EBOOK

TERAPIA
COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL:
SUMÁRIO

1 Introdução 3

2 TCC na Prática Clínica 6

2.1 Aspectos conceituais e princípios fundamentais 6
2.2 Um esboço da Prática Clínica 8
2.3 Principais Técnicas e Instrumentos da TCC 9
2.4 Evidências Científicas 11
2.5 A TCC na Depressão e Ansiedade 13
3 Terceira Onda das Terapias Cognitivo-comportamentais 16
Referências 18
Sobre os Autores 20

2
1 INTRODUÇÃO

A Terapia Cognitivo-comportamental é uma psicoterapia que

teve o maior crescimento em popularidade no meio clínico
e acadêmico nas últimas décadas, muito disso é devido a
sua robustez em evidências científicas (RANGÉ, FALCONE,
SARDINHA, 2007).

Na década de 60, o psiquiatra e psicanalista de formação,

Aaron Beck, buscava evidências científicas na psicanálise
com o objetivo de maior aceitação na área médica, passando
por diversos institutos e publicando alguns trabalhos, como:
Successful outpatient psychotherapy of a chronic schizophrenic
with a delusion based on borrowed guilt e Psychotic depressive
reactions in soldiers who accidentally killed their buddies. (BECK,
2013; KORMAN, 2013).

Na busca de evidências na psicanálise, Beck encontrou certos

aspectos que se repetiam em diversos pacientes. Os padrões
cognitivos encontrados foram chamados de cognições negativas,
que são pensamentos e crenças sobre o sujeito, o mundo e o
futuro, mais tarde Beck vai chamá-las de crenças nucleares
(BECK, 2013).

3
A partir das pesquisas de Beck com a psicanálise,
diversos estudos foram realizados buscando não só
verificar a cientificidade da sua descoberta, mas também
encontrar formas de modificar essas cognições. Com
essas publicações, deu-se início a terapia cognitiva, ainda
não comportamental (BAHLS, NAVOLAR, 2004; RANGÉ,
FALCONE, SARDINHA, 2007).
Em 1977, foi publicado um estudo randomizado,
controlado, onde foram avaliados pacientes
diagnosticados com depressão, o resultado desse
estudo revelou que a TCC foi tão eficaz quanto a terapia
farmacológica utilizando imipramina. Alguns anos
depois da publicação deste trabalho, foi lançado o
primeiro manual de Terapia Cognitivo-Comportamental
(BECK, 2013)
Mahoney foi outro importante expoente da revolução
cognitiva, abordando em sua pesquisa a importância da
relação entre cognição e comportamento, nesse processo
surgiram diferentes formas de terapias cognitivas, temos
como exemplo a Terapia Cognitiva comportamental, a
Terapia Racional-Emotiva comportamental, a Terapia
Comportamental Dialética, entre outras (BAHLS,
NAVOLAR, 2004; BECK, 2013).
Existem pontos principais que permeiam as diferentes
Terapias Cognitivas, um deles é que partem do princípio
que existe um mundo real e uma realidade objetiva,
independente da apreensão da nossa consciência, porém,
nossa visão sobre ele pode estar distorcida. Quando o
sujeito entra em contato mais próximo da realidade
como ela é, é possível lidar de uma forma mais eficaz com
as demandas do mundo dentro de suas possibilidades
(DOBSON; DOBSON, 2010).
Após entender o percurso da Terapia Cognitiva e os
pontos em comuns entre suas ramificações, finalmente
chegamos a Terapia Cognitivo-Comportamental de Beck,
como ponta pé inicial, é importante entender alguns
aspectos que são considerados pontos principais e que
passarão por qualquer Terapia TCC. Esses pontos são
3 princípios norteadores, que são Mediação, Acesso e
Mudança (WRIGHT et al., 2018).
• MEDIAÇÃO: Os pensamentos, ou seja, a atividade
cognitiva influencia o comportamento, e respostas
emocionais, em outras palavras, o modo como as
pessoas pensam e interpretam a situação influencia
a maneira como se sentem (WRIGHT et al., 2018).
4
• ACESSO: Este princípio afirma que o pensamento
não é indisponível a consciência, ou seja, é defendido
a hipótese de que com treinamento e atenção
adequada este pensamento pode ser acessado,
influenciado e modificado, gerando modificações
comportamentais (WRIGHT et al., 2018).

• MUDANÇA: O último princípio agrega os dois

anteriores, defendendo a ideia de que, já que os
comportamentos são mediados pelo pensamento e
este pensamento pode ser acessado e influenciado,
então, intencionalmente é possível modificar a forma
no qual o indivíduo se comporta frente determinados
contextos (WRIGHT et al., 2018).

5
2 TCC NA PRÁTICA CLÍNICA

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Tendo como base os 3 princípios fundamentais da TCC citados

anteriormente, chegamos a um ponto fundamental desta
teoria, que é a hipótese de que a forma como os indivíduos
pensam e interpretam as situações influencia a forma como
estes se sentem e se comportam. Assim como apresentado
no 3º princípio, o da mudança, estes pensamentos podem
ser acessados por meio de algumas estratégias, sendo assim,
o objetivo é encontrar quais o pensamento disfuncional
e modificá-lo, tornando este pensamento funcional e
consequentemente o comportamento do indivíduo (BECK,
2013).

Esta inter-relação entre o pensamento ou cognição, emoção e

o comportamento é denominado de Modelo Cognitivo (BECK,
2013). Isso quer dizer que, uma determinada situação pode
ocasionar diversas reações em pessoas diferentes, de acordo
como cada um destes indivíduos interpreta a realidade. E
não só isso, ao falarmos da inter-relação entre pensamento,
comportamento e emoção, é entendido que isso não ocorre
de maneira linear, ou seja, a emoção também influencia no
pensamento e comportamento, assim como o comportamento
influencia os outros dois componentes (GREENBERGER,
6
PADESKY, 2016).
Para explicar vamos propor a seguinte situação:
SITUAÇÃO:
APÓS A APRESENTAÇÃO DE UM TRABALHO
ACADÊMICO O PROFESSOR ELOGIA E FAZ
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO
PROJETO
POSSÍVEIS INTERPRETAÇÕES POSSÍVEL EMOÇÃO
O professor gostou do trabalho e está
citando coisas que poderiam ser feitas Alegria
para melhorar.
O professor fez algumas considerações,
Frustração e/ou raiva
sendo assim ele detestou o trabalho.
Meu trabalho não estava bom o bastante. Tristeza
Importante ressaltar que, para a TCC, não é a situação em
si que ocasiona a reação emocional ou o comportamento
e sim a interpretação que o indivíduo faz a partir da
situação. Quando esta interpretação apresenta um
erro lógico, isso é chamado de distorção cognitiva. As
distorções cognitivas são desenvolvidas em decorrência
de vulnerabilidades cognitivas que ocorrem devido a
interrelação de fatores genéticos, ambientais, familiares,
físicos e sociais (KNAPP, 2004).
Finalizando a apresentação de conceitos essenciais de
TCC, é fundamental apresentar mais 3, que em união
com os anteriores fundamentam toda intervenção dos
profissionais que utilizam esta abordagem: Pensamentos
Automáticos (PA), Crenças intermediárias ou pressupostos
subjacentes e Crenças nucleares. Estes são os 3 níveis de
cognição no qual a TCC vai identificar e trabalhar durante
a intervenção (BECK, 2013).
• PA: é considerado como o nível mais superficial da
cognição, sendo caracterizado por palavras, frases ou
imagens que passam pela cabeça do indivíduo devido
a uma situação.
• CRENÇAS E PRESSUPOSTOS SUBJACENTES: São
regras, pressupostos e/ou normas que os indivíduos
adotam, estas crenças influenciam como este
indivíduo vai pensar, se sentir e agir. Esta classe está
entre os PA e as Crenças nucleares.
7
 • CRENÇAS NUCLEARES: É o nível mais
profundo da cognição, são globais, rígidas e super
generalizadas. São ideias enraizadas acerca de nós
mesmos, de outras pessoas e do mundo.
2.2 UM ESBOÇO DA PRÁTICA CLÍNICA
Agora que todos os principais conceitos foram explicados,
é possível começar fazer um esboço da prática clínica da
TCC.
O passo inicial para que a intervenção com base na TCC
ocorra de maneira eficaz, é o estabelecimento de uma
forte e consistente aliança terapêutica, que se dá através
de uma comunicação clara e cuidadosa, estabelecimento
de metas e objetivos, estimulando a autonomia do
paciente e reforçando o trabalho em equipe. A natureza
colaborativa da TCC requer um processo comunicativo
claro para o bom caminhar do tratamento (BECK, 2013).
A psicoeducação é também um processo fundamental
para o tratamento com base na TCC, será ensinado
princípios relevantes ao cliente, referente ao processo
terapêutico e a abordagem, utilizando exemplos
rotineiros, preferencialmente relacionado ao seu caso.
Com objetivo de estimular a autonomia do paciente
na observação dos seus próprios pensamentos e a
participação no processo terapêutico (WRIGHT et al.,
2018).
Desde o primeiro contato com o paciente é necessário
começar a desenvolver a conceitualização de caso, este
é realizado em uma ficha no qual vai constar as principais
hipóteses desenvolvidas, pensamentos automáticos,
regras e pressupostos e crenças nucleares, assim como
aspectos da história do paciente. Esta formulação deve ser
discutida com o paciente visto que é uma produção sobre
ele e tem como objetivo guiar a intervenção (WRIGHT et
al., 2018).
Todo este processo tem como objetivo auxiliar no
processo de identificação dos pensamentos e crenças do
paciente para planejar intervenções que serão efetivas
para a modificação dos comportamentos disfuncionais do
paciente. O caminho habitual do processo de identificação
inicia-se com a busca dos pensamentos automáticos
que se derivam das crenças nucleares, e para isso são
utilizadas diversas estratégias, como por exemplo
descoberta guiada e o questionamento socrático. Que
se dão através de perguntas abertas no qual o terapeuta
8
orienta o paciente a identificar os seus pensamentos e
crenças disfuncionais, e a partir disso questiona-los e
modificá-los (WRIGHT et al., 2018).
O tempo de duração do tratamento varia a depender
da demanda apresentada, porém é predominante um
atendimento de curto prazo. Além da busca na resolução
dos problemas em sessão é estimulado o desenvolvimento
de capacidade de auto-observação, resolução de
problemas e questionamento dos seus pensamentos, pois
o objetivo final é que o cliente seja capaz de se tornar
seu próprio “terapeuta”, para isso é proposto uma série
de técnicas e atividades que o paciente pode realizar
sozinho, durante o processo terapêutico e após este ter
sido concluído (POWELL et al., 2008).
2.3 PRINCIPAIS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DA TCC
A TCC é composta por diversas técnicas que são
organizadas de forma sistemática e direcionada a um
alvo, podemos chamá-lo de meta, então as metas são
organizadas junto ao paciente, necessário lembrar que a
psicoterapia cognitiva é um trabalho em equipe (BECK
2013). Importante ressaltar que a TCC não é um punhado
de técnicas retiradas de um manual ou apenas um
protocolo enrijecido, existe a necessidade da expertise do
terapeuta para avaliar o contexto psicossocial do paciente,
utilizando a conceitualização de caso para formular a
proposta avaliativa e interventiva (KNAPP, 2004).
Uma das finalidades TCC, mais do que apenas identificar
e avaliar distorções cognitivas, ela visa proporcionar uma
maior flexibilidade para o paciente lidar com o seu dia a
dia, além de seus pensamentos que podem estar tendo
uma apreensão errônea da realidade, o paciente pode
realmente estar passando por uma dificuldade e a TCC
vai auxiliar nesse planejamento de estratégias para lidar
com as dificuldades (SANTOS, MEDEIROS, 2017).
Existem algumas técnicas que têm função de avaliação
dos pensamentos, para identificar se são coerentes com a
realidade do sujeito e para promover modificação deles,
mas o questionamento socrático é comumente associado
pelos autores como uma das principais técnicas. O
questionamento socrático é um método de investigação
da cognição do paciente onde o terapeuta faz diversas
perguntas fazendo com que o próprio paciente indague
sobre sua cognição. Durante o processo citado, é utilizada
a descoberta guiada, onde o terapeuta vai guiando as
auto-indagações do paciente até que ele chegue no PA ou
9
na Crença Nuclear (SANTOS, MEDEIROS, 2017).
O questionamento Socrático é feito semelhante ao que
era praticado na Grécia antiga, porém, são feitas pequenas
pontuações para que o paciente possa identificar seus
pensamentos, pressupostos subjacentes e/ou crença
nuclear, seguindo de uma reflexão sobre possibilidades
relacionada a demanda (SANTOS, MEDEIROS, 2017).
O questionamento Socrático visa chegar a partes mais
profundas da cognição, porém, existem partes que estão
na superfície que também merecem atenção do terapeuta,
são os P.A sobre o entendimento que ele influencia no
comportamento e o comportamento retroage sobre
ele, estando distorcido, irá gerar comportamentos
desadaptativos. Os P.A, como já citado, podem surgir tanto
no formato de imagens, como palavras ou memórias,
eles fazem parte da forma que o sujeito vê o mundo e se
auto percebe, para ele, fazem total sentido e não parecem
acarretar nenhum problema (KNAPP, 2004).
Para identificar tais pensamentos, quando o paciente trás
alguma situação, o terapeuta pode perguntar:
“DURANTE ESSE ACONTECIMENTO, O QUE
PASSOU POR SEUS PENSAMENTOS?”
“ANTES DE VOCÊ COMEÇAR A APRESENTAR
O TRABALHO, O QUE PASSOU POR SEUS
PENSAMENTOS?”
Existem diversas formas para eliciar tais pensamentos,
pode ser recapitulado algo discutido durante a sessão,
uma situação que o paciente passou, ou percebendo uma
alteração do humor durante a fala do paciente (KNAPP,
2004).
Como no questionamento Socrático, existe muito mais
informações acerca dos P.As, como identificar e intervir
para modificá-los porém não conseguiremos abordar-los.
Dentro dessas e outras infinidades de técnicas
existentes na TCC, é necessário destacar uma que vai ser
utilizada com quase todos os pacientes, se não todos,
a psicoeducação, é importante trazer para o paciente
informações sobre a situação que ele está vivenciando
(KNAPP 2004).
10
Muitos pacientes podem estar desanimados, sendo assim,
uma educação sobre o diagnóstico, caso ela tenha, ou
dados da ciência sobre o momento que ela está vivendo
pode ajudar no engajamento do processo terapêutico,
também é utilizado para esclarecer qualquer distorção
cognitiva ou de informações sobre o processo terapêutico
(KNAPP 2004).
As técnicas citadas têm um objetivo delimitado e seguem
um percurso encontrando as cognições mais próximas
da consciência e até mesmo as mais complexas como as
crenças nucleares, existem diversas outras técnicas que
são utilizadas para chegar nesse objetivo ‘’final’’. Pode-se
utilizar o Registro de Pensamentos Automáticos (RDP)
para investigar os PA’s e os eventos que os eliciaram, pode
ser utilizado também técnicas de Role Play, treinamento
de habilidades sociais, avaliação do humor e do prazer,
entre outras (KNAPP, BECK, 2008).
Além de diversas técnicas para compreensão da cognição
do paciente, durante o processo terapêutico é possível
utilizar escalas de rastreio para verificar possíveis
sintomas psicopatológicos. O Inventário de Depressão de
Beck (BDI) é amplamente utilizado, tanto em contexto
clínico quanto para pesquisa, é uma escala de autorrelato
onde o paciente vai preencher 21 itens que variam de
0 a 3, no quesito intensidade. Dentro dela é abordado
diversos itens, como: tristeza, pessimismo, sensação de
fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa, sensação
de punição, autodepreciação, auto-acusações, idéias
suicidas, crises de choro, irritabilidade, retração social,
indecisão, distorção da imagem corporal, inibição para
o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de apetite,
perda de peso, preocupação somática, diminuição de
libido (GORENSTEI, ANDRADE, 1998).
Este inventário foi construído segundo os critérios
diagnósticos do DSM-V como instrumento de rastreio
para depressão, além deste, existem outros instrumentos
validados e normatizados, que podem ser aplicados na
clínica.
2.4 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS
A ligação entre a prática clínica e a pesquisa científica
é uma relação indispensável, a prática necessita estar
respaldada nos achados publicados em revistas com
revisão por pares. Existe uma tendência mundial por
optar por práticas baseadas em evidências (PPBE), isso
significa que a escolha do tratamento deve ser mediada
11
por meio dos estudos publicados. Dentro disso, o cuidado Problemas Problemas médicos com
Transtornos psiquiátricos
selecionado para aquele paciente, com sofrimento psicológicos componentes psicológicos

mental, deve ser indicado pelo nível de evidência e pelos Transtorno depressivo maior Problemas conjugais Dor lombar crônica
Guidelines disponíveis, também, sempre deve ser levado Depressão geriátrica Problemas familiares Crises de dor da anemia
em consideração os aspectos culturais do paciente Transtorno de Ansiedade Generalizada Jogo patológico Enxaqueca
(MELNIK, 2014). Ansiedade geriátrica Luto complicado Tinnitus (Zunido)
Transtorno do pânico Angústia do cuidador Dor do câncer
Knapp e Beck (2008) descrevem que pesquisas práticas Agorafobia Raiva e hostilidade Transtornos somatoformes
clínicas demonstraram que a TCC é eficiente no Fobia social Síndrome do intestino
tratamento de diversos quadros Psiquiátricos com ou irritável
Transtorno obsessivo-compulsivo
sem o uso de Psicofármacos, e também é eficiente para Síndrome da fádiga crônica
Transtorno de conduta
intervenções no âmbito psicológico sem a presença de Dor de cabeça reumática
Abuso de substância
algum transtorno mental aparente. Transtorno de déficit de atenção / Disfunção erétil
hiperatividade Insônia

Assim como na depressão, citado diversas vezes ao Ansiedade pela saúde Obesidade

decorrer do texto, foram conduzidas diversas pesquisas Transtorno dismórfico corporal Vulvodínea

seguindo os parâmetros da ciência com objetivo de Transtornos da alimentação Hipertensão

descrever a existência de eficácia e o seu nível, temos Transtornos da personalidade Síndrome da Guerra do
Golfo
como exemplo os estudos: Efficacy of cognitive– behavioral Agressores sexuais
treatment of generalized anxiety disorder: Evaluation in a Transtornos de hábitos e dos impulsos
controlled clinical trial (2000), a randomized controlled trial Transtorno bipolar (com medicação)
of cognitive-behavioral therapy for persistent symptoms Esquizofrenia (com medicação)
in schizophrenia resistant to medication (2015) e a
multicenter comparison of cognitive-behavioral therapy and Fonte: Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática.
interpersonal psychotherapy for bulimia nervosa (2000).

12
2.5 A TCC NA DEPRESSÃO E ANSIEDADE
Como exposto anteriormente, a TCC tem seu início com
as inquietações de Aaron Beck com pacientes depressivos
por volta da década de 60, e a partir de suas investigações
um método de intervenção que se mostrasse eficaz e
com evidências científicas foi estruturado, dando origem
ao livro Cognitive Therapy of Depression (1978), assim
foi também para os Transtornos Ansiosos. Ambos estes
grupos de transtornos foram alguns dos primeiros
nos quais os terapeutas cognitivos comportamentais
se debruçaram, produzindo um consistente corpo de
evidências (KNAPP, BECK, 2008).
A depressão é um transtorno complexo, caracterizado
por rebaixamento do humor, diminuição do prazer na
realização das atividades antes prazerosas, tendo duração
de no mínimo 2 semanas contínuas. Possui variadas
formas de apresentação, e afeta não somente o sujeito
no qual está apresentando os sintomas, mas também
seus familiares e amigos. Este transtorno causa grandes
alterações funcionais na vida do indivíduo, como por
exemplo em aspectos laborais, sociais e afetivos (APA,
2013).
Segundo dados da World Health Organization (WHO,
2017), estimava-se que a prevalência da depressão era
de 4,4% na população mundial, e cerca de 322 milhões
de pessoas já sofriam com depressão. O que alerta para
a importância de tratamentos eficazes amparados com
dados de efetividades.
A terapia cognitivo-comportamental pode ser utilizada
para o tratamento do transtorno depressivo com
o objetivo de auxiliar o indivíduo a buscar reações
adaptativas. O trabalho do terapeuta é de promover
psicoeducação quanto ao modelo cognitivo e ao
transtorno, auxiliar o cliente a reconhecer as crenças
que reforçam o padrão depressivo e a partir de técnicas
reestruturar estes pensamentos, tornando-os mais
flexíveis e funcionais para a promoção de um alívio dos
sintomas (LÓSS et al., 2018).
Este trabalho se dá a partir de dois elementos básicos, já
citados anteriormente, o modelo cognitivo e as distorções
cognitivas. Através do questionamento socrático e
descoberta guiada o paciente reconhece seus pensamentos
automáticos, regras e crenças nucleares, assim como as
distorções cognitivas, iniciando um processo de busca por
pensamentos alternativos adaptativos, busca de evidência
dos pensamentos alternativos e negativos, reforçamento
13
dos pensamentos adaptativos encontrados e compromisso
com mudanças comportamentais. (POWELL et al., 2008)
Algumas técnicas utilizadas para a reestruturação dos
pensamentos disfuncionais após sua identificação são:
Registro de pensamento disfuncionais, técnica que se
utiliza de uma tabela no qual o paciente vai registrar
uma situação específica, relacionado a uma situação
e seu comportamento de acordo com uma emoção
disfuncional que o paciente apresentou; Exame de
evidências, busca de evidências contra e a favor do
pensamento disfuncional; Seta descendente, técnica no
qual vai se buscar os pressupostos subjacentes a partir
do pensamento automático apresentado e a partir disso
a modificação destas crenças. (POWELL et al., 2008)
Além de técnicas cognitivas são utilizadas estratégias
de ativação comportamental, sendo também essenciais
na abordagem com este transtorno, para isso é proposto
como estratégias agendamento e monitoramento de
atividades, esta técnica além de servir como forma
do paciente se comprometer com a intervenção
fornece dados de como o paciente está funcionando e
respondendo ao tratamento (POWELL et al., 2008)
Assim como a depressão, os transtornos de ansiedade
atingem grande parte da população mundial, sendo
também extremamente prejudicial para a vida do
indivíduo acometido por esses quadros, em aspectos de
relacionamento interpessoal, vida ocupacional e familiar,
limitando o funcionamento normal do sujeito. Segundo
dados da World Health Organization (2017) estimava-se
que em 2015 cerca de 3,6% da população mundial
sofria com algum transtorno de ansiedade. Alguns dos
transtornos de ansiedade segundo o Manual Diagnóstico
e Estatístico dos Transtornos Mentais ou DSM-V são:
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno
de Pânico, Agorafobia.
A TCC possui estruturas de intervenção específica para
cada transtorno de ansiedade, porém, alguns aspectos são
comuns e fundamentais na intervenção de todos, são eles:
o trabalho de identificação dos pensamentos e crenças,
reestruturação cognitiva e psicoeducação. (KNAPP, BECK,
2008)
A especificidade da intervenção nos quadros ansiosos com
a TCC é o foco em técnicas de treinamento de solução
de problema e técnicas de relaxamento e respiração,
ensinadas durante a sessão. Através das técnicas de
solução de problema é ensinado ao paciente estratégias
14
para avaliar as situações aversivas no qual está exposto, de
maneira objetiva, organizando-as em partes e estimulá-lo
a resolver os problemas de maneira gradativa. As técnicas
de relaxamento e respiração tem como foco a redução dos
sintomas de ansiedade, sendo ensinado durante a sessão,
mesmo sem a apresentação de sintomas no momento,
algumas técnicas utilizadas são: Respiração diafragmática
e relaxamento muscular progressivo (RMP). (OLIVEIRA,
2011)

15
3 TERCEIRA ONDA DAS TERAPIAS
COGNITIVOS-COMPORTAMENTAIS: UMA
NOVIDADE OU UMA CONSTRUÇÃO?
Quando falamos da 3ª Onda ou 3ª Geração das Terapias Cogni-
tivo-Comportamentais, não nos referimos a Terapia Cognitiva
estruturada por Aaron Beck, mas de um conjunto de aborda-
gens baseadas em evidência que possuem os mesmos
princípios, o pensamento pode ser acessado, monitorado e
modificado gerando modificação comportamental, como foi
descrito no início deste livro (LUCENA-SANTOS et al., 2015).

Mas então, por que é importante entender essa 3ª onda, e o que

seria a 3ª Onda? Essas são ótimas perguntas que você pode se
fazer, o conhecimento desta onda é de grande importância, pois
com ela vem um conjunto de abordagens que tem demonstrado
um grande número de evidências favoráveis para o tratamento
de diversos transtornos, e que buscam estratégias e técnicas de
intervenções eficazes para auxiliar os indivíduos a alcançarem
melhor qualidade de vida e saúde mental. Respondendo agora
à segunda pergunta, este termo foi difundido por Steven Hayes
a partir de 2004, e se refere a um grupo de abordagens terapêu-
ticas que começaram a surgir ou ganhar reconhecimento a
partir da década de 90, dentro da tradição e dos princípios das

16
terapias cognitivo-comportamentais, fazendo parte desta
3ª onda estão: Terapia de Aceitação e Compromisso,
Terapia Dialética Comportamental, Terapia Cognitiva
Baseada em Mindfulness, Terapia Analítico Comporta-
mental, Terapia Cognitivo-comportamental, entre outras
(LUCENA-SANTOS et al., 2015).
A terceira onda não é uma criação originada do nada, ela
se dá a partir da integração de conhecimento das gerações
anteriores, através de uma minuciosa análise do que foi e
tem sido mais efetivo, unidos os conhecimentos e guiando
os resultados já alcançados para transformações que se
mostram relevantes na busca de tratamentos ainda mais
eficazes, nunca descartando-os (LUCENA-SANTOS et al.,
2015).
Você pode estar se perguntando agora, “quais são
as ondas anteriores?”. Segundo Hayes e Hofmann
(2017), a primeira onda pode ser identificada como
a Terapias Comportamentais que tinham como
foco de estudo o aprendizado, condicionamento e
a aplicação de estratégias condicionamento para
mudança comportamental, a segunda onda se inicia
a partir de 1970 com o crescimento das Terapia
Cognitivo-Comportamentais, o foco neste cenário era o
interesse nos padrões de pensamentos desadaptativos,
na sua interrelação com comportamento e emoção, esta
onda também utilizou aspectos observados efetivos na
geração anterior (HAYES; HOFMANN, 2017).
Apesar de ser observado grande efetividade nas terapias
de 2º onda, existiam fortes críticas, especialmente para o
grande foco no conteúdo dos pensamentos, deixando de
lado o contexto do indivíduo. Sendo assim a 3º Onda vem
preenchendo essa lacuna, dando maior foco as relações
contextuais do indivíduo e na relação deste com seus
pensamentos e emoções (HAYES; HOFMANN, 2017).
O objetivo deste extenso processo de transformação
é a busca por estratégias e terapêuticas baseada em
evidências que almejam promover melhor qualidade
de vida aos indivíduos, o foco agora não é somente
tratar transtorno, mas sobretudo, sobre saúde (HAYES;
HOFMANN, 2017).
17
REFERÊNCIAS
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SOBRE OS AUTORES

ANTÔNIO DE SOUZA PACHECO JUNIOR

Graduando em Psicologia, Centro Universitário Ruy Barbosa (UniRuy).
Presidente da Liga Acadêmica Marcus Matraga (UniRuy) e Estagiário em
Psicologia Hospitalar no Hospital Santa Izabel.

VICTOR SANTOS NASCIMENTO

Graduando em Psicologia, Centro Universitário Ruy Barbosa (UniRuy).
Presidente da Liga Acadêmica de Neuropsicologia e Comportamento
(UniRuy), membro do Núcleo de Inovação Tecnológica e Reabilitação
(NITRE – UFBA) e Voluntário do Laboratório de Pesquisa em
Neuropsicologia Clínica e Cognitiva (Neuroclic – UFBA).

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