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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DE SAÚDE

=ISCISA=
CURSO DE LICENCIATURA EM NUTRIÇÃO, 1° ANO
II SEMESTRE, PERÍODO-LABORAL

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA- NUTRIÇÃO

CRÍTICAS SOBRE OS PENSAMENTOS EVOLUCIONISTAS DE


LEWIS HENRY MORGAN, EDWARD BURNETT TYLOR E
JAMES GEORGE FRAZER

Discente:

Atália Augusto Lapissone

Docente: Dr. Inácio Manjate

Maputo, Novembro 2020


RESUMO

O presente artigo ensaio visa apresentar sucintamente os fundamentos para uma crítica
das principais do pensamento evolucionista cultural clássico do século XIX na base das
contribuições de Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer. O
eixo em torno do qual gravitava essa disputa, espero elucidar, era uma noção de história:
os intelectuais evolucionistas levavam a termo uma perspectiva histórica herdada do
pensamento iluminista, para o qual a história era uma entidade metafísica que englobava
toda manifestação cultural particular de acordo com leis universais e desenvolvia-se
segundo uma concepção linear progressiva.

Palavras-chaves: Evolucionismo cultural, linear e crítica

ABSTRAC
T

This essay article aims to briefly present the fundamentals for a critique of the main
classical 19th century evolutionary cultural thinking based on the contributions of Lewis
Henry Morgan, Edward Burnett Tylor and James George Frazer. The axis around which
this dispute gravitated, I hope to clarify, was a notion of history: evolutionary
intellectuals carried out a historical perspective inherited from Enlightenment thought,
for which history was a metaphysical entity that encompassed every particular cultural
manifestation in accordance with universal laws and developed according to a
progressive linear conception.

Keywords: Cultural, linear and critical evolutionism


BREVE DESCRIÇÃO DAS IDEIAS DE MORGAN, TYLOR E
FRAZER

A antropologia evolucionista é uma das correntes da antropologia. Dominante até o


início do século XIX, tem como seus expoentes Lewis Henry Morgan (1818-1881),
Edward Burnett Tylor (1832-1919) e James George Frazer (1854-1941). Alguns traços
importantes desta corrente foram:

Morgan apresenta sua perspectiva evolucionista como uma concepção unilinear da


história, na qual todas as sociedades perpassariam pelas mesmas etapas de
desenvolvimento identificando um caminho ascendente do estágio humano a
selvageria, barbárie e civilização, onde, em níveis de desenvolvimento, a selvageria
antecederia a barbárie e esta antecederia a civilização de modo natural e inexorável.
Esses estágios estariam relacionados entre si a partir de uma ideia de progresso
inevitável até o ápice civilizatório que corresponderia ao modo de vida europeu da
época.

Tylor pretende delinear, com base em classificações do tempo, os fenómenos da


cultura de acordo com seus estágios ou etapas de desenvolvimento, relativos à
história humana. Há, na perspectiva evolucionista tyloriana, a idéia da “compreensão
do presente e a modelagem do futuro” (Tylor, 2005), como uma forma de investigação
antropológica essencial na observação de diversos estágios de evolução humana
experimentados por diversas sociedades no mesmo percurso histórico. Assim, Tylor
admite um provável esquema de evolução multilinear da civilização humana, “ao longo
de suas muitas linhas” (Tylor, 2005).

Para James Frazer (1908), a tarefa da antropologia apresenta semelhanças com as


propostas de Morgan e Tylor, pois “visa descobrir as leis gerais que regulavam a
história humana no passado e que, se a natureza for realmente uniforme, é de se esperar
que a regulem no futuro” (Frazer, 2005: 104). A perspectiva evolucionista de Frazer se
baseia no “método comparativo” (Frazer, 2005), numa análise comparada no tempo,
que verifica a relação de causalidade entre os estágios passados e os estágios presentes
da vida humana, entre “o que era” e o “que é”, dos chamados “primórdios” até “os dias
atuais” (Frazer, 2005), sendo que a semelhança com Morgan está na indicação da
evolução da civilização a partir do estágio de selvageria: “está implícito que os
ancestrais das nações civilizadas um dia foram selvagens” (Frazer, 2005).

Semelhante a Tylor, a proposta de Frazer, sua perspectiva evolucionista, possui carácter


multilinear: “A humanidade avança em escalões, isto é, as colunas marcham não uma ao
lado da outra, mas em linhas dispersas, cada uma num grau diferente de atraso com
relação ao líder.” (Frazer, 2005).

Para os três autores, o estágio de “avanço” ou “atraso” de uma certa sociedade em seus
percursos evolutivos, configura um problema essencial. A análise comparada estabelece
o grau “avançado” ou “atrasado” de uma sociedade, ou seja, uma sociedade é
“avançada” ou “atrasada” em relação a uma outra sociedade, à “líder”.

Este é o segundo ponto essencial das perspectivas dos autores: a utilização do método
comparativo de análise. A comparação entre sociedades é justificada pela noção de que
certas causas e condicionantes operam uniformemente por toda a humanidade:
CRÍTICA
S

Olhando pela forma como os pioneiros da Antropologia evolucionistas defendem ideias


adoptando a metodologia comparativa entre as comunidades, as minhas críticas
convergem em algumas ideias de Franz Boas em que propõe se uma análise mais
profunda da antropologia evolucionista fundamentada no conceito de cultura como o
mais importante para a diversidade humana, o relativismo metodológico, o método
histórico (e não o comparativo) e a necessidade de estudar cada cultura como uma
cultura em si.

É notório que os pioneiros revolucionistas não mostram provas concretas em relação aos
seus pensamentos que fenómenos aparentemente semelhantes pudessem ser atribuídos
as mesmas causas, assim sendo era preciso perguntar, para cada caso, se eles não teriam
desenvolvido independentemente, ou se não teriam sido transmitidos por difusão de um
povo a outro, sendo necessário falar da cultura não no singular mas sim

Salientar que em divergência com os autores pioneiros do evolucionismo, a


mentalidade humana não é algo uniforme e obedece a um conjunto determinado de leis,
tampouco os são os possíveis caminhos para o desenvolvimento das sociedades: As
idéias não existem de forma idêntica por toda parte: elas variam. E existem causas
dessas variações são tanto externas, isto é, baseadas no ambiente, quanto internas, isto é,
fundadas sobre condições psicológicas. A influência dos factores externos e internos
corporifica um grupo de leis que governa o desenvolvimento da cultura. Como a mente
humana é complexa e variada, também o são criadas as instituições, invenções e
descobertas.

Contudo, antes de tomar os fenómenos humanos como unigénitos, deve-se primeiro


considerar a comparabilidade do material. É inconcebível comparar tribos
completamente diferentes, que surgiram de forma díspar e supor que suas invenções se
dão a partir da mesma causa. Antes, é preciso verificar se tais fenómenos não ter-se-iam
desenvolvido de maneira independente ou se teriam sido transmitidas de um povo a
outro. O que torna-se o contrário do que os pioneiros evolucionistas relatam.
Para evitar amarrar os fenómenos e forçar sua adequação dentro de uma camisa-de-
força teórica o estabelecimento de grandes generalizações, faz-se necessário o estudo
das culturas tomadas individualmente e em sua totalidade, para a partir daí avançar para
a busca das leis régias da sociedade e não o contrário.

Na minha óptica, a multilinear da evolução sociocultural, em virtude de que o “atraso”


ou “avanço” de uma sociedade é sempre relativo a uma outra fase ou grau e não ao tipo
de desenvolvimento alcançado por uma sociedade em relação à outra, devido ao modo
pelo qual cada uma se apresenta, numa conjuntura de interacção externa.

O antigo padrão de disposição das peças dos museus etnográficos, com sua classificação
por tipo de actividade ou instrumento, misturando peças de povos de todo o mundo.
Esse padrão, de inspiração evolucionista, foi sendo substituído pelo ordenamento de
conjuntos de elementos relacionados a diferentes culturas. Nesse sentido, o
procedimento fundamental do método comparativo, tal como preconizado por Tylor
dissecá-la a civilização em detalhes e, em seguida, classificá-los em seus grupos
apropriados" com evidências recolhidas em todo o mundo passava a ser visto como um
método equivocado.

Um outro factor importante a referir é de que a metodologia comparativa adoptada pelos


autores fazia uma distinção de raça em que por sua vez, hierarquizava-se dos
indivíduos na categoria raça, através da humanidade em brancos (os mais superiores),
amarelos e pretos (os mais inferiores). No meu ponto de vista em concordância com
algumas críticas de outros autores, não há razão para acreditar que uma raça seja
naturalmente mais inteligente, dotada de grande força de vontade, ou emocionalmente
mais estável do que outra, e que essa diferença iria influenciar significativamente sua
cultura. Também não há razão para acreditar que as diferenças entre as raças são tão
grandes, que os descendentes de casamentos mistos devem ser inferiores a seus pais,
todos somos iguais.

Apoiando-se a Boas, no tocante às características raciais, o autor sugere que elas não
são totalmente estáveis e que estão mais sujeitas a modificações influenciadas pelo
ambiente social e geográfico do que por factores étnicos da mesma maneira que ele
desconsidera o resultado dos chamados testes de inteligência, por acreditar que o
ambiente cultural dos indivíduos é o factor mais importante para determinar o resultado
desses testes, não o conjunto de características feno típicas.

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