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Marlee Evans

PORT 459R

22/1/19

A interação da feminilidade e masculinidade em “Missa do galo”

O conto “Missa do galo” é um conto típico de Machado de Assis. Utiliza uma história

que parece ordinária para abordar sutilmente vários assuntos de gênero e família. A memória e

preconceitos do narrador tem um papel essencial em transformar umas horas esperando a

missa de Natal em uma história que tem fascinado leitores por mais de cem anos. O narrador,

Sr. Nogueira, conta esta história para mostrar a sua masculinidade, tal vez para rapazes em

situações parecidas com a sua situação na história. O narrador descreve os dois extremos da

feminilidade tradicional, o da mulher ser tentadora e objeto de desejo sexual e o de ser quieta,

fiel, e até branda. Em salientar estes extremos o narrador destaca seu próprio orgulho e seu

poder sobre a mulher.

Nogueira prefacia o conto explicando que “nunca pude entender” os eventos daquela

noite. Implica já que ele não tinha controle nenhum sobre a conversa e tudo que aconteceu foi

a culpa da D. Conceição. Na mesma frase Nogueira explica que ele tinha dezessete anos e ela

tinha trinta, ressaltando a inocência do narrador e o controle que a Conceição tinha sobre

aquela noite quando Nogueira começa a se apaixonar por ela. Esta ideia reflete a antiga ideia

que a mulher é tentadora e o homem fraco e que não consegue resistir as suas tentações.

Sugere que a culpa é sempre da mulher e o homem perde o livre arbítrio diante dela. Em culpar

ela pelos seus próprios sentimentos naquela noite Nogueira protege o seu orgulho. Outro

exemplo disso aparece no final do conto, fala, “Ouvi mais tarde que casara com o escrevente
juramentado do marido.” Indica que ele escapou das tentações da Conceição e assim tinha

poder sobre ela e mostra a sua masculinidade.

A afirmação que os homens são escravos dos seus desejos carnais é continuada no

segundo parágrafo do conto. Aqui Nogueira explica a infidelidade do escrivão, marido da

Conceição, como uma anedota engraçada que novamente mostra a inocência e juventude do

narrador. Finaliza este episódio explicando a atitude da Conceição, que ela sofria no começo,

mas “acabou achando que (a infidelidade do marido) era muito direito.” Esta conclusão da

Conceição é elogiada e esperada. No parágrafo seguinte Nogueira continua descrevendo

Conceição como uma mulher “boa...santa...tudo nela era atenuado e passivo” até o ponto que

Nogueira se pergunta si ela soubesse amar. Demostra o outro extremo da feminilidade, a

passividade.

A passividade e impotência da mulher é salientada novamente em uma linha simples,

mas que caracteriza bem a situação da mulher nesta época. Nogueira está descrevendo o seu

plano para sair sem acordar ninguém quando ele explica quem fica com as chaves da casa “uma

estava com o escrivão, eu levaria outra, a terceira ficava em casa.” A chave, ou neste caso, a

falta dela, é símbolo das cadeias criadas pelas expectativas colocadas nas mulheres e a casa

chega a ser uma manifestação física desta prisão. A situação das chaves destaca um ponto

central da história e demonstra que Nogueira tinha poder sobre a sua vida e até Conceição

enquanto a Conceição ficou prisioneira da sociedade e do marido infiel.

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