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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.177 - AC (2016/0004941-5)

RELATORA : MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES


AGRAVANTE : ESTADO DO ACRE
ADVOGADO : ROBERTO ALVES GOMES - AC004232
AGRAVADO : JOELSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JAIRO DE ALMEIDA DE SOUZA
AGRAVADO : JAILSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JOAQUIM DE ALMEIDA SOUZA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE
EMENTA

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. DANO MORAL. TEORIA DA
PERDA DE UMA CHANCE. MORTE DE PACIENTE, EM TRATAMENTO DE CÂNCER,
EM RAZÃO DA INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DO FÁRMACO, PELO
ESTADO. ALEGADA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. DEFICIÊNCIA
DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. ACÓRDÃO BASEADO EM
FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DA
MATÉRIA, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL, SOB PENA DE USURPAÇÃO DA
COMPETÊNCIA DO STF. ACÓRDÃO QUE, À LUZ DAS PROVAS DOS AUTOS,
CONCLUIU PELA EXISTÊNCIA DE NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE A OMISSÃO
DO ESTADO E A MORTE DO PAI DOS AUTORES. REEXAME. SÚMULA 7/STJ.
PRETENDIDA REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE
REVISÃO, NA VIA ESPECIAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
I. Agravo interno aviado contra decisão publicada em 19/12/2016, que, por sua vez,
julgara recurso interposto contra decisum publicado na vigência do CPC/73.
II. Na origem, trata-se de ação de indenização por danos morais e materiais, proposta
por Joelson de Almeida Souza, Jairo de Almeida Souza, Jailson de Almeida Souza e
Joaquim de Almeida Souza, em desfavor do Estado do Acre, em decorrência da não
disponibilização de medicamento para tratamento de câncer, na rede pública estadual
de saúde, resultando no óbito de seu genitor.
III. Quanto à alegação de negativa de prestação jurisdicional, verifica-se que, apesar de
apontar como violado o art. 535 do CPC/73, o agravante não evidencia qualquer vício,
no acórdão recorrido, deixando de demonstrar no que consistiu a alegada ofensa ao
citado dispositivo, atraindo, por analogia, a incidência da Súmula 284 do Supremo
Tribunal Federal ("É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia"). Nesse sentido:
STJ, AgRg no AREsp 422.907/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
DJe de 18/12/2013; AgRg no AREsp 75.356/SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 21/10/2013.
IV. No mérito, o Tribunal de origem decidiu a controvérsia, acerca da responsabilidade
civil do Estado, sob o enfoque eminentemente constitucional, o que torna inviável a
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análise da questão, no mérito, em sede de Recurso Especial, sob pena de usurpação
da competência do STF. Precedentes do STJ (AgRg no AREsp 584.240/RS, Rel.
Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de 03/12/2014; AgRg no
REsp 1.473.025/PR, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
03/12/2014).
V. Ademais, o Tribunal de origem manteve a sentença de parcial procedência,
concluindo, à luz das provas dos autos, que "há nexo de causalidade entre a conduta
omissiva e a precoce morte do Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito, sequer comprovado pelo Estado".
Ainda segundo o acórdão de 2º Grau, "a conduta omissiva do Estado em não fornecer o
medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um benefício futuro
provável, consubstanciado na esperança de controle da evolução da doença".
Conclusão em sentido contrário, demandaria, inarredavelmente, o revolvimento do
acervo fático-probatório dos autos, o que é inviável, em sede de Recurso Especial, em
face da Súmula 7 desta Corte.
VI. No que tange ao quantum indenizatório, "a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que a revisão dos valores fixados a título de danos morais
somente é possível quando exorbitante ou insignificante, em flagrante violação aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, o que não é o caso dos autos. A
verificação da razoabilidade do quantum indenizatório esbarra no óbice da Súmula
7/STJ" (STJ, AgInt no AREsp 927.090/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 08/11/2016).
VII. No caso, o Tribunal de origem, à luz das provas dos autos, fixou a indenização por
danos morais em R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser dividido pelos quatro autores,
quantum que não se mostra excessivo, diante das peculiaridades da causa, expostas
no acórdão recorrido. Incidência da Súmula 7/STJ.
VIII. Agravo interno improvido.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,
por unanimidade, negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Og Fernandes e
Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 20 de junho de 2017(Data do Julgamento)

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES


Relatora

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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.177 - AC (2016/0004941-5)

RELATÓRIO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES: Trata-se de Agravo interno,


interposto pelo ESTADO DO ACRE, em 16/03/2017, contra decisão de minha lavra,
publicada em 19/12/2016, assim fundamentada, in verbis:

"Trata-se de Recurso Especial, interposto pelo Estado do Acre, em


18/08/2015, com base na alínea a do permissivo constitucional, contra
acórdão do Tribunal de Justiça do referido Estado, assim ementado:

"DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO CIVIL.


RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO. NÃO
FORNECIMENTO DE FÁRMACO. INTERRUPÇÃO DE
TRATAMENTO. CONDUTA OMISSIVA. PERDA DE UMA
CHANCE. DANO MORAL. REPARAÇÃO DEVIDA. INDENIZAÇÃO
ESTABELECIDA EM VALOR RAZOÁVEL. DESPROVIMENTO DO
APELO. IMPROCEDÊNCIA DO REEXAME NECESSÁRIO.
1. A orientação que vem prevalecendo nas Turmas do Supremo
Tribunal Federal é a de que subsiste a responsabilidade civil
objetiva do Poder Público em se tratando de conduta omissiva,
devendo esta ser apurada pela existência ou não de um dever
jurídico de agir do Estado.
2. O dever jurídico de agir - no caso, de fornecer medicamento que
já havia prescrito, por meio de médico da rede pública de saúde, e
cuja ministração tivera início outrora para subsequente continuidade
do tratamento - omitido pelo Estado adquire relevância jurídica c o
torna responsável por criar o risco da ocorrência do resultado
danoso. Alem do mais, a simples chance de sobrevivência ou
sobrevida passa a ser considerada como bem juridicamente
protegido, pelo que sua privação indevida é passível de reparação.
3. In casu, a responsabilidade é calcada na prevalência dos direitos
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da saúde (CF,
art. 1º, III, art. 6o), esse último, segundo o art. 196 da CF, direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação. Sem falar no princípio
basilar do neminem laedere , positivado no art. 5º. X, da CF, que
garante a integridade corporal e patrimonial da pessoa contra ato
lesivo e injusto de outrem.
4. Há nexo de causalidade entre a conduta omissiva e a precoce
morte do Paciente, de quem foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito.
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5. Não merece reparo o valor da indenização fixada originalmente,
pois guarda adstrição aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade e aos objetivos nucleares da reparação" (fls.
243/244e).
Opostos Embargos de Declaração, foram rejeitados, nos seguintes
termos:

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.


AUSÊNCIA DE OMISSÃO. REEXAME DE QUESTÕES JÁ
DECIDIDAS. IMPOSSIBILIDADE. REJEIÇÃO.
1. É impassível de acolhimento a alegada violação ao art. 535 do
Código de Processo Civil, quando resolvido o pleito recursal com a
devida fundamentação, ainda que sob a ótica diversa daquela
almejada pelo Embargante.
2. Os embargos de declaração não podem ser utilizados com a
finalidade de sustentar eventual incorreção do decisum ou de
propiciar novo exame da própria questão de fundo, de modo a
pretender, em sede processual inadequada, a desconstituição de
ato judicial regularmente proferido" (fl. 270e).

Alega-se, nas razões do Recurso Especial, a contrariedade ao art. 43 do


Código Civil, uma vez que, "para que possa o Estado do Acre ser
responsabilizado pelo dano suportado pelo requerente, imprescindível se
faz que este comprove de forma peremptória que houve culpa por parte
do ente público" (fl. 316e).
Sustenta que houve a violação aos arts. 393 e 403 do Código Civil, pois,
"em que pese a alegação de demora no fornecimento do medicamento,
não há nenhum elemento nos autos que demonstre o nexo de
causalidade entre o suposto atraso e o óbito do paciente" (fl. 319e),
devendo ser reconhecida a ocorrência de caso fortuito, o que afastaria a
responsabilidade civil do Estado.
Afirma, ainda, a ofensa aos arts. 884, 886 e 944, parágrafo único, do
Código Civil, insurgindo-se contra o valor fixado a título de indenização
por danos morais, eis que o considera exorbitante.
Por fim, aduz que, "caso se entenda que não se faz possível analisar o
presente Recurso Especial em razão da ausência de prequestionamento
do dispositivo legal violado, deve ser conhecido e provido o Recurso
Especial em liça, tendo em vista o malferimento ao artigo 535, II do CPC,
determinando-se, então, o retorno dos autos ao egrégio Tribunal Justiça
do Estado do Acre, a fim de que este se pronuncie expressamente acerca
da legislação infraconstitucional sobre a qual se quedou omisso" (fl.
326e).
Requer o provimento do Recurso Especial, para que "seja reformada a
decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, consignando a
completa improcedência da pretensão indenizatória movida; ou para que
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seja cassada a decisão recorrida, determinando a baixa para o E. TJAC
para prolação de novo decisum , observando o que preconiza a teoria da
responsabilidade subjetiva do ente estatal, quando se tratar de 'falta do
serviço': ou, finalmente, para ajustar o valor da indenização concedida ao
caso concreto, de acordo com o que estatui o art. 944 e seu parágrafo
único, do Código Civil" e, na eventualidade de não se vislumbrarem
prequestionadas as matérias legais levantadas, o que se admite
unicamente em sabor ao debate, requer que seja provido o presente
recurso especial com fulcro na violação ao art. 535, II, do CPC,
anulando-se o acórdão recorrido para que a Corte a quo sane a omissão
perpetrada ao apreciar os Embargos de Declaração interpostos" (fl.
327e).
O Recurso Especial foi admitido pelo Tribunal de origem (fls. 333/334e).
Sem razão a parte recorrente.
Na origem, trata-se de ação de indenização por danos morais e
materiais, cumulada com pedido de alimentos, em decorrência da
não disponibilização de medicamento para tratamento de câncer,
resultando no óbito do genitor da parte ora recorrida.
Julgada procedente a demanda, recorreu o réu, restando mantida a
sentença pelo Tribunal local.
Daí a interposição do presente Recurso Especial.
Inicialmente, é deficiente a fundamentação do Recurso Especial em
que a alegação de ofensa ao art. 535 do CPC/73 se faz de forma
genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o
acórdão se fez omisso, contraditório ou obscuro, o que atrai o óbice
da Súmula 284/STF.
No mérito, a Corte de origem, a partir da análise das provas trazidas
aos autos, expressamente reconheceu a responsabilidade do Estado
do Acre na configuração do dano moral, decorrente da omissão no
seu dever de fornecimento do medicamento prescrito, afastando a
alegação de caso fortuito, e fixou a indenização em R$ 100.000,00
(cem mil reais). Confira-se, a propósito, os seguintes trechos da
decisão de 2º Grau:

"Cinge-se a controvérsia recursal em saber se a omissão no


fornecimento de fármaco para continuidade de tratamento a que era
submetido o Paciente, à custa do Estado, é hábil ou não a ensejar
indenização aos filhos, seja pelo evento morte, seja pela perda de
uma chance de sobrevida do genitor.
A doença em estágio avançado, o tratamento médico a que era
submetido o genitor dos autores da ação, bem como a
ausência do medicamento em estoque são fatos
incontroversos nos autos.
A prova oral colhida em Juízo dá conta de que a interrupção de

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tratamento para o câncer enseja o desenvolvimento de resistência à
medicação, com a perda do benefício e riscos ao paciente, nos
termos abaixo:
(...)
O Recorrente admite que o Paciente recebera o tratamento, iniciado
com quimioterapia no dia 18 de fevereiro de 2013, passando a
receber tratamento com o fármaco GLIVEC, em seguida suspenso
em razão de não ter surtido o efeito esperado, e substituído, então,
pelo SUTENT. ministrado por dois ciclos e interrompido cm seguida,
sem início do 3o ciclo.
Ora, se o Paciente vinha recebendo tratamento adequado, as
alegações do Estado e o documento de fls. 138 evidenciam que tal
tratamento sofrerá solução de continuidade, já que inexistia em
estoque o SUTENT, pelo menos na nova dosagem prescrita pelo
médico do SUS.
E, inconteste, também, que o fármaco SUTENT (Sunitinibe) deveria
ter sido fornecido pelo Estado, a permitir a continuidade (3º ciclo)
daquele tratamento eleito e já iniciado em 25 de novembro de 2013,
sob pena de tornar inócuo o esforço de tratamento, colocando em
risco a vida do paciente.
Note-se. A simples afirmação de que não havia em estoque o
medicamento prescrito em nova dosagem corrobora a negativa de
fornecimento do fármaco para o 3o ciclo de tratamento. Portanto,
mesmo que em curto espaço de tempo, o tratamento deixou de
ser dispensado ao enfermo que veio a óbito em seguida. Há
nexo de causalidade entre a conduta omissiva e a precoce
morte do Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito, sequer
comprovado pelo Estado.
(...)
Portanto, a conduta omissiva do Estado em não fornecer o
medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um
benefício futuro provável, consubstanciado na esperança de
controle da evolução da doença. Segundo o citado Ministro Relator,
na perda de uma chance, há também prejuízo certo, e não apenas
hipotético, situando-se a certeza na probabilidade de obtenção de
um benefício frustrado por força do evento danoso. Repara-se a
chance perdida, e não o dano final.
Com efeito, é remansado no Superior Tribunal de Justiça o
entendimento de que a teoria da perda de uma chance aplica-se
quando o evento danoso acarreta para alguém a frustração da
chance de obter um proveito determinado ou de evitar uma perda.
Não se exige a comprovação da existência do dano final, bastando
prova da certeza da chance perdida, pois esta é o objeto de

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reparação. (STJ - Recurso Especial nº 1.291.247 RJ
(2011/0267279-8), 3ªTurma do STJ, Rel. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 19.08.2014, maioria, DJe 01.10.2014).
De conseqüência, é passível de responsabilização civil a omissão
do Estado quando, tendo o dever jurídico de agir, fica inerte.
O dever jurídico de agir - no caso, de fornecer medicamento que já
havia prescrito, por meio de médico da rede pública de saúde, e
cuja ministração tivera início outrora para subsequente continuidade
do tratamento omitido pelo Estado adquire relevância jurídica e o
torna responsável por criar o risco da ocorrência do resultado
danoso. Além do mais, a simples chance de sobrevivência ou
sobrevida passa a ser considerada como bem juridicamente
protegido, pelo que sua privação indevida é passível de reparação.
(...)
In casu, a responsabilidade é calcada na prevalência dos direitos
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da saúde (CF,
art. 1°, III, art. 6º), esse último, segundo o art. 196 da CF, direito de
todos e dever do listado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação. Sem falar no principio
basilar do neminem laedere, positivado no art. 5º, X, da CF, que
garante a integridade corporal e patrimonial da pessoa contra ato
lesivo e injusto de outrem.
É bem verdade que no direito brasileiro vige o principio da
causalidade direta ou imediata prevista no art. 403 do Código Civil.
Todavia, diante dos fatos exaustivamente analisados não se pode
perder de vista que a hipótese fática envolve uma omissão que,
acaso não tivesse ocorrido, poderia ter garantido a chance de um
resultado diverso, uma maior sobrevida do paciente.
Até porque a omissão, como dito alhures, adquire relevância
jurídica e toma o omitente responsável pelo dano, quando este tem
o dever jurídico de agir, de praticar um ato para impedir o resultado,
e se omite assumindo o risco pela ocorrência do resultado.
Diante disso, configurados todos os pressupostos primários que
determinam o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva da
entidade estatal, descabida a pretendida escusa ao dever de
indenizar reconhecido na sentença.
(...)
A compensação pecuniária, a ser deferida aos atingidos pelo dano
moral, deve ser efetivada em conformação com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando em consideração,
para seu arbitramento, as circunstâncias e peculiaridades da causa,
não podendo ser ínfimo, para não representar uma ausência de
sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não constituir um
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enriquecimento sem causa em favor do ofendido.
Nesse contexto, e considerando as circunstâncias do caso,
especialmente a dor e sofrimento impingidos aos quatro
Demandantes que não puderam desfrutar por mais algum
tempo da companhia do pai, portanto, atingidos na esfera
psíquica e familiar, julgo que o valor arbitrado pelo Juízo a quo,
de R$ 100.000,00, divididos entre eles, não se mostra excessivo
e nem irrisório para a reparação do dano" (fls. 248/252e).

Assim, dos trechos transcritos, infere-se que o acórdão recorrido


assentou a responsabilidade civil do Estado com base na
interpretação dos arts. 1º, 5º, 6º e 196 da CF/88. Assim, incabível a
análise do acerto da fundamentação do Tribunal de origem, de vez
que tal matéria, de ordem constitucional, não pode ser revista,
mediante Recurso Especial, sob pena de usurpação de competência
do STF.
Ainda que assim não fosse, considerando a conclusão do acórdão
recorrido, no sentido de que teria sido comprovada a
responsabilidade civil do Estado, somente poderia ser modificado
mediante o reexame dos aspectos concretos da causa, o que é
vedado, no âmbito do Recurso Especial, pela Súmula 7 desta Corte.
Ademais, ressalte-se que a jurisprudência deste Tribunal permite o
afastamento do óbice previsto na Súmula 7/STJ, apenas na hipótese
de fixação em valor irrisório ou abusivo, inocorrentes no presente
caso, em que, tendo em vista as especificidades da causa, foram
arbitrados em R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Ante o exposto, com fundamento no art. 255, § 4º, I, do RISTJ, não
conheço do Recurso Especial" (fls. 314/346e).

Inconformada, sustenta a parte agravante que:

"Inicialmente, cumpre rechaçar as razões para o não conhecimento do


Recurso Especial, porquanto a MM. Min. Relatora adentrou ao mérito do
recurso no tocante à fundamentação de violação ao art. 535, do CPC/73.
Pois bem, para afastar a violação ao art. 535, do CPC/73, a MM. Min.
Relatora fundamentou que “alegação de ofensa ao art. 535 do CPC/73 se
faz de forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais
o acórdão se fez omisso, contraditório ou obscuro, o que atrai o óbice da
Súmula 284/STF”.
Ocorre, Excelências, que nesse ponto a r. decisão merece reforma, razão
pela qual o Estado do Acre apela por um olhar mais atento ao nosso
Recurso Especial. Isso porque, a necessidade de trazer o malferimento
ao art. 535, do CPC/73 como tópico do apelo raro se deu justamente em
função do princípio da eventualidade! Isso porque, havia a possibilidade
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desse Eg. Tribunal Superior, quando da análise dos requisitos intrínsecos
ao recurso, se equivocar quando da análise da matéria e entendê-la
como não prequestionada.
Diante disso, o Estado do Acre houve por bem expor no seu apelo
especial a violação ao art. 535, do CPC/73 cometida pelo Tribunal de
origem, porquanto, não obstante as diversas arguições e tentativas por
parte deste Ente Público, o Tribunal a quo se manteve silente e se
recusou a se pronunciar quanto aos artigos apontados como violados,
sob o argumento de que o Estado do Acre pretendia a rediscussão do
caso, o que não aconteceu, conforme restará demonstrado.
Em sua Apelação, o Estado do Acre trouxe a tese de que houve mácula
aos arts. 393 (caso fortuito como excludente de responsabilidade) e art.
944 do Código Civil (redução do valor do dano moral fixado). Ocorre que
quando do acórdão proferido pelo Tribunal a quo, verificou-se que não
houve expressa menção dos artigos e tampouco enfrentamento detido
dessas teses.
Quanto ao caso fortuito, o Tribunal de origem foi omisso em se
pronunciar, tendo em vista que aduziu muito genericamente para afastar
a excludente levantada, arguindo tão somente que verificavam presentes
os requisitos de responsabilizadores do Ente Público, razão pela qual
inexistia causa excludente.
Vislumbra-se, portanto, que o Tribunal do Estado do Acre em momento
algum se debruçou na análise do caso fortuito levantado, tendo tão
somente presumido genericamente sua ausência, e, ainda, não
prequestionando devidamente o dispositivo ventilado.
Ademais, não houve manifestação expressa sobre o art. 944 do Código
Civil, a justificar o entendimento sufragado no acórdão de que a
condenação do Estado no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais)
revela-se adequado aos supostos danos morais sofridos pelos Autores.
Dessa forma, como a “indenização mede-se pela extensão do dano”, o
acórdão foi omisso no apontamento da extensão, alcance e
representação do fato na vida dos Autores, a justificar o valor arbitrado.
A não indicação dos dispositivos em questão constitui-se em grave
omissão, tendo em vista que poderia inviabilizar o manejo do Recurso
Especial. Salienta-se que, não obstante a oposição de Embargos
Declaratórios, o Tribunal a quo manteve-se silente.
Esclarecido isso, verifica-se que, o Tribunal de Justiça do Estado do Acre
foi flagrantemente omisso, razão pela qual se sustenta o malferimento ao
art. 535, do CPC/73.
(...)
Ainda, a MM. Min. Relatora, aduziu que, em razão do v. acórdão proferido
pelo Tribunal de origem ter se manifestado acerca dos arts. 1º, 5º, 6º e
196 da CF/88, para basear a teratologia da decisão proferida, ao Estado
do Acre não se reserva o direito de acionar esse Superior Tribunal de
Justiça por meio de Recurso Especial, sob o fundamento de a matéria é
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unicamente de ordem constitucional, o que causaria usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal.
Inicialmente, é importante esclarecer que o Tribunal de origem acionou
tais dispositivos constitucionais tão somente para tratar de uma questão
muito pontual, que não necessariamente é toda a matéria aqui discutida.
Verifica-se do v. acórdão do TJAC que os artigos constitucionais foram
usados para galgar argumento de que a responsabilidade do Ente Público
seria objetiva, tendo em vista o que aduz o princípio da dignidade da
pessoa humana, vejamos o trecho que o acórdão faz referência a esses
dispositivos:
(...)
Ora, Excelências, conforme se depreende de toda a argumentação
trazida no apelo especial, verifica-se que essa questão da natureza da
responsabilidade do Ente Público (se objetiva ou subjetiva) não é o único
ponto desse caso, que se desdobra em vários outros pontos.
Para além disso, não obstante os artigos constitucionais apontados, nada
impede que o TJAC tenha cometido violação à legislação federal quando
da sua decisão!
(...)
Ademais, no tocante à questão do caso fortuito, essa em nada enseja
causa constitucional, não havendo que se falar em competência do
Supremo para julgar a causa.
Isso porque, como é sabido, o Código Civil adotou a teoria da
causalidade direta ou imediata no seu art. 403 (Ainda que a inexecução
resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos
efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem
prejuízo do disposto na lei processual).
É certo que há necessidade de se fazer prova de que tal omissão foi
preponderante para a ocorrência do dano. Isso porque, em que pese a
alegação de demora no fornecimento do medicamento, não há nenhum
elemento nos autos que demonstre o nexo de causalidade entre o
suposto atraso e o óbito do paciente.
(...)
Ora, Excelências, completamente prescindível se mostra debruçar-se em
face das especificidades fáticas do caso em tela, uma vez que a lesão
aos preceitos legais destacados se mostra aferível pela simples análise
do acórdão recorrido, ou, mais precisamente das conclusões exaradas
pelo Egrégio Tribunal de Justiça a quo diante da apreciação dos fatos
apresentados.
No caso em tela, o que se busca é a correta aplicação do direito, a fim de
que seja respeitado o próprio ordenamento pátrio infraconstitucional que
se dispõe a favor do Estado do Acre.
É certo que verificar a questão da Responsabilidade Civil do Estado, se
objetiva ou subjetiva em nada obriga essa Corte se debruçar sobre
provas, mas tão somente aplicar ao caso concreto a jurisprudência
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dominante desse próprio Tribunal Superior que, conforme já supracitado,
está em nosso favor.
Ainda, basta uma simples análise o acórdão impugnado, sem para tanto
se imiscuir em uma revaloração fática incompatível com o rito recursal
extraordinário, já de pronto denota que o medicamento solicitado junto a
órgão dos quadros da Administração Estadual estava em falta em virtude
de os laboratórios que o fabricam estarem, à época, submetidos a uma
EXCEPCIONAL SITUAÇÃO DE CARÊNCIA DE MATÉRIA PRIMA,
consoante informado pelas as empresas farmacêuticas que o fornecem
ao Estado, motivo pelo qual este Ente Público não o tinha em estoque,
muito menos conseguia obtê-lo junto as empresas farmacológicas
respectivas. Perceba-se, portanto, que a falta do medicamento não pode
ser imputada ao Estado do Acre, mas sim a um caso fortuito.
É certo que os fatos apurados, utilizados como embasamento do Recurso
Especial são fatos já delineados e incontroversos dos autos, não
pretendendo o Estado do Acre questionar o quadro fático definido no
julgamento a quo, mas tão somente os dispositivos legais que embasam
a defesa do Ente Público" (fls. 375/384e).

Por fim, "o Estado do Acre pugna pela reconsideração da r. decisão


monocrática proferida ou, em assim não se entendendo, que seja o presente Agravo
Regimental analisado pela Turma competente, reformando a r. decisão agravada" (fl.
389e).
Impugnação da parte agravada, a fls. 400/402e, pelo improvimento do
recurso.
É o relatório.

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Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.177 - AC (2016/0004941-5)

VOTO

MINISTRA ASSUSETE MAGALHÃES (Relatora): Não obstante os


combativos argumentos da parte agravante, as razões deduzidas neste Agravo interno
não são aptas a desconstituir os fundamentos da decisão atacada, que merece ser
mantida.
Na origem, trata-se de ação de indenização por danos morais e materiais,
proposta por Joelson de Almeida Souza, Jairo de Almeida Souza, Jailson de Almeida
Souza e Joaquim de Almeida Souza, em desfavor do Estado do Acre, em decorrência da
não disponibilização de medicamento para tratamento de câncer, na rede pública
estadual de saúde, resultando no óbito de seu genitor.
O Juízo de 1º Grau julgou "procedente em parte o pedido, com base no art.
37, § 6º da Constituição Federal, e 27, § 4º da Constituição Estadual, bem como na
teoria da perda de uma chance, para condenar o Estado do Acre a responder pelos
danos morais causados, pagando indenização no montante de R$ 100.000,00 (cem mil
reais), distribuídos em R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) para cada um dos autores,
a qual não é tão ínfima de modo a ensejar verdadeiro incentivo á repetição dos fatos
pela parte ré nem tão elevada a ponto de constituir verdadeiro enriquecimento sem
causa aos requerentes" (fl. 206e).
O Tribunal de origem manteve a sentença de parcial procedência, nos
seguintes termos:

"Inicialmente, convém considerar que, na hipótese de o dano ser


originado de comportamento omissivo, o Estado só responderá se
houver omitido dever que lhe tenha sido prescrito pelas normas.
Sob o prisma jurídico, a mera inação não configura omissão, esta só
se perfaz quando tendo o dever jurídico de agir, o Estado fica inerte.
No tocante ao tipo de responsabilidade aqui tratada, deve ser
lembrado que estamos diante de uma conduta omissiva. Neste
ponto, esbarramos na primeira discussão, qual seja, se o art. 37, §
6º, da Constituição Federal, diz respeito apenas a condutas
comissivas da Administração.
A orientação que vem prevalecendo nas Turmas do Supremo
Tribunal Federal é no sentido de que subsiste a responsabilidade
objetiva em se tratando de conduta omissiva, devendo esta ser
apurada pela existência de um dever jurídico, como dito acima.
(...)
Sobre a teoria da responsabilidade objetiva, perfilho do
entendimento daqueles que a defendem tanto para a conduta
comissiva, como para a omissiva, aplicando-se, para ambos, a
norma do art. 37, § 6o, da Constituição Federal, e a compreendendo a
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Superior Tribunal de Justiça
partir da Teoria do Risco.
Pois bem.
Cinge-se a controvérsia recursal em saber se a omissão no
fornecimento de fármaco para continuidade de tratamento a que era
submetido o Paciente, à custa do Estado, é hábil ou não a ensejar
indenização aos filhos, seja pelo evento morte, seja pela perda de
uma chance de sobrevida do genitor.
A doença em estágio avançado, o tratamento médico a que era
submetido o genitor dos autores da ação, bem como a ausência do
medicamento em estoque são fatos incontroversos nos autos.
A prova oral colhida em Juízo dá conta de que a interrupção de
tratamento para o câncer enseja o desenvolvimento de resistência à
medicação, com a perda do benefício e riscos ao paciente, nos termos
abaixo:

Que trabalha no UNACON, e se recorda do paciente. Que o


paciente tomou inicialmente GLIVEC, porém a doença progrediu e o
medicamento não serviu mais, sendo ministrado um medicamento
de segunda linha, chamado SUTENT. Que não se recorda se o
paciente chegou a tomar esse fármaco.
Após três ciclos de tratamento é que é feita uma avaliação sobre a
resposta do tratamento. Cada ciclo é de seis semanas. Que essa
resposta é individual, de modo que o paciente pode responder,
mantendo a doença estável, ou não responder ao tratamento. Que
o medicamento é um comprimido para uso fora do hospital. No caso
do genitor dos autores, a depoente se recorda que em um momento
faltou essa medicação e a depoente não se recorda se ele já estava
tomando o medicamento ou se não chegou a iniciar o tratamento.
Que esse fármaco é uma das drogas mais atuais para o tratamento
do câncer e faz parte da quimioterapia. Que a depoente não tem
como associar o óbito à falta de medicamento, mas sabe que
não foi feito nenhum outro tratamento. pois esse é uma das
poucas opções existentes para estabelecer um ganho de
tempo de sobrevida com o remédio. As perguntas do procurador
do Estado, respondeu que: não havia chance de cura para o tumor
desse paciente, que era inoperável, apenas de tratamento para
melhora de qualidade de vida e ganho de tempo desobrevida.
Trata-se de um medicamento de controle e não de cura. E uma
droga já estabelecida. A dosagem reduzida ao paciente deveu-se
ao fato da tolerância à toxicidade, e de que o paciente já não eslava
muito bem, passava mais de 50% do tempo deitado. A dose padrão
é 50 mg, ajustável de acordo com a performance do paciente. Que
não se recorda qual era o medicamento que não tinha, pois há duas
formas de apresentação (50mg e 25mg). Caso esse medicamento

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Superior Tribunal de Justiça
não desse certo não haveria uma terceira linha de tratamento
para esse caso, para aumentar a sobrevida do paciente. O
paciente estava em estágio avançado, o tumor era grande e
inoperável, sem caráter curativo. A cura seria cirúrgica. As
perguntas da advogada da parte autora, respondeu: sobrevida
global é a sobrevivência do doente não apenas relacionada à
doença. No caso do paciente a depoente não se recorda de como
aconteceu o tratamento do autor nos ciclos do medicamento, o que
teria que ser visto no prontuário. A interrupção de tratamento
para o câncer é o desenvolvimento de resistência à medicação,
com a perda do benefício, e riscos ao paciente. A resposta após
a interrupção do tratamento depende do organismo de cada
paciente. Nada mais disse. (Livia Rodrigues da Silva Bessa, CRM
1221-AC, RG 380158243-SSP-SP).

O Recorrente admite que o Paciente recebera o tratamento, iniciado com


quimioterapia no dia 18 de fevereiro de 2013, passando a receber
tratamento com o fármaco GLIVEC, em seguida suspenso em razão de
não ter surtido o efeito esperado, e substituído, então, pelo SUTENT.
ministrado por dois ciclos e interrompido cm seguida, sem início do 3o
ciclo.
Ora, se o Paciente vinha recebendo tratamento adequado, as
alegações do Estado e o documento de fls. 138 evidenciam que tal
tratamento sofrerá solução de continuidade, já que inexistia em
estoque o SUTENT, pelo menos na nova dosagem prescrita pelo
médico do SUS.
E, inconteste, também, que o fármaco SUTENT (Sunitinibe) deveria
ter sido fornecido pelo Estado, a permitir a continuidade (3º ciclo)
daquele tratamento eleito e já iniciado em 25 de novembro de 2013,
sob pena de tornar inócuo o esforço de tratamento, colocando em
risco a vida do paciente.
Note-se. A simples afirmação de que não havia em estoque o
medicamento prescrito em nova dosagem corrobora a negativa de
fornecimento do fármaco para o 3o ciclo de tratamento. Portanto,
mesmo que em curto espaço de tempo, o tratamento deixou de ser
dispensado ao enfermo que veio a óbito em seguida. Há nexo de
causalidade entre a conduta omissiva e a precoce morte do
Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma sobrevida, não
havendo que se falar em caso fortuito, sequer comprovado pelo
Estado.
(...)
Portanto, a conduta omissiva do Estado em não fornecer o
medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um
benefício futuro provável, consubstanciado na esperança de
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Superior Tribunal de Justiça
controle da evolução da doença. Segundo o citado Ministro Relator,
na perda de uma chance, há também prejuízo certo, e não apenas
hipotético, situando-se a certeza na probabilidade de obtenção de
um benefício frustrado por força do evento danoso. Repara-se a
chance perdida, e não o dano final.
Com efeito, é remansado no Superior Tribunal de Justiça o entendimento
de que a teoria da perda de uma chance aplica-se quando o evento
danoso acarreta para alguém a frustração da chance de obter um
proveito determinado ou de evitar uma perda. Não se exige a
comprovação da existência do dano final, bastando prova da certeza da
chance perdida, pois esta é o objeto de reparação. (STJ - Recurso
Especial nº 1.291.247 RJ (2011/0267279-8), 3ªTurma do STJ, Rel. Paulo
de Tarso Sanseverino, j. 19.08.2014, maioria, DJe 01.10.2014).
De conseqüência, é passível de responsabilização civil a omissão do
Estado quando, tendo o dever jurídico de agir, fica inerte.
O dever jurídico de agir - no caso, de fornecer medicamento que já havia
prescrito, por meio de médico da rede pública de saúde, e cuja
ministração tivera início outrora para subsequente continuidade do
tratamento omitido pelo Estado adquire relevância jurídica e o torna
responsável por criar o risco da ocorrência do resultado danoso. Além do
mais, a simples chance de sobrevivência ou sobrevida passa a ser
considerada como bem juridicamente protegido, pelo que sua privação
indevida é passível de reparação.
(...)
In casu , a responsabilidade é calcada na prevalência dos direitos
constitucionais da dignidade da pessoa humana e da saúde (CF, art.
1°, III, art. 6º), esse último, segundo o art. 196 da CF, direito de todos
e dever do listado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
a sua promoção, proteção e recuperação. Sem falar no principio
basilar do neminem laedere, positivado no art. 5º, X, da CF, que
garante a integridade corporal e patrimonial da pessoa contra ato
lesivo e injusto de outrem.
É bem verdade que no direito brasileiro vige o principio da
causalidade direta ou imediata prevista no art. 403 do Código Civil.
Todavia, diante dos fatos exaustivamente analisados não se pode
perder de vista que a hipótese fática envolve uma omissão que,
acaso não tivesse ocorrido, poderia ter garantido a chance de um
resultado diverso, uma maior sobrevida do paciente.
Até porque a omissão, como dito alhures, adquire relevância jurídica e
toma o omitente responsável pelo dano, quando este tem o dever jurídico
de agir, de praticar um ato para impedir o resultado, e se omite
assumindo o risco pela ocorrência do resultado.
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Superior Tribunal de Justiça
Diante disso, configurados todos os pressupostos primários que
determinam o reconhecimento da responsabilidade civil objetiva da
entidade estatal, descabida a pretendida escusa ao dever de
indenizar reconhecido na sentença.
A respeito da configuração do dano moral sofrido por filhos cm
decorrência da morte de seu genitor, é entendimento sufragado no
Superior Tribunal de Justiça de que não há falar cm prova; o que sc deve
comprovar c o fato que gerou a dor, o sofrimento. Provado o fato,
impõe-se a condenação, pois, nesses casos, em regra, considera-se o
dano in re ipsa. (AgRg no AREsp 259.222/SP, Rei. Ministro SIDNEI
BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2013, DJe 28/02/2013).
A compensação pecuniária, a ser deferida aos atingidos pelo dano
moral, deve ser efetivada em conformação com os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, levando em consideração,
para seu arbitramento, as circunstâncias e peculiaridades da causa,
não podendo ser ínfimo, para não representar uma ausência de
sanção efetiva ao ofensor, nem excessivo, para não constituir um
enriquecimento sem causa em favor do ofendido.
Nesse contexto, e considerando as circunstâncias do caso,
especialmente a dor e sofrimento impingidos aos quatro
Demandantes que não puderam desfrutar por mais algum tempo da
companhia do pai, portanto, atingidos na esfera psíquica e familiar,
julgo que o valor arbitrado pelo Juízo a quo, de R$ 100.000,00,
divididos entre eles, não se mostra excessivo e nem irrisório para a
reparação do dano.
Desse modo, não merece reparo o valor da indenização fixada
originalmente, pois guarda adstrição aos princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade aos objetivos nucleares da reparação. Vide, a respeito,
o seguinte julgado:
(...)
Com forte nas razões acima, voto pelo desprovimento da apelação para
manter incólume a sentença recorrida, bem como pela improcedência do
reexame necessário" (fls. 245/253e).

Por ocasião do julgamento dos Embargos Declaratórios, o Tribunal de


origem assim se manifestou:

"No acórdão em discussão, todavia, inexiste qualquer vício suscetível de


correção por meio de embargos dc declaração, consoante é possível
aferir de seu teor, na parte que interessa ao Recorrente:
(...)
Vê-se, portanto, que o acórdão enfrentou expressamente a questão
da responsabilidade decorrente de conduta do Estado, deixando
inequívoco o posicionamento adotado de que o art. 37, § 6º, da
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Superior Tribunal de Justiça
Constituição Federal, tem aplicação tanto para a conduta comissiva,
quanto para a conduta omissiva do Ente público.
Analisou, também, a excludente de responsabilidade com base no
deduzido caso fortuito, sequer comprovado pelo Estado, cujo ônus,
segundo a Teoria do Risco, é exclusivamente da Administração.
Ademais, constou no voto que, uma vez comprovado o nexo de
causalidade entre a conduta omissiva e a precoce morte do
Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma sobrevida, não
há que se falar em caso fortuito.
Quanto à extensão do dano para efeito de se estabelecer a
indenização correspondente, o julgado foi igualmente expresso ao
assentar que as circunstâncias do caso, especialmente a dor e
sofrimento impingidos aos quatro Demandantes que não puderam
desfrutar por mais algum tempo da companhia do pai, portanto,
atingidos na esfera psíquica e familiar, justificavam a manutenção
do valor arbitrado pelo Juízo a quo, de RS 100.000,00, que, divididos
entre eles, não se mostrava excessivo e nem irrisório para a
reparação do dano.
De arremate, avulta lembrar que os embargos de declaração, segundo
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ainda que opostos com o
objetivo de prequestionamento visando a interposição do apelo
extraordinário, não podem ser acolhidos quando inexistentes omissão,
contradição ou obscuridade na decisão recorrida (EDcl no MS 11.484/DF,
Rel. Min. PAULO GALLOTTI, Terceira Seção, DJ 2/10/2006).
(...)
Face o exposto, voto pela rejeição dos presentes embargos de
declaração, à míngua de omissão a ser corrigida no acórdão embargado"
(fls. 272/277e).

Quanto à alegação de negativa de prestação jurisdicional, feita sob a égide


do CPC/73, verifica-se que, apesar de apontar como violado o art. 535 do CPC/73, o
recorrente não evidencia qualquer vício, no acórdão recorrido – limitando-se a afirmar
que, "houve omissão por parte do egrégio órgão julgador ao não se pronunciar acerca da
violação aos referidos dispositivos legais, a qual perdurou mesmo após a oposição dos
embargos de declaração, sob o argumento de que estes apenas se destinavam a
rediscutir a causa" (fl. 325e) –, deixando de demonstrar no que consistiu a alegada
ofensa ao citado dispositivo, atraindo, por analogia, a incidência da Súmula 284 do STF.
Nesse sentido: STJ, AgRg no AREsp 422.907/RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, DJe de 18/12/2013; AgRg no AREsp 75.356/SC, Rel. Ministro
SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de 21/10/2013.
Ademais, ainda que afastado o óbice da Súmula 284/STF, no ponto,
cumpre asseverar que, ao contrário do que ora se sustenta, não houve violação ao art.
535, II, do Código de Processo Civil de 1973, pois a prestação jurisdicional foi dada na
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Superior Tribunal de Justiça
medida da pretensão deduzida, de vez que os votos condutores do acórdão recorrido e
do acórdão proferido em sede de Embargos de Declaração apreciaram,
fundamentadamente e de modo completo, todas as questões necessárias à solução da
controvérsia, dando-lhes, contudo, solução jurídica diversa da pretendida.
Assim, "a solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente,
não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC" (STJ, AgInt no AgInt no AREsp
867.165/MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de
19/12/2016).
Vale ressaltar, ainda, que não se pode confundir decisão contrária ao
interesse da parte com ausência de fundamentação ou negativa de prestação
jurisdicional. Nesse sentido: STJ, REsp 801.101/MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, DJe de 23/04/2008.
A propósito, ainda:

"ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL


DO ESTADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. REEXAME DE FATOS E
PROVAS.
1. Não há violação ao art. 535 do CPC quando a prestação
jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida e a decisão
está suficientemente fundamentada.
(...)
Agravo regimental improvido" (STJ, AgRg no AREsp 433.424/SC, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
17/02/2014).

Ademais, não cabem Declaratórios com objetivo de provocar


prequestionamento, se ausentes omissão, contradição ou obscuridade no julgado (STJ,
AgRg no REsp 1.235.316/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA
TURMA, DJe de 12/05/2011), bem como não se presta a via declaratória para obrigar o
Tribunal a reapreciar provas, sob o ponto de vista da parte recorrente (STJ, AgRg no Ag
117.463/RJ, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, DJU de
27/10/1997).
No que tange à responsabilidade civil do Estado, verifica-se que o acórdão
de 2º Grau decidiu a controvérsia sob o enfoque eminentemente constitucional,
notadamente à luz dos arts. 1º, III, 5º, X, 6º, 37, § 6º, e 196 da Constituição Federal.
Dessa forma, compete ao Supremo Tribunal Federal eventual reforma do acórdão
recorrido, no mérito, sob pena de usurpação de competência inserta no art. 102 da
Constituição Federal.
A propósito:

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL

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Superior Tribunal de Justiça
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENSÃO. VIOLAÇÃO DO
ARTIGO 535, II, DO CPC. ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA
284/STF. ACÓRDÃO QUE DIRIMIU A CONTROVÉRSIA COM
FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL. APRECIAÇÃO PELO STJ.
INVIABILIDADE.
1. Não se conhece da suposta afronta ao artigo 535 do CPC quando a
parte recorrente se limita a afirmar, genericamente, sua violação, sem,
contudo, demonstrar, especificamente, que temas não foram abordados
pelo acórdão impugnado. Incidência da Súmula 284/STF.
2. O acórdão recorrido dirimiu a controvérsia com fundamento no
artigo 40, § 7º, da Constituição Federal, o que afasta a competência
do STJ para a apreciação da matéria trazida nos presentes autos,
pois de cunho eminentemente constitucional, cabendo, tão-somente,
ao STF o exame de eventual ofensa. Precedentes: AgRg no AREsp
171.371/MS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, DJe 19/9/2014; AgRg no AREsp 537.171/MG, Rel. Ministro
Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 16/9/2014.
3. Agravo regimental não provido" (STJ, AgRg no AREsp 584.240/RS,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, DJe de
03/12/2014).

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ANOTAÇÃO DE


RESPONSABILIDADE TÉCNICA - ART. FIXAÇÃO E COBRANÇA PELO
CREA. ACÓRDÃO DE ORIGEM FUNDAMENTADO EM MATÉRIA
EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO STF.
1. O Tribunal de origem concluiu pela constitucionalidade do art. 11 da Lei
n. 12.514/2011, o qual dispõe sobre o valor da Taxa de Anotação de
Responsabilidade Técnica, utilizando-se de entendimento do STF e da
interpretação da CF/1988.
2. É inviável, em recurso especial, a análise de ofensa à matéria
constitucional, sob pena de o STJ invadir a competência
constitucionalmente atribuída ao STF.
Agravo regimental improvido" (STJ, AgRg no REsp 1.473.025/PR, Rel.
Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de
03/12/2014).

Ainda que assim não fosse, o Tribunal de origem, com base no exame dos
elementos fáticos dos autos, consignou que "há nexo de causalidade entre a conduta
omissiva e a precoce morte do Paciente, de quem lhe foi retirada a chance de uma
sobrevida, não havendo que se falar em caso fortuito, sequer comprovado pelo Estado"
(fl. 249e).
Ainda segundo o acórdão de 2º Grau, "a conduta omissiva do Estado em
não fornecer o medicamento impediu que o enfermo tivesse a possibilidade de um
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Superior Tribunal de Justiça
benefício futuro provável, consubstanciado na esperança de controle da evolução da
doença".
Nesse contexto, considerando a fundamentação do acórdão objeto do
Recurso Especial, os argumentos utilizados pela parte recorrente, no sentido de que não
teria sido comprovada a responsabilidade civil do Estado, somente poderiam ter sua
procedência verificada mediante o necessário reexame de matéria fática, não cabendo a
esta Corte, a fim de alcançar conclusão diversa, reavaliar o conjunto probatório dos
autos, em conformidade com a Súmula 7/STJ.
A propósito:

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE


CIVIL DO ESTADO. NEXO CAUSAL E DANO MORAL
RECONHECIDOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. REDUÇÃO DO
QUANTUM INDENIZATÓRIO. REEXAME DE MATÉRIA
FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. Hipótese em que o Tribunal de origem reconheceu expressamente a
existência do ato ilícito, do nexo causal e do dano moral, in verbis :
"Inegável, que a instauração do processo criminal de maneira ilegítima,
em decorrência da atuação da profissional no exercício das atribuições de
seu cargo, acarretou indignação, angústia e perplexidade a autora,
predicados ínsitos ao dano moral, o que resta configurado, mormente
diante de uma conduta reprovável por parte dos réus Marcus Vinicius
Nadal Borsato e CREA/PR. (...) O nexo de causalidade entre o
comportamento dos réus e o dano causado a autora é patente, pois
ambos atuaram conjuntamente de modo a desqualificá-la
profissionalmente, bem como, têm parcela de culpa nos dissabores e
transtornos a que foi submetida pelo ataque à sua reputação, tanto no
campo pessoal quanto profissional". Além disso, fixou o quantum
indenizatório com base nos elementos fáticos-probatórios dos autos:
"Considerando que a denúncia ao CREA/PR foi apresentada pelo réu
Marcus Vinicius Nadal Borsato em 03/05/2010 e que o arquivamento
definitivo dos autos do procedimento criminal ocorreu em 16/06/2011,
temos um período de 1 ano e 1 mês, ou seja, é possível adotar como
parâmetro para o cálculo o total de 395 dias.Assim, estabeleço a verba
indenizatória em R$44.445,00, pro rata, montante este correspondente ao
valor diário do salário básico do Analista Ambiental (R$112,52)
multiplicado pelo número de dias em que perdurou o dano (395), visando
dar atendimento tanto a satisfação daquele que suportou o dano (sem
incorrer em enriquecimento ilícito), e, simultaneamente, a incentivar a
abstenção do ato que deu origem ao prejuízo, coibindo o desvio de
comportamento dos lesantes".
2. É inviável analisar as teses defendidas no Recurso Especial -
inexistência de ato ilícito, ausência de dano moral e nexo causal, e
exorbitância do quantum indenizatório -, pois inarredável a revisão
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do conjunto probatório dos autos para afastar as premissas fáticas
estabelecidas pelo acórdão recorrido. Incidência do óbice da Súmula
7/STJ.
3. Agravo Interno não provido" (STJ, AgInt no REsp 1.545.741/PR, Rel.
Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de 12/09/2016).

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS
282 E 356/STF. REEXAME DA PROVA. SÚMULA 7/STJ.
1. Os arts. 2º, caput e parágrafo único, VII, e 50 da Lei n. 9.784/99 não
foram objeto de análise pelo Tribunal de origem. Desse modo, carece o
tema do indispensável prequestionamento viabilizador do recurso
especial, razão pela qual não merece ser apreciado, nos termos do que
preceituam as Súmulas 282 e 356 do STF.
2. Na via especial, não cabe a análise de tese recursal que demande
a incursão na seara fático-probatória dos autos. Incidência da
orientação fixada pela Súmula 7 do STJ.
3. Agravo interno a que se nega provimento" (STJ, AgInt no AREsp
912.470/SC, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de
24/10/2016).

"ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DE
FUNDAMENTO BASILAR DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA N.
283/STF. SÚMULA 83/STJ. APLICABILIDADE AOS RECURSOS
ESPECIAIS INTERPOSTOS COM BASE NAS ALÍNEAS A E C DO
PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. EXECUÇÃO DEFLAGRADA PELO
DEVEDOR. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO. NÃO
CABIMENTO.
1. Não se mostra passível de acolhimento os argumentos da parte
recorrente que demandam o reexame de matéria fático-probatória,
tendo em vista o óbice previsto na Súmula 7/STJ.
(...)
5. Agravo regimental a que se nega provimento" (STJ, AgRg no AREsp
803.101/MG, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
19/05/2016).

Por fim, o mesmo óbice incide quanto à pretendida redução do quantum


indenizatório.
Com efeito, "a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido
de que a revisão dos valores fixados a título de danos morais somente é possível
quando exorbitante ou insignificante, em flagrante violação aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, o que não é o caso dos autos. A verificação da
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razoabilidade do quantum indenizatório esbarra no óbice da Súmula 7/STJ" (STJ, AgInt
no AREsp 927.090/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, DJe de
08/11/2016).
No mesmo sentido:

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. DANO MORAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA
7/STJ.
1. É deficiente a alegação genérica de violação do art. 535 do CPC/1973,
configurada quando o jurisdicionado não expõe objetivamente o ponto
supostamente omitido pelo Tribunal local. Incidência da Súmula 284/STF.
2. Ressalvadas as hipóteses de valor irrisório ou excessivo, é
vedada a rediscussão da quantia fixada a título de indenização por
dano moral. No caso, para afirmar a correção ou não da quantia
estabelecida na origem, seria necessário reexaminar o conjunto
fático-probatório dos autos. Incidência da Súmula 7/STJ.
3. Agravo interno a que se nega provimento" (STJ, AgInt no REsp
1.616.225/SE, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe
de 08/02/2017).

No caso, o Tribunal de origem à luz das provas dos autos e em vista das
circunstâncias fáticas do caso, manteve a indenização por danos morais fixada, em 1º
Grau, em R$ 100.000,00 (cem mil reais), a ser divido pelos quatro autores, quantum
que não se mostra excessivo, diante das peculiaridades da causa, expostas no acórdão
recorrido.
Tal contexto não autoriza a redução pretendida, de maneira que não há
como acolher a pretensão do recorrente, em face da Súmula 7/STJ.
Assim, incensurável a decisão ora agravada, que deve ser mantida, por
seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao Agravo interno.
É o voto.

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Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2016/0004941-5 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.577.177 / AC

Números Origem: 07035982620148010001 7035982620148010001


PAUTA: 20/06/2017 JULGADO: 20/06/2017

Relatora
Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. SANDRA VERÔNICA CUREAU
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ESTADO DO ACRE
ADVOGADO : ROBERTO ALVES GOMES - AC004232
RECORRIDO : JOELSON DE ALMEIDA SOUZA
RECORRIDO : JAIRO DE ALMEIDA DE SOUZA
RECORRIDO : JAILSON DE ALMEIDA SOUZA
RECORRIDO : JOAQUIM DE ALMEIDA SOUZA
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE
ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO -
Responsabilidade da Administração

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : ESTADO DO ACRE
ADVOGADO : ROBERTO ALVES GOMES - AC004232
AGRAVADO : JOELSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JAIRO DE ALMEIDA DE SOUZA
AGRAVADO : JAILSON DE ALMEIDA SOUZA
AGRAVADO : JOAQUIM DE ALMEIDA SOUZA
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO ACRE

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos termos do voto
do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Herman Benjamin, Og Fernandes e Mauro Campbell
Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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