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Instituto Ciências Humanas - Curso LETRAS

Disciplina: Introdução à leitura do texto literário: Prosa


Período: 1° Período – I-2022
Professora: Terezinha Taborda Moreira

Alunas: Ana Cláudia Mesquita; Anna Luiza Lopes Pires; Bruna Damasceno Silva; Eduarda
Júlia de Souza Pereira; Rosani Siqueira.

Seminário 2

CALLADO, Antonio. Lembranças de Dona Inácia. In CALLADO, Antonio [et al.]. Missa do
Galo (de) Machado de Assis: variações sobre o mesmo tema. São Paulo: Summus, 1977.
Pp. 65-76.

O conto “Lembranças de Dona Inácia” escrito por Antônio Callado, foi publicado no
livro “Missa do galo (de) Machado de Assis: variações sobre o mesmo tema” no ano
de 1977 pela editora Summus. Esse conto faz intertextualidade com o conto Missa
do Galo e com o livro Dom Casmurro de Machado de Assis, sendo incorporado
novos personagens e novas situações.

O narrador escritor denominado de heterodiegético que conta as lembranças de


Dona Inácia como quem observa de fora, porém em muitos trechos do texto há uma
mistura de vozes, pois o narrador da voz a protagonista Dona Inácia. Isso ocorre,
por exemplo na linha 15, quando dona Inácia conta sobre o marido Veiga, ela diz:
“Um dia, quando saltávamos eu e o Veiga do cupê na Rua Direita e entrávamos em
Ouvidor (...).A intenção do narrador é tornar Dona Inácia, que no conto original de
Machado de Assis é apenas citada, uma protagonista forte, com opiniões a respeito
das pessoas que moram com ela, tais como: o Menezes, marido de sua filha, a
Conceição, o Nogueira.

Citamos como exemplo o trecho presente na linha 38 em que dona Inácia com tom
saudoso fala do marido, apresentando sua opinião, comparando-o ao marido de sua
filha: O Menezes: “(...) Seu Veiga fora sempre o melhor, o mais cordato, e mesmo o
mais fiel dos maridos, Deus o tenha em sua santa guarda, sem embargo de certas
observações que fazia quando lhe apareciam mulheres que despertavam, (l.38).
Além disso, expressa opiniões sobre outras pessoas já falecidas que passaram pela
vida dela e que naquele momento de morte traz a memória. Tal memória surge a
partir da conversa de sua filha como Nogueira na noite de Natal, que ela observa,
bisbilhota atrás da porta,

O conto é construído a partir de uma narrativa em que a protagonista dona Inácia ao


lembrar da conversa do Nogueira com sua filha, a Conceição, vai buscando outras
lembranças. Antonio Callado, por meio de trechos ambíguos, segue estética dos
textos de Machado de Assis. Isso fica nítido quando dona Inácia lembra da amiga
de Conceição, cujo apelido é “Capitu”, e Veiga (pai de Conceição), tal como dito no
trecho: “Como se chamava a moça gentil, colega, nas freiras, de Conceição, que
visitou, mocinha ainda, a Valois, e experimentou trêmula a gargantilha de
esmeraldas que dona Inácia sonhava ganhar do Veiga, ou, senão?... Mas a verdade
é que a jovem pregou nas esmeraldas uns olhos ávidos, não das pedras como
riqueza, ávidos de alguma mistura, comunhão.” (l.50) Esse marido tão responsável
e presente na vida de Dona Inácia era ourives e possuía uma pequena loja na Rua
do Ouvidor. Apesar de todo o trabalho morreu deixando pouco dinheiro – sendo o
responsável pelo presente ruim da filha. “Veiga, que ao cabo de tanta labuta de
garimpeiro da Rua do Ouvidor legou-nos apenas três contos, umas poucas libras-
ouro e um saquinho de couro com três brilhantes: o dote de Conceição mal dava
para um Menezes” (l.90)

Outro aspecto importante no conto é que a protagonista, Dona Inácia, emite opinião
sobre as pessoas da casa a partir de suas experiências, tendo como referência os
valores sociais do final do século XIX. Em relação a Conceição, por exemplo, muitos
trechos expressam a má sorte que teve a filha em relação ao casamento, sugerindo
inclusive, que isso foi em consequência do dote ruim deixado pelo pai, senhor
Veiga. Podemos citar o que diz no trecho da linha 14:"Ficara Conceição, como uma
Borralheira, ao pé das cinzas frias do lar, (...) (l.14). Dona Inácia expressa sua
preocupação com comportamento de Conceição se colocando como guardiã de seu
juízo, tal como expresso no trecho:

Ai, palpitações, vertigem. Onde está minha água de melissa, meus sais onde foram
parar? " Mais baixo! Mamãe pode acordar." Conceição está perdendo, talvez o juízo.
Uma frase assim é perigosa em si, pois dentro do mais ingênuo dos homens há um
fauno que apenas cochila, e mesmo assim com um olho entreaberto. (l.61)

...Fechaduras são orifícios colocados às portas para as mães vigiarem filhas, e, vez
por outra, para que uma chave, neles introduzida, mova a lingueta de ferro que veda
a passagem entre dois aposentos. (l.96)

Outro personagem que aparece no conto “Lembranças de dona Inácia” é Nogueira,


que segundo a protagonista não passa de “um garção de voz insegura”, um donzel,
um jovem cicerone, um menino, sendo seduzido por Conceição. Dona Inácia em
alguns trechos expressa a preocupação com a exposição de Conceição naquela
noite de Natal, destacamos o que afirma em:
Ai, meus nervos, mas se tomar valeriana adormeço. Felizmente estão lado a lado,
sequer misturam-se as mãos associam joelhos ou roçam-se as faces, e, a qualquer
momento há de bater as asas o garnisé e de recolher-se Conceição ao frio leito de
casada conformada em dividir aquilo que em si representa tão pouco, um Menezes.”
(l.140)
O conto finaliza com as impressões de Dona Inácia sobre ela mesma, colocando-se
como alguém que sempre zelou pelos bons costumes e mesmo possuindo fantasias
respeitou a ordem das coisas não extrapolando como a filha Conceição fez durante
a conversa com Nogueira. Há presença de religiosidade no texto, tendo em alguns
trechos a referência a religião católica. O narrador encerra o texto falando da morte,
que faz da vida uma passagem, mas que ao mesmo tempo as lembranças
permanecem, principalmente nos escritos dos autores. Nesse caso, torna-se uma
homenagem a voz do Machado de Assis que deixou um legado literário rodeado de
personagens.

Referências Bibliográficas

CALLADO, Antonio. Lembranças de Dona Inácia. In CALLADO, Antonio [et al.].


Missa do Galo (de) Machado de Assis: variações sobre o mesmo tema. São Paulo:
Summus, 1977. Pp. 65-76.
SANTOS, Luís Alberto Brandão, OLIVEIRA, Silvana Pessoa de. Sujeito, Tempo e
Espaço Ficcionais: introdução à Teoria da Literatura. São Paulo: Martins Fontes,
2001.

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