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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E INFORMÁTICA

CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

TRABALHO DE LICENCIATURA

TEMA:

MAPEAMENTO CADASTRALDE PARCELAS

CASO EM ESTUDO: BAIRRO CUMBEZA, DISTRITO DE MARRACUENE, PROVÍNCIA DE


MAPUTO

Autor: Wilson João Novele


Wilson João Novele

TEMA:

MAPEAMENTO CADASTRAL DE PARCELAS

CASO EM ESTUDO: BAIRRO CUMBEZA, DISTRITO DE MARRACUENE, PROVÍNCIA DE


MAPUTO

Trabalho final do curso apresentado em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para a obtenção
do grau de Licenciatura em Ciências de Informação Geográfica, pela Universidade Eduardo Mondlane

Supervisor: Eng.ºSalvador Jossias

Maputo, Setembro de 2015


DEDICATÓRIA
Aos meus pais Lizete Leonardo Paruque e João Domingos Novele, com amor, admiração e
gratidão pela sua compreensão, carinho, presença e o incansável apoio em todo o meu percurso
estudantil, aos meus irmãos, Ester, Revelino, Benildo, Ercílio e Júnior e à minha sobrinha Nicole.

i
AGRADECIMENTOS
À Deus todo-poderoso pela vida, saúde, protecção, amor, pelas alegrias e maravilhas e pela força
concedida no quotidiano e em todos momentos difíceis no meu percurso até na fase actual.

À ele, toda a Honra e toda a Glória, agora e para sempre! Agradeço a família por tudo aquilo que
me ensinaram e pelos diferentes momentos de dificuldades que enfrentamos, mas que não impediram
que me dessem todos os apoios necessários, moral e o calor humano desde a minha nascença. Aos
meus familiares, amigos e prezados irmãos Anglicanos em especial, a juventude do Coral Robert Gray
e meus padrinhos, pelos ensinamentos, pelo amor, carinho, força e pelo incentivo incansável por eles
dado.Ao corpo docente desta prestigiada instituição que contribuiu para a minha formação, destacando
Doutor António Assane, Msc Márcio Mathe e Doutor Ernesto Muheca, aonde neste período de
convivência muito aprendi, contribuindo para meu crescimento científico e intelectual.

Ao meu supervisor o Eng.ºSalvador Jossias e o dr. Daniel Queface, pela atenção e apoio durante o
processo de definição do tema e pela supervisão e orientação e acima de tudo pelos conhecimentos por
eles transmitidos, para a realização do presente trabalho.

Aos responsáveis dos vários sectores ou departamentos da DNTF onde foi realizado o estágio
profissional, e onde foram feitas as recolhas de dados e informação, pela sua disponibilidade, a atenção
prestada, pela forma simpática e acolhedora que me receberam.Não,poderiaesquecer-me dos demais
colegas e amigos do curso: Pedro Paruque, Eugénio Ndimande, Germano Ramos, Gil Mata, Onésio
Guiamba, Hélder Macuácuá, Madona Mondlane, Juvêncio Comé, TitosNhambi, Tiago Chivindze,
Hélio Cuambe; pela parceria e bons momentos durante a carreira estudantil. Em especial agradeço ao
meu amigo e colega Bruno Chemane pela amizade, pelo amor, afecto, pela atenção, pela troca de ideias
e experiências durante o processo de formação neste curso.

O meu grande obrigado pela força, apoio e compreensão todos que directamente ou indirectamente, de
qualquer forma tornaram possível a realização presente Trabalho.

ii
DECLARAÇÃO SOB COMPROMISSO DE HONRA
Declaro por minha honra que o presente trabalho foi resultado da minha própria investigação e o
mesmo foi concebido para ser submetido como trabalho para obtenção do grau de Licenciatura em
Ciências de Informação Geográfica na Faculdade de Ciências no Departamento de Matemática e
Informática da Universidade Eduardo Mondlane.

Maputo, Setembro de 2015

O Autor

______________________________________________

(Wilson João Novele)

iii
LISTA DE ACRÔNIMOS

ACRÔNIMO DESCRIÇÃO
CENACARTA Centro Nacional de Teledetação e Cartografia
DGPS (Differential GPS) Modo Diferencial de Posicionamento GPS
DNTF Direcção Nacional de Terras Florestas
DOP (Diluition of Precision) Diluição da Precisão
DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
GIS Geographic Information System
(Global Navigation Satellite System) Sistema de Navegação Global por
GLONASS
Satélite)
GNSS (Global Navigation Satellite System) Sistema de Navegação por Satélite
GPS (Global Position System) Sistema de Posicionamento Global
PPK PPK Post Processed Kinematic (Cinemático Pós Processado)
RLT Regulamento Leis de Terra
RUPT Regularização de Uso e Posse de Terra
SGBD Sistema de Gestão de Base de Dados.
SIG Sistema de Informação Geográfica
UTM (Universal Transverse Mercator)
WGS World Geodesic System (Sistema Geodésico Mundial)

iv
RESUMO
O presente trabalho tem por objectivo a realização de um mapa cadastral de parcelas no bairro de
Cumbeza, para dispôr de informação espacial e dos modos de ocupação, e do uso e aproveitamento da
terra no bairro em estudo. Depois de revisão bibliográfica para melhor perceber sobre o processo do
mapeamento cadastral, foram realizadas duas etapas: trabalho de campo e o do gabinete. Importa
destacar que antes da visita no campo foi utlizada uma imagem, de satélite QuickBirdque serviu de
apoio para a orientação durante as actidades de campo.

O trabalho de campo consistiu no reconhecimento do terreno, sensibilização, o preenchimento dos


formulários e o processo de levantamento topográfico com o instrumento GPS Trimble Nomad R3, que
possui precisão exigida para o levantamento topográfico para fins de cadastros de terras.

Na segunda fase da realização do trabalho de gabinete, fez-se o descarregamento e correção dos


dados colhidos no campo no programa GPS Pathinder Office.Para melhor organizar e gerir os dados
alfanuméricos usou-se a ferramenta Microsft Acees 2013, onde criou-se a tabelas de cada entidade
devidamente identificado para introduzir sem redundância nem erros os dados descritivos dos
ocupantes das parcelas.

Referir que durante processamento para (criação da geodatabase) utilizou-se ArcCatalog 10.1e
ArcMap 10.1 para visualização, edição, representação dos dados, ambas extensões do ArcGis 10.1,
Essa ferramentas com ajuda da imagem de satélite QuickBird e os vértices serviram de ajuda para
digitalizar as parcelas e calcular a área. Para terminar fez-se a conexão entre a base de dados espacial e
alfanumérica de modo a integrar os dados, observou-se o cumprimento das regras topológicas e
correspondências entre as bases de dados.

Como resultado obteve um mapa cadastral do bairro de Cumbeza, onde não só dispõe informação
geográfica, podemos também através de consultas na base de dados integrada obter diferentes
informações (dados do ocupante da parcela, data de aquisição, forma de ocupação, o tipo de uso),
dispondo dessa maneira de informação actualizada e fidedigna para as autoridades locais do bairro de
Cumbeza e a sociedade no geral bem como para investimentos futuros.

Palavras-chaves: Cadastro de terras, Parcela,Sistema de Posicionamento Global, Mapeamento


Cadastral, Sistemas de Informação Geográfica, base de dados.

v
ÍNDICE
DEDICATÓRIA ...............................................................................................................................i
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... ii
DECLARAÇÃO SOB COMPROMISSO DE HONRA ............................................................... iii
LISTA DE ACRÔNIMOS..............................................................................................................iv
RESUMO......................................................................................................................................... v
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................... x
LISTA DE MAPAS ......................................................................................................................... x
LISTA DE TABELAS..................................................................................................................... x
CAPÍTULO I ................................................................................................................................... 1

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1.1. Definição do problema ......................................................................................................... 2

1.2. Justificativa ........................................................................................................................... 3

1.3. Relevância do tema ............................................................................................................... 3

1.4. Objectivos ............................................................................................................................. 4

1.4.1. Objectivo geral .................................................................................................................. 4

1.4.2. Objectivos específicos ...................................................................................................... 4

CAPÍTULO II .................................................................................................................................. 5

2. SITUAÇÃO FÍSICA – GEOGRÁFICA E SOCIO-ECONÓMICADO BAIRRO CUMBEZA 5

2.1. Localização geográfica do bairro Cumbeza ......................................................................... 5

2.2. Características físico-naturais ............................................................................................... 6

2.2.1. Relevo ............................................................................................................................... 6

2.2.2. Posse da Terra ................................................................................................................... 6

2.2.3. Demografia ....................................................................................................................... 6

2.2.4. Clima e Hidrografia .......................................................................................................... 6

CAPÍTULO III ................................................................................................................................ 8

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 8

vi
3.1. Cadastro de terras ................................................................................................................. 8

3.1.1. Classificação do cadastro ................................................................................................ 10

3.1.2. Objectivos do cadastro técnico ....................................................................................... 10

3.1.3. Parcela Territorial ........................................................................................................... 11

3.2. Mapeamento Cadastral ....................................................................................................... 11

3.3. 4.2.1. Importância e vantagens do Mapeamento Cadastral ................................................ 13

3.3.1. Evolução do cadastro de terras ....................................................................................... 13

3.4. Sistemas de informação geográfica .................................................................................... 14

3.4.1. Estrutura dos dados num SIG ......................................................................................... 16

3.4.2. Gestão de uma base de dados em sistemas de informação geográfica ........................... 17

3.4.2.1. Arquitectura Dual ........................................................................................................ 18

3.4.2.2. Arquitectura Integrada................................................................................................. 18

3.4.3. Base de Dados e um Sistema de Gestão de Base de Dados ............................................ 20

3.4.3.1. Base de dados .............................................................................................................. 20

3.4.3.2. Base de Dados Geográfica (Geodatabase) .................................................................. 20

3.4.3.3. Tipos de Geodatabase.................................................................................................. 20

3.4.3.4. Estrutura da Geodatabase ............................................................................................ 21

3.4.3.5. Topologia na Geodatabase .......................................................................................... 22

3.5. Sistema de Gestão de Base de Dados (SGBD) ................................................................... 22

3.6. Sistema de Posicionamento Global - GPS .......................................................................... 23

3.7. Imagem de satélite QuickBird ............................................................................................ 24

3.8. Sistema de coordenadas ...................................................................................................... 25

CAPÍTULO IV .............................................................................................................................. 27

4. METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 27

4.1. Materiais ............................................................................................................................. 27

vii
4.2. Métodologia ........................................................................................................................ 27

4.3. Diagrama da pesquisa ......................................................................................................... 28

4.4. Trabalho de campo ............................................................................................................. 29

4.5. Reconhecimento da Área .................................................................................................... 29

4.5.1. Planeamento da Demarcação de Parcelas ....................................................................... 29

4.5.2. Configuração do Software do Trimble R3 no GPS ........................................................ 30

4.5.3. Imagem de satélite QuickBird ........................................................................................ 32

4.5.4. Precisão Requerida.......................................................................................................... 34

4.5.4.1. Tolerâncias na demarcação por GPS ........................................................................... 35

4.5.5. Demarcação de Parcelas Para o Cadastro de Terras ....................................................... 35

4.6. Trabalho do gabinete .......................................................................................................... 36

4.6.1. Descarregamento dos Dados ........................................................................................... 36

4.6.2. Processamento dos dados ................................................................................................ 36

4.6.3. Concepção de base para dados alfanumérica .................................................................. 37

4.6.4. Identificação das Entidades Atributos ............................................................................ 38

4.6.5. Concepção da Base de Dados Geográfica (Geodatabase) .............................................. 38

4.6.6. Relações Topológicas ..................................................................................................... 39

4.6.7. Integrações dos Modelos................................................................................................. 40

4.6.8. Interface SIG ................................................................................................................... 40

CAPÍTULO V................................................................................................................................ 42

5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 42

5.1. Modelo de base de dados geográficos ................................................................................ 42

5.2. Modelo de base de dados em Acess ................................................................................... 43

5.2.1. Controlo de qualidade ..................................................................................................... 44

5.3. Mapa Cadastral ................................................................................................................... 44

viii
CAPÍTULO VI .............................................................................................................................. 46

6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ............................................................................ 46

6.1. Conclusão ........................................................................................................................... 46

6.2. Recomendações .................................................................................................................. 47

6.3. Referências bibliográficas .................................................................................................. 48

ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Elementos que compõem o cadastro .......................................................................................... 9
Figura 2: Estrutura geral dos SIG ............................................................................................................ 17
Figura 3: Arquitectura dual...................................................................................................................... 18
Figura 4: Arquitectura integrada.............................................................................................................. 19
Figura 5: Estrutura da Geodatabase ......................................................................................................... 21
Figura 6: Metodologia de realização das actividades .............................................................................. 28
Figura 7: Kite GPS .................................................................................................................................. 30
Figura 8: Janela inicial do Trimble R3 .................................................................................................... 31
Figura 9:Medição de vértices com GPS .................................................................................................. 33
Figura 10:Levantamento com Rover ....................................................................................................... 36
Figura 11: Relações de Topologia ........................................................................................................... 39
Figura 12:Interface SIG ........................................................................................................................... 40
Figura 13: Modelo de base de dados ....................................................................................................... 42
Figura 14: Modelo relacional dos dados para o cadastro ........................................................................ 43

LISTA DE MAPAS
Mapa 1: Mapa de Localização Geográfica da área de estudo ................................................................... 5
Mapa 2: Mapa de precipitação no bairro de Cumbeza .............................................................................. 7
Mapa 3:Imagem de satélite QuickBird daárea de estudo ........................................................................ 32
Mapa 4: Mapa Cadastral das Parcelas ..................................................................................................... 44
Mapa 5: Mapa cadastral sobre imagem de satélite QuickBird ................................................................ 45

LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Especificações técnicas do satélite QuickBird ........................................................................ 25
Tabela 2: Lista de códigos dos pontos ..................................................................................................... 34
Tabela 3: Precisão requerida.................................................................................................................... 35
Tabela 4: Tabela de parâmetros do levantamento topográfico ................................................................ 35

x
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO

Moçambique atravessa uma nova fase de desenvolvimento económico e social caracterizada por
uma economia de mercado, aliado aos investimentos nacionais e estrangeiros que o país tem recebido.
Assim, é necessário implementar novas políticas e estratégias no que diz respeito à gestão e
administração de Terras. O país é dependente da assistência externa e da ajuda alimentar e mais de 60%
da população vive em estado de pobreza, assim, é essencial estimular um crescimento económico
equitativo e sustentável (DNTF, 2012).

De acordo com RUPT (2012), a problemática (conflitos) de terras é muito complexa. Em


algumas áreas existem reivindicações de direitos sobre a terra com bases em raízes históricas, em
outras áreas os direitos sobre a terra têm origem recente. A este facto adiciona-se a insegurança quanto
a titularidade dos DUAT causada pela ambiguidade entre os dispositivos legais que por um lado
conferem prova plena aos titulares dos DUAT e, por outro lado, dispensam de títulos os terrenos para
fins de agricultura familiar (ocupação de boa-fé). Isto tem gerado conflitos na gestão de terras,
dificuldades administrativas de cadastro e registo, para além de inibição do investimento.

Visto que demasiado espaço geográfico não encontra-se cadastrado e parcelado, surge a
necessidade da realização do cadastro de terras, de modo a tornar o direito de uso e aproveitamento da
terra mais organizado e abrangente, sem conflitos e consequentemente permitir que o plano de
ordenamento territorial se torne exequível sem muitos constrangimentos com as populações.

Como meio universal de criação de riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da


terra é direito de todo o povo moçambicano. O desafio que o país enfrenta para o seu desenvolvimento,
bem como a experiência na aplicação da Lei n.º 6/79, de 3 de Julho, Lei de Terras, mostram a
necessidade da sua revisão, de forma a adequá-la à nova conjuntura política, económica e social e
garantir o acesso e a segurança de posse da terra, tanto dos camponeses moçambicanos, como dos
investidores nacionais e estrangeiros (RLT, 2008).

A legislação de terras em Moçambique foi feita na base da LeiMãe, a Constituição da República


que diz “A terra é propriedade do estado, não pode ser vendida, nem penhorada e nem de forma
alguma hipotecada”. Neste contexto o governo de Moçambique criou a DNTF que possui
competências sobre a administração do território nacional, uma das actividades desenvolvidas é o

1
cadastro legal e técnico da terra que surge com a necessidade de resolver as diferentes questões
relacionadas com o espaço geográfico, porém possui técnicas e normas estabelecidas sobre
administração de terras (RUTP, 2012).

A realização do mapeamento cadastral contribui fortemente para a disponibilização de


informação constante, actualizada e permitir às autoridades administrativas dispor de um novo e
importante instrumento que revela-se de muita utilidade para os trabalhos de integração de informação
na base de dados.Com o uso do GPS com precisão requerida, Imagem de satélite, é possível obter
informação precisa em tempo real, daí que estes constituem material de base de apoio para obtenção da
informação espacial no trabalho de campo durante o mapeamento de terras (DNTF, 2012).

A ferramenta SIG é muito importante para o armazenamento, manipulação, gestão de dados


geográficos e sua representação. Este material é indispensável na representação dos dados geográfico
durante o mapeamento cadastral, permite a conexão a com base de dados alfanuméricos criada
separadamente no Microsoft Access.

Neste contexto, o presente trabalho têm como ponto fulcral responder os diferentes desafios na
gestão, actualização dos dados no que concerne ao mapeamento cadastral urbano.

1.1. Definição do problema

A maior parte de terra em Moçambique não está registada em nenhuma forma. Existe ocupação formal,
devidamente legalizada pelas estruturas de cadastro exigentes, mas a grande maioria das pessoas vive e
trabalha em regime informal, em ocupação de boa-fé. Os seus direitos são reconhecidos pela lei
Moçambicana, mas a segurança de uso da terra é frágil. Outra limitação da ocupação de boa-fé é a
garantia, por parte do cidadão quando pretende obter ajuda financeira para investimentos. O mercado
informal de terras é a forma mais comum de transacção dos bens entre os cidadãos, mas a cobrança de
taxas correspondente não é feita pelo governo Moçambicano, por não ter, ainda, ferramentas de
controlo (RUPT, 2012).

2
Pode se notar que a não realização do cadastro de parcelas bem como o registo da informação sobre
os ocupantes e uso e aproveitamento de terras, traz enormes desvantagens ao estado, entre as quais a
não cobrança de taxas, a falta de informação actualizada para a tomada de decisão, conflitos de terra, a
insegurança na posse da terra por falta de DUATs, a falta de integração da informação, entre outros
prejuízos.

1.2. Justificativa

Segundo a DNTF (2012), neste momento, em Moçambique, o registo oficial da posse de terra, isto
é, de atribuição de DUAT’s inscritos ou formalmente registados, cobre uma reduzida fração do
território e não reflete a situação real.

A regularização de direitos informais e a sua administração eficiente providencia a confiança de


que os direitos de terra são fáceis de identificar e verificar, são protegidos pelo Estado e estão seguros
de acções ilegais. Daí que a RUPT (Regularização de Uso e Posse de Terra) é necessária por duas
razões principais: aumento de segurança da posse e melhoramento da administração e gestão da terra.

Como resultado a produtividade da terra poderá aumentar, a gestão dos recursos da terra melhorar e
a pobreza ser reduzida. As cobranças das receitas da terra poderão aumentar e os programas de
desenvolvimento urbano serão mais facilmente implementados.

1.3. Relevância do tema

Este tema, têm uma extrema importância porque aborda uma questão que é do interesse do país, e
acima de tudo, vem despertar os ganhos que são evidentes, realçando-se os aspectos mais importantes:

 Aumento de segurança da posse de terra através de direitos claros para parcelas de terra
definidas, com mecanismos de resolução de conflitos ao nível local;
 Uma melhor administração local da terra e instituições descentralizadas que executam as
políticas de terra de forma eficiente e alcançam a sustentabilidade institucional;
 Uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento económico através da definição
da terra disponível para investimentos privados de grande escala e de longo prazo;
 Uma fundação sólida para investimentos privados de pequena escala de residentes
urbanos e rurais.

3
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral

Levantar e processar a informação sobre ocupação, uso e aproveitamento da terra para o


mapeamento cadastral do bairro Cumbeza.

1.4.2. Objectivos específicos

 Levantar as parcelas na zona de área do estudo;


 Processar a informação cadastral colhida e subsequente representação conforme a
metodologia usada no trabalho;
 Criar um modelo de base de dados em Acess e SIG para armazenar a informação
cadastral;
 Elaborar um mapa cadastral do bairro Cumbeza.

4
CAPÍTULO II
2. SITUAÇÃO FÍSICA – GEOGRÁFICA E SOCIO-ECONÓMICADO BAIRRO CUMBEZA
2.1. Localização geográfica do bairro Cumbeza

O Bairro de Cumbeza localiza-se no Distrito de Marracuene na Província de Maputo e é limitado á


Nordeste pelo Bairro Agostinho Neto, aEste peloBairro Guava e aSul pelo Município de Maputo
(Bairros Magoanine e Zimpeto) e aOeste pelo Bairro Intaka (INE, 2007).
O Bairro Cumbeza situa-se entre os paralelos 25º46’58’’ e 25º49’59’’ de Latitude Sul e meridianos
32º34’00’’ e 32º37’00’’ de Longitude Este. Em termos de extensão territorial este possui uma área de
202,264 ha. Em termos de extensão territorial este possui uma área de 202,264ha.

Mapa 1: Mapa de Localização Geográfica da área de estudo

5
2.2. Características físico-naturais
2.2.1. Relevo

O ponto mais alto deste distrito de Marracuene onde se localiza o bairro de Cumbeza, é de 32m de
altitude, é constituí do por sedimentos arenosos eólicos (a ocidente e ao longo da costa) com ocorrência
de areias siliciosas. A planície aluviar, ao longo do rio Incomáti é de solos argilosos, estratificados e
tufosos. A faixa litoral de dunas na separação entre o mar e o rio Incomáti na zona da Macaneta corre o
risco de extinção devido a vários fenómenos naturais. O vale do Incomáti, tem solos de bom potencial
agrícola e pecuária que são explorados por um vasto tecido de agricultura privada e familiar (MAE,
2005).

2.2.2. Posse da Terra

Quase metade das 33 mil parcelas em que estão demarcadas pertence a autoridades tradicionais e
oficiais. Abrangendo em muitos casos pequenas explorações, o seu peso específico em termos de área
é, porém, de somente 20%. O Distrito de Marracuene possui cerca de 10 mil explorações com uma área
média de 1.1 hectares com um grau de exploração familiar dominante, 56% das explorações do distrito
têm menos de 1ha, apesar de ocuparem somente 20% da área cultivada. Este padrão da distribuição das
áreas fica evidente se referimos que 40% da área cultivada pertence a somente 9% das explorações do
distrito. Na sua maioria os terrenos estão titulados e, quando explorados em regime familiar tem como
responsável em quase 70% dos casos, o homem da família (MAE, 2005).

2.2.3. Demografia

O Distrito de Marracuene tem uma superfície de 666 km² e uma população recenseada em 2007 de
157 642 habitantes, tendo como resultado uma densidade populacional de 127,6 habitantes/km² e
correspondendo a um substancial aumento de 85,5% em relação aos 84 975 habitantes registados no
Censo de 1997 (INE, 2007).

2.2.4. Climae Hidrografia

Segundo MAE, (2005), o clima do distrito é “tropical chuvoso de savana”, influenciado pela
proximidade do mar. Caracteriza-se por temperaturas quentes com um valor médio anual superior a
20oC e uma amplitude de variação anual inferior a 10oC.

6
A humidade relativa varia entre 55 a 57% e a precipitação é moderada, com um valor médio anual
entre 500 mm no interior e 1.000 mm no litoral. A estação chuvosa vai de Outubro a Abril, com 60% a
80% da pluviosidade concentrada nos meses de Dezembro a Fevereiro.

O distrito é atravessado no sentido Norte-Sul ao longo de uma extensa planície pelo rio Incomáti,
que vai desaguar no Oceano Índico, no delta da Macaneta.

Mapa 2: Mapa de precipitação no bairro de Cumbeza

7
CAPÍTULO III
3. REVISÃOBIBLIOGRÁFICA
3.1. Cadastro de terras

O Cadastro de terras tem sido umtema de várias abordagens ou discussões, contudo uma das
definições tem sido considerada como sendo um processo ou técnica de recolha de dados geográficos,
sistematização, disponibilização ao usuário e actualização do registo da informação sobre porções
delimitadas de uma determinada superfície terrestre (parcela) incluindo detalhes sobre a área, o seu
valor (utilitário) e a posse (ocupação). A necessidade de registo da parcela formando um cadastro de
terras tem essencialmente para regulamentação com finalidade de criar relações entre os elementos da
sociedade humana (Antunes, 2002).

Os dados básicos para o registo de uma parcela têm por responder as seguintes questões (DNTF,
2012):

a) Descrição das características ou dados civis da parcela, entre elas: dados pessoais (nome completo
data de nascimento, nacionalidade);
b) A localização geográfica da parcela do ocupante, que tem como objectivo identificação da parcela e
consequentemente avaliação do valor de uso (província, distrito, posto administrativo ou bairro,
localidade ou quarteirão e círculo, zona rural ou urbana, ou ainda zona de protecção total ou
parcial) são determinadas as coordenadas geográficas dos vértices das parcelas.
c) A questão temporária: define-se o tempo de início de ocupação da parcela. Para o efeito é contado a
partir da emissão do despacho de autorização provisória ou ainda período testemunhado pela
autoridade tradicional ou local da zona de localização da parcela;
d) Modos de ocupação: uma vez existindo várias formas de ocupação de parcelas reconhecidas por lei
(Legislação sobre a Terra, 19/97). No registo do cadastro devem ser observadas essas formas, isto é,
registar como foi ocupada a parcela.
e) O cadastro deve indicar o objectivo ou objectivos da ocupação da parcela, isto é, a finalidade do uso
da parcela. Neste contexto deverão ser indicadas as actividades a serem executadas na parcela.

O Cadastro Nacional de Terras procede à qualificação económica dos dados acima mencionados, de
modo a permitir fundamentar a planificação e a distribuição dos recursos do país. (Lei de Terras 19/97)

8
De acordo com o Decreto nº 66/98 de 8 de Dezembro do Regulamento da Lei de Terras, o Cadastro
Nacional de Terras funciona junto dos serviços de cadastro. Os serviços de cadastro organizam em cada
província uma secção local do cadastro nacional de terras. As entidades que superintendem nas áreas de
solos, florestas e fauna bravia, águas, minas, turismo e outras de domínio público, enviam os dados
necessários à organização e actualização do Cadastro Nacional de Terras, de acordo com as normas
definidas pelos Serviços de Cadastro.

A informação do Cadastro Nacional de Terras é sempre representada por elementos gráficos e


acompanhada por elementos descritivos, como mostra a (Figura 2) abaixo.

Cadastro de
Terras

Elementos
Elementos Descritivos
Gráficos

Figura 1: Elementos que compõem o cadastro (Fonte: Maria, 2008)

Segundo Molen (1998) Cadastro de terras é um inventário público de dados metodicamente


organizados concernentes a parcelas territoriais, dentro de uma determinada região administrativa (país,
estado, província, município, distrito), baseado no levantamento dos seus limites. Esse conceito
representa um consenso a nível internacional do significado do termo cadastro, sendo adoptado por
diversos autores.

Burity (1998), afirma que uma definição universal para o cadastro de terras é difícil de ser
aplicada, pelo facto de ser o mesmo utilizado por diversos profissionais e áreas de estudo. Este autor
sugere os seguintes conceitos:

 Cadastro Fiscal: este termo diz respeito à questão de taxação das propriedades em
valores monetários, objectivando a arrecadação de impostos;
 Cadastro Legal ou Jurídico: trata do direito à posse da terra, baseado em documentação
descritiva, devidamente registado no Cartório de Registo de Imóveis da jurisdição a que
pertence;

9
 Cadastro Técnico: é o uso do cadastro na sua forma geométrica somada a descritiva com
base para lançamento de Informações de usuários diversos (concessionárias de serviços
públicos, prefeituras, proprietários, entre outros).

De acordo com Carneiro (2000), nos países, na maior parte dos que fazem parte do chamado
“primeiro mundo”, o Cadastro Territorial é um registo público sistematizado dos bens imóveis de uma
jurisdição contemplado nos seus três aspectos fundamentais: o jurídico, o geométrico e o económico.

Cadastro é o registo público em que se descreve a extensão, qualidade e valor dos bens de raiz de
certo território. O cadastro é também composto por uma série de operações que tem por fim organizar
este registo. O espaço geográfico cadastrado pode ser no ambiente urbano ou rural. Em cada sistema
cadastral a unidade básica ou territorial é a parcela, este pode ser definido como uma área contínua de
terra na qual existe uma homogeneidade de direitos, restrições e responsabilidades, dependendo do
paradigma social (Antunes, 2006).

3.1.1. Classificação do cadastro

De acordo com Loch(2005) o cadastro quanto a suafunção pode ser classificado em:

 Fiscal: o aspecto fundamental é a identificação do proprietário e da propriedade. O


objetivo geral é o valor da propriedade e sua taxação.
 Jurídica: refere-se ao direito a propriedade e registro do imóvel ou da propriedade;
 Multifinalitária: refere-se às múltiplas aplicações, principalmente ao planeamento
urbano e regional. Serve de base à tomada de decisões;
 O cadastro técnico: este último é constituído por uma base cartográfica amarrada as
informações sobre a propriedade (informação espacial e dados alfanuméricos);

3.1.2. Objectivos do cadastro técnico

 Colectar as informações descritivas, ou seja, todos os elementos que caracterizam a área


rural ou urbana;
 Actualizar o sistema descritivo e o conjunto de informações que caracterizam cada
propriedade imobiliária;
 Obter um sistema cartográfico georreferenciado e atualiza do sistematicamente;

10
 Interligar as informações cartográficas e descritivas de maneira que se possa obter
cruzamento de informações (Antunes, 2006).

3.1.3. Parcela Territorial

No âmbito do cadastro de terras, o conceito de parcela territorial não é novo, sendo adoptado desde
o final do século XVIII, Já naquela época, a parcela foi definida como sendo uma porção da superfície
da terra delimitada fisicamente, sujeita ao mesmo uso e encargos e possuída pela mesma pessoa. Essa
definição continua actualmente, e é adoptada pela maioria dos sistemas cadastrais existentes no mundo
(Loch, 2005).
Brandão (2000),considera a parcela como sendo a unidade territorial básica do Cadastro,
correspondente a uma determinada extensão territorial com uma determinada característica, ou seja,
uma porção do território com condições homogéneas de domínio. No mapeamento cadastral cada
parcela é definida por limites formais ou informais e possui um único código identificador.
Os limites de parcelas territoriais consistem na delimitação geométrica dos direitos relacionados ao
domínio territorial. Portanto, além do aspecto métrico/geodésico que é definido através do
levantamento cadastral, os limites de parcelas envolvem o aspecto legal que, através do serviço de
registo, fornece a garantia jurídica sobre o domínio (Antuneset al. 2006).
Brandão (2000), considera que nos diferentes sistemas cadastrais existentes no mundo, observam-se
três diferentes formas para determinar os limites das parcelas territoriais:
 De forma textual através da descrição dos limites e confrontantes da parcela;
 De forma gráfica através de cartas cadastrais;
 Em forma numérica ou matemática que pode ser obtida através de uma descrição
geométrica das linhas de limites em termos de direcções e distâncias, ou então através de
coordenadas dos pontos que definem os limites da parcela.

3.2. Mapeamento Cadastral

Mapeamento cadastral é um conjunto de técnicas que consiste no levantamento e registo de


informação sobre uma dada parcela bem como o seu utente. É importante que neste processo o foco é a
parcela, daí que existem normas e métodos recomendados para a demarcação de parcela. A finalidade
deste processo é disponibilizar informação cada vez mais actualizada do uso e aproveitamento de

11
terras, que culmina com atribuição dos DUATs, permitindo assim um controle e gestão de terra cada
vez mais seguro e evitando conflitos (Loch, 2005).

Planta Cadastral é a representação geométrica de uma propriedade em relação às outras


propriedades numa escala adequada. O mapa cadastral fica completo quando, para uma unidade de
espaço, seja bloco ou bairro, está todo registado. Dá-se prioridade ao registo de parcelas, mas também
se registam as ausências e os conflitos encontrados pelas equipas de campo. Desta maneira, em cada
bloco ou bairro, fica registada a informação espacial de forma a descrever, da melhor forma, a realidade
que se encontra no terreno (Amorimet al. 1999).

Em Loch (2005), temos uma visão geral do mapeamento cadastral rural e urbano. Os principais
objectivos apresentados para a modalidade são:

a) Coletar e armazenar informações descritivas do espaço rural ou urbano;

b) Criar e manter atualizado o sistema descritivo das características das cidades;

c) Implantar e manter atualizado o sistema cartográfico;

d) Fornecer dados físicos para o planeamento urbano, informações que estão sempre amarradas
aosistema cartográfico, respeitando o nível de detalhamento da escala da carta;

e) Fazer com que o sistema cartográfico e o descritivo gerem as informações necessárias à


execução de planos de desenvolvimento integrado da área rural;

f) Colocar os resultados do cadastro rural ou urbano à disposição dos diversos órgãos públicos
envolvidos com a terra, jamais se esquecendo do cidadão e investidores;

g) Facilitar o acesso rápido e confiável aos dados gerados pelo cadastro a todos os usuários que
precisam de informações.

12
3.3. Importância e vantagens do Mapeamento Cadastral

De acordo com Antunes (2006), em relação aosobjetivos, o cadastro técnico urbano serve como a
melhor ferramenta para o planeamento das áreas rurais. Dentre as suas inúmeras vantagens, citam-se as
seguintes:
 Localização geográfica de todos das parcelas;
 Conhecimento do uso actual do solo dentro de cada imóvel;
 Base para a implementação de infra-estrutura;
 Subsídio para a melhor viabilização de projectos de engenharia, segundo as prioridades
dos investimentos públicos;
 Integração de informação gráfica e descritiva.

Para o Molen (1998), os aspectos importantes no Mapeamento Cadastral são:

 O aumento da segurança da posse de terra através de direitos claros para parcelas de


terra definidas com mecanismos de resolução de conflitos ao nível local;
 Uma melhor administração local da terra pelas instituições que executam as políticas de
terra que de forma eficiente alcançam a sustentabilidade institucional;
 Uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento económico através de definição
da terra disponível para investimentos privados de grande escala e de longo prazo;
 Uma fundação sólida para investimentos privados de pequena escala de residentes
urbanos e rurais.

3.3.1. Evolução do cadastro de terras

Os primeiros cadastros foram estruturados para tributação. As bases que compunham o


denominado cadastro económico registavam o valor da parcela a partir do qual era calculado o valor do
imposto territorial (Molen, 1998). A maioria dos cadastros implementados actualmente nos diferentes
níveis de governo ainda perseguem esse objectivo, mas o surgimento de novos métodos de avaliação
baseados em detalhes construtivos e a localização, forma e dimensões dos terrenos exigiram que as
bases de dados sejam ampliadas (Biancoet al. 1990).

Burity (1998), afirma que grande parte dessas variáveis se obtém por meio de levantamentos
topográficos, geodésicos e, ou, fotogramétricos e se registam em documentos cartográficos e bases

13
alfanuméricas que conformam o cadastro geométrico (denominado de cadastro físico por alguns
autores). Esses dados são de extremo valor também para os grupos de planeamento, pois retratam a
realidade de facto, a ocupação efectiva do território.

Ao criarem os sistemas de registo de títulos, os legisladores, os administradores e os técnicos


perceberam que o cadastro tinha uma função muito mais relevante do que realmente se pensava e que
extrapolava as questões económicas e físicas. Passaram então a organizá-lo como complemento dos
registos de imóveis, constituindo assim o denominado cadastro jurídico. Napoleão foi um dos
precursores desta nova visão, manifestando seu interesse em colocar o cadastro ao serviço do direito
civil no seu novo código, dizendo: “um bom cadastro parcelário será o complemento do código no que
se refere à posse da terra. É necessário que os mapas sejam suficientemente precisos e detalhados
para fixar limites e evitar litígios”(Bianco, 1990).

3.4. Sistemas de informação geográfica

Um SIG é uma tecnologia de informação que permite o armazenamento, análise e representação


tanto de dados espaciais como de dados não espaciais (Parker, 1988). Um SIG é um sistema de apoio à
decisão que envolve a integração de dados georreferenciados num ambiente orientado para a resolução
de problemas (Cowan, 1988).
Os SIG são sistemas computacionais usados para armazenar e manipular informação geográfica.
São sistemas concebidos para recolher, armazenar e analisar objectivos e fenómenos em relação aos
quais a localização geográfica é uma característica importante (Aronoff, 1989).

Um Sistema pode ser entendido como um conjunto integrado de elementos interdependentes,


estruturado de tal forma que estes possam relacionar-se para execução de determinada função. Já a
Informação pode ser considerada como um conjunto de registos e dados interpretados e dotados de
significado lógico. Dessa forma, um Sistema de Informação Geográfica seria compreendido como um
sistema utilizado para colectar, armazenar, recuperar, transformar, visualizar dados e informações a ele
vinculados (Fitz, 2008).

Da definição dada por Fitz (2008), o SIG é um sistema constituído por um conjunto de
programas computacionais, que integra dados, equipamentos e pessoas com o objectivo de colectar,
armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados espacialmente referenciados a um sistema
de coordenadas conhecido.

14
Das citações acima referidas, entende-se como sendo SIG, um sistema constituído por hardware
(computador), software (programa executável) e um ambiente institucional, com o fim de armazenar,
manipular, visualizar e analisar dados de natureza espacial (referenciados à superfície da terra).

VOLPIet al. (2007), afirmadiz que o requisito de armazenar a geometria dos objetos geográficos
e de seus atributos representa kkii8uma dualidade básica para SIG. Para cada objeto geográfico, o SIG
necessita armazenar seus atributos e as várias representações gráficas associadas. Devido a sua ampla
gama de aplicações, que inclui temas como agricultura, floresta, cartografia, cadastro e redes de
concessionárias (água, energia e telefonia), há pelo menos três grandes maneiras de utilizar um SIG:

 Como ferramenta para produção de mapas;


 Como suporte para análise espacial de fenômenos;
 Como um base de dados geográficos, com funções de armazenamento erecuperação de
informação espacial.

O autor diz ainda que estas três visões do SIG são antes convergentes que conflitantes e
refletem a importância relativa do tratamento da informação geográfica dentro de uma instituição, para
inserir e integrar, numa única base de dados, informações espaciais provenientes de dados
cartográficos, dados censitários e cadastro urbano e rural, imagens de satélite, redes e modelos
numéricos de terreno.

Os dados geográficos ou espaciais distinguem-se dos alfanuméricos por possuírem os seguintes


atributos particulares: a posição geográfica, a relação espacial (topologia) e o tempo (data e hora
doregisto do objecto geográfico). Segundo Ribeiro (2006), tanto os dados alfanuméricos como os
geográficos são integrados segundo um modelo que permite estabelecer relações entre si e que é capaz
de produzir informação em diferentes formatos para ser utilizada nas mais variadas áreas e instituições,
nos seus processos de tomada de decisão.

15
3.4.1. Estrutura dos dados num Sistema de Informação Geográfica

A estrutura dos dados de um SIG contém basicamente dois tipos de informações principais: a
informação espacial, que descreve o formato do objecto geográfico, bem como sua relação espacial
com os outros objectos (a localização geográfica) e a informação descritiva ou nãoespacial dos
objectos, ou seja, a descrição para o entendimento do usuário, das características não espaciais de cada
objecto representado(Neto, 2009).

Os dados são vistos como uma componente de extrema importância em qualquer sistema de
informação, uma vez que sem estes, o sistema não produz informação. Ribeiro (2006), afirma que na
realidade estes representam a unidade básica da informação a ser processada pelo sistema, isto é, são
como a matéria-prima dum sistema de informação.

Para um SIG, os dados podem ser de natureza alfanumérica e de natureza geográfica. Os dados
alfanuméricos, sob a forma de texto ou estatística, representam as características dos objectos
geográficos, como o nome, as dimensões, etc. Os dados geográficos na forma vectorial ou raster são o
resultado do processamento de imagem, quer de forma manual ou automática(Câmara & Queiroz
(2007), citando Câmara et al.(1996)).

Segundo Ribeiro (2006), tanto os dados alfanuméricos como osgeográficos são integrados
segundo um modelo que permite estabelecer relações entre si e que é capazde produzir informação em
diferentes formatos para ser utilizada nas mais variadas áreas e instituições,nos seus processos de
tomada de decisão.

De uma forma geral, as funções de processamento de um SIG operam sobredados em uma área
de trabalho em memória principal. A ligação entre os dados geográficos e as funções de processamento
do SIG é feita por mecanismos deseleção e consulta que definem restrições sobre o conjunto de
dados.A figura seguinte indica o relacionamento das principais componentes ou subsistemas de um
SIG(Borges, 2011).

16
Figura 2: Estrutura geral dos SIG (Fonte: Davis, 1999)

3.4.2. Gestão de uma base de dados em sistemas de informação geográfica

De acordo com Fitz (2008),a gestão de base de dados envolve o armazenamento dos dados de
forma estruturada, de modo a possibilitar e facilitar a realização de análises. A forma como os dados
são estruturados é crucial para o sistema, pois dela dependem os tipos de análises que poderão ser
realizados.

De acordo com Carneiro (2005), a um mapa armazenado noSIG, sempre podem ser associadas
novas informações, provenientes de diversas fontes, permitindo que se incorpore o trabalho de
diferentes órgãos e instituições. Ele permite combinar vários tipos de informações, como, por exemplo,
dados obtidos nocampo por GPS ou por topografia convencional, tabelas, mapas, imagens, entre outros.

Actualmente, a principal diferença entre os SIGs é a forma como os dadosgeográficos são geridos.
Há basicamente três diferentes arquiteturas de SIGsque utilizam os recursos de um SGBD: a
Arquitectura Dual e a Arquitectura Integrada (uma baseada em SGBDs relacionais e a outra baseada
em extensões espaciais sobre SGBDs objecto-relacionais)Ribeiro (2006).

17
3.4.2.1.Arquitectura Dual

Para Borges (2011), um SIG implementado com a estratégia Dual utiliza um SGBD relacional
(SGBDR) para armazenar os atributos convencionais dos objectos geográficos (na forma de tabelas) e
arquivos para guardar as representações geométricas destes objectos.

A entrada dos atributos não-espaciais é feita por meio de um SGBDR e para cada entidade gráfica
inserida no sistema é imposto um identificador único, através do qual é feita uma ligação lógica com
seus respectivos atributos não-espaciais armazenados em tabelas de dados no SGBD(Maria, 2008).

A principal vantagem desta estratégia é poder utilizar os SGBDRsdo mercado, como o Dbase e o
Access. No entanto, como as representações geométricas dos objectos espaciais estão fora do controle
do SGBD, esta estrutura dificulta o equacionamento das questões de optimização de consultas, gerência
de transacções e controle de integridade e de concorrência. Exemplos de sistemas comerciais baseados
em estratégia Dual são o ArcView, MGE e o SPRING (Câmara & Queiroz (2007), citando Câmara et
al(1996)).

Figura 3: Arquitectura dual (Fonte: Câmara & Queiroz, 2007)

3.4.2.2.Arquitectura Integrada

A Arquitectura Integrada, mostrada na (Figura 5), consiste em armazenar todo o dado espacial em
um SGBD, tanto sua componente espacial como a parte alfanumérica. Sua principal vantagem é a
utilização dos recursos de um SGBD para controlo e manipulação de dados espaciais, como gestão de
transacções, controle de integridade e concorrência. Sendo assim, a manutenção da integridade entre a
componente espacial e alfanumérica é feita pelo SGBD(Stamper, 1990).
18
A abordagem integrada baseada em um SGBD relacional (SGBDR) utiliza campos longos, para
armazenar a componente espacial do dado. Suas principais desvantagens são: a falta de capacidade para
capturar a semântica dos dados espaciais, os métodos de acesso espacial e o optimizador de consultas
devem ser implementados pelo SIG, e limitações da linguagem SQL para manipulação dos dados
espaciais (Câmara, 2008).

Segundo O outro tipo de abordagem da arquitectura integrada, consiste em utilizar extensões


espaciais desenvolvidas sobre SGBDs objectos-relacionais (SGBDOR). Estas extensões contêm
funcionalidades e procedimentos que permitem armazenar, acessar e analisar dados espaciais de
formato vectorial. Como desvantagens dessa arquitectura podem ser consideradas as faltas de
mecanismos de controle de integridade sobre os dados espaciais e a falta de padronização das extensões
da linguagem SQL (ESRI, 2004).

Em termos de vantagens, esta arquitectura oferece recursos que permite a criação de novos tipos
de dados e a manipulação de dados complexos, através da definição de novos métodos ou operadores
para manipular esses tipos de dados, estendendo assim seu modelo de dados e sua linguagem de
consulta. Essas características fazem com que este modelo consiga atender, em grande parte, as
exigências impostas pelos SIG’s, se comparado com a arquitectura baseada em SGBDR, a qual não
oferece estes recursos (Câmara, 2008).

Figura 4: Arquitectura integrada (Fonte: Câmara , 2008)

19
3.4.3. Base de Dados e um Sistema de Gestão de Base de Dados
3.4.3.1.Base de dados

Base de dados (informatizada) - é uma colecção de dados relacionados armazenados conjuntamente


com controlo da sua redundância, de modo a servirem uma ou mais aplicações; os dados são
armazenados de modo independente em relação aos programas que os utilizam; e é utilizada uma
abordagem comum na sua inserção, alteração e extracção (Martin, 1983).Qualquer Sistema de
Informação Geográfica integra uma ou mais bases de dados com referência espacial (Geodatabase)ou
sem referência espacial (Base de dados alfanumérica).

3.4.3.2.Base de Dados Geográfica (Geodatabase)

Um geodatabase é uma base de dados relacional que armazena dados geográficos. O geodatabase é
um contentor para armazenar dados espaciais e de atributo e relacionamentos que existem entre eles
(ESRI, 2004).
As vantagens do uso de um Geodatabase é que permite a gestão de dados SIG centralizado, possui
conjuntos de feições contínuos, geometria de feições avançadas, subtipos de feições, topologia flexível
baseada em regras, edição de dados mais precisa, anotações ligadas a feições, feições personalizadas,
redes geométricas, referenciamento linear, controle de versões, edição desconectada (Maria, 2008).

3.4.3.3.Tipos de Geodatabase

UmaGeodatabase Pessoal tem a extensão “.mdb” (um formato usado pelo Microsoft Access) e
pode ser lido por múltiplas pessoas ao mesmo tempo, mas editado por somente uma pessoa por vez.
Um geodatabase pessoal tem um tamanho máximo de 2 gigabytes (GB) e armazena dados
vectoriais(Martin, 1983).

Uma Geodatabases Multiusuários (também chamados ArcSDE® ou geodatabases empresariais)


são adequados para implementações em GIS para grandes grupos de trabalhos e empresas. Eles podem
ser lidos e editados por múltiplos usuários ao mesmo tempo, e podem armazenar tanto dados vectoriais
como raster. Geodatabases multiusuários são compreendidos pelo software ArcSDE e um SGBD tal
como IBM DB2, Informix, Oracle, ou SQL Server. Os dados espaciais são armazenados no SGBD e o
ArcSDE permite visualizar e trabalhar com os dados a partir de seus aplicativos de software
GIS(Martin, 1983).

20
3.4.3.4.Estrutura da Geodatabase

De acorco com a ESRI (2004), uma geodatabase tem três componentes primários:

 Uma classe de feição (feature datasets) é uma colecção de feições geográficas com o mesmo tipo
de geometria, os mesmos atributos, e a mesma referência espacial (ponto, linha, ou polígono). Classes
de feições podem também armazenar anotações e podem existir independentemente em um
geodatabase como classes de feições independentes ou podemos agrupá-las em conjuntos de dados de
feições.
 Um conjunto de dados de feições (features classes) é composto de classes de feições que foram
agrupadas de forma que elas possam participar em relacionamentos topológicos umas com as outras.
Todas as classes de feição em um conjunto de dados de feição devem compartilhar a mesma referência
espacial, isto é, elas devem ter o mesmo sistema de coordenadas e suas feições devem estar dentro de
uma área geográfica comum .
 Um geodatabase é composto inteiramente de tabelas, mas a maioria dessas tabelas está oculta
quando trabalhamos com o geodatabase no ArcCatalog ou ArcMap. Sua interacção com as tabelas é
gerida pelo software. Há apenas dois tipos de tabelas com as quais interagimos directamente: tabelas de
classe de feição e tabelas de atributos não-espaciais. As tabelas são exibidas no formato tradicional de
linha-e-coluna. As tabelas de classe de feicção possuem uma ou mais colunas que armazenam a
geometria da feição e as tabelas não-espaciais contêm apenas dados de atributo (sem geometria de
feição) .

Figura 5: Estrutura da Geodatabase (fonte: ESRI)

21
3.4.3.5.Topologia na Geodatabase

Topologia é uma área e estudo da matemática, porém no contexto de mapas e cartografia, ela se
ocupa com o relacionamento do posicionamento espacial entre feições geográficas, por exemplo,
rodovias que estão conectadas, uma área urbana que está contida em um município, ou duas unidades
fundiárias adjacentes. Os usuários de mapas intuitivamente trabalham com topologia quando realizam
leituras de mapas. Por exemplo, um motorista procura seguir as rodovias que conectam a origem e o
destino de sua viagem (Borges,2005).

Os relacionamentos topológicos entre feições podem ser matematicamente obtidos examinando-se


as coordenadas das feições, e os usuários de Sistemas de Informações Geográficas podem obter
vantagens a partir da estrutura topológica de seus mapas digitais (Adam, 1998).

3.5. Sistema de Gestão de Base de Dados

SGBD– é um sistema informático com funcionalidades para descrever dados e os seus atributos,
estabelecer relações entre itens dos dados, manipula-los e geri-los(Stamper,1990).

Como suporte da base de dados, existe um Sistema de Gestão de Base de Dados (SGBD), que permite a
organização, armazenamento e manipulação da informação da base de dados.

O ambiente de Base de Dados, surgiu e desenvolveu-se após vários problemas separados com
os ambientes de folha de cálculo e ficheiros. Neste ambiente grande parte dos problemas são
ultrapassados. Pois existe uma divisão clara entre as aplicações e os dados. Em vez de aplicação ser o
ponto de partida, inverte-se a posição sendo os dados o início de todo o processo de estudo, os dados
são a componente com maior peso, estes são estruturados de forma a servir os objectos específicos de
utilização(Adam, 1998).
O autor citado considera ainda queMicrosoft Access é uma aplicação informática de gestão
relacional de bases de dados.O sistema de gestão de bases de dados relacional facilita a utilização de
poderosos utilitários, permite trabalhar com dados num leque variado de formatos, fornece um
extraordinário auxílio na sua aprendizagem e utilização, torna a execução de tarefas simples, definindo
deste modo um novo nível de acesso e de utilização de informação armazenada na base de dados.

Stamper (1994), considera que as características principais do Microsoft Access e que contribuem
consideravelmente para a facilidade da sua utilização são as seguintes:
22
 Garante a integridade referencial, ou seja, as associações definidas à previnem
inconsistências ou eliminação indevida de ocorrências;
 Possibilita a visualização da forma actualizável. Os resultados obtidos através de
consultas à base de dados podem ser actualizados;
 Garante a integridade dos dados, permitindo definir valores por defeito, regras de
validação e formatos, no momento da criação da estrutura da informação;
 O Access permite estabelecer relações com outros ambientes como por exemplo
ArcView através de drivers tais como o Open Database Connection (OCDB);
 É considerada uma ferramenta de grande produtividade, devido principalmente à
utilização de macros, que possibilitam a execução automática de tarefas evitando o
recurso à programação.

O Microsoft Access é assim uma aplicação de suporte a sistemas de gestão de bases de dados
relacional (SGBDR). Numa base de dados relacional a informação encontra-se armazenada em tabelas.
Cada tabela representa um tipo de informação independente das restantes e podem relacionar-se entre si
através de associações. As relações entre as tabelas podem ser de um-para-um (1:1), um-para-muitos
(1:N) e muitos-para-muitos (N:N), depende do tipo de relação e informação que se estabelece entre as
tabelas da base de dados. O elemento chave que possibilita que todo o sistema funcione, consiste na
percepção da elaboração das relações das tabelas através das chaves primárias (Stamper, 1994).

3.6. Sistema de Posicionamento Global

A tecnologia de Sistema de Posicionamento Global, também designada por GPS, tem


actualmente uma expressão de utilização a nível mundial, sendo considerado como uma das principais
ferramentas de apoio as diversas actividades de posicionamento que suportam infra-estruturas
cadastrais, cartográficas e de sistemas de Informação georreferenciada em geral (Amorim at al. 2001).

O Sistema de Posicionamento Global (GPS) segundo (Filho, 1994) e (Sá, 2000) foi
desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América – baseado em satélites
artificiais NAVSTAR – GPS (Navigation System using Time and Ranging - Global Positioning
System) que formam uma “constelação” em órbita a cerca de 20.200 km da Terra, além de um conjunto
de estações fixas espalhadas pela superfície terrestre e por estações receptoras móveis. Em poucos
anos, o Sistema de Posicionamento Global (GPS) foi reconhecido mundialmente pelo seu grande

23
potencial em aplicações que envolvem o posicionamento rápido e eficaz. O sistema passou a ser
explorado em Geodesia e Cartografia, daí o uso quotidiano é considerado uma elite.

O GPS possibilita ao usuário obter a posição espacial, a velocidade e o tempo decorrido, isso
podendo ocorrer em qualquer lugar da superfície terrestre e a qualquer momento, havendo pelo menos
quatro satélites para serem rastreados. O sistema pode ser utilizado sob qualquer condição
meteorológica (Gaspar, 2001).

São aparelhos que trabalham com o código C/A e os que trabalham com a fase da portadora L1
(o código C/A é modulado sobre ela), através da resolução da ambiguidade de cada satélite. A grande
diferença deste equipamento é a sua capacidade de aquisição e armazenamento de dados alfanuméricos
associados às feições espaciais levantadas (ponto, linha e área). Dependendo do tipo de aparelho
utilizado a precisão pode variar 10 cm á 1m segundo uma referência. São utilizados para levantamentos
cadastrais de escala 1:50.000 ou menor (Monico, 2000). O pós-processamento dos dados levantados no
campo é realizado em gabinete utilizando-se um software específico.

3.7. Imagem de satélite QuickBird

A Teledeteçãoé o processo de obtenção de informação sobre um objecto sem estar em contacto


directo com ele, e inclui medições de energia eléctrica, magnética, electromagnética e vibracional
(acústica) (Horler & Barber, 1981).

As imagens ajudam a complementar o trabalho de campo com GPS identificando, através de


elementos existentes no terreno, os limites das parcelas. Além disso é um instrumento fundamental no
processo de adjudicação, sendo importante o requerente ver e confirmar a demarcação da sua parcela.

O QuickBird foi projetado e construído por meio da cooperação entre as empresas norte-americanas
DigitalGlobe, Ball Aerospace Technologies, Kodak e Fokker Space. O primeiro lançamento em
novembro de 2000 fracassou, vindo a ser lançado em órbita com sucesso, no dia 18 de outubro de 2001,
pela missão Boeing DeltaII, na Base Aérea de Vandenberg, na Califórnia, EUA. É um satélite de alta
precisão que oferece imagens comerciais de alta resolução espacial da Terra (PETRIE, 2002). A Digital
Globe disponibiliza imagens com 0,61 m de resolução espacial no modo Pancromático (PAN), 2,4 m
no modo Multiespectral (MS) e uma imagem denominada Pan-sharpened, que possui 0,70 m de
resolução espacial, em composição colorida ou falsa-cor. As imagens PAN e MS são adquiridas com

24
11 bits, podendo também ser fornecidas em 8 ou 16 bits. Juntamente com as imagens, são
disponibilizados os arquivos contendo os dados de suporte à imagem, os quais possuem as informações
necessárias para a correção geométrica e os coeficientes racionais polinomiais (RPC), calculados a
partir de informações da câmera do sensor e da órbita do satélite (Digital Globe, 2003).

Para o presente trabalho é importante a resolução espacial e a resolução temporal, uma vez que
trata-se de trabalhos para fins cadastrais de parcelas.

Tabela 1: Especificações técnicas do satélite QuickBird

Fonte: DigitalGlobe (2003)

3.8. Sistema de coordenadas

A posição de um objecto sobre a superfície da terra é definida pelas suas coordenadas num dado
sistema de referência,também conhecidos como sistemas de referência terrestres ou geodésicos,
associados a uma superfície que se aproxime da forma da Terra, ou seja, um elipsoide. Sobre esta

25
figura matemática são calculadas as coordenadasgeodésicas e em uma superfície plana recebem a
denominação de coordenadas planas por exemplo as coordenadas UTM(Gaspar, 2001).

Assim, as coordenadas referidas aos sistemas de referência são normalmente apresentadas em três
formas:

 Cartesianas (X,Y,Z);
 Geodésicas ou Elipsoidais (latitude, longitude, AltitudeElipsoidal);
 Planas (N,E ou X,Y);

As coordenadas podem ser representadas no plano através nas componentes Norte (N) e Leste (E)
regularmente utilizadas em mapas e cartas, referidas a um determinado sistema de referência geodésico.
Para representar uma superfície curva em plana são necessárias formulações matemáticas chamadas de
projeções. Diferentes projeções poderão ser utilizadas na confeção de mapas, em Moçambique a
projeção mais utilizada é a Universal Transversa de Mercator (UTM) (Matos, 2008).

Figura1: Projecção de uma secção de superfície da terra (Fonte: Gaspar, 2001).

Segundo Rodrigues & Maria (2004) o estabelecimento e estruturação de uma rede referencial
cadastral têm como objectivo, facilitar os trabalhos de levantamento topográfico e apoiar os municípios
em todos os projectos, tais como: materialização de pontos para delimitação de imóveis, para o uso
cadastral, para construção de infra-estrutura, para gestão de planos urbanísticos entre outros usos.

26
CAPÍTULO IV
4. METODOLOGIA DE PESQUISA

Um projecto de pesquisa é a efectiva prática da ciência, através da investigação apoiada na


utilização de métodos científicos. A existência de um método garante um comprometimento com um
modelo sistemático de investigações, no qual a colecta de dados e sua análise detalhada em relação a
um problema de pesquisa previamente formulado, são ingredientes mínimos e necessários, (Bryman,
1995). Deste modo, para a concretização desta pesquisa foi necessária a implementação dos materiais e
métodos que serão apresentados a seguir.

4.1. Materiais

O trabalho foi realizado na base de dados topográficos levantados pelo autor por meio do GPS
Trimble Nomad R3 no bairro Cumbeza, Os dados usados para a execução da pesquisa são os seguintes:
 Imagem de satélite QuickBird;
 Shapefile (camada) da divisão administrativa;
 Dados vectoriais (vértice de parcelas);

Os recursos digitais usados para a realização desta pesquisa foram:


 Software para a e elaboração dos mapas foi o ArcGIS 10.1 versão trial ;
 Pacotes de Microsoft office 2013 verão trial, para a produção do relatório;
 Um kite completo de GPS Trimble Nomad R3;
 SmartDraw CI para desenhar diagrama;

4.2. Métodologia

Para a concretização desta investigação foi necessáriauma pesquisa bibliográfica,consulta de


obras e artigosexistentes na DNTF, CENACARTA, páginas webse outras instituições. O método
permitiu consultar obras relacionadas com o tema, onde buscou-se explicações ou compreensão sobre a
natureza do tema e seus impactos. O trabalho desenvolveu-se com base no diagrama da (Figura 6) no
qual foram realizadas as seguintes actividades:
a. Pesquisabibliográfica;
b. Identificação e da área de estudo;
c. Identificação dos softwares ;
27
d. Reconhecimento da área de estudo;
e. Levantamento de dados;
f. Processamento dos dados;
g. Produção do Mapa Cadastral.

4.3. Diagrama da pesquisa

Início

Pesquisa
Bibliografica

Reconhecimento Escolha da área


do terreno de estudo

Trabalho Escolha
Trabalho de
de campo dos
Gabinete
softwares

Sensibilização Descarregamento Criação de


e correção dos base de dados
dados e Acess

Dados dos Pontos Imagem de Introdução


colhidos apoio dos dados
Levantamento & (raster) (alfanuméric
Preenchimento
Criação os)
da base de
Topologia
dados
espaciais

Digitalização

Conexão

Procução do
Controle de
Mapa
qualidade
Cadastral

Fim

Figura 6: Metodologia de realização das actividades

O mapeamento é uma actividade bastante complexa que envolve várias etapas desde a sua
planificação até a fase da sua execução, portanto o presente capítulo aborda o trabalho prático realizado
no Bairro Cumbeza durante 4 dias que resultou na colecta de 237 pontos, para efeitos de conclusão do
curso cujas etapas a seguir se descreve.

28
4.4. Trabalho de campo

Actualmente, de acordo com a DNTF (2012), o cadastro de terras é feito de forma sistemática, porta
a porta, e para isso é imprescindível a presença de alguém responsável na parcela. Essealguém, pode
ser o(a) próprio(a) titular da parcela, familiar ou representante maior de idade.

Antes do início das actividades na área pretendida, contactou-se e comunicou-se as autoridades


locais para comunicar-se à população residente sobre o trabalho que vai ser realizado na zona.

4.5. Reconhecimento da Área

Depois da comunicação às autoridades locais e aos residentes ou ocupantes das parcelas, seguiu-se
a fase do reconhecimento da área em estudo que consiste em percorrer vários hectares de parcelas a
serem levantadas e neste caso, vários obstáculos foram encontrados durante o trabalho tais como:
Falta de informação dos proprietários das parcelas, uma vez que várias parcelas encontram-seem fase
de edificação ou ocupação.

4.5.1. Planeamento da Demarcação de Parcelas

Levantamento Cinemático Pós-Processado (PPK), A técnica PPK (Kinematic Post Processed) é


usada onde um alto nível de produção é requerido, como levantamentos topográficos para o cadastro de
terras, enquanto os períodos de ocupação (tempo de observação) são reduzidos para poucos segundos
por ponto variando de 1 à 50s. Este método resultara em coordenadas precisas para cada ponto
levantado se o observador obedecer regras pré-estabelecidas no equipamento (Trimble Guide, 2008). A
precisão no levantamento cinemático pós processado PPK varia de seguinte modo:  Horizontal ±(10
mm) RMS; e  Vertical ±(20 mm) RMS.
Uma parte importante do planeamento para um levantamento de campo é a decisão referente ao
tipo de levantamento de campo a ser executado, e, usou-se o levantamento PPK (Cinemático Pós-
Processa do isto significa que, coordenadas precisas para pontos levantados não são disponíveis durante
o levantamento de campo. Para tal, as linhas de Base e coordenadas precisas todos os dados colectados
no levantamento devem ser pós-processados usando o software de escritório da Trimble ou um agente
autorizado (Trimble, 2010).

29
Neste processo, o levantamento de cada parcela é precedido pelo preenchimento do formulário
de dados em a seguinte informação é recolhida: detalhes do ocupante principal, outros ocupantes, uso
actual do solo; forma e ano de aquisição, tipo de documento apresentado e código da parcela.

O Trimble R3 GPS proporciona precisão elevada para os trabalhos topográficos, estabelece um novo
controlo local. O sistema funciona sem linha de visão entre os pontos, e pode operar dia e noite em
quaisquer condições atmosféricas (Trimble, 2010). No presente trabalho, foi utilizado o R3 cujas
componentes são as mostradas abaixo:

 Caixa de transporte do sistema Trimble R3;


 Bolsa para Trimble R3;
 Protecção Trimble Recon;
 Cabos de Antena Trimble A3;
 Baterias;
 Canetas com sensores;
 Bastão; eCarregador de baterias.

Figura 7: Kite GPS

4.5.2. Configuração do Software do Trimble R3 no GPS

Antes da realização do trabalho de campo, deve-se fazer a verificação das componentes do


equipamento e no campo para iniciar as medições deve-se fazer a configuração dos 2 (dois) Loggers,
escolhendo-se arbitrariamente o Rover (móvel) e o de Base (fixo).
30
Com a Trimble Digital Fieldbook (Figura 6), efectua-se a configuração para executar diferentes
levantamentos de campo, neste caso, o PPK( Cinemático Pós-Processado) é o indicado para a colecta
de dados para o Cadastro de Terras.

Figura 8: Janela inicial do Trimble


R3

A janela de opções mostrada acima, permite criar os nomes dos projectos nomes dos arquivos,
configurar os Loggers da Base e do Rover escolher o tipo de levantamento, definir-se os parâmetros de
cada estilo de levantamento e outros aspectos como exemplificado abaixo:
Tipo de Levantamento: Cinemático Pós-Processado (PPK);
 Dispositivo de Registo: Controlador ou Receptor DGPS;
 Intervalo de Registo: 5 segundos;
 Máscara de Elevação: 15o ;
 Máscara de PDOP: 6.00 PDOP;
 Tipo da Antena GPS: Trimble AC12872;
 Altura da Antena da Base: 1563mm;
 Altura da Antena no Rover: 2.000m;
 Datum: WGS 1984;
 Zona: 36;
 Sistema de Coordenadas: UTM;
 Controlo de qualidade: QC1;

31
4.5.3. Imagem de satélite QuickBird

Antes de iniciar qualquer trabalho de delimitação forma preparados mapas com base na imagemde
satélite Quickbird. As imagens usadas são obtidas pelo satélite Quickbid e têm uma resolução espacial
de 0,61 m, o que lhe confere o detalhe necessário para os trabalhos de levantamento topográfico para
fins cadastrais, detalhes aceitáveis para servir de base de apoio para o cadastro(Mapa 2) :

Mapa 3:Imagem de satélite QuickBird daárea de estudo

Todos os vértices têm que ser medidos, uma vez que unidosformam os polígonos das parcelas.
Por uma questão prática os vértices das parcelas são medidos de forma complementar, ou seja, o
operador não tem que medir todos os vértices de todas as parcelas, repetindo medições. Uma vez que as
parcelas partilham fronteiras (e vértices) ao medir os vértices de uma parcela, fica definido o vértice da
parcela vizinha (RUPT, 2012).

32
Figura 9:Medição de vértices com GPS

O operador do GPS tem sempre presente a geometria das parcelas para a mediçãodos pontos
necessários, sem repetir:

Pontos de fronteira: na figura anterior, por exemplo os pontos fronteira são 2 e 11, ou seja, são pontos
partilhados por vértices de parcelas vizinhas. Basta medir uma única vez cada um deles. São exemplo
de pontos isolados: 1, 6,13 e 18. Em alguns casos existem os pontos que partilham fronteiras de
parcelas, mas não partilham vértices de parcelas vizinhas.

Em cada ponto medido, recolhe-se 3 informações, que se apresentam e explicam-se de seguida:

Numeração: Este campo serve para enumerar, de forma sequencial, os pontos medidos.
Começando com o número 1000 ou 10000, a numeração incrementa, por defeito, um a um, até
n pontos medidos.

Código/nome do vértice: Todos os cantos ou vértices das parcelas devem ser medidos. O
código do ponto serve para identificar o objecto físico que ali se encontra, seja muro, árvore, marco, ou
outros.

33
A lista de descrições a adoptar e a respectiva codificação encontra-se na tabela:

Tabela 2: Lista de códigos dos pontos

NÚMERO DESCRIÇÃO CÓDIGO DE NÚMERO DESCRIÇÃO CÓDIGO DE


CAMPO CAMPO
1 Canto do muro CM 13 Fundo de Vala FV
2 Árvore AV 14 Base de vedação de areia BA
3 Marco de concreto MC 15 Topo de vedação de TA
areia
identificar4 Estaca de Madeira EM 16 Poste PO
5 Estaca de ferro (metálica) EF 17 Cruzamento de caminhos CR
6 Vedação de vegetação VV 18 Pedras/Rochas PR
7 Vedação de caniço VC 19 Margem de linha de água MA
8 Vedação de bamboo VB 20 Nãomaterializado NM
9 Vedação de ferro VF 21 Ponto de controle PC
(metálica)
10 Vedação de Madeira VM 22 Verificar VER
11 Canto da casa CC 23 Delete DEL
12 Topo de Vala TV 24 Ausência AUS
25 Conflito CON

Fonte: (RUPT, 2012)

Código da parcela: O código da parcela é o que identifica, de forma única, cada área registada. O
código tem que ser único em cada bairro e será formado por letras e números. A constituição deste
código começa com uma ou duas letras e seguem-se 3 númerosque vão de 001 a um máximo de 999.
Estes são os únicos formatos aceites. Exemplo:
A123 ouB123 AB123

4.5.4. Precisão Requerida

No trabalho de levantamento topográfico fez-se a medição das parcelas, onde foram cumpridas
as normas e instruções técnicas estabelecidas pela DNTF. Segundo o anunciado, através da circular
nº001/MINAG/DNTF/CADASTRO/2011 que a precisão do levantamento “deve ser igual ou inferior a
5 cm.”

34
4.5.4.1.Tolerâncias na demarcação por GPS

A posição absoluta de um marco de propriedade deve observar os seguintes limites:

Tabela 3:Precisão requerida


Precisão requerida

Precisão média admissível  0.050 m ou 5 cm

Fonte: Manual de procedimentos para a regularização das ocupações de terras, 2012

É também boa política, aquando da recolha sistemática de pontos, que se verifique nos parâmetros da
tabela abaixo. Só assim se garante a qualidade dos pontos medidos.

Tabela 4: Tabela de parâmetros do levantamento topográfico

Elementos para Valor


avaliação
PDOP Máximo 6
Elevação de satélites Mínimo 10º
Número mínimo de 4 (Tempo Real 5)
satélites
Modo 3D (Tridimensional)
Correcção Diferencial DGPS

Na realização do levantamento topográfico foi necessário um ponto próximo do local de


trabalho que serviu de base para a ligação à rede geodésica.

4.5.5. Demarcação de Parcelas Para o Cadastro de Terras

A concretização prática desta etapa de trabalho foi realmente a execução no terreno como se
ilustra na (Figura 11) abaixo, isto é, a colecta de dados para o cadastro de Terras teve duração de 4
(quatro) dias no campo, onde fez-se o levantamento de 237 pontos.

35
Figura 10:Levantamento com Rover

4.6. Trabalho do gabinete


4.6.1. Descarregamento dos Dados

Quando o levantamento de campo é completado, deve-se descarregar todos os dados colectados


(dadosda Estação Base, como também os dados do Receptor Rover) usando o Software Trimble
BusinessCenter para o computador de escritório. Nos anexos encontra-se o Esboço Topográfico
daColecta de Dados para o Cadastro de Terras que ilustra os pontos observados e seus códigos.
Com a precisão do Trimble R3 na Horizontal de ±(10 mm + 1 ppm) RMS usando 12 Canais L1
doCódigo C/A (Portadora Completa L1, WAAS/EGNOS) e a tecnologia de redução em
multitrajectoTrimble EVERES, nesta etapa com o SoftwareTrimble Business Center corrige-se todos os
erros cometidos nocampo para os observadores que cumpriram com as instruções da Trimble R3.

4.6.2. Processamento dos dados

As coordenadas dos pontos medidos durante o levantamento de campo foram processadas usando o
software de escritório da Trimble Software Trimble Business Center. A partir das coordenadas da Base,
Página 42 o software calcula para todos os pontos as respectivas posições fazendo assim o ajustamento

36
dos erros cometidos no campo (vide anexos - Esboço Topográfico de Ajustamento) e depois são
processados no ArcGis 10.1 com a finalidade de se visualizar as parcelas levantadas que se encontram
nos anexos – Mapa Cadastral com Áreas em Hectares.

O sistema Trimble R3 processa o sistema operativo Microsoft Windows Mobile para Pocket PC, que é
a norma da indústria a nível mundial para PDA’s. Isto significa que pode-se correr programas
adicionais, específicos para Pocket PC, incluindo Pocket Word ou Excel, tornando o sistema Trimble
R3 muito flexível para múltiplos utilizadores. O Windows Mobile para Pocket PC torna também o
sistema Trimble R3 muito fácil de usar. Os novos utilizadores têm uma curva de aprendizagem muito
curta no sistema operativo e no software Trimble Digital Fieldbook devido ao ambiente familiar, menus
e terminologia (Trimble, 2010).

4.6.3. Concepção de base para dados alfanumérica

Quando são realizados os trabalhos de cadastro técnico de parcelas é importante que a informação
recolhida em campo, seja espacial ou alfanumérica, tem que ser guardada, registada e gerida da melhor
forma tendo em vista a dinamização de todo o processo cadastral. Como foi referido, várias são as
informações recolhidas, principalmente espacial (através do aparelho GPS) e alfanumérica (através do
preenchimento dos formulários), mas também através da digitalização por scan ou informação
produzida a partir da imagem de satélite.

O presente subcapítulo pretende descrever de forma minuciosa os passos a seguidos, para que no
gabinete se consiga organizar, conservar e gerir a informação cadastral.

A concepção de uma base de dados alfanumérica para o Cadastro de Terras é complexa e requer um
esforço em termos da sua estruturação. A organização da informação em base de dados pode ser
descrita em termos de tabelas, linhas, campos e chaves. Uma tabela constitui a unidade mais elementar
de armazenamento da informação relativa a um assunto e é composta por um conjunto de linhas e
colunas.

Uma linha de uma tabela corresponde a uma ocorrência das entidades descrita pela tabela e é
constituída por um conjunto de atributos, estas contêm características da entidade representada pela
tabela.Numa tabela relacional existe uma coluna que vai identificar univocamente cada linha de dados
definida como chave da tabela, os restantes campos são descritores.

37
4.6.4. Identificação das Entidades Atributos

Primeiramente, foi preciso fazer um levantamento do conjuntode informações relevantes para o


cadastros juntos dos sectores da DNTF para que se pudesse definir quais seriam as entidades e atributos
mais importantes, ou seja de maior uso desses sectores, para que posteriormente pudessem integrar a
base de dados do presente trabalho. Foram identificadas as seguintes entidades e atributos
respectivamente:

 Requerente(ID_Requerente, Apelido,Nome, Nacionalidade, Estado Civil_ID, Tipo ID,


Numero_ID, Telefone, Email,Endereço, Fax, Data Nascimento);
 Nacionalidade (ID_Nacionalidade, Nacionalidade);
 Natureza (ID_Natuteza, Natureza);
 Estado_Civil (ID_Estadocivil, Estado_civil);
 Id_tipo: (ID_tipo, Tipo de Identificação);
 Processo: (Código_Processo, NumProc_Prov, ÁreaRequerida, ÁreaAutorizada, Província_id,
Distrito_id, PostoAdmin_id, Localidade,Finalidade_id, Estado_id, DataDesp_prov)
 Provincia: (ID, Provincia);
 Distrito (ID, Provincia_id, Distrito);
 Posto_Administrativo(ID, Distrito_id, PostoAdmin);
 Finalidade (ID, Finalidade);
 Estado (ID, estado);

Posteriormente a identificação das entidades e os respectivos atributos, atribui-se o tipo de dado a


cada atributo e no fim seguindo as regras de normalização foram relacionadas as entidades, vide
anexo(Modelo Relacional para o Cadastro).

4.6.5. Concepção da Base de Dados Geográfica (Geodatabase)

O ArcCatalog 10.1 dispõe de todas as ferramentas necessárias para se produzir um geodatabase,


sendo possível criar umageodatabase vazia, em seguida adicionar à esta geodatabase todos os seus
elementos e as propriedades de cada um desses elementos.

38
4.6.6. Relações Topológicas

A carta ou planta cadastral deve estabelecer a correspondência gráfica entre as coordenadas dos
vértices da rede cadastral, para garantir a exactidão da localização. A referência cadastral deve ser
incorporada de forma sequencial.

Distrito Parcela
Posto Administrativo

Bairro

Figura 11: Relações de Topologia

Os elementos que compõem a base de dados cadastral devem cumprir determinadas regras
topológicas, definidas como regras de relação geométricas entre as entidades espacial. São essas regras
que garantem uma adequada representação dessas entidades num Sistema de Informação Geográfica,
desta forma as diferentes relações de topologia indicam com detalhes uma sequência de continuidade:
 Bairros: conjunto de entidades de tipo poligonal que tem entre si una topologia de
adjacência.
 Blocos cadastrais: conjunto de entidades de tipo poligonal que tem entre si una topologia
de adjacência.
 Quarteirões: conjunto de entidades de tipo poligonal que tem entre si una topologia de
adjacência.
 Parcelas: conjunto de entidades de tipo poligonal que tem entre si una topologia de
adjacência.

Topologia de adjacência: os elementos partilham lados comuns, encontram adjacente.

Topologia de inclusão é referente aos elementos que se encontram completamente incluídos nos
elementos do nível superior, mas podem compartilhar alguns extremos.

39
4.6.7. Integrações dos Modelos

A implementação do modelo para a área de estudo foi desenvolvida com base em dois softwares:

 Um SGBD, utilizando o Microsoft Access 2013


 O softwares ArcGis 10.1 da ESRI.
O MS Access foi construído a base de dados e o ArcGis foi para a criação da parte gráfica em
camadas de informação necessárias para uma boa integração com a base de dados. A ligação entre as
duas plataformas, do Access e do ArcGis, é feita através da coluna comum entre ambas, o número do
código da parcela do titular. Os dois modelos são integrados de forma permanente onde os dados
gráficos e alfanuméricos são visualizados, actualizados e monitorizados de forma sistemática.

4.6.8. Interface SIG

Para fazer a conexão entre o SGBD com o ArcGisDesktop, recorreu-se a comandos das duas
plataformas.

Figura 12:Interface SIG (Fonte: Maria, 2002)

Criou-se uma ODBC (Open DataBase Connection), no painel de controlo do ambiente MS


Windows, através das ferramentas administrativas, atribui-se o nome de “cadastro_urbano”.

ODBC é uma tecnologia padrão de programação para o acesso a um banco de dados por meio
de uma biblioteca de funções pré-definida, criada pelo SQL Access Group. A ODBC oferece uma
interface padronizada de funções e serve de mediador de sistemas, ocultando do programador
diferenças de protocolos de comunicação entre as plataformas e dependências do sistema operacional.
(Maria, 2008).

40
De acorod com Adam (1997), a comunicação entre os dois sistemas estabelece-se através da
parte gráfica visualizando no ArcMap e a parte alfanumérica em tabelas no MS Access, elas processam
de duas formas:

 Por partilha de informação contida nas bases de dados, o Arcview manipula e permite a
visualização do conteúdo da base de dados do Access através de drives ODBC. Este é
usado para apresentar dados alfanuméricos de entidades gráficas seleccionadas e para
criar mapas funcionais com base em atributos do tema seleccionado;
 Por comunicação explícita entre as duas aplicações: o SGBD Access e o ArcView
estabelecem comunicação através de canais DDE (Dinamic Data Exchange) acedendo a
comandos internos da outra aplicação .

O ArcGis incorpora as componentes de acesso a dados e inclui o provedor OLE DB com e o driver
ODBC. Estas duas componentes constituem uma ponte de ligação de acesso rápido para informação
proveniente de várias fontes externas.O provedor OLE (Object Linking and Embedding) do DB
assegura a troca de informação entre o fornecedor dos dados, MS Access e o ArcCatalog ou o ArcMap.

O maior benefício em usar essa tecnologia é na medida em que reduz o tamanho do arquivo do
documento, e também tem uma habilidade em criar um arquivo mestre. Esse arquivo mestre tem o
papel de actualizar os documentos conectados, qualquer alteração no documento de origem é
automaticamente actualizado no OLE DB (Queiroiz, 2007).No ArcMap criou-se a conexão através do
comando Join/relate, um comando da plataforma SIG ArcGis, que permite realizar a junção de tabelas
através de campos comuns. No nosso caso o campo comum é o código da parcela .

41
CAPÍTULO V
5. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
5.1. Modelo de base de dados geográficos

A concepção de uma geodatabase para o cadastro de terras é complexa e requer um esforço em termos
da sua estruturação. Uma geodatabase pode ser estruturada em termos de feacture datasets, feacture
classes e tabelas. O ArcCatalog dispõe de todas as ferramentas necessárias para se produzir um
geodatabase, sendo possível criar um geodatabase vazio, em seguida adicionar à esta geodatabase todos
os seus elementos e as propriedades de cada um desses elementos.

A geodatabase para o cadastro de parcelas no bairro de Cumbeza obedeceu a seguinte estrutura:

Figura 13: Modelo de base de dados

Os elementos que compõem a base de dados cadastral devem cumprir determinadas regras topológicas,
definidas como regras de relação geométricas entre as entidades espaciais. Essas regras vão garantir
uma adequada representação dessas entidades no Sistema de Informação Geográfica, desta forma as
diferentes relações de topologia indicam com detalhes uma sequência de continuidade.

42
 Parcelas: conjunto de entidades de tipo poligonal que tem entre si uma topologia de adjacência.
 As parcelas não podem intersectarem-se entre si, mas podem compartilhar alguns extremos.

5.2. Modelo de base de dados em Acess

A organização da informação em base de dados pode ser descrita em termos de tabelas, linhas, campos
e chaves. Uma tabela constitui a unidade mais elementar de armazenamento da informação relativa a
um assunto e é composta por um conjunto de linhas e colunas. Uma linha de uma tabela corresponde a
uma ocorrência das entidades descrita pela tabela e é constituída por um conjunto de atributos, estas
contêm características da entidade representada pela tabela.

Numa tabela relacional existe uma coluna que vai identificar univocamente cada linha de dados
definida como chave da tabela, os restantes campos são descritores.

Figura 14: Modelo relacional dos dados para o cadastro

43
5.2.1. Controlo de qualidade

Durante o mapeamento cadastral, no registo de cada bairro, os dados recolhidos e digitalizados têm
que passar por um controlo de qualidade de forma a garantir que estejam consistentes. Para questões de
melhor organização no controle dos dados, as tarefas necessárias para verificar os dados, tendo em vista
principalmente a segurança:

- Sobreposição entre parcelas;

- Código da parcela em falta ou repetido;

- Correspondência entre as informações do SIG e do Access.

Uma vez garantida a qualidade dos dados, no final dos registos produziu-se o mapa cadastral.

5.3. Mapa Cadastral

A partir da integração dos modelos acima citados foi possível gerar o seguinte resultados:

Mapa 4: Mapa Cadastral das Parcelas

44
Mapa 5: Mapa cadastral sobre imagem de satélite QuickBird

Desenvolvida a base de dados associado às feições espaciais, é possível realizar uma série de
consultas espaciais. A informação espacial e alfanumérica da parcela, pode ser seleccionada a partir no
sistema facilmente.

Apresenta-se aqui o caso de áreas urbanas, mas o princípio é o mesmo nas zonas rurais, sendo
que município é equivalente a distrito e bairro equivalente a localidade.

45
CAPÍTULO VI
6. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
6.1. Conclusão

Diante dopresente trabalho conclui-se que o mapeamento cadastral de parcelas é de grande


importância, porque através da implementação da técnica do levantamento topográfico na recolha de
dados por GPS e integração de base de dados em Acess e Argis, pode-se disponibilizar informação
fidedigna sobre o uso e ocupação da terra. A utilização da imagem de satélite revelou-se importante
pois ela serve de apoio para a visualização e digitalização, visto que esta oferece uma resolução
espacial para fins do cadastro territorial.
Concluiu-se que mapa cadastral de Cumbeza é importante para os órgãos administrativos ao nível
local para tomada de decisões, gestão do espaço geográfico assim como para a disponibilização da
informação actualizada para a sociedade ao nível local e no geral.
Esta mostra-se como umamaneira de eliminar o conflito de terras que tem-se verificado nos últimos
dias. Pode-se verificar ainda que a implementação de um SIG, entre muitos benefícios permitem apoiar
na tomada de decisões, melhores serviços a população e melhor organização e gestão para a instituição
que tutela.

Constatou-se que a consolidação da parte gráfica deve ser feita em sintonia com a recolha de
todas as informações alfanuméricas que as caracterizam. É importante, consolidar uma base cadastral,
construída com base no levantamento fidedigno de dados do terreno, sendo de importância crucial que
haja um eficaz controlo de qualidade.
Com o resultado obtido mostrou-se que a tecnologia SIG que foi implementada no presente
trabalho, permite uma conexão entre a parte gráfica e a parte descritiva do cadastro, isto que por sua
vez simplifica não só a parte de gestão urbana como também simplifica todo o processo de registo,
consequentemente trazer mais segurança jurídica às questões de aquisição do DUAT, outras
transacções entre os utentes da terra. O que de certa maneira traz vantagens nas autoridades
administrativas e a sociedade.

46
6.2. Recomendações

Recomenda-se para as instituições que tutelam a área de cadastro de terras a actualização dos
mapas cadastrais de parcelas de modo a evitar os conflitos de terras que têm-se registado, e arrecadar as
receitas vindas das taxas de ocupação da terra.

Para as instituições que cuidam do cadastro recomenda-se implementação da tecnologia SIG


para actualização da informação, unindo a informação gráfica e alfanumérica de modo que o sistema
permitirá:

 Melhorar o armazenamento e a estruturação dos dados;


 Melhorar as tarefas dos funcionários no registo dos processos;
 Disponibilizar informações sobre proprietários;
 Filtrar a procura de parcelas com uma determinada finalidade;
 Gerir melhor os conflitos de confrontações de propriedades;
 Fazer melhor análise de políticas de gestão de terras;
 Disponibilizar informações actualizadas;

Recomenda-se a sensibilização da população em matérias de cadastro de terras de modo a


consciencializá-los sobre a necessidade, importância e vantagens da regularização dos espaços que
ocupam e tornar cada vez melhor o processo de segurança na posse de terra.

47
6.3. Referências bibliográficas

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brasileiras. Obtido em http://chaves.com.br/TEXTSELF/COMPUT/sad.htm - consultado no dia 19 de
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PINHEIRO, C. A.; SANTOS, R. M. Originais do Levantamento Topográfico Cadastral Imobiliário
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CADASTRO TÉCNICO MULTIFINALITÁRIO E GESTÃO TERRITORIAL: 2000.

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48
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- LEGISLAÇÃO SOBRE A TERRA - Lei n.o19/97 e REGULAMENTO DA LEI DE TERRAS


Decreto n.o 66/98 (1999), Imprensa Nacional de Moçambique.Maputo.

- LOCH, C. Cadastro Técnico Multifinalitário: Instrumento de Política Fiscal e Urbana. In: ERBA,
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50
Anexos

xi
ANEXO 1: MODELO RELACIONAL DOS DADOS PARA O CADASTRO

xii
ANEXO 2:FORMULÁRIO DO PREENCHIMENTO DO PROCESSO CADASTRAL

xiii
ANEXO 3: FORMULÁRIO DO PREENCHIMENTO DO PROCESSO CADASTRAL

xiv
xv
xvi
ANEXO : Tabelas de coordenadas colhidas vértices das parcelas levantadas em Cumbeza

xvii
xviii
xix
ANEXO: Registo de alguns momentos durante o trabalho de campo

xx

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