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EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A.

Bizzo

cap. I - COMBUSTÃO

Reações de combustão são reações químicas que envolvem a oxidação


completa de um combustível. Materiais ou compostos são considerados
combustíveis industriais quando sua oxidação pode ser feita com liberação
de energia suficiente para aproveitamento industrial.
Os principais elementos químicos que constituem um combustível são
Carbono, Hidrogênio e em alguns casos, Enxôfre. Estes elementos reagem
com oxigênio, e na sua forma pura apresentam a seguinte liberação de
calor:

C + O2 → CO2 − 393.500 kj / kmol


H2 + 1
2 O2 → H 2 O − 241.800 kj / kmol
S + O2 → SO 2 − 29.300 kj / kmol

1.1 - Composição típica dos combustíveis

A maior parte dos combustíveis fósseis são hidrocarbonetos, e as


composições típicas são de: carbono, hidrogênio e oxigênio. Combustíveis
vegetais, produtos de madeira e refugo (bagaço, serragem, cascas, etc.)
são carboidratos que contém 1/2 átomo de oxigênio para cada atomo de
hidrogenio. Seus produtos de combustão são similares aqueles dos
hidrocarbonetos ( CO2 e H2O) mas a energia liberada durante a combustão é
comparativamente menor.

Tabela 1.1 - Composição típica de alguns combustíveis


C H O N,S,etc.
Gás Natural ~75 ~25 - -
Petróleo 84~86 11~14 0~3 0~5
Carvão
78~95 ~7 1~15 1~5
Mineral
Lenha 49 6 43 ~1

1.2 - Análise dos combustíveis

Os combustíveis gasosos são usualmente misturas de gases que podem


ser identificados individualmente. Combustíveis líquidos destilados tais
como a gasolina ou o querosene também são misturas de hidrocarbonetos
simples que podem ser separados e identificados. Carvões, óleos
combustíveis residuais e combustíveis vegetais têm estruturas complexas,
difíceis de se reduzir a componentes individuais. No entanto, para a
maior parte de nossos propósitos a análise ELEMENTAR do combustível é
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tudo o que é preciso. Dada a análise elementar de um combustível em


termos de C, H, O, S, etc., é possível calcular-se o requisito teórico de
ar e a quantidade e composição dos produtos de combustão.

1.3 - Estequiometria da combustão

A maioria dos processos industrias de combustão utiliza o ar


ambiente como fonte de fornecimento de oxigênio para a combustão. O
conhecimento das necessidades de ar para combustão, bem como da
composição e volume dos produtos de combustão é fundamental para o
projeto e contrôle de equipamentos de combustão. A estequiometria
química nos fornece os principais dados necessários aos cálculos de
combustão.

Os pêsos atômicos dos principais elementos envolvidos em combustão,


bem como a composição do ar ambiente encontram-se na tabela abaixo:

Elemento em massa em volume Elemento Peso Atômico


oxigênio 23,2% 21% Carbono 12
nitrogênio 76,8% 79% Hidrogênio 1
Oxigênio 16
Nitrogênio 14
Enxôfre 32

Sabe-se que alguns dos números acima requerem correção decimal. Os


erros são pequenos e podem ser ignorados em grande parte se tomados no
contexto da precisão das medições industriais comuns.

O peso molecular de um material é a soma dos pesos atômicos que o


constituem. Por exemplo, o peso molecular do monóxido de carbono, CO, é:
12 + 16 = 28

da água, H2O, é:
2 + 16 = 18, e assim por diante.

Não existem unidades comuns, mas uma unidade prática é a molécula-


grama, ou grama-mol, escrita normalmente como gmol, que é em efeito, o
peso molecular expresso em gramas. Assim a molécula grama, ou o gmol do
monóxido de carbono pesa 28 gramas. Análogamente pode ser utilizado a
molécula-quilograma, o kgmol, ou a molécula-libra, o lbmol, o equivalente
no sistema inglês.

Se uma reação for escrita em forma molecular, ela pode ser tomada
para representar as quantidades relativas de reagentes em termos destas
unidades práticas, por exemplo:

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C + O2 -> CO2

é uma equação que indica o que acontece quando um átomo de carbono e uma
molécula de oxigênio reagem completamente. Em termos práticos ela
estabelece que 1 kmol de carbono reage com 1 kmol de oxigênio para
formar, no final, 1 kmol de dióxido de carbono. A utilização de pesos
atômicos ou moleculares para os elementos vai se tornar evidente quando
os cálculos acima forem estudados. Os pesos atômicos são usados para
elementos que são gasosos em CNTP. Para produtos e combustíveis gasosos,
esta prática pode ser levada um estágio adiante. A teoria de Avogadro
estabelece, na verdade, que volumes iguais de gases diferentes sob as
mesmas condições contém um número igual de moléculas de gás. Por exemplo,
1 metro cúbico de nitrogênio em CNTP contém tantas moléculas de
nitrogênio quanto 1 metro cúbico de dióxido de carbono contém de
moléculas de dióxido de carbono a CNTP. Segue-se que a reação molecular,
quando escrita para combustíveis gasosos, não só indica a reação e os
produtos em termos de moléculas-kg mas também em termos de volumes. Por
exemplo, se o metano queima com oxigênio e reage completamente com tudo
permanecendo em estado gasoso e sendo medido sob as mesmas condições de
pressão e de temperatura, temos:

CH4 + 2 O2 → CO2 + 2 H2 O
1 kmol 2 kmol 1 kmol 2 kmol
1 volume 2 volumes 1 volume 2 volumes

Os requisitos de energia da grande maioria dos processos


industriais são obtidos originalmente de combustíveis convencionais
através de uma complexa cadeia de reações denominada combustão.
Felizmente para a maioria das aplicações, esta situação de combustão
potencialmente complicada pode ser reduzida a uma consideração sobre os
materiais de partida - combustível mais oxigênio, normalmente como um
componente do ar - e os produtos finais. Tal simplificação facilita por
exemplo o cálculo do ar ou do oxigênio necessário para um combustível, o
desprendimento potencial de calor e temperatura e a composição ideal dos
produtos gasosos de combustão produzido. Este último ponto é útil ao
inverso, em que uma comparação da composição real de gás de combustão com
a composição ideal indica o rendimento do processo de combustão.

1.4 - Cálculo da proporção teórica de Ar/combustível

Qualquer combustível convencional requer, de acordo com sua


composição, uma quantidade específica e calculável de oxigênio (e
portanto de ar, uma vez que este é o agente comum de fornecimento) para
atingir teoricamente uma reação completa. Menos do que essa quantidade
vai produzir combustão incompleta e portanto perda de calor potencial.
Mais do que essa quantidade, gera perdas excessivas de gás de combustão e
da temperatura. Na prática, um pouco mais do que a quantidade teórica é
usada por razões posteriormente explicadas. Para um material simples tal
como o metano, constituinte principal do gás natural, pode ser escrita a
equação de combustão:

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CH 4 +2O2 (+ N 2 do ar )→CO2 +2H 2O+(N 2 do ar, não modificado)

A rigor, o fenômeno da dissociação vai alterar um pouco esta reação.


Isto, de fato, significa a separação de parte dos produtos da combustão
em outros compostos que não sejam CO2 e H2O, e consequentemente a perda
de calor, de acordo com as condições exatas de equilíbrio relacionadas às
temperaturas, pressões e concentrações. A dissociação típica do dióxido
de carbono é representada por:

2 CO2 → 2 CO + O2

Na maioria das condições industriais, a dissociação não está muito em


evidência, e, apesar de sua importância ser reconhecida, ela não é levada
em conta para os propósitos deste capítulo introdutório. As técnicas de
cálculo estabelecidas estão disponíveis na literatura especializada.
Segue-se da equação que 1 Kgmol de metano requer 2 Kgmol de
oxigênio para a reação teórica completa. Portanto, convertendo para uma
base de massa, 16 Kg de metano requerem 64 Kg de oxigênio o que, uma vez
que o ar contém 23,2% de oxigênio por peso, dá uma proporção teórica de
ar/combustível de 17,25: 1. É visto que, em base de volume, 1 volume de
metano requer 2 volumes de oxigênio de forma que a proporção volumétrica
correspondente de ar/combustível é 9,53 : 1 . Tal mistura quimicamente
correta é uma mistura estequiométrica. As situações em que uma equação
exata pode ser escrita são poucas e são quase exclusivamente para
combustíveis gasosos de composição conhecida ou determinada. Exatamente o
mesmo procedimento pode ser seguido em qualquer caso onde equações exatas
possam ser formuladas para os constituintes reativos, tomando-se os
inertes como não-afetados e qualquer oxigênio livre na mistura original
como disponível para a combustão.

Exemplo 1.1:

Determine a proporção estequiométrica de ar/combustível para o propano.

O balanceamento das equações é feito levando-se em conta a


conservação da massa dos elementos químicos, ou seja, para um determinado
elemento, carbono, por exemplo, o número de átomos que existirá nos
produtos de combustão é o mesmo número de átomos dos reagentes.

C3 H 8 + x(O2 + 3,76 N 2 )→3CO2 +4H 2O+ y N 2

A quantidade "x" é o número de moléculas de O2 necessários a


combustão completa do propano. Como a combustão é feita, no caso, com ar
atmosférico, para cada molécula de oxigênio do ar, é considerado
obrigatóriamente 3,76 moléculas de nitrogênio (a relação de volumes entre
os dois gases no ar atmosférico). A necessidade de oxigênio "x" é
calculada fazendo-se o balanceamento dos átomos de oxigênio:

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2 x=(3 × 2) + 4
x=5
y = 3,76 x = 18,8

Isto significa que para cada mol de propano, ou cada volume de


propano são necessários 5 volumes de oxigênio e consequentemente:

5 × (1 + 3,76) = 23,8 volumes de ar atmosférico.

É conveniente para os combustíveis gasosos tomar-se uma base


arbitrária de 100 volumes, metros cúbicos, ou qualquer unidade que seja
apropriada. Para os constituintes ativos, as reações são escritas
levando-se em conta o número de volumes presentes por 100 volumes da
mistura.
A proporção estequiométrica de ar/combustível para esta mistura
gasosa em uma base de volume é, então, 23,8 : 1. Uma vez que a relação
entre volumes, moléculas e moléculas-Kg estejam bem estabelecidas é um
problema fácil converter em base de massa. Não é necessário dizer que,
todos os volumes relativos precisam ser medidos sob condições
semelhantes. No exemplo acima, a relação ar/combustível em massa pode
ser calculada com base nos pesos moleculares:

1 mol de propano pesa 44 kg e necessita 23,8 kmol de ar, que pesa


686,4 kg, ou seja, a relação A/C em massa é 15,6 : 1.

A massa de ar necessária foi calculada multiplicando-se diretamente


o índice "x" pelos pesos moleculares do oxigênio e nitrogênio, levando-se
em conta a sua devida proporção:

(5 × 32) + (5 × 3,76 × 28) = 686,4


O2 N 2

Para a maioria dos combustíveis sólidos e líquidos, tais equações


exatas não são possíveis devido à complexidade delas e em alguns casos,
devido à sua composição indeterminada. No entanto, uma simplificação pode
ser aplicada de tal forma que a análise química básica (quantidade de
elementos constituintes) possa ser avaliada, não fazendo nenhuma
referência, qualquer que seja, ao modo pelo qual esses elementos são
combinados no combustível. Para combustão completa, as exigências de
peso líquido de oxigênio são obviamente as mesmas e assume-se que
qualquer oxigênio no combustível está disponível para reação. A posição
provável para tal oxigênio é que ele tenha combinado com a estrutura dos
combustíveis, tendo assim o mesmo resultado final.A análise básica é
comumente determinada em base gravimétrica ou de peso e usada com
referência a Kgmol. O modo de aplicação é ilustrado melhor pelo exemplo.

Exemplo 1.2 :

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Uma amostra de querosene tem uma análise básica de 86% de carbono


e 14% de hidrogênio por peso. Determine a proporção estequiométrica de
ar/combustível.

Tome uma base arbitrária de 100 Kg de querosene e converta a


quantidade em massa de cada elemento em quantidade de kmol:
cada 100 kg de combustível possui:
86
86 kg de C, que corresponde a = 7 ,17 kgmol de C
12

14
14 kg de H, que corresponde a = 14 kgmol de H
1

a reação estequiométrica pode ser escrita, fazendo-se o devido


balanceamento:

7,17C +14H + x(O2 + 3,76 N 2 ) → 7,17CO2 +7 H 2 O+ yN 2


2 x = 7,17 × 2 + 7
x = 10,67

massa de ar necessária :
10,67 × 32 + 10,67 × 3,76 × 28 = 1464,8 kg

relação A/C em massa :


1464,8
= 14,6
100
Assim a proporção estequiométrica de ar/combustível, Kg/Kg é
14,6:1. Observe que nenhuma referência, qualquer que seja, é feita à
maneira em que o carbono e o hidrogênio são ou podem estar combinados no
querosene. Um exemplo a mais ilustra o tratamento dos materiais inertes e
do oxigênio composto.

Exemplo 1.3 :

Um combustível fóssil tem uma composição em peso de:

Carbono, 72,0%; Hidrogênio, 14,0%, Oxigênio, 8,0%; Nitrogênio, 2,8%;


Enxofre, 3,2%.

Determine a proporção estequiométrica de ar/combustível.

C H O N S

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massa do constituinte,
72 14 8 2,8 3,2
kg/100 kg de combustível

kgmol de cada 6,0 14,0 0,5 0,2 0,1

a equação estequiométrica fica:

6C + 14H + 0,5O + 0,2 N + 0,1S + x(O2 + 3,76 N 2 ) → 6CO2 + 7 H 2 O + 0,1SO2 + yN 2


2 x + 0,5 = 6 × 2 + 7 + 0,1× 2
x = 9,35

massa de ar necessária :
9,35 × 32 + 9,35 × 3,76 × 28 = 1283,6 kg

relação A/C em massa :


1283,6
= 12,8
100
A proporção estequiométrica de ar/combustível em base de peso é
12,8:1. Observe que se assume que o conteúdo de enxofre está convertido
em dióxido de enxofre. Se um cálculo for feito para incluir uma
quantidade de ar em excesso, o procedimento é como o de cima, com um
fator de excesso sendo introduzido na última etapa.

Vamos definir aqui o coeficiente de excesso de ar ϕ como a relação


entre o nº de moles realmente utilizado na combustão e o nº de moles
estequiométricamente necessário:

n mol − realO2 m& realO2


ϕ= =
n mol − esteqO2 m& esteqO2

Por exemplo, se este combustível fosse queimado com 20% de excesso


de ar, então a proporção de trabalho de ar/combustível é 1,20 vezes a
proporção estequiométrica. A proporção ar/combustível com 20% de excesso
de ar = 12,8 x 1,20 = 15,36 : 1. Quando um combustível contém cinza ou
umidade, estas podem ser tratadas como constituintes inertes para
aparecerem como tais nos produtos finais da combustão. Os principios
utilizados nestes exemplos podem ser aplicados com igual facilidade a
todos os combustíveis.

1.5 - Avaliação do rendimento da combustão

Se a composição do combustível e a composição dos produtos de sua


combustão são medidos, o rendimento da combustão pode ser calculado. A
quantidade teórica de ar (ou oxigênio) para combustão completa e a
composição estequiométrica dos produtos combustíveis são calculados e
comparados com a composição real obtida pela análise dos gases de
combustão; isto pode mostrar:

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a) que quantidade de calor está sendo desperdiçada em aquecer


quantidades excessivas de gases de combustão; isto quer dizer que está
sendo usado mais ar que o necessário. (Na prática um pequeno excesso
sobre o ar estequiométrico é necessário para assegurar uma completa
combustão).
b) Se parte do combustível está escapando da região de combustão
sem estar completamente queimado. Isto é demostrado pela presença de CO,
fuligem, combustível não queimado e possivelmente hidrogênio nos produtos
combustíveis.

A análise dos gases de combustão ou de gases perdidos dos processos


de combustão é comumente relatada em base sêca de volume, isto é, sem
referência à água no gás. Uma grande variedade de equipamentos para
análise do gás é usada, desde os tipos simples de aparelhos, Orsat e
Fyrit aos mais sofisticados aparelhos contínuos. O valor da análise do
gás de combustão reside na informação que tal análise é capaz de
proporcionar e na interpretação posta em tal informação. Como foi
observado previamente, um combustível específico requer uma quantidade
específica de ar para a combustão completa teórica, com alguma quantidade
adicional para atingir praticamente a combustão completa. Abaixo desta
quantidade prática, que é uma função do tipo de combustível, do
rendimento do queimador e das condições de combustão, é desperdiçado
combustível e esta condição pode ser reconhecida pelo aparecimento de
quantidades excessivas de monóxido de carbono no gás de combustão, um
pouco antes da produção da fumaça prêta (fuligem). Acima desta
quantidade, o calor é perdido junto com quantidades excessivas de gás de
combustão e é reconhecido pela grande quantidade de oxigênio no gás de
combustão. A aplicação do bom senso ao interpretar a análise do gás de
combustão pode levar, por exemplo, à descoberta de deficiências no
processo de combustão, vazamento no forno ou no sistema condutor e
inconsistências na análise e especificação do combustível.

1.6 - Teor de CO2 no gás de exaustão

A medida do teor de CO2 no gás de exaustão seco (uma medição simples


e comum) dá uma medida útil do rendimento da combustão de um determinado
combustível. A proporção máxima de CO2 nos produtos de combustão será
encontrada quando a relação ar/combustível for estequiométrica, figura
1.1. Observemos que em relações abaixo da estequiométrica, o teor de CO2
também cai, porém há o aparecimento de monóxido de carbono.

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Fig. 1.1 - Teor de CO2 no gás de exaustão

Na prática as concentrações de CO2 devem ser mais baixas que a


estequiométrica pela necessidade de se usar ar em excesso a fim de se
atingir a combustão completa. A quantidade de excesso de ar necessária
decresce com o aumento da capacidade e com o rendimento maior no
equipamento de combustão. Valores típicos são:

Gases: 0 a 10%
Líquidos: 2 a 30%
Sólidos: > 50%

1.7 - Determinação da Análise Teórica do Gás de Combustão

Uma vez que, segundo a Lei de Avogadro, o Kgmol e o volume são


numericamente parâmetros permutáveis sob condições adequadas, a
determinação das proporções de ar/combustível está encaminhada a partir
dos produtos da análise teórica do gás de combustão. A qualificação
teórica está assinalada aqui porque, devido a pontos práticos observados
anteriormente, algumas diferenças podem ser encontradas entre a análise
real do gás e a proposta nas mesmas condições iniciais. Então, a análise
teórica indica a situação ideal, e quando mais perto a análise prática
estiver desta tanto melhor. Para qualquer instalação que utiliza
combustível, a experiência vai ditar o limite desta aproximação. Para
combustíveis gasosos, a estimativa da análise do gás de combustão é um
cálculo feito diretamente em base volumétrica. Suponha que o metano seja
queimado completamente com sua quantidade estequiómetrica de ar:

CH 4 + 2 O2 + 7 , 52 N 2 (do ar) → CO2 + 2 H 2 O + 7 , 52 N 2 (sem modificar)

Nos gases de combustão secos, portanto, existe 1 volume de CO2 para


7,52 volumes de N2. Isto dá um conteúdo de dióxido de carbono (talvez o
ítem mais utilizado em tais análises) de 11,73%. Um gráfico com o
conteúdo de CO2 no gás de combustão e com a relação ar/combustível vai
mostrar um pico teórico na condição estequiométrica, daí a importância
deste item para o rendimento total e como uma indicação das condições de
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operação.Quando é fornecido ar em excesso, o ar excedente passa através


do sistema, inalterado. Isto é uma extensão do cálculo acima para uma
mistura gasosa e será apreciado através de um exame do seguinte exemplo
de análise de gás.

Exemplo 1.4:

Um gás de composição:

C3H8 CO H2 N2 CO2 O2
20 25 30 10 10 5 %,

em volume, é queimado com 20% de excesso de ar. Determine a análise do


gás de combustão sêco.

Balanço estequiométrico:

20C 3 H 8 + 25CO + 30 H 2 + 10 N 2 + 10CO2 + 5O2 + x(O2 + 3,76 N 2 ) → 95CO2 + 110 H 2 O + yN 2

balanço de oxigênio :
25 + 2 × 10 + 2 × 5 + 2 x = 2 × 95 + 110
x = 122,5
volume de ar necessário : 122,5 + 122,5 × 3,76 = 583,1

relação ar/combustível estequiométrica :


583,1
= 5,83
100

Foi mostrado que 100 volumes deste gás requer 122,5 volumes de
oxigênio, ou 583 volumes de ar atmosférico. Dessa forma, 20% de excesso
significa que 24,5 volumes extra de oxigênio são fornecidos, para ir
através do sistema sem se alterar. Associado a este total de 147 volumes
de oxigênio, haverá 553 volumes de nitrogênio para se acrescentar aos 100
de combustível. A composição em volumes dos produtos de combustão,
incluídos o excesso de ar fica:

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95 CO2 + 110 H 2 O + 552 , 7 N 2 + 24 , 5 O2

volume total dos gases secos: 95 + 552 , 7 + 24 , 5 = 672 , 2


composição dos gases secos:
CO 2 : 95
672,2 = 0 ,141
O2 : 24 ,5
672 ,2 = 0 , 036
N2: 552 ,7
672 ,2 = 0 , 823

volume total dos gases úmidos: 95 + 110 + 552,7 + 24,5 = 782,2


composição dos gases úmidos:

CO 2 : 95
782 ,2 = 0 ,121
H 2 O: 110
782 ,2 = 0 ,140
O2 : 24 ,5
782 ,2 = 0 , 031
N2: 552 ,7
782 ,2 = 0 , 706

Exemplo 1.5 :

Metano é queimado com uma deficiência de 5% de ar estequiométrico.


Calcule a análise do gás de combustão.

Estequiométricamente, a combustão completa de metano com ar pode


ser representada como antes:

CH 4 +2(O2 + 3,76 N 2 ) →CO2 +2H 2O +7,52 N 2

e com uma deficiência de de ar de 5%:

CH 4 + 1,9(O2 + 3,76 N 2 ) → aCO2 + bCO + c H 2 O+ 7,14 N 2

É assumido que a oxidação do hidrogênio do combustível é


inicialmente completada, sua reação pode ser representada como:

H4 + O2 → 2 H2 O

Portanto sobram 0,9 O2 para oxidação de 1 C, representada em 2


etapas:

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C + 0, 9 O2 → CO + 0, 4 O2

CO + 0, 4 O2 → 0, 8 CO2 + 0, 2 CO

Assim a=0,8 e b=0,2, de forma que toda a equação é:

CH 4 + 1, 90 O2 + 7 , 14 N 2 → 0, 8 CO2 + 2 H 2 O + 7 , 14 N 2

Um processo semelhante pode ser aplicado a combustíveis mais


complexos mas precisa-se lembrar que esta simples aproximação tem
limitações específicas.

1.8 - Determinação da Quantidade do Excesso de Ar da Análise do Gás de


Combustão

O uso da análise de gás de combustão para determinar a quantidade


de ar excedente, se intencionalmente fornecido para a integridade da
combustão ou se involuntariamente fornecido através de vazamento,
consiste essencialmente em fazer os cálculos anteriores ao inverso e
equilibrar os elementos que entram no processo com aqueles que saem.
Esses equilíbrios dos elementos é necessário, uma vez que as análises são
usualmente apresentadas em percentagens, e não em quantidades absolutas.
Alguns exemplos vão demonstrar a aproximação utilizada.

Exemplo 1.6 :

O metano é queimado com excesso de ar e dá uma análise de gás de


combustão seco de:

CO2 9,15%, O2 4,58%, N2 86,27 % por volume (ou kmol/100 kmol).

Calcule a quantidade de ar excedente utilizada.

Reescrevemos agora a equação da combustão do metano incluído o


coeficiente de excesso de ar:

CH 4 +ϕ 2(O2 + 3,76 N 2 ) →CO2 +2H 2O +(ϕ − 1)2O2 +ϕ 7,52 N 2

Observe que o oxigênio estequiométricamente excedente, bem como o


nitrogênio associado sai junto com os produtos da combustão, compondo
assim a massa total dos gases na saída. Para cada kmol de metano
queimado nestas condições, é produzido um total de :

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1 + 2 + (ϕ − 1)2 + 7,52ϕ = 1 + 9,52ϕ kmol de produtos de combustão úmido, ou

1 + (ϕ - 1)2 + 7,52ϕ = 9,52ϕ − 1 kmol de produtos de combustão secos

Se a concentração de CO2 é de 9,15% nos gases secos, é possível


determinar o coeficiente de excesso de ar:

1
0, 0915 = ⇒ ϕ = 1, 25
9 , 52 ϕ − 1

Quando a combustão foi incompleta e algum monóxido de carbono foi


produzido, o cálculo de ar excedente precisa levar isto em conta e fazer
concessão ao oxigênio presente no gás de combustão, que pertence ao
monóxido de carbono. O aparecimento de monóxido de carbono, devido à
combustão incompleta, num gás de combustão em que ar excedente é
utilizado, não é prontamente previsível mas o efeito de sua presença é
visto na análise do gás.

Exemplo 1.7 :

Um combustível de composição

C H O N S Cinzas

72,0 8,4 8,0 2,8 3,2 5,6


(porcentagem em massa)

produz uma análise de gás de combustão sêco de:

CO2 O2 CO N2

12,0 5,0 1,2 por diferença


(porcentagem em volume)

e o resíduo sólido da combustão contém 25% de carbono. Determine a


quantidade de ar excedente que é fornecida.

Existem três etapas para resolver neste cálculo:


(1) Calcular as exigências teóricas de ar;
(2) Fazer o balanceamento do carbono, determinando assim a parcela de
carbono que queimou esaiu com os produtos de combustão, por unidade de
combustível queimado.
(3) Fazer o balanço de oxigênio, considerando a devida proporção entre
CO2 e CO e O2.

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1ª etapa:

partindo de l00 kg de combustível, incluso as cinzas, já calculamos


diretamente o nº de kmol de cada elemento:

6C + 8,4 H + 0,5O + 0,2 N + 0,1S + x(O2 + 3,76 N 2 ) → 6CO2 + 4,2 H 2 O + 0,1SO2 + x3,76 N 2

0,5 + 2 x = 6 × 2 + 4,2 + 0,1 × 2 ⇒ x = 7,95

exigência de oxigênio = 7,95 Kg.mol/100 Kg de combustível

2ª etapa:

Para 100 kg de combustível existem 72,0 Kg de carbono. O resíduo sólido


da combustão contém a cinza indicada na análise mais carbono não queimado
(25%). O resíduo total é assim 5,6 de cinza mais 1,87 Kg de C. A quantia
de C queimado é dessa forma, 5,84 Kg.mol (72 kg - 1,87 kg).
6C + 8,4H + 0,5O + 0,2 N + 0,1S + ϕ 7,95(O2 + 3,76 N 2 ) →
5,31CO2 + 0,53CO + 4,2H 2 O + 0,1SO2 + zO2 + (ϕ 3,76 × 7,95 + 0,2)N 2 + 0,16C (nas cinzas)

%O2 5
= = 0,4167⇒ z = 0,4167 × 5,31 = 2,21
%CO2 12

Observe que foi descontado o parcela de carbono que não queimou, e foi
mantido a relação CO2/CO, possibilitando o balanceamento correto da
equação e o cálculo do coeficiente z, relativo ao O2, pela relação O2/CO2.

3º etapa:
o volume total de gases seco produzido é :
5,31 + 0,53 + 0,1 + 2,21 + (ϕ 3,76 × 7,95 + 0,2 ) = 29,892ϕ + 8,35

sendo o teor de CO 2 igual a 12%, o coeficiente de excesso de ar é calculado :

5,31
0,12 = ⇒ϕ = 1,20
29,892ϕ + 8,35

A avaliação do excesso de ar assume combustão completa, e portanto


o excesso precisa ser relatado nesta base. A determinação de ϕ acusou um
excesso de 20,0%.
O Oxigênio em excesso é devido a somatória das parcelas de oxigênio
oriundos do próprio ar em excesso fornecido, de oxigênio devido ao

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Carbono que não queimou e apareceu nos residuos de cinzas, e de oxigênio


devido a formação de monóxido de carbono, que não foi oxidado
completamente em CO2.

A importância dos cálculos de combustão em circustâncias


industriais usuais foi mostrada e os exemplos escolhidos aqui não
pretendiam somente mostrar o processo de cálculo mas salientar alguns
pontos assinalados. Não está implícito que o método de cálculo
demonstrado aqui seja o único método ou mesmo o melhor, mas é um enfoque
dos princípios básicos, e como tal, é flexível e amplamente aplicável.
Existem situações aqui minimizadas para maior clareza, nas quais os
cálculos necessários são muitos, e muito mais sofisticados, como por
exemplo, os processos de altas temperaturas onde os efeitos da
dissociação são mais importantes. Um enfoque de tais situações pode ser
feito, fundamentado no método de cálculo anterior.

1.9 - Temperatura de Chama

Qualquer reação de combustão, na verdade qualquer reação química,


pode ser geralmente representada pelo esquema:

reagentes (cadeia de reação)→ produtos

Vamos apresentar isto simbolicamente como:

A + B → C + D

Na verdade, não vai haver nunca uma transformação completa de A e B para


C e D. Antes, é atingida uma situação de equilíbrio, a qual deveria ser
representada como:

A + B ←→ C + D

Naturalmente, são estabelecidas reações para se atingir os


produtos, de forma que na maioria das circustâncias usuais o equilíbrio é
muito mais para a direita, com C e D predominando. No entanto, se os
intrumentos analíticos são bons o bastante, os traços de A e B serão
detectados qualquer que sejam as circustâncias. Também, como a reação é
uma cadeia de reações, podemos esperar encontrar traços dos materiais de
cadeia.

Os fatores que controlam o grau de dissociação para qualquer reação


dada (isto é, a posição de equilíbrio) são: temperatura, pressão e
concentração. O princípio de Le Chatelier diz que se uma variável que
afeta o equilíbrio de um sistema é modificada, então a posição de
equilíbrio é deslocada para se opor à mudança.

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Para efeito de cálculos de combustão industrial, onde os níveis de


temperatura são usuais até um máximo de 1500 ~1600 K, a dissociação
assume pouca ou nenhuma importância. A dissociação do CO começa a ser
detectada por volta de 2000 K, e apresenta-se como um caso particular dos
processos gerais de combustão e não será aqui tratada em detalhes. Os
príncipios gerais da dissociação são encontrados na literatura de
cinética química e sua aplicação específica em combustão é necessária
quando a combustão é uma parte de um processo e determina sua
eficiência, tais como nos processos de incineração térmica, na
gaseificação de carvão e lenha, ou na fabricação de combustíveis
sintéticos.

1.10 - Medição do rendimento de combustão

Para se calcular o rendimento de calor útil de um sistema de


combustão é necessário saber o Poder calorífico do combustível, a relação
ar ( ou oxigênio) /combustível e o grau de complexidade da combustão.
O Poder Calorífico de um combustível é definido como a quantidade
de calor desprendido pela combustão completa do combustível. Se esta
quantidade de calor é medida com os produtos de combustão saindo
completamente na fase gasosa, este é denominado Poder Calorífico
Inferior. Se, por outro lado, a água nos produtos de combustão for
considerada na fase líquida, ou seja, com o produtos de combustão à
temperatura ambiente, o calor desprendido é denominado Poder Calorífico
Superior. A diferença entre os dois valores é exatamente a entalpia de
vaporização da água formada na combustão do hidrogênio constituinte e da
água presente no combustível na forma de umidade:

PCi = PCs − 2440(9h + u )


onde :
PCi : Poder Calorífico Inferior (kJ/kg)
PCs : Poder Calorífico Superior (kj/kg)
h : teor de hidrogênio constituinte do combustível (kg/kg)
u : teor de umidade no combustível (kg H 2 O / kg de combustível sêco)

As medições de Poder Calorífico em laboratório são realizadas em


bomba calorimétrica com temperatura do meio controlada próximo a
temperatura ambiente, e o valor obtido é sempre o Poder Calorífico
Superior. A avaliação do PCI é feita através da equação acima, e
portanto deve ser conhecida o teor de hidrogênio do combustível, ou pelo
menos, estimado com alguma margem de segurança. A maioria dos processos
industriais tem seus produtos de combustão exauridos a temperaturas onde
a água está na forma de vapor, e por esta razão o conhecimento do Poder
Calorífico Inferior é útil e facilita os cálculos de aproveitamento de
calor.

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1.11 - Temperatura Adiabática de Chama

O desprendimento de calor proveniente da reação de combustão pode


ser calculado conhecidos o Poder Calorífico do combustível e a taxa de
consumo de combustível na fornalha. Se for assumido que todo o calor
gerado é transformado em entalpia dos produtos de combustão, sem nenhuma
perda de calor por radiação ao ambiente externo (uma situação, na
prática, impossível) ou perda de temperatura por dissociação, é possível
calcular a Temperatura Adiabática de Chama:

m& c PCi = m& g Cp g (Tg − Tar )

onde :
mc : taxa de consumo de combustível (kg/s)
PCi : Poder Calorífico Inferior (kJ/kg)
m g : massa de gases de combustão (kg/s)
Cp g : Calor Específico dos gases de combustão (kJ/kg K)
T g : temperatura de saída dos gases de combustão(Temperatura Adiabática de Chama)(K)
Tar : temperatura de entrada do ar de combustão (K)

A temperatura Adiabática de Chama é uma abstração, pois nenhum


processo real pode ser adiabático, e tanto mais difícil em altas
temperaturas, geralmente produzidas em condições de chama. Além disso, a
dissociação começa a se fazer sentir em temperaturas acima de 2000 K,
e o calor desprendido tende a ser menor que o calculado. De qualquer
maneira, o cálculo pode ser útil para efeito de comparação de potenciais
de combustíveis para uma dada necessidade de calor e temperatura.
Observe que no cálculo da massa de gases produzidos está implícito a
relação ar/combustível, pois os produtos de combustão é a soma das massas
do ar de combustão e do combustível consumido no processo. A temperatura
adiabática de chama pode ser então calculada para uma massa unitária de
combustível desde que se estabeleça a relação ar/combustível.

De modo inverso, conhecido a temperatura de saída dos gases de


combustão, é possível calcular o calor recebido pelo processo de
combustão, o qual será a diferença entre a entalpia dos gases à
temperatura adiabática de chama e entalpia de saída dos produtos de
combustão:

Q& = m& c PCi − m& g Cp g (Ts g − Tar )

onde :
Q& : calor recebido pela fornalha (kJ/s)
Ts g : temperatura de saída dos gases de combustão na fornalha (K)

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