-na, enquanto fecham a nasofaringe. Engolir
causa a abertura dos tecidos úmidos da tuba, causando um "click" ou estalo. Se um mergulhador ouve
um pequeno estalo ao engolir, significa que a tuba se abriu.Variações individuais explicam porque
alguns nunca têm problemas em equalizar adequadamente o ouvido médio ao mergulhar, enquanto
outros (com tubas auditivas mais finas ou parcialmente obstruídas) podem sentir maior ou menor
dificuldade. Estes últimos podem mergulhar com segurança, mas devem prestar maior atenção e ter
maior cuidado com sua equalização. Para aqueles com dificuldades de equalização, o posicionamento
na coluna d’água é extremamente importante. Uma posição de cabeça para baixo durante a descida
compromete uma tuba medianamente obstruída e dificulta a equalização. Assim, mergulhadores com
histórico de problemas de ouvido, mergulhadores "tímidos" e aqueles sem muita certeza se seus
ouvidos médios equalizarão devem iniciar seus mergulhos vagarosamente, com os pés para baixo.
Alguns mergulhadores ficam apreensivos com a equalização. Aos não familiarizados, pressão no
ouvido médio e estalidos podem ser desconcertantes, resultando em tentativas e cautelosas manobras
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de equalização. Uma tuba auditiva parcialmente obstruída limita a habilidade de equalizar


adequadamente durante um mergulho.

Vigorosa mas não forçada, a equalização deve começar na superfície, onde não há pressão
atuando sobre o tímpano. Dessa forma, uma leve pré-pressurização do ouvido médio, inflando-se a
tuba auditiva previamente à descida, é alcançada. Essa pré-pressurização permite que o ar entre na
tuba e passe para dentro do ouvido. Se não for feita e a tuba for espremida por pressão durante a
descida, será necessário aplicar muita pressão para inflá-la novamente, o que não ocorre com a pré-
pressurização. Assim, recomenda-se que esta seja feita sempre, antes da descida.
Antes de aplicar técnicas de equalização, deve-se verificar a adequação da pressurização. Para
tanto, usa-se a técnica de pinçar as narinas bem baixo no nariz. Um bom, forte esforço de
pressurização, faz com que os tecidos acima da ponta dos dedos que estão pinçando a narina inflem,
formando um "balãozinho", indicando o esforço aplicado na tuba auditiva. Se o mergulhador não
acusa o estalo nos ouvidos ao tentar equalizar, não deve mergulhar. A seguir, as nove técnicas de
equalização existentes:
Técnicas simples - As mais simples técnicas são aquelas de bocejar, engolir em seco, mover a
mandíbula e balançar a cabeça. Embora muito eficientes para um mergulhador com tubas auditivas
livres, desimpedidas e sem problemas de equalização, são ineficazes para aquele que tenha mesmo
uma obstrução leve. Assim, devem ser utilizadas em combinação com alguma das outras técnicas.

Manobra de Frenzel - Fechar as cordas vocais por meio do pinçamento das narinas e manter a
epiglote fechada para comprimir ar no fundo da garganta. Pode ser feita em qualquer ponto do ciclo
respiratório, não inibe o retorno do sangue venoso ao coração, é rápida e pode ser repetida várias
vezes em intervalos curtos.
Manobra de Valsalva - É a manobra mais fácil de ser executada e a que tem maior eficiência.
Com as narinas pinçadas, aumente a pressão soprando contra as narinas e mantendo os músculos da
bochecha contraídos, sem inflá-las. Algum cuidado é requerido, pois esforço demasiado e prolongado
pode fazer com que os tecidos à volta das trompas inchem, dificultando a equalização, bem como
pode causar diminuição no retorno do sangue venoso ao coração, baixando a pressão sangüínea.

Manobra de Valsalva Manobra de Frenzel

Manobra de Toynbee - Com as narinas pinçadas, engula em seco, fazendo com que as
trompas se abram. Não recomendada para descidas rápidas.
Manobra BTV (Beance Tubaire Voluntaire) - Consiste em contrair os músculos do palato
ao mesmo tempo em que os músculos superiores da garganta abrem a tuba auditiva.

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Manobra de Roydhouse - Similar à BTV, com a diferença de que não se contraem os


músculos do palato. Também apresenta elevado grau de dificuldade na sua aprendizagem e utilização.

Técnica de Edmonds - Essa técnica combina a manobra de Valsalva ou a manobra de Frenzel


com movimentação da mandíbula e inclinação de cabeça para os lados.
Técnica de Lowry - Combinação de pressurização (Valsalva ou Frentzel) com engolir em
seco. Prática e coordenação são requeridas para pinçar as narinas, aumentar a pressão (soprar) e
engolir, mas é uma técnica muito efetiva.
Manobra “Twitch” - Usando a Valsalva ou a Frentzel, entortar bruscamente a cabeça para os
lados.

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CAPÍTULO 4 - TIPOS DE MERGULHO

4.1 - MERGULHO LIVRE

O mergulho livre ou de apnéia consiste no mergulho sem o auxílio de equipamentos de


respiração subaquática. O mergulhador depende exclusivamente de sua capacidade pulmonar,
preparação física e principalmente do controle emocional.

4.2 - MERGULHO AUTÔNOMO

Também conhecido como SCUBA (Self Contained Underwater Breathing Apparatus), é a


técnica de mergulho na qual o suprimento de ar necessário à respiração é levado pelo mergulhador em
ampolas, sendo exalado direta e completamente para o meio líquido. Pode ser empregada na
realização de buscas e resgate de vítimas e bens. Apresenta como vantagens relevantes: a rapidez em
equipar, a portabilidade do equipamento, a necessidade de estrutura mínima de apoio, possibilita
controle da profundidade pelo mergulhador, excelente grau de mobilidade e desembaraço. Como
desvantagens, a técnica de mergulho autônomo apresenta: suprimento limitado de ar, resistência à
respiração, que impõe limitação ao esforço desenvolvido pelo mergulhador, proteção física limitada e,
em geral, ausência de comunicação oral ou de qualquer espécie com a superfície.

4.3 - MERGULHO DEPENDENTE

Técnica de mergulho na qual o suprimento de ar necessário à respiração é levado ao


mergulhador por meio de mangueiras (umbilicais), a partir da superfície, sendo exalado direta e
completamente para o meio líquido.

O mergulho dependente não é praticado por mergulhadores amadores ou esportistas, uma vez
que, como não há limitação de ar para a permanência do homem sob a água, facilmente os limites não
descompressivos do mergulho acabam sendo ultrapassados, exigindo assim diversas paradas
programadas para descompressão. Ademais, uma interrupção no fornecimento de ar para o
mergulhador pode ser fatal, dependendo da profundidade e do tempo que se encontra mergulhando.

O mergulho dependente é largamente utilizado por profissionais, especialmente os que


trabalham em plataformas de petróleo e na construção civil.

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CAPÍTULO 7 - SINAIS DE MERGULHO


Os sinais de mergulho são as ferramentas utilizadas pelos mergulhadores para comunicarem-se
embaixo d´água. Apesar de existirem equipamentos com sistema de fonia acoplado, que permitem a
comunicação oral, ainda é o meio de comunicação mais utilizado.
Algumas regras devem ser obedecidas quando se trata dos sinais:

- O dupla do mergulhador deve sempre responder ao sinal recebido, mesmo o tendo


compreendido perfeitamente;

- O mergulhador só deve executar uma ação após o dupla ter respondido o sinal recebido.

Seguem abaixo os principais sinais de mergulho utilizados em mergulhos diurnos e noturnos,


estando a água com boa visibilidade.

Ok de superfície c/ duas mãos Ok de superfície c/ uma mão Ok c/ luvas


Ok

Subir Descer Algo não vai bem Problema p/ compensar

Compensar Pouco Ar Sem Ar Compartilhar o Ar

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SINAIS DE MERGULHO (CONTINUAÇÃO)

Devagar ou Calma Manter a profundidade Incompreensão Perigo

Eu Venha Que direção seguir? Vou à frente, você me segue

Seguir a direção Dar as mãos Ficar junto ao dupla Pare

Frio Reunir Preciso de Ajuda Vertigem ou Tontura

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SINAIS DE MERGULHO (CONTINUAÇÃO)

Chamar atenção Problema (c/lanterna) Ok (c/lanterna) Sinais c/ lanterna (dupla perto)

Um Dois Três Quatro

Cinco Seis Sete Oito

Nove Zero

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CAPÍTULO 8 - TIPOS DE ENTRADA NA ÁGUA

Existem várias técnicas de entrada na água. Alguns fatores devem ser levados em consideração
ao se fazer a escolha da melhor técnica, como altura do barco, força do mar, profundidade do local,
tipo de equipamento que se utiliza, etc.

ENTRADA EM PÉ “PASSO DO GIGANTE”

ENTRADA DE COSTAS

ENTRADA SENTADO NA BORDA

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CAPÍTULO 9 - ACIDENTES DE MERGULHO

9.1 - PROBLEMAS RESPIRATÓRIOS NO MERGULHO


Problemas fisiológicos geralmente ocorrem quando mergulhadores são expostos ao aumento
ou redução de pressão na água. No entanto, algumas das dificuldades relacionadas ao processo
respiratório podem ocorrer a qualquer momento por conta de um suplemento inadequado de oxigênio
ou uma remoção inadequada de dióxido de carbono das células teciduais. Felizmente, o mergulhador
possui reservas fisiológicas naturais para adaptar-se as mudanças do ambiente, somente não se
adaptando a pequenas alterações.

9.1.1 - HIPÓXIA

É uma deficiência anormal de oxigênio no sangue arterial. Hipóxia severa impedirá o


funcionamento normal das células, podendo eventualmente matá-las. O cérebro é o órgão mais
vulnerável no corpo humano, aos efeitos da hipóxia.

A pressão parcial de oxigênio determina a quantidade média de oxigênio adequada na


respiração. Quando a PPO2 fica abaixo de 0,16 ATA, dá-se início aos sintomas de hipóxia. A maioria
dos indivíduos desenvolvem hipóxia conscientemente a PPO 2 de 0,11 ATA e inconscientemente a
0,10 ATA. Abaixo deste nível, danos cerebrais permanentes e morte eventual podem ocorrer. No
mergulho, um percentual baixo de oxigênio bastará enquanto a pressão total for suficiente para manter
uma PPO2 adequada. O cuidado maior nesse caso, ocorre na subida do mergulho.

Causas de Hipóxia: As causas de hipóxia variam, mas todas interferem no suprimento normal
de oxigênio para o corpo. Para mergulhadores, a interferência na demanda de oxigênio pode ser
causada por:

- Disposição imprópria de gases respiráveis resultando em baixa pressão parcial de oxigênio no


suprimento de gás;

- Bloqueio de todas as partes de passagem de ar provocado por vômito, secreção, água ou


objetos estranhos;

- Paralisia dos músculos respiratórios por conta de lesão na medula espinhal;

- Colapso no pulmão devido a um pneumotórax;

- Acúmulo de fluido nos tecidos do pulmão (edema pulmonar), devido ao mergulho em água
fria, inalação de água em casos de afogamento ou acúmulo excessivo de bolhas de gás venosas nos
pulmões durante a descompressão. A última condição é conhecida como “estado de choque”.

- Envenenamento por monóxido de carbono. Este gás interfere no transporte de oxigênio pela
hemoglobina nas células vermelhas do sangue e bloqueia a utilização de oxigênio neste nível celular.

- Respiração Presa. Quando o mergulhador prende a respiração, a pressão parcial de oxigênio


nos pulmões cai progressivamente enquanto o corpo continua a consumir oxigênio. Caso a respiração
seja presa por muito tempo, hipóxia irá ocorrer.

Sintomas de Hipóxia: Sintomas de hipóxia incluem:

- Perda na capacidade de julgamento;

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- Falta de concentração;

- Falta de controle muscular;

- Inabilidade de executar tarefas que requeiram habilidades;

- Sonolência

- Fraqueza;

- Agitação;

- Euforia;

- Perda de Consciência.

Quando a hipóxia ocorre, a pulsação e pressão arterial aumentam na medida em que o corpo
tenta compensar os efeitos através de uma maior circulação sanguínea. Uma pequena redução na taxa
respiratória pode ocorrer. Pode haver cianose nos lábios, pontas dos dedos e na pele. Este caso pode
não ser um indicador de hipóxia, pois os mesmos sinais podem ocorrer por uma longa exposição a
águas frias.

Tratamento de Hipóxia: Um mergulhador sofrendo hipóxia severa necessita ser resgatado


imediatamente, devendo ser procedidos os primeiros socorros e administração de oxigênio a 100%.
Caso a hipóxia seja causada por uma mistura inadequada de gases, o simples fato de trazê-lo a
superfície pode ser suficiente.

9.1.2 - HIPERCAPNIA

É um alto nível de dióxido de carbono no sangue e nos tecidos do corpo humano.

Causas de Hipercapnia: Em operações de mergulho, trata-se do resultado do acúmulo de


dióxido de carbono no processo respiratório ou um volume respiratório inadequado. As principais
causas são:

- Alto nível de dióxido de carbono no ar lançado do compressor para o cilindro;

- Falha nos canais de absorção de dióxido de carbono;

- Ventilação inadequada dos pulmões em relação a atividade realizada, que pode ser causada
por um aumento na quantidade de espaços mortos no equipamento, resistência respiratória ou aumento
na pressão parcial de oxigênio.

Sintomas de Hipercapnia: A hipercapnia afeta o cérebro de forma diferente da hipóxia. No


entanto, pode resultar em sintomas semelhantes, que incluem:

- Aumento na frequência respiratória;

- Falta de ar, sensação de dificuldade respiratória ou sufocamento (dispnéia);

- Confusão ou sensação de euforia;

- Inabilidade de concentração;

- Sonolência;
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- Dor de cabeça;

- Perda de consciência;

- Convulsão.

O aumento no nível de dióxido de carbono no sangue estimula o centro respiratório a aumentar


o volume e taxa respiratória, assim como a pulsação. Na superfície, o aumento da taxa respiratória é
facilmente notado, sendo suficiente para alertar a vítima antes que o aumento da taxa de PPCO 2
torne-se perigoso. Este não é o caso do mergulho, onde fatores como a temperatura da água, trabalho
sub, aumento na resistência respiratória e uma elevada taxa de PPO 2 na mistura gasosa produzem
mudanças na respiração que mascaram as mudanças causadas pelo excesso de dióxido de carbono.

O excesso de CO2 também dilata as artérias do cérebro. Isso explica, em parte, as dores de
cabeça associadas à intoxicação pelo dióxido de carbono, sendo que essas dores são mais prováveis de
ocorrer depois da exposição excessiva. O aumento no fluxo sanguíneo pelo cérebro, que resulta na
dilatação das artérias, explica porque o excesso de dióxido de carbono acelera o início da toxicidade
do SNC pelo oxigênio.

Os efeitos da narcose pelo nitrogênio e hipercapnia são complementares. O mergulhador sob


influência da narcose, provavelmente não irá notar os avisos de intoxicação pelo CO 2, que irá
intensificar os sintomas de narcose.

Tratamento de Hipercapnia:

- Redução do nível de esforço a fim de dimunir a produção de CO 2;

- Aumento na ventilação pulmonar a fim de eliminar o excesso de CO2;

- Mudar a fonte respiratória ou abortar o mergulho caso o problema seja por falha no
equipamento;

Em caso de dúvida sobre os sintomas serem decorrentes de hipercapnia ou hipóxia, deve-se


considerar a segunda opção, uma vez que esta causa danos mais severos ao cérebro.

Prevenção de Hipercapnia: A prevenção se dá garantindo a qualidade do gás oriundo do


compressor, certificando-se que o mesmo não contém excesso de dióxido de carbono.

9.1.3 - ASFIXIA

É uma condição onde a respiração para e, tanto hipóxia quanto hipercapnia, ocorrem
simultaneamente. Acontecerá quando não houver gás para respirar, quando as vias aéreas estiverem
obstruídas, quando os músculos respiratórios paralisarem ou quando o centro respiratório deixar de
enviar impulsos para a respiração. Ficar sem ar no mergulho é a principal causa de asfixia.
Mergulhadores inconscientes no fundo, como resultado de hipóxia, hipercapnia ou intoxicação pelo
oxigênio, podem perder o bocal do 2º estágio do regulador e sofrerem asfixia. Obstrução nas vias
aéreas pode ser causada por um ferimento na traquéia, queda para trás da língua ou inalação de água,
saliva, vômito ou objeto estranho. Pode ocorrer paralisia nos músculos respiratórios por um ferimento
na espinha medular devido a um trauma ou doença descompressiva. O centro respiratório no cérebro
pode tornar-se não-funcional durante um episódio prolongado de hipóxia.

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9.1.4 - AFOGAMENTO

É a entrada de grande quantidade de líquido através das vias respiratórias. É um acidente


causado pela imersão prolongada de um animal em um meio líquido, gerando asfixia (falta de
oxigênio e excesso de gás carbônico). A baixa quantidade de O 2 e alta de CO2 no sangue levam a
morte celular em poucos minutos, causando lesões irreversíveis.

Classificações mais comuns:  Afogado branco - a função do coração para antes que a
função do pulmão;

 Afogado azul ou verdadeiro - a função pulmonar para


antes que a cardíaca.

Sintomas de Afogamento:

- Inconsciência;

- Edema Pulmonar;

- Aumento na taxa respiratória.

Tratamento de Afogamento: Consiste em usar o método de RCP (ressucitação cardio-


pulmonar), que engloba insuflação artificial e massagem cardíaca.

Estes procedimentos deverão ser feitos até a chegada de um médico que confirme a morte da
vítima, se for o caso. Já ocorreram casos de melhora depois de uma hora de ventilações. Deve-se
observar ainda:
- Se o tempo de fundo do mergulhador exigir parada para descompressão, a insuflação
artificial e a massagem cardíaca devem ser feitas numa câmara. O tratamento hiperbárico também não
pode ser esquecido;
- O resgate de um mergulhador afogado e inconsciente no fundo deve ser feito comprimindo
seu tórax e elevando seu queixo para a saída do ar. Esse procedimento evita a SHP;
- Se o coração da vítima estiver funcionando não será necessária a massagem cardíaca, apenas
a insuflação artificial;
- Caso a vítima esteja com os pulmões muito cheios de água, a cabeça deve ser inclinada para
um dos lados, para que o líquido seja expelido pela boca
- É mais importante colocar ar dentro dos pulmões do afogado do que retirar o resto de água
que ainda está retida nos pulmões;
- A administração de oxigênio a 100% ajuda na melhora da vítima;
- O tratamento das consequências do afogamento deverá ser feito por pessoas capacitadas
(médicos e enfermeiros) em locais adequados;
- A vítima deve ser constantemente mantida aquecida.
9.1.5 - ENVENENAMENTO POR MONÓXIDO DE CARBONO

O corpo produz monóxido de carbono como parte do processo normal do metabolismo.


Consequentemente, sempre há uma pequena quantidade de CO presente no sangue e tecidos. O
envenenamento ocorre quando o nível de monóxido de carbono no sangue e tecidos atinge um nível
superior aos valores normais, devido a presença deste gás no suprimento gasoso do mergulhador. O

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monóxido de carbono não somente bloqueia a habilidade da hemoglobina de entregar oxigênio para as
células, causando hipóxia celular, como também envenena o metabolismo celular diretamente.

Causas de Envenenamento por Monóxido de Carbono: CO não é encontrado em


quantidade significante no ar atmosférico. O envenenamento é usualmente causado pelo compressor
próximo a algo que esteja gerando monóxido de carbono ou um mau funcionamento do óleo
lubrificante no compressor. Concentrações de 0,002 ATA podem ser fatais.

Sintomas de Envenenamento por Monóxido de Carbono: Os sintomas de envenenamento


são praticamente idênticos aos da hipóxia. Quando a toxicidade se desenvolve gradualmente, os
sintomas são:

- Dor de cabeça;

- Tontura;

- Confusão;

- Náusea;

- Vômito;

Quando concentrações de monóxido de carbono são grandes o suficiente para dar início ao
envenenamento, a inconsciência pode apresentar-se como primeiro sintoma.

O envenenamento é particularmente traiçoeiro pelo fato dos sintomas não ocorrerem até o
momento em que o mergulhador iniciar a subida do mergulho. Quando em profundidade, a grande
pressão parcial de oxigênio no suprimento de gás força mais oxigênio na solução no plasma
sanguíneo. Parte deste oxigênio adicional penetra nas células e ajuda a compensar a hipóxia. Além
disso, o aumento na pressão parcial de oxigênio forçadamente dissipa uma parte do monóxido de
carbono da hemoglobina. Durante a subida, no entanto, como a PPO2 diminui, o efeito completo do
envenenamento por CO é sentido.

Tratamento de Envenenamento por Monóxido de Carbono: O tratamento imediato quando


ocorre o envenenamento consiste em levar o mergulhador a um ambiente contendo ar fresco e
oferecer suporte médico. Oxigênio a 100% deve ser administrado imediatamente e durante o
transporte da vítima a um centro médico ou hiperbárico. A melhor escolha é um tratamento
hiperbárico a base de oxigênio. O transporte não deve ser demorado a não ser que a vítima esteja bem
estabilizada. Vítimas com sintomas severos, como forte dor de cabeça, alteração mental, sintomas
neurológicos, etc., necessitam ser tratados com a tabela de tratamento 6.

Prevenção de Envenenamento por Monóxido de Carbono: Montar o compressor de ar


longe de máquinas geradoras de CO é a melhor maneira mecânica de prevenir o envenenamento.

9.2 - BAROTRAUMAS
Resultam quando o diferencial de pressão entre as cavidades corporais e a pressão hidrostática
circundante, ou entre o corpo humano e o equipamento de mergulho, não são equalizados
adequadamente. Barotraumas mais frequentes ocorrem durante a descida, mas também podem ocorrer
durante a subida.

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BAROTRAUMAS NA DESCIDA

9.2.1 - BAROTRAUMA DE OUVIDO MÉDIO

É o tipo mais comum de barotrauma. De acordo com a anatomia do ouvido, o tímpano veda
completamente o ouvido externo do espaço existente no canal do ouvido médio. Quando o
mergulhador desce, a pressão hidrostática aumenta na superfície externa do ouvido. Para compensar
este aumento, a pressão interna precisa atingir a superfície interna do tímpano. Isto é realizado pela
passagem de ar pela Trompa de Eustáquio que leva esta pressão das vias aéreas até o espaço do
ouvido médio. Quando a Trompa de Eustáquio está bloqueada por mucos (geralmente causada por
resfriados), associada ao aumento da pressão, o tímpano é alongado para dentro e inicialmente ocorre
a equalização da pressão pela compressão do gás no ouvido médio. Há um limite para esta capacidade
de alongamento do tímpano e logo a pressão interna torna-se menor do que a pressão externa da água,
criando um vácuo no espaço do ouvido médio. Esta pressão negativa faz com que os vasos sanguíneos
do tímpano e o revestimento do ouvido médio expandam primeiramente, depois vazem e finalmente
rompam. Caso a descida continue, há o rompimento do tímpano, permitindo que ar ou água entrem no
ouvido médio, ou ainda o rompimento dos vasos sanguíneos fazem com que ocorra uma hemorragia,
que equalizarão a pressão interna.

A principal marca do barotrauma de ouvido médio é uma dor aguda causada pelo alongamento
do tímpano. A dor produzida antes da ruptura geralmente torna-se intensa o suficiente para prevenir
que o mergulhador continue descendo. O simples fato de interromper a descida e subir alguns metros
é o suficiente para amenizar a dor.

Se a descida continuar, a despeito da dor, o tímpano pode romper. Quando isto ocorre, a dor irá
diminuir rapidamente. Caso o mergulhador não esteja utilizando um capuz que forneça boa proteção, a
cavidade do ouvido médio estará exposta a entrada de água. Esta exposição possivelmente causará
uma infecção no ouvido médio, impedindo o mergulhador de mergulhar novamente até que o dano
esteja curado. A ruptura faz com que o mergulhador experimente um rápido e violento episódio de
vertigem, desorientando-o e causando náusea e vômito.

Prevenção de Barotrauma de Ouvido Médio: Mergulhar com a Trompa de Eustáquio


parcialmente obstruída aumenta a probabilidade de um barotrauma. Mergulhadores que não
conseguem compensar na superfície não devem mergulhar. Estes devem realizar um exame médico
para detectarem o problema e possível solução. A compensação é a melhor maneira de prevenção
durante o mergulho. Compense o ouvido antes do aumento de pressão. Caso o mergulhador demore
muito a compensar, a diferença de pressão externa e interna torna-se tão grande que causa bloqueio na
Trompa de Eustáquio. Em alguns mergulhadores, a Trompa de Eustáquio permanece constantemente
aberta, não sendo necessário, nesse caso, a compensação, o que não é o caso da maioria dos
mergulhadores.

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AVISO: Nunca faça uma manobra de compensação forçada durante a descida. Uma
manobra forçada pode resultar em uma vertigem alternobárica, que é causada por oscilações de
pressão no ouvido médio, associado a dificuldades de compensação.

AVISO: No caso de uso de descongestionantes para mergulho, confira com um médico


especialista em medicina hiperbárica para que seja receitada uma medicação que não cause
sonolência e possibilidades de aumento dos sintomas de narcose pelo nitrogênio.

Tratamento de Barotrauma de Ouvido Médio: Após chegar a superfície com os sintomas de


barotrauma, o mergulhador poderá queixar-se de dor, perda de audição ou eventual vertigem.
Ocasionalmente, o mergulhador pode ter um sangramento nasal, resultado do sangue sendo forçado
para fora do espaço do ouvido médio para a cavidade nasal, pela Trompa de Eustáquio. Os sintomas
devem ser relatados a equipe médica responsável. O tratamento consiste no uso de
descongestionantes, medicamento para dor, além da proibição de mergulhar até que a lesão esteja
curada. No caso de rompimento do tímpano, pode haver a prescrição de antibióticos, nunca devendo
haver administração de medicamentos diretamente no ouvido externo, a não ser sob orientação de um
médico especialista.
9.2.2 - BAROTRAUMA DE OUVIDO EXTERNO

O mergulhador que utiliza protetores auriculares possui infecção no ouvido externo ou utiliza
um capuz muito apertado, pode desenvolver barotrauma de ouvido externo. Ocorre quando o gás
preso no canal do ouvido externo permanece sob pressão atmosférica enquanto a pressão hidrostática
aumenta durante a descida. Neste caso, o tímpano é empurrado para fora, em uma tentativa de
equalizar a diferença de pressão, podendo romper-se. A pele do canal incha e entra em hemorragia,
causando dor considerável.

Protetores de ouvido não devem ser usados para mergulhar, pois podem ser forçados para o
interior do canal do ouvido. Quando se utilizar um capuz, o mesmo deve permitir a entrada de ar para
que a pressão seja equalizada adequadamente.

9.2.3 - BAROTRAUMA DOS SEIOS DA FACE

Quando a pressão de ar nos seios da face é menor do que a pressão aplicada aos tecidos ao
redor desses espaços incompressíveis, o mesmo efeito relativo é produzido como se um vácuo tivesse
sido criado dentro dos seios. Este processo representa o esforço natural de equilibrar a pressão
negativa através do preenchimento do espaço com tecido inchado, fluidos e sangue. A dor produzida
pode ser intensa o suficiente para impedir o mergulhador de continuar descendo. A não ser que os
sintomas já estejam ocorrendo, o retorno a uma pressão normal trará alívio imediato Se dificuldades
forem encontradas durante o mergulho, o mergulhador pode apresentar uma pequena quantidade de
sangramento nasal ao atingir a superfície.

Prevenção de Barotrauma dos Seios da Face: Mergulhadores não devem mergulhar caso
sinais de congestão nasal ou resfriado sejam evidentes. Os efeitos do barotrauma podem ser limitados
durante o mergulho se, descer controladamente e subir alguns metros para restaurar o equilíbrio das
pressões. Caso o mergulhador não consiga compensar durante o mergulho, este deve ser abortado.
9.2.4 - BAROTRAUMA DENTAL

Ocorre quando o mergulhador apresenta cavidades nos dentes, geralmente causados por cáries
ou tratamentos de canal mal realizados. A pressão de ar penetra nessas cavidades, gerando dor.
Acontece tanto na subida quanto na descida e não permite equalização. A prevenção se dá a partir de
visitas periódicas ao dentista.

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9.2.5 - BAROTRAUMA TORÁCICO

Quando se faz um mergulho em apnéia, é possível atingir uma profundidade em que o ar preso
nos pulmões é comprimido a um volume menor do que seu volume residual. Neste volume, a parede
torácica torna-se rígida e incompressível. Caso o mergulhador continue descendo, a pressão adicional
é incapaz de comprimir esta parede, forçando sangue adicional aos vasos sanguíneos no tórax ou
elevando mais o diafragma. A pressão nos pulmões torna-se negativa em relação a pressão
hidrostática. A lesão toma forma de barotrauma.
Em um mergulho dependente, o mergulhador que sofre perda de pressão do gás respirável ou
rompimento da mangueira com falha na válvula de não-retorno, pode sofrer barotrauma torácico, caso
sua profundidade seja grande o suficiente para que a pressão da água comprima seu tórax.

Os sintomas de barotrauma torácico incluem sensação de opressão e dor no tórax durante a


descida. Na superfície, falta de ar, desconforto, tosse, eliminação de espuma rosada pela boca,
inconsciência.

OBS: Competidores de mergulho de apnéia dinâmica conseguem atingir profundidades abaixo


do limite natural do ser humano, por conta de um processo conhecido como Sistema de Imersão
Profunda dos Mamíferos. Esse processo funciona da seguinte maneira: ao ser atingida a
profundidade de 40 metros (faixa onde, provavelmente, se daria o barotrauma torácico), por alguma
razão de diferença de pressão entre o interior do pulmão e a pleura, começa a haver um fluxo de
sangue para o interior dos alvéolos. O sangue é um líquido e os líquidos são incompressíveis. Esta
incompressibilidade sustenta o esmagamento que se daria na caixa pulmonar e o mergulhador, então,
consegue ultrapassar a profundidade crítica.

9.2.6 - BAROTRAUMA CORPORAL OU FACIAL

Máscaras de mergulho e certos tipos de roupas de exposição podem causar barotrauma sob
certas condições. Exalar pelo nariz pode equalizar a pressão dentro da máscara, não sendo possível a
manobra em óculos de natação. Caso essa pressão não seja equalizada, ocorre o barotrauma facial. O
desequilíbrio de pressão causa um efeito de ventosa sobre a face e olhos. Os olhos e os tecidos da
cavidade ocular são as áreas mais afetadas. No caso de roupas de exposição, o ar pode ficar preso na
dobra da roupa e pode conduzir a um desconforto e provavelmente um caso menor de hemorragia na
pele. Sintomas envolvem esmagamento do corpo ou equimoses localizadas em regiões de dobras
corporais (cotovelos, joelhos, etc.).

BAROTRAUMAS NA SUBIDA

Durante a subida, os gases expandem de acordo com a Lei de Boyle. Caso o excesso do gás
não seja ventilado desses espaços fechados, danos a estes espaços podem ocorrer.

9.2.7 - BAROTRAUMA REVERSO DE OUVIDO MÉDIO

O gás que se expande dentro do ouvido médio durante a subida, normalmente é ventilado para
fora pela Trompa de Eustáquio. Caso haja alguma obstrução na Trompa, a pressão no ouvido médio
em relação a pressão hidrostática torna-se maior. Para aliviar essa pressão, o tímpano é forçado para
fora, causando dor. Se o excesso de pressão for significante, pode haver a ruptura do tímpano que,
caso ocorra, irá equalizar as pressões, fazendo com a dor desapareça. No entanto, pode haver um
episódio intenso de vertigem quando a água penetrar no ouvido médio.

O aumento da pressão no ouvido médio pode causar os seguintes efeitos:

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- Vertigem Alternobárica de Subida: Condição em que o balanço do mecanismo do ouvido


interno é afetado. Ocorre quando o espaço do ouvido médio de um lado está com excesso de pressão,
enquanto o outro está equalizado normalmente. O início da vertigem geralmente é súbito e pode ser
precedida por dor no ouvido que estiver com excesso de pressão. Esta condição desaparece
imediatamente caso o mergulhador interrompa a subida e desça alguns metros.

- Paralisia nos músculos faciais: O excesso de pressão pode cortar o suprimento de sangue
para os nervos faciais, causando interrupção na transmissão de impulsos neurológicos no lado afetado
dos músculos faciais. Geralmente, 10 a 30 minutos de excesso de pressão são necessários para os
sintomas ocorrerem. As funções normais desses músculos retornam ao normal, cerca de 5 a 10
minutos após o excesso de pressão ser ventilado.

O mergulhador incapaz de compensar os ouvidos está mais propenso a desenvolver


barotrauma reverso de ouvido médio. Não há uma maneira efetiva de compensar os ouvidos na
subida. Não se deve realizar a manobras de compensação, pois somente irá aumentar a pressão no
ouvido médio, que é justamente o contrário do que é requerido. A realização de uma manobra na
subida pode acabar desenvolvendo uma embolia arterial gasosa. Caso a dor no ouvido ou vertigem
desenvolva-se na subida, o mergulhador deve interrompê-la e descer alguns metros até o alívio dos
sintomas, voltando a subir de forma mais vagarosa. Várias tentativas podem ser necessárias para que o
mergulhador suba em segurança. Caso sintomas como perda de audição ou vertigem apareçam durante
ou logo após a subida, pode ser impossível determinar se os sintomas são oriundos de um barotrauma
de ouvido interno, doença descompressiva ou embolia arterial gasosa. A recompressão é sempre
indicada, a não ser que haja total certeza de que o sintoma seja causado por um barotrauma de ouvido
interno.

9.2.8 - BAROTRAUMA REVERSO DOS SEIOS DA FACE

O excesso de pressão é causado quando o gás está preso no interior dos seios. Uma dobra na
membrana que reveste os seios, um cisto ou um excremento na membrana dos seios, pode atuar como
uma válvula de retenção, impedindo o gás de deixar os seios durante a subida. Forte dor na área
afetada dos seios é o resultado desse aumento de pressão, que é suficiente para que o mergulhador
interrompa a subida. Esta é imediatamente aliviada caso o mergulhador desça alguns metros, devendo
o mesmo subir de forma mais vagarosa, assim como no caso do barotrauma reverso de ouvido médio.

Quando o excesso de pressão ocorre nos seios maxilares, o suprimento de sangue para o nervo
infra-orbital pode ser reduzido, levando a dormência da pálpebra inferior, lábio superior ou um lado
do nariz e da bochecha.

9.3 - SÍNDROME DA HIPEREXPANSÃO PULMONAR (SHP)


É um grupo de barotraumas causado pela expansão do gás preso nos pulmões durante a subida
ou excesso de pressão nos pulmões com subsequente hiperexpansão e ruptura dos sacos alveolares.
Também pode ocorrer caso o mergulhador pressione o botão de purga do segundo estágio do
regulador e respire o ar pressurizado. As duas principais causas de ruptura alveolar são:

- Pressão excessiva no interior dos pulmões causado pela pressão positiva;

- Falha no processo de liberação dos gases dos pulmões durante a subida.

Hiperexpansão pulmonar causada quando o gás não consegue escapar dos pulmões durante a
subida, pode ocorrer quando o mergulhador, voluntária ou involuntariamente, prende a respiração
durante a subida. Obstruções pulmonares que causem retenção de ar, como asma ou secreções
oriundas de pneumonia ou forte resfriado, são outras causas. As condições que levam a estes

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incidentes são diferentes das que produzem barotrauma torácico e frequentemente ocorrem durante
uma subida livre ou boiada ou em subidas de emergência.

As manifestações clínicas da hiperexpansão pulmonar dependem do local para onde as bolhas


de ar se desloquem. Em todos os casos, o primeiro passo é a ruptura dos alvéolos com a liberação
concentrada de ar para os tecidos pulmonares, condição conhecida como enfisema intersticial. Este
enfisema não apresenta sintomas a não ser que mais distribuição de ar ocorra. O gás pode encontrar
um caminho pela cavidade torácica ou pela circulação arterial.
HIPEREXPANSÃO PULMONAR

RUPTURA ALVEOLAR

ENFISEMA PULMONAR INTERSTICIAL

EMBOLIA ARTERIAL GASOSA PNEUMOTÓRAX


PNEUMOMEDIASTINO

ENFISEMA SUBCUTÂNEO

9.3.1 - EMBOLIA ARTERIAL GASOSA

A embolia arterial gasosa, por vezes chamada somente de embolia, consiste na obstrução do
fluxo sanguíneo causada por bolhas gasosas que penetram na circulação arterial. Obstrução das
artérias do cérebro e do coração pode levar à morte caso não sejam prontamente tratadas.

Causas de Embolia Arterial Gasosa: É causada pela expansão do gás nos pulmões enquanto
se respira sob pressão e a mesma é retida durante a subida. Essa retenção pode ser causada por uma
apnéia voluntária (situação de pânico) ou pelo bloqueio das passagens de ar (lesão pulmonar). Caso
haja certa quantidade de gás que se expanda o suficiente, a pressão forçará o gás pela parede alveolar
para dentro dos tecidos circundantes e para dentro da circulação sanguínea. Caso o gás entre na
circulação arterial, irá dispersar-se para todos os órgãos do corpo. Os órgãos mais suscetíveis à
embolia arterial gasosa são o sistema nervoso central e o coração. Em todos os casos de embolia, pode
haver associadamente, pneumotórax.

Artéria carótida

Capilares

Aorta

Coração
Veia
pulmonar

Embolia Arterial Gasosa


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Sintomas de Embolia Arterial Gasosa:

- Inconsciência;

- Paralisia;

- Fraqueza;

- Fadiga extrema;

- Dificuldade de raciocínio;

- Vertigem;

- Convulsões;

- Anormalidade na visão;

- Perda de coordenação;

- Náusea e vômito;

- Anormalidade auditiva;

- Sensação similar de uma pancada no tórax;

- Expectoração com sangue;

- Tontura;

- Mudanças de personalidade;

- Perda de controle das funções corporais;

- Tremores.

Sintomas de enfisema subcutâneo, pneumotórax e pneumomediastino também podem estar


presentes. Em todos os casos de embolia arterial gasosa, a possível presença de condições associadas a
esta não devem ser descartadas.

Tratamento de Embolia Arterial Gasosa:

- Procedimentos gerais de primeiros socorros;

- Administração de oxigênio a 100%;

- Recompressão imediata;

Prevenção de Embolia Arterial Gasosa: O risco de embolia arterial gasosa pode ser
substancialmente reduzido ou eliminado, prestando-se atenção ao que segue:

- Todo mergulhador necessita receber treinamento intenso sobre física e fisiologia do


mergulho, bem como instrução sobre o correto uso dos equipamentos de mergulho.

101
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- O mergulhador nunca deve parar de respirar durante a subida de um mergulho em que houve
a respiração de gás pressurizado;

- O mergulhador deve exalar continuamente durante uma subida de emergência. A taxa de


exalação deve combinar com a taxa de subida. Deve ser dada atenção, em uma subida livre, para a
taxa de exalação não influenciar na flutuabilidade positiva do mergulhador. Em uma subida controlada
(utilização de colete equilibrador ou roupa seca), a taxa de subida deve ser maior do que a de uma
subida livre. A exalação deve ser iniciada antes da subida e deve ser forte, regular e forçada.
9.3.2 - PNEUMOMEDIASTINO E ENFISEMA SUBCUTÂNEO

Pneumomediastino ocorre quando o gás é forçado através do tecido do pulmão rasgado para
dentro dos tecidos mediastinais, na parte mediana do tórax circundante do coração, traquéia e veias
sanguíneas majoritárias.

Enfisema subcutâneo ocorre quando o gás subsequente do pneumomediastino migra para os


tecidos subcutâneos do pescoço. Pneumomediastino é um pré-requisito para enfisema subcutâneo.

Capilares Capilares

Coração Coração

Pneumomediastino Enfisema Subcutâneo

Causas de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: São causados pela hiperexpansão do


todo ou de partes do pulmão, devido a:

- Prender a respiração durante a subida;

- Pressão positiva nos pulmões;

- Tosse durante natação de superfície;

Sintomas de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: Em casos severos, o mergulhador


pode experimentar dor suave ou moderada sob o esterno, geralmente descrito como sensação de
aperto. A dor pode irradiar para o ombro ou costas e pode aumentar em consequência de uma
respiração profunda, tosse ou deglutição. O mergulhador pode ter dificuldade em deglutir, sua voz
pode sofrer alteração, pode haver uma aparente inflação no pescoço e também uma crepitação nesta
região.

Tratamento de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: Suspeita de pneumomediastino


ou enfisema subcutâneo é um aviso de imediata procura a um centro médico, em virtude da
possibilidade de coexistência de embolia arterial gasosa ou pneumotórax. Estas duas últimas
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condições requerem um tratamento mais agressivo. No caso de sintomas suaves de pneumomediastino


ou enfisema subcutâneo, o tratamento consiste na administração de oxigênio a 100%. Em casos mais
graves, uma recompressão rasa pode ser realizada desde recomendada por um centro médico
especializado.

Prevenção de Pneumomediastino e Enfisema Subcutâneo: As estratégias são as mesmas


das adotadas para o caso de embolia arterial gasosa, ou seja, respirar normalmente durante a subida e
exalar continuamente em caso de subida de emergência.
9.3.3 - PNEUMOTÓRAX

Consiste no ar preso no espaço pleural entre o pulmão e a parede torácica.

Causas de Pneumotórax: Ocorre quando há uma ruptura na superfície pulmonar e o ar se


espalha no espaço entre o pulmão e a parede torácica. A ruptura pulmonar pode resultar de um severo
golpe no tórax ou por uma hiperpressurização do pulmão. Manifesta-se a partir do vazamento de uma
porção de ar do pulmão para o tórax, colapsando parcialmente o pulmão e causando variados níveis de
dificuldade respiratória. Esta condição normalmente melhora com o tempo quando o ar é reabsorvido.
Em casos graves de colapso, o ar precisa ser removido com a utilização de um tubo ou catéter.

Em certas instâncias, o dano no pulmão pode permitir que o ar entre mas não consiga sair do
espaço pleural. A respiração sucessiva, gradualmente aumenta a bolsa de ar. Há um aumento
progressivo na tensão ou pressão exercida no pulmão ou coração por conta da expansão do gás. Se
algo errado ocorrer nesse processo, esta pressão pressiona o pulmão envolvido, causando o colapso
completo. O pulmão e depois o coração, são empurrados na direção oposta do tórax, que prejudica a
respiração e a circulação.

Coração

Pneumotórax

Sintomas de Pneumotórax: O começo de um pneumotórax brando é acompanhado de uma


súbita e forte dor no tórax, seguida de falta de ar, batimento cardíaco acelerado, pulso fraco e
ansiedade. Os movimentos normais do tórax, associada com a respiração, podem ser reduzidos no
lado afetado e os sons da respiração podem ser difíceis de detectar com um estetoscópio.

Os sintomas de um pneumotórax grave são similares aos do brando, porém tornam-se


progressivamente intensos com o passar do tempo. Como o coração e pulmões são deslocados para o
lado oposto do tórax, a pressão sanguínea cai juntamente com pressão parcial do oxigênio arterial.
Cianose na pele torna-se aparente. Caso não haja tratamento, choque e morte acontecerão.
Pneumotórax grave requer tratamento médico emergencial.

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Tratamento de Pneumotórax: Em caso de pneumotórax, o mergulhador deve ser


imediatamente examinado, a fim de verificar possível coexistência de embolia arterial gasosa.

Um pneumotórax suave (menos de 15%), normalmente irá melhorar com o tempo quando o ar
no espaço pleural for absorvido espontaneamente. Um mediano pode ser tratado a partir de
administração de oxigênio a 100%. Casos de pneumotórax que demonstrem comprometimento
cardiorrespiratório podem requerer um dreno de tórax, cateter intravenoso ou outro aparelho para
remover o gás intratorácico. Mergulhadores recomprimidos para tratamento de embolia arterial gasosa
ou doença descompressiva, que também apresentem pneumotórax, sentirão alívio nos sintomas logo
após a recompressão. Um tubo torácico ou outro aparelho com uma válvula de não-retorno pode ser
necessário ser inserido em profundidades, para prevenir a expansão do gás preso durante a subida
subsequente. Deve-se suspeitar de pneumotórax grave se a condição de saúde do mergulhador piorar
rapidamente durante a subida, especialmente se os sintomas forem respiratórios. Caso esse tipo de
pneumotórax seja descoberto, uma recompressão na água pode aliviar os sintomas até que a cavidade
torácica possa ser devidamente ventilada. Pneumotórax combinado com embolia arterial gasosa ou
doença descompressiva não deve ser tratado imediatamente com terapia de recompressão.

Prevenção de Pneumotórax: As estratégias para evitar o pneumotórax são as mesmas para o


caso de embolia arterial gasosa, ou seja, respirar normalmente durante a subida e exalar
continuamente em caso de subida de emergência.

9.4 - EFEITOS INDIRETOS DA PRESSÃO


As condições descritas anteriormente ocorrem por conta da diferença de pressão que causa
danos diretos a estrutura humana. Os efeitos indiretos ou secundários são o resultado de mudanças na
pressão parcial de um gás no meio em que o mergulhador respira. Os mecanismos destes efeitos
incluem saturação e dessaturação dos tecidos corporais com o gás dissolvido e a modificação das
funções do corpo por conta de pressões parciais anormais.
9.4.1 - NARCOSE PELO NITROGÊNIO

Conhecido no meio do mergulho somente pelo termo “Narcose”, é o estado de euforia e alegria
quando o mergulhador respira uma mistura gasosa com uma pressão parcial de nitrogênio maior que
4 ATAs.

Causas de Narcose: Respirar nitrogênio sob alta pressão parcial, tem um efeito narcótico no
sistema nervoso central que causa euforia e prejudica a habilidade de raciocínio do mergulhador. O
efeito narcótico começa quando a pressão parcial do nitrogênio atinge, aproximadamente, 4 ATAs e
aumentando progressivamente conforme aumenta a profundidade. Sob uma pressão parcial de 8 ATAs
o prejuízo é considerável. Acima de 10 ATAs pode haver alucinação e inconsciência. Em um
mergulho em que se utiliza ar como fonte gasosa, a narcose aparece a uma profundidade de,
aproximadamente, 40 metros, sendo proeminente a 60 metros, tornando-se incapacitante em
profundidades maiores.

A suscetibilidade a narcose varia entre os indivíduos. Há algumas evidências de adaptação a


narcose, quando submetido a repetidas exposições. Alguns mergulhadores, especialmente os que tem
experiência em mergulhos profundos com ar, geralmente conseguem trabalhar a profundidade de 60
metros sem sofrer dificuldades por conta da narcose.

Sintomas de Narcose: Os sintomas incluem:

- Perda na capacidade de julgamento e habilidades;

- Falsa sensação de bem-estar;


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- Falta de interesse pelo trabalho ou segurança;

- Estupidez aparente;

- Risadas inadequadas;

- Formigamento e vago entorpecimento dos lábios, gengivas e pernas.

Por conta dos sintomas elencados, a narcose é também conhecida como “Embriaguês das
Profundezas”.
O descuido com a segurança pessoal é o grande perigo da narcose. Mergulhadores podem
exibir um comportamento anormal, como retirarem o regulador da boca, ou descerem a profundidades
inseguras, sem a preocupação com doença descompressiva ou suprimento de ar.

Tratamento de Narcose: Consiste em trazer o mergulhador a uma profundidade mais rasa,


onde os efeitos não ocorram. Os efeitos narcóticos irão desaparecer rapidamente, não deixando
sequelas.

Prevenção de Narcose: A melhor maneira de prevenir a narcose é planejando o mergulho. O


mergulhador deve levar em consideração a profundidade de trabalho, determinando assim a mistura
gasosa a ser utilizada. Como a narcose tem seu início a uma pressão parcial de nitrogênio de 4 ATAs,
a redução na porcentagem de nitrogênio na mistura é a alternativa utilizada para se atingir
profundidades maiores, sem a apresentação de sintomas.
9.4.2 - INTOXICAÇÃO PELO OXIGÊNIO
A exposição a uma pressão parcial de oxigênio acima dos limites diários do ser humano pode
ser tóxico ao organismo. A extensão da toxicidade é dependente tanto da pressão parcial quanto do
tempo de exposição ao oxigênio, sendo mais graves os sintomas com o aumento do tempo. Os dois
tipos de intoxicação pelo oxigênio, experimentados pelo mergulhador, são a pulmonar e a do sistema
nervoso central (SNC).

9.4.2.1 - Intoxicação Pulmonar pelo Oxigênio (Efeito Lorraine Smith)

O efeito Lorraine Smith descreve os efeitos tóxicos do oxigênio sobre o tecido pulmonar. Os
alvéolos são revestidos por um surfactante, que os impede de colabar e permite que eles mantenham
sua função de efetuar a troca gasosa. Exposições muito prolongadas de oxigênio em pressões parciais
intermediárias causam redução da produção do surfactante e lesões nos alvéolos, fazendo com que
estes colabem, prejudicando a troca gasosa. Os sintomas são dores no peito, dificuldade de respirar,
diminuição da capacidade vital e tosse. Estes sintomas são muito parecidos com casos de gripe,
raramente causando danos permanentes.

A pressão parcial de oxigênio limítrofe para o surgimento dos sintomas é de 0,5 ATA. No
entanto, o efeito Lorraine Smith não é a preocupação principal para os mergulhadores. A exceção se
faz no caso de vários mergulhos de longa duração em dias consecutivos ou seguidos de tratamento em
câmara hiperbárica. Em quase todos os mergulhos, o limite de intoxicação do SNC será o fator
limitante para o planejamento.

9.4.2.2 - Intoxicação do SNC pelo Oxigênio (Efeito Paul Bert)

Paul Bert, em 1878, foi o primeiro a observar os efeitos das altas pressões parciais de oxigênio
no sistema nervoso central. Essas pressões modificam o metabolismo das células nervosas,
promovendo várias alterações neurológicas. A intoxicação do SNC, ao contrário da pulmonar,
demanda maior atenção dos mergulhadores. Em mergulhos sem descompressão, com ar ou nitrox até
40%, só é necessário estabelecer a profundidade máxima de operação da mistura a ser utilizada com
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base na PPO2 máxima desejada e manter-se em exposições com durações mais seguras.
Mergulhadores que planejam descompressão e troca de gás, necessitam realizar cálculos de exposição
ao oxigênio para todos os diferentes níveis do perfil de mergulho.

Suscetibilidade a Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: Uma série de fatores influencia o risco
de intoxicação:

- Suscetibilidade Individual: Varia de indivíduo para indivíduo. Pode variar também entre
mergulhos com o mesmo perfil, no qual mergulhadores experimentam a intoxicação em condições de
exposição de tempo anteriormente tolerado.

- Retenção de CO2: A hipercapnia aumenta o risco de intoxicação, provavelmente pelo fato de


aumentar o fluxo sanguíneo e nível de oxigênio no cérebro.

- Exercícios Físicos: Aumenta a suscetibilidade, provavelmente por aumentar o grau de


retenção de CO2. Os limites de exposição ao O2 devem ser mais conservadores em mergulhos que
demandem esforço físico.

- Profundidade: O aumento de profundidade está diretamente associado à suscetibilidade de


intoxicação, mesmo com o nível de PPO2 constante, que é o caso, por exemplo, de um mergulho
dependente, provavelmente pelo aumento da densidade do gás e concomitante aumento na retenção de
CO2. Há algumas evidências de que o gás inerte componente da mistura gasosa acelera a formação de
radicais livres de oxigênio danosos. Os limites de exposição para misturas gasosas deve ser mais
conservador do que para oxigênio puro.

- Exposição Intermitente: Interrupção periódica a uma alta exposição de PPO2, com um


intervalo de 5 a 10 minutos para uma baixa exposição, reduzirá o risco de intoxicação, estendendo o
tempo total de exposição permitida a alta exposição. Esta técnica é mais empregada em tratamentos
hiperbáricos e descompressão na superfície.

Sintomas de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: A mais séria e direta consequência da


intoxicação pelo O2 é a convulsão. Por vezes, a identificação precoce dos sintomas pode permitir um
aviso suficiente para que a pressão parcial seja reduzida e prevenir o início de sintomas mais sérios.
Abaixo seguem os sintomas e sinais de intoxicação do SNC pelo oxigênio. Para tanto, é utilizado o
acrônimo CONVANTIT para ajudar a memorização:

- CON (convulsões): o sintoma mais sério de intoxicação;

- V (distúrbios visuais): quaisquer distúrbios, incluindo “visão em túnel”;

- A (distúrbios auditivos): qualquer alteração na audição;

- N (náuseas): pode ser intermitente e a gravidade pode variar;

- T (tremores): manifestação clássica nos músculos faciais;

- I (irritabilidade): mudança de personalidade, ansiedade, confusão, entre outros;

- T (tonturas): vertigem, desorientação.

A advertência quanto aos sintomas pode, por vezes, não aparecer e a maioria não é
exclusivamente de sintomas de intoxicação pelo O2. Espasmo muscular é talvez, o aviso mais claro,
mas que pode ocorrer tardiamente. Caso nenhum desses sintomas apareça ao se exceder a pressão
parcial limite, o mergulhador deve tomar imediata ação a fim de reduzir a PPO 2.
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A convulsão pode ocorrer subitamente, sem preceder nenhum dos outros sintomas. Durante a
convulsão, o indivíduo perde a consciência e o cérebro passa a enviar impulsos nervosos
incontroláveis aos músculos. A esta altura, todos os músculos são estimulados de uma vez só, levando
o corpo a um estado de rigidez. Esta é referida como a fase tônica da convulsão. O cérebro logo
fadiga, diminuindo os impulsos. Esta é a fase crônica.

Após a fase convulsiva, a atividade cerebral é deprimida e uma depressão pós-convulsão


acontece. Durante esta fase, o indivíduo geralmente está inconsciente e quieto por um tempo, depois
semi-inconsciente e inquieto. Ele irá normalmente, dormir e desligar-se, acordando ocasionalmente,
embora ainda não totalmente racional. A fase depressiva, por vezes, dura em torno de 15 minutos, mas
uma hora ou mais não é incomum. No fim desta fase, o indivíduo geralmente torna-se subitamente
alerta, reclamando de não mais do que fadiga, dor muscular e possivelmente, dor de cabeça. Após uma
intoxicação pelo oxigênio, o mergulhador geralmente lembra-se claramente dos momentos que
antecederam a inconsciência, mas não se lembra de nada no período da convulsão e muito pouco do
período pós-convulsão.

Tratamento de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: O mergulhador que experimentar os


indícios de sintomas de intoxicação pelo oxigênio deve informar à autoridade competente
imediatamente. As ações a seguir podem ser tomadas para diminuir a pressão parcial de oxigênio:

- Diminuir a profundidade;

- Utilizar uma mistura gasosa com uma PPO2 menor;

- Em uma câmara de recompressão, remover a máscara de O2.

AVISO: Reduzir a pressão parcial de oxigênio não reverte imediatamente as mudanças


bioquímicas no sistema nervoso central causado por uma alta PPO 2. Caso alguns dos sintomas
ocorram, o mergulhador ainda pode sofrer convulsão até 1 ou 2 minutos após ter sido removido
da alta taxa de oxigênio. Não se deve assumir que a convulsão não irá ocorrer, a menos que o
mergulhador esteja fora da alta PPO2 por 2 ou 3 minutos.

O possível risco de hipóxia durante a apnéia na fase tônica é reduzido por conta da alta pressão
parcial de oxigênio nos tecidos e no cérebro. Caso o mergulhador convulsione, o organismo deve ser
ventilado imediatamente com um gás com menor taxa de oxigênio. Caso seja possível permanecer na
mesma profundidade (mergulho dependente) e o suprimento de gás seja seguro, o mergulhador deve
permanecer nesta profundidade e aguardar até que a convulsão de lugar a uma respiração normal.
Caso uma subida seja necessária, ela deve ser feita o mais lenta possível, para reduzir o risco de
embolia arterial gasosa. O mergulhador inconsciente na superfície por causa de intoxicação pelo
oxigênio deve ser tratado como se tivesse sofrido embolia arterial gasosa.

Se a convulsão ocorrer em uma câmara de recompressão, é importante manter o indivíduo


longe de objetos que o mesmo possa causar lesões a si. A restrição dos movimentos não é necessária
nem desejável. A máscara de oxigênio deve ser removida imediatamente. Não é necessário forçar a
abertura da boca para inserir um mordedor quando a convulsão estiver ocorrendo. Após esta ocorrer e
a boca relaxar, mantenha a mandíbula para cima e para frente para manter a via aérea limpa até que o
mergulhador recupere a consciência.

Se a convulsão não causar afogamento ou outra lesão ao mergulhador, uma recuperação


completa sem outros efeitos pode ser esperada em até 24 horas. A suscetibilidade à intoxicação não
aumenta os riscos de convulsão, no entanto, mergulhadores podem estar mais inclinados aos sintomas,
durante mergulhos subsequentes à exposição ao oxigênio.

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Prevenção de Intoxicação do SNC pelo Oxigênio: O mecanismo de intoxicação do sistema


nervoso central pelo oxigênio permanece desconhecido é fruto de muitas teorias e pesquisas. A
prevenção da intoxicação é importante para os mergulhadores. Para evitar a intoxicação do SNC é
necessário estabelecer certos limites de segurança:

- Não exceder, em nenhum mergulho e sob nenhuma hipótese, a pressão parcial de


oxigênio de 1,6 ATA para a fase de descompressão e 1,4 ATA para as misturas de fundo;

- Manter os limites de exposição apropriados para as pressões parciais de oxigênio às quais se


está exposto;

- Evitar a combinação de elevadas taxas de PPO2 com esforço físico, hipertermia ou altas taxas
de dióxido de carbono e nunca usar medicamentos que tenham como efeitos colaterais, dificuldades
respiratórias e estimulem o sistema nervoso central. Exemplo típico é o uso de descongestionantes
nasais.

Quando o uso de altas pressões parciais de oxigênio for necessário, os mergulhadores devem
ser precavidos, tendo certeza que o gás respirável está em boas condições, observando os limites de
tempo de acordo com a tabela de mergulho, evitar esforço excessivo e observando sintomas anormais
que podem aparecer.

Outro procedimento que se mostra importante para gerenciar a exposição ao oxigênio é a


prática de “intervalos de ar”, o que simplesmente significa alternar para ar ou outra mistura com uma
baixa concentração de O2, a fim de reduzir a PPO2 e respirá-lo por vários minutos.
9.4.3 - DOENÇA DESCOMPRESSIVA

O sangue e tecidos do mergulhador absorvem nitrogênio adicional (ou hélio) dos pulmões
quando em profundidades. Durante a subida, o excesso de gás pode separar-se da solução, formando
bolhas. Estas bolhas produzem efeitos mecânicos e bioquímicos que levam a uma condição conhecida
como Doença Descompressiva.

9.4.3.1 - Teoria da Descompressão


Existem achados da dinâmica do movimento dos gases desde a sua entrada pelos pulmões do
mergulhador até sua chegada aos tecidos e se encontrarem num estado de saturação que devem ser
entendidos. A teoria da descompressão nos moldes atuais é uma leitura matemática da fisiopatologia
da doença descompressiva. O conhecimento da teoria da descompressão facilita o entendimento das
propostas relacionadas aos modelos algoritmos criados.
Tensão do Gás Inerte Tecidual e Descompressão: Durante o mergulho, gases são absorvidos
pelos tecidos dos mergulhadores. A tensão do gás inerte tecidual, mensurada em unidade de pressão, é
a medida do quanto o mergulhador absorve desse gás.

A pressão parcial dos gases da mistura gasosa nos pulmões do mergulhador direciona a
absorção dos gases teciduais. À medida que o mergulhador submerge, há um aumento da pressão
ambiente. A mistura de gás respirado durante o mergulho tem a mesma pressão. No entanto, demora
um tempo para que ocorra aumento da tensão tecidual e ela alcance o valor de pressão dos gases
respirados.

Maiores tempos de fundo aumentam a tensão tecidual de gases inertes. Maiores intervalos de
superfície diminuem esses valores.
Os Compartimentos: Todo o corpo absorve Nitrogênio, sob pressão. Algumas áreas
absorvem o gás mais rápido do que outras, por exemplo, os compartimentos de 5 e 10 minutos,
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MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

comparados com os compartimentos de 60 e 120 minutos. Atualmente os pesquisadores


contemporâneos preferem utilizar o termo "Compartimentos" do que "Tecidos".

Anatomicamente, existem 4 tecidos no corpo humano: muscular, conjuntivo, epitelial e


nervoso. Tudo no nosso corpo é feito pela combinação destes 4 tecidos. Para trabalho de
descompressão, o corpo é dividido em um certo número de compartimentos.

Apesar do fluxo sanguíneo poder variar com a atividade ou outros eventos no corpo e com isso
mudar a velocidade do tecido anatômico, os modelos de descompressão levam em conta muitos
compartimentos, para ter a certeza de levar considerar a maioria das possibilidades, tais como frio e o
exercício.
Meios-tempos: Cada tecido ou parte do corpo humano é peculiar e os órgãos são constituídos
de vários tecidos, que, por sua vez, são formados de diferentes substâncias e apresentam diferentes
suprimentos sanguíneos (perfusão). As tensões teciduais de gás inerte variam em função da taxa de
absorção e eliminação de cada tecido.
Quando falamos de meio-tempo tecidual de gás inerte, estamos referindo-nos ao tempo, em
minutos, que é levado para saturar metade do tecido com esse gás. Seguindo o processo de saturação
de gás pelo tecido, há a necessidade da mesma quantidade de tempo para que seja absorvida a
quantidade de gás para a outra metade ficar saturada pela metade.

Os compartimentos atingem 50% da sua capacidade (equilíbrio) após 1 Meio-Tempo, 75%


após 2 Meios-Tempos, 87,5% após 3 Meios-Tempos, 93,75% após 4 Meios-Tempos, e 96,87% após 5
Meios-Tempos. Por convenção, após 6 Meios-Tempos os compartimentos são considerados
completamente equilibrados ou saturados com a pressão na profundidade. Um compartimento com
Meio-Tempo de 5 minutos, completa com gás inerte a metade do máximo da sua capacidade, em 5
minutos. O compartimento de 10 minutos completa a sua metade em 10 minutos, o de 20 minutos leva
20 minutos para completar a sua metade, e assim por diante.
Assim sendo, quanto mais repleto de gás fica o tecido, mais difícil fica entrar mais gás. A
diminuição da taxa de absorção de um gás em relação a um intervalo de tempo segue uma função
matemática exponencial até a saturação completa.
Diferentes modelos matemáticos utilizam diferentes meios-tempos. A quantidade de
compartimentos e os minutos de cada um deles dependem do criador do modelo.

Nem todo o gás, durante o seu processo de eliminação, sai do tecido para a corrente sanguínea
do mesmo modo que entrou. Tecidos adjacentes que apresentam meios-tempos diferentes, influenciam
a eliminação de gás inerte em função da criação de diferenças de tensões entre eles. Maiores tensões
de gás num determinado tecido que em outro produzem um gradiente de pressão entre tecidos. O gás
acaba passando de um tecido para outro e daí para a circulação para ser eliminado. Isso complica os
cálculos de difusão no sentido da eliminação dos gases.
Compartimentos Rápidos e Compartimentos Lentos: Um compartimento rápido absorve e
elimina gases de forma rápida e apresenta meios-tempos curtos. Em comparação com os
compartimentos lentos, eles apresentam tensões de gases mais altas após um mergulho. Como os
compartimentos rápidos geralmente também apresentam rápida eliminação de gás inerte acumulado,
ocorre que eles se beneficiam com as paradas de segurança. As paradas de segurança diminuem de
modo significativo as tensões desses gases. Além disso, maiores intervalos de superfície facilitam a
eliminação de gases inertes desses tecidos.
Os compartimentos de meios-tempos mais curtos são importantes na ocorrência de doença
descompressiva, principalmente porque eles são o modelo de comportamento da cinética dos gases
inertes no sistema nervoso central.
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Já os compartimentos ditos lentos são aqueles que absorvem e eliminam gases em meios-
tempos longos. Esses tecidos não têm tempo suficiente de eliminar gás inerte antes do mergulho
seguinte, ou seja, o mergulho seguinte de uma sequência de mergulhos sucessivos já ocorre a partir de
uma tensão tecidual de gás inerte naquele compartimento que ficou do mergulho anterior.

Um compartimento é mais rápido que outro em relação à capacidade de eliminação de gás


inerte em função da sua vascularização (perfusão) e da afinidade ou capacidade de incorporar o gás
em questão. Tecidos com maior conteúdo de gorduras têm maior capacidade de incorporar gases do
que os com maior conteúdo aquoso. O mesmo é valido para os mais ricamente vascularizados em
relação aos menos.

Portanto, compartimentos lentos são o tecido adiposo, o osso, as cartilagens pouco


vascularizadas, os líquidos da sinóvia e articulações e as cicatrizes. Neles, pela grande distância entre
a massa total e os vasos capilares, a difusão é um fator mais importante que a vascularização na
incorporação e eliminação de gases. O meio-tempo desses compartimentos acaba limitado pela
difusibilidade e a massa total de tecido. Neles, são necessários grandes gradientes de pressão para
eliminação do gás inerte. Na descompressão acabam tendo maiores tensões de gás que os tecidos mais
vascularizados. Acabam desempenhando o papel de reservatórios de gás, que podem contribuir para o
crescimento de bolhas ao fim do mergulho e mesmo na superfície.
Os compartimentos de meios-tempos maiores são importantes no cálculo da formação de
bolhas quando se realiza mais de um mergulho no dia, durante vários dias ou se pretende voar após o
mergulho. A utilização no cálculo de descompressão de compartimentos de meios-tempos maiores
permite definir a eliminação total de uma carga presumida de gás inerte num período mais estendido.
Valor “M”: O valor M refere-se à tensão máxima de determinado gás permitida para
determinado compartimento. O “M” vem de máximo. Historicamente, foi criado no início dos
esforços de se realizar uma teoria da descompressão quando se acreditava que um gás não entraria em
fase para formar bolhas antes que se excedesse uma quantidade máxima de supersaturação. Um valor
M era calculado para cada tecido ou compartimento de forma que cada um tinha um valor M
específico para determinado gás a determinada pressão ambiente.

Na descompressão, nenhum compartimento pode exceder o valor M da tensão do(s) gás(es)


inertes da mistura. Alcançar um valor estabelecido significa que a tensão do gás no compartimento
pode desencadear o início do surgimento de uma bolha. A criação do valor M permitiu a definição de
paradas descompressivas. Uma parada descompressiva numa profundidade de valor M aceitável deve
ocorrer para diminuir a tensão do gás para valores aceitáveis. No mergulho recreativo em que não
deve haver descompressão na água, nenhum tecido pode exceder o valor M determinado para a
profundidade de fundo real. Os valores M são determinados para cada gás, pressão ambiente e
compartimento e são incorporados aos algoritmos computacionais de descompressão.

110
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Saturação: Um tecido é considerado saturado quando absorve todo o gás inerte que ele pode a
uma determinada pressão ambiente. Para um tecido ficar 99% saturado a uma determinada pressão
ambiente são necessários 6 meios- tempos.
Se, num determinado algoritmo, considerarmos o compartimento mais lento como sendo de
120 minutos, então serão necessárias 12 horas para haver 99% da saturação do tecido, tendo estado o
mergulhador numa determinada profundidade. Em termos práticos, a partir desse período não há mais
o que absorver de gás pelo tecido. Se o mergulhador aumentar a profundidade do mergulho, haverá
mais gradiente de pressão entre a mistura respirada e os tecidos e consequentemente mais gás poderá
ser absorvido. Um novo período de tempo deverá passar até que ocorra nova saturação.

Em relação à dessaturação, considera-se que o tecido leva a mesma quantidade de


meios- tempos para dessaturar. Como foi colocado anteriormente, há vários fatores que afetam a
dessaturação. Atualmente há uma tendência de tratar a dessaturação de modo não simétrico em
relação à saturação. Como já foi colocado, isso é previsto em alguns algoritmos e nesses há uma
diminuição da taxa de dessaturação.
O conceito de saturação é importante no mergulho comercial que utiliza o mergulho saturado.
No mergulho de saturação, os mergulhadores permanecem, a determinada profundidade, por períodos
longos de tempo por questões de demanda de trabalho. Muitas vezes, se passam vários dias até se
reiniciarem os procedimentos de descompressão. Ficar numa mesma profundidade por longos
períodos acarreta uma determinada obrigação de descompressão que não mais muda em relação ao
tempo que se gasta naquela profundidade, ou seja, ficar numa mesma profundidade por longos
períodos acarreta a mesma obrigação de descompressão que se o mergulhador ficasse por pouco
tempo. Então, havendo uma determinada demanda de trabalho, o mergulho saturado se torna mais
prático e economicamente viável do que fazer múltiplos mergulhos no mesmo período de tempo com
menor tempo de fundo.

Supersaturação: Exceto pela narcose, a pressão elevada de nitrogênio nos tecidos não
apresenta um efeito fisiológico significativo, contanto que se permaneça embaixo d´água, ou mais
precisamente, sob pressão. Entretanto, quando há a subida do mergulho, a pressão diminui. Já que o
corpo esteve absorvendo nitrogênio ao longo do mergulho, eventualmente haverá a subida para uma
profundidade na qual a pressão nos tecidos excederá a pressão circundante. Neste momento os tecidos
tornam-se Supersaturados, ou seja, contêm mais nitrogênio dissolvido do que podem reter na pressão
ambiente. Nesse momento, o N2 começa a sair da solução nos tecidos e o corpo começa a eliminá-lo.
Nesse ponto é onde surge o potencial para a doença descompressiva.
Descompressão segura ocorre quando se pode diminuir a pressão ambiente e manter a
supersaturação suficientemente alta que não produza estado de fase gasosa e, ao mesmo tempo, o gás
possa ser eliminado.
As mudanças de estado dos gases ocorrem num espectro que passa pelo estado de fase gasosa.
Sempre que existe supersaturação, a fase gasosa pode evoluir em micronúcleos e bolhas.
No mergulho seguro, o mergulhador deve poder subir de determinada profundidade até a
superfície sem que seja necessário cálculo de descompressão. Um mergulho também é considerado
seguro quando a taxa de supersaturação na superfície fica abaixo dos limites aceitáveis que não
provoquem a formação de uma quantidade de bolhas que venham a ter expressão clínica na forma de
doença descompressiva.
Hoje, sabe-se que os tecidos rápidos toleram níveis de supersaturação maiores que os lentos
apesar de terem meios-tempos menores. Os tecidos rápidos podem continuamente sobrecarregar os
lentos durante a eliminação de gases. Os tecidos rápidos, por sua vez, são os responsáveis pelos
sintomas mais graves da doença descompressiva. Atualmente constatou-se que isso é um dos
111
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problemas de descompressão mesmo quando o mergulhador se encontra nos limites de tempo por
profundidade das tabelas. Isso também pode servir de base para se acentuar a necessidade de controle
da velocidade de subida.
Bolhas: Bolhas podem formar-se diretamente em tecidos supersaturados quando ocorre
descompressão. Elas também podem formar-se a partir de micronúcleos pré-formados que são
excitáveis por compressão e descompressão. As bolhas que deixam seus locais de formação, podem
mover-se para qualquer outro local. Elas também podem dissolver-se localmente por difusão gasosa
para tecidos contíguos ou mesmo para o sangue. Bolhas podem passar pelo filtro pulmonar, podem
fragmentar-se em núcleos menores agregados e podem até ser eliminadas completamente. O colapso
de uma bolha ou micronúcleo somente ocorre com enormes pressões, alguma coisa semelhante a
10 ATAs.

Em tecidos supersaturados, o gás inerte difunde-se nos micronúcleos, aumentando o tamanho


deles até que se libertem da superfície do tecido sob a forma de minúsculas bolhas. Contanto que o
número destas micro-bolhas permaneça relativamente reduzido, seus tecidos gradualmente liberam o
gás inerte através da combinação da difusão de gases dissolvidos, do aprisionamento e difusão de
micro-bolhas nos capilares pulmonares e da re-difusão das micro-bolhas que não são transportadas
para os capilares pulmonares quando a pressão do gás no tecido circundante é reduzida.

9.4.3.2 - Manifestação da Doença Descompressiva

Bolhas existem em certo grau dentro do corpo após todos os mergulhos. Se as bolhas são
poucas e pequenas elas não produzem efeitos, mas se existem em quantidade, seu volume pode ser
grande o suficiente para causar doença descompressiva. Geralmente as bolhas devem estar dentro de
tecidos com baixa perfusão ou no lado arterial do sistema circulatório para que causem DD Bolhas no
lado venoso são geralmente inofensivas. Sendo assim, a fase gasosa deve se desenvolver no lado
arterial ou se mover do lado venoso para o lado arterial através de algum mecanismo, ou mesmo as
duas possibilidades.

Sintomas de Doença Descompressiva: Uma vez que as bolhas podem se desenvolver em uma
parte do corpo ou serem carregadas para qualquer parte do corpo, a doença descompressiva pode ser
caracterizada por dezenas de sintomas aparentemente sem relação e com severidade variada. Isto
significa que diversos fatores podem, teoricamente, predispor o mergulhador à DD e que outros
fatores podem protegê-lo.

Médicos hiperbáricos facilmente reconhecem alguns sinais e sintomas como sendo de DD, mas
outros, que se apresentam após um mergulho podem ou não ser de doença descompressiva. Em muitos
tipos, o mecanismo exato de lesão, além da formação de bolhas, é um mistério.

Apesar dos diferentes sinais e sintomas, as várias manifestações da DD tendem a compartilhar


algumas características. A doença descompressiva tende a aparecer após o mergulho e pode levar até
36 horas para se manifestar, embora cerca de metade dos casos de DD apareça dentro do período de
uma hora após o mergulho. Contudo, ao mergulhar com hélio, a doença descompressiva com
frequência aparece rapidamente e a vítima pode ter os sintomas enquanto ainda está fazendo a
descompressão. Isto é muito raro com ar ou nitrox, a menos que o mergulhador tenha omitido uma
quantidade substancial de paradas de descompressão. A doença descompressiva pode piorar ao longo
das primeiras horas após sua manifestação. Baseado nestes fatos, um médico saberia que um sintoma
que aparece 48 horas após um mergulho, mas que melhora sem qualquer intervenção de primeiros
socorros ou tratamento, provavelmente não é DD.

112
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

A doença descompressiva é geralmente dividida em duas categorias:

DOENÇA DESCOMPRESSIVA TIPO I: É caracterizada somente por dor e apresenta sinais


e sintomas que não apresentam risco imediato de morte. Também é pouco provável que cause
incapacidade física de longa duração. Os sintomas apresentam-se nas seguintes formas:

- Cutânea: Erupções em áreas da pele geralmente sobre os ombros e na parte superior do


peito;

- Dores nas Articulações e Membros: Ocorre em aproximadamente 75% dos casos. Podem
ser encontrados em mais de um local no mesmo membro, tal como no ombro e cotovelo. Pode
progredir para formas mais graves;

- Fadiga: Sintoma mais comum de DD. Fisiologistas consideram-na quando em contexto com
outros sintomas de DD, embora não se deva ignorar a fadiga excessiva sem uma explicação plausível;

- Ouvido Interno: A DD ocorrendo dentro do ouvido pode causar perda de audição, tontura,
zumbido nos ouvidos ou vertigem. Estes sintomas assemelham-se aos de um barotrauma, sendo difícil
diagnosticar a origem.

DOENÇA DESCOMPRESSIVA TIPO II: É caracterizada por sintomas que podem ser
debilitantes ou representar risco imediato de morte. Estes sintomas estão particularmente relacionados
com os efeitos no sistema nervoso. Apresentam-se nas seguintes formas:

- Neurológica: Pode afetar o movimento ou o tato, ou funções vitais como a respiração e o


batimento cardíaco. Incluem formigamento e dormência das áreas periféricas do corpo, inconsciência,
parada respiratória e paralisia. Quando envolve a medula espinhal, causa perda de sensação e paralisia
nas extremidades inferiores que avança lentamente para cima. Caso não haja tratamento, as vítimas
podem ficar paralisadas do pescoço para baixo.

- Pulmonar: Ocorre raramente. O acúmulo de gás nos capilares pulmonares pode interferir na
troca de gases dentro dos pulmões. Isto reduz simultaneamente o oxigênio para os tecidos e a
eliminação do nitrogênio, causando dor ao respirar, geralmente acompanhada de tosse curta e irritada.
Muitas vezes a vítima sente uma forte falta de ar. Os sintomas tendem a progredir rapidamente,
podendo levar a vítima ao estado de choque.

Fatores Predisponentes de Doença Descompressiva: As variações na fisiologia de cada


indivíduo podem afetar o risco de DD. Muitos desses fatores permanecem inconclusivos. Seguem
algumas destas variáveis:

- Gordura Corporal: Se dá pelo fato do colesterol elevado, uma vez que a gordura absorve
mais nitrogênio do que a água;

- Atividade Física: A prática de exercício poucas horas antes do mergulho pode elevar o
número de micronúcleos de gás nos quais as bolhas se formam;

- Idade: Uma pessoa com idade avançada tende a ter seu sistema respiratório e circulatório
trabalhando com menos eficiência;

- Desidratação: Reduz a quantidade de sangue disponível para a troca gasosa, desacelerando a


eliminação de gases do corpo;

- Lesões e Doenças: Lesões já curadas podem produzir dificuldades locais de circulação


sanguínea e doenças podem produzir uma redução geral da eficiência circulatória;
113
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- Álcool: Consumido antes do mergulho, o álcool tende a acelerar a circulação, o que pode
carregar os tecidos com gases inertes além da quantidade assumida pelos modelos descompressivos.
Consumido após o mergulho, causa a dilatação em capilares, possivelmente elevando a taxa de
liberação de nitrogênio e contribuindo para a formação de bolhas;

- Dióxido de Carbono: Altas taxas de CO2 interferem com o transporte de gases pelo sistema
circulatório, ao dilatar capilares e aumentar a absorção de gases inertes durante o mergulho;

- Frio: A mudança de temperatura corporal durante o mergulho, onde o organismo passa de


aquecido a frio, faz com que o mergulhador tenha uma circulação normal durante a fase de absorção
de gases, mas uma circulação restrita durante o processo de eliminação dos gases. Após o mergulho,
uma exposição ao frio predispõe o mergulhador à DD mais do que se ele se mantivesse aquecido, uma
vez que o calor mantém uma circulação periférica adequada. No entanto, expor o corpo frio a uma
água quente após o mergulho é prejudicial, pois a exposição ao calor reduz a capacidade dos tecidos
de manterem gás inerte em solução.

- Altitude e Vôo após o mergulho: A redução da pressão atmosférica na cabine da aeronave,


conforme a altitude, eleva o gradiente de pressão entre os gases dissolvidos nos tecidos e as pressões
ambientes. O mesmo vale para mergulhos em regiões acima do nível do mar, caso não se considere a
redução na pressão atmosférica indicada por tabelas especiais ou computador de mergulho projetado
para mergulho em altitude. Quando a DD ocorre em altitudes, retornar ao nível do mar não garante
alívio dos efeitos;

- Perfis Inversos: Uma vez que a grande maioria dos dados empíricos tem como base perfis
normais de mergulho (mais profundo para o mais raso), é encorajado que se evite perfis inversos;

- Histórico de DD: Quando a doença descompressiva acomete um mergulhador pela primeira


vez, ela danifica ou degrada um sistema ou processo corporal responsável pelo gerenciamento do
esforço de descompressão. Ao apresentar DD, o mergulhador não deve voltar a mergulhar até que seja
liberado por um médico especialista.

Tratamento de Doença Descompressiva: Divide-se em três fases - transporte do paciente,


tratamento da causa e tratamento da consequência.
Qualquer pessoa deve começar a fazer as duas primeiras fases até a chegada de um médico
hiperbárico.
Não fazer viagem aérea em helicópteros ou aviões com cabines não pressurizadas, até 24
horas após o mergulho. Há casos que mesmo o mergulhador tendo realizado descompressão correta,
apresentou sintomas leves de DD durante uma viagem de avião depois de mergulhar. É importante
ressaltar que, algumas cabines ditas “pressurizadas”, na verdade, são pressurizadas a 0,8 ou 0,9 ATM.
Portanto, ao transportar o MG, devemos observá-lo a cada momento, verificando uma possível
evolução do quadro.
O tratamento da causa básica da doença se dá a partir da administração de oxigênio a 100%
e em seguida, é realizado tratamento em câmara de recompressão, utilizando as tabelas padrões de
tratamento. Elas tem a função de diminuir e dissolver as bolhas. Quanto mais rápido se der início a
esta segunda fase, melhor o prognóstico do paciente. O tratamento da consequência será realizado em
hospitais, clínicas de reabilitação, com supervisão de um médico hiperbárico.

9.4.3.3 - Câmara de Recompressão

Vaso resistente à pressão, destinado a pressurizar mergulhadores para tratamento de acidentes


descompressivos ou para realização de descompressão na superfície.
114
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A câmara de recompressão é dividida em antecâmara e câmara principal. A antecâmara tem


duas funções: permitir a entrada e a saída da câmara principal sem alterar a sua pressão. Devido ao seu
pequeno volume, ela poderá ser pressurizada rapidamente. Esta facilidade será particularmente
importante para a realização de descompressão na superfície, quando o mergulhador deverá ser
pressurizado a uma pressão equivalente a 40 pés de profundidade em 30 segundos. Ambas as câmaras
possuem idênticos sistemas para ar e oxigênio. O oxigênio é respirado através de máscaras conhecidas
como BIBS (“Built in Breathing System”), localizadas no interior das duas câmaras. Os BIBS possuem
válvulas de demanda e conjunto oral nasal. O gás exalado pelo mergulhador possui uma alta
percentagem de oxigênio. Para evitar o crescimento da taxa de oxigênio no interior da câmara e o
consequente alto risco de incêndio, os BIBS são normalmente projetados com válvulas de descarga
externas.

A válvula de descarga é uma válvula de demanda que trabalha de maneira inversa. Ela abre
quando o mergulhador exala, permitindo que o ar flua para fora da câmara. É necessário manter uma
perfeita vigilância na taxa de oxigênio da atmosfera da câmara. A taxa de oxigênio não deverá exceder
a 23%. Quando estiver realizando operação com oxigênio, a câmara deverá ser ventilada por 2
minutos a cada 5 minutos. Se a operação for com ar, a ventilação será feita por 1 minuto a cada 5
minutos, a fim de evitar o crescimento da taxa de gás carbônico. Para ventilar, basta abrir
simultaneamente as válvulas de admissão e descarga, permitindo que o ar circule no interior da
câmara sem alterar a pressão interna. A pressão do oxigênio para o interior da câmara varia entre 75 a
125 psi. Toda câmara deverá possuir um programa regular de manutenção, ser inspecionada e testada
para verificação de vazamentos a cada dois anos ou após a realização de reparo. Teste hidrostático
deverá ser realizado a cada cinco anos (1,5 vezes a pressão de trabalho). A lista de verificação pré-
mergulho deverá ser preenchida toda vez que a câmara for usada. Mergulhos que exijam
descompressão não deverão ser programados, independentemente do equipamento usado, se não
houver câmara de recompressão em condições de operar e à disposição, a menos de uma hora de
distância do local do mergulho, usando o meio de transporte mais rápido existente no local.

Câmara de Recompressão

9.5 - PROBLEMAS TÉRMICOS NO MERGULHO


O corpo humano funciona efetivamente dentro de uma faixa relativamente estreita de
temperatura interna. A média, ou temperatura normal de 37ºC é mantida pelos mecanismos naturais
do corpo, auxiliado por medidas artificiais como o uso de roupas protetoras ou adaptação ao ambiente
quando as condições externas tendem para frio ou calor extremos.

Problemas térmicos, decorrentes da exposição a várias temperaturas da água, levam a uma


consideração majoritária no planejamento do mergulho e equipamentos a serem utilizados. O tempo
de fundo deve ser mais limitado quando se considera a tolerância do mergulhador ao frio ou calor do
115
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que quando se considera o aumento de pressão parcial de oxigênio ou a quantidade de descompressão


requerida.

9.5.1 - HIPOTERMIA
É a queda da temperatura corporal abaixo do normal. A água remove o calor corporal,
aproximadamente 20 vezes mais rápido que o ar. Isto mostra, por exemplo, porque uma
temperatura ambiente no ar de 23º C parece confortável, enquanto que na água é considerada fria. A
hipotermia durante a imersão é um perigo em potencial sempre que operações de mergulho acontecem
em águas frias. A resposta do mergulhador à imersão em águas frias depende do grau térmico de
proteção usado e da temperatura da água. A água, a uma temperatura de 33ºC, é a requerida para
manter o mergulhador que esteja desprotegido e descansando, em uma temperatura estável. O
mergulhador desprotegido será afetado pela excessiva perda de calor e irá tornar-se mais frio dentro
de um curto período de tempo quando a temperatura da água estiver abaixo de 23ºC.

Causas de Hipotermia: A hipotermia no mergulho ocorre quando a diferença entre a


temperatura da água e a corporal é grande o suficiente para o corpo perder mais calor do que pode
produzir. Exercícios normalmente aumentam a produção de calor e a temperatura do corpo em
condições secas. Paradoxalmente, exercícios em águas frias podem levar a temperatura corporal a cair
mais rapidamente. Qualquer movimento que faz com que a água entre em contato com a pele, cria
uma turbulência que elimina calor (convecção). A perda de calor é causada não somente por
convecção, mas também pelo aumento do fluxo sanguíneo nos membros durante os exercícios. Estes
dois efeitos conflitantes resultam na manutenção ou aumento da temperatura central em águas
aquecidas ou redução em águas frias.

Sintomas de Hipotermia: Em casos medianos, a vítima irá experimentar tremores


incontroláveis, fala arrastada, desequilíbrio e/ou perda na condição de julgamento. Casos graves são
caracterizados pela ausência de tremores, status mental enfraquecido, batimentos cardíacos irregulares
e/ou baixa pulsação e frequência respiratória. Em temperaturas extremamente baixas ou em uma
imersão prolongada, a perda de calor pelo corpo atinge um ponto em que a morte pode ocorrer. Segue
abaixo uma tabela demonstrando a relação temperatura corporal x sintomas:

TIPO TEMP. CORPORAL SINTOMAS


Sensação de frio, vasoconstricção da pele, aumento na
37ºC
tensão muscular, aumento no consumo de oxigênio
Tremores esporádicos, ataques brutos de tremores,
36ºC aumento maior no consumo de oxigênio, tremores
incontroláveis
LEVE
Confusão mental, possível afogamento, redução na
35ºC
capacidade de reação
Perda de memória, comprometimento da fala,
34ºC comprometimento das funções sensoriais,
comprometimento das funções motoras
33ºC Alucinações, delírios, perda parcial de consciência
Ritmos cardíacos irregulares, performance motora
MÉDIA 32ºC
gravemente prejudicada
Diminuição de tremores, incapacidade de reconhecer
31ºC
parentes e amigos próximos
Ausência de tremores, rigidez muscular, irresponsivo a
30ºC
dor
GRAVE 29ºC Perda de consciência
27ºC Batimentos cardíacos ineficientes, flacidez muscular
26ºC Morte

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Tratamento de Hipotermia: Para tratar hipotermia média, um reaquecimento ativo e passivo


deve ser usado e precisa ser contínuo até que a vítima entre na fase de sudorese. As técnicas de
reaquecimento incluem:

- Remoção das roupas molhadas;

- Envolver a vítima parcialmente (pernas e axilas) em um cobertor (preferencialmente de lã);

- Remover a vítima para um local protegido contra o vento;

- Se possível, levar a vítima para uma área aquecida.

Para o tratamento de hipotermia grave deve-se evitar qualquer exercício, manter a vítima
deitada, iniciar os procedimentos de reaquecimento e providenciar o transporte imediato da vítima
para um centro de tratamento médico.

Prevenção de Hipotermia: O mergulhador deve utilizar uma proteção térmica baseado na


temperatura da água e no tempo de fundo planejado. Uma roupa apropriada pode reduzir
satisfatoriamente os efeitos de perda de calor e o mergulhador consegue trabalhar em águas frias por
períodos razoáveis de tempo. Aclimatização, hidratação adequada, experiência e senso comum
trabalham juntos na prevenção de hipotermia.
9.5.2 - VERTIGEM CALÓRICA

O tímpano não precisa romper para ocorrer uma vertigem calórica. Ela pode ocorrer
simplesmente pelo resultado da entrada de água no canal externo de somente um lado do ouvido. Pode
ocorrer também quando um canal externo está obstruído por cera. Pode manifestar-se subitamente
pela entrada de água fria ou quando se atravessa uma termoclina. O efeito geralmente é rápido, mas
quando presente causa significante desorientação e náusea.
9.5.3 - HIPERTERMIA

Consiste no aumento da temperatura interna do corpo. Pode ser considerada um risco potencial
quando a temperatura do ar excede 32,2ºC ou a temperatura da água excede 27,8ºC. Um indivíduo
está sujeito à hipertermia quando a temperatura corporal aumenta 1ºC acima do normal (37ºC). Esta
temperatura não deve exceder 39ºC.

Causas de Hipertermia: Mergulhadores estão suscetíveis a hipertermia quando são incapazes


de dissipar o calor do corpo. Isto pode resultar por altas temperaturas da água, proteção térmica
excessiva, taxa de trabalho subaquático e a duração do mergulho. A exposição ao calor no
pré-mergulho pode levar o mergulhador a desidratação, aumentando o risco de hipertermia.

Sintomas de Hipertermia: Sinais e sintomas de hipertermia podem variar de indivíduo para


indivíduo. Casos graves podem apresentar desorientação, tremores, perda de consciência e/ou
convulsões. Seguem abaixo os sintomas mais comuns de hipertermia:

- Sensação de corpo quente, desconforto;

- Pouca quantidade de urina;

- Inabilidade de pensar claramente;

- Fadiga;

117
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- Dor de cabeça fraca;

- Desorientação, confusão;

- Náusea

- Aumento rápido da pulsação;

- Exaustão;

- Aumento dos batimentos cardíacos.

Sintomas de Hipertermia: O tratamento de todos os casos de hipertermia inclui o


resfriamento da vítima para reduzir sua temperatura corporal. Em casos moderados, deve-se resfriar a
vítima imediatamente através da remoção das roupas. Em seguida, deve-se jogar um pouco de água
morna sobre o corpo, abanando-a logo após. Isto causa uma larga evaporação da água fria. Deve ser
evitado emergir todo corpo da vítima em água fria pois irá causar vasoconstricção que diminuirá o
fluxo sanguíneo e assim, diminuir a perda de calor. Bolsas de gelo no pescoço, axila e virilha devem
ser usados. A vítima deve ser hidratada o quanto antes, permanecendo até que a mesma consiga urinar
em várias vezes.

Casos graves de hipertermia são emergências médicas. Os procedimentos de resfriamento


devem ser iniciados imediatamente, assim como as providências para o transporte para um centro
médico adequado. Soro fisiológico intravenoso deve ser administrado por pessoal qualificado, durante
o transporte.

Prevenção de Hipertermia: Aclimatização, hidratação adequada, experiência e senso comum


trabalham juntos na prevenção de hipertermia. Bebidas contendo álcool ou cafeína devem ser evitadas
pois causam desidratação. Medicações contendo anti-estaminas ou aspirina não devem ser usados em
mergulhos em águas quentes. Indivíduos em boa forma física e aqueles com baixos níveis de gordura
estão menos sujeitos a desenvolverem hipertermia.

9.6 - OUTROS PROBLEMAS MÉDICOS NO MERGULHO


9.6.1 - DESIDRATAÇÃO

Desidratação é uma preocupação para mergulhadores, particularmente nas zonas tropicais. Ela
é definida como uma excessiva perda de água pelos tecidos do corpo e é acompanhada por um
distúrbio no balanço de essenciais eletrólitos, particularmente sódio, potássio e cloreto.

Causas de Desidratação: Usualmente resulta de uma ingestão inadequada de líquidos e/ou


excessiva transpiração em climas quentes. A não ser que atenção adequada seja dada a hidratação, há
uma chance significante de o mergulhador entrar na água desidratado.

A imersão na água cria uma situação especial que pode conduzir o mergulhador à desidratação.
A água contrabalança o gradiente de pressão hidrostática no sistema circulatório, dos pés à cabeça.
Como resultado, o sangue que é normalmente agrupado nas veias das pernas, é translocado para o
pulmão, causando um aumento no volume sanguíneo central. O corpo, erradamente interpreta esse
aumento como um excesso de fluido. O reflexo se dá no aumento do fluxo de urina, que conduz ao
aumento de perda de água pelo corpo e concomitantemente, reduz o volume sanguíneo durante o
mergulho. Os reflexos são sentidos quando o mergulhador sai da água. A porção sanguínea novamente
volta para as veias das pernas. Pelo fato do volume total de sangue ter sido reduzido, o volume central
118
MANUAL DE MERGULHO AUTÔNOMO CBMERJ

cai dramaticamente. O coração pode ter dificuldade em captar sangue suficiente para bombeá-lo. O
mergulhador pode experimentar fraqueza nas pernas, sentindo dificuldades em permanecer em pé ou
subir uma escada. Este é o resultado da queda da pressão sanguínea quando o volume sanguíneo se
desloca para as pernas. Comumente o mergulhador sentirá fadiga, menos alerta e menor capacidade de
pensar claramente. Sua tolerância a exercícios será reduzida.

Prevenção de Desidratação: A desidratação aumenta o risco de doença descompressiva.


Mergulhadores devem monitorar a ingestão de líquidos e a quantidade de vezes em que urinam
durante operações de mergulho, para manterem-se bem hidratados.
9.6.2 - OTITE EXTERNA

Trata-se de uma infecção no canal do ouvido causada por mergulhos repetitivos. O primeiro
sintoma de otite é um prurido e/ou sensação de água no ouvido afetado. Esta sensação irá progredir
para dor local quando o canal do ouvido externo tornar-se inchado e inflamado. Nódulos linfáticos
podem crescer, causando dor no movimento maxilar. Febre pode ocorrer em muitos casos. Quando a
otite se desenvolve, o mergulhador deve terminar o mergulho e procurar uma assistência médica para
ser examinado.

A não ser que medidas preventivas sejam tomadas, é mais normal ocorrer otite durante
operações de mergulho, causando desconforto e restrições ao trabalho. A profilaxia para otite deve ser
tomada toda manhã, após cada mergulho e toda noite em que se realiza operações durante o dia.
Consiste na aplicação de 2% de ácido acético + acetato de alumínio em cada ouvido, que deve estar
virado para cima, durante 5 minutos.

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CAPÍTULO 16 - SERES MARINHOS PERIGOSOS

“O mar pode se tornar uma armadilha para aqueles que desconhecem ou desrespeitam os seres
que o habitam”.
A permanente busca por novos recursos, matérias-primas e alimentos, a crescente ocupação
das zonas costeiras por loteamentos e o grande incremento das atividades esportivas e de lazer ligadas
ao mar, sua fauna e flora, tem levado o homem, cada vez mais intensamente nos últimos anos, a
conviver e expor-se a riscos de acidentes com os seres marinhos. Como "intruso" desse complexo e
maravilhoso ecossistema, o homem deve respeito a seus habitantes. Não seria exagero dizer, que a
maioria dos acidentes são provocados pela falta de conhecimento e atenção, excesso de curiosidade ou
até mesmo prepotência, abuso e irresponsabilidade. Além da adaptação a novas condições num meio
que lhe é estranho, o homem enfrenta a natural reação do meio ambiente contra essa "invasão",
representada pela ação de alguns animais marinhos, muitas vezes em uma atitude natural de
comportamento ou defesa, que pode provocar sérios acidentes. Desde os conhecidos e temidos
tubarões a formas menores e menos temidas, mas não menos perigosas, como as águas-vivas. Nesse
capítulo sobre os seres marinhos perigosos, procuraremos descrever os principais animais, com
ocorrência no litoral brasileiro, que oferecem perigo para o homem, abordando, de forma resumida e
objetiva, suas principais características, hábitos, formas de agressão, tipos de acidentes que provocam,
em caso de mordida, picada com ou sem inoculação de peçonha, contato ou intoxicação, as formas de
evitá-los e o tratamento das lesões e desconfortos físicos ocasionados.
Veremos aqui agora, como os animais podem ser divididos, quanto a lesões:
Para efeito prático de estudo, os animais marinhos perigosos estão divididos em dois grupos:

GRUPO I – ANIMAIS QUE OCASIONAM OU PRODUZEM FERIMENTOS

- FALSOS CORAIS URTICANTES


- OURIÇOS MARINHOS
- TUBARÕES
- BARRACUDAS
- MORÉIAS
- RAIAS ELÉTRICAS

GRUPO II - SERES QUE INJETAM VENENO

- ÁGUAS VIVAS
- POLVO
- OURIÇOS DO MAR
- ARRAIAS
- CARAMUJOS

16.1 - GRUPO I - SERES QUE OCASIONAM OU PRODUZEM FERIMENTOS


16.1.1 - FALSOS CORAIS URTICANTES
São pólipos diminutos, coloniais e dimórficos, que se projetam através de póros em um
exoesqueleto calcário maciço (carbonato de cálcio). Assemelham-se aos corais verdadeiros e são
encontrados nos recifes tropicais até 30 metros de profundidade. Seus tentáculos são capazes de
infligir lesões urticantes que variam de intensidade de acordo com a espécie envolvida. Algumas
espécies ocorrentes em nossa costa e na costa da Flórida, conhecidas como "coral-de-fogo" possuem
poderosos nematocistos capazes de provocar sérias lesões muito dolorosas.

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Tratamento:
1) lavar a região atingida com solução de bicarbonato de sódio ou solução fraca de
amônia;
2) pomadas de corticosteróide ou anti-histamínicos no local;
3) logo que a dor começar a diminuir, lavar cuidadosamente a lesão com água e sabão para
remover todo o material estranho. Aplicar um curativo anti-séptico e cobrir com gaze esterilizada.
Prevenção: usar luvas, roupas de borracha e outros meios de proteção adequados.

Coral de Fogo

16.1.2 - OURIÇOS DO MAR (EQUINODERMOS)

São encontrados em grandes quantidades. As lesões são ocasionadas por espinhos, que
rodeiam todo o seu corpo. Os espinhos possuem pequenas rebarbas e se fragmentam muito facilmente
quando se tenta removê-los do local. Alguns ouriços dispõem de sistemas injetores de veneno nas
bases dos seus espinhos. A penetração dos espinhos ocasiona, imediatamente, a sensação de
queimadura, provocando, em casos graves, fraqueza nas pernas, anestesia, pulso irregular, paralisia,
dispnéia, etc.

Tratamento: remova os espinhos com uma pinça. Lave a região e cubra com gaze esterilizada.
Tratar a infecção se for o caso.

Prevenção: usar luvas, sapatos e outros meios protetores, evitando sempre tocar nos ouriços
do mar.

Ouriço do mar

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16.1.3 - TUBARÕES (CONCRICHTHYES)


São os seres marinhos mais temidos e respeitados em todo o mundo. Apesar de tal fama,
apenas doze espécies vivem no litoral brasileiro. Altamente instintivos e imprevisíveis e com enorme
capacidade de percepção proporcionada pela combinação de seus sentidos apurados, os tubarões são
atraídos e incentivados a atacar, por sangue, movimentos bruscos e descoordenados, barulhos, peixes
feridos, cores berrantes e objetos metálicos brilhantes. Usualmente, a lesão provocada pelo ataque de
um tubarão advém de uma única mordida, de formato parabólico com bordas irregulares (múltiplas
incisões lineares crescentes), que pode apresentar-se como laceração e/ou compressão, de acordo com
o tipo de tubarão agressor. Em função da força mandibular empregada pelo animal, os danos podem
estender-se internamente no abdômen e tórax quando a mordida ocorrer no tronco. Qualquer mordida,
independente do tamanho do tubarão, deve ser considerada grave devido às grandes dilacerações que
provocam. A hemorragia proveniente do corte de grandes vasos ou danos em estruturas internas
altamente vascularizadas induz ao choque hipovolêmico e o consequente afogamento da vítima. De
acordo com os registros, a mortalidade provocada por ataques de tubarão está situada entre 20 e 35%.

Tubarão Tigre Tubarão Cabeça Chata

16.1.4 - BARRACUDAS (OSTEICHTYES)

Há cerca de 20 espécies de barracuda, sendo a gigante a mais temida. Ela pode alcançar dois
metros de comprimento. Atacam ao homem muito raramente, mas as consequências são graves.
Acredita-se que sejam atraídas por cores claras e, em geral, os ataques são rápidos e ferozes.

Barracuda

16.1.5 - MORÉIAS

De hábitos costeiros, em águas relativamente rasas com fundo coralino e/ou rochoso,
permanece entocada durante o dia vigiando os arredores. Muito nervosa, é capaz de atacar e morder
qualquer coisa que a perturbe. À noite, quando é mais ativa, sai de sua toca para procurar alimento. A
moréia não sai de sua toca para atacar o homem. No entanto, quando um mergulhador se aproxima da
entrada de sua toca, ela põe a cabeça para fora, com a boca aberta ameaçadoramente. Se o "intruso"
não notá-la a tempo, poderá levar uma potente mordida. Os ferimentos causados pelas moréias são do
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tipo lacerante e denteado. A hemorragia pode ser grande e a infecção secundária é frequentemente
encontrada. Além das dilacerações provocadas, a ferida normalmente infecciona devido à enorme
quantidade de bactérias existentes no material não digerido que permanece entre seus dentes fortes e
cortantes.

Moréia

16.1.6 – RAIAS ELÉTRICAS

Duas famílias de raias elétricas possuem representantes em nosso litoral. A família


Torpedinidae, com duas espécies do gênero Torpedo, e a família Narcinidae, com três espécies dos
gêneros Diplobatis, Discopyge e Narcine. As raias elétricas vivem em todos os oceanos temperados e
tropicais do planeta e são os mais importantes membros desse grupo dos seres eletrogênicos. Embora
possam ser encontradas em profundidades medianas, são, na sua maioria, raias costeiras de águas
rasas. Péssimas nadadoras, quando não estão enterradas na lama ou na areia do fundo, onde passam
grande parte do dia, movimentando-se de forma bastante lenta. Todas as espécies possuem o corpo
com formato de disco, sendo a cauda e a nadadeira caudal bem desenvolvidas. A descarga elétrica é
uma simples reação involuntária de reflexo do animal. Com um choque contínuo ou vários repetidos,
a energia acumulada se esgota. Para recuperá-la, as raias elétricas necessitam descansar por algum
período. A voltagem produzida, que varia de acordo com a espécie, pode alcançar de 8 a 220 volts. As
espécies mais perigosas, dos gêneros Diplobatis e Torpedo, podem produzir descargas acima de 200
volts. A maior raia elétrica do nosso litoral é denominada Raia torpedo (Torpedo nobiliana). Atinge
1,8 metros de comprimento e seu dorso é marrom-escuro e o ventre branco. Devido ao seu grande
porte, pode produzir uma descarga de até 220 volts, bastante perigosa para o homem, apesar de não
haver registros de acidentes sérios. A espécie mais comum do litoral brasileiro e de boa parte da costa
das Américas, chamada vulgarmente de TREME-TREME, é de pequeno porte (seu comprimento não
passa de meio metro) e produz uma descarga que oscila entre 14 e 37 volts.

Raia Treme-Treme Raia Torpedo

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Tratamento: O tratamento para os casos de acidente com estes seres seria praticamente o mesmo para
quem sofre um choque na tomada elétrica de sua residência, não fosse o ambiente onde ele ocorre (a
água). Nesse sentido, existe o agravante da possibilidade de afogamento em caso de pânico ou mesmo
inconsciência ocasionados por um choque mais violento. Assim, nos acidentes com estes seres, a
vítima deverá ser retirada imediatamente da água a fim de evitar afogamentos. O seguimento do
tratamento deverá ocorrer de acordo com os danos e sintomas apresentados.

Prevenção: Os banhistas que costumam andar dentro da água nas áreas costeiras e rasas e aqueles que
desembarcam de suas lanchas nas praias devem ter muito cuidado, pois visualizar uma raia elétrica
deitada no fundo e coberta de areia ou lama é uma tarefa difícil. O uso de botas de borracha garante
uma proteção efetiva contra a descarga elétrica quando há o contato com o corpo do animal. O mesmo
acontece com as roupas de neoprene e as nadadeiras usadas pelos mergulhadores e pescadores
subaquáticos. Vale lembrar que apenas no ambiente terrestre, onde o ar atua como um ótimo isolante,
o choque elétrico só ocorre quando se está em contato direto com o solo ("aterrado"), permitindo que a
corrente passe pelo corpo. No ambiente marinho, sendo a água salgada um excelente condutor de
eletricidade, o contato com o corpo da raia, mesmo estando-se flutuando na massa de água, provocará
com certeza um choque no mergulhador ou banhista desprotegido.
Como todo choque elétrico, a descarga produzida pelas raias elétricas também pode provocar,
em função da espécie e consequentemente, de sua voltagem e dependendo do local e do tamanho da
pessoa atingida, desde bons sustos seguidos de muita adrenalina até sérias queimaduras. Dependendo
da espécie e de seu tamanho, o contato físico com uma raia elétrica descansada, com plena carga,
como as do gênero Torpedo, pode produzir um sério choque elétrico. A descarga é capaz de nocautear
um homem adulto e torná-lo incapacitado temporariamente.

16.2 - GRUPO II - SERES QUE INJETAM VENENO

No grupo dos invertebrados marinhos peçonhentos encontraremos vários animais distribuídos


em diversos ramos, como os poríferos (esponjas), os celenterados (caravelas, águas-vivas, corais, etc),
os equinodermos (ouriços), os moluscos (conus e polvos) e os anelídeos (poliquetas).

Esponjas Poliquetas Esponjas coloridas

16.2.1 - ÁGUA VIVA (CNIDÁRIA, HIDROZOA)

Vivem nos mares tropicais e subtropicais, nas águas pelágicas e costeiras e nas praias. Podem
ocorrer isoladamente ou em grandes grupos __ principalmente nos ciclos sazonais de procriação, em
áreas que são, em geral, conhecidas pelos habitantes locais e evitadas por motivos óbvios. Flutuam
calmamente e apesar de poderem se deslocar por contrações rítmicas estão, em grande parte, à mercê
das correntes e ondas. Durante as tempestades um grande número delas costuma ser lançado nas
praias. Seu alimento, peixes e pequenos invertebrados, são capturados e paralisados pelos
nematocistos dos tentáculos orais e conduzido para a boca. São exatamente esses tentáculos orais que
provocam acidentes com o homem. Todas as águas-vivas são capazes de infligir algum dano, porém
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apenas algumas espécies são realmente perigosas e podem provocar lesões muito dolorosas e sérias.
Em nosso litoral são muito comuns as espécies capazes de provocar pequenas lesões e dermatites
dolorosas. As mais perigosas, pouco comuns, podem infligir desde as lesões moderadas (dor pulsátil
ou latejante, porém raramente causando inconsciência) às lesões severas (dor intensa que pode levar à
perda da consciência e ao afogamento). Os acidentes com as espécies muito perigosas, denominadas
vulgarmente de vespas-do-mar e que podem provocar, além de erupções lacerantes e dor lancinante,
falência circulatória e paralisia respiratória, são mais raros em nossa costa.

São comuns em águas frias, possuem em seus tentáculos, células urticantes que em contato
com o corpo disparam um filamento urticante que gruda na pele. Outro parente da água-viva bastante
perigoso é a Caravela, comum em águas quentes do Nordeste, e que possui tentáculos que podem
atingir 1m de comprimento. Sintomas: Dor, irritação e vermelhidão na pele, em alguns casos até
parada respiratória, caso a pessoa seja muito sensível à substância, e tenha uma grande área do tórax
atingida.

Tratamento:

1) quando atingido, sair da água imediatamente;

2) procurar remover bem rápido a substância tóxica, protegendo as mãos e evitando espalhar
mais o material. Aplique amônia ou bicarbonato de sódio;

3) tentar reduzir a reação com pomadas de corticosteróides, anti-histamínicos, anestésicos


locais e compressas frias;

4) acompanhar com cuidado a reação sistêmica e um possível choque;

5) encaminhar a vítima para um hospital.

Prevenção:
1) esteja sempre alerta para evitar possíveis contatos;
2) use roupa de neoprene nas áreas suspeitas ou em mergulhos noturnos;
3) os tentáculos podem estar afastados do corpo da água viva por mais de um metro. Eles
podem ser perigosos mesmo depois de mortos. A manipulação deve ser feita com cuidado.

Medusa
Caravela

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16.2.2 - ARRAIAS (CHONDRICHTHYES)

Existem vários tipos de arraias, sendo que muitas delas apresentam veneno. As venenosas,
como a raia manteiga, tem uma espécie de ferrão coberto por uma bainha membranosa, geralmente, na
parte superior da cauda. A arraia permanece quase o tempo todo deitada, com o ventre pousado no
fundo, parcialmente coberta por areia. Só ataca quando perturbada, para isso sacode-se fortemente,
atingindo o mergulhador com o ferrão, que forma um ferimento relativamente profundo. O local
afetado fica dolorido. A dor pode espalhar-se por todo o membro. Ainda podem aparecer sintomas
como choques, náuseas, vômito, espasmos musculares.
Tratamento: 1) remover a vítima da água imediatamente;
2) lavar o ferimento com soro fisiológico ou água doce;
3) tentar remover os fragmentos do ferrão ou da bainha membranosa;
4) manter o ferimento em água tão quente quanto suportável por meia hora
aproximadamente;
5) injetar novocaína local, se necessário;
6) logo que a dor melhorar, cubra o ferimento e eleve o membro afetado;
7) em caso de sutura, nunca deixar de drenar o ferimento;
8) usar soro antitetânico e antibióticos para prevenir uma possível infecção
(nesta fase o paciente já deverá estar sob cuidados médicos);
9) esteja atento para os sintomas de choque, intervindo prontamente.

Arraia Jamanta
Arraia Manteiga

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16.2.3 - PEIXES VENENOSOS

São muito encontrados em águas tropicais e tendem a permanecer quietos no fundo. É o


contato casual do mergulhador com seus ferrões venenosos que, geralmente, causam lesões. Os mais
comuns são: o peixe-escorpião, o peixe-gato e o peixe-pedra. Quando o mergulhador chega a uma
região desconhecida para a prática da caça submarina ou qualquer outra modalidade de mergulho,
deve sempre consultar os pescadores e mergulhadores locais para obter informações quanto ao tipo de
vida existente na região, principalmente quanto ao tipo de seres marinhos que oferecem perigo ao
homem.

Peixe-Pedra Peixe-Escorpião Peixe-Gato

16.2.4 - SERPENTES (AMPHIBIA)

Seu aspecto é semelhante aos das serpentes de terra. O corpo é geralmente terminado por uma
cauda achatada, em forma de almofada. O maxilar superior é guarnecido na sua parte dianteira por
dois dentes ocos, capazes de injetar veneno. A serpente marinha só ataca o homem quando atingida
por ele, o que normalmente se dá por casualidade. Seu veneno é, em geral, bastante potente. A
característica principal é que a vítima só começa a sentir os sintomas da picada quase trinta minutos
após o ataque. As picadas são sistêmicas, com pouca reação local. Às vezes, pode passar
despercebida.
Sintomas:
1) sensação de mal estar e ansiedade;
2) sensação de língua grossa. Cansaço muscular com dor ao fazer movimentos;
3) astenia, evoluindo para dificuldades na movimentação. Instalação de paralisia
flácida, começando pelos membros inferiores de propagação ascendente;
4) dificuldade de falar e deglutir, com sensação de ardência na garganta;
5) espasmos musculares e convulsões;
6) dispnéia;
7) perda de consciência;
8) choque.

Serpente Marinha
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Tratamento:
1) Manter a parte comprometida quieta, evitando exercício;
2) Se a picada for em um membro, aplicar um torniquete acima da picada, afrouxando-o
de meia em meia hora por 5 minutos;
3) Transportar a vítima com um mínimo de exercício para o Hospital mais próximo.
4) Procurar capturar a serpente para a identificação;
5) É recomendável que se faça uma preparação do paciente com corticosteróides para
prevenir uma reação anafilática pela aplicação do soro;
6) O soro aplicado deve ser o antiofídico polivalente, por via endovenosa (20cc ou mais,
se necessário);
7) É importante que o paciente fique em observação para o caso de instalação de um
estado de choque;
8) deve-se estar alerta para:
a) Controle do balanço hidroeletrolítico
b) Distúrbios respiratórios.
9) Recomenda-se nestes casos a sedação com entorpecentes, com exceção da morfina.

16.2.5 - CARAMUJOS

Possuem um ferrão venenoso, principalmente, os da família conidal. Podem produzir,


inicialmente, uma isquemia localizada, cianose e sensação de dormência. Esses sintomas evoluem
muito rápido e passam para todo o corpo, sendo mais típicos nos lábios e na boca. Em casos graves,
podem aparecer paralisia, dificuldade respiratória, coma e morte causada por falência cardíaca. O
tratamento é semelhante aos das mordidas de cobra.

Os caramujos mais temíveis são os do gênero Planorbis, por serem hospedeiros de uma fase
intermediária da evolução do esquistossomo (verme que produz no homem a grave doença chamada
esquistossomose).

Prevenção: cuidado ao pegar caramujos. Sempre transportá-los em sacolas. Nunca entre as


roupas e o corpo.

Caramujo

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