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“EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA COOPERAÇÃO NORTE-SUL - Carlos R. S.

Milani” (Milani,
2014, p. 33)

“SEÇÃO 1: INTRODUÇÃO: OS PRIMEIROS ANOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO” (Milani,


2014, p. 33)

“[A] institucionalização da cooperação internacional para o desenvolvimento (CID), por meio


da emergência de normas, discursos, práticas, agendas e comportamentos de atores
definidos de maneira mais organizada, regular e previsível, iniciou-se no contexto do final da
Segunda Guerra Mundial. O que havia sido, até então, um conjunto de experiências
temporárias [...], passou a constituir uma norma e um modo de atuação dos Estados nas
relações internacionais.” (Milani, 2014, p. 33)

“A institucionalização da CID acompanhou o próprio processo de legitimação do


multilateralismo [tendo a ONU como seu sustentáculo], o que não implica, é claro, que os
Estados tenham abandonado seus interesses estratégicos nacionais na condução
das agendas de cooperação internacional com os países do Norte ou do Sul.” (Milani,
2014, p. 33)

“As razões iniciais [da] institucionalização [da CID] não podem ser dissociadas da Guerra
Fria; as rivalidades Leste-Oeste, a partir de 1945, foram um fator determinante para que, no
campo liberal ocidental, fossem tomadas decisões no sentido de promover a cooperação
entre as nações do “mundo livre”.” (Milani, 2014, p. 33)

“arquitetura da ajuda: estruturação da CID em torno de narrativas, modalidades de ação,


processos decisórios sobre o destino prioritário dos fluxos e a expansão organizada das
atividades no campo abrangente do desenvolvimento. Prioridades: reconstruir Europa com
o Plano Marshall, lidar com o avanço da descolonização e lidar com a emergência dos
modelos nacional-desenvolvimentistas latino-americanos.” (Milani, 2014, p. 33)

“incubação do desenvolvimento [Gilbert Rist] = primeiros anos de institucionalização da CID,


ênfase no estabelecimento de orgs. internacionais, como as diferentes agências da ONU
(FAO, UNICEF, Unesco, OMS, etc.), e na criação de agências bilaterais por parte dos
países doadores.

Agências bilaterais: foco em assistência técnica e ajuda orçamentária


Agências multilaterais: apoiar e gerir a implementação de projetos” (Milani, 2014, p. 34)

“direitos humanos (contrapunha-se às bandeiras comunistas e revolucionárias),


descolonização e desenvolvimento = três D, temas dominantes no nível
ideológico-discursivo” (Milani, 2014, p. 34)

“No pós-guerra, os Estados Unidos tiveram papel de destaque no processo de


institucionalização da CID, principalmente na ajuda bilateral, sendo pioneiros na criação de
programas nacionais de ajuda internacional.” (Milani, 2014, p. 34)

“o governo dos Estados Unidos também soube pressionar seus parceiros – sobretudo
europeus – no sentido de dividir o peso financeiro e político da ajuda.
Exemplos: No Reino Unido, por exemplo, com o avanço da descolonização, a Colonial
Development Corporation foi rebatizada Commonwealth Development Corporation em 1963.
Em 1953, o governo alemão começou a prestar assistência técnica a fim de ajudar países
importadores de bens germânicos a usá-los de maneira adequada e eficiente. O governo
sueco estabeleceu o seu ministério de assistência para o desenvolvimento em 1954 e o
francês, o ministério da cooperação em 1961, ano em que o Japão criou o seu fundo de
cooperação econômica.” (Milani, 2014, p. 34)

“Vinte anos depois de iniciado o Plano Marshall, os Estados Unidos não seriam mais os
únicos a ocuparem algum espaço político, com motivações das mais variadas, no seio da
cooperação internacional para o desenvolvimento” (Milani, 2014, p. 35)

“A luta anticomunista serviu de elo importante entre a CID e as agendas da política externa
dos Estados Unidos” (Milani, 2014, p. 35)

“os anos 1950 e 1960 assistiram à consolidação de um desenvolvimentismo estreitamente


associado ao keynesianismo e à ideia de modernização. Os países foram classificados
(desenvolvidos e subdesenvolvidos); indicadores foram criados para medir as diferenças
entre os países (PIB per capita); diagnósticos foram realizados – necessidade de
investimentos em tecnologia e infraestrutura física, que assegurariam o arranque ou take
off dos países atrasados; e soluções foram discutidas no sentido de substituição de
formas de organização social, instituições, valores tradicionais e motivações
considerados pouco propícios ao desenvolvimento, sempre na expectativa de que os
ganhos do crescimento pudessem se distribuir automaticamente de cima para baixo, por
efeito de percolação (trickle down).” (Milani, 2014, p. 35)

“Nessa concepção, tudo levava a crer que a política das assimetrias e das relações de
poder não fossem variáveis a serem consideradas na equação do desenvolvimento.”
(Milani, 2014, p. 35)

“Aliança para o Progresso: programa de investimentos dos EUA na América Latina que
visava conter a ameaça comunista, principalmente após a revolução cubana.” (Milani, 2014,
p. 35)

“agendas da CID nos anos iniciais: ajuda alimentar, no planejamento e na construção ou


reconstrução de infraestruturas e na disseminação de preceitos de desenvolvimento
agrícola” (Milani, 2014, p. 35)

“Conferência de Bandung [1955]: contestação a alguns dos fundamentos filosóficos e


políticos da ajuda internacional. Seria a base para o lançamento do Movimento dos Não
Alinhados em 1961. Outro exemplo de contestação: estabelecimento da OPEP em 1960.”
(Milani, 2014, p. 36)

“Quanto aos recursos financeiros, o Plano Marshall foi, de longe, o financiamento


mais importante no processo inicial de institucionalização da CID.” (Milani, 2014, p. 36)
“Quanto aos recursos técnicos: ressalto o lançamento, em 1971, do logical framework
analysis, pela USAID, um instrumento de formulação e aprovação de projetos, usado para
concepção, o monitoramento e a avaliação ex post de seus projetos.” (Milani, 2014, p. 36)

“SEÇÃO 2: A TRANSIÇÃO DOS ANOS 1970 E 1980” (Milani, 2014, p. 36)

“A transição para os anos 1970 foi marcada por uma profunda crise: ruptura do padrão
ouro-dólar e a adoção pelos EUA da diplomacia do dólar flutuante; aumento dos
preços do petróleo (1973 e 1979); conscientização incipiente dos impactos ambientais
do sistema produtivo (capitalista e socialista), associada à emergência de movimentos
culturais e sociais de cunho contestatório (feminismo, ambientalismo, etc.); a
insatisfação crescente dos países em desenvolvimento, cada vez mais numerosos graças à
descolonização, com o status quo internacional (demanda pela Nova Ordem Econômica
Internacional – Noei); redução das taxas de crescimento econômico nos países
industrializados, com o fim dos anos gloriosos e a emergência de pressões fiscais
que passaram a afetar as políticas públicas do Estado de bem-estar social; e os
gargalos econômicos e as mobilizações políticas em prol da democratização no Leste
Europeu, coincidindo com a fuga de dissidentes para o mundo ocidental.” (Milani, 2014,
p. 36)

“[A crise] exacerbou não apenas muitas das incertezas quanto aos reais impactos da
cooperação internacional para o desenvolvimento, a suas motivações e aos
interesses envolvidos, mas também interrogações sobre [...] a própria natureza dos
modelos de desenvolvimento por ela difundidos” (Milani, 2014, p. 37)

“A crise financeira nos países do Norte também afetou os orçamentos destinados à


cooperação” (Milani, 2014, p. 37)

“[Tinham defensores do] fim do colonialismo intelectual, do desenvolvimento endógeno e da


participação popular nas políticas públicas” (Milani, 2014, p. 38)

“a retórica da responsabilização dos atores locais empregada pelos EUA e pela USSR não
resultava do reconhecimento da autonomia necessária dos países em desenvolvimento na
condução soberana de suas próprias agendas econômicas, políticas e sociais.” (Milani,
2014, p. 38)

“o plano de ajuda internacional à Europa havia sido diferenciado, não podendo ser
comparado aos padrões da cooperação que então eram implementados com países
africanos, asiáticos e latino-americanos” (Milani, 2014, p. 39)

“[Hannah, 1970]: "a reparação da destruição em sociedades tecnologicamente avançadas é


uma tarefa muito mais simples que a criação de uma nova atmosfera para o progresso
social, onde antes não havia nenhuma. [...] o desenvolvimento requer muito mais que a
nobreza da motivação e a generosidade do espírito, e que em cenários de pobreza,
ignorância, doenças, desnutrição e desânimo, o progresso não surge facilmente."” (Milani,
2014, p. 39)
“Os anos 1970 são, portanto, paradoxais, uma vez que os primeiros sinais de crise de
confiança nos princípios e mecanismos da CID coincidiram com a [sua]
institucionalização avançada [...] que se mantêm [...] até hoje.” (Milani, 2014, p. 39)

“Foi nesse momento que se institucionalizou o critério de 0,7% do produto nacional dos
países mais desenvolvidos que deveriam ser destinados à CID.” (Milani, 2014, p. 39)

“É bem verdade que alguns governos afirmaram não reconhecer tal meta: a Suíça, que se
tornou membro das Nações Unidas somente em 2002, não subscreveu o objetivo dos 0,7%;
e o governo dos Estados Unidos sempre lembrou que suas políticas de ajuda não se
orientavam por metas dessa natureza.” (Milani, 2014, p. 40)

“Em sua passagem pela direção do Banco Mundial, Robert McNamara (1968-1981)
argumentou a violência social estaria ligada ao atraso econômico, imprimindo à sua gestão
uma conexão estreita entre redução da pobreza, segurança e desenvolvimento. Isso foi
fundamental para a a expansão das atividades do banco e sua consolidação como agente
do desenvolvimento. Por conseguinte, a ordem mundial, a manutenção da hegemonia
norte-americana e o afastamento da influência comunista passavam pela garantia do
desenvolvimento, principalmente nos países do Sul.” (Milani, 2014, p. 40) É
interessante esse aspecto estratégico de alcançar certo objetivo tornando a sua
concretização algo vital para quem você quer que lhe auxilie nesse objetivo.

“Poverty-oriented approach = “pobreza rural absoluta” como alvo das ações do Banco
Mundial” (Milani, 2014, p. 40)

“Outro aspecto estrutural que ilustra a perda relativa de credibilidade da CID nesse
momento diz respeito à crise ecológico-ambiental.” (Milani, 2014, p. 41)

“foi no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano,
celebrada em Estocolmo, em 1972, que a ecologia política internacional começou a
criar questionamentos críticos sobre o papel da cooperação para o desenvolvimento.”
(Milani, 2014, p. 41)

“Do ponto de vista substantivo, Estocolmo-1972 contribuiu para que termos científicos
adquirissem conotação política (biosfera, patrimônio natural da humanidade, ecologia e
global commons) e passassem a influenciar as relações entre Estados doadores e Estados
beneficiários no seio da CID.” (Milani, 2014, p. 41)

“O meio ambiente, a partir dos anos 1970, deixou de ser um tema de especialistas e passou
a integrar as pautas das políticas públicas” (Milani, 2014, p. 41)

“Nos anos 1980, as agendas da CID passaram a integrar os programas de ajuste


estrutural, definidos como o modo de enfrentamento das crises de endividamento
nos países do Sul. A cooperação passou a defender o uso de “condicionalidades”:
Consenso de Washington e abandono do modelo nacional-desenvolvimentista.” (Milani,
2014, p. 42)
“A presença de governos conservadores nos Estados Unidos (Ronald Reagan) e no Reino
Unido (Margareth Thatcher) somente facilitou a legitimação e a posterior difusão de tais
preceitos no mundo em desenvolvimento.” (Milani, 2014, p. 42)

“a queda do muro de Berlim e a derrocada da União Soviética, na transição entre os anos


1980 e 1990, implicaram mudanças profundas nas concepções de desenvolvimento
veiculadas pelas diferentes organizações multilaterais e agências bilaterais envolvidas”
(Milani, 2014, p. 42)

“A crise mundial do socialismo real e o profundo questionamento sobre o papel das


esquerdas na política, a aceleração dos processos de globalização e regionalização, a
transformação do modelo de Estado de bem-estar social – principalmente na Europa
e na América do Norte e, no caso latino-americano, o abandono progressivo do
planejamento econômico fundado no modelo de substituição das importações, inter
alia, foram aspectos muito importantes do pano de fundo que resultou na
reorientação das prioridades da CID, a partir do período 1990-2000.” (Milani, 2014, p.
42)

“SEÇÃO 3: DOS ANOS 1990 AOS DIAS ATUAIS” (Milani, 2014, p. 42)

“Os anos 1990, marcados pelo fim da ordem da Guerra Fria e pela aceleração dos
processos de globalização, prometiam um mundo mais pacífico em que a cooperação para
o desenvolvimento seria prioritária” (Milani, 2014, p. 42)

“aumento do número de operações de paz da ONU: entre 1945 e 1988, houve treze
intervenções implementadas pela ONU, ao passo que, entre 1988 e 2006, subiram para 46”
(Milani, 2014, p. 43)

“as Nações Unidas reconheceram a natureza multidimensional do desenvolvimento


em torno de cinco eixos principais: a paz como seu fundamento, o desenvolvimento
econômico como a base para o progresso, a sustentabilidade ambiental, a justiça
social e a democracia.” (Milani, 2014, p. 43)

“Além de prevenção e gestão dos conflitos, os seguintes aspectos passaram, nos anos
1990, a receber maior atenção na agenda da CID: o combate contra a disseminação de
pandemias (ébola, SARS8 e gripe aviária), a proteção da biodiversidade e o fenômeno das
mudanças climáticas, a descentralização e o desenvolvimento local, as parcerias entre os
setores público e privado – incluindo a atuação do chamado terceiro setor –, os programas
de minoração da pobreza e a difusão das microfinanças.” (Milani, 2014, p. 43)

“a ideologia dos mercados livres e do Estado mínimo serviu de tela de fundo para
esta nova agenda da cooperação” (Milani, 2014, p. 43)

“anos 1990 = agenda da CID ampliada” (Milani, 2014, p. 43)

“Se, no começo de seu processo de institucionalização, a CID deu ênfase a diálogos


técnicos sobre capital financeiro, tecnologia e organização das infraestruturas, nos anos
1990, as agendas abrangeram políticas sociais, instituições e governos.” (Milani, 2014, p.
43)
“De uma cooperação interestatal, passou-se gradualmente a um sistema de
cooperação que envolve múltiplos atores (Estados, organizações internacionais,
ONGs, e setor privado).” (Milani, 2014, p. 44) O que vimos no texto do professor Daniel
sobre essa graduação inserção dos agentes privados na ONU

“Da lógica de “ajuda internacional” e assistência, passou-se à outra de cooperação e


parcerias” (Milani, 2014, p. 44)

“nos anos 1990, pode-se dizer que três temas principais estiveram no centro das atenções
da CID: 1) IDH no lugar da renda per capita (que serviu para institucionalizar discursos
multidimensionais e disseminar visões mais abrangentes sobre o desenvolvimento,
porém, ao mesmo tempo, corroborou uma noção mais nacionalizada e individual –
sedimentada nas capacidades de cada pessoa – do desenvolvimento, colocando para
escanteio o debate estrutural e político sobre as desigualdades entre países ou
regiões e as diferenças de classes sociais na ordem internacional); 2) temas globais e
as diferentes conferências (proteção ambiental no Rio 92, direito humanos em Viena 93,
direitos reprodutivos e demografia em Cairo 94, direitos da mulher e gênero em Pequim 95,
desenvolvimento social em Copenhague 95, urbanização/cidades em Istambul 96,
discriminação racial Durbain 2001); 3) Objetivos do Milênio.” (Milani, 2014, p. 44) IDH
exemplifica bem a questão da cooptação liberal de questões que inicialmente surgem numa
perspectiva mais estrutural e crítica do sistema

“O debate em torno dos bens públicos globais trouxe, para a CID, duas implicações que
merecem destaque: a necessidade de diálogo e cooperação crescente entre os Estados e a
configuração de uma agenda de grandes temas que supunha a comunicação entre três
áreas fundamentais das Nações Unidas, que são o desenvolvimento, os direitos humanos e
a segurança” (Milani, 2014, p. 45)

“ocorre um efeito de contaminação de agendas com temas que passam a enriquecer o


debate e a tornar determinadas noções clássicas (a exemplo da segurança)
conceitualmente mais complexas e multidimensionais” (Milani, 2014, p. 45)

“Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio também foram reforçados a partir do


lançamento do Global Compact, programa de parcerias entre Estados, organizações
intergovernamentais (ONU) e empresas transnacionais. O foco, uma vez mais, deixa de
ser o âmbito estrutural e coletivo, direcionando-se para o bem-estar individual, em
pleno acordo com o ideário liberal.” (Milani, 2014, p. 46)

“Após os atentados de 11 de setembro de 2001, ocorreram algumas importantes inflexões


na política vigente em matéria de CID: muitos governos e agências, a reboque de decisões
e necessidades do governo norte-americano, passaram a priorizar as estratégias de
segurança e o combate contra as diferentes manifestações de terrorismo transnacional.”
(Milani, 2014, p. 46)

“Em paralelo à securitização das agendas, a qualidade e a eficácia da ajuda internacional


passaram a ser objeto de crescente preocupação dos doadores: [As declarações de Paris
de 05 e a de Acra de 08 afirmaram que] para a CID ser eficaz, deve dar prioridade ao
desenvolvimento de capacidades nacionais, garantir a apropriação pelos países em
desenvolvimento (ownership), coordenar os programas e projetos dos diversos doadores
bilaterais e multilaterais com os objetivos das políticas públicas dos países beneficiários
(alignment), reforçar a responsabilidade mútua, implementar ferramentas de gestão por
resultados e, finalmente, harmonizar as práticas e as estratégias dos Estados doadores
(harmonization).” (Milani, 2014, p. 46)

“Há uma aparência de aumento da ajuda oficial para o desenvolvimento graças à


inclusão nos cálculos dos montantes relativos ao perdão das dívidas externas dos
países mais endividados (IDA, 2007). As dívidas contraídas por países em
desenvolvimento durante os anos 1970 e 1980, momento em que os petrodólares
inundavam os bancos ocidentais e reforçavam o potencial inflacionário, para as quais
muitos desses países já haviam pago juros por anos a fio, quando perdoadas, parcial
ou totalmente, foram contabilizadas enquanto ajuda oficial para o desenvolvimento,
aspecto que merece, pelo menos, sinalização crítica.” (Milani, 2014, p. 47)

“mercado para a ajuda/mercantilização da ajuda: Com relação ao surgimento dos chamados


novos atores, rompeu-se definitivamente o monopólio dos Estados na CID.” (Milani, 2014, p.
47)

“No caso das fundações oriundas das grandes corporações, deve-se salientar o papel da
Fundação Bill e Melinda Gates, que tem um capital de US$ 70 bilhões, com um orçamento
anual planejado de US$ 6 bilhões, tendo se tornado ator-chave na governança dos
problemas de saúde global” (Milani, 2014, p. 48)

“deve-se salientar o papel das ONGs: as maiores (Oxfam, Save the Children e Care) têm
orçamentos anuais de aproximadamente US$ 800 milhões” (Milani, 2014, p. 48)

“Qualitativamente, pode-se dizer que as ONGs trouxeram para a agenda da CID


preocupações sociais, culturais e econômicas de nível micro.” (Milani, 2014, p. 48)

“novos fundos e mecanismos têm sido desenvolvidos: Global Fund Against AIDS (Gavi);
UNITAID, criado em 2006 para combater a disseminação do HIV/AIDS, da malária e da
tuberculose; Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, no âmbito do Protocolo de Kyoto;
Global Environmental Facility (GEF), criado no bojo da Rio-92; entre outros.” (Milani, 2014,
p. 48)

“Também há doadores estatais emergentes, com discursos e projetos de cooperação


Sul-Sul que pretendem ser distintos das práticas da cooperação Norte-Sul.” (Milani,
2014, p. 48)

“crítica feita por Kharas (2010) no sentido de que as boas experiências no nível de projetos
não repercutem, automática e necessariamente, no plano macroeconômico” (Milani, 2014,
p. 48)

“De acordo com Severino e Ray (2009), na sua origem, a ajuda para o desenvolvimento
serviu um amplo leque de objetivos econômicos, culturais, sociais e políticos, mas a sua
base de sustentação sempre foi geopolítica e seus atores principais foram, até muito
recentemente, os Estados. Afirmar que estes agem de acordo com interesses geopolíticos
não implica desconhecer a existência de valores solidários e princípios humanísticos gerais
da ajuda ao desenvolvimento, nem algum grau de importância de seus projetos na
promoção efetiva da melhoria da qualidade de vida de muitas populações dos países em
desenvolvimento. No entanto, como se viu ao longo deste capítulo, a CID serviu (e
permanece), desde o seu começo, a uma política estratégica mais abrangente dos Estados
doadores.” (Milani, 2014, p. 49)

“Ocorre que, para Severino e Ray (2009), o fim da ordem da Guerra Fria teria produzido um
vácuo político e aumentado a esperança nos valores liberais e na governança democrática,
produzindo uma crise de identidade da ODA e, por conseguinte, uma redução dos
montantes destinados à ajuda pelos Estados Unidos, pela França e pelo Reino Unido.”
(Milani, 2014, p. 49)

“Na leitura dos autores, o que explicaria esta diminuição seria o desaparecimento da
geopolítica da Guerra Fria; a solidariedade internacional não faria mais parte de um grande
esquema estratégico e poderia se justificar, no novo contexto histórico, à luz de uma ética
da compaixão” (Milani, 2014, p. 49)

“Não se acredita que a complexidade dos mecanismos de financiamento, os novos arranjos


institucionais e o número crescente de atores da CID sejam aspectos dissociados da
geopolítica e da geoeconomia dos anos 2000.” (Milani, 2014, p. 49)

“os princípios, as normas e as instituições da CID se encontram hoje desafiados por uma
nova concepção e uma lógica distinta de cooperação promovida, entre outros, pela China:
em vez de financiar projetos por meio da ajuda pública e por subvenções a fundo perdido, o
governo chinês privilegia o uso de investimentos e da promoção comercial.” (Milani, 2014, p.
49)

“SEÇÃO 4: CONSIDERAÇÕES FINAIS: ENTRE MÚLTIPLOS ATORES E INTERESSES


CONTRADITÓRIOS” (Milani, 2014, p. 50)

“Entre doadores (tradicionais e novos) e beneficiários, situam-se os chamados atores


mediadores, que desempenham papel relevante na difusão das agendas, na legitimação
dos ideários e, menos frequentemente, na organização de protestos e na definição de
mecanismos de monitoramento e controle.” (Milani, 2014, p. 50)

“A redução relativa dos empréstimos a governos indica uma tendência de reorientação dos
financiamentos ao setor privado, sobretudo a partir do período 1980-1990.” (Milani, 2014, p.
51)

“A presença marcante da dinâmica bilateral, [...] ilustra a relevância dos mecanismos de


cooperação e ajuda internacional para as agendas de política externa, mormente dos
Estados mais poderosos.” (Milani, 2014, p. 51)

“Boa parte do conteúdo que diz respeito às políticas e aos modelos contemporâneos de
desenvolvimento é concebida, analisada e difundida no âmbito da cooperação
internacional.” (Milani, 2014, p. 54)

“há uma concepção universalizante do desenvolvimento que se encontra à raiz das ações
das agências da cooperação internacional: esta visão universal integra a defesa dos direitos
humanos, a noção de progresso, a cultura do pacifismo e da negociação, bem como o ideal
do intercâmbio na construção de consensos plurais e abrangentes.” (Milani, 2014, p. 54)

“No atual momento histórico, em que novas potências (China, Índia, Brasil e África do Sul)
tornam mais visíveis suas estratégias de internacionalização e cooperação para o
desenvolvimento (Ipea; ABC, 2010), cabe questionar que efeitos produzirão sobre a
arquitetura da CID, suas normas e suas práticas, com base no histórico da cooperação
Norte-Sul e nas críticas a ela formuladas ao longo dos últimos sessenta anos.” (Milani,
2014, p. 54) Xi: “Ideological confrontation, geopolitical rivalry, and bloc politics are not a
choice for us,” he said. “What we stand against are unilateral sanctions, economic coercion
and decoupling, and supply chain disruption.”

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