Você está na página 1de 496

J.J.

Gremmelmaier

Bonita 2?

Edição do Autor
Primeira Edição
Curitiba
2018

1
Autor; J. J. Gremmelmaier Normal encontrar um personagem de
Edição do Autor Guerra e Paz em Crônicas de Gerson Travesso, ou
Primeira Edição um Personagem de Fanes em Mundo de Peter.-
2018 Este escritor está somado a milhares
que surgiram com a possibilidade de produção
Bonita2? pessoal e vendas por demanda, surge criando
CIP – Brasil – Catalogado na Fonte suas capas, seus universos, seus conteúdos sem
Gremmelmaier, João Jose 1967 se prender a regras editoriais, então verá histori-
Bonita 2? / Romance de Ficção /470 as as vezes calmas, diria infantis, como Wave, e
pg./ João Jose Gremmelmaier / Curitiba, PR. / verá histórias violentas como Ódio, temos histori-
Edição do Autor / 2018 as que ele reuniu em Contos Reunidos, de apenas
1 - Literatura Brasileira – Romance – I – 20 paginas, como Amaná, ou historias de 5800
Titulo paginas como Crônicas de Gerson Travesso.
Indagado em 2018 sobre suas obras ele afirmava
85 – 62418 CDD – 978.426
que ainda tinha pelo menos 13 projetos ainda em
As opiniões contidas neste livro são dos
andamento para termina.-
personagens e não obrigatoriamente asseme-
Alguns autores se prendem a uma his-
lham-se as opiniões do autor, esta é uma obra de
toria, este parece viajar em uma gama imensa de
ficção, sendo quase todos ou todos os nomes e assuntos, mas tendo em sua estrutura, uma
fatos fictícios (ou não).
paixão pelo dialogo, se ele puder por um perso-
©Todos os direitos reservados a
nagem a explicar, ele o faz, evitando narrativas
J.J.Gremmelmaier
pesadas explicando o andamento, e mostrando
É vedada a reprodução total ou parcial que a historia sempre terá o entendimento
desta obra sem autorização do autor.
diferenciado de cada personagem.
Sobre o Autor;
Um autor a ser lido com calma, a mes-
João Jose Gremmelmaier, nasceu em 30
ma que ele escreve, continuamente.
de Outubro de 1967 em Curitiba, estado do
Paraná, no Brasil, formação em Economia,
empresário, teve de confecção de roupas, empre- Bonita 2?
sa de estamparia, empresa de venda de equipa- Eu as vezes passo do ponto,
mentos de informática, e também trabalhou em e me perguntam, porque
um banco estatal.- tantas mortes, se não posso
Amante da escrita, da conversa jogada os matar pois a lei e feita
fora, das conversas intermináveis, tem uma para isto, mato em ficção.
verdadeira leva de escritos, em vários estilos, mas Peguei um nome emprestado sem permissão, e
o que mais se dedicou foi o fantástico. criei minha nova personagem, novamente uma
J.J Gremmelmaier escreve em suas ho- menina, novamente forte, vamos contar poucos
ras de folga, a frente de seu computador, a algum dias da vida de Micaela David neste conto, mas
tempo largou a caneta. Ele sempre destaca que crinado caminho para contar uma historia maior.
escreve para se divertir, não para ser um acadê- Esta parte da Historia gira em torno de João
mico, ele tem uma característica própria de Mayer. Este conto explica o sumir de persona-
escrita, alguns chamam de suave, alguns de gens nos contos posteriores, que nem tem
despreocupada, ele a define como vomitada. ligaçao com este conto.
Autor de Obras como Fanes, Guerra e
Paz, Mundo de Peter, Trissomia, Crônicas de
Agradeço aos amigos e colegas que
Gerson Travesso, Earth 630, Fim de Expediente,
sempre me deram força a continuar a escrever,
Marés de Sal, Anacrônicos, Ciguapa, Magog, João
mesmo sem ser aquele escritor, mas como sempre
Ninguém, Dlats, Olhos de Melissa, entre tantas. -
me repito, escrevo para me divertir, e se conseguir
Aos poucos foi capaz de criar um uni- lhes levar juntos nesta aventura, já é uma vitória.
verso todo próprio de personagens. Uma coisa
que se enxerga com frequência em suas historias
Ao terminar de ler este livro, empreste a
é que começam aparentemente normais, tentan-
um amigo se gostou, a um inimigo se não gostou,
do narrativas diferentes, e sobre isto cria seus
mas não o deixe parado, pois livros foram feitos
mundos fantástico, muitas vezes vai interligando
para correrem de mão em mão.
historias aparentemente sem ligação nenhuma. J.J.Gremmelmaier
Existem historias únicas, com começo meio e fim,
e existe um universo de historias que se encai-
xam, formando o universo de personagens de
J.J.Gremmelmaier.

2
©Todos os direitos reservados a J.J.Gremmelmaier

J.J.Gremmelmaier

Bonita 2?

3
Um curitibano é contratado por uma esco-
la de samba do Rio de Janeiro, para projetar e
confeccionar um dos carros do ano, ele vai ao
Rio, se mete em encrenca e quase morre.
O primeiro conto de 2018 foi Bonita? E o
ultimo do mesmo ano Bonita 2? Se a primeira
era referente a menina dos David, a segunda,
referente ao desfile do ano.
Não tente achar os enredos do ano 2019
reais neste desfile, pois foi um todo desenvol-
vido para o livro.
Então vamos à aventura de João Mayer,
no Rio de Janeiro, entre o barracão e o hotel,
segundo conto de uma Historia que começa a
ganhar estrutura e personagens.
Boa Leitura.

4
João Mayer, era um comer-
ciante do Sitio Cercado, e estava
na quadra da escola de samba,
nova que tinham criado, Grêmio
Recreativo Sitio Loco, uma das
moças da comunidade olha para
ele e pergunta.
— Não entendi o que falou,
chamei o pessoal.
— Nem eu entendi Maria, uma comissão da Comunidade de
Nilópolis no Rio, vem conversar, eles avisaram a pouco, após chega-
rem ao centro da cidade, o presidente da associação de escolas de
samba me ligou que eles gostariam de conhecer o local onde está-
vamos.
A moça não entendeu, mas eles estavam chegando, e o rapaz
abrindo a escola.
— O presidente vai chegar quando?
— Tá chegando, mas também não entendeu nada.
João sabia que estavam a vir gente que entendia muito de
carnaval, e na cabeça dele, o carnaval simples de uma escola que
acabara de subir para o primeiro grupo, que se comparasse ao car-
naval carioca, seria o comparar a quarto grupo do Rio, mas em Curi-
tiba era o que se tinha, então ele estranhou, ainda mais ligarem
para ele.
João cumprimenta o presidente, que não lhe adianta nada,
ele vai a parte do pequeno barracão ao fundo, carnaval de Curitiba,
não passa de 3 carros, ele estava terminando um deles, não tinha
verbas para algo maior, quando ele aprendeu o oficio de soldador,
ele nunca pensou em montar carros alegóricos, agora, trabalhando
com fibra de vidro sobre armações, ele chega a parte do fundo,
começa a verificar as telas que havia coberto com fibra de vidro,
agora duras, ele por um momento se desliga da visita.
Começa a fazer uma massa e começa a passar sobre a fibra,
dando uma estrutura sobre a fibra, ainda faltava muita coisa, mas
5
começava a tomar forma, João se afasta, olha para o presidente
entrando e olhando para ele, vai a pia e lava as mãos.
Estranha ver gente ali, geralmente é uma área reservada, o
carro neste momento não era bonito, era estrutura e ideias, mas
bem básicas.
O presidente olha para João e fala.
— Alemão, este é o senhor Franco, da Beija Flor de Nilópolis.
João era meio arisco a isto e fala.
— Sejam bem vindos, não estranhem a simplicidade.
João olha o senhor esticar a mão e apertar a sua e falar.
— Dizem que você é quem projeta o carnaval da escola.
— Eu apenas me divirto aqui!
— E este carro, sua criação?
— Tentando a cada ano algo mais leve, e que nos permita
uma forma diferenciada.
O senhor observou, talvez esperasse algo maior, algo diferen-
te, mas sempre estavam olhando gente em todo o país que pudes-
sem somar a seu grupo, e alguém apontou para aquele senhor, de-
veria ter uns 30 e pouco.
Entraram como saíram, sem falar muito, João termina aquela
e mais duas alegorias, estava fazendo carros muito bem capricho-
sos, mas para a proporção da escola que estava, com as verbas que
tinha, ficava sempre pensando o que seria investir um bom dinheiro
em uma alegoria, pois aquela, era uma estrutura de uma antiga
Brasília, uma estrutura em aço presa no chassi básico, ampliado
para todos os lados, mas um carro alegórico que quando se gastava
muito, se gastava em um ano inteiro, não mais de 3 mil reais, e ele
não se contentava com pouco, sempre dizendo que era o que lhe
fazia feliz.
Desfilar contra as grandes pela primeira vez, fez João sorrir
das notas das alegorias e adereços, o presidente entendeu que es-
tavam acima do nível dos demais.

6
João estava sentado a seu
pequeno negocio de bicicletas
personalizadas, desenvolvido na
rua São Jose dos Pinhais, ele per-
sonalizava bicicletas, as deixando
únicas, quando olha aquele se-
nhor parar o carro e entrar, estra-
nhou pois não o vira desde janei-
ro, antes do carnaval, tem de tentar lembrar o nome, João não era
tão bom em nomes assim, mas com um pouco de esforço lembra,
Franco.
O senhor observa uma bicicleta e olha João serio.
— Podemos conversar senhor João?
— Sim, vai querer uma?
— Uma proposta, sei que deve estranhar, mas estão lhe ofe-
recendo um dinheiro, para desenvolver o carro numero 3 da nossa
escola do ano que vem.
— Não entendi?
— Pensa, orçamento não pode passar de dois milhões de re-
ais, mas o assunto é os amores do Brasileiro, e mandaram lhe ofere-
cer, acho arriscado, mas é o que o patriarca da escola mandou fazer,
eu sei que poderia ter dito não, mas admiro gente que sobrevive de
suas mãos, sem ostentar.
João ouve incrédulos e pergunta.
— Está falando serio, eu monto pequenas alegorias, meus
gastos na escola são bem modestos, nem sei se saberia criar algo
grande.
O senhor alcançou uma passagem de avião, e falou.
— Espero você na segunda que vem, se aparecer conversa-
mos, se não, vou falar com outros rapazes.
João estranha, mas pega o prospecto que o senhor lhe apre-
sentou e a intenção do carro, não estava ainda escolhido oficial-
mente o enredo, então ainda era segredo, e o prospecto falava em

7
um carro, o terceiro da escola, que falaria dos grandes amores do
Brasileiro.
João olha o senhor e o prospecto, olha para sua loja e pensa
se seria serio, olha o prospecto e as existências, e olhando o movi-
mento quase parado daquele fim de mês de abril, fica a pensar,
senta no computador e começa a projetar, era maluquice o que
dizia ali, mas as vezes a vida lhe mostra uma curva, e não iria dizer
não antes de encarar o problema.
Ele liga para um amigo, da época que trabalhou na Volvo, e
pergunta qual o preço de uma estrutura de biarticulado, sem care-
nagem, apenas a base de uma, anota o preço, faz os cálculos de
quanto precisaria de ferro, estrutura, iluminação, tinta, fibra de
vidro, horas de trabalho, estranha quando seus números parecem
irreais, e coloca o primeiro esboço, no papel, pois assim como no
carro pequeno, o chassi do grande, era a base sobre onde construi-
ria o carro.

A grande dúvida de João, era por nunca ter construído algo


tão grande, não conhecer as regras de desfile do Rio, ver pela TV era
uma coisa, fazer era outra, ele pensa que um carro destes, era mais
recursos que toda sua escola de samba, e ainda pretendia fazer o
desfile da sua escola.
João vai para sua casa simples no Osternak, uma invasão que
acabou sendo atravessada pela cidade que não parava de crescer,
mas que sabia ser das pequenas capitais do pais.
Ele liga seu computador e fica tentando entender as regras,
as dinâmicas das coisas, e as possibilidades, quando se fala em car-
naval, o seu, era com base na economia, e não sabia como isto seria
recebido pela escola, pensa bem no fim de semana, e coloca uma
placa na porta da pequena bicicletaria que estaria ausente dois dias.

8
Descer no Galeão e não ter ninguém para o receber, já ficou
na tensão, mas o convite era para um endereço, e ele pega um taxi
e chega a entrada da cidade do samba, entrega o cartão e um rapaz
olha ele desconfiado, o medindo de cima a baixo.
Foi indicado para subir e chega a uma sala, não conhecia nin-
guém, mas eram pessoas bem vestidas, pareciam conhecidas, mas
nomes, João não saberia quem era quem.
Ele senta-se ao fundo, Franco viu ele chegar e continuam a
conversa, estavam falando do prospecto do carnaval, tema, Brasilei-
ro, um povo de garra.
Franco olha para João, mas a maioria nem tinha o percebido
ali, mas começa a falar que a ideia, um abre alas, acoplado, um se-
gundo carro, um terceiro, quarto, quinto e sexto, começou a narrar
a ideia e o conjunto de carnavalescos mostrava a ideia, e João en-
tendeu que seu carro seria os gostos do Brasileiro.
João nunca havia visto algo como aquilo, eles estavam antes
mesmo de anunciar o enredo, falando em recursos, entrada de pa-
trocínios, era diferente, carros que se pagavam por si, seu projeto
imenso começava a ficar pequeno, e não sabia como pensar em
algo maior, talvez não fosse aumentar, mas aprender a dispor de
ideias, visíveis a toda volta, ele abre seu caderno e começa a anotar
o que poderia ser ou não uma boa ideia.
Ele estava anotando, quando ouviu Franco falar.
— Estamos trazendo um novato ao grupo, João Mayer, ele
vem de Curitiba, Roberto insistiu que ele tem algo de diferente –
Franco fala olhando para João – Venha aqui rapaz, os demais que-
rem lhe conhecer.
João não era de tanto movimento, a escola que ele ajudara a
montar, as vezes tinha dificuldade de juntar aquele numero de gen-
te numa reunião pré desfile, deveriam ter mais de 200 pessoas ali
naquele momento.
João meio sem jeito, chega a frente e Franco olha o presiden-
te da escola que fala.
— Sabem que perdemos bons nomes o ano passado em uma
briga idiota, eu vi apenas duas alegorias suas rapaz, eu gosto do
estilo, mas aqui, é um trabalho em equipe, e não sei se vai aceitar o
que lhe convidamos a fazer.
9
— Vim para aceitar senhor, mas ainda sem saber se sou o
nome certo para isto.
— Isto todos nós saberemos juntos, mas – Roberto olha os
demais e fala – sei que alguns estranham, mas este ano vamos dedi-
car um grupo para cada carro, ano passado tentamos um grupo que
administrava todos, acabamos com dois carros quase que abando-
nados antes de verem a necessidade de os acabar.
Franco olha Roberto fazer sinal para João voltar para seu lu-
gar e os demais foram apresentando as ideias, João olhava para
cada um deles, sabia que eles queriam saber se era um enredo pos-
sível, e Roberto olha para João.
— O que colocaria na estrutura do carro que lhe determina-
mos.
— Teria de verificar ainda com o grupo de criação, mas uma
estrutura básica de ônibus biarticulado, quatro sistemas hidráulicos
de estruturação, para podermos sair com 4 metros a rua e chegar-
mos com 16 metros na avenida, 44 esculturas de coisas que o Brasi-
leiro gosta, sobre as esculturas, espaço para 44 pessoas, pelo menos
12 mil lâmpadas de led, pelo menos dois compressores de gelo se-
co, mais luz negra e holofotes de lançamento de produtos.
João sente que todos lhe olharam, até o rapaz que havia pro-
posto o carro acoplado inicial de 50 metros.
João achou que não gostaram, fica sem jeito como silencio de
todos e pergunta.
— Falei algo errado?
Roberto sorri e pergunta.
— Não entendi a ideia de biarticulado.
— Isto que queria trocar uma ideia antes, sei que o pouco
que li, dizem que somente o primeiro carro pode ser acoplado, mas
não pensei nem acoplar nada, pensei em uma estrutura maior ape-
nas sanfonada.
— E quantos metros conseguiria com um veiculo assim? –
Pedro, o rapaz que faria o carro abre alas.
— Uns 28 metros, depois de refeita a estrutura de chassis.
— Teria um esboço inicial do que propôs? – Franco interessa-
do, alguém vindo a somar é sempre bom.

10
— Ainda esboçando a ideia, apenas uma tentativa de enten-
der o gigantismo do carnaval de vocês.
— Tem algo? – Franco.
João tira um esboço aéreo ainda só quadrados.

— Antes de preparar, e uma visão alta após preparado.


Franco olha o esboço e fala.
— Bem básico, mas pensei que chegaria com uma proposta
bem inferior, acredita que dá para fazer algo assim com aquele or-
çamento?
— Acredito, mas entra no problema do contexto do projeto
em si, o carro tem de estar integrado a escola antes e depois.
— Os quadrados vermelhos seria o que? – Pedro.
— A ideia é ter próximo de 42 esculturas, com coisas que o
Brasileiro gosta, mas dentro do enredo da escola.
— Os quadrados laranja?
— 3 alturas de estrutura, sendo a mais ao fundo a mais baixa,
e a mais ao centro a mais alta, um bar na parte alta, uma estrutura
remetendo a festas na segunda altura e remetendo a carnaval na
ultima, fechando o carro.
— As partes em azul?

11
— Não foram definidos, mas assim consigo determinar distri-
buição de peso, dentro disto, saber qual a resistência que cada eixo
independente precisa ter para aguentar.
— Tem formação em engenharia? – Roberto.
— Não, mas trabalhei na Volvo, montando ônibus e cami-
nhões.
— E faz o que para viver? – Uma moça na ponta.
— Tenho uma bicicletaria. – João sabia que era a hora que fa-
ziam caras feia.
— E isto dá dinheiro?
João não respondeu, na verdade nem ouviu quem falou isto
em meio a tanta gente, recolheu o papel e olhou para Franco, ele
olha os demais e começa a falar com outros, talvez ele pela primeira
vez viu alguém que pensou no enredo, mas que estava pensando
em um grande carro, meio quadrado, mas na cabeça de João, aquilo
em nada era um quadrado, e a cada palavra que ouvia, uma ideia
surgia e anotava o que poderia fazer.
Penúltima escola a desfilar, sinal que seria numero impar,
passaria por baixo do viaduto, isto fez João olhar o prospecto, Fran-
co falava na frente e Pedro parou ao seu lado, ele ficou olhando os
rabiscos e anotações, mas não falou muita coisa, João não tinha
noção de concorrência interna, ele fazia quase que sozinho as 3
alegorias da escola que ajudara a criar.
A apresentação foi feita, os carnavalescos foram falar com
outras pessoas, e Franco para a frente de João.
— Não sei se tem noção de quanto custa um carro daqueles.
— Sei que não, nem sei como pagam a execução destas coi-
sas?
— O projeto é iniciado, quando se fala em 40 esculturas, cada
uma demora as vezes 15 dias para ser executada, isto dá mais de
um ano se demorarmos tanto.
João ficou olhando o senhor.
— Adiantamos um quarto do valor orçado do veiculo, para
começar a estruturar, ferragem demora tempo, quando definirem
exatamente o enredo em Agosto, verificamos o segundo quarto,
tentamos que se execute o máximo com estes recursos.
— E quando liberam a primeira parte?
12
— Precisando de dinheiro?
— Não, mas se vou ter de encomendar uma estrutura, quero
saber quando posso dizer que pagarei.
— Certo, algo mais?
— Ferragem, solda, estas coisas, mas pelo jeito, apenas em
agosto o negocio começa a pegar fogo.
— Os prospectos até Agosto tem de ser estabelecidos, eles
provavelmente não vão por quarenta e duas coisas que o Brasileiro
gosta, no veiculo.
— Motivo?
— Não ter tantas alas antecipando o carro.
— Senhor, quando se fala em 42, podemos ter 4 tipos de sor-
vetes, quando se fala em comidas, varias, quando se fala em varias
esculturas, é para ficar bem claro, de como seria o paraíso para os
Brasileiros.
— Certo, mas tenta fechar a ideia antes de começar a gastar.
— Sem problemas senhor Franco, volto as minhas bicicletas
até vocês decidirem o enredo.
— Vou verificar referente a sistemas sanfonados, não sei se
resistem a tanto peso.
João não respondeu, o senhor não falou em recebíveis, então
ele achou que não seria algo para ele fazer, e sim, para desenvolver
e alguém executar.
João sai e pega um taxi, volta ao aeroporto, pegando o pri-
meiro voo de volta.

13
Já era Julho quando Franco
ligou para ele, confirmando se
estava no projeto, João já estava
pensando que eles nem ligariam,
pois nem um contato em meses,
talvez fosse o jeito isolado de João
que fazia as pessoas o tratarem
diferente.
João conseguiu um rapaz para cuidar do negocio, nas ausên-
cias dele, sabia que não teria outro jeito.
Prepara as coisas e volta ao Rio na ultima semana de Julho,
estranha, pois deste vez, tinha alguém o esperando no aeroporto,
foi para a comunidade, não para a cidade do samba, desta vez, a
reunião era fechada, Franco e os 5 outros integrantes da comissão
de carnaval, param e estabelecem coisas que João ainda não havia
ouvido, quando pagariam para cada um além do carro, onde ele
ficaria hospedado, e pela primeira vez ele vê recursos na sua conta,
ele não conhecia a cidade, então ao fim da conversa, viu Pedro en-
costar nele e aproveitou a oportunidade.
— Não sei se temos de ir comprar o ferro, ou já temos forne-
cedores.
— Não sei qual a base que vai usar, mas tem de administrar
sua parte dos gastos, a escola deve entrar com dez aderecistas e
mais 12 rapazes de estruturação, para montagem da estrutura, as
compras você passa para a secretaria do barracão, ela pede e você
acerta, as vezes pagamos antes de receber.
Na cabeça de João, ele estava entrando em uma furada, e
mesmo assim, resolveu encarar.
Liga para o amigo na Volvo e pergunta se ainda teria como
fornecer aquele chassi, com urgência, João viu que a prontidão de-
pendia do deposito da compra, e soube que teria 3 dias para entre-
garem ali a estrutura.

14
Franco o leva a região da Cidade do Samba, e depois mostra
onde ele ficaria hospedado, a 5 quadras dali, alguns chamavam de
muquifo, eles não sabiam de onde João vinha.
Ele é apresentado ao grupo que faria parte da montagem do
carro, ele cumprimenta cada um, e no fim do dia, estavam fazendo
uma reunião sobre como montariam um carro alegórico em 6 me-
ses.
Ele fica sabendo que parte da madeira, já tinham, que se pre-
cisasse, havia alguns adereços que poderiam ser reutilizados, ele
olhou mais a parte de lâmpadas e fios, era fim do dia, ele pediu
material de solda, vigas de ferro e estruturas de rodas completas
com sistema de amortecedores a ar.
Ele no fim daquele dia pela primeira vez conhece Sergio, o
carnavalesco que o daria o rumo que precisava para o carro.
— Sei que não nos conhecemos, mas rapaz, gostaria de since-
ridade, acha que consegue entregar um carro digno da nossa escola.
— A ideia é entregar o melhor, mas a pergunta, o que se en-
caixa no contesto do enredo.
— Não sei qual a ideia que você teve rapaz. – Sergio.
— A ideia, não sei se é viável, alguns falam que é mais pratico
fazer com isopor, eu preferia fazer com fibra de vidro, a ideia, a
frente do carro, um grupo de sambistas, 4 esculturas gigantes, re-
presentando o samba, primeira coisa que nós gostamos, a primeira
parte após, comida, seguida de tecnologia, seguida de religião, dai
tem as festas, e subentendido, garotas em trajes mínimos pelo me-
nos 50 delas, duas das quais sobre as uniões, que gostamos também
disto. O piso do carro, seria negro, e iria do negro ao azul, e chegaria
no branco, no topo do veiculo, em 5 pontos, holofotes de grande
potencia, gerando luz no céu, azul e branco.
Sergio anotou e falou.
— Porque o preto na base?
— Não sei o efeito aqui, mas a luz superior, com luz negra ao
chão e base negra do carro, dá uma sensação de flutuar ao carro,
pensa em um carro super pesado, pois estamos falando em um
carro de 28 metros, por 12 de largura, com estatuas de 12, então
podendo ter 16 metros de altura, é algo pesado, parecer leve ao
passar na avenida.
15
— Porque quer passar esta sensação?
— Não sei, para mim, um dos grandes pontos fortes que o
Brasileiro tinha e está perdendo, é sua leveza para enfrentar o
mundo.
— Vai começar montar o carro quando?
— Vou terminar de desenhar ele em 3 dias, se a comissão me
permitir, vou começar a fazer cada escultura, e cada estrutura para
colocar no carro.
— Não entendi porque quer fazer em fibra de vidro.
— Se alguém me quebrar um pedaço de um braço, eu refaço
em questão de horas, se for em isopor, não tenho a mesma pratica
para o fazer.
— Certo, temos de lhe passar os dados técnicos de limites pa-
ra locomoção até a o sambódromo.
— Imagino que seja um dos maiores problemas.
— Sim, é um dos maiores problemas.
— Vou tentar pensar de acordo com as especificações, eu as
vezes esqueço que não existem ruas de 9 metros em todos os luga-
res.
— Sabe que todos estão lhe olhando com desconfiança.
— Até eu estou, não é de estranhar eles.
— Acha que não consegue?
João olha Sergio serio.
— Se achasse que não conseguia, nem tinha vindo a primeira
vez, todos parecem já saber o que vão fazer, eu que pareço deslo-
cado.
— Vamos lhe passando o que pode e não pode enquanto
executa, espero que consiga.
João olha o senhor, olha os rapazes, se despede e vai ao Ho-
tel, um hotel barato, que estava com a diária paga até inicio de
Março do ano seguinte.
João não era da cidade, não conhecia nada, e parecia que na
escola de samba seria apenas um desconhecido por alguns dias.
João olha um bar do outro lado da rua, e após a janta, que es-
tava incluído no pacote, atravessa a rua, uma sexta feira normal,
Julho, mais de 25 graus, Curitiba deveria estar uns 10, pois já era
noite, toma apenas uma cerveja e anota algumas coisas.
16
Amanheceu e foi a cidade do samba, reparou que os demais
foram situando as suas armações mais a frente, mas ainda no inicio,
João foi aos adereços e viu estruturas de ferro que sobraram de
carnavais anteriores, pega a solda, faz uma estrutura alta, e prende
nas duas paredes, pega um tecido negro e fecha uma estrutura, os
demais não entenderam, mas se eles iriam querer ficar a frente, ele
iria querer a tranquilidade, viu quando entregaram as vigas de ferro,
ele começa a fazer os cubos iniciais, os rapazes começariam na se-
gunda, ele não tinha o que fazer na cidade, então ficou a pensar, a
estruturar a ideia.
Quando estava pensando viu aquela menina lhe olhando, não
sabia quem era, mas parecia apenas uma criança crescendo.
No fim do dia, ele tinha organizado o local que usaria, bem
menor que os espaços dos demais, sabia que o sentido que esco-
lheu foi para entrar e sair reto pela entrada, mesmo os demais não
entendendo a ideia.

17
Fim de semana passou rápi-
do, era 9 da manha de segunda,
quando aquela estrutura de ôni-
bus foi entregue, os demais nem
viram, não tinham chego, ele
abriu a grande porta, estacionou
de ré e olha para o local, quando
estivesse pronto, estaria bem
apertado no espaço.
Primeira coisa que João fez, foi a estrutura sobre a existente,
que estaria o motorista, depois começa a soldar as grandes vigas na
estrutura, para colocação do sistema de suspensão hidráulica radi-
cal, uma forma do veiculo conseguir ir pela rua com altura normal,
quando ficasse na posição correta, pudesse rebaixar para 10 centí-
metros do chão, com desnível controlável, o existente para a drena-
gem da pista.
Ele faz a estrutura mais resistente, fixando as rodas externas,
e senta-se a olhar o que projetou se daria para ser feito, quando
Franco entra, nitidamente iria reclamar ele ter isolado uma área, e
se depara com a estrutura baixa já ali.
Franco olha João e fala.
— Tem gente reclamando.
— Explica para eles que aqui vamos fazer poeira no começo.
— Isolou por isto?
— Sim, mas estava apenas soldando as rodas estruturais.
Franco olha as rodas e fala.
— Não vai usar aquelas rodas bobas?
— Não, quero um eixo seguro, quer ver a ideia?
— Já fez algo?
João liga e pergunta.
— O motor do ônibus pode ser usado?
— Sim, antigamente teríamos de empurrar tudo.
— Certo, a ideia, ter altura de ônibus quando tivermos de
transportar, mas quando entrar na avenida – Joao apertou o siste-
18
ma hidráulico e Franco viu descer e ficar a poucos centímetros do
chão – podermos ficar rente ao chão, mas o ajuste final, apenas
quando estiver lá, pois temos independência de roda, para poder
compensar a inclinação da avenida, ontem caminhei por lá, nunca
havia ido lá, e vi que existe um desnível a esquerda.
— Sim, a drenagem faz ter uma pequena queda..
João ergue a estrutura e desliga o veiculo.
— Esta pensando na estrutura?
— Sim, estas são rodas independentes, mas com maleabilida-
de hidráulica e movimento de até 90 graus, 45 para cada lado do
eixo, a coordenação ainda estou instalando, a vantagem é que a
estrutura já vai estar comprada para o ano seguinte.
— Qual a resistência das rodas?
— Com a estrutura que vou montar, próximo de 18 toneladas
por roda, não chegaremos perto disto.
— Não tinha algo mais barato?
— Comprei a maior por estar mais barata, sai pouco, uma
com metade da carga, por roda, custaria 30% a mais.
— Sabe que os demais reclamaram de você ter tomado todo
este espaço.
— Sei disto, quando terminar, nem vamos conseguir andar no
lugar, mas entendo a reclamação.
— Vai estruturar mesmo algo deste tamanho.
— Foi a propostas, deixei com a secretaria minha proposta
para este carro, falei com Sergio, ele também acha que não conse-
guimos chegar a tudo, mas vou montar as estruturas e vamos mon-
tando todo o conjunto paralelamente.
Franco sai e quando os rapazes chegam, ele pede para come-
çarem a fixar os quadrados um a um, que havia feito no sábado, e
quando terminassem, começassem a fazer os quadrados para fe-
char a parte baixa da estrutura.
Os demais pensando que João estava apenas isolando, quan-
do chegam para reclamar, Franco sai a janela e fala.
— Ele separou um espaço que mal vai caber a alegoria, pelo
que entendi, mas é que somente vendo a estrutura agora, entendo
o espaço, ele vai ter um metro de cada lado, para todos os demais,

19
mas ele disse que assim que terminar de lixar e pintar, ele tira a
proteção.
— Não entendi.
Franco coloca a imagem do carro e olha para o rapaz que re-
clamara e fala.
— Ele está levando a serio, veio de uma escolinha que jurava
ser apenas marketing, mas ele encarou como desafio, enquanto
vocês brigavam por uma estrutura de ônibus velha, ele pediu um
novo, ano que vem teremos um problema em saber quem vai que-
rer aquela estrutura.
O rapaz olha a estrutura e pergunta.
— E quem vai pagar aquilo?
— Ele está usando o custo dele, não entendi ainda como ele
vai levantar as estruturas, mas sei que ele foi quem mais pediu fora
as coisas, mas ele ainda está no primeiro gasto, e já entregaram um
chassi de ônibus, muito ferro, muita malha de ferro, não entendi
aquilo, muita fibra de vidro, 6 estruturas hidráulicas.
— Acho que ele não está entendendo que tem de economizar
para montar uma estrutura.
— Sei que o desenho é complexo, e é um projeto para desfile
de noite, não sei como ficaria o projeto dele pela manha.
João olha os aderecistas e pergunta.
— Alguém tem experiência em fibra de vidro?
Ele viu que eles se olham e um pergunta.
— Porque em fibra.
João pega uma pequena haste de ferro e fala.
— Se eu prender isto no solo do carro, e a estrutura interna
for de ferro, eu deito ela e ela já vem no lugar, eu deito e passo um
viaduto, e a ergo em 30 segundos, não quero adereços que enros-
quem no viaduto, quero eles passando fácil, mas assim que passa-
rem, os sistemas hidráulicos erguem as estruturas altas, e ergue as
esculturas que não temos como esconder. Se fizer de isopor, não sei
se aguenta, mas em fibra sei que aguenta
— Então a escolha é por agilidade, mas e a beleza.
— Vamos primeiro modelar em ferro, usar as telas de ferro e
soldar na estrutura dando os formatos, depois sobre as telas, vamos
por a fibra de vidro e por fim, massa veicular, após isto, lixa, e tinta
20
automotiva de alto brilho, está é a ideia, 6 meses é pouco para fazer
todas elas, mas se cada um daqui se dedicar, vamos fazer um carro
que espero fique lindo.
— E vai fazer o que?
— Vocês vão aos adereços, eu vou montando as estruturas
para os adereços, não esqueçam, o carro inteiro, vai ser de fibra de
vidro.
— Maluquice.
— Talvez, mas quero as pessoas olhando o nosso carro como
único, quero a impressão de que fizemos um carro inteiramente de
aço, se me entendem.
— Vai dar trabalho. – Um dos rapazes – Mas se fizermos, po-
demos garantir a vaga na escola.
João mais tarde saberia que todos eram novos na escola, eles
tiveram problemas com um grupo da escola, e tiveram de colocar
outro grupo.
João distribui o que cada um dos 10 deveria terminar em 6
meses, cada adereço, 7 esculturas por aderecista, pelo menos uma
gigante por aderecista, eles souberam que era um projeto imenso, o
separar de cada um dos objetivos, fez João começar a pensar nas
estruturas que fixariam as esculturas, e começa a dar coordenada
ao grupo de construção, estes eram soldadores, ferreiros, eletricis-
tas.
Ele senta com o eletricista Rogerio e pergunta.
— Qual a exigência de geradores internos?
— Sempre sistemas de segurança.
— Não sei ainda quem estará sobre o carro, mandei o pros-
pecto, mas sabe se eles demoram a resolver?
— Pelo jeito pegamos um chefe de alegoria que não para,
eles nos disseram que teríamos de auxiliar um novato, e fomos con-
tratados para auxiliar ele.
— Já trabalhava nisto?
— Sim, no barracão ali da frente, da Ilha.
— Saiu de lá por quê?
— É sempre uma incógnita a Ilha, as vezes está por cima, as
vezes na beira de voltar para o grupo A.
— Você é de lá?
21
— Sim.
— Eu não conheço nada a cidade, eu estou estranhando.
— Veio de onde, sotaque do Sul.
— Curitiba, de uma escola de Samba que para vocês daqui é
quase bloco carnavalesco.
— E lhe cataram lá por quê?
— Nem ideia, fiz só três carnavais, subimos do grupo C para o
B há três anos, do B para o A há dois anos, nosso primeiro desfile
entre as grandes de lá foi este inicio de ano.
— E pretende pelo jeito mostrar seu valor neste carro.
— Digamos que o orçamento que me deram para executar
este carro, eu coloco minha escola em Curitiba, inteira, na rua por
10 anos.
O rapaz sorriu e falou.
— Comparações, sabe que eles querem coisas lindas aqui.
— Quando terminarmos, me diz se vai ou não estar lindo.
— E porque quer saber quantas pessoas estarão sobre o car-
ro?
— Peso de estrutura mais pessoal, determina se preciso de
um eixo extra de sustentação, sabendo quantas pessoas vão onde, e
o peso de suas fantasias, tenho como estabelecer a dobra da estru-
tura, e com isto, saber se os cabos de energia vão comer no cami-
nho para o sambódromo ou não.
— Pelo jeito não quer ter lucro neste carro.
— As vezes investir para o futuro, faz parte de um lucro mai-
or.
João começa a estruturar uma linha baixa, ele estava pensan-
do no que usar, e não entendia tanto daquilo, ele queria demons-
trar uma coisa, mas estava todo perdido ali.
Roberto, presidente de honra da escola, olha da parte alta e
pergunta para Franco ao fundo.
— Acha que ele consegue?
— Ele não tem medo de gastar nosso dinheiro, mas o que ele
colocou ali, todos a volta querem, então meu problema maior, é
administrar gente que fala que precisa de mil quilos de plumas de
faisão, e ao mesmo tempo, uma estrutura de chassi nova.
— Ele comprou uma nova?
22
— Ele deixou com a Silvia na entrada – Silvia era a secretaria –
os documentos da Volvo, de onde compramos este chassi, como ele
perguntou, isto não é um chassi acoplado, é um chassi estruturado
mas com sistemas de junção já no chassi.
— Ele sabe o que esta fazendo?
— Espero que sim, ele deu material para os 10 aderecistas
para fazer, eles estão começando a trabalhar, o rapaz é rápido, pelo
jeito sabe que é no fim que falta as coisas, então ele acelerou o
carro na parte que os demais nem estão pensando, e não entendi
ainda a ideia dele.
Roberto olha para o chassi e fala.
— Se resistir, vai dar para usar muito tempo.
— Sim, estava olhando, ele está montando uma base e cubos
de um metro cubico, os cubos se montam na estrutura metálica do
chassi, dando uma dinâmica que nunca tivemos em um carro,
quando ele voltar da marques, depois do desfile, ele desmonta em
cubos e remonta da forma que quiser.
— Para quem estava pensando em o deixar de fora, está ad-
mirado.
— Sim, a maioria está falando em viajar para Miami, para ver
materiais, pensando em coisas distante, ele apresentou o prospec-
to, apenas o Sergio não deu o total OK, o que ele concordou, os
rapazes começam a fazer.
— Qual a ideia que estão estabelecendo.
— Colocamos com ele 10 aderecistas, a maioria acaba colo-
cando este pessoal em outras funções, ele fez o pré projeto, e colo-
cou 2 deles para fazer as esculturas frontais, dois deles para fazer o
caldeirão de feijoada e seus talheres, colocou dois para fazer os dois
adereços religiosos, que é um santo de cada lado e um genuflexório
com alguém orando de cada lado, dois fazendo as esculturas das
festas, e por fim, dois fazendo dois grandes mulatos, com camisetas
da comissão de carnaval do ano, empurrando a alegoria.
— Não entendi? – Roberto.
— Ele projetou o carro, e o final do carro, nos coloca como
parte do que gostamos, pois o trabalhador de escola de samba, é
destacado como algo que é adorado.
— E ele sentado ali?
23
— Deve estar perdido, pensando em como fazer o que pediu,
ele tem em fibra de vidro, mais do que foi usado por todas as esco-
las de samba o ano passado, mas ele parece deslocado ainda.
— E todos os demais.
— Pedro do abre alas está de viajem para Miami hoje a noite,
Roberval do segundo carro, reclamando por não ter o mesmo espa-
ço que este João ali em baixo, embora tenha mais espaço que ele,
Pietro perguntando se teria um extra para compra de um chassi
novo, Silvino falando que vai faltar espaço para montar seu carro, as
costureiras querendo que Sergio termine os projetos das roupas da
comunidade, todos estão olhando a armação do rapaz e se pergun-
tando o que ele quer?
— Se pelo menos ele nos servir para pressionar os demais, já
é um ganho.
Franco olha para Roberto.
— Temos para o que prometemos de recursos?
— Damos um jeito todo ano.
— Pergunto, pois o carro do rapaz ali embaixo, nos permite
pensar em algumas coisas Roberto.
— Não entendi.
— Se me autorizar, ligo para a Sadia, para eles financiarem
parte da feijoada, destacando que teremos um carro que destacará
este produto, posso fazer o mesmo com o nosso fornecimento de
instrumento, e verificar se ele não liberaria uma grana, vamos ter
um imenso tamborim a frente de uma alegoria, teremos a volta do
carro, pelo menos 42 esculturas, e a proposta do rapaz, nos dá pelo
menos 12 investidores a mais para tentar.
— Gosto desta sua forma de pensar Franco, não fica na dis-
cussão, mas fica ouvindo, verifica, se conseguir, passa para o Sergio
quais esculturas priorizar antes.
— Disto que estava falando com o Sergio, não entendi, mas
ele falou que o rapaz pediu material para estabelecer toda a estru-
tura e adereços que ele pretende de base, que precisa de tempo,
mas que grande parte está ali.
— Esta dizendo que ele tem estrutura ali para montar o carro
por 250?

24
— Não, que as notas estabelecem que ele gastou do bolso
Roberto, os demais estão me pressionando por mais recursos, mas
o rapaz gastou do bolso, para ter o melhor preço, nas quantidades
do que ele queria.
— Certo, alguém que não tem medo de entrar pelo cano, mas
fica de olho.
— Estou de olho.
Na saída do primeiro dia, João se depara com Pietro, ele não
conhecia, cumprimenta normalmente, mas viu o rapaz fechar a
cara, e falar.
— Não gostamos de amadores que se acham.
João olha em volta e ouve um dos rapazes da estrutura.
— Não liga, estes tem TPM.
Outro ao fundo fala.
— Pior, a Tensão Pré Montagem, só piora até o dia do desfile.
João não entendeu e o rapaz que todos chamavam de Jota,
mas que também tinha o primeiro nome de João, olha para ele e
fala.
— Vamos ter de lhe dar um apelido.
— Algum motivo para isto? – João estranhando.
— Eu me chamo João, mas todos me chamam de Jota, o Cha-
pinha, também se chama João, o Confusão, se chama João, se for
chamar alguém de João, quero a certeza que a mensagem não vai
ficar na entrelinha.
João entendeu, mesmo os demais tendo apelido, quando se
falasse João, todos olhariam.
— Tem algum apelido de onde veio?
— Me chamam de Alemão, mas é apenas gozação.
— Então teremos o nosso Alemão, mas vai trabalhar ainda?
— Acho que dei trabalho para vocês por uns 60 dias.
— Acha que terminamos tudo em 60 dias? – Marquinhos, um
aderecista.
— No fim, vão me acusar de ter transformado Aderecistas em
Soldadores e Soldadores em Aderecistas, mas acontece em todo
lugar.
Marquinhos sorriu e perguntou.
— Mas vai sair correndo para onde?
25
— Alguém sabe de alguma Fiorino, ou carro que dê para car-
regar algo, mas bem barata.
— Vai querer se locomover? Porque não usa uma caminhone-
te destas que os demais usam.
— Eles já são renomados, eu, apenas o metido.
Marquinhos falou.
— Meu primo tem uma para vender, mas acho que tem de
tomar antitetânica para dirigir aquilo.
— Se ele conseguir trazer até aqui funcionando e o preço for
barato.
— Ligo para ele, mas estamos dispensados? – Um rapaz ao
fundo.
— Sim, descansem enquanto podem, pois no fim, vai ser cor-
reria.
Marquinhos liga para o primo e marca no dia seguinte.

26
Terça João acorda sedo, vai
ao barracão, olha para a monta-
gem, viu que encostaram uma
alegoria bem onde seria montada
a lateral direita do carro, o plásti-
co ficou tendendo para o espaço
interno que havia isolado, era
provocação, ele sorri e apenas
delimita o outro lado do veiculo.
Olha Marquinhos chegar com o primo, olha a Fiorino, olha pa-
ra o estado dela, a documentação e vão ao cartório e fazem a tran-
sação, ele encosta o carro no fundo, solta a carroceria da mesma
com o maçarico, leva parar dentro de prende duas placas no fundo,
uma na lateral e com uma empilhadeira da escola devolve ao lugar e
solda novamente.
Quando os rapazes chegaram para trabalhar, começam a fa-
zer o que dava para ser feito, mas ficou obvio quando eles coloca-
ram a sequencias de estrutura a 30 centímetros da estrutura da
outra alegoria, que faltaria espaço.
Como João não reclamou, e Pietro que estava com viagem de
compra para os Estados Unidos, não se mexeu, Franco teve de in-
tervir, ele chega na parte baixa com uns rapazes, e pede para afas-
tar um pouco de lado, não falou nada, não entrou na discussão e
subiu novamente.
Os rapazes com espaço, voltam a por as estruturas e chegam
ao fim do segundo dia com toda a base de um veiculo que para an-
dar por ali teria problemas, pois ele ocupava aproximadamente 270
metros quadrados.
João deixou as ordens de execução e foi de carro até um ferro
velho que tinha a algumas quadras dali, eles tinham peças jogadas
para fora de veículos antigos, e perguntou se estavam a venda, o
senhor olhou para o carro que João estava e fala.
— Isto dai é lixo, se quer tirar dai, a vontade.

27
João olha as estruturas de carros enferrujados, pega uma ser-
ra de corte no veiculo, separa em pedaços e coloca todas as que
conseguiu no veiculo, estaciona de ré na parte do barracão, os de-
mais não entenderam mas olham ele cortando chapas de metal e
Sergio chega a ele.
— O que vai fazer com este lixo.
— Somente olhando depois para entender.
— Sabe que tem gente reclamando do espaço.
— Sei que minha ideia foi grande de mais, somente agora me
toquei que ela ocupa um espaço inteiro, e nem está terminada.
Sergio olha para João, cortar as peças, lixar e sobre alguns
trechos de estrutura começa a soldar aquilo.
Ele estava intrigado.
— Não entendi porque está fazendo isto?
— Sergio, isto é um carro alegórico, tem de ter gente sobre
ele, mas os caminhos, tem de aguentar alguém, onde não for cami-
nho vai ser fibra de vidro, não aguenta alguém desfilando por horas
sobre ele, mas sobre uma base de aço, isto aguenta.
— E pegou este lixo onde?
— Ferro velho, mas lixado, bem mais forte que aquela placa
nova que pedi.
— Pelo jeito gosta de um desafio de verdade.
João não falou nada, ele começa a soldar as telas de ferro a
toda volta do carro, começando a dar forma ao mesmo, ele queria
gastar energias, e não estava ainda podendo relaxar.
João pega uma das escavadeiras e ergue sobre a estrutura um
elevador hidráulico, põem o segundo elevador sobre o primeiro,
coloca o terceiro na parte central do carro, dois menores em cada
junção, coloca os da parte do fundo do carro, todos estavam olhan-
do para ele, pois ele abriu caixas que estavam ao fundo, e colocou
sobre o carro sobre o bruto.
Ajeita na empilhadeira as madeiras das caixas que vieram o
produto e separa as que daria para usar.
O que estava espalhado no fundo, abriu um espaço, e João
fez sinal para os demais ajudarem a dispor ali a alegoria de Pietro,
que nem estava ali, João pediu para delimitarem a área da alegoria,
estranha pois os demais rapazes estavam todos parados ou dispen-
28
sados, olhando em volta pareceu a João que apenas ele estava tra-
balhando já.
Ele olha para Rogerio e fala.
— Acha que conseguimos estabelecer energia para estes pon-
tos.
— Macacos hidráulicos elétricos, sabe o perigo disto?
— Sei, já vi despencar um na avenida, mas estes são por pres-
são hidráulica somada a garras de estabilidade, nunca desce mais de
duas garras se perder toda a pressão.
— E qual a ideia?
— Eu vou fixar a mais a baixo na estrutura do chassis, vou pe-
dir para colocarem o peso de 10 pessoas e mais a das esculturas
sobre isto e vamos testar a resistência disto, não quero pensar que
vou fazer e não vai funcionar bem na hora.
— E vai apenas erguer?
— Erguer, balançar, deixar erguido uns dias, cada uma das
armações, quero saber se conseguimos usar.
Rogerio faz as ligações baixas da fiação enquanto alguns rapa-
zes colocam peso sobre as estruturas, e quando aquilo ergue, Fran-
co na parte alta fica olhando a secretaria.
— Este é sistemático, ele quer saber se aguenta, pior, ele
abriu espaço para quem o criticava, que agora só vai ver o espaço
em 15 dias.
A secretaria olha e fala.
— Este tem pressa.
— Ele quer mostrar serviço, mas vejo que alguns estão que-
rendo a estrutura que demos para ele, ignorando que ele é o que
tem menos recursos dos à volta.
Franco viu João subir na estrutura mais alta, fina e alta, e sa-
cudir para todos os lados, e fala.
— Aquilo está quase encostado no topo.
— Disto que falam, estão chamando de Alemão Maluco. – A
secretaria.
— Pelo que entendi, ele vai criar realmente um carro alegóri-
co, não tinha entendido o quanto a ideia dele pode ser maluca. –
Fala Franco olhando de cima.
A secretaria não entendeu.
29
João foi ao fundo, e começa a cortar os ferros para as 42 ar-
mações que subiriam a volta do carro, ele tivera uma ideia maluca,
mas tinha de ver se isto seria possível de implementar.
Ele começa a estabelecer o andar da estrutura a volta do car-
ro, e os ferreiros começam a fazer as armações.
Todos viram ele pegar um compressor de jato de areia, sair
para fora e passar no carro que havia comprado, ele viu os pontos
de massa surgirem, ele com calma solda cada um dos pontos que
havia sido corroído, deixando ali o carro sem cor, com remendos
parado no estacionamento.
Sergio chega ao lado e fala.
— Sabe que o dono não gosta de que usem o lugar para tra-
balhos pessoais.
— Se quiser faço em outro lugar Sergio, é que a muito tempo
não pinto com tinta automotiva, e o carro lá dentro vai ser todo
pintado em tinta automotiva, tenho de saber quantas camadas vão
me permitir deixar ele bem brilhoso.
— E aproveita e conserta o próprio veiculo?
— Eu comprei este para não parecer coisa boa, mas ele está
melhor do que pensei, como ele por origem é azul, apenas mudan-
do o tom de azul, para o azul da escola.
Sergio sorriu, aquilo era uma lata velha mesmo.
Sergio sorriu e subiu, Franco para ao seu lado e pergunta.
— O que ele está fazendo lá fora, Roberto vai me perguntar?
— Um carro para pegar as coisas que ele precisa, pelo que
entendi.
— Trabalho pessoal aqui não é certo Sergio.
— Ele disse que qualquer coisa faz em outro lugar, mas que
precisava testar a cor da tinta que vai usar em algum lugar.
— Que tinta?
— O azul da escola que vai por no carro alegórico.
— Acreditou nisto?
— Franco, ele andar com aquela lata velha, melhor que seja
algo um pouco menos caindo aos pedaços, é nossa imagem que
está em jogo.
João colocou uma lona de proteção, a volta do carro, passou
uma mão de massa e começou a lixar.
30
O lixar era algo que deveria ser demorado no carro alegórico,
pelas dimensões do carro.
Quando ele achou a consistência boa da lataria, aplicou o
prime nele todo.
O carro estava oculto, mas muitos viram ele preparar o prime.
João isola a parte da frente da estrutura e passa em parte da
estrutura do jato de areia, para que se pudesse soldar, e prime, no
que era uma leva de cores entre o chassis original, as armações, as
soldas, ganha uma uniformidade no cinza, na parte frontal e lateral
do carro ficou no metal sem proteção, os rapazes viram que este
rapaz arregaçava a manga e fazia.
O deixar isolado, deixou claro onde ele ainda pretendia usar
solda e onde ele achava que iria dali para o acabamento.
João vai ao fundo e começa a torcer uma porção de canos de
30 milímetros e começa a montar uma estrutura, a maioria não
entendeu, ele foi soldando e modelando, ele ia ao carro e media,
depois voltava, ele faz uma imensa armação, e começa a por tela
neste armação, ele coloca ao chão e pede ajuda dos rapazes, eles
vieram para entender o que ele estava fazendo, eles ajudaram a
manter na altura e João soldou aquilo a frente do veiculo, como se
fosse um imenso para-choque e uma calota imensa de cada lado.
Os rapazes olharam e Marquinhos chega ao lado e fala.
— Vai modelar o carro enquanto modelamos as esculturas?
— Como disse, nunca fiz algo tão grande, então estou ten-
tando entender o como fazer isto.
O rapaz viu João pegar uma mascara contra gazes, ele pega
uma película inteira de fibra de vidro, coloca em uma quase banhei-
ra, deixa agir um pouco, pega as luvas e coloca na frente do carro,
ele sabia que a primeira vista aquilo ficava horrível, mas quando ele
começa a colocar nos imensos para-choques de mais de 2 metros de
raio, aquilo começa a tomar forma.
Os rapazes param a frente do carro no fim do dia, parecia um
para-choque mesmo, e as entradas para as calotas, laterais.
Aquela parte teria de deixar curar por pelo menos 48 horas.
Era quase 6 da tarde quando ele entra no carro, agora sem
cor, e dirige até o ferro velho, o senhor viu que o carro estava já
com prime e estranha, principalmente porque João perguntou so-
31
bre 4 imensas rodas de caminhão, estavam ali a muito tempo, eram
de caminhões de grandes obras, não tinha muitos compradores,
estavam enferrujadas.
Joao viu que tinha a carcaça do caminhão inteira ali, primeiro
pergunta das rodas, talvez o achar que João não poderia comprar, o
fez jogar o preço no real, mas João perguntou sobre o resto e o se-
nhor disse que não funcionava, para tirar dali teria de ter um guin-
cho dos potentes, mesmo desmontado.
João que queria apenas as rodas, compra o caminhão de mais
de 7 metros de altura, mas pediu um tempo para tirar, nem que aos
poucos.
O senhor estranhou quando João pagou e com uma empilha-
deira colocou os dois primeiros pneus no carro, que reclamou, é
claro.
João chega no barracão e descarrega os dois pneus, põem na
caçamba da Fiorino a serra e volta ao local, o senhor viu João tirar
as 4 hastes de rolamento das rodas, colocar na caçamba e levar as
duas outras rodas.
O pessoal saiu, olhando João, ele entra, fixa em cada ponto
que queria por uma das quatro rodas, e começa a soldar no lugar a
estrutura.
As rodas ele lava com jato de areia, o que faz elas perderem a
cor amarelada e enferrujada, e irem ao metal.
Para João, o problema é que ele tem uma avenida de 14 me-
tros, com nove metros ele passa tranquilo, mas colocando as rodas,
direto, ele teria apenas um metro de folga de cada lado.
Franco desce e olha ele trabalhando e pergunta.
— Vai trabalhar a noite inteira?
— Me veio uma duvida, e tenho de parar antes de responder
a esta duvida.
— Qual?
— O terceiro carro passa antes ou depois da bateria?
— Porque quer saber?
— As rodas ficam ótimas assim, mas sobraria apenas um me-
tro entre a largura da pista e o tamanho do carro.
Franco olha e fala.

32
— E pensando em passar antes da bateria para não ter pro-
blema com o carro de som?
— Sim, embora pretenda amanha fazer a roda entrar um
pouco mais, para sobrar um metro de cada lado.
— Comprando bastante coisa, todos pensando que você es-
tava cuidando do carro, estava testando técnicas?
— Vou cuidar do carro fora do horário de trabalho, é mais se-
guro.
— Certo, mas a frente ficou muito boa, olha que o carro co-
meça a tomar forma.
— Ele nem começou ainda a tomar forma, e já ocupo espaço
demais.
— Vi que não estava preocupado com o tomar de espaço de
Pietro, e já deu um jeito.
— Iria propor para ele isto ontem, mas ele parecia irritado.
— E nem viu como está ficando.
— Senhor, este carro, é um carro que precisa de 10 mil horas
para ser executado, temos em horas totais, menos de 5 mil até o
carnaval, então apenas estou acelerando o que posso acelerar, a
fibra de vidro vai me deixar 48 horas olhando, mas amanha quero
por o hidráulico da parte interna do tamborim, testar esta parte
também.
— Vai deixar erguido por quanto tempo? – Franco olhando os
sistemas erguidos, as vezes era tenso ver aquilo lá encima.
— Acho que o teste bom é 48 horas, para analisar o desgaste,
espero que ele não tenha ocorrido.
— Aquele é o topo do carro?
— Sim.
— Sabe do viaduto.
— Sim, por isto estou testando, as pessoas vão embarcar em
um carro de 4 metros, e a que estiver naquele ponto, vai estar a 15
metros de altura.
João olha o para-choque, olha para a estrutura do carro e
marca onde deveria fazer uma estrutura interna e com Franco
olhando ele, solda a parte onde recuaria o pneu, acerta uma estru-
tura bem reforçada no fundo e prende o sistema de rolamento,
soldando uma haste na parte que girava do outro lado.
33
Franco viu o rapaz pegar a empilhadeira e colocar no lugar o
pneu, obvio que o carro inteiro compensou o peso, para o lado,
João olha para as estruturas para ver se elas se manteriam, e para-
fusa aquele pneu.
Vai para o outro lado, faz o mesmo recuar e prender da estru-
tura, e prende o segundo pneu, desce aos poucos o mesmo, que
João não termina, ele se soltaria, teria de pensar em uma outra
forma de fazer.
Franco viu a cara de decepção de João e falou.
— Não funcionou, é isto?
— Sim, é isto.
— Sabe que a roda pode ser cenográfica, raramente coloca-
mos coisas tão pesadas.
— Pensei que aguentaria, dei bobeira.
— E vai devolver as rodas?
— Não sei ainda, as vezes as coisas não funcionam como que-
remos.
Franco sorriu e falou.
— Você foi o único que tentou não pedir nada de mais esta
semana.
— Não sou de pedir se tiver como fazer, mas obrigado por
desencostar a alegoria, eles pelo jeito começam bem depois de mim
e vão ainda acabar antes.
— Não duvido.
Franco viu que João iria ficar e pergunta.
— Vai neste ritmo até quando?
— Domingo de Carnaval.
— Vai fazer o que agora?
— Duas voltas de cano no mesmo tamanho, usar a roda como
modelo, e dimensionar 4 rodas.
— Pelo jeito se deixarmos dorme aqui.
— Certo, paro um pouco hoje, é que sei que terei de estar em
Curitiba quinta e sexta, então estou pensando no que farei.
— Algo o prende lá ainda?
— Sim, muita coisa, minha vida está naquela cidade ainda.
— Certo, acelerando, mas passou a todos o que precisam ir
fazendo?
34
— Amanha vamos passar fibra de vidro em tanta coisa, que
ficara inviável mexer antes do sábado.
— Certo.
Franco viu o rapaz deixar o carro ali e caminhar até o hotel,
olha para o carro e ouve Roberto as costas.
— Este não tem medo de trabalhar.
— Pelo que entendi, ele vai fazer parte a parte, parece estar
avançando, mas como ele falou, começo antes e ainda termino de-
pois.
— Pelo jeito ele quer mostrar mesmo o seu valor.
— Ele em si é um mistério, ele não se envolve com os demais,
parece ainda deslocado.
— Acha que este carro vai ficar legal?
— Pelo que entendi, ele ainda está desenvolvendo a ideia, es-
tes para-choques não existiam no projeto inicial, e realmente, dá a
cara de um carro, paixões nacionais. – Franco.
— Alguém retornou?
— Alguns querem uma previa, mas temos de fazer jogo duro,
ainda estamos no meio do ano.
Roberto olhou Franco.
— Talvez este carro se pague se ele terminar Roberto.
— E os demais?
— Sergio começou a ficar preocupado.
— Com o que?
— Tudo que vier depois deste carro.
— E ele propôs algo?
— Sim, passar este de terceiro para quinto carro.
— O que acha?
— Não gosto da ideia, carros de fim de desfile passam mais
rápido, não precisam de tantos detalhes.
Roberto olha a estrutura e fala.
— Lembro de todos olhando ele como alguém que não en-
tendia de nada, não sabia o que estava falando, quando falou neste
tamanho de alegoria.
Franco olha a mesma e fala.
— Pior que ele se posicionou onde ninguém queria ficar no
fundo do barracão, agora todos querem o espaço que ele ocupou.
35
— Pelo jeito ele gera mais encrenca não se entrosando do
que se entrosando.
— O grupo dele está avançando, eles sabem que o contrato
vai até o dia do desfile podendo ter um adendo de uma semana a
mais, para o desfile das campeãs, mas geralmente eles veem o co-
meço lento e o fim, dias e dias sem dormir.
— O grande problema de sempre, não acabam na hora e al-
guém dormindo faz uma solda onde não deve.
— Sim.
Os dois fecham o barracão e Marquinhos no bar em frente
olha para Rogerio.
— Estão todos falando deste rapaz.
— Estranho como ele causa admiração e ódio ao mesmo
tempo, tem gente que não entrou neste grupo, pois era a furada,
que agora queria estar fazendo algo.
— O que achou da ideia dele.
— Alguns não entenderam, vamos provavelmente folgar
quinta e sexta, e depois domingo e segunda.
— Porque acha isto?
— Ele quer começar a dar forma para aquele monstro, aquilo
está monstruoso, acho que aquelas rodas não encaixam lá, mas ele
as comprou, nem que para os barracões vizinhos olharem para den-
tro.
João chega ao hotel, toma um banho e assiste as noticias lo-
cais, as vezes estranhava o sotaque, as vezes, parecia que aquela
cidade o agarraria para sempre.

36
João acorda cedo, vai ao
barracão, ele estava começando a
ser o primeiro a chegar, então ele
dedica as primeiras horas a passar
duas mãos de tinta na Fiorino,
passa o jato de areia nas rodas
com ele bem fino, passa uma mão
de preto nas rodas, ajeita o motor
e estaciona na parte interna, ela pintada e remodelada.
Quando o pessoal chegou, ele já havia lixado a parte da frente
e começava a passar a massa.
Eles viram as ordens do dia, e viram que ele aceleraria a parte
estrutural, as caixas dentro das caixas.
Alguns estranhavam quando ele falou as Caixas dentro das
Caixas, mas ele estava pensando em fazer andar a andar, então ele
na parte do fundo, começa a soldar a estrutura arredondada que
iria subir fazendo a parte alta do tamborim, olhando de longe, esta-
va com uma parte com as telas de ferro e outra vazada, ele coloca
no lugar e ergue a estrutura.
Ele olha para ela erguida e sobe e pede para falar com Sergio.
Sergio estava em reunião, então ele apenas deixa o recado e
desce, não era tão urgente assim.
Ele desce a estrutura a altura baixa, o que dava altura naquela
região de 3 metros, ele tinha ideias, anotava, depois riscava elas no
papel.
Desce e começa a recortar as bases de sustentação dos qua-
tro adereços que iriam sobre a estrutura, depois sobe e começa a
colocar a tela sobre a parte alta, onde seria o couro do tamborim.
Ele termina a parte de estruturação, todos estavam fazendo
os seus pedaços a parte do fundo já ganhava altura.
João começa a por em toda volta baixa, a tela para fixar a fi-
bra de vidro sobre ela, faz os dois lados, e para na vista que mal
conseguia olhar, quase encostada na parede de fundo do barracão.
Ele mede onde seria o para-choque traseiro e as rodas.
37
Estava acelerando por um lado, tentando não cansar muito
na parte da manha.
Ele monta e fixa o para-choque traseiro, começa a colocar as
telas para colocar a fibra de vidro.
Ele termina de instalar e olha para o pessoal, em si, eles ti-
nham feito as estruturas altas, as baixas, as caixas de suspensão, as
de colocação, e começam a baixar toda a estrutura, e tirar os pesos
do lugar.
Ele olha o pessoal, todas as estruturas feitas agora todas no
chão, ao lado do carro ou sobre a estrutura, pega as fibras e aquela
imensa banheira, prepara o material e começa a colocar, era algo
demorado, mas que precisava ser feito, ele coloca a primeira cama-
da, em todas as estruturas, e em toda a volta do carro, era algo que
ele não podia parar antes de terminar, perderia material se parasse,
então mesmo a contra gosto, viu Franco ficar a olhar ele, os rapazes
já haviam saído, colocar aquilo em toda estrutura que ele e o grupo
haviam coberto com malha de ferro.
Quando as 10 da noite ele termina, lava as mãos e fala para
Franco, que precisava de 48 horas de maturação, que dispensara o
pessoal quinta e sexta, que sábado retomavam o trabalho.
Franco viu mesmo cansado, João ajeitar todas as coisas, sobre
a estrutura, lentamente.
João passa no apartamento, pega suas coisas e vai ao aero-
porto.

38
Sábado, logo pela manha,
João embarca para o Rio de Janei-
ro, e sem passar no quarto de
hotel, vai ao barracão, o pessoal
estava todo de fora, e obvio, João
entrou e deu de cara com Franco.
— Podemos conversar?
— Sem problemas senhor
Franco.
O senhor subiu e olha para João.
— Tenho muitas reclamações sobre você João. Gosto da sua
forma de trabalho, mas tem de tentar se entrosar com os demais.
— Qual a reclamação?
— Um senhor passou ai e perguntou ontem se o dono da Fio-
rino não iria tirar o que comprou no ferro velho, que se não tirasse
iria jogar no meio do espaço ai, dai outras escolas a volta começa-
ram a se perguntar de quem era a Fiorino, e descobriram que ela
tem um chassi clonado.
João tinha acordado sedo, tentara resolver todos os proble-
mas em Curitiba, ainda faltava pouco para poder se dedicar mais,
mas bronca quando se vem pensando em trabalhar e evoluir, pare-
ce desmotivar João.
— Então já sei onde foi parar a Fiorino, iria perguntar onde, a
policia levou, é isto?
— Sim.
— E ainda quer que me integre, parecem querer me chutar
para longe senhor.
— Eles estão receosos, pensa em gente que está pensando
em qual enredo vai fazer e se depara com o visual daqui de cima
para baixo do carro.
— Aquilo ainda é um amontoado senhor, não um carro.
— Certo, tenta se entrosar, sei bem onde vai dar isto, mas
tenta.
— Sabe?
39
— Hoje reclamam que você não se entrosa, amanha, que está
entrosado demais.
João ri sem graça e desce, olha para o carro e para o pessoal.
— Prontos para lixar tudo antes dos demais carros começa-
rem a ser montados?
O pessoal começa a pegar o material e João vai a delegacia, o
delegado olha aquele rapaz, e pergunta.
— Sabe que comprar carro roubado é crime.
— Se soubesse que era roubado, seria.
— Comprou quando.
— Terça.
— E estava onde, que deixou o carro na cidade do Samba.
— Eu estou tentando um emprego ali, mas pelo jeito, quando
fui para casa, Curitiba, tentar ajeitar as coisas, tudo desandou.
— Comprou de quem?
— Um anuncio, firmamos num cartório a compra, na terça
mesmo, estranho dizerem que aquilo ali é um carro clonado.
— O dono diz que a verdadeira está um lixo.
— E viu a verdadeira, pois quando comprei estava um lixo.
— Não comprou na terça?
— Sim, jato de areia, soldagens e prime na terça, uma cama-
da de azul na Quarta antes de viajar.
— E não a roubou?
— Como a comprei senhor, se olhar o preço, estabelece o es-
tado que ela estava.
— E trabalha em que escola?
— Beija Flor.
— Contrato até quando?
— Quarta de Carnaval, podendo se estender até o domingo
seguinte.
— Estamos retendo o veiculo.
Joao olha o senhor e fala.
— Estranho existir um veiculo clonado, com documentos le-
gais senhor, isto que estranho, pois se for clonado, o documento é
clonado, mas dei entrada na transferência e os dados que estavam
lá, eram o do antigo proprietário, que reconheceu firma em cartó-
rio, por isto estranho ser clonado.
40
O delegado pega os documentos de João, e pergunta.
— Fazia o que em Curitiba.
— Tinha uma pequena bicicletaria.
— E veio para cá por que?
— Se alguém lhe oferece um serviço, que vai lhe gerar ao fi-
nal, se conseguir terminar, mais do que você ganhou nos últimos 4
anos inteiros, você tenta.
— Esta hospedado onde?
— Gamboa Hotel, quarto 22, locado pela escola até quarta
feira de carnaval.
— Qualquer coisa entramos em contato, tem algum numero
local?
— Ainda não.
João sai e volta ao barracão, olha para Marquinhos e fala.
— Sacanagem no seu primo, dizer que o carro é clonado,
apenas porque viu ele pintado, muita sacanagem.
Marquinhos olha João, não pensara na denuncia vinda do
primo, mas não duvidava.
Ele caminha até o ferro velho e olha o senhor vir a ele.
— Porque todo escândalo senhor, paguei com um único pro-
posito, tirar dali, mas porque da pressa?
— Apareceu, não é estacionamento.
— Aquilo não anda para ser estacionamento, mas o guindaste
não consegue entrar na rua para o tirar. – Mente João.
O senhor pensou na possibilidade e falou.
— Mas tem de tirar dai.
— Assim que conseguir meu carro de volta, vou tirando aos
poucos, mas não entendi porque da agressividade.
— Você trabalha para gente de dinheiro e vendi por trocado.
— Senhor, estamos apenas no primeiro negocio, eu sou po-
bre, posso trabalhar para gente que arrota fortunas, mas eu sou
pobre.
— E vai tirar?
— Sim, vou vir com um caminhão e começamos tirando o mo-
tor, as luminárias as coisas que conseguimos desmontar.
— Vai ter trabalho.

41
— Pensei em tirar inteira, mas não dá para colocar em um
caminhão, não passaria a rua, então apenas calma senhor.
— E pelo jeito teve problemas.
— Sim, o senhor fez barulho, alguém que havia me vendido a
lata velha da Fiorino, a viu remendada e pintada e deu parte de
carro clonado, então se queria atrapalhar senhor, a mim, já conse-
guiu, se fizer mais barulho, com certeza me mandam embora, quem
sabe fique com este trambolho parado ai mais uns 20 anos.
João sai dali e vai ao hotel, toma um banho e volta a cidade
do samba.
Ele acompanha o lixar de todas as partes estruturais, começa
por pintar elas, dai ele passa uma camada de preto nos para-
choques frontais e traseiros, até mesmo nas canaletas por baixo que
colocaria as linhas de Led Negro.
A parte baixa nas laterais, azul, o azul da escola, mas ele deu a
primeira e segunda camada, e aquilo ficou parecendo lataria de
carro, brilhosa.
Roberto, o presidente da escola olha para Franco ao fundo.
— Não entendi porque da pressa nesta parte?
— Os demais teriam de parar para ele fazer isto Roberto, pois
o cheiro do produto da fibra de vidro é toxico, dai o lixar, espalharia
a fuligem sobre outras alegorias, e por fim, é bonito o efeito, mas o
cheiro é forte da tinta automotiva.
Roberto olha as estruturas e fala.
— E todos estavam fazendo esta parte?
— É uma parte estrutural, logico que ele colocou reforço on-
de as pessoas vão pular, mas ontem fiz um teste, do jeito que foi
feito, até a parte em fibra de vidro, aguenta uma batida.
— E pelo jeito agora ele vai apenas montar parte a parte?
— Ainda tem muita coisa a fazer, ele está pintando a parte
baixa de um carro, e os demais nem fizeram o projeto de seus car-
ros, obvio que está em destaque Roberto, é o único que está fazen-
do.
— E como estão os contatos?
— Fotografei um esboço para alguns, estava apenas na fibra
de vidro, mas os depósitos já superam o gasto com o carro senhor.
— Acha que o rapaz tem jeito?
42
— Sim, ele encara, a policia acaba de devolver a Fiorino, o an-
tigo dono, vendeu uma lata velha, quando viu o estado dela, e lar-
gada ali, deu queixa de clonagem de chassi, mas esqueceu que teria
de mostrar o verdadeiro.
— Ele realmente testou a cor no carro, aquele brilho é o que
ele quer no carro alegórico?
— Parece que sim.
— Não entendi porque ele fechou o chassi por baixo a toda
volta, e fez esta saia em preto.
— Ele fez uma canaleta abaixo do carro, Sergio disse que a
ideia é por uma linha de Led a toda volta, aquela ideia de veiculo
flutuando.
— Ele fez até as rodas, disse que ele comprou aquilo, para
modelo?
— Ele pelo jeito para comprar as rodas, acabou tendo de
comprar um lixo imenso do ferro velho.
— O senhor das reclamações?
— Sim, o segurança disse que ele caminhou até o ferro velho
para falar com o proprietário.
— Ele pediu mais dinheiro? – Roberto.
— Não, ele ainda está no primeiro recebível, alguns turistas
em compras já estão pedindo mais dinheiro.
— Acha que vale o investimento no chassi para alguns?
— Estou estudando, mas Pedro veio com o pedido de ter uma
estrutura semelhante, e não sei, ele está viajando para ter ideias.
— Sergio?
— Para as vezes olhando o carro do novato, e se depara com
possiblidades no enredo que não havia pensado, pensa em um car-
ro que começa na festa, passa por pecados como gula, e ostenta-
ção, para em uma oração e volta a festa e bares, isto é Brasil em
uma alegoria.
— E o pessoal dele, ele consegue administrar eles?
— Ainda sem problema com o pessoal, mas acho que estão
tentando uma vaga na escola, e estão segurando as criticas.
Sergio olha para João, estava cansado e com tinta em toda a
capa branca que usara para pintar a alegoria, sentado ao fundo
olhando a camada de tinta.
43
— Podemos conversar?
— Vamos sair daqui, conversamos lá fora, o cheiro está forte.
– Fala João olhando o senhor.
Saem e João faz sinal para os rapazes.
— Como está a câmera no fundo?
— Feita, assim pintamos as peças antes delas irem para a ale-
goria, já que aquela parte, teria de ser feita lá mesmo.
— Então os vejo na terça, tem de ter dois dias de secagem
agora.
— Não quer que adiantemos os adereços?
— Melhor não fazer faísca naquele ar lá de dentro, deixa sair
todo o solvente da tinha que começamos a refazer a soldagem e os
adereços.
João senta-se na parte frontal do barracão, parte interna da
cidade do Samba, estranhou ver sua Fiorino estacionada, mas já
perguntaria sobre ela.
— Foi lá conversar e não retornei, e já esta pintando a parte
baixa.
— Apenas adiantando onde consigo adiantar.
— O que queria trocar uma ideia.
— Agora mostro pessoalmente na terça, mas a ideia, quando
em construção, dentro do tamborim, interno ao local, tem uma
parte em fibra e uma vazada, mas a ideia ali é por um pano com
uma abertura no meio, mas não falamos ainda sobre pessoas sobre
o carro, não sei como funciona isto, tem de ver que é meu primeiro
carro grande.
— O pessoal está terminando o pré projeto das roupas, diga-
mos que o setor a frente de sua alegoria é o mais adiantado nos
desenhos, pois sabemos o que podemos criar para a alegoria ao
fundo, mas dentro do carro realmente não falamos ainda.
— Então parar de enrolar, certo? – João.
Sergio concordou com a cabeça.
— Deixar claro que não terminei o projeto do carro ainda, sei
que montei o esboço e lhe passei, mas ideias sempre surgem, algu-
mas não vou conseguir por em ordem, mas agora vejo o quão útil
são as regras, pois elas nos dão o chão, o limite.

44
— Tem de cuidar dos gastos, alguns acham que você está
acima do que propuseram para o carro.
— Digamos que o papel fala que ainda posso gastar um quar-
to do dinheiro, mas vou deixar estes gastos, para quando estiver
próximo da conclusão.
— Então está nos gastos.
— Bem isto que quero saber, a fantasia dos dentro do carro
fazem parte dos meus gastos?
— Certo, gostaria de quantas pessoas no carro.
— Ideia inicial frontal, abaixo das 4 esculturas, quatro baluar-
tes que pudessem representar as pessoas vivas que fizeram aquilo
na escola, com os instrumentos representados acima. – João pega o
papel. – No intervalo de tecido do tamborim, pelo menos 5 pessoas
vestidas de malandros boêmios nas cores da escola, que saem de
tempos em tempos e tocam tamborim.
— Isto no tamborim frontal?
— Sim, sobre cada escultura uma representante da comuni-
dade, pelo menos 42 representantes ali, ao lado do caldeirão de
feijoada, pelo menos 4 por lado, e duas frontalmente, ao fundo do
caldeirão, pode ter um destaque de luxo, tem espaço para um ali,
logo após, temos nos dois sistemas de unificação do chassi, sobre
cada um deles, dois bolos, um de fubá e um de chocolate, sobre os
bolos, uma noivinha sapeca em cada um, entre as duas noivinhas,
temos para cada lado a escultura de alguém orando, para Deus, a
representação não será de um Deus, mas sim de uma luz, um altar
vazado dos dois lados, com um espelho central onde as luzes a toda
volta refletem, sobre esta armação, vamos ter pelo menos 3 holofo-
tes de lançamento de produtos, aqueles que marcam o local tama-
nha a potencia.
Sergio anotou.
— Após isto, temos as esculturas das festas, mas seria bom
ter uma representação das festas em fantasia abaixo, a escultura ter
4 metros, não inviabiliza ter pelo menos 4 pessoas por festa retra-
tada abaixo, ai seriam outras 40 pessoas, no bar para o fundo, pelo
menos três mesas fazendo uma batucadinha de mesa, no andar das
festas, gente pronta nos blocos pulando, e na alegoria do carnaval,
o integrante alegre e empurrando o carro. Ainda pensando se colo-
45
co pessoas saindo do bolo, mais pela região que está do que pela
ideia, mas na parte baixa do carro a toda volta, devem ter outras 40
pessoas.
Sergio viu que era seria a ideia.
— O carro aguenta?
— Acha que aqueles pesos eram apenas brincadeira, estou fa-
lando em pelo menos 175 pessoas no carro. Mas não sei se o custo
das fantasias são do carro, posso dispor de mais 5 pessoas com fan-
tasia de luxo, mas se o custo não for descontado no carro.
— Relaxa, o custo é do carro, mas pelo jeito está querendo
uma carro não apenas bonito, e sim, vivo.
— Não, eu acho que estou tentando ainda não inventar, é um
carro fixo, básico, apenas grande e alto, pensando na segurança
ainda das pessoas, pois alguém sambando em um espaço mínimo a
5 andares de altura, tem de se ter cuidado.
— Vou falar com o resto do pessoal, temos então uma alego-
ria que vai ter mais gente que algumas alas.
— Sim, e vou isolar a região ali, pois tem de secar, a ultima
vez que sai por dois dias, voltei e estava um agito.
— E pelo jeito pretende acabar rápido.
— Acho que não entenderam, fazer em fibra de vidro, escul-
turas, é demorado, o carro com linhas retas ou meio curvas é fichi-
nha perto de uma escultura de 12 metros que tem de ter 4 para
transporte. Mas acho que todo o complexo de ideias, está dentro
dos 4 metros neste instante.
— Está falando serio?
— Sim, mas isto é outra coisa que não conheço, o caminho
entre o baração e o desfile.
— Temos pessoas que se puser nas medidas, conseguem.
— Bom, estou tentando deixar tudo abaixo da medida padrão
para não precisar improvisar.
— Certo, mas pelo jeito nasceu para isto, tem gente que diz
saber o que quer, mas só pensa na ideia local, você quer a transpor
ao local, mas vou pensar nas fantasias, e ver o que conseguimos.
— Eu achei que o carro ficou muito poluído, mas tem de con-
siderar que é o primeiro que faço.

46
— Certo, mas algumas pessoas parecem querer sua ajuda e
não sabem como pedir.
— Uma cerveja num boteco pode ser uma forma. – João.
— Uma clássica forma.
Sergio se retirou, João perguntou o que aconteceu para a Fio-
rino estar ali para a secretaria, que lhe alcança a chave e um recado,
pedindo desculpas pela confusão.
Ele se despede e ouve a secretaria falar.
— O seu carro esta ficando bonito, parabéns.
João agradece sem graça, vai a Fiorino, pega o material de
corte, prende um guincho manual no fundo do carro e vai a região
do Ferro Velho, o senhor viu ele chegando e falou que estaria fe-
chando em uma hora, se queria pegar algo, fosse rápido.
João entrou e no lugar de ir direto a maquina, foi ao estoque
e perguntou quanto custava aqueles três holofotes imensos que
tinha na ponta.
— Estão com as lâmpadas queimadas.
Pechinchou e colocou na Fiorino, retira as lâmpadas frontais
da maquina, as traseiras, os vidros, o painel de controle, alavanca
de cambio, retirou parte das peças e o senhor viu que ele não levou
para o pessoal, volta ao barracão, na parte que o pessoal isolou,
põem o carro, adiciona flocos perolados na tinta e pinta a terceira
camada no carro.
A secretaria olha para ele e fala.
— Não para muito?
— Eles quando me veem reclamam, quando não me veem re-
clamam, não entendo.
Ela sorriu, ele olha para a parte da administração do barracão
e tinha gente lá ainda, ele chega a frente, corta o local onde poria as
lâmpadas na fibra de vidro, olha o ajeitar das lâmpadas, ficou legal.
Ele faz a armação para por elas e instala, ainda com os fios
soltos, mas espaço de sobra por baixo para colocar a fiação.
Ele pega os flocos perolados e faz a ultima camada de cor nos
para-choques frontais, laterais e traseiros, pega a tinta azul e faz a
camada em toda a parte baixa do carro, as partes em gelo, em dou-
rado e prateado, tudo ganhando mais brilho, era perto das 8 da

47
noite quando ele fecha a sua parte, isola o carro, deixa o carro se-
cando e caminha para o hotel.
Ele geralmente não parava na recepção, pois sabia como che-
gava do trabalho, subia, tomava um banho e somente depois pen-
sava se comeria algo, mas aquele policial a entrada já lhe indicava
que não subiria direto.
— Senhor João Mayer?
— Sim, eu mesmo.
— A pé?
— Passei a ultima camada de tinta na Fiorino, amanha deve
estar seca para uso.
— Queria entender o problema com a Fiorino, alguém deu
queixa e depois tirou a queixa, e no meio disto, você nem reclamou
muito.
— Aquele Fiorino estava toda danificada, a parte interna mos-
tra bem como ela estava externamente, mas alguém olhou por fora
e achou que fizera um mal negocio, apenas isto, crianças brincando
com a justiça.
— E não vai dar queixa?
— Eu sou novo na cidade, se começar a me meter em encren-
ca, logo tenho de sair da cidade.
— E vai fazer o que com a Fiorino?
— Tenho dois dias para esperar o carro alegórico voltar a me
permitir trabalhar nele, nestes dois dias vou refazer o painel, o esto-
fado, pintar por dentro e arrumar alguns detalhes, quem sabe eu
não consigo um dinheiro pela Fiorino.
— Vai vender mesmo?
— Não, era brincadeira, mais alguma coisa, não tomei um ba-
nho depois do serviço ainda.
— Pode subir, pelo jeito estava mesmo trabalhando ainda.
João não respondeu, subiu e foi a um banho.
João sai do banho, olha a hora, já não tinha janta, pega a car-
teira e atravessa a rua, um bloco na mão e uma caneta, senta e pe-
de uma cerveja e um sanduiche, fica a olhar o papel em branco e
pensando em o que faltaria no fim, mas primeiro colocou o esque-
ma de funcionamento, teria de verificar a partir do dia seguinte, por

48
6 meses se as coisas estavam caminhando, para quem olhasse, pa-
receria que o carro estava quase pronto, mas faltava muito ainda.
João determinou cada prazo para cada escultura, e tempo de
secagem e instalação, ele fizera a parte externa, agora viria da parte
mais interna para a mais externa, pois o que ficava mais para o cen-
tro, era o que iria mais alto.
Estranho todos falarem que estava adiantado e para João, pa-
recia que faltava tempo para tanta coisa.
Sabia que cada dia as coisas ficariam mais prontas, mas algu-
mas coisas seriam feitas na ultima semana, iluminação sempre se
deixa para o fim, mas ele começa a esboçar o projeto elétrico do
carro, cada ideia que vinha, começava simples no papel, mas o im-
plementar era sempre complicado.
João estava olhando o caderno quando viu Marquinhos que
senta-se e fala.
— Vim pedir desculpa, apresentei meu primo e ele faz uma
destas.
— O delegado foi até gente boa, já fui bem mais mal tratado
em delegacias da minha cidade.
— E veio tomar uma cerveja?
— Pensando, eu tinha uma bicicletaria em Curitiba, reforma-
va e fazia bicicletas customizadas, alguns acham brega, mas eu ven-
do uma bicicleta minha por duas vezes o que seu primo me vendeu
o carro dele.
— E todos olharam para você e se perguntaram? Bicicletaria,
isto dá dinheiro?
— O diferencial dá dinheiro, em duas semanas terei vendido
minha bicicletaria, não tenho como fazer negocio lá e aqui, o pro-
blema é que bicicletas assim vendo uma por mês, me fizeram uma
proposta que achei que era uma boa proposta quando aceitei.
João iria falar dos ganhos mais lembrou que ele ainda não ga-
nhara nada e que não sabia como seriam as coisas naquele lugar.
— E o que anotava ai?
— Seu primo vende carros pelo que entendi.
— Sim. Ele tem uma meia oficina na casa dele.
— Ele quer um sócio, e fazer dinheiro?
Marquinhos estranhou.
49
— Não levou para mal mesmo?
— Eu não ganho nada levando para mal, não entendo o que
ele ganharia com isto, mas não posso fazer o que fiz na Fiorino na
Cidade do Samba, eu moro em um lugar alugado pela escola, se vou
me manter na cidade preciso de ganhos.
— Certo, eu falo com ele.
— Manda ele parar de vender os carros, vamos dar uma geral
antes de vender.
— Ele vai estranhar.
— Marca com ele segunda.
— Sabe chegar lá?
— Não, mas você me encontra no barracão na Segunda e va-
mos ver se ele topa.
Marquinhos pede uma cerveja e pergunta.
— Mas porque ele toparia?
— Eu preciso de um vendedor, mas ele tem de ser alguém de
confiança, pelo menos entre nós.
— Certo, mas não entendi a ideia.
— Sei disto.
João tomou mais uma cerveja, sobe e com o barulho do venti-
lador dorme.

50
Acordar suado parecia de-
sagradável ainda a João, mas sabia
que nem sempre seria assim, fala-
vam que estava bem fresco, es-
tranhava o clima ainda.
Caminha até os barracões,
viu que algumas agremiações
começavam a fazer suas estrutu-
ras de carro, entra e sobe, tinha uma sala alta, que Franco disse que
era para ele usar, sala dele, mas que nem parara para reparar.
Ele senta-se a cadeira, um computador bom, ar condicionado,
olha para o carro daquele ponto e sorri.
— Você é maluco João. – Falando sozinho.
Ele entra no programa de projetos, e começa a projetar os
sistemas de luz, olha que é questão de capricho para tudo funcio-
nar, não apenas de espaço.
Ajeita os prospectos e desce para a área do carro, olha para o
local e viu que em algumas cores, teria de fazer uma mão a mais,
talvez um verniz sobre aquela cor, teria de testar.
Olha para um rapaz do carro cinco olhar para ele e perguntar.
— Vai ajudar os demais quando acabar este?
— Ninguém pediu ajuda ainda.
— Dizem que você não ofereceu ajudar.
— Eu sou o novato, não sei tanto quanto eles, minha ajuda
vai ser de acordo com minhas possibilidades, mas é que as vezes
escolhemos um caminho para produzir um carro que pode parecer
pronto, mas ainda está longe de o estar.
— Ouvi Sergio comentar com o pessoal da comunidade que
pretende ter mais de 170 pessoas neste carro.
— Sim, estava trocando uma ideia com ele ontem, não sei
como funciona isto ainda, mas com certeza vou aprender muito
este ano.
— Tem certeza que não entende muito?

51
— Estou fazendo onde me sinto seguro, ainda não tenho ex-
periência para arriscar, mas vão começar a montar o carro?
— Estão decidindo o que farão, já colocaram 3 ideias no pa-
pel, e a culpa é sua.
— Minha?
— Sim, eles querem um carro lindo, e se deparam com um
novato que quer fazer um carro mais lindo que o deles.
— Eu acho que minha ideia está simples ainda, com certeza
se fosse o primeiro carro estava me perdendo nas ideias.
— E veio ver o que?
— Viu o que fizermos ontem?
— Apenas de longe.
João abriu e o rapaz viu as peças pintadas e chega perto, era
brilhoso, olha em volta e fala.
— E diz que não entende?
— Estou na minha área de conforto, metal, fibra de vidro e
pintura automotiva.
— E já dá para tocar?
— Mais um dia para se poder tocar de verdade.
— Agora entendo 170 pessoas, o carro é imenso.
— As vezes vejo o que tem de ser feito e parece que 6 meses
é pouco tempo.
— Falta muito?
— Montar tudo, mais de 70 esculturas, estruturas para subir
e descer, iluminação, treinar as pessoas do carro, pode parecer
pronto hoje, em 3 meses, parecera que falta metade.
— Pelo jeito eles nem viram o projeto inteiro.
— Apenas o pré projeto do carro.
— Alguns falaram que era um absurdo investir em algo assim
a dois meses, e a duas semanas que vejo os mesmos que falaram
ser um absurdo pedindo uma estrutura assim.
— Eu sugeri e apresentei a ideia, deram cartas para andar, eu
andei, estranhei pois me disseram que vocês teriam as estruturas já
prontas em Agosto para trabalhar.
— E vai mudar muito?
— Um pouco.

52
João sai novamente e olha o rapaz do quinto carro, Silvino,
que olha para ele e fala.
— Já tentando levar meu melhor aderecista?
João olha o senhor e fala.
— Prazer, Joao, não fomos apresentados formalmente.
Silvino estica a mão como se estivesse com nojo e fala.
— Bem vindo ao grupo, mas o que olhavam ali.
— Apenas explicando que a proteção deve sair semana que
vem, na terça, era apenas para não espalhar poeira quando lixásse-
mos para o resto do barracão.
João já sabia a resposta que viria.
— Pelo jeito não deu muito certo. – Silvino.
— Verdade, mas terça devemos tirar esta parte, o que abre a
lateral inteira entre o espaço que foi isolado para Pietro e o nosso
carro.
— Bom saber, pensei que iria atrapalhar todo resto.
— Se estiver incomodando senhor, apenas fala, saímos do
caminho, prefiro reclamações diretas, pois é mais fácil administrar
as coisas sem fofoca no meio.
João olha o senhor cheio de trejeitos e ele fala.
— O pessoal está atrasado, mas pensei que não teria nin-
guém hoje por aqui.
— Apenas terminando minha parte do dia, desculpa atrapa-
lhar.
O rapaz olha para Silvino e fala.
— E ainda disse que o cara não quer ajudar, para de frescura
Silvino.
— Ele é um novato.
— Sim, ouvi sua afirmativa que era dispendioso um chassi no-
vo, que era jogar dinheiro pela janela, agora todos ficam olhando a
estrutura que o rapaz trouxe sei lá de onde.
— O que olhavam ali?
— Eles pintaram a parte baixa do carro, por isto isolaram a
região.
Silvino chega ao plástico e olha para dentro, tenta achar algo
errado e fala.
— Brega.
53
João vai até os controles que tirara do caminhão, e separa al-
guns, entra na parte que a Fiorino estava isolada, começa a tirar os
bancos, os tapetes, a proteção baixa, depois começa a tirar toda a
parte interna do carro, olha as falhas, coloca um painel em tubo,
prende os fios dos controles do caminhão, isola os vidros e passa
uma tinta por tudo dentro, de baixo a cima.
Enquanto secava ele pega uma capa de banco, nova e coloca
nos dois bancos, pinta as partes baixas do banco de negro. Mede
por fora o que seria um tecido de teto, que descesse e fizesse o
chão, recorta um pedaço que daria inteiro.
Estava ainda molhado a pintura quando ele olha para a parte
de fora e viu Franco olhando para o carro ao fundo.
Fecha o carro, entra no lugar e olha direto nos olhos daquele
senhor.
— Perdido num domingo aqui senhor João.
— Pensando e anotando o que cada um dos dias vai ser feito
daqui até o carnaval.
— E pelo jeito acha que vai dar tempo?
— Testando se dá para pintar na área determinada para pin-
tura sem sair gases ou tinta.
— Usando o carro como cobaia.
— Sim, depois vão dizer que reformei o carro enquanto mon-
tava o outro.
— E porque diriam isto? – Franco.
— Porque fiz.
— E acha que fica pronto quando o carro.
— Não entendi porque me odeiam tanto, mas pelo jeito des-
cobrirei da pior forma possível.
— Eles só estão fora da área de conforto.
— Veio verificar no domingo Franco?
— Sim, pelo jeito deu mais uma mão de tinta, enquanto nin-
guém olhava.
— Sim, e alguns trechos vai precisar uma quarta mão de tinta.
— Pelo jeito vai pintar até ficar como quer?
— Sim. – João pega os holofotes e começa a desmontar, leva
ao fundo e lava com o jato de areia, olha para os espaços de fiação e
começa a trocar a mesma.
54
Abre a parte interna e troca a lâmpada por um LED 6 vezes
mais potente, metade da energia, encosta aquela a ponta e faz isto
com os quatro holofotes.
— Não para nunca?
— A ideia parece ainda incompleta, não sei, deveria estar me
contentando em tentar fechar a ideia, e parece que tem algo bem a
minha frente erado e não consigo ver.
— Onde vai por estes holofotes?
— No altar, não vou por uma representação ali, e sim, luz.
— Sem imagens religiosas fica mais fácil, eles sempre querem
nos parar. Sergio ficou assustado com sua ideia de 170 pessoas no
carro.
— Quer que diminua, eu diminuo.
— Apenas quero saber se cabe.
— Franco, o problema é que aparente, vão ter umas 140, dai
você coloca 5 dentro do pandeiro, mais dez por bolo, e vai somando
gente que não aparece.
— Como assim, gente que não aparece?
João para o senhor não ficar olhando a Fiorino, entra e fala.
— Lembra das rodas?
— Sim, não as colocou ainda, mas já as fez, o que tem haver.
— Eu coloquei o sistema de giro antes mesmo de as por, e na
parte interna, tenho de escolher se coloco alguém ou um motor,
motores falham, alavanca não.
Franco viu João entrar por baixo e chegar a parte interna da
estrutura ainda toda vazada e girar uma alavanca, e a roda a sua
frente girar.
— Certo, tem os movimentos, mas um motorzinho faz bem is-
to.
— Sim, um motorzinho fica girando como maluco o tempo in-
teiro.
— E estava ajeitando seu carro no barracão.
— Quero que amanha ele funcione e possa tirar daqui se-
nhor, mas ainda não tenho onde o deixar.
— Porque o comprou então?
— Para não carregar as coisas na mão.
Franco viu a resposta direta e fala.
55
— Certo, mas Silvino falou que quer o espaço aberto hoje,
não na terça.
— Eu não ouvi isto Franco.
— Porque não?
— Eu falei para ele, com todas as palavras, a pouco, que se
reclamar para mim, resolvo no ato, mas por terceiro, não vou ouvir,
pois não quero fofocas.
— Sabe o problema de não ouvir?
— Voltar para Curitiba e me livrar de vocês? – João olhando o
senhor, era frescura, o senhor sabia, então João não levaria a serio.
— Ele pode tirar na marra.
— Espero que quando o carro entrar todo riscado e raspado,
onde deveria estar brilhando, não me culpem.
João olha para o senhor Silvino na entrada e ouve.
— Ou tira isto daqui hoje ou vou tirar com minhas mãos.
— Desafiado a fazer com suas mãos, mas se riscar meu carro,
o faço lamber ele até ficar lisinho. – João saindo da posição que
agradava os demais.
Silvino olha assustado.
— Mas não tenho espaço.
— Sim, seu carro com este plástico, tem pelo menos 3 metros
para encostar nele, eu pintei o carro tendo de o fazer apertado aqui
dentro, não tem um metro a mais, então desculpa, se não me que-
rem aqui falem, pois espaço, só se for para seu ego, pois o carro
cabe com folga.
João pega suas coisas, fecha a parte dos fundos, olha para
Franco e fala.
— Vocês que decidam, eu pedi um espaço para fazer meu
carro, é o espaço que ocupo aqui dentro, perguntei qual o lugar que
ninguém queria, o fundo, encostei ele bem no fundo para não ter
discussão, mas se riscar pintura, terei de isolar de novo, pintar de
novo e quem sabe, refazer de novo.
— Este novato nem sabe pintar direito, fez um carro brega,
como a comissão permite um carro brega assim na avenida.
João subiu, pegou a carteira, se despediu e saiu.
Silvino continua a resmungar e olha para o rapaz, que se
chamava Paulo e fala.
56
— Tira este troço de uma vez.
— Quer tirar Silvino, tira você, pois sei o trabalho que dá pin-
tar um carro, e brega, era aquele seu carro de três anos atrás, aquilo
era brega.
— Tá desbocador hoje Paulinho.
— Olha quem fala, e se me perguntarem se ele ofereceu aju-
da, digo a verdade, vocês o chamaram de Imaturo, que não queriam
ajuda de imaturos.
Franco viu que mesmo o aderecista não estava mais aguen-
tando as frescuras do senhor ali.
— E dai Silvino, decidiu o que vai ser este carro?
— Vou falar na segunda com o Sergio, deixaram para o Nova-
to a parte gostosa de fazer e nos deram o problema.
— Sergio vai lhe tirar o fígado se o fizer, Silvino, pois vocês es-
colheram o que queriam, e sobrou o carro 3, esqueceu? – Paulo.
Franco sorriu, o senhor estava querendo apenas uma ideia
pronta e pelo jeito tudo que eram palavras bonitas sem conteúdo,
realmente eram palavras apenas bonitas.
— Não fale assim, pelo jeito já se bandeou para o lado deste
João Ninguém ai.
— Estava tentando entender o que ele pretende, mas quando
começamos o nosso Silvino, tenho de começar a fazer as esculturas,
não me passou nenhuma ideia.
— Estou na duvida, sempre que vejo a criação de outros fico
na duvida.
— Então porque nos chamou aqui, se não tem ainda o que
vamos fazer Silvino?
— Para tirarem isto dai.
— Fala serio, quando tiver algo, tiramos isto dai, quer tirar
apensa por birra, cresce Silvino, não é mais uma criança.
Franco olha serio Silvino e fala.
— É serio Silvino, não tem uma ideia e me fez por alguém que
estava trabalhando na sua ideia para fora, o irritando, apenas por
birra?
— Tem de ver que ele está tomando todo espaço.
— Como ele mesmo disse, o espaço que vocês não usam, e
descida de uma vez, estou perdendo meu domingo.
57
Franco olha para o carro numero 3 e fala.
— Ele está a uma semana trabalhando na pré ideia, você nem
a tem ainda e quere prejudicar ele, acho que esqueceu quem você
estará prejudicando Silvino.
— Um novato.
— Talvez, um dia você também foi novato.
Franco olha para Paulo e fala.
— Fecha depois, e não meche na proteção, parece que temos
um birrento e o rapaz não estava legal hoje para encarar frescura.
Silvino olha Franco saindo e começa a sair.
— Tenho de ter uma ideia boa.
— Você escolheu o quinto carro por preguiça, sabe disto, não
queria nem o primeiro e nem o terceiro.
— Ele lhe encantou.
— Não, ele disse que o carro dele fica pronto em 6 meses, en-
tão você está vendo a estrutura sem as esculturas, sem a ilumina-
ção, sem quase nada, ele não me encantou, mas sabe o que quer
fazer, isto quer dizer, tenha uma boa ideia, pois Roberto vai querer
uma boa ideia.
João fica ao fundo esperando eles saírem, entra novamente,
termina de montar a parte interna do carro e vai para o hotel, abre
o computador pessoal e olha que tem festa no barracão da escola a
noite, lançamento do concurso de sambas.
Como ele nunca vira algo assim, e a entrada era aceitável, ele
se veste e vai a região de taxi.
Entra e olha o barracão, olha para o pessoal da comunidade,
eles olharam meio atravessado para ele, como se fosse um penetra,
estranha, mas viu Franco depois das 10, anunciar o prazo para apre-
sentar das musicas e viu uma pré apresentação da ideia, que iria ser
mostrada na avenida.
Soube que semana seguinte, iria ter o apresentar oficial do
tema para este ano, e também as fantasias por ala, seriam apresen-
tadas.
João foi a bilheteria e comprou 10 chopes e pegou um no bal-
cão, ficou a ver a apresentação da bateria, viu gente que sempre
ouvira falar, vira pela TV, mas ao vivo era diferente.

58
Estava apenas passando tempo, as vezes conhecendo, assim
como entrou, saiu sem ver ninguém, sem reparar em ninguém.
Micaela olhava ele ao longe, e sua mãe chegou ao lado.
— O que observava?
— Aquele rapaz que o Franco disse que só sabe trabalhar, no
barracão, que está deixando os demais tensos, parecia ele ao fundo.
Fabiola olha a filha e fala.
— Mais um velho, seu pai o manda embora.
— Só estaria facilitando os demais, mas estranho gente que
vem, apenas olha e sai, não tenta ficar visível, não tenta mostrar
quem é, apenas vem, toma 10 chopes e sai como se não tivesse
mais nada a fazer.
— Prestando bem atenção filha?
— Eu vi ele apenas uma vez, mas olhei o projeto do carro dele
no computador do pai, e o que ele está fazendo lá na Cidade do
Samba.
— Algo interessante?
— Carro de meio de desfile, um caixote, como a maioria.
Fabiola riu.
— E porque olhou ele filha?
— Normalmente os demais vem a escola, o desconhecido
veio e o resto, ou está viajando ou não veio.
— Sergio veio.
— Ele é da comissão de Carnaval, ele que fez esta festa mãe.
— Certo, você estava querendo ver quem viria, e apenas
quem pelo jeito nem convidaram, apareceu.
— Nem convidaram? – Micaela.
— Seu pai disse que o rapaz é bem criativo, não queria o tirar
do caminho, mas parece que ele faz seu próprio caminho.
Micaela olha para a mãe, algo gerou interesse.

59
João acorda sedo na segun-
da e vai ao barracão, tira o Fiorino
do barracão e coloca no estacio-
namento, esperou Marquinhos,
encostado no carro, Marquinhos
olha o carro e olha João.
— Mudou o carro?
— Vamos lá e conversamos.
Marquinhos entra no carro e fala.
— Você mudou ele todo, mas não acabou o painel ainda.
— Não, ainda não acabei o painel e nem todo acabamento in-
terno, mas a ideia é por ai.
Vão a ilha do Governador, passam ao lado da União da Ilha, e
atravessam para o fundo, param em uma casa, se via alguns carros
judiados e o olhar de Plinio sobre o carro.
— Olha que pensei que vendi uma sucata.
— Podemos conversar?
— Sim, qual a ideia, pelo jeito quer comprar outra sucata.
— Não, quero uma parceria, transformar as sucatas que tem
aqui em carros como aquele ali, a diferença, como sucata, valia os
mil e trezentos que paguei nele, agora vale com certeza mais de 6
mil.
Plinio chega perto e vê que João ainda estava fazendo o pai-
nel, olha os bancos e o forro, que estava detonado, sorri e fala.
— E como podemos ser sócios nesta empreitada?
João olha serio e fala.
— O problema é que carros alegóricos me dão dinheiro, mas
trabalho apenas por 6 meses, eu como o ano inteiro.
— Certo, mas eu não tenho grandes coisas aqui.
— Quer fazer parte disto senhor? – Pergunta João serio.
— Sim.
— Então esquece esta coisa de passar os outros para traz, isto
denigre a imagem.
— Certo, mas o que olha em volta.
60
— Apenas vendo o espaço, e vendo o que você tem, 12 carros
que parecem pior que a Fiorino.
— Não são fáceis de vender.
— Vamos firmar isto senhor Plinio?
— Não entendi a ideia.
— O imóvel é seu?
— Sim.
— Eu tenho um equipamento ainda em Curitiba, eu trago pa-
ra cá, montamos uma pequena oficina real, reformamos os carros e
dividimos meio a meio as vendas.
— Mas os carros são meus.
— Quer me vender eles a mil, como estão, acho outro lugar e
vendo eles a 6 mil, a escolha é sua, no lugar de ganhar 3, ganha 1.
— E depois?
— Vamos comprando os lixos em volta e transformando em
carros vendáveis.
— Juro que não parece a mesma Fiorino.
— Não é a mesma Fiorino, o veiculo que me vendeu, deixou
muita massa na primeira jateada.
— E dividimos os custos?
— Sim.
— Pensei que estivesse me querendo longe de você, e vem
me propor sociedade.
— Eu proponho, é aceitar ou não, mas aquele opala no fundo,
pode demorar um pouco mais para reformar.
— Sempre sonhei em reformar ele, mas tá muito detonado.
— Topas? – João.
— Sim.
— Então vamos começar organizando as coisas.
Eles começam a tirar os carros dos buracos, dos cantos e por
eles em fila, João olha cada um deles, olha os motores, a transmis-
são, e sabia que todos eles teria de trocar a parte elétrica, e começa
a organizar, Plinio viu que o rapaz colocava mesmo a mão na massa,
viu quando ele pegou o telefone e confirmou o endereço de entrega
das coisas.
— Não estava em Curitiba.

61
— Estava, mas mandei para cá, quando vi que não me deixa-
riam trabalhar um pouco em paralelo no barracão da escola, eu
segurei a entrega e devem entregar no fim do dia senhor Plinio.
— Vou tentar não lhe passar para trás.
— Tenta com vontade que podemos nos dar muito bem.
João olha o barracão ao fundo e pergunta.
— Não usa?
— Tá cheio de furos no teto.
— E usa todos os carros para fora tendo um barracão.
— Aquilo está nojento a séculos, ainda do tempo do meu pai.
João entra e olha para os cantos, um barracão de madeira de
restos de antigas embarcações, um barracão de madeira náutica,
tinha sujeira por todo lado, parecia que um dia fora um local para
guardar maquinas maiores, naquele bairro João não conseguia ima-
ginar maquinas maiores.
Plinio olha o primo e pergunta.
— De onde acharam este rapaz, parece trabalhar sem parar.
— Algum lugar em Curitiba, mas nem sei onde fica isto mes-
mo.
O senhor sorriu, um caminhão chegou, desembarcaram al-
guns equipamentos de concerto de bicicletas, a sua jatiadora pe-
quena de areia, ele ajeita as coisas, e enquanto os dois ficam ali, vai
em um material de construção que vira no caminho e compra algu-
mas telhas de alumínio, e alguns materiais.
Ele coloca na Fiorino e quando chega com as telhas, algum
cimento e algumas madeiras, o senhor viu que o rapaz estava real-
mente falando serio.
João pede uma escada e sobe no telhado inclinado, ele olha
as vigas, antigas, mas resistentes, prende algumas travessas, as pre-
gando e começa a pregar telhas novas.
Cobre um lado e o senhor viu chegar o caminhão de areia,
derramarem na frente e o rapaz começar a demarcar o chão do
barracão, quando soltaram a pedra na frente daquela casa, o senhor
viu que o rapaz não iria brincar de concertar carros.
João não teria como fazer sozinho, então combinou com o
senhor Plinio que ele contrataria a mão de obra para fazer aquele

62
chão de concreto, que provavelmente no fim de semana eles come-
çariam a reformar o primeiro dos carros.
Plinio sorriu e viu que o rapaz colocou o cimento para dentro
ao canto, agora era fazer o cimento e fazer o piso, as portas se con-
certaria com calma, e todo resto, viria com o tempo.
Os dois saem dali e voltam para o centro, João não estava
nem por perto para acharem ele. Deixa Marquinhos em um ponto
de taxi.
Ele chega no hotel e tinha um recado para ligar para o barra-
cão.
João sobe e liga para o barracão e Franco fala.
— Passeando?
— Problemas?
— Poderia passar aqui para conversarmos?
João concordou, foi ao banho, passou no restaurante, jantou
e foi ao barracão.
João chega com a Fiorino, olha para o barracão, tudo calmo,
não, tudo para fora, estranha, se estive olhando de fora naquele
lado, veria os bombeiros, mas quando entra sente o cheiro de
queimado.
Ele olha os plásticos de proteção ainda no lugar, ficou com
vontade de olhar, mas subiu direto, o cheiro estava insuportável.
Franco olha para ele e fala.
— Temos um grande problema.
— Grande?
— Os bombeiros estão fazendo o rescaldo do fundo, parece
que a região que tínhamos as madeiras pegou fogo, mas os bombei-
ros estão achando que começou no nosso estoque de tinta ao fun-
do.
— Queimou muito?
— O bombeiro interditou, até refazermos a instalação elétrica
do lugar.
— Algum plano B? Para o carnaval.
— Não entendeu, estão lhe acusando de ter provocado o in-
cêndio. As medidas de segurança tem de ser mantidas, um fogo
destes a véspera do carnaval, nem vamos a avenida. Se não sabe
cuidar da sua parte, tenho de pensar se quero você aqui.
63
— A pergunta, quem está acusando, o bombeiro?
— Sabe quem.
João estava cansado e não queria discutir, olha para a porta e
começa a descer, abre a parte dos plásticos e viu que apenas o fun-
do da alegoria tinha pego fogo, teria de trocar um pneu e refazer
uma estrutura, nada de mais, entra na parte que montaram para
pintura, inteiro, mas interditado, olha para as esculturas ainda em
armação e um bombeiro fala.
— Está interditado.
— Podemos tirar as coisas, ou interditado até para pegar fogo
de novo.
— Pelo jeito não viu a confusão?
— Não, estava no meu dia de folga, mas não entendi, porque
afirmam que o fogo começou aqui?
— Porque as tintas são mais inflamáveis.
— Sim, mas se elas tivessem começado o incêndio, elas fari-
am o nosso barracão queimar inteiro antes de derrubar a parede,
pois o a temperatura de queima destas tintas, chegam perto de 8
mil graus, difícil de começar a queimar, mas se começarem, fácil de
explodir, mas a pergunta é se podemos tirar o resto, ou deixamos
para vocês fazerem o rescaldo.
O comandante ao fundo fala.
— Não podem tirar nenhuma tinta até terminar o laudo.
— Podemos esvaziar o prédio então.
— Não nos atrapalhando.
— Mais do que já atrapalhamos não pretendemos o fazer se-
nhor. – João foi cínico, entra e vai olhando o local.
João olha para Franco e fala.
— Podemos tirar para a parte interna?
— Porque fazer isto?
— Eles querem deixar as tintas quentes ao chão, isto é só um
descuido e vai pegar fogo de volta, eu tirava os tecidos, as máqui-
nas, tudo que desse para fora senhor. – Fala João cansado e come-
çando a abrir as portas, quando ele desviou a armação da frente e
aquele carro começa a sair pela porta, alguns curiosos de outras
escolas chegaram perto.

64
João não ligou, continuou a tira as coisas, mais 6 armações
menores, e com ajuda de alguns que foram chegando, começam a
empilhar as madeiras, tirar os tecidos que foram sendo levados para
a quadra, as maquinas são colocadas em um caminhão e começam
a sair, as placas finas de fibra de vidro começam a ser tiradas da
ponta oposta, os solventes e produtos químicos, o bombeiro que foi
estupido olha o outro e pergunta.
— Porque eles queriam tirar as latas.
— Sabe porque comandante, é inflamável, deixar perto do
rescaldo é arriscar, mas são suas ordens.
— Acha que não começou ali.
— Ele tem razão senhor, se começasse ali, queimaria toda a
tinta, e explodiria o prédio, aquilo é tinta automotiva, resiste a dois
mil e quinhentos graus, não é algo fácil de queimar assim.
— Pelo jeito algo aconteceu na fiação de novo, o que tinham
naquela ponta?
— Apenas um carro em fibra de vidro, uma roda pegou fogo,
o resto, consequência deste fogo.
O rapaz viu João tirando aquelas imensas rodas de trator dali,
não tinham pego fogo, a logica dizia por si que o fogo veio do outro
lado.
João olha para Rogerio chegando e fala.
— Desliga a luz da parte do fundo, e isola a entrada para o
resto do barracão.
— Acha que pode ter um curto?
— Calor derrete os fios, quando bobeamos eles encostam um
no outro e lá vem fogo de novo.
Sergio chega a região e pede para cobrirem o carro, mas par-
te já estava revelada.
Com dificuldade Rogerio e João tiram os produtos mais pró-
ximos, deixando as tintas, com calma verifica o pneu que queimou,
todo sistema traseiro, hidráulico, teria de ser comprado, ele olha os
estoques de tinta, muitas ainda estavam boas, mas teria de esperar
a liberação, o tirar de tudo do barracão de 4 escolas, deu a dimen-
são de quanta coisa cabia em cada barracão daqueles.
Franco viu que os rapazes do Grupo de João, embora num dia
de folga, quando ele ligou, apareceram e ajudaram, viu ele desco-
65
brir parte da alegoria do fundo, estava queimada, o fogo no pneu a
detonou.
João pensou no mesmo problema com carros já em estado
avançado de acabamento, onde muito mais coisas são inflamáveis.
Lembrou do Pessoal da Sitio Loco, e por um momento teve
saudades de sua casa em Curitiba, a calma de uma escola de samba
que era apenas diversão.
João estava pregado quando chega ao hotel outra vez, liga a
TV e vai a mais um banho, aquele cheiro de plástico queimado pare-
cia estar em todo ele.
Estava saindo do banho quando ouve na noticia, que os bar-
racões de 4 escolas de samba tinham pego fogo, e estavam interdi-
tados, até resolverem o problema de instalação elétrica.
Falam do grande problema das escolas do grupo A, que algu-
mas não tinham nem barracão para pensarem em trabalhar.
João quase pensou em voltar, mas lembrou do que fizera o
dia inteiro, sorriu e pensou em invadir outras praias.

66
João vai sedo ao barracão,
caminhando, deixou a Fiorino na
entrada do prédio do hotel, com
uma placa de vende-se.
Chega ao barracão e olha
para a região do barracão, toda
isolada.
Ele parecia perdido, viu
Marquinhos chegar e falar.
— Tem certeza que vai confiar em meu primo?
— Eu sempre perco mais por confiar cegamente do que por
motivos fúteis.
— Ele falou que você tem material de primeira.
— Parecer de primeira e ser de primeira é diferente.
— E o que faremos.
João levanta os ombros como se não soubesse.
Franco chega depois de uma hora e fala.
— Não sei o que falou para o bombeiro, mas eles mudaram
toda a versão de inicio do incêndio.
— Senhor, tintas automotivas são altamente inflamáveis, mas
se tivesse sido elas a pegar fogo, o barracão não estaria a nossa
frente.
— Acha que alguma coisa ainda presta lá?
— Espero que sim, tem muito dinheiro ali, jogado ao chão.
— E o problema do carro?
— Refazemos.
— Suspensão traseira?
— Temos tempo para isto, mas preciso saber uma coisa Fran-
co, sinceramente.
— Problemas?
— Quero saber se quer que continue, pois se tudo que acon-
tecer ali for minha culpa, e vejo isto acontecendo apenas com o
meu grupo ali, como vai ser quando estiver grupos performáticos,
grupos de 6 carros, costureiras, aderecistas por todos os lados?
67
— Sabe que era uma das possibilidades.
— Ser sincero, não gosto de trabalhar em meio a fofoca, a vi-
são que tinha desta escola, era de uma comunidade forte, unida, e
não fofoqueira.
Marquinhos viu que João não gostou de algo, nem sabia do
babado, mas viu na cara de Franco que ele não gostou.
— Se não está feliz, sabe que não obrigamos ninguém a ficar.
— Assim que administra criticas Franco? – João, olhando o
senhor seriamente – É um quase, não tá feliz faz as malas?
— Foi o que falei.
João olha o carro e pensa em todo o esforço de pensar em
uma ideia, mas aquilo foi o que a escola pagou até agora, apenas
sacode a cabeça e fala.
— Da próxima vez não me tira de casa, se for para fazer isto
que está fazendo Franco, espero que saiba o que quer.
João irritado, mas aparentando calmo, sai a caminhar pela
rua, ele chega ao hotel, faz as malas, e pega o carro e dirige duas
quadras no sentido do morro, ele para em uma pensão e pergunta
quanto era, a senhora olha João e pergunta se iria ficar muito, ele
diz que sim, e ela apresenta o melhor quarto, aquilo sim era muqui-
fo, acerta com ela dois meses e coloca as coisas em um quarto, o
cheiro de mofo o fez espirrar, mas não queria abusar.
Na escola Franco olha para Marquinhos e pergunta.
— Ele acha que vamos ceder fácil?
— Ele começou animado, mas parecia perdido, não sei, tem
de considerar que ele mora longe, se ele voltar a Curitiba, alguém
vai ter de tocar este carro ai.
— Temos o projeto, apenas não sei onde vamos fazer algo as-
sim.
O prédio interditado fez alguns serem dispensados por alguns
dias, Marquinhos foi a Ilha do Governador pensando que o rapaz
estaria por lá, e não estava, viu que seu primo estava mexendo das
coisas do João, e não falou nada, talvez o rapaz fosse embora mes-
mo, ele não entendia o jeitinho do lugar.
Roberto chega ao local, viu tudo isolado e pergunta.
— Onde vai por o João?
Ao lado de Roberto estava Sergio.
68
— Acho que ele pula fora do barco Presidente.
Roberto soube que Franco não gostou de algo, pois ele lhe
chamou pelo cargo.
— O que ele falou?
— Perguntou se queria mesmo ele aqui, não gostou de ter fa-
lado que o fogo começou na região dele.
— Mas não começou. – Sergio.
— Mas o lado de lá e o de cá, falaram que tinha começado, eu
apenas perguntei para ele ontem se ele tinha noção que um fogo
destes poderia comprometer o desfile total da escola, ontem ele
não falou nada, apenas ajudou a tirar as coisas, até mobilizou o
pessoal para tirar, mas hoje ele disse que não gostava de trabalhar
em meio a fofocas e saiu irritado daqui.
Roberto olha para o carro e fala.
— E não tentou o segurar, toda aquele encanto pelo trabalho
do rapaz era para que Franco?
— Ele tem razão senhor, os demais não estão gostando dele,
escolhemos os responsáveis, se está neste clima agora, apenas ele
trabalhando, imagina com 6 grupos ali dentro? – Franco.
Sergio se afasta e liga para o telefone de João que não aten-
de, ele estava nervoso e com a cabeça estourando, não queria falar
merda para quem não precisava.
Liga para o hotel e soube que o rapaz fechou os gastos e saiu
do hotel com todas as suas coisas.
Franco olha para Sergio que fala.
— Ele saiu do hotel, talvez Franco esteja certo, mas é um pro-
jeto que ele idealizou, eu não imagino como ele faria isto em 6 me-
ses.
Franco viu que Sergio não ficou na discussão, talvez o não sa-
ber para onde colocar algo tão grande, em si, parecia o adiar de um
problema.
Roberto se afasta e liga para o gerente do hotel Gamboa e
soube que o rapaz perguntou sobre uma pensão para o atendente,
e após isto liga para um rapaz na comunidade do morro da Provi-
dencia, e este diz que verificaria isto para ele.

69
João estava pensando se ficava ou não, talvez olhando de
longe, Curitiba pareceu um bom lugar, mesmo em um bairro que
todos davam pouco valor.
João deixa a chave na entrada e caminha no sentido do Ele-
vado, dando uma volta grande, deixou a Fiorino lá, pelo jeito vende-
ria sem acabar, para no Ferro Velho e o senhor meio estupido falou.
— Vai tirar isto dai?
— Vim ver se tem emprego por aqui.
— Mandaram você embora?
— Me acusaram do fogo de ontem, o novato é sempre mais
propicio de deixar a culpa sobre ele.
— Mas se comprometeu a tirar isto dai.
— Se não tirar, vende de novo. Mas pretendo tirar algumas
peças ainda, mas apenas alertando, vou demorar um pouco mais, o
incêndio de ontem não ajudou em nada.
— Vou lhe dar um tempo a mais, mas as coisas não estão bo-
as, para contratar alguém.
João olha aquele caminhão pela primeira vez diferente, sorri
e pensa.
— Pena não poder terminar aquilo.
O senhor viu que João teve uma ideia e falou.
— Calma, as pessoas as vezes falam algo de cabeça quente, e
se arrependem depois.
— O problema é que eu falei demais, quando deveria ter fica-
do quieto.
— Um novato que não aceitou a culpa, imagino como alguns
se irritam com isto.
João caminhou um pouco mais e viu aquelas alegorias de car-
ros em um terreno baldio e ficou olhando.
— Problemas rapaz? – Um segurança.
— De que escola são estas alegorias?
— Alegria da Zona Sul.
— E porque está jogado ai?
— Eles foram desalojados pelo pessoal do porto.
— Eles não precisam de ferreiros?
— Estes começam os carros somente quando começa o ano
que vem, carnaval na correria.
70
— E vão deixar tudo se acabando assim?
— Tentamos que ninguém venha por fogo, o resto damos um
jeito.
— Onde fica esta agremiação? – Pergunta João.
— Pelo jeito não é da região.
— Uma semana no Rio, parecia um paraíso até o incêndio de
ontem na Cidade do Samba.
— Procurando emprego?
— Sim.
— Pra soldador sempre tem emprego na região, mas acho
que na Central a semana que vem estão contratando.
— Vou verificar, obrigado, passo mais para o ano que vem pa-
ra ver se eles precisam de ajuda.
— Pelo jeito quer arrumar algo rápido.
— Sim, as vezes as coisas desandam um pouco.
João volta para onde se hospedara e olha a moça da recepção
apontar para ele e ouve.
— Aquele Alemão ali.
O rapaz sorriu, João não sabia ainda porque, mas chega a ele
e fala.
— Vai por bem ou por mal.
— Para onde?
— Mandaram lhe levar, respirando, então não bobeia.
João estranha, eles indicam o carro a entrada e vê eles acele-
rarem para a Cidade do Samba, pensou que iriam lhe cobrar algo,
reparou nos dois rapazes armados e um motorista, que cheiravam a
maconha, e com os olhos vermelhos, lhe conduzindo em um carro
que desculpa, ele nunca entrara, algo de mais de 200 mil.
Os rapazes o conduzem a um bar a entrada da cidade do
samba, e Roberto estava lá, sentado, com Sergio e não sabia o que
eles falariam.
— Cuidem da entrada. – Roberto olhando os dois rapazes que
conduziram João.
— Vai mesmo abandonar a escola sem contestar? – Roberto.
João olha Sergio, depois o senhor e fala.
— Quem me chamou para dentro foi Franco, ele acha que
atrapalho, sei que devo um dinheiro ainda, mas eu devolvo senhor.
71
Roberto olha para Sergio e pergunta.
— Sabe do problema?
— Sei, um bando de pessoas falando mal, mas que não come-
çou ainda a trabalhar.
João olha para o senhor que lhe encara.
— Tem de considerar que a ideia é boa, mas temos realmente
de conter fofocas, e preciso de uma posição agora senhor João,
quer terminar aquele carro?
— Em que condições?
— Sei que não conhece bem a região, mas precisamos de um
barracão, grande que caiba sua alegoria, vão querer que reforme-
mos aquela parte do fundo e nos protejamos para futuros casos,
mas isto damos um jeito, mas os carros menores, temos como alo-
car próximo da Marques de Sapucaí, mas o abre alas e o seu carro
não temos como, no prédio oficial ficaria fácil, mas são carros de-
morados e caros. – Sergio.
Roberto olha João serio.
— O prospecto para seu carro, é o mais barato dos que vão a
avenida, mas não entro em detalhes destes com os demais, sei que
Franco está tenso, pois tem de alocar toda uma estrutura em outros
lugares, e não sabe como dispor do seu carro, ele é de palavras dire-
tas, você é de palavras diretas, estranhei que os dois ainda não ti-
vessem se desentendido, mas não era para pular fora na primeira
chance.
Sergio olha serio para João.
— O problema é o tamanho do seu carro.
João olhava eles sem entender, mas o que ele fala parecia al-
go que não combinava naquele momento.
— Querem que de um jeito de alocar meu carro e o termine?
Roberto faz sinal que sim com a cabeça e Sergio fala.
— Quando pensamos no seu carro, era para ser algo como
uma alegoria quadrada, estávamos pensando em algo leve, pois
você vinha de um local que os carros são pequenos, por isto acha-
mos que quando falou em carro imenso, era para tentar impressio-
nar, hoje Franco está tentando segurar os demais, pois você está se
propondo a criar um carro com dois milhões, que os outros gastari-
am 4.
72
João estava quieto.
— João, sei que está estranhando, mas é um ano que os in-
vestidores do carnaval colocaram dinheiro pesado na Tijucas, está-
vamos pensando em competir, agora, em ganhar. – Roberto.
João estava estranho, não entendia tanto disto.
— Juro que não estou me situando bem.
— Sergio aqui, achava a ideia boba, e Franco também, mas
meu filho insistiu que era uma boa ideia, somos a atual campeã,
temos de fazer um carnaval grande, fizemos apostas diferentes nos
últimos anos, mas o seu carro, motivou Sergio, tirou todos os de-
mais aderecistas da área de conforto deles, Pedro pediu para se
pudesse ajudar na concepção do carro abre alas, ele gostaria de
ideias, ele está em Miami pensando e me ligou preocupado, pois
sabia que tinha um carro caro sendo desenvolvido lá, todos sabe-
mos que embora pareça rápido, o erguer é rápido, o acabar é que
demora nos carros. – Roberto.
Sergio olha para Roberto.
— Achou um lugar?
— Ainda não.
Uma ideia meio estranha passou na cabeça de João que fala
sem pretensão.
— Quanto podem investir neste espaço?
— Teve uma ideia? – Roberto vendo que João voltava ao bar-
co, isto que ele queria.
— Sim, mas tenho de falar com alguém, montar um lugar e
dispor de algo.
— Não foi nada especifico. – Roberto.
— Senhor, podemos fazer um acordo?
— Depende.
— Eu proponho tentar conseguir um espaço, que caiba as du-
as alegorias que falou, mas teríamos de erguer o lugar, preciso de
autorização, de um engenheiro para assinar a loucura, e conversar
com o dono do terreno.
— Sabe da urgência? – Roberto.
— Senhor, o problema é que para executar isto, precisamos
de algo com vão livre de mais de mil metros quadrados, entendo o
pânico, mas podemos começar a estruturar agora, cobrir semana
73
que vem e com 15 dias, ter um local para começar, não para acabar
a obra.
— Se o proprietário aceitar. – Roberto.
— Sim, por isto preciso saber, quanto posso propor em alu-
guel, e se teria apoio para montar isto.
— Se me apresentar a ideia.
— Tem de considerar que se levar o senhor para negociar, o
preço vai aumentar. – João olhando Roberto.
Sergio sorriu, pois era verdade, uma coisa era um rapaz como
João pedir, outra, um dos bicheiros mais famosos do Rio negociar.
— Certo, eu conseguiria o valor de dois carros como o que es-
tá fazendo para gastos com local e estrutura.
João olha o senhor e fala.
— Vou tentar mais barato, mas se conseguir, vamos comprar
duas estruturas a mais para o abre alas, quem sabe dispor o maior
carro abre alas já confeccionado para o carnaval. – João.
— Pensando em ajudar? – Roberto.
— Eles nem aceitaram a ajuda senhor, eles ficaram com medo
de meu carro chamar a atenção demais.
— E não se preocupa do carro deles chamar mais atenção?
— Eu acho que uma escola se faz do todo, se eu for rebaixar
um carro para o meu ficar melhor, não estou dando meu melhor.
Sergio sorriu e perguntou.
— E vai tentar fazer o que?
— Se liberarem em minha conta outros 250, tento negociar o
local e começamos a falar da construção.
— Sabe que queremos algo seguro.
— Senhor Roberto, depois vamos propor uma mudança na-
quela parede de entrada do fundo do barracão, para por uma porta
anti fogo bem ali.
— Não entendi.
— Eu por querer algumas peças, comprei um caminhão, a
parte sobre a cabine, tem uma placa reforçada de aço de 3 metros
de altura por 6 de largura, se cortarmos e colocarmos no lugar, seria
uma garantia que se o fogo não for interno, o barracão do lado teria
de explodir a porta para entrar o fogo na área interna dele.
— E tem isto onde?
74
— Depois verifico isto, mas estava procurando emprego, pois
meu negocio em Curitiba eu vendi, eu mandei um equipamento
quebrado para um empreendimento na ilha do Governador, Mar-
quinhos disse que o rapaz vendeu o equipamento, era um teste se
daria certo a sociedade, não daria, então, para quem achava que
teria de recomeçar algo, a sua proposta vem em boa hora senhor
Roberto, certo que a adrenalina ainda está nas alturas. – Fala
olhando os rapazes a entrada.
Roberto sorriu e falou.
— Vou pedir para o levarem de volta, mas me liga e vemos se
aceitamos a sua proposta.
Roberto estica o seu cartão pessoal, e Sergio viu João sair e
fala.
— Sabe que se ele conseguir um lugar, vai mostrar um lado
que os demais nunca tiveram, empreendedorismo.
— Ele não vai se contentar em ser um construtor de carros, é
o que está falando? – Roberto.
— Sim, pelo jeito apostamos em alguém com capacidade,
mas vamos esperar a proposta dele para continuar elogiando.
— Acha que devo depositar a segunda parte?
— A parte que ele está no carro, que ele montou já vale mais
do que 500 Roberto.
— Mesmo danificado?
— Se ele tivesse feito de isopor, teríamos perdido mais coisas,
mas como era fibra, ficou retido no pouco, que a roda atingiu.
João é deixado no muquifo que estava, pega o carro e dirige
até o Ferro Velho, olha o senhor e fala.
— Quer ganhar um dinheiro senhor Silva?
— Veio querer comprar mais lixo?
João pega o papel e fala.
— Quanto tem destas estruturas de guindastes?
— Um dia pensei em construir um barracão, e ficou apenas
nos planos.
— Quantas?
— Umas 60.
— Sabe que aderecista é tudo maluco senhor.
— Sei, mas o que pretende?
75
— A pergunta, se eu erguer esta estrutura, em L, certo, não é
bem um L, parece um J torto, na divisa de seu terreno, sobre parte
deste problema, fechar as paredes, e cobrir, o senhor me alugaria
este espaço por quanto?
O senhor olha serio, pois era algo que não pensara.
— Não entendi.
— Eu estou me propondo lixar, fixar as bases, erguer a estru-
tura, cobrir ela, o senhor já calçou, mas com certeza, terei de fazer
banheiro, divisões internas, paredes externas, usando o seu materi-
al ali, e parte que terei de comprar, quando o senhor me alugaria
este espaço.
— Sabe o problema de conseguir autorização para construção
e implementação de algo assim.
— Eu estou propondo senhor, sei que terei de por um enge-
nheiro para assinar, para conseguir a liberação, é uma cobertura de
muitos metros quadrados, se entendi a dinâmica desta quadra.
— E vai ficar quanto tempo dentro do imóvel?
— Depende do quanto vai me cobrar, dependendo nem vou
erguer aqui.
— De manha procurando emprego, agora me fazendo uma
proposta destas?
— Sim.
— Uns 40 mil por mês.
João olha desiludido, não era o que pretendia, e fala.
— Tá puxado, não vou conseguir tanto. – João olhando o se-
nhor.
— Tem de considerar que é um bom valor por este espaço.
— Sei disto, mas não vou prometer algo que não possa gas-
tar.
— Faz uma contraproposta.
— Estou pensando que é muito pouco, sabe quando a ideia é
boa, mas precisa de gastos, que vão ficar no lugar.
— O que pensou?
— É uma proposta, montamos, estruturamos e pago 200 mil
por um ano, pago antecipado, o primeiro ano, o segundo, se for
ficar, negociamos depois.
— Vai afastar as coisas para cá e usar parte do que está lá?
76
— Sim, mas 90% da estrutura terei de usar na construção, se
ela estiver boa para isto.
— Quer a resposta para quando?
— Ontem. – João viu que o deposito de 250 mil entrou na
conta, e o senhor pergunta.
— E quando fechamos este acordo?
— Vou pedir para alguém redigir, pois tem de estar nas espe-
cificações que são permitidas, e se não tiver problema, assinamos
amanha.
— Você vai assinar um contrato?
— Eu vou antecipar um ano, para não existir forma de o se-
nhor perder, mesmo que eu não consiga erguer senhor.
— Certo, 200 mil fica como valor de garantia total, me parece
um bom negocio.
— Sei que em um ano teremos problema. Mas tem de ter ci-
ência, é meu o risco, eu vou tentar induzir alguém a vir para cá, mas
eu quero o direito de sublocar parte.
— Com certeza tem alguns planos.
— 3 deles, e nem sei se consigo administrar tanta coisa.
O senhor olha desconfiado e fala.
— Isto no primeiro ano, depois vamos ter de ver se vou man-
ter uma clausula destas. Mas vamos fechar isto quando?
— Amanha, posso olhar as estruturas?
— Sim.
— O que não for usar, encostamos para fora ordenadamente,
como está nem parece ter tantas assim.
— O que quer dizer com isto?
— Ideias de aderecistas senhor.
— Fez um acordo e pretende voltar a fazer o que sabe fazer.
— Se for o caso, posso ajeitar e ver o que preciso?
— Sim, mas cuidado, tem relíquias ai.
— Quem sabe não damos um jeito e assim as relíquias ficam
mais visíveis.
— Quem sabe. – O senhor olhando a Fiorino do rapaz.
— Pelo jeito fantasiou o carro.
— Tenho um pedaço de um carro alegórico no Jornal local, na
imagem do incêndio, pintei um carro alegórico inteiro com esta cor.
77
O senhor sorriu e falou.
— Para carro alegórico nem é tão chamativo.
João sorriu.
Ele começa a dispor das estruturas, das partes que usaria, e
olha para a quantidade de coisas sobre aquele cimento, um dia o
senhor realmente pensou em fazer algo ali, dava para ver as bases
chumbadas e pergunta.
— Quantos metros de profundidade?
— 40.
— Estava pensando em construir um prédio?
— Até 32 é só areia.
— Certo, mas chegou na rocha então?
— Sim.
João olha para o senhor e fala.
— Vou falar com quem vai financiar isto, pedir para digitar
nosso contrato, e se o senhor topar, pegar umas empilhadeiras na
Escola de Samba e começar a ajeitar as coisas.
— Sabia que tinha de ter algo da escola de samba.
— Quem sabe me dou bem melhor na segunda tentativa.
— Quem sabe, mas um adendo de 200 no ano, pode trans-
formar meu ano em um pouco menos apertado.
— Não gaste tudo.
— Dizem que se me dessem um Sorrisol e conseguisse atra-
vessar o oceano atlântico, chegaria na África ainda em condições de
ser tomado. – Fala o senhor sorrindo.
João entra na Fiorino e liga para Sergio.
— Podemos conversar sobre a ideia?
— Onde?
— Estou indo para a cidade do Samba.
— Vai precisar de que? Sei que gosta de trabalhar até altas
horas.
— Trocar uma ideia e saber se é viável.
— Certo, mas quer alguém presente?
— Quem está por ai?
— Franco e Roberto.
— As vezes tenho medo de apresentar uma ideia tão crua as-
sim, e eles acharem maluquice e não toparem.
78
— Venha para cá e conversamos.
João passa recado para os rapazes da estrutura dos carros pa-
ra se apresentarem ao serviço.
João estaciona o carro do lado de fora, o centro da cidade do
samba estava com muita estrutura tirada dos barracões, o estacio-
namento estava com parte usada para guardar algumas coisas.
João respira fundo e entra, o segurança parecia não querer o
liberar, mas depois de confirmar a entrada, ele entra.
João respira fundo e entra no barraca, Sergio na escada, com
tudo vazio e aberto, para melhorar o cheiro, faz sinal para ele subir.
Roberto olha para ele e fala.
— Está receoso, pelo jeito a ideia é maluca.
— Sim, a ideia é erguer uma estrutura de mil e duzentos me-
tros quadrados a algumas quadras daqui, em 15 dias, para isto, vou
precisar de alguns materiais que vou pedir para a secretaria Rober-
to, vai ver de pedidos de telhas a exaustores, de cimento a material
de banheiro, mas para isto, não conheço a cidade, precisamos de
um engenheiro para aprovar a obra, se fosse fazer o contrato pela
Escola, teríamos problemas com aqueles valores, principalmente
pois estamos entrando com parte da construção como parte do
valor, então a agilidade e sigilo é essencial. Os demais nem precisam
saber que meu carro estará no fundo do abre alas.
— E vai querer que invista dois chassis no abre alas.
— Não, vou comprar eles com os 4 do acordo.
— Certo, e vai precisar do dinheiro todo.
— Não, eu não sou de por acabamento em um lugar e depois
os olhos gordos crescerem e ter de tirar senhor.
— Não entendi.
— Pensa no poder dispor de um local extra, com mil metros
de área, pé direito de 35 metros, próximo, para os próximos anos,
senhor.
— Certo, um local que poderia nos servir, mas se outros sou-
berem podem nos complicar.
— Sim, mas para ser viável o negocio, pensei em duas coisas,
e isto que pretendo acertar aqui senhor Roberto.
— Duas coisas.

79
— O barracão terá um pequeno adendo, onde vou fazer uma
pequena empresa, para me manter no resto do ano, e teremos um
espaço que poderia ser sublocado, eu ofereceria sem que os demais
ouvissem, dois espaços de 500 metros quadrados, eu ofereceria a
pelo menos 20 mil mensais.
— Não gosto de misturar as coisas. – Roberto.
— Foi uma proposta, se não quer, não vou insistir.
— E onde ficaria este lugar.
— Ferro velho São Jorge.
Roberto olha João e fala.
— E como conseguiu negociar com aquele rabugento.
— Ele topou, mas preciso sabe se interessa.
— Sim, é próximo e de fácil locomoção para a marques, não
muda muito o esquema de transporte. – Sergio.
— Então vou pedir para alguém redigir um contrato, e vou a
região com o pessoal.
— Vai precisar de dinheiro pelo jeito. – Roberto.
— Somente depois de assinado, vou pegar o pessoal, vamos
levar duas jateadoras de areia, e alguns materiais da estrutura e
vamos para lá senhor Roberto.
— Chamou seu pessoal?
— Sim.
João não entrou em discussões, e não olhou muito para Fran-
co, para não acabar pedindo desculpas antes da hora.
— Acha que conseguimos fazer o abre alas lá? – Roberto.
— A ideia é fazer, o espaço seria um corredor de 30 de largu-
ra por 40 de profundidade, se for o caso, dá para parte dos carros
lá. – Fala João saindo.
Franco olha para Roberto e fala.
— Se ele conseguir, terei de concordar, uma saída próxima,
unificando as construções, mas que ainda geraria as intrigas.
— Quando começar as intrigas Franco, manda falar comigo. –
Fala Roberto colocando-se em algo que ele normalmente não se
colocava.
João reúne o pessoal, coloca 4 empilhadeiras sobre o cami-
nhão da escola, coloca material no seu carro e saem como se esti-

80
vessem indo para longe, os demais nem imaginavam o que preten-
diam.
O chegar ao local com gente para arrumar, fez João estabele-
cer o que fariam, o senhor tinha algumas estruturas quadradas, não
sabia para que foram usadas, mas eles dispõem para fora da área e
foram separando por estrutura, peças de carros em uma, canos em
outra, enquanto João passava uma jateadora em cada estrutura ao
chão, e começa a separar as primeiras.
Passa nas duas primeiras, ele queria testar a ideia, era muito
simples pensar nela, fazer era bem complicado.
O senhor Silva viu o pessoal ajeitando cada um dos produtos,
ele chega perto e viu João jateando as estruturas, o que era um
conjunto de ferrugem ganha a cor de metal, viu ele refazer algumas
soldas e passar a primeira camada de anticorrosivo na estrutura, ele
sabia que demoraria, mas se iriam fazer, era ampliar seu ferro velho
e o valor de seu terreno.
Viu ele lhe olhar e soube que iria pedir algo.
— Aquele sistema de guinchos altos funciona.
— Sim, nem tudo é lixo aqui.
— Quer quanto por ele.
— Vai querer por no barracão?
— Talvez. Mas quero usar ele para erguer as vigas, e se for
meu, e estiver funcionando, já tenho como por em um caminhão o
caminhão que comprei, nem que em pedaços.
— Entramos e negociamos. – O senhor olhando que os de-
mais estavam ouvindo muito.
— Não entendi a ideia, mas está colocando gente para fazer,
juro que pensei ser apenas uma ideia que iria ainda estudar.
— Eu propus, o senhor topou, o negocio é entre eu e o se-
nhor, sei que ainda vou propor mais coisas, mas cada coisa a sua
hora.
— Propor algo que ganhe mais?
— Quem sabe somemos mais 200 para o ano seguinte.
— Ai o negocio começa a ficar bom.
— Mas temos de conseguir erguer para poder falar em ga-
nhos a mais.
— Usa o guindaste, entendi que quer erguer para medir algo.
81
— Pensa em ter um barracão que eles podem testar os carros
totalmente erguidos.
— Vi que entende do oficio, tirou toda a ferrugem antes de
qualquer coisa.
— Sim, vou tentar projetar para ser um quebra cabeça, as pe-
ças iriem se encaixando.
— E pretende em que sentido me propor algo.
— O senhor tem carcaças de carros, peças, eu quero entrar
no ramo do carro customizado.
— Um negocio a parte?
— Sim, este pessoal trabalha para o carnaval perto de 5 me-
ses, ninguém pode ficar 7 meses sem comer.
— Mas primeiro quer terminar de montar.
— Sim.
João chega a parte externa e olha a grande estrutura rolante
que corria pelo terreno, ele pensou em por dentro do barracão,
para erguer coisa pesadas, passando sobre os demais sem proble-
ma.
Ele olha as engrenagens, o senhor Silva sorri e João liga a ma-
quina, viu que a parte alta tinha comandos e começa a aproximar
do primeiro lado, frontal, e coloca o primeiro de pé, o segundo de
pé, a medida da transversal era complicada, mas colocaram ela a 6
metros, para poder ter uma porta de 5,5 metros de altura, ainda
tinha muita coisa para tirar do lugar, e iriam pelo menos uns dias
para o fazer.
João com calma foi abrindo caminho para que a grande estru-
tura pudesse ficar para dentro do espaço que ele queria tê-lo.
Era seis das tarde e quase nada tinha sido feito, mas o senhor
Silva viu que a parte frontal já dizia, estamos mexendo.
João viu o pessoal sair e olha o senhor Silva chegar até ele.
— Tem uma impressora neste Ferro Velho?
— No escritório.
— Senhor, sei que poderia ter pago um pouco mais, mas eu
sou de oferecer o que tenho certeza que posso pagar.
— Vi que agitou o pessoal.
— Gostando da organização?
— Meu pessoal começou a ajudar e a catalogar.
82
João manda para o computador do senhor o contrato, viu que
ele não entendia muito disto, manda para a impressora as duas
copias e passa para o senhor.
— Esta é a minha proposta que falei logo sedo.
O senhor leu e perguntou.
— E se assinar quanto tempo para o dinheiro estar na conta?
— Transferência bancaria senhor, assinou, eu faço o deposito
e o dinheiro estará na conta.
— Sabe que aquele Roberto eu não vou muito com a cara.
— Porque senhor? – João tentando entender o problema.
— Não sei, ele me parece falso, ele oferece algo para gerar o
interesse e depois não faz questão nem de voltar para dizer, não
quero mais.
— Por isto que falei senhor, eu poderia tentar tirar mais, mas
depois, e se eles não pagam.
— E vai usar gente deles?
— Enquanto os demais não reclamarem.
— E acha que vão reclamar?
— Sempre.
João acerta a transferência, e o senhor nem entendeu que o
dinheiro estava na conta.

83
15 dias passaram rápido, e a
estrutura estava erguida, as pare-
des montadas, e o fiscal da prefei-
tura, foi verificar a fiação e a ques-
tão de equipamentos de seguran-
ça e refrigeração.
O barracão ficou dividido, e
muitos nem tinham entendido o
contexto, e o fiscal olha as especificações e olha o engenheiro.
— Bem reforçado, vamos dar o alvará para começarem a usar
para montar seus carros alegóricos.
O engenheiro acompanhou o senhor e João olha o projeto
básico, tão simples do lugar.

Os rapazes iriam trazer as estruturas para aquele lugar, mas


ele olha a entrada e vê os dois chassis chegando, ele encosta em
uma das entradas e o deixar ali as duas estruturas de biarticulado a
mais para a base do abre alas, era ainda uma ideia muito básica,
84
João não pediu, não perguntou, dispôs ali, onde os olhos não veri-
am, pois era a entrada seria pelo outro lado, as divisões eram ape-
nas tecidos sobre sistemas de corrediças que permitia abrir e fechar
facilmente, sobre aquilo, o guindaste que corria de ponta a ponta,
podendo tirar algo do estoque ao fundo e deixar no carro frontal.
Roberto entra no local e viu tudo organizado, tudo isolado e
fala.
— Olha que você conseguiu um lugar, pensei que era malu-
quice tirar você daquele fim de mundo, mas todos estão implorando
para liberação de barracões e já temos onde trabalhar.
— Vamos voltar as intrigas.
— Vai comprar mesmo a estrutura para o carro abre alas.
João abriu a lateral do tecido e o presidente viu que já estava
ali e ouve.
— Eu não perguntei ainda se Pedro quer elas?
— Se não quiser, deixa os demais de digladiarem.
— Já comprou o sistema de pneu para o seu pelo jeito.
— Sim, voltando ao antigo orçamento, lembra?
— Sim, agora entendi onde gastou o dinheiro, mas poderia
ser mais barato.
— Sim, poderia, mas teríamos de comprar um terreno, fazer a
fundação, e ficaria pronto em 6 meses.
— Entendi onde gastou, me propus a gastar isto, para ter es-
trutura, mas o lugar é bom mesmo, acha que o proprietário me
aluga.
— Não entendi a rixa, então nem me meti.
— Mas acredita que ele locaria.
— Com certeza por bem menos do que este acordo inicial, é
que tivemos de erguer as coisas senhor.
— Rapidamente.
— Sim.
— Quando formos negociar o ano que vem, você que vai fa-
zer para mim.
— Se precisar, estarei por perto.
— E como está o carro?
— Pensa que fiz meu box maior, e mesmo assim, apertado
para o carro.
85
— Certo, eles vão voltar a reclamar.
— Com certeza.
— E a ideia referente a porta do barracão lá na cidade do
Samba.
João olha o senhor e fala.
— Vou começar a pensar nisto agora senhor.
— Faz uma proposta, vejo que usa as suas habilidades de sol-
da em vários ambientes.
— Em todas que me permitirem, este pé direito vai me deixar
testar todo o sistema hidráulico do carro.
— Bem mais alto, você não apenas escolheu o lugar, fez algo
que pudesse testar os limites.
João viu o pessoal trazer o carro, o sair das coisas da Beija Flor
da Cidade do Samba, fazia os demais pensarem para onde iriam.
Roberto saiu e Rogerio chega ao lado.
— Não entendi a proposta.
— Vamos sair um pouco e damos uma meia volta na quadra.
— Misterioso.
Eles saem e começam a entrar na quadra ao lado e o senhor
Silva estava lá.
— O que pretende aqui, vi que isolou um trecho que deter-
minou seu, e este.
— Deixa que eu negocio senhor Silva, e metade do que eles
pagarem vai para o seu bolso.
— Então capricha na negociação.
João sorriu e viu o presidente da União da Ilha chegar ali,
olhar para Rogerio e perguntar.
— Este lugar Rogerio?
— Sim, mas não sei se tem interesse, é um quadrado de 20 de
largura por 30 de comprimento, o alvará de construção saiu hoje,
então não mostramos antes.
Silva nem sabia que tinham o alvará já aprovado, o senhor
olha o lugar e fala.
— Tem uma proposta pelo jeito.
— Sim, o Roberto David, estava olhando o lugar antes. – João.
— E porque não fecharam com ele.

86
— Digamos que o dono, o senhor Silva do meu lado, não quer
dar todo espaço para eles.
— Ele ofereceu quanto?
— Quatrocentos até o carnaval. – João pensando em 50 por
mês por oito meses.
— Ele fez uma boa oferta, estou vendo que o pé direito per-
mite montar coisas grandes, os vinte de largura, podemos dispor de
até 4 alegorias bem apertado, mas nos livraria de estar longe e con-
centraríamos no local, mas você me parece conhecido. – O senhor
olhando João.
— O Alemão Maluco da Fiorino.
O senhor sorriu e perguntou.
— Vai construir um carro para eles, é o que entendi.
— Sim.
— Dizem que você quase colocou tudo para queimar lá.
— Transferir para mim foi uma sacanagem que estou tentan-
do não levar para o pessoal.
— Sabe que poucos acreditaram em você.
— Sei que não fui o culpado, não estou acusando ninguém,
mas acha que tem interesse ou ofereço a outro? – João.
— O preço é puxado, mas a localização e o pé direito desta-
cam ele diante de outros.
— Sim, barracões sem goteira, com piso reto e reforçado, fa-
zem destaque neste lugar.
— E como seria o contrato?
João pega a pasta e o senhor Silva viu que o rapaz era rápido,
ele estava querendo uma entrada a mais, mensalmente.
O senhor assinou o contrato e falou.
— Vou verificar o deposito inicial, entendo querer receber
tudo antes do desfile, muito amador no carnaval.
— Acho meio apertado para 4 carros senhor, mas eu entendo
o senhor, eu também tentaria 4 bem caprichados aqui.
— E como faria.
— Separaria em 4 espaços iguais, de 15 por 10.
O senhor olha o espaço e fala.
— Verdade, no outro sentido daria para ter corredores e já
estariam no sentido da porta.
87
— Apenas uma sugestão.
— Dizem que aquele imenso quadrado na parte externa da
Cidade do Samba é sua aposta.
— Sim, minha primeira tentativa de um carro alegórico.
O senhor assina e depois de um tempo, João passa a chave
para o senhor e o senhor Silva pergunta.
— Vai me pagar metade mesmo?
— Sim, 25 por mês por 8 meses.
— E pelo jeito não tem problemas em negociar, vi que nem
forçou muito.
— As vezes temos de reduzir um pouco, então estava pen-
sando em chegar a 300 e ele nem pechinchou.
— Este pé direito assusta.
— Agora vou ter dinheiro para comprar peças de um senhor
aqui do lado.
— Não entendi o que pretende ai do lado.
— Lhe mostro.
João abriu a porta e entraram, ele mostra os materiais e dois
carros que ele encostara ali, e fala.
— Nem pedi, coloquei na conta anterior.
— Vai fazer o que com isto?
— Já passei no jato de areia, agora vou tampar os buracos, re-
fazer a estrutura, dai vou por um motor e um acabamento e vender.
— E vai me pagar como estes?
— Pelo preço que vende ali, como mais?
— Pensei que iria me roubar. – O senhor Silva.
— O contrato que assinou senhor Silva, poderia ter feito a
negociação ali do lado inteira e colocar o dinheiro inteiro no bolso,
mas sei que nos alugou barato o lugar, então agora chegamos pró-
ximo do valor que o senhor tinha estipulado.
— Certo, mas pelo jeito andou montando algo grande.
João olha em volta, sim muita estrutura, mas nada tão assus-
tador como os barracões de escola de samba.
— Sobrou estrutura ainda ali fora senhor, se quer dá para
ampliar ainda, se quer encostar no seu barracão outra estrutura de
10 por 40, acho que dá material.
— E seria inteiro meu o aluguel.
88
— Sim, e seria todo seu o custo de construção também.
— Não sou tão mão aberta como você para gastos.
João teve vontade de gargalhar.
— Pelo menos tirou o caminhão da parte do Ferro Velho.
João olha o caminhão ao fundo e fala.
— Quase construí um barracão em volta, para não ter de car-
regar.
— Pretende fazer o que com este trambolho?
— Vender, o que fazemos com trambolhos?
— Não entendo sua calma.
— Nem eu.
João fecha o seu local de trabalho, estava pensando em gas-
tar energia ali, apenas isto, mas via com bons olhos a parceria com o
senhor.
João chega a entrada e viu aquelas armações vindo pela rua,
algumas caras que não via a dias, quando o viram a entrada, parece-
ram fechar a cara, ele não entendia porque da hostilidade, mas tal-
vez tivesse ainda de conquistar estes construtores.
O carro dele já estava no fundo e olha para Rogerio.
— Vou pagar sua intermediação ali, mas aqui é outro assunto,
aquilo é para poder termos algo para fazer no resto do ano.
— Vi a oficina que está montando, tá ficando legal.
— Muito trabalho para ficar pratica, e ainda apenas eu traba-
lho nela, este é o maior problema, ainda não tenho capital de giro
para colocar para funcionar.
— Pelo jeito o que fez ali foi para acalmar o dono disto tudo
aqui?
— Sim, não quero problemas antes de terminarmos de mon-
tar o carnaval do ano que vem.
João pega uma empilhadeira a ponta, e trás uma caixa do
fundo para perto do carro alegórico, solta o sistema de roda inteira,
que havia queimado no incêndio, pega o jato de areia, passa em
toda a região, chama os rapazes e dá as coordenadas de quais par-
tes tirariam os quadrados, eles desprendem a estrutura inteira do
para-choque traseiro alegórico que João tinha colocado ali, o para-
lamas, parte da estrutura, e tiram quatro estruturas de um por um e
começam a fazer a solda do novo material.
89
Sergio fica ao longe olhando o refazer do problema de mais
de 15 dias, não seria apenas disfarçar o problema, ele iria refazer
onde esquentou de mais.
Algumas estruturas estavam chamuscadas, mas foi apenas la-
var e repintar, algumas teve de refazer parte, então enquanto parte
do pessoal fazia a ferragem, parte fixava partes novas e parte já
substituía a parte grelhada que estava por trás de alguns pedaços
danificados de fibra de vidro, soldando e preparando para cobrir
Quando Franco chega ao local para ao lado de Sergio, olha
em volta e pergunta.
— Tem certeza que estamos no mesmo lugar?
— Sim, o que a prefeitura falou?
— Que temos de refazer toda a fiação, que temos de dar um
jeito na parte de pintura lá, e isolar melhor os estoques de tinta e
inflamáveis.
— Sabemos que aquilo é uma caixa de fosforo, que temos de
cuidar para não riscar. – Sergio.
— Os demais voltaram a reclamar.
— Estou estudando a forma dele agir, ele parece bem siste-
mático, se olhar este barracão, diria que não daria para erguer em
15 dias, estamos aqui hoje, 15 dias após ele ter proposto.
— O que ele quer com aquelas estruturas da entrada.
— Quais?
— As de guindaste que estão encostadas na ponta.
— Ele deixou parte para dentro, não entendi ainda, mais algo
sobre ter um sistema de polias que pudesse correr a 30 metros do
chão, lá encima.
— Algo para facilitar a montagem.
— Sim.
João viu que Pietro olhava ao longe e caminha até ele e per-
gunta.
— Podemos conversar Pietro?
— Não...
— Onde ninguém me veja lhe oferecendo ajuda.
Ele olha em volta e fala.
— E teria onde?

90
— Sim. — João começa a sair e olha o bar do outro lado da
rua, senta-se ao balcão e olha para Pietro com todos os seus trejei-
tos, sentar ao lado.
— O que quer falar?
— Quer ajuda pede, tenho como ajudar, mas intriga vai tirar
da escola a chance de um grande desfile.
— Seu estilo de carro não é o que gosto.
— Não precisa ir pelo meu estilo, aquele é um estilo ligado ao
enredo do carro, Carros são parte das paixões nacionais.
Pietro olha para fora e fala.
— Você montou uma estrutura que queremos para nossos
carros.
— Pietro, chassi novo, com rodas novas, estrutura tubular bá-
sica nova, me custou 135 mil reais, seu orçamento é maior que o
meu, como não consegue?
— Mas como pode custar só isto?
— Horas a menos de mão de obra, estruturas prontas para se
montar, estrutura mais robusta e mais barata.
O rapaz mede João e fala.
— Não é pessoal rapaz, mas não gosto do seu estilo.
João pede uma cerveja e fala.
— Tô aqui por teimosia, já deveria estar em casa, mas as ve-
zes alguém pede para reconsiderar, e você reconsidera.
— Acha que vou acreditar que você não tem nada haver com
o incêndio?
— Quer fofocar Pietro, esquece o convívio harmonioso, pois
tem de ser muito mal intencionado para manter este discurso, mas
não se preocupem comigo, estou apenas passando o que pretendia
com aquele carro para os aderecistas.
— Vai pular fora mesmo? Amarelou rápido.
— Não, vou me manter longe, quem sabe vocês comecem a
trabalhar, me propus a ajudar, mas se querem intriga Pietro, tenho
pena da escola, eu sou um montador de carro, nada mais que isto,
como eu tem aos montes por ai.
João enche o copo e olha o rapaz.
— Não tem o que preciso, para me oferecer algo.

91
João olha descrente para o rapaz, sorri, serve mais um copo
de cerveja e pensa no que falar.
— Se souber de alguém que está precisando de um soldador
meia boca, aceito indicações.
João acerta a conta, atravessa a rua, pega a Fiorino e foi veri-
ficar um terreno bem longe do centro, ele soube que era mais longe
do que pensou, pois embora com todas as dicas e vias rápidas, de-
morou quase duas horas para chegar lá.
Estava atrasado quando um rapaz olha para ele.
— Se perdeu?
— Estava na Gamboa, é demorado mesmo.
O rapaz olha o carro e pergunta.
— Vai fazer uma proposta ou queria só olhar?
— Falou em quanto, e qual o tamanho do terreno?
—Tem dois mil de lado na BR101 e afina um pouco até a divi-
sa dos fundos.
— Ainda estamos na Cidade do Rio?
— Sim, sei que alguns acham que já estamos em outro lugar,
mas ainda estamos no Rio.
— Não entendi o preço, ou eu que acho que o preço está
bom.
O rapaz ainda olhava desconfiado.
— Certo, eu dou o sinal de entrada e fazemos a transferência
amanha assim que assinarmos os papeis.
O rapaz sorriu e perguntou.
— Tem alguma pretensão com este terreno?
— Imobilizar em algo. – Fala João sem entrar em detalhes, es-
tava quase em Itaguaí, mas ainda no bairro de Santa Cruz.
Foram a imobiliária, João fez a transferência do sinal de ne-
gocio, e volta a Gamboa, passa no terreno que os carros estavam
abandonados e deixa um cartão com o segurança.

92
Uma semana a mais e Ro-
berto olha para Franco.
—Problemas?
— Não sei se os construto-
res estão se sentindo desvaloriza-
dos ou não gostaram do lugar,
mas o rapaz comprou no acordo
com você duas estruturas de ôni-
bus, elas por si tem 26 metros de comprimento por 2,5 de largura,
foi só saber que foi o Alemão que providenciou, que eles não quise-
ram mais, nem o Pedro se propôs a usar.
— Eles tem alguém para indicar, ou é apenas birra?
— O rapaz tentou se mostrar disponível para ajudar a todos,
parece que no lugar de melhorar, piorou.
— E o que ele está fazendo a respeito?
— Evitando chegar perto, eles tem hostilizado até o pessoal
da construção.
— E ele não tem ficado por perto.
— Ele está por perto, mas não a vista, ele tem trabalhado em
projetos pessoais ao lado, sei que não gosta disto Roberto, mas um
dos projetos é o sistema de proteção contra fogo do nosso barra-
cão.
— O que a Liga falou da proposta?
— Passou aos bombeiros, parece que o governador não tem
pressa de aprovar, e segurou os projetos.
— Ainda estranho aquele incêndio, pois todos sabemos que
não somos encostados no barracão da Mocidade, ela primeiro disse
que o fogo veio do nosso, mas depois acusou a União da Ilha. Soube
que o Silva ofereceu parte do barracão para a União da Ilha.
— Não entendi isto ainda, mas estou evitando olhar demais
Roberto, pelo que entendi o carro do rapaz está andando, ele está
separando no fundo do barracão que ele tem usado ao lado, as es-
truturas que vão vir para o carro, mas estão ainda no começo, mas
fazendo longe dos olhos.
93
— Acha que ele fica?
— Ainda não entendi todo o problema, quando perguntei pa-
ra Pedro se estava tudo bem, falou que não tinha problema com o
rapaz, virei as costas pediu para tirar aquele trambolho do chassi de
lá e basicamente colocou para fora.
— E João fez o que?
— Ele colocou no lado do barracão ao lado, deve ter pedido
um favor ao senhor Silva.
— Ele não tem pressa, e faz as coisas rapidamente, mas e o
Sergio.
— Tentando passar a cada um o que tem de fazer, temos de
considerar que começamos mais sedo esse ano e podemos ter pro-
blemas ao fim.
Roberto caminha naquele barracão, ele transformava grandes
alegorias em baixinhas.
Ele para a frente de Pedro e pergunta.
— Como foi a viagem?
—Muitas ideias, mas não entendo, porque está dando folga
ao novato.
—Pensando em mandar ele a New York, para ver se ele me
surpreende um pouco mais.
— Não sei o que viu naquele rapaz, ele não tem noção das
coisas Roberto, espero não ter de modificar o carro dele de véspera
de desfile.
Roberto não entrou na provocação.
— Vai mesmo financiar aquilo até New York.
— Poderia até não financiar Pedro, se entendesse esta crian-
cice sua e dos demais, era para ser um motivador para vocês se
superarem, não para vocês basicamente o colocarem para fora.
— Ele nem está ai para a alegoria.
— A dele já tem Chassi Pedro, e a sua?
— Estava viajando, sabe disto.
— Espero que se superem, já que ouvi falar que ele vai ven-
der aqueles chassis que vocês desprezaram para a Ilha do Governa-
dor ao lado.
— Não faço carnaval pressionado Roberto.
Roberto olha o rapaz e pergunta.
94
— Vai pular fora, é isto?
— Ainda não sei, mas esse espaço que deu ao rapaz, me fez
pensar nisto, eu e Pietro não gostamos de carnavais feios.
— Se for pular fora Pedro, quero saber agora, pois se for para
pular dentro de dois meses, vai pular num caixão.
Pedro arregala os olhos.
— Não falei que vou pular fora Roberto.
— Sua palavra final, pois não estou gostando desta frescura, e
talvez começo a entender a certeza de que o fogo começou inter-
namente, se for pular fora, é agora Pedro, e pode ter certeza que
seus gastos, passeando, vou lhe cobrar.
Pedro viu Roberto se afastar e viu Pietro chegar a ele.
— O que deixou Roberto nervoso?
— Ele falou que se for pular fora, que seja agora, pois dentro
de dois meses ele me mata.
Pietro olha Roberto ao fundo e fala.
— Apenas ameaça.
— Vai para a Tijucas?
— Aqui este ano não vai sobrar dinheiro, sabe que gosto de
lugares que sobra, estão regulando até os faisões.
Pedro olha para Roberto sair do barracão e fala.
— Acho que não vou ficar esperando.
Pietro sorriu.
João foi ao muquifo que estava morando, era uma pensão,
mas a dona Marta, passou um recado, estranhou, mas foi ao local.
João viu os poucos clientes da moça, deveria ser pouco mais
velha que ele, uma mulata bem ajeitada.
— João, estou avisando todos, vou fechar.
— De uma hora para outra?
— Tentei renegociar uma divida com a Ligt pela terceira vez, e
eles não querem saber de me dar mais credito, e sem luz, não tenho
como tocar o negocio.
— Temos de sair até quando.
— Já não tem luz.
— Muito carro?
— Vou ter de vender o lugar.
— Tanto assim?
95
— Não tem documento, não se consegue muito.
— Quer quanto? – João saindo da defesa.
— Você não tem dinheiro.
— Não disse que tinha, mas se souber quanto, e levantar o
dinheiro, quanto de dinheiro eu precisaria?
A senhora olha João e pediu um momento, foi lá e fez os cál-
culos, João perguntou como acertavam aquilo, e perguntou se ela
iria continuar por ali.
— Teria de achar um lugar.
— Quer tocar para mim dona Marta, mas vamos passar uma
tinta e arrumar antes de reabrir.
— Vai dizer que mora aqui porque quer, poderia morar em
outro lugar.
João olha em volta e fala.
— As vezes, temos de nos posicionar, mas me deixa estas
contas que vou pagar elas e transferir para meu nome, depois va-
mos ver como estão os quartos e vamos melhorar isto um pouco.
— Vai querer receber para que fique aqui?
— Você tem direito a um salario Marta, e vejo como a chance
de melhorar onde estou.
— Sabe que você era o único que não reclamava, acorda ce-
do, chega as vezes depois de já ter dormido, não faz escândalos e
não traz problemas para dentro, quem dera tivesse outros clientes
assim, com o aluguel em dia.
João pega as contas e fala.
— Dispensa os demais, conversamos quando eu voltar, ainda
não acabou o meu dia.
— Vai pagar as contas?
— Sim, e pedir a religação com urgência.
Marta sorriu, João saberia mais a frente, que ela não sabia
para onde ela iria, vivera muito tempo ali, então aquele sorriso foi
sincero.
João sai e a filha de Marta olha para ela e pergunta.
— Vamos para onde mãe.
— Se o rapaz conseguir, vamos ficar, mas dai vou vender para
ele o imóvel filha.
— E nós?
96
— Ficamos onde estamos.
— Tem algo com este dai?
— Não, estranho saber que ele é o mesmo que alguns falam
horrores na Cidade do Samba, e ao mesmo tempo, nunca nos gerou
problemas.
— Ele faz o que na Cidade do Samba ao fundo mãe?
— Ele pelo que entendi é um aderecista da Beija Flor.
O acaso colocou João saindo da região, olhou o carro de Pe-
dro parar mais a frente, no Barracão da Unidos da Tijucas, estra-
nhou e viu Pietro sair junto.
Viu o presidente da escola coirmã chegar a eles e os abraçar,
entram e fica a pensar no que seria uma sacanagem.
“Deve ser minha forma de ver as coisas. Desencana João.”
João olha as contas, paga e vai a uma regional da Ligt e pede
a religação, a moça disse que teria de pagar os atrasados e ele mos-
trou todos os atrasados pagos, ela estranhou e disse que teria de ter
um responsável, ele muda para o seu CPF a conta e a moça passa a
determinação de religação.
João vai ao barracão e olha para Paulinho e joga um verde.
— Seria sincero em uma coisa Paulo? – A pergunta direta de
João fez Paulo, aderecista do Silvino olhar intrigado.
— Pergunta.
— Silvino vai pular fora também?
Paulo viu que dois grupos não estavam ali, pensa e pergunta.
— Acha que eles vão pular fora?
— Silvino está disposto hoje?
— Aquela bicha tá sempre estressada.
João sorri e fala.
— Então deixa eu deixar ele em cólicas.
João olha o senhor ao canto, ali não havia as partes isoladas,
tudo era no mesmo lugar e fala.
— Podemos conversar Silvino?
— O novato.
— Podemos conversar, caminhamos, vou propor algo, é pegar
ou largar.
— Sabe que alguns falaram em largar.

97
— Pensa Silvino, se eles largarem, você pode assinar o abre
alas desta escola. – João olhando o senhor sério.
Silvino olha para o barracão e grita.
— Paulinho, vem aqui.
Paulo olha de longe e chega já esperando uma bronca.
— Falou algo para ele?
— Não, não falei nada.
— E se eu mudar de ideia Paulo, me apoiaria?
Paulo sorriu e João entendeu, Silvino também estava pensan-
do em pular fora.
— Sempre, estamos nisto a quanto, 10 anos juntos.
Silvino olha para João e pergunta.
— Já sabia?
— Silvino, nada é real, neste mundo, antes de acontecer, mas
olha em volta, dois grupos saíram, e não saíram para dizer, vamos
voltar, eles levaram tudo, que era deles.
— E se eu sair?
— Terá de ser o novato a assinar este carnaval? – João.
— Não, mas o que quer oferecer?
— Não é oficial ainda, mas se Sergio perguntar, diga que tem
um plano para o abre alas, e se ele insistir muito, diz que será o
maior abre alas que já entrou naquela avenida.
— Mas como posso garantir isto.
— Um abre alas de 60 metros de comprimento por 12 de lar-
gura e 26 de altura, vai dar trabalho construir Silvino, mas seria o
maior abre alas que qualquer um já viu na avenida.
— Mas não gosto do seu estilo.
— Eu vou apoiar apenas com a ferragem Silvino, lembra, a
ferragem de algo assim é critica.
— Mas me disseram que vendeu os Chassi.
— Eles ainda são meus, não da escola, então se ninguém usar,
quem sabe monto um restaurante sobre rodas e começo a vender
lanches.
— Não leva a serio mesmo.
João pega um prospecto e fala esticando para Silvino.

98
— Um deste tamanhinho que eu pensei Silvino.
— E teve uma ideia para tudo isto?
— Se precisarem de ajuda nas ideias, peçam, estou apenas
lhe antecipando Silvino, que se os outros pularam fora, você tem
duas chances, assumir e quase assinar esta carnaval, ou pular fora e
fazer provavelmente um tripé da Tijucas.
Silvino olha para João e pergunta.
— E não lhe convidaram para ir para lá?
— Ficaria muito na cara se o fizessem Silvino, vocês eles já
conhecem, sabem as historias, inventam motivos, eu, buscado de
Curitiba pela própria Beija Flor, ficaria muito evidente.
— Você não seria convidado agora, entendo, mas acha que
conseguimos fazer um carnaval, com todo dinheiro indo para lá.
— Silvino, temos dinheiro para fazer dois carros de 28 metros
e um de 60, se nós entrarmos com isto na avenida, só isto, já vamos
disputar, e não pretendo ter quebras, não pretendo ter problemas,
se nós fizermos o redondo, que os demais, consigam não cometer
erros, pois se cometerem, vamos estar na cabeça.
— Certo, posso ficar com o esboço.
— Sim, deve.
— E se precisar de ajuda para meu carro alegórico?
— Silvino, não sei quantos eles cooptaram daqui, mas pensa,
todos eles podem estar dando um tiro no próprio pé, pois Roberto
pode até se fazer de desentendido, mas ele vai saber que apronta-
ram para ele.
— Eles acham que depois Sergio os traz de volta.
João olha ele e fala.
— Deixa eu sair antes de vocês voltarem a reclamar de mim.
Silvino viu que outros chegam perto, e era evidente que o
clima não estava tão animalesco, para o que falavam de João ali
dentro.
João saiu pela frente e Paulinho olha para Silvino.
99
— Recebeu algo de lá?
— Não ainda.
— Vai ficar?
— Tenho de pensar, Roberto, Franco e Sergio não falaram
nada, estamos ainda em Agosto, as coisas ainda tem tempo de se
resolver, mas pensa, se eles forneceram ao rapaz, algo que dá para
fazer um big abre-alas, e um outro carro, imenso, eles sabem que
existe uma chance de desistência, eles estão dando corda, quando
os demais fizeram-se de preocupados, pelo barracão, no lugar deles
isolarem o rapaz, eles deram carta branca para achar um novo lu-
gar, tem algo ai.
Nuno era quem construiria o ultimo carro e pergunta.
— Não entendi, está falando que alguém vai pular fora?
— É só olhar em volta Nuno.
Nuno reparara no pessoal saindo, mas pensou em outra coi-
sa, e pergunta.
— Mas como ficamos para o carnaval.
— Muito tempo ainda Nuno, mas o que o Alemão estava fa-
lando, é que se formos ficar, estarmos prontos para assumir o peso
de algo a mais.
João olha para Sergio sentado ao bar a frente, estranha pois
ele não era de beber muito.
João senta-se pedindo um aperitivo e uma cerveja.
— Apareceu, pensei que também pularia fora.
— Pular fora?
— Você quase pulou, esqueci disto, mas não por motivo fútil,
que é o que vejo hoje, dois rapazes pediram para passar as partes
deles para outros.
João olha em volta e pergunta.
— Eles já oficializaram a saída?
— Sim, mas me deixaram sem ação.
— Quer ajuda Sergio, pede.
— E como poderia ajudar.
— Passa Silvino para o abre-alas, Nuno para o carro dois e eu
ajudo nos carros 5 e 6.
— Roberto não gostou da traição.

100
— Deixa escapar que os dois foram convidados para um pro-
jeto maior e a escola não teria neste momento estrutura para cobrir
as propostas, que deseja a eles sucesso na Tijucas.
— Sabe até para onde eles vão?
— Sergio, pensa, problemas de barracão tem todo ano, eles
não começaram nem os chassi ainda, o que para nós é uma grande
vantagem.
— E como enfrentamos isto?
— Para quem está de fora, uma crise interna de criatividade,
gerou o sair dos dois, todos vão jogar a culpa em mim, apenas isola
a comissão de carnaval.
— E o que teríamos de abre alas?
— Algo muito pequeno, para os que não o virem antes da ho-
ra Sergio.
— E qual a pretensão?
— Algo que todos na Marques de Sapucaí Vejam, assim que
se posicionar para o desfile.
— E que passaria embaixo do viaduto?
— Sim, mas primeiro, absorve o impacto, depois, vamos ver
se sem intriga, os demais não aderem ao projeto do ano.
— Sacanagem é que foi lançado o concurso de samba enredo
sobre o que os demais falaram.
— Absorve a parte boa Sergio, depois nos vemos como resol-
vemos.
— E estava onde?
— Acertando detalhes para ter onde morar.
— Não voltou para o hotel, Roberto fica tenso assim.
— Diz que estou entrando em sociedade com a Pousada da
Marta, na Ladeira do Barroso, isto que estava fazendo.
— Vai reformar o muquifo que mora?
— Tornar ele lucrativo, Marta pode estar lá a muito tempo,
mas não entende de custos.
— E pelo jeito você quer ter onde morar independente da es-
cola.
— Depois falamos sobre projetos, não sei, acho que eu prezo
o espetáculo, não a concorrência.
— Ganhar faz parte.
101
— Fazer o melhor espetáculo faz parte Sergio, nem sempre o
jurado entende, mas temos de fazer sempre o nosso melhor.
Sergio sorriu e falou.
— Concordo.
João paga a cerveja e o aperitivo e atravessa a rua entrando
no Ferro Velho.
Silva olha para ele e pergunta.
— Vai dizer que já tem locador?
— Não, aquele ali eu vou lhe pagar mais 25 por mês, para não
ficar com esta cara de cachorro magro.
— Vou ter de cuidar com a declaração do fim deste ano já.
— Crescer requer cuidar disso. – João olhando o senhor.
— E vai por ali o que?
— Eu vou abrir uma passagem entre o que tinha construído
antes e este, com vão de 4 metros de altura, para sair como se fosse
para a avenida, já rebaixado daqui.
— E alguém sabe se seus planos?
— Vão saber no começo de Março do ano que vem.
— Certo, acha que ano que vem ainda vai querer o espaço,
sabe como é, Cidade do Samba daqui a pouco é liberada de novo.
— Sabe que uma parte eu vou querer, mas ano que vem é
ano que vem senhor Silva, não me apressa nesta hora.
O senhor sorriu.
Sergio não era de beber, quando Franco viu ele saindo do Bar
em frente quando ele e Roberto chegaram, sabia que vinha bomba.
Sergio tinha ligado do bar e passado para um amigo, que sa-
bia ter um destes blog de noticias de carnaval, que uma crise de
criatividade e de enredo tinha tirado parte dos construtores de car-
ro de um barracão muito improvisado que a Beija Flor estaria usan-
do até reabrirem a Cidade do Samba, então aquilo estava correndo
como pólvora, nos meios do carnaval.
Franco olha Roberto e olha em volta e fala.
— Tivemos debandada, deve ser isto que fez Sergio tomar
uma cerveja em pleno horário normal.
Roberto olha em volta e fala.
— Eles acham que vou deixar barato.
Sergio que chegava a eles fala.
102
— Vai, e vai desejar a eles sorte na nova empreitada Roberto,
eu estava pensando, muita coincidência neste ultimo mês.
— Coincidência?
— Nosso incêndio, que afetou nós, Ilha e Mocidade, depois
tivemos a prisão do presidente da Mangueira, e agora a intervenção
na eleição do Salgueiro, é muita coisa para um mês só. – Sergio.
— Acha que alguém está comprando o carnaval do ano que
vem.
— Estava falando com Alemão, e ele tem razão, não precisa-
mos que eles saibam que temos como fazer, mas temos a obrigação
de dar o nosso melhor, colocar um carnaval campeão na avenida,
eles podem até comprar Roberto, mas para ganhar, eles tem de não
errar.
Roberto sorriu e perguntou.
— E teria um plano B?
— Estava pensando, me pareceu que temos, mas tenho de
unificar o discurso.
— Por quê? – Franco.
— Se eles estão tentando comprar nossos construtores, va-
mos ter de nos cercar dos mais fieis, e pensar que estava apostando
nas ideias que Pedro me falou.
— Acha que temos como fazer? – Franco.
— Verificou porque o Alemão não aceitou voltar para o anti-
go quarto? – Roberto.
— O como fazer, acredito que sim, não entendi ainda a ideia,
mas lembrei de uma coisa, o rapaz estava se propondo a ajudar
Pedro a fazer um imenso Abre alas.
— E o que tem isto de importante? – Franco.
— Que o que vi neste barracão, não comporta algo maior, o
dele fica imenso.
— Acha que ele vai pular fora? – Roberto.
— Acho que não, ele estava resolvendo problemas de onde
morar hoje a tarde, pelo que entendi, ele vai entrar em parceria
com a Dona Marta da Ladeira do Barroso, mas parece que ele des-
confiou de algo, pois não esquece, ele deixou o espaço dele separa-
do.
Roberto pega o telefone e liga para João.
103
— Alemão, teria um momento para conversar.
— Problemas Roberto?
— Sim.
— Quer que vá até ai ou vem até a parte que tenho me es-
condido.
— O que está fazendo ai?
— Preparando o espaço para construir dois carros alegóricos.
— Para nós?
— Sim, se quiserem, só não tragam muita gente, ainda é se-
gredo este lugar.
— E será segredo até quando?
— Quando tirarmos a parede divisória dos dois blocos e tudo
ficar um só.
— Vamos até ai.
Roberto olha para Sergio e fala.
— Vamos a oficina ao lado, talvez seja melhor para conversar,
pelo jeito fazia parte do acordo que ele nem expos muito.
— Não duvido. – Franco.
Os três dão a volta e entram pela ponta do barracão, era um
corredor cumprido.
Olham que estavam ajeitando espaço para maquinas de cos-
tura, e salas isoladas.
Eles chegam ao salão e viram um grupo de pessoas ali e João
falando.
— Vamos cortar exatamente nas linhas, e tirar parte da pare-
de divisória.
Franco olha para os dois chassi que ninguém queria, coloca-
dos mais a frente, não entendeu, e chega ao local, parecia duas
imensas bases sendo construídas, ele pensou em dois carros, não
teria como visualizar aquilo ali, acoplado.
Os rapazes começam a cortar e fazer barulho e João volta um
pouco e olha Roberto.
— Problemas?
— Pelo jeito já sabe que dois rapazes queriam pular fora.
— Eles tentaram com mais dois, que se mantiveram no proje-
to, mas estranho este tipo de ação, pensei em escolas irmãs.
— Irmãs, não escolas santas. – Franco.
104
João sorriu e chega a uma parede que tinha um esquema ain-
da em construção.

— Roberto, se olhar a parede, o esquema para a rua Santo


Cristo é o que havia apresentado, estava pensando em um lugar
para construir o que propus a Pedro, o maior abre alas que a Sapu-
caí já viu, mas pelo jeito, eles pularam fora.
Roberto olha o desenho e pergunta, parecia improvável.
— Não vai dizer que estes dois a ponta, é a proporção do que
quer que seja o nosso abre-alas?
— Sim, mas obvio que para levar um carnaval deste nível a
Sapucaí, tem de se ter comprometimento, estranhei quando vocês
não reclamaram do espaço que tinha colocado disponível, então
fiquei quieto, esperando algo diferente acontecer.
— E o que seria este abre alas?

105
— A ideia era forçar Silvino fazer ele, mas não sei se ele tem
capacidade financeira para fazer algo assim.
— Acha que não teríamos financeiramente como o fazer?
— Roberto, do dinheiro que você liberou para dispor deste
espaço, ainda estou gastando com sua escola, e ainda tenho 500 mil
para gastar, eu não sou de entrar em uma ideia e a abandonar no
meio.
— E o que conseguiria com estes quinhentos mil? – Roberto.
— A estrutura de chassi de todos os veículos que vão a Mar-
ques de Sapucaí, com as estruturas básicas de levantamento.
Franco olha para Roberto.
— Seria se propor a por o maior carnaval em alegorias da his-
toria, mas parece sobrar carro.
— Um é para qualquer ideia da comissão de frente, o outro,
uma reserva para imprevistos, como ter de contar com algo no bar-
racão quando o liberarem.
— Acha que eles tentariam algo? – Roberto.
— Nunca provaríamos, mas me consiga explicar um incêndio
que afeta 3 escolas, mas que pareceu mais focado no carro que
tínhamos lá.
— E organizou tudo enquanto os demais lhe provocavam.
— Eu trabalhei este mês Roberto, sabe disto, eles queriam eu
parado, então resolvi somar em estrutura e organização.
Roberto olha as estruturas soldadas a ponta, e todo o maqui-
nário e pergunta para Sergio.
— Isto acalma as coisas?
— Deixa bem mais tenso, ele está falando em por um carro
de 60 metros na avenida presidente. - Sergio sorriu das próprias
palavras, pois agora teria ali também parte da costura e dos adere-
ços, parte da ferragem e da marcenaria, estava prestes a dizer que
tinha um barracão numero dois da escola de samba.
O olhar de Sergio foi para João.
— O que proporia para este abre alas?
— Um show de ilusionismo e beleza.
— Não entendi. – Franco começando a olhar para a ponta
onde tinha as estruturas e que ninguém estava falando delas.

106
— Somos uma nação continente, vocês resolveram falar so-
bre ela, e no fundo, não discordo que é um enredo muito dinâmico,
temos de fixar em algo, mas temos num abre alas, espaço para 6
ambientes, mas quero transformar em 24 ambientes, sobre toda a
volta do carro, uma estrutura que nos permite omitir e descobrir o
carro varias vezes, um show de imagens e de realidades, pois se eu
representar cada região em uma subdivisão, e promover visões, não
desenvolvi elas ainda, mas inverno e verão, em todas elas tem co-
notação diferente, festas e trabalho também, natureza e degrada-
ção também, mas ainda pensando em como representar algo assim,
mas não seria apenas um abre alas, seria o apresentar do Brasil na
Marques de Sapucaí.
Roberto olha Franco que fala.
— Eu ajudo, está falando não apenas por o maior abre alas, e
sim, por o maior complexo de encenação sobre rodas que já colo-
camos na avenida?
— Sim, perto de 400 pessoas seriam necessárias para este
carro Franco.
Roberto sorriu, por dentro, João pensou na própria frase, sua
escola não tinha 400 pessoas.
— E feito aqui, não na Cidade do Samba? – Roberto.
— Sim, quando reabrirem, devem o fazer lá por Dezembro,
manda os dois pequenos e um dos grandes para lá.
— Vai sobrar espaço. – Roberto.
— Vai faltar espaço, sei que não fechei a ideia, pois para mim,
era uma ideia que não seria usada Roberto, eu achei que era outro
tipo de problema que estávamos tendo, como medo, pois dois pri-
mos de Pietro morreram pelo que ouvi falar.
Roberto olha para João.
— As vezes esquecemos que quem vem de fora não tem me-
do de perguntar o que não se deve.
— Eu não perguntei, eles falaram, então as vezes, pensei que
eles falaram demais, depois me isolaram para que eu não falasse.
— E porque falou que eles foram para a Tijucas?
— Eu tive de resolver problemas hoje na Providencia e vi Hor-
ta receber os dois a entrada do barracão, e pela visibilidade, não

107
fizeram para ficar oculto senhor Roberto, fizeram para deixar bem
claro que saíram daqui e foram para lá.
Roberto pensa no que falou, eles saíram rápido de medo, mas
ele não falaria.
— Acha que consegue assumir isto que está propondo, pois
sei pela cara de assustado de Franco e Sergio, que estamos entran-
do em um campo minado.
— Acredito que estamos entrando numa corrida desgastante,
mas que se conseguirmos não errar e não sermos sabotados, conse-
guimos por um carnaval, que como falei para Sergio, as vezes não
ganha, pois não fomos entendidos, mas seria dar o nosso melhor.
— Todos falam em crise e está falando em por um carnaval
imenso a rua. – Roberto.
— Eu não gastei ainda 500 no meu carro inicial Roberto, e fal-
ta um quarto deste valor que vai agora entrar aos poucos para ter-
minar meu carro.
Franco pensa no tamanho e pergunta.
— Vai montar aquilo com quanto?
— Posso estar enganado nos valores Franco, pois nunca mon-
tei algo deste tamanho, mas é que venho de um sistema bem mais
bruto e menos emplumado, mas eu não vou me negar a tentar so-
breviver com o resto.
— E vai investir em que? – Roberto.
— Uma empresa de customização de carros, pode parecer
bobeira Roberto, mas absorvo os melhores do barracão nos 5 meses
que ninguém faz nada, pretendo ter uma pequena pensão na Provi-
dencia, ela está sendo fechada hoje, para reabrir em uns dois me-
ses, comprei um pequeno terreno do outro lado da cidade, para
sentar e ficar vendo o marasmo me atravessar, quando achar que
tenho de acalmar a alma.
— Outro lado da cidade onde? – Roberto.
— Santa Cruz. – João.
Roberto olha descrente e fala.
— Alguns falam que você quer crescer muito.
— Roberto, eu quero poder fazer as coisas como quero que
sejam feitas, achou mesmo que os 4 milhões seriam apenas por
aquele espaço ali do lado?
108
— Alguns estavam falando que você me roubou com aquela
proposta, agora me mostra que o projeto era maior, mas pelo que
vejo, estava acabando.
— Sim, precisava de mais do que 15 dias para o total, e pensei
que os demais começariam trabalhar.
Roberto sorriu e falou.
— Pelo jeito eles vão continuar a pedir dinheiro.
— Senhor, eu não entendo, provavelmente os dois foram pa-
ra lá, por acharem que lá vão gastar mais dinheiro, e assim, desviar
mais recursos, eles sabem conter gastos, pois desculpa, eu não pre-
ciso de um carro de 200 mil, eu sou serralheiro, monto carros de 2
milhões.
Roberto olha Franco.
— Pode ser, todos falam que lá tá jorrando dinheiro.
Roberto olha João.
— Acha que tenho de reter os recursos?
— Parar de soltar fácil, você se propôs a pagar um x, se eu
consigo montar um carro com este dinheiro, que eles comecem a
mostrar seus gastos antes de pedir mais Roberto, sei que o abre-
alas vai requerer mais dinheiro, mas não em espécie para quem faz,
mas em profissionais de dança, coreógrafos, aderecistas, fantasias,
estamos falando em por uma escola de samba da minha cidade
sobre um carro alegórico, o carro em si não tem 60 metros, mas
com o acoplamento e os detalhes, vai chega a isto, é um sistema
duplo, então vai em duas partes para o local, tenho de medir as
arvores locais para ver se posso fazer a curva com o que pretendo,
tanto na entrada como na saída, mas se conseguir, o próprio entrar
disto na avenida, fazendo a curva e se erguendo, já vai ser um show.
Ouvi alguns falarem que já teve carros maiores, mas que acoplaram
4 partes para entrar, eu quero entrar acoplado Roberto, quero o
impacto disto, dizem que teve mais alto, mas o que falo em maior, é
a dimensão, o olhar de um carro que para diante de toda o setor um
e faz a primeira apresentação, e eles tem de olhar toda a apresenta-
ção de um carro imenso a frente.
— Impressionar de cara? – Franco.
— Tirar o folego de quem estiver olhando.
— Eles vão odiar.
109
— Eles vão saber como os demais Franco, na hora, como dis-
se, vamos dar o melhor, se não vencermos, é porque cometemos
erros, não porque eles fizeram o melhor.
— Acha que temos tempo hábil para tanto?
— Franco, a proposta do desfile é sempre algo surpreenden-
te, não algo contestável, meu pai falava que perdia noites de se-
gunda para ver os desfiles do Joãozinho Trinta, não porque eram os
mais bonitos, mas era o diferente e inovador, mas – João olha para
Roberto – espero que quando eu ajudar uma outra escola do grupo
A, não pensem besteira, elas tem de melhorar.
— Esta pensando em ajudar a quem?
— As ajudas para duas escolas, vai ser quando a Cidade do
Samba já comportar dois ou três carros que aqui estarão.
— Querendo mostrar seu valor em todos os lados?
— Digamos que fazer as coisas com dinheiro, é fácil Roberto,
quero ver economizar e fazer.
— Pelo jeito quando todos estiverem agitados em Fevereiro,
nem vai dormir. – Franco.
— Durmo no domingo depois do desfile das campeãs.
Roberto sorriu.
O pessoal saiu e João viu a parede começar a sair da divisa,
obvio que o ampliar do espaço, estabelecia mudanças de planos
para os demais, mas enquanto Franco e Sergio, chamam Silvino para
conversar, João junta seu grupo e começa a projetar o montar das
duas estruturas básicas.
João faz um rascunho da ideia final, ele pensa em cada deta-
lhe que não poderia passar desapercebido e olha aquelas linhas no
papel, o mais difícil, sistemas hidráulicos que mantivessem tudo ali
pronto, mas que não ultrapassassem 4 metros de altura no trans-
porte.

Ele olha a ideia e pensa na arapuca que estava armando para


ele mesmo, mas se desse certo, seria um marco, e não teria como
superar seu marco inicial.

110
João olha o recado de Marta, responde e começa a passar or-
dens, preparar a base de estruturas que viriam a somar no conjunto
de carros alegóricos.
Os grupos começam a se agitar, se os aderecistas estavam
agitados, imagina a cara dos demais quando viram que o sair do
pessoal, estabelecia ampliação de projetos.
Sergio chega a frente dos dois rapazes, Silvino e Nuno, olha
Franco chegando e fala.
— Tenho de comunicar oficialmente que Pedro e Pietro, pedi-
ram afastamento da comissão de carnaval, e vão integrar outra
agremiação no próximo carnaval.
Sergio olha para eles e fala.
— Eu estou propondo puxar o Alemão para a comissão de
carnaval, nos o deixamos fora, mas agora, vamos precisar somar
gente nas comissões.
Silvino olha para Sergio.
— E como faremos para estruturar o desfile.
— Estamos chamando agora, antes de começar o segundo,
uma comissão da LIESA para analisar o carro ao fundo, se eles con-
siderarem que aquilo não é um carro acoplado, ele não o é, mas
queremos a posição oficial deles, por escrito, vamos transformar
este carnaval em uma corrida, mas principalmente, vamos pedir
sigilo de tudo que fizermos aqui dentro.
— Sigilo? – Nuno.
— Considerando que queremos surpreender, quanto menos
vazar de informação, melhor.
— Acredita que o rapaz pode vir a somar, quem saiu falava
horrores dele.
— Sei que alguns de nós pegaram pesado com ele Silvino,
mas precisávamos o modelo pronto, ou pré pronto para uma analise
da LIESA.
— E a escola nos cederia quantos chassis como aqueles? –
Nuno.
— Um para cada carro, dois para o abre alas.
Nuno olha assustado e pergunta.
— Qual do tamanho do Abre-Alas.

111
— Este é um dos pontos, queremos a aprovação da LIESA em
certos pontos, um deles afirma que a alegoria não pode ter mais de
11 metros, não tenho nada contra abaixar ela durante o percurso,
mas queria ela a 20 metros na armação.
Nuno olha desconfiado.
— Estão falando serio?
— Sim, mas a primeira coisa, que vou exigir de vocês, se pu-
derem, entregar os projetos base dos carros alegóricos, vãos come-
çar a acelerar.
— Assim que eles derem carta branca aos carros?
— Sim.
— Eu não tenho nada contra ele vir ao grupo. – Nuno.
Franco olha e fala.
— Também não, sei que peguei pesado, mas esqueço que os
melhores não seguram a língua.
Silvino olha para Sergio e fala.
— Ele me passou este prospecto de carro alegórico, não sei o
que pensar disto, é imenso.
— Por isto gostaria dele aqui Silvino, a ideia, uma estrutura de
60 metros, pelo que entendi do descritivo a parede da ampliação ao
fundo, um sistema de roldanas, com quatro cores de tecido, uma se
abre, temos um ambiente, ela se fecha, a segunda cor se abre, te-
mos um segundo ambiente, assim tendo 4 ambientes de alteração
no carro abre alas, um Brasil mostrado em pedaços, não todos, mas
pelo que entendi, 40 quadros, em um carro de 60 metros, que se
funcionar, todos falarão do nosso carro. – Sergio.
— Acha que precisa de tanto? – Silvino.
— A ideia pode parecer imensa, mas é ideal para abrir a esco-
la, a proposta que nem falei antes, as baianas virem com roupas
clássicas, mas em formação e nas cores da bandeira logo após o
mestre sala e porta bandeira.
— E o carro representaria exatamente o que, falávamos em
representar o Brasil na entrada, mas sempre fiquei pensando no
que Pedro faria.
— A ideia, representar em um carro, as 5 regiões do país, pelo
que entendi, pela diversidade, pela cultura, pelo trabalho, e pelas
riquezas naturais e industriais.
112
Silvino anota e pergunta.
— Em outras palavras, duas representações de cada uma des-
tas partes, em um carro todo móvel, imenso, quantas pessoas va-
mos por neste carro?
— Perto de 400.
— Não deixaremos a escola muito pequena, ouvi falar em
carros com 100 pessoas, vai sobrar apenas dois mil e seiscentas
pessoas para por no chão, coloco 300 baianas e 300 ritmistas e es-
tamos com uma escola de dois mil componentes. – Nuno.
Franco olha Sergio e pergunta.
— Quantas alas precisaria?
— Nisto que estava mais estranhando Pedro, ele estava só jo-
gando ideias ao ar, mas acha que dá para por uma adendo nos sam-
bas enredos.
— Quer propor alguma coisa? – Nuno.
Sergio olha para a sala ao lado e fala para Rogerio.
— Alemão ainda está por ai?
— Sim.
— Chama ele para cá.
Sergio olha para os demais e fala.
— Nós precisamos de um samba forte, e samba forte, tem
que remeter a sambas do passado, quando demos o tema. Que
ainda é apenas interno, “Brasileiro, um povo de garra”, muitos gos-
taram, mas é um enredo que é difícil fechar, ele fica aberto, e a
ideia deste mês que os contatamos e depois reunimos, era que cada
um pensasse no seu trecho, para unirmos em uma historia.
— E não está fechando, é isto? – Franco.
—Enredo muito solto, fica confuso na avenida, ele passa,
acham bonito, mas não tem um adendo de Escola, não passamos
nada que eles não saibam.
— E qual a ideia?
— O que transforma o Brasileiro em Brasileiro, vivendo aqui
ou na casa do caralho? – Sergio olhando os demais.
João entrou e Silvino falou.
— Vamos por nossas diferenças de lado, não entendi nosso
enredo ainda.
— Não estou aqui para ampliar diferenças, mas...
113
Franco olha João e fala.
— Estamos o convocando, não convidando, a fazer parte da
comissão de Carnaval da Beija Flor.
— Responsabilidade Grande, as vezes ajudar apenas é mais
fácil.
Sergio olhou para João e perguntou.
— Estava conversando sobre o que une o Brasileiro.
João sorriu, estava finalmente na discussão de enredo e fala.
— O que torna um Brasileiro ele esteja no Rio Grande ou no
Amapá, em New York ou em Bruxelas, em Tóquio ou Sidney, a lín-
gua, e não chamaria de Português, pois Angolanos nos entendem,
mas não falam como nós, os Português entendem, mas sabemos
que não são Brasileiros, então o que nos une, a língua, a cultura que
é nossa, seja ela vinda de influencia inglesa, como o Uai, dos Minei-
ros, seja ela vinda de influencia Castelhana, como o Tche dos gaú-
chos, seja no linguajar nortista, paulistano, carioca, baiano, nós sa-
bemos quem é Brasileiro, pela língua, pelos termos, pela forma de
se portar.
— O seu carro não parece dizer isto? – Silvino.
— Me pediram um carro especifico Silvino, provavelmente
podemos transferir abrangências, mas meu carro fica pronto dia 20
de fevereiro do ano que vem, se me permitirem acabar.
— E tocaria a ideia por onde Silvino? – Sergio.
— Nem ideia, disto que todos falam, não é um enredo, é uma
frase.
— E você João, por onde levaria o enredo.
— Eu mudaria o nome, primeiro, segundo, fez este ano, 100
anos da morte de Olavo Bilac, e ele sempre dizia, “ Por ser minha
terra que sou Rico, por ser minha gente que sou Nobre”.
Sergio olhou Franco, sabia que ele não anotava nada, mas
sempre estava ouvindo.
— Vou falar com os autores do samba, algo mais alguma
ideia. – Franco olhando João.
— Deixar claro, o enredo seria critico, ao meu ver, mas eu Iria
de, é apenas uma sugestão, “De Bilac, por ser minha terra que sou
Rico, por ser minha gente que sou nobre, a Millôr, Brasil do Faturo.
Um povo de Garra, fibra, Brasileiros”
114
Sergio anotou e Nuno falou.
— E como acabamos o enredo, este é meu mistério, me de-
ram um carro que não sei o que por.
— Acho que esta ideia de dispor um carro por pessoa pode
ser legal, mas as vezes preciso de ideias, e parece que todos tem
medo de a expor sobre meu carro, mas eu como falei, faria um car-
ro giratório, onde os brasileiros estariam em Buenos Aires, Paris,
Londres, Shangai, e continuariam Brasileiros, unidos por aquilo que
somente Brasileiro sabe, falar este dialeto que tememos dizer não
ser o da pátria mãe, mas eles não usam termos Tupi, não usam ter-
mos Africanos, nós absorvemos parte de tudo e desenvolvemos o
nosso dialeto. – João viu que todos o olhavam – Acho que quando
escolhi dois nomes, muitos dirão, não tem nada haver um com o
outro, sim, é verdade, mas Bilac era em si a contradição, alguém
que defendia o alistamento obrigatório, os valores militares, mas
que presava, o pensar, preso pelos militares por ser contra o golpe
de Floriano Peixoto, é o autor do Hino da Bandeira, aquele “Salve,
lindo pendão da esperança, Salve, símbolo augusto da paz. Tua no-
bre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz...” então ele
é o adorar do pais como nação, é o valorizar da ordem, do naciona-
lismo, e por outro lado, sem barreiras para pensar, já Millôr Fernan-
des, que atuou uma vida, em prol do pensamento, sempre dizia que
Pensador não tem ideologia, religião, pensador é pensador, que
limites religioso e ideológico, são cabrestos para os pensadores.
— E como uniríamos isto?
— Pensa em uma cronologia humana e temporal, saindo de
Bilac e chegando aos dias de hoje, humana na tomada da nação nos
últimos 150 anos, na distribuição dos Brasileiros pelo mundo, nos
últimos 50 anos, pensa num fato Sergio, a 100 anos, não éramos
uma nação, metade do Paraná nem era colonizado, mas entre lá e
aqui, chegamos a ter colônias Brasileiras em quase todo país que se
permite ter migração, e lá ou aqui, somos brasileiros, uma nação de
muitas raças, que tem de erguer sua própria historia, e historia, se
levanta aos poucos, não adianta eu forçar em todas as vertentes,
que ninguém vai entender.
— Teríamos de conversar sobre a cronologia.

115
— Sim, o que não temos hoje, é a cronologia, eu com certeza
usaria trechos do hino da Bandeira no nosso samba enredo, eu usa-
ria parte dos escritos sobre autorização da família, de Millôr Fer-
nandes, e ele é um personagem, daqueles que precisamos somar na
historia do Brasil, alguém que nasce Milton, mas nossos cartórios já
foram pior do hoje, e quando ele olha a certidão de nascimento,
adota Millôr Fernandes, pois a grafia estava mais para Millôr, a his-
toria em si dele, de garra, de alguém que mesmo homenageado não
compareceu ao desfile, ele não era de aparecer, ele é o brasileiro,
que cria, mas deixa o estrelato para os demais.
— Vou ter de ler, tem alguma ideia de por onde começar? –
Sergio.
— Na minha mesa ao lado, tem todas as obras de Bilac e Fer-
nandes, eu estava lendo eles enquanto pensava no carnaval.
Nuno anotou e Franco olha os demais.
— Acham que conseguimos evoluir?
Silvino sorriu e falou.
— Querem mesmo que crie o maior abre alas da historia da
escola?
— Porque não. – Franco.
Todos sorriram e João saiu, Nuno chega a Sergio e pergunta.
— Acha que vale a mudança?
— Vou estudar, pois é um cronológico, podendo fazer uma
homenagem aos Brasileiros lidos lá fora, cultuados, mas que para
isto, tem de abandonar a língua natal, mas vou começar a repensar,
vou passar um recado para os compositores, e vamos pensar juntos
no que podemos mudar. Olavo Bilac é um dos fundadores da Aca-
demia de Letras, preso por ser contra o golpe milita que chamamos
nos livros de historia de Proclamação da Republica, Millôr é Millôr,
mas tenho de verificar com os detentores dos direitos se podemos
citar.
— E acha que os carros vão ser liberados?
— A ideia de mostrar um, é para eles pensarem que vai ser o
nosso abre alas, o permitir agora, faz todos olharem o carro do ra-
paz, enquanto criamos o resto.
Nuno anota e fala.
— Vou pensar no carro e lhe passo a ideia.
116
Franco olha para Nuno e pergunta.
— Lhe propuseram sair?
— Acho que propuseram para todos os grandes, nas escolas
coirmãs, mas como Alemão falou para o Silvino, sai daqui da criação
de um carro alegórico para construir um tripé, se chegar a isto, na
outra escola.
— Acha que o enredo começa a se materializar.
— Acho que ele deu algumas ideias, vamos ter realmente de
pensar e falar sobre isto, se definirmos os 6 carros, fica fácil definir
as alas intermediarias.
Sergio olha para Franco e senta-se a mesa ao fundo, Franco
viu que Sergio estava pensativo e chega a ele.
— Fala Sergio.
— É estranho como as vezes escolhemos a esmo, e achamos
um rapaz bom em ferragem, com coragem, econômico, e com uma
cultura que as vezes apenas vejo disfarçarem por ai.
— Acha que conseguimos finalmente fechar o enredo?
— Vamos fechar, mas segura o pessoal do samba enredo, po-
demos segurar ele para o fim do mês que vem, adia as previas de
apresentação e final em outubro, ainda assim acredito que teremos
o samba antes da maioria, mas é que a comissão de frente geral-
mente tem sido feita depois do samba.
Franco olha para Sergio.
— O que acha de usar parte da letra do hino da bandeira?
— Ser sincero, tenho de ouvir ele, não lembro Franco.
Franco sorriu e fala.
— Ele realmente veio para agitar.
João no fim daquele dia cansativo, lava algumas paredes com
jato de areia, na pensão, e era perto da meia noite quando ele co-
meça refazer os tubos de instalação.
Cansado perto das duas, quando esfriava um pouco, ele con-
seguia dormir melhor.

117
18 dias depois, uma comis-
são da LIESA visita a instalação, e
aprovam o uso de carros como
aqueles, como não acoplados, e o
presidente da LIESA pergunta para
Sergio.
— Soube que tiveram pro-
blemas com o enredo inicial. –
Magalhães.
— Mudamos o enredo, as vezes uma frase fica bonita, mas
não gera algo a contar, então mudamos, mas estamos começando a
fechar a ideia apenas agora.
— Soube que seguraram até o samba.
— Sim, tudo está atrasado, acha que podemos ter alegorias
que se abaixam para passar pela área da torre de TV, pois este ano
temos pouco ainda, mas alguém leu aqueles 11 metros e ficou pre-
ocupado.
— Se o bombeiro liberar, vou deixar um adendo de que a in-
terpretação é nas regiões anteriores a armação e posteriores a dis-
persão, com cuidado junto a torre de transmissão.
— Assim ficamos mais tranquilos Presidente.
— E pelo jeito estão mesmo com tudo parado?
— Sim, mas vamos tentar recuperar o tempo perdido.
— Os bombeiros falaram que vão estudar a proposta de vo-
cês, soube que executaram ela, e agora precisam de uma vistoria.
— Quem fez o projeto daquele barracão foi a prefeitura, não
fomos nós, mudamos e reforçamos toda a fiação, colocamos siste-
mas contra incêndio, eu espero nunca precisar usar eles, encharca-
riam as alegorias, mas pior é perder tudo.
— Alguns acusaram seu novo construtor de carros pelo in-
cêndio.
— O Corpo de Bombeiros constatou que não foi ele Presiden-
te, não entendemos como aconteceu, mas as vezes vemos a pregui-

118
ça dos bombeiros de estudar algo que melhoraria até nossa segu-
rança.
— Existem os bons bombeiros, mas existem sempre aqueles
indicados da corporação.
— Verdade, não podemos generalizar, mas se teremos estes
dois ofícios, fico mais tranquilo.
— Não entendi a preocupação.
— Esse carro pode chegar a 13 metros, e não gostaria de per-
der ponto por um pequeno detalhe presidente.
O senhor viu tudo meio parado, o fundo, onde tinha a passa-
gem para o outro barracão estava coberta com um pano, não dando
visibilidade do que havia ali.
Pareciam curiosos, tentando ver algo, mas parecia tudo para-
do e isto talvez não combinasse com apenas aquele carro ali, para-
do, embora ele com as calhas e elevadores baixados, não se diria o
tamanho.
O presidente da LIESA fez registrarem o tipo de ligação, e o
rapaz confirma que era tudo de fabrica, os chassis já vinham ampli-
ados, e com sistema que lhes permitia fazer uma curva de até 110
graus.
Eles registraram o pedido, mas o brilho daquela pintura au-
tomotiva fazia eles olharem mesmo que inconscientemente para o
carro, acostumados a carros que precisavam de muita luz para bri-
lhar a mesma coisa.
O técnico perguntou sobre as fiações, sobre as estruturas ex-
tras, o rapaz da Direção Artística do Desfile mediu o carro consta-
tando que ele estava nas especificações da rua.
Sergio viu as determinações e confirmou com todos que po-
deriam começar a montar as estruturas. Se afasta para sua mesa,
pensa no que precisava, Sergio as vezes não se ligava nesta coisa de
desfile oculto. Ele termina o primeiro esquema de desfile e coloca a
parede.

119
Muitos chegam perto e Sergio olha para a costureira chegar
perto.
— Definiu.
— 3 Dias e terá todas as roupas da comunidade já desenha-
das.
— E as comerciais?
— Em 8 dias.
— Pelo jeito agora saiu o enredo de uma vez. – Sueli, a costu-
reira.
— Sim, agora parece que finalmente teremos um desfile, e
muitos vão se perguntar porque ele, mas gostei do formato final,
uma homenagem aos 100 anos da morte de um escritor Brasileiro,
absorvendo as criticas de Olavo ao Brasil das diferenças, e as esco-
lhas, que nos tornam um povo forte, mas que ainda tem de decidir
se quer seu lugar no planeta.
— Acha que a cidade do Samba demora muito?
— Acho que estamos entre os dois pontos e no fundo acaba-
mos em nenhum.
Sergio olha pra João chegar e pergunta.
— Eles permitiram? – Olhando que os rapazes ainda estavam
ali ao fundo.
O pessoal ainda olhava o barracão, e Sergio faz sinal que sim,
e o rapaz da LIGA chega perto.
— Acha necessário algo tão grande? – Magalhães, o presiden-
te.

120
João não entrou na provocação, mas vendo o quadro do es-
quema de desfile ao fundo, mesmo não sendo o definitivo, entrou
de cabeça no afastar dos rapazes da mesa de Sergio, olha para o
senhor.
— Temos autorização de usar as calhas erguidas?
— Sim.
— Sei que ajustamos as laterais para 8 metros de largura e 4
metros pelo barracão que estamos, mas quer ver a ideia?
O senhor olha desconfiado e fala.
— Sim.
João, olha Jota ao fundo e fala.
— As calhas estão soldadas Jota?
— Sim.
Olha para Rogerio.
— Roger, os sistemas elétricos estão ligados?
— Sim Alemão.
Olhou para Moura ao fundo.
— Mourinho, os adereços estão fixados?
— Sim.
João chega ao fundo da alegoria, e pega um comando, estava
tudo rebaixado, ele aciona as laterais e o que era oito metros vai a
12 de largura, e as calhas da primeira divisão sobem dos 4 para os
sete metros, o tamborim se projeta a frente da alegoria, quando
fixa, a parte dois vai dos sete aos 10 metros, as laterais iam subindo
junto, as sobre as divisões foram subindo detalhes de construções
vazadas, João sentiu o travar da parte três e a parte central e trasei-
ra vai dos 10 aos treze metros, e por fim, a parte numero quatro vai
aos 16 metros de altura.
O presidente da LIESA olha o carro e fala.
— Vocês já acabaram o primeiro?
João olha o senhor e fala.
— Infelizmente os acabamentos vão até Fevereiro.
O senhor que estava tentando olhar o que Sergio colocou a
parede, se distraiu e se esquece, João faz sinal para Paulinho cobrir
e Sergio entendeu, tinha muita gente da LIESA ali ainda.
Nuno olha a estrutura do carro numero 3 da escola e sorri.

121
— E todos falam que este carro iria ficar feio, mesmo que ele
não coloque metade dos acabamentos até o final, metade das luzes,
já chamaria a atenção.
O senhor Magalhães olha para Sergio e fala.
— Entendi, a cereja do bolo precisava das duas autorizações,
realmente um carro que precisa ir para a avenida com a certeza de
que não prejudica a escola.
— Infelizmente o único que conseguimos materializar até
agora, as ideias parecem vazias demais, vamos pelo jeito ficar em
um carnaval que não gosto, mesmice. – Sergio.
— Soube que o que pensaram como enredo não parece ter
dado certo.
O senhor olha os detalhes, entendeu que não estava pronto,
tinha locais que não havia nada ainda, mas a dinâmica do carro era
encantadora.
Pensar que as esculturas do pandeiro nem estavam lá, toda a
dinâmica de esculturas no fundo, não estavam postas, algumas já
estavam até feitas, mas realmente, pronto somente no dia.
João começa a devolver ao ponto inicial e o senhor olha aque-
le carro voltar aos 4 metros, o que era um carro imenso, virar algo
que os detalhes externos chamavam a atenção, mas realmente não
se diria o que era aquela alegoria antes de erguida e montada.
Magalhães para olhando o barracão na saída e fala com o as-
sessor.
— A dinâmica que eles usaram no carro, passa tranquilo até o
local.
— É nítida a diferença, aquilo é um chassi único e que em
momento algum vai ser desacoplado, mas entendo eles em pergun-
tar, se não fazemos o laudo permitindo, algum jurado tira um deci-
mo e tudo desanda.
— Mas viu o desanimo geral.
— Dois rapazes mais criativos pularam fora, eles devem estar
tentando bolar um enredo que abrace o terceiro carro, isto que
complica eles.
Magalhães entra no carro e vão no sentido do centro.

122
Era fim de setembro, do-
mingo, quando João olha o caseiro
do terreno na região de Santa
Cruz, e ouve.
— As vezes tenho medo
deste terreno senhor João.
— Problemas com os vizi-
nhos?
— Não sei se os vizinhos, mas as vezes a luz nos lagos que es-
tamos criando, dão paz, as vezes, uma sensação de arrepiar, parece
que tem almas por todos os lados.
João não entende, mas via que no outro lado do rio, alguém
parecia ter tido a mesma ideia que ele, construir tanques para pro-
dução, e pergunta.
— Não sei como está a venda de areia?
— A empresa ali da frente comprou todo ele, disse que re-
venderia aos poucos, mas eles tem vindo todo dia perguntar quan-
do o dono deste trecho estaria por aqui.
— Problemas?
— Gente de dinheiro, dizem que é de um bicheiro que mora
na Avenida Brasil.
— E o que querem com meu terreninho?
— Isto não é um terreninho. – O senhor Kevin.
— Certo, mas como estão as criações?
— Devem começar a produzir em 5 meses, vamos estar ven-
dendo areia para eles pelo menos por 2 anos, quando terminarmos
de abrir todos os tanques de criação.
— O pessoal veio liberar a produção?
— Ainda não tem material para analise de liberação sanitária,
mas liberação de produção temos.
João estava olhando a sede da casa, simples, quando um gru-
po bate a porta e João viu Kevin sair.
— Me disseram que o proprietário está ai.
— Sim. – Fala Kevin.
123
João sai pela porta e olha a segurança, gente armada, em
uma criação de camarão era estranho, ainda mais pois era algo sim-
ples e sem toda estrutura, roubar coisas ali, era roubar buracos
escavados e que ainda estavam em fase de crescimento inicial.
João olha para o a frente e fala.
— Sou o proprietário, algum problema?
— A proprietária ao lado queria fazer uma proposta de com-
pra pelo terreno.
— Não está a venda rapaz, é apenas um investimento a longo
prazo.
O senhor olhou para traz e João ouviu uma voz feminina, jo-
vem enquanto a menina saia das costas dos seguranças.
— Não vai ouvir nem a proposta?
João parou naquele olhar, já a vira, como se diz em Curitiba,
ele era péssimo fisionomista, mas aquele olhar ele sabia onde tinha
visto.
— Se quer fazer. – João.
Paulinho, o segurança da menina olha em volta, Kevin olha
em volta e João tenta não demonstrar surpresa, mas quase olhou
em volta, pois a volta, se erguiam muitos seres, translúcidos, e que
pareciam agressivos, mas os olhos estavam na menina.
— Dizem que você está se metendo onde não deve, e vim fa-
zer uma proposta de compra, para não dizerem que não tentei tirar
você daqui, enquanto está vivo.
A menina sorriu e João perguntou.
— Você que é dona dos tanques do lado de lá do rio?
— Sim, sabe quem sou?
— Se me perguntassem quem era, não saberia, mas sei que já
a vi, dizem ser uma disfunção, não gravo rostos, mas as vezes olha-
res sobrevivem.
— Não respondeu.
— Você é filha de quem paga meu salário, já a vi no antigo
barracão, mas não sabia que você tocava uma criação e que tinha
seguranças, as vezes sou meio desligado dos que estão a volta, mas
se quer dar um valor, eu investi para ganhar aos poucos, não tudo
de cara.
— E não tem medo desses a volta?
124
João olha em volta, talvez a forma de que fora criado, o fizes-
se encarar aquilo diferente, mas estranha eles não olharem para ele
agressivo, mas para os demais.
— Vivencias, nem são Egungun, nada que faça mal a alguém.
— Não entende disto mesmo. – Micaela a menina que tinha
15 anos agora.
— Eles não me tem mal, acredito que não carrego pesos para
que minha vida tenha ate continuidade após esta existência, alguns
acreditam em Deus, acho muito cômodo guardar as coisas boas
para a próxima parte da vida, se querem ser bons, que sejam nesta
vida, se querem ser maus, nesta vida, o posterior, me parece um
caminho que inevitavelmente saberei as regras, apenas quando
estiver lá, e como regra, provavelmente todos nós estaremos lá.
— E porque um construtor de carro alegórico, resolve criar
camarão?
— Porque gosto do preço e sou alérgico a camarão, então te-
rei de vender de qualquer forma.
— E se propor uma parceria?
— Teria de saber, sou o pobre na parceria, não o rico.
— Pobres não tem um terreno deste.
— Não me considero rico.
— Soube que estão extraindo areia, a pergunta, vai extrair no
terreno inteiro?
— Nos meus cálculos, cabem 869 tanques de 50 por 50 neste
terreno, e mais área de barracões para limpeza e congelamento dos
mesmos.
— Vai querer vender quanto de camarão?
— Gosto de algo que funcione, quando em 6 meses, come-
çarmos a tirar camarão, todo dia vai sair camarão, então se alguém
quiser camarão fresco, teremos, se alguém quiser congelado, tere-
mos, se quiser salgado, também teremos.
— Está falando em uma fabrica de camarão, todo dia saindo
um pouco? – Micaela.
— Sim.
— E vai implementar isto em 6 meses?
— Sim.

125
— Pensei que era apenas um montador de carros, não um
empresário, mas se vai investir como produtivo, e os seres a volta
não lhe põem medo, vou ficar mais tranquila.
— Desistiu da proposta?
— A maioria tem medo de mim rapaz, pode não saber, mas é
bom ver gente conversando sem medo.
— E porque teriam medo de você?
— Digamos que não sou boazinha.
Joao não sabia o nome dela e fala.
— Então, para ficar claro, meu nome é João Mayer, na Beija
Flor me conhecem como Alemão Louco, e você menina?
Ela sorri, Paulinho ao fundo entendeu, o rapaz era um dos ra-
pazes da comissão de carnaval do ano, e Micaela fala.
— Micaela David.
— Precisando de camarão da Malásia, vai ser a especialidade
deste criadouro, ainda começando, mas como meu administrador e
caseiro fala, é um projeto feito nas cochas, então deve demorar
mais do que 6 meses para ficar pronto.
Ela sorri, Kevin estava assustado, mas ficou mais assustado
quando viu a menina puxar para ela os braços e os seres a toda vol-
ta, ou boa parte deles, os visíveis, foram para dentro dela.
Paulinho a conduziu para fora e João olha para Kevin.
— Disto que falava?
— Sim.
— Relata se continuar, acho que era apenas para lhe impres-
sionar, não leve a serio.
— Não teme aquilo?
— Temo, mas não entendi, ela que toca isto ou o pai?
— Eles chamam esta menina de protegida dos anjos, alguns
falam que ela comprou terras acima do rio e foi extraindo areia e
criando tanques para criação como você está fazendo.
Paulinho olha a menina e pergunta.
— Conhece o rapaz?
— Não, mas foi nele que colocaram a culpa do incêndio.
— Certo, mas como ele comprou o terreno?

126
— Bobeei, estava tentando ganhar tempo para o rapaz redu-
zir mais o preço, tinha descido duas vezes já, e este rapaz surge e
compra.
Paulinho deixa Micaela em casa e seu pai, Roberto, a olha.
— Aprontando?
— Não, como vai ser o enredo deste ano pai, vai ter meu lu-
gar no carro abre alas?
— Sabe que sua mãe vai a frente.
— Mas vai ou não ter?
— Nem que tenha de fazer um adendo para por minha prin-
cesa.
— Adendo? Quem está construindo este ano?
— Foi uma confusão tão grande que somente agora vamos
acelerar a montagem.
— Contratou principiantes pai? – Micaela olhando para o pai.
— Você parece ter colocado os olhos no mais principiante,
você o vê onde ninguém vê.
— Está falando daquele João?
O olhar de Roberto foi de desconfiança e pergunta.
— O que tem aprontado filha, todos o chamam de outra for-
ma.
— Alemão Louco?
— Sim, mas o que fez?
— Eu nada, fiquei me enrolando para comprar um terreno em
Santa Cruz, chego para verificar se o novo dono não tem interesse
em vender e me deparo com quem? O montador de carro alegórico
do meu pai.
— Ele comprou um terreno que queria, comprou dele?
— Deixa ele gastar lá e depois que falir eu compro.
— Falir?
— Ele quer vender camarão criado em tanques pai, mas ele
não tem dinheiro para investir, tá me vendendo areia, sei que estou
ganhando mais com a areia dele do que ele, e ele está fazendo os
tanques, sei lá, não parece profissional.
Roberto olha para a filha olhando para fora.
— Quer que o mande embora?

127
— Não pai, quero que ele tente mostrar seu valor, quanto
mais ele investir, menos eu terei de investir no terreno quando
comprar dele.
— Benfeitorias somam em terrenos.
— Sei disto, mas ele usou o mesmo recurso que eu pai, se
deixar o terreno plano e limpo, invadem, então enchemos de bura-
cos.
— E como estão as vendas de camarão?
— Acho que começa a ficar redondo, principalmente porque
aquele outro Alemão, da mesma cidade deste, resolveu parar de
tentar nos prejudicar.
— Sua implicância me deixa receoso.
— Pai, quantos rapazes você contratou nos últimos anos?
— A maioria que está no mercado carnavalesco já passou pe-
la nossa escola.
— Mas são poucos que defendem a vida fora disto, ou estou
errada?
— Alguns até defendem, mas na maioria investidores do car-
naval, não funcionários do carnaval.
— Acha que este vai virar investidor?
— Ele deu uma ideia complexa, o enredo que todos falam,
Brasileiro, povo de Garra, virou algo mais complexo, mas ao mesmo
tempo, o mesmo, pois vamos contar o cronológico, por região, o
belo e libertador por Bilac, o contestador e independente por Mil-
lôr, unificador pela língua, e pelos cultos e festas, a diversificação.
— A ideia não era do Pedro?
— Ele deu o titulo anterior, não a ideia, ele parecia não que-
rer fechar uma ideia, a pouco puxamos o rapaz para a comissão, os
carros começaram a ser bolados, agora teremos um samba que
pode ser que dê certo, tem um que está estourando na quadra.
— O que usa aquele “Recebe o afeto que se encerra em nos-
so peito Juvenil, querido símbolo da terra, da amada terra do Bra-
sil.” Como refrão eu gostei.
— Sim, este que está estourado, a ideia de por o refrão de um
hino criado por Olavo Bilac no samba veio dele, quando um dos
grupos apresentou a ideia, parecia que todos os demais se pergun-

128
taram porque não fiz isto, é uma frase que já está no inconsciente
das pessoas, então estamos trazendo ao consciente.
— E pelo jeito os demais toparam.
— Teve gente que tirou o samba da disputa, o mestre Ro-
dney, falou que se este ganhar, ele ensaia a bateria para fazer o
esquenta com o hino da Bandeira, puxado pelo neguinho na entrada
da Marques, antes do desfile.
— Algo para chamar a atenção.
— Sim, algo para diferenciar, mas Franco está confirmando a
presença de pessoas que trabalharam com Millôr, como Fernanda
Montenegro, nomes que alguns já esqueceram, mas que estão na
historia do país real, não este de faz de conta da política, nomes dos
últimos 70 anos de futebol, começa a ficar complicado o esquema
de montagem da escola.
— Parece que finalmente se entenderam no barracão.
— Filha, a proposta deste ano, é arriscada, mas é para ser lin-
da.
— E pelo jeito o que todos falam que estamos todos perdi-
dos, sem estrutura, é uma mentira.
Roberto sorriu.

129
Franco chega na sede da
Beija Flor na cidade do Samba,
olha os rapazes do corpo de bom-
beiro, eles vistoriam, e um deles
pergunta sobre os sistemas de
incêndio.
Franco sobe com o rapaz na
estrutura erguida sobre o telhado,
e fala.
— Uma caixa de 20 mil litros, para acionar os sistemas auto-
máticos, baseados em pistões, mesmo sem luz eles sentem o calor e
acionam.
O bombeiro registrou, olhou o telhado.
Desce e outro fala.
— Fiação toda nova, externa as paredes, permitindo a visuali-
zação e troca mais fácil dos fios.
O rapaz olha para a parede ao fundo e pergunta.
— Precisava de uma estrutura tão reforçada?
— Temos um espaço para pintura agora isolado, e ao lado de
fora, espaço para o gás dos maçaricos, então reforçamos tudo ex-
terna e internamente.
O bombeiro olha para as especificações e fala.
— Estão todas de acordo, vamos dar o ok para a prefeitura li-
berar o funcionamento de vocês.
Franco olha para o barracão da maioria delas todos funcio-
nando e aquela aparente calma, era realmente assustadora.
Sergio olha para Franco.
— Eles vão demorar mais quanto?
— No máximo uma semana, mas sei que é tedioso ficar neste
meio de caminho.
Sergio olha para fora e fala.
— As vezes este encenação não me agrada.
— Sei disto, mas é como o Paulo Barros fala, tudo em segredo
e nada secreto. Acha que estamos no caminho? – Franco.
130
— Sabe que estamos acelerando, mas como está o agito na
quadra?
— Agito geral, não sei como vai ser este ano, mas daqui a
pouco vai ser impossível esconder as coisas. – Franco.
Sergio sorriu.
João olha para os rapazes e fala.
— Começa a desmontar o carro, para ser conduzido para a
Cidade do Samba, vai a alegoria 3 e todas as esculturas dela e o abre
alas, com todas as suas alegorias.
Jota chega ao lado e pergunta.
— Quer fazer o que lá com isto?
— Deixa espalhado, as estruturas estão prontas, mas se tirar
cada andar de cima do carro e dispor ao piso, vão ter a sensação de
que estamos trabalhando pesado lá.
— Não quer que não vejam, e sim, que não atrapalhem.
— Vamos começar a definir cada andamento dos carros, eles
precisam ser feitos, e ordenadamente, isto é entre nós, 90% dos
carros vamos terminar até Dezembro.
— Acha que conseguimos? – Silvino.
— Sim, mas a maioria nem precisa saber disto.
— E as demais coisas?
— Silvino, pensa, eu posso terminar 90% do carro, mas o en-
saio, ganha tempo de treino, os controles, tempo de teste, vamos
fazer dar certo, ensaiar, fazer as coisas acontecerem na ordem que
queremos.
— Certo, fazer tudo dar certo é o segredo, não o carro em si.
— As pessoas verão o carro como é apenas no dia, pois al-
guém que entrar neste barracão pode ver um imenso carro, mas
não terá como dizer todas as peripécias que ele faz. Mas a saída
daqui dos demais, permite construirmos as grandes esculturas do
carro 4, ainda temos de estruturar o 5 e 6, estão meio atrasados na
base.
Silvino olha para os carros e fala.
— Você sabe coordenar um barracão Alemão, não posso ne-
gar isto, sei que estamos atrasados, mas para quem a um mês não
tinha nada do abre alas, do carro da comissão de frente, do projeto
do carro 2 e 4, agora eles já estão tomando forma.
131
João olha Silvino e fala.
— Presta bem a atenção no carro abre alas, ele pode ser nos-
sa carta de boas vindas, ou de péssimas vindas.
— Apostas altas fazem isto, mas o esquema de desfile está
começando a tomar forma. – Silvino.
Nuno entra na sala e fala.
— As 14 homenagens a poetas e escritores brasileiros, está
dando trabalho para executar, ainda mais pois tudo baseado em
calhas de movimento, para passarmos pela avenida erguidos e abai-
xados metros antes pelo viaduto.
João olhou Nuno.
— Precisando de auxilio pede, sei que estou tentando ajudar
de todos os lados, mas não terminei o projeto do carro 6 ainda.
— Acha que a ideia trocamos ontem, parece que você está a
fim de estruturar tudo antes de erguer os detalhes.
— Alegorias que dependem muito de iluminação, espero que
realmente não entremos na avenida de dia, de forma alguma.
— Acha que não teria o mesmo efeito? – Nuno.
— Se fosse para desfile de dia, pintaria as bases dos carros
com a cor da pista, não de preto.
— Certo, mas para quem nunca havia visto seu trabalho, Sil-
vino tem razão, toca o barracão aqui com maestria.
João olha os rapazes e mudando de assunto fala.
— Já vamos levar desmontado, nem os rapazes viram com
todas as peças no lugar, eles acham que viram um carro, nós sabe-
mos que eles viram um terço de um carro, então vamos dispor de
todas as demais estruturas de andar a andar no barracão de lá e
começar a terminar, quando der para dizer, terminado, encostamos
no fundo e levamos o carro dois para lá e fazemos o mesmo, se
tivermos dois acabados lá mais o da comissão de frente, teremos
espaço para muita coisa aqui.
Os rapazes começam a desmontar as alegorias.

132
Uma semana depois, Pietro
olha para o barracão ao lado, e
fala.
— Eles não evoluíram nada
pelo jeito de lá para cá.
— Não vou me sentir culpa-
do por isto. – Pedro entrando.
— Pelo jeito eles definiram
o carro da comissão de frente, esta não existia ainda.
— Eles estão colocando muita coisa para dentro, coberto,
mas somente o chassi do carro do novato parece estar pronto.
— O enredo deles é complicado de por no papel, soube que
eles estão tentando uma vertente mais nacionalista.
Franco olha o dispor das partes do carro ali e pergunta para
Jota qual a ideia?
— Franco, vamos terminando as estruturas básicas lá, agora
vamos tentar fazer o acabamento dos 4 andares que tem o carro ao
fundo, montamos ele, colocamos ao fundo, cobrimos, deixamos
todas as luzes pré instaladas, e trazemos o segundo carro e come-
çamos fazer o mesmo.
— Pelo jeito vai ser corrido.
— Projeto de carros um atrás do outro, superior a media de
abra alas padrão, estabelece realmente uma corrida contra o tem-
po.
— Tenho de falar com aquele João, Roberto não gostou dele
ceder parte do espaço para a Alegria da Zona Sul.
— Franco, ele não cedeu, ele parece querer ajudar quem está
bem por baixo, mas dá para entender que as escolas de samba,
deveriam ter crescido em estrutura, própria, não apenas da prefei-
tura, as vezes acomodamos no ponto mais acima, e dispensamos as
estruturas, não sei a ideia dele, mas com certeza não é dispor de
nada que nos complique.
— As vezes ele coloca receio em todos, não entendi a ideia
dele ainda, mas todos os carros estão ficando gigantes.
133
— Se as pessoas estavam pensando no carro dele destaque
por ser gigante, realmente todos os demais estão tomando o mes-
mo tamanho Franco, mas ele tem o dom, ele estava pintando a base
do carro dos ritmos, ele tem uma base imensa, que suporta pessoas
a toda volta, mas com a ideia é dar destaque as pessoas, toda a
base do carro foi pintada de preto, quando eles fixaram a estrutura
do que será a escultura de um teclado no cento do carro, aquilo
parece flutuar olhando de longe. O tambor, o chocalho e a Cuíca
parecem flutuar, e nem estão com a iluminação.
— Pelo jeito ele vai querer fazer historia.
— Ele é comprometido Franco, poucas vezes vi alguém tocar
um barracão com o objetivo de desfile a mente, não os seus brios
pessoais, por sinal ele está dando o carro dele a tapa enquanto dá
espaço para os demais.
— Uma aposta que parecia cara está resolvendo este ano, ca-
ra para o que se propôs a fazer inicialmente, barata se comparado
ao que ele está nos oferecendo.
— Como está o prospecto do desfile Franco?
— Estamos definindo as ultimas alas, duvidas ainda na fanta-
sia da bateria.
— Algum empecilho?
— Não, é que a ideia de sair com a bateria como a bandeira
em evolução parece maluca.
— Não entendi. – Jota.
— Ideias malucas este ano estão aos montes, mas ela recua
no primeiro recuo com uma bandeira, ele sai do recuo e avança até
o segundo, onde tem o soltar do primeiro modificador de fantasia,
mudando o brasão da bandeira, com está vão até o segundo recuo,
quando vão sair do segundo recuo, eles acionam a terceira mudan-
ça, que é o ir para a bandeira atual.
— A bateria topou?
— Sim, mas o problema é executar a roupa.
— E porque a bandeira?
— Pois não afetaria o enredo, e está implícita do começo ao
fim do desfile.
João chega ao barracão e olha para Roberto lá.

134
Não estava com uma expressão boa, mas se via ele olhar o
montar da quinta estrutura de carro.
— Podemos conversar? – Roberto.
— Sim, vamos ao ponto oposto, aqui com o barulho de solda
e corte de metal, fica difícil. – João quase gritando.
Os dois chegam a ponta onde tinham as subdivisões e Rober-
to olha a parede os esquemas.

— Pelo jeito embora fofoquem sobre o ceder de espaço para


outras escolas, não parou aqui.
— Pensei que tivesse deixado claro que quero o máximo ocul-
to nosso carnaval.

135
— E o que tem isso haver com ocultar?
— Eles olharem o outro barracão, e verem outra escola lá,
não a nossa, embora estejamos lá.
Roberto olha desconfiado.
— Esta dizendo que os está usando como pano de fundo?
— Não, estou deixando eles no holofote, o esquema do bar-
racão hoje está exatamente este Roberto, ampliamos um pouco a
largura para dar espaço aos demais, mas o principal, para que os
funcionários entrassem pela lateral.

João mostra o esquema e fala.


— Olhando pela outra ponta, se vê apenas os carros da outra
escola, o que nos gera o espaço para criar nossas esculturas e nos-
sos acabamentos Roberto.
— E pelo jeito tomou o ferro velho aos poucos?
— Nada aos poucos, foram abocanhadas cada vez maior.
136
— Pensar que lhe chamam de maluco e nem viram o abre
alas deste ano.
— Loucos são assim Roberto, se der errado, Louco, se der cer-
to, gênio.
— Pelo que vi, nem se quisesse abrir o todo, ficaria visível,
tem carro bem escondido aqui dentro.
— Está acompanhando a ideia? – João.
— Acho que não ainda, geralmente dou tempo para os cons-
trutores não se sentirem pressionados.
— Mostro para o senhor.
Ele caminham até o carro dois, e João fala.
— A base negra, com luz negra por baixo, acima disto, um
branco perolado muito iluminado, dando ao chão a sensação de
voar sobre a Sapucai, sobre esse o expor de 14 contos dispostos,
sobre eles a cabeça estilizada do autor, e as mãos e pés segurando o
pergaminho a frente com o poema, no centro do carro, tem uma
estilização de construção, que vai da Oca até os prédios modernos,
uma evolução que avança, as estatuas vão estar todas deitadas a
frente para transporte, e de pé, estatuas de 10 metros, o centro do
carro tem janelas e portas que permitem quem está no carro evoluir
para os dois lados, mas teremos uma cronologia do indígena a fren-
te, o branco chegando, o negro trazido, e por fim os demais povos,
uma evolução que vai do quase nu, passando por quase todo vesti-
do, e voltando a algo mais hoje.
João caminhou para a segunda alegoria, e se tinha peças a
toda volta e falou.
— Vamos tentar montar esta alegoria até Dezembro, para ter
dois meses de ensaios sobre a estrutura, ainda não está pronta, mas
devemos terminar a parte estrutural e hidráulica este mês.
Passam pelo lado da alegoria e entram no barracão inicial, e
João fala.
— As estruturas estamos montando, dos dois que estamos
ainda idealizando, e começamos a montar as estatuas do carro qua-
tro, que representas o som, a musica, temos convidados para cada
uma das partes, de uma parte do país, quero representar os instru-
mentos e o povo que o toca, sobre os tamborins, representações de

137
jongo, catira, rituais de dança indígena, danças modernas, e samba
é claro.
Roberto chega perto, olha a base pintada de preto e fala.
— Me falaram que você tiraria a cara de quadrados com a tin-
ta, juro que duvidei.
— Tentando convencer os demais pela uniformidade plástica
da escola este ano.
— E pelo jeito todos vão trabalhar duro este ano.
— Estamos fazendo algumas roupas maiores, mas ainda é
ideia, Sergio quer que convença as costureiras a criar estas peças
intermediarias.
— Peças intermediarias?
— Alas de evolução, ele deu a ideia, como estamos avançan-
do o enredo em 5 temas, que exista pelo desfile, entre os carros,
um grupo de 50 fantasias, 10 de cada tipo, que determinem o cami-
nhar do tempo.
— Pelo jeito este carnaval vai ser custoso.
João acostumado a reclamações bem mais convictas sobre
dinheiro, até sorri sem graça.
— Ainda não entendi a ideia, mas é algo sobre Pedro ter pe-
dido um material que é mais propicio para fazer pelúcia, ou animais
de destaque, ele pensou em fantasias, eu estou ainda tentando
absorver a ideia.
— Pelo jeito os dois não pararam de criar ainda.
— Como falamos, fim de semana tem a primeira final do
Samba, teremos ideia dos caminhos da comissão de abertura, o
Mestre Rodney falou que eles pediram para seguir um compasso
firme e determinado, enquanto a escola era apresentada.
— Certo, o samba influencia o bailado da comissão de frente,
mas acha que conseguimos, desculpa a insegurança, mas lhe con-
tratei para fazer um carro, você quase tomou o enredo para você.
— Tentei fugir, lembra?
— Sim, para mim aquele momento era duvidoso, mas ainda
bem que não fiquei pensando, estaria pior agora, pois estou pen-
sando nos gastos, enquanto estaria correndo atrás de uma ideia.
João olhou o senhor e falou.

138
— Sei que todos ainda me olham com desconfiança, entendo,
eu estou a menos de 3 meses na cidade, e tem gente que já me
aponta a rua, não quero a fama.
— E em 3 meses já se posicionou tão drasticamente que mui-
tos estão lhe olhando ou com desconfiança ou admiração.
— Não entendo, eu entro em uma pensão, ou assumo ela ou
fico na rua, compro um terreno, me indicam fazer tanques junto a
rodovia para evitar invasões, um mês depois o próprio vizinho já
quer comprar de mim o terreno que estava lá abandonado a 10
anos, eu faço um carro alegórico, os demais no lugar de darem seu
melhor, param na visão incompleta e ficam nela.
Roberto sorri e fala.
— Soube que minha filha foi com os seguranças perguntar se
queria vender.
— Não entendi, sua filha toca aquilo, quantos anos tem a
menina?
— Fez 15, quando se fala de muita coisa nesta cidade, que
atribuem a mãe dela, ela que fez.
— Sabe que ela tem um problema a resolver senhor Roberto?
— Viu aqueles seres?
— Sim, estranho pois somente uma pessoa que conheço fala-
va da possibilidade que vi lá, ter vivencias de experiências doutros,
mas para quem não entende, pode a julgar por estas religiões que
pregam um Deus Amor, apenas aos deles.
Roberto não gostava de falar disto, mas a posição de João o
fez ouvir.
— Eu não entendo disto, então para mim, parece algo que
tenho de ajudar ela a sair.
— Senhor, todas as lendas, são baseadas em possibilidades
remotas, pois uma vez acontecido, as pessoas se posicionarem, mas
ela deveria esta evitando deixar isto claro, não por mim, mas pela
sociedade a volta, embora sei que poucos acreditam hoje.
— E vai vender para ela?
— Ela no fim não me fez uma proposta, se pagar o que inves-
ti, vendo, pois ainda preciso de uns 4 meses para ter algum retorno
naquele terreno, mas me alertaram que deveria verificar purificado-

139
res de água, tanto para a agua que vem do rio, quanto o que vem do
mar.
— Por quê?
— Refinarias as vezes deixam passar metais pesados, e o rio
vem de área humana de grande quantidade, podem existir parasitas
como a alga vermelha, que podem transformar uma produção intei-
ra em lixo, pois tanto metal pesado como com uma alga toxica, seria
jogar 6 meses no lixo.
— Entendo, e vai por filtros?
— Pensando ainda em dispor de um posso artesiano de pro-
fundidade alta, e me dedicar a camarão de agua doce.
— Menor valor de mercado.
— Sim, mas o que pretendo produzir é constância, diariamen-
te, por 365 dias por ano, ter um tanque sendo esvaziado.
— Uma produção industrial de camarão?
— Sim, mas para manter os tanques, primeiro estou erguen-
do o centro do terreno, com o próprio abrir dos buracos, plantando
uma espécie de palmito, que não morre com o corte e se usa a fruta
para culinária, a toda margem do rio, nas duas margens, após isto,
frutíferas, e por fim os tanques, na parte alta que esta se tornando o
centro do terreno.
— Querendo mesmo fazer algo caprichado.
— Tentando entender o que os demais querem em uma pou-
sada, e na parte voltada para a rodovia deixei uma área reservada,
mas como não tenho recurso, apenas planos para o futuro.
Roberto olha o rapaz e fala.
— E porque ajudar uma escola do grupo A?
— Roberto, eu sou um, mas eu não tenho ainda a certeza de
vocês me quererem aqui, eu faço carros alegóricos, pois eu gosto de
os fazer, alguns falam em profissão, para mim, prazer.
— Franco que lhe pôs para fora, falou que ainda bem que o
recolhi, pois ele esta encantado com este carnaval.
— Acho que este é o ponto, fazer um carnaval, todo ano, que
nos encante, depois nos preocupamos com os demais.
Roberto sorriu e perguntou.
— E vai pedir dinheiro?

140
— Roberto, eu vou entregar o que me propus entregar, qual-
quer adendo de dinheiro, é para a estrutura, não para mim.
— Vai continuar andando com aquela lata velha?
— Sim, ainda tudo que tenho são planos, eles podem dar er-
rado, mas não que dizer que não tente.
Roberto viu João apresentar a montagem dos dois carros a
mais.
Roberto olha para esculturas de animais e pergunta.
— Estas vão onde?
— A entrada do abre alas, é um conjunto de cenas, não sei se
entendeu qual a ideia?
— Acho confusa?
— Embora estejamos falando do maior carro alegórico já feito
na escola, estamos falando de apresentar a historia, e começamos
na pré historia.
João chega a uma parede e pega um dos prospectos e fala.
— Separamos por cor, as engrenagens básicas, pois caixotes e
pessoas, vão se apresentar nos pontos específicos, de acordo com a
cena que estivermos, então quando estamos na pré-história, os
macacos hidráulicos jogam para cima os roxos escuros. – Fala João
apontando um pequeno pedaço de plano.

Roberto olha aquela sequencia de correr.


— Os pontos rosa, são para destaques, a frente, sua esposa, a
direita sua filha, a esquerda Franco falou quem, não entendi.
— Certo, já definiram isto, mas e as cores, o que significa.
141
— Esta é a primeira parte, as cores agem ritmadas, então na
primeira teremos Mesosaurus brasiliensis, Paraphysornis brasilien-
sis, Gliptodonte, quando chegamos mais na era dos mamíferos,
teremos Mastodonte, Gliptodonte, Xenorinotério, Tigre-dentes-de-
sabre, Preguiça-gigante, depois teremos os indígenas locais, com as
cerâmicas milenares, e por fim, os colonizadores. Cada época, uma
placa frontal falando o período, as vegetações típicas também vão
subir, ao fundo, para cada parte uma representação seja de deserto,
seja de planície, seja de pântano, ou de floresta, então cada sena,
não tem uma escultura, tem no mínimo 8 delas.
Roberto olha o esquema e fala.
— E qual a representação de minha esposa?
— O ser encantado que desfralda a evolução.
— Pelo jeito quando me falam deste enredo, cada um parece
correndo atrás de uma parte?
— Estamos fazendo a parte hidráulica do carro inteiro, en-
quanto isto, temos mais de 50 aderecistas somente para este carro.
Roberto chega na parte baixa e olha que tudo é bem reforça-
do e fala.
— Pelo jeito não confia em coisas frágeis.
— Confio em coisas frágeis para suportar isopor, não gente.
— Certo, pelo jeito este carro é dos mais complexos?
— Todos são, apenas é trabalhoso e engenhoso, mas se tudo
der certo, não teremos problema.
— E todos estão olhando nesta hora o carro que foi ao barra-
cão.
— Roberto, quando terminarmos o quarto, vamos mandar
para lá, e vamos terminar os acabamentos e as instalações elétricas,
pelo menos 3 estruturas estarão lá, pois precisamos de espaço.
— Certo, eles verão algo, mas passei lá, parece que foi muito
para lá.
— O meu projeto de carro, é de 4 andares, se eu dispor a vol-
ta para os acabamentos finais, para se poder montar e embalar para
o carnaval, toma todo o espaço e mais um pouco.
Roberto sai dali olhando os carros e Nuno chega a João e per-
gunta.
— Calmos?
142
— Sim, ele veio reclamar de algo e saiu feliz, como está a
montagem?
— Tentando entender o todo.
— Sei que alguns não entendem porque estamos usando es-
truturas tão imensas.
— Entender nós entendemos, não pode alterar a flexibilidade
do carro, então o que é flexível é o todo sobre estruturas.
— Estamos usando armações novas, para não termos pro-
blema, mas obvio, vai sobrar ferro e armações para o ano seguinte.
— Se o carnavalesco não resolver crescer os carros.
— Pouco provável, mas é que o enredo este ano é imenso, e
cada calha que subir, é um estilo de construção, então teremos os
brasileiros no Japão, em Paris, em Toronto, favela da Rocinha, na
parte externa, New New York, com carros voadores, São Paulo Futu-
rista, e uma representação de um carro alegórico voador.
Nuno sorriu e falou.
— Sabe que estamos assinando, mas se me perguntarem, foi
você que teve a ideia.
— Odiei o enredo escolhido, mas como se diz, no que odia-
mos, nos superamos. – João serio.
Nuno olha para ele, achava que o enredo ficara ótimo e tinha
já o visual aéreo de como seria o carro.

— Olhando assim não se diz o tamanho.


— Se não estivéssemos diante de modelos clássicos, modelos
modernos, e tudo diante dos nossos olhos Nuno, até concordava.
— Um carro que vai encerrar o desfile, cada carro um desafio,
então teremos um dia de desfile nervoso.
— Sim, acho que desfiles calmos não ganham carnavais.

143
— Certo, vi que pensou nas calhas antes de qualquer coisa, o
prospecto que estão montando em acrílico ao fundo, poderia ser
um carro conceito.
— Quem sabe não vendemos esta ideia. – João.
— Não parece pesado hoje.
— Pensei que seria um dia horrível e está andando.
— Vai na quadra fim de semana?
— Somente no domingo, não gostaria de aparecer nestas ho-
ras.
— Problemas lá?
— Não, apenas acho que estão querendo que palpite e já pal-
pitei demais.
— Franco fica perguntando todo dia como está o carro abre
alas.
— Ele longe andamos mais rápido, então diz que está andan-
do, mas que são muitas esculturas e ambientes, então não é que
não está andando, é que somente na hora estará pronto.
— Não falou nada sobre o carro 5.
— Esgotei as ideias, e é o carro de Sergio.
— Eles ficam receosos, pois você calcula as vigas, não sei nem
se a conta está certa, mas quando colocamos no lugar, fica firme, já
vi engenheiro calcular isto e quando colocamos fica pênsil.
— Eles sabem o calculo, então sabem por o mínimo Nuno, eu
sei o calculo, mas não sou engenheiro, então calculamos como eles,
e multiplicamos por 2, eu não sou de ficar esperando muito, sei que
não é a forma de fazer.
— Depois os engenheiros olham os cálculos, sei que o Alberto
passou ontem e revisou toda a estrutura do abre alas, ele ficou im-
pressionado pela firmeza do carro.
— Imagino a tensão deles de assinar alguns carros.
— As vezes problemas acontecem, e sabemos que não po-
demos bobear.
— Nuno, cada um tem de estar no ponto determinado quan-
do for acionar os sistemas hidráulicos, não quero matar ninguém
que quer ser engraçadinho.
— Este medo sempre tenho, mas é bom saber que ensaiare-
mos nos carros.
144
— É tanto detalhe, que preciso saber se vai funcionar, não é
algo para funcionar uma vez, é pelo menos uma vez a cada 5 minu-
tos, por uma hora de desfile, quem ouve parece fácil, total apenas
de 12 repetições, mas qualquer coisas que pare, para tudo, ou uma
parte importante, quero um improviso programado se acontecer
em qualquer lugar.
— As vezes parece tenso quando fala de carros.
— Nuno, carro alegórico em Curitiba, tem 3 de comprimento,
4 de profundidade, e quando muito alto, 5 metros de altura.
— Certo, você encarou como desafio, mas e não sente falta?
João pensa se valia a resposta e fala.
— Talvez me arrependa depois, mas um convite, todos me
querendo longe, aproveitei e vim.
— E pelo jeito na penumbra vamos trabalhar enquanto todos
falam que não vamos conseguir.
João sorriu.

145
Sexta a noite e Marta para a
frente de João e pergunta.
— Vai me gelar agora?
João a olha aos olhos e fala.
— Perguntei se tinha certe-
za, se sabia que não era amor,
sabe disto Marta, mas se veste,
hoje quero estar longe da Beija
Flor.
— E vamos onde?
— Quem sabe você me apresenta esta tão famosa Estácio de
Sá, que você tanto fala.
Marta sorriu e perguntou.
— Me quer longe da Beija Flor, tem alguém lá?
— Um emprego, o que mais.
João subiu, trocou de roupa, colocou um sapato, uma camisa
de gola, a carteira no bolso e um sorriso no rosto.
Eles saem no sentido da Escola de Samba, para quem não sa-
bia onde era, soube que quando pensou na alegoria, passou a meia
quadra da esacola, pensando em passar ali o carro na saída da mar-
ques.
Entram e Marta fala.
— Eles ainda estão juntando dinheiro para o carnaval.
— Imagino, mas este Alemão tem um problema serio, ele não
sabe sambar, como alguém que quer fazer parte disto, pode não
saber dançar.
Marta sorriu e viu João pegar uma cerveja e dois copos de
plástico e sentaram em uma mesa ao fundo, Marta viu que João não
entendia do local e falou que aquelas mesas não eram para eles.
João estranhou e se levantou, encostou ao canto e ela ficou a
sua frente.
— Regras, não se senta nos lugares dos baluartes da escola.
— Comecei mal, mas ninguém senta?
— Eles vieram se divertir.
146
— Eles não subiram e desceram em 4 carros, soldando, pren-
dendo, ajeitando as coisas o dia inteiro.
— Está com cara de que não queria ter vindo.
Ele fica olhando o local e viu Diogo parar ao lado e falar.
— Alguém perdido por aqui também?
João olha o rapaz, um dos que fizera o samba que estava es-
tourando entre as pessoas, mas que Franco não gostava muito.
— Como esta as coisas para o fim de semana Rosa? – Cha-
mando pelo sobrenome, para provocar.
— Querendo confusão, mas está tudo ensaiado, somos o que
mais gostaram, mas Franco não gostou.
— Vou tentar passar lá no Domingo.
Diogo olha meio estranho para Marta, e fala.
— Sabe que Franco não gosta muito da sua ideia.
— Ele já tentou me por para correr, mas calma, apenas canta
lá, eu não sou voto suficiente para isto, e vou ter de me recusar a
votar, eles vão estranhar.
Diego sorri e fala.
— Eles não entenderam a ideia, mas dizem que estamos to-
dos num barco furado este ano.
— Um imenso barco. – João pensando nos carros alegóricos,
mas o rapaz não entendeu assim.
— E vão começar a trabalhar ou apenas ficar olhando en-
quanto nós fazemos o duro. – Diogo, ele olha serio e viu o riso no
rosto de João.
Um senhor chega a frente deles e fala.
— O que faz aqui Diogo, veio aprontar? – Hélio, presidente da
escola.
— Verificar as regras do samba, sabe que gosto de um desa-
fio.
— E não explicou para o seu amigo que não se senta nos ban-
cos dos baluartes da escola?
Diogo olha para João e fala.
— Perdi esta, teria sentado lá para bater um papo.
— Não teve graça menino.
— Sei que não, mas ele não é da cidade, não tem nada lá
afirmando isto, então não o culpem por isto.
147
O senhor olha para João e pergunta.
— Tem cara conhecida.
— Não acredito nisto, muitos falam mal de mim, mas me co-
nhecer, difícil.
— E quem seria que falam mal?
— O Alemão Maluco da Beija Flor.
Marta sorriu da forma que João falou, mas o senhor olha para
ele e pergunta.
— E veio espionar?
— Espionar, tá brincando senhor? – João serio.
— Sei que vocês sempre olham para os destaques de outras
escolas.
João olha Marta e fala.
— Talvez eu não esteja bom para festar hoje Marta, não foi
uma boa ideia.
João passa a garrafa para Diogo e fala.
— Bebe com calma, mas tô indo.
João passa o braço no de Marta e saem dali, o senhor olha o
rapaz saindo e fala.
— Este não parece bem.
— Você o colocou para fora senhor Hélio, não inventa, ele
não fica onde não querem ele, se é assim que vai arrecadar fundos
para a escola, tá mal.
— E o que ele pode fazer, é um montador de carros alegóri-
cos.
Diogo olha em volta e fala.
— Ele é daqueles que você tem de escolher, fala bem ou mal,
ele não deixa você no meio termo, mas sinal que o dia foi cansativo
no Barracão.
— Dizem que vocês perderam os cabeças da criação este ano,
não sei o que vão apresentar, mas todos estão esperando o fiasco
da Beija Flor.
— Não entendo o ódio, mas tudo bem, sei que somos arro-
gantes mesmo.
Diogo olha para os rapazes chegarem e Diego perguntar.
— Alemão disse que estaria por ai.
— Ele saiu, parecia cansado.
148
— Sabe se ele vai amanhã lá?
— Disse que vai no domingo, e que não vai votar.
— Ele é ético, então não esperava outra coisa, mas queria sa-
ber porque ele pediu as frases, parece que algo está oculto este
ano.
— Diego, todos falam que nosso carnaval estava sem nada,
eles liberaram o barracão esta semana e já temos o carro do Ale-
mão e o da comissão de frente.
— Eles não mostram tudo, mas é evidente que eles tem um
espaço para execução das esculturas, pois o sistema voltou para ser
montado, não para ser criado.
— Isto, ele parecia cansado, dizem que empurraram nele tu-
do que Pedro e Pietro fariam.
— Será que ele faria dois do mesmo tamanho daquele? – Di-
ego.
— Não sei, mas não esquece, ele fez aquela letra, tem gente
que não entendeu, mas é o enredo, e poucos viram a anotação dele
antes de nós pormos no ritmo.
Hélio olha Diogo e fala.
— Mais um sambista encrenqueiro.
Diego ao lado olha para Hélio e fala.
— Pede para se afastar Hélio, um presidente de Escola de
Samba que não gosta de sambistas.
— Não disse isto.
Diego olha para o local e fala.
— Acha que temos chance contra Franco?
— Acho que ele não nos quer ganhando sempre, até entendo
ele, mas que culpa temos se um passarinho nos soprou um verso de
Olavo Bilac, que já não tem direitos autorais, e que cabia no enredo
do ano.
Os dois riram e viram o pessoal começar a se concentrar ali,
não teria samba no dia de hoje na Quadra, como a maioria estava
na Cidade do Samba, ficaram pensando se daria para festar por ali,
mas era evidente que estavam invadindo e o local não estava ani-
mado.
Hélio olha o pessoal da escola chegando e Zanon, o Carnava-
lesco daquele ano, olha o presidente e fala.
149
— Cheguei tarde, como estão as coisas Hélio.
— Está vazio, não chegou tarde.
— Vi um rapaz saindo, tinha marcado com ele aqui, para falar
sobre um espaço para montarmos nossas alegorias, mas o transito
me segurou.
— Alguém especial?
— Um rapaz novo na cidade, ele está ajudando a Alegria da
Zona Sul, e o presidente da Zona Sul falou que o rapaz tinha um
espaço a mais, mas que teria de falar com ele.
Hélio olha o carnavalesco e fala.
— Acho que acabei sendo estupido com o cara errado.
— Pelo jeito cheguei mesmo tarde.
João olha para Marta e fala.
— Tem de entender Marta, que não é serio.
— Sempre me dando o fora.
— Avisando, vocês depois ficam com cobranças, mas o que
tem para fazer nesta cidade a noite?
— Não conheceu nada ainda pelo jeito.
— Eu vou de um trabalho a outro, quando durmo acho que
sonho com camarões, pensão e carros alegóricos.
— Acha que reinauguramos quando?
— Estou deixando secar bem a argamassa das paredes do
fundo, para passar uma boa camada de tinha e podermos ter menos
mofo, mas acho que metade da semana que vem, deve dar para
pintar, dai daria para inaugurar no sábado.
Os dois saem dali, no carro de João, param em um estacio-
namento já na Lapa, Marta foi apresentando o lugar e era tarde,
quando os dois voltam a pensão, cada qual a seu quarto, João esta-
va pregado.

150
Sábado era dia de João ca-
minhar, ele descia a ladeira e ca-
minhava até o porto e voltava,
achava que estava ficando mole, e
não gostava desta sensação.
Estava caminhando quando
o telefone toca.
— Fala Zanon.
— Não me esperou para conversar rapaz.
— Estava cansado, as vezes é bom evitar negociar quando es-
tamos para cama.
— E teria como conversar.
— Anota ai um endereço, estou caminhando para lá, mas em
15 minutos estou lá.
O rapaz anota e olha para o Presidente que fala.
— O que ele vai oferecer?
— O endereço é o que todos estão falando que é o barracão
de escultura da Beija Flor.
— Não entendo porque tantos falam deste Alemão?
— Presidente, ele veio de uma cidade pequena, mas todos fa-
lam do carro que ele tirou do incêndio, pelo que me falaram, en-
quanto os renomados pulavam fora, o rapaz trabalhava, mas se
alguém oferece algo, porque não aceitar.
— E porque ele ofereceria algo?
— Presidente, ele é grupo especial, não tem o que temer de-
les.
— Perder você para os milhões de lá. – Heitor serio.
— Vou falar com ele, depois conversamos presidente.
Zanon sai da sede da Estácio, pega o elevado e vai a região do
porto.
Zanon viu o rapaz caminhando no sentido dele e para o carro,
sai e olha para João.
— Deve ser João Mayer.
— Sim, podemos conversar sem ninguém ver Zanon?
151
— Porque do segredo?
João caminha até uma porta, abre e olha para o barracão que
ergueram ali e fala.
— O correio desativou o estacionamento local e construímos
parte da ampliação do nosso barracão, mas sobrou espaço e princi-
palmente – Joao faz sinal para o rapaz entrar, olha o barracão com
aquelas duas armações de caro, e algumas coisas ao fundo. – duas
armações de carro e alguns materiais, mas antes de falar algo, pre-
ciso saber se aceitam ajuda de um desconhecido, e mantem isto
entre poucos.
— Roubou a Beija Flor?
— Não, apenas em um ano de crise, o presidente não quer
que se espalhe que ele está doando estrutura, tem gente que co-
meça a pedir aumento e fazer corpo mole.
Zanon olha as armações e parte do material organizado no
fundo e pergunta.
— Teria um aluguel?
— Este seria o segundo assunto que gostaria de silencio e sigi-
lo, pois eu cobrei da Beija Flor um aluguel por este espaço, mas
ficou uma margem de uso, ofereci parte para a União da Ilha, mas
para a serie A, não tenho como cobrar, quero os ver crescendo, e
não recuando.
— E quem saberia as condições?
— Você e eu.
— E qual a condição?
— A luz e agua que usarem tem de pagar.
— E porque disto? – Zanon.
— Quem sabe nos vemos o ano que vem na serie especial.
— Sabe que estamos com pouco dinheiro.
— Carnaval é ideia Zanon, não dinheiro.
— E o que tanto tem aqui?
João passa a chave ao rapaz e fala.
— Terminado o carnaval, me devolve com os comprovantes
de agua e luz.
Zanon viu o rapaz sair e fica a olhar o espaço, chega das estru-
turas do fundo, equipamento de solda, de dobra de metal, de ali-

152
samento, madeiras para base, prego, ferramentas, olha em volta e
fala.
— Pensa Zanon, pensa, algo aconteceu, provavelmente sabe-
rá o motivo depois, mas pensa. – Zanon falando sozinho.
Ele fecha o local e olha que o barracão da Beija Flor ali era
imenso, e bem alto, não se via nada para dentro, mas portas de 5
metros davam a sensação de que sairia ou entraria algo grande ali.
Zanon liga para o presidente e marca ali, teria de conversar, e
não sabia o que pensar ainda.
João entra no barracão e caminha até a outra saída, e para a
frente do barracão onde Marcos, presidente da Zona Sul, estava a
entrada.
Ele olha João e pergunta.
— Não entendi os seus motivos.
— Senhor, apenas estou ajudando, um dia posso precisar de
ajuda, mas hoje, estou oferecendo ajuda.
— E a chave?
Joao abre a porta no meio da outra porta e entram, o senhor
viu as alegorias que estavam ao tempo ali e olha que tinha uma
estrutura boa e pergunta.
— Vai me alugar isto?
— Não, mas eu tenho como ceder este espaço até o carnaval
do ano que vem, depois, saiu para o desfile, na volta não teremos
mais como usar o lugar.
— E porque vai ajudar?
— Eu queria ajudar todas, mas vou apenas ajudar duas, e no
futuro, talvez me arrependa disto, mas algo me manda ajudar.
João passa a chave e fala.
— A única coisa que vou exigir e que pague a luz e a agua.
— E pelo jeito vamos ter de começar a fazer nosso carnaval
mais sedo este ano.
— Nada sedo, quer dizer.
João deixa a chave com o senhor e começa a caminhar retor-
nando para a pensão.
Ele entra e olha aquele senhor na entrada.
— Perdido aqui Siqueira?

153
— Vim ver onde você havia se escondido, mas pelo jeito não
se deu tão bem quando achou que se daria? – O senhor olhando em
volta, era uma pensão na favela.
— Não veio até aqui para constatar isto, lhe dei o endereço
para caso de emergência.
— Sabe que a audiência de pensão é na segunda?
— Eu bem queria estar bem para discutir isto lá, mas se vão
levar algo, que seja agora.
João olha que Marta ouvia ao fundo.
— Juro que pensei que estava se dando bem.
— Um carro velho enfeitado, um sonho, mas nada que dê pa-
ra dar muito dinheiro a ninguém.
— Alguns dizem que você vendeu a empresa em Curitiba e se
deu bem.
— Abri uma poupança para quando minha filha entender o
que é ser adulta, não para a mãe dela torrar e me acusar do que não
fiz, mas o que o trás aqui, disse que não compareceria a audiência.
— Ela pediu vistas nos valores, pensando que está nadando
em dinheiro.
— Sim, estou nadando em Dinheiro de meu trabalho.
— Os juízes pediram para revirar tudo que estiver em seu
nome.
João sorriu por dentro e falou.
— Dai no futuro, esta moça, vai dizer que eu não me dedi-
quei, tudo que montei um juiz fez eu dividir com ela, pois ela tinha
direito, mas como disse, eu não vou discutir, quer fazer, quem sabe
um terreno sem documento numa favela do Rio de Janeiro, um juiz
não legaliza, pois é preguiça o não legalizar disto, dos Home da Lei,
lei para eles ricos, não para os pobres.
— E não vai contestar?
— Vou contestar tudo de uma vez, mas ainda não sei, quando
sai de lá a quase 4 meses, era para tentar recomeçar, não para ficar
toda semana recebendo e-mail dela reclamando.
— Ela tem direitos. – O advogado.
— Eu estou pagando a comida dela, pois ela mora com minha
filha, a educação da minha filha, agua e luz de uma casa que a lei diz
não poder chegar a 500 metros dela, então se não vou ver minha
154
filha, é por um filho da puta de um juiz, me prender se aparecer lá,
um dia minha filha vai entender.
— E conseguiu um emprego?
— Não, minha carteira de trabalho continua em branco.
— E vive como?
— Dos meus braços, do meu trabalho, as vezes me arrependo
de ter me deixado levar por aqueles olhos.
— Ela as vezes parece o temer.
— A atriz, a que me convenceu que me amava, qual a novida-
de nisto Siqueira, a que convence todo juiz de que está passando
necessidade, embora ela não sabe o que é passar necessidade, se
ela quer saber, tem muitos exemplos a volta.
O senhor alcança a petição para João que olha e sorri, seus
planos iriam para o lixo.
O senhor saiu e João sentou a entrada da pensão e Marta
sentou ao lado e falou.
— O motivo de não se envolver?
— Agora vão revirar tudo, para que venda, para dar a alguém
que acha que dinheiro compra tudo.
— E o que o preocupa?
— Um terreno que comprei no Rio de Janeiro, em Santa Cruz,
que demora ainda 4 meses para produzir algo e me gerar dinheiro.
— Acha que vão fazer você vender?
— Vai revelar que ganhei um dinheiro que não declarei, e ela
tem direito a 10% deste dinheiro, pode parecer pouco, mas hoje me
descapitalizaria.
— E vai fazer o que?
— Não sei, temo por gente para dentro da confusão, e ao
mesmo tempo, mais sedo ou mais tarde, a confusão atravessa quem
está ao lado.
— E pelo jeito foge do sentimento agora.
— Vim para tentar uma vida nova, mas sei que vou voltar um
tempo Marta, eu tenho minha historia lá, mas tenho de pensar.
— E você para de pensar?
— Eu me meto em encrenca, já paguei o aluguel até o ano
que vem do local do barracão, talvez tenha de pressionar alguém

155
que me passou para trás, quer dizer tentou, e quem sabe, sair da
casca.
— Você não é de se esconder João.
João olha Marta e pergunta.
— Acha que me conhece Marta?
— Acho que você está onde quer estar, eu tinha uma pensão
com 30 quartos, você chegou aqui, me comprou a pensão, diminuiu
para 20 quartos, mas quartos habitáveis, sei que não pintamos ain-
da, mas agora temos uma laje de uso comum, temos área de entra-
da, e quartos que não cheiram a mofo.
— Acho que no fundo, tento sair da fantasia que vivo, e é difí-
cil Marta, eu tenho uma filha de 15 anos, se considerar que eu te-
nho 36, tô nesta confusão a muito tempo.
— E quanto vale este terreno que comprou que lhe descapita-
lizaria?
João a olha e sorri, não responde e fala.
— Tem coisa que não é o valor, é o investimento Marta,
quanto tiver menos mato, mais organizado, lhe apresento.
— Algo que não quer falar?
— Oficialmente não ganhei dinheiro para comprar aquilo,
mas quem sabe alguém compra de mim antes de me obrigarem a
vender.
— Tem um comprador?
— Quase vendi estes dias, quando a filha dos David, chegou lá
com segurança todos armados e pediu para falar com o dono, que
ela queria comprar.
— Esta falando daquela Micaela, que falam ser uma protegida
dos anjos?
João a olha intrigado e pergunta.
— Protegida dos anjos?
— Ela tem algo que a protege, sei que quando se fala dela, di-
zem que ela atira como poucas pessoas, que ela saiu sozinha de um
cativeiro sozinha, que ela tirou o pai dela a tiros de um cativeiro,
que a intenção era a matar, alguns até falam que ela que matou o
Fernandinho, dai ela começa a criar coisas, como as confecções da
família, a produção de camarão e marisco da família, a empresa de

156
informática, de dança, e a pequena escola na comunidade de Niló-
polis.
João olha Marta e pergunta.
— Mas é uma criança, tem a idade da minha filha.
— Disto que todos falam, aquilo é apenas casca, não sei co-
mo, mas dizem que ela fala inglês, francês, alemão, português, en-
tende de informática como poucos, que entende de calculo e física
como poucos, alguns quase a idolatram.
João sorriu e falou brincando, estava muito serio o assunto.
— Ela não quer virar o enredo do ano?
Marta sorriu e fala.
— Ontem estava com cara de poucos amigos, chega bem e já
tem uma noticia que esperava pelo jeito, mas não gostou.
João olha ao infinito, sorri e fala.
— As vezes, queria poder concertar os desentendimentos,
mas tenho certeza, quando é para acabar, acaba.
— E como consegue manter a calma?
— Eu estava pensando em começar a mudar a forma que al-
guns me olham, e acabo tendo de pensar no passado.
— Estava fazendo o que?
— Dando estrutura para a Estácio e para a Alegria da Zona
Sul.
— Isto que queria ontem, mas pelo jeito o presidente Hélio
não sabia de sua pretensão.
João sobe, olha as paredes, toma uma ducha e sobe para a la-
je superior, Marta chega ao lado, olhando para a cidade a frente,
Gamboa, Cidade do Samba, porto ao fundo.
— Acha que terá de voltar para sua cidade?
— Penso na segunda nisto, como estão as coisas hoje?
— Sabe que você me deu o gelo ontem.
— Sei que todos me criticam por isto, mas não estava bem,
acho que no fundo, sinto como se parasse, todos me atropelariam.
— E vai fazer o que agora?
— Forçar a porta, pegar uma encomenda para hoje a noite.
— Não entendi. – Marta vê João lhe esticar um papel.

157
158
Marta olha o samba concorrente e pergunta.
— Tem parte nisto?
— A letra infantil que pensei que eles alterariam, mas acabou
quase o que escrevi no rascunho, para o Diogo.
— E quer todos a quadra cantando?
— Eles estão cantando, mas alguns estão na duvida, então
vamos forçar a porta, se não passar, Franco terá de ser bem enfáti-
co, escolhi o que queria, não o que a quadra queria.
— E não pode palpitar?
— Eu fiz a letra, não posso votar por algo que fiz Marta, posso
os induzir a votar, mas se eles quiserem.
— Certo, e vai para a quadra hoje?
— Não, somente amanha.
— O que vai fazer hoje?
— Daqui a pouco no barracão que não existe.
— Não entendi esta historia ainda?
— Digamos Marta, que eu quero mostrar meu valor, não que-
ro depender deles, mas ao mesmo tempo, se tenho um emprego,
fica mais fácil legalmente falando, 10% de algo, não é 10% de uma
empresa, que é estimado o lucro, ou potencial de lucro, e você é
obrigado por lei e pressão de Delegados que sabem onde você está,
senão vai preso, a pagar.
— E já foi preso?
— Detido, quando mostrei os gastos com minha filha, a dele-
gada toda em sua empáfia de quem me queria prender por não
pagar pensão, entendeu que minha filha tinha minha proteção, a
mãe da criança, apenas o que a lei determinava.
— E pelo jeito vai trabalhar.
— Sim, Sergio pediu um palpite sobre o carro numero 5, é o
fechar do enredo, as vezes as pessoas pensam que é fácil esta coisa
de fechar um enredo, estaremos com 52 alas, 78 fantasias, 6 carros,
carro da comissão de frente, tudo tentando contar uma historia.
— E estão já pensando no numero 5, alguns dizem que estão
com tudo atrasado.
— Digamos que o abre alas Marta, se corrermos, entra in-
completo na avenida, mas vamos tentar acabar.

159
— Certo, mas enquanto os outros vão pensar na festa, vai
pensar no carnaval?
— O que me trouxe a cidade Marta, lembra do que falei?
— Uma proposta que lhe daria em retorno, 10 anos de traba-
lho em Curitiba, em 8 meses. – Marta.
— Isto, então alguns acham que estou gastando, mas estou
bem abaixo dos gastos, e somente depois de ver o carnaval a rua,
vão entender porque corremos tanto este ano.
— Alguns falam que este ano já tem dono.
— Não tenho de me preocupar com esta parte.
João dá um beijo em Marta e fala.
— Mas deixa eu ir trabalhar.
João caminha até o carro e sai no sentido do barracão, estaci-
ona para dentro, e olha para Sergio ao fundo.
— Vamos decidir isto hoje Sergio? – João.
— Acha que precisamos começar?
— Fechamos e estamos na estrutura externa e hidráulica do
6, já fazendo os painéis que vão ao carro, sempre digo, que quando
você cria painéis de quatro de altura, por 20 metros de comprimen-
to, quando fora dos carros parecem que não teremos espaço, mas
eles estão começando a avançar e Nuno está fazendo funcionar.
— Colocou eles para trabalhar, Roberto está preocupado.
— Ele veio ontem me dar uma bronca e não sei porque não
brigou.
Sergio olha o abre alas e fala.
— Ele não brigou por isto ai, ouvi Franco falar que se o carna-
val fosse amanha, você daria um jeito de por tudo isto na avenida,
em uma noite.
— Ele exagera.
Alguém bate ao fundo e João atende, acerta e vê os rapazes
entregarem duas encomendas, e Sergio olha para João desconfiado.
— O que é isto?
— Sergio, eu não vou votar em nenhum samba.
— Mas isto ai é propaganda do samba numero quatro.
— Sim, mas como quem escreveu a letra, não vou votar, mas
não quer dizer que não defenda meu samba.
Sergio sorriu.
160
— E Franco não sabe?
— Logico que sabe, ou ninguém sabe quem assina Alemão
aqui dentro?
Sergio viu que tinham letras e abanadores, todos em azul e
branco com a sinopse do enredo de um lado e o samba do outro.
— Quer algo a mais com isto?
— Sim, todos falam que não temos enredo, hora de todos
começarem a pensar no que vamos desfilar Sergio, uma coisa é você
dizer, não temos nada, outra, vamos contar uma historia.
— E o que acha da ideia do carro?
João olha as anotações e pergunta.
— Qual o medo Sergio, parece travado.
— Silvino acho que me travou neste carro.
— O que quer com ele?
— Mostrar a força de um povo.
— Certo, e o que você acha que é mostra de força?
— A garra.
João anotou.
— O que mais?
— O que o samba que agora sei que você escreveu, que so-
mos um povo que se orgulha de ser alegre, e nos condenam por
isto.
— Aceita uma sugestão?
— Sim.
— Eu faria, uma parte central, onde colocaria sobre as duas
uniões, estatuas, a do Cristo Redentor a Frente, uma maquete da
Catedral de Brasília as costas, e no centro, Arco da Lapa de ponta a
ponta com 12 metros de altura, pelos 12 metros do carro de largu-
ra. A volta de todo carro, plantações, de milho, soja, mandioca, gi-
rassol, tomate, abacaxi, cana de açúcar, em meio a estas plantas,
espaço para esculturas de boi, cabrito, galinhas, porcos, isto toma 2
metros de carro para frente e para os limites do carro, no centro,
teríamos uma representação de construtores em uma obra, pode-
mos usar estruturas básicas de carro com pessoas penduradas e
parafusando e construindo, esta parte frontal seria mais alta que o
Cristo ao fundo, então a distancia entre a primeira e segunda parte
é importante, após isto, trabalhadores rurais, com suas inchadas,
161
em um galpão de campo, após isto, antes do cristo, uma favela de
palafitas, e finalmente Cristo redentor, a parte dos Arcos da Lapa, a
Igreja, depois gostaria da representação de uma favela remodelada,
de galpões estruturados, e o prédio acabado ao fundo, com os tra-
balhadores tomando sol na laje.
— E montaria em que pré projeto?

João alcança um prospecto e fala.


— O padrão do ano.
Sergio olha para o projeto, olha o carro ainda só na base ao
fundo e fala.
— E teríamos como montar isto com 3 milhões?
— Pelo jeito vamos usar apenas no abre alas além do orça-
mento que tínhamos.
— O abre alas que projetou é basicamente 10 carros em um,
com tamanho de 3 deles.
João olha para Sergio e pergunta.
— O que pensou sobre o carro da comissão de abertura?
— Pode ser feito, não sei se dará o efeito que está pensando.
— Também não, mas manteríamos a importância sobre o ca-
sal de porta bandeira.
Sergio pega o prospecto e fala.
— Então se concordar com este andamento começamos
construir o carro numero 5 e estaremos com as 7 alegorias em cons-
trução.
— Ainda pensando se vale a pena dispor de 3 tripés Sergio.
— Motivo?

162
— Eu pensei em um tripé com o registro de nascimento de
Millôr, um com uma replica do Aurélio, e um no final com uma pa-
gina da Wikipédia.
— Acha que as baianas conseguiriam formar a bandeira?
— Acho que não, mas fui voto vencido, é difícil formar algo
com linhas retas com vestidos arredondados, o centro pode funcio-
nar, mas o resto não.
Sergio pega a lista e fala.
— Então vamos verificar, comissão de frente, do Jurássico a
Bandeira, carro que se transforma em 4 formas da bandeira, e no
começo são apenas peças desconectas.
Sergio anota os nomes e olha para João.
— Mestre sala e porta bandeiras, as Riquezas do Brasil.
Ele anota o nome da costureira e o de Selma, que ajudava na
costura também.
— Baianas, representam a bandeira, que estamos usando pa-
ra dar cor a escola e ao conjunto de coisas.
— Posso palpitar?
— Você sempre palpita, esta é a diferença.
— Como está a feitura das fantasias das baianas?
— Nas armações.
— Meu medo é que eles tirem em enredo.
— O que pensou?
— A bandeira é um símbolo da nação feita, meio de desfile,
não entrada.
— Acha que mudamos elas de lugar? – Sergio.
— Não vi o desenho do vestido ainda Sergio.
Sergio puxa um grande prospecto e põem a mesa e fala.
— Seria algo assim.
João olha e fala.
— Pesado, elas vão sofrer Sergio.
— Acha que não vão evoluir?
— Se fizer uma daquelas noites de 30 graus, elas derretem ai
dentro Sergio.
Sergio anota e fala.
— E qual seria sua ideia, está quase assumindo a comissão?

163
— Acho que o chão é o começo, temos de diminuir ou no ma-
terial ou no todo, deixar claro que sou péssimo desenhista.
Sergio sorriu.
João começa a fazer quadrados no papel, Sergio viu que para
roupas ele não tinha muitas noções, mas deixou ele se expressar.
Ele pinta algumas coisas e fala.
— Falo que não quero algo pesado e depois exagero, sei dis-
to, mas pelo que entendi, o vestido deveria ter as 4 cores da ban-
deira, mas acho que o sistema as costa com bandeiras, pode ser
pratico, para alguns, mas tem de ver como fica nas baianas, mas o
que queria falar, é o justificar, se a saia for apenas 10 centímetros
mais baixa, baiana de verde, amarelo, azul e branco, dai pensei, elas
poderiam ter um brasão frontal da atual republica, e nas costas do
império, mas a ideia, uma coroa que lembrasse totalmente a ban-
deira, uma bandeira em cada mão, das duas épocas, mas o princi-
pal, uma altura a mais do vestido, algo mais entre a terra e o verde,
e sobre aquela camada, gotas douradas, com rostos angelicais.
— Porque faria assim?
— No carro abre alas, bem a frente vem a primeira dama da
escola, ela é o ser alado que anuncia a vinda ao mundo de uma na-
ção especial, nosso Brasil, então a ideia, é as baianas anunciarem a
chegada da nação, através de entidades em suas saias. – João ter-
minando de fazer aquele esquema chulo de vestido.

Sergio olha com um sorriso o desenho e anota algo.


— Mais peso?
— Sim, mas eu bordaria todas as camadas.
— Algo para tira a cara de artificial?
164
— Sim, algo para deixar bordada uma bandeira bonita.
— Vou falar com a dona Rogéria da comissão das baianas,
acho que daria para implementar algo assim, entendi o porque, a
descrição da fantasia explicaria ela estar ali.
Sergio chega ao carro abre alas e pergunta.
— O carro abre alas está como?
— Todo o estrutural e hidráulico, está pronto, estamos no
confeccionar as 102 esculturas, cabear toda a iluminação, testar os
sistemas de cortinas, não temos ainda as confirmações dos desta-
ques, mas a ideia é ter primeira dama no centro, a direita a filha do
presidente, e a esquerda, escolher uma mulata jovem para repre-
sentar os negros a esquerda.
Sergio anotou.
— Quantas pessoas por modulo?
— São 5 representações, em 4 tempos, se multiplicar por 5
pessoas por ato, 100 pessoas nas partes baixas, não se confirmou
ainda os destaques.
— Passei aos eternos destaques o assunto, mas ainda não
temos uma resposta.

— Finalmente um projeto inteiro – Sergio.


João olha o projeto e fala.
165
— Sabe que toda esta estrutura parece impossível ainda Ser-
gio, mas assim podemos por o pessoal dos barracões para produzir,
as costureiras, o pessoal de adereços, todo um caminho que ainda
parecia impreciso.
Sergio sorriu e falou com malicia.
— Quer o titulo no seu primeiro campeonato?
— Quero o titulo em todos os meus campeonatos. – João se-
rio.
— Ouvi de Nuno que odiou o enredo?
— Tem de ver que agora ele está fechado, precisamos de 52
alas, 6 carros e 3 tripés para parecer aceitável o enredo.
— E não se negou a fazer projetos como o do carro 6.
— Ideias são aquilo, nem se vê que tem três partes naquilo.
— Sabe o problema de manobrar aquilo?
— Sei, mas se o abre alas passar, ele passa fácil.
— Nisto não vou discordar.
João foi ao canto e começou a fazer as analises de tintas e
Sergio Pergunta.
— Não vai parar um pouco?
— Daqui a pouco o Diogo está ai, mas avisa o porque não vou
estar lá para votar hoje.
Sergio pega os prospectos e olha para João.
— Vai começar os tripés onde?
— Lá, pois aqui não cabe ainda.
— E vai projetar todos eles?
— Sim, mas verifica se podemos usar tanto o Aurélio como o
Wikipédia, pois são marcas.
Sergio olha serio e fala.
— E se não der?
— O registro vai estar lá, depois seria um conjunto de livros, e
por ultimo uma serie de livros eletrônicos.
— Já pensou nos tripés?
— Sim.
João não sabia se o pessoal viria naquele dia que teriam en-
saio geral em Nilópolis, e as vezes ele queria saber sambar, queria
ser mais festa, ele sorri deste pensamento infantil.
Sergio sai e vai a Nilópolis, Franco olha ele e pergunta.
166
— Falou com o Alemão, ele como membro da comissão de
carnaval, tem de votar o samba.
— Ele me explicou que não vem Franco.
— Porque ele insiste em ser assim.
— Franco, soube hoje, e se tivesse prestado atenção, olha lá,
Alemão como compositor da Musica 4.
Franco olha descrente e fala.
— Pensei no outro Alemão.
— Mas isto explica Franco, ele como autor da letra, aquela
que você não gosta, não pode votar, e nisto ele tem razão.
— Ele se mete em tudo.
— Sim, acabamos de terminar o enredo da equipe, o pessoal
está ai?
— Sim, conseguiram definir todas as alegorias?
— Sim, Carro de comissão, 6 carros alegóricos, 3 tripés, 72 ti-
pos de roupas, em 52 alas, agora é por todos a trabalhar.
— E acha que temos como defender estar entre as 5? – Fran-
co.
Sergio sorriu e falou.
— Espero que defendamos mais que isto Franco, não entra-
mos para perder, sabe disto.
— Esta propaganda negativa tem de ser revertida Sergio.
— Temos de ter o samba para começar a reverter, tem gente
que já está cantando seus sambas, nós ainda não o temos, e muitos
acham que estamos com tempo para isto.
— E como revertemos?
— Temos agora os esquemas de barracão Franco, é só come-
çar a falar sobre o enredo, e por o carro que estará pronto em duas
semanas, pelo menos a parte bruta para frente, que todos olhem
ele quase todo erguido.
— Acha que é positivo fazer isto?
— Franco, tudo que fizermos ainda terão pessoas falando que
estamos mal, mas se o samba começar a ser cantado, o pessoal
entender, é parte do jogo, pois estaremos treinando mais de 330
pessoas apenas para os carros, isto não tem como não vazar.
— Certo, mesmo sem fantasia, eles vão falar.

167
— Sim, a ideia era para verificar se mais alguém pularia fora,
Nuno está apostando que quem pulou fora, vai ainda querer ter o
nome neste carnaval.
Franco olha descontente e pergunta.
— Como estão as fantasias?
— Vou acelerar algumas mudanças, mas sábado que vem,
apresentação para a comunidade das fantasias e do enredo, dai já
com o samba enredo.
— Acha que devo ceder no samba enredo?
— Você está teimando Franco, até você não gosta daquele
samba que escolheu, mas entendo, seria o quarto ano seguido do
mesmo grupo ganhando o samba.
— E o que ele contribuiu com o samba?
— Letra, apenas isto.
Franco sorriu e perguntou.
— O que mais ele fez?
— 3 tripés, e o carro numero 5 foram definidos hoje.
— Fechou o desfile então?
— Sim, agora temos de o montar, esta é a parte demorada e
que a maioria não vê, quem olha de fora não tem noção do espaço
que 3500 fantasias ocupam Franco.
— E ele está onde?
— No barracão começando a fazer aquele pré-calculo dele
para estrutura do carro 5.
— Qual a menor alegoria?
— 28 metros.
— Altura?
— 16.
— A maior?
— 60 de comprimento, 12 de largura e 24 de altura mais os
destaques.
— Um super carnaval?
— Um que nem o rapaz é apaixonado pelo enredo Franco,
acho que neste ponto que temos de mudar.
— Qual?
— Nós não gostamos do enredo, como os demais vão gostar?
— Ele não parece não gostar.
168
Sergio viu os demais chegando e estica a parede o esquema
do desfile e olha para Rogéria.
— Vamos somar um pequeno detalhe na fantasia das Baia-
nas, e vamos por bordado em todo o vestido. – A senhora sorriu.
— Resolveu melhorar a aparência, melhor assim, pois estava
muito simples.
— Vamos tentar mudar alguns detalhes, mas teremos de ter
gente que aguente o peso.
— Certo, eu verifico como estão as senhoras.
Sergio olha Nuno.
— Como está o carro agora?
— Em 3 dias evoluiu mais que nos últimos 3 meses.
— E tem previsões?
— Muito trabalho, esta é a previsão, estou tentando apren-
der a trabalhar com acrílico, mas se conseguirmos fazer os adereços
principais daquele carro, vai ficar incrível.
Franco olha para o rapaz e pergunta.
— Quais adereços?
— Dois trens de transporte de passageiro, feitos em acrílico,
sobre armações que devem ter luz de led por todo lado, não sei se
conseguiremos o efeito na avenida, mas a demonstração de algo
assim no barracão foi incrível.
— Demonstração? – Rodney, mestre de Bateria.
— Se temos um veiculo de acrílico, com iluminação sobre ele
e o que o segura, brilha, dá a sensação em certos ângulos, quase
todos, que está flutuando.
Franco olha Sergio.
— Estão tentando superar o carro que está na Cidade do
Samba. – Franco.
— Não era esta a ideia, trazer alguém para motivar os demais
a dar o seu melhor? – Sergio.
— Sei o quão estupida foi esta ideia Sergio. – Franco.
Sergio olha para os demais e fala.
— Isto ainda é para a comissão e quem está na direção, va-
mos abrindo aos poucos e sobre sigilo, não temos metade pronto,
então não vamos falar que vamos por algo e tirar do prospecto em
Janeiro, mas o contrario pode acontecer.
169
Sergio estica a parede o prospecto e fala.
— Comissão de Frente, conta a evolução do Jurássico até os
Jurássico Politico, o carro tem o poder de se dispor em 4 alegorias
em uma.
Roberto entra naquela hora e vê Sergio colocar o esquema do
carro da comissão de frente.

Flavinha da comissão de frente olha para Sergio e pergunta.


— E qual o ponto que estamos na execução do carro.
— Deve ficar pronto até dezembro Flavinha, dando tempo
para treinarem no próprio carro.
Roberto olha e pergunta.
— Vamos de surpresa da abertura até onde?
— Até o sábado das campeãs, onde mais Roberto.
— E como chegamos lá?
— A parte de carros está andando a toda, hoje temos a pri-
meira final sobre samba enredo, semana que vem, apresentação
para a comunidade das roupas, e para os grupos de venda também.
— Pretende vender quantas fantasias este ano?
— 640, 12 alas.
— Odeio vender tantas fantasias. – Roberto.
— Sei disto senhor, mas com estes quatrocentos mil reais
desta venda, vestimos o resto dos 2900 integrantes.
— Fecharam em quantas alas?
— 52 alas.

170
Roberto olha para Franco.
— E como está a escolha do samba enredo e porque aquele
que você escolheu para vir ao grupo não está presente?
— Ele está no barracão ajeitando algo, ele sempre está por lá,
e soube a pouco que ele assinou a letra da composição 4, então ele
não vai vir votar Roberto. – Franco olhando Sergio.
Roberto olha Sergio.
— E o que mais ele fez, parece que temos um carnavalesco, e
não uma comissão este ano.
Nuno sorriu, Silvino fez cara de poucos amigos, Sergio olha
serio e fala.
— Determinamos como será a alegoria 5, ele está calculando
os pesos e estruturas para ela começar a sair do ponto estático para
o pronto.
— Então temos finalmente a parte logística estabelecida.
— Sim, finalmente os objetivos, e como falava com Franco,
nós temos de passar a firmeza sobre o enredo, acho que quem mais
passou duvidas fomos nós mesmos.
— E pelo prospecto, mais um gigante na pista?
— Sim, maior logística já estabelecida para desfile de alegori-
as Roberto.
— Todos motorizados?
— Sim, todos motorizados, até mesmo os tripés.
Franco olha para Sergio e pergunta.
— Porque resolveram por os tripés, tínhamos decidido que
não iriamos somar.
— Não está decidido, mas é que a incompetência dos siste-
mas Estatais e cartorários, fica bem visível na certidão de Nascimen-
to de Milton Fernandes, que passa assinar Millôr, pois vai ficar bem
visível que foi isto que o atendente de cartório escreveu.
— E resolveu por isto em três alegorias? – Roberto.
— A segunda seria um símbolo de unificação local da língua
chamado Aurélio, e por ultimo, enquanto a maioria das nações pre-
fere ler a Wikipédia em Inglês, geramos nossa versão em Português.
— Mostrar a força e distribuir na escola?
— Sim, mostrar que sabemos fazer carros pequenos e gigan-
tes.
171
— E sabe se temos como verificar se conseguiremos chegar
lá? Pois meu medo é algo grande assim enroscar e parar tudo.
— Uma frase de Alemão o Louco capaz de pensar coisas assim
resume o problema Roberto, se não conseguirmos, somos a ultima
escola a direita, desacoplamos e entramos com meio carro, mas
duvido que ele não pensou na curva, ele pensou até no problema
das arvores, os carros mais largos na parte baixa que alta, facilitam
o transporte.
— E se ficar na duvida?
— Pede autorização para teste de desfile, para a Riotur, fa-
zemos propaganda e com as cortinas fechadas, desfilamos pela
avenida em uma madrugada de Janeiro.
Roberto sorriu e falou.
— Isto sim gerariam curiosidade.
— Então vamos pensar nisto, né Sergio. – Franco.
— Olha que todos os que acompanhassem iriam querer saber
o que tem por traz da cortina, mas teríamos de voltar ao barracão
que a alegoria está, ou desacoplar e colocar na Cidade do Samba,
para calar muitos. – Sergio.
Roberto sorri, aquilo estava fora de controle, e todos come-
çam a pensar no que foi falado.
Rogéria ao fundo que parecia voar na conversa pergunta.
— Mas porque tanta preocupação?
Sergio olha para ela e fala.
— Este desenho ainda é segredo Rogéria.
Ele coloca o desenho lateral do carro abre alas e fala.
— A parte ferragem já está feita pessoal, este será nosso abre
alas. – Sergio.
Os demais chegam perto e Rodney fala.
— Então aquele papo de não temos nada?
Rogéria sorriu e perguntou.
— Esta falando em 60 metros quase integral?
— Sim, é isto Rogéria, como Sergio me propôs a 3 meses, o
maior carro alegórico já colocado na avenida, este é o motivo de
alguns pularem fora, não foi falta de recurso, foi falta do que por em
algo tão grande. – Roberto.

172
Sergio continuou as apresentações, carro um, dois, três, qua-
tro, cinco, seis, os demais viram que o projeto tinha avançado, ago-
ra tinham desenho do que pretendiam e Roberto sorri.
— Pelo jeito temos muitos pensando nisto.
— Pensando, suando, trabalhando. – Sergio.
— Qual o maior desafio? – Roberto.
— Painéis de 20 metros por 4 de altura, narrados apenas co-
mo esculturas, esculturas de 14 metros, que tem de passar em um
viaduto de 4, mas pensa Roberto, temos 240 dias para o desfile, e
mais de 253 esculturas para fazer.
Roberto olha serio.
— E dão conta? -= Roberto.
Sergio olha para Silvino, para Nuno, e fala.
— Por isto que falamos que ficaremos pronto em Fevereiro
Roberto, mas agora, temos de acelerar onde dá, por isto alguém
está lá medindo e preparando estrutura, para fixarmos algo firme,
ele estava me mostrando o esquema do carro que projetamos hoje,
que construímos em pedaços duas curvas do arco da lapa e seus
cantos e ele me mostra que projetando em 3 partes, colocamos 3
grupos fazendo, pois uma escultura, de 2 metros, de um animal que
nunca ninguém viu, fazemos 3 em um dia, mas uma replica de 14
metros do arco da lapa, demoramos mais, mas no esquema, ele vai
com altura de 5 metros pois o chassi tem quase um metro, pois a
escultura de 14 metros, fica com 4.
— Pelo jeito contratei um maluco que convenceu os demais
de sua maluquice. – Roberto.
Nuno ao fundo fala.
— Roberto, como ele disse, acho que ninguém gostou do en-
redo proposto por Pietro, não por discordar dele, mas por ser algo
que precisava de um fio condutor, para ter ideia, ninguém conse-
guiu pensar em um, dai ele nos apresentou a ideia de forçar 4 fios
condutores entre o inicio e o fim, e um implícito, pois a bandeira
está como símbolo implícito da musica ao fundo de tudo, mas não
escancarado, não é que ouvimos uma maluquice, mas uma ideia
que é difícil por no papel, imagina na avenida.
— E acha que consegue fazer aquele carro que Sergio dese-
nhou?
173
— Vamos montando de alegoria a alegoria, a estrutura mon-
tamos, além de ser complexo no conjunto, é complexo no descer e
caber tudo no encolher Roberto, é construir, montar, verificar se a
engrenagem vai nos levar ao ponto que queremos.
— Me parecem muito fixas. – Roberto.
— Sim, como ele disse, esperava que cada um de nós ofere-
cêssemos o que tínhamos de melhor, então estamos estudando
cada alegoria enquanto elas vão ficando prontas, uma alegoria com
60 pessoas não é algo parado, mas é que os movimentos vão de-
pender de terminarmos Roberto.
— E estão conseguindo trabalhar com ele, muitos pularam fo-
ra por isto? – Roberto olhando Silvino.
— Tenho de concordar que ele nos coloca em encrenca, ele
me fez assinar a alegoria um, e sei que estou aprendendo o quanto
algo em fibra é mais resistente que em isopor, mais maleável que a
madeira, mas gera problemas, mas estou conseguindo entender-me
com ele sim Roberto.
— E o que acham dos sambas enredo? – Roberto.
— Deixar claro que votaria do 4 independente do autor da le-
tra Roberto, não sabia deste dom de escrever, mas cada um deve
votar no que melhor se sair.
Roberto olha Franco.
— Não gosto da ideia de usar uma frase já conhecida, mas pe-
lo jeito serei voto vencido.
Roberto olha Rodney.
— Disse que se for o que ganhar, gosto da ideia, transforma-
mos o hino da Bandeira em um samba para fazer o aquecimento,
tanto na escola como na entrada da Sapucaí.
— Sabe que estaríamos levantando algo, em uma manifesta-
ção publica, que pode sair do controle? – Roberto.
Franco olha Roberto, pois ele pensou em algo que ele não ha-
via se dado conta, despertar coisas ocultas, talvez isto que aquela
parte do samba o despertasse, uma parte que não gostava, mas não
era isto que gerava na maioria, olha Sergio e pergunta.
— Minha duvida, tudo isto, consegue chegar ao local de desfi-
le, e se consegue, qual a ideia?

174
— Franco, ninguém vai assumir isto, mas todas as entrelinhas
falam, compraram este carnaval, nossa aposta é um grande risco de
dar algo errado, mas se der certo, qualquer outra teria de ter feito
algo melhor, não estamos falando em por um carnaval para disputar
quinto, estamos falando em se conseguirmos, todos os demais te-
rem de fazer melhor que nós para ganhar.
Roberto pela primeira vez ouve a afirmativa, não era apenas
despertar algo, era tentar ganhar com algo assim.
— Vão em frente, pelo que soube, vamos estourar o orça-
mento este ano.
Sergio não comentou, não diria que iria sobrar antes de acon-
tecer.
O grupo saiu leve da reunião, os sorrisos pareciam falar para
os demais, agora temos um carnaval e Roberto olha o filho ao palco,
faz sinal para ele, que começa a apresentação dos 6 sambas que
ficaram.
João estava embaixo de um carro quando ouve um barulho e
olha para a ponta do carro e olha aqueles olhos lhe encarando.
— Não é lugar para criança. – João.
— Já cresci, mas podemos conversar rapaz?
João olha os seguranças a entrada e fala.
— Problemas?
— Não, é que tem um maluco da sua cidade, que jura não ter
nada mais contra mim, mas já pagou 3 vezes para me matarem.
— Alguém conhecido?
— Lá vocês chamam de Joaquim Moreira, o empresário, o es
presidente.
— Loco, certo, mas o que quer falar.
— Chamou ele como?
— Na favela que já morei chamam ele de Loco, foi traficante,
agiota, tinha agencia de acompanhante, para os ricos da cidade ele
pode vender a imagem de empresário, politico, mas os pobres o
conhecem por ser da parte viva da cidade.
Ela olha João sair de baixo do carro e limpar a mão.
— Problemas?
— Não, ajuste hidráulico do sistema de suspensão.
Micaela olha ele e fala.
175
— Meu pai me alertou algo sobre você ter citado que as
aguas a volta são contaminadas, este alerta é correto?
— Sim, deveríamos estar investindo em saneamento e con-
trole de empresas multinacionais que apenas querem o lucro fácil.
— E o que fará lá para evitar isto?
João a olha e fala.
— Talvez nada, soube que talvez tenha de vender, para dar
parte para minha es esposa.
— Problemas pessoais então?
— Sim, mas água se consegue a 22 metros em um sistema
pluvial subterrâneo, já o mercúrio ou metal pesado na agua do mar,
é mais fácil trazer agua de longe do que purificar, você precisaria
fazer o que a indústria a ponta deveria estar fazendo, tanques de
decantação.
— Sacanagem.
— Toca mesmo aquilo?
— Não pareço responsável? – A moça agressiva.
— Desculpa, é que minha filha tem sua idade.
— E ela é bonita como o pai?
— Não, ela é bonita, o pai este traste. – João.
— E vai vender lá?
— Melhor começar a pensar nisto, ainda não pensei em uma
saída boa para isto.
— Uma pena, mas e se tivesse outra saída.
— Não a quero morta, deixar claro isto.
— Não falei neste sentido. – Micaela sorriu.
— E em que sentido?
— Uma empresa de sociedade anônima, não estaria em seu
nome o terreno e sim da empresa.
— Nem sei se pode ser feito assim.
— Não quer tentar, é isto?
— Não disse isto, mas veio apenas perguntar isto?
— Não, onde vou desfilar.
João aponta o lugar e ela fala.
— Mas que graça tem aquilo?
João sorriu e apenas falou.

176
— Realmente Graça não vai ter, tem de ter sangue frio, aquilo
vai estar a 18 metros do chão.
— Está mentindo para mim.
João entra na provocação e fala.
— Quer testar se tem coragem?
Ela olha para ele e pergunta.
— E subo por onde?
João vai ao canto e pega uma escada grande e encosta na
alegoria.
O segurança ao fundo pergunta.
— Tem certeza menina?
— Micaela. – Corrigindo o segurança.
A pergunta era para João que olha o rapaz e fala.
— Ela quer saber se vai ter coragem na hora do desfile, me-
lhor dizer que não quer agora.
O segurança sorriu e viu Micaela subir e pegar nos ferros da
estrutura e João desencostar a escada, por a parede ao fundo, pegar
o controle e aquilo começa lingando, depois sobe os 4 primeiros
metros, e aos poucos ela chega aos 18 metros e olha lá de cima e
fala.
— E minha mãe, vai desfilar onde?
— No ponto central, da mesma alegoria, precisamos de uma
negra para o ponto oposto.
— Não escolheu?
— Não, todo pessoal é de responsabilidade de Sergio, eu sou
apenas o rapaz dos carros alegóricos.
A menina estava lá encima e olha em volta e pergunta.
— Mas este carro não tem graça.
— Ele não é para ser engraçado, ele está apenas na parte hi-
dráulica ainda, todo dia algo vai somar a ele, por mais de duzentos
dias.
— E o que somou hoje?
— A menina do ponto do lado de cá, é só esperar o dia agora.
Ele aciona o descer e olha o segurança olhando para o con-
junto descer e fala.
— Algo mais?

177
— Pensa na empresa, sei que teria de ter um sócio, mas isto
se dá um jeito.
— E pensa nos filtros e em furar um posso artesiano.
— Sacanagem estar ao lado de um rio e ter de apelar para
agua subterrânea.
— Quem sabe não conseguimos despoluir o rio aos poucos.
— Já querendo demais. – Micaela olhando a escada, João
olha para onde ela olhava e fala.
— Ops..., esqueci a escada.
João coloca a escada e espera ela se ajeitar na escada para a
soltar, e olha para a porta.
— Entrega esta hora. – A secretaria.
João faz sinal para o segurança.
— Protege a menina.
Micaela entendeu que não deveria ter entrega, mas viu o ra-
paz sair e olhar para dois rapazes puxando a mascara e um apontar
uma arma para ele.
— Perdeu, passa a carteira rápido.
O rapaz olha finalmente para João, ele estava de macacão, su-
jo de graxa e olhando descrente.
O segurança faz sinal para o outro e fala.
— Tem um caminhão na porta, eles querem esvaziar.
João olhava o rapaz, ele olha o segurança e aponta a arma pa-
ra o rapaz, e fala.
— Melhor baixar a arma rapaz, estamos em maioria. – O ra-
paz.
João pensou no que fazer, o que entrava a porta, fazia sinal
para mais alguém, caminhão para assaltos não era padrão.
Dá um passo no sentido do rapaz que andava olhando o segu-
rança, ergue a arma que atira para cima, o rapaz a porta olha Joao
inverter o braço do rapaz e apontar a arma na cabeça dele puxando
seu capuz e falar.
— Agora baixa a arma e deixa rapaz, ou ele morre.
Micaela olha ao fundo e ouve João falar.
— Aciona a policia, não queremos lhe envolver nisto menina.
O rapaz a entrada olha Micaela, João não entendeu o medo,
mas foi isto nos olhos do rapaz que baixa a arma e outro entra pela
178
porta e vendo um imobilizado e outro largando a arma fala alto,
dando um tiro para cima.
— Acha que não vamos esvaziar.
Entre o tiro, a frase e a arma voando para longe, e o rapaz
olhar assustado, foi segundos.
Eles ficaram naquele impasse e se ouviu o caminhão ao fun-
do, começar a sair, se ouviu dois tiros, Joao saberia logo após que os
seguranças furaram dois pneus do caminhão que mesmo assim saiu
dali, era dos grandes.
Fez sinal para o rapaz deitar, o segurança as costas chega ao
que João havia imobilizado e este chega ao segundo, imobiliza, e
olha o terceiro sangrando na mão, pensa na merda que daria aquilo.
Ele encosta a arma na cabeça do rapaz e pergunta.
— Uma única chance, e nem vão achar seu corpo, quem
mandou?
Micaela ao fundo sente os seres a volta, era uma distração,
João olha para o telhado e fala para o segurança.
— Gente se posicionando para o tiro, recua a menina.
Dois seguranças viram os seres saírem da moça, eles se assus-
tavam nesta hora, e o rapaz ao chão fala.
— Ela vai nos matar.
— Se não falar, será escrevo dela em alma até o fim dos dias
dela, uma eternidade para uma alma. – João.
O rapaz olhava a menina ao fundo e João fala aos dois segu-
ranças alto.
— Encostem na parede do fundo, tem atirador, pelo passo,
mais de 90 quilos – João ergue a voz e fala – Loco tá ficando gordo e
velho pelo jeito.
O senhor aparece na porta e olha João e pergunta.
— Quem é você rapaz?
— Não lembra dos que matou os pais em Curitiba, porque
vou explicar Loco?
— Ninguém me chama mais assim.
— Digamos que meu pai, quando vivo, por respeito o chama-
va de Zero, mas o que faz aqui Moreira, querendo morrer antes da
hora?
Moreira olha para João e fala.
179
— E não vai facilitar.
— Sei que se você está velho, e a ordem é matar a menina, a
ordem seria matar todos a volta, não seja cômico, veio me matar e
quer se fazer Loco.
O segurança ao fundo se arma, pois entendeu, a ordem era
matar a eles e não deixar testemunha.
— Ela me ameaçou.
— E está reclamando o que, quer que ela lhe mate, sabe
mesmo o que é direito a vida merdinha do Capanema que se diz
empresário respeitado?
João olha para o telhado e fala.
— Se puxar o gatilho Junior, é bom ter certeza que tem bala
para todos, pois será triste ver as meninas morrerem, mas quem
mata os filhos dos outros por dinheiro podre, entende o que é ma-
tar apenas por matar.
O segurança não via com quem João estava falando, mas ou-
ve o destravar da arma e ouve o tiro.
Joaquim havia atirado em João, a bala atravessa o rapaz que
ele usava como escudo e para a seu peito, e Joaquim ouve.
— Larga a arma senhor.
Joaquim olha assustado a policia entrando por todos os lados
e Micaela olha o delegado da Federal, Douglas Camargo apontar a
arma para Moreira.
O rapaz ao braço de João, sente a dor da bala entrando, de-
pois saindo, mas não falou nada, ele se encolhe enquanto João co-
loca a arma no chão calmamente.
Moreira olha o delegado e fala.
— Continua a protegendo.
— Disse que não queria tiros na minha região Moreira, o que
está fazendo?
Moreira olha Micaela, era ódio naquele olhar, difícil entender
algo assim, mas João é revistado, e o delegado olha Micaela e per-
gunta.
— Alguém mais ferido?
O segurança fez que não, e a menina fala.
— Obrigada.
— Paulinho está onde?
180
— Ele está em casa, ate ele pega resfriado. – Micaela.
— E quem é o valente que queria morrer? – Douglas olhando
João.
João não sabia o que falar, apenas olha o chão, pensando no
que falar.
O rapaz ao chão estava com a mão no ombro, e olha para a
bala e olha Joao, pergunta baixo.
— O que é você?
João sorriu e falou olhando Moreira.
— Em teoria, alguém que seu chefinho matou com 10 anos de
idade. – João falou baixo, mas o rapaz olha Moreira e soube que as
coisas não estavam como pensaram, ele não falara quem era o alvo,
apenas entrar, matar todos e esvaziar o barracão.
O rapaz olha em volta e pensa que seria impossível esvaziar o
local e soube que a ideia era apenas matar todos.
O delegado chega ao rapaz e olha a entrada.
— Chama uma ambulância, eles morrem e a culpa é nossa, ti-
ra as armas do rapaz, e verifica o telhado, alguém está correndo por
cima no sentido do Correio.
O rapaz a entrada é algemado e depois fazem o curativo na
mão, o que levara o tiro, olha para a bala e coloca no bolso, o polici-
al o leva a maca e é algemado a ela, e saem dali.
Micaela olha Moreira e pergunta.
— Não vai parar mesmo? É idiota ou odeia mesmo seus filhos
que quer a morte assim, por trocado?
Moreira é algemado e tirado dali, e João ainda olhava o chão
e Micaela fala.
— Não sabe o que falar, imagino o que é isto.
— Alguém me mataria apenas para chegar a você.
— E não se entregaria assim tão fácil.
— Eu não gosto de ser vitrine, de precisar não ficar quieto, de
aparecer, sei que acabo aparecendo mais por isto, mas está bem
menina.
— Pensei que era apenas um montador de carro, sabe atirar.
Micaela olha para as luzes a volta e vê o rapaz fazer o sinal
para ela, e sente as almas voltarem a ela, olha ele e pergunta.
— O que é você João?
181
— A pergunta que não quero responder menina.
João é levado a delegacia, ele havia dado um tiro, e precisa-
vam levantar os dados, Micaela liga para o pai e explica o que havia
acontecido.
Roberto olha para Franco e fala.
— Cuida daqui, João foi detido, tentaram roubar o barracão e
parece que ele reagiu, não entendo mais de leis, era bom quando
nós éramos os contraventores, hoje são todos culpados até mesmo
os inocentes.
Roberto pega o telefone e disca para Kevin, o advogado e es-
te sai para a delegacia.
Kevin olha João e pergunta o que aconteceu, a pergunta se-
guinte fez Kevin olhar desconfiado.
— Tem passagem policial?
— Tudo antes dos 18.
— O que pensou estar fazendo? – Kevin.
João olha em volta e fala.
— Eu odeio mortes rapaz, sabe o que acompanha a menina,
eu me sentiria culpado por cada morte que acontecesse.
Kevin entendeu que o que parecia uma reação, foi uma tenta-
tiva da menina não se envolver, Kevin sai e olha o delegado e fala.
— O que tem contra ele irmão para pedir sua detenção?
— Ele foi detido 3 vezes por falta de pagamento de pensão.
— Trabalhador transformado em criminoso, não entendo esta
lei, tinha de ter outra saída.
— Ele sabe o que fez Kevin, tem de aviar eles a não atirar.
— Ele sabe Douglas, ele sabe, o que ele falou foi que se culpa-
ria pelas mortes que aconteceriam, se ele não fizesse nada.
— Não entendi.
— Ele sabe que a menina tem algo dentro dela, você também
sabe.
Douglas olha o irmão e fala.
— Vi que ele acalmou ela, puxando para elas aquelas vivenci-
as, mas pensei que foi impressão minha.
— Ele neste instante não tem prisão decretada, e se defender
não deveria ser proibido por lei.
— E o que tem naquele barracão?
182
— Ali que eles estavam construindo o que esta semana co-
meçaram a transferir para a Cidade do Samba de novo.
— E pelo jeito Moreira continua fora do controle.
— Pelo jeito.
O delegado pede para falar com João e faz as perguntas inici-
ais, nome, profissão, idade e começa pela primeira pergunta.
— Conhece Joaquim Jose Moreira.
— Infelizmente sim.
— De onde?
— Ele matou meu pai e minha mãe, quando tinha 10 anos, na
frente do filho, e hoje ainda temos de ver a lei o chamar de empre-
sário respeitado.
O advogado olha descrente, algo a mais de 20 anos, mas
mesmo assim, uma acusação pesada.
— E ele não respondeu.
— Ele tem covardes que o defendem, ele atirou no rapaz que
contratou para me acertar, que animal é este que se tornou este
senhor?
— O rapaz não parece ter levado um tiro.
— Sangrou por um buraco que não existe, estas suas leis não
servem para alguns Delegado.
— O que tem a falar sobre as vezes que foi preso por não pa-
gamento de pensão?
— A ultima vez que fui, perdi o emprego, sai pois antes tinha
como pagar, mas minha es não queria apenas aquilo, quando sai, sai
pois 10% de nada, é nada.
— E veio para a cidade tentar algo diferente?
— Eu abri uma poupança para minha filha senhor, para quan-
do ela estiver adulta, pensão por quase 8 anos, e não posso chegar
perto de minha filha, a casa que moramos, ela já torrou, todo di-
nheiro que ela tem acesso, gasta, então que lei é esta, que me obri-
ga a pagar uma pensão, que deveria ser para proteger a criança, dai
tenho de pagar por fora colégio, refeição, sem nem poder chegar
perto, por uma lei que considera que ela tem direito e ir e vir, eu
não.
— Leis são para ser cumprida.

183
— Porque somente os trabalhadores a cumprem, pois policial
e bandido não cumprem.
— Fala demais rapaz.
— Falo, pensa, meus pais foram mortos pelo senhor que pu-
xou uma arma contra mim hoje, deu um tiro com a arma, já foram
26 anos e ele continua solto e matando.
O delegado viu que não teria como não acionar Moreira, mas
talvez ele tivesse de entender que não poderia fazer tudo como
queria.
João é dispensado e o delegado pede a ficha de quem seriam
os pais do rapaz e para na ficha e manda chamar Moreira.
Ele faz as perguntas básicas e Moreira olha serio e fala.
— Não vou responder nada Delegado.
— Bom saber, vai daqui para a cela.
— Motivo.
— Sabe o motivo, se não quer responder, eu tenho de per-
guntar, pode se recusar, mas tenho de perguntar.
Moreira se cala e a primeira pergunta.
— Joaquim Jose Moreira, o que lhe leva a tentar matar João
Mayer 26 anos depois de tentar a primeira vez e por morte de um
juiz, o processo ter sido arquivado?
Moreira olha como se não soubesse mesmo o que o delegado
estava falando.
— Porque invadiu o local de trabalho do rapaz?
— Porque contratar pessoas, se não iria levar nada?
— Qual a verdadeira intensão na invasão ao barracão de um
desafeto, ter atirado em um rapaz, e levado gente para esvaziar, e
para que usaria a gasolina em galões que foi encontrado no cami-
nhão que usavam, duas quadras dali?
O delegado olha o escrivão e fala.
— Estou determinando a prisão preventiva para esclareci-
mento dos fatos.
Moreira olha serio para o delegado depois do Escrivão já ter
parado de escrever.
— Acha que me põem medo?
— Levou sorte Moreira, não é inteligente como a fama fala,
quando está fora de si.
184
Moreira é detido e levado para a delegacia da policia federal.
Kevin olha para João e pergunta.
— Seus pais foram mesmo mortos por Moreira?
— Sim, na minha presença e de um vizinho, que estava lá em
casa, eu levei 3 tiros e sobrevivi, fui o único a sair vivo daquele local
rapaz.
— Entendi porque reagiu, já vivera isto antes, e porque o ra-
paz não foi preso?
— Ele tem gente que o defende no exercito, pelo menos na
época tinha, ele ficou ausente e um juiz morreu, ninguém quis pe-
gar o processo e os prazos venceram.
— E nunca tentou uma vingança.
João olha o rapaz, lembrando de estar naquele dia, de pé a
frente de seu corpo, olhar a alma do seu amigo brilhar e lhe olhar
com raiva, olhar sua mãe e pai se abraçarem vendo seus corpos
caídos, avançarem para ele como se com raiva, fecha os olhos as-
sustado, lembra do policial entrar pela porta, lembra da dor no co-
ração e o corpo sentir dor e fazer um ruído, o rapaz chega a ele e
manda ele ficar quieto, sempre pensou que não era sua hora, lem-
bra do ódio em rostos conhecidos, lembra de pensar que deveria ter
morrido, fica até os 18 em uma instituição de menores, sim, nas
saídas que todos tinham de fim de ano, a maioria tinha para onde
voltar, ele ficava a rua, dai ele cometia pequenos furtos para comer.
O advogado deixa ele na pensão, e ele sobe, toma um banho,
estava quebrado, viu Marta o abraçar e dorme em seus braços, as
vezes ele queria poder confiar em alguém.

185
Era manhã de domingo, no
prédio dos David, na Avenida
Atlântico, quando Kevin olha para
Roberto e fala.
— Não temos como saber
se o alvo era sua filha ou o próprio
rapaz Roberto.
— E o que Moreira teria
contra ele?
— Ele aos 10 anos, viu os pais morrerem e levou 3 tiros de
Moreira, da casa que ele estava, somente ele sobreviveu.
— E o que seu irmão fez?
— Prendeu o Moreira para averiguação.
— Ele não tem como levantar um crime tão antigo.
— Mas pode ser o motivo, ele não teria um motivo racional
contra sua filha, sempre acho que o senhor me esconde algo, mas
para o deter, tem de se ter um motivo.
Roberto olha a filha entrar na sala e pergunta.
— Está dizendo que ele foi quase morto por Moreira, mas ele
não parecia o querer matar.
— Isto que não entendi, mas falei com alguns, e Francisco
Pombo em Curitiba, fala que Moreira está com aura de imortal. –
Kevin olhando a menina.
— Está dizendo que ele não saberia se o senhor seria morto,
e se estivesse eu e ele, um diante do outro, ele poderia me matar.
Kevin não sabia e não responde, mas olha para Roberto.
— Pelo jeito o rapaz dos carros alegóricos tem um passado
triste, ele depois da morte dos pais, foi a uma instituição de meno-
res, entre os 10 e 18, tem 22 passagens por pequenos furtos, depois
dos 18, apenas por não pagamento de pensão.
— Foi casado?
— Tem uma es e uma filha de 15, que a lei diz que não pode
chegar perto, um juiz pegou a infância dele e com uma afirmativa da

186
mãe conseguiu que ele tem de pagar pensão e não pode chegar
perto da filha e nem da moça.
— E o que Moreira queria?
— Não sabemos, mas no caminhão que abandonaram, pois os
seguranças furaram os pneus, tinha muita gasolina em galão.
— O delegado acha que eles queriam por fogo?
— Ordem de matar a todos. Foi o que um dos rapazes falou.
— E porque ele falou? – Roberto.
— Algo haver com não morrer, alguns duvidaram da operação
quando viram sua filha, mas tinha atirador no telhado, tinha até
gente no telhado do vizinho. – Kevin.
— E como ficamos?
— Não sei senhor, o senhor que determina, mantemos a de-
fesa do rapaz ou não?
— Ele não parece precisar de defesa, mas fica de olho, esque-
cemos que as pessoas tem passado. – Roberto.
Micaela olha para o pai e pergunta.
— Não entendo as vezes o que pensa pai?
— É apenas um montador de carros.
Micaela iria falar algo, mas sente os espíritos ficarem agitados
e olha para a entrada e fala.
— O delegado vem falar.
Kevin olha para a menina e fala.
— O que ele quer saber?
— O que não entendi.
— O que não entendeu filha?
— Alguém levou um tiro na altura do peito, mas este ser não
morreu, e o delegado deve estar intrigado, pois a gasolina vai o por
no caso do primeiro incêndio pai.
O senhor se anunciou e subiu.
Douglas olha o senhor Roberto.
— Podemos conversar senhor?
— Algo que formal ou informal?
— Informal ainda.
Roberto olha a filha que fala.
— Não sei pai.
Douglas olha o irmão e fala.
187
— Esta conversa não aconteceu, mas preciso saber se teria
um motivo a mais para Moreira querer queimar do barracão, o que
prendemos de combustível, até o correios iria ter problemas.
Roberto olha o rapaz.
— Acha que foi encomendado?
— Sim, a ordem era tirar algo, para isto o caminhão, matar
todos e queimar tudo.
— E porque acha que é encomenda?
— Não faz sentido você queimar um local que oficialmente
não tem nada.
— Os corpos? – Micaela.
Douglas a olha.
— Porque pensou nisto?
Micaela senta-se e olha serio para Douglas.
— Uma coisas eu entendo de leis no Brasil, se você não tem
corpos, não tem crime, e se o caminhão não era para tirar algo, e
sim os corpos?
— Mas existiria um motivo?
— Alguém pelo que entendi, está no nosso barracão, mas é
de Curitiba, e sofreu na mão deste Moreira, alguém que tem seus
maiores problemas por não conseguir calar a boca, mas estava ten-
tando encontrar quem não estava na cena final, e estava na entrada
do grupo, a secretaria da entrada, ela saiu antes do pessoal entrar,
ela que abriu para eles falando em encomenda.
Roberto olha a filha.
— Quem estava lá filha?
— Martinha.
Roberto olha para fora e depois para Douglas.
— Sei que não nos damos muito delegado, mas tem de en-
tender que é tudo sequencial nesta cidade, e pode não ser o que
nem eu e nem você pensamos.
— Ou ser mais complexo do que pensamos. – Micaela.
— O que acham que aconteceu? – Douglas.
— O rapaz comprou um terreno em Santa Cruz, alguns falam
que o fundo daquele terreno foi uma desova de corpos a mais de 5
anos de Rochinha, pai de Martinha, sócio de Moreira. – Roberto
olhando para o delegado.
188
— Mas porque eles agiriam agora?
— Ele está ajeitando o terreno e abrindo tanques para criação
de camarão, em todo o terreno. – Micaela.
Douglas olha para ela.
— Tentou comprar pelo jeito?
— Sim, mas estava caro, o rapaz parece ter conseguido um
preço que não me ofereceram.
— Ou não lhe ofereceram pensando que ia fazer buraco filha.
– Fala Roberto olhando a filha.
— Pode ser, embora estávamos falando em montar algo em
paralelo, pois ele precisa tirar do nome dele, pois seria obrigado a
vender.
— Ameaçado? – Delegado.
— Não, uma es que pelo que entendi, torrou tudo que ele
conseguiu ganhar.
Douglas agradece a colaboração e volta a delegacia.
Douglas emite uma busca e apreensão para 3 endereços e fi-
ca esperando as peças se mexerem.
João estava novamente embaixo de um carro, verificando as
canaletas que seriam usadas para a fiação, quando o segurança fala.
— Um oficial com dois policiais.
João olha para o policial, assina e pega o carro e se manda pa-
ra a delegacia, passando na pensão antes para pegar a carteira, ele
andava com uma copia, pois o caminhar entre o trabalho e quarto
de dormir, poderia ser assaltado.
Ele vai de lá para a delegacia e o delegado o recebe.
— Obrigado pelo comparecimento senhor Mayer, mas pode-
ria auxiliar em nossa investigação?
— No que posso ajudar?
— Afirmaram que o motivo da operação de ontem, poderia
nem ser o que pensamos e precisamos entender a razão.
— E qual seria?
— Terem usado o areal ao fundo do terreno que comprou, a
poucos anos como desova de corpos.
— Quer acesso, não precisa de minha permissão delegado.
O delegado olha para João e pergunta.
— Tem algo com a menina dos David?
189
— Ela é uma criança Delegado, tem a idade de minha filha.
— Não tem nada com ela, melhor, não se complica assim.
João estranha e olha em volta e fala.
— Vem pressão delegado.
Douglas olha para João e pergunta.
— Você parece compreender o que ela faz.
— Sua aura diz que você também delegado.
Douglas estava curioso sobre João, alguém que passava a to-
dos a volta, a imagem de trabalhador e dedicado, mas que todos
sem exceção falavam que a primeira vez, tiveram uma sensação
ruim dele.
— Alguns falam que o rapaz levou o tiro, que parecia que o ti-
ro atravessaria o rapaz e lhe atingiria, mas algo aconteceu, saberia
explicar.
— Delegado, um pai se santo, a muito tempo, disse que mi-
nha alma tá tão amarrada a esta existência, que se eu tiver uma
chance eu não morro, ele via isto em minha aura, mas é complicado
quando você está usando alguém como escudo, e algo atravessa o
ser a frente, e minha aura faz a bala recuar, eu teria de fazer isto em
um laboratório para entender, como não o farei, nunca saberei o
que esta aura é capaz de fazer, eu não falo isto normalmente.
— Então porque reagiu?
— Eu já levei 3 tiros daquele senhor, talvez a única memoria
que tenho confusa daquele momento é ver rapidamente meu cor-
po, ao chão, ver uns brilhos, sentir a dor e abrir os olhos com dor e
um policial chamar uma ambulância, mas da dor eu lembro.
— Sabe que o escritório de advocacia dele é dos melhores.
— As vezes temo Delegado, sei que algo aconteceu naquele
dia, mas não entendo até hoje.
— Os seres não lhe atacam, vi isto no barracão.
— O que não entendeu e não sabe como perguntar Delegado.
Ou tem medo de perguntar.
O delegado olha o rapaz, viu espíritos perdidos no lugar fica-
rem visíveis e Douglas olha para ele intrigado fechar os olhos, viu os
rostos ficarem furiosos, olha João fazer o gesto com as mãos e vê
todos os espíritos correrem para ele, por um momento ele brilhou,
abriu os olhos e encara o delegado.
190
— Você sabe que em teoria isto é impossível.
— Eu sei, quando não reclamei de minha es pedir para me
afastar de minha filha, é que pessoas próximas, que lhe admiram,
deixam a alma muito desprendida em seu sentido, eu me afastei
pensando que poderia sem sentir as matar.
Douglas olha o rapaz olhar o chão, depois voltar a olhar para
ele.
— E tenta longe.
— Tento não me apegar a ninguém, temo pelo que desco-
nheço delegado, e é algo que a lei me internaria como maluco.
— E tenta não matar da mesma forma.
— Sim, almas a muito mortas, são calmas, mas as recém mor-
tas, são muito agitadas.
— E não teme isto?
— Delegado, eu evito fechar os olhos quando estou em peri-
go, não é minha vontade, é vontade do que me disseram ser parte
de mim, poder de minha aura, eu nunca acreditei como as pessoas
para saber se é real ou não.
Douglas fica mais perdido do que o normal, talvez isto fosse
parte do que ele não queria entender, ele as vezes voltava a ser o
pai de santo, as vezes o cargo lhe afastava do terreiro que já fora de
seu pai.
João volta ao barracão e pensa se valia continuar, ele senta-se
meio perdido, a sensação de que poderiam ter posto fogo em tudo,
deixou ele preocupado.
A batida na casa de Rochinha, prendem 12 armas, drogas,
dois rapazes que as câmeras do hotel ao fundo, diziam que estavam
na cena do provável crime.
O delegado olha Rochinha e fala depois das perguntas bási-
cas. Olhando o senhor serio.
— Senhor Marcos Rocha, o que o senhor tem haver com o
uso de um caminhão de sua empresa, para tentar um assalto na
região do Porto?
Rochinha olha o advogado e fala.
— Me reservo ao silencio.
— Qual sua ligação com Joaquim Jose Moreira?

191
O senhor se manteve quieto, pois não sabia se eles tinham al-
go, e as perguntas foram se somando.
— Saberia porque dois dos assaltantes presos, afirmam que o
senhor é um dos mandantes?
O delegado olha o escrivão e anuncia a prisão.
— Senhor Marcos Rocha, está detido preventivamente para
levantamento de provas, será conduzido ao IML para exame de
corpo delito e aguardará o levantamento do processo nas celas da
policia Federal local.
O delegado odiava estar se metendo nisto, mas a lei local di-
zia que todos os crimes cometidos até 300 metros do cais do porto
eram de responsabilidade da policia federal.
Estava a terminar de reler para assinar o processo de prisão
quando olha o delegado Martins da Primeira Delegacia da Policia
Civil a porta com dois investigadores.
— Sabe onde está colocando a colher Delegado?
— Não, saberia me explicar?
— Vai morrer se continuar pegando pesado Delegado.
— Uma ameaça? – Douglas.
O delegado da Policia Civil olha ele serio.
— Deteve duas pessoas importantes para o andamento das
coisas, pela denuncia de um ferreiro de escola de samba?
Douglas sabia que muitos o pressionariam.
— Delegado, se vão me pressionar por estar na região na ho-
ra e proteger estes detidos de problemas maiores, não posso fazer
nada, mas o que eles escondem, o que irritou você Martins, que
saiu da sua área de conforto, para minha área de conforto?
— Aquele terreno deveria ter virado parque, não uma criação
de camarão delegado, aquilo é desova de gente deste o golpe mili-
tar, depois a civil usou aquilo na década de 90, dizem que parte da
militar usou aquilo e agora os donos da cidade usam.
Douglas entendeu o problema finalmente, o tamanho do
problema, mas ainda achava que teria mais problemas ali.
— Não era mais fácil ameaçar do que chegar matando, pois
depois vem herdeiros, mais mortes, vem sempre mais alguém, um
terreno dentro da cidade, de 4 milhões de metros quadrados, com

192
certeza viria gente para verificar e sempre teria mais gente e o pro-
blema se arrastando.
— Moreira ficou preocupado quando a menina dos David,
começou a fazer criação de camarão na outra margem, ela tentou
comprar e o corretor foi ameaçado para sempre por bem acima do
preço quando ela oferecesse algo.
— E alguém de fora vem, compra e olha para o outro lado e
começa a fazer buraco?
— Ele está longe da região ainda, mas é inevitável chegar lá.
— Contraventores que não sabem conversar me assusta de-
legado, eles se matam por trocado.
— Não é por trocado delegado Camargo.
— Acha que a menina tira quanto em camarão naqueles tan-
ques delegado, eu não acho quatro milhões de reais ano trocado,
até entendo o interesse dela, pois o terreno que o rapaz comprou é
maior que a soma de pequenos terrenos que ela comprou aos pou-
cos em um único, mas manda estes seus conhecidos apenas procu-
rar onde estiver o ultimo corpo, deve estar evidente isto para a téc-
nica, não quero o exercito nisto, e manda os senhores segurar os
cães, eles iriam por os David novamente nisto, e da ultima vez eu
que tive de apagar o fogo, surgiu até um grupo novo de contraven-
tores na cidade.
— Eles não ouvem a razão. – Delegado Martins – Mas enten-
do onde quer chegar, não adianta eles falarem algo e fazerem o
oposto disto.
— Sim, estou nisto por estar na região vendo um desvio de
carga, do porto e termos apreendido um caminhão lotado de galões
de gasolina, estou tentando não ligar as escolas de samba nisto,
pois iria feder do outro lado, então estou apenas sobre quem estava
lá e sobre quem os rapazes falaram mandar a operação Martins,
não me adianta tentar pegar casos do século passado, já prescreve-
ram, então apenas manda o IML lá, verifica porque da briga.
— Acha que não é o que falaram?
— Se duvidar foi porque ele fez os tanques rente a avenida e
lhes tirou acesso, não por que está onde não querem.
— E tem algo contra o rapaz?

193
— As vezes talvez você o prenda Martins, ele tem uma es es-
posa que pelo jeito o deixou sem nada, ele veio tentar algo, e ela já
está querendo que ele venda o terreno, pensa na merda que eles
estão fazendo, o rapaz prestes a parar e vender o lugar e eles ata-
cam o rapaz.
— Não foi medo dele vender para os David?
— A menina demorou 2 anos para chegar ao ponto que está
lá, ela demoraria outros 6 anos para fazer cocega neles, não é moti-
vo, eles querem continuar usando o lugar, se tem tanta coisa lá,
avisa eles, quem puser o ultimo, pode pagar por todos.
— Pensei que iria revirar o lugar.
— Delegado, explica que eles estão colocando um daqueles
seres que não devemos mexer, no problema, deixa ele apenas fa-
zendo carros alegóricos.
O delegado olha serio e pergunta.
— A ausência de paginas do relatório tem algo.
— Não posso por uma acusação, que não tenho como provar
lá, o rapaz a entrada fala que Moreira atirou no rapaz, a bala de
uma 16 milímetros, teria de ter atravessado o rapaz que este tal de
João, usava de escudo, ai tenho a afirmativa de que o rapaz sentiu a
bala o atravessar, a dor, mas a bala entrou, saiu e o rapaz não mor-
reu, não tenho como por nem a afirmativa de que ele levou um tiro,
o HC afirma que aquela cicatriz na mesma região, tem cicatrização
de mais de 6 meses.
O delegado olha serio.
— Mais um que não morreria assim fácil?
— Não sei Martins, estou ainda tentando entender a burrada
que alguns fizeram, mas tem coisas que não estão nos relatórios
pois não teria como as deixar ali.
— E pelo jeito não vai fazer vistas grossas.
— Ele está prestes a vender, acho que ele lá, é menos pro-
blema, parece alguém que conversaria Martins.
Martins sai dali e Douglas olha os dados, termina de conferir
o pedido de prisão.
O IML teve dificuldade de chegar a região que foi apontada,
eles abrem apenas uma cova, o mato e a dificuldade de acesso por
terem criado duas sequencias de tanque, em uma cova antiga o
194
pessoal tira um único corpo, Nicolas Santos, o Niquinho, já em de-
composição de mais de um mês.
Era perto das 18 horas quando o delegado pede para traze-
rem Moreira a sala.
Joaquim entra na sala e vê que não tem escrivão, ele não gos-
tava de Douglas.
— O que quer rapaz? – Joaquim.
— Entender se temos como ter paz Joaquim.
— Não entendi a acusação, você não tem provas.
— Tenho testemunhas Moreira, que você atirou no seu rapaz
para matar o rapaz, mas não foi a pergunta.
— Você me acusa de tentar matar o rapaz, não entendi.
— Não vou por os David nisto, lembra deles?
— Aquela menina me irrita, pensei que ela não estaria ali,
pois o segurança principal dela não estava na região.
— E foi lá fazer um serviço, não tem como me convencer dis-
to Moreira, é muito básico para estar lá ainda fazendo, mas o rapaz
que você atirou, é o filho de Candinho, da vila Capanema em Curiti-
ba, o menino que não morreu e sem nada, foi criado em uma insti-
tuição de menores, ele apenas cresceu um pouco nos últimos 26
anos Moreira.
Joaquim lembra da operação, ele não deixaria testemunhas,
nunca deixara, limpar a área era regra, mas a policia chegou muito
rápido, saíram e soube bem depois que o menino estava vivo, mas
entendeu a afirmativa.
— Não fui condenado por aquelas mortes.
— Sei disto Moreira, mas que porcaria de operação com
combustível capaz de queimar toda quadra foi aquela?
— Os David não recuam e ainda me colocam um rapaz que
quer crescer em dois pontos que Rocha se preocupou, uma fazenda
de camarão numa área de desova, e uma pensão que atrapalha o
entrar e sair da região sem ninguém ver.
— Ele apenas quer o direito de tentar Moreira, pelo que sou-
be, cada passo que alguém indicou ele caminhou, ele não que ficar
onde os David possam o por para correr e saber fácil onde está.
— E o que ele falava com a menina?

195
— Não a chamei a depor, para não o complicar Moreira, mas
tem de entender a merda que estão fazendo, o rapaz conversa, pelo
que entendi, ele se esconde mais naquele barracão que a maioria,
vocês que estão o colocando em movimento.
— Ele não pararia seus projetos.
— Ele nem consegue abrir mais do que duzentos metros de
terreno para o fundo, toda região ao fundo está na autorização que
ele pediu, para a prefeitura, para ser uma área de contenção de
enchente, para mim parece mais a comodidade de não mudar o
lugar de desova, apenas isto Moreira.
— O lugar é bom para isto.
Douglas olha o senhor serio e ele fala.
— Mas ele poderia vender para a menina.
— Moreira, aquela menina é como você, nada inocente, se
acha que ela enterrou os desaparecidos em outro lugar, não olhou
direito, acho que ela queria comprar aquilo não para fazer tanques,
mas para ninguém cavar lá.
— E não investigou?
— Toda vez que chego perto daquela região, me vem tanta
pressão para ficar longe, de todos os lados, que não gosto de mexer
lá, e parece que todos vocês adoram aquele lugar.
— E vai me manter preso?
— Amanha cedo sai uma determinação para sua soltura, pen-
sei que a juíza Rita iria olhar o seu pedido hoje, não sei o que fez
que ela não olhou.
Moreira olha o delegado olhar a porta e falar.
— Conduz a cela.
Moreira sabia que aquele rapaz não era santo, mas entendeu
que ele fez questão de lhe deixar por dentro do que estava aconte-
cendo.
As 18 horas, João olha para a entrada e vê o senhor Roberto,
ele não sabia se o senhor o manteria ali, estava fazendo o que se
propôs, mas sabia que o senhor não estava feliz.
— Sabe que não gosto de gente encrenqueira por perto ra-
paz, você parece dominar muito mais do que parece, mas não sei se
quero você coordenando o carnaval da minha escola.

196
João guarda a chave a parede e olha o senhor, não queria dis-
cutir, mas as vezes colhia as consequências.
— O que fiz que não gostou senhor?
— Não compareceu a escola e estava aqui com minha filha,
não entendi o que os dois tem ainda.
— Sabe a resposta disto senhor, mas como disse, meu carro
está basicamente pronto, ele só precisa ser montado, e isto se faz
na semana do desfile, minha parte eu sempre tento cumprir, mas
não vejo nada de irregular no que fiz aqui.
— Me colocou em um problema com o Rocha.
João olha para ele descrente da frase e fala.
— Então desculpa, saio de seu barracão senhor, se para você
não ter problemas teria de ter morrido, desculpa, não morro tão
fácil assim.
— Você sempre fala o que quer, acha que não sabemos que
você é um encrenqueiro.
João não falou nada, olha o carro ao fundo, os projetos, ape-
nas chega ao canto, lava a mão, pega a chave do carro, a carteira e
caminha até o carro, ele não queria discutir.
Roberto olha para o rapaz saindo, ele não estava gostando de
como as coisas estavam andando, ele queria uma comissão, ele em
sua logica, tinha agora como terminar e ter um grande desfile.
João chega ao carro, respira fundo, todos pensando que ele
iria a quadra da Beija Flor aquela noite, ele apenas dirige até o ter-
reno na região de Santa Cruz, olha o senhor Kevin e pergunta.
— Muita pressão aqui?
— Não entendi, tiraram um corpo bem do fundo.
— Talvez tenha de vender isto Kevin, e não sei como ainda,
acabo de perder a fonte de recursos, quer dizer, parte dela.
— E veio pensar?
— Este terreno me tirou o emprego, estranho como os mar-
ginais se respeitam, e se um quer sua morte, o outro abre a porta e
sente-se bem por isto.
— E porque fariam isto?
— Eles usavam o fundo como desova de corpos Kevin, mas
vou olhar isto de perto hoje, mas tenho de pensar em como me
virar daqui para frente.
197
— E não sabe ainda?
— Eu acho que eles não entenderam o quanto me dedico as
coisas, as vezes queria apenas que conversassem, e chegam atiran-
do, mas vou tentar vender para quem mantenha isto produtivo.
— Tem um comprador?
— Acho que todos tendem a me virar as costas, então que
não me vejam.
— E não vai se esconder?
— Eu não, vou pressionar e mudar o foco das coisas.
João começa a caminhar e o senhor olha ele sumir ao fundo,
no mato alto, João foi sentindo as almas, ele fecha os olhos e come-
ça a caminhar, seguindo a energia, sentindo os seres o tocarem, ele
chega a um ponto, sente almas a toda volta, ele sem abrir os olhos,
senta-se e sente a areia, puxa as mãos para ele e sente a energia de
muitas almas virem a ele, que fica quieto a sentir as historias, ele
parecia brilhar ao fundo, como o cair da noite a toda volta.
No barracão Júlio chega a Diego e pergunta.
— Ele não vem hoje?
— Não entendi, parece que não vão escolher a nossa musica
Júlio, os demais gostaram, mas Franco não gostou, Roberto não está
feliz com a letra, e no meio de tudo, João não me ligou.
Os finalistas fazem a apresentação, Franco reúne o pessoal e
olha para Roberto olhar para ele, soube que ele afastara o rapaz
pelo rapaz do barracão que o ligou, mas as decisões de Roberto ele
não discutia, os demais votaram e com o voto de Roberto pelo sam-
ba numero 66, todos sabiam que Franco e Roberto não queriam o
samba, e o desempate era o voto de Gabriel, Roberto não havia
conversado com o filho, mas ele sempre lhe acompanhava, mas ele
apenas sem discutir fala.
— 4.
A cara de revoltado de Roberto fez Gabriel olhar o pai e per-
guntar com todas as palavras.
— Agora antes de anunciarmos, pai, me explica porque colo-
cou o rapaz para correr?
Sergio olha Franco, ele desvia o olhar e Roberto fala.
— Ele atraiu perigo para nosso lado.

198
— A verdade pai, pois ele não atraiu nada, ele apenas não
morreu para que alguém colocasse fogo no nosso barracão, que
nem deveria ter sido revelado onde era.
— Ele não acata ordens, ele não é da família.
Gabriel olha para Sergio e fala.
— Vou começar a ajudar no barracão, chama algum enge-
nheiro para assinar as coisas, e pelo menos 4 engenheiros mecâni-
cos, vamos precisar, e recomendava por todos em ação a partir de
amanha, pois se meu pai não entendeu que a maioria não trabalha
18 horas por dia sem reclamar, teremos de compensar de alguma
forma, e que todos tenham entendido a ideia, pois novamente pa-
rece que – Gabriel olha o pai serio – não somos concorrentes, vol-
tamos ao plano dois, ficar em quinto lugar.
Gabriel não discutiu nada, Roberto viu que todos olhavam
ele, não havia motivos para afastar o rapaz, mas Gabriel chega a
frente e faz um sinal para Rodney que sorri e ouve Gabriel ao micro-
fone falar.
— Vamos anunciar de forma diferente o campeão este ano.
A bateria começa a tocar o Hino da Bandeira e Neguinho na
ponta sorri e começa a puxar o mesmo, e o grupo 4 comemora, e o
pessoal da comunidade que vira Roberto falando com o pessoal do
samba 66 e estava tentando se inteirar do samba, que não estavam
cantando voltam para a quadra a gritar o samba.
Os sites especializados registram o inicio e o samba após, e fi-
cou obvio a cara de poucos amigos de Roberto ao fundo.
Micaela ao longe olha para Gabriel e chega perto.
— O que aconteceu?
— O pai pensou que você tinha algo com aquele senhor.
— O mandou embora, é isto?
— Sim, é isto.
— E pelo jeito ele fez um conluio para o samba não ganhar e
mesmo assim ganhou.
— Voltamos a pensar em como chegar em quinto, não mais
em primeiro mana.
— Você tomando as dores do rapaz.
— Mick, o que nosso pai queria, que ele morresse na quadra
para não brigar com o amiguinho que poria fogo em tudo?
199
Micaela viu a festa, e olha para seu pai chegar ao lado e falar.
— Não vai reclamar.
— Não pai, mas não entendi, pensei que mandava na escola,
não era para ganhar o 66?
— Não gosta deste samba também?
— Gosto, mas desfile não se faz de sambas que se gosta, cer-
to que este o povo está gritando, mas precisa de conteúdo também.
Roberto olha a filha ir falar com Rodrigo, ele não estava na
bateria naquele dia.
— O que está acontecendo Roberto? – Franco.
— Não sei, as vezes acho que foi o certo, mas sei que vocês
vão ter de correr para fazer as ideias que o rapaz teve.
— Sei que não gosto de elogiar ele Roberto, mas ele fez o
trabalho dele, organizou o barracão, cada dia de trabalho até De-
zembro, e depois disto, ensaio e acabamento.
— E pelo jeito vamos precisar de alguém calculando aquilo.
— Sim, ele não tem diploma, mas sabe fazer Roberto.
— Não esperava que Gabriel tomasse as dores.
— Ele sabe bater nas ideias que quer, sabe que sempre quis
que ele assumisse Roberto, eu quase pulei fora o ano passado por
este motivo.
Roberto olha a festa no barracão e fala.
— O povo gostou mesmo deste.
— Sim, viu a ideia já sair pela porta, as colunas colocaram a
entrada a pouco na internet, com Rodney puxando o hino da Ban-
deira.
Roberto não comentou, a festa foi até tarde. Ao fundo, Marta
que esperava que João fosse para lá, soube que ele ganhara a conta,
e fica pensando onde ele estaria.

200
Segunda se apresenta, Mar-
ta olha João chegando, ele parecia
cansado, o viu subir, sorriu cansa-
do e vai ao banho.
Ela chega ao carro e vê que
ele colocou uma placa de vende-
se e olha para ele chegar a ela e
falar.
— Estou precisando de emprego.
Ela o abraça e fala.
— Fiquei preocupada, meu sócio sumiu.
— Não queria discutir, as vezes temo esta coisa de me meter
em problemas quase todo tempo, trabalho bem para não pensar
nestas coisas, que atravessam minha vida.
— E acha que eles não vão lhe chamar de volta?
— Nem me inteirei do problema, não sei se eles vão com o
samba 4 ou 66.
— Dizem que Gabriel afrontou o pai e votou pelo 4, e por um
voto ganhou.
— Pelo menos não prejudiquei todos com minhas ideias.
— Vai vender o carro?
— O carro e o terreno, se não tenho emprego, preciso de di-
nheiro, e como tudo que preciso nesta hora é paz, melhor achar
algo para fazer ainda hoje.
João olha para ela sorrir e fala.
— Tá radiante, mesmo com estas olheiras.
— Hoje tenho de caminhar, a chave vai ficar, se aparecer al-
guém para comprar, marca e fechamos assim que chegar, só me
liga.
— Acha que vende fácil?
— Eu acho que o preço está bom.
João sai a caminhar e olha para a rua, desce pela ladeira e
chega a entrada da empresa de trens, tinha uma fila para contrata-

201
ção, ele fica na fila e faz a ficha, um rapaz ao fundo olha ele e apon-
ta e fala.
— Você, na sala ao fundo.
João olha para a sala, entra e olha aquele senhor sentado e
fala sem sentir.
— Pelo jeito me dei mal.
Moreira que havia saído sedo, olha João e fala.
— Vai vender aquele terreno?
— Que saída eu tenho, precisava de um emprego para conse-
guir tocar aquilo, mas como não entendi ainda as coisas, e não pre-
tendo entender, a melhor coisa é vender e parar de me preocupar
em gente querendo matar crianças, e me usando como desculpa.
Moreira olha para ele e fala.
— Acho que não entendeu que vai me passar aquilo por bem
ou mal.
João sorriu sem graça, dois rapazes entram pela porta ao fun-
do e colocam um capuz em sua cabeça, e foi jogado em um porta
malas, ele não sabia o que fariam com ele, sente quando com as
mãos amarradas rasgam suas roupas, sente o empurrarem e alguém
amarrar os pés dele, e começa a sentir jogarem algo que parecia
areia a toda volta, estava de capuz ainda, e quando sente apenas a
cabeça de fora, vê Moreira tirar o capuz e olhar ele.
— Vai me contar por bem o que queria com aquele terreno,
não acredito que queria apenas produzir, estava tramando uma
vingança, vou descobrir por bem ou por mal rapaz.
João tenta se meche e entende que não conseguia, a mão
ainda estava algemada as costas, olha o senhor e fala.
— Acha que entende o que é sofrer Joaquim, não entende,
um filhinho da mamãe, que pode ter saído do mesmo buraco que
eu, mas é um merdinha.
João sente o chute na sua cabeça, ele estava olhando para
cima, e estava a altura dos pés do senhor, sente o nariz jorar sangue
e olha em volta, sorri sem graça, ele soube que não acabaria bem,
ele sente as almas saírem dele, deixando apenas a dele ali, as costas
dele foi colocado Kevin e a família, a sua frente, Marta e a filha,
todos enterrados como ele, talvez morresse, talvez muitos morres-

202
sem, mas uma lagrima olhando Marta lhe corre ao rosto e Moreira
ri.
João olha para ele e fala.
— Quando em alma, matar toda sua arvore Moreira, vai en-
tender que vingança, pode ser bem amarga.
Moreira não levou a serio, mas olha para ele e fala.
— Vai me contar ou vou matar todos.
— Como fez com meu pai, ele falou e matou todos?
Moreira entendeu que ali não seria fácil.
— E as veria morrer?
— Juro Moreira, você como imortal, pode não morrer, mas
vai ver os seus morrerem, e não terei pena não.
Um rapaz ao fundo fala.
— Ele se acha valente.
— Eu não idiota, quero é morrer rápido.
João viu colocarem um capuz na sua cabeça, ele tenta não ser
afetado pelos choros, pelos tiros, ele soube que era a sua vez quan-
do todos já estavam em silencio. Sequencias de perguntas, de judia-
ção, sentia as formigas ao chão, eles não queriam nada, mas esta-
vam torturando inocentes, matando inocentes, apenas para volta-
rem a ter paz, entre eles.
Joao não tinha noção que foram 15 dias, ele viu que tiraram o
capuz, ele olha para a cabeça de Marta caída ao lado, a filha dela ao
fundo, não via Kevin morto as costas, ele não conseguia se mexer,
sentia a pele viva a cada movimento, olha aquele pé a frente, e sen-
te o chute.
— Não vai falar mesmo?
João não respondeu, ele até tenta, mas parecia que estava
bem fraco, a dor da pele, a sede, a fome, o sentir sono e agora nem
conseguir mexer os lábios, sabia que estava mal, sentiu o senhor
puxar a arma e ouve o tiro, sente a energia vir de todo lado e sente
a bala parada na sua aura e não fala nada, sente as almas dos dias
anteriores entrarem nele, sente um corpo desabar ao fundo, e mais
almas vindo a ele, todos a volta, neste momento que soube que
estava a 15 dias ali, a crueldade de cada ato, estavam na Ilha do
Governador, em um terreno alto, mas não conseguia se mexer.

203
Morte idiota esta, fecha os olhos cansado, e sente o senhor
fazer um ruído as costas, Moreira, e vê ele se arrastar para fora e
ouve alguém bem longe.
João viu policiais entrarem e um rapaz falar para outro.
— IML e Ambulância.
João viveu das piores experiências que teve na vida, a areia a
volta era molhada, ela estava grudada na pele a toda volta, o tirar
dele dali foi lento, e o delegado da civil da Ilha olha o rapaz a frente,
enquanto o colocavam em uma maca.
— Quem é?
— O rapaz que sumiu, depois de ser mandado embora da Bei-
ja Flor, a senhora é Marta do Morro da Providencia e a filha, o se-
nhor ao fundo, o cuidador do terreno na Santa Cruz, e a família.
— E o que matou todos num raio de 100 metros deste ponto?
— Não sabemos, mas o senhor rastejando ao fundo é Joa-
quim Moreira, o es presidente.
João olha a ambulância chegar a um hospital, não conhecia,
aplicam um anestésico, primeiro a dor da pele sumiu, depois, ele
apagou.
Sente os ódios, a alma de Marta a olhar para ele e falar.
“Não sei onde estou!”
“Junto a mim, sabe o que aconteceu.”
“Morri?”
“Sim, e não gosto dos meus sentimentos neste instante”
João estava a cama da enfermaria, era pobre, não teria um
quarto e o enfermeiro entra chamado por um rapaz da cama ao
lado, e olha assustado ele brilhar a cama.
Todos olhavam assustados, e viram aqueles seres na forma de
cães saírem em todos os sentidos.
Os espíritos foram saindo do hospital, a noite pareciam visí-
veis numa hora, apenas espectros quase imperceptíveis, teria de se
sabe o que estava procurando.
João sente a Tristeza de Marta, da filha dele, e olha pra as
imagens vindo de varias partes, olha aquele senhor sentado, se re-
cuperando e falar.
— Que merda fez pai?
— Eu não gosto de gente que mostra meu passado.
204
— Eram apenas funcionários pai, porque os matar?
— Eles me complicariam.
— Eles mortos, vão lhe complicar.
As almas foram atravessando as pessoas, Moreira tente para
trás, não morre, mas viu Junior tender para trás morto, a esposa, as
netas, e vê Renata entrando com a sobrinha morta a mão e fala.
— O que está acontecendo, ela morreu Alemão?
Moreira olha para ela e fala.
— Chama a ambulância, rápido, não consigo me mexer.
Ela olha o irmão caído ao chão, a cunhada e as crianças e liga
para a ambulância e sente algo lhe atravessar e cai quase sem força
e olha em volta e se encosta e sentem como se fosse morrer.
O enfermeiro via o rapaz brilhar e documenta, viu as luzes
que saíram voltarem e o rapaz parar de brilhar.
A ambulância entra na cobertura da Barra da Tijuca e somen-
te Renata e Moreira não haviam morrido.
As ambulâncias e depois os carros do IML estabeleciam que
algo muito errado acontecera na cobertura daquele lugar.
O delegado da Barra chega ao local e pergunta.
— O que temos?
— Não sabemos senhor, Moreira havia sido encontrado qua-
se sem forças numa casa na Ilha do Governador, o liberaram, mas
parece que o que aconteceu lá, aconteceu aqui.
— E o que tinha lá, que o delegado de lá está me omitindo as
coisas?
— Era um daqueles locais para obtenção de informação, 6
mortos e um quase morto em um buraco apenas com a cabeça para
fora.
— E não prenderam Moreira?
— Algo matou todos num raio aproximado de 100 metros do
barraco, e não tinham como acusar alguém que sobrevivera das
mortes em volta.
— E agora acontece aqui.
— Estamos levantando o que aconteceu delegado, Moreira e
Junior estavam conversando sobre o que ele fizera, e todos a peça
caem mortos, com exceção de Moreira, temos as imagens, muito
estranho senhor.
205
— Começamos com mortes e temos de saber o que os matou,
pressiona o IML.
Em Copacabana, na cobertura, Roberto olha a filha olhando
as noticias na internet e pergunta.
— O que tanto olha ai?
Micaela não respondeu, se seu pai não conseguia respeitar as
pessoas apenas por não concordarem com ele, ou que ele achava
que não precisava mais.
— Não vai responder?
— Se não se interessava pela versão do rapaz antes, porque
se preocupa hoje pai.
— Porque você está olhando para ele.
— Não para ele, mas a cidade está um agito.
— Não vi agito nenhum.
— Então continua de vendas pai, as vezes é mais cômodo.
Roberto olha para ela e fala.
— É serio filha, não vi agitação.
Micaela vira a cadeira para o pai e fala.
— Talvez não pai, mas Junior Paz, da Marítima, morreu hoje
com toda a família na Barra, Moreira e aquela Renata, foram encon-
trados no mesmo lugar quase desacordados. – Micaela olha a outra
noticia e fala – Marcos Rocha e toda a família, com todos os segu-
ranças da casa, foram encontrados na casa do senhor, mortos, uma
quadra na região de Tubiacanga na Ilha do Governador, foram en-
contrados mortos, a mãe do seu Advogado pai, morreu esta tarde.
Micaela estava pensando em Douglas, mas era para seu pai
entender, pessoas morreram, e muita coisa desandava nesta hora.
— E tudo depois do achar do rapaz vivo?
— Ele foi achado por estas mortes, mas algo mortal aconte-
ceu, e Moreira não morreu, duas vezes, talvez aquele papo de Imor-
tal seja real, mas ele começa a ver os próximos morrerem.
— E apenas observa?
— Apenas tentando auxiliar os meus funcionários que tive-
ram problemas, mas pode ter certeza, o rapaz estar totalmente
desnutrido e fraco, o mantem fora dos que podem ser acusados.
— E quem o fez?

206
— Isto que quero descobrir pai, não quero estar num lugar
errado e morrer por isto.
No barracão todos estavam correndo, Franco viu o quanto o
rapaz fizera, mas o carro que ele ainda estava calculando, estabele-
ce o quanto alguém que sabe o que quer, e entende do conjunto,
facilita o processo.
Sergio olha Gabriel e fala.
— Acharam o rapaz, bem mal.
— Onde?
— Num daqueles buracos do Alemão da Rocinha, aquela coi-
sa de matar e judiar muito.
— Acha que ele seria útil.
— Gabriel, todo o carnaval em volta, é parte do que ele idea-
lizou, ele mesmo falou que não proporia nada antes de ser possível
fazer, todos estavam perdidos, sem um projeto, no dia que estava
pensando em discutir com ele o que proporíamos como sendo nos-
sa sinopse do desfile, onde explicaríamos os motivos de cada carro,
de cada alegoria, de cada ideia, não esquece, estamos apresentan-
do ao estilo Beija Flor, contamos a nossa historia narrando o que
queremos, e é nítido olhando em volta, que ele tem uma ideia, algo
que o faz ver o perigo de por as baianas fora do enredo, então a
comissão apresenta a escola, as baianas, anunciam o surgir da na-
ção, o carro inicial, a historia anunciando algo diferente, uma nação
escolhida, para ter o desafio do paraíso, para ver se os humanos
resistem a fartura.
— E pelo jeito ele começa a fazer duas comparações.
— 4 delas, emendando uma na outra, uma sinopse é essenci-
al ao incultos, para eles entenderem.
— E aqueles carros?
— Os aderecistas estão trabalhando, vão mais de 3 meses pa-
ra começarmos montar tudo.
O grupo se reúne no fim e entende que era um super traba-
lho, para por dos maiores carnavais na avenida, mesmo que com
apenas 6 carros, ser o maior carnaval já colocado na avenida.

207
As noticias da manha, pega-
vam Roberto olhando as imagens
vindas de varias partes, e repara
na esposa o abraçar e perguntar.
— Problemas?
— Não sei, tudo que nossa
filha estava olhando ontem a noi-
te, é destaque em todos lugares,
ofereci apoio ao Kevin, pois a mãe dele morreu ontem na Ilha do
Governador, todos nós fizemos vistas para a tentativa de acordo de
paz, Rocha caiu ontem e todos que queriam paz com ele, estão pen-
sando em tomar parte dos acordos dele.
— E que agito é este em todos os meios?
— Da família de Moreira aqui no Rio de Janeiro, apenas ele e
Renata Paz não morreram, alguns ficaram tensos, pois a Marítima,
era tocada bem por Junior, agora ninguém sabe o que será da em-
presa, que emprega mais de 20 mil pessoas indiretamente na cida-
de.
— E o que Micaela fez?
— Não sei, ela parece querer entender o que este rapaz que
afastei da escola, é, a única coisa que ligaria ele ao caso, seria não
ter morrido.
— Ela parece mais leve.
— Ela não fala muito, mas sei que todos que viraram as cos-
tas, estão preocupados.
Na cobertura da Barra, Joaquim olha Renata e pergunta.
— O que sentiu?
— Não sei, parecia que algo nos tiraria a vida, um mal estar
grande e depois uma paz.
— Senti duas vezes isto ontem, não sei, senti isto depois de
atirar no rapaz que está no HC, quase morto.
— Acha que ele é especial.
— Um humano patético.
Renata o abraça e fala.
208
— O dia será muito triste.
Os corpos sendo liberados, sem causa morte aceitável, e o de-
legado da Barra olha os exames e fala furioso.
— Isto é palhaçada, como não tem causa morte?
O investigador olha o delegado e fala.
— As mortes na Ilha do Governador, no Bonsucesso, e aqui,
dão os mesmos resultados, não tem causa morte, está saindo como
mal súbito, mas não existe a causa, e pode ter certeza, tem gente
querendo saber a verdade.
— Quem mais vai entrar nisto?
— O delegado da Federal, da região do Porto, Douglas Ca-
margo.
— O que ele tem haver com isto?
— A mãe dele morreu, somente isto.
— Ele desconfia de algo?
— Não sei, mas hoje ninguém vai fazer muita coisa, enterro
em muitos lugares.
João abre os olhos vindo do sono na enfermaria e olha para o
enfermeiro sair, ele olha as mãos, marcadas por três coisas visíveis,
a marca da algema, a pele seca e estranha, e os ossos visíveis.
Ele tenta se mexer e não consegue nem erguer o corpo, ele
deveria estar em um estado de desidratação bem pesada, os rapa-
zes olhavam para ele, como se fosse um agouro.
João tenta sorrir, mas não foi fácil, o enfermeiro chegar no-
vamente e trazer uma comida, João não conseguia erguer as mãos,
pior que estava frágil e sentia que todos viriam contra ele.
Estava sendo alimentado a boca, e viu Douglas chegar ali, sa-
bia já o problema, estranho ter gente em seu interior que não deve-
ria vir a ele, mas estavam ali.
O medico chega ao lado e fala.
— Vai com calma delegado, ele não consegue nem mexer os
músculos, a pele está estranha, e não sabemos se ele sobrevive.
— Tão mal?
— Sim, ele deve estar com o estomago encolhido, estamos o
mantendo no soro, mas dos níveis mais altos de desidratação e
anemia que já vi, e terá de refazer a pele, pois ela está morta, e
como respiramos por ela, ele esta sobre observação.
209
— Na enfermagem?
— Temos gente em todas as CTI.
— Ele fala já?
— Sim, pouco, entenda que ele ficou em um buraco por 15
dias, enterrado.
O delegado espera o rapaz comer, era evidente a dificuldade
até para engolir daquela papa, e a forma estranha que os olhos
olhavam para João, foi entendido pelo delegado quando chegou
perto, o cheiro era forte, um misto de podridão e cremes.
Douglas olha o enfermeiro erguer a parte do fundo da cama e
chega perto.
— Consegue falar?
João não era de aliviar os pesos, não os seus e fala bem baixo,
mal saiu o som.
— Desculpa – Ele respira forte e termina – não controlo isto!
O delegado olha ele e pensa se valia algo, ele parecia mesmo
morrendo e mesmo assim, não negara, a visão dele, puro osso so-
bre uma pela apodrecida, era uma visão ruim em todas as sensa-
ções, olha serio e fala.
— Se sobreviver conversamos, e não será uma conversa fácil
senhor Mayer.
João não teria como se posicionar, ele não conseguia nem fa-
lar direito, mas entendeu que seria um ódio de vida.
Sabia que teria que descansar, teria de recuperar a pele, e sa-
bia que era o tipo de coisa que o modificaria inteiro, seria um reta-
lho de peles, ele não sabia se valia o gasto com ele.
Douglas olha para o investigador a porta e fala.
— O que temos a mais?
— Não sei senhor, mortes estranhas, gente que morreu e não
tem causa morte, 3 delegacias com casos assim, e sei que queria a
causa morte, mas apenas passaram mal e se foram, não tem a cau-
sa, mas tem relatos estranhos da noite nesta enfermaria.
— Ele brilhou a noite, bem previsível. – Douglas.
— O que quer dizer com isto?
— O médico acha que ele vai morrer nas próximas horas, mas
se for acontecer, eu não quero estar por perto.
— Acha que ele é a causa?
210
— Não tenho como provar nada contra alguém no estado que
ele está e passou 15 dias em um buraco, eu e você estaríamos mor-
tos . – O delegado pega os exames do rapaz, uma copia e anexa no
processo.

211
João foi vendo os dias pas-
sarem naquela enfermaria, ele ao
contrario do previsto, começa a
ganhar peso, os exames vão me-
lhorar, e quando ele começou
escamar, pedaços imensos de
pele, e por baixo dela surge uma
pele saudável, o médico chega ao
seu lado e fala.
— Sabe que estão falando que você é mais um protegido dos
anjos da cidade.
— Protegido dos anjos?
— As vezes você brilha, em 15 dias, chegou a ganhar peso, já
consegue tomar um banho sozinho, e parece que todo seu corpo
está se recuperando.
— Apenas querendo estar bem para enfrentar os problemas.
— Acha que vão lhe culpar?
— Entre a minha palavra e a de um es presidente, acha que
vão acreditar em quem?
— E acha que lhe culparão de que?
— Não ter morrido.
João estava no seu 31 dia no hospital quando lhe deram alta,
ele não tinha nada dele, nem documento, nem roupa, nem nada,
não sabia como as coisas estavam, o doutor consegue uma roupa
doada e o rapaz coloca ela e sai pela porta, sem saber nem como
chegar onde deveria morar.
Ele caminha até a entrada, ainda estava com parte da pele
escamando, a sensação de confusão mental, pois ter pessoas falan-
do em sua mente, e não poder responder, era algo ruim.
Ele no fim daquele dia já terminando, era fim de Outubro
quando saiu dali, para procurar um emprego, 45 dias se passaram,
alguns o apontam subindo a rua, ele olha o carro incendiado a porta
da pensão arrombada, olha para as paredes pichadas, aquilo tinha
pego fogo, ele entra e olha para as paredes pichadas e queimadas,
212
ele sobe ao seu quarto, olha que a cama estava queimada, tudo ali
tinha queimado.
Sobe a laje, estava um caco, não tinha documento, cartões,
nada, ele olha em volta e sente aqueles seres e suas almas.
Ele queria estar trabalhando e estava esperando ser preso, e
não duvidava que acabaria preso.
As ciências das coisas feitas, por gente que agora estava em
sua existência, fez ele ficar olhando a cidade do samba ao fundo, a
cidade estava se preparando para o natal e o réveillon, e não sabia
se teria algo para fazer.
Ele estava sentado na laje de algo que era para melhorar a
região, agora estava destruído, e ouve alguém as costas.
— Podemos conversar senhor Mayer?
João olha para trás assustado e fala olhando que era Gabriel.
— Acho que conversar não vai me tirar mais nada.
— Como está?
— Sem documentos, nenhum, sem roupa, nenhuma, o lugar
que reformei, queimou enquanto estava pelo jeito enterrado, quem
eu coloquei na minha vida local, mortos, todos.
Gabriel sentou ao lado e perguntou.
— Aceita ajuda?
— Aceito, mas tenho medo de atrair desgraça, era apenas fa-
zer como todos, ficar na sua, não se destacar, mas para mim parece
difícil fazer assim.
— Lhe deixo no hotel, depois conseguimos roupa, os docu-
mentos vai ter de correr atrás, é complicado as vezes.
— Fim de ano, imagino que seja.
Gabriel se levanta, olha para João, ainda bem magro, ele pa-
recia outra pessoa, as vezes tentava não ficar reparando, mas olha
para a cidade do samba ao fundo e fala.
— Uma boa vista.
— Acho que tenho medo de dormir e acordar em um buraco
de novo.
— Vamos lá.
Gabriel deixa João no hotel inicial, Gamboa Rio Hotel, e vai ao
centro e compra alguma roupa, e no fim do dia deixa na portaria do

213
prédio, João olha a toalha, coisas básicas, vai a mais um banho e cai
a cama, ele estava precisando descansar.
Gabriel olha o gerente do hotel que pergunta.
— O que está acontecendo menino?
— Tentando entender, meu tio está lá em casa, tentando en-
tender o problema, pois o rapaz quase morreu, e todos viraram as
costas, e não gosto de ver os a volta assim Carlinhos, pois fico pen-
sando em todos me virando as costas.
— E o vai dar teto?
— Ele tinha teto, queimaram tudo e ninguém se mexeu, pen-
sa em alguém que chegou em Agosto, que tinha uma casa em Santa
Cruz e uma pensão já, mas quero entender o problema, deixei meu
pai muito sem pressão, e não tinha entendido o problema, antes de
conseguirmos o cobrir as costas tinha sumido.
Gabriel sai dali e foi verificar algumas coisas, enquanto na co-
bertura de Roberto, em Copacabana, Ricardo, irmão de Roberto o
olha e pergunta.
— O que está acontecendo irmão, parece esconder algo.
— Eu as vezes temo estes estranhos, mas vão jogar sobre
mim a culpa irmão?
— Não, apenas querendo entender, pois eu odeio quando me
perguntam se meu irmão entregou alguém para aquele animal do
Alemão da Rocinha.
Roberto olha em volta e fala.
— Acham que fui eu, é o que está dizendo?
— É o que os demais deixaram escapar para não procurarem,
e pega mal para a família Roberto.
— Alguns dizem que ele está morto.
— Dizem que Moreira saiu da cidade com aquela Renata e se
escondeu em algum lugar bem longe daqui, isto quer dizer medo
Roberto, todos sabem que algo defendeu este rapaz, a única coisa
que ainda pesa a favor, foi o eles ligarem aquelas imagens estranhas
a volta da cama do rapaz, com sua filha, mas hora de se posicionar,
pois senão todos os esforços de crescimento politico, podem ficar
apenas em esforços.
— E o que quer fazer?

214
— Vou reunir um pessoal da comunidade, e vamos ajudar a
limpar e por em ordem o que um dia foi a Pensão da Dona Marta, já
que oficialmente isto é dele.
Roberto olha para fora e fala.
— Porque ele encanta todos a minha volta?
Ricardo sorriu e falou.
— Ele não encanta Roberto, na escola, estão seguindo as de-
terminações dele, mas existem projetos que nem os engenheiros
estão conseguindo entender, temos os melhores nisto Roberto, e
eles estão se batendo em acreditar que aquilo é possível.
— Odeio voltar atrás em uma decisão.
— Então deixa comigo, não se estressa, e ainda vai ter de me
explicar o abrir da porta para aqueles animais.
Roberto sabia que tinha feito, estava querendo afastar o ra-
paz, talvez o falar de algumas coisas, que aproximavam sua filha ao
rapaz fizessem o pai falar mais alto do que o empresário.

215
João acorda, um banho de
verdade, o sentir das historias das
almas que vieram a ele, fez ele
fechar os olhos sentado a cama,
muitas historias, muitos dados
que não faziam sentido, demora-
ria para absorver tudo, ele sentia-
se fraco, teria de se recuperar e
não tinha como ser rápido, ele estava querendo apenas deitar, mas
as coisas estavam todas fora do lugar, e isto não fazia sentido.
Ele olha um papel a ponta, ele começa a anotar coisas que
não teria como verificar, e coisas que pareciam vivas em sua memo-
ria, ele pega a roupa e a coloca, ficou meio frouxa, se olha no espe-
lho e fala.
— Hora de recomeçar João, você já fez isto algumas vezes,
mas tenta não ficar maluco.
Ele desce, tomou um café bem lentamente, alguns olhos vie-
ram a ele, estava ainda bem fraco, definhar é tão rápido.
Ele estava tomando café e olhou o menino do Roberto, Ga-
briel, sentar a mesa e lhe olhar.
— Como está?
— Seria sincero do porque me ajuda Gabriel?
— Eu me culpo por ter sumido, eu não vi tirarem você pelo
fundo da seleção para emprego, estava esperando para falar com
você, e sumia, eu me culpo.
João olha em volta e fala.
— As vezes queria poder pular ao futuro, estar um pouco
mais forte para os desafios.
— Problemas?
— Eu não pago a pensão da dois meses, devem estar pedindo
minha prisão, e o Delegado Camargo tem motivos para me odiar.
— E no que posso ajudar?
— Faça qualquer coisa, mas não chama o advogado da família
para me defender.
216
— Não entendi.
— O delegado acha que sou culpado pela morte da mãe dele,
mas seria a mãe do advogado de sua família, e não tenho como
preso conquistar a confiança deles.
— Certo, sabe o problema, mas precisa de documento.
— Sim, preciso de documento para conseguir um cartão de
debito para os gastos básicos.
— E o como posso ajudar João, sei que não está legal.
— Teríamos como sair agora daqui?
Gabriel entendeu, viriam até ali, ele concorda com a cabeça e
começam a sair, e João olha a caminhonete parar e fala.
— Tenho de pensar Gabriel, mas não sei se tenho como aju-
dar.
— Ricardo, meu tio, disse que por ele, você ainda é funcioná-
rio dos barracões da Beija Flor. – Gabriel.
— Então vamos lá, tenho pelo menos uma copia de meus do-
cumentos lá, e verifico como as coisas estão.
— Sabe que lhe olhar é diferente de dizer, você passou por
algo pesado.
— Ninguém me viu a 30 dias Gabriel, posso garantir, estou
bem melhor.
Gabriel fez sinal e foram no sentido do barracão na Gamboa,
e João perguntou.
— E como está o trabalho?
— Andando, muitas duvidas, acho que algo que você projetou
e não entendemos.
— Mas está caminhando?
— Sim.
— Esta coisa de comissão de carnaval com certeza é mais efi-
ciente que um carnavalesco. – João sorriu.
— Colocaram fogo na casa na Santa Cruz, minha irmã mandou
cercar todo o terreno, pois alguns grupos queriam invadir.
— E aquele animal que chamam de es presidente?
Gabriel olha para ele e fala.
— Ele ficou dois dias depois do achar de seu corpo, mas ele
saiu fugido da cidade, diz que transferiu alguns para a França, gente
que não queria ir ele basicamente obrigou.
217
— Marcos Rocha?
— Pelo jeito não viu as noticias.
— Eu mal consigo manter o foco ainda, mas o que aconteceu?
— Outro que morreu e poucos falam do porque.
Param na frente do barracão, e João sai lentamente e entra
no ferro velho, os olhos de Silva foram nele, João viu a lagrima nos
olhos do senhor, sorri sem graça e fala.
— Vim pedir um dinheiro emprestado.
Silva chega e abraça com cuidado João e fala.
— Está bem, não parece bem.
— Sentado eu morro de tedio, mas como estão as coisas?
— Bem, você me colocou em destaque, com tanta gente vin-
do para os três grupos de carnaval a volta, já que agora que começa
agitar.
João olha em volta e fala.
— Pelo menos as coisas melhorando para alguém.
O senhor sorriu, entrou e pegou metade do aluguel da Ilha
pelo barracão ao fundo e fala.
— Vai precisar de um dinheiro.
Gabriel não entendeu, mas viu que João era alguém que fez
aliados, isto era algo perigoso em cidades grandes, mas ajudava as
coisas irem a frente, ele sorri e com dificuldade, chega ao balcão e
contou mil e trezentos reais, coloca no bolso e fala.
— Deixa eu fazer um deposito antes de qualquer coisa, para
não acabar preso pela única coisa que prende gente neste país.
João saiu pela porta e fala.
— Eu volto Silva, eu volto, apenas me recuperando.
Ele caminha até a esquina e atravessa a rua e entra em uma
agencia do Itaú, faz o deposito, no caixa, pois queria que confirmas-
sem o deposito e olha para Gabriel.
— Agora enfrentar os desafios.
— Que deposito foi este?
— Pensão alimentícia, eu estou a 45 dias sem depositar nada,
isto dá ordem de prisão, mas uma coisa é ser conduzido, já tendo
pago, outra ter de explicar que estava no hospital e está sem docu-
mentos ainda para saques.

218
Gabriel sorriu sem graça e começam a entrar pela ponta das
salas de costura e de criação e obvio que alguns pararam para olhar
para ele, Franco olha ele de frente e fala.
— Bom lhe ver João.
Outros chegam perto, e Sergio olha para João e fala.
— Tem de se recuperar melhor.
— Estou me recuperando, mas parece que meu desenho não
foi suficiente para entenderem.
Seu grupo chegou e Rogerio perguntou.
— Voltou para ficar?
— Ainda não sei, mas não esqueçam, eu recebi para aquele
carro que está lá na Cidade do Samba, ficar pronto.
— E está bem? – Sergio parecendo preocupado.
— Sim, tentando entender o que aconteceu, pois eu fora do
ar parece que tudo mudou.
João olha o carro a frente e olha os detalhes todos para fora e
pergunta.
— Problemas?
Todos estavam receosos e João olha um senhor que não ha-
via visto ainda, Ricardo David, o senhor chega a ele e fala.
— O nosso adendo do ano que parece renascido dos mortos.
João não estava para piadas fúnebres, riu sem graça.
— Seja bem vindo, não sei se precisa de ajuda em algo, estava
falando com o pessoal da comunidade, para fazermos um mutirão
de dar um jeito na Pensão da Dona Marta.
João olha para o chão e fala.
— Agradeço senhor, mas acho que vou deixar aquilo como
está, não pretendo voltar lá, as recordações são tristes, mas mesmo
isto ainda é impreciso para mim.
Ricardo lembrou das mortes e entendeu, e fala.
— Mas precisando, fazemos, as vezes nos distraímos um
momento e coisas ruins acontecem.
João até se surpreendeu, ele estava pensando em recomeçar
do nada, apoio era algo que não esperava naquele momento, mas
viu que os olhos estavam meio marejados, talvez Gabriel tivesse
razão, falar que ele passou mal, era diferente de o ver como ele
estava.
219
João chega ao canto e senta-se, todos olhavam ele, mas ele
não estava bem, estranho sentir-se mal e ao mesmo tempo, ideias
começarem a surgir.
Marquinhos chega a ele e fala.
— Juro que achava que tinha entendido tudo do carro que es-
tá lá na Cidade do Samba.
— Disse para prestar atenção. – João o encarando.
— Mas tem coisa demais, não cabe no carro.
— Então temos um problema, não tem como estar tudo pron-
to, e já não estar cabendo.
Sergio se afasta um pouco e Ricardo pergunta para ele.
— Acha que ele consegue ajudar.
— Ele deve ter passado algo pior do que pensei, mas ele en-
tende do que projetou, pois o segredo Ricardo, é que vamos desfilar
do lado do Viaduto, então temos de preparar tudo para estar pron-
to para passar por ele e se preparar, mas ele tem parte dos hidráuli-
cos fora das posições, pois as coisas vão se montando, mas os carros
andaram muito do dia que ele saiu para agora, mas como o rapaz
falou, parece não caber.
— E porque não caberia?
— Tem de considerar que em meio a isto, entregamos uma
Sinopse que parece não caber tudo.
— Ele sumiu apenas a 45 dias Sergio.
— Sim, no dia que definimos o samba enredo, parece pouco
Ricardo, mas faz muito tempo se comparar o andar do barracão.
— Certo, soube que é um dos mais caros enredos que colo-
camos a Marques, e parece que olhando para ele, quase foi para o
outro lado, mas entendo que politicamente precisamos ele aqui.
Sergio não entendeu, ou fez que não entendeu, e pega os pa-
peis e olha para o engenheiro que contrataram e pergunta.
— Qual era a duvida Saldanha?
Ele pega os desenhos e fala.
— Tem narrativa de laterais mais largas do que temos aqui, e
não entendi esta parte.
Sergio chega a João e pergunta.
— Podemos conversar?
— Sim.
220
— Não entendemos onde vão estas partes?
João pega o desenho e olha ele em todos os sentidos, olha
para o rapaz e fala.
— Novo aqui?
— Me colocaram para calcular estes carros, pelo jeito você
era o que facilitava os cálculos, pois saindo do zero tínhamos de
fazer muitas perguntas.

João não estava tão bem assim, mas olha o desenho e fala.
— Isto entra naquele detalhe de sair daqui com oito, e passar
entre 10 e 12 na avenida.
— Não entendi. – Sergio.
— Desculpa, é que não tenho pratica nas formas anteriores,
soube enquanto estava aqui que vocês colocavam adendos fisica-
mente quando chegavam ao local, e eu pensei em ir o mais pronto
possível.
João pega um pedaço de papel e fala.
— Vou precisar refazer tudo que tinha desenhado, meu com-
putador queimou no Morro da Providencia.
— Mas teria como explicar.
— Sim, vocês estão pensando em algo complicado, pensei
que tinha deixado esta parte, mas vejo que só ficou esta parte aqui.

221
Joao olha o desenho e fala.
— A parte que estão perguntando, é esta que neste desenho
está interna a estrutura.
O engenheiro olha e fala.
— Está dizendo que os sistemas hidráulicos também seriam
usados lateralmente.
— Sim, temos de chegar lá com largura máxima de oito me-
tros, regras da prefeitura, altura máxima de 5,5 metros, então todo
o prospecto, estão nesta caixinha.
João acha um pedaço na gaveta dele e fala.
— Aqui ainda sem as partes altas do carro.

222
— Todas as esculturas estão numeradas com Y e um numero,
e os painéis, com X e um numero, cada carro tem um pré-projeto,
com o local de cada painel
O engenheiro olha e fala.
— Acha que neste esquema mantendo todas as calhas enco-
lhidas ficamos em quanto?
— O projeto total, é para passar com tudo em 4,5 metros,
não mais que isto, quanto maior o trabalho dentro dos barracões
para encolher, menos se perde no local, ou no caminho.
Marquinhos anota algo, ele estava ouvindo, João saberia de-
pois que ele não sabia onde por os painéis que ele mostrara que
estariam internamente a armação, ele pensando em algo visível,
mas eram os invisíveis até o momento.
Sergio olha para o carro ao fundo, esta parte ele nem acom-
panhara e ouve o engenheiro falar.
— Verifico se as engrenagens estão colocadas, se os sistemas
estão prontos, pelo jeito está trazendo a engenharia para os desfi-
les.
— Nem tanto, eu apenas palpitei.
Sergio sorriu e falou.
— Acabei fazendo uma sinopse sem conversar com você.
— E pelo jeito que me olha, não fechou?
— Acho que eu não consegui entender ele, é difícil as vezes
entender um todo.
João estava sentado, Ricardo olhava ao longe, Franco tam-
bém, muitos estavam olhando ele.
Ele sorri e fala.
— Não complica a interpretação, sei que muitos não vão en-
tender, mas tem de deixar o peso sobre o júri, não sobre a escola.
— E como narraria a historia?
— Temos a sincope divina, que cai sobre a terra, e neste tre-
cho de Terra, Amaná a Deusa anuncia a Sincope de evolução, ex-
pressa na natureza, nas reservas naturais, na previsão do surgir de
um povo forte, que mesmo dominado, morto, deixa suas raízes, as
que atrairiam as forças da união, e através de uma língua, surge um
povo, não de uma terra, mas de uma língua, estabelecem terras
distantes como Brasil, esta terra cria todas as formas de cultura,
223
mas através de sua língua, afiadas, desenvolve o pensamento dife-
renciado, prazeres que para nós parecem natural, como o sorriso, a
alegria, as festas, mas não são naturais a muitos povos, e esta na-
ção, jovem, começa a passos largos, anunciar ao mundo que não é
uma nação ligada pela terra, mas sim pela língua, espalhando Brasi-
leiros pelo planeta.
Sergio sorri e fala.
— Algo simples, acha que conseguimos explicar todas as 52
alas com algo simples assim?
— Acho que nenhuma delas fica fora disto Sérgio.
Ricardo ao longe olha Franco.
— O que eles falam?
— Que Sergio tinha duvidas sobre a Sinopse do nosso desfile,
e tudo que se estabelece ali, é uma evolução, uma anunciação, de
um povo forte, guerreiro, ligado pela língua, talvez agora entenda o
porque do trecho do hino da Bandeira. – Franco.
— Entendeu, isto é bom.
— O poder das palavras em hinos e músicas, capaz de unir es-
te país, um poder que está nas entrelinhas, mas que com certeza,
está dentro do enredo.
João se levanta e vai olhar os carros e estranha Nuno não es-
tar ali e olha pra Franco.
— O que aconteceu com Nuno?
— Desentendimento sobre nossa postura com você?
— Se vou estar aqui Franco, quero ele aqui.
Ricardo ao fundo viu que o rapaz estava tomando as rédeas.
— Ele não me ouve.
— Onde falo com ele?
— Barracão depois daquela parede. – Franco apontando a pa-
rede lateral.
— Posso o chamar a participar ou não Franco?
— Acha que precisa dele.
— Sim, ele tem um dos carros mais complexos a ser feito, por
sinal, onde esta Silvino?
— Perdido por ai.
João olha para o senhor e fala.
— Acho que não estou bom para adivinhações Franco.
224
João caminha para fora pelo lado do carro numero 4 e olha
para o barracão ao lado e para a portaria, e pede para falar com
Nuno, o rapaz mandou ele esperar, Sergio chega ao seu lado e per-
gunta.
— Vai mesmo o trazer de novo? Ele acabou ofendendo o Ro-
berto, com uma pergunta que o senhor não gostou, já que ele tinha
mandado você embora pouco antes de você sumir.
João ouvia, mas olha para o segurança e pergunta.
— Se não pode chamar Nuno, poderia chamar Zanon, diz que
é o rapaz que conseguiu o espaço para ele.
O segurança olha descrente e fala.
— Tem de esperar do lado de fora.
Sergio olha para o segurança e fala.
— Chama ou vai pra rua rapaz, acho que não entendeu, tira o
olho do celular e chama. – O rapaz sabia que Sergio estivera ali al-
gumas vezes e vai para dentro, ele chama Nuno que chega a entra-
da e olha Sergio, talvez não tenha procurado João aquele senhor ao
lado.
— Sabe minha resposta Sergio.
— Vim confirmar pessoalmente esta posição. – João olhando
Nuno que olha ele, olha procurando João naquele senhor e fala sem
sentir.
— Como está Alemão, pensei que...
— O que preciso fazer para você cuidar do carro que proje-
tamos juntos Nuno? – João.
— Me comprometi com Hélio e Zanon.
— Algum deles está por ai?
— Zanon está falando com um investidor.
— Nos conduziria até ele, já que este segurança barraria um
investidor.
O segurança olha para Nuno querendo os barrar, mas eles
vão ao fundo e Zanon viu João chegando, todos falavam que ele
estava mal, mas o ver andando no barracão o fez se levantar e o
olhar.
— Veio ver como as coisas estavam?
— Soube que me tirou um senhor construtor, e quero saber
como posso ajudar para ter ele de volta Zanon.
225
— Ele se ofereceu, e como carnavalesco achei uma boa ideia,
mas quem manda não morrer, ai todos vão lhe dever favor.
— Como disse, quando Hélio parar de nos ver como concor-
rentes, podemos nos ajudar mutuamente.
— E como poderia nos ajudar? – Hélio as costas.
João se vira ao senhor e fala.
— Começamos mal num dia que estava cansado senhor, para
conversar.
João estica a mão e o senhor olha que João passara por algo
muito ruim e fala.
— Olha que alguns lhe consideravam morto.
— Hélio, eu preciso de Nuno no barracão ao lado, mas se ele
topar, podemos fazer horários dobrados, pois eu perto, eles não
trabalham, então tenho de dar as coordenadas, mas se ficar encima,
todos param.
— E oferece o que além de suas ideias, parece fraco.
— Fraco é o senhor presidente, não eu, posso ter passado por
algo ruim, mas se fosse um fraco, teria morrido, mas a ideia é ajuda
mutua, para tentar montar um carnaval que seja exemplo, organi-
zado e principalmente, com capacidade de vencer um desfile, isto
quer dizer, samba bom, carros que encantem, roupas caprichadas,
organização de montagem e principalmente, vontade de ganhar.
— E porque ajudaria?
— Porque tem de ter motivo senhor?
— Não acredito em favor de graça. – Hélio.
— Não. – João olha para Zanon e fala sério – Fala com este di-
to presidente, se ele não acredita em favor de graça, agradeço pa-
garem o aluguel do lugar, e se não quiserem, de graça, aceito o bar-
racão devolvido em 24 horas, pois se não querem, melhor saírem.
Nuno ouve aquilo assustado e Zanon fala.
— Calma pessoal, não vamos por tudo a perder. – Zanon olha
o presidente da escola e fala – Mantem a calma presidente, o que
lhe irrita tanto assim no cara?
— Ele fala o que bem entende.
— Temos de acalmar os ânimos.
João olha para Zanon e fala.

226
— Fala com o presidente, decidam – João olha para Nuno e
fala – espero você lá amanha cedo, sem não posso, estes nem que-
rem fazer um desfile para valer ainda.
João vai saindo e Sergio ao lado fala.
— Imagina se estivesse bem.
— Arrogância, tá de graça num lugar, não tinha onde fazer os
carros, e vem dizer que não quer nada de graça, odeio arrogância
que não seja a minha, e sim, fui eu que consegui o lugar para eles,
fui eu que estruturei a construção, e se eles saírem, somente tería-
mos mais espaço.
Zanon olha Hélio e fala.
— O que houve Presidente?
— Quem ele acha que é para me ofender?
— Ninguém, um ninguém que todos dizem que morreu a 45
dias, mas sem a certeza, ninguém nos perturbou aqui, um ninguém
que nos conseguiu este pequeno barracão, para começarmos o que
estávamos tendo problema em começar, um ninguém que nos ce-
deu o lugar, as carcaças para construirmos carros, ferro, solda, ma-
quinário para começarmos a fazer presidente.
— Mas ele quer nos tirar um montador de carros.
— Ele quer o pessoal dele trabalhando presidente, sei que
Nuno está pensando no que fazer, não sei o motivo de saída, mas
com certeza era a ausência do rapaz, mas se tivermos mais ajuda,
não seria ruim presidente, estamos em um ano de crise.
Nuno viu que Zanon tentou por o presidente em um acordo
que nem sabia existir, e fica a olhar o lugar, sorri da ideia de João ter
cedido o lugar a escola ao lado.
João olha Gabriel chegar ao lado e pergunta.
— Acha que meu pai vai aceitar Nuno de volta?
— Nem quero saber se ele quer, eu o quero aqui, se não tiver
o pessoal certo, não me adianta estar aqui Gabriel.
— Silvino chegou ai e quer ter certeza de que é você que vol-
tou, ele estava na cidade do Samba.
— Eu sou o fantasma andando, mas já falo com ele, mas tem
de entender Gabriel, e pelo que vi nas paredes, tem tentando en-
tender este lugar, mas aquele carro, é algo único. Preciso de quem
ajudou a estabelecer ele, para que nós consigamos terminar estes
227
carros, e sei que está atrasado, embora todos estão acelerados,
estão meio fora de cronograma, isto faz pessoas agitadas, mas pou-
co focadas em ir acabando e indo a frente.
— Pensei que era mais fácil lidar com você senhor João – fala
Gabriel sorrindo.
— Difícil, quem dera, não conhece minha es.
Gabriel sorriu e falou.
— Vai acompanhar os carros?
— Vou, mas preciso comprar um computador, umas roupas, e
tentar entender algumas coisas, e sei que assim que chegar no ho-
tel, serei conduzido a delegacia, e não se preocupe em chamar o
advogado, apenas mantem a calma.
Gabriel pensando que João estava agitando ali, quase enten-
deu o agito dele, estava se mantendo com adrenalina alta, talvez
esperando algo mais violento.
João conversa com Silvino, faz uma reunião rápida no barra-
cão, e como se aproximava a hora que ele não teria ainda como
deixar passar batido, a da alimentação, apenas acertou o cronogra-
ma e as ordens dos próximos dias.
Gabriel conduziu João ao Hotel, ele vai ao restaurante, e co-
meça a comer lentamente, teria de se alimentar calmamente e me-
lhor, ele mal terminou e viu os policiais da policia civil entrarem, o
senhor da recepção o apontar e ele levanta a mão e fala.
— Tudo isto para um trabalhador? – João encarando um dos
investigadores.
Ele é conduzido a policia civil e o delegado Martins olha para
João e fala.
— Sabe o que o traz aqui?
— Se for a pensão, paguei ela agora pela manha, não tinha
conseguido sem documentos levantar o dinheiro antes.
— Tem o comprovante?
João tirou da carteira e o delegado olha para ele serio.
— Sabe que tenho de verificar isto antes de o liberar.
— Sei que não, mas quer fazer o trabalho do amigo e me
manter preso, o que um traste como eu pode sofrer numa delegacia
depois de ter saído ontem de um hospital, e o senhor sabe o motivo

228
do atraso, mas quem sou eu, João Mayer para lhe ensinar a lei que
diz ter estudado para virar Delegado.
— Temos a lei a cumprir, prendendo péssimos pais que não
pagam suas pensões.
João ouve o nome da esposa do senhor a mente e pergunta.
— A Raiska já está com a pensão paga delegado?
O delegado chega violentamente e segura ele pela camisa.
— Acha que não tem de me respeitar.
João só toca o ombro do senhor e fala sentindo o senhor cair
e fala.
— Não, quer problemas delegado, meche com quem tá quie-
to no canto dele.
O delegado se segura e solta João, sentido as pernas perde-
rem toda a força.
— Joguem ele na cela, que durma bem lá.
João sacode negativamente a cabeça e fala.
— Se for dormir aqui delegado, melhor não estar na cidade,
valente de merda, que prende alguém que saiu do hospital a um
dia, que está com o comprovante de pagamento a mão, mas se vai
querer meu mal, não esquece, a única coisa que ofereço aos inimi-
gos, é algo que entenderá se estiver na delegacia a noite.
O rapaz o conduz a cela e o delegado se recompõem e o in-
vestigador fala.
— Sabe que a prisão dele é ilegal delegado.
— O que é este rapaz?
— Alguém que sobreviveu ao buraco, todos que tinham ido
para algum, morreram.
— Ele me tocou e senti toda a minha energia me abandonar.
— Pense que foi o melhor Delegado.
— Acha que ele pagou mesmo.
— Este é um comprovante de deposito no caixa do banco, ele
nem colocou em um envelope, ele depositou direto, sabe que
mesmo se não o tivesse feito, seria direito dele não ter como.
— Ele provoca.
— Ele, alguém pode lhe perguntar o que ele perguntou dele-
gado, sem sofrer retaliação interna.
— Ela é uma vadia.
229
O investigador olha para o Delegado, alguém que não pagara
a própria pensão da es, se fazendo sobre alguém.
— Me confirma se é real o recibo.
O investigador pega o papel e vai a sua sala, ele liga para o
advogado da requerente, pois ele não teria como quebrar um sigilo
bancário sem motivo plausível.
O delegado senta-se e olha para fora, enquanto João era co-
locado numa cela gentilmente pela policia.
Um rapaz olha para ele e fala.
— Um brinquedo novo.
João olha o rapaz, deveria ter mais de um de oitenta, mais de
um metro de tronco, forte e fala.
— Quem não quiser problemas, juro que não mato. – João
olhando o rapaz, uma coisa era entrar em ficar na dele, outra, enca-
rar de frente.
— Acha que tenho medo de raquítico?
— Raquítico não, João para os desconhecidos, Alemão Malu-
co da Beija Flor para os amigos.
Um rapaz olha para ele e pergunta.
— Não deveria estar num hospital?
— Não deveria estar aqui, o resto, detalhes.
João se encosta a grade, o rapaz imenso ainda olhava ele,
uma cela que não cabia 10 tinha 20, padrão Brasileiro de justiça,
para pobres delegacias, até se matarem, mesmo sem provas, para
ricos, aguardando o julgamento em liberdade.
O rapaz ficou na duvida se o acertava, uma coisas era ser um
raquítico, outra, o raquítico que colocou os Moreira e os Paz, para
correr da cidade, ou os enterrou.
Era evidente que ele sofrera, todos sabiam a fama dos bura-
cos de Alemão da Rocinha, embora tenha sido feito no Galeão, sabi-
am que os que lá entravam raramente saiam vivos.
João estava sentindo-se diferente, ele vira quanto fora mais
autoritário, as vezes temia deixar de ser ele.
Sentia a quantidade de perguntas e afirmações de seres que
nunca conheceu, mas que na soma de todos naquela cela com 21
pessoas, apenas uma eles não conheciam, e foi para este rapaz que
ele olhou.
230
— Você me parece conhecido. – João olhando o rapaz, que
olha para ele e fala.
— Não conheço você, lembraria.
João sente tudo em volta e um espirito sai dele, era dia, atra-
vessando rapidamente a parede e indo no sentido da sala do dele-
gado, enquanto olha o rapaz.
— Tem jeito de não carioca, tem olhar bem marcante, mas o
que me intriga, isto na altura da virilha é uma arma? – João olhando
o rapaz.
Os demais olham o rapaz, sabiam que ele havia sido transfe-
rido naquele dia para ali, e obvio, pensaram pelo tamanho ser al-
guém que trabalhava nos portos.
O rapaz se levanta e fala.
— Dizem que você é difícil de matar, mas parece que um so-
pro o mata.
— Quando terminar o serviço, avisa a quem contratou, o que
avisei para Moreira, que sua raiz seria arrancada da Terra.
— E morto você faria isto como?
— Você não parece burro, eu estava enterrado, obvio que
não fui eu que fiz, não quer dizer que eu seja importante, mas com
certeza, as vezes eles usam alguém morto como exemplo do que
acontece quando se ataca o grupo.
João olha para o que o ameaçara primeiro e fala.
— Não tenho nada contra o Comando Azul!
Olha para um ao fundo.
— Não sou inimigo dos Amigos dos Amigos.
Olha para o rapaz ao canto.
— Não mecho com problemas do Porto.
O rapaz olha para ele e fala.
— E se o matar?
— Não entendeu o que rapaz, aquela câmera ali no corredor,
com dois delegados assistindo na sala do Martins, é para documen-
tar sua morte, para que eu não saia daqui.
O rapaz olha a câmera, os demais repararam na câmera so-
mente naquela hora e na ausência de gente cuidando das celas.
— Acha que acredito em você?

231
João tinha um metro e setenta e cinco, não era baixo, dá um
passo no sentido do rapaz e apenas fala.
— Dorme menino.
Todos viram o rapaz despencar para trás e João olhar para a
câmera e falar.
— Ele só está dormindo.
João volta a se encostar na grade de entrada da cela.
Martins olha para Camargo e pergunta.
— O que é este rapaz?
— Aquilo que nunca vai para o papel Martins, ou você acha
que Juiz gosta de colocarmos isto no processo.
— Mas o que fazemos?
— Pelo que entendi, ele percebeu muito rápido a armação,
ele identificou quem não era da região olhando as pessoas, esqueço
que ele vira um problema logo após saber demais.
— Não entendi.
— Martins, ele pagou a pensão hoje em dinheiro depositado
em caixa, sem um único documento pessoal original com ele, como
ele conseguiu este dinheiro?
João olha para a câmera e fala.
— Tá frio Douglas, bem frio.
Os dois delegados se olham e Douglas olha em volta e fala.
— Ele passou do ponto que a pequena Micaela consegue De-
legado Martins.
— Está dizendo que a menina dos David consegue fazer algo
assim?
— Ela desacordou Moreira na minha frente, como o rapaz fez
com o rapaz ao fundo, mas não ouvi falar dela dispor de uma alma
para vigiar os demais.
— Está dizendo que ele dispõem de almas, isto é maluquice.
Douglas olha o delegado serio e pergunta.
— Tem algo contra ele Delegado?
— Nada, ele pagou a pensão.
— Terei de fazer melhor da próxima vez, pelo jeito tenho de
estudar melhor o senhor ali.
O investigador chega a porta e o delegado pergunta.
— Confirmou todos os dados?
232
— Sim, a moça está reclamando dos valores, mas o que ele
pagou foi o que o ultimo juiz determinou referente a dois meses.
— Redige a soltura, mas este vai ter problemas, ele não cala a
boca fácil.
Douglas sorriu, pois sabia que o delegado deveria estar com
um ano de pensão atrasada.
Gabriel vai a Nilópolis, e olha para o pai.
— Podemos conversar pai?
— Soube que está apoiando o rapaz, mas saiba que não gosto
da ideia.
— Sei disto, desde o dia do samba enredo pai, mas tem de
entender, sua filha, gosta de meninas ou de gente forte, fazer dele
forte, só aproxima ela.
— Não gosto disto.
— Mas ele fez algo pesado para ser respeitado, como sua fi-
lha fez a dois anos, mas mostrou bem o que poderia acontecer com
ela, não tenho pena daqueles desgraçados pai, e não vou apoiar
nada feito por eles.
Roberto olha o filho serio.
— Se cuida filho.
O telefone de Gabriel toca e Roberto ouve ele falar.
— Já saiu, dá uma carona até a cidade do Samba, confirma
com os montadores e confirma se Nuno vai estar lá.
Gabriel olha para o pai e fala.
— Nem vou discutir isto pai, ele tinha razão, o rapaz não mor-
reu para nossa sorte.
Gabriel sai dali no sentido da Gamboa.
João sai e o rapaz da caminhonete ao fundo e fala.
— Lhe deixamos na Cidade do Samba.
João sorriu da primeira vez que os viu, entra na caminhonete
e vão a Cidade do Samba, os rapazes estacionam no estacionamen-
to do local, no terceiro piso e João desce com calma e teve de espe-
rar a liberação para entrar.
Quando ele entra na quadra, viu que o carro estava todo ao
canto, que parte da ferragem do carro da comissão de frente estava
mudada, e pensa se deveria falar, ou deveria aguardar as pessoas,

233
viu Pietro da outra escola olhar para ele, evidente a cara de pena,
João sorri por dentro, não achava que merecia pena de ninguém.
Gabriel chega ao local e vê uma porção de pessoas a chegar.
— Que tal fazermos a ultima reunião de enredo antes de
terminar o ano, e nos preparar para o ano que vem? – Gabriel
olhando João.
Ele olha em volta e pergunta.
— Conseguiu um computador?
— Sim.
— Como está a estrutura do carro abre alas?
— A estrutura está feita, só falta o restante.
— Consegue junto a Riotur, um dia de ensaio técnico estrutu-
ral no sambódromo.
— Ainda este ano?
— Sim, dentro de uma semana, no fim de semana antes do
Natal, pedido para testar se as alegorias dignas para o maior carna-
val do mundo, manobrariam na região.
— Acha que vale o esforço? – Gabriel.
— Sim, pois se não fizer a curva, sei que exagerei no tama-
nho, a hora de mudar é agora, no meio de Janeiro temos de dar a
posição das alas e das alegorias, com o conjunto completo de desfi-
le, quero saber se conseguimos colocar lá a alegoria.
— Vou falar com o presidente da Riotur e da Liga, eles vão es-
tranhar, mas entendo a preocupação, acha que passa?
— Vou trabalhar uma semana inteira para por todas as espe-
cificações iniciais em funcionamento Gabriel, mas para isto, preciso
de autorização para fazer.
— E vai fazer uma demonstração?
— Sim, uma demonstração sem roupas, sem alegorias, mas
com todos os pesos que vamos estar no dia do desfile.
— Certo, quer saber se aguenta, teve uma ideia e parece que
até você duvida dela.
— Olhei carros alegóricos, imensos, e quanto maior, maior o
problema, mas é para as pessoas que estão no carro terem ideia do
que será o desfile, é uma apresentação que pode durar 40 minutos,
é cansativo, é preciso, é importante, embora poucos entendam.

234
Gabriel sorriu, João voltada dos mortos tentando resgatar to-
do o conjunto da obra, Gabriel deixou escapar para alguns que da-
vam noticias sobre enredo, que seria a apresentação final da ideia
para o grupo e o que decidissem ali, iria ser o enredo final que desfi-
lariam na Marques de Sapucaí. Muitos curiosos e membros da esco-
la vinham para a reunião, João que achou que seria algo simples,
soube que agora já tinham os prospectos de todas as roupas, ele
olhou elas ao fundo e soube que algumas ainda estavam em confec-
ção, eram a expressão da evolução, viu Nuno chegar ao fundo e lhe
olhar, caminha até ele e pergunta.
— O que eles decidiram?
— Zanon quer ajuda, mas me liberou para conversar, ele quer
saber se vai os por para fora.
— Qual o enredo deles deste ano?
— “A fé que emerge das águas”.
João olha para Nuno e pergunta.
— Como ajudar em um enredo destes?
— Eles tem o conto.
— Talvez eu não entenda a historia deles, se vou ajudar terá
de esmiuçar as ideias Nuno.
— Passo para você, mas vai me liberar em parte para estar lá?
— Vamos nos liberar, não é você, vamos ajudar, eles queren-
do ou não.
— Sabe que meu carro é o mais atrasado.
— Alguém tomar minhas dores não esperava, mas ajudo a
por em dia, se duvidar fica pronto antes dos demais.
Nuno sorri e fala.
— O que vamos fazer hoje?
— Nem ideia, sai ontem do hospital, estou no meio do agito
novamente, me sentindo um caco.
— Vai devagar que parece frágil.
— Estou sem paciência, mas marca com Zanon e com os de-
mais carnavalescos deles que nem conheço.
Nuno olha Gabriel chegar a eles e fala.
— Os dois voltando ao barracão já é uma boa noticia, mas –
Gabriel olha para João – Eu não sei mais como tocar este carnaval, e

235
sei que até Franco, que sempre é bem dinâmico e pé no chão se
perdeu no enredo.
— Quem vai vir?
— Toda a estrutura de criação, toda a estrutura de alas, e to-
da a estrutura de encenação.
— Imagino que alguns devem estar estranhando.
— Sim, muitos estão estranhando.
— E vou ficar ao fundo como sempre? – João.
— Onde quiser.
— Sou péssimo nesta coisa de politica, eu acabo falando de
mais.
— Acho que é o que precisamos neste momento João, moti-
var eles, tá todo mundo perdido.
João sorriu, olha Sergio chegar com o pessoal do barracão, e
em meio a confusão, um repórter para a frente de Sergio.
— Qual as novas sobre o carnaval deste ano da Beija Flor, de-
pois de tantos percalços.
— Hoje decidimos se vamos a avenida para disputar ou para
ganhar, e estamos querendo ir lá para ganhar.
— Alguns dizem que estão bem atrasados, tem tempo para
por em dia?
— Isto que vamos por em ordem hoje, apenas deixa eu dar
boas vindas a dois rapazes que tinham se afastado.
O rapaz olha pra João e pergunta para o rapaz ao lado.
— Quem é o rapaz?
O cinegrafista aponta para a alegoria do fundo e o repórter
olha para João e fala.
— Nem parece o mesmo.
Os rapazes da imprensa se colocam em vários lugares e Fran-
co convida todos a sentar, e começa a falar.
— Hoje pessoal, estamos estabelecendo os parâmetros que
vamos a avenida. – Franco olha para Bruno da Riotur, e fala — es-
tamos pedindo formalmente para testar se a avenida comporta o
carnaval que estamos querendo apresentar – olha para o presidente
da Liga – Voltamos a atividade total hoje e paramos no dia 4, ou
uma semana depois, se tudo sair como pensamos.
Franco olha Sergio e fala.
236
— Vamos explicar qual a ideia deste ano, vimos alguns criti-
cando nosso enredo, mas hoje Sergio me explicou e estamos pron-
tos para começar a acelerar.
Franco faz sinal para Sergio que chega a frente e fala.
— Queria agradecer a Alemão e Nuno por voltarem ao grupo,
e queria deixar claro as baianas, a comissão de frente, ao pessoal
das alegorias, a bateria, ao pessoal da evolução, que estamos com
90% das fantasias prontas, que vamos entrar para disputar o titulo,
não para ser quinto, vamos a avenida disputar o bicampeonato, não
apenas participarmos do desfile, vamos expor uma lenda própria,
uma que alguns dentro da comissão acreditam, que somos um povo
jovem, mas marcado para ser grande, e vamos mostrar isto a partir
de uma fabula, a do anunciar de Amaná, Deusa suprema dos povos
Tupi, que neste terra, depois de muitos milênios nasceria uma na-
ção que ensinaria ao mundo o prazer de viver, de compor, de pen-
sar, e que unidos por uma língua, com as cores de sua bandeira
bordadas na alma, surgimos como nação, que é maior do que o seu
espaço físico, pois onde um brasileiro chega, ele continua sendo
Brasileiro, e mostrar isto em um enredo cronológico, eu me espan-
tei com o gigantismo deste carnaval, não pensem que vamos po-
bres, vamos com garra, vamos com energia, mas principalmente,
com a garra do povo de Nilópolis.
A porta bandeira ao fundo puxa um aplauso e Sergio a olha,
vendo os demais aplaudirem.
Os rapazes dos blogs de noticia queriam fazer perguntas e um
faz.
— E como irão para a avenida, todos dizem que estão atrasa-
díssimos.
— Nos atrasamos no elaborar do carro abre alas, quando pe-
dimos para testar se a avenida comporta o carro, é por ele desafiar
nossas energias em todos os sentidos, estamos pedindo a Riotur
autorização para testar ele, na noite de sábado, dia 22 agora, na
própria Marques, sabemos que ela não está pronta, mas teríamos a
noção se a alegoria atenderia as nossas expectativas, se a Riotur
topar, todos estão convidados a assistir este ensaio técnico, mais
técnico do que nunca no sábado que vem.

237
Gabriel ao fundo viu a cara de desgosto do presidente da Rio-
tur, ele queria dizer não, e se dissesse, teriam de explicar porque,
mas abririam um pedido para outro lugar.
Outro rapaz olha para Sergio e pergunta.
— Já poderia adiantar os motivos da saída de dois carnavales-
cos a alguns meses?
— Escolhemos uma estética, e alguns carnavalescos não sen-
tiram-se confortáveis nesta estética, não somos uma prisão, somos
um grupo, que deixa a porta para se entrar e sair quando acham
que não estão felizes, família, brigamos mas continuamos família.
Outro olha para João e depois para Sergio.
— E estão trazendo novamente Alemão para o grupo, algum
motivo para a insistência neste novato?
— Sim.
A resposta seca, fez o rapaz ter de perguntar novamente.
— Qual?
— Verão na avenida no dia do desfile, não antes.
Silvino olha para Sergio, saiu pela tangente, sinal que estava
confortável, ele raramente se esgueirava de perguntas, ele as defi-
nhava.
O rapaz vendo que não conseguiu o intento pergunta.
— E como com dois carros, vão conseguir em tão pouco tem-
po chegar em pé de igualdade a outras que já estão na montagem
das do conjunto de todas as alegorias.
— Deixar claro a todos aqui, ali fora, tem o carro 3, o carro da
comissão de frente e 3 tripés, mas como disse, quem quiser ter
ideia do tamanho que pretendemos, dia 22 na Marques se nos for
permitido, se não, teremos de verificar uma rua que tenha espaço
para treinar o erguer total da alegoria e a manobrar, não estamos
pedindo por capricho, é o tipo da manobra, que força as estruturas
hidráulicas e forçam as vezes um acidente grave na armação, esta-
mos querendo testar bem a manobra, pois temos um viaduto, todos
os sistemas hidráulicos, e gostaria de entregar o pedido de aprova-
ção para o corpo de bombeiro tendo testado isto.
— Não foi bem claro.
— Estamos projetando entrar com 6 carros na avenida meni-
no, temos tempo para isto, e quem estiver lá no dia 22 vai entender,
238
pelo que entendi, temos duas alegorias a testar naquela curva, não
teremos as 6 em condição de teste, mas não quer dizer que não
gostaria de as testar, se estiverem em condição, o faremos.
Bruno chega ao lado de Gabriel e pergunta.
— Porque querem testar?
— Senhor, algo daquele tamanho, se não for pratico passar e
manobrar, não vamos colocar na avenida, se pifar na avenida, teria
de ter 4 guindastes para o tirar de lá.
— Acha que vale o esforço?
— O risco de dar errado é grande, mas enriquece o espetácu-
lo senhor, temos de ter diferenciais, estamos deixando de ser o
maior carnaval do mundo, hora de retomar isto.
— E gostaria de testar?
— Sim, não iriamos com os carros montados ainda, apenas a
base que entrara, com os pesos e as alegorias humanas, um teste
para garantir que estamos no caminho.
— Um motivo a mais?
— Terminar de vender todos os ingressos antes de janeiro.
O senhor sorriu e falou.
— Algo a despertar interesse?
— Sim, mesmo que não dê certo, atrair as pessoas a se man-
ter na apresentação até o fim.
O presidente da Riotur entendeu, propaganda, venda total
dos ingressos é algo que fazia eles terem os recursos antes do car-
naval, podendo antecipar para as escolas.
Outro rapaz olha para Sergio e pergunta.
— Porque parece um enredo forçado?
— Posso pedir para outra pessoa responder isto rapaz? - Ser-
gio.
— Se alguém puder nos esclarecer.
Sergio olha para João e pergunta.
— Poderia explicar para nosso pessoal e para os repórteres
com aquelas palavras fáceis que você consegue.
João olha Sergio, olha os demais e caminha até o microfone.
— Bom fim de tarde a todos, gosto da definição de alguém
que já não está no grupo para definir este enredo, ele dizia que não
podemos ser culpados pela falta de cultura de quem nos avalia,
239
cada fantasia foi pensada no transmitir de uma ideia, evolutiva e
construtiva, alguns não gostam do começo, mas vamos falar do
surgir de uma nação, chamada Brasil, da nossa forma, ela antes, era
evolução, esta nos tornou ricos em terras, em minerais, em carbo-
natos, e petróleo, isto é o natural antes do homem, dai vem o ho-
mem, a miscigenação que no Brasil foi muito mais rica do que nas
nações vizinhas, uma miscigenação a força, mas miscigenação, e o
impor disto, nos impõem como nação, que fala um linguajar que é
apenas nosso, Brasileiro, identificamos qualquer outro pela lingua-
gem, e esta língua, assim como nos prende em uma cúpula, não
permitindo que outros entendam nossa cultura, nos torna Brasilei-
ros, mesmo longe de nossas terras, não fomos nós que formamos o
pais, foi uma predestinação, de riqueza, que infelizmente cria go-
vernos corruptos, uma língua, que nos faz diferente dos demais por
evoluções gramaticais impossíveis em outras línguas, criando poetas
incríveis, mas que são entendidos apenas por nós Brasileiros, ex-
pondo algo que para os demais, pode ser um defeito, mas termos
personalidade, cultura, dinâmica cultural, independente, não nos
faz fracos, e sim fortes. Por fim, mostra que somos uma nação cres-
cendo, evoluindo, ainda em construção, mas que consegue se ex-
portar, somos dos povos que tem ruas dos Brasileiros, pelo mundo,
e indagamos, somos uma nação por termos um território, ou somos
uma nação por ter uma língua, e uma bandeira bordada em nossas
almas, então a bandeira estará no enredo do começo ao fim, pois
ela é junto com a língua, que pode passar desapercebida mas tam-
bém está do começo ao fim do enredo, pois são nosso símbolo de
nação, e diante destas duas forças, passeamos dentro de um conto,
pois como parte desta nação azul e branca, contamos nossos con-
tos, para contar nosso enredo.
João olha o silencio, não sabia o que eles pensaram e fala.
— Pode parecer um enredo forçado, mas é que não é um en-
redo sobre uma pessoa, é sobre uma nação de Brasileiros, pois ela é
maior que nosso país, e se pensar a idade deste país, comparado a
outros, mostra a força do nosso povo.
O rapaz olha João e pergunta sem sentir.
— E está na elaboração deste enredo desde quando?

240
— Nada nesta escola se faz sozinho, se olhar em volta, a ideia
do enredo veio de Franco, a disposição de uma evolução cronológi-
ca veio de Sergio, a ideia da bandeira, veio do Rodney, a ideia da
cronologia baseada em dois nomes da nossa literatura veio de Ga-
briel, a ideia de dispor de as 4 ideias em paralelo, não eram 4, mas
foi de Pietro, ele nos deixou a ideia, e evoluímos dentro do enredo.
— Me parece complicado. – O rapaz.
— Como disse no começo, não podemos ser culpados pela
falta de cultura dos que nos assistem, mas somos responsáveis por
os informar e os fazer entender nosso enredo, nossa historia, nossa
função como escola de samba, é ensinar através do samba, e diante
disto, vamos a um enredo para se pensar, para forçar os a volta a se
perguntar, quem foi Amaná, deusa Tupi apagada pela colonização,
sobrevivente pela obra, onde tínhamos um Deus supremo, sem
sexo, que tinha dois filhos, um que representavas o bem, a direita
da primeira alegoria, e um que representava o mal, a esquerda da
primeira alegoria, através dela, anunciamos uma nação, e autores
geniais como Bilac e Millôr, brincamos com o surgir de palavras no
português por erros gráficos, através do nome de Millôr, falamos do
valor do pensar, que alguém pode ser a favor de uma educação
militar, mas ser contra um golpe militar a partir e Bilac, e a força das
palavras, nos levam em um enredo forte, não num enredo fraco, se
me perguntassem quando ouvi a ideia inicial, lembro que falei,
odeio este enredo, lembro de minhas palavras a um dia, é genial.
João olha para Sergio e fala.
— Melhor lhe devolver os repórteres.
João sai do microfone e todos viram aquele rapaz ainda se re-
cuperando ir ao fundo e pedir algo para comer.
Gabriel olha o carro ao fundo e sorri, alguém que construiu
um argumento para cada peça, chega ao lado de João e pergunta.
— Dividindo os méritos?
— Viu como o rapaz falou, ele queria uma discussão, mas eu
sou o novato mesmo, isto não me ofende.
— E pelo jeito quer algo maior.
— Diz para seu pai que vamos apoiar pelo menos duas esco-
las do grupo de acesso, precisamos dos abaixo forçando os acima a
evoluírem.
241
— E vai ajudar com o que?
— Ideias, meus braços, e com o que conseguir.
— Sabe que não entendi a logica de seus carros?
— Não existe lógica, existe agarrar-se a minha zona de con-
forto, pois se eu evoluir de lá, é evoluir de um ponto, pior é ficar
numa posição desconfortável, e não ter nem o começo.
— O presidente da Riotur quer entender o problema.
— Pergunta se ele tem tempo para daqui a pouco.
— Vai mostrar para ele?
— Sim, não esquece, vocês não sabem com tirar aquilo do
barracão.
— Sempre que olho aquele carro, me pergunto como vamos
tirar ele de lá?
— Começamos por este ensaio.
Gabriel fez sinal para Bruno que chega ao lado.
— Teria um tempo e lhe mostraríamos o problema senhor.
— Não seria aqui o problema?
Gabriel sacode a cabeça concordando com o senhor.
João vai ao fundo comer algo e Bruno olha o rapaz e pergun-
ta.
— É serio o que ele falou sobre o enredo, pois estariam falan-
do em um enredo para mexer com todos?
— Sim, algo para uma Globo internacional ter interesse de
vender para todos os lugares que tem Brasileiros perdidos.
— E alguns falavam que vocês não tinham enredo.
Franco assume o microfone e terminam com a apresentação
da bateria, como de praxe naquele ano, abrem o esquenta com o
hino da bandeira e vão para o samba da escola.
Era perto das oito da noite, quando João fez sinal para Nuno e
ele chega perto e vão com Gabriel e o presidente da Riotur até o
barracão que montaram.
Entraram pela lateral e Bruno viu o carro disposto atravessa-
do naquele lugar, erguido, com seus 24 metros de altura, e olha
para Gabriel.
— Sabem as regras para chegar lá?
— Sim, mas por isto temos de testar presidente, vamos pas-
sar por baixo do viaduto com 5 metros, temos pouco mais de 50
242
metros fazendo a curva, para estarmos nesta posição que está ven-
do, obvio que o segredo estará por trás de uma cortina, mas querí-
amos testar se existe como chegar lá, dispor dos locais e das partes
hidráulicas, em uma semana vamos por todos os pesos, para simu-
lar os componentes.
O senhor olha que o lugar estava cheio de esculturas, olha ao
fundo e olha as demais armações, mas não tinha muita noção do
tamanho, pois estava com uma erguida a sua frente.
— E muitos falando que nem tinham começado.
— Estamos com um carnaval pesado, temos de convencer o
integrante da escola que estamos leves, mas sabemos que este car-
ro a sua frente presidente, é um monstro, que se funcionar, mesmo
assim, é o abrir de uma historia, e somente no dia estará pronto,
tem tantos detalhes a por dentro, que temos de saber, colocamos
ou abandonamos a ideia.
O senhor pegou o pedido e sai pelo fundo, não vira muita coi-
sa e olha para João.
— O que pretende João?
— Crescer em influencia, mas teria de saber se posso contar
com pelo menos a sua discrição, se não for a favor.
— Não entendi.
— Temos duas escolas do grupo A, a volta, queria ajudar as
duas, mas tenho de conseguir ser um pouco mais, não esperava
estar este caco.
— E porque ajudar?
— Gabriel, imagina você no lugar de ser presidente de honra
da escola de seu pai, ser presidente da escola de seu pai, e de honra
de outras duas, pensando no politico, não apenas na escola.
— E porque eles gostariam de nosso apoio?
— Porque qualquer apoio vem de bom tamanho para algu-
mas, mas o principal, o crescer em toda região, abraçar a cidade,
não apenas a cidade dos pais.
— E começamos por onde?
— Eu ainda preciso de meus documentos, mas vamos ver o
que o Zanon da Estácio decidiu, se vai nos dar mais espaço ou vai
querer ajuda.

243
Gabriel sorriu, eles saem pela porta no outro estremo e o se-
gurança olha o rapaz ali de novo, entra e faz sinal para entrarem e
Zanon viu que João veio com o filho do presidente de honra da es-
cola ao lado, e Nuno de quebra.
— Queria pedir desculpas pelo presidente João, ele parece
lhe temer, não entendi.
— Nem eu. – João mentindo, sabia por alguém a sua mente
que o senhor sabia que ele estava jurado de morte.
— Veio com alguém da escola hoje, para deixar claro que não
é apenas você? – Zanon.
— Zanon, as vezes eles me põem a frente, pois sabem o peso
de dizer que a Beija Flor está apoiando duas escolas do grupo A,
esta conversa queria ter tido a 45 dias atrás, não agora, deixar claro.
— Apoiar duas?
— Vocês e a Alegria da Zona Sul.
— E pretende ajudar como?
— Preciso saber se quer ajuda, pois eu oferecer sem vocês
quererem gera aquela discussão mais cedo com o presidente Hélio,
deixar claro, que quando disse que não sei os motivos, foi por não
levar para o pessoal algumas coisas, e não falarei sobre coisas do
passado, apagadas na marra da minha vida.
— Certo, mas ele teme perder a escola.
— A escola não é ele, é a comunidade Zanon, presidentes se
muda, ou se imortalizam, a escolha é deles, pensa em um ano que a
justiça intervém na presidência do Salgueiro, proibindo ensaios até
antes de ontem, que prende o presidente da Mangueira, dono do
melhor prospecto de enredo do ano, que temos incêndio que afeta
Beija Flor, Mocidade e Ilha do Governador, vocês não sabem o
quanto são felizes na serie A, mas como objetivo, todas deveriam
querer subir a especial, ou transformar a A em algo tão especial,
que as arquibancadas estivessem cheias da comunidade que não
tem recursos para o grupo especial.
— E tem como ajudar?
— Querem?
— Precisamos.
— Deixar claro, o apoio é ainda informal, pois seu presidente
não nos quer apoiando formalmente. – João falou, Gabriel viu que
244
estavam colocando ele como apoio da escola ao lado e pensa no
que o rapaz estava aprontando.
— Certo, vai nos apoiar.
— Preciso falar com 3 pessoas, para acertar o investimento,
mas se for possível, vamos fazer uma reunião seria na quadra da
escola em uma semana, sei que é Natal Zanon, mas a ideia é uma
grande confraternização, com apoio de empresas parceiras que
ainda não toparam, então não tenho como abrir isto, mas se que-
rem, vou correr atrás de fechar o acordo.
— Um investimento de quanto?
— Começa a chamar as costureiras, os rapazes dos carros, o
pessoal do designer, vamos fazer um carnaval para valer Zanon.
Zanon sorriu e viu o grupo sair, olha para o rapaz ao fundo e
fala meio na duvida.
— Entendeu o que está acontecendo?
— Pelo que ficou visível, Gabriel quer apoiar, mas pelo jeito
ainda estão afastados pela posição de nossa presidência.
Gabriel olha João e fala.
— Está dizendo que eu vou apoiar?
— Vai, mas precisamos conversar, e tenho de ir a dois luga-
res, me ajudaria que lhe ajudo Gabriel.
— Onde?
— Galeão, na casa que fiquei detido.
— O que tem lá?
— Quero ver se alguém se deu o trabalho de mexer naquilo,
minhas roupas, meus documentos estavam jogados ao fundo, se
tiver qualquer coisa, é ganho de tempo.
— Certo, quer voltar a vida.
— Sim, estou muito retido ainda, e o segundo lugar, vai ser
nosso segredo Gabriel.
— Surpresa?
— Tentando entender ainda o que pode ser o ano, que se
aproxima.
— Se cuida com aquela maluca da minha irmã.
— Sabe se ela ainda quer comprar aquelas terras em Santa
Cruz?

245
— Ela falou em montar uma empresa maior, não entendi,
mas com seu sumiço, deve ter sido das poucas que estava tentando
descobrir onde colocaram você.
— Usaram um local e pessoas que ela respeitava, como escu-
do, ela não olhava para lá.
— Ela está ainda pensando se você é um aliado ou um inimi-
go, mas ela não tem medo de inimigos.
Chegam a casa, vem que tinha um isolamento apenas teorio-
co, pois estava tudo vazio, olha ao canto, olha os buracos de onde
tiraram os corpos, pela primeira vez olha de cima, o buraco que
esteve, e uma lagrima lhe corre o rosto das lembranças.
Nuno ao fundo entendeu onde estavam, ia quieto e vê João ir
ao canto e começar a revirar vários documentos todos jogados ao
canto, acha uma identidade, um cartão, olha o lugar, guarda apenas
aquilo e fala.
— Vamos, este lugar me faz mal.
— Onde?
— Meier.
— Tem algo no Meier? – Gabriel.
— Não ainda, mas queria perguntar uma coisa Gabriel, co-
nhece alguém em algum cartório local?
Gabriel olha desconfiado e pergunta.
— O que pretende.
— Não deixar todos os bens de Rocha virarem pó, apenas is-
to.
— Mas como faríamos?
— Teríamos apenas de descobrir onde ele tem firma reco-
nhecida, e fazer os reconhecimento de firma, e com isto pedir a
transferência dos bens.
— E quer ir lá?
— Sim.
João olha Gabriel pegar o telefone e falar.
— Mana, consegue nos dar cobertura?
— Cobertura, está encrencado?
— Me metendo em encrenca, mas vamos a casa do Marcos
Rocha, e pelo que entendi, pode ter gente que não goste da ideia.
— Vou ligar para Paulinho, mas estão onde?
246
— Saindo do Galeão, assustador aquele barracão mana.
— Está conduzindo o rapaz, se cuida.
Gabriel não responde, desliga e olha para João e fala.
— Vamos então.
Joao olha para Nuno e fala.
— Quer ficar no hotel?
— Melhor, agora sei de onde lhe tiraram, assustador um lugar
feito para enterra gente e deixar morrer.
Gabriel entendeu que deixariam o rapaz, sorriu da ideia, mas
parecia que o rapaz queria fazer algo.
Deixam Nuno e vão no sentido do casa de Rochinha, Gabriel
olha João descer do carro, bater o código do portão eletrônico, e o
mesmo começa a abrir, ele faz sinal para ele por o carro para den-
tro, na esquina, alguém os observava, João saberia mais tarde que
era gente ligada a Moreira, que sentia-se órfão na cidade.
João olha a casa aberta, nitidamente tiraram pessoas as pres-
sas, mas Gabriel não viu nada de mais, uma casa grande, com três
carros a garagem, um pouco empoeirada, mas pouca coisa, as frutas
a mesa estavam apodrecendo, a luz ainda estava paga, João abre a
geladeira e pega duas cervejas e joga uma para Gabriel e fala.
— Vamos conversar menino.
— Vai assumir assim?
— Vamos assumir assim, tem coisas que param uma cidade, e
a saída das distribuições Rocha e da Marítima, deixa muitos órfãos
de emprego e negócios na cidade.
— E como pretende fazer isto?
João olha para a porta, de onde vinha a pergunta, olha para a
menina dos David ali e fala.
— Esta pergunta se resume em dizer, compramos, Rocha
vendeu, eles terão de provar que os documentos são falsos, mas em
uma assinatura incontestável.
— E como pretende fazer isto? Tem recursos? – Gabriel.
João olha para Micaela e pergunta.
— Vai querer ser minha sócia na maior empresa local de pro-
dução de camarão?
— Sim, mas teríamos de por isto no papel.

247
— Vamos por, e você vai através desta empresa, financiar
com o apoio de seu irmão, o carnaval da Estácio de Sá.
— Não gasto dinheiro assim tão fácil. – Micaela.
— Não disse que vai gastar, mas marketing é parte da empre-
sa, e uma que já tem capital para fazer um investimento destes,
vamos promover uma peixada com camarão na festa de natal e
confraternização da Estácio.
— Não ouve ou faz que não ouve.
João olha para Gabriel e pergunta.
— Acha que conhece alguém de cartório?
— Mas como faria os documentos?
— Isto é algo que está dentro de mim, mas que ainda está
meio revoltado, mas nada que não se assuma, mas em 15 dias va-
mos estar mudando o nome da Distribuidora Rocha, para Distribui-
dora Beija Flor, e as cores de Vermelho e Preto para Azul e Branco, e
se topar Gabriel, estaremos tocando isto meio a meio.
— Acha que eles não vão reclamar?
— Eles tem de entender, se ficar parado todos perdem, não é
questão de entender, é as frutas a mesa, abandonadas, apodrecem
e se perde, tem de ser muito idiota para ser contra alguém assumir
e tocar.
— Os herdeiros.
— Mortos.
— Os sócios.
— Junior? – João bem friamente.
— Certo, mas nisto ele seria parceiro da Marítima.
— Sim, 25% da Marítima, mas primeiro assumimos uma, de-
pois propomos paz ao senhor que nos quer morto, e a escolha será
dele, se nos passa o resto ou deixa definhar.
— Não o quer como sócio? – Gabriel.
— Ele quer eu e sua irmã mortos Gabriel, não é um bom só-
cio. As vezes mesmo as coisas mais lucrativas, tem de se barrar.
Micaela olha para João e fala.
— Mas não me ouviu.
— Menina, quanto é o capital que tenho de entrar para fe-
charmos esta aliança em uma empresa?

248
— As suas terras valem mais que as minhas, os tanques para-
ram de ser feitos, mas você em um mês terá camarão, tive de testar
os meus e parei as vendas, você tinha razão, mariscos com índice de
metais pesados e camarão com coliformes fecais, esvaziamos os
tanques, estamos recomeçando, alguns não entenderam o parar, e
não vou falar a verdade.
— Quanto?
— Quer que cada um entre com um capital?
— Eu não sou bom vendedor. Então você estava se saindo
bem com o sistema de vendas e representar a empresa, mas a per-
gunta, vamos crescer ou vamos tomar o mercado?
— Estava mesmo num buraco, está perigoso.
João a olha aos olhos, não saberia que ela soube por sua aura
que ofendeu, mas ouve.
— Desculpa, sei que falo demais.
João a olha e fala.
— Vamos fazer o seguinte, organizar e verificar como fica-
mos, com calma, mas pelo jeito a minha ideia de uma peixada pro-
movida por nossa empresa não vai vingar.
— Tanques vazios e começando a ser limpos, somente quan-
do tiramos toda a agua entendemos o problema, o fundo dos reser-
vatórios estava um lodo fedorento.
— Quer limpar ou vai tirar o fundo com um trator e colocar
mais areia?
— Soube que colocou até a areia da beira a vender, você pen-
sou nisto até no montar dos tanques.
— Não respondeu?
— Tirar o fundo e por areia nova nos mesmos, vamos por
areia e estava vendo que você parece ter feito uma base de cimento
e paredes jateada de cimento.
— Existia na sede, um compressor de cimento, nos jogávamos
a toda volta do buraco e ficávamos esperando 4 dias para o encher.
— E curava em 4 dias?
— Não, a cura é demorada, mas passível de ser feita cheia, os
tanques sendo enchidos de 5 em cinco, demoravam para encher, se
os cálculos estão certos, devo ter camarão no inicio do ano.
— E seremos sócios?
249
— Estou perguntando quanto precisamos para fechar isto,
concorrentes não vai dar certo.
— Meu pai vai odiar isto. – Gabriel.
— Algo que não me contaram? – João.
— Ele acha que temos algo.
João sorri e fala.
— Temos, um sociedade, que pode durar muito se fizermos
certo.
— Teria algo que pudéssemos produzir mariscos e ostras na
região?
— Provavelmente tem, mas estudamos isto com calma, ape-
nas alertei que se alguém fizesse um exame minucioso, teria sido
barrado nos mercados, já comeram, já parou de vender, deixa eles
torrarem os estoques para falar na próxima venda, dá uma desculpa
daquelas que todos sabemos ser mentira, mas que eles não tenham
como contestar.
— Como qual?
— Que a policia interviu nas terras para avaliar se o cemitério
clandestino que Rochinha tinha no outro lado do rio não se estendia
para aquele lado.
João olha para a menina e pergunta.
— Mas vamos ou não ser sócios?
— Sim, mas tenho de falar com o advogado da família, para
fazer os papeis certos.
João não palpitou e falou.
— Eu entro com as terras e parte dos recursos, apenas tenho
de saber quanto vamos precisar para voltar a produzir.
João olha para Gabriel e pergunta.
— Conhece alguém que possa cuidar de barracões que niti-
damente foram largados depois da morte do senhor Rocha.
— Não entendi a ideia de sermos sócios.
— Se vamos mudar as propriedades, vamos começar por uma
mentira, e esta mentira tem perna muito longa, não quero falar dela
depois, então ela é verdade a partir deste momento Gabriel.
— Qual a verdade que vamos contar?
João sorriu.

250
— Que Marcos Rocha, me vendeu parte da empresa, e estou
entrando na justiça para ter acesso ao que ele para não me transfe-
rir, ordena minha morte.
— E terá os recibos?
— Sim, os recibos e o acordo dele para o negocio.
— Sabe que legalmente isto vai demorar.
— Sim, sei que enquanto vamos tomando posse, a lei vai cor-
rendo lentamente, para decidir se é real.
— E viemos aqui fazer o que? – Gabriela.
João caminha até a sala e olha para o quadro, coloca no chão
e os dois viram o cofre por trás do quadro, ele digita a senha, e o
mesmo abre, dentro os documentos, dinheiro em espécie e joias.
João olha as pilhas, separa duas e coloca na mão de Micaela e
fala.
— Contrata a perfuração de dois poços artesianos, e toda re-
modelação da sua parte.
Ele pega outro maço e coloca a mão de Gabriel e fala.
— Contrata gente para assumir pelo menos a segurança de 12
barracões na região do cais e a mudança da fachada da empresa.
Gabriel olha para João pegar alguns cartões, um pouco de di-
nheiro e fechar o cofre.
— Mas tem bem mais ai. – Gabriel.
— Não tenho ainda onde guardar isto.
— Vai dormir por aqui? – Micaela.
— Não, vou dormir onde a policia tem de interfonar para su-
bir. – João ignorando a malicia da pergunta.
Eles começam a fechar e João olha para Micaela.
— Tens uma empresa de segurança?
— Uns poucos, mas bem treinados rapazes.
— Se der para começar a dar segurança para mim e Gabriel,
agradecemos.
Os dois escondem o dinheiro, e Gabriel viu João acionar o
alarme de novo e saírem.
Passaram em uma pequeno shopping a frente, João comprou
um novo notebook, sentam na praça de alimentação, João comeu
algo, ele ainda estava bem fraco e não queria parar.

251
— Sabe que se assumir a parte de Rocha, todos os contraven-
tores da cidade, vão querer falar com você João. – Gabriel.
— Eu ainda não sei se dá para assumir, mas não dá para dei-
xar como está, vai definhar.
— Acha que teremos algo de camarão para quando? - Micae-
la.
— Tenho de voltar ao terreno ainda, mas agora somente
amanha para chegar lá.
— Tinha quantos tanques já com camarão?
— O problema é que os camarões devem estar sem comer ou
com muita pouca comida a muito tempo, quem cuidava disto foi
junto para o buraco.
— Então vemos isto amanha, pelo jeito está comendo todas
as vezes que tiver chance.
— Sim, me recomendaram de 4 em quatro horas, mas estou
comendo quando sinto fome.
— Acha que consegue passar os imóveis para seu nome?
— Vou primeiro fazer um levantamento dos que ele tem re-
almente os documentos, por fim, vamos transferir aos poucos os
barracões, é mais fácil, mas preciso de um cartorário.
Gabriel entendeu que a ideia era dispor dos imóveis de Ro-
cha, mas tinha muitas duvidas.
— Vai transferir os imóveis para você?
— Não, para a Beija Flor Transportes, que vamos montar eu e
você Gabriel, e vamos com calma, até março, transferindo os bens,
os veículos, os maquinários, para em abril, abrirmos nossa transpor-
tadora.
— Sabe que podem nos barrar.
— Vamos fazer lenta e gradual, não é questão de agilidade, é
de manter os pés no chão, e a meta a mente.
— E aquele papo de peixada? – Micaela.
— Nossa empresa, vai financiar o carnaval da Estácio, e nossa
transportadora Gabriel, vai financiar a Alegria da Zona Sul.
— Mesmo sem a inaugurar oficialmente?
— Desviamos o foco, compramos um barracão em Belford
Roxo, e colocamos lá 3 caminhões.

252
— Lançando oficialmente as empresas como parte da comu-
nidade e querendo interferência.
— Eu quero respeito, nem que seja a vocês dois Gabriel, não
precisam saber que a ideia é minha, que emprestamos capital de
um empresário.
— E acha que qual será nosso maior desafio?
— O namoradinho da sua irmã na federal.
Micaela olha para João e fala.
— Ele não é meu namorado.
Gabriel sorriu e falou.
— Vai voltar ao barracão?
— Sim, vou voltar ao barracão.
— Lhe deixo lá.
Os dois viram Micaela olhar o celular, apertar um botão e
Paulinho parar o carro a frente do local, ela caminha calmamente
saindo dali.
— Acha que devemos criar empresas?
— Gabriel, se estivermos ocupados com o carnaval, eles não
vão olhar para nós.
— E vamos onde?
— Falar com o Marcos da Alegria da Zona Sul.
— Vai querer mesmo ajudar os dois lados.
— Sim, e enquanto todos olham para nós ajudando eles, fa-
zemos nossos planos para o ano que vem.
Gabriel sorriu e voltam a região do barracão, João olha o local
já ajeitado, mas sem estrutura, ele nem vira nada, e olha Marcos
olhar para João.
— Está bem rapaz, não parece bem.
— Me recuperando, mas como está o carnaval Presidente?
— Complicado, apresentamos nosso enredo, mas parece que
no momento seguinte todos viraram as costas.
— Quer ajuda Presidente?
— E como poderia nos ajudar?
— Vamos entrar e conversamos.
Ali só tinha as alegorias do passado, nada de novo, João pen-
sou em por algo novo, mas não tinha conseguido ainda, olha Gabriel
e fala.
253
— Presidente, deve conhecer Gabriel David.
— Sim.
— Estamos dispostos a ajudar, mas precisamos de entradas,
não é que não possa ser feito, mas temos de ter como fazer.
— Falei com uns colaboradores, com o pessoal da comunida-
de, e levantamos um pouco de recurso com a feijoada do primeiro
domingo do mês, mas é pouco.
— Dedica este dinheiro para a ala da baianas presidente.
— E como erguemos o resto?
— Vamos tentar levantar fundos, deixar claro que é a Beija
Flor ao lado que está ajudando, mas nem precisa ser oficial esta
ajuda presidente.
— Vejo que os rapazes ainda estão ampliando os barracões.
— Sim, devemos terminar algo que eu deveria ter colocado
para funcionar a 40 dias, então eu estou atrasado, e muita coisa
atrasou por esta causa, mas precisamos saber qual o enredo.
O presidente olha sem graça.
— Fala presidente, pelo jeito não é um bom enredo?
— Na verdade é aqueles enredos para bloco, mas já não te-
mos como elaborar outro.
O presidente alcança a Sinopse do enredo:
“Diz a lenda,
que o arranca língua vai invadir a Marques de Sapucaí,
e vai arrancar a língua e comer,
todos que não cantarem com a Alegria,
ele vem do Araguaia,
e nosso King Kong,
é nossa lenda,
mas ele desistiu de comer línguas longe,
e vai invadir a Sapucaí.
Ele vem para olhar você na plateia,
e ver, se está cantando,
decidido a arrancar a língua
de todos que não sorrirem e não cantarem.”
Ao fundo da narrativa tinha um desenho do ser.

254
João alcança a Gabriel sorrindo e olha o presidente.
— Quer ajuda pelo jeito.
— Sim, achou a ideia ruim?
— Ideias ruins as vezes dão melhor resultado do que ideias
que se traduz muito rápido, e todos pensam em como a fazer a
anos, a inovação depende de sabermos por onde caminhar em um
enredo, e pelo jeito é um daqueles enredos que requerem coragem,
mas me responderia uma coisa?
— Se souber.
— Com certeza quem propôs isto deveria ter uma ideia refe-
rente ao enredo.
— Fazer algo feliz para ser exposto na avenida.
— Feliz?
— Sei que parece mórbido, mas a ideia era fazer uma brinca-
deira na avenida.
— Tem o samba?
— Ele passou, ninguém está cantando, parece que poucos le-
varam a serio.
— Já entregaram a sinopse?

255
— Não ainda, temos até janeiro para o fazer, entregamos esta
definição preliminar do enredo, mas não a sinopse.
— Disposto a mudar presidente.
— Mudar?
— Transformar isto em um enredo, não apenas em uma diva-
gação que afasta mais do que aglutina.
— E começaríamos por onde?
— Comissão de frente, uma família de Arranca Língua, sem
espaço diante de gado confinado para todo lado, resolve migrar
para a cidade grande.
Gabriel sorriu, ele nunca vira João discutir Enredo.
— Posso ir anotando?
— Deve.
João pega o notebook e também anota, e fala.
— Mestre sala e porta bandeira, caçadores de Arranca Língua.
O senhor olhou que era serio.
— Carro abre alas, a floresta sendo devastada, e virando pas-
to, expondo onde os Arranca Língua moravam.
— Vai mesmo querer transformar isto em um enredo.
— Sim, não existe como por uma escola na avenida sem um
enredo presidente.
— Certo, o que mais?
— As baianas são as aguas do Araguaia.
João anota.
— 5 tipos de vegetação, mostrando o migrar ao sul, fazem as
próximas alas.
O senhor olha serio para João e pergunta.
— Até parece que pensou nisto.
— Pensamos trocando ideia, então vamos as novas terras cul-
tivadas, e os seres começam a atravessar Mina Gerais, então colo-
camos produções Mineiras e após isto o carro dois, Minas Gerais.
João estava pensando, poderia incrementar depois, mas esta-
va pensando.
— Após Minas, os bichos vem fugindo de ameaças percorren-
do o país, atravessa o rio Paraíba do Sul, e começa a descer a serra,
desolados, chegam a capital, olham a tristeza, mas se encontram na
Zona Sul, em uma escola de samba, e diante do pavilhão da Alegria
256
da Zona Sul, vem a marques de Sapucaí, mostrar que tem samba no
pé e falar, canta, ou arrancamos sua língua. Carro final, duas arqui-
bancadas voltadas para as arquibancadas, com a estilização do Arco
do Niemeyer ao fundo, com vários Arranca Língua sobre a alegoria
Virando-se para a arquibancada e cantando o samba com os dizeres
acima, ou canta ou arranco sua língua.
O presidente olha para João e pergunta.
— E acha que temos tempo de montar algo assim?
— Se topar, ainda não sei a fantasia da bateria, mas eu pega-
ria isto, começaria a fechar as fantasias, as convocando e aceleran-
do para estar na Marques de Sapucaí, com um carnaval alegre, des-
contraído, mas o principal, com os quesitos, prontos, ensaiados,
estabelecidos.
Marcos olha Gabriel e pergunta.
— O que acha?
— Ser sincero, antes de João falar, não parecia um enredo,
agora narrado, é um conto, cada escola conta a sua historia na ave-
nida, e quem melhor contar, ganha.
Marcos olha para João e pergunta.
— E vai ajudar fazendo o que?
— Montando os carros, vamos organizar as coisas e por o
pessoal para montar os carros.
Marcos sorri e fala.
— Espero que seja serio esta proposta. Vou falar com o car-
navalesco.
— Conseguiu um?
— O do ano passado voltou. Mas também espero que a pro-
posta seja seria. – João olhando o desenho voltando a sua mão.
João pega o telefone e liga para o amigo em Curitiba, sabia
que já tinha fechado o expediente, mas confirmou que depositaria
no dia seguinte um sanfonado simples e dois normais.
João olha para o notebook e começa a pensar no carro inicial,
algo que sempre quis fazer, uma floresta na avenida.
Gabriel olha para ele e pergunta.
— Agora vai pensar no que pode por?
— Primeiro carro é acoplado, então é onde estará a maior
parte da criação, onde quero chamar a atenção.
257
— E como chamaria a atenção? – Marcos.
— Uma floresta, primeiro com campos, troncos cortados, de-
pois com arvores de 10 metros e por fim, arvores de 25 metros, a
volta e no centro do carro o grande Arranca Língua.
— Lembra que o orçamento é curto. – Marcos.
João sorri e faz suas anotações.
Se despedem e marca com o presidente e alguns colaborado-
res para o dia seguinte.
Gabriel olha João e pergunta.
— Acha que eles ganham algo com isto?
— Não, mas não quer dizer que se eles tiverem uma boa ba-
teria, um casal de mestre sala e porta bandeira, bem fantasiados e
que saibam bailar, uma coesão, não estejam o ano que vem ainda
entre o grupo A.
— Vai agitar geral.
João sorriu.

258
Uma semana se passa, João
olha para o documento da casa do
senhor Rocha ser transferido, mas
ele estava no hotel, olha o conjun-
to de obras que estavam sendo
feitas na empresa DM Criações de
Crustáceos S.A.
Olha para o entrar pela por-
ta de Franco, estava na Cidade do Samba, e ele olha receoso.
— Aprovaram o teste no fim de semana.
— Vão parar quanto para testarmos?
— Vão nos dar duas horas para os testes, mas ainda acho pe-
rigoso.
— Silencio?
— Não, nos permitem testar toda a escola.
João sente um pequeno receio, todos estavam apostando
nesta ideia, ele olha em volta e fala.
— Que minha loucura seja genialidade.
Franco sorri e fala.
— Pediu isto, espero que não decepcione.
— Não disse que vou decepcionar, talvez até aconteça, mas é
para saber se podemos realmente contar com os carros.
— As vezes acho que é demasiado grande.
— Sempre digo que é uma inovação, vamos apresentar uma
peça inteira no carro abre alas, apresentação sequencial, que será
feita a primeira vez para a arquibancada popular, com é grande, são
13 apresentações totais, quero saber quanto tempo demoro para
fazer, se é possível, na calculadora dá, mas nem sempre é fácil che-
gar com a comissão de frente, baianas e mestre sala e porta bandei-
ra em 35 minutos ao fim do desfile.
Franco viu João levantar e gritar para Paulinho, do grupo do
Silvino.
— Sobe aqui Paulinho, Silvino está onde?
— Olhando o carro na outra cede.
259
— Sobe, temos de dar um jeito de manobrar as coisas.
Franco olha para João e pergunta.
— Primeiro desafio, eles conseguem sair do lugar?
— Acho que este é o menor dos problemas.
Paulinho entra e pergunta.
— Problema?
— Dois dias, para o ensaio de entrada e saída da Marques de
Sapucaí, aprovaram, começa a recolher todas as calhas, e encolher
todos os sistemas hidráulicos, não sei se vamos com algo, mas pre-
cisamos de pesos em cada ponto que terá alguém pulando, e toda a
dinâmica de desfile será testada.
— Tiramos as alegorias?
— O que não der para tirar, cobrimos.
— Certo, o seu vai como?
— Montado, sem as alegorias altas, aquelas que colocamos
ao lado.
Franco olha João olhar para ele e perguntar.
— Preciso do horário de saída, as ruas de condução, e alguém
chamando a comunidade para o lugar.
— Quer todos lá?
— Franco, é mais para o nosso pessoal do que para os de-
mais, eles estão gostando do samba, mas eles tem de ver que tere-
mos um carnaval imenso.
Os grupos começam a se organizar, e os dois dias voam.

260
Gustavo, tinha seu blog de
Carnaval, quando se anuncia
aquele ensaio estrutural da Beija
Flor, ele foi com dois fotógrafos e
com a câmera para registrar, a
bateria tocando, o puxador ali,
fazia o agito nas arquibancadas,
ele estava sentado na arquiban-
cada, quando olha todos virarem para a entrada da avenida, aquele
carro fazer a curva elevando a armação, ele olha para ele dispor do
tamanho e começa um teste de cortinas, ele olha que não estavam
as alegorias lá, mas era evidente que a cortina azul levantava al-
guns, a negra, outros, a branca outra, viu que aquele carro poderia
ser imenso, mas passou leve ali, olha todos olhando encantados, ele
que tinha visto o passar da comissão de frente, apenas fazendo um
bailado, mas aquele carro, que da altura que estava, dava para ver o
outro lado apenas quando as cortinas abriam, deixa ele e o fotogra-
fo na armação olhando encantado.
Viram o carro dois, sem as esculturas, mas imenso, pequeno
comparado ao pequeno, o terceiro, o que todos conheciam, os tri-
pés não foram, os integrantes entram, a bateria vem a avenida,
Gustavo olha que a escola estava gritando a musica, não tinham as
caixas da avenida, tinham apenas o carro de som e os integrantes,
viu o carro 4, o 5 o deixa olhando para cima, não sabia o que seria
aquilo, mas toda aquela estrutura ele não vira na quadra, todos
falando que eles estavam atrasados, a ultima alegoria, não menos
grande, não menos alta, mas ficou a olhar carro a carro, passar bai-
xo, e levantar todas as talhas quase que no automático, via-se os
pesos em todos os carros, e Simone olha para ele e pergunta.
— Quem disse que eles não estavam fazendo?
— Toda esta apresentação, foi para verificar se o carro um
entraria, estranho como ele entrou fácil, mas os carros estão sem
luz, sem acabamento, sem as esculturas, mas eles ensaiaram algo,
não sei o que, mas pode ter certeza Simone, eles vem para disputar
261
o bi campeonato, isto que todos queriam saber, se eles se apeque-
nariam, eles vieram mostrar aos demais, vamos vir para cantar,
impressionar e mostrar um carnaval diferente.
— Sabe que algo tão grande pode tirar o ritmo de uma escola.
— Sim, mas eles queriam saber se funcionaria, vamos a meu
apartamento, quero por as imagens e os prospectos, e ver qual a
reação dos demais, pois uma coisa é dizer, Beija Flor está sem enre-
do e sem estrutura, estrutura eles tem.
João acompanha cada passagem de carro e após os carros
novamente recolhidos, senta a lado do engenheiro e pergunta.
— Qual foi a inclinação dos carros?
— O sistema de compensação hidráulica das suspenções só
foi falha na parte de trás do carro 5.
— Os desgastes?
— Ainda analisando a dobra.
Eles ficam a olhar e na Sapucaí, no meio da pista Bruno olha
para o vice presidente e fala.
— Acha que eles conseguem dispersar?
— Sim, acompanhei o entrar e sair do carro abre alas, assus-
tador ver algo tão grande passando próximo aos postes, e recolhen-
do tudo, não entendi a ideia, mas é algo que eles devem estar ten-
tando terminar, um carro que vai entrar para a historia, se conse-
guirem acabar.
Gustavo coloca o vídeo e as imagens da entrada do carro abre
alas e começa a chover critica, que o carnaval não era apenas alego-
rias, era samba no pé.
Ele sorri da infantilidade de alguns, pois as pessoas iam ver as
alegorias, já que raramente entendiam as fantasias. Mas dizer que
aquela escola não estava cantando, não estava sambando, hipocri-
sia, ou torcida disfarçada.
Mas domingo todos comentavam o desfile de alegorias da
Beija Flor.
Pedro chega em casa, na sua cabeça estava a estrutura que
viu, ele estava a passar as imagens no computador e o telefone to-
ca.
— Fala presidente.
— Me garantiram que eles não teriam alegorias.
262
— Eles não as tem senhor, eles estão construindo, uma alego-
ria inicial daquelas, estou contando, vai mais escultura que todas as
esculturas de nossos 6 carros.
— Está dizendo que é uma provocação, eles terrão de correr
para entregar.
— Me pareceu uma provocação, mas me pareceu ser uma
forma de a comunidade passar a acreditar, é algo para erguer o
animo, mas não posso dizer que não foi um teste valido senhor.
— Teste valido.
— Imagina você projetar um carro daqueles, e ele não fazer a
curva.
— É uma aposta perigosa, um pneu furado e eles param.
— Sim, mas desfilamos após eles, não poderemos errar se-
nhor, é questão de provocação, mas eles ainda devem ter muita
coisa a fazer, mas eles colocaram peso no carro em todas as estru-
turas, um pneu estourou no carro 5, ele passou inclinado, mas pas-
sou, não entendi a dinâmica do carro, mas é obvio, os painéis cober-
tos estabeleciam que já estavam ali.
— Acha que eles vão nos ameaçar.
— Acho que o carro é para entrar para historia, mas ele des-
conecta a historia, ele fica muito grande e se perde em evolução
presidente.
— Certo, eles querem algo para provocar, mas acha que os ju-
ízes vão analisar assim.
— Ainda não está com gente, geralmente são elas que deto-
nam os carros senhor.
Roberto olha o carro na avenida ao lado do filho, entrando no
barracão novamente.
— O que achou?
— Ele passou no desafio, o peso tem de ser equilibrado, um
pneu um pouco mais cheio na quinta alegoria, com o peso, estou-
rou, sistema hidráulico compensou, mas tivemos de trocar o pneu
antes de voltar.
— E onde está este maluco que resolveu apoiar.
— Recalculando tudo com o engenheiro.
— E o que tanto fazem apoiando outras?

263
— Pai, ele quer que outras escolas nos respeitem, é Marke-
ting, sabe o que é isto, mas uma coisa é dizer, estamos ajudando
com parte da estruturas, mas vejo que ele usa isto para pensar, tem
enredo que não sei se eu encararia, o da Alegria é um destes, tão
chulo que tem de ser muito bom para ganhar.
— E agora?
— Vamos começar a montar cada um dos carros e dispor dois
na Cidade do Samba, e após isto, terminar os demais.
— Não entendo porque não estão pedindo dinheiro.
— Porque estamos no orçamento pai, apenas por isto.
— Mas como?
— Engenharia pai, cada carro tem seu prospecto de constru-
ção, então sabemos o que devemos por ali, quando e como, estra-
nho um carnaval pequeno como o da Alegria, gerar recursos e idei-
as, que acabamos usando no nosso.
— Pensei que estavam ajudando.
— Estamos, mais para confundir do que para qualquer coisa,
mas a uma semana atrás, o carro abre alas da Alegria nem estava
projetado, hoje, quem olha parece apenas ferro subindo e se con-
torcendo, mas é que pela primeira vez pai, estou vendo alguém que
pensa cada detalhe, aqueles que nos custam horas na concentra-
ção.
— Juro que pensei que o carro nem chegava lá, ele foi, desfi-
lou e voltou, pensei que fosse firula dele para pedir mais dinheiro, e
vocês ainda não me explicaram isto.
Era manha quando João vai a cama e dorme.

264
Gustavo estava a olhar os
comentários quando um rapaz, de
nome Vinicius, que tinha outro
sistema de noticias, no Youtube
de noticias do carnaval lhe liga.
— Podemos conversar Gus-
tavo.
— Problemas Vinicius?
— Trocar uma ideia, pois todos falavam que este carnaval se-
ria mais pobre, e me deparei com os carros da Beija Flor de ontem,
com a comunidade erguendo as arquibancadas cantando aquele
samba, que muitos criticam, mas me confirma, foi impressão ou eles
tem um novo grupo para o desfile?
— Sim, embora ainda tenha muito a fazer, parece que eles fi-
zeram para que parássemos de perguntar quando eles começariam
a fazer suas alegorias.
— Certo, todos falando que eles não tinham nada, e eles ti-
ram todos os carros em algum lugar e mostram que estão montan-
do.
— Aquele carro alegórico inicial Vinicius, tinha mais de 60
metros de cumprimento, mais de 20 de altura, eles testaram teci-
dos, engrenagens, hidráulico do carro, resistência, aquilo que en-
cantava pelo tamanho, era um teste, não uma alegoria pronta, eles
estavam nitidamente com medo que ela não entrasse ou não saísse,
pois é o grande risco de coisas imensas como os carros deles.
— Impressão minha ou ficou encantado?
— Não, encantado não, mas surpreendido, é nítido que o úni-
co carro que eles não esconderam muito, aquele que parece com
um carro de frente, é muito maior do que pensamos.
— E porque todos me perguntam deste Alemão e da mão de
Gabriel, o filho do David nisto?
— O rapaz ainda está apenas ossos, mas ficou nítido cada um
dos rapazes do barracão cuidando do seu carro, é nítido que eles
vem com carros que tem tamanho de abre alas, do começo ao fim
265
do desfile, mas o que mais espanta, para mim, é a reação do povo a
avenida, foi como se eles acordassem que estavam na luta nova-
mente.
— O que achou do começo?
— Vi o Rodney puxar isto na quadra a duas semanas, começa
com o hino da bandeira e vai ao samba.
— Eles estão prontos pelo jeito a um grande desfile.
— Beija Flor é isto Vinicius, eles se superam.
— Alguém viu onde eles colocaram as alegorias?
— Dizem ser lá na Santo Cristo.
— Preciso dar uma olhada nisto de perto.
Os dois ficam trocando uma ideia, enquanto João acorda sua-
do, toma um banho e vai a cidade do samba, ele olha o carro, e com
a empilhadeira, começa a tirar os pesos, e colocar as esculturas, era
perto do meio dia quando Gabriel apareceu por ali, viu João a fazer
a parte da frente de seu carro e olha para ele.
— Hora de montar?
— Hora de começar a terminar, vou pedir 6 sistemas de
pneus a mais por carro normal, 12 para o acoplado.
— Quer dividir o peso?
— Sim, eu gostei do efeito quando o carro quase encostou ao
chão, vi a cara do povo?
— Vi, o carro sobe a parte alta e quase encosta no chão.
— Hoje estão todos falando de nosso ensaio, acha que a co-
munidade agora acredita?
— Acho que agora eles viram que não estamos brincando, vi
sorriso em quase todo rosto que olhei, isto que queria?
— Uma das coisas, uma foi saber que o carro um entra e sai
da avenida, estava com duvida na curva na Frei Caneca na saída,
mas ele foi valente. Nos batemos numa placa de saída, mas tiramos
e colocamos ela.
— O que aconteceu com o pneu do carro 5?
— Cheio demais, e um dos ferros não foi cortado, quando ele
quase encostou no chão, o ferro superior ficou forçando o pneu,
cheio de mais, no fazer o noventa graus da armação, estourou.
— E vai distrair a cabeça?

266
— Eu acho que das datas mais tristes que tenho de me acos-
tumar, é o Natal, quando muito pequeno até gostava, dai com mor-
te de meus pais ignorei por anos, quando minha filha nasceu, por 8
anos, foi feliz, depois volto a ter problemas no natal.
— E vai trabalhar enquanto os demais festam?
— Não, vou festar, mas ainda não sei se a ideia vai dar certo,
mas vou construir um carro aqui, encostar no canto, testar as luzes,
a noite, dai trazer a alegoria 6 para cá e começar a montar.
— E pelo jeito espera problemas?
— Todo o caminho foi tenso, é bom saber que passou, mas é
bom ver que se errarmos em algo, podemos ter um carro travado
na avenida.
Gabriel ajudou João a tirar os pesos de mais um lugar e co-
meça a por as esculturas internas de uma das armações, obvio que
no vidro a frente alguns olhavam para dentro, o começar a sair cada
uma das partes para aquele carro dava a noção de que ali tinham
esculturas daquele carro e do carro da comissão mais alguns tripés,
quando as 6 da tarde, verão, bem claro, ele viu o espaço aberto
para a outra alegoria, vai com Gabriel até o barracão, e com autori-
zação e sinalização, começam a levar o carro para a cidade do sam-
ba, os demais barracões viram eles abrirem e começarem a desco-
brir o carro, que foi todo coberto e Gabriel olha o carro e fala.
— E eles nem viram ele assim.
— Vou agilizar as estruturas, e com calma vamos terminar es-
te dois, tem coisa que a ideia é linda e pratica, mas tem partes que
precisamos do carro montado para dispor.
— Como o que?
— Esculturas com vida.
— Certo, cansou de não ter movimento.
— Acho que este carro por si, vai precisar de segundo e ter-
ceiro teste, mas agora sei que entra na avenida, mas é que eles vão
olhar os sistemas parados, não em movimento.
Gabriel olha para João descrente.
— Está dizendo que eles giram?
— Sim, tanto os trens, como os ônibus.
— E isto não teve como testar ainda.

267
— Quando Nuno saiu, minha preocupação é que isto eu tinha
falado apenas com ele.
— E vai querer testar cada um deles.
— A escultura já deixaria este carro lindo, mas eu quero algo
lindo, girando, com muita gente cantando e animada encima.
Gabriel sorriu.
Ricardo soube que João estava ainda no barracão e foi dar
uma olhada, entra e olha o carro 6, descoberto, e João dentro de
uma armação em acrílico, com bancos e estrutura metálica, acionar
o motor interno e o veiculo começar a circular ali, acima da cabeça,.
Sorri e fica a olhar para João dar uma volta inteira.
Ricardo olha João e pergunta.
— Não cansa?
— Tenho de exercitar os músculos senhor, para que voltem a
não doer.
— E isto que escondia.
João pula os poucos metros e fala.
— Tudo não dá para demostrar, mas dá para ter uma ideia de
como vai ficar pronto.
João ergue duas talhas, o carro ali não iria além dos 15 me-
tros, mas ele aciona o ônibus no primeiro andar e Ricardo olha o
ônibus e o carro com designer começar a girar, um acima começa a
girar no sentido anti-horário, e no ponto acima, novamente no sen-
tido horário, João deixa os três sentidos girando e fala.
— Em cada andar de movimento, terá pelo menos dois veícu-
los circulando, na base serão dois carros e dois ônibus, o trem aé-
reo, um de cada lado, os carros acima girando e bem acima, um
carro alegórico moderno, desfilando na avenida, saindo da Rocinha
a frente.
Ricardo olha para o carro e fala.
— Resolveu terminar o segundo?
— Começar a terminar o ultimo e testar cada um deles.
— E não vai esconder este?
— Somente quem ver no dia, saberá o todo, o que ninguém
entende senhor, é que sem os painéis por andares, a mensagem
não está passada, sem a iluminação, não entenderão a ideia.
— E dizem que faz somente carro quadrado.
268
— É quadrado, mas é meu estilo de quadrado.
— E vai trabalhar o feriado inteiro?
— Melhor do que parar para pensar senhor, trabalho nos faz
não parar para pensar.
— E qual a ideia com os apoios?
— Que já comecem falar da Beija Flor no dia anterior, nos
dois dias anteriores.
— Quer que todos lembrem de nos olhar.
— Sim, uma desfila por ultimo na sexta e uma abre o sábado,
quero gente olhando o trabalho, e por fim ficam um dia sem nada
nosso, e se fizermos certo, vamos estar na briga, e sei qual o pro-
blema de um carro grande, mas é que tínhamos de testar algo assim
na avenida.
— E não se negaria a isto.
— Senhor, somente o primeiro pode ser acoplado, mas não
quer dizer que apenas o primeiro chamará atenção.
— E vai acabar eles todos?
João para um pouco de fixar as coisas e olha o senhor.
— Não entendo, porque estão me ouvindo, eu vim de uma
cidade, que este carro não passa na região de desfile, onde as fia-
ções do desfile vão estar a 8 metros, com a iluminação, que na en-
trada vai ter um semáforo com sua altura natural na armação, um
em cada esquina, que a armação é toda em subida, e lá não pode
usar motor, nos matamos para por o pouco na avenida, teve ano
que fizemos no centro cívico, imagina você começar um desfile nu-
ma passagem de deficiente, que é uma lombada com nome diferen-
te, mas imagina o grupo de gente fazendo força, primeiro para o
carro passar e depois para segurar.
— Se divertia lá?
— Sim, para mim, pela primeira vez o carnaval está gerando
dinheiro, eu sempre gastei com o carnaval.
— Sei que deve estranhar lhe ouvirem, mas dizem que você
fez este carro ai com dois terços do valor que se constrói ele.
— Eles nem viram ele montado, mas sei que ainda terei pro-
blemas para o terminar.
— Você fala isto sempre, por quê?

269
— Porque o carro tá no bruto, sei que tá bonito, mas é o bru-
to, tem as partes moveis, as partes de dinâmica, a parte da ilumina-
ção, e por fim, a de segurança.
— E pretende entrar com tudo isto na avenida?
— Na verdade quero ver as fantasias, quero ver a ideia, tudo
que fizemos é o montar de alegorias, a ideia do teste era mais para
a própria comunidade acreditar, muita gente falando que nós não
estávamos fazendo, sabe que isto as vezes atrapalha muito.
Gabriel que havia subido olha o tio e pergunta.
— Perdido aqui tio?
— Soube que um rapaz estava trabalhando, e vim ver, as ve-
zes temo termos mostrado muito, e olho o carro 6 e falo, não, não
mostramos nada.
Gabriel olha o tio e fala.
— Estamos tentando terminar a ideia, parece simples, mas
teremos dois meses de ensaios, estamos marcando pelo menos dois
ensaios por semana até o carnaval, dois de rua, as costureiras estão
a toda, e embora pareça adiantado tio, falta muito.
— E vão acelerar pelo jeito.
— Para montar as demais partes, temos de começar a termi-
nar parte, João estava falando que vamos precisar de gente fazendo
pequenas esculturas, que as partes de espuma entram agora, que as
plumagens entram agora, que precisamos da confirmação de cada
fantasia que vai nos carros, de cada destaque, de cada detalhe.
— E dai vão gastar os demais recursos?
— Sim, quando se acha que não gastei todo dinheiro senhor,
é porque não chegamos aos acabamentos.
— E vão trazer quantos carros para cá?
— Aqui estará 3 carros, lá estarão 3 carros, mas um deles vale
por dois, então é abrir espaço, toda a área que estava o carro dois,
com a disposição dele para o lugar de onde sairam dois deles, vai
abrir o espaço para dispor de parte da estrutura para terminar o
carro abre alas.
— Pelo jeito falta muito.
João olha para o senhor e fala.
— As vezes acho que deveria ter pensado em algo menor,
mas é difícil agora depois de projetado, mudar de ideia, mas o que
270
ninguém viu, estará pronto apenas no fim do mês que vem, e espe-
ro muita gente aos ensaios de cada carro, de cada ala, é um desfile
de garra, que vai precisar parecer uma continuidade, mesmo com
um carro imenso a avenida.
— E como pretende fazer isto?
— As baianas são a anunciação de uma nação, então a volta,
nas partes baixas, dos dois lados, pelo menos 30 menores de idade
com a mesma fantasia, e após, uma linha de baianas mirins encos-
tadas quase ao carro.
— Sabe do problema de harmonia disto?
— Sei, mas se não for, muitos vão parar de olhar os integran-
tes, todo carro é parte do todo, colocamos um sistema de visualiza-
ção interna, não sei se viu ele nos carros senhor? – João olhando o
presidente.
— Não entendi.
João vai ao um canto e sobre na alegoria, e fala.
— Tem de andar entre as linhas.
O senhor olha e sobe e vê que o que parecia um painel, abre
e olha para dentro, uma cabine, João liga o sistema e fala.
— Aqui temos 12 câmeras frontais, doze traseiras e 6 de cada
lado, o motorista pode não ver nada a frente, mas as câmeras –
João clica no monitor a frente, ele acende, e se vê como se fosse um
espelho do veiculo, mas que mostrava a frente inteira do carro, as
laterais ao lado, e Ricardo olha ao fundo, tinha uma ligação com o
fundo.
Ricardo olha e foi inevitável perguntar.
— O abre alas tem um destes?
— Sim, embora o comando esteja na frente, existe duas cabi-
nes, e os dois motoristas conversam, mas um controla a frente e
outro o fundo.
— E olhando de fora não se falaria isto.
— A pergunta que faço senhor, quanto a empresa responsá-
vel pela transmissão, pagaria para ter as imagens da câmera 8, 10,
26 e 28 de cada carro.
Ricardo olha as imagens e fala.
— Passível de transmissão?
— Sim, mas somente se eles pagarem senhor.
271
— Você parece querer mesmo mostrar seu valor.
— Acho que temos muito trabalho até o dia senhor.
— E o motorista consegue seguir algo.
— Tem de ir com calma da mesma forma, é algo para gente
centrada em chegar e fazer o melhor.
— Certo, por isto eles entraram e saíram como se a manobra
fosse fácil.
— O carro 5 desfilou com uma roda estourada senhor.
— E concertou?
— Estabeleci reforços, vamos por antes de continuar, estou
terminando partes, mas se reparar, ficou entradas que não fizemos,
vamos por estrutura e reforço em 6 pontos da estrutura, por carro.
— E controla tudo aqui dentro?
— Sim, acionamento dos geradores, acionamento dos com-
pressores, levantamento de cada talha, elas tem dois estágios, er-
guidas ou baixadas, e elas somente se mechem com o veiculo para-
do, não existe erguer das calhas se mexendo, embora as vezes dê a
sensação de que estão ainda em ampliação, os comandos de pres-
são tem todos controle, um comando de controle de pressão, eu
não compro uma pluma de pavão com os 12 controles deste carro
senhor.
— Nem sabia que existiam estes sistemas.
— A verdade a segurança geralmente não é olhada pelo car-
navalesco, estava falando com Ricardinho, que conduziu os carros,
ele disse que tem de cuidar para não acelerar muito, parece muito
estável, mas ele mudou os rapazes do volante, para gente mais
comprometida, não entendi, mas a condução foi tranquila.
Os dois saem e Ricardo olha Gabriel.
— Temos uma nave espacial dentro de um carro alegórico.
— Não viu nada tio.
— Tem mais surpresa?
Gabriel sorriu e falou.
— Dentro da ultima talha, lá em cima, sai um braço, nele,
uma estilização de carro alegórico, a estrutura terá luz, e de dentro
da alegoria, sairá gelo seco, dando a sensação que esperamos, dele
voar a avenida.
— Uma alegoria dentro da outra, narrando o futuro?
272
— Sim, por anos, exportamos o carnaval, agora parece que a
falsa moral está ganhando senhor, paramos de ter orgulho de algo
nosso, para impor algo externo a nós. – João.
— E vai somar tecnologia, em carros imensos para mostrar a
viabilidade de algo assim? – Ricardo.
— Mostrar que tudo em volta, pode ser planejado, todos es-
tão falando nas redes sociais do desfile de ontem, e os ali fora, que
estavam pensando, vamos olhar onde eles fizeram, começam a
olhar para mim, a montar dois carros aqui.
— E não os quer olhando lá?
— Senhor, se temos 40 aderecistas, todos fazendo esculturas,
e as desenvolvendo, os carros isolados, facilita o corte do isopor,
mas em uma semana já cortamos, começamos a colar o material
para podermos pintar depois sobre aquilo, tem tanta coisa que nun-
ca pensei no carnaval simples de minha cidade, que estou apren-
dendo, fazendo.
— E as demais esculturas? – Ricardo olhando para João.
João olha Gabriel que fala.
— O caminhão deve estar quase chegando ai com as compo-
sições que estão prontas.
Ricardo olha para João e fala.
— Abrindo espaço lá, pelo jeito é isto?
— Sim, estávamos ainda na posição de ausência de alegorias,
agora estamos na posição inversa, a de temos muito trabalho pela
frente, e preciso que os ensaios na quadra sejam constantes.
Um caminhão estaciona a frente, e quando eles abrem uma
das portas do meio, para o caminhão entrar de ré, Ricardo olha que
muitos estavam olhando para eles.
— Pensei que estavam na maioria de folga hoje. – Ricardo.
— Pode ter certeza Ricardo, nosso desfile de ontem, tirou
muita gente da folga.
Ricardo sorriu e olha no sentido da Tijuca e viu Pietro a porta
olhando o caminhão dando ré.
Paulinho olha João saindo do caminhão e pergunta.
— O que vai fazer com isto.
João só olha para trás, Paulinho olha o carro ao fundo e fala.
— Tudo isto vai ali?
273
— Em parte, parte nem está pronto ainda.
— Falta uma parte ainda? – Ricardo.
— Sim, o centro do carro se ergue em varias alturas, mas a fi-
nal, é um painel lateral, e frontal, da favela da Rocinha, que ainda
nem cortaram ainda. – João.
— Algo que se ergue quanto do topo do carro. – Paulinho.
— Uns 4 metros. – João.
— Os murais de 4 metros?
— Em parte, mas acho que abriu um espaço no outro barra-
cão, ou não? – Olhando Paulinho.
— Sim, o pessoal começou a organizar as coisas lá.
— Fecha a porta antes de começarmos a tirar as peças.
Paulinho olha o pessoal olhando e sorri.
Na porta do outro lado, o carnavalesco da Mangueira fala.
— Estes encararam os desafios com trabalho. – Leandro.
O vice presidente fala.
— Este novo rapaz, tem coragem, acho que todas as escolas
mandaram gente para lá ontem, não sei se foi?
— Fui, eles tiveram o trabalho e o risco de levar as alegorias
inteiras a região, eles acreditam que a estrutura aguenta mais de 4
vezes o percurso, isto é arriscado, mas eles começaram a montar ali,
muitos estão olhando, um caminhão de esculturas, o segundo do
dia, e a estrutura de um carro inteiro, pelo que vi ontem, o sexto
carro, ele está testando o mecanismo do carro, tudo que vi de lon-
ge, é movimento, o que ontem não tinha.
— Então eles foram lá porque?
— O carro tem 30 metros e mesmo as partes de dentro fa-
zendo a curva fácil, a parte externa, é uma estrutura complexa pre-
sa a frente e ao fundo do carro, o carro gira em baixo e a parte fica
fixa, quadrada, imensa sobre a estrutura flexível, eles queriam ver
se entrava, o rapaz estava demonstrando para o presidente da esco-
la a pouco, todos a volta vieram para acelerar pois a beija flor estava
acelerando, e vimos eles mais acelerados ainda.
— E ontem pareceu estático, isto que esta dizendo?
— Ele estava testando alturas, não dá para ver o que de fora,
mas algo girava naquela estrutura aparentemente fixa, no sentido
horário e outro no sentido anti-horário.
274
— E pelo jeito as esculturas estavam no outro barracão.
— Pode ser que lá eles montaram a estrutura, e agora vão fa-
zer os acabamentos aqui, o carro abre alas, parece um teatro, eu
cronometrei, uma apresentação de 3 minutos, que recomeça a cada
3 minutos, não sei se será assim, mas parece um grande teatro de
encenação o carro abre alas.
— Alguns já tentaram algo assim.
— Sim, o Chico ficou na Frei Caneca, e disse que o carro vai de
20 metros para pouco mais de 4, entre o sair da avenida e embicar
na Frei caneca.
— Tudo hidráulico?
— Tudo silencioso, e com laterais que se recolheram, e siste-
ma de suspensão afastou todo carro do chão 40 centímetros.
— Investiram em estrutura do carro, é o que esta falando.
— Sim, mas ontem este carro ali ao fundo estava coberto, e
com muito peso, eles testaram com mais peso do que deve ir a ave-
nida, não entendi, vi a saída do carro daqui antes de ir para lá, ele
parecia leve, e manobrou com uma facilidade que não é tão natural
assim para algo daquele tamanho.
— Eles vem brigar.
— Eles estão reagindo, me falaram que o rapaz montou aque-
le carro com sobra no orçamento, e não sei como ele o fez, ou
quanto eles dedicaram naquele carro.
— E tem este samba enredo que alguns odeiam, outros, que
gruda como cola.
— Temos de trabalhar, eles estão fazendo o carnaval deles,
mostrando que não vão entregar fácil.
— Ouvi que alguns falam que este tal de Alemão falou que es-
tá tendo muito acaso este ano, como a prisão do nosso presidente,
o incêndio deles, o processo judicial no Salgueiro, um ano de muitos
acasos, que alguém deveria ter oferecido para ganhar o carnaval.
— Se for isto, temos de mostrar nossa garra.
— Eles vão mostrar o deles, e não esquece que eles tiveram
dois alegoristas tirados da escola, bem os do carro abre alas.
— Se for isto, os rapazes terão de mostrar o valor deles, pois
vendidos não se criam neste mundo, é um mundo de segredos,
quando entramos em um carnaval, montamos em segredo, eles
275
estão mostrando parte, mas tem de considerar que o abre alas to-
maria meio espaço deles ali.
— Um exagero.
— Sim, um perigo para a harmonia e evolução.
Os dois viram o fechar da porta e Leandro termina.
— Parece provocação, pior que conseguiram.
O vice presidente sorri.
Paulinho olha o carro e fala.
— Assim fica bem mais bonito que ontem.
— Preciso da seleção das pessoas para o carro, não esquece,
4 andares, 4 tipos de fantasias, mais os das alegorias, todas com
características que lembrem algo futurista e que lembre os locais,
dai temos as alegorias, giratórias, que transformam a nossa alegoria
em algo sem fim, ela não acaba, ela traz a ala preza a ultima alego-
ria, com a bandeira, e por fim, a bateria, não quero o buraco, então
embora eu sei que a bateria quer espaço para sair, mas eles tem de
acreditar que o espaço é o que está ali, apenas tomado pela bandei-
ra.
— A hora da mudança da veste da bateria? – Paulinho.
— Sim. – João.
— Silvino não dorme mais, ele sabe que para cada ato, cada
um dos 4 atos, tem 5 sub atos, e para cada sub ato uma alegoria,
uma fantasia e um sistema hidráulico, ele está encantado e perden-
do o sono.
— Como disse ao presidente Paulinho, algo muito arriscado,
com as baianas a frente e as baianas mirins ao lado e ao fundo, um
sistema se luz, forte, que gera as mudanças, uma leva de cortinas,
mas entendo, são 100 pessoas coordenadas, 100 alegorias coorde-
nadas, mas que visível a cada ato apenas 25 deles na parte interna,
é muita coisa para funcionar, mas é a surpresa que eles não viram, e
sei que depende de duas subdivisões quase invisíveis, que sai das
alegorias, e avançam, a rainha do carro estará nesta parte a frente
do carro.
— Algo que teremos de ensaiar muito.
— Sim, não esquece que temos a primeira dama no carro
abre alas, a 20 metros, que precisa iniciar a anunciação.

276
— Ainda tem isto, eles acham que a ideia é apenas algo gran-
de, nem viram a complexidade daquilo.
— Espero que consigamos entrar na avenida com tudo aquilo,
mas sabemos agora que tem como ir montado ao local Paulinho. –
João olhando o carro.
— Sabe que apareceu corpo de bombeiro lá para tentar saber
a estrutura do carro.
— Sei disto, temos um engenheiro elétrico, um mecânico e
um civil assinando aquele carro Paulinho.
Ricardo sorriu e falou.
— Os bombeiros odeiam quando colocamos laudos técnicos,
pois eles as vezes não os entendem.
João olha serio para Ricardo e fala.
— Só tem uma coisa que atrapalharia para valer o desfile.
— O que?
— Se tivéssemos 30 centímetros de agua na pista, quem sabe
nós não entramos com um requerimento a prefeitura para limpeza
das galerias pluviais da Sapucaí.
Ricardo sorri e fala.
— Mas passaria?
— Sim, mas perderíamos toda coesão dos carros com as alas.
— Certo, e as câmeras?
— Temos de testar como ela vai funcionar, pois o motorista
vai fixar em alguém que está preso ao carro como uma parte da
alegoria, que lhe dá as distancias.
— Não entendi a ideia. – Gabriel.
— O carro inicial está conectado a ala frontal e traseira, com
parte das alas sobre o carro a frente, ao lado e ao fundo, mas a saia
do carro, é do mesmo material, e se estica a frente e as costas da
alegoria, do carro a frente do sexto, terá uma bandeira a frente, e
uma as costas, e o terceiro, ao fundo, vai ter um tecido a volta ne-
gro, com fantasias especificas de coisas que o povo gosta. Mas os
limitadores, vão dar a posição dos estremos da pista ao motorista e
ao sistema, parece algo apenas para tomar espaço a frente e as
costas, mas ele estabelece os limites do carro.
Gabriel olha João e pergunta.
— E aquela ideia de vestir o pessoal da comissão de evolução.
277
— Não consegui ainda definir algo que se encaixasse, tenho
de falar com algum coreografo, algum carnavalesco com mais expe-
riência.
— E pensou em quem? – Ricardo.
— Eu não estou ajudando escolas de samba Presidente, eu
estou aprendendo como fazer mais barato e aproveitando e apren-
dendo com eles.
— E vai trabalhar amanha e domingo? – Ricardo.
— Não, vamos junto com a Alegria da Zona Sul, distribuir pre-
sente para as crianças nas comunidades do Cantagalo.
Gabriel sorri e fala.
— O que o Marcos achou?
— Ele gostou, mas ainda não entendeu o por quê?
— Converso com ele na Terça.
Ricardo olha João e pergunta.
— Vai pelo jeito focar em atenção.
— Eles estavam sem local para ensaios, ainda não temos co-
mo ajudar muito, pois ainda não conseguimos alguém para os fi-
nanciar. Eles estão tentando mudar o enredo na Liga, mas ainda não
conseguiram.
— Eles mesmo viram que era maluquice? – Gabriel.
— Uma escola com comunidade, mas sem barracão, com gar-
ra, mas das que mais sofreu incêndio na preparação para carnavais,
mas propus “Saravá, Umbanda!” como tema do ano. – João.
— E se não toparem? – Gabriel.
— Isso que decidiremos no Natal, se vale o esforço, mas se
não autorizarem, pois eles já lançaram o CD do samba do ano, va-
mos com o atual.
— Vão? – Ricardo olhando para o sobrinho.
— Tio, a ideia que João estava falando, é me preparar para
assumir um dia, e para isto, tenho de entender os desafios sem re-
cursos, como levantar ele, como montar algo com a comunidade.
— E vai gastar dinheiro com o povo do Cantagalo? – Ricardo
olhando para João.
— Noite de 24 em Nilópolis, 20 mil brinquedos e cestas bási-
cas, dias 25, no Cantagalo.
Ricardo olha o sobrinho e fala.
278
— Não me envolvendo como politico.
— Tio, pensamos em dispender dinheiro, mas conseguimos
com empresas locais, que estarão na camiseta dos ajudantes, a pro-
paganda deles, tanto as cestas básicas como os brinquedos.
— E vai ficar por aqui até quando? – Ricardo olhando João.
— Vou montar mais um pouco este, pois precisamos do espa-
ço aqui livre para a entrega de isopor de amanha, dai vou descansar.
— Vão entregar aqui e lá?
— Sim, isopor, espuma, fibra de vidro, gesso, plumas, tecidos,
plástico, fios, fitas de LED, disjuntores, geradores, alumínio, tinta e
ferro para estrutura de esculturas.
— E alguns falando que estava tudo pronto.
— Estar pronto, nem lembro quem falou, mas carros alegóri-
cos nunca ficam prontos, sempre dá para por mais uma lantejoula.
— E vai começar a criar?
— Tenho de criar as luminárias, tenho de dispor de toda a es-
trutura visível, com canaletas de iluminação, ligar todos os fios, só o
ultimo carro, vai ter mais de 2100 metros de fitas de Led.
— A parte que dá trabalho, se funcionar é algo incrível, se não
for, desastre.
— Vamos narrar o que achamos possível, se superarmos o
possível, impressionamos só um pouco mais.
— Só um pouco? – Gabriel.
— Sim, quero ligar o carro e o próprio integrante olhar ele e
gritar “Campeã”.
Ricardo saiu, Paulinho viu João fazer sinal para ele aproximar
cada uma das alegorias, foi fixando, testando os da parte interna, os
da parte superior, os do meio, cada um quando baixava estava em
um intervalo, e começam a por a parte alta, e Gabriel sorri.
— Tem de considerar que é uma obra de arte.
— Arte para um desfile, no máximo dois.
Gabriel viu o sorriso malicioso de João e perguntou.
— Teve uma ideia.
— Não sei, teríamos como por isto em um veiculo e fazer um
desfile básico, em 3 ou quatro locais do país, como Manaus, São
Paulo, Florianópolis?
— Pensando em vender o espetáculo?
279
— Sim, o carro não dura muito, mas se vendêssemos o apre-
sentar deles, baianas, bateria, passistas, algumas alas da comunida-
de, quanto eles pagariam, dependendo do valor, nem nos meche-
mos.
— Pensando em que?
— Gerar mais publico, o que mais.
Paulinho sorri e vê o fixar da ultima parte, a bem no centro e
a baixar até a altura de um metro do piso, o carro não tinha naquela
altura mais de meio metro, então aquele painel sumiu nas ferra-
gens, e veículos, ele aproveita que está baixado e fixa duas hastes
metálicas frontais, e Paulinho pergunta.
— O que teremos ai?
— Algo que colocaremos apenas na avenida.
Gabriel olha ele prender os sistemas hidráulicos e testar o er-
guer daquilo, e aquilo avançar a frente do carro uns 5 metros.
— E todos pensando que está pronto.
— Como pensaram isto, alguém viu as estatuas no fundo do
meu carro, empurrando o carro?
Paulinho sorriu e perguntou.
— Alguns tem medo deste gigantismo.
— Se eu exagerar demais, será minha primeira e ultima vez.
Gabriel sorri e fala.
— E quer que confirme a reunião dia 5?
— Sim, uma lá na quadra, outra aqui, e uma na Santo Cristo.
Gabriel saiu e João começou a por as cordas de LED, apenas
um pedaço, e ligou, põem o sistema em amperagem maior e viu o
lugar ficar bem luminoso.
João prende uma quantidade que daria uma volta, 85 metros
em uma corda de LED, testa antes de por e viu acender toda, coloca
a primeira volta, prende o fio, prende a segunda volta, quando fez a
sexta volta, soube que daria muito trabalho, ele ligou no gerador e
sorri sem graça de um pedaço não acender, ele chega ao lugar e viu
que uma ponta tinha solto, ele prende de novo e testa, ele achou
que daria outro efeito, talvez tivesse de por tudo para ter o efeito,
mas estava tarde e vai ao hotel, naquele fim de dia, cumprimentan-
do o segurança e caminhando a rua até o hotel.
Pietro olha Pedro e fala.
280
— Este não tem medo de trabalhar.
— Continuo achando que o enredo é algo ruim. – Pedro.
— Ele pode achar, mas vai realizar, ele não parou para pen-
sar, estava decidido, ele na tinha como mudar Pedro, nós escolhe-
mos o enredo, o samba enredo deles é dos mais cantarolados aqui
dentro.
— Mas o que achou de ontem? – Pedro.
— Estava lá, não se faça de indiferente Pedro.
— Um novato.
— Sim, um novato em uma escola que lhe dá estrutura e tem
comunidade, e que deixou todos com uma pulga na orelha sobre o
desfile deles.
Pedro olha para Pietro e fala.
— Ele implementou ali o que todos diziam ser um gasto in-
sensato, e sabe porque Pietro, o carro quanto maior, maior o gasto,
eles podem ter mostrado algo, mas transformar aquilo em carro
alegórico, é outra coisa.
— Pode ter razão Pedro, mas eles conseguiram jogar para nós
o peso, até antes de ontem, o presidente da Tijucas não estava pre-
ocupado, hoje ele está.
Pedro olha para outros olhando o barracão e fala.
— Pode ser que fosse a intenção.
Os seguranças da escola fecham o barracão da Beija Flor e al-
guns queriam chegar perto, mas não era hora para isto.
João sobe, anota todas as coisas da segunda e cai pregado a
cama.

281
Era perto das 6 da manha,
quando acordou, não tinha dor-
mido 4 horas, mas estava suado,
toma um banho, anota algumas
coisas, anota algumas coisas, vai a
cidade do samba, recebe o mate-
rial, se os demais achavam que
eles estavam prontos, agora viram
eles receber material, João recebe Rute, do grupo de costureiras, e
fala que parte daquele tecido, era para formar duas bandeiras do
Brasil de 10 por 20, ela olha o material, separa, coloca no carro,
depois chegou o pessoal das esculturas, e foi passando o que queria
de cada um deles, cada um tinha uma especialidade, Rogerio viu
que a parte elétrica seria complicada do carro ao fundo, um traba-
lho de mês, que sabia que João não teria um mês para cada carro.
Ele mostra como fixariam a frente dos carros, dois, três e seis,
na frente e atrás, armações que ficariam erguidas sobre a avenida, e
que estariam entre dois e 5 metros a frente da alegoria, e explica
que precisava em cada uma delas uma base móvel, e dentro dela,
uma haste metálica, para segurar a escultura de 8 metros.
Ele termina de organizar o primeiro barracão e vai ao segun-
do, muitos não tinham família no lugar, mas todos sabiam que a
noite teria a festa na quadra, então era apenas passar o que fariam,
e se preparar para a festa.
Era perto das 3 quando Gabriel passou ali e foram a região da
escola em Nilópolis, João viu os papai Noel, com trajes de malandro
em vermelho e branco, com uma barba a frente, maquiados, distri-
buindo um presente para as crianças, uma sesta básica para as famí-
lias, e um Chester, Ricardo a entrada da escola olha para Roberto.
— Fazendo politica mano?
— Não, seu filho e aquele Alemão armaram a distribuição, a
noite terá a festa na quadra, mas ali fora é coisa de seu filho.
— O rapaz abraça quem o apoia, isto que muitos não gostam
nele.
282
— Ele ontem estava me mostrando a ideia do carro final, é
assustador saber que o que mostramos antes de ontem, é um par-
cial, ou como se diz, 20% do que desfilará na avenida.
— Ele está terminando qual carro?
— O ultimo, um carro com veículos modernos, em acrílico e
alumínio, que giram, a frente e atrás do carro, uma bandeira, e es-
culturas estilizando povos externos, mas com brasileiros em seus
papeis, ele tem coragem, isto não dá para negar.
— Um carro imenso não foi suficiente.
— Esta falando do carro dele?
— Sim, do dele.
— E isto ai vai trazer mais gente para a comunidade.
João para ao fundo e alguns o cumprimentam, João gostou
dali por um motivo, em sua cidade, os dirigentes não cumprimenta-
vam muito os demais, ali quando entrou a segunda vez, a alguns
meses, do porteiro ao presidente, mesmo sem o conhecer, o cum-
primentaram, e com calma, ele foi tomando espaço.
Por volta da 7 da noite ele e Gabriel saíram e foram ao Canta-
galo com o presidente Marcos da Alegria da Zona Sul, começaram a
distribuição, um agito que pareceu incomodar alguns contravento-
res locais, mas que o presidente acalmou.
Era perto da 21 da noite, quando Gabriel deixa João a cidade
do Samba, indo no sentido de Nilópolis.
João cobre os vidros frontais, os seguranças olham ele entrar,
começam a ver ele sentar ao centro de onde tinha os materiais, e
viram ele brilhar, ele solta os espíritos, e viu eles se afastando, sen-
tiu alguns que não tinham família e estavam na cidade do samba e
olha para o segurança.
— Vão fazer algo?
— Não, temos de cuidar dos barracões.
— Não falei em bebida, e sim em uma carninha ali fora, e
convidar os que não tem família por perto.
O segurança sorriu e falou.
— Não sabemos se nos permitem.
— Se vocês não sabem, como eu saberei.
— Que truque de brilhar é este que estava testando?

283
— Tentando pensar em como enfrentar uma concorrência
desleal.
— Todos perguntam o que tem ai.
— O carnaval da Beija Flor, o que mais?
— Dizem que impressionaram todos no sábado, só vi esta
parte, e somente o que tinha antes.
— Estamos com 25% do carnaval feito, mas precisávamos que
a comunidade visse que estávamos fazendo, todos falavam que não
tínhamos nada até duas semanas atrás.
— Então nem está preocupado com eles?
João sorriu, foi a um mercado próximo, que estava quase fe-
chando, compra uns refrigerantes, uma carne, uma grelha e um
carvão, ele chega a direção do local, e perguntou se poderia fazer
algo para confraternizar ali, e o rapaz falou que não via problemas,
ele faz um pequeno churrasco, coloca umas linguiças, ele queria
uma cerveja, mas achou que não seria propicio, alguns aderecistas
aparecem, João foi conhecendo e conversando com as pessoas, ele
não tinha o que fazer no natal, e quando alguns se recolhem para
dormir, ele apaga o fogo, sobe a ladeira e senta-se a laje da Pensão
da Marta, sente os espíritos voltando, e sente a tristeza de alguns,
ele nunca tivera um dia muito feliz naquele dia, talvez quando sua
filha estivesse pequena, mas agora estas lembranças doíam.
Ele estava olhando e viu o agito na parte da cidade e apenas
solta um espirito, e ele chega ao local como uma alma, a velocidade
da luz, olha em volta e vê que estavam acusando ele de por fogo no
fundo, e os seguranças diziam que tinha saído, a mais de meia hora,
os rapazes tentam dizer que usou o carvão, o segurança que viu que
João colocara agua no carvão desafia o rapaz a por fogo no carvão,
o rapaz da organização pega o carvão molhado e olha o rapaz que
denunciava.
Os demais espíritos saem de João e o rapaz que mentia viu
aquela luz chegar de todo lado e um parar a sua frente mostrando
os dentes, outros a volta e ouve meio rosnado.
“A verdade rapaz!”
Todos assustados veem o rapaz fazer o sinal da cruz e o espi-
rito falar.
“Não desrespeite com mentiras a fé rapaz, a verdade!”
284
Outro sai fugido pelo fundo e o segurança o segura e vê que
ele estava com álcool e fósforos e o traz para perto.
— Pegamos este fugindo senhor.
O rapaz assustado fala.
— Me pagaram para por fogo. – O que denunciava.
Os espíritos sumiram e o rapaz da organização olha em volta
e fala.
— O que foi isto? Quem pagou?
— Não posso dizer senhor, senão serei alguém morto.
Os seguranças chamam a policia que leva os dois, enquanto
João ouve Marta ao lado.
“Não tem uma lembrança realmente boa de natal, como se
vive com lembranças de trabalho e desgostos?”
João não respondeu, desceu a seu quarto, olha o lugar, as pa-
redes refeitas, mesmo abandonado estavam mais secas, ele olha em
volta e caminha descendo a ladeira, até o hotel.
João chega lá e o delegado estava a entrada o esperando, ele
é algemado e detido.
João senta a cela, lotada, alguém posto para dentro na ma-
drugada de natal, era algo raro ali, mas sinal que queriam o compli-
car, não entendeu porque, mas era obvio, muitos devem ter se sen-
tido ameaçado.
O delegado não estava no local, os dois rapazes que o acusa-
ram estavam na cela e João os olha.
— Porque mentir, isto que não entendo, porque por fogo na
concorrência, que idiotice.
Os dois se olham e um fala.
— Lá não mantivemos a versão, mas sabe que vai se dar mal
rapaz, acha que vão deixar você terminar o seu carnaval?
— De que importa, crianças brincando de carnaval.
— Acha que não vai se dar mal.
— Eu me dei mal...
— Quietos ai! – Um rapaz ao fundo.
João entendeu como um sinal para não reclamar, para quem
estava pensando em dormir, ele acaba encostado na grade onde
não teria nem como esticar a perna.
Encostado espera cansado e fraco o tempo passar.
285
O delegado adjunto não colheu depoimentos, então ficaria
para quarta qualquer depoimento, novamente ninguém apareceu,
as vezes João sentia-se só em um destino, era perto das 2 da tarde,
todos quietos quando ele fecha os olhos e olha pela vista dos de-
mais espíritos o delegado Douglas no terreiro que foi do pai, olhan-
do para os demais, sente as energias e fala.
— Quem distorce tudo meu pai, a ponto dos Oguns se afasta-
rem?
O espirito surge a frente de Douglas e fala.
“Sabe filho, que vingança só atrai mais mortes, mais pesos,
porque não respeita os ensinamentos meus e de sua mãe filho?”
Os demais não viam o espirito, que olha os demais sorrisos,
João olha para uma senhora e fala.
“Hora de se unir a sua família!”
“Ele precisa de ajuda!”
“Dentro de mim nunca vai o ajudar, e sim o prejudicar, como
seu marido falou, eu atraio as desgraças da vingança.”
O espirito olha para trás e os olhos de Douglas acompanham
e sente o aproximar de um espirito, não o via, mas sente o cheiro do
perfume de sua mãe e fala baixo.
— Mãe?
Ela estica a mão ao marido que fala ao filho.
“Sua mãe já está solta para vir a Orum filho.”
Douglas sente as energias se afastar, e olha os demais, se le-
vanta, vai a um canto e acende algumas velas, lava-se e coloca uma
roupa normal e volta para casa.
João estava sentado, e ouve.
— João Maier?
João abre os olhos e faz um sinal com a mão.
O rapaz abre a cela e ele é conduzido a uma sala e olha para
Gabriel que fala.
— Como se mete em encrenca assim?
— Pesos se carrega, mas do que me acusam, pois não estava
por perto para saber.
— De ter tentado colocar fogo nos carros da Mangueira.

286
— Provas, pois dizer que alguém fez, é fácil, alguém me viu lá
além dos dois na cela, presos por estarem tentando fazer o que me
acusam?
O delegado olha serio e fala.
— Não gostamos de trapaceiros e vigaristas.
João pensa se responde e olha para Gabriel.
— Que merda de lei é está que os permite me prender sem
ser em flagrante, e me manter preso enquanto estão em casa dor-
mindo?
— Respeito rapaz. – O delegado.
— Respeito, deveria ter tido um advogado chamado, um tele-
fonema, conversar sem o delegado ouvir, respeito pelo que, os
meus direitos rasgados por não ser de uma família de nome da ci-
dade?
Gabriel viu que João estava cansado e fala.
— E como está lá?
— Se soubesse que não iria dormir, não tinha feito distribui-
ção no Cantagalo e em Nilópolis, quebrado e lançado em uma cela
que nem posso esticar as pernas, e o delegado ainda acha-se engra-
çado, pois cara feia nunca tive medo.
— Kevin disse que estava fora da cidade.
— Ele me culpa pela morte da mãe dele, sabe disto, já falei is-
to, estava em um buraco, quase morto, e ele e o irmãozinho acham
que sou culpado pela morte da mãe, mas eu temo por estes a cela,
cansado desse jeito lá dentro Gabriel.
— Vou ligar para um amigo, pelo jeito nem no advogado con-
fia, mas consegue se manter ai um pouco.
— Não tenho opção, meus direitos foram rasgados por um
delegado que não deveria estar a sala, mas se for dormir ali, chama
o IML de manha, e não adianta me culpar depois.
O delegado não entendeu, mandou ele para a cela, e os dois
olham para ele.
— Achou que sairia?
— Sei que mais sedo ou mais tarde eu saio, mas – João lem-
brou da câmera e falou – não estou com pressa.
Gabriel liga para um amigo, soube que seu pai pediu para não
ajudar, e liga para Marcos Almeida, presidente da Alegria da Zona
287
Sul e pergunta se não teria como conseguir um advogado pela esco-
la, pois ele não queria mexer com alguns da cidade.
Almeida pega o carro e vai a delegacia e pede para falar com
o delegado e pede a soltura de João, ele era advogado, o Delegado
viu junto com isto chegar uma determinação de soltura, pedida por
Marcos Almeida pelo telefone para um amigo Juiz.
João olha o rapaz chamar ele de novo e olha Almeida ali e
apenas agradece, como se soubesse e o delegado olha para o Inves-
tigador e pergunta.
— Como ele saiu?
— Não tem nada que o ligue ao incêndio.
— Quer dizer, a tentativa, todos estavam acordados, por isto
não aconteceu nada.
— Sim, não tem nada, sabe que este é desbocado, mas pelo
jeito já tem gente que o respeita.
Almeida vai com ele ao barracão e pergunta.
— O que aconteceu?
— Nem entendi, alguém querendo empurrar em mim algo.
— Pensei que Ricardo o tiraria de lá.
— O problema de irmãos, quando um quer e outro dá a con-
tra ordem, o advogado fica na duvida, ainda mais se ele não quer
fazer nada no Natal.
— E vai nos ajudar?
— Se deixarem, acho que o Marcos, esta ideia de você e o
carnavalesco ter o mesmo nome, deve ser proposital, uma sacana-
gem com os que cobrem o carnaval.
Marcos sorriu e falou.
— Vai o ajudar?
— Sim, mas tem de conseguir levantar a comunidade, em 8
dias deve entrar uma ajuda de custos, com ela vamos começar a
montar os carros e por as costureiras para trabalhar, no dia 20 de
janeiro entra a segunda ajuda, então vamos comprar instrumentos
novos para a bateria, dai precisamos determinar destaques, alas, e
toda a estrutura, para o desfile.
— Ouvi que você transformou uma ideia idiota em enredo,
não conseguimos mudar o enredo, então teremos de pegar aquilo e
tentar ao máximo.
288
— Sei disto, apenas estou precisando dormir e começar a
pensar no que farei no ano que vem.
— E no fundo é sozinho, não tem ninguém na cidade?
— As vezes estar só por escolha, confunde as pessoas.
— Mas acaba preso por não ter um álibi.
— Será que terei de pensar nisto?
Marcos sorriu e falou.
— O motorista o deixa no hotel.
João foi deixado no hotel, subiu, tomou um banho, um remé-
dio, e dormiu.

289
João acordou já era madru-
gada do dia 26, Natal tinha ido, ele
levanta, caminha até a panificado-
ra a meia quadra, o restaurante
ainda não servia café, muito sedo,
toma um café no balcão e cami-
nha até o barracão, cumprimenta
o segurança e entra.
O rapaz olha ele e sorri, pois alguns diziam que ele estava
preso, e já estava ali.
— Este realmente não tem medo do trabalho.
O separar das coisas, das estruturas, o olhar do carro, fez ele
pensar em cada detalhe, sobe e liga seu computador e começa a
desenhar os carros, agora os finais, hora de fechar o projeto, ele
olha o prospecto inicial, passado em Agosto por Franco, olha o seu
prospecto e foi inevitável pensar.
“Teria sido mais lucrativo!”
Ele olha o pessoal começar a chegar, o passar pela porta dele
e o ver já trabalhando, fez alguns comentarem, ele queria fechar as
ideias em três pontos aquela semana, e sabia olhando de cima, pa-
recia uma confusão, somente quem fazia cada pedaço, sabia onde ia
cada pedaço na parte baixa.
Olha Dolores, uma das costureiras, que sabia que iria vir na-
quele dia e a olha.
— Bom dia, deve ser Alemão.
— Entra.
Ela olha o prospecto no computador e ouve.
— Diante de alguns carros, teremos esculturas em ferro, com
cabeça e mãos de espuma revestida, mas o corpo é apenas estrutu-
ra, e preciso de pessoas medindo e fazendo suas roupas.
Ela olha aqueles prospectos e fala.
— Algo com que tamanho.

290
— As medidas tem de ser conferidas, mas se puder fazer um
pouco maior e depois de colocado nas esculturas apenas ajustar.
Pois vamos ainda fazer as esculturas em metal.
— Está dizendo que por baixo da roupa vai existir apenas fer-
ragem?
— Sim, fazendo eles poderem dançar, bater palmas, então a
roupa tem de ser real, resistente, pois vai se mexer.
Ela olha para João e pergunta.
— Alguns achando que estava pronto.
— O projeto está, o carro bem longe disto.
— E os demais?
— Sei que tem apenas as medidas, mas é que são 22 roupas
para pessoas com mais de oito metros, então vai gerar trabalho.
— E o material?
— Vamos fazer estas roupas ali na costura, o tecido chegou.
A moça olha João levantar e apontar para baixo e fala.
— Aqueles rolos ao fundo, ainda cobertos, são para as vestes,
as medidas são estas, e os desenhos, estes.
A moça olha as roupas, olha para João e fala.
— Quer algo grande mesmo?
— Tem coisa ai que poucos vão entender antes de montar-
mos.
— E pelo jeito vai os fazer correr.
— Vamos todos correr, não precisa pressa este fim de ano,
olha os prospectos, corta roupa a roupa, se faltar algo, passa para
mim, que consigo.
— Certo, roupas com maleabilidade.
— Sim, peguei todos tecidos com mais lycra, não queria pro-
blemas de dobras, mas tem de verificar, pensa em movimentos
reais, não em estatuas com pouco movimento.
A moça saiu, e viu Rodney, especialista em armações de mo-
vimento, veio de Parintins a uns 12 anos, já tinha a família na cida-
de, e faz sinal para ele e o rapaz ao lado entrar.
— Quero trocar uma ideia.
— Vi que compraram toda estrutura para esculturas com mo-
vimento, pensamos que iriam nos dispensar.

291
— Rodney, as vezes eu tenho de me convencer que a ideia é
aplicável, e a pergunta, se for possível, pois sei que o sonho de car-
navalescos, assustam.
— O que pretende?
— Estatuas de 8 metros que sambem, que chamem o povo a
volta a dançar, certo, do joelho para cima, não quero algo que tire o
pé do chão, não onde pretendemos os por.
João olha para os dois e pergunta.
— Já trabalharam com malha de ferro?
— Não sei o que é isto?
João pega um pedaço a gaveta e fala.
Este tipo de material.
Rodney olha o material e fala.
— Não, mas qual a ideia?
— Criar as esculturas com todas a possibilidades de articula-
ção, de mão, braços, cabeça, olhos, este material, é maleável.
João passa o dedo por baixo.
— Se eu puser uma haste de comando por baixo, dará a sen-
sação de que é um musculo.
— E tem o projeto, não sei se sabemos montar.
— A ideia, tentar um até 15 de janeiro, se for possível, repro-
duzir 22 deles, se não, analisar o possível, e fazer os demais.

Rodney olha o pré projeto e vê João tirar um prospecto de


um palmo da gaveta, e olha atento e para Jessé.
292
— Disse que ou era algo grande, ou muita coisa.
— Grande, diferente e pelo jeito, se der certo, algo para cha-
mar a tenção de toda a Sapucaí.
— Sim, algo para chamar atenção, algo que vai precisar de um
rapaz dentro de cada um deles, dançando, pensei em por um venti-
lador lá dentro.
Rodney pensa e fala.
— Um local de comando, em meio a uma estatua de 8 me-
tros?
— Sim, e vão ter de entrar deitados na avenida, e quando ele
se levantar, começa o show.
— Vinte e dois?
— Sim, mas precisamos do protótipo, e junto com isto vamos
começar a fazer a cabeça e as mãos de espuma, o corpo vai ser ves-
tido, mas se estiver pronto, fica fácil vestir.
— Então esta é parte do problema?
— Se todos achavam que estava fácil, agora vai ser dois me-
ses correndo.
— Vamos estudar o prospecto, pelo jeito algo fixo dentro de
uma estrutura móvel?
— Sim, e vou ajudar no primeiro modelo.
— Entende disto?
— Acho que o que vamos fazer, seremos os especialista, os
dois ai serão os especialistas num tipo de escultura que não existe
ainda.
Rodney olha João lhe alcançar o protótipo, viu que os braços
se mexiam, as pernas se encolhiam, a cintura se mexia, os braços se
esticavam, até a cabeça olhava para os lados, para cima e para bai-
xo.
— Isto sim é um protótipo que se meche.
— Serão sistemas para as mãos, para a cabeça, para os bra-
ços, vou tentar pensar em algo comandado por uma veste, dai os
movimentos externos seriam os internos, colocaríamos uma câmera
do lado de fora que acompanhasse o girar da cabeça, para o rapaz
ter a imagem do povo a volta.
— Está falando serio? – Rodney.

293
— Sim, pensa Rodney, é algo para criar uma técnica, se ela
der certo, os animais não apenas vão sacudir a cabeça, poderão no
futuro até se coçar, rosnar de verdade, respirar.
— E quer desenvolver isto em 15 dias?
— Quero tentar em 15 dias, se não der, vemos o que conse-
guimos e o ano seguinte terminamos todo o estudo para algo assim.
— Certo, precisamos das peças para este carnaval, indepen-
dente de ter todo este movimento.
— Sim, acha que se fosse fácil alguém já não tinha feito Ro-
dney?
— Vamos estudar. – Jesse vendo mais gente a porta, pelo jei-
to o dia seria de muitas reuniões – E vamos ter que espaço para
isto?
— Vão para o barracão na Santo Cristo.
— Reservou um espaço? – Jesse.
— Sim, são 22 esculturas, tem de ter espaço.
— E quando vamos para lá?
— Assim que eu terminar mais duas reuniões.
Os dois descem e João começa a reunião com o grupo de ade-
recistas de isopor, ele passa para cada um o que precisava, era de
painéis a peças complexas, estatuas.
Saem estes e entra o pessoal dos adereços menores, era o
grupo da dona Maria, que faziam milagres as vezes, como placas
para 300 fantasias em uma semana.
— O que vai precisar Alemão?
João passa todos os prospectos de fantasia e fala.
— São adereços para 52 alas, para 6 carros e 3 tripés, eu co-
loquei em ordem, começa peças estruturas da fantasias e depois vai
para o resto.
A moça pega o prospecto se sorri, agora sim estava começan-
do o trabalho para valer.
Ela sai e entra o grupo do Marcinho, ele fazia estrutura em
ferro para ser revestido, os chapéus, os vestidos, as vestes de bana-
na, muita coisa para fazer, ele passa o prospecto para o rapaz, expli-
cação o material de cada um deles.
Roberto olha as moças começarem a cortar peças imensas, e
olha para Franco chegando, o senhor estava pensando em dar or-
294
dens e se depara com o agito para dentro, gente para todo lado,
olha para cima, Roberto já ali, ao fundo viu Ricardo saindo do esta-
cionamento, olha para Nuno sobre o carro alegórico com Rogerio,
olha para as costureiras, olha para os aderecistas olhando os mate-
riais ao fundo e separando, colocando no caminhão.
Ele olha Paulinho e fala.
— Ele não dorme?
— Pelo que entendi, agora começa a correria Franco.
— E ele passa por cima de toda a comissão?
— Ele continua passando os prospectos para Sergio, ele não
se considera da comissão, ele se considera do barracão, então todos
estão tensos, pois pensaram que ele ainda estava preso, e pelo jeito
ele já ligou para todos e colocou todos para trabalhar.
Franco olha Dolores e duas outras moças olhando os rolos
que estavam com seu nome, e colocarem em uma empilhadeira que
coloca tudo no elevador no fundo, e viu ela e as costureiras subi-
rem.
Roberto olha Paulinho ir apoiar alguns ao fundo, e viu um
grupo de eletricistas chegar e João os recebe, passou os pontos que
precisava ser feito, dentro da especificação, João foi categórico, se
estiver fora do que ele pediu, teriam de refazer ou não recebiam o
serviço.
Franco chega a Roberto e pergunta.
— Acha que agora parece que estamos fazendo algo?
Roberto olha em volta e fala.
— Sim, o que que não entendi, o rapaz mostrou o carro ao
fundo ontem para meu irmão.
— Ele vai passar parte daqui para lá, e parte de lá para cá, o
fundo das esculturas, vai ser aqui, destas três alegorias, vai transfe-
rir os tripés para lá, mas é apenas espaço, estava pensando em veri-
ficar as costureiras daqui, para dispor parte para lá, mas pelo jeito
ele tinha planos para esta parte.
— Onde está Sérgio?
— Parece que comeu algo ruim, e passou mal ontem, está
hospitalizado.
— Mas ele estava na festa do Palace? – Roberto.

295
— Sim, o rapaz tem razão Roberto, levar este desfile a aveni-
da vai ser das maiores aventuras que já fizemos, pois tem gente
querendo nos parar.
Roberto olha para Franco e entra na sala e pede para falar um
pouco com João.
— Podemos conversar?
— Sim. – João olha os demais e fala – Terminamos a conversa
depois, vão agilizando a parte elétrica de cada carro.
Os rapazes saem e Roberto olha João e fala.
— Toma cuidado, alguém deu algo para tirar Sergio dos bar-
racões uns dias.
— Ele está bem?
— Sim, mas sinal que alguém está no desespero.
— Hora de fechar o grupo de trabalho senhor, por cortinas
nas janelas, e trazer o terceiro carro para cá.
— Acha que já fechou a ideia?
— Tenho apenas de confirmar com Sergio se ele não teve ou-
tra ideia, mas acho que sim, qualquer coisa a mais passa de Março,
o desfile é dia 4 de março.
— Gabriel me falou algo maluco. Algo sobre oferecer o desfile
como mercadoria.
— As vezes a calculadora transforma algo em impossível, pois
seria um transpor de coisas, que para compensar, teria de alguém
nos pagar pelo menos 6 milhões por desfile.
— E se alguém topasse?
— Pagaríamos um salario para 3 mil pessoas desfilarem fora
daqui por vez de desfile.
— E quantas vezes acha que aguenta algo assim?
— Pelo menos duas apresentações a mais além da dos cam-
peões, eu tentaria manter as coisas firmes para tentar 4 apresenta-
ções, mas teríamos de saber se alguém topa.
Roberto sorri e pergunta.
— E quanto acha que nos custaria cada apresentação externa.
— Perto de 4 milhões, por isto achei que não daria certo.
— E se conseguíssemos seria como ter 8 milhões a mais?
— Sim, para começar o carnaval do ano seguinte.
— Mas estava pensando no dinheiro?
296
— Não, uma coisa é alguém pagar em São Paulo para nos as-
sistir, 275 reais, transformaria o show aqui, barato.
— Certo, uma escola faria algo incrível para o todo, é o que
está pensando.
— Fazendo o meu nome, porque não?
Roberto sorriu e falou.
— Ninguém sabe seu nome.
Foi a vez de João sorrir, mas olhou depois serio e fala.
— Não entendi o desespero, para nos parar.
— Acha que é desespero?
— Presidente, nosso desfile, é um desafio interno, fazer um
desfile para se vender externamente, se ganharmos, ganhamos, se
perdermos, acontece, quantas vezes se perdeu com carnavais incrí-
veis?
— Não fará um desfile para os jurados?
— Não, um show, não um desfile, para o publico, quem ver,
não esqueça, e pode ter certeza, eu sou de investir em tecnologia,
mas tecnologia de visual, não de telão, não ainda.
— Não ainda?
— Eu queria poder fazer um carro para a Alegria, mas ele se-
ria menor e mais caro que o imenso que está no outro barracão.
— Uma ideia?
— Que apresentei a ideia a sua filha e seu filho, uma empresa
de tecnologia carnavalesca.
— Vender ideias?
— Sim, mas estou a tão pouco tempo, que pode ser estas
ideias que estão gerando resistência, sempre vaza algo.
— E que tecnologia quer vender?
— Desenvolver, esta é a diferença, algo que precisa ter técni-
ca, recursos e coragem.
— Usar a quadra como um laboratório?
— Não, uma fabrica de ideias, e se pudermos expor a ideia
em desfiles externos, estamos diluindo o custo, apresentando a
tecnologia externamente, e colocando recursos no bolso.
— Uma ideia perigosa.
— Sim, mas pensa Roberto, estamos construindo carros para
resistir a 10 apresentações, as fantasias ainda são feitas quase des-
297
cartáveis, mas se tivéssemos 10 apresentações, basicamente daria
para pagar para a comunidade desfilar.
— Alguns tem medo desta profissionalização.
— Sei disto, mas os que desfilarem fora, vão receber, os do
nosso desfile, pela garra, pelo amor a escola.
Roberto olha João olhar a porta e ouve.
— Sergio está melhor, foi apenas um mal-estar. – Paulinho.
Os dois sorriram e João falou.
— Agora deixa eu por o pessoal para trabalhar no outro bar-
racão. – Joao se levantando e Roberto vê ele ir aos rapazes, termi-
nar de por parte do material no caminhão, fazer sinal para Paulinho
ajudar a abrir aquele meio, para a entrada do carro.
Ele sai e Franco fala.
— Não entendi a ideia? – Franco perdido na correria.
— Ele teve uma ideia perigosa, mas pelo jeito toda esta corre-
ria de Gabriel, é porque o rapaz quer meu filho entendendo de co-
mo uma escola pequena funciona.
— Mas qual a utilidade? – Franco.
— O poder da comunidade, este é o segredo, não é tão fácil
assim reger isto.
— E aquele material que ele levou?
Roberto aponta para o computador de João ligado e Franco
chega perto e pergunta.
— Mas porque isto, é apenas cobrir a alegoria?
— Não pensou Franco, quem ele colocou para fazer estas es-
culturas foi Rodney e Jesse.
Franco olha e fala.
— Arriscado.
— Já viu uma das cabines de comando? – Roberto se referin-
do ao local do motorista, era como estavam chamando.
— Sim, deve ter gasto muito.
— Como ele falou para Ricardo, 22 câmeras, com visor e con-
trole, é o preço de vinte e duas plumas.
Franco olha para Roberto.
— Está dizendo que ele sabe fazer, é isto?
Roberto pensa no que o João falou e sorri, não comenta mui-
ta coisa.
298
João chega a segunda sede, olha que o local que estavam
abrindo espaço agora e Rodney olha aquelas armações fixas ao
chão, e próximo de 5 metros do chão um quadrado preso a uma
base ao chão, de um e meio por um e meio, circular, ele olha a base,
reforçada, tenta inclinar ela e vê que era pesado e olha para João.
— Sabe o peso disto?
— Sei, mas a base tem de aguentar o inclinar para frente, em
noventa graus, então tem de ser firme, não é pesada, você está
fazendo força contra o sistema hidráulico da base.
— Não entendi porque inclinar.
— Viaduto! – João.
O rapaz olha Rodney e fala.
— Ele esta dizendo que preparamos antes do viaduto, e apos
ele, apenas erguemos Rodney.
Rodney olha para João e fala.
— Eles tem noção do risco?
— Temos de testar varias vezes, não vou fazer uma estrutura
que aguenta um movimento Rodney, ele vai sair do barracão fixa,
não é um acoplar, é um flutuar, alguns estarão a frente da alegoria
uns 5 metros, dançando.
— Certo, algo que teria de ter estrutura, mas qual a ideia?
Rodney olha os rapazes trazerem aquela malha, que parecia
um tecido, por a volta, em locais específicos e viu João pegar uma
palma de 60 centímetros, na prateleira, era uma amostra para aulas
de medicina, ele havia prendido uma espécie de elástico resistente
nas pontas e pega na mão e puxa cada um dos fios e fala.
— Eu tenho um modelo, da mão, um da junta da perna, que
acho que dá para dimensionar para o cotovelo, e para o corpo, a
estrutura vai ser fixa sobre os ombros da caixa de sustentação sobre
dois sistemas hidráulicos, que os permitem erguer os ombros, mas é
sobre esta estrutura que prenderemos todo corpo abaixo, ele pode
descer um pouco, parecendo dar um movimento de joelho, mas
estes serão automáticos pela hidráulica, mas cintura, braços, cabe-
ça, todas através de sistemas de fibra, parece um elástico qualquer,
mas isto aguenta muita pressão.

299
Rodney pega a mão e coloca em uma mesa ao lado e puxa
cada um dos elásticos e viu os dedos mexerem, ele puxou todos e a
mão se fechou com um punho serrado.
— Isto nos facilita muito, pelo jeito é serio que quer algo des-
te tamanho – Apontando para a estrutura – se mexendo?
— Sim, acha que vale a tentativa? – João.
— Sim, está falando em um sistema que pode transformar
todos os movimentos manuais em mais complexos, uma engenharia
quase de músculos.
— Sim, algo que poucos verão funcionando antes da Marques
de Sapucaí.
— Agora sim parece que estamos na Beija Flor, vi o desfile
dos carros e pensei que estávamos despedidos.
João sorriu e viu os rapazes olharem a junta dos joelhos, vi-
ram o sistema da frente dos pés, que conseguiriam elevar e baixar,
dando um pequeno movimento de pé, e Rodney fala.
— Vou dimensionar um, colocar as peças, e ver o que pode
funcionar, pelo jeito quer saber se é possível.
— Sim, a ideia, é estatuas que interajam com o publico, a vol-
ta, não apenas se mecham.
— Algo a surpreender?
— Sim, mas não uma, não duas, 22 vezes, espalhadas em 3
carros e três tripés.
— Um desfile em altura, em movimento, e que puxe o povo?
— Sim, a ideia é perigosa, sei, mas o tecido vai estar vestido,
eu terei rostos específicos, pois um é o de Bilac, um de Millôr, e um
do presidente de honra da escola.
— Tudo dentro do enredo?
— Sim, estava pensando em um Millôr Fernandes com um
Frescobol na mão. O usando como tamborim.
Rodney olha para as armações e fala.
— E tem o projeto de cada uma delas?
— O corpo será muito semelhante, mas – ele chega a uma
mesa ao fundo e abre o prospecto com os rostos e as vestes que
cada um deles, usaria.
— Quer um prospecto com a roupa? – Jesse?

300
— Sim, pois a roupa tende em algo de oito metros, não for-
mar uma gola e sim, ficar escorrido, principalmente pois para ter
movimento, ela tem mais Lycra do que o tecido normal, teríamos
dai que fazer estruturas extras em cima da hora.
— E vamos montar nos carros quando?
— Na semana anterior ao desfile, uma semana para testar e
trocar prospectos que não ficaram bons.
— Os carros aguentam?
— Pode ter certeza que os carros que tem as esculturas ti-
nham pelo menos quatro mil quilos sobre os pontos que vamos fixar
as estatuas.
— Era um teste de estrutura?
— Sim, se ela não resistisse, nem proporia.
— E não quer apenas estatuas, quer gente grande na aveni-
da?
— Sim.
João deixa eles pensando e caminha até Silvino e Jesse olha
as estruturas e fala.
— Acha que as mãos funcionam?
— Sim.
— Vou dimensionar e começar, faz a estrutura e vou repetin-
do as peças básicas.
— Pensando no tempo?
— Sei que pode ser trabalho jogado fora, mas se reparou,
temos 60 dias, para 22 esculturas.
Rodney olha para o rapaz e fala.
— Corrido, chama o pessoal, vamos ter de repetir cada ato,
vamos ver se aceleramos aqui, estamos em uma parte da escola que
ninguém olha, viu que atrás daquela cortina, poucos passam.
— Sim, viu que estão ajeitando para tirar o carro dois.
— Pelo que entendi, vamos ter rostos específicos, e parte das
esculturas, serão parciais, movimentos de dedos, de cabeça, 22
esculturas completas, tem mais que isto. – Rodney.
— Sim, mas gosto de desafios grandes. – Jesse.
— Nem entendi toda ideia, mas com certeza, um carnaval di-
ferente.

301
— Como ele disse, ou deu a entender, se fizermos dar certo
Rodney, todos vão querer saber como foi feito.
— Isto entendi.
João chega a Silvino;
— Como foi o natal Silvino?
— Perdendo o sono, mas vejo que trouxe mais gente, não sei
para que parte?
— Dentro de cada carro, vai ter estatuas com movimento, no
seu, estas partes ainda estão em negro.
— E vai por encima da hora?
— Tem coisa que vou por apenas se ficar pronto, os rapazes
vão fazer alegorias com movimento para quase todos os carros,
então ali vai se formar uma equipe, mas vamos criar as esculturas
nas bases que vão aos carros, acoplaremos na semana do carnaval
cada uma delas.
— E o que seria a mais?
— Nossa Eva, a primeira Brasileira.
— Um complemento?
— Um detalhe entre tantos, na semana seguinte ao desfile,
tentamos fazer uma apresentação para a comunidade do funciona-
mento do carro.
— Ou fazemos no desfile das campeãs.
— Temos de estar no desfile antes de pensar nisto. – João.
— O pessoal está todo fazendo preparação física, pode pare-
cer fácil desfilar fazendo isto uma vez a cada 3 minutos, por uma
avenida, mas é complicado.
— E os sistemas foram desmontados?
— Ainda não, eles vão fazer sujeira com isopor esta semana.
João começa a subir no carro e grita com um rapaz.
— Me ajuda aqui?
O rapaz chega perto e ele começa a jogar para ele os sacos de
arroz e fala.
— Depois fazemos um grande almoço.
O rapaz viu que parte do peso era arroz, depois o rapaz pegou
o guindaste e tirou um peso da frente, a estrutura ate subiu um
pouco, mais de 600 quilos em ferro em uma estrutura quadrada de
transporte, ele tira de cada um dos lados o peso e Silvino viu que o
302
carro estava lotado de pesos, sorriu, o rapaz tirou peso de todo
lado, de todos os pontos.
No ponto que estava tudo pintado de negro, João começa a
soldar uma estrutura quadrada de um metro quadrado e foi cercan-
do o lugar, Silvino viu aquilo ganhar altura rápido, ele parou na
quarta parte, 4 metros, olha para o rapaz e fala.
— Tem fibra ainda?
— Sim.
— Prepara um espaço para mergulhar 192 metros quadrados
de fibra, verifica se tem antes.
— Tem muito, mas não sei se tem tanto.
— Verifica para mim, deveria ter uns 250 ainda.
O rapaz foi para dentro e João pega a parte mais ao fundo e
quando acaba vê Silvino olhando ele.
— Dois lugares iguais?
— A frente a primeira brasileira, ao fundo um senhora mula-
ta, para dizer, evoluímos.
João pula ao chão, foi ao canto e olhou os rolos de tela, com a
empilhadeira coloca ao lado do carro, mede lados de 4 por 5 e 6,5
por 4, leva ao carro e solda na parte alta, baixa e laterais, alguns
pontos de metro em metro, e Silvino fica olhando aquilo tomar for-
ma, o rapaz chega e pergunta os tamanhos, e olha que seriam peda-
ços inteiros e os mede e foi para dentro, prepara trechos menores
por não conseguir fazer tão grande, mas quando Joao jogou para
Silvino uma mascara e para o rapaz, ele viu João pegar pedaço por
pedaço e fechar primeiro as laterais, depois os pontos superiores,
terminou a parte dos fundos e falou.
— 48 horas para passar massa e depois pintar. – Olhando o
rapaz.
— Vai ampliar o carro? – Silvino?
— Sim, gosto de coisas grandes, mas é um teatro, a ideia, vou
fazer uma camada alta paralela a atual, para fora, a toda volta do
carro, ela se situar ali hidraulicamente, mas a ideia, a primeira dama
toca o chão a frente, uma luz se faz, para os dois lados, surge algo
que vai inflando, e começa a girar, um na cor branca e outra na ne-
gra, negro e vida, branco morte, percorre todo o carro e se encolhe
ao fundo onde uma luz surge e faz o mesmo no carro do fundo, a
303
Luci e a Mulata surgem, altas, sobre as alegorias, sentadas, puxando
o povo a participar, as cortinas começam a abrir, o pré histórico, na
primeira representação, a fala no segundo, o escrito na terceira, os
grandes escritos na ultima. A cortina volta a se fechar, e vai toda a
representação, sobre olhar da Deusa, das duas estatuas, e do povo
a volta, no fim, as duas criaturas voltam, agora não mais em branco
e preto, mas em uma cor mista dos dois lados, a Deusa toca elas e a
toda volta, uma luz forte surge em todo carro. A última apresenta-
ção e as cortinas se fecham. E Recomeça tudo de novo.
O rapaz olha para João e fala.
— Está dizendo que é uma grande peça teatral a entrada?
— Sim, mas todos sambando, cantando o samba, os atos dão
o que está acontecendo, mas tudo dentro de uma grande encena-
ção, o anunciar do surgir de uma nação chamada Brasil.
— Nunca entendi esta Deusa. – Silvino.
João olha Silvino e fala.
— Segundo alguns indígenas, nem todos seguem a mesma
cultura, existia um ser superior, e todo ser que geria vida, fêmeas,
arvores frutíferas, serpentes, tinham uma parte da Deusa, pois tudo
que gerava vida, tinha um pedaço de Deus nelas, obvio que esta
crença foi apagada pelos jesuítas, imagina dar a mulher o valor que
tem hoje no ano de 1500?
— Algo revolucionário.
— Ela tinha dois filhos ou filhas, Tamusi e Yolokantamulu, o
primeiro representando as coisas boas, e o segundo as coisas nega-
tivas, que se considerava ruins pelos humanos, está é a representa-
ção inicial.
Silvino olha João e fala.
— Impressão minha ou apenas esta Deusa daria um enredo?
— Sim, mas estamos usando ela para contar um conto, em
um carro que me dá medo. – João.
— Dá medo e não para de criar? – Silvino.
— Tem de ver que a parte que dá trabalho, é a que se encena,
que tem gente que tem de repetir algo tantas vezes quanto preciso,
este é um ponto que não gostaria de estar se a escola precisar parar
a avenida.
— Por isto precisamos deles fortes fisicamente.
304
— Sim, mas as partes ali, estavam destoando, muito espaço
em branco, ou em negro, não desconfiou que iria por algo ali?
— Sim, mas você constrói algo que alguns diriam ser preciso
dias, em horas.
— Acho que o construir direito, não é o fazer lento, é a base
de toda estrutura alta, e vou começar a estruturara a parte alta,
vamos ver se a semana que eles estão se reforçando fisicamente,
conseguimos finalmente terminar a parte estrutural.
— E testou com o peso da estrutura, pensei que era contra-
peso. – Silvino.
— É, não temos como deixar a parte do meio vazia, mas o
principal, não precisava de algo tão grande se fosse para deixar sem
nada, pegava um com apenas uma divisão.
João sai pela porta do fundo, e olha para as encomendas che-
gando, três estruturas novas de carro, ele cumprimenta Marcos, o
carnavalesco e fala.
— Sei que a parte estrutural chega semana que vem, mas te-
mos de começar a conversar sobre os carros.
— Acha preciso uma carcaça nova?
— Quero tentar fazer vocês se fixarem como grandes, uma
comunidade forte, mas que precisa ser organizada.
— E um carnaval bonito acha que ajuda?
— O distribuir amanha do que distribuímos no dia 24 no Can-
tagalo no Pavão-Pavãozinho, faz eles nos olharem como parte da
comunidade.
— Certo, mas o que quer falar?
— As ideias malucas, o que mais?
— E como começamos a por as ideias malucas em operação?
— Vamos montar a base dos carros, nunca pensei em cons-
truir uma arvore de fibra de vidro, mas esta é a ideia, do carro inici-
al, é começar com 6 arvores cortadas, dai no carro terá 3 tamanhos
de arvore, mais de 70 arvores em fibra construídos em 6 tipos de
arvore, mais uma família de Arranca Língua, prontos para se mudar.
O carro final, vai ser o Arranca Língua, imenso, com Zé Cario-
ca e Donald o abraçando, sentados numa arquibancada, invertida
para a plateia, o arco da Sapucaí a frente, as arquibancadas e sobre

305
as telhas de zinco de uma casa ao fundo, escrito, ou canta ou arran-
co sua língua.
— E o carro do meio?
— Temos dois carros, no meio a cidade de Tiradentes vai en-
trar com 5 milhões para ter um carro alegórico, e Juiz de Fora vai
entrar com 3 milhões e Paraíba do Sul vai entrar com outros 3, en-
tão temos quem nos financia e o dinheiro vai ditar o caminho.
— E pelo jeito vieram para levantar a escola mesmo.
— Ajudar, ligamos para alguns secretários de turismo, e fize-
mos apenas o intercambio, pois obvio, um carnaval com 4 carros
precisa de recursos.
— E eles vão entrar com recursos quando?
— Parte vamos receber em 7 dias, parte em 28 dias, e o fim
do recurso em 42 dias, tudo antes do desfile.
O carnavalesco sorriu e falou.
— E ainda cederam o barracão.
— Sim, sei que nossa criação gera gastos, ainda estamos adi-
antando recursos, e por isto, vamos começar a fazer as estruturas,
mas precisamos dos figurinos das alas Marcos.
— Agora que me informou que teremos recursos, entendi a
ideia, vocês querem um carro para provocar, e parece que tomou a
direção do meu carnaval. – Marcos.
— Vim ajudar, eu construo carros para a Beija Flor, eles dizem
que sou da comissão, mas nunca vou as reuniões.
— E não sai do barracão.
— Gosto de trabalhar pesado, mas o que acha da ideia?
— O enredo é ruim, sabe disto.
— Sim, não posso negar que por mim, eu mudava.
— E não se nega a pensar em carros.
— Eu pensei em um fim, o carro com a arquibancada, com os
dois símbolos da bandeira abraçando o ser e encarando o publico,
pensa em vocês desfilando em primeiro, e alguns tentando explicar
o que vocês desfilaram. Dai ficou obvio, que seria um enredo menos
pesado, e pensei em uma floresta, estou abusando no meu primeiro
ano.
— Certo, e resolveu fazer arvores.

306
— Acho que desde criança, pensei em criar uma grande flo-
resta de alegoria, e pela primeira vez, parece que consigo colocar
ela em algum lugar do enredo.
— Acha que eles vão pegar pesado no enredo?
— Com certeza, mas com carros bonitos, fantasias boas, boa
bateria, se defende as notas na harmonia, na bateria, nas fantasias,
alegorias e adereços, comissão de frente.
— Certo, fazer o percurso tentando errar pouco.
— Contar uma historia, que todos entendam, eles podem não
gostar do enredo, eu não gostei, mas não quer dizer que não con-
temos uma historia, e vim conversar, pois é esta historia que para
mim não fechou ainda.
— Acha que daria para contar algo?
— Sim, depois do carro abre alas, pensei em um tripé, que
começa com uma arvore imensa a frente, depois matas baixas, cer-
rado, campo, terras secas, degradadas.
— Uma mensagem de preservação?
— Sim, uma mudança de nação, de uma nação de matas para
uma de campos já explorados, com cidades bonitas, campos ainda
sendo explorados sem cuidado, nos empurrando sobre florestas,
quando não seria necessário se estivéssemos realmente tendo
agronegócios, se usa a palavra, mas se faz explora-negócios, não
agro, eles não se preocupam em refazer as terras, temos indícios de
desertos em vários estados que eram florestas, e diante da tristeza
de uma terra que poderia ser melhor usada, limpa, os seres chegam
ao Rio de Janeiro, e são abraçados apenas pelos excluídos.
Marcos olha para João e fala.
— Vou anotar, juro que pela primeira vez ouvi um enredo, e
juro, parece que não cabe as cidades no meio.
— Sei disto, para isto usamos dois tripé no caminho.
— E qual o segundo tripé?
— Eles adoecendo após tomarem a agua do Rio.
— E a caminhada quase desaba para o Rio?
— Sim, para ter um fim.
— Certo, vou pensar nas fantasias, me passa as alegorias que
pelo jeito, ainda está criando?

307
— Sim, as vezes temos de entender que nosso ser vai se
adaptar, então ele provavelmente perde os dentes doente, e junto
com a comunidade, consegue a redenção, é uma peça que para
mim, requer 35 atos, mas não daria para por no mesmo carro Minas
e Rio.
— E pretende fazer algo nos carros?
— Cidades bonitas, lixo oculto, rios poluídos, terras com ero-
são a toda volta.
— Eles vão reclamar.
— Se perguntarem, não é uma critica a cidade, mas a falta de
recursos destinados ao enfrentamento de assoreamento de rios,
poluição dos rios e tratamento do lixo.
O carnavalesco sorri e fala.
— Vamos usar uma lenda, para falar de desmatamento, asso-
reamento, falsos agronegócios, poluição e comunidade?
— Porque não, encerramos o desfile com a velha guarda.
— E pelo jeito você veio mesmo para revolucionar.
— Para ajudar, expor as ideias que não me preocupo se vier a
dizer serem suas, acho que ideia é para ser passada a frente, não
para ter donos.
— E semana que vem começa a entrar recursos.
— Sim, mas já coloquei aço no barracão e vou dar as instru-
ções para construção das alegorias.
— Vou falar com o presidente, soube que ele lhe apoiou, mas
também, conseguiu um barracão, agora vem com este enredo que
parecia a maior arapuca, você pensando em transformar em algo,
que os demais olhem, e começa com o verde, e vem ao lixo.
João se despediu e o carnavalesco olha os rapazes começa-
rem a montar a estrutura, era para ser um carro, mas eles começam
a fazer as estruturas em parte tubulares que formariam as arvores,
o presidente chega e olha o sorriso do carnavalesco e pergunta.
— Sorrindo da estrutura?
— Não, do existir de um enredo que podemos desfilar.
— Achou uma saída?
— Troquei uma ideia com aquele rapaz, que me indicou, mui-
tos falam dele, mas ele conversa, estranho alguém que vai falando e

308
pensando, ele pareceu achar um caminho, mas ele falou em verbas
para o carnaval, não sei se ele falou com o senhor?
— Não vi dinheiro ainda, mas vi o ferro, as estruturas agora, o
barracão, que semana que vem teremos recursos, e como eles co-
meçaram a gastar antes, imagino que exista mesmo.
O carnavalesco olha para o lugar e fala.
— Chamou as costureiras?
— Devem começar no dia 3.
— Vou começar a pensar no que ele falou, e desenhar as fan-
tasias, entendo que nosso enredo parece uma brincadeira, mas
somente quem o ver, falará dele.
— Sabe que ele falou em comprar instrumentos novos para
toda a bateria. – O presidente.
— Ele está pensando nos jurados, mas principalmente no que
contaremos.
Os dois entram e o carnavalesco viu que começam a fazer du-
as coisas, as bases do carro e as estruturas das arvores, ele ergue
uma e encosta a parede, olha o rapaz e pergunta.
— Como fazemos para chegar lá com isto?
— O senhor que saiu pediu para fazermos em sistemas de 4
em 4 metros, que montaríamos após os sistemas hidráulicos chega-
rem.
O presidente sorriu e perguntou.
— O que são estes tubos?
— Parte do carro abre alas, uma floresta com arvores de 25
metros.
— E quanto daria isto?
O carnavalesco apontou uma marca a parede bem alto, e fa-
lou.
— Da altura daquela marca.
Ele olha para cima e fala.
— Um barracão que dá para montar inteiro, é isto?
— Sim, em sistemas hidráulicos, uma parte dentro da outra e
crescendo até os 25 metros, a ultima parte, galhos.
— Mas quantas arvores farão?
— Pelo que entendi, 24 imensas, 6 cortadas, e uma floresta
menor com 60 arvores e 3 imensas, mais largas e maiores.
309
— Acha que dará o impacto?
— Está é a pergunta que todos querem saber, mas é uma
ideia simples, execução simples, mas que pode dar um efeito muito
bom.
— E representa o que?
— O fim das florestas, a fuga!
— O segundo carro?
— Um tripé onde as arvores vão ficando menores, viram pas-
tos e depois terra rachada.
— Uma critica, é o que vocês decidiram?
— Uma reflexão sobre o que é o verdadeiro agronegócio no
Brasil, porque precisa sempre avançar sobre a mata.
— Certo, terras exploradas até não conseguirem mais e avan-
çam mais um pouco.
— Sim, segundo carro, pois o tripé é tripé, Tiradentes, a bele-
za, os problemas históricos.
— Beleza e critica?
— Se você não quiser olhar, você não vê os problemas, o ter-
ceiro carro, metade Juiz de Fora, metade Paraíba do Sul, novamente
a parte alta, a beleza, dai vamos falar do rio poluído e explorado, a
falta de destino do lixo, a degradação de margens, assoreando o rio.
O presidente viu que estavam falando de uma viagem usando
um monstro histórico na viagem.
— Segundo tripé, o beber da agua e o adoecer da família, so-
frendo de febre, perdendo os dentes.
O presidente viu que mudaram tudo, e pergunta.
— E vão chegar onde?
— Pavão-Pavãozinho, eles conseguem na comunidade apoio,
e dentaduras, e termina com o carro de um deles, abraçado por Zé
Carioca e Donald, na arquibancada, o ser de dentadura e a frase no
telhado da casa ao fundo, “Canta ou Arranco sua Língua”.
O presidente sorriu e falou.
— Juro que agora até eu fiquei pensando no desfile.
— Sim, o rapaz pensou em um enredo, transformar uma for-
ma de dizer, e ele parecia ainda pensar nisto.
— Acha que teria um segundo caminho?
— Não sei, mas vou pensar no primeiro.
310
João olha para Sergio entrar, ainda branco e olha para uma
moça ao fundo e fala.
— Pega uma agua bem gelada para o Sergio.
A moça viu ele entrando, com cara de não estar bem, João o
conduziu a sala e fala.
— Comeu todas pelo jeito. – João tentando mudar o assunto.
Mas a cara de enjoado de Sergio fez ele segurar a rizada forçada.
— Soube, eu no hospital e você preso.
— As vezes as batalhas da vida nos dão o caminho Sergio, vol-
ta para o hotel e tenta descansar.
— Não consigo fechar os olhos, é horrível ainda estar vomi-
tando tudo.
— Mas não foi medicado?
— Ser medicado e não vomitar, não é o mesmo de ter a sen-
sação de que pode vomitar a qualquer hora.
— E veio trabalhar.
— Soube que acelerou tudo.
— Daqui a pouco vou passear ao lado, eles tem de trabalhar.
— Ainda tinha de usar esta porcaria da fibra hoje?
— Vamos lá, quem sabe esta cara de mal que está faça aquele
Hélio pensar.
Sergio estava ruim, mas nem tanto, viu Nuno chegar e olhar o
carro ao fundo e falar.
— Não para?
— Paro no dia 5 de março.
— E o que entendeu do enredo da Estácio? – Sergio.
— Nada, este “A fé que emerge das águas” me parece uma
forma de conseguir recursos com a igreja, mas eu não consigo ligar
para a igreja e pedir dinheiro.
Sergio sorriu e perguntou.
— E o enredo da Alegria da Zona Sul?
— Temos 3 patrocinadores e ainda estou tentando dinheiro
com o Ministério do Meio Ambiente e da Cultura.
— Não entendi, como um enredo daqueles gera patrocínio e
um de fé não consegue?
— Eu não vejo possibilidade, a cidade de Aparecida já colocou
parte dos recursos, mal negociado, mas quem sou eu para discutir
311
isto, e fora isto, o estado em teoria é Laico, não podemos por uma
publicidade de empresa de turismo, então é algo bem particular.
— E não tentou?
— Não estou fazendo, estou induzindo Gabriel a fazer, está
parte é importante.
— Criando um dono de escola?
— Quem sabe um dono da cidade?
— Não exagera.
João tentou não rir.
Entram e Zanon olha para eles e fala.
— Como está o rapaz que calou todos os que falavam que a
Beija Flor não tinha enredo.
— Ainda sentindo os músculos, mas ser sincero, eu posso ofe-
recer através de mim e de Gabriel estrutura, um ou outro patrocí-
nio, mas nada muito grande, já que não entendo de religião cristã, e
toda vez que me vejo dentro de uma, algo ruim aconteceu.
— Algo ruim? – Zanon.
— A ultima vez foi em meu casamento Zanon, não foi algo
bom. – Sergio sorriu ao lado.
— E qual a proposta?
— Não sei o enredo, para mim, uma santa, é um conto de fa-
da, ainda mais o achar de uma estatua de santa feita em madeira
negra jogando uma rede, então eu não consigo contar, foi armação,
e não gosto deste tipo de armação.
João sorriu da ideia que teve do outro enredo, olha o senhor
e fala.
— Mas podemos ajudar com o local, com alguma estrutura,
com apoio a comunidade, e uma publicidade.
— Agradecemos o pouco que conseguiu, é mais que muitos
colaboradores oficiais, mas o Presidente não gosta de você.
— Eu não sei o que ele não gosta, mas precisando fala.
— Certo, veio se por a disposição, as vezes o presidente fala
que vão nos tocar daqui.
— A proposta é a mesma, sabemos que assim que acabar o
carnaval temos de desocupar o lugar, então temos de achar tam-
bém um local.
— Vocês tem a cidade do Samba.
312
Sergio sorriu e João fala. Sem graça.
— Verdade.
Os dois saem e Sergio pergunta.
— Qual o problema?
— Vou falar com Marcos da Alegria de volta.
— O que pensou?
Os dois dão a volta na quadra por fora e Marcos olha Sergio e
pergunta.
— Tá bem rapaz?
— Algo que comi no Natal me fez mal.
— Voltou? – Marcos olhando João.
— Pensando, imagina você contar a historia de um lenda, ela
não está sendo contada.
Marcos olha para o rabisco.
— Verdade.
— Soma nisto, não estamos contando outra coisa.
— O que?
— O matar do encanto, das coisas e historias da terra, isto
também mata as crenças, e coisas da terra.
— Uma visão tripla de enredo?
— Sim, a devastação que sai da cidade e chega a eles, feita ao
contrario pelos personagens, o povo que acredita em quase tudo,
para o nada, pois fé apenas por convívio social, e a lenda em si.
— Agora você pegou pesado no enredo.
— Sim, e ainda estou pensando em tentar manter o contar da
lenda no fantástico, no divertido, pois se formos falar de devastação
e perda da fé, que gera perdas maiores do que a terra, é algo que
tenho de pensar no carro final.
João pensou e fala.
— Tem uma coisa, que talvez una todas as coisas, pois para o
homem moderno, tudo que não faz o que ele quer, é coisa do de-
mônio, ele usa a fé como desculpa para destruir, e a fé para não
repor, dadivas de Deus, não precisam ser repostas, se refazem.
— Difícil passar isto em um enredo.
— Sei disto, acha que gosto de enredos fáceis?
— Você não para de pensar nele, antes de o fechar.
— Isto, mesmo o mais idiota dos enredos.
313
— Idiota é uma forma gentil de elogiar o Carnavalesco que
propôs, viu que não daria e pulou fora.
— Eu acho que as vezes, é a posição dos outros que fazem al-
guns recuarem, eu nunca penso no que os demais gostariam, eu
quero fazer um carnaval, que eu me sentisse feliz de ter pago a en-
trada, quando assistisse.
Marcos anotou e falou.
— Vou pensar no enredo.
Sergio olhou Marcos e fala.
— Tenha calma, ele adora tirar nosso sono.
— Ele pelo jeito quer impressionar os demais.
— Ele parece ter ideias estranhas, diferentes, mas com certe-
za, ele não é alguém que pare na primeira tentativa.
— Ele parece pensar olhando o lugar.
— Ele faz isto, ele fica imaginando como chocar, e uma coisa
é dizer, sei como vai ser o desfile, outra, como ele pretende que
seja.
— E toda aquela demonstração? – Marcos olhando Sergio.
— Apenas ele pensando nas possibilidades.
— Dizem que venderam 12% dos ingressos no paralelo on-
tem. – Marcos olhando João.
— Não entendo disto, na minha cidade, o desfile é gratuito.
— E bem menor. – Sergio.
— Um dia vi um documentário sobre a Chatuba, e vi o desfile
dela na reportagem, nosso desfile até dois anos era daquele jeito.
— Melhorou um pouco.
— Eu melhorei um pouco.
João fez algumas anotações, chega ao pessoal que estava
montando o carro e pede para eles aguardarem até a semana se-
guinte, para irem fazendo as estruturas das arvores e das estruturas
quadradas.
Marcos viu que ele mudou de ideia, João olha Marcos e fala.
— Acha que os jurados se traumatizariam com uma encena-
ção da lenda na comissão de frente?
— Pensando em os por contra o ser no começo?
— Sim, da antipatia a simpatia em um enredo.
— E pensar que todos achavam um enredo fácil. – Marcos.
314
— Tão fácil que ninguém nem pensou nele, mas terei de ler
mais sobre esta lenda, tem de entender que eu sei da lenda apenas
a sinopse inicial.
— E qual a importância?
— Pois temos de saber se é uma lenda indígena ou do serra-
do, onde os sertanejos, contavam contos assustadores para espan-
tar a cobiça de estrangeiros na região.
— E qual a diferença?
— Que se for para manter os demais afastados, usaria sem
medo na comissão de frente, é para assustar invasores.
— E o agro negocio não se intimida?
— Não, ele invade, ele vende animais silvestres, ele destrói
matas ricas e alto suficientes para por uma monocultura que não
mantem uma família sem 4 hectares de terra.
— Uma historia, é o que ele está fazendo Marcos, ele criou
uma historia, que será a sinopse do nosso desfile.
Marcos sorriu e falou.
— Certo, um enredo narrado para os jurados antes do desfile,
com cada peça e significado.
— Sim, o publico geralmente não entende tão bem, mas po-
demos fazer umas inserções na internet, sobre o assunto no mês de
Janeiro. – João.
— Acha que vale a pena?
— Marcos, eu sei que a campeã do grupo especial foi com-
prada este ano, todas as armações indicam isto, mas não quer dizer,
que vá desfilar para os deixar acomodados, quero eles vendo nós
entrarem e pensarem, como bato isto.
— Somos a primeira do dia.
— Sei disto, mas isto só complica as demais, não vocês, mas
para que dê certo, precisa dos ensaios de quadra, e pelo jeito este é
um dos problemas.
— Verdade.
— Estou verificando um lugar, mas ainda não posso falar so-
bre isto.
— Isto?
— Tem um terreno que era um bar a beira da Lagoa, e que
está sendo vendido, mas ainda não consegui investidores, seria um
315
bom lugar para ter um clube, mas mais ainda, para ser nossa sede
para ensaios e nossa sede.
Marcos ouve e fala.
— Daqui a pouco fala minha.
— Não tenho esta pretensão.
— Mas entendi a ideia.
— Mas isto fica para o ano que vem, temos de pensar em um
lugar este ano.
— Certo, teria algum lugar por aqui?
— No porto tem um barracão abandonado que acho que con-
sigo emprestado, mas tenho de verificar com o dono.
— Certo, tenta, mas pelo jeito está pensando em realmente
subir os morros.
João sorri, troca mais umas poucas ideias e vai para o barra-
cão ao lado, ele sentia as coisas mudarem de sentido, olha Sergio e
fala.
— Se mantem calmo.
— Lá vem a policia.
João não falou e Sergio olha a entrada a civil entrar empur-
rando e um rapaz fala apontando a arma.
— Não fuja.
Joao olha o rapaz e os rapazes as costas e fala.
— Isto que é a policia do Rio, para me prender tem de ser
agressivo, e quantos – João encara os demais – seis, e querem que
respeite isto.
— Mãos a cabeça.
— Ordem de prisão rapaz, não está na sua casa para gritar,
ninguém está fugindo, e se balear qualquer trabalhador, eu pesso-
almente peço sua exoneração. – João encarando o rapaz.
Sergio viu o rapaz encostar a arma na cabeça de João e falar.
— E se falar que resistiram?
— As câmeras que já saiu a gravação, pois o servidor não é
aqui, vai achar se você é mesmo policial, o nome de todos, e é uma
pena famílias que passam bem como concursadas, terem de procu-
rar emprego.
João sente um lhe bater nas pernas e cai de joelho e olha o
rapaz e fala.
316
— Não mate eles Paulinho.
Os rapazes olham em volta e veem varias armas apontadas
para eles, e o rapaz fala.
— Vão intervir, vão todos presos.
— A determinação Ricardinho, acha que está onde? - Pauli-
nho ao fundo olhando o rapaz.
Era evidente que estavam em menor grupo e ele tira o papel
do bolso e olha Paulinho pegar e olhar.
— Sumam, agora.
— Mas...
— Se um delegado assinou isto mesmo, um juiz depois, os
dois tem de voltar ao pré.
Os policiais saem, Paulinho alcança a determinação e João
olha para ele e fala.
— Obrigado.
— Eles não vieram para ser gentis.
— De qualquer forma, vou a delegacia, quem sabe seja uma
pegadinha, mas quem sabe?
— E eles?
João não falou nada, os rapazes saem em carros oficiais ao
fundo e João sente as almas saírem, atravessando os rapazes, o ser
olha aquele caminhão da Petrobrás 4 quadras depois, baterem os
carros, João sai no sentido oposto, e vai a delegacia.
Era 8 da noite, quando ele apresenta o papel e a moça na re-
cepção olha para João e fala.
— Chama o delegado, mas alguém parece ter pregado uma
peça no senhor aqui.
O rapaz sorriu e o delegado olha para João, ele sabia que os
rapazes viriam.
— Sozinho?
— Entregaram no meu lugar de trabalho, acho que o prefeito
lá os fez serem mais educados. – Mente João.
Ele olha a petição e fala.
— Isto foi uma pegadinha, mas já que está ai, que tal me es-
clarecer uma coisa?
— Sim.

317
O delegado fez sinal para ele entrar na sala, o investigador ao
longe olha para a secretaria e fala.
— Uma pegadinha ao avesso?
— Não entendi?
— Algo para o rapaz pensar que era falso, e não vir, depois
mandarem o prender.
— Isto ai não mata ninguém. – A moça.
O delegado olha João e pergunta.
— O que pretende trabalhando para 3 escolas de samba?
— É ilegal trabalhar senhor?
O delegado olha para João serio e fala.
— Não, mas é estranho alguém que dizem trabalhar 18 horas
por dia, não ter nada.
— Esqueceu porque me prendeu Delegado?
— E esta es, suga tudo?
— O que ela enxerga, e ela é uma águia no que diz respeito a
dinheiro.
— E não teve motivos para por fogo mesmo?
— Senhor, todas as testemunhas falaram, fizemos um chur-
rasquinho e fui dormir, eu sai pela frente e subi a favela em frente,
parei numa laje que já me gerou boas lembranças, e fiquei a olhar a
cidade ao fundo, quando chego ao hotel, sou preso sem uma per-
gunta, primeiro, sou réu primário, segundo, não tinha provas, ter-
ceiro, somente quem estava com o álcool na mão me viu por fogo
lá, e quarto, não pegou fogo nem na cortina externa, nada justifica-
va eu, recém saindo do hospital ser jogado na cela.
— Alguns falam que você vai sabotar a Beija Flor.
— Se eles achassem isso senhor, não estavam tentando saca-
near comigo, já que quem falou isto não foi da Beija Flor.
— Lhe acusam de tentar envenenar Sergio, o dirigente da Bei-
ja Flor.
— Quem me viu onde ele estava, eu sou pobre senhor, eu
não tenho como entrar no Palace Hotel.
— Lhe viram lá.
— Fácil senhor, a quadra do Palace é toda monitorada, se eu
cheguei lá, tem uma imagem do Palace.
— Parece ter pensado no crime.
318
— Parece estar enrolando para tentar me prender, mas eu ti-
rei uma copia daquele papel delegado, se ele é real, vou pedir sua
avaliação, pois é o que está fazendo, usando um papel que diria ser
falso, se chegasse aqui, e agora está esperando os rapazes chega-
rem.
O delegado olha a porta e a moça fala.
— Os rapazes se envolveram numa batida no centro senhor.
— Vão demorar?
A moça olha serio e fala.
— Vão.
O delegado olha ela com uma lagrima e pergunta.
— O que aconteceu?
— Parece que alguém foi a frente cortando com a sirene liga-
da, e Ricardinho entrou em baixo de um caminhão de gasolina, eles
explodiram senhor.
O delegado olha furioso para João.
— Agora me paga.
— Não seja cômico Delegado, queria uma desculpa e agora
achou, não seja cômico, eu não tenho senso de humor com mortes.
— Os matou.
João olha para a moça e pergunta.
— Narre o acontecido, é incrível que realmente aquilo era um
papel oficial.
— A polícia está isolando a área da esquina do quartel, os três
carros da policia entraram direto embaixo de um caminhão da Pe-
trobras.
João olha para o delegado e fala.
— Se alguém provocou, vai estar morto junto delegado.
— Não entendo como pode ter acontecido.
João olha o delegado que fala.
— Não saia da cidade sem avisar.
— Sabe onde durmo e onde trabalho senhor.
Paulinho chega a região e olha os corpos carbonizados e olha
para o rapaz ao lado.
— Este não deixa testemunhas.
— Acha que foi ele.
— Foi, mas não tem como provar isto.
319
João chama um taxi e vai a Cidade do Samba.
Ele para a porta da Tijucas e pede para falar com Horta.
O senhor olha para João e pergunta.
— Perdeu o emprego?
— Apenas uma dica senhor, não se desgasta com um carnaval
que é fácil tirar ponto na evolução, não vale o dinheiro gasto.
— Do que está falando.
— Apenas uma dica.
João sai e olha para o rapaz ao fundo.
— O que pediu para fazerem Pietro?
— Ele está atrapalhando.
— Ele é ciente que alguém aqui pagou, e obvio, ele sabe onde
vai perder ponto, todos podem achar o desfile deles lindo, perdem
por 2 pontos de diferença, isto dá sexto lugar.
Ricardo para a frente de João na entrada e pergunta.
— O que foi falar com ele?
— Para parar de tentar me matar, as pessoas morrem quando
tentam.
— Não entendi.
— Eu iria hoje com certeza ao buraco de novo, mas da vez an-
terior eu estava inteiro, como seria hoje senhor Ricardo.
— E não quis ir?
— Paulinho os colocou para fora, fui a delegacia, o delegado
sabia e queria que me desse mal, quanto funcionário publico inútil.
— E o que aconteceu?
— Digamos que 3 carros com dois rapazes em cada, dirigindo
na volta a toda, entram embaixo de um caminhão de combustível,
na porta do quartel.
Ricardo olha para João e fala.
— Não gosto de problema com a polícia.
— Então lhe perguntarei o que perguntei para seu irmão, eu
deveria morrer para vocês se fazerem de felizes?
João não esperou a resposta, começa a sair, Gabriel que ouvi
ao fundo chega ao lado de João.
— Vai onde, da ultima vez que saiu assim não foi legal.
João olha para Gabriel.

320
— Não entendo, eles queriam mesmo que eu morresse, que
idiotas são estes, porque fazer algo especial, para gente que nem
respeita a vida.
— Meu tio é politico.
— Vamos sair daqui, eu não quero discutir com mais nin-
guém.
João sai ao fundo e Roberto olha Ricardo, ele ouvira.
— Ele é petulante.
— Petulante é quem manda matar ele, para ganhar um car-
naval comprado.
Ricardo olha Horta na outra porta, e fala.
— E porque alguém ainda quer o tirar do caminho?
— Eles não querem algo visível, mas toda vez que o rapaz
trabalha demais, alguém de dentro dá a situação, e é inevitável,
Gabriel conseguiu patrocinador para a Alegria, e Alemão ficou lá
discutindo como tornar um enredo horrível em algo incrível.
— Horrível? – Ricardo.
— Sim, e o carnavalesco está lá como Sergio ficou aqui, pen-
sando no que ele falou.
— Ele não tem medo. – Ricardo.
— Ele diz que faz o carnaval para ele, não para os demais, ele
fala que quer algo que ele se impressionasse nas arquibancadas, na
televisão em casa, em qualquer lugar.
— E pelo jeito ele agitou todo lugar.
— O pessoal de Parintins está lá ainda trabalhando, eles fica-
ram com algo que só vai vir para cá nos dias de montagem final.
— E esta parte poucos verão?
— Estava ouvindo meu filho falar o que ele projetou para o
carnaval da Alegria da Zona Sul, e fiquei pensando se algo assim é
enredo ou livro, mas o rapaz pensa em ideias complexas.
— Qual era o enredo?
— A lenda do Arranca Língua, um grande Gorila do Araguaia,
o nosso King Kong.
— Isto dá enredo? – Ricardo.
— Este era o problema, eles já fizeram o samba, já apresenta-
ram o enredo, o carnavalesco que deu a ideia, sumiu.
— E ele assumiu esta bomba?
321
— Ele quer transformar em uma critica social, econômica e
religiosa.
— Mas como?
— Isto que o carnavalesco está lá quebrando a cabeça, vai ser
uma viagem para o Rio da Lenda, expulsa de sua floresta pelo avan-
çar do Agronegócio.
— Ele vai criticar o agronegócio?
— Eles se dizem empresários e querem sempre mais terras,
por quê? O que eles devolvem ao país, terras erodidas, estes mes-
mos, vivem em cidades, que geram o lixo e nem o tratam, então ele
vai viajar com uma lenda ao Rio, mostrando a parte bonita e feia
das cidades, a lenda vai tomar a agua do Paraíba do Sul, adoecer,
perder os dentes, definhar, doente, tentando se esconder nas pou-
cas florestas que restam, chegam ao Rio de Janeiro, e na favela do
Pavãozinho, são abraçados pela comunidade, ganham dentaduras, e
mostrando a diferença, do natural e do degradado, da riqueza sem
motivação, apenas por dinheiro, e um povo batalhador, encerrando
o desfile.
— E pelo jeito ele convenceu o novo carnavalesco.
— Para quem não tinha um caminho, é um senhor caminho.
— Complicado de contar.
— Dá para defender os quesitos.
João e Gabriel vão a região de Santa Cruz, Joao entra no novo
barracão. Ainda apenas armação, e olha para Micaela ali.
— Perdida aqui? – Gabriel.
— Vendo a ideia.
João a olha e fala.
— Odeio a deia de morrer, e hoje tem alguns dizendo que te-
nho de morrer a cabaça.
— Não deixa nada para trás? – Micaela.
João sorriu, ele foi ali para sentir um pouco o meio, ele se
afasta e senta ao fundo, Gabriel olha para as luzes saírem, ele olha
para aquilo e olha a irmã.
— Ele faz como você?
— Não, ele parece poder os soltar, mas fica os retendo, até
entender o problema.

322
João fica ali sentado, sente os seres saírem, e sente um pouco
de paz, sente que tinha mais gente ali e apenas olha para Micaela,
que olha em volta e fala.
— Merda.
Gabriel sente os rapazes passando por eles, ele fica quieto e
faz Micaela sentar, a luz de João fazia eles irem a ele, as armas todas
destravadas, ele sem muitas pessoas nele, ele olha para trás e olha
o delegado Martins e pergunta.
— Perdido fora da sua jurisdição?
— Este é um lugar bom para lhe enterrar rapaz, acha que dei-
xamos forasteiros atrapalharem aqui.
João olha em volta e puxa para ele as mãos, os seres vieram
rápido atravessando tudo, Micaela segura a mão do irmão e fala.
— Nada de sair dai.
Gabriel sente aquilo bater nele e desviar, a irmã sente alguns
outros, mas os a frente foram todos caindo.
João estava ainda de mãos para o alto quando ouve alguém
falar.
— Agora lhe peguei senhor Mayer. – Douglas.
João olha Douglas, e ouve Micaela.
— Não João.
Douglas não via Micaela ali e fala.
— Cumplices?
— Sim, você é meu cumplice Douglas. – João olhando o rapaz
e sentindo os novos seres meio perdidos.
— Acha que alguém acredita?
— Se os as costas estavam esperando eu matar policiais para
me prender, todos viram meus cumplices, se alguém conseguir pro-
var que eu, sozinho, consegui isto.
Micaela olha o irmão, muito quieto e fala.
— Gabriel precisa de ajuda João.
João olha em volta e olha o espirito de Gabriel mais a frente e
fala.
— O corpo.
O espirito olha perdido e acha Micaela e volta ao corpo.
Micaela abraça o irmão que abre os olhos.

323
Dois policiais esticam a arma para a menina e um terceiro pa-
ra João, Douglas sente a picada na altura do pescoço, olha os de-
mais fazerem o mesmo e caírem, ele olha João e vê Paulinho ao
fundo.
— Põem o barco a beira. – Fala Paulinho no telefone, e João
viu uma luz vir do rio, e encostar ali, começam a jogar os corpos
mortos no barco, e dois colocam os policiais em macas e levam aos
carros, disparando para o centro.
O rapaz sai com o barco e João chega a Gabriel e pergunta.
— Está bem?
— Estranho isto.
— Tem de arraigar sua alma menino. – João.
Paulinho olha para Micaela e pergunta.
— Melhor sair daqui menina.
Ela viu o helicóptero descendo e ajudou o irmão subir, Pauli-
nho olha para João e fala.
— Matas muito rápido rapaz.
João viu o senhor fazer sinal e sair.
Douglas acorda assustado e olha que estava dentro do carro,
põem a mão no pescoço e olha para o carro da Policia e outro rapaz
fala.
— Como viemos parar aqui?
— Acha que vale o voltar lá? – Douglas.
— Eles iriam matar o rapaz Douglas, não sei o que aconteceu,
mas sabe que a lei é provas, se não provássemos que ele matou, por
mais que tenhamos visto algo estranho, teríamos de provar que foi
ele.
— Este rapaz está ficando fora de controle.
— Ele estava no terreno dele Delegado. – O rapaz do outro
lado do carro, ainda despertando. – Ele parecia ter ido tentar soltar
algo, deveria estar pesado, e todos vimos que tinha mais gente lá,
apenas por ter muita policia, pensamos em mais.
— Não entendi, a menina pediu por você? – O outro rapaz.
Douglas olha o rapaz e fala.
— Mick a muito está atravessada na minha vida, desde que
tinhas uns 8 anos.

324
Os investigadores veem o delegado abrir a porta e entrar na
delegacia, eles não lembram de como chegaram ali, mas sabiam o
que o delegado faria, iria ver as câmeras frontais da segurança do
prédio.
Douglas olha alguém mascarado chegar com o carro, depois
dois rapazes chegarem e colocarem os 4 no carro, todos mascara-
dos, olha os calçados, padrão segurança, não teria como dizer que
não eram policiais, o rapaz ao fundo fala.
— Eles parecem profissionais fazendo isto. – Um dos rapazes.
— A diferença, quando os organizados se enfrentam, temos
mais mortes, pois todos sabemos, nada do que aconteceu hoje, está
registrado, o delegado foi vingar a morte dos investigadores que
não estavam em uma ação legal, mais mortes, se analisar que o
pessoal estava apontando para o rapaz com armas a toda volta,
todas destravadas, e a ação foi mais rápida do que o simples puxar
de um gatilho, é algo assustador. – Douglas.
— O que é aquele rapaz?
— Levantei a ficha, uma criança de bairro pobre de Curitiba,
capital do Paraná, tem os pais mortos aos 10, por alguém que hoje é
empresário famoso, mas já foi presidente da republica.
— Esta dizendo que Moreira matou os pais daquele senhor?
— Ele levou 3 tiros, da sala que ele estava, apenas ele sobre-
viveu, um vizinho da mesma idade morre, assim como os pais, até
os 18 em uma instituição de menores, que liberava os menores no
fim de ano, o menino não tinha família, ia para a rua, e para sobre-
viver, praticava pequenos furtos, aos 18, consegue um emprego
numa oficina mecânica, não terminou o segundo grau, mas domina
como poucos uma solda, entende de mecânica, de solda e resistên-
cias de solda, aos 21 se casa, a moça estava gravida, por 8 anos fo-
ram um casal, ela se separou, quando ele estava prestes a montar
seu primeiro negocio, e o que era para ir para frente, começa a dar
passos para frente e para traz, mas ele nunca demonstrou o que
podia antes de chegar aqui, não existe relatos lá disto, poderia estar
nele mas ele conseguia controlar, ele me induziu que a separação
foi algo bom, ele não aguentava mais, ele temia matar a esposa
dormindo qualquer dia, dai ele é convidado a fazer um carro alegó-
rico, pelos cálculos dele, ele ganharia de uma vez, 200 mil reais de
325
retorno, ao termino, ele demorava 4 anos para ter o mesmo retorno
lá trabalhando 312 dias no ano.
— E como ele passa de algo inofensivo para aquilo?
— Ele parecia não ter solto isto dentro dele, mas em um bu-
raco, 15 dias, ele precisou soltar tudo, para não enlouquecer, para
não morrer, para sair de lá vivo.
— Aquele papo de sua mãe morreu por isto?
— Sim, mas imagino que ele não teve como saber quem esta-
va a volta antes, ele estava algemado em um buraco apenas com a
cabeça de fora, ele não tinha nem como puxar a ele nada, quando
saiu, foi uma reação, provavelmente quando tentaram o matar, e
sabe que tudo que estou falando, não é coberto pela lei.
— E acha que teríamos como o prender?
— Como falou, a menina pediu por mim, ele me olha, ele de-
veria saber que tinham pessoas a volta, mas estávamos com as ar-
mas travadas, era evidente que os rapazes não foram lá para o levar
a delegacia, e estavam em um lugar que se enterrassem ele, poucos
iriam saber onde aconteceu.
— E vai tentar?
— Temos de pensar melhor, uma coisa é ouvir, outra ver, o
que vimos ali.
— Assustador, os seres não foram além dos policiais, mas e se
tivessem vindo até nós?
— Teríamos morrido como eles, por isto falo que temos de
pensar melhor, o que era uma ideia, embora achei que o delegado
faria o serviço, mas o mesmo não tinha visto a menina lá, ele pensa-
ria que ela poderia tentar o defender.
João chega ao hotel, cansado, toma um banho gelado e olha
em volta, olha as mãos brilhando, sentia raiva, sabia que novamente
ele passara do ponto, ele não gostava disto, teria de segurar a in-
formação, a desconstruir.

326
O acordar da quinta, era um
dia de trabalho e desce pensando
em confusão, e comeu em paz,
olha Sergio melhor chegar a mesa
e falar.
— Como foi ontem?
— Ontem?
— Aquela determinação da
policia?
— A moça da delegacia disse que deveria ser uma brincadeira
de algum engraçadinho, reteve a intimação e abriu um inquérito por
uso de material interno de forma impropria.
João tenta pensar no carro, mas parecia ainda pensar no que
poderia fazer, olha Gabriel entrar, chegar a mesa do refeitório do
restaurante e João pergunta.
— Melhor?
— Sim, aquilo é assustador.
— Aquilo? – Sergio.
Gabriel sorriu e falou.
— Aquela ideia de enredo da Alegria, ele quer transformar al-
go idiota em um caminho para um enredo critico.
João sorriu da rapidez de Gabriel.
— Acha que o barracão no Santo Cristo, está bom?
— Quer fazer o que lá?
— Por uma placa da Alegria da Zona Sul nele, por um palco e
no sábado fazer o primeiro ensaio da bateria e atrair o pessoal da
comunidade.
— Está falando serio em ajudar.
— Sim, mas geralmente este pessoal perde em fantasia, en-
redo, coesão, harmonia, bateria, mestre sala e porta bandeira, eles
tiram um pouco em cada lugar e eles ficam lá no fundo.
— Acha que temos como conseguir patrocínio para a Estácio?
João olha Sergio e fala.
— Isto não se comenta lá fora.
327
— Conseguindo dinheiro para a escola ao lado?
— Conseguindo que eles patrocinem e façamos propaganda,
então sim Gabriel, temos como conseguir, fala para o Helio, que
através da empresa de transporte que montou, vai entrar com dois
milhões e que o conjunto das empresas de turismo vão entrar com
outros 2, eles conseguiram 3 com a prefeitura, então eles passam a
ter recursos para um carnaval modesto, isto move todas as escolas
de Curitiba Gabriel, mas o que não se fala, nós conseguimos apoio
para a escola, mas oficialmente, foi a Beija Flor, e a sua empresa de
transporte e tecnologia.
— Certo, mas vou ter de tirar dois do bolso?
João sorriu.
— O dinheiro oficial das empresas de turismo é 2, mas entra
outros 4 por baixo do pano que não pode ser declarado, então você
vai ajudar e falar que vai entrar com a estrutura, eles vão pensar em
outra coisa, não que o dinheiro vem por ali, ainda sobra dois para
montarmos nossa empresa.
— Vão montar uma empresa de que? – Sergio.
— Distribuição, transporte e estocagem de produtos, e uma
de tecnologia carnavalesca.
— Tecnologia carnavalesca?
— Acha que eles entenderam como montamos nossos carros
Sergio?
— Não, mas vai vender o que?
— Vamos treinar pessoas para executar em escolas coirmãs
ou em São Paulo, Santos, Florianópolis.
Gabriel sorri e fala.
— E acha que alguém compra a ideia?
— Gabriel, o que propus a seu tio, a Franco, a Sergio, é não
fazermos um desfile focado no jurado, ele é consequência, é um
show para o publico, e obvio, tudo que se vê pouco, pela TV, esta-
remos oferecendo para apresentação nas duas semanas seguintes
pelo Brasil.
— Somente Brasil?
— Primeiro ano sim, quem sabe não nos superamos no ano
seguinte.
Gabriel olha João e fala.
328
— Pelo jeito não acredita em parar?
— Que graça tem a vida sem conquistas diárias.
— Muitos acham que comer e beber tem graça.
— Primeiro fazemos mais pessoas comerem e beberem, de-
pois vamos mostrando os demais prazeres da vida.
João olha para os números, para os prospectos e fala.
— O problema é que toda vez que tenho uma ideia, eu tenho
de me convencer dela, hoje vou a Santo Cristo, e vou começar a
montar a parte externa a armação que fizemos, quero testar incan-
savelmente o efeito que quero.
— Acha que precisa?
— Sergio, eu ainda quero terminar esta fase, para tentar so-
mar em mais alguma coisa, mas isto, vai ser final de Janeiro se esti-
ver funcionando.
— Vai para onde?
— Vamos estacionar o terceiro carro na Cidade do Samba.
— Ajeitando os lugares?
— As três alegorias que estarão aqui, vão ter esculturas sus-
pensas a frente e as costas, então o que as costureiras estão fazen-
do lá encima, as roupas grandes, são para estas esculturas, então
estou separando por estrutura, as esculturas ainda estão sendo
projetadas, então é obvio, vai ser corrido.
— E não pôs no prospecto?
— Não entendo ter de entregar todos os segredos para os ju-
rados antes da hora, juro que não entendo.
— Tem gente que ganha carnavais assim.
— Eu quero o show, a parte da politica fica com você Sergio.
Sergio estava melhor, viu João sair com Gabriel, e olha para a
entrada, Pietro entra e olha Sergio.
— Podemos conversar Sergio?
— Senta.
— Mandaram tentar conversar com você.
— Mandaram?
— Sabe que eles estão preocupados.
— Eles?
— Sabe quem.
— Sou péssimo adivinho.
329
— Mandaram lhe oferecer dois milhões para começar atrapa-
lhar, apenas atrapalhar.
Sergio olha serio para Pietro e fala alto.
— Acho que não entendeu Pietro, eu faço pela minha escola,
porque amo ela, sou da comunidade, não porque corre dinheiro,
estamos construindo uma família, não uma criação de urubus.
— Pensa.
— Some, pois sabe que nesta escola, se me perguntarem,
nunca mais põem o pé, espero que o dinheiro deles, dure uma vida
José Pedro Martins. – Sergio chamando o rapaz pelo nome de ba-
tismo, para dizer, nem nome você tem.
Sergio se levantou e encara firme Pietro.
— E se me envenenarem de novo, eu vou levar para o pesso-
al, quem sabe não seja ameaça de fogo, mas dai é na véspera do
desfile, não com tempo de reconstrução.
Pietro olha Sergio sair e olha todos lhe olhando e sai, um ra-
paz para na porta e fala.
— Ele topou?
— Não, ficou uma fera.
— Disse que era uma péssima ideia, tem gente que acredita
na festa, na concorrência limpa.
— Besteira.
Sergio pega o carro e vai para Nilópolis.
João olha o agito dos fiscais de transito, toda vez que iriam
movimentar algo grande nas avenidas, era aquele agito.
Ele entra e olha para Silvino.
— Precisamos conversar.
— Problemas?
— Pietro passou ai sedo e me ofereceu dois milhões para
atrapalhar.
— E vai pular fora?
— Tá brincando Alemão, eu não perdi dois meses de sono pa-
ra vender-me.
João olha ele desconfiado.
— Certo, pensei, mas não entendi, eles precisam nos parar
por quê?
— Acha que não é o carnaval?
330
— Acho que tem mais coisa ai.
O telefone de João toca e ele atende.
— Fala Franco.
— Acabam de tirar Sergio do serio, aquele Pietro foi com a
maior cara de pau, oferecer dinheiro para ele lá.
— Franco, ele falou nomes, ou apenas ofereceu, pois alguém
me disse – João ouvia um policial a cabeça – que todas as ofertas de
retalhamento e de dinheiro vieram por Pietro, que a tentativa de
me prender, Pietro, de envenenamento, Pietro, em momento algum
alguém falou das sabotagem falou com Horta.
— Acha que tem mais coisa ai?
— Pensa, se houver uma sabotagem na Tijucas, todos olharão
para quem?
— Certo, pode ser outra escola, ou outro motivo.
— Sim, e dois milhões não se tira da cartola, são vinte mil no-
tas de 100, não cabe em uma cartola, ou como alguns falam, não se
esconde, tem coisa ai, não é dinheiro oficial.
— E pensou em que?
— Conseguir um financiamento a mais para a escola, que fos-
se para por gente a parede, podem falar mal, mas pensem antes de
falar.
— Não entendi.
— Não consegui que Gabriel convencesse ainda o investidor,
mas se entrar, vai ser ainda este mês.
— Quanto seria?
— Este é o problema, não é muito em valor, é apenas para di-
zer, temos patrocínio até deles.
— Não entendi.
— Exercito Nacional Franco, apenas isto, Nacionalismo reme-
te a Exercito.
— Tá maluco.
— Quer perder alguém porque alguém tá nos cercando?
— Entendi, uma coisa é dizer, temos apoio de um bicheiro,
outra, financiamento do Exercito, mas seria trocado.
— Sim, mas é marketing e apoio, não dinheiro.
— Vou ter de falar com Roberto.

331
— Gabriel falou com ele hoje cedo, acho que ele não falou
nada ainda por não ser oficial ainda.
Franco respira e fala.
— Vou tranquilizar Sergio.
— Manda ele focar, pois eles estão bem tentando nos desfo-
car, e pensa, pode ser outra coisa.
— Outra?
— Eles oferecem, quando um de nós vai receber, é preso por
isto, é crime, sabe disto.
— Ai seria armação.
— Desculpa, eu sou alguém que atrai tanto os ódios como as
desgraças, mas não me nego a defender minha posição e inverter a
dos demais.
Silvino ouviu e pergunta.
— Acha que é armação?
— Acho, então vamos voltar ao foco, transporte da alegoria 2
para a cidade do samba.
Os rapazes terminam de cobrir, e enquanto aquela ia a Cida-
de do Samba, João olha as armações que pediu para fazerem no dia
anterior, começa a encaixar elas, soldando e parafusando, aquilo
tinha de ser firme, faz uma lateral inteira, faz a segunda, faz a parte
da frente e a primeira do meio, vai ao carro e prende o sistema hi-
dráulico nas 4 colunas, dois sentido nas colunas da frente, apenas
lateral nas do fundo do carro, o carro estava ao lado, mas todo re-
baixado, altura de 5 metros, 5 empilhadeiras, e levantam lentamen-
te a estrutura, João parafusa o primeiro lado enquanto Paulinho o
segundo, estavam prendendo no sistema hidráulico, não na posição
final, aquele sistema ficaria abaixo do existente no transporte.
Prendem o outro lado, o a frente, o do fundo foi parafusado nos
dois lados, não nas colunas do carro, depois soldado.
João desce, olha para a posição, pega o sistema de pressão, e
o grupo olha aquilo sair da parte de baixo ir a posição e a trava de
segurança se esticar e travar ele a frente e ao lado, depois ao fundo,
Paulinho olha a trava e fala.
— Acha que aguenta?
— Vamos terminar e depois vamos por peso sobre ele.

332
Um rapaz chega e pede para falar com João, ele olha para a
região e separa um pedaço, e os rapazes começam a por um conjun-
to inteiro de injeção de plásticos, um que abrangesse três materiais,
Polietileno (PE), Polipropileno (PP), Poliestireno (PS).
João volta ao carro e começa a fazer a parte dos fundos, Silvi-
no para ao lado de Paulinho e pergunta.
— O que ele está fazendo?
— O mais trabalhoso, mas menos desgastante em transporte,
mais pesado, mas menos perigoso, esta estrutura não tem o peso
da anterior, mas a anterior aguenta pessoas, esta, apenas a repre-
sentação de algo correndo, luz e plástico, ainda pensando se faze-
mos ele inflar ou correr, ele inflar e desinflar é menos trabalhoso,
mas qualquer parte que não infle se vê de longe.
— E se não correr se para o todo.
— Ele está fazendo a montagem, depois vai testar na parte
baixa, e depois erguida.
— Porque erguida.
— A pressão dos canos esticados é diferente deles enrolados,
menor esticados do que enrolados, então o que pode parecer uma
pressão boa em baixo, pode explodir em cima.
Silvino sorri e fala.
— Pelo jeito vou dormir em Março.
— Todos nós, acho que dá para comemorar a passagem de
ano, depois, trabalho sequencial, por 2 meses inteiros.
— E porque ele não deixou isto para o ano que vem?
— Ele precisa de 60 dias de trabalho, o mês de fevereiro tem
28. – Paulinho.
Rodney olha para o braço e olha Jesse, ele fixa dois braços, a
mesa com a distancia dos ombros e começa a fazer o teste e olha os
fios a mão, senta e tenta cada um dos fios, viu que era diferente e
viu Jesse chegar a ele e falar.
— Vamos fazer diferente.
Ele pega uma luva dos rapazes da soldagem e chega perto e
mede o movimento e corta na altura do dedão esticado e fala.
Meche o dedão.
Rodney mexeu e Jesse cortou mais 12 milímetros e prendeu
de novo.
333
— Faz de novo.
Rodney sorri e viu Jesse prender cada dedo no dedo corres-
pondente da luva e fala.
— E se criássemos uma camiseta?
— Não entendi.
Jesse foi ao fundo e pegou uma camiseta do pessoal da co-
missão do ano anterior, joga para Rodney e fala.
— Coloca.
Rodney olhou intrigado, ele sempre trabalhava sem camiseta,
não gostava de passar calor.
Veste e ouve Jesse falar.
— Põem as duas luvas.
Jesse começa a ajeitar os elásticos em cada dedo, depois esti-
cou um entre o cotovelo e um entre o ombro, três para os movi-
mentos para cima e para baixo da mão inteira, e fez Rodney sentado
abaixo da mesa, fazer os movimentos e foi verificando as medidas e
quando ele falou.
— Vai ter de usar antitranspirante Rodney, os demais que vão
usar esta camiseta.
Rodney olhou revoltado, mas pensa na possibilidade e garga-
lha na sequencia.
— Agora estica a mão para frente.
Rodney esticou e viu as mãos esticarem para frente.
— Palmas para cima.
— Palmas para baixo?
— Palmas?
—Meche os braços no ar como se tivesse dançando.
Rodney terminou e olha para trás, todos estavam olhando e
Jesse fala.
— Olha que esta parte foi mais fácil do que pensamos.
Um rapaz olha para Jesse e pergunta.
— O que pretende com isto.
Jesse ainda estava na duvida, mas olha para Rodney que fala.
— Faz lá os movimentos, quero ver.
Rodney tira a camiseta, e Jesse chega a mesa, olha a distancia
de ombros e fala.
— Calma, ainda quero acertar algumas coisas.
334
— Mas...
Jesse chega perto e fala.
— Muita gente olhando.
Rodney olha o pessoal e fala.
— Voltando ao trabalho pessoal, temos muito trabalho até o
carnaval.
Rodney viu Jesse fazer a estrutura externa dos braços, ficou
olhando ele por aquela malha sobre e falou.
— Vai precisar de mais estrutura.
— Sim, talvez para isto seja aquela tela mais rígida no fundo.
– Jesse que pega um pedaço e cortou uma parte, a segunda e co-
meça a soldar a toda volta, ele olha ao fundo os rapazes montando
a estrutura das pernas, e do corpo e fala que teriam de reforçar, os
rapazes não entenderam, mas o vestir da mão com uma luva daque-
le material metálico, fez Jesse olhar para Rodney e fala.
— Pede para a secretaria elástico de dois centímetros, pede
primeiro um rolo.
— Consigo na costura.
— Melhor.
Rodney saiu e Jesse tenta soldar algo naquele material, con-
segue prender um botão metálico e começa por eles na sequencia,
ele cortara como se fosse um cone, para dispor no lugar, mas viu
que ele era mole de mais, colocou mais estrutura no braço, mas ele
tivera uma ideia, e isto era perigoso.
Todos faziam as coisas a volta, mais de 40 pessoas, cada um
fazendo algo, mas era evidente que Rodney e Jesse estavam criando
algo e os demais estavam reproduzindo o que eles pediram, 22 de-
les eram rostos, a armação da cabeça, Jesse olha o material e pensa
se aquilo agiria como cabelo, corta uma fibra bem fina, solda as
pontas para não desfiar, pega uma placa ao fundo e solda uns 20
fios e olha para Silva no fundo e pergunta.
— Acha que os cabelos lisos ficariam com movimento assim?
O rapaz chega perto e fala.
— Teria de fazer isto numa cabeça inteira para saber.
— Depois que fizer a base do rosto, tenta.
— De longe pode ficar bem realista.

335
Jesse olha Rodney voltar e começa a fazer os furos no elástico
e foi prendendo lateralmente.
— Qual a ideia Jesse? – Rodney.
— Se for para desfazer o efeito do material, não precisamos
dele, então pensei em tentar vestir o braço com isto, o elástico ser-
vindo como estrutural de circunferência, mas braços retos, é fácil,
este tem articulação.
— Certo, quer testar com a tela e sem a tela, é isto?
— Sim, as pernas e corpo, são mais estáticas, mas os braços e
tronco, precisa de movimento.
Jessé termina de montar dois braços e colocou um em cada
lado, e Rodney viu ele fazer por a armação dos ombros aquele lugar
e soldar.
Coloca sobre a mesa, pega uma armação de barriga, maior
que ele, toda esta parte iria encaixar por cima da estrutura que eles
tinham encostado ao fundo, Jesse encaixa no lugar, testa a porti-
nhola aos fundos e começa a medir o tronco do rapaz, e o mesmo
que fez para o braço, mas agora para vestir o tronco, era o projeto
de uma camiseta de gola alta, Jesse já tinha trabalhado como costu-
reiro em Parintins, antes de ir para os movimentos.
Ele coloca no tecido o elástico, em 6 alturas, com um fio de
aço foi usando ele como fio, costurando as laterais da camiseta e o
ombro, ele termina e obvio que alguns olharam quando ele coloca
aquela camiseta de uma malha de aço sobre a estrutura, olha para o
rapaz a baixo e fala.
— Traz a solda manual, o cortador de ferro e os botões.
Jesse começa a abrir um buraco onde era a parte da gaiola in-
terna, soldou a parte de cima, a parte de baixo, soldou botões e a
toda volta daquela armação de porta, e esticou o material o pren-
dendo na porta, pediu ajuda de Rodney e colocam os braços no
lugar, Jessé entra e fala.
— O problema Rodney, é que ele tinha razão, se não por nada
aqui dentro que me situe, eu não vou nem saber se está funcionan-
do.
— Acha que vai funcionar? – Rodney.
Jesse sorri e veste os braços, viu que com o elástico não pre-
cisaria por toda a estrutura interna de ferro e dava mais maleabili-
336
dade, retira a que cobrira e alguns pararam de fazer o que ele pedi-
ra antes, e veem ele tirar a solda de desprender aquela malha mais
rígida.
— Mais leve assim. – Rodney.
Jesse pega a armação abaixo da barriga, um quadril, ele olha
o sistema alto dele e baixo, sistema de rolamento, estranho como
apenas em armação, era leve, põem ao lado da mesa, mas a estru-
tura depois de vestida, já tinha peso.
Ele pede ajuda a Rodney e mais um e coloca a parte do dorço
sobre o quadril, ficava visível pelos quadris que metade das escultu-
ras eram de homens e metade de mulheres.
Jesse meche a estrutura lateralmente e ela faz um jogo de
corpo, olha um rapaz ao fundo e fala.
— Nos ajuda a por uma das armações ao lado da mesa.
O rapaz foi ao fundo, pegou a empilhadeira, ergueu pela par-
te da estrutura onde ficaria a pessoa e talvez somente nesta hora
alguns entenderam a ideia maluca que era aquilo.
Jesse prendeu uma corda por dentro da armação agora fixa
do ombro ao corpo, a parte de cima subiu, o quadril entrou primei-
ro, pois passava para parte baixa, depois ele prendeu os ombros na
parte alta, olha para os encaches e soube que errou no projeto e
fala para Rodney.
— Vou mudar o encaixe.
— Não vai segurar, é isto?
— Sim, mas vou também montar uma calça com este materi-
al, acho que posso me acostumar a mexer com isto.
— Parecia receoso antes.
— Sabe que estamos todos acelerados.
— O maluco do Alemão está somando uma estrutura a mais
naquele carro abre alas.
Jesse olha para ele e pergunta.
— Ele nos auxiliaria na parte da câmera, eu não entendo nada
de eletrônica.
— Pergunto para ele.
Jesse foi cortar a calça e um dos rapazes perguntou.
— O que fazemos com as pernas?

337
— Deixa eu testar, para não perdermos tempo, se o protótipo
estiver pronto, aceleramos esta parte.
— Acha que conseguimos?
— Metade do trabalho é esta parte, as cabeças maiores ao
fundo, vão começar a ser montadas semana que vem.
O rapaz entendeu que estavam acelerando pois tinha mais.
Jesse soltou a parte baixa que prendia na parte alta, girava,
mas não ficaria suspensa, corta um pedaço, refaz a estrutura, com
polias invertidas, torcendo a parte baixa para cima.
Com a empilhadeira tira tudo e olha a armação, tinha 22 delas
ali e começava a odiar elas.
A forma que ele olhou o rapaz entendeu.
— Não temos como por elas depois, é o que está pensando. –
O rapaz ao lado.
— Sim, ela é essencial para a dinâmica do desfile, ela é uma
bosta para o que precisamos montar, mas deixa eu pensar.
Ele pega uma e corta um dos lados, abrindo um pouco, encai-
xou no lugar, eles dividiram a peça em partes, para facilitar, ele pe-
ga a mesma, pensa em mexer no prospecto, mas lembrou que al-
guns não iriam a frente e sim as costas dos carros, ele monta uma
calça, com as laterais abertas, coloca no lugar, coloca a parte as
pernas que iam até acima da virilha, encaixa ela frente na armação,
olha para a parte do quadril, encaixa na região, ali o movimento
estava certo, mas teve de refazer no lugar a canaleta que continha
as esferas de metal, para elas não escorrerem todas para fora, en-
caixa e ergue a calça, começa a costura das laterais, e olha que os
pés teriam de vestir apenas por cima, o rapaz sorri, Jesse estava
tentando fazer funcionar, ele olha para o quadril, ele sai dali e vai ao
barracão de costura, pede um dos manequins emprestado, a moça
olha ele desconfiado, mas libera, ele atravessa o barracão com
aquele manequim nos ombros, João olha ele e viu que Rodney esta-
va na parte baixa olhando para ele, mas terminaria de prender a
parte dos fundos antes de ir conversar.
Jesse coloca o manequim na posição que um rapaz estaria,
coloca a camiseta no rapaz, e olha para a distancia, ele estava sobre
a mesa, numa escada, mexendo dentro daquela gaiola a 5 metros
do chão, ele mexe a camiseta e o corpo inverte para um lado, pou-
338
co, meche o outro lado, ele meche para o lado inverso, sorri, pois
era o que ele queria, pequenos movimentos de um lado, fariam o
boneco pesado mexer, e o que gerava movimento para um lado,
servia para segurar o outro lado.
Jesse levanta um pouco o ombro, vendo a parte de cima su-
bir, ele ergue acima da altura da estrutura, coloca uma cinta do
tecido, na parte do copo abaixo, e uma acima, desce a abaixo até a
altura da emenda na virilha, e desce a parte alta, pela primeira vez
ele solda a parte no contesto, mesmo sabendo que a cabeça ainda
viria, mas aquela parte que dava o movimento do ombro, precisava
estar fixa para testar o movimento do ombro, ele não tentou erguer
os ombros antes, com medo de desequilibrar tudo.
Ele desse o tecido colocado acima, agora para a posição e co-
bre a parte alta da emenda, pele, segura movimentos, isto que ele
estava pensando, segurar no lugar e não permitir além do que um
movimento real permitisse.
Quando ele ajeita aquilo, viu João entrar com Rodney, viu o
sorriso de João, olha as cabeças ao fundo, mas ficou olhando o ser
em si, sem cabeça e ouviu Rodney falar.
— Jesse quer ajuda.
João olha para Jesse e pergunta.
— O que o preocupa.
— Fechado, o rapaz não vê nada, agora entendi a ideia de um
ventilador, mas acho que se vai dispor de bateria e comando, a hora
de dizer onde, é agora.
João sorriu e falou olhando em volta.
— Quando me falaram que existiam seres sobrenaturais que
transformavam o que falávamos em poucos dias em realidade, olha
que duvidei.
Jesse sorriu, viu o rapaz, ainda parecia frágil subir, olha para o
lugar, João entrou no lugar sozinho com aquele manequim, ficou
escuro, claustrofóbico, realmente, impossível de ver algo.
Ele abre a porta e fala.
— As vezes os carnavalescos tem ideias estranhas.
— Viu o problema? – Jesse.

339
— Triplo, iluminação, ventilação, controles eficientes, mas
ainda teremos após isto, de testar de quem poremos ai, consegue
ficar ai uma hora, sem reclamar.
— Claustrofobia? – Jesse.
— Sim, vou ligar para Dolores, vou pedir uma roupa masculi-
na, ela precisa me dar alguns pontos, e um deles, a porta as costas,
o segundo, vi que as calças abraçaram a armação, as vezes pensei
que teria de tirar a parte alta, ou parafusar ela, mas são duas coisas
que não gosto no carnaval, parafusos e velcros, sempre dão pro-
blema em desfiles.
João se afasta e liga para Gabriel e pergunta se daria para
ajudar Dolores a vir ao barracão e se tivesse uma roupa cortada,
masculina, trouxesse.
Rodney olha Jesse e fala.
— Achou alguém que concorda com você.
Jesse olha Rodney e responde.
— Velcro é coisa de preguiçoso, e quem tem preguiça, não
serve para o carnaval.
Joao caminhou até o estoque, pegou 4 câmeras, ainda era
apenas teste, 4 visores, duas baterias, e volta para o lugar, pegou os
fios, prendeu nas câmeras, colocou na altura do peito, como era
maleável, passou na estrutura, dava para fazer entrar luz de outra
forma, coloca uma segunda no ombro direito, um nas costas do
outro lado, e passou um fio para cima, deixando solto com a câmera
pendurada.
Ele olha Jesse e fala.
— Sistema fácil cada monitor tem uma saída de dois fios, es-
tes fios vão para a bateria, a câmera, tem dois fios azuis, estes estão
com um plug de P2 – João mostra o plug – e dois fios a mais verme-
lho e preto, positivo no vermelho, negativo no preto.
João ligou os fios, e ajustou na gaiola, que era toda vazada,
dava para ver o piso e os ferros a todo lado, mas o tecido de metal
fechava tudo mais a frente, ele liga o primeiro, o segundo, e o ter-
ceiro.
— O quarto, não sei se colocaremos no chapéu ou em um
brinco, mas é que a cabeça não está ali ainda.
Jesse olha a imagem frontal surgir.
340
— Mas e a roupa?
— Todas as roupas, escolhemos as que tinham botões, pois
precisávamos esconder a câmera em algum lugar, talvez venha a
por um transmissor no sistema, mas ai é para o motorista do carro
abaixo de tudo, ter a visão de como as coisas estão.
João saiu, Jesse olha os comandos, tira a camiseta do mane-
quim e coloca a mesma, acerta o prender dos cabos, e fala olhando
para o João.
— Vê se serve de fora.
Jesse olha as câmeras, olha as mãos pelas duas câmeras fron-
tais e estica os dedos, recolhe um pouco a mão, e viu os movimen-
tos ficarem mais exatos, dobra os braços, estica eles para cima, para
a frente, olha para o lado e todos viram o imenso boneco inverter
para o lado, e bater palmas, meio desajeitado, mas fez, deu uma
mexida no corpo e Rodney pergunta.
— Continuamos?
— Lógico, pensei que demoraria mais.
— Todos pensamos, mas Jesse acordou com uma ideia, e co-
meçamos o apoiar, ele raramente começa para valer antes de ver
que a ideia é boa.
Gabriel entrou ao fundo e ao lado entrou Dolores.
Ela olha aquela armação e fala.
— Isto que vestiremos?
João a olha e fala.
— Temos algumas coisas a ajeitar aqui e preciso que saiba o
que é Dolores.
— Problemas?
— As calças tem de ser montadas no ser.
— Poderíamos usar velcro de ponta a ponta.
— De forma alguma, não quero nossa estatua ficando sem
calça no meio da avenida Dolores.
Gabriel sorriu.
— Certo, o que mais.
Ele sobe na mesa e fala fazendo sinal para ela subir.
— Vem aqui que parte do problema é que dentro de cada um
destes, tem alguém, então temos uma porta no fundo de cada esta-
tua.
341
Ela olha para Gabriel e fala.
— Pega aquele traje no carro para nós.
Gabriel saiu e Dolores perguntou.
— Pelo jeito é serio que vou vestir gigantes.
— Capricha, se funcionar, pode ser das coisas mais comenta-
das do carnaval nacional. – João.
— E porque seria?
João não respondeu, mas desceu, olha a senhora medir sobre
a mesa a estatua, ela não conseguiu medir os ombros.
Rodney encostou uma escada de mediu para ela, e ela foi
anotando.
Ela olha Rodnei.
— Todos do mesmo tamanho?
— Apenas as moças tem busto, mas não terminamos nenhu-
ma ainda.
— Tenho de saber quanto tiver a medida.
— Na segunda, 31 devemos ter os dois modelos em tamanho
natural.
Ela toca o material e fala.
— Não que não fique bonito assim.
Gabriel voltou, a senhora viu que sem cabeça foi fácil, mas se
estivesse com cabeça, teria de pensar como por.
João olha que era a veste de Bilac, põem uma escada a frente,
acha altura que estava a câmera e fala.
— Já vou danificar a roupa.
— Acha que ficou bom?
— Sim acha que consegue costurar, as calças vão para o cor-
po e depois vamos passar o impermeabilizante e proteger com plás-
tico toda a roupa.
— E porque vai furar a roupa.
— Quem estiver lá dentro tem de enxergar.
Ela viu ele fazer um buraco que na imensidão do negocio nem
aparecia no ombro, depois no outro e fixar as câmeras.
Ele olha para o rapaz ao fundo e pergunta.
— Qual vai ser Bilac?
O rapaz aponta um a ponta, já com um tecido, que parecia
pele, olha para Jesse que entendeu que a roupa era de Bilac, ele vai
342
a ponta e pega a cabeça põem uma estrutura sobre a empilhadeira
e fala para o rapaz erguer ele. A seis metros o rapaz pega a cabeça
com calma e coloca no lugar, ainda estava apenas com a camada de
espuma naquela cor de pele, os olhos vazados, ele olha Silva ao
fundo e fala.
— Me joga dois glóbulos.
O rapaz pega dois, pega um por um e joga para cima.
Ele olha João e pergunta.
— Consegue alcançar a câmera por dentro? – João sobre para
a parte interna, pega uma haste de ferro, prende o fio e ergue pela
parte interna, desviando algumas coisas.
João viu que a cabeça em si, tinha algum elásticos que desci-
am pelo pescoço, e viu mais dois descerem os olhos.
O rosto tinha o local dos glóbulos.
Dolores pega a maquina portátil e começa a fechar o lado di-
reito da calça.
Jesse acabou de fixar o olho direito, ele faz um pequeno furo
na marca da dobra do nariz e passa a câmera, após isto começa a
fixar o segundo olho.
Dolores começa a fechar a segunda perna, e João começa a
fixar os fios da quarta câmera.
Rodney foi a parte interna e pega o sapato, era imenso, mas
apenas a cobertura, eles apenas achavam que iria demorar mais
para chegar a isto.
Ele passa a cola e olha para cima.
Dolores encosta a cadeira e aquele blazer foi ajeitado de for-
ma a ficar sobre as junções.
Jesse na parte alta vira para Silva.
— Me desse, não dá para jogar a armação do óculos.
Joao olha pela câmera, coloca a segunda bateria e fixa o
transmissor e o ventilador.
Quando Jesse colocou o óculos ali, João entendeu que era
onde o rapaz poria a câmera, pois ele abre um pequeno buraco,
pega a cola e sobe ao local.
Ele coloca o óculo, prende a câmera e faz sinal para descer,
Rodney entra na gaiola de comando, olha para a parede e prendeu
os sistemas laterais dos olhos, nos dos ombros da camiseta, pesco-
343
ço no erguer das mãos, então braços para baixo, cabeça para baixo,
braços para cima, cabeça para cima.
Quando Dolores começa a fizer na borda o tecido, viu eu já
tinha os botões ali, então fez a costura das pregas, as abriu e como
um tecido com lycra foi esticando um pouco e prendendo, faz o
mesmo em toda volta da costura.
Rodney foi colocando no lugar e João viu todos parados a
olhar o Bilac de oito metros.
Dolores olha todos olhando a escultura e olha de cima da me-
sa olhando João.
— Esta vai onde?
— Naquele tripé como um a base sendo a Fortaleza da Laje,
com um Serpolett destruído na arvore e um espaço para um grande
manuscrito.
— Não entendi. – Gabriel.
— O escrito será o Hino da Bandeira, mas rege a lenda, que
Bilac destruiu um Serpolett na estrada da Tijucas, sendo o primeiro
acidente automobilístico registrado no Brasil, e a Fortaleza da Laje,
onde foi preso por fazer oposição a Marechal Floriano.
— Então o que falta naquele tripé?
— O escrito e o Bilac, mas vamos fixar o Bilac lá e fica por sua
conta Gabriel, pedir para Franco selecionar 22 rapazes na comuni-
dade, que não tenham claustrofobia, que tenham aproximadamen-
te um metro de setenta, para aprenderem como serão os movimen-
tos e para ver se a pessoa resiste lá dentro fechado quase duas ho-
ras.
— Tem de saber se o cara não tem claustrofobia, na pratica?
— Sim, mas também tem de gostar de cumprimentar as pes-
soas.
Dolores olha o ser e fala.
— Está falando serio que isto tem movimento?
— Sim. – Jesse.
— Fixou os ombros Jesse? – João.
— Sim.
— Acha que alguém consegue se segurar naquele lugar se in-
clinar para frente?

344
— Ainda não, mas estávamos pensando no monstrinho ai,
agora sabemos que podemos produzir as pernas, os braços, as
mãos, vestir o corpo e o que será demorado, os rostos.
João toca no sistema baixo, Jesse sorri, pois viu a estatua su-
bir alguns centímetros e pergunta.
— Tinha rodas?
— Não falei que tinha? – João olhando Rodney.
Ele balançou a cabeça e João fala.
— Vamos ver se conseguimos inclinar isto a frente.
Estranho como uma estatua de 8 metros parece até pequena
naquele barracão, mas obvio, alguém de oito metros andando,
mesmo duro chama a atenção de todos, ele chega ao carro e faz
sinal para Rodney;
— Põem uma mesa aqui, vamos inclinar para frente, dai já vi
que o óculos vai cair, vamos ter de fixar.
— Espera um pouco. – Rodney.
Ele pega uma cola e prende o óculos na orelha dos dois lados,
Gabriel puxou a mesa do fundo, Dolores colocou uma placa de iso-
por ao chão no lugar, e com a ajuda dos rapazes eles começam a
inclinar a escultura, João encolhe as rodas, deitam ela de barriga na
mesa, João aproxima o tripé, os parafusos da base que daria leveza
e movimento lateral para a escultura, ele prende os parafusos, e
fala.
— Soldamos antes de ir a Sapucaí – João pega um controle e a
base lentamente deixa a escultura de pé, e todos olham ela ficar a
uns dois metros de altura.
Ricardo chegava naquele momento e olhou o boneco e falou.
— Mais coisas?
— Ainda testando.
Ele abaixa a escultura, que volta para a posição de deitada,
mas agora sobre uma estrutura que a deixava o nariz da estatua a
um metro do chão e coloca uma escada, olha para os comandos e
solda eles ao fundo, mede e coloca duas travessas na altura das
pernas, duas na altura da barriga, e duas acima, na altura da cabeça.
Ele termina se soldar e olha para Jesse.
— Quer mostrar a sua arte?

345
Jesse sorri e entra, viu que agora tinha onde pisar, muda de
sentido, fecha a porta as costas, aciona os comandos, viu o ventila-
dor ligar também.
João aciona o comando e rapaz fica de pé, Jesse começa a
olhar pelos comandos e começa a fazer os movimentos, olha para
baixo, bate palmas, olha para os lados, para o outro lado, e dá uma
sambada, e Ricardo olha todo barracão parar naquela imagem e
João viu a lagrima nos olhos de Dolores, ela sorria e chorava, estra-
nha isto.
Ele para o ser de pé, pega uma escada e encosta no fundo,
abre a porta e Jesse saiu de lá, deixando ali, o ser de pé.
Ricardo olha que todos os tripés tinham uma parte a frente, e
entendeu, cada um deles teria uma escultura daquelas.
Silvino entendeu porque o rapaz foi falar com ele, estavam
andando em todos os sentidos, não era uma escultura normal, era
uma com vida, movimentos todos manuais, toda uma expressão.
João saiba que a parte do escrito seria posto duas semanas
antes do desfile, pois não queriam sujar, ele olha para Dolores e
fala.
— Tudo bem?
— Ficou lindo, não pensei em algo com tanto destaque.
— Vamos fazer uma coisa, faz mais uma destas, não sei se
não teremos de colocar outro, pois este vamos usar para treinar as
pessoas.
— Certo, vou acelerar onde dá, acho melhor fazer como fize-
mos, as costuras laterais aqui, e as costas, pois vai ter diferença em
cada um deles.
— Provavelmente, mas semana que vem teremos as medidas
exatas das moças, talvez tenhamos de fazer armações de metal para
deixar a roupa sem a sensação de estranhas.
Franco chega e viu todos olhando aquela estatua e fala.
— Podemos conversar João.
João olha para o senhor e faz que sim com a cabeça e começa
a se afastar, Rodney volta para seu atelier e Jesse fala.
— Vamos fazer a nossa parte meninos, vamos fazer naqueles
moldes todos os braços masculinos, e vou fazer o primeiro modelo
feminino.
346
Rodney olha Jesse e fala.
— O que achou?
— Daria para fazer melhor, mas o desafio deste ano, por es-
tas esculturas lá.
— Viu defeitos?
— Até você viu, João viu, mas deixa estes defeitos para o ano
que vem, coordena o pessoal das mãos e braços, e começa a pensar
nos pontos a cabeça para a câmera, não é difícil fazer, mas pelo
jeito o rapaz escolheu algo independente, algo que se pifar um te-
mos uma segunda.
— Certo, vamos acelerar, pensei em um protótipo no fim de
duas semanas.
— Ele ajuda com a ideia, sabe disto, aqueles músculos e arti-
culações das mãos, teríamos dias para saber onde por cada coisa.
João olha Franco que para e fala.
— Acha bom por o exercito nisto?
— Não.
— Mas então porque falou.
— Algo está errado, alguém ligou?
— O delegado Douglas, querendo saber porque estávamos
colocando o exercito nisto.
João sorriu e pergunta.
— A pergunta Franco, como ele saberia que colocamos o
exercito nisto?
— Pelo exercito?
— Não entramos em contato, era um teste, ele falou o que
exatamente?
— Que um amigo do exercito falou que Gabriel estava ten-
tando financiamento e apoio do exercito, e me perguntou porque
por o exercito nisto?
— Ele tem medo do exercito?
— Houveram mortes dos rapazes do exercito que atribuem a
ele, não acredite na aparência de inocente daquele rapaz.
— Ou o meu telefone ou o da casa do Roberto está grampea-
da Franco, pela frase, diria que a cobertura de Roberto ainda tem
escutas.
— E vai fazer o que?
347
— Continuar a fazer os carros, não é hora de ficar na intriga
Franco, é hora de treino no barracão, viu aquela escultura que dei-
xamos de pé?
— Movimentos interessantes, para isto queria Rodney e Jes-
se?
— Sim, mas vou precisar de 22 pessoas, treinando pelo me-
nos uma hora lá dentro, e mais um tempo parado, para ver se não
tem claustrofobia.
— Certo, quer gente focada e treinando, podemos usar aque-
le?
— Sim, aquele é o primeiro que vai surgir na avenida, então
obvio, será o que mais se verá aqui, se alguém perguntar, é parte do
enredo, sabe que blog precisa de noticia.
— Certo, mas vai ficar ali?
— Não, aquele vai começar a treinar aqui, mas vai para a ci-
dade do samba quando tiver espaço.
— Por quê?
— Lá estarão todas as esculturas com movimento como aque-
la, três carros e 3 tripés.
João volta ao carro que estava fazendo e começa a por aquela
estrutura de tela na parte que ele ergueu, Paulinho olha e pergunta
de baixo.
— Toda a volta?
— Deixa a parte alta ainda sem.
— Vai por algo para dentro por cima?
— Faz os três espaços, vamos começar também no resto das
partes erguidas, apenas sabendo que algumas tem de entrar nas
outras, então começamos pelas parte altas e a base de quatro me-
tros.
Paulinho organizou e Silvino viu que agora viria o acabamen-
to, viu eles começarem a por aquela tela a toda estrutura, era a
hora que Silvino entendia que João não era apenas o designer do
carro, ele sabia fazer, Franco para a frente da estatua e olha para
Gabriel.
— Acha que ele conseguiu o que queria?
— O pessoal tem de correr para fazer o resto, ele colocou a
ordem das coisas, então Dolores começou pela roupa do Bilac, o
348
aderecista pela cabeça de Bilac, parece tudo rápido, mas é que ele
programa as coisas, a segunda cabeça que vai ficar pronta é a de
Millôr, e a terceira a do seu irmão.
— Não entendi?
— Não adianta grandes escritores se não houver leitores, ele
vai por meu pai como alguém que lê a frase de Bilac "A Pátria não é
a raça, não e o meio, não é o conjunto de aparelhos econômicos e
políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.”, não consegui-
mos autorização da Wikipédia para usar o nome, então o carro terá
a frase de Bilac em uma tela como se ele tivesse lido isto na internet
e isto gerou parte do enredo.
— E o que ele está fazendo no carro ao fundo?
— Se ele começou a por as grades, sinal que ele vai começar a
por a fibra, para depois colocar as alegorias, como Franco falou, as
pessoas daquele carro estão começando a preparação física, mas
eles tem de terminar de demarcar os lugares, pelo jeito o rapaz vai
trabalhar todo fim de semana.
— Ele faz, faz, e parece que sempre tem coisas a fazer.
— Os rapazes dos painéis do carro dele, ainda precisam fazer
6 painéis, e ele definiu isto em Agosto.
— Todo mundo reclama dele sobrinho, ele coloca a colher em
tudo.
— Ele quer o melhor, sabe disto, este carro a frente, pode
não ser o mais alto, o mais comprido, mas é o maior carro que já
entrou naquela avenida tio.
— E o que ele somou ali?
— Não sei, ele geralmente monta e depois mostra, é como a
demonstração do Bilac dançando e chamando o povo ao aplauso.
— Os rapazes estão se superando.
— Sim, ouvi ele falar que era para tentar, se desse, fariam, se
não desse, tentariam da melhor forma possível.
— Acha que eles estão no prazo?
— Sabe que é sempre corrido tio.
João foi soldando, foi indo a frente, e olha para os rapazes.
— Sem preguiça, tudo bem soldado. – João vendo um acele-
rar para fazer mais rápido.
Paulinho olha para João e fala.
349
— Revisamos antes de por a fibra.
João chega ao fim do primeiro lado, como estavam fazendo
aquela parte, ele vai o fundo e pega uma sequencia de laminas de
ferro, 25 por 10 milímetros, começa a por ela de pé a uma distancia
da borda, mede 15 centímetros e põem outra paralela a aquela,
força e viu que ficou muito maleável, tira a solda, vai a parte da
ferragem e pega uma estrutural oca de 30 milímetros e soldou ela,
duas estruturas, coloca a lamina sobre ela e força, sorri, pois ficou
firme, como ele iria dar a volta no carro, ele também foi prendendo
por dentro da armação uma canaleta para fiação, e bases onde ele
queria por holofotes. Paulinho viu que ele estava fazendo uma es-
pécie de trilho, sobre a estrutura, evidente que ele queria algo, mas
não via o que ele estava fazendo internamente, teria de parar para
ver, João colocou também uma haste entre a base central e o topo,
fazendo um meio arco para cada lado, quando ele desce e pega uma
tela mais fina e leva para cima, Paulinho ficou curioso, mas continua
a soldar.
João olha do estremo do carro aquele trilho alto, as laterais
descendo em inclinação , a parte as fiações teria de passar antes de
por o acabamento.
Era perto da meia noite, somente Paulinho ainda estava li,
quando ele olha para o rapaz e pergunta.
— Acha que sou maluco?
— Está pensando em algo, e parece não saber se vai dar o
efeito.
— A ideia, passar os cabos da fiação, por a fibra de vidro, pin-
tar todo resto, menos aqui.
— O que fará ai?
João as vezes não sabia como explicar, ele começava a sair da
área de conforto, isto queria dizer, arriscar ou aprender rápido.
João sorriu e desceu, entra na sala dele, pega um motor, ele
tinha pequenas rodas, ele olha Paulinho e fala.
— Cortinas entendo, mas sistemas de ida e volta, não.
— E qual a ideia.
João pediu um momento, pegou algo para comer, começa a
montar aquele pequeno veiculo, tinha mais de 4 metros, mas com-

350
parado ao carro, pequeno, ele prende um tecido acima do carrinho,
e Paulo não entendeu.
Ele faz um segundo, pega algumas coisas e coloca em uma
mochila, olha para o rapaz e vai a frente da alegoria, faz sinal para
ele subir e sobem, ele coloca o mesmo no trilho e fala.
— Eu acho arriscado, e estou pensando, apenas isto. – Ele co-
loca ao piso, um pequeno ventilador, e Paulinho viu o tecido se er-
guer e como tinha a frente fechada, ele começa a se erguer e subir,
sem esforço.
— E sua duvida é a volta.
— A verdade é a engenharia disto, pois posso fazer ele voltar,
mas dispenderia de tempo e um caminho alternativo, já colocar um
a mais do lado, que a função da primeira dama fosse apenas acionar
uma alavanca que abre o passar dele e o ligar os ventiladores, pare-
ce mais rápido.
— E porque desta forma.
— Pensei se uso linhas de Led, ou holofotes, a vantagem do
Led é menos energia, mais fácil de trocar, e se colocar no lugar de
duas linhas, colocar 3, qualquer trecho que falhe, não fica tão visí-
vel.
— Algo a tentar, um sistema que iluminasse para cima, daria
ao carro uma linha de luz, mas na luz do sambódromo não sei se
ficaria visível.
— Nisto que digo, sou o novato mesmo.
— E não dorme?
— Pretendo trabalhar um pouco mais Paulinho, se quiser
descansa, não se resolve tudo no mesmo dia.
João viu o rapaz sair, o segurança olha para dentro, fecha e
João volta para cima, começa a passar a fiação alta, e deixar as pon-
tas para fora, pega a mascara, pega o produto para fibra de vidro, e
começa a por naquela inclinação, faz as duas voltas, já que era aco-
plado, e depois começa a prender na parte alta e na baixa, o poder
dar a volta com o material, permitia ele prender bem nos dois lados
altos, o que deixava bem esticado os trechos, faz a parte das colu-
nas, e cansado, sai pela porta da Santo Cristo e caminha até o hotel,
era perto das 3 da manha quando ele sobe.

351
Estranho tomar um banho e somente ai conseguir relaxar, a
cabeça estava a toda, o corpo acabado, ele deita e adormece, ele
queria terminar algo, mas sabia que cada dia iria mais fundo naqui-
lo, ele dorme não mais de duas horas, sente as energias dos seres
dentro dele, parecem o despertar, ele pega o notebook e começa a
fazer cálculos.
João vai a um banho novamente quando estava próximo das
7 da manha.

352
João desce para o café e viu
Sergio ali e pergunta.
— Como está?
— Você desconfiou de algo.
— Acredito que eu seja o
alvo, mas calma, ainda não sei se
é verdade.
Sergio olha as olheiras e fa-
la.
— Tem de se cuidar João.
João toma um café reforçado e olha Gabriel chegar e falar.
— O que aprontou ontem?
— Alguém reclamando?
— Algo sobre você ter estragado a alegoria um.
— Vou ver, estava dormindo quando sai de lá.
Gabriel viu que João não ficava nas discussões, não era que
ele não levava a serio, ele não ficava discutindo.
— Vai para lá? – Gabriel.
— Sim.
— Lhe dou uma carona.
João entra no barracão e olha todos olhando o abre alas, ele
sorri e olha para as placas que colocara, a que estava entre as duas
armações ficou, mas a do lado oposto, soltou, então estava tendida
para baixo, mas como uma cortina, ele olha ao longe, alguns olham
para ele, foi a parte interna e fez mais do preparo e entrou passan-
do mascar para todos, se eles iriam ficar olhando, que usassem
mascara.
Ele pega o fibra e começa a colocar naquela banheira quími-
ca, começa a passar na base do carro, a toda volta, ele não queria
discutir, todos olham como se João estivesse maluco, ele fecha o
primeiro lado, faz a frente, olha as colunas, ficaram boas, começa o
lado oposto, quando Silvino chegou para reclamar, viu que todos
estavam de mascara olhando João, obvio que foi ali para reclamar,
mas João sabia que a paz um dia terminaria.
353
Paulinho chega após, olha João lá e pensa se ele dormiu.
— Ele dormiu ai? – Para um dos rapazes.
— Silvino está reclamando daquela parte alta, que parece sol-
ta.
Paulinho olha dois rapazes e fala.
— Se vão apenas olhar, sumam, se vão ajudar, é agora meni-
nos.
João viu que Paulinho começou o lado oposto da parte de
traz, ele começa o fundo da parte frontal, era imensa mesmo.
João vendo que estavam fazendo o que ele faria, pega a em-
pilhadeira e olha para a fibra, olha que estava firme por cima, olha a
distancia para o outro lado, apenas descolou as duas armações e
desce aquela, que muda de posição, e ouviu um dos carrinhos que
estava encima despencar, sorri e fala.
— Opps...
Paulinho riu, nem ele se lembrou de tirar o carinho de cima,
estava no trilho, com o inverter, a parte do fundo ficou na posição
que João queria, ele passa uma camada da fibra e parafusa as duas
juntas, se tivesse na cura de 48 horas teria rasgado, como não fazia
6 horas, apenas dobrou, Silvino olhava revoltado, João não entendia
muito dessas coisas de politica de boa vizinhança, ele faz aquilo em
toda a volta baixa da frente, obvio que ficou visível o trilho superior,
olha as placas e começa usar aquilo que deveria ter colado, como
base para por a parte que estava agora para baixo, mas ele corta
uma boa parte dela, começa a por novamente todo aquele lado,
termina o que fez e foi para o meio do carro, onde haviam partes
ainda sem estrutura, e sem cobertura.
Perto das 10 horas ele olha que Silvino ainda estava com
aquela cara de bunda e pergunta.
— Quer falar algo Silvino?
— Porque desta coisa feita sobre todo o carro?
— Acho que não entendeu ainda, mas tudo bem.
João foi colocando as capsulas fora do carro, as numerando,
eram estruturas que giravam, hora a pessoa estava visível, hora
dentro da estrutura, elas tinham algumas alturas, mas todas elas
estavam apenas na estrutura, ele começa a por a fibra nelas, não
eras algo bonito, era algo para ser pratico, mas que obvio, todos
354
sairiam naquela sexta e voltariam dia dois, João estava tentando
avançar.
Paulinho terminou a volta e verificou como Joao corrigiu o
que tinha soltado, começa fazer o mesmo na parte de traz e pede
para tirarem as capsulas da parte de trás e sinalizar, que iriam trans-
formar aquilo em peças menos perigosas para uso.
João não ficou discutindo, muitos começam a fazer as partes
do dia, era um dia de pouco serviço para estes, não eram todos que
recebiam mensalmente, muitos eram por etapas, e uma estava
saindo pela porta naquele momento.
João liga os exaustores de teto, e o ar começa a circular, as
pessoas começam a sair, João olha e viu Silvino ainda parado ali.
— Porque não sabe reclamar para mim Silvino, sempre vai
acima, nunca para mim.
— As vezes você é insuportável, tomou minha equipe.
— Este carro é seu, algumas placas se soltarem, normal, dife-
rença de umidade e dilatação pelo calor fez o grampo soltar a placa,
mas é que eu esqueci de inverter ele, estava cansado, apenas isto.
— E nem discute?
— Fiz merda, conserto, antes de qualquer coisa, deveria ser a
regra, não ficar fofocando, mas sei que sou insuportável, sei que
todos estão cansados de mim, e são os mesmos que se eu for preso,
vão reclamar que não sabem o que fazer.
— Porque por no carro inteiro isto?
— Domingo já dá para passar a massa, segunda já dá para
passar a camada de Prime, vai estranhar o carro inteiro indo para o
cinza, antes de começar a ganhar cor.
— Vai pintar ele todo mesmo.
— Antes de começar a por as esculturas nos recintos, primei-
ro vamos por fibra em todas as cabines, depois em todas as arma-
ções que sobem e abaixam, somente ai, começamos a colocar a
fiação de chão, a iluminação nas colunas, os LED superiores e inferi-
ores, dai vem os acabamentos, esta parte vai demorar fevereiro
inteiro, então quando terminarmos fevereiro estará pronto para ir a
avenida, mas em meio a isto, as pessoas vão ensaiar, vamos tirar as
medidas delas para as fantasias, sei que poucos entenderam o que

355
será a encenação, mas é que algo de 3 minutos não é algo demora-
do.
— Esqueço que você não para, não por uma intriga, pode até
sair, mas não parar.
João olha Paulinho chegar ao lado e pergunta.
— Que cara é esta Silvino?
— Não viu aquela porcaria que estava, e esta coisa horrível
que estão deixando o carro que vou assinar.
— Para de frescura, ele saiu depois de mim, e eu sai já era
uma da manha.
— Por isto que atrasou?
Paulinho faz um sinal com um dedo e o senhor ficou olhando
aquilo espantado.
João sorriu, foi tirar as partes das esculturas, o carro fica com
varias estruturas aparentes a todo lado mas o prender da fibra, faci-
litaria os humanos, não as esculturas.
João entra embaixo do carro e começa a soldar as telas onde
poria a fibra, já deixando os corredores para o LED, ele passa a fia-
ção por baixo, deixando as pontas e as saídas, e sai para comer algo.
Franco olha para o carro e fala.
— E disseram que o carro estava pronto? – Franco olhando
Paulinho.
— Não, falamos que a parte hidráulica estava quase pronta,
agora vamos a carenagem baixa e estrutural, junto vamos erguer a
parte elétrica invisível e ajeitar as estruturas de iluminação.
— E qual a ideia ele?
— Pintar parte do carro dia 31 e primeiro, dai começamos a
repor as peças no dia dois e os ensaios começam.
— Ele quer dar a estrutura antes do ensaio?
— Ele viu que estavam achando pronto, e o carro estava todo
parado, o pessoal do isopor parece que isolou uma região ontem,
onde estava o carro dois e começaram a cortar e modelar, ali no
canto, dai com o isopor e as esculturas vivas isoladas, ele resolveu
começar a acelerar no que vai demorar mais.
O olhar de Franco foi a Silvino.
— Deveria ter conversado com ele, sei que pisei na boa.
— Tá doente? – Franco.
356
Silvino olha sem graça.
João volta do lanche, e volta para baixo do carro, soldar todas
as placas iria tomar umas 3 horas, então não adiantava parar ainda.
Ele termina e olha para Paulinho e fala.
— Dá para erguer o carro para colocarmos a fibra.
Paulo olha ele não entendendo.
— Brincadeira. – Joao olhando Silvino. – Vai ajudar ou ficar
apenas olhando.
— Não entendo nada de fibra.
— Então uma missão, pega um som, coloca o samba do ano
no máximo, e compra umas cervejas, nós vamos precisar no fim.
Paulinho sorriu.
— Vai errar de novo.
— Que graça tem acertar sempre?
João desce a estrutura a 4 metros e põem a escada a frente,
parafusa toda a estrutura que colocara em fibra e pões pequenos
pedaços de fibra sobre o parafuso, fez a toda volta.
João coloca a estrutura na posição que desfilaria, sobe onde
primeira Dama ficaria, Agacha para fazer o movimento, a dor nas
costas mostro que aposição era ruim e veio uma ideia estupida, e
fala.
— Você é idiota mesmo!
Ele desce da escada, pega 4 estruturas de um metro quadra-
do, pinta de prateado, abre as pontas e em todas as estruturas co-
locou nas laterais internas, LED, foi ao fundo e pegou placas de acrí-
lico transparente e prendeu ao que havia pintado, olha de fora e
não gostou, tira as placas e corta alguns trechos de estrutura tubu-
lar de um metro e começa a fazer a forma de uma cristal e metal, e
depois, coloca mais LED em todas as divisões internas, põem o acrí-
lico, Silvino chega ao lado e pergunta.
— Onde vai por esta imensa representação de um cristal.
João aponta a frente do carro.
— Maluco, não para nunca.
João pede ajuda de Paulinho e colocam encaixado na arma-
ção que estava lá, João fixa com dois parafusos em cada divisão,
pega o equipamento de solda e solda aquilo no lugar, como o des-
cer era um movimento para frente, não enroscava em nada. João
357
pega um papel refletivo colante, de alta resistência e brilho, espe-
lhado, e foi desenrolando e colando a toda volta dentro da canaleta
que criara abaixo do trilho, ele faz isto em toda a volta do veiculo da
frente, pega uma linha de Led, põem na canaleta, 18 linhas de LED,
dar a volta era sempre demorado, mas fixar direito era importante.
Ele dá uma volta inteira e quando Paulo terminou pediu para
ele passar o refletivo e as 18 linhas de LED na canaleta da parte do
carro ao fundo.
João coloca um gerador na parte alta, e olha em volta e pensa
no esconder aquilo e sorri da ideia.
Ele liga o gerador e liga a linha de LED e desce da escada, e
olha para o teto, olha a linha visível, olha para Silvino.
— Você que tem experiência em Marques de Sapucaí, isto dá
algum efeito lá?
O senhor olha para Paulinho, ele parecia na duvida e Paulinho
desce e fala.
— O cristal ficou bonito, estamos de dia e está visível, mas
ainda não entendi a ideia.
— Do cristal, vai sair os dois seres, aquilo está na altura da
perna da primeira dama da escola.
— Certo, não a esconde, e gera o impacto.
João volta a subir, olha o piso que a senhora estaria e põem
LED a toda volta, mas este com um disjuntor, coloca dentro das
canaletas a cada 40 centímetros um ventilador, e
Coloca aquele carrinho de cada lado, não era tão pequeno as-
sim, mas o tecido tinha dois lados, ele refaz a roda dos trens para
eles não caírem e começa a por um trilho por baixo, invertido, e a
alavanca de acionamento disparava alguns segundos o Led ao chão,
e foi colocando um com temporizador a volta, carro no centro do
trilho, em uma estrutura fina que ira soldando e prendendo, era 8
da noite quando ele olha para Silvino e fala.
— Vamos ver se funciona.
Paulo saiu da parte do fundo, ele queria ver o que ele tinha
feito, para continuar na parte dos fundos.
João fez uma encenação, mexeu os braços, e apertou a ala-
vanca, as luzes no piso que ele estava se acendem rapidamente,
destacando ele e o movimento dele, e os dois carrinhos saem cada
358
um num sentido, o LED foi acendendo e apagando abaixo do carro,
João olha o efeito e não fez diferença, mas as luzes acenderam e os
ventiladores fizeram ele correr, a duvida era se eles chegariam de
volta, e mesmo sem os dois verem, os dois veículos voltam.
A cara de João contrastava com a dos dois na parte de baixo,
eles pareciam ter gostado, ele não.
João desce e fala para Paulinho.
— Aciona lá, pois eu não gostei.
— Como aciona.
João foi tirar sarro, nas não o fez, e fala, talvez já cansado.
— Tem uma alavanca simples, só pressiona ela, e larga.
Paulinho sobre, olha que era algo bem simples, ele aciona e
João fica olhando a luz acender toda, dai ela ir diminuindo, e a luz
no centro no fim fica mais visível que no começo.
João olha para Paulinho que fala.
— O que não gostou?
João não respondeu e Paulinho viu os trens voltando a posi-
ção, ele não viu como, mas eles voltaram olhando que ele instalou
um trilho invertido.
João pegou mais tubos, e falou para Paulinho.
— Consegue fazer o mesmo no fundo?
— A volta do trilho e um trilho invertido?
— Sim, mas não sei se funciona isto com chuva, então obvio
que não estou feliz.
— O que pensou? – Silvino.
— Se chover, aquelas canaletas viram um lago, não sei o fun-
cionamento abaixo da agua.
—Quer fazer furos? Antes de pintar? – Paulo.
— Não, mas é obvio que todo este carro, que pensei, é alta-
mente frágil se chover.
— Acha que se chover ele deixa de ser incrível?
— As cortinas teriam se ser bem impermeabilizadas, mas se
for o caso, cobrimos com acrílico, mas fica mais caro.
— Pensando nos problemas, mas pode não acontecer.
— Sei disto, mas a ideia no fundo, é os trilhos começarem no
sentido do carro frontal e dar a volta.
— E vai fazer o que?
359
— O cristal de passagem dos dois lados.
— Não entendi.
— O carro passa por um dispositivo, brilha, e surge no outro
lado o carrinho e continua a volta, até o ultimo cristal, no fundo do
carro, semelhante a este frontal.
João desce e começa a fazer um cristal igual ao que tinha fei-
to na frente em armações de metal, ele vai ao fundo e mede o local,
olha para o lugar, e faz um cristal de entrada, mas na forma de um
raio para o outro carro.
O outro começa como um cristal de recepção, muito seme-
lhante e depois de por os LED, os fios, as estruturas, ele pede ajuda
de Paulo e coloca as duas na ligação dos carros e o ao fundo.
Enquanto João fazia os cristais, Paulo colocava o trilho.
João coloca os temporizadores, olha para o sistema elétrico
do outro carro e coloca um gerador ali.
Ele desce e coloca os holofotes na estrutura que sairia a pri-
meira Brasileira, depois ele faz o mesmo com a parte da mulata, ele
mede um dos cubículos e faz um para o local onde ficaria Micaela e
um para onde ficaria a outra moça. Sistema hidráulico para inverter,
Luzes no chão, Luzes a toda volta e o disparar para cima, o que era
uma linha de Led embaixo do veiculo vira 6.
João olha para a peça que pedira para fazerem e estava ali a 3
dias, translucida de acrílico, sobe, tira o carrinho duas estilizações,
mas uma em negro, outra em branco.
Ele prende sobre o carro, acrílico com a parte de traz pare-
cendo chamas, ele prende bem ao carrinho. Ele amplia a ampera-
gem dos ventiladores, vai a parte da outra moça, faz as luzes, muda
toda a sequencia, põem temporizadores nos LED nas canaletas, foi a
parte do fundo e colocou os temporizadores, ligou os fios, pega dois
carros a mais, coloca a segunda copia daquele acrílico, Paulo viu o
quanto João era sistemático e Silvino fala.
— Ele sabe o efeito que quer, mesmo que pequeno, tem de
ser como ele quer.
Paulo olha para João que faz sinal para ele subir, ele liga os
geradores, e se afasta lateralmente, estava olhando de baixo, teria
de ter como olhar das arquibancadas, mas ainda era apenas o pri-
meiro teste, e não estava erguido ainda.
360
Paulo ouviu o gerador e toca no disjuntor, a luz aos pés, como
ele ampliara a amperagem, ficou mais brilhoso, Paulo teve de fechar
os olhos, ele viu os dois carrinhos surgirem, e começarem a correr,
como era acrílico, a luz passa por ele, quando passa pela ponta, se
vê o brilho e o fechar em uma capsula, e a luz correr junto para cima
e a luz ir correndo e apagando, as luzes de Luci acendem, olha os
carros chegarem a parte do fundo, a luz do cristal, corre, a do fundo
acende e se vê os dois carrinhos correrem, um para e outro chega
ao fim, João sorriu.
Paulo não, ele olha para ele e fala.
— O que aconteceu.
— Ventiladores as vezes pifam.
João pega a escada e encosta lá e mediu os trilhos e fala.
— As vezes o trilho de 15 centímetro está com 16.
Paulo sorriu e falou.
— Certo, concertamos.
João mediu, fez as marcas, soltou a solda e prendeu nova-
mente.
João tira ele do trilho e coloca no ponto inicial de novo e com
a escada na posição do inicio da segunda. Sobe na parte do desta-
que lateral e fala.
— Aciona de novo Paulo.
João olha o efeito pelos fundos do alto, correndo no sentido
dele, passar pelo cristal e passar ao seu lado, agora correu por baixo
certo e inverteu no lugar certo.
— Acho que por hoje chega. – João cansado.
Paulo sorriu e fala.
— Acha que evoluiu.
— Acho que não o que eu queria, pois os cristais não eram
assim, eram mais chulos, agora me diz, terei de dar um óculos escu-
ro para nossa deusa?
Paulo sorriu e fala.
— Sim, ou uma lente.
— Uma lente é sempre legal.
Silvino olha para as capsulas reabrirem e fala.
— O efeito da capsula ficou bem legal.

361
— Temos de lembrar de cobrir todos os pontos que não po-
dem ser pintados amanha. – João.
— E eu reclamando pela manha, nem entendi ainda a ideia
desta coisa feia.
— Silvino, a base, bem baixa, preto, a parte bem alta, branca,
a base que segura o cristal, vai ser branca, teremos uma gama de
cores internas, mas é que não será branco, será branco perolado,
não será preto, lembra do cafona?
— Não vai fazer isto com meu carro.
— Logico que vou.
Paulinho riu, e com a cara de reprovação de Silvino ele cai na
gargalhada.
Paulinho deixa João no hotel e vai para casa.

362
João dormiu profundamen-
te naquele dia, então quando
acorda, estava bem disposto, olha
o relógio, o calor ainda o incomo-
dava, ele toma uma ducha, desce
e toma o café, pede um taxi e vai
ao Barracão.
Ele entra e olha para o car-
ro, começa por lixar a parte que iriam as esculturas, olha a ferragem
e começa a fazer a base que subiria a escultura.
Ali eram escultura em duas partes, mas o sistema iria sair dos
4 metros e chegar a 20, onde as duas estatuas ficariam sentadas na
estrutura, ideia fácil de ter, difícil de dimensionar para que ficasse
em 4 metros.
Ele faz o sistema hidráulico externo ao carro, testa as arma-
ções, elas sobem, encaixam, sobem, encaixam, e por fim sobem.
Estava ali quieto, e ouve um barulho as costas e se assusta,
olha aqueles olhos o encarnado e pergunta.
— A muito ai?
— Não descansa nunca?
— Quero pintar este monstrinho, a base, na segunda, para
poderem usar no dia 2.
— E vai acelerar tudo.
— Lixar um monstrinho destes dá trabalho.
— Estranho pessoas que fazem questão de se isolarem.
— Alguns escancaram seus monstros internos, outros, os
mantem retidos.
Micaela olha para o lugar que ela ficaria e fala.
— Mudou o lugar?
— Sim, vou esconder alguém ali um pouco.
— Para quem viu ele a uma semana, parecia melhor que ago-
ra.
— Armações são bonitas, mas qualquer parafuso, um jurado
tira pontos, mas e você, não tem ninguém?
363
— Estranho quando alguém que diz que não temos nada, que
sou uma criança, me liga 3 dias seguidos e pergunta se realmente
não tenho nada com você?
— O namoradinho está com ciúmes.
— Deixar claro que ele não é meu namorado.
— Sei disto, tem de entender menina, para mim, é uma crian-
ça, para a lei, uma criança, mas não quer dizer que todos estes seres
dentro de você o sejam, sei que as vezes é estranho ter memorias
de 30 anos antes de ter nascido, sei o que é isto.
João volta a por as grades a volta da estrutura, ele queria sa-
ber se com a estrutura funcionaria, seria nelas que os painéis de
isopor iriam, estes ainda estavam sendo feitos ao fundo, e somente
quando prontos e montados, se teria noção do que aquilo aparece-
ria.
João olha a estrutura e continua a soldar, ele não ligava em
trabalhar com alguém olhando, mas sabia que as pessoas confundi-
am as coisas, e pergunta sem olhar.
— Teu pai chega quando?
— Ele não sabe que estou aqui.
João solda mais uma placa e fala sem olhar.
— Mais um perdido aqui hoje?
Micaela olha para a porta e viu o pai e fala.
— Perdido aqui pai?
— O que tem com este ai?
— Nada, mas sabe como é, nem estava por perto dele e Dou-
glas já está com ciúmes.
João termina aquela caixa, olhando por fora, uma caixa de 12
metros, apenas uma caixa, que foi subindo e Roberto pergunta.
— Onde vai isto?
— bem no centro de cada carro.
— E o que seria isto?
João aciona o sistema para testar e o que tinha doze, se enco-
lhe parte a parte até ficar com 4 metros e fala.
— Ainda estão fazendo os painéis na área de isopor, deixa eu
ver se tem umas 4 prontas para explicar.

364
João entra e olha que as placas estavam cortadas e encosta-
das cada uma em uma mesa onde estavam dando a forma de en-
tranhas, ele olha para Roberto que fala.
— Vai ser o que ali?
— Encima terá Luci, na da frente e uma mulata na do fundo,
vestida de baiana, como a ala a frente, e as costas.
— E o que teria de incrível neste ser?
— Ele vai ter mais movimentos de cabeça, mais de espanto e
medo do que de festa, mas com os movimentos do boneco do Bilac.
João viu que tinha uma sequencia encostada a parede, nume-
rada, um painel inteiro, sorri, todos trabalhando parecia que era
rápido, alguns painéis poderiam ser, mas estes, sempre demorados.
Ele pega aqueles painéis e tira dali e começa a prender inter-
namente, de cara viu que não daria certo e Roberto viu ele desmon-
tar toda uma parte do Hidráulico, depois um segundo lado, deixan-
do apenas as laterais na parte interna, e começa a montar eles na
externa, vai ao carro e vê que não teria o mesmo espaço, teria de
pedir para eles deixem aquelas placas naquele lado, um centímetro
mais estreita em cada lateral.
Roberto viu ele remontar, ficou vendo ele desfazer e refazer,
ele prende os 4 sistemas de isopor para dentro e encaixou, era um
teste, pois estes ainda tinham de ser colado fibra e depois pintados,
mas João queria saber se iria funcionar o esquema.
Ele pega a empilhadeira, prende ele rebaixado, liga o carro,
levanta a armação do carro a 9 metros, vai a empilhadeira e começa
a colocar sobre o lugar, e baixa bem lentamente, Roberto viu que
tudo aquilo ficaria escondido ali dentro, sobre o lugar nada que
impedisse que subisse, era engenharia no carnaval.
João faz as ligações do Hidráulico, sai do carro e com as placas
ali, com calma, começa a subir, o sistema subia todos os 4 lados,
agora dois vinham de fora para dentro, e dois de dentro para fora, e
quando eles travam a 20 metros, Roberto viu que a ideia poderia
ser simples, mas era dar a sensação de uma raiz saindo da parte
baixa e lá encima, onde nem tinha nada ainda, uma escultura.
Micaela olha o pai e fala.
— Este não é de brincar em serviço.

365
— Sim, os demais estão montando painéis que nem sabem
onde vão, quando ele começar a montar de vez este carro, vai ser
como o desfile, vai recolhido, testamos todas as partes antes do
viaduto e deixamos pronto para trabalhar.
João abaixa a armação, a tira, pega a maquina de solda e tira
as paredes que iam ao chão, Roberto estranha e chega perto e per-
gunta.
— Problemas?
— Não pode ficar fixo em oito metros, não passaria pelo via-
duto senhor, ele foi projetado para encaixar aqui dento, sobre um
sistema hidráulico, mas esqueci de confirmar a medida, está subin-
do bem, mas não encaixou para dentro, então vou tirar um lado,
aumentar o espaço interno, é que as placas externas, não tem como
ficar com as laterais externamente, então onde erramos, refazemos.
Roberto viu ele cortar a fibra, depois tirar as soldas e tirar os
cubos um a um, não seria muito desperdício, apenas mais trabalho.
Mede o local, vai a parte interna do estoque, onde o sistema
de base que iria ali estava, coloca no carro, fixa no piso, testa o er-
guer, com ele erguido, volta a empilhadeira e coloca no local nova-
mente. Testa o encaixe e desce ele lentamente a peça se encaixou
agora onde deveria encaixar.
Roberto entendeu, ele reduziu de 8 para 4,8 metros.
Ele pega as peças de isopor as mede e devolve ao local de fa-
bricação. Ele marca onde elas iriam, na parte externa, e faz uma
borda, entra e põem as travessas ocultas para o lado, e Roberto viu
o carro passar de 8 para 12 metros de lateral, baixou o sistema hi-
dráulico e saiu do comando.
Ele vai ao estoque e pega a tela fina, ele começa a colocar ali
também, e fixar as estacas que se ergueriam a toda volta, as dei-
xando de pé, enquanto fazia o chão. Roberto viu tinha mesmo mui-
to a fazer, e o rapaz não queria deixar aquele ali para depois, depois
de por a tela fina, ele coloca a fibra em todo aquele lado.
Passa na lateral e Micaela pergunta.
— O carro é bem maior do que parece, é o que está dizendo?
— Na verdade eu estranho, a gente dá um carro a alguém, o
projeto está lá a mais de mês, e o carro está parado, é um carro que
precisa de cada segundo de trabalho, então vou acelerar, não me
366
adianta apenas parte estar pronto, como Paulinho falou, ontem
andou, se hoje e amanha andarem, começo a pintura na segunda,
termino na terça a base, onde tudo vai ser montado, e muito come-
ça a poder ser feito, pois todos aqueles painéis, são revestidos de
fibra com sistema epox, e dai começamos a montar e pintar, a ilu-
minação da parte alta, falta a pintura, estas partes queria testar se
cabia antes de colocar o sistema de luz e pintar, ainda bem que não
tínhamos pintado.
— E vai fazer o carro sozinho? – Roberto.
— Não, apenas passar algumas camadas que já deveriam es-
tar feitas, a parte abaixo do carro é a parte difícil, mas não tenho
certeza se quero fazer.
— Por quê?
— É pelo efeito da luz, mas entre colocar 120 colunas de LED
a mais ou gastar 250 metros quadrados de fibra com tela, acho que
o LED vai sair mais barato.
— Mas se fosse visível faria. – Roberto.
— Sim, todo piso aparente fizemos na parte interna, agora a
que se estica e fica oculta até chegar lá, vou ainda fazer duas alturas
a mais da estrutura que sobe, que esta para dentro da já feita.
— Vai deixar de ser um carro todo vazado.
— É um teatro, e para parecer um teatro, eles vão fazer cur-
vas abaixo da estrutura alta a toda volta, parecendo uma cortina,
pois é o Teatro da anunciação.
— E dizem que você é apenas um novato, parece saber cada
detalhe do carro.
— Paulinho e Silvino me ajudam a entender se dará visual na
avenida, mas nem todos dias são de criação, hoje é de força física.
— Tem se cuidado? – Roberto.
— Sim.
João põem a o rolo de grade para o outro lado e começa cor-
tar e ajeitar as coisas, ele olha para o piso, era grande, não parava
para pensar, tinha de fazer, ele parou meio dia e os dois olhavam
ainda.
Paulinho chegou e olhou o carro e falou.
— Não vai mesmo parar?
— Não, mas chegou na hora de eu ir almoçar.
367
Paulinho olha para a menina e Roberto ali e fala.
— Vamos lá, pelo jeito eu pensando em quando iriamos fazer
esta parte e já está com um lado colocado.
— Dois, mas não comecei a fibra hoje.
Os dois saem para comer algo e Roberto olha a filha.
— Ainda caidinha por aquele Douglas?
— Não serei menor de idade sempre pai, estranho gente que
não é animal, este seu construtor de carros, é destes, ele nos olha
aos olhos, não como alguns amigos do papai, que ficam nos medin-
do de baixo a acima quando longe do papai.
— E isto a deixa intrigada?
— Talvez eles estejam certos, assim como o senhor, ainda te-
nho de estudar, aprender o que quero, para me envolver, sei que
não entende porque sei disto, mas auras falam, e esse montador de
carros, criou o projeto ai.
— Entendeu o que ele falou?
— Ele vai criar um carro na base do que ele criou o dele, to-
dos falam que está pronto, o único que diz não estar, ele, pois ele
sabe que os rapazes estão fazendo, pintando, montando o que vai
sobre a estrutura, isto que ele está montando, é estrutura, mas ele
colocou uma serie de cristais altos, um a frente e outro as costas,
dois na divisão, ele passou fibra na parte alta, mas ele deixou uma
parte sem, deve ser onde vai soldar coisas, eu olhava este meio
vazio e pensava, o que ele vai por ai, tem de ver que ele está divi-
dindo os atos.
— Aprendendo?
— Viu o Bilac?
— Sim.
— Pode parecer fácil aquilo pai, mas poucos sabem fazer da-
quele jeito, e pensa, eles desenvolveram uma forma, de fazer 22
daqueles, em dois meses.
— Está falando serio?
— Dois vão neste carro.
— E como se coloca algo de 8 metros em um carro destes?
— Acho que isto que ele está pensando, ele sabe que tem de
por, tem de passar o viaduto, tem de subir rápido, então ele deve
ter um plano.
368
— Ele poderia por para dentro do quadrado.
— Não sei, talvez nós estejamos pensando no ser de pé, mas
tem razão pai, as esculturas não podem chamar mais atenção do
que o teatro, então elas podem estar sentadas.
— Dai iria para 4 metros e ele teria como por. – Roberto.
— Viu o que ele consegue pai, ele coloca todos a volta pen-
sando o que ele vai fazer, isto que ele está fazendo, e aquele carro
lá na Cidade do Samba, que encerra o desfile, acho que é dos carros
mais incríveis que já vi, aquilo é um abre alas pai, mas ele vai encer-
rar nosso desfile.
Roberto sorriu e falou.
— Ele nem se preocupa em ganhar filha, mas uma coisa ele
tem razão, todos vão falar do nosso desfile, se der certo, se der
errado, mais ainda.
— Espero sempre o melhor pai.
João senta do restaurante a frente e pede um PF e Paulinho
pergunta.
— Qual o plano do dia?
— Fazer as armações a toda volta, para o desfile, dos dois la-
dos, colocar no interno das colunas, criar e preparar as curvas ex-
ternas das cortinas, fixar onde é o caminho em madeira e colocar
toda a fibra de vidro onde cobrimos com tela.
— E o que faria amanha?
— Tenho de terminar a parte da estrutura que sobe na parte
dos fundos, o que fica nas divisas, não pode ser tão pensado, enco-
lhido não pode ficar com mais de 3 metros, encolhido, tem todas as
luminárias a volta para fazer?
— Luminárias?
— Onde as moças vestidas de baiana estarão, outro detalhe
que temos de por, nenhuma pode ter mais de um metro e sessenta,
pois não podem atrapalhar a encenação para quem estiver a nível
da pista.
Paulinho sorriu, viu os dois pratos chegarem e fala.
— Bem dizem que você não faz desfile para os jurados.
— Eu vejo todos os anos, gente dizer que a comissão de fren-
te não apresenta mais a escola, mas os mesmos, dizem que a comis-

369
são tem um tempo para se apresentar aos jurados, se fosse apenas
apresentar a escola, não existiria apresentação.
— Saudosista?
— Chatos, isto sim, gente que perdeu a chance de ficar quie-
to, pois aqueles senhores de terno na frente da escola, desculpa,
não era uma apresentação de nada, era apenas o anunciar que a
escola vinha, agora vem o pessoal da comissão, já pré apresenta o
enredo encima do samba, acho muito mais show.
— Eles não querem show, eles querem o samba antigo.
— Outra coisa que não entendo, um exemplo, todos sabem o
samba de Paulinho da Viola, que foi usado como esquenta da Porte-
la, mas ele não era o samba enredo, o samba enredo daquele ano,
duvido que 10 portelenses cantem.
Paulinho sorriu e fala.
— Alguns amigos meus já estariam gritando na mesa.
João olha ele comendo, não responde.
— Sei que é um argumento, mas eles vão dizer que era me-
lhor, e não adianta falar o contrario.
João pede um refrigerante e fala.
— Consegue fazer a parte de trás?
— Sim.
— Vou modelar as cortinas e as fazer externamente, e inter-
namente, pois aquela parte se vê dos dois lados, e o meio corre a
cortina.
— Vai testar as cortinas?
— Eles tiraram pois pedi, pois vamos pintar, mas vou começar
a fazer algumas coisas, e uma delas são as luminárias, tem duas a
cada metro, mais algumas a frente, tenho de contar quantas, mas
algo de 60 metros, já teria 120 luminárias.
— Certo, está falando daquelas hastes que deixou de pé?
— Sim, em cada uma delas vai dois lados para se segurar, e a
lumiaria, por sinal, tenho de fazer algo que não atrapalhe a encena-
ção ao fundo, luz fraca, apenas o sinal da anunciação.
— Quer a atenção na apresentação?
— O vestido das meninas na parte baixa, tem as costas todas
negras, então na hora da anunciação, cortinas negras, e elas olhan-

370
do para a alegoria, dando o visual negro na parte baixa, para todos
olharem para cima.
— Você parece querer mesmo que este carro levante a ave-
nida.
— Sim, então tem de dar certo.
— Mesmo tendo outros carros incríveis?
— As vezes o contar da historia, atrapalha, mas a frente do
primeiro tripé, está o primeiro acidente registrado, as costas, a pri-
são de Olavo, estranho como o enredo vai se fechando, depois da
prisão, quase 10 anos após, ele é o símbolo que induz a criação do
exercito nacional, quem nós xingamos por esta obrigatoriedade. A
evolução de tempo, é muito rápida, pois ala atrás do carro abre
alas, pré história, segunda, 500 mil anos, terceira, 80 mil anos, quar-
ta, Marajoaras, invasão, índios mortos, portugueses, franceses, ho-
landeses, ingleses, na mesma ala, com suas armas sangrando, inde-
pendência, a língua, acidente do carro, tripé, eu não sei, eu gostei
da lógica de Sergio no andar da historia.
— Você fez parte disto João.
—As vezes me sinto melhor trabalhando, a menina lá hoje me
deixou tensa, ela chegou uma hora antes do pai, e não tinha além
do segurança, pensei que iriam me por para correr de novo.
— E pegou a parte difícil para fazer.
— Quase fui para baixo do carro, mas achei que atrairia ela
para mais perto.
João terminou de comer, e quando volta ao barracão viu que
parte dos aderecistas apareceram a tarde, Jesse e Rodney olhavam
para o carro e Jesse pergunta.
— Quais vão neste?
— Dois dos sentados, a baiana e a Luci. – João.
— Por isto pernas moveis em um sistema que parecia que ela
conseguiria chutar o próprio nariz?
João olha que Roberto havia saído, com a filha, e sobe no car-
ro e fala.
— A ideia Rodney, Jesse, é por aqui dentro, em metade do
espaço, o boneco inteiro.
Os dois sobem onde João estava e viram o espaço, e a estru-
tura e Jesse fala.
371
— Vai erguer tudo?
— Naquele ponto marcado, vai ter um sistema hidráulico pa-
ra levantar dai até os 20 metros. Do lado de cá pretendo por uma
estrutura, que segura ela sentada acima do carro, então ela e a es-
tatua da baiana, serão os pontos de desfile mais altos deste carro.
Rodney olha Jessé e fala.
— Ele está falando em ter gente grande a 20 metros, se me-
xendo dentro do boneco.
— Melhor não ver muito mesmo nestas horas.
João sorriu e perguntou.
— Acha que dá? Se não der colocamos algo mais básico.
— Aquele rosto tá me tirando o sono, então estou deixando
para pensar aos poucos. – Rodney.
— Sei, é medo e espanto, pois ele estará com a Marques de
Sapucaí olhando para ela, este não é um boneco que chame o publi-
co, é um que cobre os olhos, encolhe os ombros, se recolhe como
algo assustado.
— Vamos acelerando por um lado e até dia 15 falo o que con-
seguimos, mas pelo jeito o mecanismo é este?
— Sim, um painel que sobe dos 4 aos 20 metros, em minutos,
os destaques não vão nesta parte, estarão a volta, nas estruturas
metálicas internas.
Rodney olha a parte baixa e fala.
— Um carro de respeito, entendo que quer algo com movi-
mento acima, embora não entendi este carro ainda.
— Vai começar a tomar forma agora.
— Viemos pensando que ninguém estava por aqui, pensar
sobre as esculturas, muita gente olhando é sempre complicado.
— Estamos tentando adiantar as partes que são complicadas
de fazer com muita gente, então se o cheiro ficar forte, é só ligarem
os filtros, tem gente que acha que aquilo lá encima, no teto é enfei-
te.
Jesse olha para cima e fala.
— Sei que somente este barracão deixa esculturas como
aquela que fizemos pequenas.
— Deixa este carro erguido pequeno, o que acho um absurdo,
mas deixa eu voltar ao trabalho – João.
372
Ele caminha até a área que os rapazes do isopor se instalaram
e olha José, e fala.
— Podemos falar?
— Problemas?
— Sim, e melhor falar agora, começaram a fazer as peças do
primeiro?
— Sim.
— Queria mostrar uma coisa antes e você verifica o que não
conseguiremos usar, mas é que as vezes as ideias mudam, as vezes,
não se aplicam na pratica.
José olha os demais e fala.
— Pelo jeito algo mudou. Paramos um pouco.
— Acho que se estão na primeira, apenas teremos de separar
as partes feitas para a segunda, mas por isto temos de conversar.
João mostra a Jose o problema e o rapaz remede e fala.
— Quer dizer que o encaixe não será como antes, a parte ex-
terna é maior que a interna?
— Sim, eu não consigo por elas para dentro e abaixar todas,
elas vão ser um grupo para cima, mas a ideia é que formem um
centro em dois trechos, pois é a base de duas esculturas altas.
— Sobre elas vai estar uma escultura?
— Sobre uma base que subira também, mas precisava mos-
trar, e queria saber se vão cobrir com fibra ou tenho de fazer?
— A parte de esculpir fazemos, depois dispomos das peças.
— Algo pronto?
— Porque?
— Vou mexer com fibra hoje.
— Verifico, mas sinal que vai por os lados internos aqui, a
parte externa temos de cortar, estávamos nestas medidas as inter-
nas.
— Precisa de mais material?
— Não, mas vi que para dispor na posição externa elas fica-
ram mais finas.
— Sim, pois o espaço não vai permitir a mesma largura.
— Entendi, pensei que era uma parede, é um pedestal.
— Sim, acima da frontal teremos Luci, então é como se ela
brotasse da terra, a segunda, ela brota das cores da bandeira.
373
— Entendi apenas o que vamos fazer, mas não entendi o car-
ro.
— Tem muita coisa para entender, mas se conseguir já ajuda,
vim verificar hoje, pois sabia que iriam fazer a semana que vem e
ajustes são agora.
— Vamos terminar as partes que fazem parte das laterais, e
depois medimos as demais, mas pelo menos não perdemos materi-
al.
— Se terminar algo, coloca para fora que consigo umas mesas
para por a fibra.
— Pelo jeito agora vão acelerar este.
— Está muito atrasado, é o maior e por isto, mais atrasado.
O senhor foi para dentro e depois trouxe as laterais e falou.
— O conjunto de alturas, temos apenas dois terminados.
— Já é um começo.
João pede ajuda de Paulinho e fala.
— Vamos por uma mesas próximo do carro, e quando fizer a
fibra já calculo o material para por fibra sobre todas estas.
Paulinho foi para o fundo do carro, João subiu uma das partes
e começa fazer a segunda e terceira parte das vigas que ficariam
visíveis.
Paulo viu que João fez rápido, pois o piso lateral era muito
grande, olha para ele torcer uns canos na forma que queria, ele fez
todas as estruturas e começa a por a grade dos dois lados, e quando
ele começa a fixar aquilo na parte baixa, em partes, Paulinho olha
para como ele faria, parecia complicado, mas era o lugar do encaixe,
não a posição lateral, quando ele começa por aquela estrutura on-
dulada por cima, como uma cortina, tudo era demorado, pois não
era uma, era conjuntos inteiros, frente, atrás, laterais, e quando ele
começa fixar na parte dos fundos, Paulinho estava terminando a
volta e olha de longe e fala.
— Começa o espetáculo?
— Sim, começa o espetáculo.
Paulinho começa fixar e João foi fazer a mistura, e começa a
fazer o piso, ele via que nesta parte parecia que João tinha experi-
ência ele passava uma camada, e depois uma que o fazia deixar bem
alisado aquilo no piso, ele terminou o primeiro lado, e as duas colu-
374
nas daquele lado, fez mais material e fez a frente e o outro lado, foi
ao fundo de uma e frente da outra, estava fazendo a parte baixa,
Paulinho começa a o ajudar nas camadas, e viu que ele ergueu o
carro, não teria como fazer a cortina, que tinha de estar na posição
de apresentação, com ela rebaixada, viu ele colocar as madeiras
ainda sem tinta nas partes que se pisaria, e passa para dentro e
começa a fazer as cortinas baixas, Paulinho viu que aquele rapaz
não temia trabalhar muito, mas via o carro começar a mudar, e
quando a meia noite Jesse e Rodney olham o carro, João já colocava
nas placas de 4 por 4 a fibra sobre elas, os dois viram João olhar eles
e perguntar.
— Acha que melhorou?
Os dois olham e Jesse fala.
— Todo ano a mesma coisa, temos a sensação de um carro
pronto, depois que falta muito para ficar pronto, pronto de novo, e
novamente muito a ser feito.
João sorriu, olha para Paulinho e fala.
— Pede umas pizzas e umas cervejas.
— Motivos para comemorar? – Rodney.
— O carro pode não parecer, mas está quase com os 25%
prontos.
Paulinho sorriu e falou.
— E porque não está com os 25%?
— A parte que sobe no fundo, não cortei e não refiz ainda.
— E pretende ainda hoje?
— Depende do corpo depois da pizza.
Paulinho foi pedir e Jesse perguntou para Paulinho.
— Ele acelera sempre?
— Sempre, ele parece pensar melhor assim.
Paulinho pega o celular e ouve João cortando a parte dos
fundos, onde ele colocaria a segunda parte.
Ele tira a fibra e começa a tirar as partes, olha o lugar, olha as
armações que usaria, monta o segundo grupo de sistemas hidráuli-
cos e quando chega a pizza apenas lavou as mãos e fala.
— Hora de deixar as coisas secarem um pouco.

375
Os três rapazes sorriem, os rapazes do isopor estavam saindo
e João pergunta se não queriam uma pizza, e José olha o carro todo
aberto e erguido e fala.
— O tamanho total disto assusta, agora que vocês colocaram
fibra nas armações, nas laterais, nas pilastras, desenharam as corti-
nas, ele só parece maior.
Todos olham João que fala.
— Meu medo é não conseguir terminar ele.
— E como faremos as luminárias? – Paulo.
— Já fez lembrancinha Paulo?
— Não.
— Quando se precisa fazer algo, 500 vezes, é aproximada-
mente o numero de luminárias naquele carro, se faz um modelo e
usa injeção de plástico, acha mesmo que se faz banco a banco de
um ônibus?
— Imaginei que não, mas e quem vai fazer o modelo?
— Eu, mas amanha começamos a pensar, tudo que cobrimos,
tem de secar, dai a parte que acho que vai dar mais trabalho, cobrir
com massa todo este carro, vamos fazer com pistola de construção
e depois vamos ter de lixar um carro deste tamanho.
José olha o carro e fala.
— Agora entendi porque alguns falam tão mal da fibra, dá
trabalho.
— Estamos tentando terminar a base para começarem os en-
saios, este carro tem 4 encenações, e uma que combina as cortinas,
pessoas na parte superior, e as baianinhas a volta.
— Então está querendo deixar a base pronta para eles ensaia-
rem?
— Sim, ninguém nem verá o ensaio da Luci Rodney.
— Nem tudo é revelado, não é assim?
— Acho que as coisas vazam, mas é que meu problema não é
não revelar, eu posso dizer o que faremos no desfile, narrar o que
acontecerá no carro abre alas e eles acharem que estou falando do
desfile inteiro.
— E acha que vai manter a coesão?
— Acho que me dedico ao show aos que pagam por isto, não
aos que julgam ou políticos idiotas.
376
— Porque idiotas?
— Diria ladrões, cadê o ministério publico, eles vendem os in-
gressos antecipados em Outubro, chega dezembro, como todos os
ingressos, todas as transmissões, publicidades e recursos já arreca-
dado em outubro e falam que vão passar só metade do dinheiro,
que tal fazer uma auditoria na Riotur? Agora e o prefeito explicar
onde ele colocou todo dinheiro que já foi pago, já está na prefeitu-
ra. Idiotas, pois uma festa que gera 50 milhões para a prefeitura,
através dos desfiles limpo, deveria ser incentivada, não rebaixada.
Paulinho olha João.
— Posições fortes sobre escolas de samba.
— Por isto me meto em encrenca fácil, falo o que penso, con-
cordo com um escritor curitibano, todos dizem que querem sinceri-
dade em tudo, ninguém quer sinceridade, eles querem é hipocrisia
o tempo inteiro.
— E este carro? Não exagerou?
— Não, não é um carro para ser parado, é algo em encena-
ção, que tem a capacidade de passar pela avenida leve, espero que
nada aconteça de percalço, mas sei que exagerei em todas as alego-
rias, e somente os aderecistas não estão reclamando.
José sorriu e falou.
— Quantas esculturas terão no carro?
— Fora os painéis, só 80.
— Pouco, para este tamanho.
— As ideias são maiores, mas temos de ter a apresentação
inicial feita para pensar em mais alguma coisa, neste carro teremos
painéis feitos em isopor, em alumínio e em fibra de vidro, as vezes
temo deixar poluído de mais, mas a poluição são nos pontos que
não existe encenação, e sim, preenchimento de espaço, os desta-
ques joguei para cima, para não atrapalharem a visibilidade, e juro,
eu não desfilaria lá encima, a 20 metros.
— Medo de altura?
— Não é medo, mas como dizem, lá fica visível, e ficaria visí-
vel demais que não sei sambar.
José sorriu e falou.
— Dá tempo de aprender.
— Pode ser, mas quando?
377
— Acha que sai do barracão quando?
— Com os carros para a concentração.
— Vai querer ver o ultimo carro entrar?
— Sim, e tudo que der para ajeitar até o ultimo momento vou
ajeitar.
— E se der errado? – Paulinho.
— Joguem toda culpa no novato, não vamos prejudicar a es-
cola, e se der tudo certo, joguem na escola, na comunidade, ela é o
importante nisto, não um Curitibano que nem samba.
— Sabe que alguns dizem ser um carnaval diferente, tem gen-
te falando em bicampeonato. – José.
— Me perguntaram o que acho, eu quero fazer o melhor
show para o publico, que der para fazer, nem todo ano terei ideias,
ai nem me atrevo a falar algo.
— E vai ficar até o ultimo carro passar?
— Se duvidar, eu nem entro na pista, volto para meu carro e
vou para o hotel dormir.
— A maioria não aguenta.
— Sei que é difícil, mas ainda tem coisas que não definimos, e
podem ter certeza, 95% do desfile, foi definido, mas 5% de um des-
file deste, é muito.
— E acha que faremos um desfile para ganhar? – Rodney.
— Eu acho que se não errarmos, vamos disputar, mas sabem,
todo carnavalesco deveria saber, não existe desfile perfeito, os ju-
rados não estão ali para nos dar pontos, eles estão ali para tirar
ponto, para olhar aquela pena fora do lugar, aquele rapaz que não
canta, aquele que comprou a fantasia e a destruiu em meia pista,
aquele cara que bebeu demais e está lá pouco se importando com o
desfile, e sim com aquela cantada idiota que já tentou com todas as
a volta, e já está furiosos por não ter conseguido nada.
— E tem algo contra a festa?
— Acho que festa, é como esta cerveja, eu gosto de uma, mas
raramente me verão passar da quinta, pois eu começo a falar algo, a
ficar bobo, a falar besteira, se chegar a decima, me proíbam de ir a
concentração, vou no lugar de ajudar, chorar na avenida.
— Certo, saber seus limites, pode ajudar a manter-se na fes-
ta, não em encrenca. – Paulo.
378
— Eu já falo demais, dizem ser meu defeito, não seguro a lín-
gua, mas carros como este, se tiver alguém alcoolizado, nos pontos,
precisamos tirar, e não me interessa se ele é parente do dono, ele
vai morrer se estiver no lugar errado no momento errado, então
ainda prefiro encarar o dono num pré carnaval, do que num enter-
ro.
— Porque acha isto? – José.
— É um carro com 12 geradores mais o motor de dois ônibus,
com muitos sistemas hidráulicos, ele pega um carro de menos de 5
metros, que passa pelo viaduto, e ergue tudo em 30 segundos para
24 metros de altura, com tudo endireitando e crescendo, mais 20
metros no geral com tudo no lugar, começa a fazer a curva fechada
da avenida, então todos estarão no carro antes do viaduto, se olhar
as partes onde tem os destaques, tem uma caixa a frente escondida
por trás das cortinas, então pensamos em cada pessoa dentro deste
ou dos demais carros, onde deve estar, este carro a frente tem um
engenheiro civil assinando, um mecânico e um elétrico.
— E o que você acha mais arriscado?
— Não existe mais ou menos, qualquer coisa que pife, é pro-
blema, pois uma cortina que não abre, uma escultura que para de
subir, uma câmera de Luci que não dê a posição frontal, um sistema
hidráulico das esculturas giratórias dos quatro sistemas sobre os
sistemas de ligação, um sistema de luz que não acenda, um inter-
ruptor que parede funcionar, detonando toda a sequencia de uma
das apresentações, eu digo que este carro, é uma incógnita, nin-
guém sabe o que vai ser, ele perfeito, não atrapalha a nota, ele pela
metade, terá de ter muito improviso.
— E como podemos acreditar em um carro com tantos pro-
blemas podendo acontecer. – José.
João sorri e fala.
— Sempre digo, se um carro não entra com tensão, ele não
vai funcionar, carros que ficam muito tempo antes prontos, pare-
cem não funcionar na avenida.
— Mas tem formas de desviar os problemas.
— Vamos ensaiar para isto, podemos fixar algo para cima, te-
remos capas negras como o piso para todo problema interno, e uma
dança para o colocar, temos uma cortina a mais, temos duas linhas
379
de LED desativadas, para acasos como uma parada, dois disjuntores
a mais que fazem a mesma coisa, apenas caminhos paralelos, mas
que funcionam, mas nunca conseguimos adivinhar onde vai dar o
problema.
— Acha que tende a dar problema somente onde não olhar?
– Jesse – Rodney sempre diz isto.
— Eu acho que o problema acontece porque eu não consegui
prever ele, eu não vi o risco, então existia um risco, mas olhando o
todo, não o vi, e quando acontece, eu saberei que não olhei, mas foi
o não conseguir enxergar o risco que gera o problema, os óbvios, a
gente vê, o problemas são os não óbvios.
José sorri e fala.
— Então acha que se conseguir ver o problema, vai tentar evi-
tar.
— O maior problema, seria eu ter de ficar pensando que o
carro não entraria e sairia da avenida, todos me diziam, não entra,
não com estas armações únicas, como entrou, o projeto do carro
final, faz a parte baixa e alta, basicamente fixas na possibilidade, eu
pensei que ela iria passar sobre a parte inicial da arquibancada,
quando vimos que fez folgado, me deu a certeza que conseguíamos
projetar o carro que está lá na cidade do samba, é o carro mais alto
do desfile, com 4 andares de movimentos circulares, mais a parte
alta, de pessoas acenando da favela para a arquibancada, e 6 meni-
nos como os Bilac ali no fundo.
José olha para Rodney.
— Se superou neste.
— Sei que parece fácil, mas ainda não é o que nós queríamos,
mas com dois meses para fazer alguns, acaba ficando apertado.
O grupo terminou a cerveja, a pizza e saíram, João começa a
fechar tudo e olha para aquela menina com o pai entrarem.
— Estou só fechando.
— Podemos conversar? – Roberto.
— Assunto?
— Qual a ideia de minha filha estar neste carro em negro.
— Representação de tudo de positivo dos Tupis, Tamusi, mas
na cultura deles, o branco é morte, então nem o lado de cá e nem
de lá será branco, a cor de pele negra estava nas crenças dos seres
380
que aprontavam, que eram os que enganavam para levar ao cami-
nho ruim, mas se quiser mudar de lado, não tem problema.
Roberto olha o carro todo erguido, todo revestido, viu as esti-
lizações de um grande teatro e fala.
— Minha duvida, dá para acabar, sei que é uma aposta gran-
de, mas que tem a dualidade de dar certo ou errado.
— Senhor, é o risco, se der certo, alguém terá de inventar al-
go para nos tirar ponto, mas a ideia, ficar na memoria de todos, seja
na internet, seja na arquibancada, seja nos dias seguintes, liberando
os 6 vídeos do desfile feitos pelas câmeras internas, minha ideia é
começar uma retomada com crescimento do carnaval, não algo que
começa e acaba em horas.
— O presidente da Liga Paulista, disse que dependendo do
desfile, ele acha que consegue patrocínio, para desfile nosso junto
com as campeãs de lá, mas teríamos de desfilar por primeiro.
— Desde que não seja de dia?
— Acredito que não, mas sabe que não teria como?
— Sei, mas deixa eles verem e pensarem Presidente.
— Acha que vamos impressionar?
— Dar o Show.
— E o que vai fazer amanha? – Micaela.
João sorriu e falou.
— Nas partes nas divisões, ainda não tem nada.
— E o que terá ali? — Roberto.
— Um sistema que chegará a 12 metros, não é muito, mas
são 4 para o carro, sistema hidráulico que gira e acompanha as
apresentações com parte do fundo que muda.
— Complicando o projeto?
— Eu pedi os painéis, parte começa a ficar pronto, vi que nin-
guém entendeu o carro e comecei a fazer, eles querem um abre
alas, mas ninguém estava fazendo nada.
— Algo mais?
João pega uma luminária em plástico as costas e falar.
— 500 destas.
A menina pega e fala.
— E onde vai uma destas?

381
João pega os canos cortados, encaixa eles, coloca os acaba-
mentos de estremo, em borracha, monta e coloca no primeiro lugar
e a menina olha aquela soma de ferros erguidos e fala.
— Vai ser a toda volta?
— Sim, teremos nesse espaço meninas com metade do vesti-
do das baianas a frente e as costas do carro, e as costas, todo negro,
pois quando sua mãe ao topo do carro, fizer o movimento para a luz
acender todas estarão de costas para o publico, a cortina estará no
negro, e todo destaque estará sobre o carro.
— E eu?
— Seu ponto, e da outra moça, acesos, é o apagão geral do
carro para o inicio da apresentação, uma vez a cada 3 minutos, por
toda a avenida.
— E não teria como mostrar? – Roberto.
— Hoje não, pois não tenho como descer o sistema antes da
secagem, iria grudar no interior do mecanismo, teria de desmontar
uma destas pilastras ou todas se acontecesse.
Roberto olha em volta e fala.
— Melhor não, mas poderia dar uma demonstração quando?
— Na quarta, quando todos estiverem aqui para a explicação
do funcionamento, mesmo que sem as 80 esculturas, para começar
o treino, posso mostrar.
— E pretende avançar em que sentido ate quarta?
— Pintar a parte baixa e alta, talvez as colunas, as cortinas, ou
estilização delas, toda a parte de acabamentos a volta que vamos
guardar, pois vamos testar as luzes, mas assim que pintarmos as
luminárias a toda volta, é parte do material a montar no dia, assim
como as estatuas a todo carro, com exceção dos que giram, que
quero testar o mecanismo, todo resto, que não precisa estar ai, não
vem antes da ultima semana.
— E pelo jeito somente veremos totalmente pronto nos dias
próximos ao desfile.
— Sei que este é o que me deixa mais tenso, o abre alas e o
fecha alas.
— Aquele lá também parece problemático.
— Estava pensando se quando todas as esculturas estiverem
nos carros, não trazemos todos para cá e testamos eles todos mon-
382
tados, para ver se esquecemos algo, pois lá você não consegue er-
guer tudo. – João.
— Acha que cabe tudo aqui?
— Não, mas o meu carro, consigo testar todos os pontos lá,
mas mesmo aqui, vai ficar apertado, acho que o dois e o três pode-
mos testar lá, minhas preocupações são abre alas, e fecha alas.
Roberto chega perto do carro, ele estava erguido a 20 metros,
as partes internas todas recolhidas, mas dá a volta, agora tinha a
estilização de uma cortina a toda volta, em cada lado.
— Retirou as cortinas?
— Vamos pintar o carro, não era hora de estragar as cortinas,
já que elas em parte, são uma parte cara do carro, leves e resisten-
tes.
Roberto repara que ele fizera a parte dos fundos também pa-
ra o ajuste, olha para toda a armação e sorri.
— Agora começa, bem começo, a ser um carro alegórico.
— A ideia das armações altas serem claras, é que dá a sensa-
ção de mais leve, embora seja uma senhora estrutura.
— E pretende mesmo pintar isto amanha?
— A Parte que esta para fora, mas parte vai ser só no dia pri-
meiro mesmo.
— E parte?
— Sei lá, a ideia de tentar pintar no feriado, é que sem gente
a volta fica mais fácil.
João continuou a fechar e Roberto oferece uma carona para
ele, estava sujo, mas aceitou.
Banho e cama, estava precisando.

383
Domingo, uma agitação ge-
ral na região, muitos iriam a Copa-
cabana, ele nem sabia se queria ir
a esquina, toma o café e vê Sergio
entrar e olhar ele.
— Achei você.
— Problemas?
— Apenas querendo saber
como está o andamento do carro Abre-alas.
— Estava indo para lá, mas porque do interesse?
— Para saber como por no prospecto de desfile.
— Eu poria ele lá, mesmo que para isto eu não durma dois
meses, mas acho que o dormir faz parte do fazer rápido.
— Espero você terminar o café.
João toma com calma e foram para a região, entram com
Paulinho chegando e Silvino ao fundo, este parecia sempre querer
algo que não teria, mas era bom começar sedo.
Paulinho chega e fala.
— Silvino já reclamando.
— Caiu algo?
— Não sei, ainda não entrei.
Ele entra e Roberto já estava lá, olhando o carro.
— Problemas senhor?
— Consegue me explicar o que pretende, é obvio que está
pensando em algo, e as vezes eu fico tenso, pois este carro é gigan-
te.
Sergio olha o carro já com fibra, já erguido, já com parte dos
isopores já cobertos, painéis de 4 metros por 4 metros, 20 placas,
estranho o espaço que algo como aquilo tomava espaço.
Olha o carro, sorri, o carro finalmente evoluindo.
João olha para Roberto e apenas pede um momento.
— Paulinho, consegue tirar os cristais da parte alta?
— Vai pintar por lá?

384
— Vou passar uma base bem fina de fundo, sobre isto vou ali-
sar, e após isto pintar.
— Como vai passar a base?
— Tem um sistema adaptado ao fundo, que era original de ja-
tear areia, mas com menor pressão e com base epox de fundo, dilu-
ído a ponto de pasta, apenas com meio por cento de endurecedor,
dá para usar com ele, a ideia, começa cobrindo a parte das ilumina-
ções altas, começa de cima para baixo, vai ficar um pouco disforme,
mas é que o material conseguimos lixar sem abrir buracos.
Paulinho sai para tirar os cristais e olha para Roberto chegan-
do ao comando, olha se estava seco ao toque e desce toda a estru-
tura, o que para Paulinho ficava mais fácil, chega a parte externa e
fala.
— A ideia Roberto, é uma encenação, de evolução, um quatro
em movimento, da altura de um prédio de 6 andares, então obvio, a
ideia é complexa, ela começa com peças que mudam, em 4 cená-
rios, as grandes estruturas, tem como objetivo, dividir o carro em
atos, a evolução estabelecida em 4 efeitos, o natural na primeira,
que teremos a pré historia, 2 milhões de anos, 20 mil anos, os indí-
genas, as sociedades Marajoaras. A segunda parte, a língua, os nati-
vos, os dialetos de varias nações em eterna guerra, a chegada do
português, a chegada das 12 linguagens Afro, as demais línguas,
terceira encenação, os poemas Tupi, a chegada do Português com
grandes poetas e Castelhano com suas , a mistura com as lingua-
gens Andinas, e entrada dos Africanos com seus poetas, o ir dos
nossos poetas exilados a locais na África, e por fim a entrada das
demais literaturas. Quarta parte, nosso linguajar, 4 causos, dentro
de uma linguagem própria, apresentando nossa forma de fazer, de
dizer, de ser.
— Confuso. – Roberto.
— Sei, se fosse para contar tudo no abre alas, não precisáva-
mos do desfile após.
— Ta enrolando. – Roberto.
— A primeira dama não quer ir lá encima?
— Como disse, são 6 andares.
— Talvez dos mais seguros que ela já desfilou, mas obvio,
quer uma solução?
385
— Sim, Micaela falou do carro no café da manha e ela ficou
me olhando e falando para baixar o lugar.
— Vou pintar a primeira parte Roberto, e na quarta, mostro a
ideia, se ela não quiser eu tenho um tempo de mudar.
— Mudaria?
— Quem sabe fique melhor.
— E o que Silvino está com cara de poucos amigos?
— Acho que ele não entendeu senhor, eu fiz um pré projeto,
bem básico, mas agora começo a dispor de todo o complexo de
ideias, eu não sei ainda onde tudo vai, ontem mudei lugares, prova-
velmente a cada peça que entre, as coisas mudam um pouco, mas a
ideia, é um teatro,
— E pelo jeito não vai parar de dispor as coisas.
— Como falei Roberto, temos de pintar a base, mas já que a
primeira dama não quer – João olha para Sergio – Pergunta para
cada destaque se vai amarelar ou não.
— Certo, mas acha seguro?
— Se quiserem um sinto de segurança para cada, eu consigo.
— Vou falar com ela. – Roberto vendo que o carro agora seco,
ficava estranho.
João pega as placas já em meia cura, começa a encostar ao
fundo, e começa a por uma proteção no piso, depois coloca as par-
tes que estavam dentro dos buracos giratórios no carro, e coloca
sobe a proteção, prepara a massa epox diluída e passa em todas as
peças que estavam a mais de um dia em secagem.
No carro ele corta rebarbas, acerta cantos, coloca um ou ou-
tro trecho a mais de fibra, e foi olhando os detalhes.
Ele marcou os lugares que fizera naquele dia, isola a área com
iluminação, e começa a jatear toda área alta, com aquela massa,
ficava uma camada uniforme, o carro ia mudando de cor.
Ele olha o carro e o ergue de novo, para deixar a cura da se-
cagem ficar o mais uniforme possível.
João estava esperando Silvino falar, como não falou, parou e
ficou olhando ele.
— Você me tomou o carro.
— Silvino, qual o problema?
— Não sei fazer estas coisas.
386
— E o que podemos fazer, eu preciso terminar, eu dei uma
ideia, vocês não andaram, o carro abre alas começa a ser o carro
mais atrasado, o que eu posso fazer?
— Você põem coisas feias no carro.
Silvino olha para a armação desmontada e João pergunta.
— Quer mudar algo, faça, mas dentro do prospecto do enre-
do Silvino, mas ainda não tem nem a base, é o que estamos fazen-
do, não foi feito, tem de entender, eu acelero mesmo os processos,
mas o faço, com minha mãos, como sempre digo, eu sou o rapaz do
barracão, não das coletivas de imprensa.
— Mas tomou minha equipe?
— Tá com ciúmes Silvino, não está entendendo nada.
Sergio viu que era mais um chilique de Silvino, e chega ao la-
do e pergunta.
— E dai Silvino, gosto de ver que seu carro começa a ir ao
prospecto que me apresentou a dois meses.
João saiu e Silvino sorriu, ele queria é atenção e fala.
— Ainda tenho de ficar de olho nestes principiantes.
— Vejo que resolveu o problema de divisão de área, estava
na duvida se iria por ali algo menos visível, escolheu algo para ficar
bem evidente.
Silvino viu João ir para a parte interna, Paulinho olha para ele
e fala.
— Vamos fazer o que?
— Pergunta as vezes para Silvino, ele gosta de sentir que
manda algo Paulinho.
— Mas é frescura em pessoa as vezes.
— Ele vai assinar este carro, está nervoso.
— Vai me explicar como funciona a ejetora?
João olha o prospecto da prensa e fala.
— Criamos uma forma em cera, este forma é exatamente a
forma que queremos, dai jogamos gesso a toda volta, agitando para
não fazer bolha, demora um dia para ficar bem firme, dai levamos
ao forno, a cera derrete, colocamos em uma panela para outros
moldes, já que quando secar volta a ser um tablete.
— Após isto, pegamos uma mistura de alumínio, que e colo-
camos na forma.
387
João olha em volta e fala.
— Este modelo mandamos para uma empresa que faça mol-
des, eles criam aos dois lados de ferro, fundido.
Paulinho viu que não era fácil.
— A vantagem de coisas assim, é que mandamos vários mol-
des para eles, e volta vários modelos, dai temos o maquinário a
frente, a base na forma, a forma que se ajusta sobre ela e pressiona
na temperatura certa.
João olha para os granulados de plástico e fala.
— Compramos o granulado para ejetora, e para cada forma
destas, vai uma medida destas. – João pega um copo, derrubou ali e
apenas acionou, Paulo viu apenas descer e subir e o material se
soltar, Joao tira ele e Paulo fala.
— Então a parte demorada disto, já foi.
— Vamos fazer as luminárias, depois as coroas, que a Sueli es-
tá pedindo as coroas para fazer o acabamento, depois os brasoes
frontais e traseiros, mas isto tem de ter atenção, uma mão para
dentro e deixa-se de ter mão.
— Certo, mas acha que isto produz quanto?
João coloca a maquina na posição, o alimentador automático,
a medida em peso de produto, liga o sistema de ejeção a ar e ape-
nas fala.
— Já saberemos.
João liga e todos a volta começam a ouvir aquela maquina ba-
ter e soltar o produto ao lado, e bater de novo, Paulinho olha as
peças caindo ao lado, olha o relógio e fala.
— Uma a cada 15 segundos, 4 por minuto, mais de duas ho-
ras para ela fazer todas as 500.
— Imagina manualmente Paulo.
— Certo, e vai fazer o que?
— Puxar uma mesa, e ir as pintando enquanto saem, eu serei
mais demorado do que uma a cada 15 segundos, então vai demorar
a parte da manha para pintar, depois tenho de começar a dobrar e
soldar os encaixes, após isto, a forma do acabamento da mão, e dai
começa a parte que teremos de deixar alguém empilhando e encai-
xotando para mandar para a cidade do samba.

388
— Certo, vou conseguir as caixas enquanto você verifica o es-
paço para ir 500 peças destas.
João caminha ao fundo, encosta para aquele lado as mesas
que deixara as placas deitadas a noite, coloca ali, pega a pistola,
coloca a tinta perolada automotiva, coloca a luva e começa a pintar,
ele sabia que tinha de ser feito, Silvino olha para Sergio e fala.
— Ele tem toda energia de barracão, não de criação.
— Ele quer adiantar coisas que estão atrasadas, então não sei
até que horas ele vai, mas com certeza, se conseguir ajudar Silvino,
como conseguir colocar mais mesa lá, aquele é o prospecto da lu-
minária que as meninas a volta do carro vão se segurar, mais de 500
delas.
Era meio dia e meio quando os dois param um pouco, pois a
maquina já fazia os brasões, e fazer 200 brasoes, foi tão demorado
quanto as armações ali, mas facilitava muito o trabalho das costu-
reiras.
João chega a Sergio e fala.
— Acho que eu não divido muito as coisas, talvez este carro
estivesse parado por minha culpa Sergio.
— Porque acha isto?
— Acostumado a montar tudo sozinho.
— E o que fará a tarde?
— Vou tentar antecipar algumas partes que disse que faria e
não entreguei, os brasões vão para Sueli, para o vestido das baianas,
depois vou fazer as laminas de energia que saem da saia, mas en-
quanto a tarde, vou comer agora, a maquina faz estas vou pintar os
brasões de dourado, então no fim do dia talvez precise de espaço,
para tanta peça.
— Pelo jeito enquanto outros pensavam como, você resolveu
industrializar a coisa.
— Vai ter de lixar as pontas, mas as laminas, vão sair com
pontas de encaixe, então vou colocar nos restos do isopor e pintar.
Paulinho fez sinal para Silvino e João pergunta.
— Vamos comer algo.
Almoçam e na volta José olhava que tomaram toda a área ex-
terna e pergunta.
— Quer as placas a mais hoje?
389
— Encosta na minha sala, pois tem hora que temos de produ-
zir muitas peças.
— Você coloca 50 pessoas como inoperantes rapaz, em horas
produz o que tem gente que demoraria dias.
— Estava falando com Sérgio que tenho de aprender a de-
mandar mais do que demando, eu deixo para mim todo o acaba-
mento.
João deixa Paulo pintando os brasões e foi a parte de canos e
começa a cortar varias peças com o mesmo tamanho, depois ele
curva uma parte, a outra, corta o encaixe em todas as peças e co-
meça a soldar as três peças, ele fixa elas ao chão e passa a primeira
mão de tinta naquelas peças, e deixa todas de pé, no corredor entre
os dois carros que não tinha ninguém fazendo.
Ele pega as peças de encaixe onde as pessoas se segurariam,
e foi encaixando, com a tinta ainda fresca, usando a tinta como
cola, põem todas os mil apoios, e volta para ajudar Paulinho, e os
dois terminam os brasões.
O modelo de raios de energia, fazia de doze em doze, então a
cada duas baixadas, tinha uma baiana.
João pega espuma no fundo, os retalhos, e começa fazer elas
em mais uma mesa, e volta a pintar.
Encostam algumas mesas com cuidado ao fundo e começam
a organizar as peças em posição de secagem e o relógio insistia em
dizer que já era oito da noite.
João colocou outro modelo na injetora e enquanto ele ajeita-
va mais lugares para passar a massa no carro e nas placas.
João senta um pouco e Sergio que tentava ajudar, mas come-
çava a ver que tudo que se fizesse naquele carro, era uma soma
imensa de coisas.
— Olhar você cansa João.
— Consegue pedir umas pizzas e umas cervejas, pois daqui a
pouco não vamos parar por motivos de não ter o que fazer, e sim, o
barracão não comporta mais.
Sergio olha em volta e fala.
— E a maquina vai trabalhar muito pelo jeito.
— Cada molde agora não tem mais do que 30 peças.
— O que estão fazendo lá.
390
— Pede a pizza, vou preparar a tinta e quando voltar eu mos-
tro.
João foi ao banheiro, e Paulinho olha Sergio.
— Vamos parar hoje por falta de espaço após pintar estas
partes que ele quer, mas ele vai começar pelas colunas do carro,
depois os pisos, as bases de todo um carro, as placas.
— Agora entendo como ele trabalha, sistemático, passo a
passo, estranho como algo pode ser demorado, no ritmo que ele
faz.
— Ele está criando um carro que nunca fizemos Sergio.
— Acha que ele vai pensar no que Roberto falou?
— Acho que ele vai terminar de fazer as partes, a encenação
precisa ser feita, mas ele quer mostrar antes, a escolha é da senho-
ra, ela não sobe por uma escada a 20 metros, ela é erguida.
— Acha que ele muda se Roberto insistir?
— Sim, mas tudo que ele fizer, vai a tirar do foco, não a por
no foco, embora existem formas de o fazer, ele pensa em uma.
Sergio foi ao telefone e pediu as pizzas, as cerveja e refrige-
rantes e João chega ao carro, sobe o primeiro trecho, e passa a mas-
sa nele, sobe cada uma das partes e foi passando a massa com o
aplicador, ele começa a passar em todo piso, ele caminhava pelos
trechos de madeira, e foi fazendo o piso, mesmo com a pistola, era
demorado.
Ele começa a fazer a parte de trás, e quando ouve as pizzas,
apenas passa uma massa bem leve nas placas, passa uma agua na
compressora e lava as mãos.
Sergio olha para ele e fala.
— Não para mesmo.
— Estou num barracão imenso, e começa a me faltar espaço,
explica porque preciso fazer isto sem todos andando por ai Sergio,
todos ficariam perdidos no meio.
Sergio sorriu e viu João pegar uma cerveja, tomar ela e olhar
em volta.
— As vezes como digo sempre, tenho medo deste carro, mas
vou projetar uma mudança, a escolha não será minha.
— Pelo jeito não gosta de mudanças de planos. – Silvino.

391
— Eu gosto de mudanças, mas as pessoas tem de entender,
eu fiz um prospecto de criação, e toda criação, requer tempo para
execução, toda mudança, nos joga mais dias na madrugada, mais
sobre o desfile.
— Certo, é um carro imenso, agora uniformizou de um jeito
estranho, eu não entendo porque deste material.
— Sei disto, mas quero na quarta que alguns entendam.
— Certo, mas o que falo sobre a solução que Roberto pediu?
— Temos duas formas, uma esticar alguns metros a frente, o
problema é que para ser visível tem de puxar muito para frente,
pois o carro é alto, mas é possível.
— Certo, um ponto bem mais baixo, mas não estaria sobre o
carro original.
— Silvino, testamos ele neste tamanho na avenida, não ele
com partes a frente, mas sei que dá, mas não quer dizer que seja
legal, mas pode ser que seja.
— E vai fazer o que para convencer Roberto.
— Ele não vai decidir, não é ele lá encima, mas obvio, alguém
tem de sentir se é seguro.
João come dois pedaços de pizza e olha para Sergio.
— O que estamos pressionando são as cabeças dos rapazes
das partes animais da apresentação do carro, mas requer pintura e
acabamento.
— Certo, algo para o carro, mas tem várias formas.
— Sim, temos muitas coisas que precisam de peças assim no
esquema de montagem.
— E acabou hoje?
— Ainda tenho algumas coisas para montar e cortar em me-
tal, para montagem amanha, mas nada demorado.
— Vai começar a montar as partes?
— Sim, toda elas.
João levantou-se e foi até a ejetora e pegou uma peça, deve-
ria ter mais de 70 centímetros de altura, era meia cabeça de um
Dente de Sabre, pega outra cabeça de um mastodonte e de uma
preguiça gigante, as duas metades dos três tipos, tinha mais coisas
ali, mas ele leva a mesa e fala.

392
— Cabeças, prendemos as pontas e colocamos uma pequena
camada de fibra e as duas partes se unem para o pessoal começar a
pintar.
Sergio olha aquela cabeça de 70 centímetros de um dente de
Sabre bem realista.
— Quer dizer que os humanos da frente serão animais?
— Sim, o humano não nasceu ainda.
— Está mesmo querendo que ande em todos os sentidos.
— Sim, as coroas que tiramos, pintamos apenas o fundo dou-
rado, mas vão mais detalhes, é a coroa que toda baiana vai usar.
Sergio levanta-se e olha uma e fala.
— Está dispondo de tempo para toda a volta?
— Sim, esta maquina vai trabalhar pelo menos 12 dias ainda,
tem peças para muitas alas.
— Não entendi. – Silvino.
João pega uma fatia a mais e vai as formas, e pega uma em si,
coloca, sabia que seriam 40 fantasias daquela, então marcou para
80 batidas, e enquanto a maquina começa a fazer, ele caminha até a
parte das costureiras dali e pega uma armação ao fundo, pegou
apenas uma, leva para onde estavam comendo e encaixa uma das
partes que eram uma espécie de apoio de ombro, e se erguia muito
acima, e prende metade de uma estrutura, e depois a segunda e
coloca no ombro e olha para Silvino.
— Somos uma escola, não é apenas carros, é um todo.
Sergio viu que era um animal com um nariz estranho e per-
gunta.
— Que animal é este?
— Um Xe-nori-no-tério, me bato em falar este nome, não te-
mos estudos sobre eles, pois não sabemos de qual arvore ele veio,
mas ele desaparece e não deixa nada em seu lugar.
— E vão pintar este? – Sergio.
— Não, a pintura é nos dentes, e nos olhos, o resto, aquele
material que Pedro comprou em New York vai dar esta dimensão a
cabeça.

393
Sergio viu o desenho e falou.
— Parte ala e parte interna?
— Sim, vamos começar a fazer as fantasias internas, sei que
não é parte de meus custos, mas é parte daquela liberação que o
pessoal da costura pediu.
— A cor daquela pele, parece bem propicia, elas vão fazer
como?
— Costurar elas e Vestir as cabeças. – João.
— E pelo jeito é serio que está ajudando a todos. – Silvino.
— Atrapalhando todos, todos reclamam Silvino, pensa que no
dia dois, a Sueli da costura, que me pede achando que vamos atra-
sar a entrega das peças, e tem de costurar tudo até março nas saias,
que ainda estão na armação, olha chegar todas estas caixas lá e
começa a reclamar, antes por não mandar, depois, por nos precipi-
tar em algo.
— E porque se preocupa com as baianas? – Silvino.
— Pode não ter entendido Silvino, mas as baianas, são parte
do carro abre alas.
— Eu nunca penso nas fantasias. – Silvino.
— Mas ouve, você é quem assina este carro ai, se pergunta-
rem por que de tudo isto, espero que o defenda.
João pega aquelas peças, olha uma mesa desmontada ao
fundo, e começa a montar as mesas no corredor de entrada, que
tinham as salas, e começa a juntar as cabeças com alicate nas duas
pontas e coloca elas uma a uma naquela mesa, depois pega as pla-
cas que José colocara para fora, e coloca na mesa também e vai a
parte interna e faz o preparo para a fibra e começa a por na junção
394
das partes, e depois nas placas, enquanto os demais cansados olha-
vam ele fazendo aquilo, Sergio olha aquela soma de coisas e fala.
— Se deixarmos você coloca uma escola inteira na avenida.
— Eu sou o cara que alguns devem começar a perguntar em
Curitiba quando volto para fazer os carros e fantasias da Sitio Loco,
nossa escola de samba.
— E vai ajudar lá?
— Espero ter tempo para isto.
— Acha que não consegue? – Silvino.
— Acho que as coisas lá se definem bem depois daqui.
João lava os materiais e foi a parte do fundo e começa a fazer
estruturas de um metro por vinte cinco de largura e um de altura,
começa a soldar varias daquelas, e o que parecia uma parada para
os demais, fazia João não olhar eles, queria ainda terminar aquela
parte de ferragem.
Sergio olha para Paulo e pergunta.
— Ele não para?
— Ele quer estabelecer os painéis, ele pediu para fazerem va-
rias coisas, mas vai ter de conseguir montar, cada carro terá algo
para se montar nas próximas semanas, mas as estruturas deste não
foram feitas ainda.
— Estruturas? – Silvino.

Paulinho pega o esboço da parte interna e fala.


— Aquela parte que vai dar cenas, que vai dar palco, que vai
dar evolução, aves ao ar, ou Pterodátilos, ali tá o cru, quando ele
fala que falta muita coisa Silvino, tem de ver que pintamos onde vai
395
gente, e vai ficar visível, entendo quando eles acham que o sistema
está vazio, que não entendem o andamento das coisas, mas é que
tudo é uma cena, uma imensa sena, e para ter cena, precisamos das
peças teatrais.
— Mas...
Paulinho pega o prospecto, Sergio tentava não rir, pois o ra-
paz nem olhou esta parte, e estava ali, se ele sabia que iriam partes
internas, que todo aquele peso foi testado, talvez isto que gerasse a
apreensão, mas agora era fazer estrutura, João tentaria erguer no
dia seguinte a parte externa ao carro, mas ele apenas começa, sente
o sono e vendo os demais pregados, ele desliga as coisas e fala.
— Vamos, não dá mais para manter a concentração.
Os demais sorriram e Paulinho deixa ele no hotel, novamente
banho e cama.

396
Dia 31 de Dezembro, a mai-
oria se preparando para o réveil-
lon, João apenas desce ao restau-
rante, toma café calmamente e o
rapaz do hotel pergunta se ele
participaria do Jantar especial
daquela noite, ele estava com a
cabeça longe e não sabia, o rapaz
o fica olhando querendo uma resposta, então ele diz que não.
O caminhar por ruas fechadas naquela manha, estabelecia
que muitas coisas não abririam.
Passa num mercadinho no caminho, pega uns salgadinhos, al-
gumas coisas e vai ao barracão, o entrar já estabelecia a calma, o
segurança o cumprimenta e aquele silencio em um barracão imen-
so.
Ele olha o ponto de secagem, substitui o molde da injetora,
pega uma caixa e coloca as pontas de flecha, pega outra e coloca a
das espigas de milho, pega outra e coloca os girassóis, numerando e
marcando as caixas, ele gostava de organização e naquele momen-
to, estava uma bagunça.
Vai a parte da ferragem e começa a fazer as divisões internas
do carro central, quando ele monta a parte do meio, sumiu no meio
da ferragem, segunda volta, só vai somando peças, ainda na primei-
ra de 4, e não daria para fazer mais de duas daquelas por mais que
se esforçasse, então de tempos em tempos, quando parava de ouvir
a injetora, ele ia a ela, mudava o molde e voltava a fazer a solda,
quando depois da uma, ele para um pouco e faz um lanche, pega a
lixadeira e começa a passar na parte das peças externas, depois de
cima para baixo em cada uma das partes do carro.
Ele sabia que não era o mesmo acabamento que se consegui-
ria em coisas menores, para as 18 para fazer um lanche novamente,
muito trabalho, quando se viu próximo da meia noite, a ultima placa
que tinha passado a massa, pega o aspirador e começa a ouvir os
fogos, algo aperta no peito de João, ele estava triste, estava traba-
397
lhando para não pensar, e os fogos estabelecia, todos festando e ele
sozinho.
Ele para um momento, olhando o carro, uma lagrima lhe cor-
re o rosto.
Respira fundo, olha para os sentimentos internos, alguns gos-
tavam da data, alguns odiavam, mas nada lhe fez mudar a forma de
ver aquela data, não que fosse especial, era triste, pois ele estava
só, não era a data, era como ele estava por dentro.
Ele passa o aspirador em toda região, e começa a limpar toda
a parte alta, quando se tem algo daquele tamanho, você tem de
passar um pano para tirar o pó, e demora mais de uma hora para o
fazer, soube que foi mais de uma hora, quando a uma da manha
teve a segunda leva de fogos.
Ele prepara a primeira leva de prime, e passa na parte frontal
do carro, nas placas de isopor que iriam ao carro, senta perto das
duas da manha, e come mais um salgadinho, pega uma cerveja e
olha o carro.
Fica a olhar ele, somente o segurança a entrada estava ao
fundo, sabia que já tinha mudado duas vezes a segurança e estava
ele ainda ali.
Quando ele faz as placa de acrílico, transparentes, deixa elas
esfriando. Pega mais base de Polistireno(PS), coloca a cor da escola
e coloca um molde, o sistema automático de retirada, e deixa ali
fazendo, teria muita coisa, um diferencial. Pega a carteira e começa
a voltar, muita gente bêbada no caminho, chega ao hotel, ele não
vira nada de noticia.

398
João acorda com o interfo-
ne, já era meio dia, e atende e o
rapaz da portaria fala que Gabriel
estava ali e queria conversar.
Estranha, mas toda vez que
fica muito tempo isolado, as coi-
sas aconteciam, ele não entendia
muito destas coisas. Olha a hora e
desce, a cara de poucos amigos de Gabriel fez João pular direto no
barco.
— O que fiz agora? – João encarando o rapaz.
— Quero falar.
— Vamos ao almoço, acordei agora.
— Festou muito ontem?
— Talvez alguém tenha razão, tenho de aprender a estar on-
de alguém me veja.
— Meu tio Ricardo, sumiu na noite de ontem, foi resgatado a
pouco mais de uma hora.
— A policia é para isto Gabriel.
— Ela está tentando induzir que ele teve problemas com o
trafico da favela aqui ao lado, e adivinha onde acharam ele?
— Nem ideia?
— Pensão da Marta lhe induz a algo?
— E que horas vem me prender Gabriel, já que realmente eu
deveria desistir.
— Porque João?
João não sabia o que responder, ele não fizeram, e novamen-
te iriam jogar sobre ele e fala.
— Se até quem eu ajudei, acha mesmo que fiz Gabriel, some,
tô de saco cheio com esta infantilidade da polícia local, mas se está
aqui, queria algo?
— Saber porque?
— É a pergunta, porque eu faria isto, não ganho nada com is-
to, e talvez, vocês realmente precisem acordar para a vida.
399
Gabriel olha a policia entrando armada as costas e João ape-
nas olhava para o rapaz e levanta as mãos, sem falar nada e olha
para o delegado da Antissequestro, e fala.
— Desarmado.
João é conduzido a delegacia enquanto Sergio chega ao bar-
racão com Roberto falando.
— Não entendo sua acusação Roberto, porque ele?
— Ele não estava em lugar nenhum ontem.
Sergio abre o corredor e olha para o carro e fala.
— Acho que o carro explica onde ele estava senhor, ele traba-
lha, e ninguém lhe dá apoio, não entendo a logica de vocês.
Roberto olha o carro já lixado e com a primeira de Prime em
todo ele, e Paulinho pergunta.
— Ele atrasou?
— Ele foi detido hoje cedo Paulo.
— Motivo? – Paulo olhando Sergio.
— Acusado de ter organizado o sequestro de Ricardo.
— E o que ele ganhou com isto senhor, pois eu sai daqui dia
30, o carro não estava com prime, ele tem de ter lixado sozinho o
carro inteiro e pintado, pode parecer pouco, mas não é.
— Isto não o transforma em inocente. – Roberto.
Micaela olha para a mãe na cobertura e pergunta.
— O que me esconde mãe?
— Prenderam aquele João Mayer por organizar o sequestro
relâmpago de seu tio ontem.
— E quem o acusa, mãe?
— Ele é estranho, não se envolve, típico de quem não é de
confiança filha.
— Não mãe, ele apenas não envolve as pessoas nos proble-
mas dele, mas é bom saber que vou ter de me mexer.
— Seu pai não gosta disto.
Micaela olha Gabriel e pergunta.
— Quem acusou que até você tá com esta cara de bosta.
— Ele não estava em lugar nenhum ontem.
— Procurou no barracão, não, era dia de beber com o pesso-
al, provavelmente ele trabalhou o dia inteiro e vocês festaram o dia
inteiro e ele que é o irresponsável.
400
Micaela pega o celular e disca para Paulinho.
— Saindo em um minuto, vamos a antissequestro.
Paulinho organiza a segurança na porta do prédio e a menina
liga para um amigo e fala.
— Francisco, querendo trabalhar no primeiro dia do ano?
— Quem quer que defenda menina?
— Antissequestro, João Mayer, acusado do sequestro do meu
tio ontem.
— E porque o vai defender então?
— Porque quero o culpado, não o bode expiatório Francisco,
ele trabalhou o dia de ontem inteiro, e sei que meu pai vai pressio-
nar a segurança do barracão a não depor, então, apenas chega lá e
conversamos.
Micaela olha Gabriel antes de sair pela porta e fala.
— Tem de entender Gabriel, trabalhadores não tem álibi, álibi
só bandido tem, eu passei ontem o dia quase todo sozinha, isto não
me torna em culpada.
— Mas...
— O que ele ganha com o sequestro, já que o que ele proje-
tou para você tocar o ano que começa hoje, supera o que, o recurso
que ele vai ganhar no fim de tudo, em uns mil por cento? Acorda.
— Mas o pai disse que é ele.
Micaela olha a mãe e fala serio.
— Espero que meu pai não esteja envolvido nisto Gabriel,
pois não gosto de por ele na parede, mas geralmente quem acusa,
sabe o que aconteceu.
Micaela sai e Gabriel olha a mãe que fala.
— Não sei filho, mas ela se envolveu com este também?
— Não, acho que ela está se culpando, mas não entendi por-
que, mas vou verificar algumas coisas.
Gabriel sai dali com destino do barracão e olha para seu pai
falando com o segurança e fala.
— Não esquece Silva, não minta em juízo, meu pai nega de-
pois que pediu isto.
Roberto olha para o filho e fala.
— Defendendo o marginal já.

401
— Não sou eu que estou criando provas pai, então não estou
ainda lhe defendendo, o que aconteceu pai, que quer parar a pró-
pria escola este ano.
Roberto olha o filho.
— Ele está fora dos projetos, ele assumiu o carnaval.
— Isto o torna inimigo, sabem conversar?
— Não vou discutir com você.
— Se não quer a escola na rua pai, renuncia a presidência de
honra, pois isto não tem honra nenhuma.
— Vai me ofender por aquele rapaz?
— Não pai, eu vou apenas verificar o que está acontecendo,
pois uma coisa ele tem razão, dois milhões não se oferece assim
para as pessoas, conheço poucos que tem isto em espécie.
— Não fui eu filho.
— Começo a duvidar, pois está aqui eliminando o álibi de al-
guém que trabalhou o dia de ontem, então ou o sequestro foi uma
farsa, ou tem algo ai pai, e não gosto de prejudicar a escola.
— Você está longe filho, está se bandeando para outras esco-
las e ainda defende este rapaz.
— Pai, acusar alguém inocente de sequestro, é crime, não
hediondo, mas imoral, antiético.
Micaela para na entrada e Paulinho olha ela sair do carro ao
fundo e o policial viu pararem a rua, não era qualquer uma vindo, a
menina que muitos tinham medo.
Francisco Machado chega a ela e fala.
— Eles não tem nada.
Ela olha o recado do irmão e fala.
— Consegue a liberdade dele, ele tem trabalho, tem empresa
e tem residência.
— E como sabe que ele tem trabalho?
— Ele é meu sócio na criação de camarão da Malásia na regi-
ão, ele tem uma empresa em sociedade com meu irmão, ele tem
recursos suficiente para aparentar mais, mas insiste em fazer ape-
nas o que quer. Qualquer coisa, eu sou álibi para ele.
O advogado pede para falar com o cliente, o delegado disse
que não teria como.

402
— É direito dele senhor Delegado, ele não estava escondido,
ele estava onde todos achariam ele, até o senhor.
— Estamos ainda juntando argumentos.
— Quer dizer, inventando, pois ele trabalhou ontem o dia in-
teiro, e se for o acusar ele tem álibi, residência, empresa, e o senhor
que escolhe delegado, como vamos fazer, na lei ou fora dela.
João estava sentado na sala de entrevista, esperando para ser
interrogado, uma da almas ouve aquilo e sai olhando e viu a menina
olhar o espirito aos olhos e falar baixo.
— Ninguém me viu ontem, sou o álibi perfeito.
João pensa se deveria envolver a menina naquilo, mas ela es-
tar ali com advogado e segurança estabelecia que era algo diferen-
te, e o espirito olha Ricardo chegar ao lugar e olhar a sobrinha.
— Porque acusar ele tio?
— Porque não seria ele?
— Passei com ele o dia de ontem inteiro, trabalhando, tro-
cando ideias, se ele é culpado, vou acabar ser a culpada também tio.
Ricardo olha a sobrinha e pergunta.
— O que seu pai fez para precisar de dinheiro menina?
— Quanto?
— Dois milhões.
— Tio, é trocado, é para complicar o rapaz, mas algo está er-
rado, e não sei o que.
— Acha que é armação?
— Ou ciúmes bobo, ele me vê como uma criança.
— E o que fizeram ontem?
— Estamos implementando a criação de Camarão da Malásia,
e o camarão branco em confinamento, estávamos parte do dia no
próprio barracão, parte na criação de camarão.
— Porque disto sobrinha.
— Ele me mostrou que podemos tirar não 4 milhões ano, e
sim 32 milhões ano na área total, sei que alguns acham isto trocado,
e estamos parados, pois tínhamos um problema estrutural a concer-
tar, mas em Fevereiro devemos começar a tirar diariamente perto
de 140 mil em camarão, meta em 4 anos, estar tirando 50 milhões
em camarão ano.
— Dai viraria trocado este dinheiro.
403
— Não, mas é o começo, ele gosta de carnaval tio, ele estava
tentando fazer o Gabriel entender como outras escolas funcionam,
menores, pode ser ciúmes de meu pai, duplo, mas pode ter algo a
mais, nosso carnaval não é para ganhar, e sim para vender, e parece
que algo não agradou meu pai.
— Acha que ele é inocente?
— Ele odeia estar no tumultuo, mas acho que a primeira vez
que ouvi a frase, quem tem álibi é bandido, foi do senhor.
— Vim falar com o delegado, mas agora começo a entender
parte do problema, mas aquele seu namoradinho da federal tem
parte nisto, pois estava ontem falando muito com seu pai.
João estava a sala e ouve o delegado chegar e falar.
— Seu advogado.
Francisco entra e foi falar algo e fala.
— Não dê dados, as paredes aqui tem ouvidos, mas entendi a
ideia, mas odeio ter de envolver a pequena Micaela nisto.
— Pequena, não está olhando para ela senhor.
— Certo, mas eu trabalhei o dia de ontem, posso ter o feito
em dois lugares, mas não entendi como me ligaram a algo que não
tenho nenhuma participação.
Ricardo chega a delegacia e o delegado olha ele e fala.
— Pegamos um.
— Pegaram ou pegaram um inocente e vão jogar sobre ele? –
Ricardo olhando o delegado.
— Temos uma testemunha que o viu no prédio que foi acha-
do.
— Sim, o prédio é dele, mas a pergunta, quem me deixou lá,
não arrasta R para falar, fui deixado lá 10 minutos antes de vocês
me tirarem de lá, obvio que não foi lá que me deixaram a noite,
quero os culpados, não indução delegado.
— Seu irmão...
— Se meu irmão sabe quem fez, quero ele depondo, pois
acusar a rapaz porque não quer um negocio dele com minha sobri-
nha, apoiado por aquele delegado da Federal que culpa o rapaz pela
morte da mãe dele, desculpa, quero fatos, não fofoca delegado.
— Porque não seria ele?

404
— Ser for ele, terei de acusar minha sobrinha, os dois passa-
ram parte do dia no barracão da escola, pintando um carro, parte
na criação de camarão que eles tem em parceria.
— E porque sua sobrinha não faria isto?
— Talvez não saiba delegado, mas aquela criação de camarão
gera para ela mais de 30 milhões de reais ano, ela é das poucas na
família, que realmente trabalha.
— E os dois são sócios nisto?
— Sim, ela tinha um terreno, ele um pouco maior, e começa-
ram a fazer a criação, sei que tiveram problemas por alguns policiais
não quererem que se abra buraco naquele terreno, mas eles estão
na parte próxima a rodovia, faz parte do facilitar transporte.
— E porque o delegado acharia que ele matou a mãe dele.
— Senhor, o delegado Camargo, culpa o rapaz que estava no
buraco do Alemão na região do Galeão, pelas mortes a volta, não dá
para entender, mas ele e o irmão dele o culpam, embora ele teve de
ficar mais de 30 dias no soro para sobreviver, ele não conseguia
erguer as mãos, quando foi encontrado, crianças que viram delega-
do, e chamam minha sobrinha de criança, mas morrem de ciúmes,
não entendo esta historia toda ainda.
— Então o rapaz ali é o rapaz que tiraram do buraco vivo, se-
ria este?
— Sim, se reparar ele ainda está se recuperando.
O delegado olha Ricardo e fala.
— Obrigado pela colaboração, as vezes esquecemos que as
pessoas acusam quem querem parar, ainda coisa daquele terreno,
não duvido que até seu irmão não queria ninguém mexendo lá.
— Disto não entendo, mas qualquer coisa me liga delegado.
João olha para o delegado o chamar e fala para o advogado.
— Não estamos na parte ilegal, estamos verificando os fatos,
o seu cliente não está preso ainda senhor Machado.
O delegado olha para João e pergunta.
— Sabemos que tem gente falando que esteve com você, e
não queremos a complicar, mas recomendava ter álibi, ouvi um
depoimento de um investigador garantindo que lhe viu no local do
crime.

405
— Talvez esteja na hora de reformar, deixei abandonado pois
me trazia recordações ruins, 15 dias num buraco, vendo amigos e
amores morrer, mas as vezes temos de recomeçar e não deixar fe-
chado, para coisas assim.
— Sim, mas alguns dizem que você tem uma empresa com a
menina dos David.
— Estas confusões são para que brigue com meus sócios, mas
sei que existem pessoas que juram que matei muita gente, em um
estado que não conseguia me erguer na cama, e na fixa do hospital
escrita, se amanhecer, tenta dar algo para comer.
— E está melhor?
João abre a camisa a frente e fala.
— Ainda tenho uma camada de pele muito frágil senhor, tudo
que estava abaixo da terra, apodreceu e saiu de cima, estou ainda
com remédio e comendo bem lentamente.
João fecha a camisa e o senhor fala.
— Sabe que lhe culpam pela saída do ex presidente da cida-
de.
— Meu problema com o senhor Joaquim Jose Moreira, é an-
tiga senhor, ele quando eu tinha 10 anos me deu 3 tiros, se conhece
a fama dele em tiro, sabe que deveria estar morto 3 vezes.
— E agora resolve ser algo, e as sombras começam a lhe
olhar?
— Lendas são assim senhor, se alguém passar mal aqui hoje,
a culpa é minha, ou da pequena Micaela.
— Trabalhou ontem?
— Sim, embora saiba que é feriado, é quando não tem nin-
guém para atrapalhar.
— Vou levantar os dados, não saia da cidade sem avisar.
João estranhou e viu Micaela e Ricardo a entrada e Francisco
pergunta.
— Não entendi nada, alguém me explica.
— Quer ir onde João? – Ricardo.
— Queria estar terminando a primeira mão de tinta no abre
alas, mas tenho de administrar uma maquina lá, por mais coisas.
— Vamos lá. – Micaela.
A segurança fecha uma pista, a menina olha para João e fala.
406
— Sabe o que falei.
— Sei, agradeço.
— Gabriel acredita fácil que você é culpado.
— Imagino, mas calma, apenas cuida com Douglas.
— Ele acha que escapa assim fácil, mas é bobo, quer que es-
pere ter 18.
João a olha e fala.
— Menina, numa vida a dois, a menor parte do tempo, menor
mesmo, é a que fazemos sexo, tem de entender, as vezes esperar
para o sexo, não quer dizer, deixar ele escapar.
Micaela sorri e fala.
— Já me jogando fora.
— Sou daqueles que trabalha demais, e tem tanta coisa en-
caminhada, que as vezes duvido conseguir tudo.
— E o que pretende?
— Começar a fazer os acabamentos gerais, para partir para os
específicos.
Eles param na área do barracão e a entrada de João, ao lado
de Micaela fez Roberto olhar com raiva.
— O que este marginal faz aqui?
— Pai, se ele fez algo ontem, eu sou cumplice dele, quer me
complicar, é isto? – Micaela olhando o pai.
— Mas me garantiram que estava na região do camarão.
Micaela olha para João e fala.
— As vezes queria ser tão invisível como você – olha para o
pai e fala – estava parte lá, minha sociedade com Alemão, vai me
gerar perto de 140 mil reais dia a partir de 12 de fevereiro, então
estávamos lá pensando no dinheiro e não em sequestro, mas se ele
podia fazer ao meu lado pai, eu poderia também.
Ricardo entra ao fundo e olha para Paulinho.
— Como está o carro para pintar? – Ricardo.
Paulinho olha João e fala.
— Vai precisar em alguns pontos uma mão a mais de massa,
mas dá para começar a pintar. Só não sei a cor.
Ricardo olha para João e pergunta.
— O que faria hoje, atrapalhamos um pouco?
— O pessoal do ensaio chega quando? – João olhando Silvino.
407
— Mas está desmontado.
— Acha que eles antes de serem instruídos vão subir em seu
carro Silvino? – João que começa a caminhar até a maquina, estava
tudo no canto, parado, a vantagem do PS é que parece cristal após
ejetado, então ele pega um beija flor Azul de 30 centímetros e al-
cança para Ricardo.
— Todos os carros, vão ter pelo menos 70 beija flor, como es-
te, para comemorar os 70 anos da escola.
Ricardo pega o beija flor em plástico brilhoso e sorri e fala.
— Detalhes que não estão nas descrições iniciais?
— As vezes temos a ideia e não fica bom, mas o problema de
algo assim é o custo de um molde, cinco mil reais por molde, mas
quando diluímos em 500 peças, o custo do molde se dilui, sei que é
caro, mas custa apenas 15 reais a unidade.
— Sabe que um destes faz muitos falarem.
— Sim, mas ontem também fiz a pintura de prime, e a organi-
zação das coisas, a caixas estão determinadas para quem vão, para
algumas fantasias começarem a ficar prontas.
Roberto poderia tentar manter a versão, mas seria apenas
por ser ele, não por ter razão, e João foi até as caixas e fala com
Paulinho.
— Consegue mandar para quem está marcado.
— Vi as cabeças ao fundo, uma coisa é uma base em ferro,
outra em plástico.
Roberto sai e Micaela foi falar com ele e Ricardo pergunta.
— Poderia me ajudar a descobrir o porque?
— Não sei se quer saber, mas explica para seu irmão, que não
vamos fazer um desfile para ganhar, e sim, para encantar, a diferen-
ça é que quando se encanta, na maioria das vezes não se ganha,
pois o povo encantado parece induzir os jurados a acharem defei-
tos.
Sergio chega perto e pergunta.
— O que temos?
— Como falava, manda as coroas, as gotas de luz, e os bra-
sões para as baianas, temos as cabeças de 4 alas de animais, então
em cada caixa tem um destino, alguns só sei o nome do outro lado,
não saberia para onde mandar.
408
Sergio pega um dos beija flor e fala.
— Bonitos.
— A ideia é por 100 destes no carro ao fundo, mas em cada
carro a mais, 70 destes como lembrança, 70 anos.
— E pelo jeito tomou o barracão, tem gente reclamando.
João sorriu e falou.
— Vamos abrir espaço, já que não temos alternativa.
João olha para Paulinho e fala.
— Consegue pintar?
— Vou começar pela parte branca, não sei o que acha?
— Bom, vou começar a desmontar o cristal frontal e remon-
tar.
— Não entendi.
João não explicou, coloca outro molde na maquina e ela co-
meça a criar peças de um metro, que pareciam cristais, na forma de
canos, uma estrutura toda pontilhadas em PS transparente.
Ele tira o acrílico dos cristais dianteiros, do meio e do fundo,
pinta a estrutura toda em um gelo perolizado.
Sergio viu João pintar toda a peça que encaixaria ali e pegar o
secador e nas partes externas, começar a secar apenas uma linha,
ele vai a maquina de ejeção, pega uma caixa e encaixa a primeira,
olha de longe e sorri.
Sergio pega uma delas e fala.
— Você não pensa pequeno não João, vai querer isto nos en-
caixes em todas as peças?
— Quem manda me deixarem sentado na Delegacia, acabo
pensando no carro, para não pensar no que não posso mudar.
— Certo, qual a ideia? – Silvino.
— Consegue gente para apoiar o carro Silvino, tem as peças
que estão atrapalhando ao fundo, são 5 bases e uma superior, pre-
ciso de mais 3 de cada parte daquela, e pede para eles porem para
cá, ontem não tinha como mexer no que estava úmido.
Silvino foi e João olha as peças, era meio cano, para encaixar,
então ele olha para o fundo e começa fazer outra coisa, teria de dar
tempo de secagem.
O acordar tarde e o passar 4 horas na delegacia, estabelecia
que parecia que o dia estava começando e já era 10 da noite.
409
João vendo que não teria muito para fazer, pelo menos viu os
rapazes começarem a medir as peças e pegas que havia pintado de
prime e começa a por na armação interna, Ricardo viu aquilo subir
em duas partes do carro e sorri.
— Vai pintar no lugar?
— Sim, mas quero a parte do lado no lugar, para já ir fazendo
o acabamento.
— E as peças?
— Tem de ver que o tempo voa, tem muito detalhe, cada vez
que pintamos, temos de parar de fazer parte.
João sobe na parte frontal e começa a armar a primeira estru-
tura Hidráulica, naquele trecho, 6 sistemas de força hidráulica, e 50
pequenos.
Ele olha o trabalho e pensa que somente naquele carro seria
4 vezes aquele trabalho, começam a trazer as 4 partes de baixo e
por ultimo, a que cobriria tudo, encaixa nos sistemas, e olha para os
sistemas de energia e pressão e olha o carro e começa a erguer o
complexo, e Paulinho viu que os locais dos encaixes de onde as pes-
soas estariam, e todos olham o centro do carro chegar na altura da
armação lateral e Paulinho olha Silvino.
— Me perguntou onde iria tantos painéis, tantos detalhes, is-
to é um carro com andares, com toda a dinâmica de painéis que não
serão lisos.
— E vai reproduzir isto mais 3 vezes, dando a dinâmica do
carro todo nestas estruturas de altura?
— Sim, acha que ele estava acelerando por quê?
Era meia noite quando João sobe na parte alta, não daria para
encolher, estava com a tinta ainda úmida, chega o ponto que a pri-
meira dama ficaria e olha em volta, o cristal não estava ali, ele olha
para onde ele definiu que seria espaço para locomoção e olha para
baixo e pede para Paulinho baixando a estrutura central e fala.
— Põem duas placas de aço, mais sistema de corte e de solda,
e aquela estrutura que está bem no fundo.
Paulinho põem no topo da estrutura que fora colocada ali na-
quele dia e João aciona e começa a subir.
João solda uma parte ao fundo, aumentando a área superior,
põem um sistema hidráulico as costas, prende a estrutura que fize-
410
ra, ela subiria após passar pelo viaduto, ele apenas coloca a luz ali, e
verifica se não ficaria muito falso, ele solda a estrutura, e volta ao
chão e fala.
— Tem duas ou três saídas, mas não gosto de nenhuma delas.
— Por quê?
— Sistema manuais de apertar botões para gerar o efeito, é
uma coisa, por sistema pode dar errado.
— E agora? – Paulinho.
— Não pediu a pizza ainda?
— Pedi, mas se eles montarem isto, vai dar novamente a sen-
sação de que não fizemos nada ainda. – Paulinho.
— Acho que cada detalhe deste carro toma mais de um dia,
temos mais de 60 detalhes a fazer, não vai dar tempo. – João.
Paulinho sorriu e fala.
— Acha que precisa de quantas de mão?
— Você caprichou na primeira, agora tem de se montar e ten-
tar amanha montar os cristais, amanha pois não vou baixar as estru-
turas, e amanhã vamos começar a terminar a parte que recolhe
para baixo do carro.
— O que pretende? – Paulinho.
— Por as madeiras, pintar, assim como a segunda mão em
toda a parte que vai para trás, vou tentar montar os 500 pontos de
luz, e colocar no lugar.
— E como será? – Paulinho olhava o que estava ali a frente,
parecia ainda muito básico.
João pega um dos cristais que estava na caixa ao lado e põem
a mesa, dai pega uma base e fala.
— A base fica um pouco erguido, para voltar a deitar assim
que colocarmos, tem de os erguer. – João põem os dois lados do
cristal passando uma luz branca a frente, e uma negra as costas,
Paulinho olha que havia um encaixe mais acima que fazia a parte de
superior, e olha aquela peça que parecia de cristais, terminar na
luminária, a luz vinha do cabo, e João fecha a primeira, e fala nova-
mente. – Isto é somente um detalhe, que está em 500 pontos do
carro, por isto as vezes tenho de fazer extra.
Ricardo ao fundo estava olhando o irmão esperando uma
resposta e olha João por o que ele havia feito novamente ao carro,
411
prender ao fio de energia e acendeu luz de trás para frente, por trás
das cortinas, e por fim a luminária, ele olha e sorri.
— Não entendo o porque nos sabotar irmão.
Roberto olha a parte das cortinas pintadas e da parte alta, e
aquela luminária que o rapaz coloca ali e fala.
— Tem de ver que pegamos alguém que sabe fazer Ricardo,
mas temos de o por limites.
— Limite ele, fale o que não quer, mas este carro foi aprova-
do, um carro de 20 metros de altura, que é um teatro, agora enten-
do onde vai ser a encenação, pois o palco ganhou 20 metros tam-
bém, ouvi de sua filha que se sua esposa não tiver coragem, ela fica
no ponto mais alto, pois a representação da deusa da criação, é algo
que não se negaria a interpretação.
— Quando ele se propôs em por o maior abre alas já feito,
todos pensaram em algo que fosse apenas mais comprido, mais
alto, não maior em área total, mesmo não sendo o mais alto e mais
comprido.
— Você armando irmão contra ele, e o mesmo fazendo 500
beija flores como aqueles em cristal. – Ricardo olhava o rapaz che-
gar ao local e colocar um dos beija flor sobre a luminária, e aquilo
brilhar sobre o branco da luminária em azul.
Silvino olha o efeito naquela luminária e olha para o conjunto
de luminárias e fala para Paulinho.
— Entendo que pareço perdido Paulinho, mas olha isto, é
produção em serie, e ao mesmo tempo, parece cristal produzido,
com exclusividade para a escola.
— Somente agora entendo todas aquelas peças que diziam
cristais a volta Silvino, depois dos Beija flor e das estruturas, vem as
estruturas na forma de cristais, elas vem sobre a lateral a toda volta
do carro.
Silvino olha o carro e fala.
— Roberto não quer o terminar do carro, não entendo Pauli-
nho, por quê?
João liga o fio do LED do Beija Flor, e se afasta, sorri, uma pe-
ça realmente bonita para ter em uma sala e ouve Roberto e Ricardo
as costas.
— Acha que conseguiria entregar este Carro? – Roberto.
412
— O que não entendo Roberto, se não quer algo, fala, eu
propus, Sergio gostou da ideia, o grupo performático que a 5 anos
faziam as comissões de frente e não tinham mais espaço na comis-
são de frente, adoraram ter onde desfilar, mas como digo, eu ape-
nas me propus a fazer, você dispôs para fazer este carro, 6 milhões
de reais, uma fortuna, gastamos com ele até agora, dois e meio,
devemos terminar ele com três e meio, mas se não quer, não termi-
namos, não é o gasto, é o trabalho, mas se toda vez que avanço,
alguém quer me parar, apenas fala, para, não precisa mandar me
prender, volto para minha cidade, mesmo querendo fugir de lá.
Ricardo sorriu, o rapaz estava construindo algo pesado e fa-
lando, dá para fazer com o orçamento.
— Você comprou aquele equipamento, como pode estar nes-
te custo.
— Aquele maquinário Roberto, é comprado, produz por mais
de 20 anos, se cuidado, ao fundo, aquela torre nem usamos, todo
plástico que for usado, pode ser colocado ali separado e voltar a ser
matéria prima do ano seguinte, mas ela me custa caro, 32 mil reais,
os moldes que saem caros, de mil a 5 mil por molde, mas não estou
usando ele para o carro, estou usando para a escola inteira, no ano
anterior vocês encomendaram mais de 190 mil em peças injetada,
de empresas que o fazem, entre matéria prima e moldes, eu gastei
quase o mesmo, mas a diferença, se fosse estabelecer comparação,
já temos em material injetado, 4 vezes mais do que o ano anterior,
e a maquina não vai parar antes de fevereiro, se deixarem ela funci-
onar, mas obvio, não paramos para conversar sobre isto.
— Não entendo aquela maquina. – Ricardo.
— Ela recebe plástico seco em flocos, e ejeta em moldes em
temperatura alta, o molde dá forma e esfria a peça, peças como
este beija-flor, precisa de quase um minuto para ficar pronto.
Roberto pega um e olha Ricardo.
— Vou pensar, sei que não entende irmão, mas as vezes as
coisas tem de ser controladas.
— Se não quer Roberto, pede, não precisa sacanear. – João
começa a ir para o fundo, começa a desligar tudo, olha para a região
dos bonecos e olha para a mesa e olha aquela moça imensa, com
pelos pelo corpo, imensa, olha os pés e sorri.
413
Ele olha em volta e os bonecos iriam avançar, mas era o tra-
balhoso, e olha para as cabeças grandes do carro dois começarem a
ser modeladas.
Ele desliga o lugar e começa a fechar, Paulinho ajuda ele a
apagar as coisas e pergunta.
— Porque Silvino disse que Roberto não quer o carro?
— Não entendi, talvez ele queira o filho herdando o que ele
faz para ganhar a vida, não o que ele faz para se divertir.
— Certo, e você está mostrando outro lado.
— Eu não tenho capital para palpitar, a filha dele quer fazer
uma produção de camarão na cidade, que transformaria o que pen-
sei em ser uma boa margem num carro destes, pois eu acho ganhar
200 mil uma margem muito boa, embora dê trabalho, ela quer ter
uma margem destas, liquida a cada 3 dias de produção.
— E mesmo assim para eles seria trocado.
— Acho que trocado não seria, mas é um mercado de 50 mi-
lhões bruto ano.
— Legalizado?
— Sim, legalizado, pensa em você montar todos estes carros,
toda esta escola, através de algo legalizado, pois a margem é boa.
— E o pai resolveu o sabotar?
— Tem mais coisa ai, mas sei que alguns tem medo de mim, e
não posso dizer Paulinho que eles não tenham razão.
— Você não parece perigoso.
— Verdade, estou apenas ossos.
Paulinho via que João as vezes tirava sarro da sua condição e
fala serio.
— Tem de se cuidar melhor rapaz.
— Paulinho, eu acho que terminei o projeto deste carro a
frente, pode parecer fácil, mas eles orçaram em 6 milhões, e vamos
gastar 3,5 para o construir.
— E eles ficaram furiosos com isto? – Paulo.
— Se eles quiserem gastar o dinheiro, aceitamos a diferença,
ou não aceitamos? – João olhando serio o rapaz.
— Aceitamos, mas entendi na luminária o que quer no cristal
alto, vai dar trabalho montar, depois proteger, mas não vão poder
dizer que está mal acabado.
414
— Pensa que eu comprei aquele maquinário usado, de uma
empresa que faliu, ele tem dois anos de uso, maquinários para se
pagarem em 10 anos, e eu acredito em reciclagem real, não apenas
fantasiosa.
Silvino chega ao lado dos dois e pergunta.
— Saberia me responder porque Roberto não quer lhe facili-
tar? Vejo que é contra você.
— Silvino, como se diz por ai, só sei trabalhar, então apenas
fica com aquela cara de não estar gostando, que eles deixam você ai
olhando eu trabalhar em seu carro.
— Juro que agora começa a tomar cara o carro.
— Ainda falta muito Silvino.
— Mas começo a entender o carro, um senhor palco, em to-
dos os sentidos.
— Sim, mas vamos começar a sair.
João foi deixado no hotel e viu Gabriel lá.
— Queria conversar João.
— Sem problema, tomamos uma cerveja no bar em frente.
Gabriel olha para João caminhando ao bar, o segue e fala.
— Desculpa, mas é difícil duvidar do próprio pai.
— Gabriel, tem de entender, eu não levo para o pessoal, ape-
nas eu fui desafiado a por a escola na avenida, eu estou tentando
lhe mostrar como se coloca uma escola na avenida, como os de-
mais, pagando por isto, sempre digo que não é o ter dinheiro, é
fazer os demais investirem em suas ideias.
— Não parece mesmo preocupado.
— Cansado, e hoje não foi ruim, para um dia de meio expedi-
ente.
— Não tem medo destas coisas?
— Eu fui criado em uma instituição de menores Gabriel, as
vezes as pessoas olham para mim e esquecem, eu não fui criado em
um mundo de frágeis, eu fui criado em um mundo onde ou se é
forte, ou se perde.
— E ainda somos sócios?
— Eu não fiz nada para deixarmos de ser sócios, apenas tem
de entender, eu falo as vezes demais, e não sei o que falar e deveria
ficar quieto e não fico.
415
— E porque minha irmã o apoiou?
— O projeto que eu e ela queremos tocar de camarão Gabri-
el, deve dar bruto em 5 anos, 50 milhões ano, um terço de margem
dividido em dois, ou oito milhões de reais para cada por ano, ela
estava num sistema que gerava 4 bruto ao ano.
— Certo, algo a se manter os parceiros, mas desculpa, sei que
tenho de crescer um pouco, acabo pegando pesado.
— Não se coloca onde não precisa estar Gabriel, eu sou ape-
nas o montador de carros, poucos estão olhando para a escola, vão
começar agora, mas deixa eu dormir, tô cansado.
Gabriel sai e João toma mais uma cerveja.

416
Amanhece dia 3, e João sa-
bia que teria de por as pessoas
para trabalhar, então foi a Cidade
do Samba, o segurança o barrou,
foi ao barracão e outro rapaz o
barrou, ele caminha até o espaço
que deixara isolado e olha aquela
carcaça de carro e passa o jato de
areia nele, passa massa e era perto das 9 da manha quando Paulo
liga e pergunta.
— Não vem?
— Sergio já chegou?
— Sim.
— Pergunta se posso chegar, pois minha credencial de entra-
da está com ordem de não entrada.
João continua a fazer a lataria do carro e Paulo chega a Sergio
que falava com Roberto.
— Podemos conversar Sergio.
— Teria como aguardar?
— Sim, a pressa é de vocês.
Paulo sai e olha para o carro e liga para João.
— O que faria hoje, Sergio está seguro numa daquelas reuni-
ões que podem demorar a manha inteira.
— Passa a ordem de montagem da parte dos demais palcos,
eles começaram ontem, mas tem bastante peças, dai pega as peças
que passou o prime ontem, e termina de montar as colunas laterais,
eu iria para o trabalho demorado hoje, montar as luminárias a volta.
— Certo, está onde?
— Ao fundo do isopor tem minha sala de montagem de carro,
estou nela.
— Perto e bem longe, pelo jeito foi barrado por quem se faz
de amigo.

417
— Vou ficar a parte da manha aqui, se não mudarem a posi-
ção, eu vou começar a incomodar Paulo, e o mesmo que me barra
vai dizer que pulei fora.
João passa o prime na lataria do carro, olha o chassi, e coloca
o motor no lugar, e coloca os sistemas de freio e pneus.
Ele tenta entrar de novo e o rapaz o barra e apenas liga para
Sergio, ele não atendeu, então ele entra no barracão da Alegria e
olha aquele chassi ali, Marcos, olha ele e pergunta.
— Apareceu?
— Como estamos Marcos?
— Eles parecem seguir uma linha que você passou, mas ainda
na montaram nada.
João olha o prospecto e fala.
— Marcos, dá apoio a todo resto, sei que já conseguem en-
saiar, então faz toda esta parte que falei, que no Sábado devo aju-
dar a começar a montar isto.
— Começar, pois está bem no básico.
— Sim.
João pega um taxi e foi a casa que transferira para ele, de
Marcos Rocha, olha a segurança o abrir o caminho e entra, olha os
papeis sobre a mesa, olha os documentos e abre o cofre e pega
mais alguns documentos, colocando no cofre o que havia sido trans-
ferido.
Pega uma caminhonete na garagem, põem o documento no
bolso, e sai no sentido da criação de camarão.
Ele estaciona no barracão e viu a menina ali.
— Perdido aqui?
— Seu pai me barrou lá, e não estou com vontade de discutir
com ninguém, passei um recado para quem quiser ler, quem não
quiser, e se não lerem, tenho de tocar o resto.
— Eles nem sabem o que você armou para o ano.
— Convence sua mãe que é seguro, para de jogar contra me-
nina.
— Esqueço que meu pai faz o que ela pede, mas veio fazer o
que?

418
— Verificar como está esta parte, hoje pela manha chegou a
segunda via da minha carteira de motorista, então já tenho como
andar de carro.
— E foi para uma caminhonete.
— Sabe bem de quem era, mas talvez seu pai precise enten-
der menina, que não estamos brincando de ganhar dinheiro, sei que
deve ser trocado para ele, mas um dia não foi, garanto que na sua
idade, não era trocado o que você se propõem a ganhar.
— Certo, mas como você pode aceitar que vão parar o carna-
val que projetou.
— Talvez eu longe, eles se toquem que podem fazer.
— Conhece a minha parte?
— Não, pelo jeito a sua parte é mais agradável que a minha. –
João olhando as areias brancas e ajeitadas para um clube do outro
lado do rio.
— Alguns tem medo daquele lugar.
— Admiro os crentes, pois eles não veem a verdade, mas o
que suas mentes criam.
— Não entendo eles diante de você, eles não lhe atacam, não
lhe rosnam, ou rosnam até parecer sentir sua energia.
— Nunca pensei sobre quem sou, o que sou, para mim, al-
guém que veio ao mundo, e que um dia morrerá, pensei estes dias
que seria minha hora.
A menina apresenta a parte dela, tanques vazios começando
a encher, alguns ainda secos, o limpar dos tanques deveria ser anu-
al, produção em 8 meses, esvaziar e limpar, dois meses e voltava a
produzir, uma produção a cada 10 meses por tanque.
Roberto ficou a fazer a reunião quando Ricardo chega vindo
da prefeitura de Nilópolis, e olha Paulinho fazendo os acabamentos
e chega a ele.
— João não vem hoje?
— Ele não vai discutir Ricardo, Roberto chegou cedo, deu or-
dem para ele não ter acesso, e começou uma reunião a mais de 4
horas com Sergio, não sei o que tanto falam.
— E o que ele fez?

419
— Disse que iria verificar a empresa de produção de camarão,
depois a transportadora, depois os barracões de armazenamento e
passou o que cada um em cada carro deveria fazer.
— Não entendi, transportadora, barracões?
— Nem eu.
Ricardo entra na sala e olha para Sergio e pergunta.
— Porque a ordem na entrada Sergio?
— Que ordem?
— De que João Mayer não é mais funcionário deste barracão?
Sergio olha para Ricardo e ouve Roberto.
— Vai acreditar nele agora?
— Não, apenas constatando as ordens, mas como se diz, ele
não fica para a discussão, para de criancice mano, e se não tirar as
ordens, vou mandar toda a segurança embora, afirmativa, mentir
para o presidente da escola de samba que toca isto, eu.
Roberto olha para o irmão e fala.
— As vezes acha que manda irmão.
— Passei terror 6 horas, e se foi você o mandante para culpar
o rapaz, me deve esta, e se me ameaçar, quem sabe perde até o
apoio de seus filhos mano.
Sergio olha os dois e fala.
— Vou deixar os dois conversarem, não ouvi nada aqui.
Franco tinha recebido ordens de não dar entrada a João na
cidade do samba, e não atender a ele, então quando ele ligou, não
atendeu, olha o barracão e não via nada além de pessoas traba-
lhando, viu as encomendas chegarem, em caixas, não sabia de onde
vinha, mas passa as costureiras, aos carros, aos aderecistas.
Cada dia o carro do rapaz estava mais pronto, seria pelo me-
nos um carro acabado, mas olhando o ultimo, estava a cada dia
mais lindo, e ali não estava no todo, ele não entendia parte, mas
estava andando, um bom sinal.
Nuno olha Franco ao longe e comenta com Rogerio.
— Eles acham que está tudo normal.
— Viu os beija flor?
— Sim, pequenos, mas vamos por a volta da parte baixo, não
sei o cronograma, mas é evidente que as coisas não estão funcio-
nando como deveriam.
420
— Acha que estamos atrasados?
— Acho que o projeto foi feito pensando em não ser acabado,
e sim em deixar carros bonitos, mas se você vai ao barracão e entra
como a maioria, se depara com o carro cinco, que é em parte frente
inacabada, e atrás acabada, é o projeto, mas quem olha, sem as
pessoas ou alegorias, que está parado.
— Certo, aqui ficou duas imensas visíveis a frente e a dele no
fundo, mas as frentes são estas estruturas erguidas sem nada.
— Sim.
Ricardo olha o irmão e fala.
— Não lhe entendo irmão, você que fez os acordos que de-
ram ao rapaz a condição de fazer o que está fazendo, mas quando
viu onde ele investiu, parece ter entrado em pânico.
— Não entende, lá tem muita coisa que não é para ser vista.
— Então para de criancice e fala com a criança da sua casa,
que ela lhe explica, porque ela queria comprar aquele terreno, e
para de fazer merda irmão.
— Ele não vem?
— Acha que quando você o barra ele vai para onde, se não a
criação de camarão de agua doce, eles chamam de Camarão da
Malásia, sua filha estava pensando em criar camarão que daria 8
reais o quilo, ele a convenceu que o melhor naquele terreno, era
criar o camarão da Malásia, ela esvaziou todos os tanques, pois ela
está pensando em tirar liquido, o que ela tiraria bruto, mas se a
ideia é lançar ele para lá, está fazendo certinho mano.
— Ele não estaria lá.
— O segurança falou que sim, que ele chegou de Hilux lá para
verificar seu terreno.
— Mas ele anda por aqui?
— Roberto, o que ele precisa aparentar aqui? Nada, mas ele
estava sem carteira de motorista até hoje sedo, mandaram a se-
gunda via que chegou hoje com a volta das entregas do Correios, ele
não vai quebrar leis simples, por acomodação.
— E acha que eles vão virar sócios?
— Já são sócios, sua filha não é lenta nesta parte, ela viu que
os terrenos somados em uma empresa de capital aberto, permite

421
até a ela vender se der errado, e sociedade anônima, não se proces-
sa acionistas por algumas coisas.
— Certo, ela tem se tornado a cada dia mais perigosa comer-
cialmente falando.
— Sim, ela falou com amigos na UFRJ e eles falaram em criar
um laboratório no local para criação de larvas, uma das partes caras
da produção do camarão é depender do fornecimento disto.
— E quanto é o potencial daquilo?
— Estão falando em 50 milhões ano, bruto, em cinco anos.
— Ela está pensando em dinheiro, é o que está falando.
— Ela está conseguindo o que quer, fazer ciúmes para aquele
Douglas, mas isto até você sabe, o cara diz que não quer nada, que
ela é uma criança, vê alguém de fora chegar, sobreviver e ficar por
perto, ele deve estar tentando parar o rapaz.
— E poria a segurança para fora?
— Se eles acharem que podem mentir e serão protegidos Ro-
berto, quando se der mal da próxima vez, talvez não tenhamos co-
mo dar cobertura.
— Você não fez nada. – Roberto.
— Você cresceu, é mais velho, mas parece estar entrando na
segunda infância mano, como prefeito não posso entrar em locais,
nunca entendi, você mandou quem lhe tirou do cativeiro, embora,
cativeiro de Fernandinho, poucos saem vivos, pois quem estava lá
mataria você e diria que você reagiu e a imprensa acreditaria.
Roberto sai e vai falar com os seguranças e Ricardo liga para
João e pergunta.
— Vai vir quando?
— Assim que mostrar a seu sobrinho os barracões da empre-
sa de transporte.
— Está mesmo montando uma transportadora?
— Sim, uma especializada em transporte.
— Saiba que a ordem de entrada já foi revertida, vi que não
discute se não precisa, mas pelo jeito queria fazer outras coisas.
— Eu colho as escolhas, quando alguém me diz, não, tento
entender onde está o que estou deixando para trás, mas inicio da
tarde estou ai.
— E como estão as obras?
422
— Abrir buraco para fazer tanques, é sempre demorado, ain-
da mais para chegar a produtividade que queremos, mas estaremos
criando tambaquis, tilápias e lambaris, ainda vamos criar adubo com
os restos do fundo dos tanques, mas não sabemos se para comer-
cializar ou para criar algo a mais.
— Qualquer dia temos de falar de algo que não seja carros
alegóricos.
— Ricardo, as vezes terei de ficar longe um pouco, eles tem
de trabalhar, independente de mim.
— Queria fazer algo diferente hoje?
— Quando me barraram na Cidade do Samba, quase voltei
para o hotel, mas refiz meus prospectos, a pressa é da escola, mas
acho que adiantei algumas coisas, apenas tenho de terminar de
montar uma parte para conseguirem ensaiar, são 4 grupos, a estru-
tura é semelhante, mas tem coisa que resolvemos a tarde, esteja
por lá as 18 horas e conversamos.
João olha Gabriel chegando e fala.
— Este barracão Gabriel, estamos abrindo para deposito, o ao
lado, para caminhões especiais, vamos começar em Março a funcio-
nar, mas a pintura, teto, piso estão refeitos.
— E vamos começar a receber as cargas quando?
— Eu não conheço Pedro do Tabajara.
— Certo, eu falo com ele, e falo que estamos assumindo e
pondo a disposição.
João se despede e sai no sentido da casa do Marcos Rocha,
deixa o carro e espera o corretor, que quando olha João fala.
— Pelo jeito me enganou com aquela Fiorino.
— Senhor Dias, tenho alguns imóveis que são custos, então
estou colocando a venda, 4 coberturas em Copacabana, 3 em Ipa-
nema e duas na Barra, e preciso saber se sua imobiliária tem inte-
resse.
O rapaz sorriu e perguntou.
— Sabe os valores?
— Sei o quanto falam que vale, eu não paguei este valor, en-
tão verifica o valor, apenas me comunica antes de por a venda.
— Tem pressa?

423
— As vezes um dinheiro na produção me gera 12 vezes mais
do que parado e imobilizado.
— Certo, passo os valores, negocia?
— Valores sim, não quero permuta ou trocas, quer dar um
carro, vende ele e fechamos o negocio.
— Certo, vou providenciar os documentos.
O corretor sai e um rapaz de uma revendedora de carros de
luxo chega e olha as duas Mercedes e o uma Ferrari na garagem e
soube que seriam os carros que o rapaz iria por a venda.
João esperou o caminhão da empresa retirar os carros e dei-
xou a caminhonete na garagem e chama um taxi.
João chega a Cidade do Samba e entrou, Franco nem enten-
deu ele entrar, mas a ordem tinha sido dada, ele apenas chega e
olha parar Sueli, da costura que fala.
— Quando vamos os vestir?
— Quando eles começarem a chegar, fazer o primeiro para
ver se funcionava, já foi um bom ponto, mas como estão as roupas?
— O material é bom, embora seja uma roupa grande, é ape-
nas 22 roupas.
— Bom que esta adiantado, deve ter recebido umas cabeças
estranhas.
— Sim, não entendi.
— Na parte de baixo, tem uma leva de tecidos que está lá pa-
rada, Sergio autorizou, vamos fazer dele tecido na forma destas
cabeças e vamos as vestir.
— Fantasia?
— A parte superior dela, ainda não recebi a parte corpo, mas
é que o corpo, vai ser na cola, nesta parte achei que vestir seria
mais pratico.
— Me deixou esperando pela manha.
— Não iria entrar em uma briga para não pedir desculpas
Sueli, eles querem me por em guerra, eu quero apenas ajudar.
— Acha que aquelas peças começam a chegar quando?
— Devem terminar 3 por semana, se for mais rápido, que as
roupas estejam prontas, pois sabe que o importante não é a roupa,
e sim o estar lindo no desfile, é cedo para vestir.
— Certo, quando chegarem nós vemos, algo mais?
424
— A baiana, será montada e vestida lá no outro barracão,
mas ainda não está pronta, mas aquela roupa de couro, também vai
para lá.
— O que vai vestir com aquele couro?
— Luci, a primeira brasileira, sobre o carro abre alas.
— E vai ter o mesmo tamanho?
— Sim, mas estará sobre o carro abre-alas, então é o ponto
mais alto que teremos, ela sentada até se instalar a baiana no mes-
mo carro.
— Certo, tudo em um plano maior, mas pelo jeito está cor-
rendo.
— Sim, tenho algumas coisas para fazer.
João desce e para a frente do carro numero 6 e olha para ele,
Nuno sorri e olha ele ali.
— Acha que vai ficar legal assim?
— Sim. – João olhando os Beija Flor como marca de todos os
carros, veículos, sorri da ideia, ele disse, coloquem a vista, e olhan-
do agora, uma ideia simples, mas no lugar de uma marca, com um
cavalo, tinha o beija flor.
Nuno olha o carro e fala.
— Os painéis estão começando a chegar, os de Buenos Aires
estão chegando, vamos os instalar na parte baixa, e começamos a
pintar.
— Já vem revestido? – João.
— Revestiram ontem, disseram que estão prontos dede o dia
28, mas o feriado os parou, ontem eles colocaram a fibra sobre o
material e estão esperando dar 24 horas para começar a fixar eles.
João olha em volta e fala.
— E eles pensam que está pronto.
— Sim, mas cada parte é um desafio a mais, quanto mais
pronto, mais temos de tomar cuidado com os acabamentos que
fizemos antes.
— Deram prazo referente as luminárias?
— As externas?
— As externas e as superiores, embaixo remetendo a São
Paulo e as superiores ao Rio de Janeiro.
— A parte em fibra está meio atrasada.
425
— Não acelera, mas pressiona para darem uma data, preci-
samos saber quando vamos os por.
— Certo, algo a mais?
— Bom ver andando, deixa eu olhar meu carro.
Nuno sorriu e João olha para seu grupo e fala.
— Parem um pouco, vamos fazer uma reunião.
Todos olham João, ele estava ausente um tempo, e muitos
estavam tentando fazer o que tinha de ser feito.
O grupo se reúne no fundo e Franco de longe olha o rapaz re-
unir seu grupo e pergunta para Ricardo que chegava.
— O que está acontecendo, um manda barrar e outro liberar
ele?
— O que ele está fazendo ali?
— Ele não vinha ver o próprio carro a algum tempo.
— E como estão as coisas.
— As baianas começam a ficar prontas, pois precisava por os
acabamentos que chegaram hoje cedo, para elas começarem a
montar as fantasias, ele chegou e passou algo para Sueli fazer, não
entendi ainda o que ela está fazendo.
— Costureira de alegorias, é coisa que gera roupas imensas,
qual a novidade Franco.
— E como estão as coisas no outro barracão.
— Ele não passou lá ainda, mas está caminhando, lentamente
mas caminhando.
João olha o pessoal e fala.
— O que vamos falar aqui é entre nós, vamos pintar toda as
peças externas ao carro, vamos testar os encaixes e vamos deixar
todas as estruturas guardadas, é cedo para montar, mas precisamos
dos painéis pintados, os tecidos frontais e traseiros medidos, as
esculturas da frente do carro são fixas, e não teria como por ali algo
com o movimento que quero, mas retira as esculturas de lá, protege
elas com plástico, sei que as partes internas, fechamos, mas temos
de proteger para fechar, então temos de terminar o carro, vou pro-
videnciar alguns acabamentos a mais, mas preciso das peças bem
pintadas, bem acabadas, e com toda ferragem verificada, não quero
nada caindo no caminho.
— Acha que estamos no prazo?
426
— O único carro que está indo para o acabamento é o nosso,
então temos de dar a sensação de faltar muito.
— E vai fazer o que?
— Uma escultura para por como se fosse o símbolo de nosso
carro, como eles estão fazendo na alegoria 6, mas como nosso carro
é um pouco maior, vou fazer ele com uns dois metros, em alumínio.
— Certo, acha de devemos pintar tudo e isolar? – Um dos ra-
pazes.
— Proteger, vamos começar montar ele todo, faltando 15 di-
as para o desfile, então tudo que está pronto, tem de estar pronto
para voltar ao carro.
João escreve no quadro ao fundo o que cada um faria nos
próximos 60 dias, e os rapazes souberam que ele queria perfeição
naquele carro.
Rogerio olha para João, ele queria por as luzes quando fos-
sem montar, olha o carro e fala.
— Parece prever trovoadas.
— Acho que tenho duvidas, e melhor manter as duvidas para
o fim.
João sai dali e vai para o barracão na Santo Cristo, olha o se-
gurança o deixar entrar, e olha para Sergio.
— Como estamos Sergio?
— Veio, as vezes não entendo esta briga.
— Nem eu, não vou discutir, mas vim ver se o pessoal avan-
çou.
João chega a mesa que estavam fazendo as luminárias, olha
que já tinham 200 feitas, tinha 12 pessoas fazendo, olha para os
ferreiros montando as partes, o engenheiro mecânico verificando os
sistemas hidráulicos do carro, os pequenos, olha para Jesse olhando
ele e pergunta.
— Acha que encaixa?
— Não sei.
O sistema estava erguido, e João liga para Sueli e pede a veste
de couro, para teste, enquanto eles começavam a ajeitar sobre o
carro, a 20 metros o lugar, o piso estava a 4 metros, mas o sistema
hidráulico superior, João testa a tinta, e desce aquela parte, desco-
nectando do geral e dando o comando de descida, e o que estava a
427
20 desce a 4,5 metros, ele sobe na empilhadeira e olha para os ra-
pazes chegarem sem entender, até ver aquele ser estranho sair da
parte do fundo, e erguerem ele.
Algo demorado, mas que precisava ser feito, cada detalhe
tomava muito tempo.
João testa o sistema hidráulico que ergueria as nádegas da
Luci, faz uma vez, duas, três, para ver qual o melhor sentido das
pernas.
Os rapazes começam a instalar o sistema hidráulico da parte
mais ao fundo, e João olhava para o sistema ao fundos e olha para
Jesse.
— Acho que o sistema vai forçar a estrutura, a ferragem das
nádegas tem de ser reforçadas.
— Certo, pois se afundar não vai dar a forma.
Jesse pula para dentro do quadro de 4 por 4, olha a armação
e pergunta.
— O piso hidráulico é fixo?
— Sim.
— Ele teria como substituir o fixo acima? – Jesse.
— Qual a ideia?
— Subir na posição atual, e o hidráulico andar para frente um
pouco e as pernas descerem.
João olha o engenheiro mecânico e pergunta.
— Teria como por uma corrediça que mantivesse os cálculos
anteriores?
— Sim, não vejo problema.
João olha Silva ao fundo e fala.
— Consegue algo para soltar o metal.
— Você pediu para soldar apenas nas pontas até o teste. - Sil-
va olhando João.
— Então me alcança a solda aqui.
João solta a peça, com dois segurando e a descem ao lado,
pede a placa que iria a frente, e fixa ela no lugar.
João olha o subir sem aquela placa foi mais fácil, quando che-
ga bem acima, Jesse faz força e o sistema encosta para a parede
oposta, e João fala.

428
— Fica no ponto oposto. – Jesse olha para João e recua e João
olha para o lado de fora e fala.
— Vamos reforçar as soldas a volta.
O pessoal do fundo foi chamado e reforçaram toda a solda da
estrutura que se erguia a 20 metros, principalmente a base dela a
16. João olha para o rapaz do guindaste alto e fala.
— Ergue Luci um pouco.
O rapaz demorou a entender o que era Luci, quando ele er-
gue, João pega um sistema de rodas no estoque, volta rápido e des-
ce onde Jesse estava.
— Problemas na solda.
— Tem de ver que não fiz pessoalmente tudo.
João ergue a estrutura e solda nos 4 pontos as rodas, volta ao
chão e faz sinal para o rapaz descer a moça novamente e olha para
cima e fala para Silva.
— Deixa a placa que tínhamos aqui apenas com meio metro e
me vê ela de volta.
Ele corta ela e João começa a chumbar a placa, novamente, e
fala olhando para Jesse.
— Desce no ponto inicial ela e encosta no ponto de transpor-
te. – João terminando se soldar a placa e olhando Silva.
— Vamos reforçar a solda de baixo a cima, todas os sistemas
hidráulicos tem de estar bem fixos nos anteriores.
Silva viu que João não estava brincando, e o grupo tira as pla-
cas a volta e começa a soldar a parte baixa.
Outros foram tirando outras placas e as encostando ao fundo,
e por fim, elevam uma parte e soldam, elevam a sequencial e foram
fazendo uma a uma, Jesse olha João na parte baixa e pergunta.
— Duvidas se aguentaria.
— O problema é que fixamos no parafuso a primeira base,
deixando para soldar depois, ela não estava soldada, quando colo-
camos Luci para frente, senti que poderia se soltar, não queremos
perder trabalho, então reforçamos e apertamos estes parafusos
melhor.
— Parafusos sempre empenam na hora errada. – Jesse.
Eles terminaram de soldar e João volta a subir, e Jesse foi ao
lado, enquanto os demais devolviam as placas a toda volta.
429
— Os pés tem espaço para subir agora Jesse, mas o que acon-
teceria, se eu prendesse algo a canela dela, e este peso andasse a
frente quando ele passasse desta altura.
— Não entendi. – Jesse olhando João que pega uma pequena
cola e prende na estrutura, o ser não estava vestido, cabeça e mãos
pareciam humanas, pés um pouco maiores, ele prende um peso, e
este fica para fora do espaço, põem na ponta para fora um sistema
de polia para a corda passar entre dois sistemas, para não jogar e
não cair.
João olha para Jesse olhando para Rodney que fala.
— Achei que perderia a festa.
— Esposas as vezes nos querem presente.
Jesse sorriu e viu João começar a erguer, o peso induz o ca-
minho as pernas, e sorri de algo tão simples ter sentado aquela ser
imenso, os demais viram que era uma escultura apenas nesta hora.
Sueli que havia feito uma roupa de corpo inteiro, não havia
entendido até ver aquele ser sem veste alguma, e com uma cara pré
histórica, ela olha para João e grita.
— Isto que vamos vestir hoje?
João olha que ela trouxe ajuda e perguntou.
— Ajudantes?
— Falou em 20 metros, eu não subo em algo de 20 metros,
mas ai só tem uns 4.
Os rapazes começaram a por a pele que já vinha vestida com
um couro mais grosso a frente do corpo e costurar a parte baixa, e
João olha Rodney.
— Mas está bem?
— Confuso, mas pelo jeito vamos começar a montar.
— Começando ainda, foi o que falei, esta carro tem mais de
60 detalhes como este, então ou montamos tudo, e ganhamos tem-
po para os acabamentos ou não vai dar certo.
O teste do erguer funcionou, mas o medo de João estava no
fechar.
— Meu medo é o fechar.
— Porque?

430
Sueli e o pessoal termina de vestir o ser, e João olha para o
ser e começa a recuar ele, para o buraco, os olhos dele estavam nos
pesos.
Ele prepara tudo e olha o pessoal colocando o segundo siste-
ma central da parte aos fundos.
João não falou nada e começou a erguer o sistema, e o enge-
nheiro Mecânico viu que foi bem mais firme, e o boneco se ergue e
João fala.
— Começa detalhe a mais.
Rodney estava bem ausente, e Jesse e ele foram para dentro,
João já previa problema, e no fim do dia, ele saiu e foi ao barracão
ao lado e deu a primeira de mão sobre o carro que estava no prime,
preto profundo, ele olha as peças e pensa no problema, estava pas-
sando a segunda leva de tinta quando recebe a ligação de Sergio.
— Onde está João?
— Problemas?
— Acabam de prender Rodney, parece que ele matou a espo-
sa numa discussão hoje cedo.
— Merda. – João saindo da parte que estava, desliga o barra-
cão e entra no lugar onde Jesse olha para João e fala.
— Ele as vezes é muito ciumento.
— Desculpa a frieza Jesse, mas primeiro temos de saber se foi
ele, segundo, dar apoio a família, e conseguir um advogado para
ele, todos tem direito a defesa.
Sergio olha para João e fala.
— A escola não vai dar defesa a ele.
— Calma. – João se afasta e liga para a menina dos David, e
explica o acontecido, ela fala que vai verificar, e que ligava para ele.
Micaela vai a casa do senhor, as crianças assustadas, conse-
gue um local na chácara para as colocar, após elas terem a saído, a
menina puxa a alma para dentro dela e sente a historia, muitas dis-
cussões, mas Rodney saiu a moça estava viva, e viu o amante entrar
e perguntar se ela não iria acabar com aquele fracassado e depois
de agredir muito ela a mata, e manda as crianças ficarem quietas, a
forma de olhar do rapaz para as crianças a fez olhar para Paulinho a
porta e fala.
— Mantem a segurança das crianças.
431
— Você está estranha.
— Foi o amante, Guidinho.
Paulinho olha para os rapazes e olha para Guidinho na saída e
olha para os seguranças e fala.
— Estamos de saída.
Micaela olha para Guidinho na saída e fala friamente, diante
de todos a volta, pois as vizinhas viram Rodney saindo, e para os
rapazes de Guidinho e para o rapaz ao fundo.
— Tem até o fim do dia para se entregar Guidinho, ou vai
morrer mais covardemente do que a matou, e vai doer, pode ter
certeza.
O rapaz olha para ela e pergunta.
— Acha que tenho medo de você?
— Você que sabe se vai morrer como homem, ou como um
covarde, pois você, desculpa, não me põem medo, mas tem até a
noite. – Micaela liga para Rodrigo e fala – Azul, Guidinho matou a
esposa de Rodney de Parintins, e jogou a culpa no marido, ou afas-
ta ele, e põem ele no lugar que merece um covarde que mata a
amante na frente dos filhos, ou ele não amanhece.
Rodrigo do outro lado olha para os rapazes e fala.
— Foi o Guilherme?
— Sim.
Guidinho ouve todos os telefones a volta tocarem e Pereiri-
nha olha Guidinho e fala.
— Azul espera que se entregue Gui.
— Ele acha que manda algo?
— Mais que você, com certeza. – Pereirinha.
O delegado olha para o advogado do rapaz e fala.
— Ele foi preso em flagrante.
— Não delegado, ele foi preso no barracão da escola onde
trabalha, flagrante baseado em que, denuncia do assassino?
— Não tem provas disto.
— Sei disto, mas eu esperava o rapaz se apresentar por bem,
e falar a verdade, antes de começar a falar merda para um traba-
lhador delegado.
Rodney estava com o rosto perdido, detido quando foi levado
a sala para falar com o advogado que nem sabia quem era.
432
— Apenas ouve rapaz, mas tem de saber, sua esposa foi mor-
ta, e Guidinho, afirma que foi você.
— Mas eu não fiz isto, sei que ela falou em se separar, mas eu
não a matei.
— Sei que não Rodney, mas quem o fez ameaçou suas filhas
para não falar nada, e a Micaela as colocou no sitio que tem em
Itaguai, não as queria pressionadas para contar uma versão que
alguém quer que vire verdade.
— Ela que está pagando o advogado?
— A empresa dela.
— João, é isto?
— Sim.
Uma lagrima corre aos olhos de Rodney pensando na esposa,
mas é levado para dentro e o delegado recebe o pedido de soltura
dele, o delegado estava quase assinando o indeferimento quando o
atendente, no fim do dia fala.
— Guilherme Prado disse que precisa falar com o delegado?
— Quem é este?
— Guidinho.
O delegado olha a folha e põem do lado e fala.
— Manda ele entrar.
O delegado viu o medo nos olhos do traficante, se no morro
era alguém firme, estava nitidamente com medo.
— O que quer Gui.
— Explicar o que aconteceu de verdade.
— Quem lhe ameaçou que está com medo.
— Não sabia que tinha acusado um protegido, mas eu matei a
Rosa, éramos amantes, ela não queria se separar aquele velho im-
prestável, que nada daria a ela.
— Era amante dela?
— Sim, eu a pressionava para se divorciar, ela não queria, ti-
nha cheirado uma carreira hoje cedo, vi o rapaz sair e entrei lá, ela
disse que não queria mais nada comigo.
— A verdade Guidinho.
— Tô falando a verdade Gui.
— Foi ameaçado e está mudando a versão?

433
—Não, mas a lógica era acusar o marido, as vizinhas ouviram
ela pedir por socorro e eu sair de lá, mas sabe como é, ninguém vai
falar nada, elas tem medo de mim.
— E quem lhe põem medo.
— Não me falaram que o marido da Rosa era um protegido
do Comando Azul, Azul me ligou pessoalmente perguntando o que
havia acontecido, ele queria saber a verdade, ele não me ameaçou,
mas sei que fiz, e se ele souber, e é fácil, ele não vai perguntar ape-
nas uma vez para as vizinhas.
— Esta é uma informação que me fale muito Gui, quem é o
Azul?
— Desculpa delegado, se lhe falar isto, não terei nem onde
me esconder neste país.
— Então vai confessar o crime.
— Sim.
O delegado caminha até a porta e pede escrivão e um advo-
gado de defesa e o rapaz viu o advogado do Comando Azul entrar
na ponta e apresentar as credenciais.
O delegado viu que era algo estranho, já vira antes, alguém
fora da regra, e mesmo assim, com advogado.
Guidinho se aliviou um pouco quando viu Duarte ali, sinal que
ainda era considerado do Comando Azul, o rapaz confessa e o dele-
gado na saída assina a soltura de Rodney, que olha a porta o advo-
gado e viu o carro da segurança da menina parar a porta e o dele-
gado perguntar.
— O que aconteceu Duda.
— A menina dos David foi até a casa do rapaz, o pessoal tirou
as crianças de lá, primeiro protegendo a família, e ligou para Azul
pessoalmente passando quem foi, sabe que se ela fala, poucos du-
vidam, aquela coisa de falar com almas.
— E o rapaz que estava todo confiante no inicio da tarde, se
entrega, nunca havia visto Guidinho como hoje, um cordeiro, mas
ele só relaxou quando o advogado do grupo chegou, sinal que foi o
que este tal Azul pediu, não sei quem é.
— Dizem que se precisa falar com ele, o único que sabe quem
é, é aquele delegado da Federal, Douglas.
— Este é outro que não quero por perto, cheira a morte.
434
— Pensei que não liberaria o rapaz.
— Com uma confissão, tenho de mudar de postura, mas não
quer dizer que não vou descobrir a verdade.
Rodney abraça as filhas, elas choram, e abraçados, vão ao en-
terro na comunidade de Vigário Geral.
João olha para Jesse e fala.
— Rodney precisa de apoio Jesse.
— Acha que não foi ele?
— O amante acaba de confessar o crime, mas isto quer dizer,
precisamos de um lugar fora de Vigário Geral para ele.
— Quem era o amante?
— Guidinho, traficante de renome do lugar.
— Merda, mas onde ele está?
— No enterro da esposa.
— Ele vai perder o sorriso, ela o fazia sorrir, ela o fez vir para
o Rio, ele teria ficado em Parintins.
Jesse sai dali e Sergio chega a ele e pergunta.
— O que sabe do acontecido?
— O verdadeiro assassino apareceu, mas Rodney vai ficar
meio perdido, pois ele acaba de perder alguém que amava, terá de
cuidar das 3 filhas, e não sei nem onde ele morava.
— Pensou em algo?
— Sim.
Pedro liga para Gabriel e pergunta.
— Gabriel, ainda está de pé aquela ajuda para reformar a
Pousada da Marta?
— Vai voltar para lá?
— Pensando em criar um lugar para casos de motivo maior.
— Pensando em quem?
— Rodney.
— Vou falar com meu tio, descobriram quem foi?
— Guidinho a matou, ainda não entendi direito, falaram que
ela era amante dele, não entendi.
— Vou falar com meu tio e vejo se alguns ajudam.
Sergio olha para o carro e fala.
— O desafio.
— Sim.
435
João olha a hora, e sabia que em pouco tempo Ricardo estaria
ali, ele termina de montar as partes de cristal em cada divisa do
cristal maior, coloca as luzes e fios ocultos, o acrílico, e ergue ao
local.
As costas ele monta outro cristal e coloca no lugar.
Roberto chega ao lado de Ricardo e pela primeira vez viu a
mãe de Micaela, ela olha o lugar e olha o Roberto, obvio que no
chão era uma coisa, viu Micaela entrar com uma moça, ela coloca a
escada e indica a menina a subir, olha a mãe e pergunta.
— Vai amarelar mãe?
— Sei que nesta altura nada assusta, mas vim para ver o lu-
gar.
João a indica o lugar e fala.
— É uma encenação, então todas as linhas abaixo do carro se
apagam nessa hora, para o inicio da apresentação, mas tem de ver
se consegue, sei que tem de ter sangue frio.
Ela sobe e ouve ele terminar.
— Uma luz acende no painel a frente, dando o momento que
a cortina está fechada, a partir deste momento, você que dá as co-
ordenadas.
Ele olha para ela e fala.
— No lado tem uma caixa de aço, para se colocar quando do
passar abaixo do viaduto.
— Certo, vou verificar, pois está no ponto baixo que passaria
no viaduto.
— Sim, vai sentir o subir, e toda a altura, e se achar que te-
mos de parar, fala.
A senhora olha João e ele tira a escada dela, de Micaela e
olha para Paulinho.
— Repuseram as cortinas direito?
— Sim.
João olha para o motorista, ele liga o veiculo, ouve-se o dos
fundos ligando, os geradores, e compressores e João começa a er-
guer, o todo, as partes centrais, o surgir de Luci, as cortinas come-
çam a se fechar, os olhos da senhora estava no comando, no cristal
a frente, na parte ao fundo, ela olha Luci ficar no lugar, e quando a
cortina se fecha, as luzes das partes baixas apagam e Micaela olhava
436
a mãe e ela sorri, ela segura no sistema e vê a mãe apertar o botão,
a luz brilha forte no cristal e os dois seres surgem correndo e a luz
acendendo, e quando passa por Luci, ela se ilumina, vai ao fundo e o
cristal do sul brilha, e parece acender o dos fundos e se vê os carri-
nhos correrem até o fundo, os beija flor surgem a toda volta, sur-
gindo nas estruturas altas e a cortina começa a abrir, as luzes a
abaixo começam a acender. Ainda era apenas movimentos hidráuli-
cos, João deixou uma volta inteira e olha para a senhora ao topo,
Roberto olhava a esposa e pergunta.
— Acha que consegue?
Ela sorri e Micaela olha para João e pergunta?
— Porque me omitir?
— Apenas no começo, mas a volta deve ter faltado energia,
não sei porque acontece com alguns.
— Comigo acontece muito.
O sistema começa a descer e a senhora olha que tudo era no
automático, olha para Roberto e fala.
— Parece bem seguro, pensei em algo mais frágil.
Ela olha para cima e fala.
— De longe é lindo, de perto, intrigante como se faz algo co-
mo aquele cristal.
Ricardo sorriu, pois ele vira o que queria, o carro chegando
em uma parte que a poucos dias era uma incógnita, tinha muita
coisa a fazer, mas sempre parecia algo a mais.
A senhora olha João e fala.
— Encaro, pensei em algo mais drástico, lembro de carros
que pareciam sacudir todos antes mesmo de ir a Sapucaí, mas como
se faz aquele cristal, e aqueles Beija-Flor, são lindos.
— Fazem parte do carnaval deste ano.
— Este não vi ainda de baixo, é alto.
João fez sinal para o motorista e aciona o erguer, e a senhora
viu onde estava e fala.
— De baixo é mais assustador, quantos metros.
— 20.
— E aquela escultura.
— O rapaz que deveria estar dentro, está no enterro da espo-
as hoje.
437
— O soltaram? – Roberto.
— O verdadeiro assassino se entregou.
— Certo, temos então de apoiar ele. – Roberto.
João olha sem comentar, olha a senhora e fala.
— Sei que fizemos algo assustador, mas a parte alta começa a
aparecer agora, as suas costas, enquanto a luz vai para traz, um
tapete verde vai lançar animais, plantas, e Luci e depois as culturas
criadas para chegar a baiana no meio do carro do fundo.
— Qual vai ser a altura deste carro. – Ricardo.
— 28.
— De transporte?
— Quase 5.
Ricardo sorriu e perguntou.
— Já pensou no impacto no viaduto no fundo?
João não havia pensado nisto, a alegoria ficaria mais alta que
o viaduto, bem mais alta, e fala.
— Pena não ter como dar um show para eles. – João.
— Vai até tarde.
— Hoje não. – João estava ali para aquela apresentação, mas
se não tivesse marcado e não fosse referente a ter de mudar o car-
ro, ele já teria saído.
Sergio gostou de ver que não mudariam o carro, e após sair,
ele olha para Jesse e pergunta.
— Vai junto?
— Onde?
— Odeio esta parte da vida, mas temos um velório.
— E pela primeira vez não vai ficar até tarde?
— Tem coisa que pode esperar, se a senhora falasse que não
subia lá, teria de mudar toda frente deste carro, isto é 7 dias que
estava tentando encaixar no cronograma Jesse.
— Certo, ela aceitando, tudo fica mais fácil?
— Corrido da mesma forma, mas sem pressão.
O grupo saiu dali, João, Sergio, Paulinho, Jesse e 12 rapazes
da construção de bonecos, passaram na casa que João não mostra-
va, que fora de Marcos Rocha, pega a caminhonete e foram para a
região do Vidigal.

438
A manha seguinte, João es-
tava ao lado de Rodney que fala,
olhando ele.
— Obrigado pelo apoio, não
entendi.
— Alguém a matou, alguém
ameaçou suas filhas, então vamos
por uma pedra nisto, mas acha
que consegue ficar tão longe com as meninas em casa.
— Pensando em que?
— Dei as ordens ontem no fim do dia, começaram a repintar
onde foi a Pensão da Marta, acho que seria mais fácil para você
Rodney.
— E teria de pagar quanto?
— Vai para lá, nem sei se vai ficar, não é hora de dinheiro, nos
apoiamos como podemos.
— Não sei como agradecer.
— Acho que nestas horas ajudamos sem pensar.
— Obrigado.
João não tinha dormido, resolveu dar uma cochilada em casa
e para a porta do hotel com a caminhonete, o rapaz que guardava
os carros olha João estranho e sorri.
João dormiu um pouco e voltou ao enterro, acompanha o se-
nhor ao local que ofereceu e viu que estavam já refazendo a parte
baixa, ele precisava cuidar da filhas, e nestas horas João não saberia
ajudar muito.
João surge no barracão da Alegria e diz que ficaria para se-
gunda, não estava para ter ideias, então ele entra no barracão e faz
o motor e encaixa a transmissão, do carro que estava reformando,
ele pinta a terceira camada de preto e recebe as rodas, os vidros e a
forração do carro, com os bancos novos, e começa montar o carro.
Era perto das 20 horas quando ele muda de barracão e viu
Jesse olhando a moça acima e fala.
— As vezes queria acreditar na inocência dele.
439
— Não é sua parte condenar ele Jesse.
— Mas tens certeza de que não foi?
— Sim.
— E como teria?
— Aquelas coisas que as pessoas temem quando sabem, e
duvidam quando não sabem.
— Não entendi.
João faz um pequeno movimento com a mão e o rapaz viu va-
rias almas saírem dele, e começarem a andar a volta, olha assustado
e pergunta.
— O que é isto João?
— Almas penadas, mas elas são olhos diferentes do mundo, e
uma falou que ele era inocente e indicou o culpado, o mesmo que
se apresentou na delegacia depois.
João puxa para ele vendo que alguém estava entrando.
Olha as costas e era Micaela que fala.
— Acredite Jesse, não foi ele.
— Os dois foram verificar, eu duvidei.
— Acho que no fundo, a vida das duvidas é mais fácil. - Mi-
caela que olha para João e pergunta.
— Como sabia que não tinha sido ele antes?
— Ele estava perdido, como se tivesse discutido o fim de um
relacionamento, não entendi, pensei que ele se separaria, e vem a
informação da morte da moça.
— Ela falou que o melhor para ele era eles se separarem, mas
ela não queria nada com o tal Guidinho, nada serio, e quando falou
isto para o outro, ele não se controlou, dopado e a matou.
— E sabe como disto?
A menina deixa a alma da moça sair, estava agressiva ainda e
fala.
— Ela ainda está se deparando com o fato de que morreu Jes-
se, as pessoa ficam mais violentas nesta fase.
— Vocês dois são estranhos.
João caminha até a maquina ao fundo e muda o molde e tira
todo o que sobrara no sistema interno o limpando, e coloca um pó
bem mais fino e Jesse olha o rapaz tirar uma pena, bem fina, caule
mais grosso e pontas tão finas quanto uma pena, formato de uma
440
pena de faisão, era um teste, ele põem ao fundo, como estava com
peças coradas, a pena saiu bem marrom, e Micaela pega e fala.
— Isso é complicado de dar valor, ainda mais estes, negros e
com aparência de naturais.
— Acha que engana alguém? – João olhando a menina, ele
não conhecia o material natural.
— Este é bem real, o caule entrega que é de plástico, a textu-
ra na mão, mas a aparência, a um metro, não se diria ser de plásti-
co.
A maquina prensava 6 para cima e 6 para baixo, no molde,
não tinha como tirar no sistema automático, então João abria a
porta e tirava 12 por vez, e passava uma fita na parte de baixo e foi
colocando em um pote ao fundo, quando tinha 100 dúzias a maqui-
na apontou o fim da mistura negra, ele coloca uma forma diferente
e saiu apenas duas por vez na forma de pavão, azuladas escuras, e
foi mais demorado para fazer todas as 200 peças que queria.
Micaela olhava João e pergunta.
— Não entendo você, as vezes parece que trabalha para não
pensar.
— Eu penso, mas preciso pensar mais e fico fazendo serviços
paralelos enquanto penso.
— Muitos se perguntam da caminhonete ai fora.
— Se a lei não tivesse me obrigado a trocar a placa, dos car-
ros, ai sim eles estranhariam.
— Certo, mas o que pretende com isto?
— Vou fazer para as vestes sua, da moça e da sua mãe, penas
que pareçam reais, e passarei para os costureiros, é questão de
querer desenvolver aquilo que falamos, tecnologia carnavalesca.
— E porque quer fazer isto?
— Como disse e ninguém está ouvindo, aquela torre ali atrás,
serve para reciclar plástico, o devolvendo a – ele pega um pode
daquele material branco – a estado de injeção novamente, tudo que
eu usar e não quiser deixar em estado anterior, eu deixo em estado
de matéria prima.
— E instalou ai?
— Deixei ele, não esquece, isto não é meu para que instale
algo definitivo.
441
— Certo, mas se ele vender, você compra?
— Isto Jesse não precisa saber menina.
Jesse sorri e fala.
— Está tentando ter uma empresa de carnaval?
— Não, carnaval é diferente de um desfile lindo, mas se con-
seguimos fazer um desfile lindo, com uma comunidade se divertin-
do, antes, durante e depois do desfile, com uma musica que nos
represente e com algo que fique na nossa e na lembrança de quem
assistiu, sim, é um carnaval.
João continua a fazer e quando termina aquela serie maior,
põem novamente a inicial, com corante cor gelo, e começa a fazer
as plumagens novamente de 12 em 12, quando termina põem em
um carrinho e fala.
— Não sei quem costura para vocês, mas o modelo é este. –
João passando o modelo para ela e aquela carrinho de supermerca-
do lotado de plumagens.
João coloca no automático e dá carona para Jesse, deixa o
carro e chega ao hotel de taxi.
Micaela chega em casa e sobe com aquele carrinho de com-
pra, Roberto estranha quando ela chega com aquele carrinho lotado
de penas de faisão e pergunta.
— Para que isto filha.
— A minha veste e a da mãe, e a da menina do outro lado.
— Mas quanto gastou nisto filha, ai tem uma fortuna em Fai-
são.
Micaela pega uma e fala.
— Bom saber que engana suficientemente bem mãe.
— Não entendi.
Ela alcança para a filha e pergunta.
— De que outra ave é isto filha, o toque não é de faisão.
Roberto chega perto e olha com a mesma indagação.
— Pai, quando se fala em empresa de tecnologia de carnaval,
é algo capaz de produzir uma pena destas a partir de plástico de
Polietileno.
A senhora olha a pena e olha serio.
— Mas como se fabrica algo assim?

442
— Mãe, se eu gasto na forma, eu já gastei na forma, então ela
é a parte cara, dai ela me sai um real a unidade.
Roberto pega uma e fala.
— Isto que falava com aquele rapaz?
— Sim, uma empresa que eu, o mano e ele criaríamos para
produzir peças para escolas que tiverem interesse, parte da empre-
sa o domínio e técnica de movimentos mais específicos como o do
Bilac, projetos elétricos e hidráulicos para carros maiores.
— E quanto saiu todas estes faisões falsos?
— Ainda muito, foram 4 modelos, então pagamos 20 mil em
moldes, e resolvemos testar, e vamos passar aos rapazes que vão
desfilar pela Beija-Flor, para termos a propaganda.
— Não respondeu. – Roberto.
— Com material e moldes, saiu menos de 6 reais a pena.
— E quanto mais, mais dilui a pena?
— Sim, estamos testando se conseguimos produzir pai, obvio
que olhando de onde saiu, eu já sabia que era falsa, mas se você
não viu muitas vezes terá a reação da mãe.
Fabiola olha as penas e fala.
— Quais são as minhas?
— As bem brancas, tendo 3 tipos de penas brancas, dai tem a
gelo e a preta, três roupas.
— Pelo jeito alguns vão perguntar de onde conseguimos re-
cursos este ano?
A menina sorriu e foi a um banho.
Roberto olha a pena e fala.
— Se ele fornecer isto a 24 a dúzia, ele vende milhares.
— Sim, pensa em algo com 100 dúzias de penas, é a veste que
ele está induzindo a cada uma das pessoas sobre o carro abre alas.
— Acha que é seguro.
— Sabe que é Roberto, mas eu estava com medo de ser mui-
to alto, ou me dar medo, com as duas a frente, diminui a altura, mas
é ver as pessoas na arquibancada de igual para igual.
— As vezes acho este outro João maluco.
— Este nome tem poder nesta escola, sabe disto Roberto.

443
Duas semanas se passam,
João chega a mais um dia de tra-
balho e olha aqueles repórteres
na parte a frente, ele chega ao
carro que estava longe dali e fecha
as cortinas, Paulinho iria pergun-
tar e vê ele encolhendo as laterais
e viu gente entrando e Franco
olhar o carro todo escondido, rebaixado e olha para João.
— Bom dia rapazes, o pessoal da Carnaval queria ter uma
ideia do que escondíamos, falei que nada.
João não sorri, foi ao carro ao fundo fazer algo e o repórter
viu que o carro abre alas estava ali, todo rebaixado, mas não conse-
guia uma boa foto dela, parecia totalmente incompleto.
Ele olha os rapazes e liga para Nuno.
— Como estão as coisas por ai Nuno.
— Franco disse que mostraria algo para a imprensa, o que
acha?
— Posição de transporte.
— Ele vai reclamar.
— Ele já acabou com duas surpresas, pois cheguei ele já esta-
va para dentro, mas não gosto de revelar tudo, já chega que a ima-
gem de Bilac que eles viram.
— Encolho todos?
— O meu está todo desmontado, deixa como está.
Nuno sorri e foi reduzindo os carros e Rogerio pergunta.
— Não iriamos fazer os painéis altos?
— Franco deve chegar com a imprensa em pouco tempo, co-
bre os carros, ônibus e trens.
— Ele vai odiar.
— Não é ele que tem de odiar, eles já falam mal de algo e nos
damos mal.
Ricardo viu o pessoal reduzindo e cobrindo e olha para a se-
cretaria.
444
— O que está acontecendo.
— Não sei, Franco disse que o pessoal da Carnaval 2019 vem
ai. – A moça olhando para fora.
Sueli sai para o corredor e recolhe todas as vestes que esta-
vam engomando para ficar mais rígidas.
Põem as cabeças para dentro e olhando o pessoal de João,
não se via eles trabalhando.
— Franco acha que vamos mostrar algo?
— Ele nem confirmou que viria.
João entra na parte do isopor e fala.
— Visitas, odeio esta parte. – João olhando José.
— Franco e aquelas coisas que ele gosta, propaganda do que
estamos fazendo.
João olha para Paulinho e fala.
— Vamos ajudar a escola ao lado.
Os dois saem, as costureiras recolhendo tudo que estava no
corredor, e os repórteres tentando algo, e muito pouco.
João olha o abre alas da Alegria, as arvores caídas ao lado,
duas imensas maquinas dos dois lados, a corrente entre elas, e tudo
caído ao meio, arrancado do chão, na traseira das maquinas tinham
gaiolas, com animais presos, a frente, o sangue de animais amassa-
dos ao chão, e arvores milenares sendo carregadas pelas duas ma-
quinas juntas.
O adesivo no vidro falava Empreendimentos Cajado.
Joao olha as arvores depois e Marcos olha ele e fala.
— Este abre alas é para todos falarem mal de nós.
— Quer propaganda?
— Sim.
João liga para Jose é fala que estava ajudando a escola do
grupo A, num barracão ao lado. José vê Franco entrar e perguntar.
— João foi onde?
— Ele disse que hoje era dia de ajudar com o abre alas da
Alegria, mas aquele abre alas dele em nada tem de alegria.
O rapaz ao fundo olha Franco sair e pergunta.
— Que Alegria?

445
— Da Zona Sul, a Beija-Flor apoia o carnaval deles este ano, e
cedeu gente e um espaço, saindo pelos fundos, o segundo barracão
da direita.
O repórter olha para o câmera e terminam de olhar aquilo,
pouco, mas saem pelo fundo procurando onde seria, tinha a placa
na frente e Marcos, o presidente viu o pessoal chegando e Vinicius
sorriu ao ver o presidente da escola ali.
— Achei alguém para me autorizar e informar.
— Perdido no grupo A Vinicius?
— Soube que a Beija-Flor lhe cedeu um espaço, vim confirmar
se era verdade.
— Sim, o pequeno Gabriel entrou em contato e perguntou se
não precisávamos de ajuda, e ajuda sempre vem bem.
— Ajudaram sem pedir nada em troca?
— Eles pelo que entendi, tinham espaço sobrando e oferece-
ram para nós e para a Estácio.
— Se estava sobrando espaço, porque eles não ampliaram os
próprios espaços.
— Não reclamo não o terem feito Vinicius?
— E como vai o carnaval.
— Tivemos como a Beija-Flor um carnavalesco que definiu o
tema e pulou fora, depois de ter registrado o enredo, então esta-
mos nos adaptando ao enredo.
— E porque muito poucos levam seu tema a serio.
— Porque eles leram apenas a introdução, e não mais que is-
to, mas vieram mesmo cobrir a serie A?
— Se nos autorizar a filmar e me explicar um pouco a ideia.
Vinicius viu os tratores e as arvores avulsas e o cinegrafista foi
filmando, e fez a reportagem e João olha ao fundo os rapazes saindo
e fala.
— Se vão falar bem ou mal, nem ideia.
— Eles ficaram impressionados com as arvores de 8 metros. –
O presidente olhando João.
— Elas são impressionantes.
O senhor sorriu e viu João voltar, ele entra pelos fundos e viu
os repórteres barrados na entrada de Estácio.

446
João não sabia o que os repórteres falariam da Beija-Flor, mas
ele entra no barracão e ergue todo o carro um e soube que Franco
saiu, sinal que marcou no outro ponto.
João começa a fixas as estatuas, e as placas da primeira divi-
são, era uma engrenagem interessante, e que esperava não falhar.
Ele desceu o sistema inteiro e desprendeu a parte superior do
carro, e põem para fora, ele separa os buracos e os foi preparando,
depois coloca as grades na primeira e começa a por a fibra de vidro,
Paulinho chega ao lado e pergunta.
— Vai fazer isto em todas?
— Sim, apenas tem de verificar os locais dos buracos dos pro-
jetos.
— Tem muito sistema hidráulico no carro.
— Sim, sei que é o maior risco, o problema que para ter um
efeito de peça, eu preciso que algo mude os fundos.
— E se der errado?
— Por isto odeio a ideia de narrar o que quero, eu narro, não
dá certo eles me tiram pontos, eu passo com um carro simples, exa-
tamente no que descrevi, não perco ponto.
— Não é bem assim.
— Queria acreditar que não.
Franco chega a região da Cidade do Samba e Vinicius pergun-
ta para ele sobre a ajuda para as duas escolas do grupo A, ele fala
que foi uma ideia de Roberto, mas não entra em detalhes.
O entrar e se deparar com tudo rebaixado, coberto, fez o ra-
paz achar que Franco escondeu algumas coisas.
João começa a olhar o painel de chão e olha para Ricardo ali.
— Mudando?
— Não, é que a parte de cima, é uma gramínea, como se Luci
estivesse diante de um campo.
— E o que vai neste campo.
— Alguns animais, algumas plantas, apena o campo a frente
de Luci.
E porque disto?
— Se deixar no ferro, não sei a interpretação, para baixo, to-
dos atores estarão com cordas presas ao teto, para parecer bonecos
manipulados.
447
— Por isto do teto, algo para apoiar e parecer um teatro de
bonecos?
— Sim, mas Luci esta externa a apresentação.
— Todos tem medo deste carro.
— Eu tenho medo da ideia Ricardo.
O senhor sorriu e perguntou.
— O pessoal viu algo?
— Os carros na entrada.
— E este carro?
— Estava recolhido, mas acho que já viram mais do que eu
mostraria.
Vinicius olha as imagens e fala.
— Reportagem falha.
— Eles continuam escondendo.
— Franco estava bem receptivo, mas vi que quando alguns vi-
ram começaram a recolher as coisas, tinha muito isopor naquela
parte isolada.
— Gostou de algo?
— O carro abre alas está lá, mas parece uma aposta alta, ou
uma aposta cara demais.
— E aquele abre-alas da Alegria da Zona Sul.
— Bem desenhado, eu pensei que eles iriam contar uma len-
da boba, eles vão usar a lenda como fio condutor, eu consegui en-
tender o enredo sem muita firula, a devastação força a migração,
eles passam por alguns lugares e acabam na comunidade do Pavão-
Pavãozinho.
— Viu o tamanho das alegorias?
— Sim, eles estão fazendo um carnaval, pena serem a primei-
ra a desfilar no Domingo.
— Acha que podem surpreender ?
— Acho que eles querem defender ficar no A, mas vou dar
um pulo no sábado que vem no barracão que eles montaram no
porto para os ensaios, quero ver se a comunidade está se mexendo.
Quando o pessoal sai, João via ao chão as 4 partes superiores
já cobertas de fibra de vidro, ele olha para a estrutura, pega os cris-
tais para as laterais e frontais, e começa primeiro a por os LED, de-
pois completar toda a volta com aqueles cristas feitos em plástico.
448
Estava terminando a frente quando Marçal, um dos desta-
ques de luxo, chega ao local, e olha João.
— Deve ser o que chamam de Alemão.
— João Mayer, no que posso ajudar.
— Marçal, nos falamos por telefone.
— Estamos oferecendo um material, para os destaques da
Beija-Flor este ano, para os que quiserem testar eles.
— Não entendi.
João pega os 6 tipos de plumagens que fizera e traz em um
carrinho de dentro.
O senhor olha para aquele material e pergunta.
— Que material é este, não parece pena.
— Não é, não umedece, mas estamos oferecendo, para os
destaques de luxo.
— Quanto custaria isto?
— O carrinho inteiro, sete mil e duzentos reais.
— Quantas dúzias tem ai?
— 300 dúzias.
— Um produto para fazer uma super fantasia, me parece boa
a oferta, acerto com quem?
— Leva e acerta amanha com a secretaria.
O senhor sorriu e perguntou.
— Vão por estes cristais a toda volta deste carro?
— Os cristais tem LED por traz, então hora são negras, hora
são amarelas, hora brancas.
— E qual seria o grande teatro narrado neste gigante.
— A anunciação de uma nação escolhida.
— Sabe que poucos não se perguntam o que ocorrerá neste
carro, e eles nem imaginam que é um carro com detalhes tão capri-
chados.
— Foi colocado neste?
— Não entendi, tenho de pensar numa roupa, que não sei o
que pode gerar, pois a frase, a evolução parece muito superficial.
— Colocado na primeira ou na segunda parte.
— A primeira.
— Este carro é uma anunciação, no topo daquela torre, estará
Luci, a primeira brasileira, a frene dela, um campo as suas costas e a
449
volta, os cristais de Luz da anunciação, a baixo de você, a frente, a
evolução da pré-história ao primeiro humano, existem em baixo,
pelo menos 4 encenações, em 4 níveis de carro, a volta, as baianas
que são a anunciação, então estamos no meio da ala das baianas, as
partes baixas, são para pequenas baianas, todo o palco, é cercado
por cortina, e cada cor de cortina, um ato.
— E porque atrás da estatua?
— Ela não vai tirar sua visibilidade, e nem você a dela.
— Algum motivo?
— A primeira dama vai fazer a anunciação, eu recomendava
não olhar para ela na hora, vai estar a 20 metros de altura, sem ver
nada.
— Certo, algo bem visível a nível de não querer arriscar. E o
que tem na coluna do fundo?
— Uma mulata bonita com a fantasia de Baiana.
— E não vai falar sobre a anunciação?
— Deusa Amaná, com a sua parte boa a sua esquerda, a direi-
ta da alegoria, vendo de frente, a parte boa, a sua direita, a parte
ruim, a luz vai correr entre os cristais até o fundo, e quando termi-
nar começa o abrir das cortinas.
— E pelo jeito ainda é segredo.
— Até o dia, será segredo a parte baixa.
O senhor olha o lugar que ficaria, e olha a altura do carro,
mas via que tinha mais coisa, não poderia ser apenas ele no lugar.
João pensa se não falou demais, talvez, uma hora teria de
pensar sobre o que parecia ainda, cada hora que falava, algo duvi-
doso, ele estava criando ainda para ver se achava algo a ligar, a par-
te superior foi uma ligação, para voltar a historia ao zero, mas pare-
cia ainda faltar algo, as baianas a volta, juntavam o carro ao meio a
volta.

450
Mais duas semanas e aca-
bava Janeiro, João para ao bar na
frente do barracão e vê Silva sen-
tar a mesa e perguntar.
— Sabe que mesmo com
você ai, os negócios não estão
bons.
— Problemas?
— Filhos querendo o dinheiro, mas me falaram uma coisa.
— O que?
— Que você tem um barracão no Estácio, que esta vendendo,
acho que preciso mudar um pouco de ares.
— Parece fugindo, gerei problemas?
— Não, mas as vezes tem gente que se aproxima e quero
manter longe, como este Roberto.
— E qual a proposta Silva?
— Não quer me vender lá, fazemos um preço no terreno aqui
e vemos quanto tem de me voltar, e me paga aos poucos.
— Tem de vender mesmo?
— Tenho de sair do caminho.
— Não quer montar lá, toca lá, e fazemos aqui em parceria.
Silva olha o rapaz e pergunta.
— Gosto de estar sobre algo meu.
— Se for este problema, mas não posso passar algo assim pa-
ra meu nome, então teria de ser de uma empresa, pois eu tenho
gente no meu passado que adoraria me fazer vender Silva.
— E lá não está em seu nome?
— Sim, mas estou tirando do meu nome bem para não apare-
cer, mas podemos passar ele para você, passamos a parte que uso
para mim, e mantemos o seu negocio no meio, damos um jeito de
tocar.
— Eu não sei dividir administração rapaz.
— Vamos com calma, começamos montando lá e dai verifica
como fica esta parte.
451
— Não tem pressa mesmo nisto?
— Não, mas sinal que o senhor Roberto está usando estar ai
para lhe ameaçar, seria isto?
— Sim, que tenho de vender para ele.
— Certo, vamos transferir para alguém e conseguir um do-
cumento de uso fruto do terreno.
— Uso fruto?
— Podemos usar até nossa morte.
— Não quero morre por isto.
— Não disse que o uso fruto estaria em seu nome, mas man-
teríamos o terreno para nosso uso.
— Acho que este Roberto percebeu que você passou ele para
trás, e resolveu pressionar.
— Certo, se ele perguntar, você vendeu, para a MD Transpor-
tes, o terreno, e está negociando com eles para manter os contratos
até o carnaval.

452
Passou mais quinze dias e
João chega a fazenda com seu
Landau reformado, e olha para os
caseiros começarem a tirar o pri-
meiro dia da produção, o tirar do
camarão, o lavar, e a morte por
choque térmico no gelo, embalar
e colocar no frízer, viu Micaela ali
e falou.
— Acha que ficou pratico?
— Sim, temos 50 compradores, por mês, não sei ainda como
atender a todos.
— Acho que ainda temos mais produção do que venda.
A menina sorri e fala.
— Pelo jeito era serio que faria disto uma produção em serie,
todo dia algo.
— Sim, mesmo coisas com menos retorno, servem para diver-
sificação de mercado.
João sai dali e passa na pensão e olha Rodney olhando ao
longe e fala.
— Problemas?
— Vou ser vô e minha menina diz que não quer nada com o
pai da criança.
João respira fundo e fala.
— Apenas apoia ela, as vezes acontece, somos uma fabrica de
crianças, mas tenta a apoiar, mas sei que deve estar pensando nos
gastos.
— Sim, daqui a pouco uma boca a mais, ela gravida está fa-
lando em abandonar o colégio.
— Tenta a convencer a ir o máximo que der.
— Sozinho bem nesta hora, as coisas tem de voltar ao eixo.
— Calma e tenta pensar friamente, vai ficando por aqui, tem
espaço suficiente para ser avô.

453
João olha o recado do barracão e desce o morro e entra na
cidade do samba.
O olhar de Franco era de cobrança.
— Quando vai montar os carros?
— Estão ainda em treinamento, mas quer que comece, sem
problema.
João olha o carro que o levou ali, chega a frente e coloca o
beija Flor, depois as luminárias, começa a por as esculturas para
cima e prender elas.
Rogerio aparece e pergunta.
— Hora de montar?
— Uma hora teria de montar o meu carro.
Ele ajuda a por a luz e olha para os demais se apresentando,
colocam os painéis pintados, começam a endireitar as partes mecâ-
nicas, e João olha para os rapazes.
— Começa a fixar, mas cobertos ainda.
As esculturas, começam a surgir, os painéis altos precisava
baixar algo, e foi encaixando todos os painéis, olha para fora e não
se via nada, Roberto de cima fala.
— Não é muito cedo para montar Franco.
— Ele parece estar me enrolando, não pode estar pronto.
João monta o painel no terceiro andar, e coloca as esculturas
de joelho a orar, os holofotes, as esculturas de festas.
João vai na parte interna e pega a parte baixa das esculturas
do fundo, após dispor do local, ele prende as quatro estruturas para
o fundo e prende o pano com as linhas sobre ela de meio de pista,
negra e estica para traz, sobre a ultima escultura, prende uma haste
e oito metro, vai as laterais e prende as hastes entre o carro e a que
havia colocado, estica o tecido para trás, enquanto Jota prendia as
esculturas no fundo.
O manter das esculturas que empurravam sem estarem todas
erguidas, dava sensação de que havia algo errado nelas. Mas não
tinha altura ali para erguer o todo.
Foram colocando as estatuas, as alegorias, as iluminações.
Roberto de cima olha João prender no carro na parte da fren-
te o mesmo tipo de tecido que prendeu no fundo, e Franco olha

454
assustado o carro ir avançando em todos os sentidos e olha aquele
negro se esticar para frente, e Jota colocar as estatuas a frente.
Roberto olha Franco e fala.
— O que queria ver se não estava no lugar Franco?
— Quero ver aceso.
— Sabe que é cedo para por as luzes Franco.
— Mas temos de testar.
— Não está mais conseguindo segurar a língua, é isto?
Sergio entra no barracão e olha para o carro quase montado e
sorri, chega perto e João olha para ele.
— Acha que vale os dois?
Sergio olha para o carro e fala.
— Com certeza vale mais que isto.
— Acha que é o que esperava? – João.
— Eu sempre digo que seus trabalhos se sabe o resultado
apenas quando está pronto.
— Então hora de deixar pronto.
Sergio sorriu e viu as laterais se destacarem, para as pessoas
que estariam vestidas de comida, olha os dois bolos subirem, e so-
bre o bolo da frente, uma escultura viva senta sobre o bolo, ainda
sem ninguém nele.
João pega os 70 beija flor e começa a por nos pedestais a to-
da volta, olha para os pontos externos e pega uma placa inteira
lateral e coloca na parte lateral cobrindo o espaço com um acaba-
mento brilhoso.
Ele pega uma madeira e escorre por baixo do carro e começa
a ligar as luzes, as esticar e começa a fechar os trechos.
Ele sai de baixo e acende a luz, e o chão ficou azul de luz ne-
gra.
Acende os holofotes do meio do carro, acende as luzes de
destaque, aos pés das esculturas vivas, e Roberto sorri.
— Assim que queria ver?
Franco olha incrédulo e fala.
— Quando ele acabou?
— Pelo que entendi, a 15 dias. – Roberto.
Franco olha eles disporem do carro um pouco a frente, e co-
meçarem inclinar as esculturas para frente.
455
Inclinaram para frente e para trás, recolheram o tecido preto,
voltaram a por para dentro as laterais, desceram cada parte, reco-
lhendo o imenso carro alegórico para 4,5 metros.
Cobriram a parte frontal e traseira, colocaram os limitadores
a todo lado para não bater em nada, embalaram o carro e deixaram
ali, pronto.
Sergio viu que era fim de dia quando terminaram.
— Vão começar a embalar todos?
— Apenas o que está pronto.
— Certo, mas o que acha que não está pronto?
— O começo no outro barracão e o fim do desfile neste.
Nuno estava ainda sobre seu carro e Sergio sobe e João chega
a Nuno.
— O que não consegue fazer que está enrolando Nuno.
Nuno olha João e fala.
— É tenso dizer que está pronto.
— Que tal nós tentarmos montar ele amanha?
— Acha que tem como ajudar amanha?
— Para de bobeira Nuno, estou aqui bem para isto.
Nuno sorriu e falou.
— Acho que é um mistério se vai funcionar tudo.

456
Uma semana a mais e João
estava ajudando a montar o carro
numero 5, espremido na parte
interna, quando os jurados e fis-
cais de andamento entram no
barracão, João não teria mais o
que esconder, mas eles não en-
tenderiam tudo, antes da hora.
Ele estava enroscado dentro quando os rapazes chegam e fica
ali sem ninguém o puxar para fora, por uma hora.
Viu que o esqueceram ali e começa a fazer força para sair, e
com calma sai e olha que ninguém estava mais por perto.
Estranha e começa a fechar o lugar, estava cansado quando
vê acenderem as luzes e começarem a cantar parabéns para você,
João fica sem graça, nem se tocara que era seu aniversario, o deixa-
riam lá para fazer a surpresa, sacanagem.
Ele sorri sem graça e viu que o pessoal estava tentando ani-
mar, João ouve a bateria e pensa se merecia tanto.
Ricardo olha para João e fala.
— Bem vindo a família.
Ele estica um pequeno pacote, e como estavam todos olhan-
do, ele abre era um medalhão com um Beija-Flor.
Agradece e viu muitos o cumprimentarem.
Ele olha para o carro, ele o queria acabar e estava em meio a
festa, talvez não soubesse festar, teria de aprender.
Muitos parabéns, ele até sentiu-se um pouco da família, mas
é que era o mais novo no lugar.
João viu a festa acabar, os demais saírem, quando viu que es-
tava sozinho, viu aquela menina a sua frente.
— Vai fugir sempre?
— Sempre é muito tempo menina.
— E não cede fácil.
— Acho que não sabe o que quer menina.
— Micaela.
457
— Sei que não vai acontecer Mick, eu estou acabado, e acho
que tenho de voltar a me olhar, eu gostava de mim, o problema não
está em você, está em mim.
— Acha que vou estranhar?
— Não quero passar por algo que piore o que penso.
— Bobo, você não sabe mesmo que corpo é apenas corpo?
— Acho que no fundo, eu fujo até de mim nos ultimo meses,
estranho que fugindo, alguns até passam a me respeitar, mas hoje
não aconteceria menina.
— Micaela.
— Acho que não entendeu, se não a chamar de menina, seria
de menino, e o segundo ponto, não tem como o ser.
Ela sorri e fala.
— Vai me dever esta.
— Cuidado com o que deseja menina.
Ela sai e João termina de fechar, pega o Landau e vai para o
hotel.

458
Sexta feira, andes do desfile
na segunda, terça na verdade,
João termina de embalar o carro 4
e olha para Nuno a entrada.
— Me ajudaria?
— O que aconteceu?
— O carro da Estácio enros-
cou na ida.
— Como enroscou?
— Um dos pneus estourou.
— Colocaram mais peso?
— Não sei, ontem estava normal.
Joao pega um macaco hidráulico, um pneu, o sistema de sol-
da e de corte, algum material a mais e falou para o segurança.
— Volto ainda.
— Quer que encoste?
— Sim.
João sai no sentido do local e olha o carro entalado em um
meio fio e olha para o peso, olha para o rapaz que conduzia o carro
e pergunta.
— O rapaz no volante, está bem?
— Bebeu um pouco, apenas isto.
— Pouco?
João chega a um ponto e olha para baixo e olha a estrutura,
deveria ser forte, ele põem ali o macaco e sobe um pouco, põem
outro no ponto oposto e olha o pneu, coloca mais ar nele e o carro
ergue um pouco, mas não o suficiente para desenroscar.
João fica na duvida se entrava embaixo, foi calibrando para
cima todos os pneus e sente o carro desenroscar um pouco, sai pela
frente e o rapaz fala.
— Acha que está fazendo o que, não é da escola.
João olha para Nuno e fala.
— Apenas ajudando, se não quer ajuda, saio.
Nuno olha para o rapaz e fala.
459
— Ele veio ajudar.
— Não queremos ajuda.
— Se andar agora vai quebrar, e é bom todos ouvirem, não
quero choro depois.
— Nos sabotou. – Um dos rapazes.
Bêbados não adianta se discutir e João não era de pegar leve,
ele disca para Zanon e fala.
— Zanon, é João da Beija-Flor.
— Estou ocupado João.
— Sei disto, mas os rapazes do carro 4 estão entalados na
rua, os seus, e não tem um sóbrio para discutir a retirada do carro
daqui, se mexerem no ponto que está vai quebrar.
— Nuno não está ai?
— Sim, mas ele pediu ajuda e os seus rapazes depois de fazer
a merda, agora querem que não ajudemos, não sei quem são, mas
se eles mexerem agora, não adianta me culpar depois, eles vão de-
tonar a roda, pois com uma rua de 10 metros eles conseguiram
acertar o meio fio de um lado na reta.
— Vou para ai.
— Manda alguém rápido, que eles parecem querer me bater
ainda por lhe ligar.
Nuno recua e o rapaz empurra João e fala.
— Acha que vamos aceitar ajuda apenas porque ligou para o
Carnavalesco, nós fazemos o carnaval, carnavalesco muda-se. – O
rapaz foi empurrar de novo e João apenas toca no ombro dele e
fala.
— Dorme criança.
O rapaz desabou na rua, e os demais olham desconfiados e
João fala pegando o telefone.
— Gabriel, tem como conseguir uma empilhadeira de grande
volume?
— Quer ela onde?
João passa o endereço e fica olhando o rapaz ao chão e os
demais lhe olhando.
Gabriel chega e os seguranças ajudam o rapaz sentar e João
fala.
— Alguém ainda sabe pensar, ou estão todos bêbados?
460
Os rapazes estavam todos bêbados e João tira o rapaz do vo-
lante e olha para o pneu e Gabriel ergueu a estrutura por traz, Zan-
on chega na hora de ajudar a destravar com mais pessoas e olha os
rapazes todos bêbados e não fala nada.
Ergueram, logico que ficou a marca das duas entrada empi-
lhadeira, colocam mais ao centro da rua e João apenas olha o carro
andando de novo e olha Zanon e fala.
— Boa Sorte, vão precisar.
O rapaz sai com o carro e João volta ao barracão.
Todo pessoal estava lá pegando as coisas, as fantasias esta-
vam sendo distribuídas na cidade do samba, e começa a empacotar
o carro numero um, com todo cuidado.
João olhava a transmissão do carnaval e fazia seu trabalho
quando o carro três parece tender para o lado e soube que um pneu
estourou, os rapazes levam no braço, mas era obvio que foi na for-
ça, não na tecnologia.
Nuno olha para João e fala.
— Acha que foi o que?
— Eu enchi o pneu para ele sair da lateral frontal sem rasgar
tudo, levantamos a parte do fundo e saiu, mas teriam de ter esvazi-
ado o pneu depois, antes as pessoas subirem.
— Que merda, ainda vão nos acusar.
— Nuno, pensa em algo assim, você se dedicar 5 meses para
por este carro na avenida, dai colocam 12 neguinho travado de bê-
bado para levar ele para a avenida. As vezes se colhe as escolhas,
eles não controlaram os rapazes, e é a hora que tudo se perde, co-
mo eles bobeiam nesta hora?
— Sei que imprevistos acontecem João, segunda a noite é
nossa vez de passar por isto.
João sorriu e falou.
— Sei que sou o novato Nuno, sei disto.

461
João olha os carros, cada
lâmpada que teria de testar antes
da hora e não transmitiriam a
primeira escola, ele coloca na
transmissão paga e viu o abre alas
da Alegria chamar atenção e a
critica começar falar da comissão
de frente, ele sorri, poderiam não
ser o melhor, mas estavam bonitos.
No Landau colocou tudo que pudesse ajudar, de beija-flores
reserva, placas, cristais, enfeite, tinta, LED, gerador, era tanta coisa
que o carro ficou pesado.
João dorme mal duas noites e olha a noite de segunda chegar
e viu os carros começarem a sair, o chegarem encolhidos, fez alguns
olharem os carros cobertos, com cuidado, começam a tirar os plás-
ticos, o montar dos carros não permitiu João acompanhar o carna-
val, quando todos no carro abre alas, viu a bateria entrar, a comis-
são de frente, e o carro entra silencioso e se ajeita, dando ré, e se
colocando na reta para passar. Os imprevistos de tirar um bêbado
que havia ensaiado, no carro abre alas, sem muitos verem, era para
ser perfeito, o cara não ficou feliz, mas não deixaria o rapaz, mesmo
bêbado, disponível para um acidente com um sistema hidráulico,
que esmagaria alguém facilmente.
Cada carro entrar, cada fantasia, cada grupo verificando cada
fantasia, cada detalhe.
O alinhar do carro dois, as alas, e seu carro, mal olhou ele, en-
trou com folga e foi ao desfile.
Ele ajeitou cada carro, cada passagem, ele não sabia no fim se
estava tudo bem, ele vai ao fundo, e não sabia, parecia que tinham
gostado, mas ele estava cansado, ele não fizera o carnaval de sua
cidade para fazer aquele.
Carro 6, e Nuno o abraça e vão a avenida, encerrando o desfi-
le, parecia fácil, coordenado, calmamente puxa o portão no ultimo
minuto e encerra o desfile.
462
Ele estava olhando os demais quando ouviu o grito de cam-
peã, mas eram pessoas de azul, pensou em torcida, a incredulidade
mesmo com um sorriso de João, era o cansaço de quem não dormi-
ra dois dias, os carros se reduzem, e voltam aos barracões, João
acompanha o estacionar dos carros nos barracões, não era mais
segredo, mas ele precisava ver eles lá.
Se perguntassem no dia seguinte o que ele fez naquela ma-
drugada, ele mal lembrava ter entrado no barracão.
João vai para o hotel e adormece como uma criança, era can-
saço, ele não estava nem tenso, estava como se tirando um peso
das costas.

463
João acorda e tenta lembrar
que dia estava, lembra que era
quarta, a tarde tinha a apuração,
ele levanta com calma e olha para
o espelho, seu corpo ainda com a
pele toda frágil, rosada, as vezes
achava que nunca seria alguém
normal novamente, estava distra-
ído com os próprios pensamento e
olha para a sombra as costas e pensa que mais merda aconteceria.
— Achou que não vingaria as mortes rapaz?
João não acha palavras, estava cansado e fala.
— Pena acabar assim.
Moreira puxa a arma e ouve o destravar de 3 armas e ouve.
— Larga ou vai passar a imortalidade na cadeia Moreira.
Moreira olha para o delegado e fala.
— Ele matou sua mãe.
— Quer mais mortes no hotel, para depois se fazer de inocen-
te Moreira, pois não morre e ainda liga e diz, foi ele.
— Ele matou sua mãe.
João vira-se para Moreira e fala.
— Se quer me matar Moreira, a única pergunta, por quê?
— Você matou dos meus.
João olha o senhor, alguém que tinha de tudo, e se perdia em
vinganças, pois ele não estaria na posição que estava se o senhor
não o estivesse colocado.
— Quem me colocou neste ponto foi você, quem atirou em
mim foi você, quem continua numa birra, pois é birra, contra a me-
nina dos David é você, mas se quer mesmo que procure os demais,
em alma? Quem sabe consiga desta vez.
Moreira estava com as duas armas sacadas, ele olha pensan-
do na possibilidade, ele destrava as armas e nem sente as pernas
falharem e cair sem força, Douglas olha João, a pele dele era estra-
nha, como se fosse um bebe, bem rosada, estranha aos olhos, ele
não tinha pelos.
464
João viu que estavam reparando nele e apenas fecha a camisa
e olha a menina onde antes estava Moreira, agora ao chão.
— Obrigado.
A menina saiu e o delegado fala.
— Não o defendi, e sim os demais rapaz, sabe disto.
— Agradeço por eles, não por este lixo que me tornei.
Douglas sai e o investigador olha o delegado.
— Ele nunca será alguém normal de novo.
— Moreira o tornou uma anomalia, pensei que ele se recupe-
raria, mas esqueci, ele quase morreu.
João toma um banho demorado, desce para o almoço, viu o
anuncio da vencedora de São Paulo e que hoje se decidiria quem
era a grande campeã do ano.
Sergio senta-se a frente de João e fala.
— Vai fazer parte da família ou vai pular fora?
— Não sei, sei que depende de hoje, acho que estava tão ten-
so e cansado, que nem sei como desfilamos.
Sergio sorriu e falou.
— O dinheiro do carro está na conta, mas Ricardo quer falar
com você.
— À tarde pelo jeito todos nos veremos.
— Parece desiludido?
— Da próxima vez, talvez me canse mais antes, para na hora
curtir.
Sergio olha para Ricardo entrar e olhar João.
— Podemos conversar?
— Fala Ricardo. – João.
— Minha sobrinha falou que a policia tirou Moreira do seu
quarto, está bem?
— Amortecido.
— O grupo especial de São Paulo se propôs a segurar uma
semana o desfile das campeãs se assinarmos a nossa participação
lá.
— E qual a altura daquela entrada deles.
— Olhou aquilo?
— Sim.
— Diz ter 22 metros.
465
— Quem sabe eu preste atenção no desfile desta vez.
— Acha que conseguimos?
— Nem sei como fomos Ricardo, como digo, carnaval é uma
disputa de menos erros.
— Acredito que voltamos entre as 5.
— Preciso de uma credencial para a apuração, não peguei.
— Sergio consegue uma para você.
Ricardo sai e João olha Sergio.
— Como acha que fomos?
— 5 estandartes de ouro, já é um ganho João.
— Quais?
— Samba Enredo, abre-alas, baianas, bateria e melhor escola
do ano.
— Então por regra chegamos em terceiro?
Sergio riu, pois era bem o que acontecia, a melhor escola
nunca vencia.
João comeu com calma, era 3 da tarde quando ele chega a
Marques de Sapucaí e Diogo o abraça e fala.
— Estandarte de Ouro não é para qualquer um João.
João viu que o Alemão foi tentado, mas não pegara, e viu Ro-
berto olhar para ele e falar.
— Ouvi que espera um terceiro.
— Eu disse apenas, pois quem ganha estandarte de ouro, ge-
ralmente fica em terceiro.
— Certo, mas tenho de confessar que o desfile ficou genial.
João teria de rever o desfile, o corpo parecia querer cama,
talvez o acordar com alguém apontando uma arma para ele, o fez
ficar meio fora do eixo, mais do que já estava.
— Devem ter criticado para valer também.
— Sim, mas a imagem dos bonecos chamando o publico no
fim e o tirar do chapéu do ultimo para a velha guarda está nos mo-
mentos mais comentados.
Esta coisa de apuração de voto, tem de considerar que o co-
meço é chato, e é o começo chato que lhe diz se você terá chance
ou não.
Mas o ficar ali no topo, com outras 3 fez João saber que a
pressão seria forte.
466
Estranho perder em fantasia, mas quando chegou em enredo,
os 4 dez fizeram empatar novamente, alegoria e adereços, abriram
0,5 da segunda, João gostava daquele enredo da Mangueira, mas
não vira o desfile.
Bateria com estandarte de ouro, deixa todos tensos, pois era
o primeiro desempate, então perder ali, era perder o carnaval.
Estranho entrar pensando em competir e estar ali tenso no
apurar das notas da bateria.
João não ouviu a ultima nota, pois o terceiro 10 estabelecia
campeã, ele encosta na cadeira e Sergio olha ele e sorri.
João olha alguns o cumprimentarem, talvez não tivesse caído
a ficha, sorri de estar ficando velho, mas nunca ter usado uma ficha,
sem sentir caminha até o carro, viu os demais entrevistando os no-
mes principais, senta no capo do carro bem ao fundo, olha para
Marcos parar ao lado e fala.
— Obrigado.
— Pelo que?
— As ideias, transformar nosso enredo horrível, no enredo
que nos gerou o terceiro lugar.
— Acho que dá para melhorar Marcos.
— Vi que em seu primeiro ano aqui, fez historia.
— Eles nem sabem quem sou eu.
— Garanto que eles estão na dúvida, mas aquele abre alas
seu, colocou o nosso no chão.
— Gostou, eu não vi o desfile dele.
— Esqueço que somente os que gostam de carnaval fazem a
armação inteira da escola, lembro da minha primeira vez, cheguei
em casa e nem sabia se tinha desfilado.
João olha o pessoal ao longe e Marcos termina.
— Não sei quantos sistemas para um carro daqueles funcio-
nar João, mas de uma coragem e precisão, que a maioria não repa-
ra, mas quem monta carros sabe.
— Aquele foi o carro que me tirou o sono, e me deixou ainda
hoje meio fora do ar.
— Se muitos não olharam para ele, pela TV, é pelo tipo de
transmissão, mas todos nas arquibancadas pararam para ver a apre-
sentação, e foi bem sucinto, 3 minutos pode parecer pouco tempo,
467
mas foi o que fez todos ficarem vidrados, pois não era algo para se
enrolar, olha que um abre alas com muita tecnologia, somente ten-
tando montar um carro como aquele, para se entender toda a di-
nâmica hidráulica, elétrica, de ensaio de um carro daqueles, eu fi-
quei olhando a dinâmica das cortinas, para irem dos 4 aos 20, ainda
não entendi.
João olha Marcos olhar os sambistas chegarem e Diego fala.
— O autor do samba tentando passar desapercebido.
— Tentando entender o que aconteceu.
— Que temos de ajeitar tudo para Sábado a noite.
Marcos viu Gabriel chegar e perguntar.
— Quais deixamos separadas?
— Não sei a estrutura da rodovia para subir de São Paulo a
Santos?
— Qual a ideia?
— Embarcamos num dos navios específicos para transportes
diferenciados da Marítima, e apenas subimos a serra lá.
— Vou pedir para alguém fazer o prospecto de subida.
Gabriel sai e Diego pergunta.
— Do que estão falando?
— Eles vão pagar para nós desfilarmos nas campeãs de São
Paulo, vão atrasar uma semana o desfile lá, mas para isto temos de
manter fantasia, carros e estrutura montada para chegar a Sampa.
Marcos ao lado sorriu e fala.
— Venderam a apresentação?
— Sim, mas ainda não sabemos como transportar isto, mas
vamos tentar.
Diego sai dali e João entra no carro e sai.
Enquanto João ia a Nilópolis, um repórter chega ao lado de
Marcos e pergunta.
— Quem é o rapaz, parece um crente com aquela gola alta
sempre.
— Os braços dele já não estão tão vivos, mas aquele foi o ide-
alizador do carro 3 da Beija Flor e do nosso Abre-Alas.
— Aquele é o tal do Alemão que tantos falam.
— Eu o conheço como João Mayer.
O rapaz anota e fala.
468
— Acha que eles mereceram?
— Eles fizeram a parte deles, acho que é daqueles carnavais
que poderiam até não ganhar, mas ficariam na memoria do povo.
O rapaz olha para o pessoal ao fundo e falou.
— O problema de alguém vencer é que sempre muitos per-
dem.
— A ideia de ser uma competição, é para todos tentarem fa-
zer o melhor, sem a concorrência, não se esforçariam a fazer o me-
lhor.
João estaciona na Rua ao fundo em Nilópolis, estava um tu-
multuo as ruas, chega a entrada, o rapaz faz sinal para ele entrar,
enquanto alguns aguardavam a vez para entrar.
Chega a quadra e o outro Rodney olha para ele a bateria,
muitos o cumprimentam, alguns abriram para ele entrar.
Na transmissão ao vivo da festa a Globo mostra aquele rapaz
entrando e a repórter fala.
— Um dos idealizadores acaba de chegar.
O rapaz do comando não conhecia, fala isto para a moça no
ponto.
— João Mayer, da comissão de carnaval acaba de chegar, di-
zem que ele que fez o carro 3, e os tripés da escola, veio de Curitiba
para somar no carnaval do ano.
O repórter passa para a Sapucaí e olha para a entrevista com
Franco.
— Queria agradecer ao patrono, por ter apoiado todo este
carnaval, e agradecer aos colaboradores que fizeram deste um dos
mais incríveis carnavais.
— Alguns lhe atribuem toda a firmeza da comunidade no des-
file, ela é a grande diferença?
— Sim, a comunidade que faz a grande diferença, eles basi-
camente levantaram o samba, o cantando, eles se entregam em
ensaios, em dedicação.
Na outra ponta o repórter a frente de Silvino pergunta.
— Como se sente tendo um carro alegórico seu ganhando o
estandarte de ouro senhor Silvino?
— Trabalho árduo da comunidade, do pessoal do barracão,
da engenharia, pois é o carro que me tirou 3 meses de sono, funcio-
469
nou, mas sabemos o quanto todos envolvidos trabalharam para que
estivesse na avenida.
O pessoal foi saindo e Franco olha para Silvino, como se per-
guntando onde estava João e Gabriel falou.
— Em Nilópolis.
O pessoal foi saindo, indo no sentido da escola.
A festa iria até tarde, João pega um chope e olha para a ba-
gunça, raramente alguém lhe tratava diferente, ainda estava preci-
sando ver o desfile, e estava na festa.
Ele entra na parte dos fundos, e começa a ver o reprise da
apresentação, ele para na imagem do abre alas, pela primeira vez
viu algumas imagens, sorri da comunidade cantar, da apresentação
do carro e o efeito frontal.
Ele senta e acessa o computador ao lado e olha no sistema da
própria transmissora a transmissão completa, olha o parar da arqui-
bancada um, com o repórter e o povo olhando a apresentação, João
viu as falhas que passaram despercebidas, mas era algo a concertar,
ele fica olhando e reolhando o desfile e quando olha para trás esta-
va Sergio e Silvino, que falam.
— Ficou ótimo João.
— Quando se erra e fica genial, devem nem ter percebido.
Sergio sorriu e fala.
— Criticando a obra?
— Tentando ver com calma o que não vi no dia, pois estava
na armação até o ultimo carro, eu e Nuno fomos os últimos a en-
trar, ao fundo da velha guarda.
— Dizem que três carros disputaram o estandarte de ouro, os
três estão na avenida neste desfile, um o abre-alas, outro o carro 3
e o carro 6. – Silvino.
João olha mais alguns detalhes e fala.
— Desfilar por ultimo é desfilar de dia no Sábado, não sei o
efeito.
— Também não, mas quase desfilamos de dia, todo o efeito
se luz ficaria inerte se fosse de dia. – Silvino.
— Dai quem sabe tivéssemos perdido. – João friamente.
— Certo, o desfile apos nós foi basicamente apenas a comis-
são de frente de noite, o resto de dia.
470
João olha o carro 6 encerrando o desfile e fala.
— As vezes os detalhes fazem diferença, cada carro tinha
uma gama de detalhes tão grande, que alguém tinha de olhar aten-
to para achar o defeito.
João olha a comissão de frente e sorri, linda, mas ela tinha
cometido dois erros, passou desapercebido, quando se tem um
plano dois, as coisas mesmo no plano errado, parece a quem olha
que foi o planejado.
Quando se olha o complexo de ideias, ficou bom, João sorriu
e fala olhando Franco entrar.
— Se escondendo aqui?
— Vendo o desfile antes de falar merda. – João.
— Certo, falaram de São Paulo?
— Sim, Gabriel vai mandar alguém subir a serra de Santos a
São Paulo até o Sambódromo de lá, para verificar o que tem no
caminho. E soube que termos de erguer os carros depois daquela
armação de entrada das escolas.
— Acha que vai ser uma boa ideia João?
— Franco, não sei qual a ideia, mas o que foi passado, 6 mi-
lhões para desfilar, onde nos custaria 4 para por a escola lá com 3
mil integrantes da comunidade.
— Maluquice isto.
— Acho que o problema, é que ganhamos, então muitos ve-
rão a apresentação dois, mas é desfile como fizemos, nos divertin-
do.
João toma o chope e fala.
— Acho que mereço um dia relaxando Franco.
— Sim, vi a tensão nos olhos dos que fizeram o carnaval, mas
poucos não estão falando do nosso carnaval este ano.
— Tenho de falar com alguns, para ver se a ideia é boa ou
ótima, mas acha que os destaques de luxo gostaram do material
Franco?
— Sim, não entendi aquilo.
— Cobramos apenas o custo, e fornecemos a eles plumagem
artificial, quem sabe não tenhamos mais este produto a vender o
ano que vem.
— Pensando no dinheiro.
471
— Não, na beleza de um carnaval, mas acho que vou precisar
de um pouco de trocado também.
A festa foi boa, João ficou até umas 10 da noite, e deixa o car-
ro e vai para a casa dos Rocha de UBER, estava bêbado.
Ele chega a casa, queria descansar e olha aquela menina en-
trar na casa e falar.
— Podemos conversar agora? – Micaela com um vestido bem
leve sobre o corpo.
Do lado de fora os investigadores da Federal olhavam para o
lugar e Douglas pergunta.
— Não era a casa de Marquinhos?
— Sim, parece que compraram ela.
— Quem comprou?
— Empresa MD Transportes.
— E cedeu para o cara?
Douglas olha a menina tentando seduzir o rapaz, via ela che-
gar perto, mas não ouvia o que eles falavam.
— Tem de entender menina, tem coisa bem mais importante
que sexo.
— E quem falou em sexo.
— Sua aura.
Ela sorri e pergunta.
— O que teria de mais importante?
— O que sente pelo rapaz que está bem ao fundo de campa-
na, querendo saber o que está acontecendo?
Douglas olha a menina achar seus olhos, estranha, pois ela
sorri e fala.
— Ele não me quer.
— Duvido, mas o que você quer, magoar ele?
Ela chega perto e ele segura a mão dela, os segundos apos is-
to fizeram ela olhar em volta, pois aquelas luzes saiam dos dois,
casais, sobrou muitos ainda, mas ela sentiu as almas se entregarem
umas as outras, a toda volta, ela olha ele no fim de um segundo que
pareceu interminável e pergunta.
— Isto tudo é desejo retido?

472
— Controlar os próprios impulsos, faz parte do sentir de ver-
dade, impulsos não são sentimentos, é química, química é passagei-
ro, sentimentos, bem mais complicados.
Ela solta a mão e sorriu.
Douglas olha o toque, o clarão e o rapaz ao lado tira o binócu-
los pois o clarão o cegou e fala.
— O que foi isto?
— Ele a colocando para fora.
— Como sabe?
— Ela já clicou no celular para avisar Paulinho que está de sa-
ída.
O rapaz olha os seguranças se postarem e a moça sair, João
olha para a TV e a liga, senta e fica pensando no todo, aquele toque,
aquele segundo o tirou energias, olha o braço, primeiros pelos, bem
pequenos, talvez ele tentasse de novo.

473
João amanhece na Quinta,
olha para a casa, olha para os seus
braços e pensa se voltaria a ser
alguém, ele estava tenso, e recebe
a ligação de Ricardo, queria ele na
coletiva na escola, em uma hora.
Ele olha a caminhonete ou o
Landau reformado, pega o Landau
e se manda a Nilópolis.
João não era de publico, sempre deixava os demais falarem,
mas pensou em ser algo referente ao próximo desfile, das campeãs
e chega vendo a imprensa, Franco faz sinal para ele sentar na gran-
de mesa e Ricardo começa a ponta.
O repórter após a indagação de Ricardo pergunta.
— Vão com quantas alegorias a São Paulo, para o desfile pre-
sidente?
— Todas.
— E acha importante isto?
— Um rapaz novo no grupo me falou a alguns meses, que um
dia fomos símbolo de Brasil, hoje, muitos tem vergonha do carnaval,
esqueceram que não é apenas festa, é cultura, que não é apenas
sem-vergonhice, é festa, que o povo merece festar.
— Acha que conseguiu o desfile que queria?
— Foi tenso do começo ao fim, colocar alegorias de 20 a 28
metros na avenida de altura, de 29 a 62 metros de cumprimento,
nos deixou tensos, mas elas se mostraram como deveriam ser, le-
ves, não é o tamanho da alegoria, é a facilidade de entrar e sair que
lhe dá dinâmica de desfile.
— Estão falando que não entenderam o desfile, o que o se-
nhor acha disto? – Um rapaz ao fundo.
— Que se mastigar mais o enredo, fica chato e o mesmo ra-
paz, diz que fomos superficiais, criticas é bom, mas gostaria da sin-
ceridade dos amigos do rapaz que critica, pois os amigos não falam
para não o magoar, e ele continua nas divagações, amigo não é
474
aquele que só fala o que queremos, amigo fala o que não nos agra-
da, pois alguns estão confundindo a palavra amigo, com puxa-saco.
Ricardo sabia que o próximo era bem o rapaz que falara que o
enredo fora fraco e mal executado.
— O senhor fala que foi executado para o entendimento de
todos, mas qual a ligação dos escritores com o enredo, não foi for-
çação de barra?
Ricardo olha para João que apenas acena com a cabeça.
— Vou passar a palavra para um dos rapazes da comissão de
carnaval, para tentar que entenda senhor Guimarães.
O rapaz olha para Franco, era sempre quem defendia o enre-
do e viu Franco alcançar o microfone para João.
— Bom dia a todos, primeiro, sou João Mayer, vim de Curitiba
para ajudar neste carnaval, e sendo bem especifico senhor Guima-
rães, o sistema de votos, é por quesito, não entramos este ano
olhando muito este prospecto, então priorizamos a festa, o samba,
o carnaval, o senhor é um dos defensores árduos que temos de
retomar este ponto, desde que seja feito pela sua escola, não pela
demais, segundo, se vamos falar de pátria, temos de mostrar duali-
dade, não somos bons ou ruins, somos os dois, somos a harmonia
quando queremos agradar e a implicância quando não queremos, se
não leu Bilac ou Millôr, lhe empresto toda a minha biblioteca, e o
colocar deles, está bem situado, no tempo, no desfile e nas impli-
câncias, talvez Bilac como nacionalista, solitário, amor do choro, que
viria a ser o samba, e um péssimo motorista, seja um exemplo, ain-
da vivo, Millôr, com a sua posição politica em prol da liberdade de
expressão, de luta pela liberdade, pela força do trabalho, mas não
desligando-se do esporte e das ideias maluca, seja o segundo ponto
a ser estabelecido, mas se não reparou, existiram mais 18 escritores
homenageados, não apenas os dois, mas era uma critica, sei que
seu pai não gostou, mas não me culpe pela ineficácia dos resquícios
do império no nosso sistema atual, como os cartórios, que quando
erram, é normal, quando nós erramos, inaceitável. Concordo que
deveríamos ter controlado um pouco mais a entrada, duas pessoa
em um desfile de 3800 pessoas estavam com erro na fantasia, e
perdemos meio ponto por estas duas pessoas, mas eu não levo para
o pessoal as criticas, eu mesmo quando falaram na manha de quarta
475
que tínhamos ganhado o estandarte de ouro, virei para o carnava-
lesco Sergio o falei, então vamos chegar em terceiro, apenas, criti-
cas que nos façam crescer, não criticas que tem apenas como inte-
resse dizer que entende de carnaval, se acha que entende mais que
eu, um novato como Pietro falava, lhe desafio a vir para o lado de
cá, falar que não fazemos, é fácil, desafiado a assumir o enredo de
uma escola. Referente a sua posição sobre Salgueiro, Mangueira,
Portela e Tuiuti, concordo, e para todos os jurados que acham que
não existe nada combinado, a pergunta, porque a Grande Rio este
ano ficou em sexto, porque desfilou no primeiro dia, senão estaría-
mos disputando com ela o campeonato, porque a Alegria da Zona
Sul do Grupo A chegou em Terceiro, porque desfilou por primeiro
do segundo dia, eles falam que julgam quesitos, mas me explica o
ponto que tiraram da Alegria em fantasia, comparado a campeã?
Todos olhavam para João, o rapaz querendo responder, mas
tinha muitos pontos e fala.
— Meu pai não está em jogo.
João olhou o rapaz, ele se perdeu.
— Acha que aquele enredo idiota da Alegria tinha de ter ido
melhor, fala serio.
— Assiste o desfile antes de falar rapaz, não viu, todos que vi-
raram aplaudiram, uma escola pequena, que quando sai como pri-
meira, e se ouve o grito de campeão na dispersão, não é alguém
que não impressionou, mas não critiquei seu pai, apenas é um aler-
ta a todos, ninguém é inocente o suficiente para atacar sem pensar
nas consequências?
O outro rapaz olha para João e pergunta.
— Lhe acusam de ter matado pessoas, porque devemos o ou-
vir.
João estava quase devolvendo o microfone, mas olha o rapaz
e pergunta.
— E quem me acusam de ter matado?
— A família Paz.
Os demais olham assustados.
— Certo, duas perguntas, como alguém em quase coma, ma-
ta uma família que tem dos prédios mais seguros do país, e segun-
do, se acha mesmo que eu matei, teria coragem de perguntar isto
476
olhando nos meus olhos, ou é apenas indução de culpa, como vejo
acontecer muito com os pobres no pais?
— Quase em coma? – O rapaz.
— Deve ter ouvido falar de um buraco, na região do Galeão,
que acharam 5 mortos e um rapaz muito mal, enterrado até a cabe-
ça, 15 dias sem comer, sem beber e enterrado para morrer, eu,
tirado de lá no dia que os Paz Morreram, quer me culpar, culpe, mas
dai teria de justificar como os matei. Mas estamos desviando o as-
sunto, aqui é carnaval, não blog de noticias de morte. – João alcança
o microfone para Franco, e outro rapaz continua a fazer perguntas e
João no fim, quando os demais saem fala olhando Sergio.
— Odeio coletivas de imprensa, eu não sei segurar a língua.
Ricardo sorriu e falou.
— Mas um novato quando põem aquele babaca do Guima-
rães a parede, é divertido.
— Que ele poria a carapuça era a lógica, mas eu dei razão a
ele para ele me atacar de novo e ele tinha se perdido no meu ata-
que, ele vai ficar como ficou o ano inteiro, pensando na resposta e
publicar uma em Janeiro do ano que vem.
— Falando de que? – Sergio.
— Da afirmativa que saímos do desfile o ano anterior fora das
que voltariam no desfile das campeãs e acabamos vencendo e ele
não entendeu porque? Ele não assiste o carnaval, ele fica apenas
ouvindo os amigos.
João saiu e viu o rapaz parar a sua frente e fala.
— Não entende de carnaval para me desafiar.
— E não entende de trabalhar, que tal fazer algo para viver,
não viver do dinheiro do papai, depois sair criticando os outros.
— Acho que não sabe o que fala.
— Pobre do homem, que mente, e acredita na própria menti-
ra, pois sabe o que fez, não e se não sabe senhor Guimarães, é um
idiota maior do que parece.
João passou, entrou no carro dele e saiu, Guimarães olha o
carro reformado, não aqueles chiques de gente rica e comenta com
o rapaz do lado.
— Anda numa lata velha e quer me contradizer.

477
— Anda num clássico, se bater naquele carro Guimarães com
o seu, não sobre nada do seu, aquilo é aço, não plástico.
João foi para o barracão e olha as noticias, sabia que viriam
criticas, mas ele não sabia segurar a língua, e na hora as pessoas
achavam legal, depois vinha o peso.
Ele senta e fica a por os carros em ordem.
Na internet, o comentário de João, faz alguns olharem o des-
file da Alegria da Zona Sul, o que era uma critica, pega até Guima-
rães revendo o desfile e olhando o rapaz ao lado.
— Quem é este João Mayer Rose?
— Dizem ser o rapaz que ficou 4 meses construindo o abre
alas da Beija-Flor.
— Pergunto pois não tinha visto o desfile da Alegria da Zona
Sul, as fantasias da escola estavam impecáveis, olhei o desfile 3
vezes e não achei onde tirar um ponto inteiro do desfile em fanta-
sia, nisto ele tinha razão.
— Aquele papo de primeiro dia de primeira escola?
— O rapaz basicamente disse que achava que decidiria o
campeonato com a Grande Rio, Ricardo passou para ele a defesa do
enredo, não entendi.
— Ter construído dois dos 6 carros e mais os tripés que você
falou mal. – Rose, a secretaria.
— Ele que idealizou aquele Bilac que me fez criticar o enredo,
pois não tinha como criticar o tripé?
Rose sorriu e falou.
— Sim, mas aquele tripé foi o que garantiu o 10 do enredo,
você sabe disto, o hino poderia parecer no samba algo a tirar pon-
tos do enredo, até aquele carro.
— Estava na arquibancada Rose, quando ele puxou o publico
para cantar o hino, vi o povo olhar encantado, era apenas uma ale-
goria a mais, mas cada uma tinha uma função no enredo, sei que
pego pesado, o rapaz pega mais pesado que eu, isto que me fez
pensar, quem é o rapaz.
— Aquilo que falam, que ele foi encontrado vivo, no mesmo
momento parece que algo acontece na Zona Sul, a família Paz quase
morre inteira, e Moreira sai fugido da cidade.

478
O rapaz olha para a moça, não acompanhara a historia, teria
de olhar as noticias e pergunta.
— Acha que foi ele?
— Tem de prestar mais atenção Guimarães, o rapaz ainda es-
tá com a pele viva nos braços, alguns dizem que ele nunca vai voltar
a ser a mesma pessoa, mas ele cutucou até Pietro com a afirmação,
o rapaz saiu da escola, desfilaram depois deles, todos falavam que
seria o desfile arrebatador, terminam o desfile com as arquibanca-
das vazias, eles vinham do lado par e desfilaram depois da Beija-
Flor, vi gente dizendo que deveriam ter invertido as escolas na ar-
mação, pois comparadas as da Beija-Flor, as alegorias pareciam
menores e mais pesadas.
— Eles realmente não empolgaram, e ultima escola, se não
empolgar, dá aquela sensação.
Micaela olha o pai e pergunta.
— Não entendi, vamos desfilar em São Paulo?
— Não sei se quer ir filha.
— Não entendi a ideia.
— Até agora vendemos o desfile em São Paulo e em Santos, é
trocado, mas que garante um dinheiro a mais para a comunidade, a
ideia é deste seu sócio.
— Viu as plumagens artificiais?
— Sim, tem gente querendo garantia de fornecimento para o
ano que vem.
— Nossa empresa vai fornecer a plumagem até dezembro
deste ano, quem quiser terá de fazer encomendas até Outubro pai.
— Sabe que é trocado aquilo.
— Sei, mas uma roupa de 200 mil vira uma roupa de 20 mil
em penas, a ideia é fornecer para as escolas, não apenas para vestes
especiais pai.
— Acha que é um mercado de quanto.
— Como você fala, lido apenas com mercados de trocado, uns
8 milhões de venda ano.
— Vão fornecer a escola?
— A preço de custo.
Roberto sorriu e falou.
— E no fim ele virou sócio de meus dois filhos.
479
— Sim, ele faz as propostas, podemos dizer sim ou não, ainda
falando sim.
— Não se envolve com ele filha.
— Ele não me olha como mulher.
— E como ele lhe olha?
— Como uma criança, ele me irrita com isto.
— Ainda bem que ele aceita ter uma sócia criança. – Roberto
provocando a filha.
Ela sobe e a segurança fala que Ricardo estava subindo.
Roberto olha o irmão o cumprimentar.
— Problemas?
— A Liga pediu esclarecimento sobre uma denuncia de um
rapaz da Estácio, daquele João Mayer ter sabotado o carro 4 deles.
— Falou com o rapaz?
— Vim conversar com você antes, sei que ele é péssimo nesta
coisa de falar, ele detona tudo.
— Mas a acusação é sobre ele?
— Sim.
— Tira a culpa da escola, duvido que eles provem.
— Alerta ele?
Micaela olha pela câmera e liga para João.
— Ouve João.
— Fala.
— Alguém na Estácio está o acusando de sabotar o carro que
se arrastou na avenida.
— Sem problema menina, no máximo me afasto.
João desliga e liga para Nuno.
— Ouve Nuno, apenas ouve.
— Problema João?
— A Estácio chegou em segundo, vai me processar afirmando
que sabotei o carro 4.
— Filhos da puta.
— Só pedindo para não depor antes de nada, não dar opnião,
não falar nada, apenas se negar a discussão.
— Mas vão lhe detonar.
— Sei disto.

480
João liga para Gabriel e pergunta se o pessoal da Estácio já ti-
nha tirado tudo do barracão.
— Ainda não.
— Deixa eles lá, quietos, até ver o que está acontecendo.
— Problemas?
— Lembra do carro que desentalamos do meio fio?
— Sim.
— Estão entrando com um processo afirmando que eu, sabo-
tei aquele carro, que perderam o carnaval por este motivo.
— E não os quer dar razão.
— Eles não saíram por algum motivo, eles querem confusão,
então manda a conta do aluguel para eles, mas não desaloja.
— Certo, se vão ficar, que paguem, qual o valor?
— 40 mil mensal.
— Certo, eles não vão querer pagar, mas deixa eu verificar as
coisas.
João olha para o restaurante e viu o oficial de Justiça, ele en-
trega a intimação a depor, João a pega, sobe, pega alguns documen-
tos e vai a delegacia.
João se apresenta e o delegado olha para ele e fala.
— Senhor João Mayer?
— Sim.
— Estão lhe acusando de ter sabotado o carro numero 4 da
escola de Samba da Estácio de Sá, o que teria a seu favor?
— Não faço parte da Estácio, o segurança deles nunca me deu
acesso ao barracão, não sei do que está falando senhor, eu nem
saberia qual era o quarto carro.
— Existe um segurança que lhe acusa, teremos de fazer a aca-
reação.
— Sem problemas senhor, mas ele terá de provar que não
sabia quem era eu antes, já que estava quase 18 horas por dia no
barracão ao lado, ele pode ter me visto antes, e me apontar.
— Trabalhava no barracão ao lado, onde?
— Beija-Flor, ao lado do barracão que eles locaram na Rua
Santo Cristo.
— Almoçava onde?
— Na lanchonete em frente.
481
— E saberia porque da acusação?
— Não senhor, me surpreendi com a convocação, não tenho
ideia ainda.
— Alguma desavença com a escola ao lado?
— Senhor, eu tenho um contrato com a escola, de seção do
espaço que eles usaram, eu que consegui para eles, não entendo o
porque alguém que conseguiu espaço, cedeu material, conseguiu
dois investidores para eles, teria motivo para lhes sabotar.
— Você o que?
João tirou da pasta que tinha a mão os contratos de cessão
do local, de patrocínio, de compra de equipamento e colocou na
mesa e fala.
— Não entendi nada senhor delegado.
O delegado olha para o rapaz e fala.
— E não brigou com ninguém?
— Senhor, colocar uma Beija-Flor na avenida, dá trabalho, eu
estava envelopando os carros para ir para a avenida, trabalhando,
mas se atrapalhei em algo, ou ajudei em algo, não transforma eu
em sabotador.
— Tenho de levantar os dados.
— Se quiser tirar uma copia e anexar ao processo.
— Acho que não precisa ainda.
João vai a cidade do samba e olha Nuno.
— Querem que deponha.
— Então apenas não minta.
— Mas estivemos lá.
— Sabotamos algo Nuno?
— Não, mas sabe que pode ter acontecido em consequência
daquilo o problema.
João olha Nuno e fala.
— Certo, joga nas minhas costas Nuno, vão a merda todos
vocês.
Nuno olha para João assustado e o vê sair.
— Problemas Nuno? – Paulinho.
— As vezes esqueço que João leva para o pessoal.
— Não entendi.

482
— Ajudamos a desenroscar o carro 4 da Estácio, estão acu-
sando ele de ter sabotado o carro.
— Ele o fez Nuno?
— Não.
— Então qual o problema.
— Que pode ser consequência da ajuda o problema que eles
sofreram.
— Tem certeza, pois você afirma isto em Juízo, eles conde-
nam alguém a pagar por algo que não se tem certeza, tem certeza
Nuno?
— Ele entrou embaixo do carro.
— Viu ele sabotar Nuno, ele parece que foi lá para sabotar, o
que ele fazia lá?
Nuno viu que era problema de interpretação.
João vai a Estácio e olha para o presidente e fala.
— Podemos conversar covarde, e chama o segurança bêbado
pois não quero ter de o tirar da presidência Hélio, mas se me acusar,
posso pagar, mas você cai.
— Não pode me acusar.
— Posso, e se não tirarem a acusação, eu vou ser obrigado a
processar o senhor por má fé, por vender o campeonato, por negli-
genciar o desfile e tentar jogar sobre um inocente, mas a escolha é
sua presidente.
O segurança chega e fala.
— Quer que ponha para fora.
João olha o rapaz e fala.
— O irresponsável que trava o carro num meio fio bêbado e
ainda me acusa, quer dar uma de valente?
O rapaz põem a mão na arma e fala.
— Qualquer coisa resistiu a revista.
João sorri e olha para o presidente.
— Tem até amanha para tirar a acusação presidente, e este
dai, quando chegar a delegacia que faz parte, cuidado ao atravessar
a rua rapaz.
O rapaz põem uma mão na coronha, ele iria puxar a arma,
mas uma das almas sai dele e apenas toca o rapaz que desaba.

483
João sai e olha para o lugar e pensa o quanto ajudar parecia
difícil as vezes, o presidente viu o senhor se erguendo assustado,
João já estava longe.
— Onde ele foi.
— Tem certeza que ele lhe desacordou, ou foi como agora,
amarelou e desmaiou?
— Eu não...
O senhor olha para o carro do rapaz ir ao fundo, saiba que era
uma acusação sem provas, processos que duravam anos, se perdes-
se ele não estaria mais na escola.
João senta-se em um bar a duas quadras da Estácio, olha para
a cidade, parecia que não daria certo, para cada passo que dava em
um sentido, todos os demais, lhe levavam no sentido oposto, aque-
les seres dentro dele, o deixavam mais impaciente do que já era.
João olha a noticia que dizia que o presidente da Estácio acu-
sava um dos carnavalescos da Beija-Flor de ter sabotado o carro
numero 4.
Ele olha a noticia, pede um sanduiche e um refrigerante, e
come com calma, senta ao balcão, come com calma.
Estava comendo quando Zanon liga para ele.
— Podemos conversar João?
— Fala.
— Dizer que não tenho nada haver com isto.
— Sempre me arrependo de ajudar as pessoas, mas tudo
bem, da próxima vez digo não a quem me pediu ajuda.
— Vou tentar falar com o presidente.
— Ele não quer conversar Zanon.
— Tentou?
— Não, ele estava ao lado do segurança que estava bêbado
que me acusa, não sirvo para isto, estou quase desistindo desta
cidade, linda, com um clima que começo a gostar, mas as pessoa
não gostam de mim aqui.
Zanon viu João desligar, olha para fora e viu Nuno chegar.
— O que está acontecendo Zanon?
— Não sei, mas me disseram que poderia ser uma sabota-
gem.
— João odiou a acusação.
484
— Mas pode ter sido Nuno.
— Não, ele foi lá apenas porque eu pedi, ele estava envelo-
pando os carros ao lado, ele não ia lá.
— Mas ele entrou embaixo do carro.
Nuno olha Zanon e fala.
— Que tal sair do lugar que ele conseguiu para vocês Zanon,
devolver as estruturas que ele conseguiu, pois estão sendo mesqui-
nho, talvez ele tenha razão, ajudamos a tirar o carro do lugar aqui,
se não tivéssemos feito, ele nem teria chego, você nem esta ai para
ele mesmo, quem sabe você não tivessem perdido meio ponto em
evolução e sim dois em Alegorias e Adereços.
Nuno sai, e Zanon olha para o rapaz, sabia que era a lógica,
mas queria manter o cargo.
João chega ao barracão e liga seu computador e viu o blog de
Guimarães acusar ele de ter sabotado a Estácio.
João envelopa os carros para a apresentação de Sábado, olha
Nuno e fala.
— Consegue levar a escola a avenida?
— Desculpa, esqueço que nem iria lá, eu o levo lá e tudo isto
desanda.
— Consegue?
— Vai sair pelo jeito.
— Vou conversar com Roberto e vou passar 5 dias em Curiti-
ba, e depois penso no problema.
João liga para Roberto, explica que tinha um problema em
Curitiba, pergunta se teria problema dele ir, se conseguiam por o
carnaval na rua no sábado, Roberto saiu com um “É claro que sim”,
João no fim daquele dia, passa para o advogado onde estaria e voa
para Curitiba.

485
João olha pela Cultura a
transmissão do desfile das cam-
peãs, em casa, no Osternak, esta-
va tentando pensar e não conse-
guia, ele precisava se livrar de
parte deles.
Os sentimentos estavam
contraditórios, ele viu a escola
desfilar sem compromisso, ele olha os comentários positivos, mas
para ele não era a mesma coisa, não foi um show, os apresentado-
res gostaram, ele não.
A moça comenta o afastamento de João Mayer e o rapaz fala
que falta de lealdade eram coisas que a Beija-Flor não perdoava,
João estranha como sempre o que se falava contra ele se aceitava
fácil, ele olha o desfile até o fim, mesmo sem compromisso, foi o
desfile mais lindo da noite.
João estava sentado ao sofá velho quando alguém bate a por-
ta e ele viu Francisco entrar, ele estranha ele ali.
— Problemas Francisco?
— Moreira lhe acusa de ter matado a família dele.
Francisco olha João que fala.
— O que ele falar você acredita, ele pode matar qualquer um
e vocês justificam, qualquer que não morre, vocês culpam.
— Ele disse que vai matar toda sua família.
— Ele pode fazer isto e você apoia, some Francisco, você é o
lixo que ele é, matar as crianças dos outros podem, de vocês não,
um bando de animais Fanes que não sabem nem o valor da vida.
Francisco olha João, os braços estavam ainda bem diferentes
e fala.
— Ele não vai parar, sabe disto.
— Quando não sobrar um Moreira não imortal na cidade, ele
ainda vai dizer que eu deveria ter sido parado, ele matar os meus
você só vem com palavras bonitas, como ele não vai parar.

486
— Animais como eu e ele, não paramos Francisco, se ele ma-
tar mais alguém da minha família, pois você sabe que ele matou
meus pais, será apenas mais gente para ficar no meio do caminho,
ele está fora da razão porque uma menina de nada o desacordou,
ele acha-se intocável, este é o problema.
— E não vai pelo jeito parar?
— Eu estou parado, o que eu estou fazendo Francisco?
O senhor sai, ele foi lá verificar, sinal que a noticia ruim viria
no fim do dia, e quando a policia chega a casa e o detêm pela morte
da es e da filha, ele sabia, tinha a mão de Joaquim Jose Moreira
nisto.
As vezes as pessoas esquecem que ódio não se trata com
ódio, o Delegado não tinha nada contra João, mas o prendeu, mes-
mo sem o ouvir.
O advogado pediu para falar com João e o delegado disse que
teria como falar com João no dia seguinte.
João tenta não fechar os olhos, mas alguns são pagos para ba-
ter nele na cadeia, e João apanha feio naquela noite.
Ele tenta não reagir, mas uma hora, ele apenas brilha, caído
quase desacordado no chão, e toda uma delegacia é atravessada
por aquelas almas furiosas.
Moreira recebe ligação de Paris, as gêmeas haviam morrido,
de Kelly, a filha de Rosa, amanhece morta, a linha mortal foi sumin-
do, e era fim da tarde, quando até a morte da irmã que não falava a
anos em Londres chega a Moreira.
Ele vai a delegacia e vê todos mortos, olha o corpo do rapaz
ao chão, estático, achou que ele morrera também, um custo alto,
mas saca a arma, aquela coisa de ter de garantir a morte, e atira no
corpo caído de João, a bala para antes de chegar a cabeça de João e
todas as almas voltam, e Moreira sente toda sua energia se esvair,
ele com a arma a mão cai no chão, e desacorda.

487
Os dois policias federais que
davam segurança a Moreira, como
es presidente, estranham que ele
não sai e dão o alerta, era perto
das 6 da manha quando ele é tira-
do desacordado da delegacia, e foi
saindo corpo a corpo, em sacos
plásticos, e João é levado ao hos-
pital, ainda vivo, mas com muitos hematomas.
A arma a mão de Joaquim, era a da morte da senhora e da
criança, o delegado vê que era mais complicado, quando volta a
delegacia e viu todos mortos.
Não teria como acusar alguém que estava dentro de uma ce-
la, pela morte de todos, não teria como acusar um quase morto
pelas mortes, mas as balas indicavam uma execução de vingança,
um ódio que não pararia.
Moreira acorda no hospital e olha para os policiais a porta, e
pergunta o que aconteceu.
O policial federal olha para o es presidente e fala.
— Esta sendo acusado da morte de duas pessoas, e não sa-
bemos, o senhor entrou na delegacia, entramos apenas quando o
senhor não saiu, todos mortos, com uma exceção.
— Vai dizer que o desgraçado não morreu.
— Os médicos acham que ele não sobrevive, ele está muito
mal na UTI.
— Não entendo porque ele não pode ser morto por bala.
— Tentou pelo jeito de novo.
— Ele está destruindo minha família.
A versão de quem perde, sempre é uma versão parcial, assim
como para João não importava as mortes na família de Moreira,
para Moreira, não importava as mortes na família de João.
João abre os olhos inchados na UTI, e quando se meche o
atendente chega a ele e fala.
— Calma rapaz.
488
— Onde estou?
— UTI do Evangélico.
— Como vim parar aqui, tive sonhos estranhos, não sei o que
foi verdade e o que foi apenas alucinação.
— Calma, sua pele não parece boa.
— Não viu ela a 6 meses.
— Teve problema?
— Ser enterrado e ter ficado 15 dias enterrado.
O rapaz olha João e passou ao medico que olha que era um
sobrevivente da Delegacia, enquanto o atendente atendeu bem o
doutor, mal deu atenção, era quase um morra de uma vez.

489
Dois dias estava novamente
indo a delegacia, e o advogado
pediu a liberdade, o delegado não
tinha porque o manter, mas esta-
va com tantas mortes ali que
parecia perdido.
João sai da delegacia e vai
ao cemitério, olha para o local que
sua es e sua filha foram enterradas, uma lagrima lhe corre o rosto,
eram mais perdas, não sabia se não queria sumir.
Se antes não tinha nada que o ligava ao Rio de Janeiro, agora
não tinha nada que o ligava a Curitiba.
Ele olha para a carteira e liga para o Rio de Janeiro e depois
de falar com Gabriel, compra uma passagem e se manda ao Rio de
Janeiro.
Joao olha os documentos e se apresenta a delegacia para o
processo da Estácio, o delegado faz a acareação e o rapaz indicou
João, com aqueles braços, mesmo que não conhecesse, seria fácil
indicar ele.
Como a Estácio não tirou a acusação, Gabriel entrou com o
pedido de saída deles.
Hélio viu que o rapaz não se meteu, e não pediu nada, ele
apenas apresentou a defesa, teria de ir a analise, se eles queriam
dinheiro, teriam de julgar em ultima instancia.
Zanon viu que João não o atendeu, e quando Franco disse
que Zanon viria a comissão de carnaval da Beija-Flor, João apenas
comunica que estava saindo da escola.
Gabriel entra com o pedido através da empresa da saída da
Beija-Flor dos Barracões da Santo Cristo, Zanon não entendeu, pois
achou que o favor havia sido da Beija-Flor, mas viu que a Alegria da
Zona Sul, se manteria lá.
Roberto chega a Silva com os seguranças e fala.
— Vai nos desalojar Silva, não sabe com quem fala mesmo.

490
— Não entendeu Roberto, eu estou sendo desalojado, vendi e
como o novo dono quer o espaço, eu estou indo para o Estácio.
Roberto parece não acreditar e pergunta.
— Mas vendeu para quem?
— Para aquele que todos diziam ser seu funcionário, João
Mayer, e ainda mesmo assim vem me ameaçar?
Roberto liga para João e pergunta.
— Porque me passou a perna rapaz?
— Lhe passei a perna em que Roberto?
— Comprou o terreno que nos instalamos na Santa Cruz.
— Silva me propôs uma permuta por um terreno mais um di-
nheiro mensal, eu nem entendi porque ele parecia querer fugir dai,
mas comprei, não sabia que queria comprar Roberto.
— Me venderia o terreno?
— Porque não, estou mesmo saindo da sua escola, pois
quando vocês contrataram Zanon, que me acusa de trapaça, estabe-
leceu que não me quer ai, é só pagar o preço Roberto.
— Mas está nos desalojando.
— Eu não faço mais parte da sua escola, o acordo era até o
carnaval, o senhor não refez o contrato, pressão para vender não é
contrato de aluguel, mas se quer comprar, mudamos a forma de
fazer senhor.
— Sabe que vai me vender, querendo ou não.
— Então está decidido Roberto, o preço para você é o triplo,
se vai ameaçar, cresce, no jogo do bicho você está mais para borbo-
leta do que para outra coisa Roberto.
— Se achando engraçado?
— Quer me ameaçar e me chama de engraçado, acorda se-
nhor.
João desliga e olha para Gabriel.
— Seu pai vai querer comprar, mas não vou vender.
— Porque não?
— Ele tem de aprender a tratar as pessoas como gente, não
como escravos.
— Não concordo com isto.

491
— A vontade Gabriel, a porta é a serventia da empresa, mon-
tei uma empresa que não tens capital nem para tocar, mas se acha
que tenho de dizer amem para seu pai, esquece.
— Não cede nunca?
— Eu sou o fraco, em família, em estrutura, em quase tudo,
se for falar amem a cada frescura de vocês, já estaria morto.
João sai dali e vai a região das criações de camarão e olha pa-
ra Micaela.
— Vai também pular fora? – João.
— Não falei isto, você parece querer afastar todos, sei o que
lhe passa a mente, sua aura diz que nos quer afastar, mas não sou
fácil de afastar.
— Então faz de conta que se afasta Micaela, pois ainda pare-
ço fora do controle.
— Brigou com quem?
— Seu pai contratou Zanon para me afastar, depois me ame-
açou a vender o barracão, seu irmão disse que concorda com ele,
Juro que não entendo eles.
Micaela estica a mão a frente e Joao a toca e fala.
— Este toque para muitos seria mortal menina.
— Sei que algo está nos ligando, soube quando o olhei a pri-
meira vez, você mata com uma frieza, a mesma que sabe que se não
se afastar pode nos matar a todos, mas tenta não chutar o balde.
João a olha e afasta a mão e fala.
— Se cuida.
João some na estrada, ela não sabia para onde ele iria.

492
Micaela chega em casa e
ouve seu pai gritar.
— Vai terminar a sociedade
com aquele João filha.
— Sei disto, ele foi lá dizer
que nossa sociedade estava aca-
bada, não entendi, ele quer afas-
tar a todos nós, não entendi ain-
da.
A mãe da menina olha para ela e pergunta.
— Não tem nada mesmo com ele?
— Mãe, pai, ele não está feliz, ele perdeu toda família, para
aquele Moreira, o pai ameaçou ele, contratou quem o processa,
então é obvio que ele não era bem quisto. – Micaela olha o pai e
fala – Pode gritar, mas sabe que você o colocou para fora de novo,
não foi ele que saiu, vi meu irmão me ligando querendo saber o que
faria, que ele disse que lhe apoiava, mas ele não tem ideia das ideias
do rapaz.
— Mas como ele vai se virar?
— Pai, para o senhor um milhão de reais é trocado, para ele,
mais do que ele já gastou com sua própria vida.
— Ele falou para onde vai? – Roberto.
— Não.
Roberto liga para o Barracão e fala que tinham ordem de
despejo que o local seria implodido, haviam vendido para um hotel.
— Ele vendeu para um hotel o local.
— Não era o que queria com a pressão pai?
— Pensei em tomar daquele Silva.
— Então merece este fim Pai.
Micaela sobe e olha pela janela, sente as almas dentro dela
calmas, ela raramente as sentiam assim, ela sabia que João ficaria
afastado um tempo, seu pai não precisava saber que eram sócios
ainda, mas sabia que sentiria falta daquele toque, algo que ela não
entendia, mas que fazia as almas dentro dela acalmarem.
493
Ela olha os prospectos do carnaval e do desfile do fim de se-
mana em São Paulo e sabia que teriam problemas na volta, teriam
de desmontar os carros.
João para a praia em Angra dos Reis, compra uma casa e sen-
ta-se a varanda olhando o mar, ele não estava contente com ele
mesmo, teria de acalmar as almas dentro dele antes de qualquer
coisa.
João molha os pés na areia, e olha em volta e sentando a uma
pedra olha o mar e fica a sentir os seres dentro dele, eles lhe tira-
vam a calma, o controle, ele queria se controlar.

Fim.

494
495
496

Você também pode gostar