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São Paulo
2016
THISBE CORDEIRO PRATES
São Paulo
2016
THISBE CORDEIRO PRATES
Orientador:
Prof. Me. Isaac Eduardo Pinto
São Paulo
2016
AGRADECIMENTO
Agradeço ao meu orientador Isaac Eduardo Pinto que me auxiliou e orientou durante
toda a pesquisa.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11
1.1 OBJETIVO................................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 15
1.1.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 15
1.2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 15
1.3 METODOLOGIA DA PESQUISA ................................................................. 17
2 A HISTÓRIA DA ENGENHARIA DE TÚNEIS .............................................. 19
2.1 HISTÓRIA DO METRÔ DE SÃO PAULO .................................................... 25
3 TÉCNICAS DE ESCAVAÇÃO ..................................................................... 29
3.1 MÉTODOS DESTRUTIVOS ........................................................................ 29
3.1.1 Valas a Céu Aberto ..................................................................................... 29
3.1.2 Método Invertido .......................................................................................... 31
3.2 MÉTODOS NÃO DESTRUTIVOS ............................................................... 32
3.2.1 Novo Método Austríaco para Abertura de Túneis (NATM) ........................... 33
3.2.2 Método de Escavação com Tuneladora....................................................... 36
4 ESCAVAÇÃO DA LINHA 2-VERDE DO METRÔ DE SÃO PAULO ............. 43
4.1 LOCALIZAÇÃO E TRAÇADO ...................................................................... 43
4.2 GEOLOGIA E GEOTECNIA ........................................................................ 44
4.3 MÉTODOS DE ESCAVAÇÃO ..................................................................... 49
4.4 SHIELD ....................................................................................................... 51
4.5 NATM .......................................................................................................... 55
4.6 CUSTOS ..................................................................................................... 62
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 64
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 69
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 72
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1 INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos foi apresentando um aumento na extensão das linhas, no
número de estações e na quantidade de profissionais atuantes, ao mesmo tempo
em que nunca deixou de promover seu valor de transporte sustentável,
característica importante para uma metrópole como São Paulo. Em 2013 atingiu um
total de seis linhas em operação, cinco de metrô e uma do monotrilho, 64 estações e
74 quilômetros de extensão. Porém, apesar de ser o maior, em extensão, o metrô de
São Paulo, também é o mais lotado, atendendo em torno de 4,7 milhões de usuários
diariamente (CMSP, 2013a).
Com as obras subterrâneas cada vez mais frequentes, é necessário que suas
técnicas de execução sejam constantemente estudadas e aprimoradas para que se
obtenham sempre os melhores resultados. Atualmente existem três principais
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A Vala a Céu aberto é uma técnica de escavação pouco utilizada, pois sua execução
interfere diretamente no trânsito superficial de veículos. O método é composto de
uma escavação inicial até a profundidade desejada. Depois é realizado o
escoramento do maciço lateral, para que não haja um desmoronamento e a
construção das estruturas permanentes da obra. E por fim é realizado um reaterro e
normalização do trânsito nas vias interferidas com a obra (MARANGON, 2007).
Sendo assim, o conceito de túneis, apesar de ser antigo e suas técnicas construtivas
já serem bem difundidas na comunidade acadêmica, elas devem ser
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Além disso, para a construção de uma obra subterrânea, diversas variáveis devem
ser analisadas e para cada caso devem ser feitos estudos específicos para a melhor
solução, dependendo do solo local, das camadas presentes e sua configuração e do
quanto de interferência superficial aquela região suportará.
Dessa forma, pode-se perceber que a construção de uma obra subterrânea envolve
muito mais do que a simples escolha de qual técnica será usada, devendo ser
levadas em consideração diversas variáveis. Dentre essas variáveis, é fundamental
que se analise com precisão a geotecnia do solo que será escavado.
1.1 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo principal avaliar tecnicamente os dois principais
métodos de escavação de túneis utilizado ao longo dos 50 anos de história da rede
de transporte metropolitano da cidade de São Paulo, o Método NATM (New Austrian
Tunneling Method) e a escavação mecanizada com tuneladora.
1.2 JUSTIFICATIVA
As vias urbanas da cidade de São Paulo presenciam trânsitos cada vez mais
intensos e alternativas devem ser tomadas para solucionar a questão da mobilidade
na cidade. De acordo com Kochen (2008), entre 1998 e 2008, a frota de veículos em
São Paulo cresceu em aproximadamente 25%, enquanto que a infraestrutura viária
aumentou somente 6%, o que explica o colapso no trânsito que vem acontecendo.
Por esse motivo, é imprescindível que sejam estudadas soluções alternativas para a
resolução deste conflito.
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Sendo assim, o metrô da cidade de São Paulo, que é uma das possíveis alternativas
de transporte, deve ser ampliado para melhor atender a demanda da cidade,
principalmente na hora de pico. Segundo a CMSP (2010), a extensão, naquele ano,
de todas as linhas pertencentes ao metrô de São Paulo era de 69,6km e a
companhia atendia diariamente 3,5 milhões de pessoas, chegando atualmente a 4,7
milhões de usuários por dia, um número incrivelmente grande para linhas que não
suportam essa capacidade.
Por esta razão, foi escolhida, para o desenvolvimento deste trabalho, a realização de
um estudo a respeito da linha 2-Verde do metrô de São Paulo. Tal linha foi escolhida
por ser uma linha de extrema importância para a cidade, pois passa em uma
importante região da metrópole, conhecida como Trecho Paulista. E justamente pelo
fato de seu traçado cruzar esse grande centro financeiro da cidade, foram
encontradas muitas dificuldades durante sua construção devido ao fato de haverem
muitas construções e fundações ao longo do traçado e com isso diferentes técnicas
de escavação foram utilizadas.
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Portanto, o estudo de uma importante linha da rede metroviária de São Paulo será
de suma importância para a comunidade acadêmica em geral e para a população da
metrópole que foi e ainda é bastante afetada pela construção da linha em questão. E
com isso, pretende-se que a realização deste trabalho contribua a todos que
queiram obter conhecimentos a respeito das principais técnicas de escavação
utilizadas em São Paulo e queiram aprender ou aprimorar seus conhecimentos a
respeito das obras subterrâneas realizadas pela CMSP.
Este trabalho teve, primeiramente, como base uma vasta revisão bibliográfica
composta por livros, artigos técnicos, dissertações e teses dos principais autores,
como Kochen e Marangon, e instituições, como o International Tunnellingand
Underground Space Association, Comitê Brasileiro de Túneis (CBT) e a Companhia
do Metropolitano de São Paulo, que estudaram e relataram os métodos de
escavação de túneis. Nesta primeira fase do trabalho foram coletadas as principais
referências bibliográficas sobre o tema e estudado a fundo a evolução da
engenharia de túneis e das técnicas de escavação, assunto apresentado no capítulo
2. Depois foram analisadas todas as etapas que compõem os principais métodos de
escavação de túneis apresentadas no capítulo 3 deste trabalho.
O objeto de estudo deste trabalho foi a obra de escavação de túneis realizada pelo
metrô de São Paulo, que se utilizou tanto do método NATM quanto do método de
escavação mecanizado com tuneladora para a construção da extensão da linha 2-
Verde do metrô de São Paulo.
Depois, foi realizada a pesquisa, onde foram obtidos alguns dados a respeito das
escavações e tecnologias utilizadas, além de algumas peculiaridades da construção
da linha. Tais dados, expressos no capítulo 4, relatam a respeito da adaptabilidade
do método de escavação em relação à geotecnia do solo, velocidade de execução,
deslocamentos registrados, versatilidade de seções transversais, dificuldade de
mobilização dos equipamentos e materiais (logística) e custos por metro de
escavação que aconteceram ao longo da construção da linha, para, então, realizar
uma análise mais complexa. Por último foram comparados, discutidos, interpretados
e relatados os resultados da análise dos dados tratados.
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Segundo Bastos e Kochen (2010), o primeiro túnel de que se tem registro foi
executado no período da Grécia Antiga, século VI A.C. e está localizado na ilha
grega de Samos. Foi escavado em rocha, com cinzel e martelo para a criação de um
aqueduto que transportasse água fresca para outras localidades, possuindo
aproximadamente 700 metros de comprimento e seção transversal bem reduzida.
Foi nos últimos 60 anos que duas das principais e mais elaboradas técnicas de
escavação foram desenvolvidas, o método austríaco de escavação manual, o NATM
e a técnica de escavação de túneis mecanizada.
Porém, segundo Serrano, Melro e Cunha (2013), o método ATM possuía alguns
pontos negativos como os recalques excessivos devido à escavação de grandes
seções e também o uso de escoras de madeira.
Conforme Kochen (2003), o novo método austríaco, após ser utilizado em algumas
obras bem-sucedidas de túneis hidráulicos, rodoviários e ferroviários, foi utilizado em
área urbana pela primeira vez em 1968, para a escavação de um trecho do sistema
metroviário de Frankfurt. Porém, o que chamava atenção era o fato de que este
trecho era composto de argila rija, um solo mole que traz bastantes dificuldades
durante a escavação.
Após o sucesso dessa e de algumas outras obras que a sucederam, o método foi
ganhando bastante espaço no mercado, devido a sua grande flexibilidade, economia
e segurança comprovada por um histórico já existente. E assim, na década de 1970,
23
tal técnica alcançou uma margem de dois terços dos sistemas de transportes
urbanos de massa que existiam na Alemanha, com escavações predominantemente
em solos moles (KOCHEN, 2003).
Segundo Kochen (2003), desde a sua invenção, essa nova modalidade do concreto
tem sido utilizada com a finalidade de se criar uma camada de proteção para
corrosão e resistência ao fogo, além de revestimento e suporte de taludes. Sua
primeira utilização como suporte estrutural foi em um túnel de desvio que possuía 8
metros diâmetro em uma usina hidroelétrica na Áustria, em 1954, e a partir de então
esse material foi sendo cada vez mais utilizado com esse objetivo.
Este método foi utilizado pela primeira vez, em 1825, pelo engenheiro francês Marc
Isambard Brunel, que iniciou a execução do túnel rodoviário subaquático, construído
sob o Rio Tâmisa, que interliga as estações de trem Rotherhithe e Wapping na
cidade de Londres. Esse túnel possui 11 metros de largura por 6 metros de altura e
406 de comprimento e está localizado a uma profundidade de 23 metros medindo a
partir da superfície do rio na maré alta. Teve suas obras finalizadas com sucesso em
1843, após algumas dificuldades e acidentes durante sua execução (CARVALHO,
2008).
duas margens do rio, e isso foi necessário devido ao grande crescimento do porto da
cidade (MARANGON, 2007).
Segundo Novaes (1905), a capital paulista, na época, já contava com 300 mil
habitantes e, como já haviam percebido, esse número não pararia de aumentar.
Dessa forma, ele afirma, já naquela época, que não haveria um conforto durável
para a população de São Paulo, caso não houvesse um meio de transporte que
fosse cômodo e barato. E ainda conclui que o único meio de transporte que
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atenderia esses requisitos seria uma rede de transporte metropolitana, que possuía
força de possantes e rápidas locomotivas.
Com o passar dos anos a população paulista foi aumentando cada vez mais. A
cidade de São Paulo na década de 60 era uma das três grandes e únicas cidades do
mundo que possuía mais de cinco milhões de habitantes e ainda não tinha sequer
um projeto para a construção de um metrô. Na época, 33 cidades do mundo já
possuíam metrô e 26 delas tinham população menor que a de São Paulo, e outras
38 estavam em fase de projeto ou em construção de suas linhas metroviárias
(MEJIAS, 1971).
Sendo assim, em agosto de 1966, o então prefeito da cidade, Brigadeiro Faria Lima,
criou o GEM (Grupo Executivo do Metropolitano). Esse grupo teria como objetivo,
estudar a fundo e sugerir as devidas providências para a implantação e operação de
uma linha de metrô na cidade de São Paulo. Em dezembro do mesmo ano surge a
Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô, uma empresa de economia
mista que tem como função supervisionar a construção, promover a implantação e
dirigir a posterior operação de todo o sistema de metrô da cidade (MEJIAS, 1971).
A primeira linha da rede metroviária de São Paulo, foi a linha Norte-Sul, conhecida
atualmente como Linha 1-Azul, e que foi dimensionada para transportar 1 milhão de
passageiros por dia. Após a elaboração dos projetos e a preparação das licitações,
iniciaram-se em 14 de dezembro de 1968 as obras do trecho sul da linha (CBT,
2006).
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Por se tratar de uma linha que cruza a cidade no sentido norte e sul e passa pela
região central de São Paulo, uma região caracterizada por sua grande concentração
de altos edifícios e ruas estreitas, houve certa dificuldade para a definição do seu
traçado. Isso porque deveriam considerar a proximidade que os túneis teriam com
as fundações já existentes (CBT, 2006).
Com isso, pode-se perceber que a cidade de São Paulo, após muitos anos
estagnados, está vivendo uma fase de expansão de sua malha metroviária e uma
evolução no conhecimento da engenharia de túneis. Ao todo são 55,2 quilômetros
de ampliação com 51 estações, pertencentes a 5 diferentes linhas do metrô, ao
longo de toda a cidade de São Paulo (CMSP, 2013b).
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3 TÉCNICAS DE ESCAVAÇÃO
Esse método consiste em escavar uma vala de grandes dimensões, onde o maciço
lateral pode ser contido por paredes escoradas com tirantes, estroncas (travamentos
metálicos), contido por taludes ou até mesmo por paredes diafragmas, podendo ou
não haver a necessidade de se rebaixar o lençol freático. Após a etapa de
escavação, executam-se as estruturas definitivas, como lajes de fundo e de
cobertura e paredes. E posteriormente, realiza-se a última etapa, a de reaterro
(ALMEIDA; FIORANELLI; NUNES, 2010).
Segundo Chiossi (1979) a técnica VCA pode ser dividia em quatro principais
métodos de construção: escavação com taludes inclinados, com paredes de
escoramento de diversos tipos, com paredes-diafragma que servirão como parte da
estrutura da obra, ou por outros métodos especiais. As etapas de escavação de um
túnel com seção quadrada, utilizando-se do Método Valas a Céu Aberto com
parede-diafragma, podem ser melhor identificadas na Figura 4.
Dessa forma, para a realização deste método são feitas, primeiramente, as paredes
laterais que irão compor a estrutura do túnel, que são executadas de cima para
baixo, iniciando da superfície e descendo até o nível desejado. Posterior a isso, é
construída uma laje sobre estas paredes, que também fará parte da estrutura do
túnel, servindo como uma cobertura para a vala (MEDEIROS, 2006).
Segundo Cury (1978), os métodos não destrutivos são caracterizados pela mínima
interferência superficial possível, o que os torna mais vantajosos. Porém, em
contrapartida, eles apresentam, em geral, uma maior dificuldade de execução que
os métodos destrutivos.
Por último, caso o maciço em questão não apresenta as condições necessárias para
a escavação, é necessário utilizar medidas construtivas auxiliares, que podem ser
tratamento do maciço, parcialização da seção escavada ou ambas associadas
(SERRANO; MELRO; CUNHA, 2013).
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Por outro lado, deve-se também avaliar qual o tipo de revestimento mais propício
para cada situação. No caso de túneis que possuam grandes profundidades, o ideal
é utilizar um revestimento mais flexível, enquanto que para túneis com pouca
cobertura o melhor é usar revestimentos rígidos. Porém, no caso de escavações em
rocha, deve ser levado em consideração o fato de que a deformação elástica da
rocha ocorre desde que os esforços não excedam a resistência da mesma
(MARANGON, 2007).
Dessa forma, Marangon (2007) compara o NATM com métodos mais antigos de
escoramento temporário e conclui que o uso de uma camada de concreto projetado,
mesmo que de pequena espessura e às vezes com a necessidade de outro sistema
auxiliando no suporte, pode evitar o afrouxamento que ocorre naturalmente em
massas rochosas moles. Tal fato reduz a descompressão da massa de rocha
adjacente, que permanece em seu estado original não perturbado e passa a realizar
uma função efetiva na seção em arco.
Portanto, apesar de ser uma técnica com etapas bem definidas e aparentemente
simples, ao longo de sua execução existem etapas bastante delicadas,
principalmente em solos ou rochas fracos e saturados. Para a aplicação correta e
bem-sucedida do método NATM em qualquer projeto, faz-se necessário um estudo
profundo das propriedades e do comportamento do maciço a ser escavado, além da
colaboração de profissionais que dominem a área de geologia e tenham bastante
experiência prática.
mais variadas condições. É um método que pode ser executado abaixo do lençol
freático, podendo ser utilizado em diversos tipos de solos, desde os mais moles até
aqueles muito rígidos, como rochas brandas, substituindo assim as escavações com
uso de explosivos.
Porém, para uma execução segura, é preciso que haja uma cobertura mínima de
terra acima da estrutura do túnel, ou seja, existe uma limitação mínima de
profundidade para execução. No caso de profundidade máxima, ela só será limitada
quando se trabalha com a técnica de ar comprimido para execuções abaixo do nível
d’água. Já no quesito de traçado, existe uma grande flexibilidade, podendo ser
executado em trechos com bastante declives e até mesmo em curvas (MARANGON,
2007).
Dessa forma, a dimensão dos recalques pode ser mantida dentro de limites que não
causem nenhum dano à estrutura, durante uma escavação mecanizada. Porém,
para que esses limites sejam determinados, é necessário que se conheça o solo
local, para que sejam previstos os locais em que irão ocorrer os recalques e quais
foram as suas causas (MARANGON, 2007).
Com o passar dos anos, as máquinas TBM passaram por uma grande evolução,
como a melhoria de suas cabeças de corte e a utilização de novos dispositivos
mecânicos e eletrônicos para um melhor controle das máquinas. Com isso foi
possível aumentar a velocidade de avanço de escavação e diversificar os tipos de
maciços e condições geológicas que podem ser escavados. Dessa forma, existem
algumas variações de máquinas e técnicas para escavações com couraça, que
podem ser subdivididas em três grandes grupos: couraça com escavação manual,
com escavação semi-mecanizada e com escavação totalmente mecanizada
(MARANGON, 2007).
O método de escavação manual com couraça é uma das técnicas mais segura para
atender todos os tipos de problemas e condições impostas ao longo do traçado. Isso
porque é um método que se adapta facilmente a diversos solos, e ainda assim traz
segurança devido ao uso da couraça. Além disso, ele é bastante flexível na questão
do nível d’água, podendo também ser empregado abaixo do lençol freático com o
uso da técnica de ar comprimido, que impede que a água entre e atrapalhe a
escavação (CHIOSSI, 1979).
A sua execução, como já diz o nome, é feita por operários, manualmente, sob a
proteção da couraça. Para isso, são utilizadas plataformas de trabalho, mostradas
na Figura 8, dispostas de modo que permita aos operários trabalhar em pé, e essas
plataformas são empurradas hidraulicamente conforme a escavação vai avançado.
Nessa metodologia, tanto a escavação quanto o escoramento são sempre feitos de
cima para baixo, e parte do sistema de escoramento é auxiliado com macacos
hidráulicos (MARANGON, 2007).
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Segundo Cury (1978), a couraça utilizada nesse método é composta por uma casca
externa e possui a finalidade somente de conter a escavação, pois o revestimento
do túnel é executado progressivamente pela tuneladora. Já esta última, possui em
sua cabeça placas compostas por lâminas fresadoras rotativas que escavam o solo
conforme giram, podendo escavar até os maciços mais duros como rochas brandas.
Esse método de escavação também pode ser utilizado quando é necessário escavar
abaixo do nível do lençol freático. Para isso podem ser utilizadas três metodologias
diferentes: uso de ar comprimido ou o rebaixamento do lençol freático, como nos
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Portanto, pode-se perceber que este último método de escavação, por ser um dos
mais modernos, possui diversas vantagens sobre os demais, como velocidade de
avanço, flexibilidade de traçado, de profundidade e de material escavado, além de
uma boa confiabilidade quando bem projetado e executado. Porém, alguns autores
destacam que embora a principal desvantagem desse método seja o seu alto custo
inicial de aplicação, deve-se ponderar a obra como um todo, pois talvez as
vantagens que possui ainda resultem em uma economia posterior.
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A Linha 2-Verde, objeto escolhido neste trabalho para estudo e análise, é uma linha
fundamental da rede metroviária de São Paulo. Além de se tornar a maior linha da
rede após o término de sua ampliação, ela passa ao longo do seu traçado por um
grande e importante polo financeiro da cidade o que ocasiona uma grande
movimentação da população nessa região.
Como já visto anteriormente a Linha 2-Verde foi a terceira linha executada pela
CMSP e o seu primeiro trecho construído, conhecido como Trecho Paulista, era
composto por 6 estações, indo das Clínicas até Ana Rosa e fazendo baldeação com
a linha 1-Azul em duas estações. Porém, a linha passou por um processo de
ampliação e atualmente possui um total de 14,7 quilômetros de extensão, indo da
estação Vila Madalena até a Vila Prudente, possuindo 14 estações ao todo,
conforme Figura 11. O trecho em funcionamento faz integração com as linha 4-
Amarela e 15-Prata do metrô e com a Linha 10-Turquesa da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM), além da Linha 1-Azul da CMSP (CMSP, 2014).
Na Linha 2-Verde do metrô foi realizado um estudo criterioso do solo local para optar
pelo melhor método de escavação. Além disso, o fato de o traçado se localizar bem
abaixo de avenidas importantes e bastante movimentadas tornou o estudo do
maciço de fundamental importância.
Dessa forma, foi extraído um perfil bastante completo das camadas constituintes do
solo, bem como o nível d’água. Com isso, sabe-se que o solo local é composto
principalmente por argilas porosas, exemplificadas na Figura 14, apresentando
coloração avermelhada ou até mesmo variegada (argilas com cores variadas). O
solo também apresenta trechos com pequenas porcentagens de silte e também
lentes de areia, que são finas camadas de areia localizadas no meio de um maciço
argiloso e que são detectadas somente com a realização de uma sondagem
contínua (CBT, 2006).
46
Fonte: autora.
Outro fator importante que deve ser analisado antes do início das escavações é
onde está localizado o lençol freático ao longo de todo o traçado. No caso do Trecho
47
Paulista, em grande parte do trajeto da linha o lençol freático está localizado abaixo
do piso do túnel, o que favoreceu sua escavação. Porém, em alguns trechos o nível
d'água estava localizado acima do teto do túnel e devido a isso, certos cuidados
tiveram que ser tomados durante a escavação do mesmo (CBT, 2006).
O trecho de ampliação da linha no sentido leste, indo até a estação Vila Prudente,
também possui um substrato composto por sedimentos terciários das duas
formações, São Paulo e Resende, possuindo também em alguns trechos
sedimentos quaternários, como indicado na Figura 16 a seguir. Dessa forma, ao
longo do trajeto foram encontradas desde argilas cinza duras e rijas até argilas
moles e areias fofas, apresentando também em alguns trechos lentes de areia. Pelo
fato de existirem várias camadas de solo com características diferentes, teve-se
dificuldade em escolher e encontrar a melhor cota de execução dos túneis ao longo
do traçado escolhido (SILVA et al, 2008).
No trecho de ampliação que ainda está em projeto, entre as estações Vila Prudente
e Dutra, além de sedimentos terciários das duas formações já trabalhadas
49
A Figura 17 abaixo mostra, num gráfico de pizza, a porcentagem que cada método
foi utilizado para a execução da Linha 2-Verde da CMSP entre as estações Vila
Madalena e Vila Prudente, trecho finalizado em 2010, atualmente em
funcionamento.
51
4.4 SHIELD
Além disso, o material escavado era retirado por uma correia transportadora por 60
metros e, a partir disso, em vagonetas até a superfície (CBT, 2006).
Porém, a quantidade de anéis não era suficiente para a escavação inteira, o que
levou o empreiteiro da obra a escolher, para o restante dos túneis entre os Poços
Sorocaba e Ministro Rocha Azevedo, a utilização de anéis de concreto pré-moldado
parafusados. Para a sua fixação foram utilizados macacos hidráulicos do tipo tóricos,
que são dispositivos de espessura bastante reduzida e que possibilitam exercer
54
grandes esforços de uma maneira bem simplificada, o que facilitou a instalação dos
anéis (CBT, 2006).
Já para o trecho entre os Poços Paraíso e Ministro Rocha Azevedo, optou-se por um
revestimento composto por anéis de concreto armado formado por cinco segmentos
e um semento-chave, mostrado na Figura 20. O concreto utilizado possuía
resistência igual a 35 MPa e os anéis apresentam dimensões de 1 metro de largura
e 25 centímetros de espessura (CBT, 2006).
Entretanto, a característica mais peculiar desse revestimento é que esses anéis não
possuem ligação entre seus segmentos, de modo que a fixação e estabilidade
destes se dão pelo encunhamento do segmento-chave, destacado na Figura 21, nos
demais segmentos, proporcionando a expansão destes em direção ao solo. Dessa
forma, a principal vantagem desta tecnologia é a inexistência de vazios entre o
maciço e o revestimento, devido à pressão que este último exerce contra o terreno
(GARRIDO, 2011).
55
Figura 21 – Segmento-chave
4.5 NATM
As escavações iniciaram-se no Poço Paraíso e tiveram que ser feitas com muita
cautela e sofrer algumas paralisações por causa de fundações que interferiram no
trajeto. No caso de um dos edifícios, com oito andares e um subsolo, alguns
tubulões que compunham a sua fundação tiveram que ser cortados e suas cargas
transferidas. Tal processo foi realizado com a protensão das vigas e a transferência
das cargas para estes elementos através de macacos tóricos (CBT, 2006).
Tal procedimento foi realizado com sucesso e obteve uma produtividade máxima de
10 metros diários. O sistema de suporte temporário escolhido foi a utilização de
cambotas metálicas e concreto projetado com espessuras entre 0,15 e 0,25 metros.
Já o revestimento definitivo é composto de concreto projetado com via úmida e tela
de aço possuindo espessuras entre 0,25 e 0,35 metros. Ao longo de todo o traçado
foram registrados recalques da ordem de 6 a 45 milímetros, atingindo 140 milímetros
próximos à Estação Clínicas (CBT, 2006).
No caso da ampliação da linha no sentido leste, com mais seis estações indo até a
Estação Vila Prudente, os túneis de via de todo o traçado foram executados pelo
método NATM, como indicado na Figura 28, assim como o corpo das estações Alto
do Ipiranga e Vila Prudente. As demais estações foram executadas pelos métodos
61
VCA, VCA invertido ou como no caso da Estação Tamanduateí, que já fazia parte do
traçado da linha 10-Turquesa da CPTM, que é estruturada em elevado (GARRIDO,
2011).
A seção escolhida para os túneis de via da ampliação leste foi a de túneis duplos,
ora geminados, formando uma seção em “óculos”, ora com seus eixos distanciados.
O sistema de suporte escolhido foi o de concreto projetado, com espessuras entre
0,15 e 0,45 metros, aliado com telas metálicas ou cambotas treliçadas. Já para
revestimento definitivo, foi utilizado concreto armado com espessuras variando entre
0,15 e 0,50 metros (NETO; YAMAGUSHI, 2013).
Com isso pode-se perceber que apesar de o método NATM ser antigo, suas
técnicas de escavação, assim como a instrumentação auxiliar utilizada passaram por
grandes evoluções e assim trouxeram maior credibilidade e segurança para a sua
utilização. Por isso, tal método está sendo cada vez mais utilizado para as obras
subterrâneas urbanas.
4.6 CUSTOS
Além dos dados técnicos das escavações existe um fator de extrema influência para
a escolha do método construtivo que será utilizado: o custo de execução por metro
linear de escavação. Portanto foram retirados dados de uma publicação realizada
pela CMSP explicitados na Tabela 1 a seguir.
A Tabela 1 contém valores cotados pela empresa, em 1985, para a execução dos
túneis de via do projeto completo da linha naquela época, que compreendia o trecho
entre as estações Vila Madalena e Sacomã. Para a cotação foi dividido trajeto da
linha em três trechos devido às diferentes escolhas de métodos de execução. No
primeiro trecho, Vila Madalena-Clínicas, e terceiro trecho, Paraíso-Sacomã, foi
utilizado o método NATM, e no segundo, Clínicas-Paraíso, escavação mecanizada
com tuneladora.
Porém, não é possível realizar uma análise comparativa dos métodos com os dados
como estão descritos na tabela realizada pela CMSP. Portanto, para a realização de
tal análise, foram obtidos os valores de custo por quilômetro escavado,
demonstrados na Tabela 2, através da razão entre o custo total do trecho e a
extensão do mesmo.
63
A partir dos dados e informações obtidas a respeito dos dois principais métodos de
escavação utilizados na Linha 2-Verde da CMSP pode-se perceber que cada técnica
possui suas peculiaridades e variáveis. Com a análise das vantagens e
desvantagens dos principais métodos é possível realizar uma análise de custo
benefício de cada um e assim determinar onde e quando é melhor aplicá-los.
TUNELADORA
PARÂMETROS
AMERICANA ANGLO-BRASILEIRA
Poço Sorocaba - Poço Poço Paraíso - Poço
Localização
Ministro Rocha Azevedo Ministro Rocha Azevedo
Recalque Máximo 21 mm
Tabela 4 – Dados coletados sobre a escavação com NATM dos túneis de via e de passagem da Linha
2-Verde
NATM
Túneis de Via Túnel de Passagem
PARÂMETROS
Túnel Mineiro
Ampliação Oeste Ampliação Leste
Paraíso
Dois túneis ora
Seção Dois túneis
geminados ora com Calota-bancada
Transversal geminados
eixos distanciados
Concreto projetado
Concreto projetado
Revestimento Concreto Armado; com cambotas
com telas de aço;
Definitivo esp.=0,15 a 0,50 m metálicas;
esp.=0,25 a 0,35 m
esp.=0,15 m
Recalques
140 mm 17 mm 120 mm
máximos
Méd.: 2,18 m/dia Méd.: 1,6 m/dia
Produtividade Méd.: 1,0 m/dia
Máx.: 10,0 m/dia Máx.: 2,0 m/dia
Fonte: autora.
Tabela 5 – Dados coletados sobre a escavação com NATM das estações da Linha 2-Verde
NATM
Estações
PARÂMETROS
Brigadeiro, Trianon-
Clínicas
Masp e Consolação
Seção
Estação Estação
Transversal
Concreto Concreto
Revestimento
projetado; projetado;
Temporário
esp.=0,30 m esp.=0,20 m
Recalques
23 mm 150 mm
máximos
Fonte: autora.
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NATM
FORÇAS FRAQUEZAS
SHIELD
FORÇAS FRAQUEZAS
Alta tecnologia;
Seção Transversal fixa;
Alta produtividade;
Baixos recalques;
Dificuldades com raios pequenos;
Maior segurança;
Menos poeiras, barulhos e vibrações; continua
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SHIELD
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Qualquer tipo de solo; Custo inicial alto;
Ideal para grandes extensões; Necessário estudo de logística do
Domínio da técnica; equipamento;
Importação de maquinário;
Mínima interferência na superfície;
Mão-de-obra especializada;
Possibilidade de escavação abaixo do Não utilizável em túneis com pouca
lençol freático; cobertura;
conclusão
Fonte: autora.
Necessários poços de
Necessários poços para
Logística de dimensões grandes
passagem de equipamentos
equipamentos e suficientes para
como retroescavadeiras e
materiais passagem da tuneladora
material escavado
e material escavado
Em torno de 10 milhões de Em torno de 15 milhões de
Custos
dólares por quilômetro dólares por quilômetro
conclusão
Fonte: autora.
Com todos os dados coletados no trabalho e de todo o estudo técnico dos métodos
de escavação foi possível montar a Tabela 6 que os compara em função de
parâmetros pré-definidos e, a partir dessa tabela, é possível identificar quais são as
principais vantagens e desvantagens de cada técnica, que estão melhor
identificadas no Quadro 3 a seguir.
VANTAGENS DESVANTAGENS
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O método NATM, por exemplo, é uma técnica que permite uma maior liberdade de
escolha de seções transversais, podendo variá-las ao longo de toda a seção
transversal. Pode-se verificar também que é um método com custo por metro de
execução mais baixo que a escavação com tuneladora e, por utilizar equipamentos e
estruturas de médio e pequeno porte, não há necessidade de abertura de poços
com grandes dimensões, o que traz uma maior facilidade de mobilização desses
equipamentos e materiais.
Porém, esse método de escavação também tem suas limitações, como por exemplo,
a influência da geotecnia do maciço escavado que, dependendo do caso precisará
de tratamentos antes de iniciar o processo de escavação, o que pode encarecer e
eventualmente atrasar o cronograma da obra. Outro fator importante é que
dependendo do caso ele pode chegar a ter velocidades de avanço muito menores
que outros métodos o que também pode prejudicar o cronograma e o orçamento da
construção, dependendo da extensão que o túnel deva ter. Além disso, devido às
diversas características desse método, como até mesmo o tipo de solo que será
escavado, esse método pode chegar a apresentar recalques bastante elevados em
comparação com os registrados pelas tuneladoras.
Entretanto, também pelo fato de ser uma técnica avançada de escavação ela possui
um alto custo inicial, que será apenas compensado se houver uma extensão
suficientemente grande para obter um tempo menor de execução do que os demais
métodos. Além disso, essa técnica não permite variabilidade de seções transversais,
resultando em túneis com diâmetros iguais às dimensões da máquina e necessitam
de equipamento de grande porte e altamente qualificados e mão-de-obra
especializada.
Em suma, o ideal é aplicar sempre uma associação dos métodos para se ter um
melhor custo benefício do ponto de vista da obra como um todo. Portando, em geral,
o melhor método para a execução de túneis de via, que possuem maiores
dimensões transversais e longitudinais, é a escavação mecanizada com
tuneladoras. Já para túneis laterais, de acesso e passagem de equipamentos e
materiais, que possuem dimensões menores e mais variadas, e para a escavação
do corpo da estação, o mais propício é a utilização do método NATM.
junho deste ano e pode-se verificar que atualmente estão sendo construídas as
estações e túneis de passagem através das técnicas VCA e NATM.
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REFERÊNCIAS
COMITÊ BRASILEIRO DE TÚNEIS. Túneis do Brasil. 1. ed. São Paulo: DBA Artes
Gráficas, 2006. 327p.
KOCHEN, R. São Paulo: a saída para o caos do trânsito passa pelos subterrâneos
da metrópole. Revista Engenharia, São Paulo, n. 587/2008, não paginado, 2008.
Disponível em: <http://geocompany.com.br/ftp/opiniao2008.pdf>. Acesso em: 19 out.
2015.
ROCHA, H. C.; NETO, F. R.; MATSUI, M.; MONTEIRO, M. Aspectos Gerais das
Obras Civis da Expansão da Linha 2 – Verde do Metrô de São Paulo: Trecho Poço
Carlos Petit até o Poço Sepaco. Revista Engenharia, São Paulo, n. 587, 2008.
SAUER, G.; GOLD, H. NATM Ground Support Concepts and their effect on
Contract Practices. Los Angeles: Gary Almeraris And Bill Mariucci, 1989. Disponível
em:<http://www.dr-sauer.com/resources/presentations-lectures/419>. Acesso em:
4nov. 2015.