Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Perigos decorrentes do desequilíbrio ambiental interpõem a humanidade mudanças
paradigmáticas de desenvolvimento, haja vista, que o modelo antropocêntrico pautado em um
desenvolvimento puramente econômico fissurou-se. Para tanto, partindo do problema sobre a
proximidade entre o princípio da responsabilidade de Hans Jonas e o ecodireito, e a
consonância de ambos com a ecologia, como forma de enfrentar os desafio ambientais, este
trabalho objetivou investigar a relação entre o paradigma ético desenvolvido por Hans Jonas,
consubstanciado no princípio da responsabilidade, e o ecodireito, compreendido como parte
jurídica imprescindível da ecologia, disciplina esta marcada pela multidisciplinariedade e
complexidade, ainda mais, considerando o direito instrumento capaz de assegurar a mudança
paradigmática antropocêntrica para um novo modelo ecocêntrico, essencial para a
continuidade da existência da espécie humana. Utilizando-se da investigação bibliográfica a
partir do método hipotético-dedutivo, bem como do comparativo, sedimentou-se pela
proximidade do princípio da responsabilidade e o ecodireito, pelo qual ambos perseguindo o
fim de um paradigma ecocêntrico, dimensionam-se ecologicamente para garantir o direito das
presentes e futuras gerações, ao mesmo tempo, assegurar a existência da própria humanidade.
Abstract
Dangers arising from environmental imbalance interpose humanity with paradigmatic
developmental changes, given that the Anthropocentric model based on a purely economic
development has become unfounded. To do so, starting from the problem About the proximity
between the principle of responsibility of Hans Jonas and the Ecolaw, and the consonance of
both with ecology, as a way of addressing the environmental challenge, this work aimed to
investigate the relationship between the ethical paradigm developed by Hans Jonas, embodied
in the principle of responsibility, and the ecolaw, understood as an indispensable legal part of
ecology, discipline is marked by multidisciplinarity and complexity, even more, considering
the right instrument capable To ensure the anthropocentric paradigmatic change to a new
ecocentric model, essential for the continuity of the existence of the human species. Using the
bibliographic research based on the hypothetical-deductive method, as well as the
comparative, it was based on the proximity of the principle of responsibility and the Ecolaw,
by which both pursuing the end of an ecocentric paradigm, They are ecologically designed to
guarantee the right of present and future generations, at the same time, to ensure the existence
of humanity itself.
1
Graduado em Direito, UEL; graduado em filosofia, PUC-PR, pós-graduado na especialização em filosofia
política e jurídica, UEL, e pós-graduando em direito penal e processo penal econômico PUC-PR, e-mail
jfcossa@hotmail.com.
2
INTRODUÇÃO
Uma das grandes preocupações da atualidade reside em como o ser humano enfrentará
os grandes desafios ambientais. Mudanças climáticas, possibilidade de escassez de
recursos tão caros como a água, cataclismas, entre outros, intempôs e interpõem uma
revisão do binômio homem-natureza, bem como do significado do desenvolvimento.
Por isso, a ecologia, como conhecimento multidisciplinar e complexo, recebe
contribuições de diversas áreas, entre elas o direito, consusbstanciado como ecodireito.
Dessa maneira, o ecodireito possibilita fundamentos e normas jurídicas para
implementações de práticas verdes, a fim de balancear o desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, a ética de Hans Jonas, pelo princípio da responsabilidade oferece
precioso suporte para a revisão dos modos de vida antropocêntrico para um modelo
ecocêntrico, interpelando a produção de um conjunto normativo protetivo, bem como
em certa medida se aproximando de certos princípios constitucionais-ambientais,
como os princípios da dignidade humana, do desenvolvimento sustentável, do não
retrocesso socioambiental e em especial o da precaução.
universo – para um visão ecocêntrica, haja vista, a necessidade de construir uma nova
perspectiva preocupada com os destinos da sociedade em detrimento dessa visão supremacista
e incontestável do ser humano sobre todos os demais seres (MILARÉ, 2015, p.108-109).
Corroborando a respectiva nova visão coloca-se que:
2
Édis Milaré expõe: “Desde alerta para a “Primavera Silenciosa”, em meados do século XX, o olhar sobre o que
é vivente no Planeta veio se modificando em favor do mundo biológico. Essa reação focalizou os seres vivos,
particularmente num movimento ‘biocêntrico’ - um sistema de pensar e agir que fazia dos seres vivos o centro
das preocupações e dos interesses.” (2015, p. 110).
4
Para além da leitura que busca entender a origem dessa separação, até para fins de
delimitação temática, é a partir do racionalismo moderno que se tem o homem como valor
supremo em detrimento de outras realidades. Pela afirmação de Descartes em que os animais
3
La constitución de un objeto a la vez interdisciplinario, polidisciplinario y transdisciplinario permite crear el
intercambio, la cooperación y la poli-competencia. Asimismo, la ciencia ecológica se constituyó sobre un objeto
y un proyecto polidisciplinario e interdisciplinario a partir del momento donde el concepto de “nicho ecológico”
y el de “ecosistema” fueron creados por Tansley en 1935, es decir a partir del momento donde la concepción de
un sistema permitió articular los conocimientos más diversos (geográficos, geológicos, bacteriológicos,
zoológicos y botánicos). La ciencia ecológica, en consecuencia, no solamente utilizó los servicios de diferentes
disciplinas, también creó científicos poli-competentes, siendo éstos cada vez más aptos para pensar los
problemas fundamentales de este tipo de organización.
4
“A sociobiologia, desde muito vem afirmando que a sociedade humana com seus subsistemas político, jurídico
e econômico está fundada desde uma origem biológica, procedendo por evolução de suas próprias estruturas;
estruturas já existentes nas sociedades primais das quais descendemos.” (MOLINARO, 2006, p. 62).
5
são desprovidos de qualquer racionalidade, portanto, qualquer valor intrínseco, abre margem
para a separação entre homem e natureza, realidade que se impõe até os dias atuais nas
diversas áreas de conhecimento (SARLET; FENSTERSEIFER, 2013, p. 55). Dentro desse
raciocínio indaga-se Luc Ferry: “[...]: o modelo perfeito do antropocentrismo que concede
todos os direitos ao homem, e nenhum à natureza, inclusive animal. Por que tanto desprezo,
nós perguntamos? [...]” (2009, p. 68).
Cabe ressaltar, ainda, que o pensamento cartesiano não foi o único responsável por
esta visão de superioridade humana, certamente, o capitalismo possibilitou esta reificação das
relações entre homem e natureza, bem como a relação de dominação entre os próprios
homens, como na análise de Marx, “dramatizou o predomínio da humanidade sobre a
natureza e fomentou a admissibilidade da exploração do homem pelo homem.” (SOUSA,
2011, p. 61)
Dessa forma, o novo modelo ecológico, como a “Ecologia Profunda” de Arne Naess,
procura superar esta separação, cuja a abordagem inclui a comunidade humana na Natureza,
propondo um valor intrínseco a todos os seres que habitam a Terra (SARLET;
FENSTERSEIFER, 2013, p. 56). Esta nova ecologia ou este novo paradigma ecológico é
calcado por uma visão holística, no qual reconhece a integração de todos os fenômenos,
dentro de processo cíclicos naturais. Destarte, confirma-se:
O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe
o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas.
Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo "ecológica" for
empregado num sentido muito mais amplo e mais profundo que o usual. A
percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos
os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduos e sociedades, estamos todos
encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos
dependentes desses processos). (CAPRA, 2010, p. 16).
Autores como Luc Ferry juntam-se a esta leitura, assim compondo um conjunto de
autores, ao apresentarem esta como sendo a terceira das três ecologias a ser incorporada e
construída socialmente. Para eles, a primeira ecologia é antroponcêntrica, por sua vez, “o
meio ambiente não é dotado de um valor intrínseco”, consequentemente, “a natureza, de um
modo apenas indireto, é levada em consideração” (FERRY, 2009, p. 29-30). Já a segunda
ecologia fundamenta-se no social e no princípio utilitarista segundo o qual “é preciso não
apenas o interesse próprio dos homens, mas de maneira mais geral tender a diminuir ao
máximo a soma dos sofrimentos do mundo, assim como aumentar [...] a quantidade de bem-
estar” (FERRY, 2009, p. 30), dessa forma, os animais são relativamente considerados. Por
6
fim, a terceira ecologia diz respeito a um direito da natureza, ou seja, fazer ecoar um
“‘contrato natural’ no qual o universo inteiro se tornaria sujeito de direito: não mais o homem,
considerado o centro do mundo [...], mas o cosmos em si é que deve ser defendido pelos
homens” (FERRY, 2009, p. 31).
Não obstante a toda discussão dos modelos ecológicos, a leitura ecocêntrica estabele
um liame político e outro ético-discursivo. O liame político se caracteriza na medida em que o
ecologismo é essencialmente democrático, pois, a partir do tema do ambiente, propõe uma
nova forma de conhecimento integrado e diversificado, a fim de enfrentar os desafios e as
complexidades dos problemas globais, bem como articular novos processos de diferentes
ordens, movidos numa nova ação política e da construção de uma nova economia (LEFF,
1998, p.49). Os novos desafios ambientais impõem uma nova ordem econômica sustentável,
calcada por uma produtividade ecotecnológica5 e que se oriente por erradicar a pobreza,
satisfazer as necessidades básicas e melhorar qualidade de vida da população (LEFF, 1998, p.
50). De forma mais detalhada expõe Enrique Leff:
5
“El concepto de productividad ecotecnológica conjuga la productividad ecológica de los ecosistemas con la
innovación de sistemas tecnológicos adecuados para su transformación, manteniendo y mejorando la
productividad global a través de proyectos de uso integrado de los recursos, sujetos a la es tructura y funci ones
de cada ecosistema y a la capacidad de a utogestión de las comunidades y los productores directos.” (LEFF,
1998, p. 52).
6
“La sustentabilidad d el proceso de desarrollo implica el reordenamiento de los asentamientos urbanos y el
establecimiento de nuevas relaciones funcionales entre el campo y la ciudad. [...] De esta forma, [...], se
promueven nuevas economías sustentables basadas en el potencial productivo de los sistemas ecológicos, en los
7
valores culturales y en una gestión participativa de las comunidades para un desarrollo endógeno
autodeterminado. [...].
Para llevar esta propuesta a niveles de acción concretos, será necesario incorporar esta visión productiva a los
programas de "desarrollo social". Más allá de su carácter asistencial para contrarestar los impactos del
desempleo, la marginación y la pobreza,los programas de "solidaridad" y "aprovechamiento integral de los
recursos" deben promover el desarrollo de las capacidades productivas de las comunidades. [...]
Se abre así a posibilidade de transitar de las políticas de conservación, descontaminación y restauración
ecológica, y de los programas de desarrollo social que inscriben el alivio a la pobreza dentro de las políticas de
recuperación económica, hacia una economía sustentable, fundada en principios de racionalidad ambiental. De
es ta manera, habrán de fortalecerse las economías locales y regionales basadas en el manejo productivo de los
recursos, en la complementación de la oferta ambiental de diferentes ecosistemas y en la integración de
mercados regionales. Estas economías locales sustentables podrán articularse estratégicamente a la economía de
mercado, pero anteponiendo los principios de racionalidad ambiental sobre los de racionalidad económica. De
esta manera, se estará construyendo un tránsito hacia la sustentabilidad global, afianzado en la diversidad de las
condiciones locales de um desarrollo democrático y sustentable.”
7
“Ambas se insertan en esa más amplia corriente de las “éticas del diálogo”, que se resiste a reconocer en el fin
de las imágenes del mundo el fin de la moralidad.” (LEFF, 1998, p. 53-54).
8
Pressuposto metafísico kantiano.
8
9
“Como é bem sabido, o cientificismo positivista já é um inimigo habitual nos anais da Escola Frankfrut, em
tudo, graças a sua separação desastrosa entre ser- dever ser, fatos-normas, teoria-prática, culminando na
atribuição tradicional de racionalidade ao discurso sobre os fatos, deixando o discurso sobre normas no perigoso
crepúsculo do irracional.” (CORTINA, 1985, p. 31, tradução nossa).
10
“O segundo adversário não teria nada a objetar ao caráter racional da ética, mas pelo contrário; contudo ele se
recusaria a admitir como possível uma fundação do mesmo. Neste sentido, H. Albert, fiel representante do
racionalismo crítico depois de alguns caprichos positivistas, já declarou em 1968, em Traktat über kritische
Vernunft, a convicção de que é impossível realizar um fundamento filosófico, seja da ação, seja do
conhecimento.” (CORTINA, 1985, p. 32, tradução nossa).
11
“O último dos grandes obstáculos ocidentais, para os quais qualquer tentativa de descobrir uma resposta moral
universal diante da ameaça universal nascida de uma ideia equivocada de progresso, é o solipsismo metódico, a
convicção liberal de que o indivíduo é anterior à formação da sociedade. Dessa concepção, uma resposta
solidária não é prescrita incondicionalmente, mas apenas aconselhável, na medida em que resulta em benefício
próprio; com o qual o critério último de moralidade é o bem subjetivo, e a razão prática degenera em razão
individual de cálculo: uma resposta moral universal é, dessa perspectiva, impossível.” (CORTINA, 1985, p. 33,
tradução nossa).
12
“resulta lo que Apel llama “sistema de complementareidad” entre positivismo científico y existencialismo
irracionalista.”
13
Assim como em Habermas, Apel parte de um situação ideal de fala, assim, tem-se que “(...) quem argumenta
testemunhou in actu e, portanto, aceitou que a razão é prática, quer dizer, responsável pela ação humana; o que
significa que as pretenções éticas de validez da razão, do mesmo modo que a sua pretensão de verdade, podem e
devem resolver mediante argumentos; quer dizer, que as regras ideias da argumentação é uma comunidade de
comunicação, ilimitada por princípio, de pessoas que reconhecem reciprocamente como possuidoras dos mesmo
direitos, constituem as condições normativas de possibilidade no momento de decidir sobre as pretensões éticas
de validez mediante a formação de consenso; e que, portanto, em princípio, pode produzir um consenso sobre
todas as questões éticas relevantes da práxis vital, em um discurso submetido às regras da argumentação da
comunidade ideal de comunicação”. (APEL apud CORTINA, 1985, p. 156).
9
14
As sociedades contemporâneas com suas novas tecnologias, com seu sistema de produção em larga escala
pressupõe a produção de riscos. Por sua vez, esse contexto de riscos variados e multifacetados, advindos do
desenvolvimento industrial atual, objetiva-se que o desenvolvimento científico e tecnológico são o perigo e o
risco, implicando sobremaneira na possibilidade de catástrofes e resultados imprevisiveis Assim explica o
próprio autor: “Na modernidade tardia, a produção social de riqueza é acompanhada sistematicamente pela
produção social de riscos. Consequentemente, aos problemas e conflitos distributivos da sociedade da escassez
sobrepõem-se os problemas e conflitos surgidos a partir da produção, definição e distribuição de riscos
científico-tecnologicamente produzidos.
Essa passagem da lógica da distribuição de riqueza na sociedade da escassez para a lógica da distribuigäo de
riscos na modernidade tardia está ligada historicamente a (pelo menos) duas condições. Ela consuma-se, em
primeiro lugar - como se pode reconhecer atualmente - quando e na medida em que, através do nível alcançado
pelas forças produtivas humanas e tecnológicas, assim como pelas garantias e regras jurídicas e do Estado
Social, é objetivamente reduzida e socialmente isolada a autêntica carência material. Em segundo lugar, essa
mudança categorial deve-se simultaneamente ao fato de que, a reboque das forças produtivas exponencialmente
crescentes no processo de modernização, são desencadeados riscos e potenciais de autoameaça numa medida até
entäo desconhecida.” (BECK, 2011, p. 23).
10
infrações ambientais), e de forma fundamental a Constituição Federal, art. 225, §4º, prevê a
responsabilização administrativa, civil e penal decorrente de dano ambiental (SARLET;
FENSTERSEIFER, 2013, p. 80-81).
A partir deste norte, a responsabilidade, enquanto imperativo ético, coloca-se como
imprescindível para o horizonte prático na sociedade atual. Dentro desta dinâmica, Hans
Jonas oferece pela Responsabilidade um conceito capaz de impetrar um vigor a esse novo
comportamento deôntico e ao mesmo tempo de uma necessária efetividade imanente.
15
“Hans Jonas nasceu em 1903 e faleceu em 1993, sendo considerado uma dos mais importantes filósofos
contemporâneos. Foi aluno de Martin Heidegger e colega de Hanna Arendt, dois outros proeminentes nomes da
filosofia atual. Judeu, Hans Jonas deixou a Alemanha em 1934, passando a viver na Inglaterra e nos Estados
Unidos. [...].” (OLIVEIRA; SGANZERLA, 2009, p. 261).
11
de Hanna Arendt (DÍAZ, 2007, p. 16-17). Mais tarde, doutorou-se sobre agnose, tendo como
objeto ‘A religião gnóstica’, sob orientação de Rudolf Bultmann, culminando na publicação
da tese “Gnosis und spatantiker Geist” (1934) (ZANCANARO, 1998, p. 20). Nesse sentido, a
primeira etapa é marcada pela influência de Heideger e Bultmann e pode ser sintetizada da
seguinte forma:
Minha tese - diz Jonas - era que a essência da realidade é expressa da maneira mais
acabada na existência física do organismo, não no átomo, não na molécula, não no
cristal, nem nos planetas nem nas estrelas, etc., mas no organismo vivo, que é
indubitavelmente um corpo, mas que esconde em seu seio algo que vai além do
mero ser da matéria. Somente se partirmos deste ponto é possível formular uma
teoria do ser. Ficou claro que a partir daí ele deveria continuar a investigar e traçar
as conseqüências. Assim, o livro termina com um epílogo sobre por que uma
filosofia do orgânico deve necessariamente levar a uma ética, que no fundo já está
em sua infância, mas requer desenvolvimento16. (JONAS apud DÍAZ, 2007, p. 21).
16
"Mi tesis - dice Jonas-- era que la esencia de la realidad se expresa del modo más acabado en la existencia
física del organismo, no en el átomo, no en la molécula, no en el cristal, tampoco en los planetas ni en astros,
etc., sino en el organismo vivo, que es sin duda cuerpo, pero que esconde en su seno algo que va más allá del
mero ser mudo de la materia. Sólo si partimos de este punto es posible formular una teoría del ser. Tenía claro
que a partir de ahí debía seguir investigando y rastrear las consecuencias. De ahí que el libro termine con un
epílogo sobre por qué una filosofía de lo orgánico debe conducir forzosamente a una ética, que en el fondo ya se
encuentra allí en ciernes, pero que requiere un desarrollo.” (JONAS apud DÍAZ, 2007, p. 21).
13
Ao longo da obra, dividida em seis capítulos 17, Hans Jonas a inicia enfrentando a
natureza modificada do agir humano a partir da técnica, por isso, a ética enquanto ciência da
ação deve ser repensada a partir desse novo modo de agir, por isso, as éticas tradicionais
ligadas a relação entre seres humanos e dentro do modelo da cidade já não são suficientes
para dar conta dos novos valores, haja vista que os valores e sua compreensão partem do
contexto histórico em que situam-se (OLIVEIRA, 2014, p. 123-125). Dessa maneira, “ele
insiste sobre as diferenças significativas, entre as ações atuais e as antigas, que se refletem nas
diferentes concepções éticas formuladas no passado e o tipo de reflexão ética exigida no
contexto atual.” (FONSECA, 2009, p. 213).
Segue-se que o novo poder tecnológico desafia uma nova ética capaz de vigiar o poder
da técnica e proteger o ser humano e as demais formas de vida. Diferentemente de outras
éticas, enquanto exame posterior aos resultados (consequencialistas), a ética necessita uma
capacidade de previsão, antecipação, a fim de evitar ações, diante da tendência destrutiva e do
risco da ações incertas (a longo prazo) e que são uma ameaça, mesmo que travestida de boas
intenções. Em vistas disso, Jonas aponta a necessidade de reconhecer a ambiguidade da ação
humana marcada pelo perigo da magnitude da técnica (OLIVEIRA, 2014, p. 127-128).
Nesse sentido, Hans Jonas ao apresentar a técnica como objeto da ética, defendendo a
necessidade desta nova ética como ciência dos fins para auxiliar a técnica como saber
instrumental , expõe:
causando temor nas pessoas com objetivo delas alterarem as causas da ameaça (OLIVEIRA,
2014, p. 131-132).
Conquanto, sendo uma perspectiva para o futuro, cujo fundamento metafísico parte da
racionalidade humana e é ontobiológico, pensa-se a vida como um fenômeno geral, optando
necessariamente pela vida em detrimento da morte, da sobrevivência em detrimento da risco
da inexistência. Por isso, partindo da existência como um bem, pois existir é melhor que não
existir, a vida impõe-se como um imperativo e um valor em si mesmo, mostra-se, desse modo,
o valor de todos os valores, sendo a via de possibilidade dos demais valores (OLIVEIRA,
2014, p. 150-153).
Por fim, em oposição ao antropocentrismo kantiano, revela os imperativos da nova
ética para nortear as ações: “Age de tal modo que os efeitos de tuas ações sejam compativeis
com a permanência da vida humana autêntica na terra”, ou negativamente, “Age de tal modo
que os efeitos de tuas ações não sejam destrutivos para a futura possibilidade dessa vida”, ou
simplesmente, “Não coloques em perigo as condições da continuidade indefinida da
humanidade na Terra”, ou, ainda, positivamente, “Inclua na sua escolha atual, como o objeto
da sua vontade, a futura integridade do homem” (JONAS, 1995, p. 40).
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
APEL, Karl-Otto. La ética del discurso como ética de la responsabilidad: una transformación
posmetafislca de la ética de kant. In: APEL, Karl-Otto; DUSSEL, Henrique; BETANCOURT,
Raúl Fornet. Fundamentación de la ética y Filosofia de la Liberación. Ciudad de México:
Siglo Ventiuno editores, 1992.
BECCHI, Paolo. La ética en la era de la técnica. Elementos para una crítica a Karl-Otto
Apel y Hans Jonas. Alicante: Espagrafic, 1989.
BECK, Ulrich. Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade. Trad. Sebastião
Nascimento. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2011.
CAPRA, Fritjof. Teia da Vida. Trad. Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Editora
Cultrix, 2010.
DÍAZ, Pablo Arcas. Hans Jonas y el principio de responsabilidad: del optimismo cintífico-
técnico a la prudencia responsable. 2007. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculdad de
Filosofia y Letras, Universidad de Granada, Granada, 2007.
FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: a árvore, o animal e o homem. Trad. Rejane
Janowitzer. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009).
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. 11ª ed. Campinas:
Papirus Editora, 1990.
MILARÉ. Édis. Direito do Ambiente. 10ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2015.
MOREIRA, José Carlos. Teoria da responsabilidade de Hans Jonas como resposta ética aos
problemas levantados pela técnica moderna. Intuitio, Porto Alegre, v. 7. n. 2, p. 146-160,
nov. 2014.
MORIN, Edgar. Articular los saberes (textos escogidos) ¿Qué saberes enseñar en las
escuelas?. Buenos Aires: Ediciones Universidad Del Salvador, 1998.
POUZADOUX, Claude. Contos e lendas da mitologia grega. Trad. Eduardo Brandão. São
Paulo: Companhia das Leiras, 2001.
SOUSA, Paulo Henrique Martins de. A dimensão ecológica da dignidade humana. 2011.
Dissertação (Mestrando em Direito das Relações Sociais) - Programa de Pós-Graduação em
Direito, Universidade Federal Do Paraná, Curitiba, 2012.
VALE, Francílio Vaz do. Biocentrismo na ética da responsabilidade de Hans Jonas. 2013.
110 p. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Pós-graduação em Ética e
Epistemologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2013.