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A

NOVA GUERRA
CONTRA
ISRAEL
JED BABBIN e
HERBERT LONDON

traduzido por
eduardo levy
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Babbin, Jed
A nova guerra contra Israel / Jed babbin e

1. ed. -- Santos : Editora Simonsen, 2015.

Título original: The BDS war agains Israel.


ISBN 978-85-69041-04-7

1. Árabes palestinos - Israel - Condições


sociais 2. Árabes palestinos - Israel - Direitos
civis 3. Conflito árabe-israelense 4. Direitos
humanos - Palestina 5. Refugiados 6. Relações
internacionais I. London, Herbert. II. Título.

15-06388 CDD-327.5694
Índices para catálogo sistemático:
1. Conflito Israel-Palestina : Relações
internacionais 327.5694
2. Conflito Palestina-Israel : Relações
internacionais 327.5694
O s autores desejam agradecer a Adam Bellow,
David Bernstein e ao resto da equipe da
Liberty Island Media pela assistência na produção
deste livro. Desejamos também agradecer ao
rabino Binyamin Sendler e ao General Ion Pacepa
por nos permitir usar uma pequena parte do vasto
repositório de sabedoria de que dispõem e a Bryan
Griffin por sua pesquisa soberba.
O
Prefácio à edição brasileira.................9
INTRODUÇÃO...................................15
A nova guerra contra Israel..................23
CAPÍTULO 1 - as raízes políticas e
ideológicas do movimento BDS.................
41

I
o nascimento do BDS............................47
CAPÍTULO 2 - refutando as mentiras...........55
o embuste do apartheid.........................56
crimes de guerra e genocídio...................60

R
o bloqueio de Gaza e os muros..................67
o libelo de sangue 2.0 de Barghouti........... 72
limpeza étnica?................................76
não existe “direito de retorno”................89

A
CAPÍTULO 3 - a estratégia de Durban, a ONU e
a desinformação..............................93
CAPÍTULO 4 - o movimento BDS no mundo........101
CAPÍTULO 5 - o BDS nos Estados Unidos........113
M
CAPÍTULO 6 - quem financia o movimento BDS?..125
CAPÍTULO 7 - implicações para a política
externa dos EUA e Israel.....................137
o processo de paz............................. 142
o futuro da política externa americana........ 148
U

o futuro da política externa israelense....... 150


EPÍLOGO......................................163
APÊNDICE.....................................169
AGRADECIMENTOS...............................175
S
B R A S I L E I R A
O
I
C
por Jorge Feffer

H á alguns anos, trafegando pela Av.


Rebouças em São Paulo, deparei-me
com uma grande manifestação que ocupava
A
F
a outra pista da avenida. O trânsito se
arrastava lentamente e pude observar, com
E D I C A O
cuidado, as faixas com reivindicações como:
“Salvem Gaza”, “Israel assassino”, etc. Fiquei
E

curioso para descobrir como tanta gente


havia se reunido para tal manifestação, e me
surpreendi ao descobrir que era uma passeata
organizada pelo sindicato dos funcionários
R

do Hospital das Clínicas!


Perguntei a mim mesmo que raios que um
sindicato de classe tem a ver com uma questão
internacional, de dois pequeninos povos do outro
lado do globo. Obviamente aquelas pessoas não
P
A
10
estavam lá por iniciativa própria; havia todo
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

um sistema que propiciou sua ida, sem que os


envolvidos estivessem cientes. Não precisei
de muito para entender a conexão daquela
manifestação com movimentos de esquerda,
alimentados por uma ideologia que, por sua
vez, utiliza efetivos mecanismos de controle das
massas, para atingir objetivos nem sempre óbvios.
O movimento conhecido por BDS, a sigla em
inglês para Boicote, Desinvestimento e Sanções,
espalhou-se pelo mundo com o objetivo de
minar o Estado de Israel e as negociações para
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o estabelecimento de um Estado palestino ao


lado de Israel. Ainda que não figure em sua carta,
as declarações de seus dirigentes promovem
a discussão sobre a legitimidade da solução da
partilha de 1947 que, sob os auspícios da ONU,
definiu a criação de dois Estados para dois povos
na região. Seu objetivo é destruir o Estado de
Israel.
O antissemitismo já foi definido como “odiar
os judeus mais do que o mínimo necessário”, e
sua recente onda, por vezes ligada a políticas
promovidas por este ou aquele governo
israelense, demonstra não ser necessária a
presença de judeus para que prolifere. E o anti-
sionismo transformou-se na nova arma deste
fenômeno. Assim, promovendo mentiras e meias
verdades, grupos que nada têm a ver com a
disputa dos direitos humanos ou a liberdade de
expressão clamam pela exclusão de israelenses
das atividades culturais e econômicas, pela
11
expulsão de professores de congressos
internacionais, pela proibição de atuação de
artistas em atividades culturais e pelo banimento
de instituições das mais variadas organizações.
Mas a maioria dos engajados no movimento
não tem conhecimento de suas atividades;
confundem a disputa na Cisjordânia e em Gaza
com a situação dos cidadãos árabes em Israel que,
aliás, são os únicos a desfrutar de democracia
no Oriente Médio e por nada trocariam sua
cidadania pela de um Estado palestino. Também
são incapazes de diferenciar organizações
e indivíduos que lutam para promover o
entendimento e a harmonia, classificando a
todos os israelenses em uma mesma categoria e
promovendo discursos de ódio e confronto.
Infelizmente o Brasil não foge desta análise.
Aqui a esquerda que em busca da hegemonia
abraça qualquer causa, se apropriou de uma
suposta bandeira palestina, incorporando
elementos antissemitas e anti-sionistas em
suas manifestações. Dessas manifestações,
participam elementos entusiastas, portando
bandeiras e slogans, mas praticamente nada
sabem sobre os temas que supostamente estão
defendendo, sendo meros instrumentos de
manobra de uma estratégia maior.
As recentes demandas para excluir empresas
israelenses das atividades na Copa de 2016
encontraram prontamente respaldo nos órgãos
governamentais, na USP criaram há anos a
“Semana da Palestina”, que mobiliza ativistas
12
com meias verdades. Felizmente existe ainda
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

alguma resistência, como a de alguns renomados


cantores brasileiros que sabiamente rejeitaram
o apelo para deturpar sua arte com ingerências
políticas maniqueístas.
No Brasil, o movimento BDS praticamente
não existe. Por quê? Porque não é necessário
e provavelmente não seria muito útil, já que a
ideologia é tão forte e ativa que a pressão sobre
a sociedade para deturpar a questão Israel-
Palestina já obtém os resultados desejados.
Apesar disso, conhecer o movimento BDS
JED BABBIN & HERBERT LONDON

internacional é fundamental, para entender


como funciona esta ideologia, quais são suas
estratégias e técnicas para atingir os objetivos
almejados, usando de todas armas possíveis,
sem respeitar nenhum limite ético. Sabendo
disso podemos nos precaver, evitando, assim,
acreditar em discursos enganosos.
Para seus “militantes” trata-se uma guerra e
numa guerra as primeiras vítimas são a verdade
e o respeito ao ser humano.
I N T R O D U C A O
por Herbert London

A Oxfam America, cujo objetivo é acabar


com a pobreza, a fome e a injustiça
social, é uma organização de caridade
bancada por “cidadãos globais” e alega ser
“uma das organizações internacionais de
assistência e desenvolvimento social mais
eficazes do mundo”. Mas a Oxfam é mais
que uma organização de caridade; ela é
também um veículo de propaganda para a
demonização de Israel. Há pouco tempo,
a organização repreendeu uma das suas
“embaixadoras globais da boa vontade”, a
atriz Scarlett Johansson. O crime? Representar
a SodaStream, empresa israelense com
instalações na Cisjordânia. A Oxfam alegou
que promover o comércio com uma empresa
16
sediada em “território ocupado” era errado.
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Não interessa que o território esteja “sob


disputa”; ignore-se também que a SodaStream
emprega aproximadamente 500 palestinos; a
Oxfam sabe o que é o melhor para a região.
Para prestígio da atriz, ela encerrou seu
relacionamento com a organização, citando
“uma fundamental diferença de opinião no
que diz respeito ao movimento de boicote,
desinvestimento e sanções [BDS]”.
O porta-voz do movimento, Omar Barghouti,
expõe com total clareza o objetivo do BDS: “O
JED BABBIN & HERBERT LONDON

direito dos refugiados palestinos de retornar a


suas casas e terras, de onde foram desalojados
e despossados em 1948”. Mas esse direito
geral não existe. De acordo com resolução da
ONU, Israel foi criado para ser a pátria do povo
judeu. A resolução segundo a qual o suposto
“direito de retorno” foi criado dizia respeito
apenas aos palestinos desalojados pela Guerra
de Independência de Israel, não aos milhões
de descendentes deles vivendo no momento
como “refugiados” permanentes na Jordânia,
no Líbano, na Síria e em outros países árabes.
Dizer o contrário seria afirmar que a ONU
aprovou a destruição da pátria judaica um mês
depois de ter aprovado a criação dela. Fosse
posto em prática o plano absurdo do BDS—
absurdo no fato de que até mesmo o bisneto de
um palestino que vive na Jordânia, no Líbano
ou na Síria é considerado refugiado—o influxo
de quase 5 milhões de “refugiados” faria com
17
que o Estado de Israel deixasse de existir. No
entanto, o movimento BDS vem ganhando
força, especialmente ao espalhar a alegação de
que Israel é um opressor colonial.
O que se omite nessa narrativa é que as
comunidades judaicas do Iraque, da Síria,
do Irã, do Egito e do Iêmen foram expulsas,
criando mais de 600 mil refugiados judeus.
As injustiças que essas pessoas sofreram
não são reconhecidas pelas Nações Unidas
e muito menos retratadas pela mídia
mundial. Enquanto o Oriente Média se
inflama com guerras civis, terrorismo e
mentalidade anti-humanista, Israel tornou-se
preocupação prioritária de muitos centros
de opinião ocidentais. No entanto, trata-se
da única sociedade democrática, aberta e
verdadeiramente multiétnica da região—o
único país onde judeus e árabes se sentam
lado a lado no parlamento.
É instrutivo o fato de que Omar Barghouti,
o ativista do BDS mencionado acima, graduou-
se pela Universidade de Tel Aviv. Em verdade,
a universidade resistiu a uma petição mundial
para expulsá-lo por suas opiniões radicais,
apoiando-se nos princípios da liberdade
acadêmica e da liberdade de expressão e
conferindo-lhe o grau de mestre em filosofia.
Onde no mundo muçulmano poderia haver
história semelhante?
18
A oradora oficial do ano de 2014 da turma de
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

graduação da Technion University Medical School,


em Haifa, foi Mais Ali-Saleh, jovem muçulmana
criada em uma pequena vila árabe próximo a
Nazaré e, mais especificamente, um exemplo vivo
em contrário às alegações do BDS de que Israel
é um “Estado de apartheid”. Em seu discurso,
Ali-Saleh observou que “um boicote acadêmico
a Israel é uma atitude passiva que não alcança
nenhum dos objetivos que se propõe”. Afirmou
ainda que o BDS “perpetra falsidades”, uma vez
que as mulheres árabes de Israel têm ali mais
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direitos, liberdades e oportunidades acadêmicas


que em qualquer país árabe, e acrescentou que,
na verdade, os países árabes é que deveriam ser
pressionados a emular a liberdade acadêmica e
a democracia de Israel.
Um ponto de vista como esse, no entanto,
submerge no oceano diante do proselitismo
idealista de pessoas como Roger Waters, ex-
líder do Pink Floyd. Em uma entrevista recente,
ele afirmou que Israel promove uma “limpeza
étnica” como parte de seu “regime racista de
apartheid”, traçando também paralelos com o
governo de Vichy e a Alemanha nazista. Waters
chega mesmo a descrever a matança sistemática
de judeus no Holocausto como nada diferente
da “matança do povo palestino” e afirma que
muitos artistas compartilham de sua opinião,
mas têm medo de expressá-la por causa do
“poderoso lobby judeu”. As afirmações de
19
Waters, evidentemente, provam que é o exato
oposto que ocorre.
Mas o artista tem aliados improváveis: judeus
com boas intenções, muitas vezes vítimas de
péssimos conselheiros, que aceitam a narrativa
do BDS. Em alguns casos, trata-se de opiniões
ignorantes ou simplistas; em outros, essas
posições são apenas uma demonstração de
adesão à esquerda—a causa mais recente dos
“bons samaritanos” profissionais; para outros
ainda, apoiar o BDS é uma maneira de pressionar
o governo Netanyahu a ser mais flexível nas
negociações territoriais. Quaisquer que sejam
as razões, o BDS vem ganhando muitos adeptos
entre os judeus americanos, sobretudo nos
campi universitários.
É importante distinguir entre radicais
conscientemente antissionistas, como Norman
Finkelstein e Noam Chomsky, e sionistas “bem-
intencionados” inclinados à esquerda que
acreditam que o movimento BDS vai, na verdade,
beneficiar Israel ao acelerar as negociações
para uma solução de dois Estados; o New
Israel Fund (NIF) [organização judaica norte-
americana que pretende promover justiça
social em Israel], por exemplo, devota uma
parte significativa de seu orçamento ao apoio
ao BDS. Embora os capítulos que se seguem
não enfatizem essa diferença, é certo que
temos consciência dela. No entanto, é o efeito
das ações dos vários agentes, e não o que as
motivou, que nos interessa.
20
Em um artigo recente para o Wall Street
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Journal, a repórter Lucette Lagnado dissecou a


presença do movimento BDS na universidade
em que se formou, a Vassar College. Ela cita,
por exemplo, um texto publicado em um jornal
estudantil de autoria do presidente da Vassar
Jewish Union [Associação Judaica de Vassar]
que trazia todos os chavões hoje familiares:
“atrocidades”, “opressão”, “violência”, “colonial”
e o onipresente “apartheid”. Ao mesmo tempo,
o chefe do programa de Estudos Judaicos da
universidade também expressou apoio ao boicote,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

demonstrando que o vírus do BDS infectou a


academia de formas aparentemente improváveis.
Até mesmo algumas organizações do
Hillel—a maior associação universitária judaica
do mundo—cederam ao ataque, encorajando
o debate sobre a própria existência de Israel,
posição que viola diretamente o estatuto
do Hillel. Sob a bandeira de “um arcabouço
diversificado de opiniões”, os estudantes
agora debatem abertamente, em um ambiente
religioso judaico, se Israel deveria continuar
a existir. Mas é claro que a questão não é
de debate aberto e diversidade de maneira
alguma; se fosse, também veríamos abertura e
debate sobre as atrocidades cometidas contra
cristãos em países muçulmanos e discussões
sobre as diferenças entre os preceitos da
sharia e a liberdade que se exerce em Israel.
21
Embora os afetados de antissionismo
apresentem sua intolerância não como
preconceito, mas como busca por justiça
social, resta a pergunta: justiça para quem?
Se o pensamento sionista é o pecado original,
apenas o desmantelamento do Estado judeu
pode redimi-lo. Muitos antissionistas afirmam
que não se opõem ao judaísmo, apenas ao
Estado de Israel. Mas o principal garantidor
da segurança do judaísmo, desde o término
da Segunda Guerra Mundial, é a soberania do
Estado de Israel. O país não nasceu das cinzas
do Holocausto, mas é a última fortaleza contra
a repetição dele.
Muito embora se faça essa analogia com
frequência, o BDS é diferente do movimento de
boicotes que derrubou o apartheid na África do
Sul—diferente no alvo, diferente na intenção e
diferente no núcleo moral. Mas é como dizia
Mao Tsé-tung: uma mentira repetida centenas
de vezes se torna verdade. Para uma geração
ignorante a respeito do passado, a propaganda
do movimento BDS é como erva-dos-gatos:
irresistível e prejudicial, criando grandes
estragos no caminho. Em verdade, vivemos sob
os efeitos desses estragos no momento.
I S R A E L
C O N T R A
O s governos de muitos países, ao longo
da história, oprimiram o próprio povo,
privando-o dos direitos humanos básicos. G U E R R A
A França assassinou dezenas de milhares de
civis sob o regime do Terror que se seguiu à
revolução de 1789, e o mesmo fez a Alemanha
do kaiser, na marcha pela Bélgica, em 1914.
Mais tarde a Alemanha nazista cometeu o
Holocausto, o Camboja de Pol Pot enveredou
pelo genocídio e a União Soviética stalinista
N O V A

matou milhões de pessoas via fome e


massacres, além de tornar-se um modelo de
opressão ao enviar milhares de hordas sem
nome para os campos de trabalho forçado no
Arquipélago Gulag descrito por Solzhenitsyn.
A
24
Quando tais eventos ocorreram, esses países e
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

governos eram considerados párias cujos únicos


“aliados” eram conquistados por via militar, por
via ideológica ou por ambas. A China comunista,
porém, apesar de ter massacrado milhões de
pessoas, recebeu um perdão de facto quando os
países ocidentais resolveram fazer vista grossa
para o papel dela na história do século XX, para
o aumento de seu poder militar e para suas
ambições hegemônicas na costa do Pacífico.
A verdade é que até pouco tempo depois da
Segunda Guerra Mundial, os historiadores não se
JED BABBIN & HERBERT LONDON

acanhavam de relatar que os países iam caindo


um a um sob o jugo de ditadores, déspotas,
párias e terroristas, mas tudo mudou a partir do
momento em que a União Soviética conseguiu
mascarar seus piores crimes, fazendo com que
muitas pessoas, no mundo todo, se deixassem
seduzir pelo encanto das falsas promessas, da
ideologia fraudulenta e dos fatos mutilados. Os
resíduos desse encanto continuam a beneficiar
alguns dos piores regimes do mundo, inclusive
a própria Rússia neossovética de Vladmir Putin.
Ainda nos dias de hoje, a Coreia do Norte
continua a matar centenas de milhares de
pessoas com a sua versão do Arquipélago
Gulag, enquanto o Irã, que é o principal
patrocinador do terrorismo mundial, pode
estar prestes a estender sua hegemonia a
todo o Oriente Médio, graças à sua nascente
capacidade nuclear. Contudo, o país
continua a desfrutar de um lugar na chamada
25
“comunidade mundial das nações”, livre de
sanções e engajando-se em ações diplomáticas
calculadas para mascarar o desenvolvimento
de armas nucleares.
Apesar disso, ainda existem vários países
considerados párias—como a própria Coreia
do Norte, o Sudão e Cuba, para mencionar
só alguns—, punidos por sua conduta com
isolamento e sanções econômicas. Eles existem
em uma espécie de limbo, suspensos entre
as nações que toleram a prática ideológica
e a escravização da própria população por
parte desses países e aquelas que garantem os
direitos humanos básicos ao próprio povo.
Israel está em guerra desde que foi criado,
pois seus vizinhos árabes, com a exceção
do Egito, jamais aceitaram sua existência
como nação. O país sofre de pesadas ondas
de ataques terroristas de palestinos e de
grupos terroristas patrocinados por países
como o Irã, a Síria e outros. Essas ondas de
terrorismo palestino abrem-se e fecham-se
como uma torneira programada para seguir
o fluxo dos “processos de paz”, que jamais
chegam à paz por uma razão principal: como
veremos adiante, os países árabes mantêm os
palestinos em um limbo próprio, o único povo
do mundo em permanente estado de refugiado.
Eles são mantidos em campos, sem direito de
cidadania, para que possam ser usados como
arma política ou terrorista contra o Estado
26
judeu1. Israel não é um país pária, não apoia
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

o terrorismo, não é governado por déspotas


nem por ditadores. Seus cidadãos, tanto
os judeus quanto os árabes, são igualmente
beneficiados pela adoção da democracia e dos
direitos humanos. Mas tanto do lado de dentro
quanto do lado de fora de suas fronteiras, um
movimento de propagandistas e desinformantes
trabalha incessantemente para convencer o
mundo de que Israel é um país pária tanto
quanto a Coreia do Norte ou o Irã. O meio pelo
qual procuram fazê-lo é o chamado movimento
JED BABBIN & HERBERT LONDON

de “boicote, desinvestimento e sanções”, ou


“movimento BDS”, propagado por ativistas
palestinos, por governos árabes e por cidadãos
europeus que se juntam ao esforço de expulsar
Israel da comunidade internacional.
Como falharam na tentativa de derrotar Israel por
meio do terrorismo e da subversão, os palestinos
lançaram, como estratégia secundária, o movimento
BDS, cujos objetivos explícitos são: (1) criar boicotes
globais às universidades e indústrias israelenses
(supostamente apenas as que têm negócios nos
territórios palestinos “ocupados”); (2) fazer com que
países, bancos e indústrias retirem investimentos dos
1 Em entrevista concedida em 2003 a Jed Babbin,
Zia abu Ziad, conselheiro sênior de Yasser Arafat e ex-
-ministro de Estado palestino, afirmou que apesar de ter
interrompido os ataques terroristas de 1996 a 2000, a
Autoridade Palestina os retomou porque não houve ga-
nho político suficiente com a interrupção. Ele concor-
dou com a premissa de que a AP pode parar o terrorismo
quando desejar fazê-lo. http://old.nationalreview.com/
babbin/babbin200311050734.asp.
27
bancos e empresas de Israel e do país como um todo;
e (3) obter sanções internacionais contra Israel, sua
economia e seu povo.
Em seus nove anos de existência, o movimento
BDS teve um sucesso impressionante,
alcançando apoiadores e simpatizantes em
todo o mundo, mas principalmente na Europa
e na América do Norte. Na maior parte desse
tempo, os cidadãos israelenses e o governo do
país foram incapazes de afinar a própria voz
em oposição ao movimento. Agora, no entanto,
o BDS finalmente começa a ser reconhecido como
o que é: uma ameaça estratégica a Israel. Como
disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin
Netanyahu, na Conferência Diplomática do AIPAC
[The American Israel Public Affairs Committee,
“comitê de relações públicas israelo-americanas]
em março de 2014:

A maioria dos ativistas do movimento BDS não busca uma


solução de dois Estados para dois povos. Ao contrário,
eles admitem abertamente que buscam a dissolução do
único Estado do povo judeu. Embora alguns de seus
companheiros de viagem mais ingênuos acreditem que
ele trabalha pela paz, o BDS não deseja atingir nem a
paz nem a reconciliação, muito antes pelo contrário. O
movimento impede a paz, porque torna os palestinos
mais irredutíveis em suas posições e a conciliação mútua
menos provável.2

2 http://www.algemeiner.com/2014/03/04/full-trans-
cript-prime-minister-netanyahu%E2%80%90s-speech
28
No entanto, os israelenses até hoje não
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

fizeram nenhum estudo completo do movimento,


que analisasse os antecedentes, as posições e as
estratégias do BDS. Este livro tenta fazer isso, com
urgência de propósitos. Como os argumentos do
movimento ficaram, em sua maioria, sem resposta,
quem não estiver informado dos fatos e da história
por trás do conflito israelo-palestino se arriscará
a tirar conclusões erradas baseadas em distorções
patentes. O objetivo deste livro é, portanto,
ajudar a pôr as coisas em seus devidos lugares.
O curso de ação escolhido pelo BDS foi
JED BABBIN & HERBERT LONDON

conduzir uma campanha política multinacional


amorfa que, por parecer-se muito com o
movimento contra a guerra do Vietnã, como
tal foi encarada e abraçada por ativistas
palestinos radicais, por muitos membros
do mundo acadêmico e pela comunidade de
organizações não-governamentais (ONGs),
muitas das quais beneficiárias de doações
substanciais de países europeus.
O propósito da campanha é relegar Israel ao
gueto político reservado aos piores países do
mundo. Entretanto, tudo isso é necessário para
transformar Israel em pária precisamente porque
o país se distingue no Oriente Médio por não
ter jamais, com suas próprias ações, adentrado
o pequeno clube povoado por Cuba, Síria, Irã
e Coreia do Norte. Como os maiores inimigos
do Estado judeu são eles próprios ditaduras
islâmicas, precisam convencer os outros países
de que Israel é tão odioso e perigoso quanto eles.
29
Assim, o movimento BDS tenta pregar em Israel o
rótulo de pária que o país jamais recebeu por conta
própria, pondo em circulação um número tão grande
de falsidades e meias-verdades, que elas parecem
verossímeis a despeito dos fatos em contrário.
Apesar de apresentar-se sob as vestes de uma
campanha humanitária, o BDS não passa, na
verdade, de uma investida ideológica à existência
de Israel enquanto nação judaica. Trata-se de
um ataque assimétrico a um país que parece
despreparado para enfrentar seus inimigos nesse
terreno ou relutar em fazê-lo. Por isso mesmo, é
uma das maiores ameaças que Israel já enfrentou.
Há quem classifique o BDS como a “Terceira
Intifada”3; para entender por que, é preciso entender
as duas primeiras. Como resultado da Guerra dos
Seis Dias (1967), que terminou com Israel expulsando
as forças árabes pelo rio Jordão, o Conselho de
Segurança da ONU aprovou a resolução 2424, que
preconizava um tratado de paz segundo o qual o país
judeu negociaria a devolução das terras tomadas
na guerra em troca da paz com os palestinos e os
países árabes. Porém, nos 20 anos que separam a
Guerra dos Seis Dias da Primeira Intifada não houve
progresso algum em nenhum acordo de paz.
3 Até mesmo pelo colunista do New York Times Thomas
Friedman. http://www.nytimes.com/2014/02/05/opinion/
friedmanthe-third-intifada.html?_r=0
4 Disponível em http://unispal.un.org/U.N.ISPAL.NSF/0/
7D35E1F729DF491C85256EE700686136.
http://news.bbc.co.uk/2/hi/329643.stm
30
“Intifada” significa “livrar-se” em árabe.
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

O objetivo das intifadas era “livrar-se” da


presença de Israel nas estratégicas Colinas de
Golan e em áreas da Cisjordânia, territórios
que haviam sido conquistadas na Guerra dos
Seis Dias; mas os israelenses acreditavam que
retornar às fronteiras pré-1967 deixaria o país
vulnerável. Os palestinos exigiam não apenas
o retorno a essas fronteiras, mas também um
Estado Palestino “contíguo”, conectando a
Cisjordânia e a Faixa de Gaza; só que criar esse
Estado contíguo seria impossível sem partir
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Israel ao meio.
A Primeira Intifada começou em dezembro
de 1987, com o ataque palestino a militares
e civis israelenses com pedras, coquetéis-
molotovs e granadas de mão em protesto
contra a presença israelense no território da
Cisjordânia.5 Ao final dela, contava-se um
total de cerca de 20 mil mortos e feridos de
ambos os lados.6 Dos casos fatais, 1.561 eram
palestinos e 421 eram israelenses.7
O resultado foi a assinatura, em 1993,
do Acordo de Oslo, que prometia ser um
grande passo rumo à paz, pois cada um dos
lados concordou em reconhecer o outro, a
Organização pela Libertação da Palestina
comprometeu-se a renunciar ao terrorismo
e Israel aceitou trocar terras por paz.

5 http://news.bbc.co.uk/2/hi/329643.stm
6 Ibidem.
7 http://www.btselem.org/statistics/first_intifa-
da_tables.
31
Contudo, nenhum dos vizinhos árabes do
país judeu participou das negociações nem
reconheceu os termos do acordo. A paz
durou pouquíssimo tempo. Embora Israel
tenha começado a se retirar dos territórios da
Cisjordânia, o terrorismo não foi interrompido.
Os atentados suicidas se tornaram a principal
arma terrorista empregada pelos palestinos.8 A
partir de 29 de setembro de 20009, a Segunda
Intifada tornava-se uma luta declarada.
Por três vezes, desde 2000, primeiros-ministros
israelenses tentaram implementar a teoria da “terra
por paz” preconizada pela resolução 242 da ONU. Em
todas elas, ofereceram aos líderes palestinos
um Estado independente em termos muito
mais generosos do que a Jordânia e o Egito
haviam feito quando eram os controladores
de Gaza e da Cisjordânia.10 Em 2000, o então
primeiro-ministro israelense, Ehud Barak,
aceitou o plano proposto pelo presidente
norte-americano, Bill Clinton, que pretendia
estabelecer um Estado tanto na Cisjordânia
e em Gaza quanto no leste de Jerusalém; mas
Yasser Arafat, presidente da Autoridade
Palestina, abandonou as negociações e
deu início à Segunda Intifada.11 Depois, em
2005, o primeiro-ministro Ariel Sharon

8 http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/7381378.stm
9 Ibidem.
10 Sol Stern, “A Century of Palestinian Rejectionism and
Jew Hatred”, Encounter Broadsides (2011), p. 39.
11 Ibidem, p. 40.
32
desmanteloutodos os assentamentos judaicos
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

na Faixa de Gaza e redesenhou as fronteiras


entre Israel e Gaza de acordo com o que eram
antes da guerra de 1967. Mas nos dois anos
seguintes os palestinos lançaram uma chuva
de mísseis contra civis israelenses a partir
de Gaza e elegeram o grupo terrorista Hamas
para governar a Faixa de Gaza.12 A seguir,
no ano de 2008, o primeiro-ministro Ehud
Olmert presenteou o presidente palestino,
Mahmoud Abbas, com o mapa detalhado de um
Estado palestino composto por Gaza inteira,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

quase 100% das terras da Cisjordânia e uma


Jerusalém formalmente dividida que poderia
ser a capital de ambos os países. A oferta de
Olmert era condicionada a que os palestinos
renunciassem ao “direito de retorno”, que
resultaria, se posto em prática, numa maioria
árabe-palestina em Israel. Abbas prometeu
estudar o plano e retornar para negociações
posteriores, mas foi embora com o mapa e
nunca mais voltou.
A verdade é que já em 2001 os palestinos
e seus padrinhos árabes haviam decidido
implementar uma nova estratégia de luta,
incompatível com a paz e com a boa-fé nas
negociações. O terrorismo continuaria a
todo vapor, mas cederia o protagonismo no
combate a novos métodos. Era, como veremos,
o germe do movimento BDS.
12 Ibitem, pp. 40-41.
33
Supostamente consequência de um “apelo”
da “sociedade civil palestina” em 2005, o
movimento BDS, na verdade, resultou de uma
ideia cuja origem foi a reunião conduzida
em Teerã, em 2001, como preparação para a
Conferência Mundial de Combate ao Racismo,
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância
Correlata a realizar-se ainda naquele ano em
Durban, na África do Sul. Em Teerã e depois
outra vez em Durban, representantes do Irã,
dos países árabes, e de vários países que
foram colônias no século XIX e em parte do XX
reuniram-se para planejar estratégias mediante
as quais poderiam expor suas queixas contra
o Ocidente. Embora o propósito declarado da
reunião fosse procurar maneiras de combater o
racismo, o que houve na realidade foi uma orgia
de retórica antiamericana e anti-israelense.
Para justificar a campanha de boicote,
desinvestimento e sanções, os palestinos
e seus aliados lançaram uma multidão de
acusações espúrias contra Israel, tão absurdas
e extravagantes que seriam risíveis se não
tivessem atraído tanta atenção na sociedade
internacional na década vindoura.
Eis alguns exemplos, todos retirados do
livro Boycott, Divestment and Sanctions
[boicote, desinvestimento e sanções], escrito
pelo principal porta-voz do movimento, o
ativista palestino Omar Barghouti:
●● Israel é “fascista e racista”;
●● Israel é um “Estado de apartheid”;
34
●● Israel cometerá genocídio contra os
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

palestinos a menos que seja contido pelo


movimento BDS;
●● Israel comete crimes de guerra contra
os palestinos em Gaza desde 2007;
●● Leis religiosas básicas do judaísmo
sustentam o massacre e o genocídio de
civis não-judeus, inclusive crianças.13

As alegações de Barghouti a respeito das


leis religiosas judaicas soam como as daquela
infame falsificação antijudaica, Os Protocolos
JED BABBIN & HERBERT LONDON

dos Sábios de Sião. Embora se resumam a nada


mais que uma coleção de mentiras, distorções
e informações falsas, as calúnias de Barghouti
são proclamadas como se não houvesse
dúvida alguma a respeito de sua veracidade.
E é exatamente sobre essas mentiras que o
movimento BDS foi erguido.
Considere este fato: o BDS alega que deseja
apenas que Israel encerre a “ocupação” da
Cisjordânia e da Faixa de Gaza, e o apoio que
muitas pessoas em Hollywood, na mídia e na
academia dão ao movimento é baseado nessa
única proposta. Mas mesmo ela, embora
proclamada abertamente, é uma mentira,
como Barghouti—assim como muitos outros
apoiadores do BDS—já admitiu:

13 Omar Barghouti, Boycott, Divestment and Sanc-


tions, Haymarket Books (2011).
35
Se, digamos, a ocupação for encerrada, isso encerraria
seu apelo por boicote, desinvestimento e sanções?
Não, não encerraria, porque o povo palestino não
sofre só com a ocupação. É verdade que Israel ocupa a
Cisjordânia, Gaza e obviamente Jerusalém desde 1967,
mas a maioria do povo palestino não sofre apenas com
a ocupação. Esse povo sofre com a negação de seu
direito de voltar para casa. A maioria dos palestinos são
refugiados que vivem no exílio e têm negado o direito de
voltar para a própria casa e a própria terra, direito este
que é sancionado pela ONU, simplesmente porque não
são judeus. Israel, com seu sistema próprio de apartheid,
insiste em ter uma maioria judaica nesta terra e portanto,
depois de promover a limpeza étnica da maioria dos
palestinos em 1948 para construir o que é hoje Israel,
recusa-se a permitir que eles voltem”14

Alguns apoiadores do BDS têm menos


talento que Barghouti para obscurecer os
propósitos do movimento. Por exemplo:
●● Segundo o conhecido ativista As’ad Abu
Khalil, “justiça e liberdade para os palestinos
são incompatíveis com a existência do Estado
de Israel.”15
●● Para Ahmed Moor, escritor pró-BDS e
“Soros fellow”16, “encerrar a ocupação
14 https://www.youtube.com/watch?v=qOBg2t6vscc.
15 http://english.al-akhbar.com/blogs/angry-corner/
critique-norman-finkelstein-bds.
16 Moor é associado à Fundação Paul e Daisy Soros e
recebeu uma bolsa de dois anos para estudar na Kennedy
School of Government (ver http://www.pdsoros.org/current_
fellows/index.cfm/yr/2012#moor).
36
●● não significa nada se não significar
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

a derrubada do próprio Estado judeu”.17

Há ainda velhos esquerdistas remanescentes


dos movimentos pela paz da época da Guerra
do Vietnã e sua progênie ideológica:
●● Roger Waters, ex-membro do Pink
Floyd, disse o seguinte a respeito de uma carta
que mandou para Stevie Wonder: “Escrevi uma
carta para ele dizendo que [fazer um show
em Israel] seria a mesma coisa que tocar em
uma festa da polícia em Johanesburgo no dia
JED BABBIN & HERBERT LONDON

seguinte ao Massacre de Sharpeville, em 1960.


Não seria um grande gesto, especialmente
considerando que ele é o embaixador da paz
da ONU e como tal deveria se comportar.”18
●● Angela Davis, ex-revolucionária
comunista e hoje Notável Professora Emérita
da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz,
comentando a resolução de apoio ao BDS da
American Studies Association (ASA) [“associação
de estudos americanos”], afirmou: “As
similaridades entre as leis Jim Crow do passado
e as práticas dos regimes contemporâneos de

17 http://mondoweiss.net/2010/04/bds-is-a-lon-
g-term-project-with-radically-transformative-potential.
html.
18 http://www.rollingstone.com/music/news/ro-
ger-waters-calls-for-boycott-of-israel-20130320. (No
Massacre de Sharpeville, ocorrido em 1960, na África
do Sul, pelo menos 50 pessoas foram assassinadas pela
polícia ao protestar pacificamente contra as leis do passe
que restringiam os movimentos dos negros.)
37
segregação na Palestina Ocupada tornam esta
resolução um imperativo ético para a ASA. Se
tivermos aprendido a lição mais importante
de Martin Luther King—que a justiça é sempre
indivisível— estará claro que um movimento de
massa em solidariedade à liberdade palestina já
está muito tempo atrasado.”19
●● Quando o Festival de Cinema de Toronto
homenageou o aniversário de 100 anos de Tel
Aviv, Jane Fonda, Danny Glover, Eve Ensler e
outros esquerdistas de Hollywood assinaram
uma carta juntando-se a um boicote ao festival,
carta que dizia, entre outras coisas, que Tel
Aviv foi construída com violência, ignorando
“o sofrimento de milhares de ex-residentes e
seus descendentes.”20
●● A escritora Alice Walker, franca apoiadora
do BDS e participante do esforço de um navio
turco para quebrar o bloqueio da Faixa de
Gaza, afirmou: “Os assentados [israelenses]
são a [Ku Klux] Klan”.21

Israel rejeita o chamado “direito de retorno”


dos palestinos porque se os “refugiados”
tiverem permissão para retornar o que foi um
19 http://www.theasa.net/from_the_editors/item/asa_
members_vote_to_endorse_academic_boycott/.
20 http://www.israeli-occupation.org/2009-09-05/jane-
-fonda-joins-boycott-of-toronto-film-festival-over-homa-
ge-to-israel/.
21 http://cifwatch.com/2012/06/22/antisemitism-with-
-a-literary-glow-alice-walkers-ugly-caricature-of-israeli-
-jews/.
38
dia um grupo de cerca de 760 mil pessoas de
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

fato deslocadas será, hoje, um grupo de cerca


de 5 milhões de descendentes que retornariam
a Israel sob exigência palestina. Em um país
cuja população é de menos de 8 milhões de
pessoas, das quais cerca de 1,3 milhão já são
cidadãos árabes de Israel, a injeção de outros
5 milhões transformaria o país judeu em um
país islâmico.
Esta cacofonia de falsidades não
é respondida, debatida nem sequer
questionada na sociedade ocidental em
JED BABBIN & HERBERT LONDON

geral. O Ministério das Finanças israelense


chegou mesmo a engavetar, ao menos
temporariamente, um relatório sobre os
efeitos do BDS na economia do país. 22
Israel é o único país livre do Oriente Médio,
mas seu governo, seu povo e suas instituições
econômicas e acadêmicas estão sob ataque
ideológico daqueles que desejam destruí-lo.
Embora a campanha se revista de expressões
como “terminar a ocupação ilegal das terras
palestinas”, o que ela deseja é a destruição de
Israel.

22 http://www.economist.com/news/middle-e-
ast-and-africa/21595948-israels-politicians-sound-
-rattled-campaign-isolate-their-country.
39
41
AS RAIZES POLITICAS E IDEOLOGICAS
1
C A P I T U L O
DO MOVIMENTO BDS
A s raízes ideológicas e intelectuais do
movimento BDS remontam a dois fatos
históricos. Primeiro, o boicote a Israel que a Liga
Árabe mantém desde 1948; segundo, os esforços
da União Soviética para provocar o isolamento
do Estado judeu e a condenação do sionismo.
De acordo com um relatório produzido em
2013 pelo serviço de pesquisas do Congresso
dos Estados Unidos (Congressional Research
Service, CRS), a Liga Árabe—um grupo de 22
países do Oriente Médio e da África—mantém
um boicote a empresas e produtos israelenses
desde 1948:
42
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

O boicote possui três camadas. O boicote primário


proíbe os cidadãos dos países membros da Liga Árabe
de comprar, de vender para ou firmar contratos com o
governo israelense e os cidadãos israelenses. O boicote
secundário estende o boicote primário a qualquer
entidade mundial que tenha negócios em Israel. O
Escritório do Boicote Central mantém e distribui para
os membros da Liga uma lista negra de empresas que
comercializam com Israel. O boicote terciário proíbe que
os membros da Liga Árabe, assim como seus cidadãos,
comercializem com empresas que lidem com empresas
que estejam na lista negra.1
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Dado que, segundo o CRS, o boicote foi


aplicado de modo esporádico e imposto de
modo ambíguo, seu efeito foi indeterminado
e praticamente anulado pela lei antiboicote
americana, de 1977, que penaliza qualquer
empresa dos EUA que adira a boicotes a Israel.
Quanto aos esforços da União Soviética para
provocar o isolamento de Israel e a condenação
do sionismo, eles começaram em meados da
década de 60, com o veto a uma resolução
da ONU que condenava o antissemitismo.2
Havia sido um grande vexame para o país as
derrotas acachapantes que Israel infligiu aos
países árabes em 1967 e 1973, pois a potência
comunista apoiara a tentativa desses países de
destruir o Estado judeu e, em larga medida,
1 https://www.fas.org/sgp/crs/mideast/RL33961.pdf
2 http://jcpa.org/article/the-1975-zionism-is-racism-
-resolution-the-rise-fall-and-resurgence-of-a-libel/
43
os tinha treinado e equipado. O fracasso foi
tanto que acabou por levar à expulsão dos
conselheiros soviéticos do Egito em 1973. Então,
em 1974, a ONU concedeu à Organização para
a Libertação da Palestina, de Yasser Arafat—
supostamente separada do Fatah, grupo
terrorista de Arafat—, status de “observador”,
como organização de libertação nacional.
Enquanto esses eventos se desenrolavam,
ocorriam mudanças, de início imperceptíveis,
na imagem que o mundo tinha de Israel. Antes
da Guerra dos Seis Dias, e mesmo depois
dela, o país era visto como um oprimido
batalhador, que saíra de baixo e conseguira
resistir a terrorismo, boicotes e tudo o mais
que o mundo árabe lhe infligia. A partir de
1973, porém, os países árabes, em conluio com
seus patrocinadores soviéticos, começaram a
reverter essa percepção, aproveitando-se da
máquina de propaganda que o bloco comunista
desenvolvera já nos tempos de Stalin. Países
e grupos políticos, sobretudo aqueles ligados
aos soviéticos, começaram a pintar palestinos
e árabes como os oprimidos da história. Israel
já não era mais uma democracia amante da
liberdade, mas o opressor colonialista dos
palestinos inocentes. Ao mesmo tempo, a
OLP e outros grupos palestinos lançavam
uma terrível campanha de terror contra civis
israelenses, que se fez sentir de modo mais
evidente nas Olimpíadas de Munique, em 1972.
44
O próximo passo veio em agosto de 1975,
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

quando a Organização da Unidade Africana


condenou Israel e a África do Sul como
“regimes racistas e colonialistas”. Foi apenas
porque os Estados Unidos ameaçaram deixá-
la que a ONU não colocou em votação pela
expulsão de Israel da organização.3
Os esforços dos soviéticos não terminaram
aí. Em parceria com a OLP, eles planejaram
uma resolução da ONU que condenava o
sionismo como racismo. O ex-general romeno
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Ion Pacepa, o mais graduado oficial de


inteligência a desertar da KGB, contou como
isso ocorreu. Agindo em nome dos soviéticos e
patrocinado pela Cuba de Castro, pelos países
do bloco comunista e por uma coalizão de
países árabes, Yasser Arafat conseguiu fazer
com que se debatesse e votasse, na Assembleia
Geral ONU, a resolução “sionismo é racismo”,
tendo para isso o auxílio diligente do serviço
de inteligência romeno4, que chegou até, entre
outras atividades, a comandar a distribuição
clandestina de charges antiamericanas e
antissemitas do lado de fora do prédio da ONU.
No debate sobre a resolução, que ocorreu em
10 de novembro de 1975, o então embaixador
americano na ONU, Daniel Patrick Moynihan,
3 Ibidem.
4 Ion Pacepa e Ronald Rychlak. Disinformation
WND Books: 2013, pp. 276–77
45
proferiu, talvez, o discurso mais memorável
de sua eminente carreira pública. Moynihan
previu o que aconteceria se a ONU aprovasse
a resolução. Alguns dias antes do discurso,
Andrei Sakharov, dissidente soviético e
ganhador do Nobel da Paz, dissera que a
atitude da ONU daria sanção internacional
à abominação do antissemitismo.
Moynihan ecoou Sakharov e foi além:

À abominação do antissemitismo—como o prêmio Nobel


da Paz Andrei Sakharov observou em Moscou alguns dias
atrás—concedeu-se o estatuto de sanção internacional. A
Assembleia Geral da ONU garante, hoje, anistia simbólica
ao assassinato de seis milhões de judeus europeus.

A seguir o embaixador expôs uma das


verdades essenciais do judaísmo: que ele aceita
não apenas aqueles que nasceram na religião,
mas qualquer um—a despeito da raça, do credo
ou da origem nacional. Por esse critério, o
sionismo não pode ser “uma forma de racismo”:

Desejo que se entenda que eu estou defendendo aqui um


argumento, e um argumento apenas, o de que o que quer
que o sionismo seja, ele não é e não pode ser “uma forma
de racismo”. Logicamente, o Estado de Israel pode ser, ou
pode se tornar, muitas coisas na teoria, inclusive muitas
coisas que não são desejáveis, mas ele não pode ser e não
pode se tornar racista, a não ser que deixe de ser sionista.
46
Moynihan viu a importância da resolução
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

da ONU não apenas por causa do prejuízo


que ela causaria a Israel, mas também por
causa do prejuízo que causaria à própria
organização, que ainda mantinha, até aquele
momento, algum vestígio de verdade em seus
debates e resoluções. Ele continuou:

A proposição a ser sancionada pela Assembleia Geral


das Nações Unidas é de que “o sionismo é uma forma
de racismo e discriminação racial”. Ora, isto é uma
mentira. Mas como é uma mentira que as Nações Unidas
JED BABBIN & HERBERT LONDON

acabaram de declarar ser uma verdade, a verdade real


deve ser reafirmada.
(...)
A mentira terrível que se contou aqui hoje terá
consequências terríveis. Não apenas as pessoas
começarão a dizer, como aliás já começaram, que as
Nações Unidas são um lugar onde se contam mentiras,
mas estrago muito mais sério, grave e talvez irreparável
se fará à própria causa dos direitos humanos. O estrago
surgirá primeiro do fato de que se despirá o racismo do
sentido preciso e repugnante que ele, precariamente,
retém ainda hoje.

Apesar das advertências de Moynihan,


a resolução foi aprovada. As raízes do
movimento BDS estavam plantadas.
Desde então, dúzias de resoluções da ONU
foram críticas a Israel, às vezes de modo bem
áspero; cerca de quatro dúzias de resoluções
anti-israelenses foram vetadas pelos EUA no
47
Conselho de Segurança, o único lugar
onde o país ainda tem poder de veto. Só
no ano de 2014, foram 21 resoluções
desse tipo, enquanto apenas quatro
criticavam outros países que não Israel.5
Israel tenta servir de consciência à ONU,
mas é constantemente ignorado. Seja o tema
o terrorismo patrocinado pelo Estado no
mundo árabe, os perigos do programa nuclear
iraniano ou a opressão das mulheres e das
minorias religiosas no mundo, a voz de Israel
é ignorada ou desdenhada pela Assembleia
Geral. Os países árabes, a Rússia, a China e
muitos outros Estados totalitários mantêm
um bloco anti-israelense unificado há anos.

o nascimento do BDS

O movimento BDS, como observado


acima, foi produto de uma conferência
da ONU conduzida em 2001 na cidade de
Teerã e da Conferência Mundial de Combate
ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia
e Intolerância Correlata em Durban, na África
do Sul.
Conta-se às dezenas de milhares o número
de Organizações não-governamentais no
mundo. Algumas são instituições de caridade e

5 http://blog.unwatch.org/index.php/2013/11/25/this-
-years-22-unga-resolutions-against-israel-4-on-rest-of-
-world/
48
assistência social legítimas, mas uma quantidade
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

bem grande delas é simplesmente veículo de ação


política. Isso ficou bem evidente em Durban,
onde supostamente houve uma conferência
global contra o racismo.
Antes do começo da conferência,
aconteceu uma pré-conferência de ONGs
em Teerã. Organizações israelenses foram
deliberadamente excluídas.6 O principal
registro do evento é um artigo escrito para
The Fletcher Forum of World Affairs por
Tom Lantos, deputado democrata eleito pela
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Califórnia e primeiro e único sobrevivente do


Holocausto a servir no Congresso americano.7
De acordo com o relato de Lantos, a reunião
de Teerã ocorreu em fevereiro de 2001,
sem delegados nem representantes de ONGs
israelenses, porque o Irã se recusava a reconhecer
Israel e a conceder vistos a cidadãos israelenses.
Não foi permitida a participação nem da
Austrália nem a Nova Zelândia, dois apoiadores
convictos de Israel, pois suas tentativas de obter
credenciais foram bloqueadas pela Organização
para a Cooperação Islâmica (OCI, então chamada
Organização de Conferência Islâmica), com a
Malásia e o Paquistão pressionando pelo voto
negativo. A organização, que compreende 57
países, tem entre seus membros a Palestina, que
6 www.ngo-monitor.org/article/ngo_forum_at_dur-
ban_conference_
7 Representative Tom Lantos, “The Durban Deba-
cle: An Insider’s View of the World Conference Against
Racism,”, The Fletcher Forum, Vol. 26:1 (2002).
49
reconhece como país. Como resultado da
reunião, os delegados formularam uma
“declaração e plano de ação”, a que Lantos se
refere do seguinte modo:

A “declaração e plano de ação” com que os delegados


concordaram na atmosfera discriminatória de Teerã se
resume ao que só pode ser visto como uma declaração dos
Estados presentes de sua intenção de usar a conferência
como arma de propaganda para atacar Israel. Na verdade,
o documento não apenas destaca Israel de todos os
outros países—apesar dos conhecidos problemas
de racismo, xenofobia e discriminação que existem
em todo o mundo—, mas também iguala as práticas
do país na Cisjordânia a algumas das mais terríveis
práticas racistas do século anterior. Israel, afirma o
texto, engaja-se na “limpeza étnica da população árabe
na Palestina histórica” e está “implementando um novo
tipo de apartheid, um crime contra a humanidade.”. O
documento também professa testemunhar “um aumento
das práticas racistas do sionismo” e condena o racismo
“em várias partes do mundo, assim como a emergência
de movimentos violentos e racistas baseados em ideias
racistas e discriminatórias, em particular o movimento
sionista, que é baseado na superioridade racial”.8

Em uma reunião preparatória para a


conferência de Durban, realizada em Genebra,
os países islâmicos—Egito, Irã, Iraque,
Paquistão, Síria e o observador da Organização
para a Libertação da Palestina—insistiram para
que se usasse a linguagem formulada em Teerã

8 Ibidem., p. 36.
50
e para que sempre que se fizesse referência
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

ao Holocausto, fosse empregado o termo


“holocaustos”, a fim de incluir a suposta
“limpeza étnica” dos palestinos no território
israelense. A coisa foi ainda mais longe, com
os delegados da OIC e da OLP insistindo
para que a expressão “antissemitismo” fosse
relacionada às expressões “práticas racistas
do sionismo” e “práticas sionistas contra o
semitismo”. Este foi, como antecipado pela
conferência de Teerã, o momento que os
países árabes escolheram para formalizar sua
JED BABBIN & HERBERT LONDON

campanha de desinformação contra Israel.


Tudo estava pronto para a conferência
na África do Sul. Logo depois que ela
começou, as delegações dos EUA e de Israel a
abandonaram em protesto, deixando o terreno
livre para que a OIC e a OLP fizessem o que
quisessem. A reunião se transformou em um
circo antiamericano e anti-israelense.
Em um artigo publicado no Yale Israel
Journal9 em 2006, o professor Gerald
Steinberg relatou a ação de cerca de 1.250
ONGs na conferência paralela de Durban
que eclipsou completamente as reuniões dos
representantes governamentais.
De acordo com Steinberg, os personagens
principais foram a Human Rights Watch (HRW),
a Anistia Internacional, o MIFTA (grupo ativista
palestino de Hanan Mishrawi), o Palestinian

9 http://www.ngo-monitor.org/article.php?-
viewall=yes&id=1958
51
Committee for the Protection of Human
Rights and the Environment [“Sociedade
Palestina pela Proteção dos Direitos Humanos
e do Meio Ambiente”] e o South African NGO
Committee [“Comitê das ONGs Sul-africanas”].
Steinberg afirma que grupos como esses
se beneficiam de um “efeito de halo”—seus
nomes pomposos e sua retórica magnânima
levam as pessoas a presumirem que são nada
mais que defensores apartidários dos direitos
humanos. Em consequência, frequentemente
se concede a eles grande deferência na mídia
e nos círculos políticos, mas o “efeito de halo”
costuma apenas mascarar uma agenda radical.
Por exemplo, o diretor executivo da
Human Rights Watch, Kenneth Roth, defendeu
a agenda anti-israelense da conferência,
afirmando em uma entrevista: “As práticas
racistas israelenses são claramente um tópico
apropriado”. Quando representantes de ONGs
israelenses tentaram falar, Reed Brody—diretor
jurídico da HRW—tratou de expulsá-los.
O Fórum das ONGs publicou, como
resultado da reunião, uma “declaração”. O
“apelo” do movimento BDS em 2005 parece
ser uma cópia dela. Há uma seção inteira
devotada à Palestina e aos palestinos:
●● A seção 419 afirma que a ONU deveria
forçar Israel a permitir o “direito de retorno”,
a encerrar a “ocupação militar colonial” da
Cisjordânia e da Faixa de Gaza e a se retirar
das duas áreas; apela que a ONU reestabeleça a
52
resolução que equipara o sionismo ao racismo;
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

e que a organização force Israel a abandonar a


ideia de que é um Estado judeu;
●● A seção 420 demanda o estabelecimento
de um tribunal de crimes de guerra para
investigar os crimes de guerra, o genocídio, a
limpeza étnica e o apartheid na Cisjordânia e em
Gaza;
●● A seção 421 clama por mais
conscientização e educação sobre o sistema de
apartheid e o racismo israelense;
●● A seção 422 pede a criação de uma
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Comissão Especial da ONU sobre o apartheid


e outros crimes racistas contra a humanidade
perpetrados pelo “regime de apartheid” de Israel;
●● A seção 423 clama por programas
especiais para acabar com as distorções
midiáticas que “desumanizam os palestinos”;
●● A seção 424 demanda um movimento
contra o apartheid israelense executado da
mesma forma que o movimento contra a África
do Sul;
●● A seção 425 pede que “a comunidade
internacional imponha uma política diplomática
de isolamento total de Israel como um Estado de
apartheid como foi feito no caso da África do
Sul, o que significa a imposição de sanções e
embargos obrigatórios e abrangentes, o completo
encerramento de todas as ligações (diplomáticas,
econômicas, sociais, assistenciais, de cooperação
e treinamento militar) entre todos os Estados
e Israel. Apela ao governo da África do Sul que
53
lidere esta política de isolamento, tendo em mente
seu próprio sucesso histórico em opor-se à
política debilitante do ‘engajamento construtivo’
no caso de seu próprio regime de apartheid”;
●● A seção 426 clama pela condenação dos
países que apoiam o “Estado de apartheid
israelense” e “sua perpetração de crimes
racistas contra a humanidade como limpeza
étnica e atos de genocídio”. 10

Esta é a Estratégia de Durban, que poderia


com ainda mais exatidão ser chama de “A
Estratégia da OIC”. Tudo o que os criadores do
movimento BDS precisaram fazer foi mudar
algumas palavrinhas dessa “Declaração”—
para que não fossem acusados de plagiar o
produto do Fórum das ONGs de Durban—e
distribuí-la como o apelo da “sociedade civil
palestina”, um grupo que jamais é definido.

10 http://i-p-o.org/racism-ngo-decl.htm
55
2
M E N T I R A S
C A P I T U L O
A S
N a guerra ideológica, cujo objetivo é fazer
com que as pessoas mudem suas ideias,
o movimento BDS teve uma vantagem de quase
dez anos sobre Israel, que com grande atrasado R E F U T A N D O
começou a se defender, em 2013. Como disse
Mark Twin, a despeito dos fatos “uma mentira
pode viajar metade do mundo enquanto a verdade
ainda está calçando os sapatos”. Não é que os
israelenses tenham sido complacentes, mas
eles fazem uma suposição que lhes é bastante
prejudicial: a de que tendo testemunhado
a criação do país, os justos do mundo se
lembrarão desse evento e da intransigência e
violência árabe que se seguiu a ele e colocarão
56
os acontecimentos presentes em contexto. É uma
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

hipótese ingênua. Por causa dela, infelizmente,


nem Israel nem os EUA empreenderam o esforço
de contestar as mentiras que estão no centro do
movimento BDS.
Não é necessário repetir a prova de
Moynihan no grande discurso de 1975: a
refutação da acusação de que o sionismo é
uma ideologia racista é conclusiva. Sionismo
não é racismo porque, se fosse, não poderia ser
sionismo. Enquanto os judeus aceitarem como
JED BABBIN & HERBERT LONDON

membros de sua religião qualquer pessoa de


qualquer raça, credo, religião ou etnia, como
fazem há quase seis mil anos, a acusação de
racismo continuará a ser absurda.
Mas e as outras mentiras?

o embustre do APARTHEID

R otineiramente, os apoiadores do BDS


acusam Israel de ser um Estado de
apartheid, o que exemplifica mais uma vez,
como veremos, a operação de virar o sentido
de uma palavra de ponta-cabeça.
“Apartheid”, que significa “separação” na
língua africâner, da África do Sul, foi a política
estatutária do país de 1948 a 1989. Sob o
apartheid, a segregação racial era obrigatória,
57
o casamento inter-racial era proibido, a
educação dos negros era controlada e 70%
do território eram reservados para uso dos
brancos, que tinham também privilégio
econômico (na elegibilidade a na contratação
para empregos). Os líderes da oposição foram
presos e a oposição ao apartheid foi proibida.
Compare-se esse cenário com a situação de
Israel. Cerca de 21% dos cidadãos do país, mais
ou menos 1,7 milhão de pessoas, são árabes1.
Trata-se das pessoas que ficaram em Israel
depois da Guerra da Independência de 1948
e de seus descendentes. Na época da partilha
do território de acordo com a resolução da
ONU, elas escolheram, como era seu direito,
cidadania israelense em vez de cidadania do
Estado árabe (isto é, palestino).
Os árabes israelenses têm direito de voto
em Israel (inclusive as mulheres árabes),
exatamente como determinou a resolução de
partilha da ONU, ao passo que o direito de
votar era negado aos negros sul-africanos
sob o apartheid (e é negado às mulheres em
vários países árabes). Os árabes israelenses
podem candidatar-se a cargos eletivos, outro
direito negado aos negros sul-africanos. O
parlamento israelense, chamado de Knesset,
1 http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Socie-
ty_&_Culture/arabstat.html
58
tem 120 membros; houve árabes entre eles
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

desde a primeira eleição, em 1949, e há, no


momento, 12 árabes eleitos.2
Os cidadãos árabes de Israel não podem
servir ao exército, devido ao temor de divisão
de lealdade. A única desvantagem econômica
dos árabes é, portanto, não poder receber os
benefícios dos militares israelenses, mas isso
os deixa, por outro lado, mais disponíveis
para o trabalho, pois suas carreiras não são
interrompidas pelo serviço militar obrigatório.
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Uma das práticas do apartheid era


controlar e, pois, limitar a educação dos
negros; não há nada semelhante em Israel e
há vários estudantes árabes nas principais
universidades do país. Por outro lado,
as escolas no território controlado pelos
palestinos são conhecidos celeiros de
propaganda antissemita e são usadas para
propósitos ainda mais nefastos, como o ataque
de foguete lançado de uma escolar palestina
na Faixa de Gaza em novembro de 2007.3
Em um artigo para o New York Times de
31 de outubro de 2011, o juiz sul-africano
Richard Goldstone, que liderou uma Comissão
2 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Poli-
tics/knesset.html
3 http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsI-
D=24593&Cr=palestin&Cr1=
59
de Direitos Humanos da ONU para investigar
as alegações, discutidas abaixo, de que Israel
cometeu crimes de guerra no conflito de Gaza
de 2008-2009, disse o seguinte a respeito da
alegação de que o país é um Estado de apartheid:

Em Israel não há apartheid. Nada ali chega nem perto


da definição de apartheid do Estatuto de Roma de 1998:
“Atos desumanos… praticados no contexto de um regime
institucionalizado de opressão e domínio sistemático
de um grupo racial sobre um ou outros grupos raciais
e com a intenção de manter este regime”. Os árabes
israelenses—cerca de 20% da população de Israel—
votam, constituem partidos políticos, são representados
no Knesset e ocupam posições de destaque no país,
inclusive na Corte Suprema. Os pacientes árabes jazem
ao lado dos judeus nos hospitais israelenses e recebem
tratamento idêntico ao deles.4

Dizer que há apartheid em Israel não é


apenas mentira; é mentira grosseira. Os fatos
são tão claros que qualquer exame deles
imediatamente revela a falsidade da afirmação.

4 http://www.nytimes.com/2011/11/01/opinion/israel-
-and-the-apartheid-slander.html
60
crimes de GUERRA e
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

GENOCÍDIO

A campanha israelense no Líbano, em


2006, foi precipitada pelos terroristas
libaneses do Hezbollah, que atacaram Israel
e sequestraram dois soldados do país, em
conluio com os terroristas do Hamas, que, a
partir daquele ano, passaram a governar a
Faixa de Gaza.5
Esta ação é apenas uma das fontes das
JED BABBIN & HERBERT LONDON

acusações de “crimes de guerra”, repetidas


despudoradamente, com frequência, a respeito
dos ataques militares de Israel aos terroristas
da Faixa de Gaza. Barghouti aprofundou-a,
afirmando que apenas a destruição da
economia de Israel interromperá o genocídio
dos palestinos. Em conjunto, são imputações
tão vis que para repeti-las é preciso ser
voluntariamente ignorante dos fatos.
No pesado combate no Líbano em 2006, ficou
famosa a prática de “falsografia” do Hezbollah,
que consiste em encenar e “photoshopar” fotos
de supostos crimes de guerra.6 Funciona assim:
membros do grupo e seus simpatizantes na
mídia inventaram história de crimes de guerra
5 http://www.nytimes.com/2006/07/14/opi-
nion/14young.html
6 http://littlegreenfootballs.com/
61
que foram reproduzidas em todo o mundo,
ilustradas, por exemplo, com fotos que
mostravam Israel atacando ambulâncias
propositadamente.7 Para produzir “provas” dos
crimes de guerra, os terroristas desenterravam
e moviam cadáveres, inclusive de mulheres e
crianças, para locais que haviam sido atacados
por Israel.8 As fotos, alteradas para fazer os
ataques parecerem mais severos do que eram,
foram reproduzidas por algumas agências de
notícias.9 A Reuters, por exemplo, recolheu
uma delas depois de descobrir que havia sido
alterada.10
A “falsografia” palestina foi apenas uma parte
da campanha de desinformação que acompanhou a
ação no Líbano. Por exemplo, de dezembro de 2008
a janeiro de 2009, o exército israelense conduziu a
“Operação Chumbo Fundido”, de ataque às forças
terroristas do Hamas na Faixa de Gaza. Ela começou
com a execução de seu objetivo inicial, a morte do
comandante militar do Hamas, Ahmaed al-Jaabari.11
7 http://www.zombietime.com/fraud/ambulance/
8 http://littlegreenfootballs.com/article/22071_Photo-
grapher_Alleges_Unearthing_of_Bodies
9 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/
article/2006/01/26/AR2006012600372.html
Ver também http://www.ynetnews.com/arti-
cles/0,7340,L-3286966,00.html
10 http://www.ynetnews.com/arti-
cles/0,7340,L-3286966,00.html
11 http://www.foreignpolicy.com/articles/2012/11/14/
62
O Hamas é um grupo que, desde 1997, é
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

classificado como grupo terrorista estrangeiro


pelo Departamento de Estado americano. No
entanto, em 2006, os palestinos o elegeram,
por uma ampla maioria, para governar a Faixa
de Gaza.12 O Hamas dedica-se à destruição
de Israel. De acordo com seu estatuto, “o
propósito do HAMAS é criar um Estado
Islâmico Palestino nas terras de Israel por
meio da eliminação do Estado de Israel através
da jihad violenta”.13 Tudo, portanto, que
JED BABBIN & HERBERT LONDON

venha do governo do Hamas, dos membros do


Hamas, de seus simpatizantes (isto é, a maioria
dos palestinos, que escolheram o Hamas para
governar Gaza)—o que significa virtualmente
tudo que venha da Faixa de Gaza—tem de ser
considerado material de propaganda e de
informação falsa, ao menos e até que haja
prova em contrário. Não se pode confiar
em absolutamente nada que o grupo diga a
respeito de Israel.
No entanto, havia tantas alegações de crimes
de guerra na Operação Chumbo Fundido que
uma missão especial do Conselho de Direitos

operation_cast_lead_20
12 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/
article/2006/01/26/AR2006012600372.html
13 Andrew McCarthy, “The Grand Jihad,” Encounter
Books (2010), p. 136.
63
Humanos da ONU, sob chefia do juiz sul-
africano Richard Goldstone, foi designada para
investigá-las. Como o Conselho tem uma longa
história de críticas a Israel, o país se recusou
a cooperar. No relatório inicial, a comissão
Goldstone acusou Israel de atacar alvos civis
intencionalmente e afirmou, corretamente,
que os terroristas do Hamas também atacavam
alvos civis israelenses.14
Israel se sentiu ultrajado e deu início a
investigações próprias. Em consequência
dessas investigações e de outras subsequentes
às dele, o juiz Gladstone retificou uma parte
significativa do relatório original. Em um
artigo publicado no Washington Post do dia
1 de abril de 2011, ele admitiu que Israel não
havia atacado civis intencionalmente como
diretriz política (embora ele não eximisse
soldados individuais). O juiz também reafirmou
que o Hamas havia, clara e deliberadamente,
cometido crimes de guerra. E acrescentou:
“Não é preciso nem dizer que os crimes de
guerra que afirmamos que o Hamas cometeu
foram intencionais—seus foguetes eram
lançados indiscriminada e propositadamente
sobre alvos civis”.15 Também significativo,,
14 http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/
article/2009/09/15/AR2009091503499.html
15 http://www.washingtonpost.com/opinions/recon
64
Goldstone afirmou, era que embora Israel
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

tivesse conduzido numerosas investigações


sobre as alegações de crimes de guerra, o
Hamas não conduzira nenhuma. A conclusão
inescapável é que a prática de crimes de guerra
é uma diretriz do Hamas e sua liderança estava
satisfeita com isso.
Em novembro de 2012, durante o combate
entre as forças israelenses e terroristas
JED BABBIN & HERBERT LONDON

palestinos na Faixa de Gaza, cerca de 1.500


foguetes foram jogados sobre Israel, apontados
para locais de concentração de população
civil.16 Até mesmo a Human Rights Watch, que
demonstrara sua ideologia anti-israelense na
Conferência de Durban, em 2001, condenou
os ataques como crimes de guerra.
Houve baixas civis no Líbano, em Gaza e em
outros lugares onde Israel atacou terroristas
palestinos? É claro que houve. São tragédias
lamentáveis, como foi a das ambulâncias
atingidas por um ataque aéreo israelense
em 2006. Não se trata, porém, de crimes de
sidering-the-goldstone-report-on-israel-and-warcri-
mes/2011/04/01/AFg111JC_story.html
16 http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defen-
se/human-rights-watch-palestinians-committed-war-cri-
mes-during-gazawar.premium-1.489649
65
guerra. Sobre genocídio, é necessário dizer
mais que o óbvio, isto é, que genocídio é um
anátema para os membros de uma religião que
sofreu o Holocausto. Quem quer que visite
o Memorial do Holocausto Yad Vashem, em
Jerusalém, vê como são introjetadas as lições
do Holocausto nas dezenas de crianças judias
que o visitam diariamente, de um modo que
torna impensável que os judeus cometam
brutalidades similares. E é exatamente por
isso que Israel é acusado desse crime pelos
proponentes do BDS. Por exemplo, o livro de
Barghouti, citando alegações de um artigo
da Al Dameer Association for Human Rights
[“Associação Al Dameer para os Direitos
Humanos”], de Gaza, alega que Israel usou
de propósito, na incursão a Gaza, armas
tóxicas que causaram um grande aumento na
incidência de câncer, defeitos congênitos e
abortos espontâneos. Ele afirma:

Os crimes acima, a maioria ainda em curso, não ocorrem


no vácuo; eles são produto de uma cultura de impunidade,
racismo e tendências genocidas que se apossou da
sociedade israelense, definindo seu discurso corrente
e a abordagem considerada “normal” do “problema
palestino”.17
Segundo Barghouti, os crimes de guerra de
17 Supra, Barghouti, p. 40
66
Israel consistem em ordenar que soldados
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

disparem indiscriminadamente sobre civis


em prédios e bairros residenciais.18 Como
mostrado abaixo, em sua abjuração de muitas
das alegações do relatório da comissão que
presidiu, o juiz Goldstone conclui que Israel
não tinha nenhuma política de matar civis
intencionalmente e que quando casos de tais
crimes ocorriam, eles eram investigados pelas
autoridades israelenses responsáveis.19
A Convenção Internacional para a
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio,


de 1948, define-o como qualquer um dos
seguintes atos cometidos com a intenção
de destruir, no todo ou em parte, um grupo
nacional, étnico, racial ou religioso: a) matar
os membros do grupo; b) causar sérios danos
mentais ou corporais a membros do grupo;
c) infligir deliberadamente sobre o grupo
condições de vida calculadas para causar
sua destruição física no todo ou em parte;
d) impor medidas com o objetivo de evitar
nascimentos dentro do grupo; ou e) transferir,
à força, crianças do grupo para outro grupo.20

18 http://littlegreenfootballs.com/article/22071_
Photographer_Alleges_Unearthing_of_Bodies
19 http://www.washingtonpost.com/opinions/re-
considering-the-goldstone-report-on-israel-and-war-cri-
mes/2011/04/01/AFg111
20 http://www.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/ART/
357-02?OpenDocument
67
Nenhuma das acusações de genocídio
contra Israel cita nenhum traço de prova.21
As políticas e ações de Israel jamais tiveram a
intenção de destruir os palestinos como grupo,
nem no todo nem em parte. Dizer o contrário
é, talvez, a mais monstruosa das mentiras dos
líderes do BDS.

o BLOQUEIO de GAZA e os
MUROS

E m maio de 2010, forças israelenses


interceptaram o navio turco Mavi
Marmara em águas internacionais. Com ampla
publicidade, a embarcação planejava uma
forma de romper o bloqueio de Israel à Faixa
de Gaza, com o objetivo declarado de fornecer
suprimentos humanitários.22
Quando os israelenses subiram a bordo,
foram, segundo relatos, atacados por
passageiros e membros da tripulação. Como
resultado, nove pessoas foram mortas. O
governo turco protestou e rapidamente
recriminações contra Israel rodaram o
mundo.
21 http://www.mfa.gov.il/MFA/MFA-Archive/2000/Pa-
ges/Terrorism%20deaths%20in%20Israel%20-%201920-
1999.aspx
22 http://www.cnn.com/2010/WORLD/meast/05/31/
gaza.protest/
68
O secretário-general das Nações Unidas,
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Ban Ki-Moon, apontou um painel de quarto


membros sob direção do britânico Sir
Jeffrey Palmer para investigar o ocorrido.
Ele chegou a três conclusões fundamentais.
Primeira: quando os israelenses subiram a
bordo da embarcação, foram recebidos com
violência organizada e tiveram de se defender.
Segunda: Israel enfrenta “uma ameaça real
à sua segurança por grupos militares de
Gaza”. Terceira: em resposta a essa ameaça,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

“o bloqueio naval foi imposto como uma


medida de segurança legítima para evitar que
armas entrassem em Gaza por via marítima, e
sua implementação se fez de acordo com os
requisitos das leis internacionais”.23
Em suma, o bloqueio marítimo de Gaza é
legal de acordo com as leis internacionais.
Assim como a cerca que circunda a Faixa de
Gaza. E assim como a cerca em volta da Cisjordânia.
Do início da Segunda Intifada, em setembro
de 2000, até a construção da primeira seção
contínua do muro de Gaza, em julho de 2003,
cerca de 73 ataques terroristas emanaram
de Gaza, matando cerca de 293 israelenses e
ferindo outros 1.950.24 Entre agosto de 2003
23 http://www.nytimes.com/2011/09/02/world/mid-
dleeast/02flotilla.html?pagewanted=all&_r=0
24 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Pea
69
e junho de 2004, apenas três ataques tiveram
sucesso e todos eles ocorreram na primeira
metade de 2003.25 Quando Jed Babbin visitou
Israel no final de 2003, funcionários do
governo lhe disseram que o número de ataques
vindos de Gaza caíra para zero.
Em 2004, no entanto, o Tribunal Internacional
de Justiça (TIJ) julgou que era ilegal, sob as
leis internacionais, a construção da cerca ao
redor da Cisjordânia por parte de Israel.26 O
TIJ argumentou que a ação era uma anexação
de facto de território palestino e portanto não
permitida pela Carta das Nações Unidas.
Que haja várias coisas erradas no Tribunal,
que é um órgão da ONU, não espanta. Em
qualquer época que se examine, vários dos
“juízes” que o constituem são de países cujos
governos são exatamente aqueles que formam
o bloco anti-israelense desde a década de 70.
No momento de escrita deste livro, havia entre
os quinze juízes ativos pessoas do Marrocos,
da Somália e de Uganda, países que não são
exatamente exemplares na proteção aos direitos
humanos de seus cidadãos nem no respeito às
leis por parte dos seus poderes judiciários.27
ce/fence.html
25 https://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/Peace/
fence.html
26 http://www.icj-cij.org/docket/files/131/1671.pdf
27 http://www.icj-cij.org/court/index.
70
O TIJ simplesmente ignorou a cláusula
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

da Carta ONU que anula todas as outras. O


artigo 51 do capítulo VII afirma: “Nada na
presente Carta prejudicará o direito inerente
de legítima defesa individual ou coletiva no
caso de ocorrer um ataque armado contra
um Membro das Nações Unidas, até que o
Conselho de Segurança tenha tomado as
medidas necessárias para a manutenção da
paz e da segurança internacionais”.28
O que isso significa é que o direito de Israel
JED BABBIN & HERBERT LONDON

à legítima defesa, na ausência continuada de


ação do Conselho de Segurança para defendê-
lo contra as ameaças que emanam do outro
lado das barreiras, torna ambas as cercas, tanto
as da Faixa de Gaza quanto as da Cisjordânia,
legais sob as leis internacionais. Enquanto os
palestinos usarem o terrorismo procedente de
Gaza e da Cisjordânia como arma, enquanto se
recusarem a reconhecer Israel como Estado
judeu, esses muros e cercas são necessários
para a segurança dos cidadãos israelenses. A
despeito disso, em decorrência da decisão do
tribunal, o governo israelense mudou a rota da
barreira para eliminar a maioria das intrusões
na Cisjordânia a que ele objetou.29
php?p1=1&p2=2&p3=1
28 http://www.un.org/en/documents/charter/
chapter7.shtml [http://www.unicef.org/brazil/pt/resour-
ces_10134.htm]
29 http://www.tufi.org.uk/israeli_palestinian_conf
71
Há quem objete que o artigo 51 só
pode ser invocado em referência a atos de
nações. Isso é uma interpretação errônea da
linguagem clara do artigo, que não limita sua
aplicabilidade a ataques de uma nação contra
a outra. Além disso, os palestinos insistem que
são uma nação e a ONU lhes conferiu status
pseudonacional como não-membro. Eles não
podem ter as duas coisas.
É revelador que o TIJ tenha condenado
apenas as barreiras israelenses, como se fossem
diferentes de todas as outras. O professor
Michael Curtis explica que cercas e muros
são lugar-comum no mundo todo, usadas
para seprar povos em guerra desde o tempo
da construção da Grande Muralha da China,
passando pela Muralha de Adriano na Roma
Antiga, até a Zona Desmilitarizada entre as duas
Coreias no presente.30 De acordo com Curtis:

Barreiras são muitos comuns. Elas existem em todo o


mundo, em todos os continentes, por uma variedades
de razões. Algumas, como as da União Soviética e dos
países comunistas, especialmente o Muro de Berlim
(1961 a 1989), foram criadas para impedir que os
lict/security-barrier-briefing.html
30 http://www.americanthinker.com/2011/08/a_fence_for_
defense.html
72
cidadãos deixassem o território. Muitas outras existem
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

para impedir que as pessoas entrem no território—seja


um país ou uma área particular dele. Ainda outras se
estabeleceram para separar as partes envolvidas em um
conflito ou para evitar o conflito, como as de Belfast
em 1969 e a de Londonderry; de Chipre em 1974; do
Kuwait-Iraque em 1991; da Caxemira em 2004; e das
duas Coreias em 1953. Outras mais foram erguidas para
evitar atividades indesejáveis, como a da Índia para evitar
o contrabando de drogas e o terrorismo da Birmânia, ou
a da fronteira entre o Cazaquistão e o Uzbequistão. As
JED BABBIN & HERBERT LONDON

barreiras contra o terrorismo também são comuns. Delas,


as de maior importância são as barreiras construídas
pela Rússia contra a Chechênia, pelo Paquistão contra o
Afeganistão, pela Malásia contra a Tailândia, pela Índia
contra a Birmânia e pelo Egito contra Gaza, em 1979.

A condenação pelo TIJ da barreira ao redor


da Cisjordânia sem nenhuma palavra sobre
outros muros similares desfere o golpe final à
credibilidade do tribunal.

o libelo de SANGUE 2.0 de


BARGHOUTI

O incitamento de ódio aos judeus por


Barghouti ecoa Os protocolos dos
sábios de Sião, o libelo de sangue antissemita
da Rússia czarista. Ele afirma:
73
É crucial notar que a interpretação fundamentalista
da halachá, ou conjunto das leis judaicas, justifica
abertamente massacres, até mesmo genocídio (como no
assassinato em massa de civis “não-judeus”, inclusive
crianças), no que é chamado de “guerra de vingança” ou
“guerra necessária”. Uma guerra de necessidade de acordo
com os ensinamentos fundamentalistas seria declarada
contra a população “inimiga” inteira, sem poupar
ninguém. O único limite é a prática de atos que poderiam,
em retribuição, trazer mais prejuízos à comunidade
judaica. Assim, se um massacre de, digamos, dez mil
gentios causasse a Israel prejuízos que sobrepujassem
os “benefícios”, ele deveria ser evitado. Essa é a única
consideração permitida em ensinamentos religiosos com
esse nível de fanatismo, ensinamentos que se tornaram
dominantes entre a comunidade religiosa sionista de
Israel e outros lugares e penetraram no pensamento da
população israelense de várias maneiras.31

A única referência de Barghouti para essa


calúnia é um artigo que ele mesmo escreveu. O
rabino Binyamin Sendler, eminente estudioso
talmúdico e especialista nas leis religiosas
judaicas, investigou as afirmações feitas
no livro de Barghouti e concluiu que são
inteiramente falsas:

31 Supra, Barghouti, pp. 42–43.


74
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

A afirmação de que as leis religiosas do judaísmo


permitem ou até mesmo encorajam o assassinato em
massa de não-judeus (inclusive crianças) é completamente
falsa. O Talmud divide as nações gentias entre idólatras
(os “akum”) e gentios religiosos (os “ger toshav”). Os
adoradores de ídolos são vistos com grandes suspeitas,
no entanto matar um akum é obviamente proibido.
(Ver o Tratado Avodah Zarah 13b, Maimônides; leis do
assassinato 4:11, 2:11.) Já os pios Ger Toshav devem ser
tratados do mesmo modo que os judeus.
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Há uma exceção à halachá, que diz respeito aos


amalequitas, um povo que D-us categorizou como a
encarnação do mal e contra o qual a guerra ilimitada
era permitida. No entanto, o argumento irrefutável
com relação a essa exceção é que não há nenhum país,
grupo de pessoas nem um único indivíduo vivo nos dias
de hoje que seja identificado de maneira alguma como
amalequita. Esse fato é testificado por qualquer fonte
heláchica respeitável.

Embora alguns escritos relacionados ao


BDS tentem afirmar que os muçulmanos ou
outros tipos de gentios se incluem na exceção
à proibição do assassinato conferida aos
amalequitas, o rabino Sendler desbancou essa
alegação conclusivamente:
75
Parece-me que algumas das referências que você
encontrou citam um capítulo de Isaac Shahak no qual ele
cita um responsum de Chatam Sofer que iguala certos
gentios aos amaleques. Era absolutamente inconcebível
para mim que o reverendo Sofer tivesse escrito algo tão
completamente absurdo. Foi-me necessário investigar
bastante para descobrir o responsum referido (a citação
estava errada e há quatro volumes de responsa). Quando,
no entanto, eu o encontrei, descobri que essa porção
dos responsa havia sido fabricada a partir do nada e
que Chatam Sofer jamais havia feito tal afirmação ou
inferência.

A despeito da afirmação de Mao Tsé-tung de


que uma mentira repetida cem vezes se torna
verdade, esta mentira ainda será uma mentira
por mais que Barghouti e os apoiadores do
BDS a repitam.
A exigência do movimento BDS, admitida
por Barghouti, de que se dê a todos os cinco
milhões de “refugiados palestinos” em outros
países o “direito de retorno” a Israel implica que
Israel se transformaria em um Estado islâmico
com a imigração deles. E transformar Israel
em um Estado islâmico seria transformá-lo em
um país como a Arábia Saudita, o Iraque, o Irã
e tantos outros países islâmicos que negam a
seus cidadãos os direitos humanos básicos.
76
Se você apoia o BDS, apoia também as
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

mentiras que são a raiz dos argumentos do


movimento. Similarmente, você não apoia
os direitos dos palestinos, mas trabalha, na
prática, para a deslegitimação e a destruição
de Israel.

limpeza ÉTNICA?

C omo discutido antes, aproximadamente


JED BABBIN & HERBERT LONDON

setecentos mil árabes palestinos


emigraram do Estado judeu quando houve a
partilha do território pela ONU em 1948. A
emigração em massa começou em 1947, antes
da partilha do Mandato Britânico, e continuou
ao longo da Guerra de Independência
israelense em 1948-1949.
Essa história remonta a 1917, quando,
dividindo grande parte do território que fora
do Império Otomano, a França e a Inglaterra
(sob a égide da Liga das Nações) impuseram o
Madato Britânico à Palestina. Ele compreendia
todas as terras que hoje formam Israel, a Faixa
de Gaza e a área ao leste do rio Jordão que é
hoje a Jordânia. (A França passou a governar
as áreas que são hoje a Síria e o Líbano.)
77
Nesse mesmo ano, a Declaração de Balfour,
que recebeu o nome do ministro do Exterior
britânico, declarou apoio ao estabelecimento
de uma pátria judaica na Palestina e prometeu
salvaguardar os direitos civis e religiosos dos
habitantes árabes.
Em 1919, o príncipe Faisal—que liderou, ao
lado de T.E. Lawrence, o Lawrance das Arábias,
a revolta árabe contra os turcos na Primeira
Guerra Mundial—assinou com o líder sionista
Chaim Weitzman uma declaração segundo a
qual “todas as medidas necessárias devem ser
tomadas para encorajar e estimular a imigração
em larga escala dos judeus para a Palestina”.32
Faisal, que se tornaria rei da Jordânia, mudou
de ideia e exigiu que os britânicos reservassem
a Palestina para os árabes; em seguida, os
judeus foram proibidos de se estabelecer em
80% do território do Mandato Britânico.
Embora os judeus tivessem sido sempre
minoria na Palestina desde a época do
Império Romano, grandes quantidades
deles começaram a imigrar para lá depois
da Declaração de Balfour, e neste momento
qualquer esperança de paz entre os judeus
e os árabes rapidamente evaporou. Muitos
judeus perderam a vida nas revoltas e

32 Supra, Stern, p. 8
78
pogroms de 1920 e 1929. O ódio crescente
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

aos colonos judeus entre os árabes palestinos


levou a uma greve geral em 1936. Em 1937,
a Comissão Peel, coordenada pelos britânicos,
recomendou a partilha do Mandato em um
Estado judeu e outro árabe. Os judeus ficaram
divididos, mas o Alto Comitê Árabe—um grupo
de líderes tribais e árabes ricos—se opuseram
ao plano e os britânicos abandonaram a ideia.
Em 1947, a sociedade árabe da Palestina se
dividia, de modo geral, entre as vilas rurais e as
JED BABBIN & HERBERT LONDON

cidades e municípios, estagnados há séculos,


em que viviam cerca de um terço dos árabes.33
Membros de algumas dezenas de famílias de
elite eram reconhecidos como líderes, mas
não havia governo organizado, nacionalismo
nem concepção de Estado organizado.
A figura política mais importante era o
mufti de Jerusalém, Amin al-Husseini, que já
foi classificado como o pai do radicalismo
palestino. Husseini viveu em Berlim de 1941
a 1945 e tinha forte identificação com o nazismo e
com Hitler. Em 1941, dirigindo-se a ele, Hitler disse:

A posição da Alemanha é a de uma luta inflexível contra


os judeus. É autoevidente que a luta contra a pátria
judaica na Palestina é parte dessa luta, dado que tal
33 Benny Morris, “The Birth of the Palestinian Refugee
Problem 1947–1949,” pp. 9–11
79
pátria não seria nada além de uma base política para a
influência destrutiva dos interesses judaicos. A Alemanha
também sabe que a alegação de que a população judaica
desempenha o papel de pioneira econômica na Palestina
é uma mentira. Só os árabes trabalham lá, não os judeus.
A Alemanha está determinada a convocar as nações
europeias, uma por uma, a resolver o problema judeu e,
no momento propício, levar o mesmo apelo aos povos
não-europeus.34

Na Palestina de 1947 havia entre 1,2 e 1,3


milhão de árabes, dentre os quais 150 mil
eram cristãos. A maioria das terras destinava-
se ao cultivo e cerca de metade delas era de
propriedade de grandes proprietários ausentes
do Egito, da Síria e da Jordânia. No fim de 1947,
havia cerca de 1,9 milhão de pessoas vivendo na
área do Mandato, 31% das quais eram judias.35
Em novembro de 1947, a Assembleia Geral
da ONU aprovou a resolução 181, que criava um
Estado judeu no território que seria, até maio
de 1948, o Mandato Britânico na Palestina. Sob
a resolução, tanto os árabes quanto os judeus

34 Em 1943, os nazistas consideraram a hipótese de


trocar 5 mil crianças judias por soldados alemães presos.
O mufti fez pressão sobre Himmler contra a troca e as
crianças foram mandadas para a câmara de gás. Ver
“Stern, A Century of Palestinian Rejectionism and Jew
Hatred,” pp. 28–29.
35 http://www.thejerusalemfund.org/ht/d/ContentDetail-
s/i/2963
80
poderiam optar pela cidadania ou no Estado
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

judeu ou nas áreas declaradas árabes fora dele,


com direito a voto na sua terra de escolha.36
Se os cidadãos não-judeus do novo Estado
de Israel tivessem aceitado os termos da
resolução 181, nunca teria havido refugiados
“palestinos” de Israel. Mas o Alto Comitê
Árabe, liderado pelo mufti Husseini, rejeitou a
partilha e imediatamente lançou uma onda de
ataques terroristas a Israel, que rapidamente
degenerou na colisão entre milícias árabes e
JED BABBIN & HERBERT LONDON

forças israelenses.
De acordo com o historiador Benny Morris,
o êxodo árabe das terras do Mandato Britânico
aconteceu em ondas: a primeira, de dezembro
de 1947 a março de 1948, e a segunda, de abril
a junho de 1948. As outras ocorreram durante
a Guerra de Independência de Israel (maio de
1948 a junho de 1949).37
A primeira onda ocorreu na confusão
resultante da aproximação da data da retirada
britânica (marcada para agosto de 1948). Foi
um tempo em que milícias árabes e forças
judaicas combatiam tanto na guerra de
guerrilha quanto na guerra convencional.38
Muito da confusão foi resultado de os líderes
36 http://www.yale.edu/lawweb/avalon/un/res181.
htm
37 Supra, Morris, pp. 29–131
38 Ibidem., pp. 30-31
81
árabes ordenarem, alternadamente, tanto
que os palestinos não arredassem pé de
Israel quanto que partissem para as terras
árabes.
Em maio de 1948, a revista Time relatava:
“A retirada em massa, impelida em parte
pelo medo, em parte pelas ordens dos líderes
árabes, transformou as plagas árabes de
Haifa em uma cidade fantasma. (...) Ao
remover os trabalhadores árabes, os líderes
esperavam paralisar Haifa”. De modo similar,
em outubro de 1948, a Economist relatou:
“Dos 62 mil árabes que antes viviam em
Haifa, não restaram mais que cinco ou seis
mil. Vários fatores influenciaram a decisão
de buscar segurança na fuga, mas restam
poucas dúvidas de que o mais poderoso deles
foram os vários pronunciamentos do Alto
Comitê Árabe no rádio instando os árabes
a partir. (...) Anunciava-se claramente que
aqueles que ficassem em Haifa e aceitassem
proteção dos judeus seriam considerados
renegados”. 39
Como o primeiro-ministro sírio, Khaled
Al-Azm, disse depois da guerra de 1948:

39 http://www.jewishfederations.org/page.as-
px?id=121275
82
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

“Desde 1948, somos nós que exigimos o retorno dos


refugiados. (...) ao passo que fomos nós que fizemos com
que eles partissem. (...) causamos o desastre dos (...…)
refugiados árabes, convidando-os a partir e pressionando-
os a fazê-lo. (...) Nós os tornamos despossuídos. …(...) Nós
os acostumamos à mendicância. …(...) Nós participamos
de seu rebaixamento moral e social. ...(...) A seguir nós
os exploramos para que executassem os crimes de
assassinato, incêndio criminoso e lançamento de bombas
sobre …(...) homens, mulheres e crianças—tudo isso a
JED BABBIN & HERBERT LONDON

serviço de propósitos políticos..”40

As milícias árabes estavam sob comando


do mufti Husseini; a despeito disso, houve
vários tratados de paz locais negociados entre
os judeus e vilas árabes individuais. Houve
relativa paz durante os primeiros meses de
1948, o que permitiu a colheita da safra
de citrino. De fevereiro a março de 1948,
cerca de 75 mil árabes das cidades de Haifa,
Jerusalém e Jaffa deslocaram-se para o Leste.
Muitos outros se seguiram, deixando a área da
planície costeira e as vilas rurais depois de ter
sido atacados por um lado ou por outro, ou
simplesmente por temer novos ataques.
40 http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/refugees2.html
83
A segunda onda ocorreu em uma época
de crescente confusão e violência. A retirada
britânica era, em junho, iminente. As forças
judaicas estavam cercadas em Jerusalém; as
estradas eram locais comuns de ataques aos
comboios de suprimentos judaicos; durante os
meses de abril e maio, dezenas de vilas árabes
foram abandonadas. Grandes números de
pessoas fugiam dos conflitos.
No dia 14 de maio de 1948, Israel declarou
sua independência. Na Declaração afirma-se:
“Nós apelamos—em meio ao violento ataque
contra nós que já dura meses—aos habitantes
árabes do Estado de Israel que preservem
a paz e participem da construção do Estado
na base da cidadania integral e igualitária
e da devida representação em todos as
instituições provisórias e permanentes”. Os
países árabes iniciaram a guerra contra Israel
no dia seguinte. Houve ataques dos exércitos
do Líbano, da Síria, do Iraque e do Egito. (A
Arábia Saudita mandou uma divisão que lutou
sob comando egípcio.)41
Mesmo antes do início da Guerra, Israel
foi pressionado a permitir que os árabes
retornassem às áreas da Palestina. O líder
desse esforço foi o conde Folke Bernadotte,
41 http://history.state.gov/milestones/1945-1952/arab-
-israeli-war
84
o mediador apontado pelas Nações Unidas
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

para supervisionar a transição do Mandato


Britânico para os novos Estados partilhados.
O governo judaico decidiu que o retorno dos
palestinos antes do fim da guerra seria um
risco grande demais. David Ben-Gurion, o
primeiro líder de Israel, entrincheirou-se na
rejeição a qualquer retorno enquanto qualquer
exército invasor estivesse no solo de Israel.
Quando a Guerra acabou, a situação era
um beco sem saída. Com a aprovação da
JED BABBIN & HERBERT LONDON

resolução 194—a que segundo Barghouti


garante o “direito de retorno”—, tanto Israel,
quanto Bernadotte, quanto as potências da
ONU entenderam que o grosso dos refugiados
não seria repatriado. Não era possível que os
palestinos não tivessem entendido isso.
A guerra provocada pela partilha foi uma
guerra por terras reivindicadas pelo povo
judeu de acordo com leis internacionais—tanto
o Mandato Britânico quanto a resolução de
partilha da ONU—que os árabes da Palestina
e dos países circundantes negavam. Como
acontece em quase todas as guerras, as pessoas
deixaram suas casas com medo de ser afetadas
pelos conflitos. Muitas outras foram expulsas.
Algumas ficaram e se feriram ou morreram.
Houve cidades e vilas destruídas e abandonadas
e outras que permaneceram intocadas. Mas não
aconteceu uma limpeza étnica.
85
Compare-se a guerra e o êxodo dos
refugiados com uma limpeza étnica real, como
a promovida pelos líderes sérvios Ratko Mladic
e Radovan Karadzic e seu reino de terror na
Bósnia. Mladic foi julgado em Genebra pelo
massacre de cerca de sete mil muçulmanos
na cidade de Srebrenica, em 1995, e outros
crimes de guerra. Restos mortais continuam a
ser enterrados em Srebrenica.42
Trinta e oito companheiros sérvios de
Mladic já foram condenados por crimes de
guerra, inclusive genocídio, no esforço de
aniquilar os muçulmanos do país. Karadzic
também está sendo julgado por esses crimes.
As diferenças entre os crimes terríveis de
Mladic e Karadzic e o que aconteceu aos árabes
durante o ultimo ano do Mandato Britânico e a
Guerra de Independência de Israel são óbvias
para qualquer observador isento. Na “limpeza
étnica”, os civis são alvos intencionais de
massacre e expulsão forçada. Não se pode
enfatizar este ponto o suficiente: as Convenções
de Genebra de 1949 deixam claro que, na
guerra, as forças militares não têm o direito de
causar danos a civis intencionalmente.

42 http://www.foxnews.com/world/2013/07/11/bosnia-
-to-bury-hundreds-at-srebrenica-massacre-site/
86
Mas não houve nada semelhante aos
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

massacres de Srebrenica na Guerra de Israel


para derrotar as milícias palestinas e os
exércitos árabes, ambos os quais estavam
conduzindo suas próprias campanhas para
eliminar os judeus da Palestina. Embora
os judeus certamente tenham alguma
responsabilidade pelo número de palestinos
que deixaram a região antes da guerra e
enquanto ela durou, também têm os líderes
JED BABBIN & HERBERT LONDON

árabes que lhes disseram que teriam de partir.


Em verdade, é quase certo que, se vitoriosos,
os exércitos árabes teriam infligido o
genocídio e a limpeza étnica a centenas de
milhares de civis judeus.
No dia em que Israel declarou sua
independência e os cinco exércitos árabes
invadiram o país, a Liga Árabe publicou uma
declaração na qual novamente rejeitava a
partilha e afirmava pretender criar um Estado
palestino unitário.43 Eles desejavam destruir
Israel por meios militares. Não há razão para
acreditar que tratariam os judeus derrotados
de modo diferente do que Mladic tratou os
muçulmanos bósnios.

43 http://www.mideastweb.org/arableague1948.htm
87
Nas mais de seis décadas que se passaram
desde a fundação de Israel, os países árabes
deixaram muito claro que não pretendem
resolver o problema dos refugiados palestinos.
O Egito recusa a entrada deles desde a Guerra de
1948, ao passo que tanto a Síria quanto o Líbano
lhes nega o direito de refúgio. Apenas a Jordânia
concede direito de cidadania aos palestinos, e
assim mesmo reivindicando no processo o que
é hoje o território da Cisjordânia.44
Atualmente, o grosso da população
palestina não está na Cisjordânia nem em Gaza;
está, na verdade, aprisionado em campos de
refugiados na Jordânia (341.000), no Líbano
(226.000) e na Síria (127.800), enquanto mais
do dobro desse número de pessoas vive nesses
países fora dos campos.45
Os refugiados palestinos têm uma agência
da ONU especialmente dedicada a seu bem-
estar, a Agência das Nações Unidas de
Assistência e Trabalho para os Refugiados
Palestinos no Oriente Próximo [UNRWA, na
sigla em inglês]. Em 1958, em visita à Jordânia,
Ralph Galloway, da UNRWA, declarou o
seguinte:
44 http://www.jewishfederations.org/page.aspx?id=47015
45 http://prrn.mcgill.ca/background/index.htm
88
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Os Estados árabes não desejam resolver o problema dos


refugiados palestinos. Eles querem manter esse problema
como uma ferida aberta, uma afronta às Nações Unidas e
uma arma contra Israel. Os líderes árabes não dão a mínima
para se os refugiados palestinos vivem ou morrem.46

É precisamente o que Khaled Al-Azm


disse depois da Guerra de 1948: os países
árabes não dão a menor importância à vida
JED BABBIN & HERBERT LONDON

ou ao destino dos palestinos, interessando-


se muito mais em mantê-los como uma
arma útil contra Israel do que em ajudá-los
economicamente, socialmente ou de qualquer
outro modo. Os países árabes têm se mantido
notavelmente ausentes dos “processos de
paz” entre os israelenses e os palestinos
arquitetados repetidas vezes pelos EUA. Eles
não participaram das mesas de negociações
em 2000, em 2005 nem em 2008. Também não
participaram da rodada de 2014, proposta
pelo presidente americano Barack Obama e
pelo secretário de Estado John Kerry.
Em vez de participar do processo e
encorajar a paz entre Israel e os palestinos,
esses países permanecem indiferentes,

46 http://www.eretzyisroel.org/~jkatz/refugees2.html#18
89
apenas pressionando os Estados Unidos a
exigir mais concessões dos israelenses. Eles
exercem influência sobre as negociações, mas
apenas para evitar o acordo. Por exemplo,
antes do encontro Abbas-Obama em 2014,
a porta-voz do Departamento de Estado,
Jen Psaki, disse ao jornal palestino Al-Quds
que não era necessário que os palestinos
reconhecessem Israel como Estado judeu.47
Agarrando-se a esta aparente mudança na
conduta americana, os ministros de Relações
Exteriores da Liga Árabe replicaram em
massa que os palestinos jamais o fariam.48

NÃO existe “direito de


RETORNO”

O “direito de retorno” é a ideia de que


qualquer pessoa árabe que escolheu
deixar o Estado judeu quando a ONU dividiu
a área do Mandato Britânico, em 1948—
assim como todos os seus filhos, seus netos
e qualquer um que a ONU deseje chamar de
47 http://www.breitbart.com/Big-Peace/2014/03/09/
State-Dept-Palestinians-Do-Not-Need-to-Recognize-Isra-
el-as-Jewish-State
48 http://www.foxnews.com/world/2014/03/09/arab-le-
ague-chief-calls-on-arabs-to-take-firm-stand-against-re-
cognizing-israel/
90
“refugiado” palestino—, tem o direito de
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

imigrar para Israel e tornar-se cidadão. Esse


suposto “direito” é, como a “falsografia” do
Líbano, uma criação artificial.
Comecemos com os termos da resolução 181
da ONU, datada de 29 de novembro de 1947.
Trata-se do plano de partilha que criou um
Estado árabe e um Estado judeu. (A expressão
“Estado judeu” é usada repetidamente ao longo
da resolução.) Cada um dos Estados deve ter
JED BABBIN & HERBERT LONDON

autogoverno e os cidadãos de cada um deles


deve ter—antes de o Mandato expirar—direito
de deslocar-se para o outro.
Mesmo que alguns membros da ONU desejem
o contrário, a resolução 181 criou um Estado
judeu. Isso significa que o povo judeu deve ter,
tanto na época quanto hoje, direito a autogoverno.
Na época da partilha, cerca de 600.000 a
726.000 árabes palestinos deixaram voluntária
ou involuntariamente o território que se tornou
Israel.49 Uma resolução posterior da ONU,
a 184 (de 11 de dezembro de 1948), afirma
que “os refugiados que desejarem retornar a
seus lares e viver em paz com seus vizinhos
devem ter permissão de fazê-lo na data mais
próxima praticável e que uma compensação
deve ser paga pelas propriedades daqueles
que escolherem não retornar e pela perda de
ou dano a propriedades que, sob os princípios
49 Morris, supra, pp. 297–98.
91
das leis internacionais e da justiça, deve ser
validada pelo governo ou pelas autoridades
responsáveis”. O movimento BDS traduz isso
como um “direito” de retorno, a que Israel estaria
compelido a obedecer pelas leis internacionais.
Mas a questão é a seguinte: a população atual
de Israel é de um pouco mais de oito milhões
de pessoas, das quais 6,1 milhões são judias e
2,5 são não-judias. De acordo com as últimas
estatísticas disponíveis, há quase 4,7 milhões
de “refugiados” palestinos em cinco Estados
árabes. Se fosse permitida a imigração de 4,7
milhões de “refugiados” palestinos para Israel,
a população judaica do país se tornaria uma
grande minoria, e a ideia de um “Estado judeu”
desapareceria, pois a minoria judaica não
poderia se autogovernar.
A resolução 184 foi concebida para
encorajar o retorno somente dos refugiados
palestinos originais, não para destruir a ideia de
um Estado governado pelos judeus que a ONU
criara apenas duas semanas antes. Acrescentar a
esse contingente as futuras gerações que os 4,7
milhões de palestinos compreendem impediria
imediata e completamente o autogoverno judeu,
que era o objetivo da resolução 181.
Seja a de apartheid, a de crimes de guerra,
a de racismo ou qualquer outra, todas as
acusações mediante as quais o movimento BDS
tenta deslegitimar Israel são manifestamente
falsas. Por que, então, o movimento consegue
fazer tantos adeptos?
93
E
3
ONU
C A P I T U L O
A
A DESINFORMACAO
ESTRATEGIA DE DURBAN,
J á mostramos que todas as acusações
que o BDS faz contra Israel são falsas,
mas é igualmente importante mostrar como
o movimento as promove no palco midiático
internacional, por meio de uma guerra
ideológica cujo objetivo é convencer o mundo de
que Israel é um pária entre as nações, merecedor
do isolamento político e econômico e, no devido
tempo, da destruição.
Quem compra a retórica do BDS? Em
primeiro lugar há as pessoas que não se
interessam pela verdade porque concordam
com o fim último do movimento. Concordam,
em outras palavras, porque entre suas crenças
religiosas ou políticas está o desejo fervente de
A
94
opor-se ao Estado judeu, miná-lo ou destruí-
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

lo. Em segundo há aquelas a quem faltam


conhecimentos básicos sobre a história e a
situação da região e que são influenciadas
por políticos, por celebridades, pela mídia ou
por amigos com posições ardentemente anti-
israelenses. Ao mesmo tempo, há pessoas que,
embora ideologicamente afinadas com o BDS,
ainda precisam ser convencidas de que isolar
Israel é o melhor modo de ajudar os palestinos.
Assim, as campanhas do movimento BDS
JED BABBIN & HERBERT LONDON

procuram simultaneamente incitar o apoio do


primeiro grupo e persuadir os outros dois. A
tática abraçada para atingir essa meta se chama
“desinformação”. Para entender a gênese desse
método, é essencial ler Disinformation1, escrito
por Ion Pacepa, chefe da agência de espionagem
romena, membro de alta patente do círculo
interno da KGB e o responsável, entre outras
coisas, por operações de desinformação. Pacepa
foi o mais graduado oficial do círculo interno da
KBG a desertar e o único disposto a divulgar os
protocolos da agência.
“Desinformação” não é informação
falsa. Informações falsas são instrumentos
explícitos de propaganda; mentiras propagadas
por governos—ou organizações não-
governamentais—calculadas para gerar crenças
falsas. Por exemplo, se o governo iraniano
1 Ion Pacepa e Ronald Rychlak, Disinformation,
WND Books: 2013.
95
publicasse um relatório “provando” que seu
programa de armas nucleares é pacífico, esse
seria um exemplo de informação falsa. Quem
se interessasse pela verdade e conhecesse a
conduta dos iranianos desde 1979 a rejeitaria
imediatamente. Apenas quem tivesse outras
razões, políticas ou religiosas, para acreditar
no relatório o aceitaria. Mas e se uma dezena
de jornais estrangeiros decidisse publicar
o relatório? Então a informação falsa se
transformaria em desinformação, porque seria
retratada como verdadeira.2
Sempre que acusam Israel de praticar
racismo, apartheid, limpeza étnica, crimes de
guerra e genocídio, os proponentes do BDS
jogam a isca para pessoas que podem se deixar
convencer por essas mentiras e depois repeti-las
para outras plateias. Em primeiro lugar na linha
de propagação das mentiras estão as ONGs,
dentre as quais muitas são árabes e palestinas, e
outras, como várias organizações europeias que
financiam o movimento (como discutido abaixo),
têm inclinação ideológica pró-palestina e anti-
israelense. Em segundo lugar estão plateias
suscetíveis à propaganda, como a academia e a
mídia. Tem sido fácil para o BDS chegar a elas.
Mas a desinformação contra Israel tem
raízes anteriores ao movimento BDS. Muito
antes do Fórum de ONGs de Durban, ela já
era uma arma de guerra ideológica. De fato,
2 Ibidem, p. 35.
96
desde a vitória militar de Israel em 1967, as
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

atmosferas mais produtivas para as campanhas


de desinformação contra o país são a ONU e
suas várias plataformas de ativismo.
Em Disinformation, o general Pacepa e
seu coautor Ronald Ryachlak revelam que o
Kremlin, sob direção do então líder soviético
Yuri Andropov, usou as Nações Unidas para
transformar oficialmente o antissemitismo em
um movimento internacional.3 Supostamente
ideia do bloco árabe, a operação foi planejada
no Kremlin e sustentada por operações de
JED BABBIN & HERBERT LONDON

desinformação intermitentes, com o apoio de


Arafat, de Fidel Castro, dos países árabes e da
maioria dos países-satélites da União Soviética

Até 1972, a principal tarefa da máquina de dezinformatsiya


(desinformação) era transformar o antigo ódio da Europa
pelos nazistas em ódio pela América sionista, o novo poder
de ocupação. Em outras palavras, vestir a Guerra Fria com
os trajes do antissemitismo para amedrontar a Europa e o
resto do mundo com a crença de que os Estados Unidos
pretendiam transformá-lo em um domínio sionista financiado
pelo dinheiro judeu e governado por um vigarista “Conselho
dos Sábios de Sião” (o epíteto do Kremlim para o congresso
americano). Para fazer essa imagem circular, nossa tarefa
era retratar tudo e todos nos EUA como subordinados aos
interesses judaicos: os líderes, o governo, os partidos políticos,
as personalidades mais proeminentes— e até mesmo a história
americana.4
3 Ibidem, p 276.
4 Entrevista por email com Pacepa em 23 de fevereiro de
97
Pacepa não sabe ao certo se o movimento BDS
está ligado à FSB de Vladmir Putin, a sucessora
da KGB, mas afirma que há similaridades entre
as ações do movimento e as campanhas de
desinformação clássica:

Na minha opinião, os objetivos do BDS parecem versões


atualizadas dos objetivos da OLP quando eu ainda era
chefe da máquina de dezinformatsiya: incorporar o
antissemitismo e o antiamericanismo a uma doutrina
armada para todo o mundo palestino, do mesmo modo que
Moscou incorporara o marxismo a uma doutrina armada
para todo o bloco soviético. Na época nós tachamos o
sionismo de “uma forma de racismo e discriminação racial”
e o igualamos ao nazismo. O objetivo do BDS é retratar
Israel como uma sociedade de apartheid semelhante ao que
era a África do Sul antes de esse sistema ser eliminado por
Nelson Mandela (que era membro do Partido Comunista).

Que não haja prova nenhuma de ligações


entre a FSB russa e o BDS é irrelevante. O que é
importante é que o movimento segue o padrão
estrito das campanhas de desinformação
da agência. Quando examinamos os fatos,
percebemos que o BDS satisfaz aos três
critérios que definem as campanhas de
desinformação.
O primeiro é que as campanhas de
desinformação devem basear-se em mentiras.

2014.
98
Como já demonstramos, a base do BDS é falsa.
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

O segundo é que o objetivo das campanhas


deve ser causar prejuízos substanciais ao alvo.
Além disso, esses prejuízos devem ser causados
indiretamente, ou seja, não por meio de revoluções,
ações militares estrangeiras, diplomacia nem
outros meios explícitos. Essa é a metodologia
do BDS. O terceiro critério é que a campanha
de desinformação deve ser conduzida de modo
intensivo por uma ampla rede de pessoas e
organizações. Pacepa e Rychlak enfatizam muito
JED BABBIN & HERBERT LONDON

a quantidade de pessoas que uma campanha de


desinformação requer. Durante a Guerra Fria,
havia mais pessoas trabalhando em campanhas
de desinformação do que na indústria de
defesa e no exército soviético somados.5 Eram
diplomatas, funcionários do governo, agentes de
inteligência e todos os aliados que pudessem ser
seduzidos a ajudar. O BDS também atende a este
critério com facilidade.
Embora não existam registros que
comprovem que o movimento BDS é uma
campanha de desinformação conduzida por
velhos apparatchiks soviéticos, é correto
afirmar que aqueles que o lideram adotaram as
mesmas táticas e estratégias que eram usadas
pelos serviços de inteligência soviéticos.

5 Pacepa e Rychlak, ibidem, p. 38.


99
Em vez de exércitos de propagandistas pró-
soviéticos, o BDS emprega a mesma rede enorme
de ONGs que organizou o Fórum das ONGs na
conferência de Durban, junto com organizações
militantes palestinas, vários países árabes e
os aliados destes nos países ocidentais. Como
veremos abaixo, são as organizações militantes
palestinas e seus aliados que operam a campanha
de desinformação do BDS.
4
M U N D O
C A P I T U L O
N O
B D S
O movimento BDS encontrou
acolhida em alguns países europeus,
no universo das ONGs e entre um crescente
ótima

número de apoiadores no mundo. Para entender M O V I M E N T O


esse apoio, é preciso entender o contexto e os
termos dos apoiadores do movimento na mídia.
O BDS é uma fonte natural de atração para a
mídia internacional, pois apela às sensibilidades
esquerdistas da maioria dos jornalistas. Em
um artigo publicado 2005, a editora da seção
de resenhas do Washington Post, Maria Arana,
explicou um pouco como isso ocorre:
O
102
O esqueleto no armário das redações é nossa mesquinhez. Com
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

demasiada frequência, vestimos as franjas do progressismo e


somos intolerantes com outras opiniões e estilos de vida. (...)
Neste jornal não fazemos questão de ser sutis a respeito: se
você trabalha aqui, tem de ser um de nós. Você deve ser de
esquerda, progressista, democrata. Já assisti à cobertura das
eleições em encontros da equipe do Post e fiquei perplexa com
meus colegas torcendo descaradamente para os democratas.1
Nos Estados Unidos, o esquerdismo da mídia é aceito como
norma. Não é nem um choque para aqueles que afeta nem
objeto de muito pensamento consciente. Em uma palavra, não
JED BABBIN & HERBERT LONDON

é uma conspiração: é uma cultura.

Essa cultura, profundamente incrustada em


redes como a BBC e o New York Times, se faz
presente na maioria das redações do mundo
ocidental. É a razão pela qual a mídia noticia
entusiasticamente a ação de um fundo de pensão
holandês de retirar seus investimentos dos bancos
israelenses mas deixa passar praticamente em
branco o fato de que um milionário chinês doou
130 milhões de dólares para criar uma parceria
com uma universidade israelense.2
Em evolução paralela, espécies diferentes
desenvolvem as mesmas características. Como
isso ocorre tanto na política quanto na biologia,
a comunidade de ONGs desenvolveu o mesmo
tipo de cultura da mídia. Essa cultura domina a
comunidade de ONGs por três razões importantes.
1 Washington Post, October 3, 2005
2 http://www.jns.org/latest-articles/2013/10/6/bds-an-
tidote-may-come-from-china#.U2VK2pvLwgQ
103
Primeiro, a comunidade de ONGs é composta
principalmente por grupos que desejam ter uma
perspectiva supranacional e alegam abraçar
princípios altruístas, gerando assim uma cortina
de fumaça por trás da qual podem se engajar
no ativismo político. (O que distingue ONGs
como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha,
que embora caia no ativismo político de vez em
quando, não se engaja nele com frequência.)
Assim, uma ONG como a Anistia Internacional, que
tem um histórico de virulência anti-israelense que
remonta ao Fórum das ONGs de Durban, em 2001,
e mesmo antes, afirma:

A Anistia Internacional é um movimento global que faz


campanhas para acabar com graves violações aos direitos
humanos e conta com mais de três milhões de apoiadores,
membros e ativistas em mais de 150 países e territórios.
Nosso desejo é que toda pessoa desfrute de todos os direitos
considerados sagrados pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos e outros padrões internacionais de direitos
humanos.3

Segundo, o que organizações como a Anistia


Internacional valorizam acima de tudo o mais
é o “efeito de halo” que resulta da suposta
dedicação a missões e propósitos supranacionais
tão elevados. Este halo circunda as ações da
organização a despeito de sua equivocação e de

3 http://www.amnesty.org/en/who-we-are
104
seu viés anti-israelense, conferindo-lhe uma aura
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

de benemerência condizente com as Irmãzinhas


do Pobres. Mas no caso de tantas ONGs similares,
como a Human Rights Watch, o halo é inadequado.
Muitos grupos como esses dois se aproveitam dele
para perseguir uma agenda anti-israelense e pró-
BDS e muitos países europeus, assim como a União
Europeia, os financiam generosamente. Como
disse o professor Gerald Steinberg, presidente do
NGO Monitor [“Monitor das ONGs”], “o dinheiro
dos pagadores de impostos está sendo canalizado
para organizações e atividades que colocam lenha
JED BABBIN & HERBERT LONDON

na fogueira do conflito, violando os princípios


democráticos. A UE pode fazer uma contribuição
positiva para a paz entre os israelenses e os
palestinos, mas isso requer uma mudança
essencial no financiamento de ONGs radicais”.4
Terceiro, a cultura anti-israelense das ONGs
é contagiosa. Novamente, não se trata de uma
conspiração, mas os efeitos podem ser os mesmos.
As ONGs, como outras entidades políticas, andam
juntas como patos em uma lagoa, e quando a
causa comum é Israel, esses patos encontram
muitos doadores dispostos a lhes lançar pão. Em
suma, a cultura das ONGs é anti-israelense por
encorajamento dos doadores, de muitos outros
membros da comunidade das ONGs e pelas
crenças básicas de suas equipes.
4 http://www.breitbart.com/Breitbart-Lon-
don/2014/02/19/EU-Sponsoring-NGOs-Involved-in-anti-
-Israeli-Activities
105
A analogia ONGs-mídia é exata. Como nos
explicou L. Brent Bozell III, fundador e presidente
da organização americana de media watch Media
Research Center [“Centro de Pesquisa de Mídia”]:

O viés esquerdista da mídia nos EUA, naem verdade em todo


o Ocidente, não pode ser explicado como produto de alguma
conspiração nefanda. É uma hostilidade cultural, uma objeção
ao excepcionalismo americano em todas as suas formas e, por
extensão, aos aliados americanos. Israel não é apenas o mais
firme aliado americano no Oriente Médio; é a nação que é o
epicentro de cultura judaico-cristã tradicional sobre a qual
os Estados Unidos se formaram. Daí a hostilidade a Israel e o
apoio a seus inimigos.

O mesmo viés cultural se encontra na maior


parte das ONGs. Ao examiná-las, como o NGO
Monitor faz com frequência, descobre-se em
comum entre elas o viés e a ação anti-israelense
semelhantes ao da Anistia Internacional que
remonta pelo menos ao Fórum das ONGs de
Durban de 2001.5 É uma cultura compartilhada
que exatamente por ser compartilhada conforta
os que aderem a ela. Os israelenses certamente
sabem disso, mas deveriam reconhecer e
debater o fato publicamente.
Fora as ONGs, a cultura anti-israelense também
está em voga entre políticos da Europa e de outros
lugares, com poucas exceções notáveis, como
5 http://www.breitbart.com/Breitbart-London/2014/02/19/
EU-Sponsoring-NGOs-Involved-in-anti-Israeli-Activities
106
o primeiro-ministro inglês David Cameron.
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Em março de 2014, na sua primeira visita a


Israel desde que assumiu, Cameron fez um
discurso muito duro no parlamento israelense,
o Knesset, em que criticou severamente o BDS.
“A Grã-Bretanha”, disse Cameron, “se opõe
aos boicotes, tomem eles a forma da campanha
dos sindicatos pela exclusão dos israelenses
ou a forma da tentativa das universidades de
sufocar o intercâmbio acadêmico.” Ele disse ainda
que tentar deslegitimar Israel é “repugnante” e
JED BABBIN & HERBERT LONDON

prometeu que, “juntos”, Grã-Bretanha e Israel


“vão derrotá-los”.6 Essas afirmações marcam um
nítido contraste entre Cameron e Obama e entre a
Grã-Bretanha e a maior parte da Europa. (Embora
talvez Cameron não esteja ciente disso, há áreas
de seu governo, como o British Department for
Business Innovation and Skills, que contribuem
para o financiamento do BDS.7)
Na Europa, como veremos, o movimento BDS
vem tendo enorme sucesso em garantir direta e
indiretamente fundos de governos e ONGs. Em
alguns lugares, até mesmo empresas se juntaram
à campanha do BDS. Um caso particularmente
notável é o da Holanda. Em janeiro de 2014, o

6 http://www.ft.com/intl/cms/s/0/901cdbbc-a9f-
9-11e3-adab-00144feab7de.html?siteedition=intl#axzz-
2vle87E9b
7 http://www.thecommentator.com/article/3544/
revealed_british_government_funds_israel_boycott_acti-
vists
107
PGGM—um grande gestor de fundos
holandês—anunciou que retiraria seus
investimentos de cinco bancos israelenses
por causa do suposto envolvimento deles com
assentamentos israelenses na Cisjordânia. Os
investimentos (no Bank Hapoalim, no Bank
Leumi, no First International Bank of Israel,
no Israel Discount Bank e no Mizrahi Tefahot
Bank) somavam dezenas de milhões de euros.8
Há ainda outro aspecto do sucesso do
movimento BDS na Europa. Em junho de 2013,
a Comissão Europeia publicou normas que
bloqueavam a concessão de bolsas, prêmios e
fundos da UE para qualquer entidade israelense
em terras da Palestina “ocupada”.9 É razoável
que os israelenses temam que essa ação seja
precursora de um boicote mais amplo da União
Europeia a instituições e empresas israelenses
conforme os objetivos do BDS.
Mas o movimento também encontra seus
detratores no Velho Continente. Na França, doze
ativistas pró-boicote foram condenados por
incitação ao ódio racial depois que entraram em
uma mercearia e colaram adesivos amarelos com
slogans anti-israelenses em legumes importados
de Israel. O país, que tem uma grande população
muçulmana não-assimilada, também proibiu uma
8 http://www.reuters.com/article/2014/01/08/nether-
lands-israel-divestment-idUSL6N0KI1N220140108
9 http://www.ft.com/intl/cms/s/0/96304cdc-ee01-11e-
2-816e-00144feabdc0.html#axzz30gX8AOB8
108
turnê do comediante anti-israelense e antissemita
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Dieudonne M’bala M’bala, condenado várias


vezes por depreciar o Holocausto e afirmar que
uma máfia judaica controla a França.10
Na Alemanha o BDS também não teve
grande efeito. Embora tenha havido vários
protestos contra Israel associados ao
movimento—advogando, por exemplo, o fim
da venda de submarinos alemães para o
país—, eles não alcançaram o fim pretendido
(nem nenhum outro). 11
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Por outro lado, na região da Galiza, no


noroeste da Espanha, cinco sindicatos
votaram em favor do apoio ao BDS.12 Não é
nada muito significativo, mas, como veremos,
o apoio financeiro do governo espanhol ao
movimento BDS é.
Na Austrália, que aparentemente não tem
nenhum interesse em se envolver em nada
relacionado à questão da Palestina, o movimento
BDS parece ter sido reduzido a um blog que se
concentra em criticar a orientação política do
jornal The Australian.13
10 http://www.haaretz.com/jewish-world/1.574361
11 http://www.bdsmovement.net/2014/german-pea-
ce-groups-oppose-further-war-ships-to-israel-11592
12 http://www.theyeshivaworld.com/news/headlines-
-breaking-stories/154193/spanish-trade-unions-announ-
ce-support-for-anti-israelbds-movement.html
13 http://australianbdscampaign.wordpress.com/
109
Da China—de quem não se esperaria aliança
imediata com um aliado dos EUA como Israel—
pode ter vindo um golpe fatal ao movimento,
na ação de um dos mais ricos empresários do
país, Li Ka-Shing, que fez uma doação de 130
milhões de dólares à Technion University de
Israel. A doação foi feita “como parte de um
empreendimento conjunto com a Universidade
de Shantou que estabelecerá o Technion
Guangdong Institute of Technology (TGIT)”.14
O fracasso da última rodada de discussões
sobre um acordo de paz entre israelenses
e palestinos dará início a mais uma grande
investida do movimento BDS. No dia 3 de abril
de 2014, em Rabat, o secretário de Estado
americano John Kerry advertiu que reavaliaria
o que era ou não possível nas negociações e
afirmou que os EUA não estavam dispostos a
continuar com elas indefinidamente.15
O movimento BDS tentará, inevitavelmente,
colocar em Israel a culpa pelo fracasso nas
negociações e usar esse fracasso para impulsionar
sua campanha de desinformação. Os apoiadores
do movimento na comunidade das ONGs e na
comunidade do ativismo palestino verão suas
conquistas—o apoio do governo espanhol, a
14 http://www.algemeiner.com/2013/10/08/solution-to-
-bds-movement-may-come-from-china/
15 http://www.globalsecurity.org/military/library/
news/2014/04/mil-140404-vor03.htm? _m=3n%2e-
002a%2e1078%2egk0ao05n2l%2ezk4
110
retirada de investimentos de Israel por parte dos
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

holandeses e outras—e trabalharão persistente e


energicamente para capitalizá-las.
Seria um erro medir a ameaça do movimento
BDS apenas em termos das suas vitórias até
o momento. Embora seja importante levá-las
em conta, o movimento continuará enquanto
tiver fundos, dos quais parece haver um
fluxo crescente. Como se observou acima, o
Ministério das Finanças de Israel já se recusou
a publicar um relatório sobre os efeitos do BDS
JED BABBIN & HERBERT LONDON

na economia do país.16 Essa recusa não teria


ocorrido se o impacto fosse irrelevante.

16 http://www.economist.com/news/middle-e-
ast-and-africa/21595948-israels-politicians-sound-
-rattled-campaign-isolate-their-country
5
U N I D O S
C A P I T U L O
E S T A D O S
A té o momento, o BDS não teve muita
sorte, ao menos fora da academia, em
convencer os americanos a juntar-se ao boicote
a Israel. Mesmo nas universidades americanas, é
difícil enxergar as razões por que o movimento
teve relativo sucesso.
N O S
O simples fato é que, embora o movimento
BDS alegue que o boicote ampliaria a liberdade
acadêmica, em verdade ocorreria o oposto. Em seu
livro, Barghouti critica a American Association
of University Professors (AAUP) [“Associação
B D S

Americana de Professores Universitários”], que se


recusou a seguir o exemplo da British Association
of University Teachers [“Associação Britânica de
Professores Universitários”] e boicotar algumas
ou todas as escolas israelenses.
O
114
Barghouti afirma: “Ao situar sua ideia de
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

liberdade acadêmica como sendo de ‘suprema


importância’, a AAUP limita severamente
na prática, se não na intenção, a obrigação
moral dos acadêmicos de reagir a situações de
opressão”.1 O que isso significa é que a liberdade
acadêmica não inclui a liberdade de pensamento
e de conhecimento e deve ser limitada a estudos
que confirmem a ideologia do movimento BDS.
Contraste-se isso com o que disse a AAUP:
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Desde a sua fundação, em 1915, a AAUP tem o compromisso


de preservar e promover a livre troca de ideias entre
acadêmicos sem levar em consideração políticas
governamentais, não importando o grau em que elas
possam ser consideradas impalatáveis. Nós rejeitamos
propostas que restrinjam a liberdade de professores e
pesquisadores de trabalhar com seus colegas e reafirmamos
a suprema importância de que a mobilidade internacional
de acadêmicos e ideias seja a mais livre possível.2

A posição da AAUP é simples e correta:


Barghouti e o movimento BDS estão tentando
impor limitações de sua própria lavra à liberdade
acadêmica e, assim, destruí-la.
A American Studies Association
[“aAssociação de Eestudos aAmericanos”], no
entanto, decidiu, em dezembro de 2013, apoiar o
boicote acadêmico do BDS. A resolução em que
isso é declarado afirma o seguinte:
1 Supra, Barghouti, p. 87
2 http://www.aaup.org/report/academic-boycotts
115
Considerando que a American Studies Association tem
o compromisso de buscar a justiça social, de lutar contra
todas as formas de racismo, inclusive o antissemitismo, a
discriminação e a xenofobia, e de solidarizar-se com os
povos espezinhados nos Estados Unidos e no mundo (...)
Fica resolvido que a American Studies Association (ASA)
endossa e honrará o apelo da sociedade civil palestina por
um boicote às instituições acadêmicas israelenses. Fica
ainda resolvido que a ASA apoia o direito garantido de
estudantes e acadêmicos de todos os lugares de participar
de pesquisas e discussões públicas a respeito da questão
israelo-palestina e do apoio ao movimento de boicote,
desinvestimento e sanções (BDS).3

A reação à resolução da ASA foi rápida e severa.


Oitenta reitores de universidades americanas,
inclusive os de algumas das melhores, condenaram
a atitude da ASA como contrária à liberdade
acadêmica. De acordo com o New York Times,
pelo menos cinco universidades deixaram a ASA
por causa dela: Bard College, Brandeis University,
Indiana University, Kenyon College e Pennsylvania
State University at Harrisburg. Segundo o jornal,
Carolyn Martin, reitora do Amherst College,
afirmou: “Esses boicotes ameaçam o intercâmbio
e o discurso acadêmico, que temos o solene dever,
como instituições acadêmicas, de proteger”.4
3 http://www.theasa.net/american_studies_association_re-
solution_on_academic_boycott_of_israel
4 http://www.nytimes.com/2014/01/06/us/backlash-a-
gainst-israel-boycott-throws-academic-association-on-defen-
116
Parte da razão pela qual a atitude da ASA
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

não foi significativa é o tamanho da entidade,


que tem cinco mil membros, dos quais
apenas 1.200 votaram a favor da resolução.5
Em contraste, a American Association of
University Professors, que rejeitou o boicote,
tem cerca de 47 mil membros.
Embora a Coca-Cola tenha dado apoio
indireto ao movimento, ao doar mais de US$
2,5 milhões para a Oxfam International, que já
provou ser uma organização anti-israelense6,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

e fora a resolução da ASA e alguns protestos


estudantis em favor de um boicote, o movimento
BDS não conseguiu conquistar a simpatia dos
americanos, pelo menos fora da Casa Branca.
Parte da dificuldade do BDS em fazê-lo nasce
do caráter de seus defensores no país. Barghouti,
que tem grau de mestre pela Universidade de
Tel Aviv, é uma fonte muito pouco confiável
para a acusação de que Israel é um “Estado de
apartheid”. Pior ainda é o Council on American-
Islamic Relations (CAIR) [“Conselho para as
Relações Islâmico-americanas”], que tenta se
fazer de defensor dos direitos civis.

sive.html
5 http://www.maannews.net/eng/ViewDetails.
aspx?ID=657570
6 http://freebeacon.com/coke-backs-bds-group-
-trying-to-cripple-israeli-soda-competitor/
117
Seria de se esperar que qualquer organização
que queira se qualificar como defensora dos
direitos civis apoiasse as mulheres e condenasse
os assassinatos por honra e as mutilações
genitais que elas sofrem na maior parte do
mundo islâmico. Mas não o CAIR.
Em abril de 2014, a entidade conseguiu
interromper a exibição de Honor Diaries [“Diários
da Honra”], um filme que traça o perfil de nove
mulheres que experimentaram “assassinatos por
honra”, “violência por honra”, mutilação genital
e casamentos forçados. De acordo com o CAIR, o
filme era um exemplo de “islamofobia”7, ou seja,
condenar os crimes contra as mulheres cometidos
nos países árabes é um ato “islamofóbico”.
O CAIR se coloca firmemente sob o foro
da Irmandade Muçulmana e sua pauta é
coordenada com a de várias organizações
semelhantes.8 A Irmandade Muçulmana foi
classificada como organização terrorista pela
Arábia Saudita em março de 2014.9

7 http://www.foxnews.com/opinion/2014/03/31/isla-
mophobia-in-action-honor-diaries-screening-shut-down-
-by-cair/
8 Andrew McCarthy, “The Grand Jihad,” pp. 150–155
9 http://www.defensenews.com/article/20140224/DE-
FREG04/302240014/Palestinian-BDS-Threat-Hangs-Abo-
ve-Negotiations
118
Em conjunto com a National Lawyers Guild
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

(NLG) [“Guilda Nacional dos Advogados”] e o


Center for Constitutional Rights (CCR) [“Centro
para os Direitos Constitucionais”], o CAIR emitiu
uma carta opondo-se a um projeto de lei contra
o BDS, o HR-4009, de Lipinski-Roskam, assim
que ele foi apresentado ao congresso.10 O NLG e
o CCR são grupos radicais de extrema-esquerda.
A lamentável história do CAIR contempla a
condenação de vários de seus membros por crimes
federais, inclusive terrorismo.11
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Nessa conjuntura, parece que, nos EUA, o


movimento BDS está crescendo lentamente e com
influência crescente nas universidades, exatamente
como ocorreu com o movimento antiguerra nas
décadas de 60 e 70, com potencial para se tornar
muito forte, por algumas das mesmas razões que
tornaram muito forte aquele movimento.
Jovens em idade universitária costumam
ter visões políticas mais ardentes e ser mais
abertos a novas tendências de pensamento
que pessoas mais velhas. O idealismo é uma
de suas maiores virtudes. Dado o fato de que
o corpo docente da maioria das universidades
é esmagadoramente esquerdista, suas posturas
e a pressão do grupo podem, como aconteceu
no movimento antiguerra, inflamar protestos
10 https://ccrjustice.org/newsroom/press-releases/
ccr,-nlg-and-cair-usa-ask-house-education-committee-
-oppose-anti-boycott-bill
11 Supra, McCarthy, pp. 152-153
119
e mesmo levá-los à atenção nacional. Quando
se acrescenta a esse cenário docentes que são
ativistas pró-BDS, o resultado é inevitável.
Esse é o caso, por exemplo, de Corey Robin,
professor de ciência política no Brooklyn
College e no City University of New York
Graduate Center.12 Com escritos tediosos e
enfadonhos, ele é um grande apoiador do BDS.
Eis o trecho de um artigo dele para a revista The
New Republic sobre uma crítica ao BDS:

Mas é o argumento final de Kazin sobre a política “flamejante”


do movimento BDS como contrária à “crítica conectada” dos
movimentos de justiça econômica que me parece mais difícil
de entender. Para quem não sabe, a maioria dos ativistas em
torno do BDS que eu conheço também estão envolvidos em
campanhas pela justiça econômica. Considere-se o ativista
que eu conheço melhor: eu. Meu envolvimento com a esquerda
começou quando trabalhei em um sindicato de assistentes de
professores nos anos 90 e continuei a me envolver em várias
atividades relacionadas ao trabalho no campus desde então.
Eu também apoio o BDS. E conheço várias pessoas como eu.
(...)
Quando Kazin descreve o conceito de “crítica conectada”
citando Walzer—desafiar “os líderes, as convenções, as práticas
rituais de uma sociedade particular (...) em nome de valores
reconhecidos e compartilhados nessa mesma sociedade”
—creio que ele está, em verdade, descrevendo muito bem o
movimento BDS. A maioria dos ativistas do BDS que conheço

12 http://coreyrobin.com/about/
120
fala em nome das normas mais mínimas de uma democracia
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

liberal, que são largamente compartilhadas nos EUA: a saber,


que Israel deveria ser o Estado dos seus cidadãos (e não a
comunidade dilatada de uma antiga diáspora), e que o país
deveria se governar de acordo com as normas de uma pessoa/
um voto, em oposição à realidade concreta do privilégio étnico
e da ocupação militar.13

Professores como Robin produzem estudantes


como Robin. E por todo o país estudantes como
Robin estão se manifestando em favor do BDS.
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Uma das várias organizações que impulsionam


essas ações é a Students for Justice in Palestine (SJP)
[“Estudantes pela Justiça na Palestina”]. O website
deles se gaba das resoluções de desinvestimento
aprovadas pelos estudantes da University of
California– Irvine, da UC Berkeley, da UC San Diego,
do Oberlin College e da Arizona State University.
Louvando uma resolução dos estudantes da Loyola
University em Chicago, a SJP afirmou:

Não existiria a Loyola University em Chicago hoje sem o


nascimento de um palestino de Belém no século I chamado
Jesus. Se Jesus tentasse pregar entre Belém e Jerusalém na
Terra Santa de hoje, ele se defrontaria com múltiplos postos
ilegais de controle militar israelenses e uma barreira de
concreto de trinta30 metros de altura.14

13 http://coreyrobin.com/2013/12/13/a-response-to-
-michael-kazin-on-bds-and-campus-activism/
14 http://sjpnational.org/
121
Aparentemente os estudantes da SJP
foram reprovados nos cursos de história
e estudos religiosos em que deveriam ter
aprendido que Jesus era judeu.
Outra organização estudantil pró-BDS é o
Students Allied for Freedom and Equality (SAFE)
[“Estudantes Aliados pela Liberdade e a Igualdade”].
Em dezembro de 2013, o SAFE enviou falsos
avisos de despejo para os estudantes da University
of Michigan, supostamente do departamento
de alojamentos da universidade, ameaçando
a demolição das moradias universitárias. Aos
avisos se seguiram um artigo do Michigan Daily
Viewpoint comunicando aos estudantes que os
avisos eram uma sátira política e convidando-os a
juntar-se ao movimento BDS.15
Em março de 2014, quando a assembleia
estudantil se preparava para votar uma resolução
que propunha o desinvestimento, ativistas pró-
BDS gritaram ameaças de morte a um estudante.
Segundo a notícia do Washington Free Beacon:

O estudante favorável a Israel recebeu ameaças de morte e ...


outros alegaram ter sido chamados de kikes [termo pejorativo
para judeu] e “judeus sujos” por apoiadores do virulento
movimento anti-israelense Boicote, Desinvestimento e Sanções
(BDS), que pretende deslegitimar o Estado judeu por meios
econômicos.16
15 http://www.algemeiner.com/2013/12/17/anti-israel-
-hate-speech-and-slander-at-the-university-of-michigan-
-%E2%80%8E%E2%80%8E%E2%80%8E/
16 http://freebeacon.com/issues/pro-israel-students-called-
122
O BDS está usando as redes sociais—Twitter,
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Facebook, Tumblr e assemelhados—para ganhar


força nos campi. A página de apoio ao movimento
no Facebook, que tem mais de vinte mil “curtidas”
do mundo todo, afirma que tem como objetivo
auxiliar os ativistas de todo o planeta a montar
campanhas.17 O perfil do movimento no Twitter
tem cerca de 17.500 seguidores. O website End
The Occupation [“Encerrem a Ocupação”] exibe
um mapa das campanhas BDS nacionais, das
quais há um grande número.18 Essas redes sociais
JED BABBIN & HERBERT LONDON

estão fornecendo uma poderosa ferramenta


organizacional para o movimento BDS nos EUA,
permitindo a coordenação de protestos, coletas de
assinaturas para abaixo-assinados e muito mais.
É impossível dizer se o movimento BDS
terá sucesso fora da academia, mas dada sua
capacidade de obter publicidade, não se pode
ignorar sua força na política americana.

-kike-dirty-jew-at-university-of-michigan/
17 https://www.facebook.com/BDSSupportNetwork/
info
18 http://www.endtheoccupation.org/article.
php?id=3383
BDS
6
C A P I T U L O
MOVIMENTO
N o dia 8 de outubro de 1997, o
Departamento de Estado americano

O
classificou vários grupos palestinos como
organizações terroristas estrangeiras. Entre FINANCIA
eles estavam o Hamas, a Frente Popular pela
Libertação da Palestina (FPLP), a Jihad Islâmica
Palestina, a Frente de Libertação da Palestina e
o Comando Geral da FPLP.1 Essa classificação
continua em prática até o momento.
Uma das ONGs mais ativas no apoio ao
movimento BDS é a Coalizão das Mulheres
pela Paz (CMP), descrita pela própria página
na web como “uma organização feminista
QUEM

contra a ocupação da Palestina e por uma paz

1 http://www.state.gov/j/ct/rls/other/des/123085.htm
126
justa”.2 Membros da CMP já levaram a
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

bandeira do grupo terrorista FPLP a eventos


de que participaram.3
Uma das principais fontes de financiamento
da CMP, se não a principal, é a União Europeia.
Por meio do Instrumento Europeu para a
Democracia e os Direitos Humanos (IEDDH), a
UE doou mais dinheiro— cerca de onze milhões
de euros apenas de 2007 a 2010—para grupos
que defendem a pauta política palestina do que
para quaisquer outros grupos em qualquer
outra parte do mundo.4
JED BABBIN & HERBERT LONDON

O IEDDH é extremamente anti-israelense


na distribuição de recursos, ignorando temas
pertinentes e regiões com problemas legítimos
de direitos humanos e dando a maior parte do
dinheiro de que dispõe para grupos que apoiam
o BDS. De acordo com o professor Gerald
Steinberg, presidente do NGO Monitor, o IEDDH
“direcionou mais de onze milhões de euros para
ONGs em Israel e na Autoridade Palestina, o que
representa 57% dos recursos que a organização
destina ao Oriente Médio, enquanto projetos na
Síria, no Iraque, em Omã, na Arábia Saudita e
nos Emirados Árabes Unidos são amplamente
ignorados pelos planos da UE.”.5
2 http://www.coalitionofwomen.org/?page_
id=340&lang=en
3 http://www.jpost.com/Opinion/Op-Ed-Contribu-
tors/Why-does-the-EU-continue-to-fund-anti-peace-N-
GOs-341129
4 Ibidem
5 http://www.breitbart.com/Breitbart-Lon
127
O comentário mais revelador sobre
o profundo envolvimento do IEDDH no
financiamento de grupos pró-BDS vem da
própria União Europeia. Segundo Leonello
Gabrici, alto funcionário do Serviço Europeu de
Ação Externa (SEAE): “Não estamos trabalhando
no boicote a Israel, mas sim na preparação de
um pacote sem precedentes de valor agregado
pela UE para a paz”.6
Gabrici fala desde dentro da bolha
anti-israelense. Para ele, o único “valor
agregado pela UE” capaz de promover a paz
é o investimento em grupos palestinos. Como
muitos outros habitantes da bolha cultural das
ONGs, ele está disposto a ignorar as piores
violações concebíveis aos direitos humanos em
países como o Irã, o Iraque, a Arábia Saudita, a
Coreia do Norte e outros semelhantes, a fim de
alimentar o movimento anti-israelense.
Mas a UE não está sozinha: muitos países
europeus fazem doações generosas ao
movimento BDS. O governo espanhol, por
exemplo, já doou milhões de euros para ONGs
anti-israelenses. De 2009 a 2011, foram 1,
12 milhão de euros para o Applied Research
Institute Jerusalem [“Instituto de Pesquisa
Aplicada de Jerusalém”], cerca de 380 mil
euros para o grupo Breaking the Silence
don/2014/02/19/EU-Sponsoring-NGOs-Involved-in-anti-
-Israeli-Activities
6 Ibidem
128
[“quebrando o silêncio”] e cerca de 107 mil
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

euros para o Popular Struggle Coordination


Committee [“Comitê de Coordenação da Luta
Popular”].7 Enquanto isso, o governo sueco,
por meio da Agência Sueca de Cooperação para
o Desenvolvimento Internacional, contribui
diretamente para organizações radicais
palestinas que operam na Suécia.8
O caso da ONG sueca Diakonia é de interesse
especial. Em 2008, seu orçamento foi de 42
milhões de dólares, 90% dos quais fornecidos
pelo governo sueco.9 De acordo com o NGO
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Monitor, a Diakonia adotou tanto as posições


quanto as táticas dos palestinos, inclusive o
emprego da lawfare (“guerra jurídica”).10
A lawfare é uma tática mediante a qual se usa o
sistema legal de um país para alcançar objetivos
políticos ou mesmo militares contrários aos
interesses desse país, frequentemente por meio
de litígios. De acordo com o Projeto Lawfare,
essa estratégia é usada com objetivos como
evitar a aplicação de leis de direitos humanos
onde elas são mais necessárias, confundir as
leis de guerra com as leis de direitos humanos
e coibir e punir a liberdade de expressão em
temas de segurança nacional.11
7 http://unitedwithisrael.org/spanish-government-
-funds-anti-israel-ngos/
8 http://www.israelnationalnews.com/Articles/Arti-
cle.aspx/14350#.UyR2oJvLwgR
9 http://www.ngo-monitor.org/article/diakonia
10 Ibidem
11 http://www.thelawfareproject.org/what-is-lawfare.html
129
Há casos infames do uso da lawfare para
suprimir o debate legítimo, até mesmo para
suprimir a publicação de livros que expõem
as motivações terroristas de seus sujeitos.
Um desses casos é o do livro Alms for Jihad
[“Esmolas para a Jihad”), de Millard Burr
e Robert Collins, publicado em 2006 pela
Cambridge University Press. O livro analisa
com riqueza de detalhes o financiamento do
terrorismo por meio de instituições de caridade
islâmicas, destacando o nome do xeique Khalid
bin Mahfouz, empresário saudita e banqueiro
da família real. Quando Mahfouz entrou com
um processo por calúnia e difamação nos
tribunais britânicos, os autores e a editora
tiveram de enfrentar os princípios invertidos
da lei de difamação britânica. Em vez de o
queixoso de ter de provar a falsidade das
alegações do livro, como acontece no sistema
judicial americano, os réus é que tinham de
provar que elas eram verdadeiras, com o ônus
da prova recaindo sobre a parte oposta.
Enfrentando a condenação de muitos
membros da comunidade muçulmana
britânica e uma batalha legal caríssima, a
editora fez um acordo segundo o qual retirou
o livro de circulação e destruiu as cópias
que não foram vendidas, além de pagar a
Mahfouz uma quantia que não foi divulgada.12
12 http://www.nytimes.com/2007/10/07/books/review/
Donadio-t.html?pagewanted=all&_r=0
130
Semelhantes ao de Mahfouz, houve vários outros
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

casos de “turismo de difamação”, nos quais os


queixosos buscaram os tribunais britânicos
porque sabiam que eles lhes seriam favoráveis.
Em 2009, a Diakonia submeteu à comissão
Goldstone da ONU um infame relatório sobre
a incursão a Gaza que aviltava Israel e tentava
deslegitimar sua competência para defender-se
de ataques de foguetes.13
Mas o governo espanhol e o sueco não são
os únicos que financiam a selva de ONGs que,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

por sua vez, financiam o movimento BDS e


engajam-se no ativismo político em favor dele.
Entre os países que apoiam a causa direta ou
indiretamente estão a Holanda, a Alemanha, o
Canadá e a Irlanda.14 Para descobrir quais são
esses países e ONGs é preciso cavar fundo,
pois a coisa se tornou uma rede elaborada
semelhante a um esquema de lavagem de
dinheiro. Isso ocorre devido a um esforço
deliberado para garantir aos doadores, ao
mesmo tempo, a possibilidade de apoiar a
ideologia e os objetivos do BDS e negar com
certa verossimilhança que o fazem, evitando
que sejam associados às calúnias que, com
frequência, o movimento lança contra Israel.
13 Ibidem
14 http://www.ngo-monitor.org/article/the_boycott_in-
dustry_background_information_and_analysis_on_bds_cam-
paigns
131
Considere-se, por exemplo, a Oxfam,
organização internacional cuja missão declarada
é trabalhar com organizações parceiras e
mulheres vulneráveis para acabar com as causas
da pobreza.15 A verdadeira atuação da Oxfam,
como a de muitas outras “ONGs de prestígio”,
transferiu-se para o ativismo político. Assim,
por exemplo, a organização exigiu recentemente
que a atriz Scarlett Johansson—“embaixadora da
Oxfam”—deixasse de participar de uma campanha
publicitária da SodaStream, empresa israelense
com instalações na Cisjordânia.16 A ONG alega que
não financia as atividades do BDS. Pode ser, mas é
certo que ela financia a Coalizão das Mulheres pela
Paz (CMP), que tem papel bastante ativo no BDS,
ao ponto de levar a bandeira de uma organização
terrorista a uma manifestação.17
É assim que as ONGs mantêm seu prestígio.
O dinheiro é fungível: não é possível traçar a
ligação entre uma doação e o financiamento de
nenhuma organização específica e sobretudo
de nenhuma atividade específica dessa
organização. Assim a Oxfam pode apoiar as
iniciativas, as metas e a ideologia do movimento
BDS sem deixar suas impressões digitais em
organizações como a CMP.
15 http://www.oxfam.org/en/about
16 http://www.nydailynews.com/entertainment/
scarlett-johansson-stepping-oxfam-ambassador-arti-
cle-1.1596338
17 http://www.ngo-monitor.org/article/the_boycott_in-
dustry_background_information_and_analysis_on_bds_
campaigns
132
No Apêndice A, reproduzimos um quadro
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

do NGO Monitor que mostra o quanto o


financiamento europeu ao movimento BDS
passa por ONGs que trabalham ativamente em
apoio dele. Alguns países, como a Holanda,
parecem orgulhar-se do apoio que dão à
campanha. Outros, como a Noruega, trabalham
muito para escondê-lo.
Alguns exemplos ilustram como a lavagem de
dinheiro funciona e como ela permite a governos
e ONGs fingir não estar ativamente envolvidos
na campanha de deslegitimação de Israel. O Al
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Mezan Center for Human Rights [“Centro de


Direitos Humanos Al Mezan”], localizado na
Faixa de Gaza, que endossou o “apelo para a
ação” do movimento BDS contra Israel,18 recebe
financiamento da ONG palestina Development
Center [“Centro para o Desenvolvimento”] (425
mil dólares de 2010 a 2012); da Suécia (105 mil
euros de 2007 a 2009); da instituição de caridade
irlandesa Trocaire, em quantia desconhecida; e
tanto da Noruega quanto da União Europeia, em
quantias desconhecidas. A organização publica
relatórios sobre o “cerco” de Israel à Faixa
de Gaza e faz reuniões “educacionais” sobre
tais temas.19 Trata-se, como se pode ver nos
comunicados à imprensa da entidade, da geração
de propaganda útil apenas ao movimento BDS e
ao grupo terrorista Hamas.20
18 Supra, Barghouti, p. 244
19 See, e.g., http://www.mezan.org/en/details.php?i-
d=18411&ddname=report&id_dept=14&id2=9&p=center
20 http://www.mezan.org/en/center.php?id_dept=9
133
Outra ONG que endossa o movimento
BDS e tudo o que vem com ele é o Applied
Research Institute Jerusalem [“Instituto de
Pesquisas Aplicadas de Jerusalém”].21 Em
2011, ele recebeu 645 mil dólares da Espanha,
US$ 75.200 do Reino Unido, US$ 534.745 da
União Europeia, US$ 1.389.503 da Suécia e
US$ 44.795 da dinamarquesa DanChurchAid,
perfazendo um total de 2, 689.243 milhões de
dólares.
De acordo com o seu relatório anual de 2011:

Na arena geopolítica, o ARIJ continuou a monitorar as


atividades de Israel e a documentar as violações do país
nos Territórios Palestinos Ocupados, além de promover
a conscientização por meio do uso de todos os tipos de
publicações e entrevistas de áudio e vídeo; um aspecto
importante é a produção de vídeos curtos para o canal do
ARIJ no YouTube e de relatórios diários.22

Em resumo, uma larga porção da programação


do ARIJ destina-se a produzir informações que
serão úteis para o movimento BDS.
Até mesmo as organizações mais radicais,
como a Coalização das Mulheres pela Paz,
recebem um fluxo constante de financiamentos
generosos (ver Apêndice A). Em 2013, o grupo
recebeu doações de: Oxfam Novib (Holanda,
21 Supra, Barghouti, p. 244
22 http://www.arij.org/files/ARIJ_Annual_Report_2011-s-
mall1.pdf
134
US$ 117.421), ICCO (Holanda, US$ 110.513),
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

NOVACT (Espanha e Programa das Nações


para o Desenvolvimento, US$ 69.002), EDD
(Alemanha, US$ 34.644), Medico International
(Alemanha, US$ 13.814), Kvinna Till Kvinna
(Suécia, US$ 13.676), Igreja Unida do Canadá
(US$ 9.946) e Trocaire (Irlanda, US$ 6.891
dólares), no total de US$ 375.907.
O MIFTAH foi criado por Hanan Ashrawi,
membro do comitê executivo da Organização
para a Libertação da Palestina.23 (Os Comitês
JED BABBIN & HERBERT LONDON

Populares da OLP na Cisjordânia e em Gaza


endossaram o “apelo” do movimento BDS em
2005, assim como o MIFTAH.24) Ashrawi é uma
sonora apoiadora do BDS e os artigos dela em
favor do movimento são publicados em jornais
israelenses.25 Entre os doadores do MIFTAH em
2012 estavam o International Republican Institute
[“instituto republicano internacional”], dos EUA
(US$ 154.457), a Noruega (130 mil dólares), a
ONG palestina Development Center (130 mil
dólares), o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (US$ 70.477), a Irlanda (US$
66.680), o Konrad Adanauer Stiftung (US$ 44.702
dólares) e a Oxfam Novib (Holanda, US$ 5.272).

23 http://www.haaretz.com/misc/writers/hanan-
-ashrawi-1.423863
24 Supra, Barghouti, pp. 243, 245
25 http://www.haaretz.com/opinion/.pre-
mium-1.573315
135
Organizações como o Al Mezan, o ARIJ,
o MIFTAH, a CMP e o resto dedicam-se
inteiramente a alimentar a máquina de
desinformação do BDS. A pergunta que fica
é: que parte dos fundos doados a elas por
governos e ONGs europeus e por doadores
ocultos vai diretamente para o financiamento
do BDS em si?
É impossível que todo o financiamento
venha de ONGs e governos da Europa. A julgar
pelas outras estratégias de manipulação em
que os países árabes investem pesadamente, é
praticamente certeza que a Arábia Saudita, o
Qatar (cujo governo dirige a rede de televisão
al-Jazeera) e outros estejam financiando
o BDS. O sonoro apoio da Turquia aos
palestinos, assim como a morte de ativistas
turcos no incidente com o navio Mavi
Marmara, tornam razoavelmente certo que o
governo de Ergodan também esteja ajudando
a financiar o BDS. E seria um choque
descobrir que o Irã não está no meio.
No momento, não há nenhuma prova
concreta que ligue os países árabes, a Turquia
e o Irã aos grupos do BDS.26 O apoio deles,
se existe, é um segredo guardado entre os
governos e os recipientes do dinheiro. Mas
dada a hostilidade que nutrem por Israel e
que expressam na ONU e em outros lugares, é
simplesmente lógico supor que o financiamento
exista e que seja significativo.
26 O grupo Im Tirtzu produziu em 2010 um relatório a
respeito disso que pode ter boas fontes, mas ele próprio
traz fortes ressalvas com relação à sua precisão
(http://www.imti.org.il/Reports/WFTD_English_Report.pdf).
IMP L ICA COE S PARA A P O LI T I C A
7
EXTERNA DOS EUA E DE ISRAEL
O s efeitos do movimento BDS na
C A P I T U L O
política externa e na política doméstica
americanas podem ser divididos em três
períodos: governo Bush, governo Obama e
governo pós-Obama.
Durante o governo George W. Bush, de
2001 a 2009, o BDS não teve nenhum efeito
discernível na política americana.
Durante o governo Obama, o movimento
ganhou, no mínimo, força retórica,
provavelmente resultante do aparente desdém
do presidente por Israel e de sua antipatia
pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin
Netanyahu. Em um discurso de 2009, no
Cairo, Obama referiu-se a Israel como aliado
americano. Mas ele também disse:
138
Por outro lado, também é inegável que o povo palestino—
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

muçulmanos e cristãos— sofre na busca por uma pátria.


Há mais de sessenta anos ele aguenta a dor do exílio.
Muitos esperam em campos de refugiados na Cisjordânia,
em Gaza e nas terras vizinhas por uma vida de paz e
segurança que nunca puderam levar. Eles suportam as
humilhações diárias, grandes e pequenas, que vêm com a
ocupação. Portanto que não haja dúvidas: a situação do
povo palestino é intolerável.1

À medida que o governo Obama se


desenrolava, a abordagem da diplomacia
americana com relação a Israel foi se
JED BABBIN & HERBERT LONDON

transformando, mostrando mais afinidade


retórica com o BDS. Apesar disso, Obama não
adotou e certamente não adotará os objetivos
do movimento BDS como seus.
O que Obama fez e pode bem continuar a
fazer é deslocar a posição americana de forte
apoio a Israel para a desconfiança e depois
para a oposição. Sua postura inicial, de árbitro
supostamente imparcial da disputa entre
israelenses e palestinos, gradualmente inclinou
a mesa de negociações em favor dos palestinos.
Ao longo de sua carreira política, Obama
demonstrou compaixão pela causa palestina,
posição que remonta à influência do falecido
Edward Said, ativista palestino que se tornou
acadêmico americano.
Sua ideologia anticolonialista radical se
infundia em suas declarações públicas, seus
livros e certamente em suas aulas. Seu livro
Orientalismo está cheio de ideias como esta:

1 http://www.whitehouse.gov/the_press_office/Remarks-
-by-the-President-at-Cairo-University-6-04-09
139
O impacto do colonialismo, das circunstâncias
mundiais, do desenvolvimento histórico: tudo isso era,
para os orientalistas, como moscas para um moleque,
para serem mortas - ou desconsideradas - por esporte,
nunca levado a sério o bastante para complicar o islã
essencial.2 [Tradução de Tomás Rosa Bueno. Ver nota.]

No seu tempo, Said foi um pensador


anticolonialista de primeira importância.
Obama foi aluno dele em Columbia e continuou
a se relacionar com ele por duas décadas.3
Em março de 2010, irritado com os novos
assentamentos israelenses na Cisjordânia,
Obama reuniu-se com Netanyahu na Casa
Branca e lhe apresentou uma lista de treze
exigências, a principal das quais era o fim de
novos assentamentos. Ao deixar o recinto,
Obama exortou Netanyahu a considerar
o equívoco de suas ações e lhe disse que
estaria “por aí” se ele quisesse ligar.4 Os dois
se reuniram novamente naquele dia, mas
não resolveram suas diferenças.
Em maio de 2011, Obama esboçou seu
plano de paz entre israelenses e palestinos,
que não tinha nada de novo e requeria que
Israel retornasse às fronteiras anteriores à
guerra de 1967, exigência que o presidente
2 Edward Said, “Orientalism,” Vintage Books
(1979), p. 106. [Edição brasileira: Orientalismo. Tradu-
ção de Tomás Rosa Bueno. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990, p. 114]
3 http://www.theblaze.com/contributions/edward-
-said-obamas-founding-father/
4 http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/ba-
rackobama/7521220/Obama-snubbed-Netanyahu-for-
-dinner-with-Michelle-and-thegirls-Israelis-claim.html
140
sabe que Israel considera indefensável,
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

com “permutas de terras” para acomodar


assentamentos específicos. Ele também advertiu
que o Estado judeu não pode ocupar terras
palestinas permanentemente e disse que os
palestinos merecem seu próprio Estado contíguo
soberano.5 Um Estado palestino “contíguo” não
pode ser criado sem unir a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia, cortando Israel ao meio.
Em junho de 2013, o secretário de Estado
John Kerry afirmou o seguinte no AJC Global
Forum: “Bem, a diferença é que o que acontecer
nos próximos dias em verdade determinará o
JED BABBIN & HERBERT LONDON

que acontecerá nas próximas décadas. O tempo


está se esgotando. As possibilidades estão se
esgotando. E sejamos claros: se não tivermos
sucesso agora—e eu sei que estou apostando
alto—mas se não tivermos sucesso agora, talvez
não tenhamos outra chance.”6
A atitude de Kerry, querendo enfiar goela
abaixo o plano de Obama, pôs enorme pressão
sobre Israel para se acertar com os palestinos,
muito embora a posição destes seja a mesma que
era em 2011, quando Mahmoud Abbas afirmou:
“Eu disse isto antes e vou dizer de novo: Eu não
vou jamais reconhecer a judaicidade do Estado
nem o ‘Estado judeu’.”7
5 http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/bara-
ckobama/8525214/Barack-Obama-Israel-must-recognise-
-1967-borders.html
6 http://www.ajc.org/site/apps/nlnet/content2.aspx?-
c=7oJILSPwFfJSG&b=8712787&ct=13168621
7 http://www.maannews.net/eng/ViewDetails.as-
px?ID=657570
141
Isso levou a uma repreensão sem precedentes
de Kerry pelo ministro da Defesa israelense,
Moshe Yaalon, que em janeiro de 2014 disse
que o modo como o secretário de Estado lidava
com as negociações de paz era “messiânico”,
declarou que o plano de paz de Kerry não valia
o papel em que estava impresso e sugeriu que
ele pegasse um prêmio Nobel e fosse para
casa.8 Nesse ponto, a retórica de Obama e Kerry
deslocou-se radicalmente em favor da posição
palestina, quase ecoando o BDS.
Em fevereiro de 2014, durante uma reunião
com o ministro de Relações Exteriores do Irã,
Mohammed Zarif, em Munique, Kerry pareceu
apelar que os EUA se alinhassem ao BDS. Foi
também nessa época que novas regulações
da União Europeia restringindo ainda mais o
comércio com Israel foram aprovadas. Kerry
disse: “Os riscos são muito altos para Israel.
As pessoas estão falando em boicote, o que se
intensificará em caso de fracasso. Os israelenses
desejam um fracasso que dará licença ao que
quer que venha como resposta dos palestinos e
da comunidade árabe pela sua frustração?”9
Com essas observações, Kerry chegou muito
perto de alinhar os EUA àqueles que advogam
o boicote a Israel. A ocasião que escolheu para
proferi-las—uma reunião com representantes de
um país que jurou várias vezes varrer Israel do
mapa—tornam o impacto delas muito pior.

8 http://www.timesofisrael.com/defense-minister-re-
portedly-trashes-kerry-peace-talks/
9 http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/midd-
leeast/israel/10613055/John-Kerry-labelled-anti-Semite-
-for-warning-of-possibleboycott-of-Israel.html
142
O presidente Obama, em uma entrevista
concedida em março de 2014, foi além, quase
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

adotando parte da retórica do movimento BDS:

Chega um ponto em que não se pode mais administrar


esta situação, então começa a ser necessário fazer
escolhas muito difíceis. Você se conformará com o que
equivale a uma ocupação permanente da Cisjordânia?
Será essa a natureza de Israel como Estado por um período
prolongado de tempo? Você perpetuará, pelo curso de uma
ou duas décadas, políticas cada vez mais restritivas em
termos da movimentação dos palestinos? Você restringirá
os israelenses de origem árabe de maneiras que vão contra
JED BABBIN & HERBERT LONDON

as tradições de Israel?10

Nessa atmosfera, a empreitada de Obama no


processo de paz falhou.

o processo da PAZ
O dia 29 de abril chegou e passou e ninguém
ficou melhor nem pior por causa disso. Exceto,
talvez, Barack Obama, que havia estabelecido
esse dia como prazo artificial para a elaboração
de um acordo final entre os israelenses e os
palestinos nas negociações de paz.
O fracasso dos esforços de Obama foi
apenas mais uma não-realização a se somar
a seu registro como estadista. Entre as suas
não-realizações estão o acordo mediante o
qual a Síria interromperia a produção de armas
químicas (que não foi interrompida), o primeiro
estágio do acordo nuclear com o Irã (que serviu

10 http://www.bloombergview.com/arti-
cles/2014-03-02/obama-to-israel-time-is-running-out
143
apenas para permitir ao país ganhar tempo para
proteger seu regime e os meios de produzir
armas nucleares antes de verdadeiramente
construir uma ogiva funcional) e o controle da
Crimeia pelo presidente russo Vladmir Putin.
(Tudo isso veio depois do acordo com Putin
para limitar armas estratégicas, em que Obama
concordou em reduzir o arsenal nuclear
americano e fez também o que os russos
sustentam ter sido uma concessão jamais feita
antes: que as defesas antimíssil americanas
fossem consideradas armas ofensivas.)
A diplomacia, como a política, é uma arte
que requer concessões. Mas as áreas em que se
podem fazer concessões são limitadas pelo que
as partes acreditam ser seus interesses vitais.
Uma nação como Israel ou um grupo como
os palestinos podem ser induzidos por meio
militar a abrir mão de um interesse vital, mas só
por esse meio. E prazos para concessões não
podem ser fixados por intrometidos oficiais:
prazos reais são estabelecidos pelos fatos
no terreno da maneira como são vistos pelas
partes em conflito.
Nessa rodada de negociações de paz, o prazo
de Obama estava fadado a falhar, porque os
fatos no terreno não exigiam que nenhuma das
partes em conflito fizesse concessão alguma a
respeito do que acreditava ser seus interesses
vitais.
Mas, aparentemente, o secretário de Estado
deseja, com a aprovação do presidente, culpar
Israel pelo fracasso das negociações de paz. Em
uma reunião a portas fechadas da Comissão
Trilateral, em 24 de abril, com o fracasso
144
das negociações de paz iminente, Kerry disse
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

que, ao menos que chegasse em breve a um


acordo com os palestinos para uma solução de
dois Estados, Israel arriscava-se a tornar-se um
Estado de apartheid.11
Embora o sucesso seja improvável, pode
ser que Obama ainda deseje pressionar Israel
a fazer mais concessões. Sua reputação
de estadista ficou seriamente abalada pelo
catálogo de falhas acima, o que por si só basta
para que ele queira ressuscitar essa reputação
pressionando Israel ainda mais.
Se Obama quiser tentar de novo, ele pode
JED BABBIN & HERBERT LONDON

fazer um plano que aparente driblar os


problemas essenciais das fronteiras anteriores
a 1967— às quais os israelenses se recusam a
retornar, dizendo que são indefensáveis —e o
suposto “direito de retorno”, sobre o qual os
palestinos insistem como forma de garantir
que a democracia israelense seja destruída.
Mas isso também é altamente improvável,
porque o anúncio repentino da reconciliação
entre o Fatah e o Hamas, em 23 de abril, tornará
impossível qualquer acordo entre Israel e os
palestinos. Embora o assessor presidencial
Philip Gordon tenha, segundo relatos, dito aos
líderes judaicos que essa reconciliação não era
“necessariamente má” e que ela poderia fortalecer
Abbas,12 ele está fundamentalmente errado. Os
israelenses não podem negociar com um governo
cuja metade se dedica à destruição de Israel.
11 http://www.thedailybeast.com/arti-
cles/2014/04/27/exclusive-kerry-warns-israel-could-be-
come-an-apartheid-state.html
12 http://www.haaretz.com/news/diplomacy-defen-
se/.premium-1.587869
145
Sabemos, por meio de uma resposta que
Barghouti deu em uma entrevista em 2010,
que mesmo se Israel se retirasse inteiramente
da Cisjordânia, o movimento BDS continuaria
a tentar boicotar o país, porque, na visão dele,
os palestinos ainda seriam “oprimidos” pela
negativa do pretendido “direito de retorno”.13
Também sabemos, por meio do livro de
Barghouti, que o movimento BDS acredita que
não pode haver coexistência com Israel:

As “conversas” com os israelenses, como as dos prósperos


grupos de diálogo da indústria da “paz”, não apenas têm
sido ilusórias e extremamente prejudiciais à luta por uma
paz justa, dando a falsa impressão de que a coexistência
pode ser alcançada a despeito da opressão sionista, mas
também fracassaram em provocar qualquer deslocamento
positivo da opinião pública israelense em favor do apoio
à justiça como condição para a paz.14

Nos próximos meses, Obama pode ou lavar as


mãos e, como Kerry, culpar Israel pelo fracasso
do “plano de paz” mais recente ou decidir intervir
pessoalmente na questão e realizar encontros
com a esperança de forçar um acordo. A primeira
hipótese é mais provável, porque intervir muito
daria a Obama certa responsabilidade pelo
fracasso inevitável das negociações.
Não se pode negligenciar o impacto
de outras ações de Obama que têm efeito
negativo sobre Israel. O acordo provisório
com o Irã, por exemplo, que pretende impedir
o desenvolvimento de armas nucleares,
13 https://www.youtube.com/watch?v=qOBg2t6vscc
14 Supra, Barghouti, p. 147
146
em essência bloqueia qualquer ataque israelense
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

às fábricas de armas nucleares iranianas. Em


dois discursos na Assembleia Geral da ONU,
Benjamin Netanyahu advertiu para o perigo
iminente do programa nuclear iraniano.
Em um deles, o primeiro-ministro avisou que
dentro de seis a oito meses o Irã teria enriquecido
urânio suficiente para a construção de armas
nucleares e conclamou a ONU a acreditar que
o tempo estava se esgotando e que em breve se
passaria do ponto em que um ataque militar
conseguiria tirar do país a capacidade nuclear.
Era setembro de 2012.15
JED BABBIN & HERBERT LONDON

No período de 2011 a 2013, Israel tentou


várias vezes comprar dos EUA bombas
antibunker, com capacidade de perfurar rochas
profundas, mas os pedidos foram negados.16
Em novembro de 2013, foi anunciado o
acordo provisório de Obama com o Irã, que
durará seis meses, depois dos quais poderá ser
estendido. Enquanto ele durar, Israel estará de
mãos atadas, sem poder atacar o Irã para não
interferir no “processo de paz” de Obama. O
desejo do Irã de construir armas nucleares fica
demonstrado pelos anos de testes de gatilhos
nucleares, enriquecimento de urânio, aquisição
de “água pesada” e outros fatores.17 O acordo

15 http://www.algemeiner.com/2012/09/27/full-
-transcript-prime-minister-netanyahu-speech-to-united-
-nations-general-assembly-2012video/
16 http://www.worldtribune.com/2013/05/07/
obama-three-times-denied-israels-request-for-mop-
-bunker-busters/
17 Ver, por exemplo, http://www.foxnews.com/
story/2009/12/14/secret-document-exposes-iran-nucle
147
se fia na confiabilidade da “caquistocracia”, ou
governo dos piores, do Irã. É uma aposta ruim
para os EUA e pior ainda para Israel.
O que será a política externa americana
depois de Obama depende, obviamente, de
quem será eleito para sucedê-lo. A única certeza
é que se o quadragésimo-quinto presidente
americano for Hillary Clinton, ela seguirá a
trilha traçada pelo atual presidente rumo ao
isolamento e ao boicote de Israel. Em 1999,
quando era primeira-dama, Clinton visitou
Suha, a mulher de Yasser Arafat. Clinton estava
ao lado dela, em uma declaração conjunta,
enquanto a senhora Arafat acusava Israel
de usar gás venenoso contra os palestinos.18
(Hillary deu um beijo em Suha antes de essa
observação ser feita.)
O coração de Clinton, aparentemente,
continua com os palestinos. Em 2012, por
exemplo, ela disse o seguinte em um fórum
sobre as relações israelo-americanas:

Então, veja, eu não estou inventando desculpas para as


oportunidades perdidas pelos israelenses, nem para a falta
de generosidade, a falta de empatia que para mim anda de
mãos dadas com a desconfiança. Então, sim, os israelenses
precisam fazer mais para demonstrar em sua disposição
que de fato entendem a dor de um povo oprimido e querem
descobrir, dentro dos limites da segurança e de um Estado
democrático judaico, o que pode ser alcançado.19
ar-trigger/ and http://www.jpost.com/Iranian-Threat/News/
Report-Iran-Arak-facility-to-have-nuclear-weapons-gra-
de-plutonium-by-next-summer-322093
18 http://www.nydailynews.com/archives/news/dama-
ge-control-hil-incident-arafat-wife-touches-furor-arti-
cle-1.844809
19 http://www.breitbart.com/Big-Peace/2012/12/01/
148
Ainda não se pode prever quem será eleito
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

presidente em novembro de 2016. Mas se for


Hillary Clinton, o que Obama começou ela
continuará. A política externa americana será então
completamente diferente, assim como a israelense.

o FUTURO da POLÍTICA externa


AMERICANA
Na era pós-Obama, os EUA devem, por meio
de ações e não apenas de palavras, deixar claro
para o mundo, novamente, que Israel é seu
JED BABBIN & HERBERT LONDON

mais valioso aliado no Oriente Médio. Será


preciso desfazer o acordo nuclear com o Irã e
reimpor as sanções econômicas, com ou sem
a companhia do resto do mundo. Os outros
países do Ocidente responderão positivamente
à liderança americana.
Os EUA devem vender a Israel todos os
armamentos necessários para que o país
destrua as instalações nucleares iranianas, se
ainda for possível fazer isso quando Obama
deixar o governo, pois pode não ser. Se não for,
será preciso enfrentar o fato de que não haverá
meios pacíficos de impedir o Irã de obter armas
nucleares e agir com base nisso.
Por último e tão importante quanto, o
próximo presidente americano deve condenar
o BDS pelo que o movimento afirma e por seu
objetivo de deslegitimar e destruir Israel. Será
preciso não deixar dúvidas, especialmente
entre os palestinos, de que a campanha de
desinformação falhou.

Hillary-rips-Israel
149
Um modo de fazer isso é a aprovação, pelo
Congresso, de um projeto de lei semelhante
à legislação antiboicote de 1976-1977, que
derrotou o embargo árabe. A emenda Ribicoff
ao Tax Reform Act, de 1976, e as emendas
de 1977 ao Export Administration Act
impedem “entidades americanas”—indivíduos,
corporações e associações sem personalidade
jurídica—de, entre outras coisas, concordar em
recusar-se ou recusar-se de fato a comercializar
com Israel, e impõem penas civis e criminis a
quem o faça.20 Embora a lei, que ainda é válida,
tenha impedido que empresas e cidadãos
americanos aderissem ao boicote liderado pelos
países árabes, aparentemente ela não impede
que adiram aos boicotes do movimento BDS,
portanto ela deve ser revista e expandida até o
ponto em que a Constituição permitir.
Há pelo menos uma proposta no
Congresso para interromper o repasse de
verbas federais para instituições acadêmicas
que participem do BDS, mas há dúvidas se
ela não fere a Primeira Emenda, pois seu
alvo é o boicote acadêmico a Israel a que
vários grupos e universidades já aderiram. 21
Uma lei melhor—que tire proveito do fato
de que contratos de governo não têm direitos
constitucionais—poderia proibir o governo de
estabelecer contratos com qualquer empresa,
indivíduo ou instituição acadêmica que
aderisse ao movimento BDS e se recusasse a

20 http://www.bis.doc.gov/index.php/enforcement/oac
21 http://freebeacon.com/house-bill-would-cut-fundin-
g-to-backers-of-israeli-boycotts/
150
comercializar com Israel.22 Não há nenhum
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

conflito aparente entre essa abordagem e


a Primeira Emenda, exatamente como não
havia na legislação original de 1976-1977.
Tal regra, se aprovada, poderia ser uma
ferramenta quase tão poderosa contra o BDS
quando as leis da década de 70 foram contra o
boicote árabe. Esse projeto de lei direcionado
especificamente ao movimento BDS precisa
ser proposto e aprovado pelo congresso
americano o mais rápido possível.
Para Israel, o fim do mandato de Obama poderia
significar que os EUA voltarão a se estabelecer
JED BABBIN & HERBERT LONDON

como uma influência positiva no Oriente Médio.

o FUTURO da POLÍTICA externa


ISRAELENSE
É necessário que se torne prioridade
nacional de Israel lidar com o BDS e derrotá-
lo. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
menciona o movimento em discursos
importantes, incluindo um no AIPAC em março
de 2014: “O movimento de boicotes do BDS não
vai conseguir interromper isso (as exportações
tecnológicas israelenses), assim como o
movimento árabe não conseguiu impedir que
Israel se tornasse uma potência tecnológica
global. Eles vão falhar”.23

22 “Ingalls Shipbuilding, Inc. v United States,” 13 Cl. Ct.


757 (1987)
23 http://www.algemeiner.com/2014/03/04/bds-move-
ment-will-fail-netanyahu-says-at-aipac/
151
Mas Netanyahu está subestimando a ameaça
do movimento BDS, talvez gravemente. Esse é o
tipo de causa que só fará mal a Israel, se o país
ignor e esperar que arrefeça.
O movimento BDS não vai simplesmente
desaparecer de vista. Suas fontes de
financiamento—países europeus, ONGs e
outros países e organizações anti-israelenses—
atingiram uma zona de conforto na qual cada um
pode reforçar os esforços dos outros sem sofrer
nenhuma penalidade política nem financeira.
Nesse ambiente, podem continuar a campanha de
desinformação contra Israel indefinidamente, e
quanto mais o fizerem, mais Israel se encontrará
isolado e incapaz de achar aliados confiáveis,
vias de comércio e meios de sustento.
O fluxo de dinheiro pode continuar por
muitos anos e com ele a pressão sobre Israel não
se abaterá. Sem dúvida, o país está aprendendo
o melhor meio de reagir ao BDS, mas como todas
as vítimas de desinformação, precisa fazer mais.
Porque o BDS conduz uma guerra
ideológica, Israel tem de responder à altura.
Por exemplo, muitas das lições que têm de
ser aplicadas no combate ao movimento
deveriam ter sido aprendidas na guerra com
Hezbollah, no Líbano, em 2006.
Em um artigo preparado para o U.S.-Islamic
World Forum [“Fórum Mundial Islâmico-
Americano”], o veterano jornalista Marvin Kalb
e Carol Saivetz discutem o uso da mídia como
arma de guerra assimétrica. O artigo contrasta
a facilidade com a qual uma sociedade
fechada, como a organização terrorista do
Hezbollah, pode criar uma impressão de ordem
152
e disciplina, enquanto uma sociedade aberta,
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

como a de Israel, passa a impressão de uma


guerra de desordem, caos e incerteza, que
pode ser enganosa.24
Mas isso é uma nota à margem da questão
principal: o uso da mídia como arma de guerra
não era novidade para o mundo, mas essa foi
a primeira guerra em que o Oriente Médio viu
o relato instantâneo dos acontecimentos por
meio de blogs e câmeras. O Hezbollah estava
preparado para usar essa arma; Israel não.
Embora aconteçam desde que Júlio César
declarou ao senado romano “veni, vidi, vici”,
JED BABBIN & HERBERT LONDON

as guerras de informação parecem sempre


surpreender os participantes do conflito.
Mas pelo menos desde o Vietnã, a questão se
resume ao seguinte: o que se diz, escreve e
transmite é tão importante quanto a precisão
da mira. Cada aspecto de uma batalha em cada
canto do mundo está suscetível a notícias
tendenciosas e coisas piores.
Em 2006, a parcialidade da mídia era tão
evidente que as pessoas se acostumaram a ela.
Como escrevem Kalb e Saivetz:

Uma consequência chave desse novo tipo de guerra é


que o papel do jornalista foi totalmente transformado,
em muitas partes do mundo—da busca pela objetividade
e pela justiça para a aceitação da defesa de um dos lados
24 Marvin Kalb and Carol Saivetz, “The Israeli-Hez-
bollah War of 2006: The Media as a Weapon in Asymme-
trical Conflict,” Kennedy School of Government, Harvard
University (February 2007);
http://www.brookings.edu/~/media/events/2007/2/17is-
lamic%20world/2007islamforum_israel%20hezb%20war.
pdf
153
como parte do ofício. Se um dia o jornalista aspirou a um
relato honesto e impessoal, agora se torna cada vez mais
aceitável que seja um ativista agente e um ardente defensor
de uma posição. Canais exclusivos de notícias passaram a
valorizar muito a conversa provocativa em detrimento do
discurso substantivo. Muitos jornalistas do Oriente Médio,
nascidos em culturas de submissão a uma autoridade
centralizada, sempre se viram como agentes e porta-vozes,
mas esse não era o caso nos Estados Unidos e na Europa, e
essa mudança é tanto notável quanto perturbadora.25

Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah,


declarou publicamente que esconderia soldados
entre civis, mas quando os israelenses atacaram
esses soldados, eles é que foram acusados de
crime de guerra e eles é que foram acusados de
fazer uso constante de força “desproporcional”.26
Isso ocorreu porque Nasrallah se dedicou
inteiramente a lutar a guerra na televisão, no
rádio, na mídia impressa e na internet, enquanto
Israel largou muito atrás.
Esse é o conceito de “superioridade aérea”, que
é usado normalmente para o combate aéreo, mas
se aplica perfeitamente à guerra midiática. Quando
uma força aérea tem superioridade, qualquer
aeronave inimiga que sobrevoe o espaço aéreo
será abatida. Na guerra midiática, afirmações e
argumentos precisam ser abatidos com fatos.
Aqueles que gozam de “superioridade aérea”
hoje em dia são países e grupos terroristas que
conseguem que seu lado da história apareça de
modo mais rápido e mais eficaz nos veículos de
mídia mais lidos, assistidos e ouvidos. Nunca
25 Id., Kalb and Saivetz, p. 6
26 Id., pp. 7–9
154
há domínio aéreo completo na guerra de
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

informação, mas pode e deve haver um


esforço pela dominância de países que, como
Israel, estão sob ataque de terroristas e de
veículos de mídia que os favorecem.
Toda espécie de repórteres, blogueiros
e fotógrafos afinados com o Hezbollah
tiveram acesso ao campo de batalha. Como
visto acima, tanto o Hezbollah no Líbano
quanto o Hamas em Gaza produziram eventos
teatralmente e ajudaram a mídia a relatar seu
lado da história todos os dias, de hora em
hora, quase minuto por minuto. É assim que
JED BABBIN & HERBERT LONDON

eles criaram a narrativa midiática—o enredo


predominante—durante essas guerras.
Normalmente, os jornais árabes e palestinos
são os mais tendenciosos:

O Asharq Al-Awsat é um dos dois jornais em língua


árabe publicados em Londres e depois distribuídos para
o Oriente Médio. De 13 de julho a 16 de agosto, o jornal
exibiu na capa 24 fotografias relacionadas à guerra; com a
exceção de duas, todas mostravam a destruição e as mortes
causadas por ataques israelenses no Líbano. O leitor árabe
do jornal poderia tirar apenas uma conclusão: que Israel
era culpado de converter o Líbano em um “campo de
matança”. Apenas uma vez, em 31 de julho, o Asharq Al-
Awsat exibiu uma foto da destruição que os foguetes do
Hezbollah estavam causando a Israel. Esse desequilíbrio
(22 a 1) dificilmente seria considerado “jornalismo
objetivo” pela métrica ocidental, mas pode ser explicado
pelo contexto do Oriente Médio, em que os jornalistas
árabes têm preconceito nacionalista, religioso ou cultural
contra Israel.27

27 Id., p. 11
155
A guerra de 2006— e essa excelente análise
da cobertura que a mídia fez dela—fornece
três importantes lições para Israel no esforço
de derrotar o BDS, perfeitamente aplicáveis às
futuras guerras que o país terá de travar com o
Hezbollah no Líbano e com o Hamas em Gaza.
A primeira é que na guerra ideológica contra
as acusações falsas do movimento, o país judeu
tem de conquistar o máximo de “superioridade
aérea” que puder. Isto jamais se equiparará aos
anos de cobertura midiática afinada ao BDS e
aos efeitos dela, mas é possível fazer um trabalho
muito melhor tanto no ataque quanto na defesa.
Para fazer isso, Israel precisa tanto de
recrutas em casa quanto de aliados no exterior.
Como o relatório de Kalb e Saivetz mostra, o país
estará sempre sujeito à cobertura enviesada
da mídia árabe, mas não é ali que é preciso
enfrentar o movimento BDS: esse esforço deve
se concentrar na mídia das Américas, da Europa
e mesmo do Extremo Oriente, como a do Japão.
É preciso fazer, em veículos de mídia de
grande e pequena projeção das regiões citadas,
uma campanha de contrabalanceamento
desenhada para provar a falsidade das acusações
de apartheid, racismo e crimes de guerra e
todas as outras acusações do movimento BDS.
A principal demanda dos jornalistas em toda a
parte é por maior acesso aos principais líderes.
Pois que lhes seja dado. Como todos os países,
Israel tem seus segredos, mas quanto mais
aberto for, menos céticos serão os repórteres a
respeito dele e de suas ações.
156
O país já incorpora jornalistas entre as
unidades militares. O exército israelense, como
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

todos desde Sun Tzu, olha torto para jornalistas e a


mídia em geral, mas o programa de incorporação,
que provavelmente será expandido, é uma forma
de criar confiança dos dois lados da moeda.
Quanto à cobertura midiática, nada substitui a
transmissão da verdade para o mundo em tempo
real. Jornalistas incorporados podem fazer isso
melhor do que ninguém.
Deve-se dar mais um passo nessa
perspectiva e incorporar jornalistas à polícia e
às unidades militares que operam ao longo das
JED BABBIN & HERBERT LONDON

fronteiras e dentro da Cisjordânia e de Gaza.


Para demonstrar que Israel não é um Estado de
apartheid, muito melhor que explicar é mostrar.
Não se pode fazê-lo em um dia nem em uma
semana, mas quanto mais tempo os jornalistas
ficarem incorporados às forças de segurança
israelenses, melhores e mais confiáveis serão
suas opiniões a respeito do país.
A segunda lição é que é preciso buscar
aliados e batalhar por eles nos lugares
menos convencionais. Nos EUA, praticamente
não há organizações judaicas opondo-se
ativamente ao BDS. Como Herbert London
aponta na introdução deste livro, até mesmo
algumas organizações do Hillel—a principal
organização universitária judaica—são avessas
à batalha de Israel contra o BDS ou assistem a
ela inertes. Deveria haver um esforço planejado
para conquistar recrutas para enfrentar o
BDS entre as organizações do Hillel e outros
grupos universitários. Os estudantes precisam
entender como as metas do BDS restringiriam
sua liberdade acadêmica e tornariam sua
educação menos valorizada.
157
Outra lição é que há outros aliados
disponíveis. Na comunidade dos cristãos
evangélicos americanos—que abrange um
enorme número de pessoas nos estados do meio-
oeste e da região das Montanhas Rochosas—
há um apoio muito maior a Israel que entre
uma grande parcela da comunidade judaica
americana. Israel deveria estar cortejando essas
pessoas e pedindo a ajuda delas para lutar
contra o BDS. Elas podem ajudar a mudar a
opinião pública e em consequência influenciar
a política externa americana.
A terceira lição é sobre urgência e persistência
e o outro aspecto da “superioridade aérea”.
O capítulo de abril de 2014 do “plano de
paz” de Obama-Kerry falhou porque propunha
o retorno a fronteiras indefensáveis, porque os
palestinos não se dispõem a reconhecer Israel
como um Estado judeu e porque eles insistem
no “direito de retorno”. O fracasso era certo
com a “reconciliação” entre o Hamas e o Fatah.
Israel precisa lançar uma campanha midiática
agressiva culpando os palestinos pelo fracasso,
campanha esta suficientemente forte e ampla a
ponto de levar as principais figuras políticas e
midiáticas israelenses, do primeiro-ministro para
baixo, a condenar os palestinos como o obstáculo
para a paz que eles verdadeiramente são.
Uma vez iniciada, essa campanha deve
perdurar por meses, talvez anos. Não há
nenhuma razão para que os israelenses
relutem em apoderar-se da narrativa midiática
e procurem controlá-la. Na guerra aérea, se
um lado conquista “superioridade aérea”, isso
significa que conseguiu impedir o inimigo de
158
operar no espaço aéreo que controla. Embora
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

não seja possível aos israelenses conquistar


“superioridade midiática”, no sentido de
controlar a narrativa midiática em escala
global, eles podem conquistá-la nos centros
mais importantes—pelo menos os dos EUA—e
batalhar por ela na mídia Europeia.
Para fazer isso, os israelenses precisam
lembrar à mídia—repetidamente, pelo número
de vezes em que ela se disponha a ouvir—
que o histórico de ação dos palestinos é
perfeitamente coerente. Em Camp David,
em 2000, eles poderiam ter trocado paz por
JED BABBIN & HERBERT LONDON

terra, mas recusaram. Em 2005, Ariel Sharon


ofereceu terra por paz (sem permuta de terras)
e os palestinos não aceitaram. Em 2008, Ehud
Olmert ofereceu novamente terra por paz, e a
proposta não foi sequer respondida.
A rejeição do plano de paz de Obama-Kerry—
que novamente abraça o conceito de “terra por
paz” — em 2014 foi a quarta vez em catorze anos
que os palestinos recusam a paz. A mensagem
de Israel deve ser sonora e clara, culpando
os palestinos por preferir a guerra à paz, e
deve ser reafirmada persistentemente como
resposta indispensável a todos os anátemas do
movimento BDS. Depois que Obama deixar o
poder, o novo presidente americano precisará
reavaliar a política externa do país para Israel
e o resto do Oriente Médio. Se for Hillary
Clinton, o país judeu sabe o que acontecerá
e deve perseguir seus próprios interesses de
acordo com o modo como os concebe. Se for
qualquer outra pessoa, será preciso dar algum
tempo para o novo presidente se acomodar ao
159
cargo antes de tomar qualquer atitude que
afete diretamente a segurança nacional
americana, o que, evidentemente, inclui ações
militares contra o Irã.
Se Israel acreditar que não pode esperar
mais para atacar as instalações nucleares
do Irã, deve dar ao próximo presidente ao
menos o curto tempo necessário para chegar
à conclusão de que os EUA devem fazer parte
do grupo de ataque. Decidam-se os EUA a isso
ou não, Israel tem o direito—em verdade, a
obrigação—de tomar essa decisão por si.
Alguns autores sugerem que Israel terá de
considerar, em qualquer guerra futura, cooperar
com a ONU e outras investigações “imparciais”
do conflito. O país não deve fazê-lo. Não há
sentido em cooperar com organizações como
a ONU, que nunca trataram Israel com justiça.
Mas o país deve monitorar essas investigações,
conduzir inquéritos paralelos de sua própria
lavra e estar preparado para dizer a verdade ao
mundo e punir qualquer crime cometido contra
civis a despeito de quem eles sejam.
Quanto ao movimento BDS, Israel não deve
esperar pelas próximas eleições americanas,
em novembro de 2016. Os líderes do país e
seus aliados nos EUA e em outras partes devem
declarar, francamente e sem deixar margem a
dúvidas, que o caso do movimento contra Israel
não resiste à luz do dia. Apenas a verdade pode
desmascarar a mentira. Ela deve ser declarada
todos os dias, em todas as oportunidades.
Obama tentou fazer o equilíbrio pender
para o lado dos palestinos. Foi um erro. Os
EUA não devem ser um árbitro imparcial entre
160
as partes em conflito. Há muita gente errada
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

nessa história, como os habitantes de Gaza,


que escolheram para lhes governar o Hamas.
O grupo, cujo estatuto declara a proposta
expressa de destruir Israel, é inimigo da
civilização. A Autoridade Palestina, na pessoa
de Mahmoud Abbas, evidentemente não tem
poder suficiente para realizar a paz e portanto
não pode ser considerada a representante do
povo palestino. São apenas os israelenses que,
com todas as suas imperfeições, representam a
liberdade, exatamente como os Estados Unidos.
JED BABBIN & HERBERT LONDON
E P I L O G O
por Herbert London

E m 2003, fui escoltado pelo complexo


militar israelense em Gaza por um jovem
oficial do exército do país nascido na Etiópia.
Enquanto caminhávamos, ele me contou um
pouco de sua odisseia pessoal.
Dezoito anos antes, seu tio caminhara
dezesseis mil quilômetros do Sudão à Etiópia
para entregar um bebê a uma missão israelense
chamada Operação Resgate. Os pais do menino
queriam removê-la de seu ambiente hostil e
mandá-lo a um lugar onde seria bem recebido,
educado e reconfortada.
O menino se transformou em um homem
com raízes fincadas no solo do Estado judeu. Ao
completar dezoito anos saudou a oportunidade
de juntar-se ao exército e por meio do mérito
subiu na hierarquia até se tornar oficial.
164
Ele tinha um sonho, o de trazer seus pais para
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

Israel, pais que ele conhecia apenas por meio


de cartas e fotografias. Em 2001, esse sonho se
realizou: os pais se juntaram a ele em Tel Aviv. Foi
uma ocasião alegre, cheia de lágrimas e histórias.
Duas semanas depois, o pai foi atingido
por um caminhão ao cruzar a rua no sinal
vermelho. Toda a alegria da família se
transformou em desespero. Ao saber de sua
morte, o governo enviou ao jovem uma carta
afirmando que, dado que ele agora tinha a
responsabilidade de cuidar da mãe, o serviço
militar não era mais obrigatório.
JED BABBIN & HERBERT LONDON

O oficial tirou do bolso uma carta e a leu para


mim. Era sua resposta às autoridades: “Encontrarei
um modo de cuidar da mãe que apenas agora
começo a conhecer, mas não me peçam para
abandonar a mãe que eu conheço e amo, a Força
de Defesa Israelense, os colegas da minha unidade,
a nação que me sinto honrado em servir.”
Enquanto lia a carta, ele falava com grande
emoção e convicção e eu, enquanto ouvia, vi a
expressão “apartheid israelense” entrar na minha
consciência. O apartheid sul-africano se baseava
na separação racial. Já em Israel encontrei
exatamente o oposto, um negro em um país que
o acolheu em seu seio e ao qual ele deu seu amor
e sua confiança. Ele é o rosto do Israel moderno:
orgulhoso, forte, patriota e multirracial.
É instrutivo que em uma solenidade de
admissão de paraquedistas de que participei,
os voluntários (os paraquedistas não são
incorporados) tenham recebido uma Bíblia e
um rifle, em uma cerimônia eivada de emoção.
O que é mais interessante é que cerca de um
165
terço dos soldados que observei na minha
última viagem a Israel eram negros, devotados
a seu país e à sobrevivência dele.
Não são apenas os árabes que vivem
e prosperam lado a lado com os judeus,
mas também etíopes, africanos e cristãos
de todas as denominações. O sionismo é
inclusivo, como sabe qualquer observador
objetivo da sociedade de Israel. No entanto,
essa realidade está conspicuamente ausente
da narrativa do movimento BDS.
O que, então, pode ser feito? Primeiro, é
recompensador dizer a verdade repetidas vezes,
no mínimo tantas quanto o número de vezes em
que se contam as mentiras. As redes sociais podem
ser aliadas no objetivo de atingir “superioridade
aérea”. Que cada criança e adolescente árabe
receba mensagens sobre a realidade da vida
em Israel pelo Twitter. Que as meninas árabes
se perguntem por que não têm as mesmas
oportunidades que as meninas israelenses.
Segundo, é preciso que os EUA aprovem
leis estaduais e federais que proíbam o repasse
de verbas públicas para o apoio a qualquer
aspecto do BDS. Isso não será um desrespeito à
Primeira Emenda, mas antes uma advertência de
que a transmissão de mentiras, ódio e calúnias
não deve ser financiada com o dinheiro dos
pagadores de impostos.
Terceiro, é importante que aqueles que
defendem as posições israelenses monitorem
fielmente as atividades do BDS e sempre
que possível contestem as afirmações do
movimento. Não é fácil fazer isso, nem se
pode planejar de antemão, mas trata-se de um
166
elemento essencial na derrota das afirmações
A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL

vis que com frequência ficam sem resposta.


Por último, nós cremos, com base no bom
senso e nas evidências empíricas, que a
presente rodada de negociações de paz está
fadada a falhar. Israel não está disposto a
cometer suicídio para satisfazer a um governo
Obama ansioso por um acordo e a OLP jamais
abrirá mão do desejo pelo “direito de retorno”
e do não-reconhecimento de um Estado judeu.
Dado que o resultado provável é um beco sem
saída, os apoiadores de Israel devem usar
a ocasião para apontar qual é o lado que é
verdadeiramente intransigente. O movimento
JED BABBIN & HERBERT LONDON

BDS fracassará quando ficar claro que a paz


não acontece por causa da obduração da OLP.
Em verdade, é imperativo que os órgãos de
relações públicas de Israel reiterem o que a
maioria das pessoas sensatas sabe. Se Israel se
desarmar unilateralmente, o país será destruído.
Se o inverso ocorresse—isto é, os países árabes
se desarmassem—a paz estaria a um passo.
Quando as nuvens da guerra estavam no
horizonte em 1937, George Orwell afirmou:
“O primeiro dever do homem inteligente é a
reafirmação do óbvio”. Isto é tão verdadeiro
hoje quando era na época em que foi escrito.
Israel é uma democracia aberta, multiétnica e
multirracial que se ergue orgulhosamente como
um baluarte contra os Estados de submissão e
totalitarismo da vizinhança. Deve-se afirmar
isto todos os dias e em todas as ocasiões. É
desse mesmo fato que o BDS evita falar ou
ignora deliberadamente e ele é a questão central
na guerra de ideias no Oriente Médio e mesmo
entre os intelectuais nos EUA.
FINANCIADOR(ES) PARTICIPAÇÃO NO
ONG QUANTIA
PRINCIPAIS BDS
Suécia € 207.000 (2009) Signatária do chamado do movi-
Addammer mento BDS em 2005

NDC* US$ 250.000 (http://www.bdsmovement.net/)

Holanda US$ 461.201(2008)


Diakonia US$ 204.134 (2008)
Al haq O BDS é parte de uma missão
NDC* US$ 150.000
Noruega, Irlanda n/d
Suécia € 105.000 (2007–9)
Signatária do chamado do movi-
NDC* US$ 500.000 mento BDS em 2005
Al Mezan
Noruega, UE n/d (http://www.bdsmovement.net/)

Alternative Information “Sim a Boicote, Desinvestimento e


Noruega, Irlanda n/d Sanções (BDS) contra Israell”
Center
Alternatives Signatária do chamado do movi-
C$ 2 milhões mento BDS em 2005
Canadá
(Montreal) (2008–10; interrompido?) (http://www.bdsmovement.net/)

A P E N D I C E
JED BABBIN & HERBERT LONDON A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL 170

Applied Research UE € 374.174 (2009–11)


Signatária do chamado do movi-
Institute Jerusalem Espanha € 98.347 (2009) mento BDS em 2005
(PA) (http://www.bdsmovement.net/)
Suíça n/d

Badil (PA) NDC* US$ 100.000 Líder do movimento BDS

“Apoio como parceira” de um


€ 22 milhões combinados chamado por BDS e pela “perse-
Christian Aid Reino Unido, Irlanda, UE
(2007–8) guição de organizações sionistas
paraestatais”

Coalition of Women UE € 247.954 (2005–7) Controla o site “Who profits?”


[quem lucra?], centro da campa-
for Peace NIF US$ 285.509 (2006–8) nha norueguesa por BDS.

Defence of Children Suécia € 316.000 (2009) Signatária do chamado do movi-


International– mento BDS em 2005
NDC* US$ 450.000 (http://www.bdsmovement.net/)
Palestine Section
Suécia US$ 42.7 milhões (2008) Defende estratégias de desinves-
timento contra Israel; faz lobby
DIAKONIA contra as relações entre Israel e
UE n/d a EU.
Soros’ Open Society Institute Apoiou o boicote à Caterpillar; de-
US$ 2.353.895 (2007–8)
fendeu o fim da ajuda americana
a Israel
Fundação Ford US$ 445.000 (2009–11)
Human Rights Watch
Holanda via
US$ 987.818 (2007–8)
Oxfam-NOVIB

Israel Committee Tem papel de liderança no ativis-


Espanha € 105.000 (2009) mo do BDS
Against House
Demolitions NDC* US$ 80.000
(ICAHD)
Principal apoiadora da campanha
Canadá (Recentemente o financia- US$ 1.575.966
KAIROS de desinvestimento de várias de-
mento foi interrompido (2008) nominações cristãs

€ 251.650 (2007–10) Campanha pelo retirada dos in-


UE
vestimentos do Fundo de Pensão
Machsom Watch Norueguês
New Israel Fund (NIF) $165,198 (2006–8)

UE US$ 100.531 (2008)


Signatária do chamado do movi-
Dinamarca US$ 101.767 (2008) mento BDS em 2005
Miftah
(http://www.bdsmovement.net/)
Noruega US$ 129.870 (2008)

171
JED BABBIN & HERBERT LONDON A NOVA GUERRA CONTRA ISRAEL 172

NIF US$ 517.642 (2006–8) Campanha pela retirada dos in-


Mossawa UE € 298.660 (2006–8) vestimentos do Fundo de Pensão
Norueguês
Reino Unido n/a

Norwegian Associa- Noruega €57.000 (2008) Coordena a campanha noruegue-


tion of NGOs for sa de boicote a Israel
Palestine (incl. Estados Unidos €8.000 (2008)
Norwegian People’s Suécia, Holanda n/a
Aid)
NDC* US$ 130.000 Líder do movimento BDS
Palestinian NGO
Recebeu um prêmio de direitos
Network (PNGO) humanos da França
Líder do movimento global pelo
Sabeel Suécia € 76.000 (2006–8)
desinvestimento nas igrejas
Irlanda € 23.499.837 (2008) Apoia o movimento BDS; faz lobby
contra as relações entre Israel e a
Trocaire Reino Unido € 640.682 (2008) EU; pede a revisão das licenças de
União Europeia € 1.698.692 (2008) exportação de armas

€ 256.000 (2008) Defende sanções, inclusive boico-


Reino Unido
te ao exército
War on Want Irlanda € 77.000 (2008)

UE € 266.000 (2008)

(FONTE: NGO MONITOR)


*O mecanismo NDC é financiado por Suíça, Suécia, Dinamarca e Holanda; 2008–2009
A editora Simonsen gostaria de agradecer

AGRADECIMENTOS
a todos os apoiadores deste projeto, em
especial nossos grandes mecenas, por toda a
generosidade e devoção à cultura:

Adalberto Salvador Perillo Kühl Júnior


Allan Rocha Silva
Andrea Hilbk
Cláudia Makia
David Waisman
Diego Lubitz Lautert
Diogo Fontana
Everaldo Uavniczak
Fábio Milnitzky
Francisco Silva
Gilberto Brandão
Grazielli Pozzi Menegardo
Ígor de Paula Silva
Jorge Feffer
José Taragano
Juliana Galletti
Leandro Guimarães Faria Corcete Dutra
Leonardo Ferreira Boaski
Luis Pereira
Marcel Grillo Balassiano
Marcelo Assiz
Marcia Reina
Maria Florencia Schivartche
Matheus Arceno Felicio
Rafael Souza Silva
Rafaella Danon Schivartche
Renato Bliacheriene
Rodrigo Gurgel
Tamara Czeresnia
Thales Pich
Thiago Junglhaus
Valeria Rodrigues G. Oliveira
Vitor Pedroso Mella
Copyright © 2014 Jed Babbin and Herbert London
© London Center for Policy Research
Título original: The BDS War Against Israel

Editor: Rodrigo Simonsen


Tradutor: Eduardo Levy
Revisor: Luigi Sassaroli
Capa: Loft
Diagramação: Patricia Martyres
Impressão e acabamento: Loyola

[2015]
Todos os direitos desta edição reservados à
Editora Simonsen
Av. Washington Luís, 366
CEP 11055-000
Santos/SP
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www.facebook.com/editorasimonsen

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