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na Moda e na
Comunicação
uma análise Histórica e Etnográfica
Uma publicação
O New Gothic na Moda e na Comunicação - Uma análise Histórica e Etnográfica
FahMaioli &Observatório 3
O New Gothic na Moda e na Comunicação - Uma análise Histórica e Etnográfica
Índice
Introdução
Conclusão
Autoras
Bibliografia
Introdução
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O New Gothic na Moda e na Comunicação - Uma análise Histórica e Etnográfica
A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da Vogue Itália
em outubro de 2012) que se reportava ao novo Eau de Parfum de Chanel,
Coco Noir, lançado em setembro de 2012. Fora de uma caracterização apenas de
mood gótico, o tom escuro, para Chanel, representa o Oriente e foi inspirado, segundo
nossa pesquisa, no livro de Paul Morand Venises (Ed. Gallimard) e na própria
vivência de Gabrielle que a Veneza, em 1920, passava por um período negro (a morte
de Boy Capel).
Nas imagens acima, vemos detalhes das obras Discesa ao Limbo de Bonaiuto (1365) e Angeli, de Pietro
Cavallini (1289,) que atestam que, no uso dos elementos visuais bem como cores, os artistas desse
momento histórico eram muito originais e criativos. Imagens Fah Maioli.
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Memento mori
Essa frase em Latim, que significa “recorda-te que deves morrer”, era o conceito por
detrás do imaginário visual que representava a vanitas, que, na pintura, é uma
natureza morta com elementos simbólicos alusivos ao tema da impermanência da
vida. O memento mori náo é outra coisa se náão a consciência da mortalidade aceita
como um fato normal da vida. Na imagem vemos um detalhe do interno da Igreja San
Bernardino alle Ossa em Milano, decorada com milhares de ossos e crânios.
Foto Fah Maioli.
Death Café
Um fenômeno que ilustra um modo de pensar “memento mori” são os famosos Death
Café, que são locais como bares e cafés ao redor do mundo onde os admiradores deste
conceito se encontram para falar sobre morte toda a semana. Curiosamente, o boom
deste movimento deu-se depois da crise de 2008.
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Design atemporal?
A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da revista
Espresso, de 06 de dezembro de 2012) que se reportava ao icônico bracelete de Elsa
Peretti para Tiffany & Co.
Florentina, há mais de vinte anos, é a designer da linha que leva seu nome na famosa
casa joalheira, tendo sido já parceira de Halston e Oscar de La Renta. O osso do
punho é adornado pela sua pulseira de prata esterlina assimétrica, significando que
certamente nãoo apenas resiste ao tempo cronológico, mas que também é uma peça de
design atemporal.
Saint Laurent convidou o rocker Marylin Manson para ser seu testimonial na
campanha publicitària desta estação! O músico, cujo nome real è Brian Hugh Warner
foi escolhido pelo Creative Director Hedi Slimane para a etiqueta menswear de SL em
2013. Conhecido pela sua estètica Nineties grunge, muito new gothic, foi
imortalizado com os sìmbolos bàsicos de um closet gótico: uma black leather biker
jacket, um batom escuro e forte delineador nos olhos.
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2. A Beleza Morta
Os períodos de
c r i s e s ã o mu i t o
favoráveis aos
profetismos
apocalípticos que
trazem consigo os
arquétipos e símbolos do fim (da morte), e o século passado,
com suas crises econômicas, suas duas guerras mundiais, a guerra fria, a
bomba atômica, as torres gêmeas, a Aids e o tsunami na Indonésia,
claramente, alimentaram o nosso inconsciente coletivo com o medo
da morte. O resultado é que os artistas e criadores, da Arte ao Design,
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Na imagem acima, vemos uma montagem onde, na figura principal temos a publicidade da Coleção da
Prada Outono-Inverno 2012-2013 que retomou o mito do Drácula utilizando-se inclusive de Gary
Oldman como testimonial, ele que representou Vlad Drakul no filme de Coppola.
(Imagens © 1992 Columbia Pictures Industries, Inc. All Rights Reserved). Montagem Fah Maioli.
abaixo).
! O movimento goth, nascido do ramo do género musical post-
punk ao final da década de 1970, revelava-se através de bandas
musicais importantes no Reino Unido, como, por exemplo, Siouxsie and
the Banshees e The Sisters Of Mercy, e inspirava já muitas coleções de
Moda à época, mas foi apenas no início dos anos 1980 que o
movimento gótico tornou-se uma cultura própria. ! Dizem que o
termo gothic foi um caso: aqui, a palavra veio usada por Ian Astbury
para descrever Andi Sex Gang, cantor do grupo Sex Gang
Children, como um gothic pixie em virtude do modo como dançava
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Uma comparação entre a revista Dark Beauty Magazine (jan/2013) com a gothic blogger La Carmina
e como era a o conceito da capa da Propaganda, em 1990.
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Na montagem acima, vemos Ophelia: a primeira por Paul Fryer, inspirada na segunda, de John Everett
Millais, que foi um pintor inglês da época vitoriana e cofundador da Fraternidade dos Pré-Rafaelitas.
Montagem Fah Maioli.
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A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da revista
Vogue Itália de dezembro de 2012) que se reportava ao lançamento do perfume
Noir, de Ricardo Tisci, para Givenchy, em setembro de 2012.
No momento de seu lançamento, o designer dizia que o objetivo era o de atingir “a
luminosa feminilidade, extraordinária como a beleza escondia das coisas a descobrir”.
Por isso, a escolha da modelo Mariacarla Boscono, que, segundo ele, é uma “musa
delicada e forte ao mesmo tempo”.
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A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da revista D
Reppublica Itália, de março de 2013) que se reportava ao relançamento do perfume
Eau de Nuit, da Armani. Nascido em 1984, sendo a primeira fragrância de
Girogio Armani, foi relançado em um novo frasco, escuro, com base
metálica, tampa em bachelite escura, tendo como testimonial o
designer, com a sua foto e a sua assinatura “It’s mine”.
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Makeup Vamp
A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da revista D
Reppublica Itália de março de 2013) que se reportava ao lançamento da Mascara
Vamp!, da Pupa, em março de 2013. Notamos a clara alusão aos filmes noir e a
toda uma estética “vamp”, não apenas pelo nome, mas pelo visual da modelo e das
cores utilizadas, ou seja, o preto e o vermelho.
3. O Comportamento Gothic
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4. A Música Gothic
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Renascimento da Alma?
A imagem acima fez parte da comunicação impressa (esta foi retirada da revista
Vogue Itália de outubro de 2012) que se reportava ao lançamento do perfume Madly,
da Kenzo, em 2011. Veja a simobologia da Borboleta dentro do imaginário New
Gothic no capítulo 7 deste ebook.
5. O Cinema Ghotic
Na mariposa do poster de
Silence of The Lambs, ficou clara
a alusão à fotografia de Salvador
Dalí por Halsman, onde ele posa
com a sua obra “In Voluptate
Mors” (Imagem poster © 1992
Orion Pictures, Inc. All Rights
Reserved). Já a obra o Grito, de
Edvard Munch (1893), foi a
inspiração para o cartaz
promocional do famoso The Scream
de Wes Craven, de 1996.
Montagem Fah Maioli.
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No filme de Tim Burton, Corpse Bride, é clara alusão ao gothic style, principalmente na moda que
ambos se vestem e na arquitetura (Imagem © 1992 Warner Bros Pictures, Inc. All Rights Reserved)
! Não foi por acaso ele ter dirigido o mais famoso mito ligado ao
gothic, o super-herói Batman, que, com o filme homônimo, é lançado
em 1989, produzido pela Warner Bros, sendo um sucesso financeiro e
de crítica que deu frutos ainda em Batman Returns, de 1992. Já
Batman Forever, de 1995, foi dirigido por Joel Schumacher e deu
sequência, em 1997, a um dos grandes fiascos do herói-morcego,
Batman & Robin.
! Em 2005, vemos Batman Begins, em 2008, temos The Dark
Knight, ambos dirigidos por Christopher Nolan, que encerra a trilogia,
em 2012, com The Dark Knight Rises. Aqui, vemos a clara alusão ao
morcego, que é símbolo conhecido de morte e obscuridade.
! Foi esse animal, que possui hábitos noturnos, dorme em lugares
escuros para evitar a luz do sol e em alguns casos, alimenta-se de sangue
de pequenos
animais que deu
origem ao mito
do vampiro,
popularizado na
Literatura e no
Cinema pelo
Drácula.
Ao lado, a imagem da
capa original da revista
em quadrinhos Detective
Comics, número 27, que
lançou Batman em
1939.
Assistimos, nos
últimos anos, o
retor no dos
vampiros
através das
adaptações
cinematográficas
dos romances de
Stephenie Meyer, publicados entre 2005 e 2008, denominada The
Twilight Saga, com os títulos Twilight, New Moon, Eclipse e Breaking
Down. A dupla de atores protagonistas de Twilight, Kirsten Stewart e
Robert Pattinson, faz muito sucesso entre os adolescentes de todo o
mundo, nas telas e fora delas.
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Acima vemos a montagem com as imagens do vestido citado acima e a releitura de Alexander McQueen,
“Spine” Corset, de 1998.
Acima vemos um outfit da Gothic Lolita da designer Alice Auaa, em 2011, exposto no V&A Museum e
imagem da Vogue Italia de setembro de 2011, no editorial: “Chic Gothic Glam” com peças de Lanvin,
Iris Van Herpen e Chanel.
- Victorian Goth: tem a atriz Helena Bonham Carter como seu ícone
maior. Para saber como é o look, veja a galeria de imagens dentro do
tema, realizada pela Vogue Itália aqui.
- Rock'n'roll Goth: o cantor Marilyn Manson é o melhor exemplo
dos últimos anos, assim como Robert Smith do The Cure. Sean Penn
em This must be the place também é uma boa fonte de inspiração.
- Couture Goth: a estética dark de Taylor Momsen, que vem do
seriado Gossip Girl e que foi escolhida por Lourdes (filha de Madonna)
para ser o testimonial de sua fashion line Material Girl, é um ótimo
exemplo desta família.
- Cartoon Goth: a escolha aqui é variada, podendo ser entre Morticia
Addams; um integrante da família Cullen, da caso na trilogia Twilight,
Samara, de The Ring e ainda Chloe Grace Moretz, em Let Me in.
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Cronologicamente, é a coleção
“Eclect/Dissect”, (ao lado um dos
vestidos mais representativos desta coleção) de
Alexander McQueen para Givenchy no
Outono/Inverno de 1997/1998, a que
mais retomou a cultura gothic, com a sua
redefinição de beleza em chave
artificial, com um simbolismo fetish,
desde a representação da Peste até o uso
de um “bestiário satanista”.
! A “ Jo a n C o l l e c t i o n ”
inspirada em Joana D’Arc, (vemos
abaixo a imagem da apresentação da coleção)
enquanto herética e queimada viva,
evocou o mesmo território simbólico e
aquela fascinação pela época medieval e
pelos aspectos mais sombrios que
resgatou até o fim de sua atividade. Na
coleção “What a Merry-Go-
Round”, do Outono/Inverno de 2001/2002, McQueen incorporou a
iconografia da morte em uma espécie de top para um vestido,
introduzindo
outros detalhes
que chamavam ao
mundo da
bruxaria e ao
satanismo.Em
Londres, o fashion
show “Voss”, da
Primavera/Verão
de 2001, que
apresentava a
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Algumas manchetes dos principais jornais de Moda de Milão na ocasião da MFW 2013-2014.
! Trocando em miúdos, black is the new black, mas não quer dizer
que tenha vindo para instaurar uma nova subcultura gothic ou punk, e,
sim, para explorar seu uso histórico, como as referências e influências
histórico-culturais do período Romântico do Séc. 19, dando origem a
um estilo que podemos arriscar chamar de Barroco Elegante, como
estamos ainda a visualizar na Dolce & Gabbana com a sua “sicilianità”.
! Dentre tantos revivals, retornaram os laços e os mecanismos
complicados para o ato de vestir, como os corseletes e os vestidos multi-
extrato. A cor seguramente é a preta, mas também o bordeaux, o
violeta, o cinza, o branco e o azul profundo entraram em voga.
! O look New Gothic deste ciclo atual não é excessivo, nem fácil
de realizar. Passa através de cada aspecto do look, com make up inclusa:
pelo uniforme com batom vermelho ou beringela. Em alternativa, os
olhos com muita máscara são preenchidos nas pálpebras com sombra
escura. Em qualquer caso, a boca é a protagonista deste look.
! Os fashion players principais que jogaram com a estética New
Gothic dentro deste panorama, foram:
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! É por isso que podemos afirmar que estas “visões” dark, góticas,
ou como quiserem denominar, expressas por símbolos destes mundos,
de fato, estão nos mostrando não apenas o interior criativo destes
designers, mas todo um inconsciente coletivo contemporâneo que se
atém a esta simbologia para comunicar algo.
! Os símbolos mais utilizados, que remetem ao mood New Gothic,
pertencem a um imaginário visual que podemos nominar de Vànitas.
Essa palavra vem do latim vanità e refere-se ao gênero de natureza morta
particularmente difuso no século 17 (especialmente na pintura
holandesa), que era caraterizada pela presença de elementos alegóricos
(crânios, clessidras, velas consumidas pela chama, frutos em
decomposição, flores murchas) e de frases escritas como Vanitas vanitatum
(daqui o nome), Memento mori, etc, que aludiam á efemeridade da beleza
e a impermanente condiçáo humana.
! Na análise que realizamos da Comunicação européia, através
das principais revistas de Moda e Design, bem como jornais, flyers,
folders e pontos de venda, notamos que a maioria delas utilizou, e ainda
está utilizando, uma série de estratagemas visuais que remetem ao
simbolismo New Gothic. Podemos identificar os símbolos seja nas
estampas das roupas, tecidos e calçados, nas tattoos dos modelos, na
representação das formas em acessórios, na decoração dos ambientes e
nas imagens de fundo, sempre em relação com o violeta, azul-escuro,
vermelho-intenso, em uma atmosfera dark, ou de filme noir quando é
uma ambientação.
! Resumidamente, podemos agrupar o que chamamos de
símbolos de morte da seguinte forma:
Relógios, poeira e teias: representam o tempo que corre e que
consome os objetos e as coisas;
Cortinas: representam o fim do “espetáculo da vida”;
Portas: conduzem para o “aldilà”, ou centenas de vezes tratados como
as portas do Inferno ou Céu;
Barcos, velas, cavaleiros solitários: aludem à “viagem da alma”;
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- Crânios e Esqueletos
! Estes são o testemunho tangível da passagem sobre a Terra de
um indivíduo. Começaram a ser muito representados visualmente a
partir do Medievo com a função de memento mori. Na tradição cristã,
os ossos representam “a semente da ressurreição dos corpos” que, no
Juízo Final, quando os sepulcros serão abertos e os corpos voltarão á
vida. Aqui, eles têm uma valência positiva, pois lembram aos homens da
possibilidade de uma vida post-morten. Na Moda e no Design, a
mensagem é outra: nos lembra da precariedade de nossa existência, da
corruptibilidade do nosso corpo e, finalmente, da necessidade de
refletirmos sobre a certeza da morte (a única que temos) alinhada à
brevidade da vida terrena. Uma outra declinação do crânio pode ser a
letra X, formando a conhecida Cruz de Santo André, símbolo das
oposições dentro da natureza.
! O símbolo do crânio reaparece na nossa década com grande
sucesso através da obra For the Love of God, de 2007, do artista
Damien Hirst, e migra para a Moda um pouco depois, através das tattoos
do fenômeno Rick Genest, ou Zombie Boy. Este virou um
fenômeno, náo apenas por ter todo o corpo tatuado como um esqueleto,
mas porque Lady Gaga e seu fido stylist Nicola Formichetti o convidaram
a participar do hit Born This Way de 2011. No mesmo momento,
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- Espelhos
! Sendo um refletor, onde a fonte de poder é a luz, este objeto
sempre existiu. Os povos mais antigos acreditavam que em seu reflexo se
poderia perceber qualquer coisa de espiritual e, até hoje, persiste a
fantasia de que ele possa “roubar a alma” das pessoas. Por isso que
todos os Dráculas conhecidos não possuem uma imagem refletida - eles
não têm alma!
! Talvez a sua representação, principalmente na Comunicação de
algumas players de Moda, como Givenchy e Gucci, queira retomar o
sentido de espelho como gerador de uma imagem que, ao ser duplicada,
participa de sua transformação, pois se reconhece, se define. E aqui, o
aspecto numinoso do espelho, isto é, o terror que inspira o
conhecimento de si mesmo, é visto como aspecto mais negativo do que
positivo.
! Observamos esta ação em muitas imagens de publicidade de
Givenchy que, inclusive, retomam o dilema de identidade, representado
aqui pelo “eu duplo” - tão bem descrito no livro Dr. Jekyll e Mr. Hyde,
que é, por sua vez, um clássico da literatura noir de mistério do século
19.
! O autor Stevenson aqui nos mostra a sua fascinação da análise
do mal e da ambiguidade da alma humana. No livro, que foi utilizado
como base para muitos outros roteiros de filmes de mood gótico do
nosso século, vem evidenciado de maneira muito significativa aquela
natural duplicação, que caracteriza e é presente em cada ser humano e
que se configura como uma quebra da integridade da pessoa, como a
cisão do Bem e do Mal, e, em definitivo, como a duplicação da mesma
consciência humana.
- Borboletas
! À primeira vista, consideramos ela como um símbolo de rapidez
e de inconstância. Na maioria das culturas, a natureza alada e o mágico
processo pelo qual a crisálida passa para tornar-se borboleta
representam o símbolo da alma que renasce de um local fechado,
escuro. Talvez por isso, a crença popular da Antiguidade greco-romana
que dava igulamente à alma que deixa os corpos dos mortos com forma
de uma borboleta.
! Certas populações da Ásia Central acreditam que os defuntos
podem aparecer para seus parentes na forma de uma mariposa. Este
termo, aliás, na América Latina, é sinônimo de prostituta. Na Moda
contemporânea, a borboleta voltou, inicialmente, com o chapéu de
Phillip Treacy para a coleção Outono/Inverno 2008 de Alexander
McQueen e está seguindo um fluxo constante desde então, da Arte,
como vemos na obra de Jan Fabre, até a publicidade e mídia em geral
(capas de revista, editoriais etc) como vemos na campanha do perfume
Madly, da Kenzo, e na colecção Primavera/Verão 2013 de Alberto
Guardiani.
- Morcegos
! É o animal impuro, que se tornou o símbolo da idolatria
segundo a lei mosaica. Já no extremo oriente, ele é símbolo da felicidade
ou ainda longevidade. Na iconografia do Renascimento, já que ele é o
único mamífero voador, representava a mulher fecunda. No imaginário
gótico, porém, que é o que aceitamos atualmente, a ambiguidade de sua
natureza híbrida – rato/pássaro - nos explica a ambivalência dos seus
símbolos: ele representa o andrógino, o dragão alado, os demônios -
aqui as suas asas seriam as dos habitantes dos Inferno.
! A imagem de um bando de morcegos, à procura de alimento,
ao cair do Sol, em milhares, vem percebido também como o irromper
livre das forças primordiais escondidas no mundo do Além.
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Autoras
Fah Maioli
Julia Presotto
Cândice Damé
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Bibliografia
Brite, P. Z.,1992 Lost Souls, trad. It. 1999, Anime perse, Milano,
Bompiani.
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