Você está na página 1de 13

Índice

1. Introdução........................................................................................................................2

1.1. Objectivos da Pesquisa.................................................................................................3

1.1.1. Objectivo Geral da Pesquisa.....................................................................................3

1.1.2. Objectivos Específicos da Pesquisa..........................................................................3

1.2. Metodologias................................................................................................................3

2. Revisão Teórica...............................................................................................................4

2.1. A Construção Cultural do Corpo..................................................................................4

2.2. A Forma Física como Meio de Interacção Social........................................................5

2.3. O Corpo como Espectáculo..........................................................................................5

2.4. As Indústrias da Corporalidade....................................................................................6

3. Desporto e Racionalização do Corpo...............................................................................7

3.1. A Corporeidade Contemporânea..................................................................................8

3.2. O Corpo Desportivo como Corpo Paradoxal...............................................................8

3.3. O Corpo como Objecto de Consumo e Influência da Mídia......................................11

4. Considerações Finais.....................................................................................................12

5. Referências Bibliográficas.............................................................................................13
1. Introdução

Desde os primórdios o homem se expressa a partir do corpo e submete-se a condições


impostas por ele, que apesar de sua fragilidade natural é um instrumento de sobrevivência do
ser. O homem depende de seu corpo, da consciência de possuí-lo e comanda-lo para
apresentar-se ao mundo. O comportamento humano baseia-se em preceitos previamente
estabelecidos pela sociedade, que, de certa forma, dita a direcção do desejo que o sujeito deve
seguir.

Antigamente, entedia-se corpo como uma herança genética, puramente biológica. O


indivíduo não possuía autonomia para modificá-lo ao seu bel-prazer, mas com o passar dos
tempos, o corpo vem tomando forma e definindo-se, de acordo com a vontade do indivíduo.

Actualmente as pessoas buscam adquirir o corpo perfeito e idealizado pela sociedade


no intuito de corresponder às expectativas da maioria que se tornaram individuais pelo
processo de internalização e identificação. Desta forma, pretende-se analisar como ocorre o
processo de construção do corpo perfeito em seus diversos aspectos. Sabe-se que o conceito
de beleza está relacionado à ideia de saúde, vigor, bem-estar físico e mental e a noção de
perfeição que tanto atrai a condição humana. Busca-se hoje em dia, a perfeição corporal, sem
qualquer vestígio de imperfeições e aspectos desfavoráveis à estética do indivíduo ou que não
corresponda aos parâmetros sociais de beleza ideal.

Com base nisso, através deste estudo procurar-se-á analisar o que motiva as pessoas a
buscarem essa perfeição corporal tão almejada na época actual. Nessa corrida para se
conquistar o corpo perfeito, as pessoas trabalham seus corpos na intenção de modificá-los e
modelá-los segundo suas expectativas relacionadas ao belo. Hoje, o culto ao corpo magro e
hipermusculoso estão relacionados à cultura da malhação prega a modificação do corpo a ser
construído individualmente pelo sujeito por meio de um trabalho árduo de dedicação e
esforço. O body-building e o body-art e modification são formas de tratar o corpo baseado na
concepção de beleza e forma física desejáveis, e cada vez mais essas práticas se inserem no
quotidiano das pessoas.

2
1.1. Objectivos da Pesquisa
1.1.1. Objectivo Geral da Pesquisa
 Analisar acerca da plástica e pensamento do corpo contemporâneo.
1.1.2. Objectivos Específicos da Pesquisa
 Falar acerca do corpo como espectáculo;
 Debruçar as indústrias da corporalidade; e,
 O corpo desportivo como corpo paradoxal.
1.2. Metodologias

A metodologia de pesquisa, segundo Barreto e Honorato (1998), deve ser entendida


como o conjunto detalhado e sequencial de método e técnicas científicas a serem executados
ao longo da pesquisa, de modo a possibilitar atingir os objectivos inicialmente propostos e, ao
mesmo tempo, atender aos critérios de menor custo, maior rapidez, maior eficácia e mais
confiabilidade de informação.

A escolha acertada de uma metodologia permite orientar o estudo e dar ao trabalho um


sentido significativo e prático, explorando de forma clara todos os enfoques da temática
abordada.

O presente estudo tem como proposta metodológica uma revisão da literatura. Trata-
se, portanto, de uma pesquisa exploratória de carácter descritivo. Acredita-se que esta
abordagem vai de encontro dos objectivos e necessidades do estudo proposto.

A pesquisa bibliográfica busca na literatura existente, subsídios capazes de atribuir ao


tema o entendimento para formação de uma opinião.

3
2. Revisão Teórica
2.1. A Construção Cultural do Corpo

Segundo Queiroz (1999), o corpo humano possui dois aspectos a serem considerados.
Um deles está relacionado ao facto de constituir uma entidade biológica, natural, o primeiro
instrumento do homem, submetendo-se as condições impostas pela natureza. Em
contrapartida, o corpo é também objecto de domesticação e produto da cultura, sendo por ela
apropriado e modelado.

Desta forma, torna-se impossível ignorar as dificuldades em separar o que se deve à


natureza e aquilo que seria próprio a cultura no que se refere ao corpo, já que nele esses dois
domínios aparecem de tal forma amalgamados que as suas dimensões instrumentais, técnicas,
raramente se manifestam isoladas de aspectos expressivos ou simbólicos, assim como os
comportamentos inatos trazem sempre a marca do aprendizado, (idem).

De acordo com Crespo (1990), antigamente o corpo dependia da intervenção exterior,


submetidos a condicionamentos previamente estabelecidos por uma hierarquia social através
de técnicas utilizadas por uma minoria da população. Com o tempo, surgiam inovações a
partir de uma política de saúde que abrangia exercícios físicos.

Naquele tempo, entendia-se o corpo como uma entidade biológica, resultado de uma
herança genética concedida pelos antepassados do indivíduo, não dispondo então, de
capacidades para alcançar um estatuto diferente. Não havia possibilidade dos corpos se
transformarem através de um trabalho sobre ele, de acordo com a própria vontade do
indivíduo, (Crespo, 1990).

Com o surgimento da educação física e dos exercícios dedicados à conservação da


saúde e eliminação da matéria prejudicial ao corpo, o indivíduo consegue ter autonomia para
transformar seu corpo.

Na sociedade contemporânea, o corpo não é mais uma identidade intangível, a


encarnação irredutível do sujeito, o ser-no-mundo, mas uma construção, um objecto
transitório e manipulável susceptível de vários emparelhamentos, (Le Breton, 2003). Para
Rodrigues (1975), a cultura afecta o corpo estabelecendo normas a que o sujeito deve
subordinar-se.

4
2.2. A Forma Física como Meio de Interacção Social

Le Breton (1995), afirma que o corpo é individual, separa um indivíduo do outro, o


corpo de um não se mistura ao de outro, sendo assim, há uma separação da identidade pessoal
do indivíduo que pertence ao social com uma função precisa e determinada pelo meio, sem
eliminar os limites identificadores do eu e do outro para que não ocorra dúvidas em relação a
si e ao outro.

Segundo o mesmo autor, a homem, com sua identidade, possui uma igualdade com seu
corpo, implicando em uma igualdade consigo mesmo. O homem pertence a uma condição
corporal. Para Le Breton (1995), a alteração corporal representa uma alteração moral do
homem. O julgamento e o olhar do outro sobre ele pode gerar até mesmo violência. Apenas
uma pessoa comum não corre esse risco e não demonstra qualquer indiscrição.

As marcas corporais objectivam o olhar, seja o olhar do outro ou o olhar daqueles cuja
cumplicidade se busca. O sujeito trata o corpo como uma peça de afirmação social, a partir de
manipulações de si, (Le Breton, 2003). O corpo faz parte de uma relação do sujeito com o
outro, é responsável pela construção da identidade individual e social. A imagem corporal é
capaz de confirmar a identidade individual a partir do social, que de certo modo direcciona o
comportamento do sujeito.

2.3. O Corpo como Espectáculo

Desenvolvida por Guy Débord, a noção do corpo como espectáculo permite-nos


reflectir sobre a natureza das representações corporais na contemporaneidade. Para o autor,
“toda a vida das sociedades nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta
como uma imensa acumulação de espectáculos. Tudo o que era vivido directamente tornou-se
uma representação”, (Débord, 1997). Segundo ele, o espectáculo constitui o modelo da vida
nas sociedades de capitalismo tardio contemporâneas, actuando por meio de diversas formas,
especialmente através dos meios de comunicação. O mundo vivido passa a ser representado
por imagens que tomam o lugar do real. Essas representações têm como marca uma enorme
positividade, cuja principal afirmação é “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. Assim,
como principal produção da vida actual, o espectáculo “não deseja chegar a nada que não seja
ele mesmo”.

5
Nesse sentido, temos o fenómeno da espetacularização do corpo, do qual tem se
ocupado a mídia. E é sobre esse corpo-espectáculo e esse espectáculo do corpo que montamos
e analisamos nosso corpus, composto de oito capas da Revista Veja. A espetacularização
consiste, grosso modo, na conversão de um acontecimento, saber, objecto ou algo do tipo em
evento inusitado, digno de propagação; que eleva o objecto (o corpo) ao nível de um
espectáculo.

De acordo com Débord (1997), na sociedade do espectáculo, os actos precisam ser


visualizados e, se possível, estimados por muitas pessoas. Para tanto, torna-se necessário
espectador para avaliar o espectáculo, fato que rende às imagens um lugar privilegiado. Neste
sentido, Birman (2007), esclarece que a imagem é condição sine qua non para o espectáculo
da cena social e para a captação narcísica do outro, é a condição de possibilidade da sedução e
do fascínio, sem a qual o ideal de captura do outro não pode jamais se realizar no festim
diabólico de exibicionismo.

Já que o corpo traz em si as marcas da sociedade, os sujeitos tentam imprimir nele as


marcas que delimitarão o seu lugar nas significações sociais da vida quotidiana. Tais sujeitos
se inserem na lógica da “sociedade do espectáculo” pensada por Débord (1997), na qual
“parecer” é o bem supremo da civilização, acima do “ser” ou do “ter”. Não importa o
comportamento que leva a um corpo saudável, o que importa é a imagem que se projecta no
mundo. E a solução que a indústria da metamorfose apregoa é a de proporcionar uma bela
aparência sem o ónus que ela pode trazer.

3. As Indústrias da Corporalidade

O corpo e suas expressões - sejam elas relacionadas aos avatares da razão e, portanto,
ao domínio e ao poder, sejam ainda vinculadas à arte, aos itinerários do desejo, da' potência,
das múltiplas contradições e interfaces dessa materialidade espessa - são questões das que
mais desafiam o pensamento contemporâneo.

Para isso recorre-se, principalmente, às contribuições de Horkheimer e Adorno, os


primeiros a empregarem a expressão e fundadores de uma tradição de crítica cultural que está
longe de esgotar-se. Considera-se esses autores e sua contribuição muito importantes por
vários motivos: não apenas foram grandes pensadores, que nos deixaram muitos conceitos e
análises, ideias originais, rigorosas e desafiadoras, como também nos legaram uma
abordagem essencial para pensar o corpo e seus destinos.
6
É por isso que Horkheimer e Adorno falam em um “amor-ódio” pelo corpo, de desejo
repulsão, que impregna toda civilização e que configura uma história clandestina, paralela,
marcada pela renúncia, pelo recalque e pelo assoalhamento do orgânico, do vital (das
Lebendige) e suas expressões, no processo de introversão do sacrifício. O corpo aparece
também, no entanto, como desejado, sobretudo quando límpido e insípido, distante de tudo o
que lembra o orgânico, a sujeira, os odores e qualquer tipo de “mistura”, (Horkheimer;
Adorno, 1997). A essa arquitectura teórico-reflexiva pertencem, como se verá adiante, entre
outras expressões corporais contemporâneas, o desporto e seu princípio-mestre, o rendimento.

3.1. Desporto e Racionalização do Corpo

Dentre os marcantes elementos das indústrias da corporalidade, figuram o desporto e


outras formas de dominar e administrar o corpo, que potencializam e internalizam a crueldade
ao glorificarem o sofrimento.

O processo de racionalização do corpo, que encontra no desporto e no treinamento


corporal que lhe corresponde uma de suas expressões privilegiadas, tem como desdobramento
necessário a sua deificação, sua transformação em objecto manipulável, operável, medido,
programado, algo que, aliás, qualquer anatomista, preparador físico ou mesmo atleta sabe
como funciona.

No aforismo Interessepelo corpo, Horkheimer e Adorno apresentam uma ideia à


primeira vista surpreendente, que talvez condense o que seria uma “pedagogia para o corpo”
na sociedade contemporânea, fortemente vinculada ao desporto. Ela diz que no contexto do
“amor-ódio pelo corpo”, na história subterrânea da desfiguração e do recalque pulsional, o
corpo permanece um cadáver, ainda que seja muito exercitado, (Horkheimer; Adorno, 1997).

O pequeno texto, que remete a várias outras passagens da obra de ambos,


principalmente a de Adorno, coloca em questão, decisivamente, o carácter da técnica, sua
condição de medida para o progresso e para a felicidade humana. Adorno não compartilha da
crença de que o novo ser humano poderia ser forjado no progresso, e as utopias serão, por
meio da técnica, alcançadas em sua plenitude, algo que fascinou vários de seus
contemporâneos, de Heidegger a Jünger, de Brecht a Gramsci. Para ele, ao contrário, a
realização tecnológica de antigos desejos humanos, se tomada “ontologicamente”, esvazia o
conteúdo interno das utopias, (Bloch; Adorno; Krüger, 1975, p. 58).

7
3.2. A Corporeidade Contemporânea

Pensadores, como Nietzsche e Marx, mudam a forma de ver o homem e,


principalmente, como o corpo é observado, pois no pensamento dualístico e cartesiano o
corpo sempre é oprimido, ou pela alma, ou pela razão. Porém, no pensamento contemporâneo
se tem dado uma atenção especial já vindo de Nietzsche e Marx para a importância do corpo
dentro de uma visão mais complexa do que é o ser humano e sua relação com o mundo.

O filósofo Merleau-Ponty traz em seus trabalhos a ideia totalmente contrária ao


dualismo, visão cartesiana e mecanicista introduzida por Descartes, ao afirmar que o homem é
um ser vivo, inserido em um meio definido, que parte de um desenvolvimento de projectos e
actua na mudança desse meio, (Queiroz, 2008).

Michel Foucault trata o corpo como uma esfera política, alvo de relações de poder na
sociedade moderna, utilizado desde a Idade Média, por intermédio de castigos corporais e
torturas, até a Idade Moderna e a Pós-Moderna (contemporânea), tendo um corpo treinado,
submisso e dócil, passível de controlo e manipulação, (Queiroz, 2008).

3.3. O Corpo Desportivo como Corpo Paradoxal

Como já elucidado, nesta parte prende-se, de forma mais demorada, apresentar a ideia
de corpo paradoxal. Iniciando pelo primeiro, pode-se dizer que, para Gil (2002), o corpo
paradoxal se constitui de uma matéria especial, que tem a capacidade de ser no espaço e de
devir o espaço, ou seja, de combinar tão intimamente com o espaço exterior que dele adquire
texturas variadas: o corpo pode se tornar um espaço interior-exterior. Nas palavras do
filósofo:

“O corpo é um metafenómeno, visível e virtual ao mesmo tempo, feixe de


força e transformador do espaço e do tempo, emissor de signos e transmitido,
comporta um interior orgânico pronto a dissolver-se ao subirá superfície. Um
corpo que existe ao mesmo tempo na abertura permanente ao mundo, por
intermédio da linguagem e do contacto sensível, e no recolhimento da suas
singularidade, por meio do silêncio e da não inscrição. Um corpo que se abre
e que se fecha, que se conecta sem cessar com outros corpos e outros
elementos, um corpo que pode ser desertado, esvaziado, roubado da sua alma
e pode ser atravessado pelos fluxos mais exuberantes da vida. Um corpo
humano porque pode devir animal, mineral, vegetal, devir atmosfera, buraco,

8
oceano, de vir puro movimento. Em suma, um corpo paradoxal,” (Gil, 2001,
p. 68).

Esse corpo paradoxal se abre e se fecha continuamente ao espaço e aos outros corpos.
Dispõe de uma capacidade com a qual se conecta menos com a existência dos orifícios que
vão marcar o corpo de forma visível (fazendo-o “corpo inscrição”) do que com a natureza da
pele, pois é mais pela superfície da pele do que pelos orifícios que o corpo se abre ao exterior.
Para o filósofo, a boca, o ânus ou a vagina estão a serviço de funções orgânicas de trocas entre
o interior e o exterior; contudo, raramente operam a abertura global do espaço interno, têm
como ressalva o momentoda fala e durante o prazer sexual. Para Gil (2001, p. 69), a
‘‘abertura’’ do corpo não é “nem uma metonímian em uma metáfora. Trata-se realmente do
espaço interior que se revela ao reverter-se para o exterior, transformando5 esse último em
espaço do corpo”.Gil (2002), destaca alguns aspectos essenciais da estrutura paradoxal do
corpo:

 Paradoxo das Direcções do Espaço - A esquerda e a direita são intercambiáveis,


assim como a frente e o atrás, o alto e o baixo. O movimento confunde-os
objectivamente, sem o que não haveria vectores nem mapeamentos do espaço. Mas tal
é possível porque a esquerda e a direita coexistem e se opõem nesse mesmo espaço.
Elas se sobrepõem no ponto único do espaço interior (virtual) em que se diferenciam,
a que o autor vai chamar de ponto paradoxal. Esse ponto não pode ser neutro; é já
vectorial; é já mais que um ponto. É um ponto-intervalo, uma diferença e, ao mesmo
tempo, um lugar de coexistência, o mesmo vale para outras dimensões corporais do
espaço.
 Paradoxo do Corpo Desmembrado - O corpo aparece articulável como um todo
orgânico; no entanto, cada membro guarda sua autonomia, enterra-se mesmo no
espaço interior, segundo direcções próprias. É o que faz com que o corpo se possa
desmembrar sem se destruir, mas não possa existir, quer dizer, ser definido enquanto
‘‘corpo próprio’’ sem a integridade de todos os seus membros.
 Paradoxo Interior/Exterior - No plano da percepção, o corpo é um continente que
envolve um conteúdo situado no espaço objectivo. No entanto, não sendo nunca
visível como conteúdo situado, esse escapa à percepção e às suas determinações
objectivas; o pensamento investe-o de uma série de determinações do espaço interior,
da ‘‘alma’’. Nesse sentido, o interior está fora do espaço objectivo. Logo que é

9
percepcionado, cessa de ser interior e confunde-se com o espaço exterior. É um corpo
de presença e impresença.
 Paradoxo da Presença e da Ausência - O corpo pode ser habitado e desertado pela
“alma”, mas também pode ser receptáculo para acolher em si outras ‘‘almas’’ virtuais
num só corpo actual.

O corpo paradoxal é virtual e latente em toda a espécie de corpo empírico que nos
forma e habita. É por meio dele que a dança e a arte em geral são possíveis. Ele é também
quem participa da formação pois é sobre os paradoxos do corpo que se constituirá; os corpos
empíricos seriam actualizações reduzidas e ficções feitas segundo imperativos dos saberes e
poderes. A verdade é que nossa condição habitual é esta, a de existir, sobretudo, como corpo
empírico funcional, orgânico, que recusa a intensidade e os paradoxos. Habituamo-nos a ver
nosso corpo comum como não intensivo e etiópico, por meio de camadas e camadas de
saberes e práticas que moldam o nosso olhar, detal forma que temos ideia de um corpo
“normal”, como o corpo morno, somente intensificado por meios técnicos (aí é possível situar
as diferentes ginásticas e desportos aobody-building).

Além do organismo, outro grande estrado que aflige o corpo é a significação que faz
com que os fluxos e as expressões do corpo sempre estejam atrelados a um significado, a
sentidos pré-fabricados; é isso que pretende a significância. Por meio dela, tudo do corpo é
entendido e se almeja interpretar. Então, pode-se dizer que “a significação cola na alma, assim
como o organismo cola no corpo e dela também não é fácil desfazer-se”, (Deleuze e Guattari,
1996, p. 26).

Nesse cenário de desestratificação do corpo, conforme pressuposto pelo conceito de


Deleuze e Guattari (1996), apontam para o perigo de quem anseia desfazer-se bruscamente
dos estratos, quebrá-los violentamente, pois pode cair na loucura ou até mesmo ser levado à
morte. Por isso eles insistem na prudência que se deve ter. A prudência, para eles, não são
uma atitude, nem uma prescrição moral, mas uma técnica de aprendizagem da luta contra os
estratos. Ter prudência é cada um continuar a conservar consigo pequenas provisões de
significação, de organismo e de subjectividade. Tal movimento é necessário para enfrentar a
“realidade dominante”, como diriam os dois autores. Para Gil (2008), manter essas provisões
de significância e de subjectividade é reproduzir todas as manhãs o jogo codificado das redes
sociais.

10
3.4. O Corpo como Objecto de Consumo e Influência da Mídia

Na sociedade actual, é importante considerar a influência dos meios de comunicação e


especialmente da mídia no processo de construção da identidade corporal. Segundo Guareschi
(1993), a comunicação como meio de transmissão de informações torna-se um instrumento de
dominação e controle social. A partir da consciência do outro, é intrometido nos grupos,
práticas de dominação. Essas práticas de dominação não são contestadas ou questionadas, são
simplesmente aceitas. As informações são transmitidas e a sociedade silenciosamente e de
forma passiva assimila o que é transmitido.

Meios de comunicação são responsáveis pela disseminação do corpo como objecto de


consumo. A televisão, com a ajuda da mídia e da publicidade, divulga a beleza e a forma
física como produtos aceitos e sustentados pela sociedade que visa o consumo, mesmo a custo
da exploração da imagem corporal como produto a ser vendido e integrado ao mercado.

Desse modo, o corpo desempenha a função não só de ser responsável pela vida
afectiva do sujeito, mas de ser um objecto de investimento e um meio de manipulação
psíquica, através da mídia, no sentido de atender aos interesses comerciais de empresas que
promovem a indústria da beleza, (Baudrillard, 2003).

Enfim, tratando-se da responsabilidade do sujeito pelo seu corpo e suas


transformações a partir de um processo de autoconstrução, a mídia e principalmente a
publicidade, exercem um papel de grande importância. O corpo é destacado como um objecto
de consumo, que faz parte de um estilo de vida tornando o consumidor insatisfeito com sua
aparência, (Lasch, 1983, citado em Goldenberg, 2002).

O corpo ao mesmo tempo que é fonte de investimento comercial, é também objecto de


exploração. É um objecto exposto à comercialização, como uma matéria que está a venda
Procura-se persuadir o cliente a comprar algo que possui, seu próprio corpo, mas o que se
pretende vender é um corpo perfeito. O foco em questão, é convencer as pessoas que precisam
conquistar um corpo ideal, sem defeitos a qualquer custo. Isso implica, na pessoa almejar algo
que pode ser prejudicial ao seu bem-estar psíquico, por uma obrigação de investir no seu
próprio corpo.

11
4. Considerações Finais

Conforme as palavras acima supra citados, com este trabalho de pesquisa pode-se
concluir que o corpo revela a expressão do sujeito com o mundo e consigo mesmo, mas no
momento actual, o corpo vem tomando forma e ganhando força para expressar-se de acordo
com a vontade do indivíduo.

Desta forma, o corpo possuído de autonomia é administrado segundo o desejo de seu


dono. O corpo actualmente, é modificado, transformado e remodelado para atingir um ideal
de beleza almejado pela colectividade. O corpo se produz culturalmente e o desejo de possuí-
lo em sua perfeição envolve o anseio das pessoas em buscarem a plenitude e o bem-estar
consigo mesmas.

De frisar que o corpo assume uma posição central na vida do sujeito. Torna-se o
principal responsável pela conquista e realização de sonhos pessoais. Sendo assim, o
indivíduo projecta em seu próprio corpo todas suas expectativas e atribui a ele, seus sucessos
e fracassos cometidos no quotidiano.

No que tange aos marcos da indústria corporal conclui-se também que há estrutura boa
parte das práticas pedagógicas contemporâneas. Não é diferente no que se refere à educação
do corpo, seja no desporto, seja em outras formas de cultuar o corpo. No presente trabalho
foram analisadas algumas das expressões da presença do corpo nos esquemas da indústria
corporal. Apoiando-se nas contribuições originais de Max Horkheimer e Theodor W Adorno,
neste contexto analisadas as contradições e os ardis mistificadores do “tempo livre”, do
processo de racionalização do corpo no desporto, pensando-os nos limites da sociedade
administrada, onde se encontram com a deformação da consciência e com a glorificação da
experiência da dor. Ao final, reencontro ambiguidades do desporto em uma nova constelação,
pensando, nas relações com o corpo, a possibilidade e a legitimidade da esperança.

12
5. Referências Bibliográficas

Baudrillard, J. A sociedade de consumo. Lisboa: edições 70. 2003.

Birman, Joel. Mal-estar na actualidade. A Psicanálise e as novas formas de subjetivação.3.


ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2007.

Bloch, E; Adorno, T.W; Krüger, H. Über di widersprüche der utopischen sehnsucht


surhkamp, 1975.

Crespo, J. A história do corpo. Rio de Janeiro: Bertrand/Difel. 1990.

Debord, Guy. Comentários sobre a sociedade do espectáculo. Em: A sociedade do


espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto. 1997.

Deleuze G, Guattari F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora; 1996.

Gil JN. Movimento total: o corpo e a dança. Lisboa: Relógio d’Água; 2001.

Gil JN. O corpo paradoxal. Em: Lins D, Gadelha S, editors. Nietzschee Deleuze: o que pode
o corpo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará; 2002.

Gil JN. O imperceptível devir da imanência: sobre a filosofia de Deleuze. Lisboa: Relógio
d’Água; 2008.

Guareschi, P. A. Comunicação e controle social (4th ed.). Petrópolis: Vozes. 2001.

Goldenberg, M. Nu e vestido: Dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca. Rio de


Janeiro: Record. 2002.

Horkheimer, M.; Adorno, T. W. Dialektik der aufklarung: philosophische fragmente.


Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1997.

Le Breton, D Adeus ao corpo: Antropologia e sociedade. Campinas, SP: Papirus. 2003.

Le Breton, D. A síndrome de Frankenstein. Em: San´t Anna, D. B. (org). Políticas do corpo:


Elementos para uma história das práticas corporais. (pp. 49-67). São Paulo: Estação
Liberdade. 1995.

Queiroz, R. S. O corpo do brasileiro: Estudos de estética e beleza. São Paulo: Senac. 1999.

13

Você também pode gostar