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Cervo 1994
Cervo 1994
Introdução
união do Terceiro Mundo e firmar uma liderança nessa área, tendo em vista
a manipulação dessa força em favor de ganhos externos no seio do diálogo
Norte-Sul e Sul-Sul. O discurso cooperativista derramava-se com maior
alarde sobre duas áreas contíguas, a América hispânica e a África negra, no
intuito de captar simpatia e amizade para encaminhar ações concretas de
penetração e realização de interesses.
2) Quanto aos fins econômicos. A cooperação era procurada em razão do
suporte que insumos externos - empresas, capitais, tecnologias - represen-
tavam para realizar as metas do desenvolvimento em três níveis: a indústria
de base, a de transformação e a de ponta. Não se tratava de superar o
subdesenvolvimento mas de atingir o pleno desenvolvimento. Nos anos
sessenta, o modelo de desenvolvimento evoluía da substituição de impor-
tações para o de substituição de exportações. O novo comércio de exportação
de produtos agrícolas, minérios, produtos manufaturados e serviços de
engenharia tornou-se um grande desafio para a cooperação internacional.
Sabia-se que sem as novas pautas de exportação o desenvolvimento não
avançaria. Tampouco avançaria sem se captar um volume crescente de
ciência e tecnologia, sem se enfrentar as dificuldades da competição e da
proteção dos mercados.
3) Quanto ao modus faciendi. O pragmatismo da política exterior
caracterizava a conduta brasileira na captação e implementação da coopera-
ção internacional. A cooperação pragmática era uma cooperação
desideologizada, até mesmo despolitizada, que explorava oportunidades
com realismo, que criava alternativas diante de obstáculos.
Elaborou-se, portanto, no Brasil, uma noção abrangente e complexa
de cooperação internacional, ao ponto de se poder intercambiá-la com a
noção de política exterior. Entende-se, assim, por que a cooperação técnica
internacional (CTI) tenha ocupado um expaço muito exíguo na linguagem
diplomática. Apesar disso, percebe-se uma evolução conceitual no pensa-
mento brasileiro, segundo a qual a CTI transitou de sua acepção primitiva,
a assistência técnica, para a de cooperação para o desenvolvimento. Essa
evolução conceitual concluiu-se no momento em que se percebeu a
potencialidade da CTI promovida pelo sistema da ONU, que incluía a
CTPD (Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento) (7). Ao
pensamento brasileiro, a cooperação assistencial passou a causar repugnân-
cia, visto que se requeria da política exterior uma cooperação econômica,
científica e tecnológica a implementar-se entre as partes, em condições cada
vez mais igualitárias. A CTI prestada pelo Brasil irá integrar progressiva-
ÍNDICE DA RBPI 43
Sociologia da cooperação
2) Desenvolvimento regional
3) Agricultura e alimentação
5) Aeronáutica
7) Tecnologia nuclear
8) Transportes
9) Saúde
10) Universidades
Conclusões
favor dos países atrasados e sua precária atuação a tal respeito não se pode
qualificar senão de decepcionante. Esse problema permanece sem solução
nos anos noventa.
A experiência brasileira de CTI nas últimas décadas leva a crer que,
em razão do estágio de desenvolvimento alcançado e da maturidade das
agências, empresas e Universidades do país, convém desativar nos anos
noventa todas as tradicionais modalidades de cooperação técnica recebida.
Na verdade, já se caminhava no sentido da mudança desde os anos setenta.
A cooperação internacional será, todavia, adequada ao desenvolvimento
auto-sustentado se vier a preencher com rigor os novos requisitos: restringir-
se à área científica e tecnológica, fazendo-se com responsabilidades e
vantagens de ambos os lados; orientar-se para subáreas de atuação de maior
impacto sobre as condições de vida da grande população; despir-se de todo
caráter assistencial inerente seja à tradicional cooperação técnica, seja ao
gênero recente de cooperação caritativa.
N O TA S