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BELÉM, PA, 30 DE OUTUBRO DE 2020

COMISSÃO
 É o contrato que tem por objeto a aquisição ou a venda de bens pelo comissário,
em seu próprio nome, à conta do comitente (CC, art. 693).
Art. 693. O contrato de comissão tem por objeto a aquisição ou a venda de
bens pelo comissário, em seu próprio nome, à conta do comitente.
 Está regido pelos artigos 693 a 709 do Código.
 Veja-se que se trata de hipótese muito similar ao mandato realizado no exclusivo
interesse do mandatário, citado no art. 684 (hipótese de irrevogabilidade).
Art. 684. Quando a cláusula de irrevogabilidade for condição de um
negócio bilateral, ou tiver sido estipulada no exclusivo interesse do
mandatário, a revogação do mandato será ineficaz.
 Portanto, o contrato de comissão tem como sujeitos:
a) O comitente → aquele que é o proprietário original ou futuro dos bens
(respectivamente em caso de alienação ou aquisição);
a) O comissário → quem realiza a operação diretamente perante terceiros,
recebendo parte do resultado das operações.
CLASSIFICAÇÃO DA COMISSÃO
 O contrato de comissão pode ser classificado como:
a) Bilateral;
b) Oneroso;
c) Consensual;
d) Não solene;
e) Via de regra, é personalíssimo (intuitu personae).
CARACTERIZAÇÃO DA COMISSÃO
 A comissão é muito comum na representação comercial, na qual o representante
assume o papel de comissário.
 É importante registrar que a comissão não se confunde com uma relação de
emprego, pois naquela faltam alguns dos requisitos desta, tais como a subordinação
e a habitualidade.
 O contrato de comissão pode ser verbal (uma vez que é não solene), conforme já
sedimentado pelos Tribunais brasileiros (TJRS, Apelação Cível nº 70022596677-1,
Rel. Des. Paulo Felix, julgado em 17/06/2009).
 Atenção para não confundir a comissão com o mandato, pois em alguns
momentos a diferença é sutil; lembre-se sempre que, no mandato, a atuação do
mandatário é limita aos poderes previstos na procuração.
OBRIGAÇÕES DO COMISSÁRIO
 Algumas das obrigações indicadas pelo Código Civil ao comissário são as
seguintes:
I. Responder perante os terceiros com quem contratar, sem solidariedade com
o comitente (art. 694);
Art. 694. O comissário fica diretamente obrigado para com as pessoas com
quem contratar, sem que estas tenham ação contra o comitente, nem este
contra elas, salvo se o comissário ceder seus direitos a qualquer das partes.
II. Responder perante o comitente pelos prejuízos que lhe causar, salvo
em caso de força maior (art. 696, parágrafo único);
Art. 696. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a
agir com cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao
comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se
podia esperar do negócio.
Parágrafo único. Responderá o comissário, salvo motivo de força maior,
por qualquer prejuízo que, por ação ou omissão, ocasionar ao comitente.
III. Agir de conformidade com as regras estabelecidas pelo comitente (art. 695,
caput);
Art. 695. O comissário é obrigado a agir de conformidade com as ordens e
instruções do comitente, devendo, na falta destas, não podendo pedi-las a
tempo, proceder segundo os usos em casos semelhantes.
Parágrafo único. Ter-se-ão por justificados os atos do comissário, se deles
houver resultado vantagem para o comitente, e ainda no caso em que, não
admitindo demora a realização do negócio, o comissário agiu de acordo
com os usos.
IV. Agir com cuidado e diligência no curso de suas atividades, para evitar
prejuízos ao comitente e garantir o resultado esperado da operação (art. 696,
caput);
Art. 696. No desempenho das suas incumbências o comissário é obrigado a
agir com cuidado e diligência, não só para evitar qualquer prejuízo ao
comitente, mas ainda para lhe proporcionar o lucro que razoavelmente se
podia esperar do negócio.
V. Pagar o valor dos bens ao comitente quando houver concedido dilação
indevida às pessoas com quem contratar, ou quando esta não for conforme os
costumes (art. 700);
Art. 700. Se houver instruções do comitente proibindo prorrogação de
prazos para pagamento, ou se esta não for conforme os usos locais, poderá
o comitente exigir que o comissário pague incontinenti ou responda pelas
consequências da dilação concedida, procedendo-se de igual modo se o
comissário não der ciência ao comitente dos prazos concedidos e de quem
é seu beneficiário.
VI. Pagar juros ao comitente pela mora na entrega dos valores que lhe
pertencerem (art. 706).
Art. 706. O comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao
outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado para
cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos
fundos que pertencerem ao comitente.
OBRIGAÇÕES DO COMITENTE
 São obrigações do comitente:
1) Remunerar o comissário, proporcionalmente aos serviços prestados, em caso
de sua morte* ou quando sobrevier motivo de força maior que impedir a conclusão
do negócio (art. 702);
Art. 702. No caso de morte do comissário, ou, quando, por motivo de força
maior, não puder concluir o negócio, será devida pelo comitente uma
remuneração proporcional aos trabalhos realizados.
2) Em caso de dispensa justificada, remunerar o comissário pelos serviços úteis
prestados (aqueles que geraram proveito ao comitente), podendo dele exigir a
restituição pelos prejuízos sofridos (art. 703);
Art. 703. Ainda que tenha dado motivo à dispensa, terá o comissário direito
a ser remunerado pelos serviços úteis prestados ao comitente, ressalvado a
este o direito de exigir daquele os prejuízos sofridos.
3) Pagar juros ao comissário pelas despesas que este adiantar em razão de suas
ordens (art. 706).
Art. 706. O comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao
outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado para
cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos
fundos que pertencerem ao comitente.
* Em caso de morte do comissário, o valor será destinado aos herdeiros respectivos.
DIREITO DE RETENÇÃO
 O comissário possui direito de retenção, assim como, ocorre, por exemplo, no
contrato de locação?
R: SIM (art. 708)! Nos seguintes casos:
a) Reembolso das despesas feitas na forma do art. 706;
Art. 706. O comitente e o comissário são obrigados a pagar juros um ao
outro; o primeiro pelo que o comissário houver adiantado para
cumprimento de suas ordens; e o segundo pela mora na entrega dos
fundos que pertencerem ao comitente
b) Recebimento das comissões devidas pelo comitente.
Art. 708. Para reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento
das comissões devidas, tem o comissário direito de retenção sobre os bens
e valores em seu poder em virtude da comissão.
OUTRAS DISPOSIÇÕES RELEVANTES
 Em caso de falência ou insolvência do comitente (vide Lei nº 11.101/05), o crédito
do comissário possui privilégio geral em relação à maior parte dos demais, tanto
pelas comissões como pelas despesas feitas (art. 707).
Art. 707. O crédito do comissário, relativo a comissões e despesas feitas,
goza de privilégio geral, no caso de falência ou insolvência do comitente.
 Quando as partes não fixarem remuneração, a mesma se dará conforme “os usos
correntes no lugar” (art. 701), o que costuma acompanhar a média de mercado.
Art. 701. Não estipulada a remuneração devida ao comissário, será ela
arbitrada segundo os usos correntes no lugar.
 Em razão da semelhança com o contrato de mandato, as regras deste são
aplicáveis, no que couber, à comissão (art. 709).
Art. 709. São aplicáveis à comissão, no que couber, as regras sobre
mandato.

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