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EVOLUÇÃO

HISTÓRICA DA
COOPERAÇÃO
NORTE-SUL
Prof. Dr. Leandro Teixeira dos Santos
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS DA
INSTITUCIONALIZAÇÃO

• A institucionalização da CID (emergência


de normas, discursos, práticas, agendas e
comportamentos de atores definidos de
maneira mais organizada, regular e
previsível)  final da 2ª GM.

• De um conjunto de experiências
temporárias, movidas por interesses
políticos, diplomáticos ou humanitários
para a constituição de uma norma e um
modo de atuação dos Estados nas
relações internacionais.
INTRODUÇÃO: OS
PRIMEIROS ANOS DA
INSTITUCIONALIZAÇÃO

• A institucionalização da CID
acompanhou o próprio processo de
legitimação do multilateralismo.

• Os Estados não abandonaram


seus interesses estratégicos
nacionais na condução das
agendas de cooperação
internacional com os países do
Norte ou do Sul.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• As razões iniciais de sua institucionalização estão associadas a


Guerra Fria:

• Promover a cooperação no “mundo livre”


• Prioridades de reconstrução da Europa com o Plano Marshall.
• Descolonização
• Emergência de modelos nacional-desenvolvimentistas.
• As narrativas, as modalidades de ação, o processo
decisório sobre o destino prioritário dos fluxos e a
expansão organizada das atividades no campo
abrangente do desenvolvimento foram conformando uma
verdadeira “arquitetura da ajuda
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• Momento caracterizado pelo estabelecimento de


organizações internacionais (OECD; diferentes agências da
ONU, p.e: OMS) e agências bilaterais de CID pelos
principais países doadores.

• Organizações bilaterais: assistência técnica e ajuda


orçamentária
• Organizações multilaterais: função de apoiar e gerir a
implementação de projetos.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• Os temas que elas se ocuparam a agenda das


organizações multilaterais e bilaterais se
relacionavam com os chamados “três D”:

• Direitos humanos
• Descolonização
• Desenvolvimento.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• No pós-guerra, os EUA tiveram papel de destaque no


processo de institucionalização da CID, mormente no
que diz respeito à ajuda bilateral.

• Pioneiros na criação de programas nacionais de


ajuda internacional;

• EUA pressionaram os seus parceiros - sobretudo


europeus – no sentido de dividir o peso financeiro
e político da ajuda.
• UK, p.e.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• Ponto fundamental no campo geopolítico do Ocidente, a


legitimação da CID se sustentou em uma política
anticomunista orquestrada nos meios de comunicação e nos
setores governamentais, junto aos segmentos empresariais, às
forças armadas e às classes médias.

• A luta anticomunista serviu de elo importante entre a CID e as


agendas da política externa dos Estados Unidos (Hook, 1995).

• Teoricamente, os anos 1950 e 1960 assistiram à consolidação


de um desenvolvimentismo estreitamente associado ao
keynesianismo e à ideia de modernização.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• Do ponto de vista das agendas da CID, os anos


iniciais de seu processo de institucionalização
foram marcados pela ênfase na ajuda alimentar,
no planejamento e na construção ou
reconstrução de infraestruturas e na
disseminação de preceitos de desenvolvimento
agrícola.
INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS
DA INSTITUCIONALIZAÇÃO

• Contestação:
• Não se pode esquecer que a contestação a
alguns dos fundamentos filosóficos e políticos
da ajuda internacional já emergiu no período
1950-1960: tal foi o caso da Conferência de
Bandung.
A TRANSIÇÃO DOS ANOS
1970 E 1980

• A transição para os anos 1970 foi marcada por


uma profunda crise de natureza econômica,
energética, ambiental e social no Norte e no
Sul, no Leste e no Oeste, no Centro e na
Periferia.

• ↑ incertezas quanto aos reais impactos da


cooperação internacional para o
desenvolvimento, as suas motivações e aos
interesses envolvidos, mas também
interrogações sobre seus mecanismos e a
própria natureza dos modelos de
desenvolvimento por ela difundidos.
A TRANSIÇÃO DOS ANOS
1970 E 1980

• Exigência de estratégias próprias


de desenvolvimento.
• Retórica ou realidade?
A TRANSIÇÃO DOS ANOS
1970 E 1980

• Paradoxo entre institucionalização e


desconfiança: Os anos 1970 são paradoxais,
uma vez que os primeiros sinais de crise de
confiança nos princípios e mecanismos da CID
coincidiram com a institucionalização
avançada de seus atores, suas práticas, suas
narrativas e de todo o seu modus operandi.
• Exemplo: crise ecológico-ambiental.

• Momento de institucionalização do critério


de 0,7% do PNB dos países mais
desenvolvidos que deveriam ser destinados à
CID.
A TRANSIÇÃO DOS
ANOS 1970 E 1980
• Nos anos 1980, as agendas da CID
passaram a integrar os programas de
ajuste estrutural, definidos como o modo
de enfrentamento das crises de
endividamento nos países do Sul. Com o
agravamento das desigualdades entre
países ricos e pobres, a cooperação
abandonou seus discursos relacionados à
transformação nas estruturas das
relações Norte-Sul e passou a defender o
uso de “condicionalidades”: para que os
países em desenvolvimento pudessem
receber ODA dos países doadores,
Dos anos 1990 aos dias atuais

• Os anos 1990, marcados pelo fim da ordem da


Guerra Fria e pela aceleração dos processos de
globalização, prometiam um mundo mais pacífico
em que a cooperação para o desenvolvimento
seria prioritária.
Dos anos 1990 aos dias atuais
• Os seguintes aspectos passaram, nos anos 1990, a receber maior
atenção na agenda da CID:
• Prevenção e gestão de conflitos
• O combate contra a disseminação de pandemias (ébola,
SARS e gripe aviária)
• A proteção da biodiversidade e o fenômeno das mudanças
climáticas
• A descentralização e o desenvolvimento local
• As parcerias entre os setores público e privado – incluindo a
atuação do chamado terceiro setor –,
• Os programas de minoração da pobreza e a difusão das
microfinanças.
• Gestão da interdependência no mundo globalizado
Dos anos 1990 aos dias atuais

• Os países da OCDE passaram a redirecionar seus fundos, de forma prioritária, para a Europa
Oriental e as chamadas economias em transição.

• Reduziram-se os projetos de ajuda alimentar e reforçaram-se os financiamentos setoriais e


programáticos.

• Passou-se a dar maior ênfase aos diálogos sobre políticas públicas (policy dialogues), ao critério da
seletividade – com foco nas políticas econômicas – e a programas de formação (capacity-building).

• É evidente que a ideologia dos mercados livres e do Estado mínimo serviu de tela de fundo para
esta nova agenda da cooperação.
Dos anos 1990 aos dias atuais

• Agenda ampliada
• Se, no começo de seu processo de institucionalização, a CID deu ênfase a diálogos técnicos
sobre capital financeiro, tecnologia e organização das infraestruturas, nos anos 1990, as
agendas abrangeram políticas sociais, instituições e governos.
• De cooperação interestatal  Sistema de cooperação com múltiplos atores (Estados,
organizações internacionais, ONGs, e setor privado).
• Da lógica de “ajuda internacional” e assistência  cooperação e parcerias
• Focar os projetos em grupos de beneficiários – os mais vulneráveis, os mais pobres etc.
Dos anos 1990 aos dias atuais

• Nos anos 1990, pode-se dizer que três temas principais estiveram no centro das atenções da CID:

1. IDH - PNUD
Dos anos 1990 aos dias atuais

2. Temas globais: diferentes conferências da ONU  Juventude, educação, etc.


• Impactos: monitoramento, redes transnacionais, etc.
• Bens públicos (aqueles cujos benefícios ultrapassam as fronteiras, quer se trate de fronteiras
entre Estados, gerações, populações ou entre ricos e pobres  A erradicação da varíola em
1977.
• A necessidade de diálogo e cooperação crescente entre os Estados e a configuração de uma
agenda de grandes temas que supunha a comunicação entre três áreas fundamentais das
Nações Unidas, que são o desenvolvimento, os direitos humanos e a segurança
Dos anos 1990 aos dias atuais

3. ODM:

• Atenções de governos, organizações internacionais e não governamentais, entidades


filantrópicas e, inclusive, de personalidades do mundo midiático;

• Aspecto crucial dos ODMs: a agenda de cooperação por eles defendida visa
melhorar principalmente as condições de desenvolvimento do indivíduo. O foco
deixa de ser o âmbito estrutural e coletivo, direcionando-se para o bem-estar
individual, em pleno acordo com o ideário liberal.
Dos anos 1990 aos dias atuais

• 11 de setembro:
• Inflexões na política vigente em matéria de
CID:
• Priorização das estratégias de segurança e o
combate contra as diferentes manifestações de
terrorismo transnacional.
• A política da segurança ganhou terreno frente à
ideia de cooperação técnica, econômica, intelectual
e cultural, ameaçando o próprio ideal do
multilateralismo.
Dos anos 1990 aos dias atuais

• A qualidade e a eficácia da ajuda internacional passaram a ser objeto de crescente


preocupação dos doadores.

• Dar prioridade ao desenvolvimento de capacidades nacionais, garantir a apropriação


pelos países em desenvolvimento (ownership), coordenar os programas e projetos dos
diversos doadores bilaterais e multilaterais com os objetivos das políticas públicas dos
países beneficiários (alignment), reforçar a responsabilidade mútua, implementar
ferramentas de gestão por resultados e, finalmente, harmonizar as práticas e as
estratégias dos Estados doadores (harmonization).
Dos anos 1990 aos dias atuais
• O problema da harmonização é particularmente importante diante da proliferação de atores e canais da CID

• Aparência de aumento da AOD


• Perdão da dívida.

• Novos atores  ↓ monopólio dos Estados na CID.

• ↑novos fundos e mecanismos têm sido desenvolvidos: Global Fund Against AIDS (Gavi).

• ↑ doadores estatais emergentes, com discursos e projetos de cooperação Sul-Sul que pretendem ser distintos das
práticas da cooperação Norte-Sul.

• Multiplicação dos projetos.

• Muitas as expectativas frustradas.


Considerações finais: entre múltiplos atores e
interesses contraditórios

CID: envolve inúmeros atores.

• Cada ator tem de ser pensado sociológica e


politicamente, com identidade, preferências, interesses
e objetivos próprios, podendo atuar com base em
motivações políticas e de segurança nacional, não
somente por razões humanitárias ou morais, mas
também econômicas e ambientais
• No entanto, não se deve esquecer que o conjunto das
relações entre os dois tipos de atores (doadores e
beneficiários) engendra um jogo complexo e muitas
vezes contraditório.
Considerações finais: entre múltiplos atores e
interesses contraditórios

• Atores mediadores:

• Entre doadores (tradicionais e novos) e


beneficiários, situam-se os chamados
atores mediadores, que desempenham
papel relevante na difusão das agendas, na
legitimação dos ideários e, menos
frequentemente, na organização de
protestos e na definição de mecanismos de
monitoramento e controle.

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