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INSTITUTO CONCÓRDIA DE SÃO PAULO

Escola Superior de Teologia


Missiologia 2
Prof. Ari Lange
Gleisson Roberto Schmidt - 5º Teológico
Maio de 2001

RELATÓRIO

Curso Alfa -
Uma Introdução Prática à fé cristã

O Curso Alfa é uma introdução prática à fé cristã,


desenvolvida pela igreja Holy Trinity Brompton, de Londres,
Inglaterra. A Cook Ministry Resources, que distribui os
materiais do Curso Alfa, é uma divisão da Cook Communications
Ministries International (CCMI). A CCMI produz e distribui
materiais e serviços de comunicação cristã em todos o mundo, com
o fim de cumprir a missão de promover a aceitação de Jesus
Cristo como Salvador e contribuir no ensino e prática de seus
dois grandes mandamentos1.

Perguntas da vida: o ponto de partida do Curso Alfa


Para Sandy Millar, que escreveu o prólogo de Preguntas de
la Vida, um dos manuais básicos do curso, apesar da evasão de
membros - em sua maioria menores de 20 anos - que tem sido
verificada em igrejas de todo o mundo e, em particular, da
Inglaterra e dos Estados Unidos, existem sinais de melhora.
Sandy afirma que
hay indudablemente un nuevo interés en los asuntos
espirituales, junto com el deseo y la creciente esperanza
de que en algún lugar y de algún modo, se pueda hallar la
respuesta contemporánea a la eterna pregunta que dice
"Cuál es la verdad?"2

Nicky Gumbel, idealizador do Curso Alfa e autor de sua


bibliografia, pensa da mesma forma. Ele afirma que
Los cristianos siempre estarán fascinados por el fundador
de su fe y el Señor de sus vidas. Pero en la actualidad,
se observa un resurgimiento de esse interés entre quienes
no asisten a la iglesia. Muchos hacen preguntas acerca de
Jesús. Fue solo un hombre o será que es el Hijo de Dios?
Y si lo es, cuáles son las implicaciones prácticas para
mi vida?3

Este é o ponto de partida do Curso Alfa: as dúvidas, os


questionamentos mais recorrentes entre as pessoas que "observam
1
Gumbel, Nicky (1999). Preguntas de la Vida. Una Introducción Prática a la Fe
Cristiana. Nicky Gumbel/David C. Cook Publishing Co. P. 5.
2
Id., p. 7.
3
Id., p. 9.
2

de fora" a igreja cristã. Qual é o propósito da vida? O que


acontece depois da morte? Por que Jesus teve que morrer? Que
importância a Bíblia tem para nossas vidas hoje em dia? De
acordo com Luis Palau, milhares de homens e mulheres em todo o
mundo têm alcançado, nas Preguntas de la Vida, as respostas a
estas e outras questões, além da indicação de um caminho
emocionante e relevante, no mundo atual, rumo ao cristianismo
autêntico.

Nicky Gumbel
Falemos sobre idealizador do Curso. Nicky Gumbel estudou
Direito na Universidade de Cambridge e Teologia em Oxford. Após
exercer sua carreira como advogado, agora é parte da liderança
de sua igreja, a Holy Trinity Brompton, de Londres.

O trabalho em pequenos grupos


O Guia do Líder do Curso Alfa traz, em sua primeira parte,
três capítulos sobre a "Capacitação para o líder do pequeno
grupo". Essa é a estratégia de trabalho proposta para o curso:
reuniões em pequenos grupos, de doze pessoas - uma vez que Jesus
mesmo escolheu doze discípulos -, que inclui dois líderes, dois
ajudantes e mais ou menos oito convidados. O propósito geral do
trabalho em pequenos grupos, junto com todo o Curso Alfa em si,
é ajudar as pessoas a terem uma relação - pessoal, subentende-se
- com Jesus Cristo4.
Dentro desse propósito geral, há seis metas secundárias:
1. Discutir os pontos que surgem na prática do grupo
Nesta prática o líder deve, além de cuidar que o espaço
físico do encontro seja propício à reunião, cuidar também de sua
própria liderança. Precisa evitar tanto perguntas simples demais
(e ao mesmo tempo estar preparado para respondê-las) quanto uma
liderança dominadora do grupo. Pelo contrário, seu papel é ser
um moderador, ou seja, um membro "comum" do grupo que está
ajudando a promover um diálogo aberto. Dialogando, ele não deve
julgar, impor condições ou sua própria verdade; deve, isso sim,
buscar opiniões em vez de respostas acabadas. Para isso é
preciso que ele faça perguntas curtas, simples, mas que façam
pensar e não possam simplesmente ser respondidas com um "sim" ou
"não". E na depuração das opiniões, a autoridade das Escrituras
é que deve dar o tom.
Nicky reconhece que alguns grupos, por serem formados por
pessoas que não freqüentam nenhuma igreja, podem nem passar da
discussão inicial ao estudo bíblico. Assim, para envolver tais
pessoas e dar maior fluência à discussão, sugere que em tais
casos se pergunte a elas "O que você pensa?", ou "O que você
sente sobre isso?".
Os sete pontos que surgem com maior freqüência durante o
curso Alfa são:
 Por que Deus permite o sofrimento?
4
Gumbel, Nicky (1999). Guía del Líder - Curso Alfa. Guias para el Entrenamiento
del Líder y Discusión en Grupos. Londres: HTB Publications. P. 4.
3


E as outras religiões?

Há algo errado nas relações sexuais pré-matrimoniais?

Como se compara o movimento da Nova Era com o
cristianismo?
 Qual é a atitude do cristão frente ao homossexualismo?
 Existe um conflito entre a ciência e o cristianismo?
 A Trindade é uma doutrina sem fundamento bíblico,
inacreditável e irrelevante?5
2. Ser um modelo para um estudo bíblico
O grupo objetiva que os seus membros aprendam a estudar a
Bíblia por si mesmos, que cresçam em conhecimento e escutem a
voz de Deus. Por isso, é fundamental deixar que sejam os membros
os que mais falem, e não o líder. Este por sua vez, deve
começar, bem preparado, fazendo perguntas diretas e abertas, do
tipo "Por que Jesus disse isso?" ou "O que ele disse?". Com
Bíblias distribuídas para todos, numa tradução moderna, ele deve
incentivar que todos leiam as passagens, fazendo pequenas
introduções e comentários quando necessários.
3. Dar um exemplo de oração
A oração é a tarefa mais importante dos líderes e ajudantes
do Curso Alfa6. Por isso, eles devem reunir-se antes de cada
sessão para orar pela reunião e incentivar seus participantes a
orarem uns pelos outros.
Os encontros devem iniciar e terminar com ou, no mínimo,
incluir uma oração. Essa pode ser feita pelo líder, mas tanto
melhor se o for por algum dos membros convidados do grupo.
Orações curtas, que expressem desejos e agradecimentos que
partam do próprio grupo.
4. Desenvolver amizades duradouras dentro do corpo de Cristo
O conhecimento mútuo e os encontros periódicos,
particulares, devem ser incentivados. Afinal, diz Gumbel: "La
razón principal por la cual las personas se quedan en una
iglesia es por las amistades que han desarrollado"7.
5. Aprender a ministrar-se uns aos outros
Ministrar os dons com o poder do Espírito.
6. Treinar os ajudantes para que sejam líderes da próxima vez
É a cautela que proporciona a criação de mais grupos (2Tm
2.2)

Cuidado pastoral
O segundo capítulo dessa sessão trata do "Cuidado Pastoral".
É este cuidado que levará o líder de grupo a, seguindo o exemplo
de Jesus (Lc 13.34), apresentar a Deus todos seus integrantes
"como pessoas espiritualmente adultas e unidas com Cristo" (Cl
1.28). Com isso em meta o líder ministra a todas os
participantes de forma organizada e saudável, ora por cada um
deles e objetiva que haja seguimento do trabalho, tanto no grupo
Alfa, quanto na participação dos membros na igreja, na qual
5
Id., p. 5.
6
Id., p. 18.
7
Id., p. 8.
4

deverão usar seus dons. Em resumo, o líder deve animar seus


membros, cada um, a que busca a Cristo e siga a ele e a ninguém
mais8.
O método para se alcançar tais objetivos envolve:
 Levar as pessoas aos pés de Jesus;
 Animar os novos crentes a crescer em sua relação com o
Salvador (através de estudo bíblico, oração, livros
cristãos e cassetes, descritos abaixo);
 Animar os novos crentes a crescer em sua relação com o
corpo de Cristo
A atitude do líder deve ser a de uma fonte de apoio, alguém
que escuta e proporciona paz aos que buscam sua ajuda. Para
cumprir esse compromisso, todo esforço deve ser vencido, desde
as antipatias que o líder pode ter com alguém que participa do
encontro até o atendimento "noturno" aos irmãos. Afirma Nicky ao
líder: "Esté listo para servir: utilice cada don del Espíritu:
evangelismo, enseñanza, pastorado e profecía (escuchar a Dios)"9.

Ministração
Tudo o que se faz no Curso Alfa é ministração. Essa pode
significar cumprir com as necessidades dos outros baseando-nos
nos recursos de Deus (segundo John Wimber) ou, seguindo os
moldes da igreja primitiva, com dons espirituais, sobrenaturais,
cujo exercício confirmava a presença do Espírito Santo (The New
Bible Dictionary, 1982), ou, ainda, a cooperação entre Deus e os
cristãos (Ex 14.16, 21-22).
Essa ministração, própria do Espírito Santo, baseia-se sobre
a autoridade da Bíblia, a dignidade do indivíduo, a harmonia nas
relações interpessoais e a participação na igreja, corpo de
Cristo. Além dos encontros periódicos o Curso Alfa também propõe
a realização de retiros de fim-de-semana, com um roteiro próprio
de estudos que inclui a celebração da Santa Ceia.
O modelo de ministério proposto por Gumbel, que envolve dez
itens, exige que o ministrador, ou líder, seja totalmente
dependente do Espírito, intercedendo sempre em oração pelos seus
ministrados. Para uma abordagem propriamente evangelística ele
propõe:
IV. Explique cómo va a orar y promover la fe en una
promesa particular de Dios (Una parte de la fe es
encontrar una promesa de Dios y atrevernos a creerla)
V. Párese de frnete a la persona por la que está orando
y pídale al Espíritu Santo que venga. Déle la biénvenida
al Espíritu Santo cuando vea manifestaciones de su
presencia y espere la dirección de Dios a medida que
pide dirección adicional.
VI. Pídale a Dios mentalmente que le indique lo que Él
quiere que haga o diga, cómo quiere animar a la persona
y los dones que quiere impartir.

8
Id., p. 10.
9
Id., p. 12.
5

VII. Exhorte a la persona para que crea en la promesa de


Dios y anticipe la venida de su Espíritu Santo.
VIII. Pregunte qué está sucediendo.
 "Sientes que Dios está haciendo algo?"
 "Qué sientes que está sucediendo?"
IX. Debemos aferrarnos a las promessas de Dios, advertir
acerca de las tentacionaes que pueden venir, y negarnos
a creer que "no sucedió nada"
X. Manténgase en contacto entre sesiones.10

Os manuais do curso sugerem, com esse propósito, uma "Oração


para receber Jesus Cristo como Senhor e Salvador"11.

As reuniões
As reuniões semanais, ou encontros de estudo bíblico do
Curso Alfa devem seguir o padrão sugerido no Guia do Lider e que
os convidados poderão acompanhar no Manual do Curso Alfa. Tanto
para os líderes e ajudantes quanto para os convidados recomenda-
se a leitura de Perguntas da Vida. Os quinze capítulos deste
livro - que inclui um Guia de Estudo para cada um - tratam
exatamente dos assuntos das quinze reuniões que o curso propõe,
servindo assim de base bibliográfica para o mesmo.
Os temas dos quinze encontros são:
1. O cristianismo: Chato, falso e irrelevante?
2. Quem é Jesus?
3. Por que Jesus morreu?
4. Como posso ter segurança sobre minha fé?
5. Por que e como devo ler a Bíblia?
6. Por que e como devo orar?
7. Como Deus nos guia?
8. Quem é o Espírito Santo?
9. O que faz o Espírito Santo?
10. Como posso encher-me do Espírito Santo?
11. Como posso resistir ao mal?
12. Por que e como devemos dize-lo aos outros?
13. Deus cura, hoje em dia?
14. E a igreja?
15. Como posso aproveitar ao máximo o resto da minha vida?
Geralmente os estudos 8 a 10 e 15 são apresentados durante o
retiro de fim-de-semana. Gumbel afirma ser muito eficiente tirar
um tempo para a adoração e ministração num grupo grande, formado
por vários pequenos grupos, depois de tais estudos.
Segundo o cronograma proposto no Guia do Líder, após um
período mínimo de 2 semanas de reuniões de preparação entre os
líderes e ajudantes, cada sessão do Curso Alfa deve começar com
um jantar no local designado para o encontro (igreja, salão
paroquial, etc.). Após o jantar, todos os grupos pequenos
assistem juntos o vídeo ou ouvem a fita cassete própria do
estudo do dia. Em seguida, um breve intervalo antecede a divisão
10
Id., pp. 15-16.
11
Id., p. 47; Manual del Curso Alfa, p. 75.
6

e reunião dos pequenos grupos, que deve durar aproximadamente 45


minutos - durante o qual o material do curso deve estar
disponível para venda. Ao final da sessão, terão transcorrido
cerca de duas horas e meia de encontro.

Esquema das sessões dos pequenos grupos


A metodologia das sessões nos pequenos grupos não segue, por
assim dizer, um esquema rígido. Algumas - como as introdutórias,
de nº 1 e 2 - excluem o estudo bíblico; outras - como as
designadas para o retiro - sugerem apenas os temas para
discussão. Outras ainda requerem apenas as perguntas
introdutórias e o estudo bíblico.
Contudo, as reuniões dos pequenos grupos do Curso Alfa
incluem algumas partes principais. Vejamos algumas delas:
1. Tema
"Qual é a diferença entre a morte de Jesus e a morte de
Sócrates, um dos mártires ou a de um herói de guerra?" "O que
ocasionou a morte de Jesus?" (da sessão nº 3, "Por que Jesus
morreu?"
2. Temas para iniciar a discussão
"1. Qual é a sua reação diante da crucificação?"
"2. Você sente que o pecado é um conceito fora de moda ou
algo sobre o que você ainda pensa?"
"3. Como você relaciona as palavras pecado e perdão?" (id.)
Provavelmente só se usem um ou dois por sessão. O que
importa é que as perguntas sejam sempre abertas, não
intimidantes ou subjetivas.
3. Estudo bíblico opcional
"Isaías 52.13-53.12: O Sofrimento e a Glória do Servo", com
uma introdução, perguntas para discussão e análise de passagens
paralelas. Como já dissemos, nem sempre o grupo chega até o
estudo bíblico. Também nem sempre a passagem bíblica se
relaciona com o tema prático em questão 12, podendo o líder
escolher outra de sua preferência.
4. Temas de discussão
"1. O que lhe fez decidir participar do Curso Alfa?"
"2. Quais são seus sentimentos sobre Jesus?"
"3. Se você pudesse conhecer Jesus pessoalmente, como se
sentiria? O que lhe diria? O que lhe perguntaria?" (da sessão nº
2, "Quem é Jesus?")
5. Quebra-gelo
"... Jogo dos Nomes...Cada pessoa deve dar seu nome
acompanhado por um adjetivo ou palavra descritiva. Por
exemplo, Roberto pode dizer: 'Roberto, o romântico'... A
segunda pessoa diz seu nome e repete o da pessoa
anterior..." (id.)

Recursos disponíveis
Os recursos disponíveis para o estabelecimento e treinamento
de líderes do curso estão disponíveis um vídeo de introdução,
12
Id., p. 20.
7

cassetes, os vídeos Cómo presentar el Curso Alfa (em 2 volumes),


o manual Cómo presentar el Curso Alfa (todos estes disponíveis
em inglês) e o Guía del Líder del Curso Alfa (também disponível
em espanhol). Entre os recursos para a sua apresentação está uma
série de 5 vídeos, o Manual del Curso Alfa, Por qué Jesús? (cuja
leitura, como dissemos, é recomendada para cada participante),
Preguntas de la Vida (leitura necessária para cada líder), todos
estes em espanhol. Em inglês estão também disponíveis folhetos
de registração para cada participante, o livro Searching Jesus e
as outras obras de Nicky Gumbel:
 Why Christmas, versão natalina de Por qué Jesús?;
 Searching Issues, que apresenta os sete temas apresentados
mais frequentemente pelos participantes do curso;
 A Live Worth Living, que baseado no livro de Filipenses, é
um "paso importante para aquellos que acaban de completar
el Curso Alfa, y para aquellos que quieren poner su fe en
una base bíblica firme"13;
 Challenging Lifestyle, estudo do Sermão das Bem-
Aventuranças que demonstra que os ensinos de Jesus estão
diretamente opostos ao estilo de vida moderno, apresentando
uma alternativa radical;
 Telling Others, que inclui os princípios e aspectos
práticos de apresentar o Curso Alfa. Também inclui
testemunhos sobre vidas que têm sido transformadas por meio
do curso;
 The Heart of Revival: dez estudos baseados em Isaías 40-66,
"enfocando verdades importantes para el mundo de hoy, el
verdadero significado del avivamiente y cómo podemos ser
parte del mismo"14;
 30 Days, que propõe 30 dias de leitura da Bíblia e oração "
para ver cómo la Palabra de Dios y Su Espíritu pueden
cambiar su vida. Comience un nuevo hábito que le dará vida
y energía a su caminar diario!"15.

Algumas Considerações
Se formos sinceros, iremos reconhecer que não sabemos tanto
do Curso Alfa a ponto de tecermos juízos acabados sobre ele.
Nunca participamos da realização de nenhum desses cursos, nunca
assistimos ou ouvimos nenhum dos materiais audiovisuais que
servem de base para o trabalho, nem tivemos acesso a uma
bibliografia mais ampla sobre o mesmo. Por isso, nossa avaliação
do Curso Alfa precisa se limitar a tecer algumas considerações
que expressem aquilo que, numa primeira opinião, está faltando
ou sobrando nele. Afinal, não é a expressão das opiniões dos
participantes que o trabalho em pequenos grupos visa alcançar?
Por outro lado, assim como Nietzsche foi capaz de lecionar sobre
a única afirmação de Anaxímenes que a história preservou sem, no
entanto, conhecer-lhe suficientemente bem o sentido, também nós
13
Gumbel, Nicky (2000). Preguntas de la vida, p. 263.
14
Id. P. 264
15
Id., ibid.
8

podemos executar aqui um trabalho profícuo, mesmo diante de


todas essas deficiências.
Assim, há uma boa meia dúzia de coisas sobre as quais
podemos opinar:
1. A questão da "introdução prática"
O "nome de fantasia" do Curso Alfa apresenta-o como uma
"introdução prática à fé cristã". Sem entrar no mérito da
questão da antigüidade oral de nossa tradição canônica escrita
devemos nos perguntar: é esta uma abordagem possível, ou melhor,
é saudável introduzir incrédulos à fé a partir de uma
determinada prática? Basta lembrar da etimologia do termo,
práxis, ato, atividade, função, daí praxe, em contraposição a
doxa, opinião, daí dogma. A vida cristã inicia num incrédulo a
partir de uma transformação externa, prática, ou a partir de uma
operação divina muito profunda e mediada pela Palavra? Ora,
Gumbel afirma que alguns grupos talvez nem cheguem ao momento do
estudo bíblico mas que "está tudo bem", e que o importante mesmo
é ter a participação dos membros. Por isso perguntamos: será que
o que Palau define como um "cristianismo autêntico" tem como
critério o cumprimento de determinadas "práticas cristãs"? É o
que parece, à primeira vista. Tal ênfase inicial na santificação
através da "introdução prática" à fé cristã, além de afetar
diretamente nosso ensino, faz-nos questionar se ela não algo
como um legalismo com rótulo de pós-modernidade. Isto deve
merecer nossa atenção.
Junte-se a essa uma outra questão: as "perguntas da vida"
constituem o melhor ponto de partida para um diálogo
evangelístico? Será que as perguntas realmente importantes que
as Sagradas Escrituras pretendem responder são as mesmas que os
homens fazem a partir do senso comum? Por isso, é preciso
cautela.
2. Novamente, a questão do messianismo
Muito mais que um golpe de marketing, um toque de
messianismo parece estar incorporado entre os requisitos de um
bom método evangelístico. Quando lemos depoimentos como "o Curso
Alfa veio na hora certa" ou "através do Curso Alfa milhares de
pessoas têm se rendido aos pés do Salvador", nos admiramos que a
fé cristã tenha sobrevivido 2.000 anos sem esses métodos. A
idéia de que "agora temos o método evangelístico ideal" pode ser
perigos e restritiva na sua prática, quando canaliza todos os
esforços dos cristãos não para a evangelização do mundo como
tal, mas para a aplicação do método. Mesmo o emprego de outros
dons dentro da igreja pode ser prejudicado.
2. O estudo bíblico
É verdade que é preciso ser receptivo e simpático e envolver
todos os participantes do grupo numa discussão. Nossos líderes
de estudo do PEM sabem disso. Agora, que não se precise chegar
necessariamente até o estudo bíblico durante a sessão, isso é
perigoso. Como falar do evangelho de Cristo permanecendo apenas
no nível das opiniões dos participantes? Cremos que assim como a
Palavra é o cerne de todas as reuniões que os cristãos realizam,
9

também no momento do estudo evangelístico ela se faz minimamente


essencial.
3. Orações, carismas, "sentir Deus"
Pelo que vimos acima não resta dúvida do tipo
pentecostal/carismático de método evangelístico no qual se
insere o Curso Alfa. Pentecostal porque prega a ação do Espírito
de Deus aos moldes das correntes de origem pentecostal que
existem em nossa sociedade. Carismático, porque ensina que a
ação do Espírito se manifesta pelos dons ou carismas
distribuídos entre os homens (falar em línguas, "sentir Deus
agindo", etc.).
Que a oração esteja sempre presente nas sessões, é certo;
eleva-la ao status de meio da graça já não é mais teologia
ortodoxa - ou, no mínimo, luterana. "Sentir Deus" agindo
internamente durante a abordagem evangelística é também um
critério duvidoso: e se a pessoa identificar o "sentir o
Espírito Santo agindo" com a catarse de algum trauma antigo ou
um simples extravasamento emocional momentâneo? Se o foco for
esse, ela poderá voltar para casa tão incrédula quanto veio, e a
sessão Alfa não terá passado de uma eficiente sessão de
psicoterapia. Está aí o G12 como um bom exemplo disso.
Cremos e confessamos que a Palavra de Deus, quando pregada,
"não volta vazia". Mas também é verdade que o Espírito "sopra
onde quer, e não sabeis de onde vem, nem para onde vai", como
disse Jesus. É preciso ter sobriedade e equilíbrio quando se
ensina sobre a conversão para não cairmos numa "efusão vazia" do
Espírito.
4. Ministração
A definição, ou antes, a indefinição do que Gumbel entende
por ministração é digna de cautela. A variedade de
possibilidades que ele próprio ventila situa mais uma vez o
Curso Alfa em uma teologia de tipo pentecostal. Se for dom do
Espírito Santo, tudo é permitido: falar em línguas, profetizar,
"sentir Deus"... Ao mesmo tempo em que ele não quer que ninguém
se sinta constrangido se não conseguir demonstrar os dons
"sobrenaturais" do Espírito - usando sua própria terminologia -,
ele também os tolera e aponta como uma espécie de critério de
eficiência do curso. A questão permanece: isso é saudável? É o
mais indicado numa abordagem evangelística?
5. O que falta no Curso Alfa
Talvez nem fosse preciso escrever algo que já está evidente:
a correta distinção entre Lei e Evangelho e a compreensão
legítima do que sejam os meios da graça estão ausentes no curso.
Seu caráter pentecostal obscureceu a aplicação de tais doutrinas
ao propagar a efusão do Espírito e a ênfase desmedida na
santificação, na "prática". Onde está o ensino sério e gracioso
da justificação somente pela fé, e esta pela graça de Deus? A
bibliografia consultada é apontada como básica para o curso;
contudo, não encontramos nela esses ensinos.

A título de Conclusão
10

As considerações acima, repetimos, foram escritas a título


de ensaio, na tentativa de uma aproximação crítica ao Curso
Alfa. Constatamos que, se quisermos ser coerentes com nossa
confessionalidade e doutrina não nos bastará dizer: "Mas ao
menos eles estão fazendo alguma coisa...". Também uma simples
adaptação - termo que tem se tornado recorrente quando o
assunto são os métodos evangelísticos - não é suficiente; Jesus
mesmo advertiu que um remendo novo em roupa velha constitui um
duplo problema.
Como qualquer método, o Alfa tem o mérito de expressar uma
tentativa organizada e dinâmica de se fazer discípulos. Mas a
que custo? Cremos, como luteranos que somos, que ainda é
possível sermos dinâmicos na evangelização sem sacrificar aquilo
que de mais precioso há: a pregação correta do Evangelho de
Cristo, o qual - e somente o qual - é capaz de transformar
homens incrédulos em cristãos "autênticos".
Que o Senhor nos abençoe e faça progredir nossa reflexão
sobre o assunto.

Endereços
Para mais informações ou aquisição dos materiais
disponíveis, o endereço nos Estados Unidos é:
Cook Ministry Resources
4050 Lee Vance View
Colorado Springs, CO 80918-7100
E no Canadá:
Beacon Distributing
P.O. Box 98
55 Woodslee Ave.
Paris Ontario N3L 3E5
O telefone é 1-888-373-0112 (EUA).

Bibliografia

1. Gumbel, Nicky (1999). Preguntas de la Vida. Una Introducción


Prática a la Fe Cristiana. Nicky Gumbel/David C. Cook
Publishing Co. 264 pp.
2. ______ (1999). Guía del Líder - Curso Alfa. Guias para el
Entrenamiento del Líder y Discusión en Grupos. Londres:
HTB Publications. 48 pp.
3. _______ (1999). Manual del Curso Alfa - Una Introducción
Práctica a la Fe Cristiana. Londres: HTB Publications. 80
pp.

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