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Documento: 1615596 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/06/2017 Página 2 de 23
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.177 - AC (2016/0004941-5)
RELATÓRIO
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tratamento para o câncer enseja o desenvolvimento de resistência à
medicação, com a perda do benefício e riscos ao paciente, nos
termos abaixo:
(...)
O Recorrente admite que o Paciente recebera o tratamento, iniciado
com quimioterapia no dia 18 de fevereiro de 2013, passando a
receber tratamento com o fármaco GLIVEC, em seguida suspenso
em razão de não ter surtido o efeito esperado, e substituído, então,
pelo SUTENT. ministrado por dois ciclos e interrompido cm seguida,
sem início do 3o ciclo.
Ora, se o Paciente vinha recebendo tratamento adequado, as
alegações do Estado e o documento de fls. 138 evidenciam que tal
tratamento sofrerá solução de continuidade, já que inexistia em
estoque o SUTENT, pelo menos na nova dosagem prescrita pelo
médico do SUS.
E, inconteste, também, que o fármaco SUTENT (Sunitinibe) deveria
ter sido fornecido pelo Estado, a permitir a continuidade (3º ciclo)
daquele tratamento eleito e já iniciado em 25 de novembro de 2013,
sob pena de tornar inócuo o esforço de tratamento, colocando em
risco a vida do paciente.
Note-se. A simples afirmação de que não havia em estoque o
medicamento prescrito em nova dosagem corrobora a negativa de
fornecimento do fármaco para o 3o ciclo de tratamento. Portanto,
mesmo que em curto espaço de tempo, o tratamento deixou de
ser dispensado ao enfermo que veio a óbito em seguida. Há
nexo de causalidade entre a conduta omissiva e a precoce
morte do Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito, sequer
comprovado pelo Estado.
(...)
Portanto, a conduta omissiva do Estado em não fornecer o
medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um
benefício futuro provável, consubstanciado na esperança de
controle da evolução da doença. Segundo o citado Ministro Relator,
na perda de uma chance, há também prejuízo certo, e não apenas
hipotético, situando-se a certeza na probabilidade de obtenção de
um benefício frustrado por força do evento danoso. Repara-se a
chance perdida, e não o dano final.
Com efeito, é remansado no Superior Tribunal de Justiça o
entendimento de que a teoria da perda de uma chance aplica-se
quando o evento danoso acarreta para alguém a frustração da
chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma perda.
Não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando
prova da certeza da chance perdida, pois esta é o objeto de
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reparação. (STJ - Recurso Especial nº 1.291.247 RJ
(2011/0267279-8), 3ªTurma do STJ, Rel. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 19.08.2014, maioria, DJe 01.10.2014).
De conseqüência, é passível de responsabilização civil a omissão
do Estado quando, tendo o dever jurídico de agir, fica inerte.
O dever jurídico de agir - no caso, de fornecer medicamento que já
havia prescrito, por meio de médico da rede pública de saúde, e
cuja ministração tivera início outrora para subsequente continuidade
do tratamento omitido pelo Estado adquire relevância jurídica e o
torna responsável por criar o risco da ocorrência do resultado
danoso. Além do mais, a simples chance de sobrevivência ou
sobrevida passa a ser considerada como bem juridicamente
protegido, pelo que sua privação indevida é passível de reparação.
(...)
In casu, a responsabilidade é calcada na prevalência dos direitos
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da saúde (CF,
art. 1°, III, art. 6º), esse último, segundo o art. 196 da CF, direito de
todos e dever do listado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação. Sem falar no principio
basilar do neminem laedere, positivado no art. 5º, X, da CF, que
garante a integridade corporal e patrimonial da pessoa contra ato
lesivo e injusto de outrem.
É bem verdade que no direito brasileiro vige o principio da
causalidade direta ou imediata prevista no art. 403 do Código Civil.
Todavia, diante dos fatos exaustivamente analisados não se pode
perder de vista que a hipótese fática envolve uma omissão que,
acaso não tivesse ocorrido, poderia ter garantido a chance de um
resultado diverso, uma maior sobrevida do paciente.
Até porque a omissão, como dito alhures, adquire relevância
jurídica e toma o omitente responsável pelo dano, quando este tem
o dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado,
e se omite assumindo o risco pela ocorrência do resultado.
Diante disso, configurados todos os pressupostos primários que
determinam o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva da
entidade estatal, descabida a pretendida escusa ao dever de
indenizar reconhecido na sentença.
(...)
A compensação pecuniária, a ser deferida aos atingidos pelo dano
moral, deve ser efetivada em conformação com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando em consideração,
para seu arbitramento, as circunstâncias e peculiaridades da causa,
não podendo ser ínfimo, para não representar uma ausência de
sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não constituir um
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enriquecimento sem causa em favor do ofendido.
Nesse contexto, e considerando as circunstâncias do caso,
especialmente a dor e sofrimento impingidos aos quatro
Demandantes que não puderam desfrutar por mais algum
tempo da companhia do pai, portanto, atingidos na esfera
psíquica e familiar, julgo que o valor arbitrado pelo Juízo a quo,
de R$ 100.000,00, divididos entre eles, não se mostra excessivo
e nem irrisório para a reparação do dano" (fls. 248/252e).
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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.177 - AC (2016/0004941-5)
VOTO
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não desse certo não haveria uma terceira linha de tratamento
para esse caso, para aumentar a sobrevida do paciente. O
paciente estava em estágio avançado, o tumor era grande e
inoperável, sem caráter curativo. A cura seria cirúrgica. As
perguntas da advogada da parte autora, respondeu: sobrevida
global é a sobrevivência do doente não apenas relacionada à
doença. No caso do paciente a depoente não se recorda de como
aconteceu o tratamento do autor nos ciclos do medicamento, o que
teria que ser visto no prontuário. A interrupção de tratamento
para o câncer é o desenvolvimento de resistência à medicação,
com a perda do benefício, e riscos ao paciente. A resposta após
a interrupção do tratamento depende do organismo de cada
paciente. Nada mais disse. (Livia Rodrigues da Silva Bessa, CRM
1221-AC, RG 380158243-SSP-SP).
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NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENSÃO. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 535, II, DO CPC. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA
284/STF. ACÓRDÃO QUE DIRIMIU A CONTROVÉRSIA COM
FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL. APRECIAÇÃO PELO STJ.
INVIABILIDADE.
1. Não se conhece da suposta afronta ao artigo 535 do CPC quando a
parte recorrente se limita a afirmar, genericamente, sua violação, sem,
contudo, demonstrar, especificamente, que temas não foram abordados
pelo acórdão impugnado. Incidência da Súmula 284/STF.
2. O acórdão recorrido dirimiu a controvérsia com fundamento no
artigo 40, § 7º, da Constituição Federal, o que afasta a competência
do STJ para a apreciação da matéria trazida nos presentes autos,
pois de cunho eminentemente constitucional, cabendo, tão-somente,
ao STF o exame de eventual ofensa. Precedentes: AgRg no AREsp
171.371/MS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 19/9/2014; AgRg no AREsp 537.171/MG, Rel. Ministro
Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 16/9/2014.
3. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no AREsp 584.240/RS,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de
03/12/2014).
Ainda que assim não fosse, o Tribunal de origem, com base no exame dos
elementos fáticos dos autos, consignou que "há nexo de causalidade entre a conduta
omissiva e a precoce morte do Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito, sequer comprovado pelo Estado"
(fl. 249e).
Ainda segundo o acórdão de 2º Grau, "a conduta omissiva do Estado em
não fornecer o medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um
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benefício futuro provável, consubstanciado na esperança de controle da evolução da
doença".
Nesse contexto, considerando a fundamentação do acórdão objeto do
Recurso Especial, os argumentos utilizados pela parte recorrente, no sentido de que não
teria sido comprovada a responsabilidade civil do Estado, somente poderiam ter sua
procedência verificada mediante o necessário reexame de matéria fática, não cabendo a
esta Corte, a fim de alcançar conclusão diversa, reavaliar o conjunto probatório dos
autos, em conformidade com a Súmula 7/STJ.
A propósito:
No caso, o Tribunal de origem à luz das provas dos autos e em vista das
circunstâncias fáticas do caso, manteve a indenização por danos morais fixada, em 1º
Grau, em R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser divido pelos quatro autores, quantum
que não se mostra excessivo, diante das peculiaridades da causa, expostas no acórdão
recorrido.
Tal contexto não autoriza a redução pretendida, de maneira que não há
como acolher a pretensão do recorrente, em face da Súmula 7/STJ.
Assim, incensurável a decisão ora agravada, que deve ser mantida, por
seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao Agravo interno.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
AgInt no
Número Registro: 2016/0004941-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.577.177 / AC
Relatora
Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. SANDRA VERÔNICA CUREAU
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ESTADO DO ACRE
ADVOGADO : ROBERTO ALVES GOMES - AC004232
RECORRIDO : JOELSON DE ALMEIDA SOUZA
RECORRIDO : JAIRO DE ALMEIDA DE SOUZA
RECORRIDO : JAILSON DE ALMEIDA SOUZA
RECORRIDO : JOAQUIM DE ALMEIDA SOUZA
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO -
Responsabilidade da Administração
AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : ESTADO DO ACRE
ADVOGADO : ROBERTO ALVES GOMES - AC004232
AGRAVADO : JOELSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JAIRO DE ALMEIDA DE SOUZA
AGRAVADO : JAILSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JOAQUIM DE ALMEIDA SOUZA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell
Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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