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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de Arqueologia e Antropologia

Licenciatura em Antropologia

Docente: Doutora Margarida Paulo

Discente: Carlitos Tomé

carlitosromaotome48@gmail.com

3ᵒ Ano, 1ᵒ Semestre, Ano Lectivo 2020

Antropologia Urbana

Magnani, José. 2003. A Antropologia urbana e os seus desafios da metrópole. Tempo


Social. São Paulo: USP; pp. 81-95.

O texto de Magnani (2003) analisa os desafios da antropologia urbana no campo das


ciências sociais e sua contribuição para o estudo e a compreensão do fenómeno urbano
nas grandes metrópoles contemporâneas. O autor baseou-se nos métodos etnográfico,
comparativo e na revisão da literatura. O autor diz que existe um preconceito a respeito
da antropologia urbana, tanto no senso comum como no meio académico que o objecto
de estudo seja o mesmo da antropologia clássica, isto é, exótico, caracterizado pelo
relativismo, com as consequências da supervalorização do discurso do nativo e a
ausência dos quadros de interpretação e análise mais gerais e universais.

O autor coloca algumas perguntas para orientar a discussão sobre os desafios da


antropologia urbana face aos temas específicos da antropologia clássica como
parentesco, mitologia, xamanismo e rituais. Onde é que antropologia urbana entra nesse
canário? Será que o estudo das sociedades e da cultura ocidental não caberia ao estudo
de outros ramos das ciências sociais? Qual é a especificidade da antropologia urbana?

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O autor nota que a ideia da antropologia urbana não é algo tardio como se pensa, mas
acompanhou a própria história da antropologia clássica pelos seus métodos e técnicas de
investigação, que poderiam ser aplicados com sucesso em contextos ocidentais na
investigação dos costumes, crenças e concepções que ainda prevalecem. Assim, a
antropologia urbana ao tomar seu objecto de estudo as sociedades complexas, encara
um desafio de manter-se fiel ao património teórico e metodológico da disciplina.

O autor argumenta que a antropologia contribui especificamente na compreensão do


fenómeno urbano, sobretudo a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de
sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas. Para cumprir o seu objectivo, ela
dispõe de um legado teórico-metodológico como um reportório capaz de dotá-la dos
instrumentos necessários para novos objectos de estudo e questões mais actuais.

O autor considera que o método etnográfico faz parte desse legado e um dos desafios é
como aplicar essa abordagem à escala da metrópole para não cair na tentação da aldeia.
O autor diz que a etnografia é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra
em contacto com o universo dos pesquisadores e compartilha seu horizonte, numa
relação de troca, para comparar suas próprias representações e teorias das deles a fim de
obter novo entendimento aprofundado e mais amplo.

O autor explica que a etnografia urbana não se limita na descrição de alguns locais
privilegiados de sociabilidade, de encontro e de trocas, na cidade. Pois, ela trabalha não
apenas nos arranjos específicos, forjados pelos actores numa prática colectiva, mas
também está atenta e leva em conta suas representações elaborando um modelo
explicativo mais abrangente por meio de pistas que dá a uma reflexão inovadora. Deste
modo, a troca contínua faz da etnografia uma marca característica da produção
antropológica, buscando modelos compreensivos resultantes de um trabalho específico
que transita entre a teoria dos nativos, rompendo a ideia do exotismo como objecto.

O autor conclui que a perspectiva do trabalho etnográfico supõe um treinamento. Esta


perspectiva não está em manuais de pesquisa, mas resulta de um investimento em
muitas frentes, com o conhecimento da bibliografia teórica de base, a leitura de
etnografias clássicas e, imprescindível, a experiência de campo. Portanto, o etnógrafo
precisa estar aberto a reflexão feita em outros campos, não só no âmbito da antropologia
e das ciências sociais, incluindo porém, outros parceiros, permitindo assim, um olhar
bem treinado para a prática etnográfica, na aldeia, no campo, na metrópole.

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