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Abordagem histórica da evolução

internacional dos negócios


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Abordagem histórica da evolução internacional dos


negócios
Conteúdo organizado por Renato Cividini Matthiesen em 2023 do livro
Internacionalização de empresas: teorias e aplicações, publicado em 2013 por
Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da Silveira, pela editora Saint Paul.

Objetivos de Aprendizagem
• Identificar e explicar os conceitos de negócios internacionais, globalização,
internacionalização de empresas, diferenças de culturas, investimentos e
comércio internacional.
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Introdução

Por volta de 5000 a.C., as primeiras civilizações da região da Mesopotâmia deixaram


de ser nômades e passaram a cultivar a terra para produzir alimentos, o que levou
as primeiras organizações sociais a fixação em terras da região. A partir deste tempo,
o cultivo de alimentos e criação de animais começaram a crescer e gerar produções
excedentes, o que resultou nas primeiras trocas de produtos e mercadorias entre
grupos sociais. Mais tarde, mercadores chineses já exportavam tecidos e pedras
preciosas para outros países, principalmente os europeus e a Índia.
Já na Idade Média, rotas comerciais passaram a ser estabelecidas entre o Oriente e o
Ocidente e no século XVI o comércio entre as colônias europeias na África e América.
Madeira e Silveira (2013) nos ensina que a busca por mercadorias raras e a dominação
de povos durante o Imperialismo fez da Inglaterra a nação mais poderosa do planeta,
ensejando o aumento de sua produção têxtil e manufaturas em larga escala, o que
criou um ambiente que resultou na Revolução Industrial no final do século XVIII.
Culpi (2020, p. 18) nos ensina que a combinação de fatores de desigualdade das
empresas pela sua distribuição geográfica e falhas de mercado e a superioridade
de algumas empresas perante outras, faz com que empresas busquem diversificar
mercados, seja em ambientes nacionais ou internacionais. Veja que a história das
multinacionais está vinculada às origens de comércio entre comunidades, nos
mostrando que o comércio foi induzido pela distribuição desigual de recursos entre
regiões.
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Saiba Mais
Com o avanço das tecnologias e de estruturas logísticas em transporte,
movimentação, armazenamento e estocagem, a globalização acelerou
a possibilidade de desbravar novos mercados internacionais,
interconectando fornecedores, empresas e clientes pelo mundo todo.
O deslocamento de empresas, ou a sua multiplicação pelo mundo todo
passou a ser mais simples, quando comparada a um passado recente.
Primeiro foram deslocadas empresas de origem Europeia e Norte
Americanas pelo mundo, e mais tarde, o próprio Brasil pôde experimentar
a internacionalização, ainda que de forma demorada, devido às barreiras
encontradas, impulsionadores e estratégias encontradas para definição
e operação de expansão em nível internacional.

Antecedentes históricos da internacionalização

Conforme sustentam Madeira e Silveira (2013, p. 30) “a importância do comércio


internacional é indiscutível. ” As vantagens das transações internacionais já eram
assunto de Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823) que apresentavam
vantagens e desvantagens das transações comerciais, motivos que impulsionaram a
especialização da produção em um país e a relevância dos acordos comerciais. Por
exemplo, nos EUA, as grandes empresas americanas iniciaram seus processos de
expansão internacional ainda no século XIX e após a Segunda Guerra Mundial, foram
estabelecidos o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento ou
Banco Mundial) em 1944; o FMI (Fundo Monetário Internacional) também em 1944
e o GATT (General Agreement on Tariffs and Trade ou Acordo Geral sobre Tarifas e
Comércio) em 1947.
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O modelo do protecionismo, intervenção estatal e economias fechadas não resistiu


às crises do petróleo e ao esgotamento do modelo Fordista e nos anos 1970
muitas economias foram retraídas o que levou a intensificação da necessidade de
internacionalização das empresas. Seguindo com a reflexão, no final dos anos 1980
as mudanças geopolíticas no Leste Europeu levaram à abertura de mercados,
consequentemente atraindo aumento de interesse de empresas estrangeiras para este
local. Os mercados do Leste Asiático se tornaram acessíveis aos investidores externos
e começaram a crescer oferecendo novas oportunidades aos investidores do mundo
todo.
A partir dos anos 1990, o cenário comercial no planeta é marcado pela alteração na
forma de se pensar a estrutura econômica dos países e pela mudança nas relações
internacionais. O processo de globalização muda a dinâmica da economia mundial e
estabelece inter-relações entre os mais diversos países do planeta. A conectividade
suportada por redes de computadores e Internet é considerada por Madeira e Silveira
(2013) como um grande impulsionador da internacionalização de empresas, o que
levou as organizações a uma interdependência em seus negócios.
O contexto atual das empresas está caracterizado por uma certa ambiguidade, onde
pode-se verificar avanços contínuos em todos os tipos de conhecimento viabilizados
pelos custos de comunicação constantemente em queda com o avanço das
telecomunicações e, por outro lado, a turbulência econômica e política, em virtude
do aumento das tensões gerados por esse amplo e intenso dinamismo cenário político
mundial.
Pode-se perceber que “a globalização traz em si a convergência e a divergência,
a uniformidade e a diversidade, a competição e a cooperação, a centralização e
a descentralização, o individual e o comunitário, tudo simultaneamente”, ditam
Madeira e Silveira (2013, p. 32). A facilidade de acesso à informação tem promovido
a reavaliação de objetivos e do índice de desenvolvimento humano, de modo que,
comparando-se o atual com o passado, mais atenção está sendo dada agora ao
bem-estar social e cultural, dos indivíduos e das comunitários, resultando em novos
critérios para aferir a geração de riqueza. A consequência disso, há empenho cada
vez maior dos países e das empresas em atitudes capazes de criar condições para
o desenvolvimento econômico e a responsabilidade social das empresas, além da
ampliação do papel dos acionistas nas empresas.
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O espetáculo da globalização trouxe a necessidade de mudanças profundas


nos negócios, que passam a fazer uso mais intenso de tecnologias e buscam ampliação
de mercados. O contexto no qual as empresas atuam as levaram a uma necessidade
de mudança de comportamento para sobreviver e prosperar na competitividade
acirrada e no ambiente globalizado. O avanço da Internet vem propiciando certa
“internacionalização” dos estilos de vida ao mesmo tempo em que altera o formato dos
mercados e dos controles, o que leva ao questionamento de tradicionais abordagens
de marketing, operações, administração e naturalmente da internacionalização das
empresas.

Internacionalização de empresas brasileiras

A política externa traz forte influência nas escolhas das empresas em relação à sua
expansão para mercados estrangeiros. No Brasil, a evolução da política externa ao
longo dos anos tem relação direta com o aumento ou diminuição do interesse das
empresas no desenvolvimento de operações no mercado internacional ao longo do
tempo.
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Madeira e Silveira (2013) nos ensinam que a participação brasileira em mercados


internacionais teve origem em tempos coloniais, com a indústria extrativista de recursos
naturais e o baixo custo de mão de obra. A partir do Império, houve o rompimento do
Estado com Portugal, criou-se o Estado brasileiro e, após 1889, a política brasileira se
desenvolveu visando eliminar tensão com o Paraguai e acabou gerando atrito com a
Argentina, momentos complexos nas relações internacionais do país. Logo, em 1930,
haveria a revolução e o início da Nova República, impactos comerciais com as duas
grandes guerras mundiais na Europa, momento em que as relações internacionais
comerciais ainda não progrediram.
Foi apenas após 1960 que as empresas brasileiras iniciaram seu processo de
internacionalização moderna por meio da exportação de excedentes de produção,
principalmente após a abertura econômica e das fronteiras produtivas durante o governo
de Juscelino Kubitscheck, com a instalação de multinacionais no país. Os incentivos
governamentais oferecidos entre as décadas de 1970 e 1980 foram importantes para
o início da internacionalização no país. Nos anos 1980 a internacionalização perdeu
força, mas pode ser retomada quando com a abertura do mercado às importações e
estabilização econômica como Plano Real de 1994.
Com a abertura de mercados realizada no Brasil, as empresas foram buscar em
outros países atualização tecnológica a partir dos anos 1990, objetivando enfrentar
competidores estrangeiros, caracterizando a internacionalização do mercado com o
deslocamento de empresas do setor industrial. O país buscou adotar medidas de
liberalização comercial, modificando lentamente a tradição de política intervencionista
no comércio exterior e somente em 1998 foi lançado o Programa Especial de
Exportações, com apoio às empresas brasileiras no mercado internacional.
Uma importante estrutura no contexto da internacionalização brasileira foi o
Mercosul, que cumpre o papel de criar um ambiente para o envolvimento das
empresas brasileiras em mercados externos, funcionando como um laboratório para
o treinamento das empresas locais e favorecendo o desenvolvimento de estratégias
e habilidades necessárias para a internacionalização mais abrangente das empresas
brasileiras. As empresas aderentes ao Mercosul vêm expandindo suas operações e
fazendo uso de diversos modos de entrada nos países do tratado.
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A internacionalização mais atual do mercado brasileiro vem se expandindo


cronologicamente, conforme demonstra Madeira e Silveira (2013, p. 36), passando
de um total de 68.598 para 281.063 bilhões de dólares em capitais no exterior entre
os anos de 2001 e 2011. Em um contexto mais atualizado, o Portal da Indústria (2022)
nos apresenta que as exportações brasileiras cresceram 36% no primeiro semestre de
2021 batendo o recorde de 136,42 bilhões. A Agência Brasil (2022) informa que os
ativos brasileiros no exterior ultrapassam 558 bilhões de dólares, em conformidade
com o Banco Central do Brasil.

O ambiente cultural dos negócios internacionais

Nos negócios internacionais, há diferentes ambientes culturais caracterizados


por linguagens desconhecidas e sistemas de valores, crenças e comportamentos
particulares. Cavusgil (2010, p. 99) nos ensina que o risco intercultural em desenvolver
negócios internacionalizados surge com frequência nos negócios internacionais
devido à herança cultural. O autor nos relata que a cultura refere-se aos padrões de
orientação aprendidos, compartilhados e duradouros em uma sociedade e que a
cultura afeta até simples saudações e despedidas. Segundo Cavusgil (2010), há quatro
principais riscos nos negócios internacionais. Vejamos:
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Figura 4 – Modelos organizacionais para empresas internacionalizadas

Fonte: elaborado pelo autor

Risco comercial: riscos relacionados a operações comerciais como atrasos de


pagamento ou não pagamento, falha da entrega ou não entrega de bem ou serviço e
recebimento pelo importador de mercadorias defeituosas.
Risco cambial (financeiro): relacionado ao risco de uma empresa perder capital
(dinheiro) com base nas variações do câmbio internacional.
Risco-país: indicador utilizado para orientar os investidores a respeito da situação
financeira de um mercado emergente, calculado por banco de investimento e agências
de classificação de riscos.
Risco intercultural: dirigido pela orientação etnocêntrica, com o uso de cultura
própria como padrão de referência no julgamento de outros.

Cavusgil (2010) nos ensina também que a cultura evolui no âmbito de cada
sociedade para caracterizar seus integrantes e distingui-los dos demais. O processo
de ajuste e adaptação a uma cultura diferente da própria é chamada de aculturação,
vivenciada normalmente pelas pessoas que vivem em outros países. Veja que para
desenvolvimento de negócios internacionais, é importante que as empresas tenham
uma competência intercultural estabelecida com algumas características:
1. Desenvolvimento de produtos e serviços.
2. Comunicação e interação com parceiros comerciais estrangeiros.
3. Prospecção e seleção de distribuidores e outros parceiros estrangeiros.
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4. Negociação e estruturação dos investimentos internacionais.


5. Interação com clientes atuais e potenciais do exterior.
6. Preparação para participação em feiras de negócios no exterior.
7. Preparação de material publicitário e promocional.
A concepção e estruturação de uma gestão multicultural, capaz de interpretar e
se adaptar a diferentes regiões, deverá permitir uma melhor internacionalização
das empresas neste novo contexto de mundo tecnologicamente e logisticamente
globalizado.

Saiba Mais
Leia o artigo: A internacionalização de empresas brasileiras em
uma perspectiva motivacional
Link: https://www.scielo.br/j/ram/a/
jz7qgBVyQcYjrMbXrXFg4Ns/?lang=pt. Acesso em: 13 dez. 2022.
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Em Resumo

Nesta unidade, vimos que o contexto atual das empresas está caracterizado por
uma certa ambiguidade, onde pode-se verificar avanços contínuos em todos os
tipos de conhecimento viabilizados pelos custos de comunicação constantemente
em queda com o avanço das telecomunicações e, por outro lado, a turbulência
econômica e política, em virtude do aumento das tensões gerados por esse ampliado
e intenso dinamismo cenário político mundial. O espetáculo da globalização trouxe
a necessidade de mudanças profundas nos negócios, que passam a fazer uso mais
intenso de tecnologias e buscam ampliação de mercados. O contexto no qual as
empresas atuam as levaram a uma necessidade de mudança de comportamento
para sobreviver e prosperar na competitividade acirrada e no ambiente globalizado.
Pudemos compreender também que o ambiente cultural dos negócios internacionais
traz alguns riscos: risco comercial, risco cambial, risco-país e risco intercultural. Por fim,
vimos que a concepção e estruturação de uma gestão multicultural, capaz de interpretar
e se adaptar a diferentes regiões, deverá permitir uma melhor internacionalização
das empresas neste novo contexto de mundo tecnologicamente e logisticamente
globalizado.
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Na ponta da língua
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Referências Bibliográficas
Agência Brasil (2022). Ativos de brasileiros no exterior ultrapassam US$
558 bilhões, diz BC. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/
noticia/2021-07/Ativos-de-brasileiros-no-exterior-ultrapassam-us-558-bilhoes-diz-bc.
Acesso em: 13 dez. 2022.
Cavusgil, S. T. (2010). Negócios internacionais: estratégia, gestão e novas realidades.
São Paulo: Pearson Prentice Hall.
Culpi, Ludmila Andrzejewski. (2020). Internacionalização de empresas. Curitiba:
Contentus, 2020.
Madeira, A. B.; Silveira, K. A. G. (2013). Internacionalização de empresas: teorias e
aplicações. São Paulo. BR: Saint Paul.
Portal DA Industria, (2022). Comércio exterior e Exportação no Brasil. Disponível
em: https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/exportacao-e-comercio-
exterior/. Acesso em: 13 dez. 2022.
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LIVRO DE REFERÊNCIA:

Internacionalização de Empresas: Teorias e


Aplicações
Adriana Beatriz Madeira, José Augusto Giesbrecht Da
Silveira
Saint Paul, 2013

Imagens: Shutterstock

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