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Índice

Capítulo I ......................................................................................................................... 3

Introdução ......................................................................................................................... 3

Objectivos do trabalho ...................................................................................................... 4

Metodologias .................................................................................................................... 4

Capítulo II - Violência .................................................................................................... 5

Fundamentação Teórica.................................................................................................... 5

Conceito da Violência ...................................................................................................... 5

Conceito da Violência de Ponto de Vista Sociológica ..................................................... 6

Violência Como Facto Social ........................................................................................... 7

As Causas da Violência .................................................................................................. 8

Tipos de Violência .......................................................................................................... 10

Capítulo III - Desporto.................................................................................................. 11

Conceito de Desporto ..................................................................................................... 11

A Dimensão Social do Desporto .................................................................................... 13

A Violência no Desporto ................................................................................................ 14

Capítulo V ..................................................................................................................... 16

Considerações Finais ...................................................................................................... 16

Referências Bibliográficas .............................................................................................. 17


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1. Capítulo I
1.1.Introdução

A vida do ser humano é ampla e complexa em sua decorrência. Não é apenas um


fenómeno biológico. A vida é um fenómeno de dimensão psicológica, cultural, social,
política, económica, que se expressa em comportamentos e relações. São múltiplas e
dinâmicas as suas dimensões. Tornamo-nos humanos, propriamente, nas relações
sociais.

O ser humano não se encerra em algo acabado. A característica humana é algo que os
homens constroem nas relações entre si, em todos os campos e expressões da vida, ao
longo de sua existência, na dinâmica relação de ideais, de valores e conhecimentos. Ela
está implícita e explícita nos sistemas religiosos, filosóficos, científicos, económicos e
outros, desenvolvidos ao longo de toda a história humana.

“A natureza humana não é caracterizada por meio de um conjunto fixo de propriedades


universais, mas como relação especificamente humana com o meio ambiente, as
pessoas em face do contexto natural e social no qual existem. A natureza humana
deriva da rede de relações pela qual o ser humano se integra à sociedade e à natureza
(...) Um ser humano aparece, pois, como ponto nodal, um nó em uma vasta rede de
relações sociais”, (Sztompka, 1998, p. 282).

Nessa trama social, o ser humano é construtor de si mesmo, em todos os seus sentidos,
inclusive da sua violência, mediante suas relações com os demais seres humanos, por
meio do campo da cultura, da política, da economia, da educação etc. Como tal, o
indivíduo não existe por si mesmo, mas pela convivência social, pelas diferentes
dimensões do desdobramento da vida colectiva. A violência tem suas raízes nessas
relações de convivência e não na natureza do indivíduo. A violência é uma relação
humana; ela não existiria se a vida humana fosse algo individual.
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1.1.1. Objectivos do trabalho

Objectivo geral

 Realizar uma pesquisa sobre Violência e Desporto.

Objectivos específicos

 Definir o termo Violência e Desporto;


 Abordar as características e tipologias da Violência;
 Debruçar sobre os dois termos acima citados de acordo com os vários
estudiosos.
1.1.2. Metodologias

Segundo Gil (2002), pode-se definir pesquisa como o processo formal e sistemático de
desenvolvimento do método científico, tendo como objectivo fundamental, descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos. A pesquisa
busca o progresso da ciência, procura desenvolver os conhecimentos científicos sem a
preocupação directa com suas aplicações e consequências práticas.

Fazer pesquisa é defender uma ideia, fundamentando-a com bibliografias, observando-


se, deste modo, que a pesquisa não é neutra, baseando-se em colecta, análise e
interpretação de dados. É neste tratamento de investigação dos pensamentos e acções
que se busca um determinado conhecimento.

Quanto ao método, Richardson (1999), descreve como sendo o caminho pelo qual se
chega a determinado resultado, ainda que esse caminho não tenha sido fixado de
antemão de modo reflectido e deliberado. Assim neste trabalho de pesquisa foi usado o
método da pesquisa bibliográfica.
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2. Capítulo II - Violência
2.1.Fundamentação Teórica

Nas duas últimas décadas tem ocorrido um aumento importante dos estudos na área da
saúde sobre a violência, principalmente nos casos de violência contra a mulher. Isso
ocorre por conta do reconhecimento da dimensão do fenómeno como um grave
problema de saúde pública, por sua alta incidência e pelas consequências que causa à
saúde física e psicológica das pessoas que sofrem violência.

Dessa forma, torna-se importante compreender a definição de tipos de violência que


mais ocorrem. A complexidade da violência para Hayeck (2009), aparece na
polissémica do seu conceito. Deve-se tomar cuidado ao expor um conceito sobre
violência, pois ele pode ter vários sentidos, como: ataque físico, uso da força física ou
até mesmo ameaça.

2.1.1. Conceito da Violência

A violência é compreendida como um problema de saúde pública e pode ser definida


como Minayo e Souza (1998), o fizeram:

“Qualquer acção intencional, perpetrada por indivíduo, grupo, instituição,


classes ou nações dirigida a outrem, que cause prejuízos, danos físicos,
sociais, psicológicos e (ou) espirituais”.

Assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera que há relação clara entre a
intenção do indivíduo que apresenta ou se envolve num comportamento violento e o ato
ou a acção praticada.

“Neste sentido, a violência é definida como o uso intencional da força ou do


poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra
um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha possibilidade de resultar
em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou
privação”, (Krug et al, 2002).

Já para Santos (1996), a violência configura-se como um dispositivo de controlo aberto


e contínuo, ou seja, a relação social caracterizada pelo uso real ou virtual da coerção,
que impede o reconhecimento do outro, pessoa, classe, género ou raça, mediante o uso
da força ou da coerção, provocando algum tipo de dano, configurando o oposto das
possibilidades da sociedade democrática contemporânea.
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2.1.2. Conceito da Violência de Ponto de Vista Sociológica

Minayo (1994), socióloga coordenadora científica do Centro Latino-Americano de


Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVE), evidencia que a violência é um
dos eternos problemas da teoria social e da prática política e relacional da humanidade.
Não se conhece nenhuma sociedade onde a violência não tenha estado presente. Sempre
existiu a preocupação do homem em entender a essência deste fenómeno “sua natureza,
suas origens e meios apropriados, a fim de atenuá-la, preveni-la e eliminá-la da
convivência social”, (Minayo, 1994, p.07).

Conforme a autora a violência não é uma, mas sim múltipla. De origem latina, o
vocábulo vem da palavra vis, que significa força e se refere às noções de
constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro. No seu sentido material,
o termo parece neutro, mas quem analisa os eventos violentos descobre que eles se
referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo poder e a vontade de domínio e
aniquilamento do outro, e que suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas,
lícitas ou ilícitas, segundo normas sociais mantidas por aparatos legais da sociedade ou
por usos e costumes naturalizados, (Minayo, 2003; 2006).

A violência se apresenta ora como manifestação da dinâmica e da trajectória de uma


sociedade, ora como fenómeno específico que se destaca e influencia essa mesma
dinâmica social. Nunca existiu uma sociedade sem violência, mas sempre existiram
sociedades mais violentas que outras, cada uma com sua história. A violência não pode
ser analisada nem tratada fora da sociedade que a produz, (Minayo, 1994).

De acordo com a autora a violência é um desafio para a sociedade, e não apenas um


mal, podendo ser também um elemento de mudanças.

“Trata-se de um complexo e dinâmico fenómeno biopsicossocial, mas seu espaço de


criação e desenvolvimento é a vida em sociedade. (...). Daí se conclui, também que na
configuração da violência se cruzam problemas da política, da economia, da moral, do
direito, da Psicologia, das relações humanas e institucionais, e do plano individual”,
(MINAYO, 1994, p.08).

Nesta direcção, Minayo desenvolve uma análise das três fontes explicativas para a
violência, sob o ponto de vista filosófico e sociológico:
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1. Uma delas considera como expressão as crises sociais que levam a população
mais atingida negativamente, à revolta frente a sociedade ou ao Estado que não
conseguem lhe dar respostas adequadas, (Minayo, 2006).
2. Carácter racional e instrumental da violência, que constituiria um meio para
atingir fins específicos. Tenta explicar como atores excluídos do campo político
utilizam a violência para conseguir se manter no palco do poder. Consideram a
pessoa violenta como um ser consciente que actua no campo de interacções,
(Minayo, 2006).
3. Forte articulação entre violência e cultura. Recorre a Norbert Elias que em sua
obra tem como fio condutor o papel civilizatório da modernidade que criou
mecanismos de institucionalização e de solução de conflitos, levando os indivíduos
a dominar sua agressividade e suas pulsões violentas; Freud, que apresenta várias
interpretações da violência no mesmo sentindo, em diferentes etapas de seu
pensamento, (Minayo, 2006).
2.1.3. Violência Como Facto Social

A Sociologia é uma ciência que estuda as relações sociais produtoras de sociabilidades


humanas. Quando estas relações sociais se tornam tensas e as sociabilidades expressam-
se de forma agressiva, a ponto de atingir a dignidade das pessoas, é necessário uma
abordagem mais objectiva para entender as dimensões dos fatos sociais ali emergentes.
Estes esforços reflexivos são chamados de Sociologia da Conflitualidade e da
Violência.

Com certeza não é somente a Sociologia que estuda os processos de relações sociais em
tensões, mas nos últimos tempos é ela que condensou os principais estudos que estão
servindo para assessorar os debates sobre as causas e as consequências da violência. A
Sociologia vem construindo edifícios conceituais para instituições públicas e privadas
promoverem políticas de combate às situações colectivas de conflitos, crimes e
violências, principalmente a aderência que os estudos sociológicos possuem nas
actividades de mediação de conflitos do Judiciário.

A Sociologia parte da seguinte premissa reflexiva: no tempo actual vive-se no desespero


de entender o homem e, a partir disso, tentar criar formas de convivência razoáveis,
dignas e potencializados das lógicas solidárias existentes em cada indivíduo.
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3. As Causas da Violência

A terceira classe de problemas relacionados à complexidade da violência refere-se à


quantidade, variedade e interacção de suas causas. Não se encontrou, entre os estudos
sobre a violência, uniformidade no que diz respeito a essas causas. Mais
especificamente, as discordâncias referem-se à identificação de quais são elas, à sua
classificação e rotulação, à atribuição de sua importância e, enfim, à própria concepção
de causalidade da violência. Em vista desse quadro, as causas da violência serão
abordadas de acordo com a seguinte organização:

a) Em primeiro lugar, serão expostos e comentados vários trabalhos que indicam


as causas da violência;
b) A seguir, serão apresentadas e comentadas propostas de classificação ou
organização das causas, feitas por diferentes autores, culminando com uma
proposta que pareceu, no presente trabalho, possibilitar uma melhor
compreensão de como as causas organizam-se e interactuam;
c) Finalmente, procurar-se-á identificar os aspectos em que há concordâncias a
respeito dessas causas.

Há uma unanimidade entre os estudiosos da violência sobre as enormes dificuldades na


identificação de suas causas. Mesmo concordando com a existência dessas dificuldades,
para esclarecer o recrudescimento da violência, Cruz Neto & Moreira (1999), sugerem
que está em jogo uma complexa constelação de factores que compõem o seguinte
quadro:

Factor socioeconómico - Faz-se, aqui, uma relação entre pobreza e fome com a
criminalidade. Os autores afirmam que a miséria conduz a roubo e prostituição; o
desemprego ou a ausência de renda levam à ilegalidade, tentadora forma de obter
ganhos fáceis e, por vezes, vultosos; a desigualdade, cuja percepção tem sido
favorecida pela exaltação ao consumismo promovida pela televisão, provoca
frustrações que conduzem ao crime.

Factores institucionais - Os autores destacam, com referência a estes factores, a


omissão do Estado na prevenção e repressão da violência. Sob o rótulo de
prevenção, indicam a deficiência e ineficácia de:
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a) Sistema escolar - Especialmente o público, no qual as crianças ingressam


tardiamente, os professores são mal pagos, desmotivados e despreparados, o
número de horas aula é pequeno (no máximo quatro horas diárias), não garante a
transmissão de conhecimentos básicos, não soube adaptar-se ao ensino de
massa, sua organização permite a infiltração de drogas.
b) Moradia - Cuja crise é agravada por políticas inadequadas que só fazem
aumentar o número de desabrigados, formando uma população ameaçada e
ameaçadora, presa fácil para os chefes da droga e do crime, que dela se servem
para o roubo, a prostituição e a venda de drogas.
c) Saúde pública - Que não tem recebido atenção e investimento de acordo com a
sua importância, resultando em hospitais com falta de equipamento e remédios e
imensas filas à espera de atendimento. Além de cortes no orçamento do sector,
ainda há o desvio de verbas por burocratas sem escrúpulos.
d) Transportes públicos - Que, além de servir mal as populações de periferias, são
caros em relação aos baixos salários. As horas gastas no transporte para o
trabalho e de volta à casa esgotam o organismo e desorganizam a vida familiar,
desencorajando o trabalho e estimulando a venda de objectos contrabandeados
ou a delinquência, cujos ganhos são mais atraentes e menos desgastantes.

Factores culturais - Os autores fazem referência ao choque, existente no mundo, entre


duas culturas, uma de primeiro mundo, rica e branca e outra de terceiro mundo, pobre e
negra, em uma análise que parece um tanto simplista, dada a dimensão do problema.
Segundo eles, a miscigenação não tem dado conta de superar os contrastes e a
discriminação em termos de casamento, emprego e moradia.

Cruz Neto & Moreira (1999), concluem o quadro de causas da violência com a
referência à influência dos meios de comunicação e ao processo de globalização.

a) Meios de comunicação - Que assumem o papel de formadores de consciência


em um país em que a escola é fraca e as crianças passam grande parte de seu
tempo assistindo televisão. Segundo os autores, a televisão faz apologia do
dinheiro e da violência e coloca assassinos na categoria de heróis.
b) Globalização - Os autores relacionam o processo de globalização e sua
consequente supressão de fronteiras com a proliferação de actividades ilegais e
do crime organizado, colocando ênfase no narcotráfico o qual, num contexto de
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crise socioeconómica, está ligado a disputas sangrentas entre quadrilhas e a um


comércio lucrativo e devastador, pois gera um clima de guerra civil.
3.1.Tipos de Violência

“A resolução WHA 49.25 da World Health Assembly, ocorrida em 1996, declara a violência
como um dos principais problemas de saúde pública. Solicitou-se então à Organização Mundial
da Saúde (OMS) que desenvolvesse uma tipologia que caracterizasse os diferentes tipos de
violência, bem como os vínculos entre eles”.

A tipologia proposta pela OMS (Krug et al, 2002), indica três grandes categorias de
violência, que correspondem às características daquele que comete o acto violento.
Seriam:

 A violência colectiva, que inclui os actos violentos que acontecem nos âmbitos
macros sociais, políticos e económicos e caracterizam a dominação de grupos e
do Estado. Nessa categoria estão os crimes cometidos por grupos organizados,
os actos terroristas, os crimes de multidões, as guerras e os processos de
aniquilamento de determinados povos e nações;
 A violência autocorrigida, subdividida em comportamentos suicidas, e os auto
abusos. No primeiro caso a tipologia contempla suicídio, ideação suicida e
tentativas de suicídio. O conceito de auto abuso nomeia as agressões a si próprio
e as automutilações;
 A violência interpessoal, subdividida em violência comunitária e violência
familiar, que inclui a violência infligida pelo parceiro íntimo, o abuso infantil e
abuso contra os idosos. Na violência comunitária incluem-se a violência juvenil,
os actos aleatórios de violência, o estupro e o ataque sexual por estranhos, bem
como a violência em grupos institucionais, como escolas, locais de trabalho,
prisões e asilos.

A essa classificação Minayo (2006), acrescenta a violência estrutural, que se refere aos
processos sociais, políticos e económicos que reproduzem a fome, a miséria e as
desigualdades sociais, de género e etnia. Em princípio, essa violência ocorre sem a
consciência explícita dos sujeitos, perpetua-se nos processos sócio-históricos,
naturaliza-se na cultura e gera privilégios e formas de dominação.

Ainda de acordo com a autora, a maioria dos tipos de violência apresentados


anteriormente tem sua base na violência estrutural. Esse tipo de violência é entendido
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como aquele que oferece um marco à violência do comportamento e aplica-se tanto às


estruturas organizadas e institucionalizadas da família como aos sistemas económicos,
culturais e políticos que conduzem à opressão de grupos, classes, nações e indivíduos,
aos quais são negadas conquistas da sociedade, tornando-os mais vulneráveis que outros
ao sofrimento e à morte.

3.1.1. Capítulo III - Desporto


3.1.2. Conceito de Desporto

O Desporto, entendido como fenómeno social nos tempos modernos ou pós-modernos,


teve as suas origens nos séculos XVIII e XIX, aquando da 1.ª revolução industrial,
consequência da evolução das estruturas sociais nos campos da Educação, das Ciências,
da Tecnologia e da Cultura da Grã-Bretanha, pátria do desporto moderno. Durante o
século passado, o desporto varreu a face do planeta Terra. Proveniente das práticas
lúdico-desportivas da sociedade agrícola, encontrou no paradigma industrial as
condições propícias para o seu desenvolvimento. As cientificadas das regras, a
estandardização das tácticas e do treino, são aspectos fundamentais que identificam o
desporto com o industrialismo, (Pires 1994).

Segundo Rui Garcia (2002), “ O tempo livre é uma das manifestações mais visíveis
nesta transição secular”, ideia que é também corroborada por Bento (2004), afirmando
que estamos “deixando uma sociedade onde grande parte da vida das pessoas adultas
era dedicada ao trabalho e estamos caminhando em direcção a uma outra não mais
fundada no trabalho, mas no tempo vago, na qual grande parte do tempo será e em
grande parte do tempo será dedicada ao ócio criativo”. Com opinião semelhante,
citamos Pires (1994), “ O tempo de trabalho e as oportunidades de emprego vão
continuar a decrescer, pelo que as pessoas cada vez terão mais tempo livre.

Segundo Pires (1994), “ a gestão do tempo de lazer através da cultura transforma-se


numa questão crucial no quadro das preocupações sociais dos nossos dias”.

Assim, entendendo o lazer como uma das necessidades dos nossos tempos, e o desporto
como uma das vertentes mais fortes da sociedade actual, os dois conceitos não podem
deixar de se complementar num processo de desenvolvimento humano, que o mesmo
autor refere como “ não apenas a satisfação das necessidades materiais do Homem, mas
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sobretudo, a melhoria das suas condições de vida e a sua contribuição para as suas
aspirações em geral”.

O movimento da cultura física já enraizado na sociedade, que foi inicialmente


consagrado pelo Conselho da Europa como o movimento do Desporto para Todos,
surge, segundo alguns autores, com a ruptura com a sociedade industrial mecanizada, e
veio a dar origem à consagração da Carta Europeia do Desporto Para Todos que
aprovada pelos ministros Europeus reunidos na 7.ª Conferência nos dias 14 e 15 de
Maio de 1992 em Rhodes, define Desporto da seguinte maneira:

“ Entende-se por Desporto todas as formas de actividade física que, através de uma
participação organizada ou não, têm por objectivo a expressão ou o melhoramento da
condição física e psíquica, o desenvolvimento das relações melhoramento da condição
física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados
na competição a todos os níveis”.

Na definição do conceito de desporto temos de atender a dois conjuntos de elementos: o


primeiro conjunto, formado pelas capacidades naturais, as condições externas que nos
elucidam sobre as acções desenvolvidas no desporto, e o segundo conjunto, valores
intrínsecos do homem, o lúdico, rendimento e superação, que nos fornece pistas de
alguns porquês e para quê. Do cruzamento destes dois conjuntos elementares, associado
àquilo que a sociedade aceita como sendo valores do desporto, surge então, esta
importante actividade.

O desporto pode também ser definido, segundo Marivoet (1998):

“Como um sistema institucionalizado de práticas competitivas, com


dominante física, delimitadas, codificadas, regulamentadas
convencionalmente, cujo objectivo é apurar o melhor concorrente, ou registar
a melhor performance”.

Vários autores têm identificado os benefícios que advêm da prática desportiva,


nomeadamente a melhoria da condição física (melhoria da capacidade de rendimento
geral), melhoria da qualidade de vida, redução do risco de doença coronária, redução do
risco de desenvolver hipertensão, descida dos valores da hipertensão arterial (através da
prática de actividades prolongadas), controlo/redução do peso corporal pela estimulação
do consumo calórico, redução do risco de morte prematura, redução do risco de morte
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por doença cardíaca, aumento da resistência à fadiga, diminuição das insónias, melhoria
na postura e equilíbrio.

Para além dos benefícios atrás descritos, a prática de actividade motora tem um papel
importante em termos psicológicos, nomeadamente no aumento da auto-estima, na
redução dos níveis de ansiedade e eventuais sentimentos depressivos e no aumento da
sensação de bem-estar. Segundo Chaves (2004), vários são os factores que incidem na
procura da prática desportiva, tendo apontados os seguintes:

a) Gerais - A necessidade de uma maior relação social, o auto-conhecimento, a


auto-afirmação, o experimentar novas actividades e sensações.
b) Específicos - Prevenção para a saúde, manutenção e melhoria da condição
física, procuram na actividade física de novos valores sociais e sexuais que
imperam na sociedade actual (beleza, desenvolvimento corporal, etc.),
necessidade de relaxação e recuperação das tensões acumuladas durante o
trabalho.
3.1.3. A Dimensão Social do Desporto

Como nos diz Jorge Araújo “é através da análise da evolução da sua modalidade, no
seio das estruturas sociais, que a forma de estar do treinador vai sendo alterada no
sentido de acompanhar as mudanças que contribuem para consolidar o desenvolvimento
desportivo como reflexo do desenvolvimento social”, (1998: 182). Este autor refere
também que a dimensão social do desporto expressa-se através dos seus aspectos
reconhecidamente culturais, científicos, pedagógicos, estéticos, e também pelos seus
diferentes níveis de prática, de base, de pequena, média e alta competição, de lazer e
recreação, de preparação e manutenção profissional.

Assim, sempre que correctamente orientado no plano social e pedagógico, o desporto


representa um dos principais meios educativos e formativos dos cidadãos, com
imprescindíveis contributos no âmbito da promoção da saúde e do rendimento
profissional das populações, da formação multilateral da juventude, da melhoria da
qualidade de vida, no preenchimento do tempo livre ou como factor de desenvolvimento
sociocultural e turístico, (Araújo, 1998).

Araújo (1998), refere ainda que a componente sociocultural do Desporto assenta nos
valores morais, sociais e estéticos que regem a sua prática e no património de
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conhecimentos com ele relacionados que têm vindo a ser transmitidos ao longo dos
tempos, de geração para geração, tendo em vista a superação dos que a ele se dedicam,
mas só será positivo, como meio sociocultural, quando promova o desenvolvimento das
capacidades globais de ser humano e seja orientado segundo perspectivas formativas e
educativas que sobreponham os interesses dos cidadãos e da sua maioria, relativamente
a quaisquer outros que eventualmente os procurem prejudicar.

O autor enfatiza a importância que Educação Física e o Desporto representam hoje, nas
sociedades modernas, considerando-as “imprescindíveis meios de cultura e de
desenvolvimento social, tendo como um dos seus objectivos fundamentais aperfeiçoar
as formas básicas do movimento humano”, concluído que:

“Corpo e espírito, matéria e ideia, fazem parte de um mesmo ser social,


materializando-se grande parte dos produtos da actividade cerebral do homem através
da escrita e da expressão corporal. É através do movimento corporal que se
estabelecem as necessárias relações entre os cidadãos bem como a respectiva
integração social e a expressão do seu nível cultural e de humanização”, (Araújo,
1998: 138).
4. A Violência no Desporto

A violência no fenómeno desportivo é tão antiga quanto o próprio desporto. O problema


da violência no desporto é um fenómeno muito complexo, multifacetado e com muitas
raízes, algumas delas com séculos, até mesmo milénios, segundo alguns autores. A
história diz-nos que em todos os períodos se encontram comportamentos violentos, seja
por parte dos praticantes, seja por parte dos espectadores.

Nos Jogos da Grécia Antiga ou, posteriormente, no período da Idade Média, a violência
estava associada a motivos e contextos diferentes dos que encontramos hoje em dia. O
que aos olhos de hoje nos surge como violência insuportável e insustentável tinha então
um sentido próprio no contexto de uma cultura singular, para além de ser uma resposta
a momentos particulares, organizados especialmente para exultar e expulsar tensões
sociais.

Com o avançar civilizacional das sociedades ocidentais, a necessidade de manutenção


da ordem, a regulação e controle do espaço do jogo e do espaço envolvente, as regras
foram sendo incorporadas nos Jogos tornando-os paulatinamente em desportos (no
actual sentido da palavra), com os seus conjuntos de regras pré-definidas. Como já
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vimos, é a aplicação de regras, coibindo toda e qualquer acção mais violenta, que
caracteriza o desporto contemporâneo. Mesmo em desporto onde o contato físico é mais
frequente (como o boxe, rugby, futebol, basquetebol, etc.) as regras pré-determinam
muitas das acções dos praticantes ou até onde elas poderão ir. Estas regras são, em
teoria, formuladas de forma a manter o risco de lesão inerente à actividade desportiva
dentro do mínimo inevitável e a não contrariar o ordenamento jurídico geral.

A evolução entretanto verificada no fenómeno desportivo, transformado em desporto


espetáculo através da sua exponencial mediatização e relevância tanto económica como
social, levou a um aumento da sua competitividade. Ora, isso numa sociedade altamente
competitiva e altamente preocupada com o retorno financeiro, teve o efeito nefasto de
aumentar os níveis de rivalidade e consequente agressividade. Hoje a violência no
desporto é uma realidade que não se pode ignorar, ela existe com demasiada frequência
e com graves níveis de danosidade social em contraste com os números quase
insignificantes do seu tratamento pelas instâncias formais/estaduais de controlo.
Contudo, o reconhecimento deste facto, que é transversal às diferentes modalidades
desportivas, não pode conduzir-nos a uma espécie de banalização da violência no
âmbito da actividade desportiva.

Percorrendo a história mais recente do nosso desporto, facilmente encontramos


comportamentos que configuram autênticas formas de crime tendo em conta a sua
gritante violência e total desconformidade com as regras e valores do desporto, sendo
atentatórios de bens fundamentais da comunidade e que não deveriam ter passado
incólumes pelas instâncias competentes. Lembremos, entre tantos outros, os casos de
agressões recíprocas entre os jogadores João Vieira Pinto e Paulinho Santos, a famosa
cabeçada que o jogador francês Zinedine Zidane disferiu no italiano Marco Materazzi, a
infame dentada na orelha dada por Mike Tyson a Evander Holyfield ou o curioso caso
do jogador holandês Rachid Bouaouzan a que posteriormente nos iremos referir.

O desporto, com a sua extraordinária dimensão, está, naturalmente, expostos às mais


variadas formas de criminalidade. E são, autenticamente, formas de criminalidade
aquelas a que temos vindo a assistir em alguns espetáculos desportivos e que ao cidadão
menos atento podem passar despercebidas, mas que provocam alarme social e reclamam
uma resposta do Direito Penal, de modo a restabelecer a abalada paz pública.
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4.1.Capítulo V
4.1.1. Considerações Finais

As novas tendências motivacionais das práticas desportivas prendem-se principalmente


com o gosto pela natureza e pela atracção pelas actividades de risco. A prática de
actividades físicas permite a satisfação de um conjunto de necessidades sociais, sendo
as actividades que possuem um maior grau de incerteza e aventura, as que melhor
servem de veículo a esta satisfação, e que melhor impõem um corte à rotina e à
monotonia da vida quotidiana.

As novas gerações são portadoras de novos valores e hábitos desportivos, apresentando


valores de prática desportiva superiores aos das gerações mais velhas, procuram práticas
diferentes, valorizando o confronto com o espaço natural, a atracção por actividades
com elevado grau de imprevisibilidade e risco, e o convívio e o espírito de grupo nas
actividades. Esta realidade, suscitou o nosso interesse em saber em que medida a
Escalada é distintiva de um estilo de vida.

O desporto tem hoje de ser entendido na dimensão social que lhe é própria, sendo
definido como uma realidade específica com as suas funções próprias. Constitui um
meio de socialização e de redução das diferenças sociais, um fenómeno de massas com
relevante poderio económico e um espaço de liberdade.
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4.1.2. Referências Bibliográficas


1. ARAÚJO, J. (1998) Treinador, saber estar, saber ser. Lisboa: Editorial Caminho.
2. CRUZ Neto, O. e MOREIRA, M. R. (1999). A concretização de políticas públicas
em direcção à prevenção da violência estrutural. Ciência e Saúde Colectiva,
ABRASCO, 4 (1), 33-52.
3. GIL, António Carlos. Como elaborar um projecto de pesquisa. São Paulo: Atlas,
2002.
4. HAYECK, C. M. Refletindo sobre a violência. Revista Brasileira de História &
Ciências Sociais - RBHCS, São Leopoldo, ano 1, n. 1, jul. 2009.
5. KRUG, E. G, et al. (eds.) World report on violence and health. Geneva: World
Health Organization, 2002.
6. MARIVOET, S. (1998). "Tempos e espaços de realização humana no contexto das
novas necessidades sociais". Revista Horizonte. Vol. XTV, n°81 (pp. 8 -11).
7. MINAYO, M. C. de S. A violência social sob a perspectiva da saúde pública.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, Fiocruz, 1994.
8. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violência e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz,
2006.
9. MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. Violência e saúde como um campo
interdisciplinar e de ação coletiva. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro,
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